Comix! - Jornal Mural

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Curso de Jornalismo da UFSC Atividade da Disciplina Edição Professor Ricardo Barreto Novembro de 2015 Edição, textos, planejamento e edição Mateus Mognon dos Santos Servições Editoriais A morte do Grilo Vitor Teixeira Vitor Cafaggi Impressão Post-Mix Os quadrinhos que irritaram a censura Cheia de humor e críticas, a revista com tirinhas de vanguarda Grilo teve uma curta, mas intensa vida Enquanto as vendas de revistas em qua- drinhos impressos não crescem, as histó- rias criadas em HQs estão tomando outras mídias. Além de serem comercializadas em formato digital, algumas HQs estão se tornando videogames, graças a produtora Telltale Games. Fundada em 2004, a desenvolvedora ganhou fama após transformar os qua- drinhos e Walking Dead em uma série de jogos, em 2012. Além da franquia de zumbis, a produtora também já lançou e Wolf Among Us, que tem como inspiração os quadrinhos Faith, da DC Comics. A Telltale Games também investe na narrativa dos jogos e possui como maior marca de suas franquias um sistema de es- colhas que permite ao jogador chegar em finais diferentes no mesmo jogo. Os games são divididos em episódios e cada decisão influencia no futuro da história. Numa cena de crime, você seguiria a sua intui- ção ou buscaria provas para prender um assassino? Esta é uma pergunta constante em e Wolf Among Us. Além disso, a produtora também utiliza gráficos que lembram as ilustrações de quadrinhos, o que dá ao jogador a sensa- ção de estar dentro de uma HQ. A combinação desses dois fatores, uma história de qualidade e boa ambienta- ção, acabaram rendendo diversos prêmios para os games da compa- nhia, além do amor e fidelidade dos fãs. Em 2012, e Walking Dead ganhou mais de 90 prê- mios de “Jogo do Ano”(o Oscar dos jogos), em prêmiações orga- nizadas por sites especializados como GamesRadar e Gamespot. Em relação a crítica, a nota mé- dia de cada game da produtora nos mesmos sistes fica em torno de 9.5 e 10. Se você quiser conhecer o trabalho da Telltale, o primeiro episódio dos prin- cipais games da produtora, incluindo e Walking Dead (Season One e Two), e Wolf Among Us e Ta- les From e Borderlands, podem ser jogados de graça em smartphones com sistema operacional Android e iOS. A Morte do Grilo é a prova de que você nunca deve julgar um livro pela capa. Por trás do desenho de Charles M. Schulz que estampa a frente da publicação, exis- te uma inspiradora história de um grupo de jornalistas que, mesmo com as impor- tunações da censura, nunca desistiu e aca- bou mudando a imprensa brasileira. Para quem está começando no jornalismo, o livro é indispensável, pois mostra a impor- tância da profissão e o quão esdrúxula era a censura durante a ditadura, que chegou a proibir um gibi por causa do humor que suas tirinhas carregavam. A Morte do Grilo também é uma ótima pedida para fãs de quadrinhos, já que mostra a importância dessa mídia que, apesar de ter como foco o entretenimento, serve para passar ideias e, também, irritar regimes políticos. Antes de chegarmos na morte do Grilo, o livro conta muita história, começando pelo criador da revista: Sérgio de Souza (1934-2008), jornalista autodidata que tra- balhou em publicações como a Quatro Ro- das e Realidade, onde conheceu os colegas que ajudariam ele a fundar a Editora A&C. Além de Souza, a editora também in- cluía nomes como Narciso Kalili, Eduardo Barreto e Mylton Severiano. O fato é que toda a equipe da recém criada A&C esta- va na lista de “preferidos” dos militares, já que abordavam assuntos polêmicos, como a Guerra do Vietnã, desde a época de Rea- lidade. O time de ouro do jornalismo criou diversas publicações importantes, entre elas O Bondinho, o jornalivro e, é claro, a revista Grilo. A criação e desenrolar da história de Grilo só começam na metade do livro, deixando como divisor de águas as páginas coloridas que trazem algumas das capas e um breve resumo sobre a pu- blicação. A partir desta parte, os amantes de quadrinhos vão pirar: o autor descre- ve como os jornalistas da A&C entraram em contato com grandes nomes da área, incluindo Robert Crumb, criador de Mr Natural, Guido Crepax, idealizador da po- lêmica Valentina e Charles M. Schulz, cria- dor do Charlie Brown e sua turma. Além disso, Gonçalo Junior também explica os fanzines, o crescimento dos quadrinhos no Brasil e o uso dessa arte pela imprensa alternativa. O autor também apresenta as três fases da revista, a primeira mais branda, a segunda mais ousada e a terceira uma afron- ta à ditadura, que resultou na proibição da circulação do gibi. Nesta parte, também vemos o trabalho duro da equipe, que transformou a publicação de quadrinhos de vanguarda na fonte de renda mais segura da A&C. O autor ainda descreve, minuciosamen- te, a batalha da editora e do grupo com a censura. No começo da revista, os próprios jornalistas tinham cuidado ao publicar al- gumas tirinhas com críticas ao governo ou conotação sexual (mesmo a revista sendo voltada para adultos), para evitar proble- mas com os militares. Exemplo disso é a própria capa de A morte do Grilo: a ilus- tração da personagem grávida com os di- zeres “Você me paga, Charlie Brown” seria a capa do primeiro número de Grilo, mas acabou se tornando um poster interno, por receio de que a censura achasse a tirinha ofensiva. Na segunda fase e principalmente na terceira, quando Delfim Fujiwara assu- me o comando do almanaque, os quadri- nhos de Grilo ficaram mais direcionados e atacavam diretamente o regime militar, mostrando o papel crítico que os quadri- nhos podem desempenhar, mesmo trazen- do um alto tor de entretenimento. Depois de muitas confusões e três anos de cvida, o final de Grilo chega em 1973, no número 48 da revista. Junto com a pu- blicação, a editora A&C acaba morrendo também. Mas sabe o que nunca acaba nesta história? A motivação de Sergio de Sou- za e seus companheiros. Mes- mo com a censura na cola deles e com pouco dinheiro, o grupo que liderava a A&C lança o jor- nal Ex- (iria se chamar Ex-Gri- lo, o que seria bem engraçado). Nesta publicação, o grupo faz diversas reportagens mostran- do a força da imprensa alternativa paulis- ta. Em seu maior feito, o Ex- desmascarou a farsa do suicídio do jornalista Vladmir Herzog, que na verdade foi torturado e morto pelos militares, em 1975. Com informações que vão agradar jor- nalistas, amantes de quadrinhos e estu- diosos da ditadura brasileira, A morte do Grilo é recomendado para estudantes dos primeiros anos do curso, pois traz um tema diferente e bastante inspirador, mostrando como a nossa profissão parou de evoluir com o passar do tempo e hoje em dia se ocupa com futilidades e esbanja parcialidade. A obra também nos leva a pensar no uso do entretenimento a favor do jornalismo: se naquela época os jornalistas utilizavam HQs para provocar o governo e dava certo, acho que podemos usar formas mais des- contraídas e divertidas para passar infor- mação em qualquer veículo de informa- ção, principalmente na internet. Capa: poster da primeira edição do Grilo “A censura nos importunava de todas as formas. Era um período em que quase ninguém podia ter opiniões, e nós as tínhamos” - Delfim Fujiwara Telltale transforma HQs em games premiados Os personagens de Charles Schulz que faziam a alegria dos leitores da revista Grilo chegarão aos videogames da nova geração em novembro de 2015. O jogo e Peanuts Movie: Snoopy’s Grand Adventure traz o cão Snoopy e toda a turma do Charlie Brown numa aventura em plataforma 2D. A premissa do game é uma grande brincadeira de es- conde-esconde no mundos dos Peanuts, onde Snoopy deve encontrar seus amigos. Snoopy’s Grand Adventure também contará com modo multiplayer, onde o segundo jogador toma o controle do pássaro Woodstock. Produzido pela Activision, o jogo estará disponível para compra em 3 de novembro no PS4, Xbox One, Xbox 360, Nitendo Wii e 3DS. Snoopy e os Peanuts viram jogo Meu nome é Bigby Wolf, do jogo e Wolf Among Us 1 Imagem: Editora Peixe Grande O título é inspirado em Peanuts, o filme, que estreia em 2016 A morte do Grilo traz um tema diferente e inspirador

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"Comix!" é um jornal feito para a disciplina Edição, do curso de Jornalismo da UFSC. O livro resenhado, que serviu como base da produção, é "A morte do Grilo", escrito por Gonçalo Junior. Edição, texto e diagramação feitos por Mateus Mognon dos Santos. O projeto foi orientado pelo professor Ricardo Barreto.

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Curso de Jornalismo da UFSC

Atividade da DisciplinaEdição

Professor Ricardo Barreto

Novembro de 2015

Edição, textos, planejamento e ediçãoMateus Mognon dos Santos

Servições EditoriaisA morte do Grilo

Vitor Teixeira Vitor Cafaggi

ImpressãoPost-Mix

Os quadrinhos que irritaram a censuraCheia de humor e críticas, a revista com tirinhas de vanguarda Grilo teve uma curta, mas intensa vida

Enquanto as vendas de revistas em qua-drinhos impressos não crescem, as histó-rias criadas em HQs estão tomando outras mídias. Além de serem comercializadas em formato digital, algumas HQs estão se tornando videogames, graças a produtora Telltale Games.

Fundada em 2004, a desenvolvedora ganhou fama após transformar os qua-drinhos The Walking Dead em uma série de jogos, em 2012. Além da franquia de zumbis, a produtora também já lançou The Wolf Among Us, que tem como inspiração os quadrinhos Faith, da DC Comics.

A Telltale Games também investe na narrativa dos jogos e possui como maior marca de suas franquias um sistema de es-colhas que permite ao jogador chegar em finais diferentes no mesmo jogo. Os games são divididos em episódios e cada decisão influencia no futuro da história. Numa cena de crime, você seguiria a sua intui-ção ou buscaria provas para prender um assassino? Esta é uma pergunta constante em The Wolf Among Us.

Além disso, a produtora também utiliza gráficos que lembram as ilustrações de quadrinhos, o que dá ao jogador a sensa-

ção de estar dentro de uma HQ.A combinação desses dois fatores, uma

história de qualidade e boa ambienta-ção, acabaram rendendo diversos prêmios para os games da compa-nhia, além do amor e fidelidade dos fãs. Em 2012, The Walking Dead ganhou mais de 90 prê-mios de “Jogo do Ano”(o Oscar dos jogos), em prêmiações orga-nizadas por sites especializados como GamesRadar e Gamespot. Em relação a crítica, a nota mé-dia de cada game da produtora nos mesmos sistes fica em torno de 9.5 e 10.

Se você quiser conhecer o trabalho da Telltale, o primeiro episódio dos prin-cipais games da produtora, incluindo The Walking Dead (Season One e Two), The Wolf Among Us e Ta-les From The Borderlands, podem ser jogados de graça em smartphones com sistema operacional Android e iOS.

A Morte do Grilo é a prova de que você nunca deve julgar um livro pela capa. Por trás do desenho de Charles M. Schulz que estampa a frente da publicação, exis-te uma inspiradora história de um grupo de jornalistas que, mesmo com as impor-tunações da censura, nunca desistiu e aca-bou mudando a imprensa brasileira. Para quem está começando no jornalismo, o livro é indispensável, pois mostra a impor-tância da profissão e o quão esdrúxula era a censura durante a ditadura, que chegou a proibir um gibi por causa do humor que suas tirinhas carregavam. A Morte do Grilo também é uma ótima pedida para fãs de quadrinhos, já que mostra a importância dessa mídia que, apesar de ter como foco o entretenimento, serve para passar ideias e, também, irritar regimes políticos.

Antes de chegarmos na morte do Grilo, o livro conta muita história, começando pelo criador da revista: Sérgio de Souza (1934-2008), jornalista autodidata que tra-balhou em publicações como a Quatro Ro-das e Realidade, onde conheceu os colegas que ajudariam ele a fundar a Editora A&C.

Além de Souza, a editora também in-cluía nomes como Narciso Kalili, Eduardo Barreto e Mylton Severiano. O fato é que toda a equipe da recém criada A&C esta-va na lista de “preferidos” dos militares, já que abordavam assuntos polêmicos, como a Guerra do Vietnã, desde a época de Rea-lidade. O time de ouro do jornalismo criou diversas publicações importantes, entre elas O Bondinho, o jornalivro e, é claro, a revista Grilo. A criação e desenrolar da história de Grilo só começam na metade

do livro, deixando como divisor de águas as páginas coloridas que trazem algumas das capas e um breve resumo sobre a pu-blicação. A partir desta parte, os amantes de quadrinhos vão pirar: o autor descre-ve como os jornalistas da A&C entraram em contato com grandes nomes da área, incluindo Robert Crumb, criador de Mr Natural, Guido Crepax, idealizador da po-lêmica Valentina e Charles M. Schulz, cria-dor do Charlie Brown e sua turma. Além

disso, Gonçalo Junior também explica os fanzines, o crescimento dos quadrinhos no Brasil e o uso dessa arte pela imprensa alternativa.

O autor também apresenta as três fases da revista, a primeira mais branda, a segunda mais ousada e a terceira uma afron-ta à ditadura, que resultou na proibição da circulação do gibi. Nesta parte, também vemos o trabalho duro da equipe, que transformou a publicação de quadrinhos de vanguarda na fonte de renda mais segura da A&C.

O autor ainda descreve, minuciosamen-te, a batalha da editora e do grupo com a censura. No começo da revista, os próprios jornalistas tinham cuidado ao publicar al-gumas tirinhas com críticas ao governo ou conotação sexual (mesmo a revista sendo voltada para adultos), para evitar proble-mas com os militares. Exemplo disso é a própria capa de A morte do Grilo: a ilus-tração da personagem grávida com os di-zeres “Você me paga, Charlie Brown” seria a capa do primeiro número de Grilo, mas acabou se tornando um poster interno, por receio de que a censura achasse a tirinha ofensiva. Na segunda fase e principalmente na terceira, quando Delfim Fujiwara assu-me o comando do almanaque, os quadri-nhos de Grilo ficaram mais direcionados e atacavam diretamente o regime militar, mostrando o papel crítico que os quadri-nhos podem desempenhar, mesmo trazen-do um alto tor de entretenimento. Depois

de muitas confusões e três anos de cvida, o final de Grilo chega em 1973, no número

48 da revista. Junto com a pu-blicação, a editora A&C acaba morrendo também. Mas sabe o que nunca acaba nesta história? A motivação de Sergio de Sou-za e seus companheiros. Mes-mo com a censura na cola deles e com pouco dinheiro, o grupo que liderava a A&C lança o jor-nal Ex- (iria se chamar Ex-Gri-lo, o que seria bem engraçado). Nesta publicação, o grupo faz diversas reportagens mostran-

do a força da imprensa alternativa paulis-ta. Em seu maior feito, o Ex- desmascarou a farsa do suicídio do jornalista Vladmir Herzog, que na verdade foi torturado e morto pelos militares, em 1975.

Com informações que vão agradar jor-nalistas, amantes de quadrinhos e estu-diosos da ditadura brasileira, A morte do Grilo é recomendado para estudantes dos primeiros anos do curso, pois traz um tema diferente e bastante inspirador, mostrando como a nossa profissão parou de evoluir com o passar do tempo e hoje em dia se ocupa com futilidades e esbanja parcialidade.

A obra também nos leva a pensar no uso do entretenimento a favor do jornalismo: se naquela época os jornalistas utilizavam HQs para provocar o governo e dava certo, acho que podemos usar formas mais des-contraídas e divertidas para passar infor-mação em qualquer veículo de informa-ção, principalmente na internet.

Capa: poster da primeira edição do Grilo

“A censura nos importunava de todas as formas. Era um período em que quase ninguém podia ter opiniões, e nós as tínhamos” - Delfim Fujiwara

Telltale transforma HQs em games premiados

Os personagens de Charles Schulz que faziam a alegria dos leitores da revista Grilo chegarão aos videogames da nova geração em novembro de 2015. O jogo The Peanuts Movie: Snoopy’s Grand Adventure traz o cão Snoopy e toda a turma do Charlie Brown numa aventura em plataforma 2D. A premissa do game é uma grande brincadeira de es-conde-esconde no mundos dos Peanuts, onde Snoopy deve encontrar seus amigos. Snoopy’s Grand Adventure também contará com modo multiplayer, onde o segundo jogador toma o controle do pássaro Woodstock.

Produzido pela Activision, o jogo estará disponível para compra em 3 de novembro no PS4, Xbox One, Xbox 360, Nitendo Wii e 3DS.

Snoopy e os Peanuts viram jogo

Meu nome é

Bigby Wolf, do jogo The Wolf Among Us

1

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em: E

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Gra

nde

O título é inspirado em Peanuts, o filme, que estreia em 2016

A morte do Grilo traz um tema

diferente e inspirador

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Curso de Jornalismo da UFSC

Atividade da DisciplinaEdição

Professor Ricardo Barreto

Novembro de 2015

Edição, textos, planejamento e ediçãoMateus Mognon dos Santos

Servições EditoriaisA morte do Grilo

Vitor Teixeira Vitor Cafaggi

ImpressãoPost-Mix

“Os quadrinhos eram uma válvula de escape para muita gente naquela época, mas a censura nem notava” - Gonçalo Junior

Internet é vitrine para novos quadrinistas e artistas independentes

Além de ser apaixonado por quadri-nhos, Gonçalo Junior é um jornalista com muita experiência. Com 25 livros já lançados, o escritor já contribuiu em veículos como Valor Econômico e Ga-zeta Mercantil. Além disso, também vivenciou a transição que o jornalismo sofreu com a chegada da internet. Em uma breve entrevista, o autor de A morte do Grilo fala sobre a prática do jornalismo na época da revista e atualmente. Comix - A Editora A&C era for-mada por um grupo de colegas que fazia um bom trabalho. Várias empresas de mídia, além de diversas startups, nascem assim, tanto naquele tempo como atualmente. Qual era o diferencial da A&C?Gonçalo Junior - Eram muitos os diferenciais. A começar que quem estava por trás dela era a mais brilhante geração de jornalistas de São Paulo nos últimos 50 anos. Depois, havia a motivação de se lutar contra a censu-ra e a ditadura militar. Os caras eram movidos pelo idealismo, pelo desejo de mudar o mundo e tinham talento de sobra para isso.C - O grupo de jornalistas que aparece em A morte do Grilo trouxe

diversas mudanças para a mídia brasileira. Graças a era digital, o jornalismo está em crise novamente. Na sua opinião, o que é preciso fazer para reinventar o jornalismo?GJ - Não tenho ideia. Os jornais e revistas, por questão salarial, demiti-ram seus grandes repórteres e edito-res. O estrago foi feito com a chegada da Internet. Estabeleceu-se até hoje que o jornal impresso está vinculado ao digital, o que é uma estupidez. Se não colocarem conteúdo exclusivo no impresso todos vão morrer. Ao mesmo tempo, precisam reforçar o digital, claro.C - Levando em consideração todo

o seu conhecimento na área e a pesquisa feita para o livro, o papel social do jornalista mudou em comparação ao desempenhado na ditadura?GJ - Mas é claro que sim. A nossa imprensa hoje é rea-cionária, medíocre, golpista,

inconsequente, irresponsável. A revista Veja e o jornal O Globo são bons exemplos disso. São feitos por pessoas que militam pelo golpismo, pela falta de comprometimento com a democracia, com a manutenção das liberdades. Um lixo, meu velho. C - Qual é a função social do jorna-lista atualmente?GJ - Com certeza, não é tentar

derrubar a presidente da república de modo irresponsável, como se ela fosse um time de futebol. O jornalista precisa voltar a correr atrás do furo e a não fazer pacto com as forças reacionárias, que lutam para manter privilégios. O verdadeiro jornalismo é aquele comprometido com a mu-dança e a justiça social, não o jorna-

lismo policialesco e moralista. Fujam dos moralistas, eles são fascistas.C - Com toda a sua experiên-cia, tem alguma dica para os

estudantes de jornalismo que estão começando?

GJ - Eu sugiro que desconfiem de tudo. Que não acreditem quando todo mundo diz a mesma coisa e não há comprometimento com as mudanças, com as transformações. Que desconfiem das conspirações, de quem defende a ditadura em nome da democracia, que tomem cuidado com os comentários que lêem no Fa-cebook e no Twitter, que não tenham medo de ir contra a corrente. Cuida-do com que prega a moralização. O brasileiro comete corrupção todos os dias, ao furar fila, ao comprar progra-mas piratas, ao burlar a TV paga. Mas ficam pregando moralização de tudo como se estivesse acima do bem e do mal. Que percebam que a corrup-ção não aumentou, a polícia apenas está pegando os caras. Quem podia imaginar que donos de empreiteiras iriam para a cadeia? O Brasil está mu-dando para melhor. Enfim, recomen-do que leiam muitos livros de história e biografias e se blindem contra as unanimidades. Nunca sigam as unanimidades. Toda unanimidade é estúpida, traiçoeira.

O que nos falta mesmo é a motivaçãoEscritor de A morte do Grilo fala sobre a sua profissão e como a mídia se transformou desde a ditadura

JORNALISMO

“O verdadeiro jornalismo é aquele

comprometido com a mudança e a

justiça social”

“Não tenham medo de ir contra a corrente”

“A imprensa de hoje é reacionária”

Já estamos no século XXI e, aqui no Brasil, vivemos em uma sociedade de-mocrática e com Estado Laico, porém, ainda existem casos onde a liberdade de expressão é discutida. Em março des-te ano, o cartunista Vitor Teixeira, que posta seus trabalhos no Facebook, re-cebeu uma intimação extra-judicial via e-mail da Igreja Universal, após postar em sua página um desenho de um gla-diador com um símbolo da instituição atacando uma mãe de santo. A charge, que ficou fora do ar por denúncias de usuários, faz uma crítica a um vídeo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que mostra os chamados “Gla-diarores do Altar”, grupo de jovens fiéis da igreja que se vestem como militares e se dizem “prontos para a batalhar pela igreja”.

De acordo com o cartunista, a intima-ção da igreja para desabilitar sua página chegou logo depois da postagem ir ao ar. “A Universal me acusou de intolerân-cia religiosa e pediu que minha pagina fosse apagada. Publiquei a intimidação e tive amplo apoio da imprensa, que noticiou o caso”. Com a divulgação do

caso, a Igreja simplesmente deixou a acusação e também a postagem, que já está disponível na página do cartunista novamente. “Com o retorno de mídia negativo para a Universal, creio que eles tenham decidido por panos quentes no assunto e desistido de me processar”, comentou Teixeira.

As tirinhas de Vitor Tei-xeira ganharam populari-dade após as manifestações de 2013. As charges sempre carregam um alto teor crítico e frequentemente geram alguma

polêmica. Segundo Vitor, a IURD foi a primeira instituição a entrar com um processo contra seu trabalho. “Esse foi o único caso de tentativa de censura. No mais, recebo ameaças e ofensas diaria-mente de grupos organizados de uma

direita raivosa nas redes”. Tei-xeira se diz motivado pelas

críticas e que o discur-so de ódio tem que ser

combatido.

Artista tem desenho censurado pela Igreja Universal

Assim como Vitor Teixeira, que dispo-nibiliza seu trabalho via Facebook e Twit-ter, outros artistas independentes utilizam a internet para compartilhar seu trabalho, o que acaba gerando oportunidades e trazendo reconhecimento.

O quadrinista Vitor Cafaggi, criador de séries de tirinhas como Pequeno Parker e Valente, ficou famoso pelo seu trabalho na internet e acabou tendo a chance de publi-car suas tirinhas no jornal O Globo. “Uma coisa levou à outra. Eu só fui convidado pelo jornal porque eles conheceram meus quadrinhos na internet. A internet é uma ótima vitrine”.

Cafaggi disse que nunca recebeu dinhei-ro fazendo quadrinhos pela internet, mas o meio possui outro ponto que agrada os artistas: o contato com os fãs. “A aceitação das tirinhas sempre foi ótima e os comentários sempre me estimu-laram a continuar fazendo”, comen-tou o quadrinista.

2 Arte: Vitor Cafaggi

Arte: Vitor Teixeira

Imag

em: A

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ssoa

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