Comentários Sobre a Literatura Em Perigo Todorov

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A Literatura Em Perigo O Ttulo De Um Dos Mais Recentes Livros De Tzvetan Todorov

A Literatura Em Perigo O Ttulo De Um Dos Mais Recentes Livros De Tzvetan Todorov. Bastante conhecido entre crticos, pesquisadores e alunos dos cursos de letras, Tzvetan Todorov autor de livros tericos de literatura considerados leitura obrigatria. Por exemplo: Introduo literatura fantstica, publicado em 1970. La littrature en pril, Paris, 2007, em portugus: A literatura em perigo o ttulo de um dos mais recentes livros deste escritor, historiador e ensasta blgaro, que vive na Frana desde 1963.

Constitudo por oito partes, respectivamente: 1- Introduo; 2 - A literatura reduzida ao absurdo; 3 - Alm da escola; 4 - Nascimento da esttica moderna; 5 - A esttica das Luzes; 6 - Do romantismo s vanguardas; 7 -O que pode a literatura?; 8 - Uma comunicao inesgotvel, nelas Todorov comenta aspectos da literatura desde a renascena aos nossos dias, realando verdades e buscas de cada poca mencionada. Mas em todas o ensasta deixa perceber sua grande preocupao pela maneira como vem sendo construda a delicada relao leitor/texto literrio. Cabe, pois, dizer que o livro A literatura em perigo tambm o desabafo deste escritor que acredita no poder humanstico da literatura e a ele assim se refere: A literatura pode nos estender a mo quando estamos profundamente deprimidos, nos conduzir em direo dos outros seres humanos nossa volta, nos fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver. (...) e se, agora, eu me pergunto sobre o motivo do meu amor pela literatura, respondo prontamente: a literatura me ajuda a viver.

Na Introduo, Todorov faz uma retrospectiva da sua vida, fala de suas dvidas, de episdios que o guiaram em direo s letras, da certeza da significao da literatura na sua existncia e da escolha, esta definida em 1956, quando falar de livros veio a ser a sua profisso. Conta ele que, enquanto estudante universitrio, na Bulgria, ele se prendia aos elementos estruturais das obras, ao estilo, s formas narrativas, enfim, tcnica da composio literria, nunca ideologia dos textos. Tinha suas razes. J vivendo em Paris, procurou literatos tambm interessados na estrutura textual, da a sua ligao com Grard Genette e, por meio desse, com Roland Barthes. Instigado por Grard Genette, Todorov traduziu para a lngua francesa os textos dos Formalistas Russos, na poca pouco conhecidos na Frana, que foram reunidos e publicados em 1965, com o ttulo de Teoria da Literatura.

Entretanto, pouco a pouco, as causas do seu interesse exclusivo pela matria verbal dos textos foram se transformando e Todorov procurou novos instrumentos para alcanar melhor compreenso das idias dos autores. A partir de ento, aproximou-se da Psicologia, da Antropologia, da Histria, enfim, do que diz respeito ao Homem, porque, segundo ele, a literatura no nasce do vazio, mas do seio de um conjunto de discursos vivos com os quais compartilha numerosas caractersticas. A literatura no nos d um novo saber, mas sim uma nova capacidade de comunicao com seres diferentes de ns. Ela nos impulsiona a pensar e a sentir, adotando o ponto de vista dos outros.

Todorov afirma tambm que o leitor no profissional procura livros para neles encontrar um sentido que torne mais rica sua prpria existncia e amplie sua compreenso do Homem e do Mundo. Consequentemente, alcanar melhor compreenso de si mesmo. Por estas razes, Todorov alerta que, hoje, do modo como tem acontecido o ensino literrio, ensino que d as costas para o horizonte humanstico, difcil que se consiga desabrochar no leitor/aprendiz o sentimento de amor pela literatura, porque se a construo interna dos textos estudada com esmerada ateno, parece falho o estudo da abordagem externa, isto , do seu contexto histrico, ideolgico, para que se possa apreender mais amplamente o sentido da obra em questo.

com sentimento de pesar que Todorov reconhece serem as abordagens internas e as categorias da teoria literria os aspectos mais enaltecidos pela crtica profissional. Movido por esse ressentimento, o grande ensasta encoraja um programa de leitura que inclua tambm livros populares, mesmo que crticos de literatura demonstrem certo desprezo por eles. Ele cita: Os Trs Mosqueteiros e Harry Potter. Todorov argumenta que este tipo de livro popular, alm de permitir ao jovem leitor construir uma primeira imagem coerente do mundo, tambm atrai e motiva novas leituras que, feitas consecutivamente, servem de preparao para interpretaes mais aprofundadas e complexas, pois a realidade que a literatura anseia apresentar e compreender a da experincia humana. Portanto, mesmo que nem todos os leitores venham a ser especialistas em anlise literria, tornar-se-o conhecedores do ser humano. Opinio com a qual concordo plenamente, pois destes conhecedores do ser humano, o mundo tem sentido falta. Muita falta.

resenhaA literatura em perigoEmmanuel Santiago

TODOROV, Tzvetan.A literatura em perigo. Traduo CaioMeira. Rio de janeiro: DIFEL, 2009.A literatura em perigo, de Todorov, defende uma tese que pode assustar queles que se habituaram a enxergar o autor como um dos principais representantes do estruturalismo, mtodo que, nos estudos literrios, baseia-se numa anlise estritamente imanente, sem a considerao de fatores externos ao objeto literrio. A hiptese que Todorov apresenta em tal livro que a literatura est perdendo seu espao na sociedade atual porque no consegue mais emprestar sentido experincia pessoal de seus leitores, tanto pela produo literria em si, orientada segundo trs tendncias principais: o formalismo, o niilismo e o solipsismo, quanto por um ensino equivocado da literatura.

Este segundo ponto parece-me o que de mais precioso o livro tem a oferecer, e acredito que todos aqueles que se preocupam com a questo do ensino de literatura nos anos do ensino bsico, ou melhor: com o papel da literatura na formao intelectual do indivduo, deveria ler esse pequeno livro, de 96 pginas. Basicamente, o argumento de Todorov que o que se ensina hoje nas escolas um misto de historiografia e teoria literrias, substituindo o contato direto com as obras e se desviando daquilo o que seria o fundamental: o estudo do sentido das obras, seu contedo semntico. Ao invs de exigir dos alunos que apreendam o significado da obra, o que lhes permitiria relacion-la com o mundo a seu redor, exige-se deles que saibam operar com categorias analticas e historiogrficas, das quais a obra literria seria apenas mera ilustrao. O equvoco evidente: estamos tentando formar crticos literrios antes mesmo de form-los como leitores.

Entretanto, o primeiro ponto, o da produo literria, recebe, a meu ver, um tratamento problemtico em diversos pontos. Vamos a eles.

Todorov afirma que a literatura contempornea se apresenta em trs vertentes que, cada uma a sua maneira, recusam o mundo em que vivemos, impedindo uma maior familiarizao do leitor com a obra literria. Tais vertentes seriam oformalismo, cujas obras cultivam a construo engenhosa, os processos mecnicos de engendramento do texto, as simetrias, os ecos e os pequenos sinais cmplices (p. 42); oniilismo, segundo o qual os homens so perversos, as destruies e as formas de violncia dizem a verdade da condio humana, e a vida o advento de um desastre (idem); e osolipsismo, que leva o autor a descrever detalhadamente suas menores emoes, suas mais insignificantes experincias sexuais, suas reminiscncias mais fteis (p. 43). Para continuar citando, eis a concluso do autor: a cada vez mais, mas a partir de modalidades diferentes, o mundo exterior, o mundo comum a mim e aos outros, que negado e depreciado (p. 44). Seria esse o motivo pelo qual os leitores atuais esto se afastando da dita alta literatura.

No posso deixar de dar razo a essa concluso, pois, certamente, a literatura tem se tornado cada vez mais difcil para o leitor no especializado. No entanto, a questo um pouco mais complexa, como espero demonstrar.

Como deve ter percebido aquele que me l, Todorov diagnostica que o mal da literatura, aquele que a coloca em perigo, advm de sua autonomia, ou, em outras palavras, do estatuto de autonomia do qual goza a arte e a literatura na sociedade ocidental moderna e contempornea. A partir da, o autor demonstra, lanando mo de um panorama histrico, como as reflexes acerca do objeto artstico foram gradativamente se deslocando em direo a uma ideia de autossuficincia da arte, apropriando-se de pressupostos conceituais at ento destinados a discusses teolgicas, o que possibilitou o surgimento de um novo campo autnomo do pensamento filosfico: a esttica (o termo foi empregado pela primeira vez, segundo nos informa o autor, em 1750, num tratado de Alexander Baumgarten p. 50). O que h de instigante nessa argumentao que ela nos faz pensar que, num mundo gradativamente desencantado, a arte tenha se firmado como uma espcie nova de transcendncia.

Um problema que eu vejo nesse ponto da argumentao algo que no est dito, mas passa por implcito. Para descrever como se firmou a prevalncia de uma ideia da arte como uma finalidade em si mesma, a autor traa, como j foi dito, um panorama das reflexes filosficas acerca do assunto, permitindo que se pense a autonomizao da arte como uma consequncia da teoria, como se aquela estivesse a reboque desta. No se trataria, portanto, de uma evoluo da arte em direo a sua autonomia, que, por sua vez, teria como desdobramento uma teorizao que procurasse formalizar conceitualmente esse movimento. No podemos descartar o dilogo que arte e teoria podem travar, num processo de mtuo engendramento, mas colocar a preponderncia da segunda sobre a primeira recai no mesmo erro identificado pelo autor no ensino de literatura nas escolas: a arte aparece como mera concretizao de categorias crticas e tericas. Mais dialtico seria supor que um mesmo substrato histrico e social permitiu arte e teoria desenvolverem um conjunto anlogo de problemas, mas afirmar o poder de determinao de um sistema explicativo sobre o objeto que se procura explicar colocar a carroa na frente dos bois.

Logo em seguida, Todorov esboa outra explicao complementar, infelizmente no desenvolvida, que permitiria alguma problematizao de suas concluses. Todorov relaciona a autonomizao da arte com a perda de sua antiga representatividade pblica, seja ela eclesistica ou cortes. Livre das antigas obrigaes que lhe impunham as estruturas do mecenato, a arte, agora submetida s leis de um mercado emergente, passa a responder s necessidades de um novo pblico, o burgus, cuja experincia social se constitui a partir do mbito privado:

O artista deixa progressivamente de produzir suas obras mediante a encomenda de um mecenas, destinando-se ento ao pblico que as adquire: o pblico quem passa a ter as chaves de seu sucesso. O que estava reservado a poucos torna-se acessvel a todos; o que estava submetido a uma hierarquia rgida, a da Igreja e do poder civil, pe em p de igualdade todos os seus consumidores. O esprito das Luzes o da autonomia do indivduo; a arte que conquista sua autonomia participa do mesmo movimento. Se o artista se torna a encarnao do indivduo livre, sua obra tambm vai se emancipar.(p. 53)

Aos poucos vai ficando claro que o problema no a autonomia em si, mas o modo como essa autonomia passa a ser empregada a partir de um dado momento, uma vez que, como Todorov demonstra nos captulos seguintes, mesmo os propositores de uma arte autossuficiente preocuparam-se em manter um tnue equilbrio entre autonomia esttica e conhecimento, procurando conceber o esttico como um tipo de conhecimento especfico e diferenciado sobre o mundo. A ruptura se daria, segundo ele, no comeo do sculo XX, sob o impacto das ideias de Nietzsche e da retomada de certos pensadores radicais da autonomia esttica do passado, que at ento no haviam encontrado ressonncia (mais uma vez, a teorizao aparece como causa do desenvolvimento artstico). a que entram em cena as vanguardas, constituindo um passo decisivo no divrcio entre arte e realidade.

Sem entrar na polmica quanto relao das vanguardas com a vida[1], vemos que Todorov distingue entre autonomia esttica e esteticismo, entre uma arte socialmente emancipada e uma arte centrada em si mesmo. Segundo Peter Brger emTeoria da vanguarda, a autonomia descreve a situao da arte na sociedade burguesa, mas no circunscreve necessariamente seu contedo; teramos esteticismo apenas a partir do momento em que a arte se transforma em contedo de si mesma[2]. Numa formulao mais completa: Na obra de arte esteticista, o descolamento da arte da prxis vital, que caracteriza o status da arte na sociedade burguesa, transformou-se em seu contedo essencial[3].

O que me parece simplista no modo como Todorov apresenta a dicotomia entre literatura e vida que, embora plausvel, ela parece uma simples questo de escolha: parece que arbitrariamente estabeleceu-se um consenso de que a arte no mais deveria remeter-se realidade externa, como se isso no fosse o resultado de um processo histrico ao mesmo tempo interno e externo ao desenvolvimento artstico. Percebendo no esteticismo e nas suas vertentes a causa do desprestgio atual da literatura, o autor deixa de se perguntar a razo de ser desse esteticismo e se este possui algum teor de verdade. E o que talvez seja mais importante: ao se indagar como a literatura moderna e contempornea representa o mundo, acaba por se eximir de questionar o espao que a sociedade burguesa destinou e tem destinado literatura, e se isso teria alguma relao com a crescente esteticizao da arte. Em suma, se a literatura est em perigo, Todorov conclui que ela mesma se colocou nessa posio, talvez por ouvir os conselhos perniciosos da sua irm invejosa e m, a teoria esttica.

No meu objetivo dar uma resposta a esse questionamento, mas, num esboo de argumentao, poderia dizer que medida que a literatura vai deixando de ter uma importncia social pblica, atrelando-se, por meio da leitura individual e silenciosa, experincia ntima e privada de seus leitores, seu campo de preocupaes vai aos poucos abandonando o mundo comum a mim e aos outros. Alm disso, a consolidao do mercado editorial, criando um pblico leitor formado pelos estratos mdios da populao urbana ao qual a obra literria passaria a ser destinada, propiciou uma adequao da literatura s experincias da classe burguesa, que se pautavam por valores como o individualismo e a noo de privacidade[4]. Nesse momento, a literatura comea a se concentrar cada vez mais na vida ntima e psicolgica dos indivduos, fazendo dela seu principal assunto. Uma boa exposio de como tal processo histrico determinou a forma e o contedo do romance moderno pode ser encontrada emA ascenso do romance, de Ian Watt, especialmente no captulo 6, A experincia privada e o romance[5].

Como o objetivo desta resenha no traar um panorama do desenvolvimento da literatura na sociedade burguesa, basta destacar que o solipsismo diagnosticado por Todorov na literatura contempornea responde a um processo histrico-social complexo, relacionado ao acirramento do individualismo em nossa sociedade. Do mesmo modo, o formalismo poderia ser explicado pela crescente especializao do saber, relacionado com o desenvolvimento da cincia moderna e do capitalismo industrial, que instaurou uma diviso do trabalho intelectual institucionalmente organizada. O niilismo, por sua vez, pode ser o resultado de uma frustrao histrica causada pelo progresso tcnico e material da civilizao ocidental, que, alm de no realizar as maravilhas que prometia, ainda teve os desdobramentos nefastos que todos conhecemos.

Ao longo deste percurso pretendi mostrar que o fenmeno abordado por Todorov um tanto mais complexo do que sua anlise faz crer, e que, se hoje a literatura mais sofisticada est em perigo, a responsabilidade no apenas dos intelectuais e dos escritores, devendo ser partilhada tambm com um pblico leitor cada vez mais indolente, condicionado pela indstria cultural. O esteticismo no pode ser pensado sem se considerar o isolamento que a literatura, como atividade a princpio no produtiva (economicamente falando), experimenta na sociedade atual o esteticismo , em certo sentido, uma reao total reduo da obra literria a sua condio de mercadoria no sistema capitalista.

A crise da literatura, portanto, deve ser entendida dentro de um contexto histrico mais amplo, s assim poderemos salv-la, se que ela precise ser salva (ser que, voando abaixo do radar, ela no estar mais segura?), e se que talvez no seja prefervel perd-la a salv-la ao preo da complexidade adquirida ao longo de seu processo de desenvolvimento. O que me leva ao ltimo ponto.

Todorov mostrou-se, ao longo de seu pequeno livro, comprometido com uma concepo estrita de realismo que, logo de sada, impede a compreenso da literatura moderna e de seus desdobramentos, sendo que nas suas categorias de formalismo, niilismo e solipsismo se enreda muito do que de melhor o sculo XX produziu: Proust, Joyce, Virgnia Woolf, Kafka, Beckett, Borges etc., autores que em sua negao da realidade exterior (na verdade, uma negao da realidade em seu aspecto aparente) muitas vezes atingiram aspectos mais profundos do real do que se tivessem cedido a um realismo conformista e ingnuo, o que certamente corresponderia melhor s expectativas de recepo do pblico mdio. No deixa de ser irnico que em muitos pontos Todorov convirja com Lukcs, principal representante daquela ortodoxia marxista que o levou na juventude a se entrincheirar nas fileiras estruturalistas[6].

Em tempo, vale lembrar que o livro no se destina apenas ao pblico acadmico, e sim a uma divulgao mais ampla, ao que podem ser atribudos a esquematizao um tanto didtica de alguns pontos e o no desdobramento de alguns argumentos que ficam apenas sugeridos.

Referncias bibliogrficasBRGER, Peter.Teoria da vanguarda. Traduo Jos Pedro Antunes. So Paulo: Cosac Naify, 2008.HABERMAS, Jnger.Mudana estrutural na esfera pblica. Traduo Flvio Kothe. 2 ed. Rio De Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.LUKCS, Georg.Ensaios sobre literatura. Traduo Leandro Konder. Rio De Janeiro: Civilizao Brasileira, 1965.WATT, Ian.A ascenso do romance. Traduo Hildegard Feist. So Paulo: Companhia das Letras, 1990.

Emmanuel Santiago, mestre em Teoria Literria e Literatura Comparada pela Universidade de So Paulo (USP) e formado em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), com Bacharelado em Estudos Literrios.e-mail: [email protected][1] Para uma viso diferenciada sobre o assunto, segundo a qual as vanguardas seriam uma tentativa de reintegrar a arte prxisvital, mas sem transigir no que se refere autonomia esttica, cf. BRGER, Peter.Teoria da vanguarda. Traduo Jos Pedro Antunes. So Paulo: Cosac Naify, 2008.[2]Idem, ibidem:p. 105.[3]Idem, ibidem:p. 108.[4] Quanto formao de uma esfera privada burguesa em oposio ao espao pblico no Antigo Regime, cf. HABERMAS, Jnger.Mudana estrutural na esfera pblica. Traduo Flvio Kothe. 2 ed. Rio De Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. Em especial o captulo II, 6.[5] WATT, Ian.A ascenso do romance. Traduo Hildegard Feist. So Paulo: Companhia das Letras, 1990.[6] Para uma considerao mais justa da ideia de realismo em Lukcs, cf. LUKCS, Georg. Introduo aos escritos estticos de Marx e Engels. In:Ensaios sobre literatura. Traduo Leandro Konder. Rio De Janeiro: Civilizao Brasileira, 1965, pp. 11-43.Literatura em PerigoAutor e ObraTzvetan Todorov um filsofo blgaro radicado na Frana desde 1963. Escreveu diversos livros sobre teoria literria, histria do pensamento e teoria da cultura. um crtico da forma como a literatura ensinada nas escolas francesas, especialmente nos cursos mdios.

Breve ResumoLiteratura em Perigo pode ser considerado um longo ensaio em que Todorov critica os rumos que a literatua assumiu na modernidade, refletindo na prpria forma como ensinada nas escolas. De uma imitao da realidade, idia cara aos clssicos, passou a advogar uma falsa autonomia da verdade, consolidando-se no pensamento da arte pela arte. Para ele,os trs maiores inimigos da verdadeira literatua so o formalismo, o niilismo e o solipsismo. De poderoso instrumento para descoberta da realidade das coisas atravs do estudo de suas possibilidades, tornou-se uma mera distrao, especialmente das classes letradas que seduzida pelas formas internas da arte deixam de enxergar o mundo que deveria representar.

Principais idias A literatura proporciona sensaes que fazem o mundo real mais pleno de sentido e mais belo. Mais que uma distrao, permite que cada um responda melhor sua condio de ser humano.

As escolas se tornaram lugares onde no se ensinam mais o significado e o que trata as obras literrias e sim das teorias literrias. Os conceitos abstratos, forjados pela crtica, se tornam mais importantes que a obra em si, seu sentido e o mundo que envoca.

O formalismo, uma criao do estrutularismo, coloca-se como centro da criao literria. O uso da linguagem, os marabalismos com a estrutura da narrativa, tornaram-se mais importante do que os temas que as obras tratam.

O niilismo criou uma nova viso do mundo, confundindo-se com o realismo, onde no apenas mostra-se o ser humano no que tem de pior, mas s no que tem de pior. O resultado so obras em que todos os personagens so corrutpos e cpticos, deixando de ser uma representao do que se v no mundo real.

O solipsismo concentrou todo o foco da narrativo no prprio autor das histrias, que passam a enxergar o mundo a partir de seu ponto de vista que se torna a nica representao da realidade possvel ao leitor.

Todorov defende a teoria clssica da poesia, que estabelece que existe uma relao do mundo exterior com a arte, que seu valor est na obteno da verdade, que se traduz em beleza. O belo confunde-se com a verdade.

O rompimento com o classissimo se deu a partir de dois pontos da modernidade:

a idia do artista criador, simulando um Deus criador, capaz de criar obras fechadas em si mesmas, um universo particular.

a diferenciao da beleza e da verdade. A obra de arte destinar-se-ia apenas para produzir o belo, libertando-se da idia de existncia de uma verdade.

A verdade pode ser acessada igualmente por filsofos (ou cientistas) e poetas. Enquanto os primeiros concentram-se no abstrato, no universal, os poetas dedicam-se ao particular. Cabe ao leitor chegar ao abstrato a partir da histria que lhe foi apresentada.

Surge um abismo entre a literatura de massa, que conecta-se com a realidade imediata dos leitores, e a literatura de elite, que baseia-se em proezas tcnicas, to do agrado de leitores como professores, crticos literrios e outros autores.

ConclusoTodorov refora a idia de que existe uma ideologia dominante na literatura, e na arte, atual baseada no trinmio formalismo-niilismo-solipsismo. A literatura tem o poder de se constituir em um instrumento de consolao e compreenso do mundo, transformando o leitor a partir de dentro. Existe uma distino entre o leitor comum, que busca na literatura algo que d sentido a suas vidas e os crticos e acadmicos, que acreditam que a literatura s trata de si mesma. Impe-se hoje a necessidade da literatura se libertar de uma falsa idia de independncia e entender que seu valor est em sua conexo com o mundo real. Ler e compreender um livro entender o ser humano.

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Fichamento: TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009.

Apresentao edio brasileira

O fenmeno formalista impregnou o campo da teoria literria, assim como as produes acadmicas relacionadas s cincias sociais. Apesar de ser considerado um dos principais expoentes de tal corrente, Tzvetan Todorov modela sua argumentao ao redor da crtica empregabilidade de tal modelo. O estruturalismo, quando se apresenta radical e exclusivo, afasta a obra literria de toda relao possvel que ela possa ter com o mundo, com o real, com a vida (TODOROV, pgina 8). Tenta-se a captao da verdade intrnseca do texto como um mundo parte, buscando-se alcanar a maior imanncia possvel da obra. Para Todorov, o perigo que hoje ronda a literatura o de no ter poder algum, o de no participar da formao cultural do indivduo, do cidado (TODOROV, pgina 8). Isto quer dizer que no faltam aos estudantes de letras, por exemplo, capacidade intelectual ou esprito crtico, falta-lhes atribuir literatura um significado mais amplo, talvez irredutvel dissecao estruturalista, onde a literatura faz parte tanto da formao intelectual quanto tambm afetiva. Como diz Caio Meira, o contato maior que qualquer aluno do ensino mdio tem com o texto literrio de fato se d seja nas abonaes e exemplos que auxiliam na compreenso das regras e formaes da lngua portuguesa, seja nas prprias aulas de literatura, que se resumem principalmente ao ensino da histria e dos gneros literrios (TODOROV, pgina 9)A principal problemtica que Todorov apresenta como a literatura tem sido apresentada aos jovens, desde a escola primria at a faculdade. O estudante no entraria em contato com os textos diretamente, haveria uma inverso, fazendo com que tivesse contato primeiramente com alguma forma de crtica, de teoria ou de histria literria, o que caracterizaria o acesso literatura como algo disciplinar e institucional. Todorov em nenhum momento nega a contribuio estruturalista, apenas renega-a ao seu devido espao. Ou seja, o que Todorov reivindica que o texto literrio volte a ocupar o centro e no a periferia do processo educacional (e, por conseguinte, na nossa formao como cidados), em especial nos cursos de literatura (TODOROV, pgina 11). Literatura como algo, antes de tudo, social, e que tudo seja lido e discutido por gosto e interesse antes de ser classificado ou periodizado.

Prlogo

Venerar a leitura possibilita adentrar no universo dos escritores, sejam eles clssicos ou contemporneos. O estudo das cincias humanas se mostra imparcial quando dominado por alguma ideologia (o ideal socialista, por exemplo). Deve-se tratar os objetos sem nenhum cerne ideolgico, mas no limitar-se a analisar um texto simplesmente a partir de sua materialidade, seus recursos lingsticos, pois isso limitar-se-ia a uma simples anlise de tcnica literria. Quando mudou-se para a Paris por motivos de estudos, e em contato com Roland Barthes, professor da cole des Hautes tudes, Todorov comenta que tentaram modificar a orientao do ensino literrio na universidade, a fim de libert-la dos grilhes das naes e dos sculos, e promover sua abertura a tudo que pode aproximar as obras umas das outras (TODOROV, pginas 20-21). A partir de ento, a influncia da democracia pluralista francesa mostrou-se predominante sobre o totalitarismo blgaro a que estava acostumado. Como ele mesmo diz: minhas escolhas de abordagem da literatura: o pensamento e os valores contidos em cada obra no se viam mais aprisionadas numa coleira ideolgica preestabelecida; no havia mais razes para p-los de lado e ignor-los. As causas de meu interesse exclusivo pela matria verbal dos textos haviam desaparecido. De meados dos anos 70 em diante, perdi o interesse pelos mtodos de anlise literria e passei a me dedicar anlise em si, isto , aos encontros com os autores. A partir da, meu amor pela literatura no se via mais limitado educao recebida em meu pas totalitrio. De imediato, tive que procurar dominar novas ferramentas de trabalho; senti necessidade de me familiarizar com elementos e conceitos da psicologia, da antropologia e da histria. Uma vez que as idias dos autores recuperavam todas as suas foras, quis, para melhor compreend-los, mergulhar na histria do pensamento que concerne ao homem e suas sociedades, na filosofia moral e poltica. Sendo assim, o prprio objeto desse trabalho de conhecimento se ampliou. A literatura no nasce no vazio, mas no centro de um conjunto de discursos vivos, compartilhando com eles numerosas caractersticas; no por acaso que, ao longo da histria, suas fronteiras foram inconstantes. Senti-me atrado por essas formas diversas de expresso, no em detrimento da literatura, mas ao lado dela (TODOROV, pginas 21-22).Hoje, se me pergunto por que amo a literatura, a resposta que me vem espontaneamente cabea : porque ela me ajuda a viver. (...) A literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de conceb-lo e organiz-lo. (...) A literatura abre ao infinito essa possibilidade de interao com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente. Ela nos proporciona sensaes insubstituveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples entretenimento, uma distrao reservada s pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor sua vocao de ser humano (TODOROV, pginas 23-24). Desta maneira, o autor destaca a possibilidade de a literatura ser passvel de uma utilizao subjetiva, para a formao individual de cada indivduo como tal.

A literatura reduzida ao absurdo

Ao analisar a literatura ensinada nos colgios, Todorov evidencia o papel controverso que a mesma adquire. Compreende que os estudos literrios, primeiramente, tm como objetivo de nos fazer conhecer os instrumentos do quais se servem. Ler poemas e romances no conduz reflexo sobre a condio humana, sobre o indivduo e a sociedade, o amor e o dio, a alegria e o desespero, mas sobre as noes crticas, tradicionais ou modernas. Na escola no aprendemos acerca do que falam as obras, mas sim do que falam os crticos. (...) O ensinar uma disciplina, a nfase deve recair sobre a disciplina em si ou sobre seu objeto? (TODOROV, pgina 27). O pleno sentido do estudo literrio, segundo o autor, a obra em sua essncia. Todos esses objetos de conhecimento so construes abstratas, conceitos forjados pela anlise literria, a fim de abordar as obras; nenhum diz respeito ao que falam as obras em si, seu sentido, o mundo que elas evocam. Em sua aula, na maior parte do tempo, o professor de literatura no pode se resumir a ensinar, como lhe pedem as instrues oficiais, os gneros e os registros, as modalidades de significao e os efeitos da argumentao, a metfora e a metonmia, a focalizao interna e externa etc (TODOROV, pgina 28). Nota-se sua inteno em um estudo da literatura capaz de conduzir a um objeto exterior (o mundo), em contraposio a busca da construo arcaica da disciplina. As teorias a respeito das obras sobrepem-se abordagem da prpria obra. Todorov no tira a importncia da anlise estruturalista, apenas coloca-a em seu devido lugar. Pode ser til ao aluno aprender os fatos da histria literria ou alguns princpios resultantes da anlise estrutural. Entretanto, em nenhum caso o estudo desses meios de acesso pode substituir o sentido da obra, que o seu fim. Para erguer um prdio necessria a montagem de andaimes, mas no se deve substituir o primeiro pelos segundos. (...) As inovaes trazidas pela abordagem estrutural (...) so bem-vindas com a condio de manter sua funo de instrumentos, em lugar de se tornarem seu objetivo prprio. (...) Os ganhos da anlise estrutural, ao lado de outros, podem ajudar a compreender melhor o sentido de uma obra. preciso ir alm. No apenas estudamos mal o sentido de um texto se nos atemos a uma abordagem interna estrita, enquanto as obras existem dentro e em dilogo com um contexto; no apenas os meios no devem se tornar o fim, nem a tcnica nos deve fazer esquecer o objetivo do exerccio (TODOROV, pginas 31-32).Antes de tudo, l-se a literatura por prazer, buscando a realizao pessoal e um maior ordenamento e compreenso do homem e do mundo em si. isso que gera o amor mesma. Entendido isto, soma-se o uso de estruturas que auxiliem (e no ditem) sua anlise. O conhecimento da literatura no um fim em si, mas uma das vias rgias que conduzem realizao pessoal de cada um (TODOROV, pgina 33).

Alm da escola

O ensino nas escolas nada mais que um reflexo do mesmo nas universidades, conclui o autor. Esta tendncia advm desde os anos de 1960/1970, sob a bandeira estruturalista. Principalmente na Frana, a explicao do texto era calcada a partir de um contexto histrico e nacional. Antes de se interrogarem longamente sobre o sentido das obras, os doutorandos preparavam um inventrio exaustivo acerca de tudo que as cercava: biografia do autor, prottipos possveis das personagens, variantes da obra, alm das reaes provocadas por ela em seu tempo. (...) A meu ver, tanto hoje quanto naquela poca, a abordagem interna (estudo das relaes dos elementos da obra entre si) devia completar a abordagem externa (estudo do contexto histrico, ideolgico, esttico). O aumento da preciso dos instrumentos de anlise permitia estudos mais agudos e rigorosos; o objetivo ltimo, porm, permanecia a compreenso do sentido das obras (TODOROV, pgina 36). Em outro estudo seu, antecedente a este livro, Tzvetan Todorov diz que a desvantagem desse tipo de trabalho , digamos, sua modstia, o fato de no ir longe o suficiente, no passando de um estudo preliminar, que consiste precisamente em constatar e identificar as categorias em jogo no texto literrio, e no a nos falar do sentido do texto .Depois de maio de 1968 as estruturas universitrias e as hierarquias at ento existentes modificaram-se profundamente, no entanto, no houve um equilbrio, rumando-se assim ao extremo oposto: passou-se a prevalecer as abordagens internas e as categorias da teoria literria (embora esta mutao no possa ser considerada causa exclusiva da influncia do estruturalismo). At este momento, valorizava-se o estudo das causas sociais que conduzissem o surgimento da obra, as foras (sociais, polticas, ideolgicas, entre outras) que direcionassem o texto literrio, inclusive seu impacto no pblico. A preferncia, assim, era concedida insero da obra literria numa cadeia causal. (...) Esse estudo era criticado por nunca poder se tornar cientfico o bastante, sendo ento abandonado a outros comentadores, desvalorizados, a escritores ou a crticos de jornais. A tradio universitria no concebia a literatura como a encarnao de um pensamento e de uma sensibilidade, tampouco como interpretao do mundo (TODOROV, pgina 38). A partir da ruptura estruturalista, a obra impe o advento de uma ordem em estado de ruptura com o existente, a afirmao de um reino que obedece a suas leis e lgicas prprias , ou seja, a obra literria passa a ser representada como um objeto de linguagem fechada, auto-suficiente, absoluta em si. Isso refletiu no ensino da literatura no ensino mdio (a literatura no teria relaes com o restante do mundo, passveis seriam as relaes dos elementos da obra entre si), o que agravaria o desinteresse dos estudantes pelo texto literrio em geral.Da corrente estruturalista de anlise origina-se uma variante. Diversamente do estruturalismo clssico, que afastava a questo da verdade dos textos, o ps-estruturalismo quer de fato examinar essa questo, mas seu comentrio invarivel que ela nunca receber qualquer resposta. O texto s pode dizer uma nica verdade, a saber: que a verdade no existe ou que ela se mantm sempre inacessvel (TODOROV, pgina 40). Quase como o behaviorismo em relao ao acesso ao inconsciente. Ao analisar o ensino da literatura no ensino mdio, Todorov no mede palavras pala classificar o mesmo como promotor de uma concepo redutora da literatura (TODOROV, pgina 41). Tais fatos atentam para outro ponto crucial: o de que muitos escritores na verdade esperariam por elogios da crtica literria (o que ditaria um rumo artificial da sua obra, como algo pr-moldado segundo tendncias e influncias). Numerosa obras contemporneas ilustram essa concepo formalista da literatura; elas cultivam a construo engenhosa, os processos mecnicos (grifo meu) de engrendamento do texto, os ecos e os pequenos sinais cmplices. (...) Outra tendncia influente encarna uma viso de mundo que poderamos qualificar de niilista, segundo a qual os homens so tolos e perversos, as destruies e as formas de violncia dizem a verdade da condio humana, e a vida o advento de um desastre. No se pode mais, nesse caso, afirmar que a literatura no descreve o mundo: mais do que uma negao da representao, ela se torna a representao de uma negao. O que no a impede de permanecer como objeto de uma crtica formalista: j que, para essa crtica, o universo representado no livro auto-suficiente, sem relao com o mundo exterior, abrem-se as portas para sua anlise sem que se tenha de interrogar sobre a pertinncia das opinies expressas no livro, nem sobre a veracidade do quadro que ele pinta. A histria da literatura o mostra bem: passa-se facilmente do formalismo ao niilismo ou vice-versa, e podem-se mesmo cultivar os dois simultaneamente. (...) Outra prtica literria provm, com efeito, de uma atitude complacente e narcisstica que leva o autor a descrever detalhadamente suas menores emoes, suas mais insignificantes experincias sexuais, suas reminescncias mais fteis: quanto mais repugnante, mais fascinante o mundo! Falar mal de si, alis, no destri esse prazer, j que o essencial falar de si o que se diz secundrio. A literatura (nesse caso, diz-se preferencialmente, a escrita) tornou-se apenas um laboratrio no qual o autor pode estudar a si mesmo a seu bel-prazer e tentar se compreender. possvel qualificar essa terceira tendncia, aps as do formalismo e do niilismo, de solipsismo, de acordo com essa teoria filosfica que postula que o si mesmo o nico ser existente. A falta de verossimilhana dessa teoria, de fato, a condena marginalidade, mas isso no impede que ela se torne um programa de criao literria (TODOROV, pginas 42-43).Desta maneira, niilismo e solipsismo so claramente solidrios. Ambos repousam na idia de que uma ruptura radical separa o eu e o mundo, isto , de que no existe mundo comum. (...) o niilismo omite a incluso de um lugar para si mesmo e para os que lhe so semelhantes no quadro de desolao por ele pintado; o solipsismo negligencia a representao do contexto humano e material que o torna possvel. Niilismo e solipsismo mais completam a escolha formalista do que a refutam: a cada vez, mas a partir de modalidades diferentes, o mundo exterior, o mundo comum a mim e aos outros, que negado e depreciado. (...) A criao contempornea francesa solidria da idia da literatura que se pode encontrar na base do ensino e da crtica: uma idia absurdamente restrita e empobrecida (TODOROV, pgina 44).

Nascimento da esttica moderna

O autor enumera etapas para melhor compreender a tese segundo a qual a literatura no mantm ligao significativa com o mundo (e que, por conseguinte, sua apreciao no deve levar em conta o que ela nos diz do mundo). Numa viso clssica, a poesia caracteriza-se por agradar e instruir, ao mesmo tempo em que uma imitao da natureza. Visto isso, sua relao com o mundo encontra-se, assim, tanto do lado do autor, que deve conhecer as realidades do mundo para poder imit-las, quanto do lado dos leitores e ouvintes, que podem, claro, encontrar prazer nessas realidades, mas que delas tambm tiram lies aplicveis ao restante de sua existncia. (...) A partir do Renascimento, pede-se poesia que seja bela, mas a prpria beleza se define pela verdade e sua contribuio ao bem (TODOROV, pgina 46).A modernidade abala essa concepo. Primeiro, consiste em retomar e revalorizar uma antiga imagem: o artista criador, comparvel ao Deus criador, engrenda conjuntos coerentes e fechados e si mesmos. O Deus do monotesmo um ser infinito que produz um universo finito; ao imit-lo, o poeta se assemelha ao deus que fabrica objetos finitos (TODOROV, pginas 46-47). Exige-se coerncia nas criaes, no uma correspondncia qualquer da obra com algo que ela no . O poeta ilustra essas categorias, j que cria um mundo paralelo ao mundo fsico existente, um universo to independente quanto coerente (TODOROV, pgina 47). No segundo caso, consiste-se em dizer que o objetivo da poesia no imitar a natureza, muito menos instruir e agradar, mas produzir o belo. O belo se caracteriza pelo fato de no conduzir a nada que esteja para alm de si mesmo. (...) No mais o criador que, em sua liberdade, se aproxima de Deus; a obra em sua perfeio (TODOROV, pgina 48). Como resultado disso, nos sculos XVII e XVIII, o contemplar esttico, o juzo de gosto e o sentido do belo passam a ser institudos como entidades autnomas. O que h de revolucionrio nessa abordagem que ela conduz ao abandono da perspectiva do criador para adotar a do receptor, que, por sua vez, s tem um nico interesse: contemplar belos objetos. (...) Visto a partir da perspectiva da criao ou da fabricao, o artista apenas um arteso de melhor qualidade: os dois praticam o mesmo ofcio, com um pouco mais ou um pouco menos de talento. Ora, se nos situamos do lado de seus produtos, o arteso se ope ao artista, pois, se um cria objetos utilitrios, o outro cria objetos a serem contemplados apenas pelo prazer esttico proporcionado; um obedece a seu interesse, e o outro permanece desinteressado; um se situa sob a lgica do usar, e o outro na do fruir; e, por fim, um permanece puramente humano, e o outro se aproxima do divino (TODOROV, pgina 50). Assim, nota-se que as artes exigem um local em que podem ser consumidas (museus, galerias, etc), o que caracteriza o objetivo nico de serem contempladas e apreciadas por seu valor esttico.Os dois movimentos que transformam no sculo XVIII a concepo de arte, isto , a assimilao do criador a um deus fabricante do microcosmo e a assimilao da obra a um objeto de contemplao, ilustram a progressiva secularizao do mundo na Europa ao mesmo tempo em que contribuem para uma nova sacralizao da arte. Nesse momento da histria, a arte encarna tanto a liberdade do criador como a sua soberania, sua auto-suficincia e sua transcendncia com relao ao mundo. (...) A ausncia de finalidade externa , de algum modo, compensada pela densidade das finalidades internas, ou seja, pelas relaes entre as partes e os elementos da obra (TODOROV, pgina 52). Assim, h uma maior significao e potencial de anlise da obra quando vista atravs do prisma interno (caracteres externos de formao da mesma so ignorados).

A esttica das Luzes

Com a deteriorizao do mecenato, o artista destina suas obras ao pblico que as adquire: o pblico que passa a ter as chaves do seu sucesso. O que se reservava a poucos, agora torna-se acessvel a todos. Pem-se em p de igualdade todos os consumidores. O esprito das Luzes o da autonomia do indivduo; a arte que conquista sua autonomia participa do mesmo movimento (TODOROV, pgina 53). O que belo harmonioso e proporcional. O que harmonioso e proporcional verdadeiro, e o que ao mesmo tempo belo e verdadeiro , por conseguinte, agradvel e bom. O processo de percepo e a ao dos sentidos no esgotam a experincia dita esttica, e menos ainda porque a arte considerada habitualmente como exemplar, a poesia, no em sua essncia relativa viso nem audio, mas exige a mobilizao do esprito: a beleza da poesia sustenta-se em seu sentido e no pode ser separada da verdade. Esses pensadores no renunciam, portanto, a ler as obras literrias como um discurso sobre o mundo, mas procuram, especialmente, distinguir entre duas vias, a dos poetas e a dos cientistas (ou filsofos), cada uma delas com suas vantagens, sem que uma seja inferior outra: duas vias que conduzem ao mesmo objetivo, uma melhor compreenso do homem e do mundo, uma sabedoria mais ampla (TODOROV, pginas 54-55). O poeta , assim, concebido como o criador de um mundo possvel entre outros (legitimando a perspectiva esttica, privilegiando a percepo em detrimento da criao). Desta maneira, a verdade que conduz de natureza diversa daquela das cincias, (...) O nome que lhe convm o de verossimilhana, e seu efeito produzido pela coerncia interna do mundo criado. A abstrao apreende o geral ao custo, porm, de um empobrecimento do mundo sensvel; a poesia capta sua riqueza, mesmo que as concluses s quais chega caream de clareza; o que ela perde em acuidade, ganha em vivacidade (TODOROV, pgina 56).O grande autor do iluminismo alemo, Lessing, diz que a especificidade da obra de arte produzir o belo, e este se define como uma harmonia de seus elementos constitutivos sem submisso a um objeto exterior. Por outro lado, a obra participa de um conjunto mais amplo de prticas que tm como objetivo buscar a verdade do mundo e de conduzir os homens em direo sabedoria (TODOROV, pgina 56). Assim, o autor alemo no renuncia a alocar a arte no centro das atividades representativas (essa imitao que a essncia da arte do poeta, ele escreve). O escritor criaria um mundo coerente, porm autnomo e a obra, de uma forma ou de outra, acaba por escapar a seu autor. bom lembrar, como j foi dito, que a verdade potica, no entanto, diferente da do mundo cientfico, pois tem mais a ver com a verossimilhana. No se trata de uma verdade puramente equivalente a uma realidade. O belo no pode ser estabelecido objetivamente, uma vez que provm de um juzo de gosto e reside, portanto, na subjetividade dos leitores e espectadores; mas ele pode ser reconhecido pela harmonia dos elementos da obra e tornar-se objeto de consenso. (...) A arte pela arte, e sem objetivo; todo objetivo desnatura a arte. Mas a arte atinge o objetivo que no tem (TODOROV, pginas 58 e 59). notvel que a obra venha a agir sobre o esprito do leitor, embora, a instruo no ser o objetivo, mas o efeito do quadro . Como o prprio Constant enfatiza, a literatura refere-se a tudo. No pode ser separada da poltica, da religio, da moral. a expresso das opinies dos homens sobre cada uma das coisas. Como tudo na natureza, ela ao mesmo tempo efeito e causa. Imagin-la como fenmeno isolado no imagin-la . Todorov complementa sua fala ao dizer que poesia pura no existe: toda poesia necessariamente impura, pois necessita de idias e valores; ora, tanto um quanto outro no lhe pertencem propriamente (TODOROV, pgina 60)

Do Romantismo s vanguardas

A esttica iluminista deslocara o centro da gravidade da imitao beleza, afirmando assim a autonomia da obra de arte. Porm, esta esttica no ignora as relaes que ligam as obras ao real. Visto isso, notvel destacar que a esttica romntica, imposta a partir do incio do sculo XIX, no introduz nenhuma ruptura exorbitante. Deve ser lembrado, no entanto, que nesse mesmo momento que o prestgio da cincia comea a crescer vertiginosamente; sem surpresa que se v a reivindicao romntica no encontrar nenhum eco favorvel na sociedade contempornea (TODOROV, pgina 62). Como o prprio Baudelaire instigava, a poesia no se submeteria procura da verdade ou do bem, j que detentora de uma verdade e de um bem superiores queles que podemos encontrar fora dela (em frase sua, a imaginao a mais cientfica das faculdades porque apenas ela pode compreender a analogia universal). Assim, a arte e a poesia no deixam de ter algo a ver com a verdade, mas esta no tem a mesma natureza que aquela inspirada pela cincia. (...) Uma relao se estabelece entre as palavras e o mundo, mas as duas verdades no se confundem (TODOROV, pgina 64). O copiar e o interpretar encontram-se assim em campos opostos. Trata-se aqui de uma verdade de correspondncia ou de adequao. (...) A prpria beleza no uma noo nem objetiva (que possa ser estabelecida a partir de indcios materiais) nem subjetiva, ou seja, que dependa do juzo arbitrrio de cada um; ela inter-subjetiva, pertencente, portanto, comunidade humana (TODOROV, pginas 64-65).A funo da literatura criar, partindo do material bruto da existncia real, um mundo novo que ser maravilhoso, mais durvel e mais verdadeiro do que o mundo visto pelos olhos do vulgo. Ora, criar um mundo mais verdadeiro implica que a arte no rompe sua relao com o mundo (TODOROV, pgina 66). Assim ela : autnoma, ao mesmo tempo que dependente do cenrio que a cerca, do mundo em si.No comeo do sculo XX nota-se uma ruptura. A partir de ento, a pretenso da literatura ao conhecimento no deixa de ser legtima (e os discursos da filosofia e da cincia vem-se marcados pela mesma suspeita). Desse momento em diante, cava-se um abismo entre a literatura de massa, produo popular em conexo direta com a vida cotidiana de seus leitores, e a literatura de elite, lida pelos profissionais crticos, professores e escritores que se interessam somente pelas proezas tcnicas de seus criadores. De um lado, o sucesso comercial; do outro, as qualidades puramente artsticas. Tudo se passa como se a incompatibilidade entre as duas fosse evidente por si s, a ponto de a acolhida favorvel reservada a um livro por um grande nmero de leitores tornar-se o sinal de seu fracasso no plano da arte, o que provoca o desprezo ou o silncio da crtica (TODOROV, pgina 67)Com as vanguardas, advm uma nova concepo da arte em si. Tal movimento se manifesta pela primeira vez na Rssia, em 1910, e trata-se do incio da abstrao na pintura e das invenes futuristas na poesia. Assim, esquece-se o mundo material, a arte agora obedece s suas prprias leis. Como conseqncia, o mundo fenomenal, o mundo acessvel aos olhos de todos deixa de ser levado em considerao. (...) A intersubjetividade, que repousa na existncia de um mundo comum e de um sentido comum, d lugar pura manifestao do indivduo (TODOROV, pginas 68-69).Nos regimes totalitrios instalados no ps-guerra, (...) h a preocupao de colocar a arte a servio de um projeto utpico, o da fabricao de uma sociedade inteiramente nova e de um homem novo. O realismo socialista, a arte do povo e a literatura de propaganda ideolgica exigem a manuteno de uma relao de fora com a realidade circundante e, sobretudo, tambm impem a submisso aos objetivos polticos do momento, o que se mostra diametralmente oposto a toda proclamao de autonomia artstica e a toda procura solitria do belo. A arte deve, como exige a esttica clssica, agradar (um pouco), mas sobretudo, instruir. Muitos artistas viro responder com tanto entusiasmo e com tanta adeso a essa questo, que eles prprios passaro a cham-la de a revoluo dos seus anseios. Ao mesmo tempo, mas em locais onde reina a liberdade de expresso, inicia-se um combate a essa usurpao da autonomia do indivduo, afirmando-se que a arte e a literatura no mantm nenhuma ligao significativa com o mundo. (...) Tudo se passa como se a recusa em ver a arte e a literatura subjugadas ideologia acarretasse necessariamente a ruptura definitiva entre a literatura e o pensamento; como se a rejeio das teorias marxistas do reflexo exigisse o desaparecimento de toda relao entre a obra e o mundo. Ao utopismo de uns corresponde o formalismo dos outros (TODOROV, pginas 69-70). Nos dias atuais, a sociedade caracteriza-se pela coexistncia mais ou menos pacfica tanto de ideologias diferentes quanto de concepes concorrentes da arte.

O que pode a literatura?

Um livro pode expressar muito bem os sentimentos do leitor que o usufrui. Os personagens se tornam mais importantes que os de carne e osso encontrados no dia-a-dia, visto que so inesgotveis em suas possibilidades. A literatura pode muito. Ela pode nos estender a mo quando estamos profundamente deprimidos, nos tornar ainda mais prximos dos outros seres humanos que nos cercam, nos fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver. No que ela seja, antes de tudo, uma tcnica de cuidados para com a alma; porm, revelao do mundo, ela pode tambm, em seu percurso, nos transformar a cada um de ns a partir de dentro. A literatura tem uma papel vital a cumprir; mas por isso preciso tom-la no sentido amplo e intenso que prevaleceu na Europa at fins do sculo XIX e que hoje marginalizado, quando triunfa uma concepo absurdamente reduzida do literrio. O leitor comum, que continua a procurar nas obras que l aquilo que pode dar sentido sua vida, tem razo contra professores, crticos e escritores que lhe dizem que a literatura s fala de si mesma ou que apenas pode ensinar o desespero. Se esse leitor no tivesse razo, a leitura estaria condenada a desaparecer num curto prazo. (...) A literatura pensamento e conhecimento do mundo psquico e social em que vivemos. A realidade que a literatura aspira compreender , simplesmente (mas, ao mesmo tempo, nada assim to complexo), a experincia humana. Nesse sentido, pode-se dizer que Dante ou Cervantes nos ensinam tanto sobre a condio humana quanto os maiores socilogos e psiclogos e que no h incompatibilidade entre o primeiro saber e o segundo (TODOROV, pginas 76-77). Desta maneira, a literatura nos faz viver experincias singulares. O escritor no faz a imposio de uma tese, mas incita o leitor a formul-la: em vez de impor, ele prope, deixando, portanto, seu leitor livre ao mesmo tempo em que o incita a se tornar mais ativo (TODOROV, pgina 78). A obra literria produz um tremor de sentimentos, abalando o aparelho da interpretao simblica, despertando assim a capacidade de associao que continuam muito tempo aps o contato inicial (elemento este que o leitor do texto cientfico no encontra).A literatura contribui assim para nossa compreenso do mundo. A leitura de romances nos possibilita contatos com personagens, analisando suas aes e dizeres, interpretando-os. Conhecer novas personagens como encontrar novas pessoas, com a diferena de que podemos descobri-las interiormente de imediato, pois cada ao tem o ponto de vista do seu autor. Quanto menos essas personagens se parecem conosco, mais elas ampliam nosso horizonte, enriquecendo assim nosso universo. (...) O que o romance nos d no um novo saber, mas uma nova capacidade de comunicao com seres diferentes de ns; nesse sentido eles participam mais da moral do que da cincia (TODOROV, pginas 80-81). O autor quer que se aceite a forte relao da literatura com o mundo, assim como a contribuio da mesma para a formao moral do indivduo. Fechando o captulo, Todorov complementa que por isso que devemos encorajar a leitura por todos os meios inclusive a dos livros que o crtico profissional considera como condescendncia, se no com desprezo, desde Os Trs Mosqueteiros at Harry Potter: no apenas esses romances populares levaram ao hbito da leitura milhes de adolescentes, mas, sobretudo, lhes possibilitaram a construo de uma primeira imagem coerente do mundo, que, podemos nos assegurar, as leituras posteriores se encarregaro de tornar mais complexas e nuanadas (TODOROV, pgina 82).

Uma comunicao inesgotvel

A veracidade seria a nica exigncia legtima a se fazer literatura. Que se submeta a verdade ou a moral? necessrio primeiro alocar o escritor na sua prpria obra, alm de averiguar a natureza da verdade qual ela ascende. Assim, uma preocupao com a verdade resultar necessariamente em um efeito moral (no se trata de uma moral puramente exposta, mas percebida, e assim possa ser aceita ou rejeitada). Se isso no ocorre, das duas uma: ou o livro muito ruim ou o leitor um imbecil. O objetivo da literatura representar a existncia humana, mas a humanidade inclui tambm o autor e o seu leitor. Voc no pode se abstrair dessa contemplao; pois o homem voc, e os homens so o leitor. Por mais que faa, sua narrativa sempre ser uma conversa entre voc e esse leitor. A narrativa est necessariamente inserida num dilogo do qual os homens no so apenas o objeto, mas tambm os protagonistas (TODOROV, pgina 86). No se procura algo durante a leitura, simplesmente se acha algo que identifique o leitor obra que l, tendo como conseqncia uma viso mais definitiva e ampla da vida em geral. A verdadeira realidade uma mistura de beleza e feira, de palidez e luminosidade. Assim, aqueles que num certo momento foram chamados de realistas fizeram uma escolha que trai a realidade: eles obedecem a uma conveno arbitrria que lhes exige representar unicamente a face negra do mundo (TODOROV, pgina 87).A literatura anseia, sobretudo, por uma forma de verdade, no entanto, debates so construdos ao redor da veracidade destas narrativas. O que certo que a obra literria transforma o ser de cada um dos seus leitores a partir de seu interior. Isto liberta a literatura do espartilho asfixiante que a prende, percorrer-se-iam assim horizontes mais amplos, retirando-a do gueto formalista que interessa apenas aos crticos, proporcionando obra literria em si a abertura para o grande debate de idias do qual participa todo conhecimento do homem. Concluindo a problemtica anteriormente apresentada, a anlise das obras feitas na escola no deveria mais ter por objetivo ilustrar os conceitos recm-introduzidos por este ou aquele lingista, este ou aquele terico da literatura, quando, ento, os textos so apresentados como uma aplicao da lngua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter acesso ao sentido dessas obras pois postulamos que esse sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano, o qual importa a todos (TODOROV, pgina 89).O estudo da obra remete a crculos concntricos cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas seu contexto final, o mais importante de todos, nos efetivamente dado pela prpria existncia humana. Todas as grandes obras, qualquer que seja a sua origem, demandam uma reflexo dessa dimenso. O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma obra e revelar o pensamento do artista? Todos os mtodos so bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem fins em si mesmos. (...) Aquilo de que nos damos conta, gradualmente, que todas as perspectivas de um texto, longe de serem rivais, so complementares desde que se admita de incio que o escritor aquele que observa e compreende o mundo em que vive (TODOROV, pgina 91).Todorov prega o entendimento da literatura de uma maneira ampla e, embora se reconheam as virtudes das obras literrias, no certo que a verdadeira vida a literatura ou que tudo no mundo existe para se conduzir a um livro. Sendo o objeto da literatura a prpria condio humana, aquele que a l e a compreende se tornar no um especialista em anlise literria, mas um conhecedor do ser humano (TODOROV, pginas 92-93).