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Comentários: Professor Doutor José Augusto Carvalho

Centro Educacional Charles DarwinColetânia de Redações

Dezembro de 2002

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Professor Doutor José Augusto Carvalho

PALAVRAS DO PROFESSOR JOSÉ AUGUSTO CARVALHO

A dissertação é o tipo de texto que se exige em todos os concursos ofi ciais, inclusive nos exames de seleção às universidades, porque é por meio dela que se avalia não apenas o domínio que o candidato ou o aluno tem da sintaxe da sua língua, num registro formal, mas também sua capacidade de raciocinar, de concatenar as idéias, de argumentar. A narração e a descrição, se eventualmente aparecerem num texto dissertativo, visam apenas a ilustrar algum ponto de vista ou a esboçar o quadro de alguma situação ou vulto histórico. Afi nal, a fábula, a parábola e o apólogo são narrativas argumentativas e podem servir de apoio ao candidato no desenvolvimento ou na defesa de alguma idéia.

Por isso a dissertação tem sido um dos problemas com que os professores de língua portuguesa e até mesmo os de outras disciplinas se preocupam em todos os níveis de ensino, porque diz respeito não apenas ao desempenho lingüístico do aluno na escrita formal, mas também — e sobretudo — à capacidade de raciocinar e de externar o raciocínio de modo coerente.

A difi culdade que a dissertação oferece ao aluno é fruto, em parte, da falta de leitura. Essa pouca intimidade com livros, jornais e revistas torna o aluno alheio aos problemas do cotidiano e o impede de pensar com clareza, o que o leva a dizer disparates como:

1. Tivemos neste ano de 2002 a guerra entre árabes e jesuítas que só vê mortes e desgraças.

2. O casamento é uma união para gerar outro individuo, geralmente criança, e assim sucessivamente.

3. Metade do povo acha o governo FHC ruim, outra metade acha regular e só uma pequena metade acha bom.

4. No Brasil, a eutanásia é permitida ilegalmente, e deveria acontecer no último dia de vida do paciente, e não antes, porque, enquanto há vida, há esperança.

5. Sem motoristas e pedestres, o trânsito no Brasil seria mais organizado.As frases acima, retiradas de um extenso exemplário colhido de três vesti-

bulares diferentes, revelam, palidamente embora, que os nossos estudantes não têm o hábito de raciocinar quando escrevem, nem o de reler o que conseguem escrever. Como só se pode aprender a nadar nadando, acredito que só se pode aprender a escrever escrevendo. Um aluno que não tem o hábito de ler pode chegar a escrever com relativa clareza e correção, se tiver pelo menos o hábito de raciocinar, de pensar no que vai escrever, não só para concatenar com co-esão e coerência as suas frases com um objetivo predeterminado (orientação discursiva), mas também para não falar sobre o que ignora (como a guerra entre “árabes e jesuítas”).

Por essas razões todas, além de oportuna, esta iniciativa do Concurso de Redação promovido pelo Darwin é importantíssima para despertar nos jovens

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Etapas do Concurso: 1a etapa:Classificação dos alunos que alcançaram nota superior a 80% em alguma redação no ano.2a etapa:Correção da prova realizada, em 11 de novembro pela equipe de professores do Darwin (Andréa Soares Freire, Nina Zogbi e Lúcio Vieira de Almeida) e seleção das 35 melhores redações.3a etapa:Reavaliação das 35 redações e seleção das 10 melhores pelo professor Dr. José Augusto Carvalho

o gosto pela redação e pela leitura.Coube-me a tarefa de selecionar as melhores redações dentre as melhores,

de fazer um relatório do conjunto e de escrever algumas linhas sobre cada uma das redações escolhidas. Ainda que uma escolha desse tipo possa parecer alta-mente subjetiva, há critérios objetivos que podem norteá-la: as referências, as substituições, as elipses, as conjunções, as colocações, tudo aquilo a que se pode chamar de “coesão estrutural” do texto; há os esquemas, os scripts, os frames, os modelos cognitivos, a orientação discursiva, as inferências, o recurso às fontes fi dedignas, não necessariamente ao argumento de autoridade, para a sustentação de um ponto de vista, além , é claro, da “correção” lingüística, isto é, da ade-quação do texto aos preceitos da gramática da norma culta. A correção e a nota não são, portanto, tarefas de mera análise impressionista, antes, pelo contrário, são conseqüência da aplicação de critérios lingüístico-textuais objetivos. Pode haver uma redação melhor que outra, em termos argumentativos, mas prejudicada em sua classifi cação pela existência de erros elementares que poderiam ter sido evitados e que comprometeram a coesão ou a coerência textuais.

Estruturalmente, por exemplo, houve casos em que:1. Faltou a oração principal: “A escolha de representantes desonestos e

incapazes de governar, tornando pior a qualidade de vida onde o pobre sempre sai perdendo e assim, com difi culdades para viver, acaba praticando crimes, furtos, entre outros.”

2. Se utilizaram palavras ou vocábulos inadequadamente: “..selvageria já proferida pelo fi lósofo...”; “instituições que perduram (= fazem durar) o mundo paralelo...” etc.

3. Houve erros de crase, de emprego de demonstrativos, de regência, de concordância, do emprego da locução prepositiva “frente a” por “em frente de”, do emprego de “dentre” por “entre”, etc., comuns a todos os trabalhos escolares. A incidência desses erros, contudo, não foi alarmante.

Do ponto de vista da exploração do tema, muitos pecaram por indução (“E difícil encontrar policiais que exerçam sua função realmente”) ou por falta de respaldo para suas premissas (petição de princípio, falsa causa, falácia de acidente, raciocínio do tipo non sequitur, etc.), como atribuir a criminalidade à miséria ou ao desemprego ou à falta de escolaridade, sem apoio estatístico ou sem indicação de fontes.

Algumas redações, como a que obteve o 9º lugar, pecaram na argumentação, mas sustentaram-se na correção lingüística e no estilo agradável; outras, como a 7ª classifi cada, mostraram um estilo frio, quase jornalístico, com sobriedade e elegância. Todas, porém, mostraram, ou melhor, mostram como pensam os jovens estudiosos sobre questões cruciais do seu País e da sua época.Vamos, pois, aos textos vencedores.

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CONHEÇA AQUI OS VENCEDORES:

Autora: Annelise Moreira RamosTítulo: Procura-se: segurançaUnidade: Vila Velha

Autora: Priscilla LittigTítulo: Uma análise sobre a violênciaUnidade: Vila Velha

Autora: Nathalia Catarinozi CecconTítulo: Os desafios para alcançar a pazUnidade: Guarapari

Autora: Ana Luíza Mendes AmorimTítulo: “(nem) Vida de Cão”Unidade: Jardim da Penha

Autora: Jullyane Rocha AlvesTítulo: Mãos ao alto!Unidade: Cachoeiro de Itapemirim

Autor: Roger Bongestab dos SantosTítulo: Violência urbana: um medo de todosUnidade: Vila Velha

Autora: Lorena Gaburro OrlettiTítulo: Violência, uma preocupação atualUnidade: Vila Velha

Autor: Christiane Alves AlvarengaTítulo: Cotidiano violentoUnidade: Vila Velha

Autora: Fabíola Holzmeister MunizTítulo: O caos da segurança públicaUnidade: Jardim da Penha

Segundo Lugar

Terceiro Lugar

Quarto Lugar

Quinto Lugar

Sexto Lugar

Sétimo Lugar

Oitavo Lugar

Nono Lugar

Décimo Lugar

Autor: Doglas Gobbi MarchesiTítulo: Violência urbana: Questão de prevenção e

contençãoUnidade: Vila Velha

Primeiro Lugar

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Violência urbana: Questão de prevenção e contenção

A violência urbana está entre as maiores preocupações da população brasileira, ficando atrás somente do desemprego. Essa realidade é o resultado da convivência, tanto da população quanto do governo, na busca e na execução de soluções para as falhas do país na prevenção e na contenção da criminalidade.

A prevenção da violência se baseia, principalmente, na dispo-nibilização, por parte do governo, das condições necessárias para que todo cidadão possa sobreviver de forma digna e honesta. Entre essas condições, a educação é, talvez, a mais importante, pois proporciona oportunidades de trabalho e estabilidade no emprego. Porém o que se observa nos últimos anos é o descaso dos governantes. Como conse-qüência, o nível de escolaridade no país é muito baixo, limitando as oportunidades dos humildes, que são atraídos para o crime.

A contenção da violência urbana tem dois “pilares”: o aparato policial eficiente e o sistema carcerário bem estruturado. A polícia bem equipada, com policiais capacitados, além de dar segurança à popula-ção, inibe a ação criminosa, reduzindo a criminalidade. Todavia a po-lícia brasileira é despreparada, pouco equipada e corrupta, provocando impunidade e medo na população, que se arma, aumentando ainda mais a violência. Por sua vez, o sistema carcerário eficaz possibilita a recuperação dos presos, evitando que eles cometam mais crimes. Entretanto o sistema carcerário, no Brasil, é obsoleto, insuficiente e desumano, agravando a revolta dos encarcerados e a violência urbana.

O importante para a redução desse alarmante quadro social é que a população não se acomode como tem feito em relação à miséria, à fome, à corrupção e a outros problemas do país. Só exigindo dos governantes investimentos na educação, reforma no sistema carcerário

PRIMEIRO LUGAR

Aluno: Doglas Gobbi MarchesiUnidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: Pré-Vestibular - P2

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Comentário do professor:

e combate à corrupção policial, o Brasil poderá tornar-se mais seguro e um lugar melhor de se viver.

É verdade que o Autor, logo no primeiro parágrafo, se refere a uma convivência sem complemento nominal, mas sua idéia básica está bem desenvolvida e bem sustentada ao longo do texto: para ele, a edu-cação favorece a obtenção do emprego e aumenta as oportunidades de vida para os humildes. A educação, portanto, é preventiva. O A. defende a eficiência do aparato policial e a estruturação do sistema carcerário para conter a violência urbana. Sugere que a população não se acomode diante da violência, como se tem acomodado diante de outros problemas do país, como a miséria, a fome e a corrupção, e conclui pedindo aos governantes que invistam na educação, na reforma do sistema carcerário e no combate à corrupção policial.

Pessoalmente, não creio que a baixa escolaridade seja causa do desemprego ou da violência, sobretudo se considerarmos que pessoas até com mestrado ou doutorado têm dificuldades para entrar no mercado de trabalho. Os grandes criminosos, os traficantes, os maiores corruptos e os bandidos mais temidos do país não são analfabetos nem pobres. Mas há uma diferença entre o que eu penso e o modo como o A. desenvolveu seu raciocínio. Ainda que tenha partido de uma premissa supostamente falsa, sua argumentação é válida e seus argumentos são legítimos.

Mereceu a nota máxima e o primeiro lugar.

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Procura-se: segurança

Cerca de cento e dez assassinatos ocorrem por dia no Brasil. Dados alarmantes como esse tornam-se ainda mais preocupantes, quando se sabe que poucos deles são investigados até o fim. A violência que se limitava aos morros e às favelas expandiu-se, e todos os lugares se tornaram possíveis palcos para sua manifestação. Há nas casas grades e altos muros, nas escolas vigilância reforçada, e não se anda pelos grandes centros sem um constante cuidado.

Bandidos e traficantes agem pelas cidades como se nada pudesse detê-los. Perdeu-se o medo das punições da justiça. Sabe-se que isso ocorre devido à desmoralização da polícia brasileira, entre outros fatores. Com os baixos salários que recebem, muitos policiais são facilmente corrompidos pelos infratores, e é essa ligação entre eles que “impede” a apuração de muitos casos e o seu conseqüente julgamento. A lentidão na apuração dos processos e o restrito número de vagas nas cadeias limitam ainda mais o número de condenados. A falta de punição adequada funciona como incentivo para aqueles que corrompem a lei.

É visível, no país, o crescimento do poder paralelo dos trafi-cantes. Adere ao tráfico um número cada vez maior de jovens a todo momento. Se, por um lado, parte dos novos membros são atraídos pelo lucro proporcionado pelo comércio de drogas, pelas péssimas condições que enfrentam no morro e pela falta de oportunidade fora dele, por outro, jovens de classe média e alta se integram a ele devido ao vício. Infelizmente, esses jovens, apesar das diferenças de classes, têm levado a violência também para os seus meios em função do uso

SEGUNDO LUGAR

Aluna: Anellise Moreira RamosUnidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: Pré-Vestibular - P2

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Comentário do professor:

das drogas. Como foi visto em âmbito nacional, jovens drogados de classe média, além de furtar e seqüestrar, agora assassinam aqueles que se tornam obstáculos aos seus caminhos.

Medidas devem ser tomadas para conter essa onda de violência, e devem ser aplicadas o mais rápido possível. Enquanto investimentos devem ser feitos nas favelas a fim de “seduzir” os jovens antes do tráfico, com atividades educacionais, ou de lazer, como incentivo ao esporte e formação de teatros, outros investimentos de igual importân-cia devem ser direcionados ao aprimoramento dos policiais brasileiros, à expansão dos presídios e ao aumento de sua segurança. É preciso acabar com a violência antes que ela transforme o poder paralelo no dominante no país e os brasileiros em prisioneiros dentro de suas próprias casas.

A Autora revela desde o primeiro parágrafo sua preocupação com a impunidade que, para ela, é fruto da desmoralização da polícia brasilei-ra, que, desmotivada, em função dos baixos salários, adere à corrupção.

A falta de punição acaba incentivando o infrator a ousar mais e a fortalecer-se na arrogância e no poder de fogo, engrossando o perigo do “poder paralelo”.

A Autora parte para a análise desse poder paralelo, constituído basicamente pelos traficantes que aliciam jovens seja pelo lucro fácil, seja pelo vício.

A Autora sugere que se façam investimentos nas favelas a fim de atrair os jovens antes do tráfico, com atividades educacionais, lúdicas ou esportivas, e que se invista no aprimoramento dos policiais, antes que os brasileiros, temerosos de sair às ruas, se tornem prisioneiros em suas próprias casas.

E bem verdade que as leis não são rigorosas e deixam brechas que os rábulas sabidos aproveitam para burlar a justiça, favorecendo o criminoso. Mas a Autora prefere analisar o problema sob um enfoque mais social e mais pragmático, sobretudo porque seria uma temeridade invadir uma área em que claudicaria por não dominá-la.

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TERCEIRO LUGAR

Aluna: Priscilla LittigUnidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: Pré-Vestibular - P2

Uma análise sobre a violência

A violência urbana nunca preocupou tanto os cidadãos brasi-leiros quanto nos últimos anos. Hoje, 21% da população do Brasil (percentual sete vezes maior que o de 1998) a consideram o maior problema do país. Diante dos incontáveis exemplos veiculados pela Imprensa e, muitas vezes, vivenciados, parte considerável da sociedade procura entender as causas do problema, a fim de que, assim, possa buscar as soluções apropriadas.

Analisando-se as diversas manifestações de violência, conclui-se que, excluindo-se pessoas psicologicamente desestruturadas, isto é, violentas sem explicação flagrante, como a assassina Suzane Louise von Richthofen, estudante, envolvida na morte de seus pais ou o famoso franco-atirador, preso, recentemente, nos Estados Unidos, o fator básico do problema é a desigualdade social. As disparidades originadas por um sistema capitalista selvagem que visa a lucros em quaisquer situações fomentam, sem dúvida, práticas violentas.

Aliado à falta de condições mínimas de sobrevivência (ausência de emprego, por exemplo) está o tráfico de drogas, negócio altamente rentável. Ao alterarem as propriedades psíquicas dos usuários e pro-moverem vultosa circulação monetária, os entorpecentes, ao mesmo tempo, promovem atos de violência e resolvem a questão da falta de oportunidades.

Nota-se, então, que a escalada das atrocidades verificadas rotineiramente se dá, em última análise, por causa da inexistência de condições de vida dignas. Solucionar o problema implica, portan-to, a adoção de medidas que o combatam: aplicação de um modelo econômico que privilegie políticas sociais, que proporcione meios para

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Comentário do professor:

os cidadãos se desenvolverem, produzirem; punição justa e efetiva dos infratores, que seriam conduzidos a penitenciárias distantes dos grandes centros, onde teriam funções a realizar e, obviamen-te, priorização do setor educacional, principal modificador de sociedades.

Dessa forma é essencial saber que, para desacelerar o crescimen-to da violência, todos os brasileiros devem lutar a fim de que as soluções necessárias sejam realizadas. Não se pode deixar de se indignar com as ações absurdas praticadas cotidianamente, nem se acomodar com a realidade desestimulante. Cabe à população esclarecida buscar a concretização das propostas de mudança.

A Autora exclui a violência imprevisível de sua análise, isto é, a violência que é provocada por um desequilibrado mental ou a violência doméstica como a que levou à morte o casal Richthofen, e atribui a vio-lência urbana ao desemprego, ao tráfico de drogas e, sobretudo, à falta de condições para uma sobrevivência digna.

A Autora sugere, entre as medidas que ela acredita que possam combater a violência, a adoção de uma política econômica menos perversa que contemple as classes socialmente menos favorecidas e a priorização do setor educacional.

A A. finaliza sua análise sugerindo a participação ativa da sociedade na busca das mudanças propostas.

E verdade que é questionável a idéia de que uma das causas da violência esteja na falta de escolaridade ou na pobreza, mas é procedente sua crítica às desigualdades sociais em que poucos têm muito, e muitos não têm nada, o que não raro revolta os socialmente marginalizados.

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QUARTO LUGAR

Aluna: Nathalia Catarinozi CecconUnidade: Guarapari Cidade: Guarapari (ES)Série: 3o ano

Os desafios para alcançar a paz

Um absurdo. Assim se define a situação da sociedade. A violência, maior preocupação da população, tem alcançado níveis alarmantes, com os quais o povo não consegue conviver. A incerteza e o medo já dominaram a vida de muitos, porém não podemos escolher o conformismo como solução. O combate a esse mal exige uma mo-bilização total, e pode restringir-se a ações isoladas. Trata-se de um obstáculo complexo, cujas origens estão nas desigualdades sociais.

A exclusão e o desemprego são apontados como causas desse problema. No entanto, eles são apenas a superfície de algo mais profundo. A sociedade desvinculou-se dos valores éticos e morais; não existe respeito. É preciso resgatar a importância de cada indivíduo para a construção de um sistema mais justo. E a “peça enigmática” para que isso aconteça é uma melhor distribuição de direitos básicos, como saúde, educação e emprego. Todavia seus resultados só serão percebidos a longo prazo, o que dificulta sua adoção.

Também é necessário acabar com a impunidade e a corrupção. Essas medidas precisam ser implantadas com urgência. Não vai ser fácil erradicar – ou até mesmo diminuir – a violência. Entretanto a história da humanidade foi construída por tentativas e planos. Não podemos mais aceitar a usurpação de nossos direitos. O fim da vio-lência exige que atitudes sejam tomadas “em cadeia” e “em conjunto”, como uma estratégia de guerra. Afinal a sociedade realmente está guerreando contra um inimigo que tem várias faces, mas que possui somente uma conseqüência: a destruição da paz.

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Comentário do professor:

A A. parte do pressuposto de que a violência se origina das desi-gualdades sociais, e alerta: o desemprego e a exclusão não são as únicas causas dessas desigualdades. A raiz do problema está no descaso pelos direitos básicos do cidadão e no desrespeito aos valores éticos e morais.

A impunidade e a corrupção também devem ser combatidas. A A. acha que vai ser difícil pelo menos diminuir a violência, mas a socie-dade pode tentar a adoção de uma atitude de guerra para preservar seus valores. Afinal, na sua opinião, “a história da humanidade foi construída por tentativas e planos”. E tentar não custa.

De certa forma, a redação de Nathalia Coccon é mais uma cons-tatação do que uma tomada de posição. Mas uma dissertação pode ser mais expositiva que argumentativa.

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QUINTO LUGAR

Aluna: Ana Luíza Mendes AmorimUnidade: GuarapariCidade: Guarapari (ES)Série: 2º ano

“(nem) Vida de Cão”

“A criminalidade toma conta da cidade / a sociedade põe a culpa nas autoridades...”

Nas revistas, nos jornais, nas rádios, na casa ao lado. Seja onde for, a violência se escancara todos os dias, apresentando crimes cada vez mais absurdos. A sociedade acostumou-se com tanta barbárie que já nem se assusta mais. Delitos gravíssimos, como assassinato e estupro, são encarados como fatos do cotidiano.

O poder oficial representado pela polícia já não pode mais conter o poder paralelo e os cidadãos são obrigados a viver em um mundo-cão, onde ganha quem tem mais influência e “poder bélico”. O filme Cidade de Deus, que ainda se exibe nas telas dos cinemas brasileiros, mostra claramente essa situação, relatando a vida de uma favela onde o destino de cada morador está nas mãos dos traficantes. Com cada vez menos caminhos a escolher, os jovens, principalmente os mais pobres, entregam-se à violência como meio de combater seus problemas. A má distribuição da renda, as péssimas condições de vida e saúde, a falta de oportunidades e a impunidade são outros fatores que contribuem para o crescimento desenfreado do caos urbano.

Mas engana-se quem acha que apenas os desprovidos de riqueza se envolvem nessa teia. Os conhecidos “filhinhos de papai”, pessoas de classe média alta, também têm relevante participação no aumento da criminalidade, uns por falta de limites impostos pelos pais, outros por diversão, como foi o caso dos rapazes que atearam fogo em um índio na cidade de Brasília, há alguns anos.

O estado tem-se esforçado para diminuir esses índices, mas é uma ação insuficiente (e ineficiente) na luta contra essa caótica

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Comentário do professor:

situação. Policiais mais bem treinados, reformulação do sistema penitenciário hoje em condições precárias, melhorias nos recursos básicos (como saúde e educação) e maior rigidez no cumprimento da lei, isso é o que se espera do nosso governo, para que o medo de sair de casa seja apenas coisa do passado e que todo esse absurdo deixe de dar Ibope na TV.

A A. diz que a população já se acostumou com a violência, mas exagera ao dizer que não se assusta mais com tanta barbárie. Sua opinião é a de que os fatores que contribuem para a falência do poder oficial e para o crescimento do caos urbano são a má distribuição de rendas, as péssimas condições de vida e de saúde, a falta de oportunidade e a impu-nidade. Mas sugere, para resolver o problema ou amenizá-lo, um melhor treinamento dos policiais, a reformulação do sistema penitenciário e maior rigidez no cumprimento da lei.

A conclusão apresenta tópicos que não constaram das premissas, como a reforma do sistema prisional, por exemplo, porque a A. não utilizou em sua argumentação a precariedade do estado dos presídios. Mas é inegável o mérito do trabalho.

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SEXTO LUGAR

Aluna: Jullyane Rocha AlvesUnidade: CachoeiroCidade: Cachoeiro de Itapemirim (ES)Série: Pré-Vestibular

Mãos ao alto!

Os alarmantes índices de violência observados nas cidades brasileiras são responsáveis pela situação de “pânico coletivo” vigente em nossa sociedade. Os bandidos não estão levando apenas os bens materiais; mais do que isso, estão tirando a tranqüilidade, o direito de viver em segurança e, muitas vezes, a vida dos cidadãos.

A morosidade das autoridades (in)competentes é algo revoltan-te e até intrigante, haja vista que juízes, policiais e políticos são tão vulneráveis à violência urbana quanto qualquer outro indivíduo. Há pouco tempo, um policial que fazia a segurança de um dos filhos do governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, foi assassinado a tiros, o que demonstra que ninguém está a salvo da frieza dos criminosos.

Apesar disso, não vimos até hoje no Brasil uma ação efetiva no combate à criminalidade. O presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, promete ação intensa na questão da segurança pública durante seu governo, e todos os brasileiros esperam que, de fato, isso ocorra. Melhor capacitação e melhores condições de trabalho para os policiais, mais agilidade na área jurídica, bem como punição para aqueles que, ao invés de lutar contra os bandidos, são corrompidos por eles, estão entre as medidas a serem tomadas.

Se os setores responsáveis pelo bem-estar da população real-mente agirem em prol do aumento da segurança, em alguns anos, quando algum brasileiro colocar as mãos para o alto, definitivamente não será um assalto; será apenas um gesto de agradecimento pela tranqüilidade conquistada.

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Comentário do professor:

A A. lamenta a morosidade das autoridades, sem especificar em que sentido: se a morosidade está na investigação, na justiça ou na puni-ção... E cita o assassinato de um dos filhos do governador de São Paulo, para mostrar que ninguém está a salvo da violência. E reclama uma ação efetiva, na esperança de que o governo do Presidente eleito tenha uma ação intensa na questão da segurança pública que, para ela, consiste na melhoria das condições de trabalho dos policiais, na agilização da justiça, na punição dos bandidos e no fim da corrupção.

E conclui com algum humor: no futuro, quando alguém levantar as mãos, não será para render-se a um assalto, mas para agradecer aos céus a tranqüilidade conquistada

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SÉTIMO LUGAR

Aluno: Roger Bongestab dos SantosUnidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: 3o ano - M2

Violência urbana: um medo de todos

O Brasil possui graves problemas, entre os quais a violência urbana que aterroriza os brasileiros, percebida na forma de assaltos, seqüestros, assassinatos, cujos índices não cessam de crescer.

A marginalização de grande parte da sociedade associada à falta de oportunidades para melhorar a condição de vida faz com que muitas pessoas vejam o narcotráfico como solução para isso. Este, por sua vez, é o causador de muitos atos de violência.

A ineficiência dos órgãos responsáveis em garantir a segurança nacional é um fator relevante para a ocorrência da violência urbana, assim como a impunidade. A polícia não possui infra-estrutura ne-cessária para agir contra bandidos, o que faz com que estes acabem governando não apenas favelas, mas também metrópoles nacionais, como o Rio de Janeiro. É a “favelização” do Brasil.

Para reverter essa precária situação do país, deve-se adotar um modelo econômico mais igualitário a fim de diminuir as desigualdades sociais; reaparelhar a polícia; garantir melhores salários aos militares, motivando-os ao trabalho; adotar regime de penas alternativas para presos menos perigosos e construir novos presídios mais seguros, diminuindo, dessa forma, a lotação dos cárceres.

Caso nada seja feito para mudar esse cenário violento, a so-ciedade continuará a conviver com o medo.

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Comentário do professor:

O A. atribui a violência urbana ao narcotráfico que, por sua vez, é procurado como a solução mais fácil para suprir a falta de oportunidades de ascensão social honesta e para fugir à marginalização. O A. considera que a polícia é ineficaz e que a impunidade incentiva os bandidos que acabam transformando as cidades em favelas e tornando a população refém da violência.

A solução proposta é diminuir as desigualdades sociais por meio da adoção de um modelo econômico menos perverso, melhorar os salários dos policiais, adotar penas alternativas para os presos que não oferecerem perigo à sociedade e construir presídios mais seguros.

A redação é boa. As frases são bem estruturadas, mas o todo lembra a frieza em grau zero da escritura, no dizer de Barthes, dos editoriais de jornais.

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OITAVO LUGAR

Aluna: Lorena Gaburro OrlettiUnidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: Pré-Vestibular - P1

Violência: uma preocupação atual

Em nossa sociedade, enfrentamos diversos problemas prove-nientes da intensa urbanização. A fome, a pobreza, o desemprego, tudo isso exemplifica uma sociedade sofrida, mas, infelizmente, o que mais preocupa é a violência vivenciada pela maioria da população.

Nos principais centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, no caso do Brasil, a violência se manifesta a cada minuto. São inúmeros os assaltos, seqüestros e assassinatos. A cada jornal ou revista folheada, vemos o quanto a situação é desesperadora. Não é por menos que a população já confessou: “Estamos com medo!”

O assustador é que essa violência, principalmente em bairros mais pobres, é manifestada até por crianças, pois, muitas vezes, elas são induzidas por maiores que, por medo de serem presos, utilizam esse “artifício” para praticar suas barbáries.

Mas a confusão só está começando, porque, quando esses pequenos infratores são pegados em flagrante, são detidos e levados para lugares, onde, ao invés de se arrependerem, aprendem cada vez mais a matemática da violência, somando o ódio e multiplicando conhecimentos maldosos que serão postos em ação na primeira opor-tunidade que tiverem.

Não podemos esquecer-nos , ainda, daqueles que já estão presos e que, mesmo assim, continuam atuando no mundo da violência, dominando e atraindo até mesmo os próprios policiais para o lado do crime organizado.

O ideal seria que nossas autoridades buscassem mais alterna-tivas e as colocassem em prática, como, por exemplo, tirando esses

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Comentário do professor:

menores infratores e abandonados das ruas e colocando-os em casas especializadas de recuperação intensa, onde, além de acompanhamento psicológico, possam usufruir de educação e de um aprendizado pro-fissionalizante. Prisões mais bem preparadas e administradas, com penas alternativas para delitos leves, e, ainda, uma preparação mais rígida e consciente na formação de novos policiais e uma reformulação nas atitudes tomadas por eles. Assim, com essas medidas, podemos começar a mudar essa dura realidade de uma sociedade violenta e criminalizada.

Diferentemente das redações anteriores de seus colegas, a A. gasta a maior parte da sua redação falando da violência sem tentar analisar-lhe as causas, fala em crianças que são usadas e manipuladas por adultos marginais, porque os menores não podem ser presos, e lembra, finalmente, os bandidos cuja carreira criminosa nem a prisão consegue impedir de continuar.

Só no último parágrafo a A. sugere soluções para o problema, deixando implícita a análise das causas da violência, exatamente porque as soluções propostas atacam essas causas: a educação — sobretudo a profissionalizante —, a preparação rígida de novos policiais, com reformulação de suas atitudes, o acompanhamento psicológico de menores infratores e moradores de rua, etc.

Curiosamente, do ponto de vista estrutural, a A. reinicia a enu-meração das soluções que propõe depois de parecer tê-las encerrado com um ponto, separando a parte com frases verbais da enumeração da parte com frases nominais, dando a impressão de um período sem oração principal. Uma inovação estilística que me pareceu criativa.

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NONO LUGAR

Aluna: Christiane Alves AlvarengaUnidade: Vila VelhaCidade: Vila Velha (ES)Série e Turma: Pré-Vestibular - P2

Cotidiano Violento

Jornais e revistas têm noticiado diariamente casos de assaltos, seqüestros, roubos, estupros. A população, preocupada com o desem-prego, com a alta do dólar, com a inflação, nada faz para combater essas ações. Parece que já se acostumou a elas, que se tornaram parte de seu cotidiano. Enquanto isso, a violência cresce e vai recolhendo cada vez mais adeptos no meio do povo brasileiro.

A preocupação excessiva da população e do governo com a economia acaba deixando de lado a criminalidade. Não percebem que esses itens se relacionam. O desemprego, a pobreza e a falta de estudo fazem com que algumas pessoas se tornem fáceis presas para o tráfico. A impunidade, causada pelo excesso de presos nas penitenciárias, e a pouca importância dada pela sociedade acabam por ajudar nesse processo, aliadas à perspectiva do ganho de algum dinheiro fácil.

Além disso, traficantes são figuras respeitadas nas favelas, são oriundos da parte pobre da população como todos os moradores e fornecem segurança, sendo mais confiáveis que a polícia, que, por sua vez, não diferencia o pobre honesto do bandido, atacando a todos. Isso acaba por prejudicar o combate ao tráfico e, conseqüentemente, a criminalidade ligada a ele, pela falta de denúncias. Nada se vê e nada se sabe, essa é a lei. Grupos de ajuda, às vezes, ao invés de contribuir para não deixar jovens caminharem para esse lado, fazem o oposto, cultivando a inferioridade em suas mentes. Passado um tempo, eles se cansam de ser inferiores e visam a tornar-se aqueles que são o símbolo de superioridade onde moram: os traficantes.

A violência chegou a certo ponto de não haver mais respeito aos policiais. A população sente medo e está incomodada. É preciso

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Comentário do professor:

ocorrer mudanças. Investimentos em projetos envolvendo esporte, música, dança e cinema devem ser feitos, porque, dessa forma, os jovens perderão o sentimento de inferioridade e estarão com as mentes ocupadas, sem se voltar para o mundo da criminalidade.

A A. critica a população e o governo que se preocupam com a economia e relegam a segundo plano a criminalidade. Para ela, a crimi-nalidade e a economia se relacionam: o desemprego, a pobreza e a falta de estudo acabam por levar o cidadão ao tráfico, que é a causa principal da criminalidade. A A. considera que a impunidade é causada pelo ex-cesso de presos, pressupondo que as prisões lotadas impedem ou desa-nimam a prisão de novos bandidos. É uma opinião que deveria ter sido desenvolvida, sobretudo porque me parece algo difícil de sustentar com alguma argumentação convincente. Sobretudo porque a A. acredita que a sociedade dá pouca importância à impunidade, o que também deveria ser objeto de argumentação. Mas a A. menciona algo que foi esquecido pelos colegas: a lei do silêncio, que acoberta e protege os marginais e traficantes e os transforma em ídolos para as comunidades faveladas.

A solução proposta, no entanto, ainda que de forma vaga, está no investimento em projetos que envolveriam esportes, música, dança e cinema, que manteriam ocupadas as mentes dos jovens, afastando-os da criminalidade.

Será?

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DÉCIMO LUGAR

Aluna: Fabíola Holzmeister MunizUnidade: Jardim da PenhaCidade: Vitória (ES)Série e Turma: Pré-vestibular - N3

O caos da segurança pública

A sociedade brasileira convive com uma realidade até há pouco tempo atípica: crescentes casos de homicídios, roubos, furtos, assaltos e seqüestros. Tudo isso originado de fatores que, somados ao longo dos anos, repercutem na realidade.

Um dos alicerces principais da violência urbana é a impunidade. É ela, juntamente com a conjuntura social, que vai desencadear uma série de acontecimentos reprováveis. A ausência de um poder judiciário rigoroso e comprometido com a lei é a força necessária para que os ban-didos iniciem ou intensifiquem suas ações. Além disso, a condição social do indivíduo contribui para que isso ocorra: o desemprego, a miséria e a falta de oportunidades são algumas das causas que levam as pessoas a buscar outras alternativas de vida.

A verba destinada ao setor de segurança é ínfima, comparada com a real necessidade. A estrutura penitenciária brasileira é vergonhosa: vários presos são amontoados em pequenas celas e tratados como animais. Dessa forma, o lado psicológico do condenado fica prejudicado, refletindo em um aumento da sua agressividade quando ele, o condenado, sair da prisão. Os policiais, por sua vez, são mal remunerados e não recebem preparação adequada para atuar.

Toda essa situação gera pânico na população, que regula a vida de acordo com a realidade. O maior perigo é o povo acostumar-se com fatos bárbaros e deixou de exigir ações governamentais. O setor turístico é bastante prejudicado nesse aspecto, pois depende da boa imagem do país. Além disso, os investimentos estrangeiros diminuem, devido à falta de segurança a que estão submetidos.

É necessário, portanto, o reaparelhamento e o treinamento policial, com uma boa remuneração para esses profissionais. É fundamental não só criar uma estrutura penitenciária decente — que atenda à demanda —, mas também um programa de recuperação dos presidiários, com

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Comentário do professor:

atividades voltadas para a área social e o oferecimento de cursos técnicos. A solução do problema é a longo prazo e exige seriedade do governo para ser concretizada.

A A. considera a impunidade, a conjuntura social e a falta de uma justiça rigorosa os principais alicerces da violência urbana. Também considera o desemprego, a miséria e a falta de oportunidades de ascensão social como motivações para que as pessoas procurem o crime como alternativas de vida.

A A. critica a falta de verbas para o setor de segurança pública e a estrutura das penitenciárias que não reintegram o criminoso à sociedade, antes o prejudicam, aumentando-lhe a agressividade.

A A. alerta para as conseqüências da violência, como a imagem ne-gativa do País, a falta de investimentos estrangeiros e a evasão dos turistas, e revela uma preocupação: se a população se acostumar com a violência, poderá acomodar-se e deixar de cobrar a reação do governo.

No último parágrafo, sugere como soluções o reaparelhamento e o treinamento dos policiais, que deverão ter salários dignos e uma estrutura penitenciária decente, que inclua a recuperação dos presidiários. Ao falar em atividades sociais e cursos técnicos para a recuperação dos criminosos, a A. dá a entender que é o ócio do prisioneiro o principal fator da falência do sistema prisional, além, é claro, da superlotação dos presídios.

Conclusão do Professor Doutor José Augusto Carvalho

Se algum eventual leitor teve a paciência de ler este caderno de fi o a pavio, sem outra motivação que a curiosidade de saber o que disse o colega ou o fi lho ou o irmão, sem dúvida terá notado uma certa repetição de idéias, de enfoque e de opiniões. A antologia de textos a respeito de cada tema, para motivar o aluno a escrever, acaba por cercear-lhe a liberdade de pensamen-to. Pressionado a respeitar a antologia (exigência do vestibular), o aluno acaba tendo medo de expor realmente o que pensa e atém-se à camisa de força dos textos que é obrigado a ler antes de começar a redigir. Esse pro-cedimento, que não pode ser censurado ao candidato ou ao aluno, porque é a sua sobrevivência acadêmica que está em jogo, acaba escamoteando exatamente aquilo que a redação pretende avaliar num exame de seleção: a capacidade de raciocínio e o domínio da sintaxe da norma culta. E o que é pior: impede que o professor encarregado de corrigir as redações tenha uma idéia da cultura geral do candidato, ou uma idéia do que o candidato realmente pensa a respeito do tema proposto.O ideal seria que não houvesse a coletânea de textos motivadores a respeito dos temas de redação. Mas, infelizmente, às vezes é necessário ceder às exigências da mediocridade ofi cial (como a do vestibular) para ter a opor-tunidade de pegar o bonde da aprovação...

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