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COMBATENDO O RACISMO E O ESPECISMO POR MEIO DA LITERATURA
Maria Teresa Serabion GRAÇA¹
Dra. Evely Vânia LIBANORI²
Resumo: O trabalho realizado escolheu abordar dois preconceitos da sociedade contemporânea: o racismo e o especismo. O primeiro está ligado à ideia da supremacia da raça branca, e o segundo está ligado à ideia de que a espécie humana é superior a todas as espécies animais e que pode fazer o que bem entender com elas. Este trabalho pretende promover dois debates de reflexão com a mesma intenção: a de que o (a) aluno (a) aprenda a respeitar não só a vida humana, mas toda a vida senciente. A primeira reflexão é considerar as origens do racismo para poder combatê-lo. A segunda reflexão diz respeito à ideia de que os animais não humanos não merecem ter o mesmo tratamento ético que dispensamos aos seres humanos.
Palavras-chaves: Racismo. Especismo. Preconceito.
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¹ Professora de Língua Portuguesa e Literatura na Rede Estadual de Ensino do Paraná. Graduação em Letra: Português e Literatura na Universidade Estadual de Maringá UEM. Especialização em Literatura na Faculdade de Filosofia de Ciências e Artes, pela FAFIMAN. Especialização em Administração, Supervisão e Orientação Educacional, pela UNIVALE.
² Professora Dra. do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias da Universidade Estadual de Maringá.
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da civilização ocidental os indivíduos se dividem
em classes, camadas sociais. A camada dominante, que forma a base da
pirâmide social, dita as normas que devem ser respeitadas. Entre essas
normas estão: vamos respeitar apenas os brancos, os heterossexuais, os
católicos etc. Assim, cria-se uma cultura monocórdia, com valores que
difundem o horror à diferença.
Os (as) alunos (as) de todos os níveis trazem consigo a bagagem de
conhecimentos oriundos das relações sociais em que estão inseridos. Trata-se
de um repertório de conhecimentos, de valores e juízos que a coletividade
adotou como correto e, por isso, o (a) aluno (a) não indaga sobre o valor
hegemônico. O indivíduo que foi criado em ambiente racista invariavelmente
repete o preconceito na escola e fora dela. O (a) aluno (a) que aprendeu que
os animais são recursos para uso humano certamente será especista ao longo
da vida. Portanto, é dever do (a) professor (a) conduzir a formação ética do (a)
aluno (a) de modo a criar, nele (a), a consciência que agregue, no âmbito da
consideração moral, o maior número de vidas. Escolhemos abordar dois
preconceitos da sociedade contemporânea: o racismo e o especismo. O
primeiro está ligado à ideia de supremacia da raça branca, e o segundo está
ligado à ideia de que a espécie humana é superior a todas as espécies e pode
fazer o que bem entender com elas. No entanto, muitas vezes a escola não se
encontra “preparada” para modificar ou, pelo menos, tentar modificar
pensamentos e modos de agir que refletem o racismo e o especismo.
Nosso trabalho pretende promover dois tipos de reflexão com a mesma
intenção: a de que o (a) aluno (a) aprenda a respeitar não só a vida humana,
mas toda vida senciente. A primeira reflexão, portanto, é considerar as origens
do racismo e o modo de combatê-lo. A segunda reflexão tem a ver com a ideia
de que os animais não humanos ocupam um status inferior na consideração
moral. Essas reflexões de fundo filosófico e ético serão desenvolvidas por meio
do texto literário. Na literatura, há muitos escritores que problematizam tanto a
questão do racismo como a do especismo. O trabalho com o texto literário
respeitou as suas especificidades (narrativa, poema, drama) e, ao mesmo
tempo, suscitou uma gama de reflexões acerca da consideração moral para
com as outras vidas.
1. O preconceito racial e o especismo no cotidiano dos cidadãos
O preconceito racial é, geralmente, reflexo das ideias do grupo ao qual
pertencemos. Desde a infância o pensamento coletivo molda os valores e as
ações futuras do individuo. Os preconceitos arraigados socialmente são
transmitidos para as crianças e os jovens que, quando adultos, reforçarão
aquilo que está na base de sua educação. Até o século XIX, as civilizações
que habitavam o continente africano foram alvo da necessidade dos
colonizadores brancos para trabalhar nas terras descobertas. Foram
brutalmente tirados de suas terras e de seu contexto social, foram afastados
de sua nação, de sua família. A escravidão foi, sem sombra de dúvidas, um
crime histórico que até os dias atuais deixa suas cicatrizes. Quando aqui
aportaram, os escravos eram vistos como seres rudes e primitivos e
“destituídos de alma” e, por isso, eles não entravam no rol das preocupações
morais da sociedade, a Igreja incluída. Essa população perdeu sua dignidade,
sua identidade e seus sonhos. Quando aqui chegaram foram equiparados aos
cavalos e bois e foram apresentados como seres boçais, primitivos e rudes. O
pensamento de Araújo (2009, p. 15), abaixo, comprova a difícil trajetória do
negro em nosso país:
Os aspectos culturais que sobreviveram ao trajeto entre a África e o Brasil e que conseguiram aqui se reproduzir foram em parte modificados pelas circunstâncias a que estiveram submetidos – primeiro a escravidão e depois a marginalidade do negro na sociedade brasileira após a abolição em 1888.
Muitos séculos se passaram desde que o 1º navio negreiro deixou aqui
escravos vindos para trabalhar. Mesmo hoje, no século XXI, ainda há
pensamentos que pregam a inferioridade intelectual e moral dos
afrodescendentes.
O nosso trabalho pretendeu discutir com os (as) alunos (as) a trajetória
do negro depois de sua libertação. Iremos investigar: O que aconteceu depois
da libertação dos escravos? Como a literatura reflete esse lado da nossa
historia? Tomaremos por base textos literários como: “O negrinho do
pastoreio”, de Maria Fernanda Antunes, “O amigo do rei”, de Ruth Rocha,
“Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado, “Irmão Negro”, de
Walcyr Carrasco, “Felicidade não tem cor”, de Júlio Emílio Braz, “Não vi e não
gostei”, de Renato da Silva Queiroz.
Foi estudada a relação entre os seres humanos e os animais na cultura
contemporânea, de modo a entender as raízes do pensamento de que a
espécie humana é superior a todas as outras espécies e pode fazer com elas o
que bem entender. Hoje, o animal é considerado em sua finalidade
instrumental, ele é criado para estimação, alimentação, vestimenta, testes de
laboratório, diversão, trabalho. Quando se trata de ganho humano, existe o
conformismo moral com a dor e com o sofrimento dos animais. O sofrimento
deles importa menos do que o sofrimento humano, como se a dor deles não
fosse exatamente igual à nossa dor pelo fato de que os seres humanos e não
humanos são ambos sencientes, ou seja, experimentam o mundo com os
mesmos cinco sentidos físicos. A palavra “produção”, originalmente empregada
para se referir àquilo que é fabricado pelo ser humano, especialmente no
trabalho associado ao capital e à técnica, é amplamente empregada para se
referir à criação, à venda e à morte de animais. A espécie humana, no seu
sentimento de superioridade sobre os animais, condena à prisão, à tortura e à
morte, diariamente, de milhões de animais. Apenas na indústria da
alimentação, a cada minuto, são assassinados mil e seiscentos bois e vacas e
cem mil frangos. No entanto, de uns trinta anos para cá, tem se consolidado a
corrente de pensamento conhecida como “abolicionista animalista”, que luta
pela desanimalização dos hábitos culturais. Os abolicionistas pedem a
libertação dos animais de todas as formas de exploração humana. Segundo o
pensamento abolicionista os animais devem ser inseridos no rol das nossas
preocupações morais. A posse ou não posse da razão não pode ser o
elemento diferencial para dar à espécie humana um tratamento ético e dar
outro tratamento ético aos animais. Os filósofos abolicionistas entendem que a
capacidade de sofrer é que deve ser a base do nosso comportamento moral
em ralação aos animais.
Sônia T. Felipe, filósofa brasileira abolicionista defende a proposta de
"incluir animais não-humanos na categoria dos seres em relação aos quais os
humanos têm deveres morais iguais àqueles já estabelecidos pelo princípio da
igualdade em relação aos humanos: o dever de não matar, de não injuriar, de
não atormentar (deveres negativos), e o dever de ajudar, proteger e preservar
(deveres positivos)" (FELIPE, 2003, p. 15). A filósofa defende que é necessário
rever a moralidade tradicional e estabelecer critérios justos na relação com os
animais.
Sendo assim, o nosso trabalho promoveu a discussão sobre a forma
como as pessoas se relacionam com os animais no dia a dia por meio de
textos literários. Pretendemos, com isso, despertar a consciência de que seres
humanos e animais são mais semelhantes do que diferentes e, por isso, os
animais também merecem ser tratados com os mesmos princípios éticos com
o qual as pessoas tratam o seu semelhante.
Este artigo organiza-se da seguinte forma: na primeira seção
abordaremos a respeito do preconceito racial em nossa sociedade. Na
segunda seção, abordaremos a forma como as pessoas se relacionam com os
animais.
2. As ações desenvolvidas nesta primeira seção ocorreram no
primeiro semestre de 2013 através de duas oficinas:
OFICINA IV
OBJETIVO: Nessa oficina aprendemos que a convivência com os povos
africanos resultou em mudanças muito significativas em vários aspectos da
vida brasileira: na culinária, na religião, na música e na linguagem.
ATIVIDADE I
Leia o poema “Brancos, pretos, amarelos” de I. L. Peretz e responda as
questões abaixo:
“Brancos, pretos, amarelos
Vamos misturar as cores.
De um só pai nós descendemos,
São irmãos todos os homens.”[...]
a- O poema acima trata de qual assunto?
b- O que levou o autor a escrevê-lo?
c- Existe uma mensagem dentro do texto. Que mensagem é essa? Você
concorda com ela? Comente.
ATIVIDADE II
Leia o texto “A dança da vida”, de Heloisa Pietro e, depois de uma
discussão, responda às questões abaixo:
“Sempre digo que sou uma pessoa de sorte. Na vida tive tudo o que
desejei, como aprender a escrever em português e francês. No sertão da
Bahia pouco são as mulheres letradas e se forem negras como eu, nem
pensar.”[...]
a- Estando com 86 anos de idade, a personagem relata episódios
vividos por ela, no seu passado. Identifique no texto algumas passagens que
mostrem esses episódios vividos.
b- Quando vieram ao Brasil, os povos africanos trouxeram sua
religiosidade. Uma de suas religiões, o candomblé, conviveu com o
catolicismo. Dessa convivência resultou a incorporação de muitos elementos
católicos pelo candomblé. Identifique no texto um trecho dessa convivência.
ATIVIDADE III
Leia o texto “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado e
responda às questões:
“Era uma vez uma menina linda, linda.
Os olhos dela pareciam duas azeitonas pretas, daquelas bem
brilhantes”[...]
a- Através de uma linguagem poética, a escritora Ana Maria Machado
trabalha o problema do preconceito racial. Em momento algum ela faz
referências em que a protagonista da história passa por momentos dolorosos
devido a sua cor. Encontre, no texto lido, uma passagem que demonstre esta
afirmação.
b- Nesta história há uma personagem que quer mudar sua cor. De uma
forma um tanto quanto cômica ela consegue o seu objetivo. Encontre, no texto,
algumas passagens que revelem essa transformação.
c- Você alguma vez já quis mudar a sua cor? Comente sua resposta.
OFICINA V
OBJETIVO: Através do gênero filme, nessa oficina iremos abordar um
tema que muitas vezes é mascarado pela sociedade, o preconceito racial.
SINOPSES DOS FILMES
* UM SONHO POSSÍVEL
Michael Oher era um jovem negro, filho de uma mãe viciada e não tinha
onde morar. Com vocação para os esportes, um dia ele foi visto pela família de
Leigh Anne Tuohy, andando em direção ao estádio da escola para poder
dormir longe do frio e da chuva. Ao ser convidado para passar uma noite na
casa da família, Michael não tinha ideia que aquele dia iria mudar para sempre
a sua vida, tornando-se mais tarde um astro do futebol americano.
• UMA ESCOLA MUITO LOUCA
Um adolescente branco é aceito na Universidade de Harvard e decide
se passar por negro para ganhar uma bolsa e descobre assim o quanto é difícil
ser negro na América.
ATIVIDADE IApós assistir ao filme UM SONHO POSSÍVEL, elabore um texto
relatando as cenas que mais chamaram sua atenção e por quê.
ATIVIDADE II
Responda a questão, após assistir ao filme UMA ESCOLA MUITO
LOUCA:
a- O rapaz passou a se sentir negro quando verificou que sua nova cor
fazia com que as pessoas o tratassem de modo diferente. Ele não havia
mudado em nada seu caráter ou sua conduta; mas as pessoas modificaram o
modo de tratá-lo. Por quê?
Durante o transcorrer do trabalho proposto pelas oficinas, pude perceber
mudanças de pontos de vistas dos (as) alunos (as) envolvidos (as) no trabalho
e que começaram a ter um posicionamento argumentativo com nossos
semelhantes de outra cor.
Pude perceber que uma pequena semente foi lançada entre os (as)
alunos (as) e que ela foi germinada para crescer em um espaço onde o caráter
e a conduta de um ser humano não são medidas através da cor de sua pele. O
ser humano é muito mais do que a melanina que pigmenta sua pele. Os (as)
alunos (as) compreenderam que muito sangue já foi derramado em nome da
supremacia branca.
3. Nesta seção, abordamos a respeito do especismo em nossa
sociedade através de três oficinas
OFICINA I
OBJETIVO: Os (as) alunos (as), nesta oficina, tomaram conhecimento
sobre a importância dos animais em nossas vidas, além de deixar claro que os
animais são seres dotados de sentimentos e sensações como qualquer ser
humano.
ATIVIDADE I
Leia os textos abaixo e preencha o quadro da sequência narrativa dos
textos.
A DISCIPLINA DO AMOR
Lygia Fagundes Telles
“Foi na França, durante a segunda grande guerra; um jovem tinha um
cachorro que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do trabalho.
Postava-se na esquina, um pouco antes das seis da tarde.” [...]
BIRUTA (FRAGMENTO)
Lygia Fagundes Telles
“A porta abriu-se bruscamente e a patroa apareceu. Alonso encolheu-se
um pouco. Sondou a fisionomia da mulher. [...].
- Biruta, Biruta! Cachorro mais bobo, deu agora de se esconder...[...]”
ATIVIDADE II
Comparando os dois textos:
a- Em qual dos dois textos você pode perceber que há a presença de
injustiça dos adultos, em relação ao amor pelo animal? Comprove sua
resposta com uma frase do texto.
b- Nos dois textos, como é trabalhada a relação ser humano/animal?
OFICINA II
OBJETIVO: Filme é um gênero textual, que nos propicia muitas leituras
de mundo e um vasto horizonte de conhecimentos. E suas imagens nos
ajudam a ter uma maior visão do assunto que está retratando. Por esta razão,
iremos assistir aos filmes: Caninos brancos e Especismo, o filme.
SINOPSES DOS FILMES
* CANINOS BRANCOS
Adaptação de uma obra literária imortal. O órfão Jack Conroy vai para o
Alasca em busca de uma mina de ouro deixada pelo pai. Nas gélidas terras,
trava uma amizade com um lobo e passa a chamá-lo de Caninos Brancos.
Eles crescem e amadurecem juntos e a vida faz de Jack um homem de
coragem.
* ESPECISMO, O FILME.
Este filme nos oportuniza um repensar sobre nossa relação com os
animais, pois muitas vezes esquecemos até que somos seres humanos.
Especismo, o filme, foi dirigido pelo jovem cineasta Mark Devris. Esse filme
nasceu da vontade desse cineasta em descobrir o que ocorre com os animais
que chegam aos pedaços na casa das pessoas.
ATIVIDADE I
Após assistirem a cada um dos filmes, respondam às seguintes
questões:
1. O filme que você assistiu é:
( ) um documentário.
( ) um filme de ação.
( ) um filme de terror.
( ) um filme de romance.
( ) um filme de ficção.
( ) um drama.
2. Quem são os personagens principais do filme?
3. Que ação solidária é tratada no filme?
4. Que fato mais lhe tocou? Por quê?
5. Que mudança essa ação solidária resultou na vida das personagens
do filme?
6. Que lição você aproveita do filme?
7. Como podemos ser agentes de mudança na sociedade?
ATIVIDADE II
Mural: “Toda ação tem uma reação”
* Após a exibição de: Caninos brancos e Especismo, o filme, elaborarem
frases de reflexão a respeito dos filmes em cartazes a serem afixados no mural
da escola.
OFICINA III
OBJETIVO: Música é um gênero textual que emociona, nos faz refletir,
nos propicia viagens e lembranças que nos fazem sonhar. Como os seres
humanos são diferentes, as preferências musicais também o são. Nessa
oficina, através desse gênero, realizamos atividades que nos fizeram refletir
sobre injustiças praticadas contra os animais.
ATIVIDADE I
1. Qual é a sua opinião sobre a existência de zoológicos?
2. O que você pensa a respeito do uso de animais em espetáculos de
circo e também como cobaias em experimentos de laboratório?
3. Conheça uma letra de música que fala de uma espécie que corre
risco de desaparecer:
As Baleias ( Roberto Carlos e Erasmo Carlos) Não é possível que você
suporte a barra De olhar nos olhos do que morre em suas mãos E ver no mar
se debater o sofrimento E até sentir-se um vencedor nesse momento (...)
4. Você conhece outra música que também fale sobre a preservação
ambiental? Qual?
Os (as) alunos (as), de um modo geral conseguem fazer a diferença
quando o assunto é proteger os animais. Algumas posturas, que foram
debatidas em aula, podem e devem ser adotadas em nosso dia-a-dia e que
tornaram nossas atitudes mais produtivas. Eles compreenderam que a vontade
de ajudar os impulsiona a se levantarem e irem à luta não esperando que as
oportunidades cheguem.
O (a) verdadeiro (a) protetor (a) é capaz de compreender que a
responsabilidade social é algo que necessita ser despertado de modo
totalmente independente da caridade. Precisamos promover o animal na
sociedade, transformá-lo em um ser que merece ser respeitado e protegido
pelas leis. É fundamentas doarmos ações e não permitirmos que haja maus
tratos, abandonos e explorações dos animais por circos, rodeios, touradas etc.
Nasceram, naquele momento de aula, indivíduos capazes de combater
os dois preconceitos em questão. Lembrando sempre que as pessoas não
mudam da noite para o dia e que a disposição para as mudanças está em
tomar o papel de facilitador de situações das quais, em um primeiro momento,
o bem-estar cumpre seu papel, e próximo a esta posição o abolicionismo entra
em ação com trabalhos de conscientização, de mostrar caminhos possíveis
através de uma linguagem comum a todos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os (as) professores (as) que estão engajados no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) buscam uma ação concreta que
contemple a formação de cidadãos compromissados e críticos com a formação
dos seus educandos.
As razões que justificam a realização do estudo sobre o racismo e sobre
o especismo é falar sobre a origem, as causas e as consequências desses
dois preconceitos, sendo o especismo apontado, atualmente, como o “ultimo
dos preconceitos”. O preconceito para com os negros é resquício da
escravidão. Nossa civilização é fruto do modelo romano onde escravizar era
necessário para formar mão de obra barata. Essa mão de obra veio da África e
deixou aqui sua marca para sempre. Nascia nesse momento, um dos lados
mais perversos da nossa história: a escravidão e com ela a ideia de que o
escravo negro era inferior ao Senhor do engenho. O sentimento de racismo, de
diferença, de menosprezo aos negros ultrapassou a barreira do tempo e, em
plano século XXI, ainda nos deparamos com pensamentos que traduzem
essas ideias. A escravidão dos negros resultou da aplicação da lei do mais
forte. Os negros foram escravizados e tratados como mercadoria, sua
necessidade de bem-estar não era considerada. A raça branca entendia os
negros como intelectualmente inferiores, o que justificava a sua condição de
dominados. A igreja cristã viu a escravidão dos negros como legítima porque
se acreditava que os negros não tinham alma. Os abolicionistas do século XIX
esclareciam que o grau de desenvolvimento tecnológico de um povo não é
motivo para estabelecer a relação dominado/dominante. Eles, os
abolicionistas, também esclareciam que a posse ou não posse da alma não é o
motivo para tratar os indivíduos com princípios éticos diferentes. Apregoavam
que, se não há evidência de que os negros não têm alma, também não há
evidência de que os brancos a possuem.
O especismo, ou seja, o pensamento de que a espécie humana é
superior a todas as espécies tem também, a aplicação da mesma “lei do mais
forte” que escravizou os negros. Antes, com os negros, era a cor da pele que
dizia se o outro deveria ou não entrar na nossa consideração moral. Ainda que
a raça branca soubesse que o negro sente as mesmas sensações físicas que
sente o branco, o sofrimento dele não importava ou importava menos. Hoje,
com os animais, é a espécie a qual o animal pertence que dita se ele irá entrar
nas nossas preocupações morais. Ainda que o ser humano saiba que o animal
sente as mesmas sensações físicas que sente o ser humano, o sofrimento
dele não importa ou importa menos. A origem do descaso moral para com os
animais remonta ao século XVII e à visão do filósofo René Descartes de que
os animais são seres vivos vazios. Descartes dizia que os animais não sentem
dor porque são apenas máquinas sem vida interior. O erro de Descartes foi
chancelado pelo cristianismo que não tem os animais como foco de suas
preocupações morais. Sendo assim, os animais não humanos são vistos como
seres que servem apenas para servir aos seres humanos em seus
necessidades de comer, vestir, divertir-se, testar.
Outra linha de pensamento, a chamada “abolicionista” defende que os
animais precisam ser libertos da tirania humana. A linha abolicionista entende
que a posse ou não da razão não pode ser critério para que continuemos a
usar e abusar doa animais. A base moral da nossa relação com os animais
deve ser a senciência, ou seja, a capacidade deles em sofrer.
Esse trabalho pretendeu combater dois preconceitos: o racismo e o
especismo, uma vez que em uma sociedade avançada, tecnológica,
informatizada é inconcebível que ainda existam pensamentos que apoiam a
exploração dos animais e a discriminação racial.
“Hoje... o porão negro, fundo
Infecto, apertado, imundo.
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado.
Pelo arranco de um finado.
E o baque de um corpo ao mar.”
(Castro Alves)
“Crescer amando os animais.
É aprender a compaixão e o respeito.
Por todas as formas de vida.”
(Claudio Cavalcante)
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Kelly Cristina. África no Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2003 (Série diálogo na sala de aula)
CANINOS BRANCOS: Diretor: Ken Olin, Elenco: Scott Bairstow, Charmaine Craig, Victoria Racimo Roteiro: David Fallon, Duração: 106 min, Ano: 1994, País: EUA, Gênero: Ação, Cor: Colorido.
ESPECISMO, O FILME. (SPECISM THE MOVIE), Direção: Mark Devries. Gênero: Documentário.
FELIPE, Sônia T. Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2007.
GUIMARÃES, Ana Maria de Matos. Gêneros de texto no dia-a-dia do ensino fundamental/Ana Maria de Matos Guimarães, Daiana Campani-Castilhos, Rafaela Drey – Campinas, SP: Mercado de Letras, 2008.
HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles. Minidicionário. 3 ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. 5. ed. São Paulo: Editora Ática, 1997.
NEGRINHO, Maria Aparecida. Aulas de redação. Segunda Edição, São Paulo: Editora Ática, 1990.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental. Curtiba. SEED, 2008
SOUZA, Cassia Leslie Garcia de. Linguagem: criação e interação: 5ª série- 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
UM SONHO POSSÍVEL: Diretor: John Lee Hancock, Elenco: Sandra Bullock, Tim McGraw, Kathy Bates, Quinton Aaron, Lily Collins, Jae Head, Rhoda Griffis, Ray McKinnon. Produção: Broderick Johnson, Andrew A. Kosove, Gil Netter, Roteiro: John Lee Hancock, Fotografia: Alar Kivilo, Trilha Sonora: Carter Burwell, Duração: 128 min, Ano: 2009, País: EUA, Gênero: Drama Cor: Colorido, Distribuidora: Warner Bros, Estúdio: Alcon Entertainment / Warner Bros. / Zucker/Netter Productions, Classificação: 10 anos.
UMA ESCOLA MUITO LOUCA: Título Original: Art School Confidential, Diretor: Terry Zwigoff, Elenco: Sophia Myles, Max Minghella, John Malkovich, Jim Broadbent, Matt Keeslar, Than Suplee, Joel Moore, Nick Swardson, Anjelica Huston, Roteiro: Daniel Clower, Duração: 102 min, Ano: 2006, Gênero: Comédia/Drama.