Coluna Muito Prazer

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degusta ESTADO DE MINAS D O M I N G O , 1 6 D E D E Z E M B R O D E 2 0 1 2 EDUARDO AVELAR 2 MUITO prazer RAFAEL MOTTA/TV ALTEROSA LAURA VALENTE As irmãs Áurea, Laila, Yameme e Wardy Silame não têm parentes no Reino Unido, porém moraram por mais de 25 anos em Nova Li- ma. Foi lá que aprenderam, com uma senhora inglesa, uma receita especial de Christmas cake (bolo de Natal). Entre as décadas de 1950 e 1970, muitos imigrantes britâni- cos trabalhavam nas minas de ou- ro da cidade mineira e acabaram influenciando a cultura local com costumes e a gastronomia típica daquele país. Assim, as cozinhas da região passaram a conhecer e reproduzir delícias como o bolo de maçã com gengibre, canela e nozes e o scone (pãozinho assado semelhante ao pão de minuto, que pode receber tanto recheio doce quanto salgado). Assim, as mulheres da família Silame, filhas de mãe libanesa e pai sírio, passaram a fazer a recei- ta todo fim de ano para presen- tear amigos, parentes e colegas de trabalho. Logo, a fama do bo- lo, que em bom “mineirês” ga- nhou o apelido carinhoso de queca, correu (veja receita na página). Tanto que até hoje, já como moradoras de Belo Hori- zonte, a tradição continua. Com o aumento de pedidos, o quarteto começou a comercializar o bolo, que tem como principais ca- racterísticas o prazo de validade es- tendido (até um mês), o uso de pou- ca farinha (apenas 125g para 1kg de queca) e a predominância de frutas. A receita tradicional pede nada me- nos que laranja e figo em calda, no- zes, castanha-do-pará, frutas crista- lizadas, passas brancas e escuras, ameixas pretas e cerejas. Yameme, porta-voz do grupo, frisa que é im- portante lembrar que o bolo não é fofo: “A consistência é mais pesada, já que a queca não leva fermento, mas apenas ovos batidos em neve. Para que ele fique mais molhadi- nho, há quem pingue conhaque dia- riamente e faça questão de deixar o bolo maturar”, sugere. DIET O aroma rico é outra caracte- rística marcante da queca. “Mui- tas vezes, as pessoas a deixam so- bre a mesa de jantar para perfu- mar o ambiente com o cheiro das especiarias. Além de um mix es- pecial que importamos direta- mente da loja Harrods, de Lon- dres, a receita leva canela, cravo- da-índia e noz-moscada.” Há, ainda, lendas em torno do bolo de Natal. “Segundo o costu- me inglês, a queca deve ser servi- da com um cálice de licor cherry ou vinho do Porto. Quando a ex- perimenta, o comensal deve fazer pedidos e formular votos”, ensi- na Yameme. Não há registro so- bre graças concedidas a partir do costume, mas, por via das dúvi- das, a família Silame replica o gesto entre amigos e clientes. “Durante todo o mês, mantemos na sala uma travessa com queca picadinha e uma garrafa de vi- nho. Todas as visitas são convida- das à degustação”, comenta. O público com restrição a doces não tem por que se lamentar: as ir- mãs Silame também produzem a queca em versão diet (apenas sob encomenda). No preparo, o açúcar é substituído por adoçante. As fru- tas usadas também são diferen- tes. A receita leva damasco doce e azedo, maçã, nozes e passas, suco de laranja, e doces de figo e laran- ja (feitos com adoçante), além de creme vegetal light e farinha inte- gral. Por não ter açúcar, que fun- ciona como conservante, o prazo de validade da queca diet é me- nor. “Ela deve ser consumida em até seis dias”, avisa Yameme. Como a procura pela queca é grande, as irmãs costumam pro- duzi-la em praticamente todos os dias de dezembro. A cada ano, chegam a comercializar a média de mil unidades (há versões de 1kg e de 500g) e recebem pedidos até a véspera do Natal. Porém, pa- ra garantir a o tradicional bolo na ceia, é bom encomendá-lo com antecedência de pelo menos dois dias. O produto também pode ser encontrado na Páscoa, em versão coberta de chocolate e decorada com cereja e nozes. Tradição inglesa A partir do contato com imigrantes, mulheres de Nova Lima aprenderam a receita do Christmas cake. Em “mineirês”, bolo ganhou o apelido de queca Queca IRMÃS SILAME INGREDIENTES PARA 20 FATIAS 4 xícaras de chá de farinha de trigo; 2 xícaras de chá de açúcar; 4 colheres de sopa bem cheias de manteiga; 4 ovos (batidos como para pão de ló, ou seja, as gemas deverão ser incorporadas, uma a uma, às claras em neve); 1 xícara de chá de calda queimada fria; 1/2 xícara de chá de conhaque; 1 colher de chá de canela em pó; 1 colher de chá de noz-moscada ralada; 1 pau de canela; 6 cravos-da- índia; 100g de laranja em calda escorrida e picada; 100g de figo em calda escorrido e picado; 100g de nozes picadas; 100g de castanhas-do-pará picadas; 100g de frutas cristalizadas picadas; 100g de passas brancas sem caroço; 100g de passas escuras sem caroço; 100g de ameixas pretas picadas; e 50g de cerejas ao marasquino escorridas e 50g de farinha de trigo para envolver as frutas. Obs: a quantidade de frutas e o tipo podem ser alterados de acordo com o gosto pessoal. MODO DE FAZER CALDA: levar ao fogo uma xícara de chá de açúcar umedecido com um quarto de xícara de chá de água (misturar na hora de levar ao fogo). Deixar no fogo até caramelizar – o tom do caramelo não pode ser muito escuro, para não ficar amargo. Retirar do fogo e acrescentar uma xícara de água fervente, bem devagar, o pau de canela e os cravos-da-índia. Levar ao fogo novamente e deixe ferver em fogo baixo até o ponto de calda rala. Coar e deixar esfriar. QUECA: bater a manteiga com o açúcar. Acrescentar os ovos (batidos como para pão de ló) e depois a farinha, alternando com a calda. Misturar as frutas enfarinhadas e o conhaque. Dispor em forma untada e enfarinhada e assar em forno médio (180 graus) por 50 minutos. Undulto gastronômico Então é Natal! E nossas emoções se manifestam na flor da pele e nas profundezas da memória, movidas pelo espírito da fraternidade e por ações de solidariedade que ganham contornos especiais nesta época. Recentemente, o episódio ocorrido na Casa Branca,quando o presidente Obama emitiu o seu primeiro indulto e sua família poupou a vida de um peru na véspera do Thanks given, o dia de ação de graças dos americanos, me fez refletir sobre situações semelhantes ocorridas por aqui. O peru, que por sua sorte se safou da faca e ainda recebeu a alcunha de Coragem, nem precisou degustar algumas doses. Fato que logo me fez lembrar episódios de galináceos já descritos aqui nesta coluna. Teve o galo Timóteo lá de Caratinga, cuja sentença de morte por cozimento lento foi suspensa pelo porre do juiz, ou melhor, do Marquinho, meu aluno de culinária, que ao ficar tonto junto com o sentenciado, descobriu que sua relação com ele era bem mais afetiva do que simplesmente organoléptica. Já o galo Jerônimo não teve a mesma sorte no distrito de Piacatuba, do município de Leopoldina, mas seu sacrifício salvou a vida de uma amiga, a vaca Revista, aqual ele ensinava a subir em galhas e a cantar ao amanhecer. A Revista era aquela que subiu no telhado do curral em protesto pela morte do amigo e que a partir daí foi considerada "imexível" pelo Maguinho, proprietário da fazenda, que reconheceu seu equívoco ao cozinhar Jerônimo, e interromper um namoro tão inusitado e verdadeiro. São várias as situações que galináceos escapam de sua sina de virar artista de televisão de cachorro no papel de frango assado ainda na adolescência, galope ou galo com macarrão quando a carreira de cantor começa a decair. Situação comum nas casas de alguns atleticanos mais radicais, que jamais comem galo, caso do saudoso amigo Carlos Boy, que poupava todo bicho que "avuava", pois admirava apenas aeromoças. Na casa do finado Zezé, meu paizão, os frangos ganhos de presente ainda pintinhos na feira de rua da São Domingos do Prata tiveram de ser trocados por outros desconhecidos quando alcançaram a maioridade para servir ao exército de famintos da mesa de domingo. Mesmo com a troca confirmada por D. Eunice, foi a primeira vez na minha história e na de meus irmãos, que a macarronada de domingo foi comida sem o companheiro habitual. Lembrando outros bichos de penas que receberam indultos por legítima defesa do amor, recordo da codorna Cenyra, que dançava freneticamente na gaiola durante todo o dia,– igual àquela da novela que tremia sempre que via um homem – lembra-se? A Codorninha "tremulante" ainda botava um ovinho por dia para minha filha Aline, e assim nunca pude satisfazer meus planos de recheá-la com farofa de foie gras. No quintal do Morro, quando meu cão Chablis ainda era bem jovem, suas boas vindas ao grupo de 12 franguinhas d’angola foi uma bela mordida na perna de uma "desinfeliz". Após o duro castigo dado por mim, o Chablis se afeiçoou tanto ao grupo que passou, diariamente, a brincar com todas, do alvorecer às tardes, quando conduzia suas protegidas ao galinheiro para o merecido descanso. Também pelo amor inesperado fui privado de aplicar as receitas aprendidas nos cursos recém- concluídos na França e as "pintades" escaparam das panelas. Fugindo um pouco à normalidade da justiça animal, o mais inusitado dos casos que vivenciei foi o de um leitãozinho, cuja família de portugueses que vive no nordeste o criou, pensando nos embutidos e assados de Natal mas... ainda pequenino, Mr Bacon foi levado para o sítio do meu amigo Francisco Lamy, bem à beira da Praia de Genipabu, em Natal (RN), onde recebia tamanho carinho que até sombrinha de praia e protetor solar ele tinha para não virar torresmo antes da hora, por causa daquele sol escaldante e "pururucante". Como se diz por lá, "pense se ele virou pernil"!. Pois é amigo, todo animal tem seu dia "D", "De sorte ou Degola". O Natal tai. Você já pensou em sua ceia? JUAREZ RODRIGUES/EM/D. A PRESS

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degustaE S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 6 D E D E Z E M B R O D E 2 0 1 2

EDUARDO AVELAR

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MUITOprazer

RAFAEL MOTTA/TV ALTEROSA

LAURA VALENTE

As irmãs Áurea, Laila, Yamemee Wardy Silame não têm parentesno Reino Unido, porém morarampor mais de 25 anos em Nova Li-ma. Foi lá que aprenderam, comuma senhora inglesa, uma receitaespecial de Christmas cake (bolode Natal). Entre as décadas de 1950e 1970, muitos imigrantes britâni-cos trabalhavam nas minas de ou-ro da cidade mineira e acabaraminfluenciando a cultura local comcostumes e a gastronomia típicadaquele país. Assim, as cozinhasda região passaram a conhecer ereproduzir delícias como o bolode maçã com gengibre, canela enozes e o scone (pãozinho assadosemelhante ao pão de minuto,que pode receber tanto recheiodoce quanto salgado).

Assim, as mulheres da famíliaSilame, filhas de mãe libanesa epai sírio, passaram a fazer a recei-ta todo fim de ano para presen-tear amigos, parentes e colegasde trabalho. Logo, a fama do bo-

lo, que em bom “mineirês” ga-nhou o apelido carinhoso dequeca, correu (veja receita napágina). Tanto que até hoje, jácomo moradoras de Belo Hori-zonte, a tradição continua.

Com o aumento de pedidos, oquarteto começou a comercializar obolo, que tem como principais ca-racterísticas o prazo de validade es-tendido (até um mês), o uso de pou-ca farinha (apenas 125g para 1kg dequeca) e a predominância de frutas.A receita tradicional pede nada me-nos que laranja e figo em calda, no-zes, castanha-do-pará, frutas crista-lizadas, passas brancas e escuras,ameixas pretas e cerejas. Yameme,porta-voz do grupo, frisa que é im-portante lembrar que o bolo não éfofo: “A consistência é mais pesada,já que a queca não leva fermento,mas apenas ovos batidos em neve.Para que ele fique mais molhadi-nho, há quem pingue conhaque dia-riamente e faça questão de deixar obolo maturar”, sugere.

DIET O aroma rico é outra caracte-

rística marcante da queca. “Mui-tas vezes, as pessoas a deixam so-bre a mesa de jantar para perfu-mar o ambiente com o cheiro dasespeciarias. Além de um mix es-pecial que importamos direta-mente da loja Harrods, de Lon-dres, a receita leva canela, cravo-da-índia e noz-moscada.”

Há, ainda, lendas em torno dobolo de Natal. “Segundo o costu-me inglês, a queca deve ser servi-da com um cálice de licor cherryou vinho do Porto. Quando a ex-perimenta, o comensal deve fazerpedidos e formular votos”, ensi-na Yameme. Não há registro so-bre graças concedidas a partir docostume, mas, por via das dúvi-das, a família Silame replica ogesto entre amigos e clientes.“Durante todo o mês, mantemosna sala uma travessa com quecapicadinha e uma garrafa de vi-nho. Todas as visitas são convida-das à degustação”, comenta.

O público com restrição a docesnão tem por que se lamentar: as ir-mãs Silame também produzem a

queca em versão diet (apenas sobencomenda). No preparo, o açúcaré substituído por adoçante. As fru-tas usadas também são diferen-tes. A receita leva damasco doce eazedo, maçã, nozes e passas, sucode laranja, e doces de figo e laran-ja (feitos com adoçante), além decreme vegetal light e farinha inte-gral. Por não ter açúcar, que fun-ciona como conservante, o prazode validade da queca diet é me-nor. “Ela deve ser consumida ematé seis dias”, avisa Yameme.

Como a procura pela queca égrande, as irmãs costumam pro-duzi-la em praticamente todos osdias de dezembro. A cada ano,chegam a comercializar a médiade mil unidades (há versões de1kg e de 500g) e recebem pedidosaté a véspera do Natal. Porém, pa-ra garantir a o tradicional bolo naceia, é bom encomendá-lo comantecedência de pelo menos doisdias. O produto também pode serencontrado na Páscoa, em versãocoberta de chocolate e decoradacom cereja e nozes.

Tradição iinngglleessaa

A partir do contato comimigrantes, mulheresde Nova Limaaprenderam a receita doChristmas cake. Em“mineirês”, bolo ganhouo apelido de queca

QQuueeccaaIRMÃS SILAME

INGREDIENTES PARA 20 FATIAS

4 xícaras de chá de farinha de trigo; 2 xícaras de chá deaçúcar; 4 colheres de sopa bem cheias de manteiga; 4 ovos(batidos como para pão de ló, ou seja, as gemas deverãoser incorporadas, uma a uma, às claras em neve); 1 xícarade chá de calda queimada fria; 1/2 xícara de chá deconhaque; 1 colher de chá de canela em pó; 1 colher de cháde noz-moscada ralada; 1 pau de canela; 6 cravos-da-índia; 100g de laranja em calda escorrida e picada; 100gde figo em calda escorrido e picado; 100g de nozespicadas; 100g de castanhas-do-pará picadas; 100g defrutas cristalizadas picadas; 100g de passas brancas semcaroço; 100g de passas escuras sem caroço; 100g deameixas pretas picadas; e 50g de cerejas ao marasquinoescorridas e 50g de farinha de trigo para envolver as frutas.Obs: a quantidade de frutas e o tipo podem ser alteradosde acordo com o gosto pessoal.

MODO DE FAZER

CALDA: levar ao fogo uma xícara de chá de açúcarumedecido com um quarto de xícara de chá de água(misturar na hora de levar ao fogo). Deixar no fogo atécaramelizar – o tom do caramelo não pode ser muitoescuro, para não ficar amargo. Retirar do fogo e acrescentaruma xícara de água fervente, bem devagar, o pau de canelae os cravos-da-índia. Levar ao fogo novamente e deixeferver em fogo baixo até o ponto de calda rala. Coar e deixaresfriar. QUECA: bater a manteiga com o açúcar. Acrescentaros ovos (batidos como para pão de ló) e depois a farinha,alternando com a calda. Misturar as frutas enfarinhadas e oconhaque. Dispor em forma untada e enfarinhada e assarem forno médio (180 graus) por 50 minutos.

Undulto ggaassttrroonnôômmiiccooEntão é Natal! E nossas

emoções se manifestam na florda pele e nas profundezas damemória, movidas peloespírito da fraternidade e porações de solidariedade queganham contornos especiaisnesta época. Recentemente, oepisódio ocorrido na CasaBranca,quando o presidenteObama emitiu o seu primeiroindulto e sua família poupou avida de um peru na véspera doThanks given, o dia de ação degraças dos americanos, me fezrefletir sobre situaçõessemelhantes ocorridas por aqui.O peru, que por sua sorte sesafou da faca e ainda recebeu aalcunha de Coragem, nemprecisou degustar algumasdoses. Fato que logo me fezlembrar episódios de galináceosjá descritos aqui nesta coluna.Teve o galo Timóteo lá de

Caratinga, cuja sentença demorte por cozimento lento foisuspensa pelo porre do juiz, oumelhor, do Marquinho, meualuno de culinária, que ao ficartonto junto com o sentenciado,descobriu que sua relação comele era bem mais afetiva do quesimplesmente organoléptica. Já ogalo Jerônimo não teve a mesmasorte no distrito de Piacatuba, domunicípio de Leopoldina, masseu sacrifício salvou a vida deuma amiga, a vaca Revista, aqualele ensinava a subir em galhas e acantar ao amanhecer. A Revistaera aquela que subiu no telhadodo curral em protesto pela mortedo amigo e que a partir daí foiconsiderada "imexível" peloMaguinho, proprietário dafazenda, que reconheceu seuequívoco ao cozinhar Jerônimo, einterromper um namoro tãoinusitado e verdadeiro. São

várias as situações quegalináceos escapam de sua sinade virar artista de televisão decachorro no papel de frangoassado ainda na adolescência,galope ou galo com macarrãoquando a carreira de cantorcomeça a decair. Situaçãocomum nas casas de algunsatleticanos mais radicais, quejamais comem galo, caso dosaudoso amigo Carlos Boy, quepoupava todo bicho que"avuava", pois admirava apenasaeromoças. Na casa do finadoZezé, meu paizão, os frangosganhos de presente aindapintinhos na feira de rua da SãoDomingos do Prata tiveram deser trocados por outrosdesconhecidos quandoalcançaram a maioridade paraservir ao exército de famintos damesa de domingo. Mesmo com atroca confirmada por D. Eunice,foi a primeira vez na minhahistória e na de meus irmãos,que a macarronada de domingofoi comida sem o companheiro

habitual. Lembrando outrosbichos de penas que receberamindultos por legítima defesa doamor, recordo da codornaCenyra, que dançavafreneticamente na gaioladurante todo o dia,– igual àquelada novela que tremia sempreque via um homem – lembra-se?A Codorninha "tremulante"ainda botava um ovinho por diapara minha filha Aline, e assimnunca pude satisfazer meusplanos de recheá-la com farofade foie gras. No quintal doMorro, quando meu cão Chablisainda era bem jovem, suas boasvindas ao grupo de 12franguinhas d’angola foi umabela mordida na perna de uma"desinfeliz". Após o duro castigodado por mim, o Chablis seafeiçoou tanto ao grupo quepassou, diariamente, a brincarcom todas, do alvorecer àstardes, quando conduzia suasprotegidas ao galinheiro para omerecido descanso. Tambémpelo amor inesperado fui

privado de aplicar as receitasaprendidas nos cursos recém-concluídos na França e as"pintades" escaparam daspanelas. Fugindo um pouco ànormalidade da justiça animal,o mais inusitado dos casos quevivenciei foi o de umleitãozinho, cuja família deportugueses que vive nonordeste o criou, pensando nosembutidos e assados de Natalmas... ainda pequenino, MrBacon foi levado para o sítio domeu amigo Francisco Lamy,bem à beira da Praia deGenipabu, em Natal (RN), onderecebia tamanho carinho queaté sombrinha de praia eprotetor solar ele tinha para nãovirar torresmo antes da hora,por causa daquele solescaldante e "pururucante".Como se diz por lá, "pense se elevirou pernil"!. Pois é amigo,todo animal tem seu dia "D","De sorte ou Degola". O Nataltai. Você já pensouem sua ceia?

JUAR

EZRO

DR

IGU

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M/D

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