COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois...

22
Rio de Janeiro, sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 www.jornalcorreiodamanha.com.br Presidente: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.490 Fundado em 15 de junho de 1901 EDIÇÃO DE FIM DE SEMANA Hospitais de campanha viram realidade no Rio Prefeitura inaugura Riocentro e empresas socorrem falha do Governo do Estado PÁGINAS 6, 8, 9 E 10 COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 O ‘bagrinho’ falou! Hora de conhecer os ‘tubarões’? Bob Marley, 75: voz do 3º Mundo Queen muda para agradar médicos PÁGINAS 16 E 17 PÁGINA 15 Pneumonia silenciosa apresenta alto risco Ayrton Senna do Brasil: 26 anos de saudade Desemprego futuro preocupa a todos Aumentam pesquisas sobre as UTIs Suécia e o vírus: modelo ideal Biscoito Globo sofre com pandemia PÁGINA 7 PÁGINA 14 PÁGINA 5 PÁGINA 18 PÁGINA 12 PÁGINA 6 Contra o coronavírus, Prefeitura do Rio entrega hospital de campanha no Riocentro Agência Brasil Reprodução Fundador: Edmundo Bittencourt

Transcript of COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois...

Page 1: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Rio de Janeiro, sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 www.jornalcorreiodamanha.com.br Presidente: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.490

Fundado em15 de junho de 1901

E D I Ç Ã O D E F I M D E S E M A N A

Hospitais de campanha viram realidade no RioPrefeitura inaugura Riocentro e empresas socorrem falha do Governo do Estado

PÁGINAS 6, 8, 9 E 10

COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3

O ‘bagrinho’ falou! Hora de conhecer os ‘tubarões’?

Bob Marley, 75: voz do 3º Mundo

Queen muda para agradar médicos

PÁGINAS 16 E 17

PÁGINA 15

Pneumonia silenciosa apresenta alto risco

Ayrton Senna do Brasil: 26 anos de saudade

Desemprego futuro preocupa a todos

Aumentam pesquisas sobre as UTIs

Suécia e o vírus: modelo ideal

Biscoito Globo sofre com pandemia

PÁGINA 7

PÁGINA 14

PÁGINA 5

PÁGINA 18

PÁGINA 12

PÁGINA 6

Contra o coronavírus, Prefeitura do Rio entrega hospital de campanha no Riocentro

Agência Brasil

Reprodução

Fundador:Edmundo Bittencourt

Page 2: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

2 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020OPINIÃO

NANI

“Apropos of Nothing”, auto-biografia de Woody Allen, saiu em Nova York por uma pequena edi-tora. Como pode um livro desses ser lançado por um selo modesto? Porque a Hachette, grupo editorial que o contratou originalmente, teve medo de publicá-lo. Nele, Allen fi-nalmente se defende das acusações que lhe são feitas por sua ex-namo-rada Mia Farrow desde 1992, de ter estuprado uma filha adotiva de Mia e molestado outra, esta também adotada por ele.

A Hachette talvez quisesse um livro de humor –o que ele também é. Mas, ao ver que o autor dispôs-se a quebrar um silêncio de 28 anos, recu-sou-o, temendo boicotes à sua marca.

E, afinal, desde quando um homem pode se defender? Para nós, não faz diferença. O livro saiu e, com isso, temos agora os dois lados da história.

A campanha de Mia para des-truir Woody, por sua relação com Soon-Yi, órfã coreana adotada por ela e seu então marido Andre Pre-vin, nunca foi adiante. Nem poderia. Soon-Yi não era uma menor indefe-sa e “retardada”, como Mia a chama-va, quando ela e Woody se descobri-ram. Era uma mulher de 21 anos, inteligente e de forte personalidade.

Meses depois, vendo-se derrota-da, Mia acusou Woody de ter tam-bém molestado Dylan, filha adotiva de ambos e então com seis anos. Também em vão. Duas agências

oficiais governamentais de defesa da infância absolveram Woody. Gine-cologistas, médicos e psicanalistas que examinaram Dylan declara-ram-na intocada. Criadas, babás, amigas da família e até dois outros filhos adotivos de Mia atestaram a improbabilidade da acusação. E, para completar, Woody e Soon-Yi, juntos desde então, têm duas filhas adotivas –como a Justiça americana aceitou entregar duas crianças a um predador?

Os fatos inocentam Woody Allen. Mas nossa época prefere a versão, e esta já decretou que, não importam as provas em contrário, ele é culpado. Coerente até o fim, Woody dispensa a nossa absolvição.

Este é o terceiro de três artigos, nos quais busquei apresentar uma perspecti-va de meus colegas de mestrado (16 paí-ses) na luta contra o Coronavírus e como eles imaginam e preveem o futuro.

A primeira constatação é que não adianta abandonar o outro, pois ele transmite a doença tanto quanto qual-quer um pode transmitir. A segunda é que tivemos mais tempo para pensar e sofrer por gente do nosso convívio que se foi, e que devido ao nosso modo ace-lerado de vida, acabaram sendo deixadas de lado. Outro aprendizado percebido é que é perda de tempo achar que leis e medidas, isoladas do todo, vão ter eficá-cia, porque o vírus não respeita frontei-ras. Também não adianta pensarmos em extremos porque somos tão diferentes que, só o meio termo é capaz de atender, no mínimo, a maioria.

No nível familiar e comunitário, chegaram para ficar: as lives entre ami-gos, os shows online e o ‘zoom’ das famí-lias, organizados para reduzir as distân-cias e se conectar em tempo real. Tudo

isso para nos mostrar que nosso campo individual está e permanece ligado a to-dos os outros, apesar do reducionismo e simplificação insistentes advindas das re-des sociais. Sim, somos interdependen-tes e precisamos muito uns dos outros.

No nível político, os tempos serão de discussões e debates.

Há uma dicotomia de difícil pre-visão de vencedores: de um lado, a in-tegração local/regional e, do outro, o protecionismo e o isolacionismo. Vimos autoridades locais em conflito com o go-verno central, gerando dissonância na in-tegração das medidas de combate à do-ença. No terreno continental europeu, observamos o fortalecimento de uma corrente não mais tão crítica ao Brexit, visto que a manutenção da autonomia em detrimento da integração significa garantir que o problema seja resolvido por meios próprios, sem dependência de fatores externos. Assim, ainda teremos debates ferrenhos entre a transferência/manutenção do poder nas pontas da cadeia ou o fortalecimento de um ente

central e responsável pela condução em todos os níveis.

E outro aspecto que ainda dará muito “pano para manga” em relação à nossa sociedade do futuro reside no fe-nômeno da globalização e em como está configurado hoje em dia. A lição colhida mostrou que, na maioria dos países, res-piradores, testes de detecção e máscaras não chegaram a sua população pelo simples fato de que não são produzidos em seus domínios, tornando-os total-mente dependentes dos outros e estes se mostraram tão estratégicos, que há de se reavaliar esta dependência, não obstante a relação custo/benefício.

Entretanto, se há algo que se reafir-mou foi o conceito de governo consti-tuído. Na hora em que um problema da magnitude desta doença aparece, o povo vai esperar sempre uma ação de governo para chegar a uma solução.

*Mestre em Administração pelo TRIUM GLOBAL EMBA

(NYU, LSE &HEC)

Ruy Castro

José Luís Cardoso Zamith*

O outro lado da história

O que será da sociedade após o coronavírus

Esperança do trabalhador

EDITORIAL

Feliz ou infelizmente, depen-dendo do olhar de cada um, a rea-lidade do já muito grave problema do desemprego no Brasil - amplia-do pela pandemia de coronavírus - se impõe sobre o Dia do Trabalha-dor, comemorado mundialmente neste 1º de Maio. O melhor pre-sente que um trabalhador deseja e merece é a dignidade do seu em-prego, é poder sustentar sua famí-lia, viver do seu próprio suor, por mais que governos possam ajudá--lo com medidas positivas, mas paliativas, como o auxílio social.

Porém, dados da Pesquisa Na-cional por Amostra de Domicílios Contínua mostram, no primeiro trimestre do ano, 27,6 milhões de pessoas desocupadas, subutiliza-das ou desalentadas por falta em-prego. Presume-se, diante da taxa

anterior à pandemia, uma situa-ção pior para os próximos meses. Estudo Global de Tendências de Talentos 2020 da Mercer já mos-trava, no final de 2019, que com-portamentos digitais, como gestão remota e comunicação virtual, ga-nharam importância, informa tex-to no LinkedIn.

Paralelamente, uma pesquisa do Banco Original e 4CO sobre trabalho remoto na quarentena revela, por exemplo, que maioria dos paulistas tem trabalhado mais horas e perdeu a noção do tem-po para descanso. Resta, ao final, manter esperança na busca de uma solução razoável para este comple-xo problema. Aqui, pode-se apelar até para um simples dito popular: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”.

Direção Executiva: Cláudio Magnavita (Editor Chefe) Fernando Vale Nogueira (Editor Executivo) [email protected]ção Edição Expressa: José Aparecido Miguel Redação: Affonso Nunes, Gabriel Moses, Guilherme Cosenza, Ive Ribeiro, Marcelo Perillier, Marcio Corrêa e Pedro Sobreiro. Estagiários: João Victor Ferreira e Willian Cobian. Serviço noticioso: Folhapress e Agência BrasilOperações: Bruno Portella. Projeto Gráfico e Arte: Leo Delfino (Designer)

[email protected] (21) 2042 2955 | (11) 3042 2009 | (61) 4042-7872 Whatsapp: (21) 97948-0452

Av. João Cabral de Mello Neto 850 Bloco 2 Conj. 520 - Rio de Janeiro - RJ CEP: 22775-057

www.jornalcorre iodamanha.com.br

Fundado em 15 de junho de 1901Edmundo Bittencourt (1901-1929)Paulo Bittencourt (1929-1963)Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1963-1969)

Os artigos publicados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a opinião da direção do jornal.

Page 3: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 3OPINIÃO

O CORREIO DA MANHÃ NA HISTÓRIA * POR BARROS MIRANDA

HÁ 75 ANOS: TROPAS ALIADAS CONQUISTAM ALEMANHA E ITÁLIA

HÁ 100 ANOS: OPERÁRIOS FAZEM MANIFESTAÇÕES NO RIO EM PROL DO 1º DE MAIO

As principais notícias do CORREIO em 2 de maio de 1945 foram: Berilm foi conquistada por tropas soviéticas, inglesas,

norte-americanas e francesas; Hitler se sui-cida; Mussolini é condenado a fuzilamento; pracinhas brasileiros libertam as últimas

cidades italianas do nazismo; Vargas realiza grande festa pelo Dia do Trabalhador em São Januário.

As principais notícias do CORREIO em 2 de maio de 1920 foram: primeiro--ministro britânico não permitirá anexação

de território alemão por parte da França; considera-se fracassada a greve geral dos ferroviários franceses; governo holandês vai

transferir Guilherme II de Amerongen para Doorn; operários fazem manifestações no Rio em prol do 1º de maio.

[email protected]

Ele se chama WILSON, Governador pelo PSC com uma vitória surpreendente, inesperada , desafiando to-dos os adversários tradicio-nais. Apoio total da cúpula do partido e do presidente da legenda, pastor Everaldo Pereira. Elegeu-se apoiando a candidatura de Bolsonaro. Em plena crise pandê-mica come-çou a chover d e n ú n c i a s de super fa-t u r a m e n t o nas compras emergenciais destinadas à saúde, com a rede públi-ca colapsada, enterros re-alizados de forma coletiva e outros absurdos. Brigou com a Assembleia e com o prefeito da capital. A sua fama de austero e probo está indo para o espaço. A briga com a Assembleia

O papel dos veículos de comu-nicação, na fiscalização de atos da administração pública, em tempos de muitos corruptos e golpistas que pululam pelo Brasil, é essencial, em-bora sofram resistência e constantes ataques de governantes. O Correio da Manhã sente-se gratificado por ter contribuído para que os cofres do governo do Rio não fossem di-lapidados em nada menos que R$ 391 milhões, usando-se, sem es-crúpulos, nojentamente, verbas da saúde, para obras de sete hospitais de campanha. Ampliamos e fomos o único jornal diário a repercutir a investigação do jornalista Ruben Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo.

A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação, há cerca de 10 dias, de contra-tos considerados superfaturados na Secretaria da Saúde, como levantou o deputado Renan Ferreirinha, no Sistema Eletrônico de Informação (SEI) do governo. Antes da anula-ção, os sete hospitais custariam R$ 835 milhões; agora, vão ficar por R$ 444 milhões, 47% menos. Sabe-se agora que está cancelada a previsão de uma unidade hospitalar no Par-que Olímpico, que dará lugar a um hospital de campanha, com 100 lei-tos, em Nova Friburgo.

A informação é animadora, em-

bora crie desconfiança na seriedade dos atos do poder público, especial-mente no momento em que, alegan-do-se estado de calamidade pública e de emergência pela pandemia de co-ronavírus, as licitações e tomadas de preços ficam ainda mais fragilizadas. Este novo orçamento, 47% menor, está correto? Ou também demanda um pente-fino em seus cálculos? Na quinta-feira, a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde validou por escrito, atendendo pedido desta co-luna, a planilha apresentada pelo de-putado Ferreirinha.

Na mesma semana, o “bagri-nho” Gabriell Neves falou para a Veja confirmando que não fazia nada sem autorização do seu che-fe direto, o secretário de Saúde do Rio Edmar Santos. Um secretário estadual pode autorizar um gasto de R$ 835 milhões, sem anuência supe-rior? Quem na estrutura de mando do Estado autorizou ou apadrinhou

está compra milionária. Está tenta-tiva de golpe, felizmente frustrada pela imprensa, vai ficar impune? Vai continuar na conta do “bagrinho”, mesmo após a revelação de que a de-terminação era superior?

Se envolve um Secretário de Es-tado, muda o foro . A investigação cabe agora à Procuradoria Geral de Justiça, PGJ. Aliás, quanto mais demorar a reação, mais a situação se agrava. Este ano, teremos eleição para o novo procurador geral e sabe a quem cabe escolher o novo titular na lista tríplice? O próprio governador.

Se a corda no pescoço aperta na forca, este sistema permite que o executado ganhe uma sobrevida por poder escolher quem puxaria a cor-da. No mínimo, um sistema imper-feito que flerta com a impunidade.

*Claudio Magnavita é Diretor de Redação do

Correio da Manhã

Legislativa resultou na acei-tação de um dos vários pe-didos de impeachment que foram protocolados na Casa. Para quem mora no Estado do Rio de Janeiro, pelo nome, todos estes fatos parecem fa-miliares. Trata-se, porém, de Wilson Lima, governador do Amazonas, o primeiro

político a receber a conta da demagogia e de ter cedido à influência do pastor E v e r a l d o P e r e i r a , presidente n a c i o n a l

do PSC. O Wilson ama-zonense deixou de ser uma referência do novo e virou péssimo exemplo da promis-cuidade, de se fazer negócios com o caixa de um estado também falido. (Cláudio Magnavita)

O péssimo exemplo do Wilson

O “bagrinho” falou. Chegou a hora de conhecer os “tubarões”?

“Brigou com a Assembleia e com o prefeito da

capital. A sua fama de austero e probo está indo

para o espaço”

Page 4: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

4 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020

Alexandre de Moraes, Ministro do Supremo Tribunal Federal, ao falhar com a justiça e o Estado de-mocrático de direito perdeu a legiti-midade para garantir os direitos da sociedade, portanto merece ser ques-tionada a sua integridade para perma-necer no exercício de suas funções.

Torna-se evidente o desejo de al-guns integrantes do STF de desesta-bilizar o governo do Presidente Jair Bolsonaro, legitimamente eleito. Ao que parece, acordos que levaram alguns Ministros ao STF estão sen-do cobrados, levando dúvida sobre o que entendemos por Estado De-mocrático de Direito e independên-cia dos poderes.

Interesses pessoais têm desa-creditado essa honrada instituição. Ministros vêm escolhendo, delibe-radamente, combater fora dos autos os seus inimigos enquanto se aco-vardam com a falta de sensatez de governadores aliados politicamen-te, tornando atual a frase de Martin Luther King: “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”

Esse comportamento ofende ao princípio da impessoalidade, ins-crito no art. 37 da Constituição da República. Magistrado “fala” nos autos, não antecipa julgamento nem determina em entrevistas o que um Presidente deve ou não fazer. São muitas as coincidências que fazem pender invariavelmente a balança da justiça a favor de governadores opositores ao Presidente.

O partidarismo de alguns mi-nistros, fora do exercício de suas funções judicantes, têm causado profundo constrangimento para toda a comunidade jurídica. A títu-lo de exemplo, ministro vem deter-minando subserviência à orientação da OMS. Destacamos que orien-tação, como o próprio nome diz, orienta e não obriga.

Dessa forma, longe de trazer segurança jurídica, decisões e pro-nunciamentos isolados nesse mo-mento confundem a população e

outorgam carta branca para Gover-nadores e Prefeitos que passaram a determinar prisões ilegais, benefi-ciados pelo silencio da OAB, sob a infundada alegação da competência concorrente no combate ao Corona vírus.

Ministros tão ativos, além da OAB, se mostram pequenos diante das evidentes prisões de cidadãos por desobediência civil, das vio-lências físicas durante as prisões e do uso inadequado de algemas por policiais militares e guardas muni-cipais, mesmo sabendo que essas prisões midiáticas contrariam a de-terminação da Súmula Vinculante de número 11, do próprio STF.

Enquanto isso, criminosos fa-mosos são conduzidos pela polícia apenas com as mãos posicionadas atrás do corpo, sem qualquer alge-ma, mesmo que esses malfeitores te-nham sido responsáveis pela morte de milhares de pessoas em hospitais públicos, em razão dos comprova-dos desvios de dinheiro público.

Tem ministro que já foi filiado ao PSDB e, segundo relatos na im-prensa, já prestou serviços para em-presas ligadas ao PCC. Alguém que já foi remunerado pelo crime, sem se importar com a quantidade de san-gue que esse dinheiro traz consigo, tem a bússola moral desregulada.

Homens que deveriam inter-pretar as leis e a sua justa aplicação não se importam com as consequ-ências de seus atos, eles não vivem sob o efeito deles. A última decisão de Alexandre de Moraes, ao afastar o diretor da Polícia Federal de suas funções, condenou antecipadamen-te o Presidente, mesmo sabedor que o Ministro Celso de Mello, compe-tente para apurar os fatos narrados por Sérgio Moro, está longe de pro-ferir qualquer decisão.

Não é raro entrar em gabinete de Ministro e ver estampada a foto de Presidente que o nomeou, nem por isso os Ministros levantam dú-vidas sobre a integridade desses mi-nistros. Toda uma vida de militân-

cia é esquecida e a independência do julgador nunca é questionada.

O Presidente da OAB nacional fez acusações piores contra Sérgio Moro, sem que providências na mesma proporção que as tomadas contra o Presidente fossem instau-radas. Onde estava o MPF naquele momento?Onde estavam os Mi-nistros que não se manifestaram publicamente parabenizando o ato de coragem de Felipe Santa Cruz, acusador de Sérgio Moro ? Minis-tros que enalteceram a coragem do acusador de hoje se mantiveram inertes naquele momento.

Ministros, que aplaudem qual-quer manifestação contrária ao Presidente, quedam inertes sobre os claros abusos cometidos por Sérgio Moro. Sérgio Moro, antes de pedir a sua exoneração procurou represen-tantes de outros partidos para par-ticipar a sua decisão, lançando dú-vidas sobre a ética de sua conduta, mas, inadmissível e irresponsável, o envio de sua carta antecipadamente com o pedido de exoneração para a REDE GLOBO, reconhecido grupo econômico que investe ou participa de empresas com capital aberto e ação negociada na bolsa de valores.

Nenhum ministro estranhou o motivo desse pronunciamento ter sido durante o dia, cujas consequên-cias para o mercado de ações seriam nefastas, como foram, e, em tese, poderiam beneficiar aqueles que já sabiam de véspera e apostaram con-tra o país.

Prejuízos incalculáveis foram gerados para as empresas e para o já combalido país. Alguém ganhou apostando contra o país? Sigam o dinheiro e logo saberemos quem fo-ram! A PF sob o comando do STF, já que a nomeação de forma trans-versa passou a ser dela, vai arquivar rapidamente essa investigação, se investigar. Estão mais ocupados em desperdiçar recursos públicos para elucidar o algoz que falou mal da careca de um Ministro.

“Não havia tempo para li-berarmos os corpos. Nós os em-pilhávamos no fundo da sala de reanimação do hospital. E liberá-vamos os corpos quando podía-mos, durante o dia ou à noite”. A descrição da cena dramática po-deria ser de algum profissional de saúde em um centro médico na Europa em 2020. Mas o trecho é extraído de um depoimento a um jornal francês de 1969, durante a Gripe de Hong Kong, que viti-mou 31 mil franceses e um to-tal de um milhão de pessoas em todo o mundo.

A analogia entre os dois momentos foi feita pelo depu-tado francês Olivier Becht. Sua intenção foi chamar a atenção para as lições que podem ser ex-traídas das epidemias pregressas. Em primeiro lugar, a boa notícia de que nossas sociedades já en-frentaram crises de proporção semelhante. Ele apontou a atual pandemia mundial como um evento jamais visto por nossa ge-ração. No entanto, ressalta que esta não é a primeira vez que a Humanidade enfrenta uma crise de tal proporção e elenca outras ocorrências recentes enfrentadas por gerações anteriores no sécu-lo XX, como a Gripe Espanhola (1918) e a Gripe Asiática (que matou dois milhões de pesso-as em 1957), além da já citada Gripe de Hong Kong. Apesar da mortalidade em massa, a Huma-nidade não foi dizimada a vida seguiu seu curso.

Outro ponto levantado é que os avanços tecnológicos modifi-caram a sociedade de forma defi-nitiva nos últimos 50 anos. Se em 1969 a morte de milhões de pes-soas era interpretada como uma fatalidade, hoje nos soa simples-mente inaceitável. Espera-se que a ciência possa nos proteger de todas as doenças, como se a mor-te estivesse cada vez mais acuada, vencida pelas descobertas cientí-

ficas. No entanto, Becht pontua que essa visão sobre a morte se restringe apenas quando os atin-gidos são os países ocidentais. Todos os anos 500 mil pessoas morrem de malária na África, sem a devida repercussão no Pri-meiro Mundo.

Becht também destaca a mu-dança no grau de exigência da so-ciedade para com o Estado, res-ponsabilizado por providenciar resposta a todas as demandas. “Em 1969, ninguém cobrou que Pompidou detivesse a gripe de Hong Kong”, cita.

Para o deputado francês, fica claro que a História nos ensina o quanto mudou a esfera midiá-tica e sua influência em eventos de grande repercussão. À época, muitos canais de mídias ainda estavam sob controle do Estado francês. Como não era possível deter a doença, simplesmente não se falava sobre ela. Já na era dos canais de notícias 24 horas no ar e das mídias sociais, o assunto domina todos os espaços. Ele defende que a saturação de infor-mações sobre a doença nos dá a impressão que o mundo parou. E a normalização de tal sentimento faz com que ele pare, de fato.

Os ensinamentos da História não nos obrigam a repetir fór-mulas ou modelos, mas Becht se arrisca a listar lições do passado úteis neste momento: 1) Epide-mias sempre existiram e, prova-velmente, sempre existirão. Não são resultado de complôs inter-nacionais de estudiosos e milita-res em laboratórios secretos; 2) Nem mesmo toda a ciência ou os melhores líderes podem evitar a ocorrência de eventos desse tipo; 3) É preciso manter o otimismo: a Humanidade sempre conse-guiu dar a volta por cima e se so-brepor às epidemias.

*Gerente médico da Med-Rio Check-Up

Paulo Xavier Milber Guedes*

Ministro do STF julga ou advoga em causa própria? Lições da História sobre epidemias

OPINIÃO

Page 5: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 5

CORREIO NACIONAL

Ministério da Saúde dá parecer favorável ao futebol

Crise no Pará

Dia do Trabalhador

Depoimento

Impeachment

O Ministério da Saú-de deu parecer favorável à volta do futebol, mas apresentou ressalvas ao guia de sugestões prote-tivas da CBF.

A pasta diz que a atividade é “relevante no contexto brasileiro e que sua retomada (com portões fechados) pode contribuir para as medi-das de redução do des-

Enfrentando uma es-calada dos casos de Co-vid-19 nos últimos dias, o Pará chegou a 224 mor-tes pela doença, com um total de 2.999 casos con- firmados até dia 30 de abril. o caos reina no sis-tema de saúde do estado.

Por meio virtual, as prin-cipais centrais sindicais do país celebraram o Dia do Trabalhador com falas de FHC, Lula, Ciro Gomes e Marina Silva. O teor dos discursos foi de solidarie-dade para enfrentar a crise.

De acordo com a jorna-lista Bela Megale (O Glo-bo), o ex- ministro Sérgio Moro dará neste fim de semana um depoimento no caso que investiga as acusações de interferên-cia de Bolsonaro na Polí-cia Federal.

A Assembleia Legislati-va do Amazonas aprovou o pedido de impeachment ao governador Wilson Lima (PSC), por conta do colapso no sistema de saúde no estado, no com-bate ao coronavírus.

locamento social através da transmissão dos jo-gos”.

O órgão sugere que a CBF “garanta a reali-zação dos testes e ava-liações constantes não apenas nos atletas, mas também às comissões técnicas, funcionários e colaboradores, assim como aos familiares e contratantes próximos”.

Reprodução

Órgão, porém, faz uma série de ressalvas ao documento da CBF

O Brasil terminou o primeiro trimestre de 2020, mesmo perío-do em que o coronavírus chegou ao país, com 1,218 milhão de pes-soas a mais na fila do desemprego.

Com o avanço no número de desempregados, a taxa de desocu-pação avançou para 12,2%, segun-do dados do IBGE (Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística).

Desde março, quando o país começou a sentir os efeitos eco-nômicos do coronavírus, bares, restaurantes e comércio tiveram que fechar as portas para evitar o avanço da doença.

A população desocupada foi de 11,632 milhões, no último trimestre de 2019, para 12,850 milhões nos três meses de 2020, segundo a Pnad (Pesquisa Nacio-nal por Amostra de Domicílios), do IBGE, uma de alta de 10,5% no período.

A analista da pesquisa, Adria-na Beringuy, apontou que o cres-cimento no número de desempre-gados já era esperado.

“O primeiro trimestre de um ano não costuma sustentar as contratações feitas no último tri-mestre do ano anterior. Essa alta na taxa, porém, não foi das mais elevadas”, disse.

De acordo com o coordenador do IBGE Cimar Azeredo, porém, os resultados da pesquisa já re-tratam os efeitos do coronavírus sobre o mercado de trabalho no Brasil.

“Tivemos influência expressi-va da Covid-19. Não temos como separar sazonalidade e efeitos da pandemia e do distanciamento social, mas de claro temos efeitos”, apontou.

Dos novos desempregados, 800 mil -dois terços- estavam no mercado informal, sem carteira assinada. Outros 400 mil eram trabalhadores formais.

Com a intensificação da qua-rentena, muitas atividades típicas da informalidade, como comida na rua, deixaram de ser feitas por

Dia do Trabalhor às avessasIBGE registra 12 milhões de desempregados no país

Agência Brasil

Taxa de desocupação avançou para 12,2%, segundo dados do IBGE

NACIONAL

falta de consumidores.“[O setor de] Alimentação

não costuma ter queda nessa épo-ca, mas ela ocorreu”, disse a analis-ta Beringuy.

A Pnad do IBGE mostrou perdas em todos os setores de atividades no primeiro trimestre, como indústria (queda de 2,6%), construção (-6,5%), comércio, re-paração de veículos automotores e motocicletas (-3,5%), alojamento e alimentação (-5,4%), outros ser-viços (-4,1%) e serviços domésti-cos (recuo de 5,9%).

As quedas em comércio, alo-jamento e alimentação e outros serviços, como cabeleireiros e ou-tros prestados às famílias, foram as maiores da série histórica desde 2012.

Segundo o IBGE, a queda no serviço doméstico (-5,9%) tam-bém foi um recorde, assim como o recuo de 7% no emprego sem carteira assinada do setor privado. Também caíram o emprego com carteira (recuo de 1,7%) e o por conta própria sem CNPJ (-3,8).

População ocupada O IBGE considera desocu-

pados aqueles trabalhadores que não estavam empregados durante a realização da pesquisa, mas que procuravam uma ocupação.

Considerando aqueles que não estavam trabalhando e tam-pouco procuravam emprego, o

contingente da população ocupa-da perdeu 2,3 milhões de pessoas, para 92,2 milhões, uma queda de 2,5% -a maior recuo da série. Des-ses, 1,9 milhão atuavam na infor-malidade.

“A população fora da força de trabalho já vinha crescendo, e é importante lembrar que no pri-meiro trimestre de cada ano, essa população costuma aumentar, porque é um período de férias e muita gente interrompe a procura por trabalho”, disse Beringuy, do IBGE.

Em março especificamente, porém, houve o agravamento da pandemia. Com estabelecimentos comerciais, de serviços e indús-trias fechados, há pouco estímulo para quem não está empregado procurar uma vaga.

O secretário especial de Deses-tatização, Desinvestimento e Mer-cados do Ministério da Econo-mia, Salim Mattar, estimou nesta quinta que a taxa de desemprego no país pode até dobrar por conta dos impactos da crise do coronaví-rus na economia.

“No Brasil a gente já estava com taxa de desemprego eleva-do. Presume-se que esse desem-prego anterior possa aumentar entre 50% a 100% do que era a taxa anterior”, afirmou ele, em live promovida pelo banco Cre-dit Suisse.

Page 6: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

6 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020

CORREIO CARIOCA

Estado mantém compra de plantas para palácio na pandemia

Sem vagas

Homenagem

Desbloqueados

Ajuda da UFRJ

Está confirmado para o dia 14 de maio a reali-zação de um pregão ele-trônico para a compra de plantas ornamentais para compor parte do projeto de paisagismo dos jardins do Palácio Laranjeiras, re-sidência oficial do gover-nador doestado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. A licitação tem estimativa

O necrotério do Hospi-tal Municipal Salgado Filho, no Méier, Zona Norte, está lotada. Com as câmaras frigoríficas 100% ocupa-das, uma imagem mostrou dez cadáveres cobertos por sacos do lado de fora, aguardando uma vaga.

A Prefeitura realiza uma homenagem a todos os trabalhadores que con-tinuam em atividade du-rante a pandemia, espe-cialmente os profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e maqueiros.

A 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio determinou o desbloqueio de 138 leitos de UTI para atendimento de pacientes com Covid-19. A decisão foi um pedido do Ministé-rio Público e da Defensoria Pública.

Um projeto de lei apro-vado na quinta (30) per-mite que a Assembleia Legislativa do Rio repasse recursos economizados do orçamento para a constru-ção de respiradores feitos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

de R$ 21,5 mil. A infor-mação foi divulgada pelo jornalista Ruben Berta em seu blog. Nem a pan-demia foi capaz de inter-romper as melhorias nos jardins do palácio onde Witzel disse que não iria morar durante as eleições para o governo do esta-do, mas acabou mudan-do de ideia.

Reprodução

A licitação tem estimativa de R$ 21,5 mil para o projeto de paisagismo

RIO

Conhecido pela venda nas ruas e praias no Rio de Janeiro, o Biscoito Globo, pela primei-ra vez na história, terá a fábrica fechada. Diante das medidas de isolamento social e da crise em meio à pandemia de coronaví-rus, a queda nas vendas levou os donos da marca a produzirem a iguaria apenas para atender de-mandas específicas.

- É a primeira vez que fecha-mos a empresa. A fábrica está fe-chada hoje, sem atendimento ao cliente. Quando há um pedido de algum cliente, produzimos de forma específica. Chamamos dois ou três funcionários e pro-duzimos rapidamente. As praias estão vazias, assim como as 300 cantinas de escolas e as 200 lojas de biscoitos que vendemos. Não há o que fazer- afirmou Marcelo Ponce, um dos donos da compa-nhia, ao jornal O Globo.

A história do Biscoito Globo no Rio iniciou em 1953, com o

Crise global atinge íconeBiscoito Globo, patrimônio cultural, dá pausa na produção

Reprodução

Tradicional nas praias do Rio, empresa dá férias coletivas aos funcionários

pai de Marcelo, Milton, como um dos fundadores da marca. A popularidade do biscoito, vendi-do tanto em versão doce quanto em versão salgada, o elevou a pa-trimônio cultural e imaterial da capital fluminense em 2012.

Segundo Ponce, entre 5 mil e 7 mil saquinhos costumam ser vendidos nesta época do ano

– 60% das vendas são em em-balagens de papel, as mais tra-dicionais, comercializadas por ambulantes nas praias.

Ao jornal, ele declarou que as reservas já foram esgotadas e os funcionários estão todos em férias coletivas e que ainda não tem previsão de quando voltará a produzir o biscoito.

O prefeito Marcelo Crivella disse na manhã desta sexta (1º) que avalia a possibilidade de en-durecer as medidas restritivas no Rio. Uma das medidas seria a de multar empresas que permitirem acesso de pessoas sem máscaras de proteção facial.

De acordo com o prefeito, ele fará uma reunião com gabinete científico, formado por diretores de hospitais, os professores de uni-versidades e membros da academia nacional de medicina, para discutir as curvas da pandemia na cidade.

- Eu acredito que, talvez, a gen-te possa endurecer algumas medi-das como multar as empresas que atendem pessoas sem máscaras. É talvez uma medida que entre em vigor – disse Crivella

A prefeitura do Rio inaugu-rou na quinta (1º) os primeiros 100 leitos dos 500 previstos para o hospital de campanha montado no Riocentro, na Zona Oeste. A unidade foi montada para receber pacientes de coronavírus.

Dos 100 leitos, 20 são de terapia intensiva e 80 de enfermaria. A pre-visão, segundo o Marcelo Crivella,

é que os 400 leitos restantes sejam abertos assim que chegarem, da Chi-na, 300 respiradores comprados. A previsão é que esse equipamento chegue até o fim da próxima semana.

A previsão é que sejam amplia-das as vagas em outros hospitais da rede, inclusive o Ronaldo Gazolla, que se tornou referência no trata-mento da doença no município.

Crivella pode endurecer medidas no Rio

Prefeitura inaugura unidade no Riocentro

Tubarão BaleiaUm Tubarão Baleia, maior

espécie de Tubarão conheci-da, apareceu na Baía de Gua-nabara atraído por sardinhas capturadas por pescadores. A rara aparição é mais uma que mostra o respiro da natureza durante a pandemia.

Page 7: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 7

Reprodução

Chamada de ‘hipóxia silenciosa’, ela agride pulmões sem a pessoa perceber

O mundo ainda está conhecen-do as consequências da Covid-19 no corpo humano. Por mais que ela provoque falta de ar, levando a pessoa a ter até uma pneumonia, muitas das vezes ela pode ser “silen-ciosa” (hipóxia silenciosa). Ou seja, o sangue tem baixa oxigenação, mas o paciente consegue falar e até se co-municar no telefone celular.

Um estudo do médico Richard Levitan, publicado pela BBC News Brasil, relata vários casos de pacien-tes internados por outras razões — como acidentes ou vítimas de es-faqueamento — em que só foi des-coberto que tinham covid-19 após tomografias ou raios-X realizados para verificar se houve estrago em órgãos internos.

O médico constatou que a Covid-19 tem uma peculiaridade perigosa.

"Estamos começando a reco-nhecer que a pneumonia da Co-vid-19 causa inicialmente uma pri-vação de oxigênio que chamamos de 'hipóxia silenciosa' — 'silenciosa' por sua natureza traiçoeira, difícil de ser detectada", afirma Levitan.

Richard explica que, na emer-gência do hospital, pacientes em es-tado grave são entubados por várias razões. "Em meus 30 anos de experi-ência, entretanto, a maioria dos pa-cientes que precisam da entubação de emergência estão em estado de choque com um estado mental alte-rado e lutando para respirar. Muitos estão inconscientes ou usando cada músculo que têm para respirar", mas que, no caso da pneumonia de Co-vid-19, "é diferente".

A maioria desses pacientes que tratou, diz Levitan, tinham satu-ração bastante baixa de oxigênio, "praticamente incompatível com vida", mas "estavam falando em seus celulares".

"Apesar de estarem com a respi-ração rápida, não aparentavam afli-ção, apesar dos níveis baixos perigo-sos de oxigênio e de apresentarem pneumonia avançada nos raios-X."

anestesiologista Luciano Gattinoni, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, que aponta a hipóxia silenciosa como uma condição co-mum entre os pacientes com Co-vid-19.

Ao menos 50% dos 150 pacien-tes da pesquisa tinham uma oxige-nação baixa, mas pulmões com um nível quase normal de complacên-cia, como é chamada a capacidade do órgão de se expandir.

"Essa combinação notável quase nunca é vista em uma síndrome res-piratória aguda grave", diz Gattoni.

POR QUE ISSO ACONTECE?Richard Levitan diz em seu ar-

tigo que médicos e cientistas estão apenas começando a entender por que isso ocorre.

Uma explicação possível apon-tada por ele é que o coronavírus ataca células pulmonares que pro-duzem surfactantes, substâncias que ajudam os alvéolos a permanecerem abertos entre as respirações e que são essenciais para o pulmão funcio-nar normalmente.

"Mas os pulmões permanecem inicialmente 'complacentes', ainda não rígidos ou cheios de fluídos. Isso significa que o paciente pode expe-lir dióxido de carbono — e, sem o acúmulo de dióxido de carbono, os pacientes não sentem falta de ar", es-

CASOS SEMELHANTESA médica Clarisse Melo teve até

agora uma experiência bastante se-melhante ao atender pacientes com Covid-19 em um hospital privado do Rio de Janeiro.

"Muitos estão com uma satu-ração (de oxigênio) muito baixa, mas conversam com a família pelo celular. Eles ficam bravos comigo quando eu digo que têm que ir para a UTI. Eu tenho que mostrar os exames para convencer a pessoa de que ela precisa receber oxigênio", diz a médica.

A situação é tão recorrente que deixou ela e vários colegas intriga-dos e virou um assunto recorrente nas conversas sobre os pacientes com coronavírus.

"Isso não é comum em quem tem pneumonia, mas todos os mé-dicos com quem trabalho viram pacientes com hipóxia e sem falta de ar. Foi uma unanimidade", diz a médica.

Ela diz também ver várias pesso-as que procuraram atendimento já com uma insuficiência respiratória grave. "A gente fica se perguntando: 'Como a pessoa chegou a este pon-to? Como não percebeu a falta de ar e foi para o hospital já em um estado tão crítico?”.

Na busca por respostas, ela iden-tificou um estudo liderado pelo

creve Levitan.O médico diz que os pacientes

tentam compensar a baixa oxige-nação ao respirar mais rápido e profundamente, sem perceber que estão fazendo isso. Isso gera mais lesões ao pulmão, o que pode gerar uma insuficiência respiratória aguda e ser letal.

"A rápida progressão da hipóxia silenciosa para a insuficiência respi-ratória explica os casos de pacientes com Covid-19 que morrem de re-pente, sem chegarem a sentir falta de ar", afirma o médico.

No entanto, Jaques Sztajnbok, médico supervisor da unidade de tratamento intensivo do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, diz que a hipóxia silenciosa não é uma caracte-rística particular da Covid-19.

"Não é algo inédito, vemos acontecer com pacientes que têm outras doenças", diz o médico.

Sztajnbok também explica que cada pessoa tem uma tolerância pró-pria à baixa oxigenação no sangue, de acordo com suas características fisiológicas e preparo físico, por exemplo.

"Alguns pacientes chegam com oxigenação baixa, mas sem pro-blemas para respirar. Mas vários relatam algum desconforto respi-ratório. Uma das explicações para essa diferença pode ser a tolerância individual à hipóxia", diz Sztajnbok.

O médico aponta ainda que algumas necropsias de pessoas que morreram por causa do coronavírus indicam que houve trombose nos vasos do pulmão, ou seja, forma-ram-se coágulos que obstruíram a passagem de sangue.

Isso pode ser o motivo da baixa oxigenação do sangue em pacientes que não sentem falta de ar.

"Para o pulmão funcionar, é pre-ciso que haja respiração, mas tam-bém que o sangue chegue aos alvé-olos para haver a troca de gases. O pulmão pode ter uma complacência boa, mas, se o sangue não chega aonde deveria, a troca não ocorre

adequadamente", afirma Sztajnbok.Richard Levitan defende no

artigo o uso de oxímetros para iden-tificar a pneumonia causada pela Covid-19 antes de problemas respi-ratórios aparecerem.

Esse aparelho se parece com um pregador de roupas e é colocado em um dos dedos da mão para medir a saturação de oxigênio no sangue e a frequência cardíaca.

Levitan diz que eles tão são sim-ples de usar quanto um termôme-tro, são "extremamente confiáveis" e podem dar um alerta precoce para a pneumonia da Covid-19.

O médico defende que qualquer um que tenha sintomas compatíveis com os da Covid-19 use o aparelho por duas semanas, período no qual a doença se desenvolve, com acompa-nhamento médico.

Isso pode evitar que muitas pes-soas cheguem aos hospitais em esta-do crítico e precisem ser entubadas. Levitan diz que o oxímetro pode prevenir mortes.

O uso mais amplo desse apare-lho seria "ideal", diz Sztajnbok, mas é algo "impossível" de se fazer na prá-tica. Um dos obstáculos é o preço do aparelho, que custa entre R$ 100 e R$ 200 em lojas online.

Sztajnbok reforça que as reco-mendações feitas até agora sobre o que fazer ao ter sintomas compa-tíveis com os da Covid-19 devem continuar a ser seguidas.

"Procure um hospital se tiver fal-ta de ar, uma frequência respiratória aumentada persistente ou sentir cansaço ao fazer atividades em que isso não aconteceria normalmente."

O médico diz ainda que a hipó-xia silenciosa deve ser melhor estu-dada — e que "não é motivo para pânico".

"O risco é lotar os prontos-so-corros com pessoas que acham que têm pneumonia sem ter sintoma ne-nhum. Quem precisar ser atendido não vai conseguir, e a pessoa que foi lá desnecessariamente pode voltar para casa infectada com o coronavírus."

O lado silencioso (e fatal) da Covid-19Hipóxia, um tipo de pneumonia de sintomas quase ocultos, agrava situação de pacientes

Page 8: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

8 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020

Por Elenilce Bottari (Agência EuroCom

de Notícias)

No Brasil, estão previstos mais de cem, mas na maioria es-magadora dos casos, eles ainda não entraram em funcionamen-to, devido à falta de insumos, de respiradores ou mesmo de profis-sionais para atuarem na linha de frente. Exceção à regra, o Lagoa--Barra foi o primeiro hospital de campanha a ser inaugurado no Estado. A estrutura montada no terreno do 23º BPM (Leblon) foi custeada inteiramente com recursos da iniciativa privada e teve sua abertura antecipada em uma semana para atender a 60 pacientes, de uma fila de mais de 300 doentes graves, que estão ba-tendo às portas das emergências por um leito de internação. Ou-tra unidade igual deverá entrar em funcionamento na próxima semana no Parque dos Atletas.

Os dois hospitais temporá-rios terão 400 leitos, sendo 150 deles para Tratamento Intensivo. Cada um deles contará com 700 profissionais e estará equipado com tomografia digital, radio-logia convencional, aparelhos de ultrassom e eco cardiograma, além de laboratório de patologia clínica. Ambos funcionarão por quatro meses, durante o período mais grave da pandemia.

A Rede D’Or lidera a cons-

trução e operação dessas novas estruturas e arcou com R$ 60 milhões dos R$ 110 milhões investidos. No caso do Lagoa – Barra, participaram do investi-mento a Bradesco Seguros, Lojas Americanas, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombus-tíveis (IBP) e Banco Safra, em partes iguais. Já os custos do Hospital de Campanha Parque dos Atletas foram rateados entre a Rede D’Or e as empresas Stone Pagamentos, Mubadala, Quali-corp, SulAmérica Seguros, Vale, Movimento União Rio e Banco BV. O Governo do Estado cedeu

os terrenos para a construção.Na sexta-feira (1º) , foi a vez

da Prefeitura do Rio inaugurar os primeiros 100 leitos de 500 previstos para o seu hospital de campanha montado no centro de convenções Riocentro, na zona oeste carioca. A previsão, segundo o prefeito do Rio de Ja-neiro, Marcelo Crivella, é que os 400 leitos restantes (80 de UTI e 320 de enfermaria) sejam abertos assim que chegarem, da China, 300 respiradores comprados pelo município. Outras sete unidades temporárias que estão sendo er-guidas pelo Governo do Estado,

devem ficar prontas apenas na segunda quinzena de maio.

Embora chamem mais aten-ção, os hospitais de campanha não são as únicas iniciativas da rede privada com o setor público no combate à pandemia. Empre-sas vêm realizando doações de recursos financeiros, de insumos ou mesmo de pessoal.

— Está sendo fundamental esta iniciativa. A rede privada tem sido muito presente neste momento. Não só com hospitais de campanha, mas a expansão de leitos do SUS, doações de insu-mos, equipamentos, profissio-

nais. Também na aquisição de testes para covid19 — afirmou o secretário-executivo da Confe-deração Nacional de Saúde, Bru-no Sobral de Carvalho.

Ele defendeu a realização de novas parcerias público-privadas na Região Nordeste, onde já fal-tam leitos.

— Lá, os leitos já esgota-ram, o que mostra uma carência grande. O problema é que nes-tes locais o esgotamento atinge os leitos público e privado. No Pará, Ceará, em Pernambuco e no Amazonas não há mais como ampliar número de leitos. Seria importante a criação de parce-rias público-privadas com em-presas locais para instalação de hospitais de campanha nas regi-ões em pior situação.

Carvalho destacou ainda que o setor privado vem contribuindo também, por meio de doações, para a reativação de leitos do SUS que já estavam fechados por falta de pessoal ou de insumos.

— Existem três frentes efica-zes e relativamente rápidas que estão sendo utilizada para a am-pliação do número de leitos. São elas, os hospitais de campanha, a reativação de leitos do SUS que estavam fechados por falta de re-cursos e a contratação direta de leitos privados pela rede. Estas são as grandes e eficazes contri-buições que o setor privado têm

Hospitais de campanha entram na frente de batalha contra o Covid19

Primeira unidade a funcionar no Rio foi custeado pela iniciativa privada, que está investindo

na criação de novos mil leitos no país para atendimento ao SUS, Sistema Único de Saúde

Divulgação

Leito da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Campanha Lagoa Barra

O Rio de Janeiro deve enfrentar nos pró-ximos dias a face mais cruel da pandemia, com a estimativa de um aumento exponen-cial dos casos e de óbitos de Covid19 no Es-tado. Diante do risco iminente de colapso do sistema público de saúde, previsto pelo

próprio secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, a saída emergencial que vem sendo adotada para o atendimento das pessoas já infectadas é a utilização de hospitais de campanha (estruturas hospitalares tempo-rárias). Criados na 2ª Guerra Mundial para

salvar da morte os feridos nos campos de ba-talha, os hospitais de campanha vêm sendo utilizados por governos da China, Espanha, Estados Unidos e Inglaterra, entre outros, como forma de se evitar a falência do siste-ma público de saúde.

Page 9: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 9

realizado para apoiar o setor pú-blico neste momento.

O secretário-executivo da Confederação Nacional de Saú-de criticou a ideia da criação de uma fila única de internação para

leitos públicos e privados que vem sendo defendida por alguns setores.

— Mais de 50% dos hospi-tais privados já trabalham para o SUS. Não tem sentido isto.

Seria uma medida arbitrária, desnecessária e inexequível. Num momento de pandemia, as soluções precisam ser rápi-das e efetivas. E as ferramentas são estas, hospitais de campa-

nha, editais de contratação e reabertura de leitos públicos. Qualquer nova iniciativa iria demandar tempo; e nós não temos tempo. A pandemia já está aí. Além disto, a ideia de

impor uma fila única pode pas-sar como medida autoritária, de uma época que a gente não quer voltar. As instituições no país estão bem definidas em seus papéis.

O Hospital de Campanha Lagoa Barra é financiado pela iniciativa privada

Serão 100 leitos de enfermaria no Hospital de Campanha Lagoa Barra

A UTI do Hospital de Campanha Lagoa Barra terá 100 leitos para atender pacientes do SUS com coronavírus

O Hospital de Campanha do Parque dos Atletas terá 200 leitos para atender pacientes do SUS vítimas da Covid-19 A previsão é de que o Hospital de Campanha do Parque dos Atletas comece a receber pacientes no início de maio

Page 10: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

10 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020

Maior grupo de hospitais priva-dos do país, a Rede D’Or está inves-tindo R$ 200 milhões — R$ 120 mi-lhões, em recursos próprios, e outros R$ 80 milhões, de empresas parceiras — para a expansão de novos mil lei-tos para o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), aos pacientes do Covid19. Em São Paulo, a D’Dor fechou consórcio com as redes Qua-licorp e SulAmérica Saúde, para a re-forma de 95 leitos, sendo 30 de UTI. O investimento é estimado em R$ 20 milhões até o fim da pandemia e deixará como legado a modernização de três andares do hospital. Em outra iniciativa, em parceria com o Brades-co Saúde, foram criados 56 leitos, no Hospital das Clínicas de São Paulo, destinados a atender pacientes onco-lógicos e hematológicos com corona-vírus do SUS.

Em Brasília, parceria foi com a Rede Ímpar, para a doação ao Gover-no do Distrito Federal de R$ 4 mi-lhões, além de 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No Rio, além dos hospitais de campanha, fo-ram criados 110 novos leitos no Hos-pital São Francisco na Providência de Deus (HSF), com recursos financia-dos também pelas D’Or, Ímpar e Uni-tedHealth Group Brasil.

Enquanto acompanha a conclu-são das obras para inauguração nesta semana do hospital de campanha Parque dos Atletas, o vice-presidente médico da Rede D’Or, Leandro Ta-vares, conversou sobre os desafios da Covid19 para a saúde e explicou por-que a maior rede de hospitais privados do país, voltou seu foco para o SUS:

— Nosso objetivo é ajudar o po-der público a diminuir o sofrimento da população.

O que levou a maior rede de hospitais privados do país em inves-tir na rede pública de saúde para o combate à epidemia?

LEANDRO TAVARES -  A gen-te tem mais de 50 hospitais, mais de sete mil leitos e cem mil colaborado-res e atende a oito milhões de clientes todos os anos, mas quando a gente começou a se preparar para a pande-mia daCovid19, em janeiro, a gente

percebeu que precisava ir além da pre-paração da empresa, que já seria por si só um desafio. Diante do cenário que teríamos pela frente, nosso objetivo passou a ser ajudar o poder público a diminuir o sofrimento da população, trazer tratamento efetivo para as pes-soas e trazer maior harmonia social. Foi neste contexto que a gente mon-tou um conjunto de atividades com o poder público em todos os estados onde a Rede D’Or atua e estamos criando mais de mil novos leitos para pacientes do SUS. Destes, cerca de 50% vão ser cuidados e operaciona-lizados pela própria rede. É uma mu-dança de contexto porque a gente não olha só para o nosso cliente habitual, mas olha também por uma perspec-tiva social de apoio ao poder público, para que o paciente do SUS possa ter atendimento durante a pandemia.

Mas por quê em janeiro, se os primeiros casos de Covid19 fora da Ásia começaram apenas em feverei-ro e no Brasil, a primeira confirma-ção foi só em 25 de fevereiro?

LEANDRO TAVARES -  A gen-te viu que era uma doença com alto grau de infectividade, que se espalha-va com facilidade, porque a infecti-vidade era alta, uma doença que não tem vacina, uma doença que não tem tratamento específico e é uma doença de fácil disseminação. Então este con-junto de características da doença que fez com que a gente concluísse que ela

iria se espalhar com velocidade pelo mundo. A gente começou também a ver alertas das sociedades médicas in-ternacionais, conversamos com pro-fissionais da área que trabalham fora do Brasil e vimos que precisávamos nos preparar amplamente para fazer este enfrentamento.

Por que, no Rio, a rede optou pela construção de hospitais de campanha?

LEANDRO TAVARES - Os hospitais de campanha são parte de uma estratégia mais ampla de enfren-tamento ao Covid19. Eles têm um perfil diferente de outros. Enquanto hospitais convencionais atendem a todo tipo de doença, o hospital de campanha vai atender um tipo espe-cífico. Ele pode ser instalado ao lado de onde houver maior demanda por atendimento. O hospital de campa-nha atende ao paciente transferido pelo estado, um paciente já diagnos-ticado e já tendo recebido o primei-ro tratamento. A gente sabe que o atendimento de pessoas com Covid é complexo, que precisa de mais recur-sos humanos, requer medicamentos amplos. Como todo hospital de gran-de complexidade, isto exige profissio-nais qualificados, experientes, que irão também treinar os novos contratados, equilibrando assim o quadro de cola-boradores do hospital de campanha.

Como se determina o custeio e quem são os profissionais que irão

tratar pacientes de uma doença desconhecida e de evolução impre-visível?

LEANDRO TAVARES - A Co-vid é uma doença que provoca um quadro pulmonar evidente, que é a face dela mais conhecida, mas que também agride outros órgãos e leva a outros problemas, além dos proble-mas respiratórios, como a coagulação, levando a eventos tromboembólicos e à insuficiência renal nos pacientes mais graves. A única resposta para enfrentar esta pandemia é o preparo. Você tem que estar o mais preparado possível e foi isto que a gente fez desde janeiro, estudando este tema, a forma de prover insumos adequados para o tratamento dos pacientes, quais são os tratamentos possíveis de oferecer, quais os suportes que estes pacientes precisam, qual a necessidade de prote-ção para os profissionais, qual a tecno-logia necessária para o tratamento de pessoas. O que nós temos buscado é efetivamente estar prontos para todos os aspectos do tratamento da Covid. Para isto, buscamos literatura, conver-samos com colegas na Ásia, na Itália; e a partir destas experiências nós nos preparamos e somos capazes de fazer o enfrentamento desta doença aqui no Brasil.

Quanto custou cada unidade e o que está incluído no valor?

LEANDRO TAVARES – Cada unidade está custando R$ 55 milhões, com tudo incluído. Desde a constru-ção, os insumos, equipamentos e o pagamento de 700 profissionais pelo período de quatro meses, tempo que estimamos que a doença terá maior impacto sobre a rede.

Qual é a situação da doença no Brasil? Ela está dentro da previsão inicial de especialistas?

LEANDRO TAVARES – O Brasil é muito grande esta análise pre-cisa ser regionalizada. E dentro dessas diferentes regiões do país, Norte, Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, você precisa microregionalizar a dis-cussão. A situação das grandes cidades é diferente da situação do interior. A gente percebe que a curva do Rio de Janeiro se mantém na velocidade pre-

vista inicialmente. No Estado de São Paulo, percebemos que houve uma dilatação do tempo da curva. Já no Nordeste, estamos vendo uma acele-ração da curva na última semana. O Brasil tem situações heterogêneas em decorrência da sua vastidão territorial, dos insumos disponíveis e da situação sócio econômica dessas populações. É difícil avaliar exatamente qual será a gravidade deste impacto, por que tem múltiplos fatores. Os hospitais de campanha trazem um alívio im-portante para esta situação de escassez de leitos. Só a Rede D’Or está liberan-do 400 leitos, sendo 150 de terapia intensiva. A Prefeitura do Rio está inaugurando um hospital no Rio com 500 leitos, 100 de UTI, e tem outros hospitais e leitos definitivos que es-tão sendo preparados no hospital do Fundão, no hospital Pedro Ernesto. A situação é de fato muito preocupante, mas no Rio de Janeiro está havendo expansão de leitos e acreditamos que este conjunto de tomadas de decisão podem aliviar esta pressão.

O que muda com a covid19? LEANDRO TAVARES – Nes-

tes momentos de crise é que a huma-nidade aprende. A covid19 vai trazer aprendizado para gente. Um aprendi-zado de que precisamos ser cada vez mais velozes nas nossas respostas para a sociedade, um aprendizado de soli-dariedade. É importante as empresas darem as mãos ao setor público, os cidadãos também darem as mãos por pautas comuns, que sejam mais soli-dários. Uma pauta também que fica muito importante neste momento é dar importância ao que realmen-te importa à sociedade. O setor de saúde precisa ser motivo de atenção permanente. Ele é muito importante para a sociedade. Os profissionais de saúde merecem esta atenção que estão recebendo. E isto ajuda também na discussão do próprio setor, que preci-sa ter resolutividade, ter profissionais treinados, ter médicos bons na ponta, enfermeiros e técnicos de enferma-gem bons na ponta, ter leito hospi-talar, ter capacidade de diagnóstico. Isto tudo vem de aprendizado deste momento que a gente está vivendo.

“Nosso objetivo é ajudar o poder público a diminuir o sofrimento da população”ENTREVISTA/LEANDRO TAVARES/VICE-PRESIDENTE MÉDICO DA REDE D’OR

Os hospitais de campanha são parte de uma estratégia mais ampla de enfrentamento ao Covid19

Page 11: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,
Page 12: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

12 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020

CORREIO NO MUNDO

INTERNACIONAL

PSG e Lyon pedem o retorno da Champions League à Uefa

Altos e baixos

Chamada para enguias

Negou as acusações

Visita ilustre

O fim da tempora-da na França fez PSG e Lyon solicitarem à Uefa para seguirem na dispu-ta da Champions League de 2020. A entidade pre-tende completar o torneio em agosto, mas encara a ameaça de impossibilida-de após o posicionamento do governo francês contra o futebol no país até, ao menos, setembro. O PSG está nas quartas de final

Segundo a universida-de americana Johns Ho-pkins, mais de 3,2 milhões de pessoas foram infecta-das pelo novo coronavírus nos últimos dias e mais de 233 mil morreram. Em compensação, mais de um milhão de pessoas se recuperaram.

Com a pandemia, as en-guias de jardim do Aquário Sumida, de Tóquio, esque-ceram da aparência huma-na e agora se escondem na hora da alimentação. Os fun-cionários estão colocando tablets com chamadas de ví-deo para elas verem rostos.

Candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, negou pela primeira vez, após se-manas de silêncio, as acu-sações de assédio sexual feitas por sua ex-assesso-ra no Senado, Tara Reade. Ele escreveu um artigo ne-gando as acusações.

O médico francês de 98 anos Christian Chenay, continua visitando normal-mente seus pacientes em casas de repouso. Segun-do Christian, seus pacien-tes idosos não conseguem se virar sozinhos, e ele não pode abandoná-los.

da competição, e o Lyon está nas oitavas com van-tagem contra a Juventus. A decisão de retomar é Champions visa reduzir o prejuízo econômico cau-sado pelo fim antecipado do Francês. Estima-se que o PSG tenha perdido aproximadamente R$ 1,44 bilhão, recebendo menos verba dos patrocinadores, da cota de TV e da renda das bilheterias.

Reprodução

Situação financeira dos clubes franceses complica após fim do campeonato

Sumiu o buraco na camada de ozônio de tamanho recorde no hemisfério Norte, segundo informações do Copernicus At-mosphere Monitoring Service, da Comissão Europeia. No Twitter, o órgão explicou aos seguidores que o sumiço não tem nada a ver com as quarentenas impostas para conter a pandemia. “Basicamente, o buraco foi causado por um for-te vórtex polar e sumiu porque o vórtex também sumiu”, disse.

O aparecimento dos buracos está relacionado a temperaturas muito baixas e à formação de nuvens estratosféricas polares. Com o apa-recimento do sol, há reações quími-cas que provocam o buraco.

O furo havia atingido um tama-nho recorde neste ano no Ártico.

Fenômeno semelhante e de tama-nha magnitude só havia ocorrido na primavera de 2011.

Na Antártida, esses buracos são mais comuns durante a primavera e são causados principalmente por atividades humanas. O buraco na ca-mada de ozônio da Antártida ocorre anualmente pelo menos nos últimos 35 anos. O de 2019 foi um dos me-nores registrados nesse período.

No Ártico, pela maior proxi-midade com massa de terra e mon-tanhas, o vórtex polar é menos intenso e as temperaturas não tão baixas. No entanto, as temperatu-ras em 2020 foram tão baixas que foi possível a formação das nuvens estratosféricas polares, o que resul-tou em uma grande perda de ozô-nio na região.

A Nova Zelândia é o primeiro país a eliminar a transmissão co-munitária do Covid-19. Segundo Jacinda Ardern, primeira-ministra do país, todos os casos de trans-missão voluntária foram detecta-dos na região com sucesso, e não há disseminação generalizada em curso. “Venceremos essa batalha, mas devemos permanecer em vigilância para continuarmos as-sim”, afirmou Jacinda.“Eliminação não significa zero casos. Significa zero tolerância para novos casos e zero contaminação comunitária”. Ainda no mesmo anúncio, o dire-tor geral de saúde do país, Ashley Bloomfield, informou que os ca-sos de Covid-19 estão na casa de um dígito, e que há esperança de chegar a zero nos próximos dias.

Buraco na camada de ozônio desaparece no Ártico

Pioneirismo na Nova Zelândia

A Suécia se recusou, no perí-odo entre março e abril, a imple-mentar leis para quarentena. Em vez da regulamentação pesada de outros países da Escandinávia, o governo sueco propôs uma polí-tica pública baseada em compre-ensão, cuidado e segurança com o próximo, um isolamento social baseado em cidadania.

“Há uma percepção de que a Suécia não criou medidas de controle e deixou a doença se disseminar, mas isso não pode-ria estar mais longe da verdade”, afirmou Ryan.“[O país] criou uma política pública muito dura de distanciamento social basea-da em cuidar e proteger pessoas internadas. O que houve de dife-rente foi a confiança na cidada-nia e a habilidade individual dos cidadãos de se imporem o dis-tanciamento social e os devidos cuidados [contra a infecção]”, afirmou o médico.

em comparação com os vizinhos, que adotaram medidas regulató-rias por meio de decretos. Foram 20.300 casos e 2.462 mortes.

“Se não queremos uma so-ciedade que necessite de lock-downs, devemos olhar para a Suécia como representante de um modelo [de ação]”, comple-mentou Ryan.

No entanto, o país vive uma realidade diferente do resto do mundo. Com cerca de 10,3 mi-lhões de habitantes, o PIB sueco é de aproximadamente US$ 528 bilhões. O país tem uma renda média anual de US$ 54.600 por pessoa. Ela figura entre os 10 países com povo mais feliz do mundo, e também com maior liberdade econômica. A média de impostos que o cidadão sueco paga gira em torno de 32% dos ganhos individuais, o que tor-na o país um dos mais onerosos para os contribuintes.

Suécia exemplarDiretor da OMS, Michael Ryan, diz que é o modelo ideal

Reprodução

Mesmo polêmico, modelo sueco é recomendado

A forma diferente de lidar com a pandemia foi criticada por acadêmicos e intelectuais do país, que escreveram uma car-ta aberta ao governo para pedir medidas mais rígidas. O docu-mento teve mais de 2.300 assi-naturas. A Suécia teve mais casos

Page 13: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 13ECONOMIA

CORREIO ECONÔMICOPor Agência Brasil*

O primeiro de Maio não vai ser motivo de comemoração para 62 pessoas demitidas pelo Flamengo às vésperas do feriado do Dia do Trabalhador. Após 46 dias de paralisação do futebol por conta da pandemia do co-ronavírus, o clube mais popular do país escolheu reduzir custos, cortando cerca de 10% dos fun-cionários. “Ficamos tristes, senti-dos, mas não temos muito o que fazer”, lamenta o presidente do Sindicato dos Empregados em Clubes, Federações e Confede-rações Esportivas (Sindeclubes), José Pinheiro. Segurança do Fla-mengo há 45 anos, Pinheiro diz que, diferente de outros perío-dos, os trabalhadores receberão todas as verbas rescisórias a que fazem jus e que o clube, como empregador, também está dentro do direito de reduzir a folha de pessoal: “Poderíamos protestar, mas neste momento não teria jei-to. Vivemos uma fase triste”.

O Flamengo também esta-beleceu um critério para corte de salários. Para os funcionários que ganham mais de R$ 4 mil, o clube descontará 25% do valor recebido. O caminho da redução de salários é o mesmo adotado por 80% dos clubes da Séria A do Campeonato Brasileiro. Entre-

A fonte secou no futebol Flamengo corta salário e diminui quadro de funcionários

Alexandre Macieira/Riotur

Funcionários com vencimentos acima de 4 mil terão cortes de 25% no salário

tanto, a maior parte busca pou-par os funcionários com salários menores. O Palmeiras, por exem-plo, optou em reduzir este mes-mo percentual dos rendimentos de atletas e comissão técnica.

- Esta crise implica em ques-tões éticas delicadas nas relações entre clubes e profissionais. Mas configura certo absurdo e provo-ca protestos na sociedade e nas redes sociais, pois o Flamengo, aparentemente, não mexeu nos astronômicos vencimentos de jogadores e atingiu os funcioná-rios mais pobres. É injusto, e não faz sentido, um clube de massa, com milhões de torcedores de baixa renda, voltar-se contra os mais humildes - analisa o comen-tarista esportivo Márcio Guedes.

O sócio e conselheiro do Fla-mengo David Butter também estranhou a decisão, principal-mente porque está publicado no site a demonstração financeira do clube, pontuando que ele poderia suportar por três meses a pressão econômica provocada pela crise criada pela Covid-19. Neste mesmo texto, o Fla tam-bém ressalta a preocupação com a segurança dos funcionários. “Vamos questionar e tentar en-tender a razão de, nesta hora mais sombria, cortar na cadeia salarial mais baixa. Entendemos que agora é preciso preservar os

vínculos e cumprir parte de uma missão de responsabilidade so-cial”, avalia Butter, que integra o grupo Flamengo da Gente. “Quem pode dizer se isto pode-ria ser evitado ou não é a direto-ria e o conselho diretor. Eles têm os elementos de decisão para nos dar uma resposta plena. Vamos pedir explicações”.

Procurado pela reportagem da Agência Brasil, o Flamengo disse que não vai se manifestar sobre o caso.

Segundo o consultor da Er-nest Young Alexandre Rangel, todas as receitas dos clubes estão travadas e a previsão é de que o quadro se agrave: “As autorida-des não sabem dizer quando o futebol pode voltar. Há um ce-nário de indefinição e a tendên-cia é a de que todos os [clubes usem todos os] artifícios legais: redução de salários, suspensão de contratos de trabalho e demis-sões. É inevitável”.

O consultor também diz que, mesmo com a volta da norma-lidade, o dinheiro leva, em mé-dia, de 90 a 120 dias para entrar no caixa dos clubes: “Isso é só o começo do movimento, deses-perador para a maioria, e ainda controlável para alguns”.

*com informações de Rodri-go Ricardo, repórter da Rádio Nacional

BNDES aprova financiamentode energia para o Nordeste

Crédito rural I

Capital liberado

Crédito rural II

Bolsa de Valores

O BNDES aprovou, nesta semana, financia-mento no valor total de R$ 1,13 bilhão para apoio do plano de investimen-tos da Equatorial Energia em Alagoas e no Piauí até dezembro de 2023. Des-se total, R$ 643 milhões serão destinados à Equa-torial Piauí e R$ 491,4 mi-lhões à Equatorial Alago-

O Conselho Monetário Nacional decidiu que pro-dutores rurais estão dis-pensados de apresentarem alguns documentos para a contratação de linhas de crédito para evitar desloca-mentos até agências, em virtude do Covid-19.

Os pequenos bancos terão de reter menos ca-pital pelos próximos dois anos, decidiu hoje (30) o Conselho Monetário Na-cional (CMN). A medida injetará R$ 1,3 bilhões na economia, para ajudar na pandemia de Covid-19.

As cooperativas rurais de menor porte ganharam uma ajuda para obter em-préstimos do Programa de Capitalização de Coope-rativas Agropecuárias. O Conselho Monetário Na-cional elevou o limite de crédito para R$ 100 mil.

Apesar de encerrar o pregão do dia 30 com queda de 3,2%, o índice Ibovespa teve uma valori-zação de 10,25% em abril. O dólar também terminou abril com alta de 4,69% e acumula valorização de 35,51% neste ano.

as, respectivamente.Segundo a assessoria

de imprensa do BNDES, as duas empresas são re-sultado dos leilões de ven-da das companhias ener-géticas do Piauí (Cepisa) e de Alagoas (Ceal), reali-zados em 2018. O proces-so de desestatização das companhias foi modelado pelo banco.

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Recursos somam R$ 1,13 bi e beneficiam empresas do Piauí e de Alagoas

Page 14: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

14 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020

O Brasil sente falta de Falecido há quase três décadas, o piloto deixou um legado muito além das pistas

Ayrton no GP da Europa de 1993

2015, quando Lewis Hamilton conseguiu largar na primeira fila por 20 vezes seguidas. O “Rei de Mônaco” conseguiu esse título após ser o único piloto na histó-ria a conseguir vencer o circuito do principado de Mônaco por seis vezes. Michael Schumacher teve a chance de superar Sen-na, mas encerrou a carreira com “apenas” cinco vitórias. Atual-mente, quem pode ameaçar o record de mais de 30 anos de Senna é o britânico Lewis Ha-milton, que tem três vitórias no circuito e ainda deve render muito na Fórmula-1.

Outro legado de Senna para o esporte foram uma série de me-didas de segurança para os pilo-tos, como a alteração de curvas, versões redesenhadas dos cock-pit dos pilotos para garantir mais proteção a eles e a implantação de novas barreiras de proteção. Depois de Ayrton Senna, o úni-co piloto da Fórmula-1 a morrer em um acidente foi o francês Jules Bianchi, que, em outubro de 2014, se chocou contra um trator, no GP de Suzuka, no Ja-pão, e ficou internado em estado vegetativo até falecer em julho de 2015.

Mas provavelmente o maior legado que Senna deixou foi a chama de esperança no coração de milhões de brasileiros. Em entrevista ao jornalista João Dória, Ayrton Senna disse que: “Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita de-terminação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá”.

Pode parecer algo simples, mas quando Senna começa a ga-nhar os holofotes internacionais, o Brasil está saindo da catastró-fica Ditadura Militar, que além dos diversos crimes cometidos contra a humanidade, sucateou as escolas públicas e deixou o país em situação econômica miserável. E como a seleção bra-sileira vinha acumulando uma série de vexames nas Copas do Mundo, o povo começa a adotar Ayrton Senna como uma forma de escapar da realidade de derro-tas. Era um brasileiro que se or-gulhava de ser brasileiro. Então, nas manhãs de domingo, o país acordava cedo para ter do que se orgulhar.

O capacete ostentando as cores da bandeira e o gesto de carregar uma bandeira do Brasil na comemoração de cada vitória faziam o povo acreditar no futu-ro, sentir que havia como mudar o país para algo bom. Mas como fazer isso? É aí que voltamos à citação de Senna. “Tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá”. Senna era sedento pela vitó-ria e não se contentava enquan-to não atingisse a perfeição. Em uma época na qual o Brasil era conhecido pelo “atitudes libe-rais” do carnaval, por assim di-zer, e pelas riquezas naturais, o mundo – e o brasileiro – perce-bem que vale a pena ser esforça-do, que a genialidade pode, sim, surgir no Brasil.

Dono de muita ousadia den-tro das pistas e muita humildade fora delas, Senna foi um farol que usou o esporte para manter a esperança e guiar o brasileiro rumo a dias melhores.

Ayrton SennaPor Pedro Sobreiro

Há exatos 26 anos, um dos maiores ícones do esporte bra-sileiro falecia na curva Tambu-rello, no GP de San Marino, em Ímola, na Itália. Ayrton Senna foi e ainda é referência para di-versos pilotos no mundo do automobilismo, como o atual campeão da Fórmu-la-1 Lewis Ham ilton, que nunca e s c o n d e u sua admiração pelo brasileiro e a importância que ele teve na hora do pequeno

Hamilton escolher sua profissão.Muitos de seus recordes per-

manecem intocados até hoje. Ayrton foi o último brasileiro a ser campeão mundial de F-1, categoria que, hoje, não conta com ne-nhum brasileiro

no grid. Ele também é dono do recorde de mais pole positions consecutivas, com 8 poles em se-quência entre o GP da Espanha de 1988 e o dos EUA, em 1989. Senna também detém um re-

corde praticamente insuperá-vel, que é o de piloto que

mais vezes largou na pri-meira fila de uma corri-

da (pole ou segunda posição). Entre o GP da Alemanha de

1988 e o da Austrália de 1989, Ayrton largou na primeira fila em 24 Grand Prix seguidos. Senna os-tenta esse recorde há mais de 30 anos, e a primeira

vez que chegou perto de ser ameaçado foi entre 2014 e

Divulgação

Page 15: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 15

CORREIO CULTURALPor Ana Beatriz Gonçalves (Folhapress)

Após mais de 40 anos após seu lançamento original, o clás-sico do Queen “We Are the Champions” ganha uma nova versão em homenagem aos pro-fissionais de saúde que atuam na linha de frente no combate a pandemia do novo coronavírus. Substituindo Freddie Mercury (1946-1991) nos vocais da ban-da britânica desde 2012, Adam Lambert se diz bastante orgu-lhoso por fazer parte deste mo-mento histórico em que “We Are the Champions” se transforma em “You Are the Champions”. “Acho que vai se tornar algo ain-da maior”, afirma o cantor em entrevista, por telefone, em sua casa em Los Angeles (EUA).

Confinado assim como o res-to das pessoas ao redor do mun-do, Lambert afirma que a ideia de criar uma nova roupagem ao clássico dos anos 1970 surgiu du-rante um bate-papo com os mú-sicos Brian May e Roger Taylor, integrantes originais da banda britânica. “Na verdade foi muito fácil. Nós sabíamos o que quería-mos fazer e também tivemos aju-da para juntar tudo, então ficou ótimo e tenho orgulho do resul-tado”, diz o cantor com bastante entusiasmo. “É sério, me sinto muito sortudo por isso, mudou a minha vida”, acrescenta.

Além da homenagem, a pro-posta da música é também arre-cadar recursos que serão desti-nados para o Fundo de Resposta de Solidariedade Covid-19 da Organização Mundial da Saú-de (OMS). “Se não tivéssemos o suporte deles (OMS) as coi-sas estariam piores. Essa canção toca em eventos de esporte, em formaturas, em festas, é icônica. Mudar uma palavra para esse momento que estamos vivendo também é”, ressalta Lambert.

Para Elizabeth Cousens, pre-sidente e CEO da Fundação das

Eles são os campeões!Queen muda letra de hit para homenagear pessoal da saúde

Reprodução

Lambert substitui o lendário Freddy Mercury nos vocais da reedição do Queen

Nações Unidas, a contribuição de Adam Lambert e do Que-en vai elevar o ânimo de todos os heróis que lutam na linda de frente em respota ao coronaví-rus. “Nós somos os campeões sempre foi um grito de guerra”, disse Cousens, em comunicado.

Agora dando voz oficialmen-te a nova versão do clássico do Queen, Lambert ressalta a nova vivência de produzir longe dos estúdios, em sua casa. “É inte-ressante esse novo mundo. Sim, usamos o celular para gravar [risos], e apesar de eu ter conec-tado com o meu microfone foi o celular que capturou o som, é maravilhoso o que conseguimos fazer.”

Mas a palavra “We” (nós) por “You” (vocês) não foi a úni-ca coisa a ser alterada. Trechos da canção foram adaptados para este momento de pandemia em que o mundo enfrenta. “É louco! É algo que a gente ainda não ti-nha experimentado. É uma nova experiência. Estamos aprenden-do como os nossos banheiros e quartos podem ser transforma-dos em um palco, definitivamen-te é interessante sabe? (risos)”

Apesar do bom humor, Lam-bert tenta manter a esperança de que as pessoas se conscientizem daqui pra frente. “É um momen-to histórico e também acredito que a sociedade vai mudar de-

pois disso. Espero que as pessoas se tornem mais empáticas. Por mais que seja uma pandemia horrorosa espero que nos apro-xime.”

Adam Lambert foi um dos convidados de Lady Gaga para o festival de música beneficen-te “One World: Together At Home”, da ONG Global Citi-zen, que aconteceu no dia 18 de abril. Ao lado do Queen, ele diz que não poderia ter ficado mais honrado ao se juntar com gran-des nomes da música como Paul McCartney Elton John, Alanis Morissette, Andrea Bocelli, en-tre outros. “Quando eu soube que isso aconteceria fiquei bem animado. Eu e Queen nos apre-sentamos no evento da Global Citizen em Nova York no verão passado e foi incrível. Não me esqueço desse show até hoje”, diz o que cantor que foi revelado no reality show americano Ameri-can Idol, em 2009.

Com saudades dos palcos, já que eventos foram cancelados por tempo indeterminado em várias partes do mundo, Lam-bert não vê a hora de volta a se apresentar. “Nada se compara aos shows ao vivo, acontece mui-ta coisa especial quando é pre-sencial, mas considerando tudo que estamos vivendo é melhor que não tenha nesse momento. Espero que passe logo!”, torce.

País para novamente para desfecho de Avenida Brasil

Contaminadas Sem retorno

Há quase oito anos, no dia 19 de outubro de 2012, o Brasil parava para ver o último capí-tulo de “Avenida Brasil”. Agora, com grande par-te das cidades do país já paralisadas por causa do coronavírus, o fim da história de Nina (Débo-ra Falabella) e Carminha (Adriana Esteves) mobili-zou novamente um gran-

A cantora Mariana Ay-dar e sua filha Brisa, de 7 anos, estão com diag-nóstico de coronavírus. A informação foi revela-da por ela em suas redes sociais. “Estamos bem”, fez questão de frisar. No depoimento, Aydar conta que só ficou sabendo que ela estava com Covid-19 por causa de uma febre alta da filha. Só assim que conseguiu fazer os testes e descobriu que ambas estavam doentes.

Metade das 159 gale-rias de arte e design que participariam da SP-Ar-te deste ano se uniram para exigir a devolução de seus investimentos na feira, suspensa por causa da pandemia. Em comuni-cado, a SP-Arte informou que só devolveria 1/3 da quantia. O restante se-ria usado para pagar pela montagem do evento, em curso quando foi cancela-do. Uma participação na feira começa em R$ 50 mil.

de número de pessoas em frente à TV.

Mesmo antes da qua-rentena, a trama ágil e cheia de reviravoltas de João Emanuel Carnei-ro já vinha registrando bons resultados. Com o isolamento social, se in-tensificou. Foi, segundo a Globo, a melhor per-formance na faixa horária nos últimos dez anos.

Divulgação

A reprise da novela, que tinha bons índices de audiência, explodiu

CULTURA

Page 16: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

16 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020

Família e gravadora organizam série de eventos nos 75 anos de Bob Marley

CULTURA

A VOZ DO TERCEIRO MUNDO

Por João Victor Ferreira

Bob Marley com-pletaria 75 anos em 2020. Sua mensagem e obra perduram até hoje

mesmo 39 anos depois de sua repentina morte. Este artista projetou sua Jamaica muito além das águas límpidas do Caribe: universalizou o reggae e a cul-tura rastafári, contribuindo de-cisivamente para afirmação dos povos negros em várias partes do mundo, trazendo a luta con-tra a opressão e o preconceito para a agenda global por meio da música. Nesses 75 anos, sua família e gravadora Universal programaram um calendário de eventos para resgatar o legado do astro mais importante que o Terceiro Mundo já produziu. As celebrações tiveram início em fe-vereiro com o lançamento do vi-deoclipe oficial de “Redemption Song” no canal oficial do artista no YouTube. Ao longo do ano, serão lançados 12 episódios da web série “Legacy”, que aborda o impacto da obra do artista até os dias de hoje. O terceiro episódio foi lançado na última sexta-feira (1º). Na era digital, Bob Marley é um dos artistas mais seguidos nas redes sociais dentre os que não estão mais vivos

Desenvolvido pelos artistas franceses Octave Marsal e Theo De Gueltzl, o clipe de “Redemp-tion Song” chega quase 40 anos depois do lançamento dessa icô-nica canção, lançada por Mar-ley em 1980. O vídeo traz uma animação que reuniu 2747 ilus-trações e usa de símbolos pode-rosos para destacar a magnitude da letra atemporal da música e ressalta a contribuição de Bob Marley para o empoderamento da cultura negra e sua mensagem de esperança de recuperação para a humanidade. As celebrações de MARLEY75 reunirão música, moda, arte, fotografia, tecnolo-gia, esporte e filme, resultando em um acesso sem precedentes aos arquivos e acervo deixados pelo artista.

Bob Marley é dono de um

família de fazendeiros nativos. Enquanto ainda jovem, Cedella conhece o já adulto Norval, um ex-capitão britânico com quem teve seu primeiro filho. Bob nas-ce com uma aparência peculiar no meio que vivia, onde a maio-ria da população era oriunda do escravismo inglês. Em vários depoimentos, Marley dizia ter sofrido de um racismo estrutural por ter uma pele mais clara que a maior parte da população local, de modo que a sua ascendência se mostrava como um fruto da antiga relação de dominância e escravismo. Chamado de "ale-mãozinho" pela sua parte mater-na da família, em diversos de-poimentos, Robert dizia ter que merecer cada refeição que fazia, já que maioria do trabalho pe-sado na fazenda recaía sobre ele, em maior parte de sua infância. Somente quando tinha 12 anos, ele se muda para Kingston, junto de sua mãe, em busca de uma vida melhor.

Enquanto vivia nos guetos de Trench Town, Bob se expu-nha a todo tipo de desafios que a desigualdade social e racial o empunham. Do gueto vinha a marginalidade, mas das adver-sidades também partiam a cria-tividade, sendo uma das fontes musicais mais ricas de Kingston. Por ser o lugar para onde levavam maioria dos escravos e nas pala-vras de Marley "por carregar um clima pesado", acaba se tornando uma fonte de inspiração cultural. Muito amante de música e entro-sado com amigos que amavam cantar e compor, Bob consegue, por intermédio de seu amigo Desmond e do já famoso Jimmy Cliff, gravar o seu primeiro tra-balho: "Judge not", em 1962, quando ainda tinha 16 anos. Por não ter feito tanto sucesso como gostaria, Bob percebe que me-lhor do que tentar uma carreira solo sem ter sucesso algum, era se tornar parte de um grupo musi-cal de sucesso, como já acontecia com bandas como "The Tempta-tions" e "The Impressions". Assim surge, dos guetos de Kingston, os "The Wailers".

Em 1962, a Jamaica se torna

mundo. A coletânea “Legend”, que reúne os maiores sucessos de Marley, é o disco de reggae mais vendido do mundo.

Nascido em 6 de fevereiro de 1945, no vilarejo de Nine Mile, na parte continental da Jamaica, Robert Nesta Marley. Filho de Cedella Booker, nativa da pro-víncia de St. Ann e parte de uma

quarto de todas as canções de re-ggae escutadas nos Estados Uni-dos. No Brasil, o cantor também possui uma incontável legião de fãs. Para se ter uma ideia, São Paulo é a cidade que mais ouve Bob Marley no mundo. Com seu trabalho, o artista acumula bilhões de streams e já vendeu milhões de álbuns ao redor do

Page 17: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 17CULTURA

um Estado independente e com isso a produção artística e cultu-ral do país passa a demandar um produto único que os fizessem ser reconhecidos no mundo. Um ritmo que já era muito conheci-do e famoso entre os jamaicanos era o ska, que afirmavam em todo momento o sotaque único em relação aos outros falantes do inglês. No formato da música, se colocava o sotaque e o peso tonal das sílabas nos beats mais fracos da música, ao invés do que normalmente se fazia: essa ten-dência com uma menor rotação é que gera o ritmo do reggae. A guitarra elétrica talvez seja a di-ferença mais icônica na evolução do reggae como gênero musical, deixando para trás o compasso mais lento do ska e partindo para um ritmo mais cadenciado: an-tes se ouvia mais um "cha-cha", e com a guitarra isso passa para o famoso "chaka-chaka". O ritmo era comparado às batidas do co-ração, associando a paixão que conduzia o compasso da músi-ca. Em 1964, o sucesso "Simmer down" faz com que The Wailers caíssem no sucesso local, regra-vando muitas vezes músicas de outras bandas inglesas. Uma das maiores problemáticas para o su-cesso da banda era o monopólio das gravadoras, denominadas "Big Tree", fazendo com que to-dos os artistas que não entrassem

Marley na reeleição do Primeiro Ministro Michael Manley, o que rendeu uma tentativa de assassi-nato a tiros que Bob e sua mulher sofreram, em seu carro. Parecia que realmente o foco de Marley era alcançar o máximo de pessoas que conseguia, focando seus es-forços na união principalmente dos negros do mundo inteiro.

Em suas incursões e shows pelo mundo inteiro, Marley conseguia influenciar e unir po-vos de diferentes raças e povos. Sua importância para a união e libertação da cultura negra foi incalculável. A fama de Bob nos guetos e comunidades negras do mundo todo era impressionante. A única resistência que o cantor sofreu por muito tempo, até os seus últimos momentos em tur-nê pelos EUA, era a penetração

no esquema fossem automatica-mente esquecidos. Foi então que os Wailers conheceram o produ-tor de música independente Lee Perry, responsável em dar uma nova vida pra banda, além de des-pertar ainda mais o senso criativo em Bob, junto da sua inspiração religiosa rastafari. O sucesso da banda os leva para Londres, onde encontram Chris Blackwell, pro-dutor que financiou o primeiro álbum completo da banda: "Ca-tch a Fire" (1973).

Mesmo morando em Lon-dres, Robert ainda se preocupa-va socialmente com a Jamaica, mesmo nunca expressando suas reais ideologias políticas. Em 1976, ele organiza o show "Smi-le" para arrecadar fundos para a população pobre jamaicana. A ação foi vista como uma ajuda de

nos guetos e na população negra norte americana, principalmente em Nova Iorque. Talvez por uma questão histórica e de segregação racial, ou pelo protecionismo da cultura e música própria dessas comunidades, Robert era muitas vezes coagido a abrir shows de bandas locais menos relevantes e importantes para poder ser ou-vido por um novo público, algo que não afetava o seu ego, já que ele o fazia sem problemas. Isso também mostra o compromisso do cantor com o seu trabalho e a sua mensagem, muito acima do que seria o prestígio e o lucro em cima da sua arte.

Essa resistência não se repetiu quando Bob Marley veio ao Bra-sil, no início dos anos 1980, para a inauguração de uma gravadora. O evento trouxe o cantor para o

Rio de Janeiro que, em uma coin-cidência de uma pelada de fute-bol na casa do Politeama, uniu-o com Chico Buarque, Toquinho e outras feras da música e do fute-bol em um mesmo jogo. A vinda do artista para a inauguração do selo Ariola no Brasil é que juntou os outros cantores, também con-tratados pela gravadora.

Na sua rotina cansativa e corrida de shows intermináveis, Marley passa a se sentir mal em turnê pelos EUA. Seu último show foi em Pitsburgh. Em 11 de maio de 1981, morre com apenas 36 anos, depois de lutar contra um câncer maligno que acome-teu maior parte dos seus órgãos, fruto da falta de checkups que o artista negligenciava. A sua influ-ência ainda é perceptível no esti-lo musical de diversos artistas até hoje, sem contar na sua impor-tância para toda a cultura negra e os movimentos de libertação de populações oprimidas. Foi em sua ida para África, no final dos anos 1970, em seu primeiro show na Nigéria, que Robert se apaixona pelo continente. Ele dizia: "aqui é o céu, já que é de onde todos nós viemos". Os es-forços de unificação e paz do ar-tista foram tão significativos que seus recursos e influências foram importantes no movimento de independência do Zimbabwe, em 18 de abril de 1980.

Ao lado, Marley no campo de Chico Buarque, em evento da Ariola, quando jogou bola com o compositor, Toquinho e o craque Paulo César Caju. Acima, seu encontro com Mick Jagger

Em termos globais, Marley é ao artista mais famoso oriundo de uma país do Terceiro Mundo

Fotos/Reprodução

Page 18: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

18 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020COMPORTAMENTO

Por Diana Yukari e Flávia Faria (Folhapress)

O interesse em buscas no Google por UTI disparou no mês de abril em todo o país e chegou a sete vezes o volume registrado no mês de março. O aumento é registrado na esteira do crescimento de mortes por coronavírus e da lotação de leitos hospitalares em diversos estados. O pico foi registrado no dia 17 de abril, quando os mortos atin-giram recorde diário até então e passaram a marca de 2 mil. Hoje, passam de 6 mil.

O levantamento feito pela empresa na plataforma Google Trends considera o período de 1º a 25 de cada mês e mede o vo-lume de buscas em uma escala de 0 a 100, em que 100 representa o ponto máximo de interesse. O Google não fornece dados abso-lutos do número de pesquisas.

Os dois estados com mais

buscas foram o Piauí e o Ceará -este último enfrenta cenário de lotação de UTIs há cerca de duas semanas. Já as pesquisas pelo ter-mo hospital caíram em abril. A exceção é o estado do Amazonas, que teve maior volume neste mês.

Manaus foi a capital que pri-meiro se deparou com o colapso

do sistema de saúde. Vídeos de corpos ao lado de pacientes em hospitais começaram a circular nas redes sociais no dia 16. Des-de então, a prefeitura precisou contratar containers frigoríficos para armazenar cadáveres e abrir valas comuns nos cemitérios para atender ao crescimento re-pentino de enterros.

O Amazonas tem a maior taxa de mortes em relação à po-pulação no país: são 9,2 óbitos a cada 100 mil habitantes, segun-do o Ministério da Saúde.

O Google também registrou aumento nas buscas por coronaví-rus em estados do Norte, do Nor-deste e do Centro-Oeste, enquan-to no Sul e no Sudeste o maior interesse aconteceu no início da epidemia no país, em março.

O primeiro caso da Covid-19 foi registrado em São Paulo, em 26 de fevereiro. De início, a epi-demia se concentrou no estado e no Rio de Janeiro, dissemi-nando-se gradativamente pelo restante do país. Os dois estados também foram os primeiros a anunciar medidas de isolamento e restrição ao funcionamento do comércio e serviços.

O maior aumento (27%) no volume de buscas relacionadas à doença em abril ocorreu no

Maranhão e no Pará. Na quarta (29), São Luís teve 100% dos lei-tos de UTI reservados para tra-tamento da Covid-19 ocupados. O governador Flávio Dino (PC do B) tinha dito que lançaria na próxima semana decreto endu-recendo as regras de isolamento social na capital –o lockdown na capital começa no dia 5.

Já Belém tem quadro de lo-tação das unidades de terapia in-tensiva desde a semana passada. O governador do estado, Helder Barbalho (MDB), foi diagnosti-cado com a doença.

Também houve aumento de buscas por “quarentena” em esta-dos que anunciaram flexibilização de regras ou plano para posterior-mente iniciar a retomada das ati-vidades normais, como SP e SC.

As buscas por “fim da qua-rentena”, por sua vez, foram cin-co vezes maiores do que no mês de março.

Uma pandemia por informaçõesProcura de internautas brasileiros por termos como UTI disparam nos mecanismos de buscas do Google

Divulgação/Pexels.com

O isolamento levou as pesquisas via Goolgle aumentarem sete vezes no no Brasil

Page 19: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 19

1- Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprova re-dução de 30% no salário de deputados durante crise do coronavírus. O projeto apro-vado, com 85 votos a favor e um contra, reduz de R%$ 25,3 mil para R$ 17,7 mil o salário de parlamentares e destina recursos economizados para ações de enfrentamento à Co-vid-19, informa Guilherme Caetano. (...) (O Globo)

2- A primeira parcela do au-xílio emergencial de R$ 600 já foi paga a 50 milhões de brasileiros durante a crise do coronavírus, segundo o Mi-nistério da Cidadania. O total investido pelo governo federal para a concessão do benefício foi de R$ 35,5 bilhões. Quase 97 milhões de CPFs, entre re-querentes e familiares, foram analisados desde o início do cadastramento, em 7 de abril. (...) (UOL)

3- Trabalhadores intermi-tentes, sem jornada e salário fixos, com carteira assinada até 1º de abril, têm direito a três parcelas de novo auxílio do governo. O benefício tam-bém é de R$ 600, no entanto a sistemática é diferente do auxílio emergencial, reporta Blender Barbosa. O benefício destinado aos intermitentes foi criado por meio da medi-da provisória (MP) 936. (...) (Edital Concursos Brasil)

4- Os contratos entre em-presas e trabalhadores para redução de jornada e de salá-rio possibilitados pela medida provisória 927 estão se tor-nando mais frequentes do que os que estabelecem suspensão total dos contratos, disse ao

Poder360 o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bru-no Bianco, 37 anos, segundo Paulo Silva Pinto. Agora, aos 4,8 milhões de acordos, há mais redução de jornada e de salário, com compensação do governo. (...) (Poder360)

5- Para tentar receber o au-xílio emergencial de R$ 600, pessoas esperam até 16h; cena da agência da Caixa na peri-feria paulistana se repete pelo País, informa Douglas Gavras. A Caixa informou que, para evitar maiores tumultos, está ampliando o atendimento de 902 agências neste sábado, 2, das 8h às 14h, aos beneficiá-rios nascidos de janeiro a ou-tubro que receberam o auxílio pela poupança social digital e optaram por realizar o saque em espécie. (...) (O Estado de S. Paulo)

6- O 1.º de Maio é opor-tunidade, na emergência da pandemia, para reconhecer o mérito de todos os trabalha-dores. O trabalho é alicerce do Estado porque antes é alicerce da sociedade, da família e do próprio indivíduo. Ao longo do ano passado, o total de de-sempregados, subempregados e desalentados esteve em tor-no de 25 milhões de pessoas. Especialmente dramática é a taxa de desemprego crônico. (...) (O Estado de S. Paulo)

7- ‘Há risco de ter um mo-mento de convulsão social com ou sem quarentena’, diz secretária de SP. Secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Patri-cia Ellen da Silva conta como vai ser operado o plano de fle-

xibilização da quarentena, in-forma Márcia De Chiara. “A gente está correndo o risco de ter um momento de convulsão social com ou sem quarentena. Essa ajuda emergencial precisa chegar e tem que chegar ago-ra”, alerta a secretária. (...) (O Estado de S. Paulo)

8- Ocupação de UTIs supe-ra 70% em ao menos 6 Esta-dos; situação é mais crítica no Rio e em PE. A ocupação dos leitos de UTI para pacientes do coronavírus já é superior a 70% em ao menos seis Es-tados. A situação é registrada em Espírito Santo, Pará, Ce-ará, Amazonas, Pernambuco e Rio – nesses dois últimos, a taxa passa de 90%, conside-rada de saturação por espe-cialistas. (...) (O Estado de S. Paulo)

9- Avanço da epidemia no país reflete a queda na ade-são ao isolamento. Aumento de casos e óbitos nos últimos quatro dias ocorre duas sema-nas após parte da população sair da quarentena, de acordo com dados de mobilidade, es-crevem Rafael Garcia e Rena-to Grandelle. (...) (O Globo)

10- Sai a primeira decisão de lockdown determinado pela Justiça no país. Quatro cidades do Maranhão devem entrar entrar em lockdown por 10 dias a partir do dia 5 de maio após uma decisão da Vara de Interesses Difusos e Coletivos de São Luís. O que motivou a sentença foi o fato de as cidades estarem com a capacidade hospitalar pratica-mente esgotada. Até a quarta--feira (29) a cidade registrava 2.432 casos confirmados de

covid-19 e 149 mortes pela doença, reporta João Frey. A decisão se aplica aos municí-pios de São Luís, a capital, e São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar, na região metropolitana. (...) (Congres-so em Foco)

11- O filho do presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan, 22, publicou nas suas redes sociais um vídeo em que diz que o novo coronavírus é uma “gri-pezinha” e que prefere morrer transando do que tossindo, segundo a coluna Painel. No vídeo, Jair Renan incluiu um trecho de vídeo em que o can-tor Leonardo diz algo similar, indicando que era uma imita-ção que estava fazendo do mú-sico. (...) (Folha de S. Paulo)

12- O ministro da Saúde, Nelson Teich, admitiu em coletiva de imprensa nesta quinta-feira 30 que o número de vítimas fatais em razão da Covid-19 no Brasil pode ul-trapassar de mil por dia e diz que regras para fim da quaren-tena estão prontas. “O mundo inteiro está fazendo isso”. (...) (Brasil247)

13- Moro diz ter medo de sofrer atentado - O ex-minis-tro da Justiça, Sergio Moro, afirmou que sente medo de sofrer um atentado após sua saída do governo Bolsonaro. O ex-juiz ainda se queixou que estão produzindo e divulgan-do dossiês contra sua esposa com informações falsas. (...) (Brasil247)

14- Em entrevista exclusiva a Veja, Moro revelou que não vai admitir ser chamado de mentiroso e que apresentará à

Justiça, assim que for instado a fazê-lo, as provas que mos-tram que o presidente tentou, sim, interferir indevidamente na Polícia Federal. (...) (Veja)

15- O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, determinou na noite desta quinta-feira (30/4) a in-timação de Sergio Moro para depor no inquérito que apura as condutas do presidente Jair Bolsonaro e as declarações do ex-ministro da Justiça e Segu-rança Pública, reportam Da-nilo Vital e Fernanda Valente. A inquirição do ex-ministro deve ser feita pela Polícia Fe-deral no prazo de cinco dias. (...) (Conjur)

16- Lula descarta candida-tura em 2022: “Quero ajudar a eleger alguém”. Ex-presiden-te afirmou que quer ser ‘cabo eleitoral’ e que espera que PT tenha candidato. O ex-pre-sidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) descartou a pos-sibilidade de se candidatar a presidente da República nas eleições de 2022. Em entre-vista ao colunista Leonardo Sakamoto, do portal UOL, o petista afirmou que tem a intenção de ser somente um “cabo eleitoral”.(...) (Carta Capital)

'Há risco de ter um momento de convulsão social com ou sem quarentena'.

(*) José Aparecido Miguel, jornalista, diretor da Mais

Comunicação-SP (http://www.maiscom.com), trabalhou

em todos os grandes jornais brasileiro - e em todas as mídias. Foi editor-executivo do Jornal do

Brasil, no Rio, de 2007 a 2009. (http://www.outraspaginas.com.

br) E-mail - [email protected]

OUTRAS PÁGINAS NO BRASIL E NO MUNDOJOSÉ APARECIDO MIGUEL (*)

Page 20: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

20 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020

Page 21: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020 21FIM DE SEMANA

Por Phillippe Watanabe/Folhapress

A Força-Tarefa Amazônia, do MPF (Ministério Público Fede-ral), requereu na Justiça que sejam tomadas medidas imediatas con-tra destruidores da Amazônia nos dez principais locais de crimes no bioma. O pedido considera o fato de que as infrações ambientais não pararam de crescer durante a pan-demia da Covid-19 e a presença dos criminosos na mata coloca em risco sanitário indígenas e popula-ções tradicionais.

"A destruição da Floresta Amazônia está em franca expan-são, sem nenhum sinal de abalo relacionado à pandemia de Co-vid-19", diz o texto.

Como os locais onde mais ocorrem crimes ambientais são de conhecimento das autoridades, os procuradores da República que integram a força-tarefa pedem que sejam instaladas bases fixas de repressão a atos ilícitos.

O MPF pede à União, ao Iba-ma, ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio-diversidade) e à Funai um planeja-mento para a implementação das bases.

A procuradoria também re-quereu à União o bloqueio de movimentações de madeira nos municípios onde estão os dez prin-cipais locais de crimes ambientais durante o período da pandemia de Covid-19.

Os procuradores pedem ain-da a suspensão de funcionamento dos postos de compra de ouro e de todos os comércios de compra e venda do metal nas cidades prio-ritárias.

No início de abril, foi registra-da a primeira morte pela Covid-19 entre os ianomâmis. Alvanei Xiri-xana, 15, morreu no Hospital Ge-

ral de Roraima, em Boa Vista. Ele estava internado na UTI havia seis dias.

Xirixana era da aldeia Rehebe, que fica às margens do rio Urari-coera, região de entrada para mi-lhares de garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami (AM/RR).

O estado do Amazonas é um dos mais afetados pelo novo co-ronavírus, e o sistema de saúde de Manaus já entrou em colapso.

No domingo (26), São Gabriel da Cachoeira (AM), que tem cer-ca de 90% da população indígena, registrou os dois primeiros casos do novo coronavírus. A cidade é a porta de entrada da região conhe-cida como Cabeça do Cachorro, onde vivem 23 povos indígenas, além de ser via de acesso para a Terra Indígena Yanomami, entre Amazonas e Roraima.

A confirmação dos casos é da prefeitura, que mantém outras 120 pessoas em monitoramento. A Se-cretaria de Saúde do Amazonas confirma um caso no município.

O temor é de que se repita a tragédia provocada pela "invasão

garimpeira", entre os anos 1960 e 1980, que resultou na morte de cerca de 15% da população iano-mâmi, principalmente por causa do sarampo, uma doença viral.

"A existência da pandemia e os riscos ambientais e socioam-bientais a ela associados, portanto, deveriam dar ensejo à intensifica-ção das atividades fiscalizatórias –e não ao seu afrouxamento. O quadro que se delineia, contudo, aponta em sentido diverso: em variadas localidades na Amazônia, ações de fiscalização foram sus-pensas em virtude da pandemia", diz o documento da força-tarefa.

O MPF também cita a tendên-cia de alta nos crimes ambientais relacionados à Amazônia. O bio-ma registrou o recorde de destrui-ção da década em 2019, com um crescimento de 29,5% e 9.762 km² desmatados. A medida de desma-tamento é feita entre agosto de um ano e julho do ano seguinte, por-tanto, a última medida diz respei-to ao período eleitoral e os primei-ros meses do governo Bolsonaro.

Mesmo a pandemia da Co-vid-19 não impediu o desma-

tamento na Amazônia. Entre janeiro e março de 2020, o des-matamento na Amazônia cresceu 51% em relação ao mesmo perío-do do ano passado.

O documento dos procura-dores da República aponta que, em março de 2020, houve um au-mento de 30% na área de alertas de desmatamento em comparação ao mesmo mês de 2019, segundo informações do Deter (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real), do Inpe.

Com os dados mensais, os pro-curadores apontam que caminho indica mais uma alta histórica do desmatamento de 2019 para 2020.

Mesmo com o quadro de ili-citudes em ascensão, "em 2019, houve um mínimo histórico" de atividade fiscalizatória federal na Amazônia, segundo os procura-dores, que citam o número baixo de autos de infração em todo o ano, conforme a Folha mostrou recentemente.

A força-tarefa também diz que, além do número baixo de multas, as ações de fiscalização também foram reduzidas.

"[...] Faltando três meses para o final do ano de 2019, das 83 fisca-lizações planejadas [para o estado do Amazonas], o ICMBio tinha, efetivamente, realizado apenas 13 ações." No ano anterior, foram 31 ações de fiscalização.

Os dados de desmatamento apontam alta de destruição em Unidades de Conservação e terras indígenas.

"Como se nota, houvesse uma atuação incisiva do Estado Brasileiro nessas dez regiões, que responderam por 60% do desma-tamento da Amazônia em 2019, a maior parte das populações tradi-cionais ameaçadas por infratores, dentre as quais indígenas, ribeiri-nhos e extrativistas afetados por madeireiros, garimpeiros e grilei-ros, estaria, de algum modo, me-lhor protegida do que atualmen-te", dizem os procuradores.

O texto também pede para apurar se houve "desvio de finali-dade e eventual improbidade ad-ministrativa" na recente demissão do diretor de proteção ambiental do Ibama, Olivaldi Azevedo, após megaoperação contra garimpo e desmate em terras indígenas.

A operação do Ibama envol-veu destruição do maquinário dos garimpeiros, ação permitida segundo o artigo 111 do decreto 6.514, de 2008, mas criticada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O MPF afirma que a demissão passa a mensagem inequívoca de que o "Poder Público corrobora e apoia a ação dos garimpeiros e desmatadores".

"O contexto de relaxamento da fiscalização ambiental durante a pandemia de covid-19 dá ensejo à presença mais intensa de infra-tores ambientais na floresta", diz o documento.

Força-tarefa pede ações na Amazônia contra riscos de devastação Alta de infrações ambientais e presença de criminosos põe populações indígenas em risco

Bruno Rocha /Fotoarena/Folhapress

Terreno desmatado e queimado nos arredores de Porto Velho, em Rondônia

Page 22: COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 Hospitais de campanha viram ... · Berta no seu blog e depois abraçada pela TV Globo. A denúncia sobre falcatruas com verbas do Estado causou a anu-lação,

22 Sábado, 2, a segunda-feira, 4 de maio de 2020FIM DE SEMANA

Por Fernanda Perrin/Folhapress

Em meio à pandemia, fran-queadoras estão adotando ações para apoiar os empresários de sua rede. As medidas vão desde a isenção do pagamento de royal-ties até a negociação de crédito junto aos bancos.

No Brasil, há 2.918 redes de franquia que, em conjunto, cor-respondem a 160.958 unidades espalhadas por todo o país, se-gundo dados de 2019 da ABF (Associação Brasileira de Fran-chising).

O faturamento médio de uma unidade franqueada gira em torno de R$ 95 mil por mês, afirma Antonio Leite, vice-presi-dente da ABF.

“Isso demonstra que o mun-do das franquias é formado por micro e pequenos empresários. Muitos deles trabalham para ge-rar sua própria renda, não existe uma cobertura de liquidez sufi-cientemente grande para fazer frente a esse desafio”, diz.

Uma das ações tomadas pela rede de acessórios Morana foi ajudar franqueados a analisar o fluxo de caixa e entender suas necessidades nessa época, cha-mada pela empresa de período de hibernação.

A rede prorrogou o prazo de pagamento de boletos relativos a royalties e compras de produto, renegociou com fornecedores e busca facilitar o acesso a emprés-timos.

“Estamos falando com os bancos para ter um ponto focal, aí cada franqueado vai atrás do crédito com uma taxa já pré--negociada por nós”, diz Danilo Assumpção, porta-voz da marca.

As decisões são tomadas a partir de reuniões semanais de

um comitê de crise, formado por representantes dos franqueados. A empresária Tatiana Caldeira, 40, é uma das participantes do grupo.

Dona de uma unidade no Shopping Light, no centro de São Paulo, ela estima uma perda de faturamento de R$ 150 mil entre março e maio.

Tatiana destaca que a relação com a franqueadora tem sido importante para receber orien-tações quanto a medidas traba-lhistas possíveis e preparo da es-tratégia comercial para o retorno à atividade, de olho no Dia das Mães. “Eles estão nos amparan-do”, diz.

Presente em 16 países, a rede de escolas Maple Bear usou a ex-periência de suas unidades com a quarentena na Ásia para prepa-rar seus franqueados brasileiros. Uma das ações foi treinar profes-sores para o ensino a distância, aproveitando a estrutura virtual da marca.

Ao mesmo tempo, foi neces-sário adotar medidas específicas para a realidade brasileira e, den-tro dela, para cada estado, uma vez que as restrições de funcionamen-to variam de acordo com a região.

“Alguns países tiveram apoio do governo diretamente. Aqui no Brasil não tivemos isso de for-ma tão estruturada no início, en-tão corremos atrás de suporte via bancos, que forneceram carência e taxas de juro baixas para nossos franqueados”, diz Arno Krug, presidente da Maple Bear Brasil.

A marca também eliminou o pagamento de royalties e redu-ziu em 50% o fundo de marke-ting. Richard Debre, dono de uma franquia da rede em Mogi das Cruzes (SP), afirma que, para ele, mais importante do que

as isenções tem sido o apoio pe-dagógico, com orientações sobre como fazer alfabetização a dis-tância e organizar a rotina dos alunos.

O Grupo Kalaes, detentor das marcas Brasil Canadá, Insti-tuto Ana Hickmann, Maislaser by Ana Hickmann e Odonto Special, criou comitês de asses-soramento jurídico, financeiro e comercial. O pagamento de royalties foi prorrogado e parce-lado, e uma carência de 60 dias foi concedida a novos franque-ados que ainda estão pagando a taxa de franquia.

A Maislaser também nego-ciou junto aos fornecedores dos equipamentos uma carência de 30 dias no pagamento para

quem acabou de adquirir a má-quina, diz Sidney Kalaes, presi-dente do grupo.

Na rede de franquias O Bo-ticário –a maior do Brasil, com quase 4.000 unidades– os prazos de pagamento das compras de produto pelos franqueados e re-vendedores foram prorrogados, parcelados em até oito vezes. A taxa de contribuição com ações de marketing também foi elimi-nada até maio.

“Além disso, revisamos a gra-de dos próximos lançamentos, visando redução de custo e ca-pital de giro. Aberturas e refor-mas de pontos de venda estão postergados, acompanhamos a negociação com os principais fornecedores e parceiros da rede,

garantindo prorrogação de títu-lo e mitigação do impacto em aluguéis, condomínios”, diz, em nota, Artur Grynbaum, presi-dente do grupo.

Se por um lado as redes têm oferecido esse apoio aos empre-sários, por outro o modelo exige obrigações do franqueado que um empreendimento tradicional não tem.

“Normalmente, a franquia é um modelo de negócio mais fechado e engessado. O empre-sário tem menos liberdade na tomada de decisão, e isso acaba deixando mais lento o processo. Em contrapartida, ele tem pon-to positivo, que é toda estrutura por trás”, avalia Felipe Chicona-to, consultor do Sebrae-SP.

Franquias cancelam taxas e ajudam empreendedor a conseguir créditoModelo de negócio em rede dá suporte na crise, mas pode dificultar reação rápida de empresário

Mathilde Missioneiro/Folhapress

Tatiana Caldeira Iak tem uma franquia da loja de acessórios Morana