COLOQUIO Saúde Mental No Amapá

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Saúde Mental no Amapá: Saúde Mental no Amapá: u u m m a a h h i i s s t t ó ó r r i i a a e e m m c c o o n n s s t t r r u u ç ç ã ã o o Programa de Iniciação Científica Faculdade Seama – 2008/2009 Bolsista: Adriana Porto Orientadora: Prof. MSc. Janisse Carvalho

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Apresentação de trabalho de iniciação científica sobre a Saúde Mental no Amapá no ano de 2010.

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Programa de Iniciação CientíficaFaculdade Seama – 2008/2009

Bolsista: Adriana Porto Orientadora: Prof. MSc. Janisse Carvalho

OBJETIVOOBJETIVO• Investigar, • sistematizar e • divulgar

a trajetória da saúde mental no Amapá

METODOlOGIAMETODOlOGIA• Levantamento da legislação e dados oficiais

divulgados pelos órgãos públicos de saúde;• Revisão da produção científica sobre saúde

mental na Amazônia;• História Oral: – Consiste numa via paralela à “história

oficial”, constituindo uma narrativa mais rica e inclusiva que permite a participação ativa do sujeito na construção do processo histórico como um todo.

• Entrevistas abertas com sujeitos ligados à saúde mental no Amapá:– Usuários dos serviços de saúde mental;– Familiares dos usuários;– Profissionais ligados à saúde mental (psicólogos,

enfermeiros, psiquiatras e terapeutas ocupacionais);– Gestores públicos;– Bombeiros;– Representantes de associações (Associação dos

usuários em Saúde Mental, Alcoólatras Anônimos, Narcóticos Anônimos etc.).

PONTOS SOBRE SAÚDE MENTAL NO MUNDO

• Liberdade e Desassistência;• Idade Média – Igreja e controle social –

encarceramento;• Século XVIII – Phillipe Pinel – isolamento e

medicalização;• Início da influência das Ciências Humanas na

Psiquiatria – Psicanálise, Freud, Reich, Marx, Nietzsche e outros;

• Comunidades terapêuticas - subjetividade e a relação capital-trabalho considerados como relevantes no surgimento e manutenção de quadros de alteração do comportamento, surgindo novos modelos que buscavam a promoção de um maior grau de interação e democracia entre os pacientes de hospitais psiquiátricos e profissionais que ali trabalhavam;

• Franco Basaglia – 1963 – fim do modelo asilar – reforma psiquipátrica

• Reforma psiquiátrica no Brasil: a partir de 1978, nos Estados do Sul e Sudeste;

• Movimento dos trabalhadores em saúde mental: críticas ao hospitalocentrismo, às más condições de trabalho e de tratamento e à privatização da assistência psiquiátrica;

• 1980 – iniciativas em outras regiões;• 2001 – Lei 10.216, que redireciona os serviços de

saúde mental; criação da Coordenação Nacional de Saúde Mental, com o objetivo de expandir a reforma para os demais estados;

• Início da implantação dos CAPs.

Enquanto isso no Amapá...Enquanto isso no Amapá...• Predominância da “liberdade” e desasistência;• Ala de Psiquiaria do hospital geral: capacidade

para 16 leitos, cadastro de mais de 5000 pacientes que, quando em surto podem permanecer internados por um prazo máximo de 90 dias;

• Condições socioeconômicas desfavoráveis dos usuários e familiares – benefício x “sossego”;

• Anseio pela internação – necessidade de pertença a um grupo, cuidados médicos constantes, alimentação e medicação regulares;

• O Amapá foi o último estado brasileiro a ter Caps implantados, contando atualmente com 3 unidades em funcionamemento e uma em fase de implantação (CAPs II);

• As unidades em funcionamento não têm condições de atender a toda a demanda e enfrentam diversas dificuldades;

• Os usuários dos serviços da rede pública têm acesso trimestral ou quadrimestral ao psiquiatra e durante esse período devem responsabilizar-se por buscar e tomar seus medicamentos regularmente;

DepoimentosDepoimentos• “Saúde Mental no Amapá é caso de polícia”

(profissional);• “Minha família quer o meu dinheiro mas não

sabe me querer...” (usuária);• “Eu adoro o hospital. Aqui eu tenho tudo. Lá

fora eu só tenho gente me batendo e gritando comigo. Quando eu quero voltar eu digo que vou matar alguém e eles me deixam ficar” (usuária que já se internou voluntariamente diversas vezes) ;

• “Tudo é muito difícil... Essas pessoas chegam aqui surtadas muitas vezes sem documentos e não sabem onde moram e quem são seus familiares. Quando acaba o tempo de internação a gente vai colocar lá fora e dizer ‘vai embora’? (profissional)

• “E quem aguenta essa doida em casa? A gente tem que dar de tudo para ela, que só fica aí a toa e tá sempre reclamando, quebra as coisas, dá escândalo aí com os vizinhos. Ninguém nem quer que a gente more mais aqui. É uma paz quando ela fica internada lá. Quando ela volta, quase que fica todo mundo doido também” (cunhado de usuária)

• “Eu não entendo o que acontece aqui... Os projetos dos CAPs já foram todos estruturados há muito tempo. Não sei porque as coisas emperram, não funcionam, param não sei onde... Tava tudo no papel, os formulários preenchidos, planilhas, tudo... Só que não aconteceu nada disso como estava lá...” (profissional).

• “Meu sonho é ter o meu próprio negócio, pra não precisar mais ouvir família me jogando as coisas na cara, pra não precisar de ninguém. Já que eu sou doida varrida mesmo, quero varrer minha própria vida” (usuária).

CONSIDERAÇÕES FINAIS• Predominância do assistencialismo, dos ideais de

cura e dependência total do médico e dos medicamentos;

• As condições socioeconômicas dos usuários são determinantes da falta de engajamento dos mesmos no tratamento;

• Há uma grande desarticulação nos discursos das diferentes categorias de entrevistados, resultando em ações isoladas e de pouco alcance;

• Não se entende a saúde mental como uma responsabilidade de todos.

É preciso construir, sim, um “lugar bonito para a loucura”, que seja livre de muros ou

amarras. Um lugar no convívio social, no mercado de trabalho, nas unidades de

assistência em saúde que não tirem a autonomia dos sujeitos.

Para isso não é necessária apenas a quebra dos muros do manicômio ou da ala de

psiquiatria, mas sobretudo, a quebra da resistência das pessoas na elaboração e

realização de ações conjuntas, interdisciplinares e bem articuladas, envolvendo profissionais,

familiares, usuários, gestores públicos, estudantes e a sociedade como um todo.