Colonização européia na américa

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COLONIZAÇÃO EUROPÉIA NA AMÉRICA: INGLATERRA, FRANÇA E HOLANDA. Ingleses e franceses custaram muito a consolidar seus Estados Nacionais. Enquanto Portugal estabelecera sua Monarquia Nacional, Centralizada, com a Revolução de Avis (1383- 85) e a Espanha após o término da Reconquista (1492), a Inglaterra apenas iniciava sua Centralização Política com Henrique VII (Tudor), e a França passaria ainda por muitos percalços políticos no século XVI para dispor-se à expansão marítima. Não faltava vontade aos dois, faltavam condições políticas. Comparados, portanto, às nações Ibéricas, estavam atrasados. Os Ingleses Ainda no reinado de Henrique VII, o navegador italiano a serviço da Coroa inglesa, Giovanni Caboto (1497/98) explorava a região da América do Norte chamada de Carolina do Sul. Bem mais tarde, em 1578, Humphrey Gilbert tomava posse da Ilha de Roanoke, na Carolina do Norte. Ambos andavam em busca da passagem do Noroeste, que lhes permitisse chegar às Índias. A rivalidade de Elizabeth I com a Espanha, de um lado, aguçava o desejo inglês de apossar-se de terras da América e de outro, tornava-os cautelosos, por temor à Espanha. Esta 1

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COLONIZAÇÃO EUROPÉIA NA AMÉRICA:

INGLATERRA, FRANÇA E HOLANDA.

Ingleses e franceses custaram muito a consolidar seus Estados Nacionais.

Enquanto Portugal estabelecera sua Monarquia Nacional, Centralizada,

com a Revolução de Avis (1383- 85) e a Espanha após o término da

Reconquista (1492), a Inglaterra apenas iniciava sua Centralização Política

com Henrique VII (Tudor), e a França passaria ainda por muitos percalços

políticos no século XVI para dispor-se à expansão marítima. Não faltava

vontade aos dois, faltavam condições políticas. Comparados, portanto, às

nações Ibéricas, estavam atrasados.

Os Ingleses

Ainda no reinado de Henrique VII, o navegador italiano a serviço da Coroa

inglesa, Giovanni Caboto (1497/98) explorava a região da América do

Norte chamada de Carolina do Sul. Bem mais tarde, em 1578, Humphrey

Gilbert tomava posse da Ilha de Roanoke, na Carolina do Norte. Ambos

andavam em busca da passagem do Noroeste, que lhes permitisse chegar às

Índias. A rivalidade de Elizabeth I com a Espanha, de um lado, aguçava o

desejo inglês de apossar-se de terras da América e de outro, tornava-os

cautelosos, por temor à Espanha. Esta entra em decadência em termos de

poderio marítimo, após a derrota da chamada Invencível Armada em 1588.

No entanto, só com a ascensão dos Stuart (1603) é que se reúnem as

condições internas – intensa acumulação de capitais em mãos da burguesia

e sua associação com a Coroa – e externas com a decadência dos

Habsburgo na Espanha e no Santo Império Romano Germânico. Formam-

se duas companhias de comércio às quais o Rei concede direitos de

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colonização e exploração da costa Leste da América do Norte. Uma

Companhia, a de Londres, ficará com territórios da Flórida ao Rio

Potomac, e a de Plymouth, do Cabo Fear a Nova York, ao norte, formando

a Nova Inglaterra. Entre as duas, o Rei deixou um território sem ocupação

para evitar as disputas entre os colonos das duas companhias. Essa “terra de

ninguém” será penetrada por colonos holandeses, suecos e de outras

nacionalidades, só mais tarde sendo dominadas pelos ingleses.

As condições

A Inglaterra passava então por transformações estruturais, acelerava-se o

processo conhecido como “enclosures”. Esse cercamento dos campos

implicava na eliminação da servidão pela via da expulsão dos camponeses

de suas parcelas de terra e da apropriação privada das terras comunais,

gerando um impressionante contingente de população proletarizada e

marginalizada, passível, pois, de ser atraído para a emigração. Caso não

pudessem pagar sua viagem, assinavam um contrato obrigando-se a

trabalhar por sete anos para pagar a dívida contraída com a passagem,

alojamento, etc.

Era a servidão por dívida: “indentured servant”. Muitos que já viviam na

América também eram reduzidos a essa condição, fosse para pagar dívidas,

ou escapar à prisão por algum crime. Outros vinham das Antilhas, onde a

formação das “Plantations” eliminava a camada de pequenos proprietários.

Outro contingente disposto a emigrar era composto de nobres ou burgueses

vítimas de perseguições políticas ou religiosas. Esses, naturalmente, não

vinham como “indentured servants”. A uma parte deles, no entanto, atribui-

-se a instauração na América de princípios políticos democráticos, caso

especial dos chamados Peregrinos do Mayflower, chegados em 1620, às

costas de Massachussets. Por fim, os negros serão trazidos da África para

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constituírem a massa escrava que constituirá a base da mão-de-obra nas

colônias do Sul.

As Características

Foram três áreas de colonização: o Norte, o Centro e o Sul. No Norte,

praticava-se a agricultura, em especial de cereais, mas o clima e o solo não

se constituíam em estímulo para essa atividade, destacando-se a pesca e o

comércio de peles. O pescado, depois de salgado e embarricado, servia

tanto ao consumo das próprias colônias como à exportação, assim como as

peles. A região presenciará um desenvolvimento industrial pela abundância

de matérias- -primas e de mão-de-obra qualificada. Naturalmente, essas

atividades desrespeitavam as proibições impostas pela Metrópole. O rum

era um dos principais produtos da região, feito com o melaço vindo das

Antilhas. O rum tanto servia para trocas com os índios, quanto para troca

por escravos na África, que eram trazidos para as Antilhas, em troca

novamente do melaço.

Constituía-se, assim, o comércio triangular. Também da Nova Inglaterra

saíam pescados e cereais para as Antilhas em troca de açúcar que seguia

para a Inglaterra que vendia produtos manufaturados à Nova Inglaterra. Era

outro triângulo que se estabelecia. No Centro, estabeleceram-se colônias

particulares e religiosas, com uma razoável diversidade populacional.

Nessa região, as terras eram boas para a agricultura e nelas, a exemplo do

Norte, prevaleceram às pequenas propriedades. O corte de madeira e a

construção naval foram outras atividades de destaque nas colônias do

Centro. Já no Sul, desde o início, prevaleceram as grandes propriedades

monocultoras e produtoras para o mercado externo: o típico sistema de

“plantation”. Também aí, a mão-de-obra, originalmente de “indentured

servants”, foi totalmente substituída por escravos africanos.

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Política e Administração

Toda a colonização teve um caráter particular, sendo insignificante a

participação do Estado. Somente muito mais tarde, a Coroa assumiu

algumas colônias. Cada colônia (que, à época da Independência, eram 13),

tinha sua própria autoridade. Cada uma tinha um Governador, nomeado

pela Metrópole no caso das colônias da Coroa. Em cada uma, havia ainda

um Conselho, ou Câmara Alta, cujos membros eram ou nomeados ou

eleitos – conforme a colônia – entre as pessoas mais ricas.

As Assembléias Legislativas ou Câmaras de Representantes, eleitas entre

os homens livres (variando o critério, por riqueza, por religião, etc.). Estas

é que se encarregavam de decidir sobre leis e impostos. Isso significa dizer

que era nas colônias que se decidiam os impostos. Isso é o que se chama de

“Negligência Salutar”, essa não-intervenção da metrópole, em particular no

que diz respeito às decisões sobre impostos. Esta política foi abandonada

em meados do século XVIII, fato que desencadeou o movimento pela

Independência.

Guerras Intercoloniais

Houve, durante o período colonial, um total de cinco guerras em que se

envolveram os colonos. Na verdade, foram guerras entre a Inglaterra e a

França, envolvendo às vezes a Espanha, em que os colonos tinham algum

interesse para ampliar suas terras ou seus negócios, brigando com seus

vizinhos, os colonos franceses e, por vezes, os espanhóis.

Os Franceses

No reinado de Francisco I, que jamais se conformara com os termos do

Tratado de Tordesilhas firmado entre Espanha e Portugal, ocorreram as

primeiras tentativas francesas de se estabelecer na América do Norte. Em

1524, buscando a passagem do Noroeste, para chegar às Índias, o florentino

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Giovanni Verrazzano tomou posse da Terra Nova em nome do Rei da

França. Entre 1534 e 41, Jacques Cartier fez três tentativas de criar uma

colônia francesa no Rio São Lourenço.

O Almirante Coligny, líder huguenote, organizou duas expedições para

criação de colônias de povoamento, Charlesfort (Flórida – 1562-67) e a

França Antártica (Rio de Janeiro – 1555-67). Todavia, a dinastia francesa

estava muito ocupada com a luta contra os Habsburgo nas chamadas

Guerras da Itália (1494-1559) e depois com as Guerras de Religião na

própria França, entre 1562-98. Somente com Henrique IV, Bourbon, (1589-

1610), consolida-se o Absolutismo e se incentivará a colonização. No

século XVII, portanto. Em 1605, funda-se Port Royal e, em 1608, Québec,

no Canadá.

No entanto, as companhias particulares autorizadas a promover a

colonização, concentravam suas atividades no que fosse imediatamente

lucrativo, deixando de promover a colonização propriamente dita. Entre

1618 e 48, Richilieu introduz a França na Guerra dos 30 Anos, para

enfraquecer os Habsburgo, e incentiva uma companhia católica para a

colonização do Canadá. Essa iniciativa tem um defeito básico: não permite

a participação dos protestantes, justamente os que pertencem ao setor mais

empreendedor da burguesia.

Ademais, os colonos terão sempre o conflito com os jesuítas que querem

“reduzir” os índios, como faziam no Brasil. Os colonos querem os índios

soltos para caçarem e comerciarem com eles. No reinado de Luiz XIV, seu

ministro Colbert convencerá o Rei a transformar tudo em Colônia da

Coroa, promovendo profunda reestruturação. Cria o cargo de Governador

Geral e o de Intendente, além de conselho com representantes de todas as

partes da colônia. Incrementa a colonização com deportados, com mulheres

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incentivadas a se casar na colônia e os “engagés” (engajados) ou “trente-

six-mois” – servos por dívidas, obrigados a prestar serviços por 36 meses.

Apesar de tudo, a colonização francesa no Canadá prosseguirá rala e

dispersa.

A Louisiana

Em busca de peles, os colonos franceses do Canadá irão explorar as terras

ao Sul dos Grandes Lagos, seguindo o curso do Mississipi, do Illinois e do

Missouri. Em 1682, chegou-se à foz do Mississipi, no Golfo do México.

Nessa trilha, fundaram-se feitorias, fortes e missões, mas a colonização

prosseguiu pequena e sempre ameaçada pelos anglo-americanos, a Leste e

pelos espanhóis, ao Sul. Em 1717, um escocês estelionatário, atraiu muita

gente na França, para fundar Nova Orleas, às margens do Mississipi.

As Antilhas

Desde o século XVI, rivalizando com ingleses e holandeses, piratas e

corsários franceses disputaram o controle das Antilhas, base de ataque aos

navios e às colônias espanholas. No século XVII, a Espanha tinha

praticamente abandonado as Pequenas Antilhas, sendo ocupadas pelos

franceses, sempre como base para a pirataria e o contrabando. Passaram a

ser também áreas de produção de cana-de-açúcar, mandioca, tabaco, café

inclusive.

Com o extermínio dos índios caraíbas que resistiram a essa dominação, os

franceses usaram a mão-de-obra dos “engagés”, logo substituída pelos

escravos africanos, que no século XVIII constituíam a ampla maioria da

população antilhana. Colbert criou em 1664 a Cia. Das Índias Ocidentais,

que tinha também o monopólio do tráfico negreiro com o Senegal. Já em

1685, editava-se o “Código Negro”, que proibia que os escravos fossem

torturados ou mortos. Obviamente que isso nunca foi obedecido.

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Em 1698, tudo dentro da política Mercantilista, editava-se o Código do

Comércio Colonial, que estabelecia claramente o Pacto Colonial. As várias

guerras que a França teve com a Inglaterra fizeram-na perder praticamente

todas as suas colônias. O Canadá e as Pequenas Antilhas para os ingleses.

A Louisiana passou para a Espanha (mais tarde devolvida à França, e

depois vendida por Napoleão para os Estados Unidos). São Domingos

(Haiti) ficou independente.

O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA

Da mesma forma que a expansão marítimo-comercial européia de fins da

Idade Média e início dos Tempos Modernos levara aos grandes

descobrimentos, à conquista e à colonização da América, a Revolução

Industrial levará à desmontagem do sistema colonial.

A Crise do Antigo Regime

A Monarquia Absoluta com sua prática econômica mercantilista permitiu à

burguesia a acumulação de capital. No século XVIII, esse processo está

esgotado. A produção manufatureira, fortemente protegida e regulamentada

pelo Estado Absolutista, alcançara o seu limite. Com aquelas técnicas, com

aquela organização do trabalho, a produtividade não tinha como crescer. Se

a produção tiver que crescer, sem aumento de produtividade, a taxa de

lucro tenderá a baixar. Ao mesmo tempo, o mercado consumidor mundial

tendia ao crescimento.

Dá-se, pois, uma situação de oferta menor que a procura. Havia, portanto, a

necessidade de se empregar novas técnicas de produção. Era necessário

passar da manufatura para a indústria. Só assim haveria solução para a crise

econômica. Todavia, uma grande crise econômica só se resolve com uma

grande mudança política.

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Burguesia X Absolutismo

A burguesia crescera à sombra do Absolutismo. O Rei, por sua vez,

sustentava-se no apoio dado pela burguesia contra a nobreza feudal. Esta

não fora destruída, nem poderia, pois, nesse caso a burguesia não precisaria

mais do Rei. O Rei arrecadava os impostos da burguesia e sustentava a

nobreza, mantendo uma imensa, faustosa e custosa corte. Mantinha

também um enorme exército e uma grande burocracia. Tudo isso custava

muito, mas não fazia diferença quando o sistema mercantilista e as

manufaturas estavam em expansão.

Com a crise, os custos continuam altos e os impostos mais ainda. Tanto

mais, que já não se ganhava tanto quanto antes. A burguesia quer então

saber onde são gastos os impostos. Isso não pode ser dito pelo Rei, sob

pena de abrir mão do poder absoluto. Os burgueses precisam então,

entender o porquê da crise, até para saber se é possível resolvê-la. Para

tanto, precisam analisar, a economia, a política e a sociedade, em suma,

precisam ter uma visão de mundo completa. Há que se encontrar um

método para fazer essa análise.

Desde que surgiu, na Idade Média, a burguesia iniciara o questionamento

de todo conhecimento, até aí baseado exclusivamente na fé, contrapondo-

lhe a razão. No século XVIII, é tal a sua convicção de que a “razão pura”

explica tudo, resolve tudo, liberta, ilumina que se cria um pensamento

filosófico chamado Iluminismo. Com base nele, a burguesia compreenderá

o funcionamento do sistema ao qual passará a chamar de Antigo Regime.

Compreenderá também que é necessário mudá-lo e, em seguida, que é

possível mudá-lo e, finalmente, que ela deverá assumir a responsabilidade

histórica de ser o sujeito dessa mudança: torna-se, pois, uma classe

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revolucionária. A primeira tarefa dessa transformação, dessa revolução,

será a derrubada do Absolutismo Monárquico.

Com a queda do Absolutismo enterra-se definitivamente o Feudalismo,

libertando-se os servos. Estes ficarão livres principalmente de suas posses.

Serão transformados em pessoas juridicamente iguais a todas as outras. Só

que sem meios de produção, tornam-se proletários. Desse modo,

constituirão o grande exército de mão-de-obra para as indústrias de

propriedade dos burgueses. A economia ficará totalmente livre da

intervenção do Estado. Assim, os burgueses poderão introduzir todas as

novas técnicas que quiserem: será a Revolução Industrial. Será tal a

capacidade de produção da indústria, que ela necessitará de quantidades

infinitamente maiores de matérias-primas, assim como exigirá a ampliação

dos mercados consumidores.

É isto que conduzirá à crise do sistema colonial. A Inglaterra, por exemplo,

primeiro país a fazer a Revolução Industrial, precisa ter acesso direto aos

produtores de matérias primas, assim como acesso direto aos mercados

consumidores. Não se aceita mais a intervenção das metrópoles. Não se

aceita mais o Pacto Colonial. Da mesma forma que o Mercantilismo é

substituído pelo Liberalismo Econômico, o pacto colonial tem que dar

lugar ao livre comércio. Para tanto, é preciso que as colônias se separem

das suas metrópoles, que se tornem países livres, para produzir matérias-

primas e comprar produtos industrializados. Falta só encontrar, nas próprias

colônias, gente que queira jogar com as novas regras do jogo.

A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS

A Inglaterra foi a primeira nação do mundo a passar pelo processo de

Revolução Industrial, em meados de século XVIII. É que foi a Inglaterra

também o primeiro país onde o Absolutismo foi derrubado. As Revoluções

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Puritana (1648) e Gloriosa (1688-89) tinham enterrado a forma absolutista

de governo e acelerado a acumulação de capital em mãos da burguesia.

Tinham também criado condições internas e externas para o

desenvolvimento capitalista. Internamente, os “enclosures” haviam criado

uma imensa massa proletarizada, pronta para constituir-se na mão-de-obra

barata da manufatura e, em seguida, da indústria.

Externamente, um poderio naval incomum havia posto nas mãos da

burguesia inglesa o acesso a um imenso mercado consumidor. É natural,

portanto, que as idéias liberais tivessem lugar, e maior consistência prática,

entre os ingleses, do que entre aqueles – como os franceses – que ainda

teriam que derrubar o Absolutismo. A Inglaterra passa a defender, então, a

Independência de todas as colônias… dos outros, naturalmente. A “ironia”

da História é que será justamente a sua principal colônia a primeira a

conquistar a independência. Como vimos anteriormente, as chamadas 13

colônias inglesas da América do Norte constituíram-se de forma diferente

de todas as outras colônias. Gozaram sempre de grande autonomia; eram,

em sua maioria, típicas colônias de povoamento; fugiam ao padrão geral

das colônias de exploração.

O Fim da “Negligência Salutar”

A consolidação do poderio mundial inglês se fez à custa de muitas guerras

contra seus rivais europeus. No século XVIII, a França foi a principal rival

da Inglaterra. A Espanha, como também era governada pelos Bourbon,

acabava secundando a França nas guerras contra a Inglaterra. Em

particular, a Guerra dos Sete Anos (1756-63) foi muito vantajosa para a

Inglaterra. Ganhou da França, o Canadá, a Índia e os territórios a Oeste das

13 Colônias. Entretanto as despesas de guerra e as novas despesas com a

administração das colônias conquistadas nesta guerra levaram a Inglaterra a

uma grande crise financeira. Para compensá-la, os ingleses decidem criar e

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aumentar impostos, além de estabelecer fortes restrições à liberdade, até

então tolerada, das 13 Colônias.

Contraditoriamente, no exato momento em que está nascendo o

Liberalismo Econômico, a Inglaterra apela ao mais surrado modelo

mercantilista. Em 1764, foi lançado o “Sugar Act” (Lei do Açúcar). Em

1765, o “Stamp Act” (Lei do Selo). Nesse caso, os colonos reagiram

convocando o Congresso da Lei do Selo, no qual decidiram não mais

comerciar com a Metrópole. Basearam-se no princípio “no representation,

no taxation”. Defendiam a idéia de que o Parlamento inglês não podia

decidir nada sobre a colônia, porque nele não estavam incluídos

representantes coloniais. Em 1766, foi revogada a Lei do Selo. Mas a partir

de 1767, o ministro Charles Townshend tornou a gravar a colônia com

tributos de toda espécie: sobre papel, vidro, chá, etc. Os colonos

protestaram, e Boston assistiu a um massacre de manifestantes pelas tropas

inglesas.

Diante de tais fatos, os ingleses suspendem todos esses impostos, exceto o

do comércio do chá. Inclusive, em 1773, baixaram a “Tea Act” (Lei do

Chá), concedendo o monopólio deste produto à Cia. Das Índias Ocidentais,

uma empresa londrina. Os protestos resultaram na chamada “Boston Tea

Party”, que, por sua vez, fizeram a metrópole editar as chamadas Leis

Intoleráveis (1774). Estas esgotaram a paciência dos colonos, que

convocaram o Primeiro Congresso Continental de Filadélfia. Boicotava-se

todo comércio com a Inglaterra. Como esta reagisse violentamente,

convocou- se o Segundo Congresso Continental de Filadélfia (1775). A 4

de Julho de 1776, aprovou-se a Declaração de Independência, redigida sob

a batuta de Thomas Jefferson.

A Guerra de Independência

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Obviamente, que os ingleses não aceitaram tal declaração, iniciando-se

uma guerra entre eles e os colonos. George Washington comandará o

exército libertador. Após várias derrotas, dada a desproporção de forças,

obtém importante vitória em Saratoga (1777). Esse feito credenciará os

americanos diante da França, que para recuperar terras perdidas na Guerra

dos Sete Anos, dará apoio, sobretudo naval, aos norte-americanos.

Em 1781, os ingleses capitulam em Yorktown e, em 1783, firmam o

Tratado de Paris, entregando as Antilhas e o Senegal à França. A Espanha

fica com a Flórida. … E os Estados Unidos da América tornam-se a

primeira República independente da América. Está iniciada a ruptura do

sistema colonial.

 

A colonização holandesaAté 1581, a Holanda era um possessão do Império Espanhol na Europa. Nesse ano, depois de uma violenta reação à política opressiva de Felipe II, da Espanha, os flamengos proclamaram sua Independência, constituindo um Estado denominado Províncias Unidas dos Países Baixos. Após anos de guerras, a Espanha reconheceu a independência holandesa, em 1609.Mesmo durante a dominação espanhola, os holandeses desenvolveram-se economicamente, surgindo após a independência como um dos Estados mais fortes da Europa. As bases desse desenvolvimento eram o seu poderio marítimo e sua dinâmica burguesia protestante.

As Companhias de ComércioNo quadro das guerras contra a Espanha, os holandeses criaram a Companhia das Índias Orientais (1602 e a Companhia das Índias Ocidentais (1621), para fazer frente às imposições espanholas, principalmente na época da União Ibérica (1580-1640), quando os holandeses foram alijados do comércio do açúcar brasileiro. Essas companhias de comércio, detentoras de privilégios comerciais, organizaram

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uma formidável força militar e, assim passaram a fustigar os domínios ibéricos.No Oriente, ocuparam parte do império luso-espanhol, como o Ceilão, Java, Sumatra e Molucas. Entre 1630 e 1654, invadiram o Brasil — Bahia e Pernambuco —, apossando-se da produção açucareira e do lucrativo tráfico negreiro, dentro do contexto da Guerra do Açúcar.Depois da expulsão do Brasil, os holandeses se estabeleceram na Guiana e em Curaçao, nas Antilhas, onde passaram a desenvolver a produção açucareira. Na América do Norte, ocuparam o vale do Hudson, onde fundaram a colônia de Nova Amsterdã, que, perdida para os ingleses, deu origem posteriormente às colônias centrais de Nova York e Delaware.

Invasão holandesa no Brasil conquista e administração

A invasão holandesa fez parte do projeto da Holanda (Países Baixos) em ocupar e administrar o Nordeste Brasileiro através da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.  Após a União Ibérica (domínio da Espanha em Portugal entre os anos de 1580 e 1640), a Holanda resolveu enviar suas expedições militares para conquistarem a região nordeste brasileira. O objetivo holandês era restabelecer o comércio do açúcar entre o Brasil e Holanda, proibido pela Espanha após a União Ibérica. A primeira expedição invasora ocorreu em 1624 contra Salvador (capital do Brasil na época). Comandados por Jacob Willekens, mais de 1500 homens conquistaram Salvador e estabeleceram um governo na capital brasileira. Os holandês foram expulsos no ano seguinte quando chegaram reforços da Espanha. Em 1630, houve uma segunda expedição militar holandesa, desta vez contra a cidade de Olinda (Pernambuco). Após uma resistência luso-brasileira, os holandeses dominaram a região, estabeleceram um governo e retomaram o comércio de açúcar com a região nordestina brasileira. 

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Em 1637, a Holanda enviou o conde Maurício de Nassau para administrar as terras conquistadas e estabelecer uma colônia holandesa no Brasil. até 1654, os holandeses dominaram grande parte do território nordestino. Expulsão dos holandeses

Em 1654, após muitos guerras e conflitos, finalmente os colonos portugueses (apoiados por militares de Portugal e Inglaterra) conseguiram expulsar definitivamente os holandeses do território brasileiro e retomar o controle do Nordeste Brasileiro. Principais aspectos da administração de Nassau no Nordeste do Brasil:

- Estabeleceu relações amigáveis entre holandeses e senhores de engenho brasileiros;- Incentivou, através de empréstimos, a reestruturação dos engenhos de açúcar do Nordeste;- Introduziu inovações com relação à fabricação de açúcar;- Favoreceu um clima de tolerância e liberdade religiosa;- Modernizou a cidade de Recife, construindo diques, canais, palácios, pontes e jardins. - Estabeleceu e organizou os sistemas de coleta de lixo e os serviços de bombeiros em Recife.- Determinou a construção em Recife de um observatório astronômico, um Jardim Botânico, um museu natural e um zoológico.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1 - A fundação da Virgínia e da Nova Inglaterra, no início do século XVII, fez a Inglaterra adentrar a disputa colonial no Novo Mundo. Nos vastos domínios dos impérios ibéricos nas Américas, foram produzidas sociedades muito diversas e complexas – por exemplo, as do V.R. da Nova Espanha, as da região caribenha e as do V.R. do Peru. Entretanto, também nas colônias britânicas, desde a sua formação, fortes diferenças acabaram forjando sociedades bem diversas. Essa diversidade foi expressão de vários fatores, entre eles estão:

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I – O fato de os propósitos das Companhias de Comércio de Londres e de Plymouth terem sido radicalmente distintos, tal como as populações que transportaram para a América.

II – O predomínio dos interesses mercantis e escravistas nas colônias da Virgínia, ao sul, contrastando com as motivações de ordem mais religiosa e política dos puritanos que orientaram a ocupação das colônias ao norte.

III – A dificuldade de a Igreja Anglicana fazer valer a sua autoridade e administração nas colônias do norte, berço da intolerância religiosa,loci de separatistas religiosos – dos congregacionistas, presbiterianos, batistas e anabatistas etc.

IV – A decisão prévia do Rei James I de oferecer colônias particulares a donatários ou proprietários – como William Penn e Lord Baltimore – na região das Colônias do Meio.

2- “Para o progresso do armamento marítimo e da navegação, que sob a boa providência e proteção divina interessam tanto à prosperidade, à segurança e ao poderio deste reino [...], nenhuma mercadoria será importada ou exportada dos países, ilhas, plantações ou territórios pertencentes à Sua Majestade, ou em possessão de Sua Majestade, na Ásia, América e África, noutros navios senão nos que [...] pertencem a súditos ingleses [...] e que são comandados por um capitão inglês e tripulados por uma equipagem com três quartos de ingleses [...], nenhum estrangeiro [...] poderá exercer o ofício de mercador ou corretor num dos lugares supracitados, sob pena de confisco de todos os seus bens e mercadorias [...]”.

Segundo Ato de Navegação de 1660. In: Pierre Deyon. O mercantilismo. São Paulo: Perspectiva, 1973, p. 94-95.

Por meio do Ato de Navegação de 1660, o governo inglês:

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a. Estabelecia que todas as mercadorias comercializadas por qualquer país europeu fossem transportadas por navios ingleses.

b. Monopolizava seu próprio comércio e impulsionava a indústria naval inglesa, aumentando ainda mais a presença da Inglaterra nos mares do mundo.

c. Enfrentava a poderosa França retirando-lhe a posição privilegiada de intermediária comercial em nível mundial.

d. Desenvolvia a sua marinha, incentivava a indústria, expandia o Império, abrindo novos mercados internacionais ao seu excedente agrícola.

e. Protegia os produtos ingleses, matérias-primas e manufaturados, que deveriam ter sua saída dificultada, de modo a gerar acúmulo de metais preciosos no Reino inglês.

3 - No dia 29 de outubro de 1929, conhecido como “terça-feira negra”, iniciou-se uma grave crise na economia dos Estados Unidos que se estenderia até, pelo menos, o ano de 1933. Acerca do impacto mundial da crise econômica de 1929, assinale a alternativa correta.A) A situação da economia da União Soviética, isolada desde a Revolução de 1917, piorou em decorrência do crescimento da competição econômica internacional.B) O preço dos produtos agrícolas e industriais cresceu muito, possibilitando aos produtores cobrir suas hipotecas junto aos bancos credores.C) O desemprego e a crise social favoreceram o surgimento de movimentospolíticos radicais, possibilitando o crescimento dos partidos socialistas efascistas.D) Os países não industrializados foram favorecidos pelo aumento das importações de matérias-primas para os países mais desenvolvidos, os mais afetados na crise.

4 - A expansão ultramarina européia, iniciada no século XV, gerou grandestransformações na História mundial, entre outras razões, por colocar povos de

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continentes diversos em um processo de interação econômica, política e cultural.Sobre esse assunto, assinale a opção correta.A) O continente africano serviu como base estratégica para o apoio dasembarcações que se dirigiam para o continente asiático.B) As relações entre os Estados europeus e os asiáticos, no século XVI, forammercantis, com os asiáticos comprando mercadorias feitas pelos europeus.C) Com o desenvolvimento das técnicas de navegação, Holanda e Inglaterralideraram, desde os finais do século XV, a expansão marítima européia.D) O interesse de franceses e holandeses em colonizarem as Índias Ocidentaisexplica o sucesso que tiveram em estabelecer colônias no Brasil, no século XVIII.

05. (UFAL – 2009) As Cruzadas, no Medievo, foram uma tentativa da cristandade ocidental em conquistar os locais sagrados do catolicismo. É CORRETO afirmar que uma das principais consequências das Cruzadas foi:a) a formação de nações cristãs no Ocidente, como Portugal, Espanha e França, permitindo a pacificação da região.b) a consolidação do feudalismo, em virtude da unificação dos vários reinos em torno de um objetivo comum.c) o incremento das relações comerciais da Europa com o Oriente, permitindo a circulação de navios europeus pelo Mediterrâneo.d) a superação das rivalidades políticas entre as nações europeias através do fortalecimento da Igreja Católica.

5 - As Cruzadas, no Medievo, foram uma tentativa da cristandade ocidental em conquistar os locais sagrados do catolicismo. É CORRETO afirmar que uma das principais consequências das Cruzadas foi:a) a formação de nações cristãs no Ocidente, como Portugal, Espanha e França, permitindo a pacificação da região.b) a consolidação do feudalismo, em virtude da unificação dos vários reinos em torno de um objetivo comum.

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c) o incremento das relações comerciais da Europa com o Oriente, permitindo a circulação de navios europeus pelo Mediterrâneo.d) a superação das rivalidades políticas entre as nações europeias através do fortalecimento da Igreja Católica.

6 - Sobre o Mercantilismo, é CORRETO afirmar que:a) ampliou o poder da nobreza feudal, possibilitando a adoção do protecionismo alfandegário.b) adotou a centralização administrativa e a cobrança de impostos como instrumento de dominação social.c) permitiu a lógica de valorização da terra como investimento, favorecendo a burguesia agrária.d) fortaleceu economicamente alguns reinos europeus, que tinham no comércio e no metalismo suas principais fontes de renda.

7 - Com relação à colonização francesa, espanhola e inglesa no continente americano, é CORRETO afirmar:a) A colonização espanhola, baseada no trabalho compulsório indígena, nos séculos XVI e XVII, predominou nas áreas mineradoras do México e Peru.b) A colonização inglesa na região do Caribe baseava-se no trabalho escravo indígena e na grande lavoura de exportação.c) Nas regiões de colonização francesa, predominou a escravidão indígena, fundamental para a produção da economia canavieira.d) A colonização inglesa da América do Norte baseava-se, ao Sul, na agricultura familiar e atividades manufatureiras e, ao Norte, na lavoura escravista de exportação

8 - No século XVII, as invasões do nordeste brasileiro pelos holandeses estavam relacionadas às mudanças do equilíbrio comercial entre os países europeus porque:

a) a Holanda apoiava a união das monarquias ibéricas.b) a aproximação entre Portugal e Holanda era uma forma de os lusos se liberarem da dependência inglesa.

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c) as Companhias das Índias Orientais e Ocidentais monopolizavam o escambo do pau-brasil.d) os holandeses tinham grandes interesses no comércio do açúcar.e) Portugal era tradicionalmente rival dos holandeses nas guerras europeias.

9 - Durante a união ibérica, Portugal foi envolvido em sérios conflitos com outras nações europeias. Tais fatos trouxeram como consequências para o Brasil Colônia:

a) as invasões holandesas no nordeste e o declínio da economia açucareira após a expulsão dos invasores.b) o fortalecimento político e militar de Portugal e colônias, devido ao apoio espanhol.c) a redução do território colonial e o fracasso da expansão bandeirante para além de Tordesilhas.d) a total transformação das estruturas administrativas e a extinção das Câmaras Municipais.e) o crescimento do mercado exportador em virtude da paz internacional e das alianças entre Espanha, Holanda e Inglaterra.

10 - "São os portugueses que antes de quaisquer outros se ocuparão do assunto. Os espanhóis, embora tivessem concorrido com eles nas primeiras viagens de exploração, abandonarão o campo em respeito ao Tratado de Tordesilhas (1494) e à bula papal que dividira o mundo a se descobrir por linhas imaginárias entre as coroas portuguesa e espanhola. O litoral brasileiro ficava na parte lusitana, e os espanhóis respeitavam seus direitos. O mesmo não se deu com os franceses, cujo rei (Francisco I) afirmaria desconhecer a cláusula do testamento de Adão que reservava o mundo unicamente a portugueses e espanhóis. Assim eles virão também, e a concorrência só resolveria pelas armas". 

(PRADO Jr, Caio. HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL. São Paulo, Brasiliense, 1967.)

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Segundo o texto, é correto afirmar quea) espanhóis e portugueses resolveriam a posse das terras da América pela força das armas.b) a concorrência entre Portugal e Espanha serviu de pretexto para que o rei da França reservasse a si o direito de atacar a Península Ibérica e resolver o impasse pela força das armas.c) os franceses não reconheceram o Tratado de Tordesilhas e, por isso, não respeitaram a posse de terras pertencentes a Portugal ou Espanha.d) lançando mão da "cláusula de Adão", o rei da França fundamentava a tese de que o Papa tinha todo o direito de dispor do mundo, uma vez que era descendente direto de Adão.e) para os franceses, os espanhóis não respeitavam o litoral brasileiro e assolavam-no constantemente porque não reconheciam, em nenhum documento, que Portugal detinha a posse das terras brasileiras.

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