Colhendo e Construindo no Semiárido

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Êxodo rural é coisa do passado na família de Edílson e Edeleide O Agricultor Edílson Pereira vive com sua esposa Edeleice Costa e seu filho Jorge Felipe na comunidade Mumbuca, no município de Bom Jesus da Serra, na Bahia. A família, que vive dentro da propriedade dos pais de Edílson, construiu a sua própria casa na parte mais baixa do terreno, a beira da estrada, onde todas as pessoas que passam em frente notam o verde dos canteiros de alface, couve e coentro se destacando na paisagem. Edílson é morador da região desde que nasceu, e como ele mesmo diz, se criou correndo pelo mato atrás de passarinhos, que era a diversão preferida da molecada. Aos 14 anos, decidiu ir para São Paulo morar com a irmã, em busca de oportunidades de trabalho. ‘’Eu tinha precisão de sair, apesar de minha mãe sempre me dar alguma coisa, não era o suficiente’’. Cansado de trabalhar na construção civil em São Paulo, Edílson decidiu retornar para a casa da família em 2002 e foi cuidar da roça. Nesse período conheceu sua esposa, que morava no município vizinho mas sempre visitava os parentes na comunidade. Se casaram e foram viver juntos, e Edeleice passou a ajudar o marido no trato com a terra. No início as coisas foram difíceis. Edeleice conta: ‘’Quando a gente veio morar aqui não tinha nada do que existe hoje, era só o matão. Depois das chuvas eles alugavam a pastagem para terceiros. Meu marido tentou abrir um poço, chegou até onze metros mas desistiu porque deu na rocha, então água era difícil. Mas não desistimos, com uns três anos de casados construímos nossa casa e começamos a fazer as hortas’’. Bahia Ano 6 | nº 946 | Novembro | 2012 Bom Jesus da Serra - Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Colhendo e construindo no Semiárido: 1 O Casal Edílson e Edeleide com o filho Jorge Felipe Os canteiros produtivos aumentaram a renda da família

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Êxodo rural é coisa do passado na família de Edílson e

EdeleideO Agricultor Edílson Pereira vive com sua esposa Edeleice Costa e seu filho Jorge Felipe na comunidade Mumbuca, no município de Bom Jesus da Serra, na Bahia. A família, que vive dentro da propriedade dos pais de Edílson, construiu a sua própria casa na parte mais baixa do terreno, a beira da estrada, onde todas as pessoas que passam em frente notam o verde dos canteiros de alface, couve e coentro se destacando na paisagem.

Edílson é morador da região desde que nasceu, e como ele mesmo diz, se criou correndo pelo mato atrás de passarinhos, que era a diversão preferida da molecada.

Aos 14 anos, decidiu ir para São Paulo morar com a irmã, em busca de oportunidades de trabalho. ‘’Eu tinha precisão de sair, apesar de minha mãe sempre me dar alguma coisa, não era o suficiente’’.

Cansado de trabalhar na construção civil em São Paulo, Edílson decidiu retornar para a casa da família em 2002 e foi cuidar da roça. Nesse período conheceu sua esposa, que morava no município vizinho mas sempre visitava os parentes na comunidade. Se casaram e foram viver juntos, e Edeleice passou a ajudar o marido no trato com a terra.

No início as coisas foram difíceis. Edeleice conta: ‘’Quando a gente veio morar aqui não tinha nada do que existe hoje, era só o matão. Depois das chuvas eles alugavam a pastagem para terceiros. Meu marido tentou abrir um poço, chegou até onze metros mas desistiu porque deu na rocha, então água era difícil. Mas não desistimos, com uns três anos de casados construímos nossa casa e começamos a fazer as hortas’’.

Bahia

Ano 6 | nº 946 | Novembro | 2012Bom Jesus da Serra - Bahia

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Colhendo e construindo no Semiárido:

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O Casal Edílson e Edeleide com o filho Jorge Felipe

Os canteiros produtivos aumentaram a renda da família

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Durante a construção da casa a família foi beneficiada pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), o que trouxe para Edílson algo além da possibilidade de armazenar água para beber: um novo ofício.

‘’Um rapaz chamado João, que trabalhava na ASA (Articulação no Semiárido Brasileiro), me viu construindo a casa e perguntou se eu era pedreiro. Eu disse que sim, então ele perguntou se eu não queria fazer um curso pra construir a cisterna que eu estava recebendo’’. Após participar do curso Edílson passou a trabalhar em toda a região construindo cisternas, além de cuidar da terra com Edeleice.

Algum tempo depois a família foi beneficiada com o programa Gente de Valor da CAR (Companhia de Desenvolvimento e Ação Social), que os capacitou na construção e manejo de canteiros econômicos. A dificuldade que existia para a produção da horta evoluir foi superada graças as lições aprendidas e o conhecimento que eles já tinham foi aprimorado, tanto que hoje exibem orgulhosos os 13 canteiros que foram construídos depois que foram beneficiados, onde produzem alface, coentro, cebolinha e couve. ‘’Antes a gente sabia plantar mas não tinha muita noção de cuidar. Aprendemos a fazer o biogel, que é um fertilizante natural, e com ele a horta fica mais sadia’’. Cultivam ainda maracujá e melancia, graças a água da outra cisterna que Edílson construiu por conta própria e dos ‘potes produtivos’ que receberam do Gente de Valor.

A produção dos canteiros ajuda na alimentação da família, dos parentes e é vendida para moradores da comunidade e também de localidades vizinhas, que se deslocam até a casa deles para comprar os produtos da horta. Graças a isso Edílson, que ainda retornava de vez em quando a São Paulo para trabalhar alguns meses, não viaja a 2 anos. E Edeleice participa ativamente das reuniões da associação de moradores de Mumbuca e Samambaia, aonde vivem. ‘’O animador nos disse que era importante participar da associação, então decidimos participar também. A minha esposa está sempre presente, ela representa a família lá nas reuniões’’, conta Edílson, orgulhoso.

A família será beneficiada com a cisterna de enxurrada, que armazena 52 mil litros de água, fato que trás alegria para Edílson: ‘’Agora vai ficar ótimo! Com certeza vamos conseguir produzir o ano inteiro. Queremos produzir mais coisas nos canteiros, cenoura, beterraba, pra gente ter mais variedade na hora de comer e vender’’.

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A família cultiva a alface primeiro em sementeiras

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Criatividade: placas de cimento para fazer os canteiros