coleta seletiva e inclusão social: desafios da gestão pública ...

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TATIANA VILELA CARVALHO COLETA SELETIVA E INCLUSÃO SOCIAL: DESAFIOS DA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL NO SUL DE MINAS GERAIS LAVRAS-MG 2016

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  • TATIANA VILELA CARVALHO

    COLETA SELETIVA E INCLUSO SOCIAL:

    DESAFIOS DA GESTO PBLICA MUNICIPAL

    NO SUL DE MINAS GERAIS

    LAVRAS-MG

    2016

    http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&docid=ojzgslAMLD4_vM&tbnid=sLVu09sZs-W3mM:&ved=0CAUQjRw&url=http://inventta.net/radar-inovacao/noticias/instituto-inovacao-inicia-analise-de-tecnologias-da-ufla/&ei=dZ2KU76NE8OhogS1m4GQDw&bvm=bv.68191837,d.cGU&psig=AFQjCNE3G3f6dU4f6GoZk3wgnHFWKaUYQA&ust=1401679599918857

  • TATIANA VILELA CARVALHO

    COLETA SELETIVA E INCLUSO SOCIAL:

    DESAFIOS DA GESTO PBLICA MUNICIPAL NO SUL DE MINAS

    GERAIS

    Dissertao apresentada Universidade

    Federal de Lavras, como parte das

    exigncias do Programa de Ps-

    Graduao em Administrao Pblica - Mestrado Profissional, rea de

    concentrao em Gesto de

    Organizaes Pblicas, para a obteno do ttulo de Mestre.

    Orientadora

    Dra. Rosa Teresa Moreira Machado

    LAVRAS-MG

    2016

  • Ficha catalogrfica elaborada pelo Sistema de Gerao de Ficha Catalogrfica da Biblioteca

    Universitria da UFLA, com dados informados pelo(a) prprio(a) autor(a).

    Carvalho, Tatiana Vilela.

    Coleta seletiva e incluso social: desafios da gesto pblica municipal no sul de Minas Gerais/ Tatiana Vilela Carvalho. Lavras

    : UFLA, 2016.

    121 p. : il.

    Dissertao (mestrado profissional)Universidade Federal de

    Lavras, 2015.

    Orientadora: Rosa Teresa Moreira Machado. Bibliografia.

    1. Gesto de Resduos Slidos. 2. Resduos Slidos Urbanos. 3. Politica Nacional de Resduos Slidos. 4. Parcerias. I. Universidade

    Federal de Lavras. II. Ttulo.

  • TATIANA VILELA CARVALHO

    COLETA SELETIVA E INCLUSO SOCIAL:

    DESAFIOS DA GESTO PBLICA MUNICIPAL NO SUL DE MINAS

    GERAIS

    Dissertao apresentada Universidade

    Federal de Lavras, como parte das

    exigncias do Programa de Ps-

    Graduao em Administrao Pblica - Mestrado Profissional, rea de

    concentrao em Gesto de

    Organizaes Pblicas, para a obteno do ttulo de Mestre.

    APROVADA em 18 de maro de 2016.

    Dr. Armindo dos Santos de Sousa Tedosio PUC MINAS

    Dr. Jos de Arimatia Dias Valado UFLA

    Dra. Rosa Teresa Moreira Machado

    Orientadora

    LAVRAS-MG

    2016

  • DEDICO

    A Deus, pois sem Ele eu no teria foras pr essa jornada, coragem para

    questionar realidades seguir em frente em busca de um novo mundo de

    possibilidades.

    A toda minha famlia, e em especial, a Lcia, minha me, por ser exemplo de

    honestidade em nossas vidas.

    Ao meu marido,Rander, pelo apoio incondicional, carinho e pacincia nas

    horas de estudo.

    Aos meus filhos Lucas e Maria Lusa, pois sem eles minha vida no teria o

    sentido que tem.

    tia Dinha por ter me apoiado nas viagens Lavras e participado dessa etapa

    no momento em que precisei.

    Aos meus irmos, meu pai Ayres (in memoriam), pela famlia que constitumos.

    Aos colegas de mestrado e parceiros nos quatro artigos apresentados em

    congressos durante esse perodo.

    A minha orientadora, Prof.Rosa,sempre preocupada com a causa ambiental e

    que busca trabalhar em prol do bem comum, um exemplo de determinao.

  • AGRADECIMENTOS

    Universidade Federal de Lavras (UFLA) e ao Departamento de

    Administrao e Economia (DAE), pela oportunidade de realizao do

    Mestrado.

    Aos professores do Departamento de Administrao e Economia (DAE).

    professora Rosa Teresa Moreira Machado, minha orientadora, pela

    pacincia na orientao, ensinamentos incentivo que tornaram possvel

    concluso desta dissertao.

    Aos professores Armindo dos Santos de Sousa Teodsio e Daniela

    Meirelles Andrade por seus ensinamentos, pacincia confiana, que foram

    essenciais para o trmino das minhas atividades. um prazer t-los na banca

    examinadora.

    A FEAM pela disponibilizao dos questionrios utilizados na pesquisa.

    s amigos colegas da Sala Verde Trs Coraes e Secretaria

    Municipal de Meio Ambiente, pelo incentivo pelo apoio constante, somos uma

    equipe.

    Aos catadores de material reciclvel de Trs Coraes, em espacial ao

    Seu Sebastio e a Dona Selenita, que compartilharam um ideal e possibilitaram

    o incio da ACAMTC.

    Aos tcnicos e a toda equipe do INSEA pelo trabalho que realizam em

    apoio aos catadores e coleta seletiva, e em especial pela continuidade de um

    trabalho iniciado no municpio de Trs Coraes.

  • RESUMO

    A prtica de coleta seletiva, em parceria com associaes de catadores

    (ACs), est prevista na Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS),

    entretanto, ainda um desafio coordenar a gesto desses servios nos municpios

    com a incluso social dos catadores. So os objetivos desta pesquisa descrever como vem sendo implantada a coleta seletiva no municpio de Trs Coraes em

    relao gesto dos resduos slidos urbanos (RSU) e a implantao da PNRS.

    Procurou-se, tambm,demonstrar a realidade dos municpios do Sul de Minas Gerais que fazem parte da Superintendncia Regional de Meio Ambiente Sul de

    Minas (SUPRAM Sul), para situar e caracterizar a realidade deTrs

    Coraes,levando em considerao o universo da pesquisa de acordo com uma realidade mais ampla. Para tanto, foi realizado um levantamento das polticas

    pblicas de apoio aos catadores em nvel Federal e no Estado de Minas Gerais, e

    a anlise descritiva de dados do questionrio situacional da coleta seletiva

    aplicado pela Fundao Estadual de Meio Ambiente (FEAM) nos anos de 2014 e 2015. Os dados foram levantados por meio de observao participante, anlise

    documental, anlise de relatrios, pesquisa em stios eletrnicos dos governos e

    pela participao em reunies e seminrios. A anlise dos dados foi por triangulao de mtodos, buscando articulao entre as informaes coletadas.

    As categorias de anlise em relao aos municpios que possuem coleta seletiva

    com parceria de ACs foram: operao da coleta seletiva, apoio de instituio na

    implantao e ampliao da coleta seletiva, gesto da coleta seletiva e dificuldades da coleta seletiva. Verificou-se que essencial o acompanhamento

    dos indicadores de coleta seletiva pelas prefeituras e o cumprimento das metas

    dos Planos de Gerenciamento de Resduos, j que o maior problema apresentado nos municpios a baixa participao da populao. Especificamente em Trs

    Coraes deve-se criar alternativas para a destinao dos resduos orgnicos.

    Concluiu-se que as parcerias externas so essenciais realizao da coleta seletiva em parceria com ACs, e em especial, ficou claro o protagonismo da

    parceria doInstituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentvel (INSEA) nos

    municpios do Sul de Minas Gerais. O acompanhamento de indicadores de

    funcionamento do programa de coleta seletiva deve ser realizado pelas prefeituras, para garantir eficincia em seus programas.

    Palavras-Chave: Coleta Seletiva. Catadores. Poltica Pblica. Poltica Nacional

    de Resduos Slidos (PNRS). Resduos Slidos Urbanos (RSU). Parceria.

  • ABSTRACT

    The practice of selective collection in partnership with associations of

    wastepickers (AW) is specified in the National Solid Residue Policy (PNRS). However, it is still a challenge to coordinate the management of these services in

    the municipalities, with the social inclusion of the wastepickers. The objectives

    of this research are to describe how the selective collection has been implemented in the municipality of Trs Coraes regarding the management of

    urban solid residue (USR), and the implementation of the PNRS. We also sought

    to demonstrate the reality of the municipalities of southern Minas Gerais, Brazil,

    which are a part of the Regional Environment Superintendence of Southern Minas Gerais (SUPRAM Sul), in order to situate and characterize the reality of

    Trs Coraes, considering the universe of the research according to a broader

    reality. For this, we conducted a survey of the public policies supporting the wastepickers at a Federal level, as well as in the state of Minas Gerais. We also

    conducted a descriptive data analysis of the situational questionnaire of selective

    collection applied by the Environment State Foundation (FEAM) in the years of

    2014 and 2015. Data were surveyed by means of participant observation, document analysis, report analysis, searches in governmental websites, and

    participation in meetings and seminars. The data analysis was done by method

    triangulation, seeking the articulation between the collected information. The categories of analysis in relation to the municipalities presenting selective

    collection in partnership with the AW were: selective collection operation;

    institutional implementation support and expansion of the selective collection; selective collection management and difficulties in selective collection. We

    verified that it is essential that the City Hall monitor the selective collection

    indicators and the achievement of goals of the Residue Management Plans,

    given that the greatest issue presented in the municipalities is the low participation of the population. Specifically in Trs Coraes, alternatives must

    be created for the destination of organic residues. We concluded that external

    partnerships are essential to performing selective collection in partnership with the AW. The prominence of the partnership of the Nenuca Institute of

    Sustainable Development (INSEA) in the municipalities of southern Minas

    Gerais became clear. The accompaniment of functionality indicators of the selective collection program must be conducted by the City Halls, in order to

    ensure the efficiency of the programs.

    Keywords: Selective Collection. Wastepicker Organizations. Public Policy.

    National Solid Residue Policy (PNRS). Urban Solid Residue (USR). Partnership.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Quadro 1 Sntese da estrutura metodolgica ................................................ 25

    Quadro 2 Dispositivos jurdicos de apoio aos catadores Nvel Federal....... 57

    Quadro 3 Dispositivos Jurdicos de apoio aos catadores do Estado de

    Minas Gerais ............................................................................... 61

    Grfico 1 Resumo da composio gravimtrica de Trs Coraes ................ 80

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Quantidade de material triado por associaes entre 2012 e

    2014 pelas ACs que recebem o Bolsa Reciclagem Minas

    Gerais.......................................................................................... 65

    Tabela 2 Percentual de municpios pesquisados por faixa populacional ....... 68

    Tabela 3 Dificuldades da coleta seletiva por municpios ............................. 69

    Tabela 4 Gesto dos Resduos Slidos Urbanos e a PNRS .......................... 70

    Tabela 5 Municpios por ano de implantao da coleta seletiva ................... 72

    Tabela 6 Porcentagem de material coletado seletivamente em relao

    ao total de lixo coletado nos municpios ....................................... 73

    Tabela 7 Comercializao dos materiais reciclveis .................................... 74

    Tabela 8 Apoio de instituio na implantao ou ampliao da coleta

    seletiva ........................................................................................ 76

    Tabela 9 Particularidadesda gesto da coleta seletiva existentes nos

    municpios................................................................................... 77

    Tabela 10 Dificuldades da coleta seletiva por quantidade de municpios ....... 78

    Tabela 11 Mdia de material coletado mensalmente pela coleta seletiva

    de Trs Coraes por ano............................................................. 92

  • LISTA DE SIGLAS

    ACs Associao de Catadores

    ACAMAR Associao de Catadores de Material Reciclvel de Lavras

    ACAMTC Associao de Catadores de Material Reciclvel de Trs

    Coraes

    ACETC Associao Comercial e Empresarial de Trs Coraes

    ANPAD Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em

    Administrao

    ATREMAR Associao Trespontana de Catadores de Material Reciclvel

    BNDS Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social

    CBO Cadastro Brasileiro de Ocupaes

    CEDIF Conselho Estadual de Direitos Difusos

    CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem

    CNDT Certido Negativa de Dbitos Trabalhistas

    CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

    COPAM Conselho Estadual de Poltica Ambiental

    CS Coleta Seletiva

    DN Deliberao Normativa

    ENANPPAS Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em

    Ambiente e Sociedade

    EPI Equipamentos de Proteo Individual

    FEAM Fundao Estadual de Meio Ambiente

    FGTS Fundo de Garantia por Tempo de servio

    FIP Fundao Israel Pinheiro

    FNLC Frum Nacional do Lixo e Cidadania

    FUNASA Fundao Nacional de Sade

    FUNDIF Fundo Estadual de Direitos Difusos

  • GC Gesto de Contratos

    IPTU Imposto Predial Territorial Urbano

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    INSEA Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentvel

    INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

    LLCA Lei de Licitaes e Contratos Administrativos

    MNCR Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclvel

    MROSC Marco Regulatrio das Organizaes da Sociedade Civil

    ONG Organizao No-Governamental

    PERS Poltica Estadual de Resduos Slidos

    PEV Ponto de Entrega Voluntria

    PGIRS Plano de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos

    PGIRSU Plano de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos Urbanos

    PMGIRS Planos Municipais de Gesto Integrada de Resduos Slidos

    PNSB Poltica Nacional de Saneamento Bsico

    PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos

    PPPs Parcerias Pblico-Privadas

    PSAU Pagamento por Servios Ambientais Urbanos

    RAC Revista de Administrao Contempornea

    RAP Revista de Administrao Pblica

    RAE Revista de Administrao de Empresas

    RMSP Regio Metropolitana de So Paulo

    RSU Resduos Slidos Urbanos

    SEDRU Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Poltica

    Urbana e Gesto Metropolitana

    SEMAD Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento

    Sustentvel

    SEMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente

  • SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente

    SNIS Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento

    SUPRAM Superintendncia Regional de Meio Ambiente

    SUPRAM Sul Superintendncia Regional de Meio Ambiente do Sul de Minas

    UTC Usinas de Triagem e Compostagem

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................. 15

    1.1 Objetivo geral................................................................................. 19

    1.2 Objetivos especficos ...................................................................... 19 1.3 Justificativa .................................................................................... 20

    1.4 Estrutura da dissertao ................................................................ 22

    2 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS.................................. 24 2.1 Tipo de pesquisa............................................................................. 26

    2.2 Coleta de dados .............................................................................. 26

    2.3 Tratamento e anlise de dados ...................................................... 29

    3 GESTO SOCIOAMBIENTAL DE RESDUOS SLIDOS URBANOS ..................................................................................... 32

    3.1 Polticas ambientais ....................................................................... 32

    3.2 Desafios da implantao da Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS) nos municpios...................................................... 34

    3.3 Coleta Seletiva Socioambiental ...................................................... 38

    3.4 A realidade dos catadores de material reciclvel e o funcionamento de suas organizaes ............................................. 43

    3.4.1 Realidade dos catadores de material reciclvel ............................ 43

    3.4.2 O funcionamento das organizaes de catadores .......................... 45

    3.5 Catadores de material reciclvel como prestadores de servio pblico ............................................................................................ 48

    3.6 Redes de Catadores ........................................................................ 51

    3.7 Novas perspectivas em gesto de resduos slidospara os municpios ...................................................................................... 52

    4 INSTRUMENTOS JURDICOS DE APOIO AOS CATADORES ................................................................................ 56

    4.1 Polticas pblicas de incluso dos catadores em nvel Federal ..... 56

    4.2 Polticas pblicas de gesto de resduos slidos e incluso dos

    catadores do Estado de Minas Gerais ........................................... 60

    5 GESTO SOCIOAMBIENTAL DE RESDUOS SLIDOS URBANOS (RSU) NOS MUNICPIOS DO SUL DE MINAS

    GERAIS ......................................................................................... 67

    5.1 Dificuldades dos municpios para a manuteno da coleta seletiva ............................................................................................ 69

    5.2 Gesto dos Resduos Slidos Urbanos e a PNRS ........................... 70

    5.3 Coleta seletiva nos municpios de Minas que fazem parte da SUPRAM Sul de Minas ................................................................. 71

    5.3.1 Ano de implantao da coleta seletiva ........................................... 71

  • 5.3.2 Percentagem de material coletado seletivamente em relao quantidade de lixo da coleta convencional .................................... 72

    5.3.3 Comercializao dos materiais reciclveis .................................... 74

    5.4 Especificidades dos municpios com coleta seletiva em

    parceria com as Associaes de Catadores (AC) que fazem

    parte da SUPRAM Sul de Minas Gerais ....................................... 75

    5.4.1 Operao da coleta seletiva com catadores ................................... 75

    5.4.2 Apoio de instituies na implantao ou ampliao da coleta seletiva com catadores ................................................................... 76

    5.4.3 Gesto da coleta seletiva com catadores ........................................ 77

    5.4.4 Dificuldades da coleta seletiva com catadores ............................... 78

    6 GESTO SOCIOAMBIENTAL DE RESDUOS SLIDOS

    URBANOS NO MUNICPIO DE TRS CORAES E AS

    POLTICAS DE APOIO AOS CATADORES ............................. 79

    6.1 Gesto de RSU no municpio de Trs Coraes e as polticas pblicas....................................................................... 82

    6.2 Coleta seletiva em parceria com a Associao de Catadores de

    Material Reciclvel de Trs Coraes(ACAMTC) ....................... 83 6.3 Operao da coleta seletiva no municpio de Trs Coraes ........ 85

    6.4 Apoio e parcerias na implantao e manuteno da coleta

    seletiva de Trs Coraes ............................................................... 85 6.5 Gesto da coleta seletiva no municpio de Trs Coraes ............. 88

    6.6 Dificuldades da coleta seletiva em Trs Coraes: discusso

    final................................................................................................. 92

    7 CONSIDERAES FINAIS .......................................................... 95 REFERNCIAS............................................................................. 105

    ANEXOS ........................................................................................ 113

  • 15

    1 INTRODUO

    Com a promulgao da Constituio Federal em 1988, a competncia de

    legislar sobre a gesto dos Resduos Slidos Urbanos (RSU), atividade at ento

    exclusiva da Unio, passou a ser tambm municipal, com a possibilidade de

    participao dos municpios na formulao de legislaes referentes s questes

    ambientais. Alm do servio de limpeza pblica, os municpios passaram a ficar

    responsveis por outrosservios locais de gesto dos resduos slidos urbanos.

    Com a aprovao da Lei que intitui a Poltica Nacional de Resduos Slidos

    (PNRS) de 02 de agosto de 2010, aprovada aps cerca de 20 anos de discusses,

    o desafio operacional inicial para implantar essa poltica ficou efetivamente sob

    a responsabilidade das prefeituras.

    A PNRS, foi regulamentada pelo Decreto n 7.404 de 23 de dezembro

    de 2010. Na mesma data, tambm foi publicado o Decreto n 7.405, instituindo o

    Programa Pr-Catador para assegurar a participao dos catadores nessa poltica.

    Como previsto nesse decreto, foi criado o Comit Interministerial para Incluso

    Social e Econmica dos Catadores de Materiais Reutilizveis e Reciclveis.

    De acordo com a PNRS, embora a gesto dos resduos tenha se tornado

    de responsabilidade compartilhada, com a participao de todos os atores

    envolvidos no ciclo de vida dos produtos, a sua efetivao requer ainda

    mecanismos e instrumentos econmico-financeiros que contribuam para a

    implementao da lei. Aes de educao ambiental e mobilizao da

    populao, realizadas pelo poder pblico municipal so importantes nesse

    processo. E a ao dos catadores de material reciclvel, na prestao de servio,

    essencial para concretizar a incluso preconizada na lei.

    Aps a aprovao da PNRS, os municpios brasileiros passarama ter

    desafios e mecanismos indutores de aes para viabizar a gesto dos resduos

    slidos, incluindo a eliminao dos lixes, com a disposio dos rejeitos em

  • 16

    aterros sanitrios, implantao da logstica reversa e elaborao de Planos

    Municipais de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos (PGIRS), metas

    que devem ser cumpridas em nvel local. Mecanismos de induo da coleta

    seletiva com catadores e a formalizao de consrcios pblicos intermunicipais

    esto tambm presentes na lei, assim como a disponibilizao de recursos para

    municpios que elaborem seus PGIRS.

    A responsabilidade compartilhada prevista na PNRS trs como desafio a

    contribuio de todos os protagonistas sociais para a concretizao dessa lei.

    Desse modo, embora implantar efetivamente a PNRS dependa de iniciativas

    locais, h que se ter capacidade de coordenao do setor pblico, em seus

    diferentes nveis, para que todos os agentes se articulem num processo que

    comea com a incluso socioambiental dos catadores.

    A coleta seletiva a etapa da gesto de resduos slidos urbanos que est

    diretamente relacionada com a situao dos catadores de material reciclvel.

    Assim, de acordo com a PNRS, a meta de acabar com os lixes tem relao com

    a incluso dos catadores no sistema formal de limpeza pblica. Para tanto, as

    prefeituras devem incentivar a coleta seletiva por meio de parcerias com

    catadores formalmente organizados em associaes e/ou cooperativas.

    Dados do Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento (SNIS)

    sobre o diagnstico do manejo de resduos slidos no pas, demonstram que a

    coleta seletiva atinge menos de 20% dos municpios. No entanto, a recuperao

    de materiais recolhidos por este tipo de coleta inferior a 1,5% do total dos

    resduos domiciliares coletados. Esta pesquisa tem dados especficos da coleta

    seletiva realizada pelo realizada por prefeituras ou ACs parceiras dos municpios

    (BRASIL, 2014a).

    As informaes referentes ao ano de 2013, obtidas em pesquisa

    realizada junto aos municpios brasileiros pela Associao Brasileira de

    Empresas de Limpeza Pblica e Resduos, que compem o Panorama de

  • 17

    Resduos Slidos no Brasil, so de que pouco mais de 62% dos municpios

    registrou alguma iniciativa de coleta seletiva. Fica claro na pesquisa que, apesar

    da quantidade de municpios com iniciativa de coleta seletiva ser expressiva, as

    atividades no abrangem a totalidade do territrio ou da populao do municpio

    (ASSOCIAO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PBLICA E

    RESDUOS ESPECIAIS, 2013).

    Portanto, o problema de pesquisa tem relao com o desafio da

    implantao efetiva da coleta seletiva, em especial dos municpios do Sul de

    Minas Gerais, conforme as condies estabelecidas pela PNRS com a incluso

    dos catadores organizados em associaes de catadores (ACs).

    Na fase inicial do projeto desta pesquisa, foi realizada uma reviso

    sistemtica de artigos com a seleo de trabalhos publicados sobre os catadores

    de material reciclvel e suas organizaes, visando identificar o que vem sendo

    estudado e, com isso, identificar as dificuldades e avanos dessa categoria de

    trabalhadores, alm das lacunas de pesquisa. Os textos foram selecionados de

    acordo com os problemas, os objetivos, as metodologias, as teorias e os

    conceitos desenvolvidos, e os principais resultados evidenciados. Procurou-se

    agrup-los para efeito de anlise, interpretao e categorizao dos textos,

    segundo suas semelhanas. O procedimento tcnico de levantamento

    bibliogrfico aconteceu durante o perodo de 30/05/2014 16/06/2014 nas bases

    de dados do Banco de Teses da Capes e SCIELO (Scientific Eletronic Library

    Online) dos ltimos anos. Foram selecionados 29 (vinte e nove) artigos e

    trabalhos referentes a pesquisas atuais sobre o tema, localizados em buscas

    realizadas atravs das palavras chave: catadores de material reciclvel e

    organizaes de catadores de material reciclvel. Verificou-se que a relao

    entre os catadores de material reciclvel e a PNRS estava presente em 21% dos

    estudos. Dessa reviso preliminar, percebeu-se que estudos relacionados coleta

    seletiva de resduos reciclveis, tema tratado em apenas 10% das referncias

  • 18

    verificadas na reviso sistemtica, era menos frequente. A partir desse

    levantamento, ficou patente que a coleta seletiva de resduos reciclveis era

    ainda uma lacuna de pesquisa, merecedora, portanto, de mais estudos.

    Buscando descrever a realidade da gesto socioambiental dos resduos

    slidos urbanos de Trs Coraes e o histrico da implantao da coleta seletiva

    no municpio, so apresentadas as caractersticas dessa coleta de resduos

    referentes questo operacional e de gesto da coleta seletiva, em relao s

    parcerias e apoio externos e as dificuldades de manuteno da coleta seletiva.

    Realizou-se, nesta pesquisa, buscas em stios eletrnicos do governo e de rgos

    representativos de empresas privadas, pesquisa em documentos oficiais e em

    relatrios de gesto de resduos, observao participante, e participao em

    seminrios sobre coleta seletiva solidria.

    Outra fonte importante sobre aa realidade dos municpios que fazem

    parte da Superintendncia Regional de Meio Ambiente Sul de Minas (SUPRAM

    Sul) que possuem coleta seletiva implantada e que possam servir de modelo para

    mudanas ou melhorias na gesto da coleta seletiva no municpio de Trs

    Coraes, foram os questionrio aplicado pela FEAM junto aos representantes

    dos rgos pblicos locais responsveis pela gesto dos resduos de 52

    (cinquenta e dois) municpios nos anos de 2014 e 2015 do Sul de Minas.

    A participao dos municpios brasileiros em programas de coleta

    seletiva ainda limitada, como verificado nas pesquisas da Associao

    Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais (2013) e do

    SNIS referente ao ano de 2012. O prazo estabelecido pela lei para os municpios

    eliminarem os lixes estava previsto para agosto de 2014, mas foi prorrogado e

    dever acontecer nasdatas-limite que variam entre 2018 e 2021.

    Percebe-se que o desafio proposto pela PNRS atinge a todos envolvidos

    na responsabilidade compartilhada: catadores e agentes pblicos, principalmente

    os de nvel municipal e o setor privado, assim como a sociedade civil. Entende-

  • 19

    se que este desafio ainda maior para a maioria dos pequenos e mdios

    municpios dispersos pelo interior do pas, onde a gesto pblica no to

    aparelhada como a das grandes cidades. Este trabalho portanto um diagnstico

    geral da situao da coleta seletiva (CS) no Sul de Minas e uma descrio mais

    detalhada do caso do municpio de Trs Coraes que procurou se adequar

    legislao vigente, em nvel estadual, ainda antes da aprovao da PNRS.

    Pretende-se responder as seguintes questes: Como ocorre a gesto dos

    RSU em relao a PNRS e a coleta seletiva nos municpios do Sul de Minas em

    parceria com suas associaes de catadores? Como o municpio de Trs

    Coraes est realizando a gesto de seus resduos slidos urbanos em parceria

    com a associao de catadores local com base nas diretrizes das polticas

    pblicas em nvel Federal, Estadual e Municipal e em relao a outros

    municpios do Sul de Minas? Os catadores de material reciclvel esto sendo

    includos na gesto compartilhada dos resduos solidos conforme preconiza a

    PNRS?

    Os objetivos descritos a seguir foram definidos a partir das questes de

    pesquisa.

    1.1 Objetivo geral

    Analisar como ocorre a coleta seletiva em parceria com catadores de

    material reciclvel no Sul de Minas de acordo com a PNRS.

    1.2 Objetivos especficos

    a) Identificar e analisar os instrumentos jurdicos disponveis em nvel

    federal e do estado de Minas Gerais para realizao da incluso

    socioprodutiva dos catadores de materiais reciclveis;

  • 20

    b) Descrever e analisar a gesto socioambiental de resduos slidos

    urbanos e a situao da coleta seletiva nos municpios do Sul de

    Minas Gerais com base nas diretrizes das polticas pblicas em nvel

    Federal, Estadual e municipal e em relao a outros municpios;

    c) Descrever e analisar o panorama da coleta seletiva no municpio de

    Trs Coraes e o modelo de parceria adotado junto Associao

    de Catadores de Material Reciclvel de Trs Coraes ACAMTC.

    1.3 Justificativa

    A escolha do municpio de Trs Coraes, como objeto principal deste

    estudo, se deve ao fato de a pesquisadora ser funcionria do municpio de Trs

    Coraes, sendo responsvel pela elaborao do Plano de Gerenciamento de

    Resduos Slidos Urbanos do municpio e ter participado diretamente da etapa

    de formao e estruturao da Associao de Catadores de Material Reciclvel

    de Trs Coraes (ACAMTC) em 2007.

    A necessidade de manuteno da coleta seletiva no municpio e a busca

    por experincias bem sucedidas de gesto e parcerias entre as prefeituras e a AC

    ou junto aos parceiros externos o primeiro passo para que, em uma prxima

    etapa, se possa pensar na ampliao da coleta seletiva no municpio, atingindo

    mais bairros e recuperando uma quantidade maior de material reciclvel.

    Naquela poca, a pesquisadora atuava na funo de Coordenadora da

    Sala Verde Trs Coraes, que um centro de referncia municipal em

    educao ambiental.

    A Sala Verde Trs Coraes ficou responsvel por ministrar um curso

    de formao e capacitao aos catadores de materiais reciclveis que

    trabalhavam nas ruas do municpio e que fundaram a ACAMTC. Atravs da

    parceria entre a Associao Comercial e Empresarial (ACE) do Municpio e a

  • 21

    prefeitura, foram implantados os projetos: Sala Verde nas Escolas e Projeto de

    Pontos de Entrega Voluntria (PEV) de reciclveis. Atravs desses projetos,

    iniciaram-se as atividades de coleta seletiva no municpio em parceria com os

    catadores da ACAMTC. Em 2011, como funcionria da Secretaria Municipal de

    Meio Ambiente, a pesquisadora participou da etapa de planejamento da

    ampliao da coleta seletiva no municpio e, em 2013, como Secretria

    Municipal de Meio Ambiente, foi responsvel pela contratao da ACAMTC

    para realizar a Coleta Seletiva no municpio.

    Em 2014, aps um ano prestando servios de coleta seletiva para a

    prefeitura de Trs Coraes, a ACAMTC apresentou dificuldades de gesto no

    possuindo a documentao necessria para ser um empreendimento apto a

    manter um contrato com a prefeitura de Trs Coraes. As dificuldades

    verificadas nesse perodo de renovao do contrato da ACAMTC com a

    prefeitura motivaram o desenvolvimento da pesquisa que faz parte de um

    Mestrado Profissional. Um dos desafios da pesquisa, foi a necessidade de um

    distnciamento da pesquisadora de suas atividades profissionais, para que no

    influenciassem ou direciona-se a pesquisa.

    Desse modo, constatada a necessidade de estudos aprofundados de casos

    de municpios com experincias em coleta seletiva em parceria com

    organizaes de catadores de material reciclvel, em relao aos aspectos

    prticos pretende-se colaborar com o desafio de organizar a coleta seletiva sob a

    responsabilidade das prefeituras e contribuir na incluso socioprodutiva dos

    catadores.

    Ao questionar o modelo de coleta seletiva de resduos com a

    participao dos catadores, esta pesquisa pretende contribuir com a efetiva

    incluso dos catadores de material reciclvel preconizada na PNRS, fornecendo

    subsdios para a contratao dos seus servios para realizar a coleta seletiva. Ao

  • 22

    mesmo tempo, busca-se contribuir com o poder pblico municipal enquanto

    agente transformador da realidade local na articulao dessa poltica pblica.

    1.4 Estrutura da dissertao

    A metodologia est descrita no Captulo 2 quanto ao tipo de pesquisa, s

    tcnicas de coleta e anlise dos dados.

    O terceiro captulo trata da reviso da literatura, com nfase na

    sistematizao de trabalhos sobrea coleta seletiva socioambiental, a realidade

    dos catadores de material reciclvel e o funcionamento de suas organizaes. Os

    catadores de material reciclvel como prestadores de servio pblico, as redes de

    catadores e as novas perspectivas em gesto de resduos slidos dos municpios

    so temas mais recentes dessa realidade apresentados neste captulo.

    No Captulo 4, foram explorados stios dos governos, documentos e

    referncias bibliogrficas sobre as polticas pblicas de apoio aos catadores em

    nvel federal e do estado de Minas Gerais, assim como as polticas pblicas de

    incluso dos catadores em nvel Federal e do Estado de Minas Gerais, alm da

    legislao vigente e regulamentaes que podem ser aplicadas na contratao e

    gesto de contratos e convnios dessas organizaes. No tem que trata das

    polticas pblicas do Estado de Minas Gerais salienta-seos incentivos coleta

    seletiva, como o Bolsa Reciclagem, que fez de Minas o primeiro Estado a pagar

    catadores por servios ambientais prestados.

    A gesto socioambiental de resduos slidos urbanos (RSU) e a situao

    atual da coleta seletiva nos municpios do Sul de Minas foram exploradas e

    apresentadas no Captulo 5, com base nosdados dos questionrios preenchidos

    em uma pesquisa realizada pela FEAM, em municpios que fazem parte da

    SUPRAM Sul de Minas, e possuem algum histrico de coleta seletiva

    implantada. As especificidades dos municpios com coleta seletiva em parceria

  • 23

    com as Associaes de Catadores (ACs) que fazem parte da SUPRAM Sul de

    Minas, foram descritas em relao s seguintes categorias de anlise: operao

    da coleta seletiva, apoio de instituio na implantao ou ampliao da coleta

    seletiva, gesto da coleta seletiva e dificuldades da coleta seletiva.

    No Captulo 6, descreve-se a gesto socioambiental de Resduos Slidos

    Urbanos no municpio de Trs Coraes e as polticas de apoio coleta seletiva

    em parceria com a Associao de Catadores de Material Reciclvel de Trs

    Coraes (ACAMTC), segundo as mesmas categorias de anlise utilizadas no

    captulo anterior.

    Buscando aprofundar o estudo de caso da gesto socioambiental de RSU

    do municpio de Trs Coraes, no Captulo 7, das consideraes finais, alm de

    apresentar os seus principais resultados, so tecidas comparaes com a situao

    dos resultados dos municpios que fazem parte da Supram Sul de Minas.

    Indicam-se diretrizes para a melhoria da coleta seletiva no municpio de Trs

    Coraes, com orientaes para a reorganizao do sistema de coleta seletiva

    municipal, temas que merecem ser mais desenvolvidos em novos estudos e

    consideraes que possam contribuir possivelmente com outros municpios que

    enfrentam entraves na implantao da PNRS e coleta seletiva com catadores.

  • 24

    2 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

    Nas prximas sees, descrevem-se a metodologia utilizada, o tipo de

    pesquisa, as tcnicas de coleta e a anlise dos dados.

    Para facilitar a compreenso da pesquisa, apresentado no Quadro 1

    uma sntese da estrutura terico metodolgica.

  • 25

    Questes de pesquisa: Como os municpios do Sul de Minas Gerais esto

    implantando a coleta seletiva em parceria com as associaes de catadores?

    Como o municpio de Trs Coraes est realizando a gesto de seus resduos slidos urbanos em parceria com a ACAMTCcom base nas diretrizes das polticas pblicas

    em nvel Federal, Estadual e Municipal e em relao a outros municpios do Sul de

    Minas Gerais?

    Os catadores de material reciclvel esto sendo includos na gesto compartilhada

    dos resduos solidos conforme preconiza a PNRS?

    Objetivo Geral: Descrever a siuao geral da coleta seletiva em parceria com

    catadores no Sul de Minas e mais especficamente no municpio de Trs Coraes.

    Objetivos especficos Tcnica de coleta e

    Fonte de pesquisa

    Tcnica de

    Anlise

    Identificar e analisar os instrumentos

    jurdicos disponveis em nvel federal

    e do Estado de Minas Gerais para a

    realizao da incluso socioprodutiva

    dos catadores de materiais

    reciclveis.

    Reviso bibliogrfica e

    documental.

    Busca em stios dos

    governos: Federal e

    Estadual.

    Anlise de

    documentos e

    leis.

    Sintetizar e descrever os questionrios situacionais da coleta

    seletiva aplicados pela FEAM entre

    2014 e 2015 nos municpios do Sul

    de Minas que possuem algum

    histrico de coleta seletiva.

    Questionrio situacional da coleta seletiva aplicado

    pela FEAM entre 2014 e

    2015 junto amunicpios

    com histrico de coleta

    seletiva que fazem parte da

    Regional Sul da

    SUPRAM.

    Estatstica descritiva.

    Analisar a gesto socioambiental de

    resduos slidos urbanos no

    municpio de Trs Coraes com

    base nas diretrizes das polticas

    pblicas em nvel Federal, Estadual e municipal e em relao a outros

    municpios do Sul de Minas.

    Observao participante e

    elaborao do PGIRS,

    anlise documental,

    anlise de relatrios,

    pesquisa em stios dos governos.

    Triangulao

    de Mtodos.

    Descrever o panorama da coleta

    seletiva no municpio de Trs

    Coraes e o modelo de parceria

    adotado junto Associao de

    Catadores de Material Reciclvel de

    Trs Coraes ACAMTC.

    Observao participante,

    anlise documental,

    anlise de relatrios de

    gesto, pesquisa em stiodo

    governo, participao em

    reunies e seminrios,

    anlise do questionrio da

    FEAM

    Triangulao

    de Mtodos

    Quadro 1 Sntese da estrutura metodolgica

    Fonte: Elaborao prpria

  • 26

    2.1 Tipo de pesquisa

    A pesquisa qualitativa quanto abordagem do assunto para atender os

    objetivos propostos. exploratria e descritiva, pois visa proporcionar maior

    familiaridade com os desafios da gesto pblica municipal no Sul de Minas

    Gerais por meio da coleta seletiva com incluso social. A pesquisa exploratria

    busca informaes sobre um problema ou questo de pesquisa, baseada em

    informaes ou experincias buscando a familiaridade com o assunto. A

    descrio das caractersticas de um determinado problema ou questo realizada

    na pesquisa descritiva (COLLIS; HUSSEY, 2005).

    2.2 Coleta de dados

    O levantamento de dados foi realizado em trs etapas: reviso

    bibliogrfica e documental, levantamento de dados dos questionrios

    situacionais da coleta seletiva aplicados pela FEAM entre 2014 e 2015 dos

    municpios com histrico de coleta seletiva que fazem parte da Regional Sul da

    SUPRAM e o estudo do caso de Trs Coraes em relao s categorias de

    anlise: operao da coleta seletiva, apoio institucional e organizacional na

    implantao e ampliao da coleta seletiva, gesto da coleta seletiva e

    dificuldades da coleta seletiva. As categorias de anlise foram extradas de dados

    disponveis nos questionrios da FEAM, que em sua maioria estavam

    incompletos. A experincia da pesquisadora na gesto da coleta seletiva no

    municpio de Trs Coraes possibilitou a definio das categorias de anlise

    apesar da inclompletude dos dados,por meio dos problemas verificados em

    estudos e na realiade do municpio de Trs Coraes.

    Na primeira etapa, realizou-se uma reviso sistemtica da literatura

    buscando trabalhos nas bases de dados do Banco de Teses da Capes, com as

  • 27

    seguintes palavras chaves: catadores de material reciclvel, organizaes,

    cooperativas ou associaes de catadores de material reciclvel e coleta seletiva.

    A reviso sistemticautiliza mtodos explcitos e sistemticos para identificar,

    selecionar e avaliar criticamente os estudos, e para coletar e analisar os dados

    destes estudos includos na reviso (CASTRO, 2001).

    O levantamento bibliogrfico aconteceu durante o perodo de

    30/05/2014 a 16/06/2014.

    Aps a qualificao foi realizado outro levantamento bibliogrfico

    conforme orientao dos membros da banca dequalificao. Realizou-se busca

    em livros, peridicos, ANAIS de congressos e revistas cientficas do pas como

    o Spell da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao

    (ANPAD), Revista de Administrao Contempornea (RAC), Revista de

    Administrao Pblica (RAP), Revista de Administrao de Empresas (RAE),

    Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Ambiente e Sociedade

    (ENANPPAS), para complementar o referencial terico.As buscas foram feitas

    com nfase nas palavras-chave: gesto municipal de resduos, coleta seletiva,

    autogesto, gesto de resduos, gesto por contratos, associao de catadores,

    organizao de catadores.

    No levantamento documental, pesquisou-se em stios eletrnicos dos

    governos Federal, do Estado de Minas Gerais e do municpio de Trs Coraes,

    documentos e legislaes referentes incluso scioprodutiva dos catadores de

    material reciclvel e informaes sobre a gesto dos resduos slidos urbanos.

    Dentre os documentos selecionados, foram ressaltados o Plano de

    Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos do Municpio de Trs Coraes, o

    Plano Municipal de Saneamento Bsico do municpio de Trs Coraes e o

    Plano Estadual de Coleta Seletiva do Estado de Minas Gerais, por apresentarem

    informaes sobre a gesto dos RSU nos municpios. Alm disso, foram

    efetuados contatos por telefone e encaminhados e-mails com solicitao de

  • 28

    informaes ao Centro Mineiro de Referncia em Resduos (CMRR), por serem

    responsveis pela gesto do Bolsa Reciclgem e aos tcnicos do Instituto

    Nenuca de Desenvolvimento Sustentvel (INSEA), por sua atuao na gesto da

    coleta seletiva nosmunicpios do sul de Minas Gerais, e por serem parceiros do

    municpio de Trs Coraes nessa gesto em parceria com os catadores.

    Ao final, decidiu-se optar por um diagnstico geral da situaoda coleta

    seletiva (CS) no Sul de Minas e uma descrio mais detalhada do caso do

    municpio de Trs Coraes. Essa deciso ocorreu a partir do momento que se

    teve acesso noticia no sitio da Fundao Estadual de Meio Ambiente(FEAM)

    sobre o diagnstico da coleta seletiva em Minas, que foi realizado com a

    aplicao do questionrio situacional da coleta seletiva nos anos de 2014 e 2015

    por essa Fundao e pela Fundao Israel Pinheiro(FIP). Os questionrios foram

    aplicados em 223 municpios do Estado de Minas Gerais nos quais havia notcia de

    alguma iniciativa de coleta seletiva.

    Embora os dados desses questionrios ainda no tivessem sido tratados

    ou tabulados, o gerente de Resduos Slidos Urbanos da (FEAM) disponibilizou

    prontamente os questionrios digitalizados por e-mail para a realizao da

    pesquisa. Para os 171 municpios sob a jurisdio da Superintendncia Regional

    de Regularizao Ambiental (SUPRAM) Sul de Minas, a FEAM encaminhou

    questionrios para apenas 57 municpios. Destes, 52 deram retorno do

    questionrio,embora com muitos problemas no seu preenchimento. O modelo

    do questionrio est no Anexo A.

    Para Collis e Hussey (2005), os mtodos usados para coletar dados num

    estudo de caso podem ser mltiplos e utilizar dados tanto qualitativos quanto

    quantitativos. Assim, para a diagnstico geral da coleta seletiva no Sul de Minas,

    utilizou-se de estatstica descritiva de dados extrados do questionrio da

    FEAM/FIP, complementados com descries de natureza qualitativa no caso de

    Trs Coraes.

  • 29

    A coleta de dados referente ao caso de Trs Coraes foi realizada por

    meio da observao participante (a pesquisadora atuava como funcionria

    pblica municipal de Trs Coraes), da pesquisa em documentos oficiais e

    relatrios de gesto de resduos e pela busca de informaes no Plano de

    Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos Urbanos (PGIRSU) do

    municpio.

    Para o desenvolvimento da pesquisa, houve a participao em reunies

    da ACAMTC e em seminrios sobre coleta seletiva, realizados pelo INSEA.O

    conhecimento adquiridoaolongo da vida profissional da pesquisadora

    influenciou na definio das categorias de anlise. As informaes presentes no

    questionrio da FEAM e preenchidas pelo municpio de Trs Coraes em 2014

    foram atualizadas a partir de indagaes junto aos tcnicos do INSEA e do

    municpio (Gestor de Contratos) que acompanham a coleta seletiva atualmente,

    e pelas informaes da presidente da ACAMTC, pois as respostas ao

    questionrio estavam incompletas.

    2.3 Tratamento e anlise de dados

    Os instrumentos jurdicos disponveis em nvel Federal, no Estado de

    Minas Gerais e no municpio de Trs Coraes para a realizao da incluso

    socioprodutiva dos catadores de materiais reciclveis foram identificados,

    descritos e analisados com base em documentos e legislaes disponveis em

    stios dos governos.

    Os 52 questionrios situacionais da coleta seletiva preenchidos entre

    2014 e 2015, e que a FEAM disponibilizou para este estudo, correspondem a

    30,41% dos 171 municpios da rea de abrangncia da Regional Sul da

    SUPRAM. Como esse questionrio foi enviado para 57 municpios que a FEAM

    tinha notcia (por sua parceria com a FIP e apoio aos municpios na implantao

  • 30

    da CS) da existncia de alguma iniciativa de coleta seletiva na regio, a

    proporo dos questionrios tabulados em planilha Excel corresponde portanto a

    91,2% desse total. Por meio de estatstica descritiva, foram apresentadas, em um

    primeiro momento, as caractersticas da gesto socioambiental de RSU nos

    municpios dos 52 questionrios preenchidos, as dificuldades de manuteno da

    coleta seletiva, a anlise da gesto dos RSU e a situao dos municpios em

    relao implantao da PNRS.

    Em um segundo momento, foram descritas e analisadas as caractersticas

    dos municpios que fazem parte da SUPRAM Sul de Minas e que possuem

    coleta seletiva em funcionamento. A estatstica descritiva foi utilizada para

    descrever e resumir os dados. Os dados foram tabulados em uma planilha Excel

    com a transformao das variveis qualitativas em valores numricos, em trs

    planilhas distintas: a primeira, com dados de todos os 52 muncipios com

    questionrios disponveis para a pesquisa. A segunda, com dados dos municpios

    que possuam coleta seletiva em funcionamento e a terceira apenas com os

    municpios que possuam coleta seletiva em parceria com catadores.

    Os dados foram descritos e resumidos em tabelas de acordo com as

    categorias de anlise de variveis qualitativas e suas contagens, apresentadas em

    frequncia. A experincia da pesquisadora em gesto municipal de RSU acabou

    influenciando o desenvolvimento das categorias de anlise, mas durante a

    anlise dos dados buscou-se manter um afastamento necessrio da pesquisadora

    como gestora publica, para que os resultados no fossem tendenciosos.

    As categorias da primeira planilha foram: ano de implantao da coleta

    seletiva, percentagem de material coletados seletivamente em relao

    quantidade coletada na coleta de lixo convencional e em relao

    comercializao dos materiais.

    Em relao aos municpios que possuem coleta seletiva com parceria de

    ACs, como no caso de Trs Coraes, as categorias foram: operao da coleta

  • 31

    seletiva, apoio de instituio na implantao e ampliao da coleta seletiva,

    gesto da coleta seletiva e dificuldades da coleta seletiva.

    Todas as categorias deanlise foram escolhidas pela pesquisadora por

    sua vivncia e atuao na gesto de coleta seletiva com catadores, adquirida no

    municpio de Trs Coraes. Entretando foram embasadas nas leituras efetuadas

    para elaborao da reviso terica e tambm em dados disponveis nos

    questionrios da FEAM.

    A triangulao de mtodos foi utilizada na anlise dos dados da gesto

    socioambiental de RSU no municpio de Trs Coraes. Os dados foram

    analisados com base nas diretrizes das polticas pblicas em nvel Federal,

    Estadual e em relao implantao daPNRSe com base tambm nas

    informaes dos questionrios da FEAM dos municpios do Sul de Minas.

    Na triangulao de mtodos para anlise de informaes, os dados so

    coletados de acordo comos diversos procedimentos adotados, e podem ser

    analisados de forma articulada em relao aos dados empricos, autores que

    tratam da temtica estudada e anlise de conjuntura, com as informaes

    contextualizadas, por exemplo, com a realidade mais ampla na qual est inserida

    (MARCONDES; VIEIRA; BRISOLA, 2014).

    Na anlise da coleta seletiva do municpio de Trs Coraes em parceria

    com a ACAMTC, utilizou-se a triangulao de mtodos. Os dados coletados por

    meio de questionrios; observao participante; busca em stios dos governos;

    documentos e legislaes foram descritos em relao s categorias de anlise

    desenvolvidas a partir de dados dos municpios com coleta seletiva em parceria

    com ACs, de acordo com as informaes sintetizadas dos questionrios da

    FEAM. Na triangulao,o mtodo quantitativo pode ser mobilizado para

    contextualizar estudos de pequena escala, a anlise de estatsticas oficiais pode

    fornecer a base para a identificao, por exemplo, de critrios de seleo

    (DUARTE et. al, 2009).

  • 32

    3 GESTO SOCIOAMBIENTAL DE RESDUOS SLIDOS URBANOS

    A implantao da coleta seletiva por meio da incluso dos catadores de

    material reciclvel uma das etapas, prevista na PNRS, que os municpios

    devem desenvolver para a implantao da gesto integrada de resduos de

    acordo com a PNRS. Neste capitulo procurou-se descrever os desafios da PNRS

    e da gesto socioambiental de resduos nos municpios.

    3.1 Polticas ambientais

    A promulgao de leis ambientais a partir da dcada de 90

    introduziu os temas relacionados ao meio ambiente na agenda politica nacional

    no Brasil (LITTLE, 2003). A presso das organizaes internacionais, do

    governo e da sociedade em relao demanda por uma maior qualidade

    ambiental fez com que o poder pblico municipal buscasse alternativas de

    preservao ambiental. A partir da resoluo 237/97 do Conselho Nacional de

    Meio Ambiente CONAMA, a avaliao dos impactos locais passou a ser

    competncia dos municpios, entretanto a principal responsabilidade dos

    governos municipais coordenar as aes e desenvolver, em conjunto com a

    comunidade, um pensamento coerente, visando preservao ambiental e ao

    desenvolvimento sustentvel (SCHNEIDER, 2000).

    A descentralizao poltica e o fortalecimento em alguns

    casos da autonomia municipal foram trazidos pela Constituio Brasileira de 1988. E especificamente em

    relao ao meio ambiente a Lei Federal n 6.938/81

    Poltica Nacional de Meio Ambiente com a formulao do

    Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA criou e

    implantou uma poltica pblica nos trs nveis institucionais,

    o federal, o estadual, e o municipal, induzindo a

    descentralizao e possibilitando que cada municpio

    defenda seu patrimnio natural ou cultural, e enfrente os

  • 33

    conflitos das tomadas de decises para resolver as suas

    prprias questes ambientais (PHILIPP JNIOR et al., 1999 p.20).

    A elaborao e implementao de polticas ambientais um processo

    que envolve diversos atores afetados pela problemtica ambiental. medida que

    os interesses desses grupos so divergentes desencadeado um processo de

    debates e aes. Nesse sentido, um desafio incorporar a participao efetiva

    dos diversos atores sociais na implementao das polticas pblicas(LITTLE,

    2003, p.18).

    As esferas de competncia para resoluo dos problemas relacionados

    politica ambiental podem ser de ordem local, estadual, nacional, continental e

    mundial. Em cada nvel (Unio, Estados e municpios) existem desafios e

    problemas especficos, que demandam mecanismos tambm especficos para

    atuao adequada em relao s normas e procedimentos ambientais. Os

    municpios podem desenvolver dispositivos legais mais exigentes e rigorosos

    que os Estados e a Unio para atender a constituio e garantir qualidade

    ambiental em seu territrio. O controle dos resduos slidos domsticos,

    industriais, comerciais e de servios de sade, envolvendo todas as atividades e

    processos do acondicionamento ao tratamento e disposio final, assim como as

    prticas de reduo, minimizao e recuperao dos resduos devem ser

    planejadas e gerenciadas localmente. Nesse sentido, os municpios devem

    estabelecer regras locais e diretrizes para a gesto dos resduos slidos urbanos

    (LITTLE, 2003; PHILLIP JNIOR, 1999).

  • 34

    3.2 Desafios da implantao da Poltica Nacional de Resduos Slidos

    (PNRS) nos municpios

    O crescimento urbano e o consumismo gerado por mudanas no padro

    de consumo contriburam para um aumento na gerao de resduos de diversos

    tipos e natureza, e que exigem um tratamento adequado e diferenciado de acordo

    com as caractersticas especficas de cada lixo (PHILIPPI JNIOR, 1999).

    O modelo de gesto integrada de resduos prev a cogesto dos resduos

    pelo poder pblico e pela sociedade, mas a responsabilidade pela coleta e

    destinao dos resduos da prefeitura de cada municpio. A coleta

    convencional de lixo deve ser realizada em todos os domiclios do municpio

    com regularidade. J a coleta seletiva facilita e estimula a reciclagem, uma vez

    que os materiais so coletados separadamente.

    Os custos dos servios de limpeza pblica podem corresponder em at

    15% do oramento municipal e envolvem desde a coleta at a destinao final

    dos resduos. A destinao final do lixo deve ser realizada em aterros sanitrios

    para evitar a contaminao da gua, do solo e do ar, que causada em lixes e

    aterros controlados (ABREU, 2001). Entretanto, de acordo com a PNRS,

    somente os rejeitos sem potencial de reuso ou reciclagem podero ser

    encaminhados para os aterros sanitrios (ABRAMOVAY;

    SPERANZA;PETITGAND, 2013).

    A separao dos materiais reciclveis cumpre um papel estratgico na

    gesto integrada de resduos slidos. Estimular o hbito da separao do lixo na

    fonte geradora uma forma de promover a educao ambiental voltada para a

    reduo do consumo e do desperdcio, uma vez que a participao da populao

    nos programas de coleta seletiva voluntria na maioria das cidades. A

    mobilizao da populao para a separao dos materiais deve serrealizada por

    meio de campanhas de sensibilizao em bairros, condomnios, escolas,

  • 35

    comrcio, empresas e indstrias. A preocupao de educar e conscientizar a

    populao no sentido de gerar menos lixo e dispor adequadamente seus resduos

    colaborando com os mecanismos de limpeza pblica precisa ser uma ao

    constante do poder pblico municipal (BESSEN; RIBEIRO, 2007; PHILIPPI

    JNIOR, 1999).

    No gerenciamento dos Resduos Slidos Urbanos (RSU),os municpios

    tm que se preocupar com a localizao adequada de aterros sanitrios, usinas de

    compostagem, incinerao, ou reciclagem; com a operao da limpeza urbana e

    com a operao dos aterros ou reas de destinao final dos resduos slidos

    (PHILIPPI JNIOR, 1999).

    Conforme determina a lei 12.305/2010, para cumprir tais obrigaes

    impostas pela PNRS, os municpios devem elaborar seus Planos Municipais de

    Gesto Integrada de Resduos Slidos (PMGIRS). Estados e municpios devem

    elaborar e publicar suas orientaes gerais e os mecanismos pelos quais apoiaro

    a gesto integrada de resduos (ABRAMOVAY; SPERANZA; PETITGAND,

    2013). O gerenciamento integrado considera que todas as aes e operaes

    esto interligadas, influenciando umas nas outras (CORNIERI, 2011).Esses

    planos devem indicar a forma como cada resduo ser destinado, com a previso

    de metas e programas necessrios para garantir a destinao de cada um deles.O

    acesso aos recursos financeiros repassados pela Unio para a gesto de resduos

    desde agosto de 2012 est vinculado elaborao dos planos (BRASIL,

    2010).No entanto, at julho de 2013, pouco mais de 10% dos municpios

    brasileiros encaminharam seus planos de gesto de resduos ao governo federal,

    devido falta de capacitao tcnica de pequenos municpios e, devido ao

    vnculo entre as prefeituras e as formas j consolidadas de coleta e destinao

    dos resduos (ABRAMOVAY; SPERANZA; PETITGAND, 2013).

    Alm dos PMGIRS, estava previsto na PNRS, para agosto de 2014, o

    fim do prazo para que os municpios eliminassem os lixes, prazo que foi

  • 36

    prorrogado e dever acontecer nasdatas-limite que variam entre 2018 e 2021.

    Com o fim dos lixes, os rejeitos, materiais restantes dos resduos slidos,

    depois de esgotadas todas as possibilidades de reuso e reciclagem, devem ser

    destinados apenas aos aterros sanitrios.

    Aterro sanitrio a tecnologia mais adequada em termos ambientais,

    para a disposio dos rejeitos. A lei prev ainda a implantao da coleta seletiva

    de resduos reciclveis e a compostagem dos resduos orgnicos (BRASIL,

    2010).

    Em relao a exemplos de governana internacional, os pases que

    conseguem hoje reduzir a quantidade de resduos depositadas em aterros, e

    aumentar a coleta seletiva e o aproveitamento dos materiais para a reciclagem,

    obedecem quatro condies fundamentais segundo Abramovay, Speranza e

    Petitgand (2013).

    Uma das condies a responsabilidade estendida do produtor e

    importadores que respondem por custos dos resduos dos materiais de consumo

    daquilo que vendem, levando a iniciativas no desenho dos produtos para

    minimizarem os resduos.

    A segunda condio, a de reduzir a quantidade de resduos depositada

    em aterros, considerada responsabilidade dos consumidores. De acordo com

    Abramovay et al (2013), para tal algumas cidades penalizam o consumidor que

    no separa seu lixo conforme as regras estabelecidas pelo poder pblico. O

    pagamento pela coleta de lixo proporcional gerao e quem paga a coleta o

    consumidor e no o contribuinte.

    A terceira caracterstica que, nesses pases, as aes para organizar a

    logstica reversa so definidaspor algum tipo de agncia pblica, no

    necessariamente estatal, responsvel pela coordenao dos diversos atores como

    produtores, importadores e consumidores finais.

  • 37

    Para finalizar, a quarta condio a existncia de um quadro legal

    consistente, com orientaes quanto metas, medidas de superviso e controle

    das atividades dos atores privados, tal como ocorre nos Estados Unidos e na

    experincia europeia, o que possibilita a concretizao das aes que

    proporcionam a reduo e/ou destinao correta dosresduos.

    Diferentemente do que acontece nesses pases, o financiamento da coleta

    dos RSU no Brasil, na maioria dos casos, dissolvido junto ao imposto

    territorial. Alm disso, municpios pequenos enfrentam problemas para

    encontrar locais adequados para a disposio de seus resduos.

    Os consrcios intermunicipais so considerados exemplos promissores

    para o tratamento em comum dos resduos slidos, podendo gerar economia de

    custos pelo aumento da escala e possibilidade para que vrios municpios

    utilizem um mesmo local para dispor seus resduos (PHILIPPI JNIOR, 1999).

    Para Abramovay, Speranza e Petitgand (2013, p. 51.).

    A eliminao dos lixes, presentes sobretudo em pequenos

    municpios, exige a formao de consrcios em que o

    internacionalmente conhecido lema NIMBY (not in

    mybackyard, no meu quintal que no) opere como

    bloqueio. (incluir) Um dos maiores obstculos para esse

    planejamento, no caso de pequenos municpios, est na

    necessidade de formao de consrcios entre diferentes

    localidades, o que traz a imensa desvantagem para as foras

    politicamente dominantes de perderem o monoplio na

    concesso desses servios e, consequentemente, as

    vantagens que podem da derivar.

    Outro desafio aos municpios e demais entes federados, a logstica

    reversa trazida pela PNRS. A logstica reversa uma inovao que tambm tem

    que ser implementada por fabricantes, importadores, distribuidores e

    comerciantes, por meio de programas que possibilitem o retorno dos produtos

    aps o uso pelo consumidor. A prtica deve ocorrer de forma independente dos

    servios pblicos de limpeza urbana (CORNIERI, 2011).Os setores que

  • 38

    fabricam embalagens de agrotxicos, pneus, baterias, leos lubrificantes e suas

    embalagens, produtos eletroeletrnicos, pilhas e alguns tipos de lmpada so

    obrigados a organizar e pagar pela logstica reversa, independentemente do

    servio pblico de limpeza urbana (ABRAMOVAY; SPERANZA;

    PETITGAND, 2013).

    Outro aspecto fundamental a se destacar na PNRS que ela estabelece

    mecanismos de induo da coleta seletiva com catadores para que os municpios

    elaborem seus PGIRS seguindo esta diretriz (BESEN et al., 2014)

    Nesse contexto Abrcio (2007) reconhece que a efetividade das polticas

    pblicas depende da coordenao, que pode ser entendida como o entrosamento

    entre os nveis de governo, numa relao em que os entes locais executam as

    aes, mas dependem da colaborao horizontal e vertical presente nas relaes

    entre o governo e a sociedade civil e da boa relao intergovernamental,

    considerando nesse caso o governo federal como rgo responsvel pela

    elaborao da PNRS e o municpio como rgo executor.

    Em suma, implantar os pressupostos da PNRS, como a construo e

    operao de aterros sanitrios e a insero da coleta seletiva nos municpios,

    um grande desafio e requer maior capacidade de pagamento por parte das

    municipalidades.

    3.3 Coleta Seletiva Socioambiental

    A coleta seletiva de materiais reciclveis pode ser realizada de acordo

    por diferentes modelos. Segundo Cornieri (2011), a coleta de d exclusivamente

    pelas prefeituras, pelas prefeituras em conjunto com cooperativas ou

    exclusivamente por catadores.

  • 39

    Os materiais coletados seletivamente so encaminhadoss unidades de

    triagem onde so separados de acordo com os diversos tipos de materiais,

    prensados e enfardados para posterior comercializao (CORNIERI, 2011).

    A coleta seletiva ambientalmente vivel, pois possibilita a reciclagem

    dos materiais, o que diminui a quantidade de resduos direcionada aos aterros

    sanitrios e a demanda por matrias-primas necessrias produo de novas

    mercadorias, preservando o meio ambiente. Estudos apontam que o custo da

    coleta seletiva no Brasil chega a ser quatro vezes maior que o custo da coleta

    convencional (OLIVEIRA; SILVA, 2013). No entanto, a coleta seletiva, apesar

    de ser mais cara que a coleta convencional, passa tambm a ser uma soluo

    economicamente vivel, at porque diminui os custos de tratamento de resduos

    no destino final (FIGUEIREDO, 2012).

    A coleta seletiva tambm socialmente vivel quando realizada pelas

    Associaes de Catadores (ACs) em parceria com o poder pblico. As primeiras

    iniciativas organizadas de coleta seletiva no Brasil, a partir de 1990, se deram

    por meio de parcerias das administraes municipais com organizaes de

    catadores, reduzindo custos dos programas e se tornando um modelo de poltica

    pblica de resduos slidos com incluso social e gerao de renda

    (BESEN;RIBEIRO, 2007).

    A aprovao da PNRS, em 2010, trouxe desafios como a insero dos

    catadores de material reciclvel no gerenciamento integrado dos RSU. As

    discusses sobre movimentos sociais que, por sua vez, tm interfaces com a

    gesto social, audam a compreender a influncia da sociedade civil na agenda e

    construo de polticas pblicas. Isso evidente na PNRS, que preconiza a

    incluso dos catadores porinfluncia de organizaes da sociedade civil como o

    Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclvel (MNCR). Iniciativas

    surgiram a partir da realizao do Frum Nacional do Lixo e Cidadania (FNLC)

    e dos Fruns Estaduais e Municipais de Lixo e Cidadania. Esses movimentos

  • 40

    contriburam para a formao de uma rede de apoio aos catadores, fortalecendo

    sua incluso nessa poltica pblica (PEREIRA; TEIXEIRA, 2011).

    O MNCR e a criao de uma Comisso Nacional para discutir a

    participao da categoria, no contexto nacional da gesto dos resduos, surgiram

    no encontro que ocorreu em Braslia em junho de 2001, e que contou com a

    participao de 1.300 catadores. Esse movimento trouxe como resultado o

    reconhecimento da profisso de catador pelo Ministrio do Trabalho e Emprego

    (ABREU, 2001). A profisso de catador de materiais reciclveis, segundo Besen

    et al. (2014), reconhecida pelo Ministrio do Trabalho e Emprego desde 2002,

    sob o cdigo nico 5.192 do Cadastro Brasileiro de Ocupaes (CBO). Alguns

    catadores trabalham de forma autnoma e outros esto organizados em

    cooperativas ou associaes.

    Os catadores tm se organizado em cooperativas e associaes desde o

    final da dcada de 1980. As primeiras experincias associativas de catadores no

    Brasil iniciaram-se em So Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte. Essas

    iniciativas foram desenvolvidas por organizaes da Igreja Catlica e, nas

    dcadas seguintes, vrias associaes e cooperativas de catadores foram

    formadas pelo Brasil, sendo que alguns governos locais implantaram programas

    de coleta seletiva com incluso de catadores (PEREIRA; TEIXEIRA, 2011).

    A PNRS prev a incluso dos catadores no sistema formal de limpeza

    pblica por meio da contratao de organizaes de catadores, que estejam

    formalmente organizadas em associaes e/ou cooperativas (BESEN et

    al.,2014). Os sistemas de coleta e destinao de resduos encargo legal das

    prefeituras, que podem contratar empresas para realizar a coleta, e devem,

    preferencialmente, contar com o trabalho dos catadores de resduos slidos, em

    relao aos resduos reciclveis. Na realidade, o que tem acontecido que os

    catadores brasileiros so remunerados por aquilo que vendem, mas no pelo

    servio ambiental que prestam (ABRAMOVAY; SPERANZA; PETITGAND,

  • 41

    2013). A incluso social que algumas prefeituras fazem em suas parcerias com

    ACs, podem mascarar a natureza dessa relao, em que as prefeituras no

    conseguem reduzir as precariedades das condies de trabalho dos catadores na

    prestao de servio de coleta e triagem de resduos e no remuneram as ACs

    por seus servios de coleta e triagem. A renda da maioria dos catadores nas ACs

    vem da venda dos materiais que coletam (BESEN; RIBEIRO, 2007).

    Para a prestao de servios de coleta seletiva ser efetuada por

    empreendimentos de catadores, preciso que o poder pblico municipal utilize

    instrumentos jurdicos adequados para disciplinar essa relao contratual. No

    Brasil, a Poltica Nacional de Saneamento Bsico (PNSB), instituda pela Lei N

    11.445 de 2007 e, posteriormente, a PNRS (Lei N 12.305), incorporaram em

    polticas pblicas a coleta seletiva com incluso dos catadores organizados,

    subsidiando a contratao das associaes e/ou cooperativas de catadores para a

    prestao de coleta seletiva pelas prefeituras, previstas nesses instrumentos

    legais, sem licitao (BESEN et al., 2014).

    Segundo Baptista (2015), as ACs prestam um servio pblico

    sociedade, mas necessitam de aparelhos legais, econmicos e institucionais para

    se manterem, e tambm do aporte do poder pblico para se estruturarem e se

    organizarem. Nesse sentido, os instrumentos legais regulamentadores devem ser

    adequados a esse tipo de parceria que envolve o mercado, o Estado e a sociedade

    civil.

    Os modelos atuais de cooperativas de reciclagem, segundo Magni

    (2011), surgiram no incio da dcada de 1990. As formas de parcerias que

    ocorreram inicialmente entre as prefeituras e as organizaes de catadores

    previam apenas o emprstimo de equipamentos e galpes s organizaes de

    catadores.

    Por outro lado, parcerias entre as administraes pblicas e a iniciativa

    privada, representada pelas prestadoras de servios, tm fundamentado as

  • 42

    polticas pblicas em municpios, destacando-se a distribuio dos recursos

    econmicos do setor para o setor privado (FIGUEIREDO, 2012).

    Pinheiro et al. (2014) consideram que o papel do poder pblico

    articular o trabalho de catadores na gesto adequada dos resduos nos centros

    urbanos. Para Baptista (2015, p.8.)

    Os programas de coleta seletiva nos municpios brasileiros

    so, em sua maioria, em parceria com cooperativas e

    associaes de catadores de materiais reciclveis. Aqui no

    h uma delegao de prestao de servios, pois a gesto

    dos resduos constitucionalmente uma atribuio dos

    municpios. Por outro lado, uma parte dessa gesto foi organizada participativamente entre diversos atores, com

    maior responsabilidade sobre as cooperativas de catadores.

    A incluso efetiva dos catadores de material reciclvel, previstana PNRS

    por meio da implementao da coleta seletiva solidria, somente ser possvel e

    eficaz, desde que se estabelea uma interface entre governos e sociedade civil.

    Nesse processo, necessrio o investimento em vrias aes integradas. Aes

    de educao da populao para a separao dos materiais, e tambm o

    envolvimento de redes de apoio da coleta seletiva para o desenvolvimento das

    condies necessrias de interao entre a sociedade civil, o Estado e o mercado

    (OLIVEIRA; SILVA, 2013).

    De acordo com Cornieri (2011), mais da metade das cidades com

    programas de coleta seletiva apoiam ou mantm cooperativas de catadores para

    executar a coleta seletiva, apoiando as organizaes com equipamentos, galpes

    de triagem, pagamento de gastos com gua e energia eltrica, caminhes,

    capacitao e auxlio na divulgao e educao ambiental. O custo mdio da

    coleta seletiva nas grandes cidades do Brasil, em mdia, quatro vezes maior

    que o custo da coleta convencional, entretanto, este custo vem caindo, pois em

    1994 era 10 vezes maior que da coleta convencional.

  • 43

    O estudo realizado por Pereira (2012), comparando o gerenciamento de

    Resduos Slidos Municipais e Reciclagem, entre as cidades de So Paulo e

    Londres, sugere que Londres tem alcanado melhorias na soluo do problema

    dos seus resduos, entretanto seu sistema de gerenciamento caro e depende de

    tecnologia avanada vinda do setor privado. Em So Paulo, existem problemas

    relacionados destinao adequada dos resduos em virtude do aumento de

    volume de resduos gerados. O estudo verificou a necessidade de aumentar a

    atividade das cooperativas de catadores para melhorar a gesto de RSU, e de

    uma maior participao pblica na conscientizao da populao de sua

    responsabilidade sob a gerao de resduos ps-consumo. A coleta seletiva

    socioambiental acontece com por meio do trabalho dos catadores de material

    reciclvel, organizados ou no associaes e ou cooperativas, que so a

    parceiros ou prestam servios de coleta seletiva aos municpios.

    3.4 A realidade dos catadores de material reciclvel e o funcionamento de

    suas organizaes

    Buscando conhecer o que est sendo pesquisado sobre os catadores de

    material reciclvel e sobre suas organizaes, procurou-se entender a

    problemtica do dia a dia dos atores priorizados pela PNRS, para atuar na etapa

    da coleta seletiva dos RSU.

    3.4.1 Realidade dos catadores de material reciclvel

    A maioria dos catadores trabalha nas ruas, de forma desorganizada e na

    dependncia de atravessadores para a comercializao de seus materiais. As

    relaes de trabalho entre os catadores em suas organizaes so informais. Os

    catadores de material reciclvel trabalham informalmente em consequncia de

  • 44

    sua excluso do mercado formal, por serem desprovidos de qualificao,

    vivem em condies precrias e so explorados como mo de obra barata

    (OLIVEIRA et al., 2012; OLIVEIRA;SILVA, 2013).

    A exposio dos catadores a diversos riscos de acidentes e de sade os

    tornam altamente vulnerveis, sujeitos a preconceitos e excluso social. Em

    relao infraestrutura,no possuem maquinrios e equipamentos como prensa,

    balana, sede prpria e veculo de transporte. Os catadores tm assim que vender

    seu material aos atravessadores que os revendem s indstrias, cabendo assim

    aos intermedirios a parte mais fcil e mais rentvel do trabalho (FERRAZ;

    GOMES; BUSATO, 2012).

    A falta de apoio dos governos locais destacada nos estudos de Ferraz,

    Gomes e Busato (2012) considerando que os catadores dependem de sua

    prpria sorte em caso de problemas como chuva, carrinho estragado, acidentes,

    doenas e oscilaes de oferta de material.

    Entre as caractersticas dos catadores que sobressaem nos estudos

    referenciados, esto a falta de qualificao e a baixa escolaridade, que refletem

    na gesto de seus empreendimentos. A baixa remunerao, a falta de bens

    materiais e de infraestrutura adequada (sede prpria, veculos, prensas, esteiras,

    EPI, uniformes, entre outros) tambm so relatadas em vrios estudos. Falta de

    apoio tcnico, incentivo social, financeiro e psicolgico tambm foi identificado.

    A maioria dos catadores possuem histrias de vida semelhantes (dependentes

    qumicos, alcolatras, moradores de rua) (CASTILHOS JUNIOR et al., 2013;

    DIAS, 2009; FERRAZ; GOMES; BUSATO, 2012; GOMES et al., 2012;

    SOUZA; PAULA; SOUZA-PINTO, 2012).

    So na maioria das vezes homens, mulheres, idosos e, em alguns casos,

    at crianas junto a seus pais que, para sobreviver buscam essa alternativa,

    encontrando na economia solidria uma possibilidade de integrao ao mundo

    do trabalho (FERRAZ; GOMES, 2012).

  • 45

    Apesar de seu reconhecimento como categoria profissional em 2012, a

    insero dos catadores no sistema de gerenciamento de resduos slidos s

    ocorrer de maneira adequada se for assegurado o direito ao trabalho e renda

    junto garantia de acesso aos servios de sade, minimizando os riscos aos

    quais esto expostos (FERRAZ; GOMES; BUSATO, 2012; GOUVEIA, 2012).

    Contudo, a transio da condio de catador informal para a situao de

    prestador de servio aos municpios, conforme previsto na PNRS, no fcil,

    principalmente por causa do modo informal e individual de trabalho. Para tal, h

    que se atender a demanda por mudanas de atitudes. A formalizao de parcerias

    entre catadores e prefeituras exige que o catador trabalhe em empreendimentos

    legalizados, faa uso de uniforme e que haja controle do trabalho - necessidade

    de cumprir horrio e compromissos - exigncias que fazem com que percam sua

    liberdade para realizar seu trabalho quando, onde e como quiserem (DIAS,

    2009).

    3.4.2 O funcionamento das organizaes de catadores

    Na anlise de Castilhos Junior et al.(2013) sobre as condies de

    trabalho, infraestrutura fsica e operacional e perfil dos catadores de material

    reciclvel em associaes e cooperativas do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil,

    verificou-se que os catadores tm uma dinmica de trabalho muito prpria, o que

    afeta a realidade das organizaes. Enquanto alguns seguem uma rotina diria de

    trabalho, outros so menos regulares, trabalhando uma quantidade diria de

    horas bastante varivel, ou at mesmo no trabalhando em alguns dias, o que faz

    com que a forma de pagamento adotada pela maioria das organizaes dos

    catadores, seja proporcional produo de cada um.

    O papel das cooperativas o de recuperar materiais ps-consumo e atuar

    como abastecedor de matrias-primas da indstria (ALMEIDA et al., 2013). As

  • 46

    cooperativas de catadores de resduos domiciliares normalmente so criadas de

    modo informal por associados e, posteriormente, ao receberem apoio de

    instituies, formalizam-se em cooperativas ou associaes (GUTIERREZ;

    ZANIN, 2013).

    Na pesquisa realizada no municpio de Pao Fundo (RS) por Gomes et

    al. (2012), verificou-se a existncia de seis associaes/cooperativas de

    catadores que incluam apenas 3% dos estimados 1.500 catadores do municpio.

    Entre essas seis organizaes, nenhuma possua sede prpria. Tal condio

    tambm ocorre na cooperativa de So Carlos/SP, cujo galpo foi cedido pela

    prefeitura. A falta de espao para a triagem e armazenamento dos resduos um

    fator limitante para que a iniciativa de So Carlos possa comercializar seus

    resduos a um preo mais alto diretamente com as indstrias (GUTIERREZ;

    ZANIN, 2013).

    Os galpes de Pao Fundo/RS so cedidos por comodato e todas as

    organizaes tm alguma parceria para sua estruturao ou manuteno, seja

    atravs da prefeitura, de organizaes de apoio, ou pelo projeto local

    denominado TransFormAo, que tem o apoio de empresas privadas do

    municpio, responsveis pelo fornecimento de equipamentos de proteo

    individual (EPI) e, em alguns casos, por emprstimos de equipamentos e

    caminhes (GOMES et al., 2012).

    Quando os empreendimentos dos catadores no tm sede prpria e

    utilizam equipamentos cedidos por seus parceiros, eles convivem com uma

    insegurana, pois mesmo que consigam controlar o processo de produo e as

    etapas e organizaes do trabalho dentro da cooperativa, os catadores no so

    donos dos meios fsicos de produo, sendo dependentes dos rgos pblicos

    (CASTILHOS JUNIOR et al., 2013; GUTIERREZ; ZANIN, 2013).

    Existem experincias bem sucedidas de empreendimentos de catadores,

    contando com parcerias das prefeituras, e outras que so originrias dos prprios

  • 47

    catadores, mas que contam com o apoio de atores da sociedade civil como as

    organizaes no governamentais (ONGs) (GUTIERREZ;ZANIN, 2011;

    MAGNI, 2011; SOUZA; PAULA; SOUZA-PINTO, 2012).

    O sistema de pagamento realizado pelos empreendimentos pesquisados

    em Passo Fundo/RS proporcional ao horrio de trabalho, ou igual para todos

    os catadores em uma carga horria a ser cumprida. Em apenas uma associao

    de catadores, o valor mensal recebido por catador maior que um salrio

    mnimo; no restante dos empreendimentos, os catadores recebem menos de um

    salrio mnimo vigente na poca da pesquisa. As contas de gua e luz so pagas

    pelas associaes e cooperativas; os galpes, em sua maioria, so construdos

    com a parceria dos governos municipal e federal, por meio de editais que

    liberam recursos como os da Fundao Nacional de Sade (FUNASA), assim

    como das organizaes de apoio, que so responsveis pelos locais cedidos s

    associaes e cooperativas (CASTILHOS JUNIOR et al., 2013).

    Sobre a gesto das organizaes coletivas de catadores da regio

    metropolitana de Belm, em pesquisa sobre aspectos organizacionais de seis

    organizaes de catadores de materiais reciclveis que operavam na regio,

    verificou-se que os fatores que influenciam a gesto dessas organizaes tm

    relao com a falta de formalizao. A maioria opera informalmente, pois no

    so devidamente registradas; alm disso, o trabalho realizado de forma

    individualizada, como autnomos, o que impede a essas organizaes terem

    acesso ao crdito ou aos recursos pblicos, inclusive, a formalizao de

    contratos com a prefeitura. O nvel de infraestrutura disponvel (equipamentos,

    rea para armazenamento, veculos motorizados para coleta) e a capacidade

    gerencial, tambm foram considerados importantes nos resultados dessas

    organizaes (PIRES; PIRES; LOBO, 2012).

    Os atravessadores so o principal destino dos materiais coletados devido

    falta de espao para armazenamento, a necessidade imediata de dinheiro ou

  • 48

    quantidade insuficiente de material para venda direta s indstrias, ou por no

    possurem meios de empacotar adequadamente seu material; ou no poderem

    apresentar notas fiscais, o que leva a uma reduo de at 50% da margem de

    lucro das cooperativas, e falta de autonomia de seus empreendimentos. Caso

    houvesse a venda direta, possivelmente a indstria tambm seria beneficiada,

    pois o preo final do insumo tambm cairia (CASTILHOS JUNIOR, 2013;

    SOUZA; PAULA; SOUZA-PINTO, 2012).

    Em um estudo de casos sobre duas cooperativas de catadores na cidade

    de So Leopoldo RS, Almeida et al. (2013) constataram que uma cooperativa

    recebe o material apenas da coleta seletiva, enquanto que na outra os cooperados

    tm que separar todos os materiais provenientes da coleta domiciliar. A

    cooperativa que recebe o material da coleta seletiva, apesar de ser mais recente e

    menos estruturada, oferece maior renda aos seus cooperados; no entanto, para

    sua sobrevivncia, ambas as cooperativas precisam de apoio externo, seja do

    poder pblico, seja da empresa de engenharia sanitria que faz a coleta

    municipal.

    Diante de todos os desafios enfrentados pelos catadores na mudana de

    sua forma de trabalho, desenvolvendo suas atividades nas ruas de maneira

    individual, para quando se organizam em empreendimentos. Os catadores devem

    se adequar asexigncias dos rgo pblicos para manuteno de parcerias

    previstas nos dispositivos jurdicos de incluso social.

    3.5 Catadores de material reciclvel como prestadores de servio pblico

    Os catadores agora possuem direitos e deveres e o reconhecimento de

    que so atores relevantes na gesto dos resduos slidos. Entretanto na prtica,

    seus direitos ainda no se concretizaram. Como atores nessa cadeia, possuem

    tambm responsabilidades quando contratados para realizar a coleta seletiva nos

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    municpios, devendo garantir um servio regular e de qualidade (PEREIRA,

    2013).

    Os municpios enfrentam o desafio da falta de legislao especfica

    referente possibilidade de remunerao dos servios realizados pelos

    catadores. Nos estudos de Lima et al. (2011), v-se que mesmo quando as ACs

    so remuneradas pelo servio de coleta, o efeito na renda dos catadores

    limitado, pois a remunerao feita com base na coleta convencional e pela

    tonelada de material vendido, no havendo pagamento pelo material retido em

    estoque ou coletado em empresas privadas, nem ressarcimento pelo custo de

    coleta dos rejeitos. A construo de polticas pblicas relacionadas aos

    catadores, deve possibilitar o exerccio efetivo de seus direitos, possibilitando o

    acesso seguridade social, tornando sua atividade profissional mais digna com

    menos riscos sade e garantindo renda a estes trabalhadores (FERRAZ;

    GOMES;BUSATO, 2012).

    Os catadores prestam um servio urbano essencial, desonerando o

    aparato pblico da coleta e tratamentos dos resduos, e tambm fornecem

    matria-prima para a indstria de reciclagem.As atividades de coleta seletiva,

    segundo Pinheiro et al. (2014), so insalubres e depreciadas, sendo exercidas por

    pessoas em incluso precria. Tambm para Oliveira e Silva (2013), os

    catadores atuam nas associaes em condies de subcontratao e/ou

    precariedade e periculosidade.

    Apesar dos avanos em questo, a legalizao das cooperativas de

    catadores da regio metropolitana de So Paulo, para que essas atendessem ao

    formato legal necessrio contratao de seus servios pelas prefeituras e a

    remunerao pelos servios prestados, s ocorreu em 7% dos municpios

    pesquisados (BESEN et al., 2014).

    Observa-se, nos dispositivos jurdicos de apoio aos catadores, que no

    existe o reconhecimento dos servios prestados por esta categoria de

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    trabalhadores. A adoo da prtica da remunerao por servios prestados deve

    ser pensada; no entanto, a lei no reconhece a particularidade das associaes

    em relao s empresas mercantis, j que as exigncias estabelecidas s

    organizaes contratadas desconsideram a situao atual de desenvolvimento

    das associaes, que so em sua maioria formadas por pessoas com baixo nvel

    de escolaridade, sade precria e outras caractersticas incompatveis com as

    exigncias do mercado formal de trabalho (OLIVEIRA;SILVA, 2013).

    Demanda-se maior apoio e oportunidades aos seus empreendimentos,

    por meio da priorizao e de investimentos em toda a cadeia de reciclagem, do

    estabelecimento da logstica reversa e da adoo da prtica da remunerao por

    servios prestados. Neste contexto, uma bandeira do M