coleção os pensadores - 35-sartre

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Jean-Paul Sartre nasceu em Paris a 21-06-1905 - 15-04-1980, ataque cardíaco. Estudou desde 1924 na École Normale Supérieure. Em 1931 foi nomeado professor de filosofia em Le Havre; em 1937, no Lycée Pasteur, em Paris. Convocado para o serviço militar em 1939, foi em 1940 prisioneiro dos alemães. Libertado em 1941, voltou para Paris, lecionando no Lycée Condorcet e participando da Resistência. Depois da guerra, em 1945, foi licenciado por tempo indeterminado. Chefe dos grupos existencialistas no bairro de St. Germain-des-Prés, fundou a revista literária e política Les Temps Modernes (Os Tempos Modernos), além de escrever para o jornal de Paris Libértacion, da esquerda. VIDA Parece que sua primeira infância foi um período feliz, em que desfrutou do carinho dos avós maternos, em cuja residência ele e sua mãe foram morar, e do companheirismo materno, que tornava a relação de ambos mais próxima à de irmãos, do que de uma relação entre mãe e filho. Quando tinha doze anos de idade, sua mãe se casa com Joseph Mancy, para horror de Sartre, que deixaria de ser o foco das atenções de Anne-Marie. O padrasto representaria para Sartre, uma espécie de tipo ideal de representação tanto do padrasto malvado, quanto da burguesia que tanto enojaria Jean-Paul Sartre. Viveu a adolescência própria dos meninos prodígio, feio e com "cara-de- sapo", era ao mesmo tempo "gênio e bode expiatório da turma e alvo constante das chacotas e maldades típicas da adolescência. Aos 19 anos, aprovado no exame do ensino secundário, Sartre garante sua vaga no curso de filosofia da Escola Normal Superior. Entre os seus contemporâneos Maurice Merleau-Ponty, Claude Lévi-Strauss, Simone Weil e Simone de Beauvoir. Este ambiente foi a estufa de sua genialidade. Em Simone de Beauvoir, Sartre recuperou a figura irmã-mãe de sua infância. Os dois logo se tornaram amantes, desenvolvendo uma relação que envolvia reciprocidade de críticas agudas e profundas, bem como de conselhos práticos.

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Jean-Paul Sartre nasceu em Paris a 21-06-1905 - 15-04-1980, ataque

cardíaco. Estudou desde 1924 na École Normale Supérieure. Em 1931 foi

nomeado professor de filosofia em Le Havre; em 1937, no Lycée Pasteur, em

Paris. Convocado para o serviço militar em 1939, foi em 1940 prisioneiro dos

alemães. Libertado em 1941, voltou para Paris, lecionando no Lycée

Condorcet e participando da Resistência. Depois da guerra, em 1945, foi

licenciado por tempo indeterminado. Chefe dos grupos existencialistas no

bairro de St. Germain-des-Prés, fundou a revista literária e política Les Temps

Modernes (Os Tempos Modernos), além de escrever para o jornal de Paris

Libértacion, da esquerda.

VIDA

Parece que sua primeira infância foi um período feliz, em que desfrutou do

carinho dos avós maternos, em cuja residência ele e sua mãe foram morar, e

do companheirismo materno, que tornava a relação de ambos mais próxima à

de irmãos, do que de uma relação entre mãe e filho.

Quando tinha doze anos de idade, sua mãe se casa com Joseph Mancy, para

horror de Sartre, que deixaria de ser o foco das atenções de Anne-Marie. O

padrasto representaria para Sartre, uma espécie de tipo ideal de representação

tanto do padrasto malvado, quanto da burguesia que tanto enojaria Jean-Paul

Sartre.

Viveu a adolescência própria dos meninos prodígio, feio e com "cara-de-

sapo", era ao mesmo tempo "gênio e bode expiatório da turma e alvo

constante das chacotas e maldades típicas da adolescência.

Aos 19 anos, aprovado no exame do ensino secundário, Sartre garante sua

vaga no curso de filosofia da Escola Normal Superior. Entre os seus

contemporâneos Maurice Merleau-Ponty, Claude Lévi-Strauss, Simone Weil e

Simone de Beauvoir. Este ambiente foi a estufa de sua genialidade.

Em Simone de Beauvoir, Sartre recuperou a figura irmã-mãe de sua infância.

Os dois logo se tornaram amantes, desenvolvendo uma relação que envolvia

reciprocidade de críticas agudas e profundas, bem como de conselhos práticos.

Em 1934, de volta a Paris, Sartre começa a redigir suas investigações

fenomenológicas e, persuadido por Beauvoir, transforma suas anotações no

romance que viria a se transformar em A Náusea (publicado em 1938) um

romance filosófico, nem abstrato, nem didático, que visa evocar a própria

sensação da existência - um mergulho na consciência.

De fato, A Náusea e O Muro (coletânea de contos, lançados no mesmo ano)

seriam recebidos com aclamação crítica, transformando Sartre na mais

promissora figura literária da Rive Gauche. Em 1939 publica O esboço de

uma teoria das emoções, que aumenta seu prestígio intelectual, embora não

tenha sido recebida com tanto entusiasmo.

Esse período coincide com a iminência da Segunda Guerra, sobre a qual Sartre

afirmava se tratar de "um blefe de Adolf Hitler"[vii]. Por haver estado em

Berlim, afirmava conhecer o estado de espírito do povo alemão, duvidava que

Hitler entrasse em guerra. Vinte e quatro horas depois, Hitler invadiria a

Polônia e Sartre seria convocado pelo exército francês.

"A Guerra dividiu a minha vida em duas"[viii], afirmaria um Sartre que teve

toda a sua percepção transformada pelo evento da guerra. Curiosamente

enquanto servia ao exército francês numa estação meteorológica, dedicava-se

à leitura de Heidegger. A impenetrável metafísica do alemão absorveu Sartre

completamente, pois ele visava escrever uma obra de filosofia realmente

grande.

Sob a luz (ou trevas?) da guerra, o pensamento existencialista de Sartre

evoluiu rapidamente. Lançando suas raízes tanto para o empirismo de Hume,

quanto para o racionalismo de Descartes, mostrando todas as suas

implicações. Desenvolve com radicalidade o conceito da liberdade humana,

ante o absurdo. O existencialismo mergulha a filosofia na ação, tornando-se

quase uma estratégia de vida.

Quando Sartre se torna prisioneiro do exército alemão, prossegue com seu

programa de leituras de Heidegger, em sua terra natal. Ele possuía a chave que

levaria o existencialismo a dar o passo seguinte à Fenomenologia de Husserl.

A noção da certeza última firmada no daisen (ser-aí) e não no conhecimento,

expressa em sua obra "Ser e Tempo", possui conceitos até hoje indecifráveis,

cheios de seriedade e profundamente germânicos. Sartre compreendeu que a

profunda análise heideggeriana do ser deveria se desviar do pensamento para a

ação, retorna a Kierkgaard e à Paris.

Sua libertação se dá por motivos humanitários e graças a um atestado médico

falso que conseguira comprar. Em 1941, na triste Paris ocupada pelos nazistas,

Sartre recupera seu emprego de professor, aluga um apartamento próximo ao

de Beauvoir e se põe a escrever sua obra-prima "O Ser e o Nada", publicada

em 1943.A obra causou grande impacto nos círculos filosóficos da França,

varrendo os cafés do Quartier Latin e a Rive Gauche, popularizando os lemas

niilistas do existencialismo.

Quando a guerra termina, em 1945, o cenário de uma Europa destruída, se

torna o pano de fundo propício à compreensão da filosofia existencialista, pois

ela falava daquela situação absurda na linguagem do momento. A França,

humilhada e carente de heróis, elegeu Sartre o ícone de sua resistência

cultural. Chegou mesmo a escrever um livro que explicasse o existencialismo

em termos mais acessíveis( O existencialismo é um humanismo - 1946), em

razão da demanda popular.

O existencialismo e Sartre se tornaram então, produto francês, tipo

exportação. Ambos alcançaram fama em toda a parte. Mas Sartre não se

vendeu aos conceitos burgueses de fama e sucesso. Fazia questão de ser

imprevisível. Escrevia, escrevia e escrevia, chegando a apelar para a "vida

química", que lhe proporcionava a comodidade de manter-se ligado, e

desligar-se quando não houvesse mais forças. (Sartre precedeu a Aldous

Huxley no uso da mescalina). Nesse caso Simone o levava de férias, ao tempo

que Sartre entretinha alguma jovenzinha deslumbrada por seu intelecto.

Seu pensamento continua em evolução. Entende que a liberdade do indivíduo,

embora seja uma atitude sustentável em termos de filosofia, dificilmente seria

plausível em termos sociais. Em O existencialismo é um humanismo, a

compreensão sartriana da liberdade individual se estabelece em termos de

responsabilidade social, de engajamento. Isso somado à sua natural antipatia

pela burguesia, o aproximou do socialismo, embora ele não de admitisse

marxista. Porém em 1952, Sartre torna-se marxista, afirmando que "o

marxismo reabsorveu o homem na idéia, e o existencialismo o procura por

toda parte onde ele esteja - no trabalho, em casa, na rua"[ix]. Não ingressou

em nenhum partido, pois seu individualismo não o permitiria.

Suas relações com o marxismo se delinearam teoricamente na obra Crítica à

Razão Dialética(1960), refletindo em muito o historicismo marxista, cuja

crítica determinista do desenvolvimento da civilização e a dialética o atraem

intelectualmente.

Em 1964 é agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, ao qual rejeitou,

afirmando que "o escritor não se deve deixar transformar pelas

instituições"[x]. Sua revista Les Tempes Modernes, tornou-se sua voz na

França e no mundo, nela Sartre faz pronunciamentos sobre fatos

contemporâneos. Os extremistas de direita queriam sua morte, a polícia sua

prisão, mas ele tinha no general DeGaulle um aliado que afirmava ser Sartre

um grande homem da história e ainda, que não se poderia "prender Voltaire".

A década de 70 é marcada pelos problemas de saúde, preço que teve que pagar

por sua opção de "vida química". Assistido de perto por Beauvoir e por um

séquito de jovenzinhas existencialistas, Sartre ficava cada vez mais debilitado.

Falece em 15 de abril de 1980, aos 74 anos.

Seu enterro foi um acontecimento que atraiu quase 25 mil pessoas. O cortejo

percorreu o Quartier Latin e a Rive Gauche, lugares marcantes de sua vida,

onde produziu, viveu e de onde concebeu o pensamento que seria de toda uma

geração. Movimentos radicais em todo o mundo inspiraram-se em seus

escritos, embora suas leituras sobre os fatos continuassem mais como idéia do

que como realidade. "Aí estava de fato, uma existência fútil num mundo

absurdo".

Sua produção intelectual foi fortemente marcada pela Segunda Guerra

Mundial e pela ocupação nazista da França. Podemos dizer que há um Sartre

de antes da guerra e outro pós-guerra, de tal forma o impacto da Resistência

Francesa agiu sobre sua concepção política de engajamento. A noção de

engajamento significa a necessidade de um determinado pensador estar

voltado para a análise da situação concreta em que vive, tornando-se solidário

nos acontecimentos sociais e políticos de seu tempo. Pelo engajamento, a

liberdade deixa de ser apenas imaginária e passa a estar situada e

comprometida na ação. Assim, ao escrever a peça de teatro As moscas, que

versa sobre o tema do mito grego de Orestes e Electra, Sartre na verdade faz

uma alegoria à ocupação alemã em Paris. Com essa obra, inaugura o chamado

"teatro de situação".

Ao lado de Simone de Beauvoir, também filósofa existencialista e sua

companheira de toda a vida, Sartre participou da vida política não só da

França, mas mundial. Apesar de marxista, nunca deixou de criticar o

autoritarismo, sobretudo quando as forças soviéticas invadiram a

Tchecoslováquia. Saía à rua em protestos e, com a impunidade que lhe

conferia a sua figura de cidadão do mundo, vendia nas esquinas La Cause du

Peuple (A Causa do Povo), jornal maoísta, sem que ninguém ousasse prendê-

lo.

Sartre pertence à ala dos filósofos existencialistas ateus, entre os quais se

inclui Merleau-Ponty; na ala cristã, está Gabriel Marcel.

Cronologia

1905 Jean-Paul Sartre nasce em paris, a 21 de junho.

1907 Morte de seu pai. Muda-se para a casa do avô materno, em Meudon;

retorna a Paris quatro anos depois.

1917 Em novembro, os comunistas conquistam o poder na Rússia.

1922 Mussolini, na Itália, instaura o regisme fascista.

1924 Sartre matricula-se na Escola Normal Superior, em Paris. Conhece

Simone de Beauvoir.

1931 É nomeado professor de filosofia no Havre.

1933 Hitler instaura o regime nazista na Alemanha.

1936 Sartre publica A Imaginação e A Transcendência do Ego.

1938 Eclode a II Guerra Mundial.

1940 Servindo na guerra, Sartre é feito prisioneiro pelos alemães e enviado a

um campo de concentração.

1941 Liberto, volta à França e entra para a Resistência. Funda o movimento

Socialismo e Liberdade.

1943 Publica O Ser e o Nada.

1945 Fim da II Guerra Mundial. Sartre dissolve Socialismo e Liberdade e

funda, com Merleau-Ponty, a revista Les Temps Modernes.

1952 Sartre ingressa no Partido Comunista Francês.

1956 Rompe com o Partido Comunista. Escreve O Fantasma de Stálin.

1960 Sartre publica Crítica da Razão Dialética.

1964 Publica As Palavras. Recusa o Prêmio Novel de Literatura.

1968 Durante a revolta estudantil na França e em várias partes do mundo,

Sartre põe-se ao lado dos estudantes da barricada.

1970 Sartre assume simbolicamente a direção do jornal esquerdista La Cause

de Peuple, em protesto à prisão de seus diretores.

1971 Publica O Idiota da Família.

1973 Colabora na fundação do jornal libertário Libértacion.

1980 Morre Jean-Paul Sartre.

Jean Paul Sartre nasceu e cresceu em meio à marcas históricas, principalmente

guerras. Em 1905, quando nasceu, terminava a guerra russo-japonesa. Em

1914, ele tinha 9 anos, começava a Primeira Guerra Mundial.

Os alemães avançaram para a França, mas os franceses juntamente com os

ingleses conseguiram detê-los. Essa foi a primeira vitória significativa da

guerra que persistiu até 1918. No ano seguinte, 1919, houve um fato

importante para os franceses : O Tratado de Versalhes.

Este Tratado privou a Alemanha de um oitavo de seu território, além de todas

as colônias, limitou os efeitos de seu Exército e obrigou-a a pagar vultosa

indenização de guerra, provocou profundos ressentimentos na população

inconformada com essa "paz imposta".

Neste período o Brasil passam por agitação tenentistas , pela Coluna Prestes,

até chegar a "Era de Vargas"

A década de 20 nos Estado Unidos foi marcada pelo progresso econômico,

que colocaram a disposição do grande público inovação tecnológica como o

rádio, a vitrola, o cinema, a luz elétrica e os eletrodomésticos, enquanto os

automóveis começaram a tomar conta das ruas e o avião oferecia a opção de

transporte aéreo. O ritmo desses "anos loucos" era dado pelo charleston, dança

inventada nos Estados Unidos, que logo em seguida passou pela crise

econômica.

A Europa partindo da Itália, conheceu o fascismo, que foi apresentado por

Mussolini.

A América Latina assitia à Guerra Civil Espanhola, e em 26 de abril de 1937 a

cidade de Guernica foi bombardeada pela aviação alemã. A tragédia de

Guernica chocou às consciências democráticas do mundo inteiro.

Sartre viu também a Segunda Guerra Mundial, quando os franceses, além de

pouco preparados, não dispunham dos recursos das forças alemãs.

Primeiro ataque alemão contra a França ocorreu em maio de 1940; em 22 de

junho, o país foi obrigado a assinar uma armistício humilhante, que

estabelecia a ocupação da região setentrional ( inclusive Paris ), e toda costa

Atlântica pelos alemães.

Enquanto os franceses ocupam o sul do país, é proclamada, no norte, a

República Democrática do Vietnã. A França reconhece o novo país da União

Francesa, para mais tarde romper as negociações e bombardear o ponto de

Haiphong, sofrendo consecutivas derrotas para os guerrilheiros. Neste

período, houve também a Guerra Fria, que já estava estabelecida desde 1945.

A década de 60 foi um período emocionante, revolucionário e turbulento, de

grandes mudanças sociais e tecnológicas: assassinatos, grande revolução no

mundo da moda, novos estilos musicais, direitos civis, libertação de mulheres

e homossexuais, a guerra do Vietnã, as primeiras expedições à Lua,

campanhas de paz, flower power, grandes filmes e programas de TV,

liberdade sexual.

Nessa época, os indivíduos nascidos no baby boom do pós-guerra haviam

crescido e formado um novo e poderoso exército de consumidores. Tonavam-

se adultos numa época de otimismo e autoconfiança inigualáveis e incontidos:

a guerra e a austeridade do pós-guerra haviam acabado; os homens viajavam

pelo espaço e logo iriam chegar à Lua; o primeiro transplante de coração fora

realizado e, após sessenta anos depois de o primeiro avião cruzar o Canal da

Mancha, o Concorde atravessava o oceano Atlântico.

Literatura

Literatura engajada: A maior parte dessas peças tem acentuada tendência

política. No escrito "Qu est-ce que la littérature?" (1948; "Que é a

literatura?"), depois incluído no segundo volume de Situations (1948), Sartre

criou o conceito da literatura engajada, que discute os atuais problemas

políticos e sociais: seria essa a única literatura possível e útil em nosso tempo.

A esse conceito subordinou Sartre três romances, dos quatro projetados de um

ciclo a que deu o nome bem existencialista de Les Chemins de la liberté (Os

Caminhos da liberdade), discutindo a situação do intelectual francês

imediatamente antes da guerra e o desastre da França em 1940. Saíram :

L’Âge de raison 1945; A Idade da razão); Le Sursis (1945; O Prazo

concedido); La Mort dans l’âme (1949; A Morte na lama). O ciclo ficou

incompleto.

Conceitos do existenciallismo:

A espécie humana tem tem livre arbítrio;

A vida é uma série de escolhas, criando stress;

Poucas decisões não têm nenhuma conseqüência negativa;

Algumas coisas são absurdas ou irracionais, sem explicação;

Se você toma uma decisão, deve levá-la até o fim.

O existencialismo de sartre

A distinção entre essência e existência corresponde a distinção entre

conhecimento intelectual e conhecimento sensível. Os sentidos põem em

contato com os seres particulares e contingentes, únicos que realmente

existem, ao passo que a inteligência permite aprender as idéias ou essências,

gêneros e espécies universais, meras possibilidades de ser, em si mesmas

inexistentes. Sabe-se, no entanto, desde Sócrates, que o objeto da ciência é o

universal e não o particular, quer dizer a essência e não a existência. Platão

tenta resolver essa contradição hipostasiando as idéias, atribuindo-lhes a

realidade, no mundo supra-sensível ou topos ouranoú (lugar do céu). Poder-se-

ia dizer que é em nome da existência que Aristóteles critica a teoria platônica

das idéias, sustentando que as idéias, ou essências, não estão fora mas dentro

das próprias coisas, as quais, feitas de matéria e de forma, contem, em si

mesmas, o universal e o particular, a essência e a existência.

Em oposição as filosofias que se poderia chamar ‘essencialistas’, as filosofias

existencialistas partem do pressuposto de que a existência e anterior a

essência, tanto ontológica quanto epistemologicamente ,quer dizer tanto em

relação ao ser, ou à realidade, quanto em relação ao conhecimento. Na

perspectiva do existencialismo, as idéias, ou as essências, não são anteriores às

coisas, pois não se acham previamente contidas nem na inteligência de Deus

nem na inteligência do homem. As idéias, ou essências, são contemporâneas

das coisas, são as próprias coisas consideradas de determinado ponto de vista,

em sua universalidade e não em sua particularidade. Síntese do universal e do

particular, o indivíduo existente é redutível ao pensamento, ou inteligível, na

medida em que contem o universal, a essência humana, por exemplo, nesse

homem determinado, e irredutível, enquanto particular, esse homem com

características que o distinguem de todos os demais e o tornam único e

insubstituível.

A afirmação da anterioridade ou do primado da existência em relação a

essência, entendida aqui como existência humana, implica uma série de teses

que distinguem o existencialismo das filosofias essencialistas. O primado da

liberdade em relação ao ser, subjetividade, em relação a objetividade, o

dualismo, o voluntarismo, o ativismo, o personalismo, o antropologismo,

seriam algumas das características desse tipo ou modalidade de filosofia. O

existencialismo não é nem uma teologia, ou filosofia de Deus, nem uma

cosmologia, ou filosofia do mundo, da natureza. O existencialismo é,

fundamentalmente, uma antropologia, quer dizer, uma reflexão filosófica

sobre o homem, ou melhor, sobre o ser do homem enquanto existente.

Na perspectiva antropológica, surgem os temas ou problemas característicos

do pensamento existencial. A finitude, a contingência e a fragilidade da

existência humana; a alienação, a solidão e a comunicação, o segredo, o nada,

o tédio, a náusea, a angústia e o desespero; a preocupação e o projeto, o

engajamento e o risco, são alguns dos temas principais de que se tem ocupado

os representantes do existencialismo. Para essa filosofia, a angústia e o

desespero, por exemplo, deixam de ser sintomas mórbidos, objetos da

psicopatologia, para se tornarem categorias ontológicas que propiciam acesso

á essência da condição humana e do próprio ser.

A idéia de existência, como já se observou, não é nova. Com a mesma palavra,

ousía , Platão designa a essência e a existência, e a crítica de Aristóteles ao

idealismo platônico pressupõe o hilomorfismo, ou teoria do ser entendido

como existente, feito de matéria e de forma. Platão, sem dúvida, é idealista,

mas é uma experiência existencial, a vida e a morte de Sócrates, que o leva a

filosofar.

A existência precede a essência, por Jean-Paul Sartre

"Quando concebemos um Deus criador, esse Deus idenficamos quase sempre

como um artífice superior; e qualquer que seja a doutrina que consideremos,

trate-se duma doutrina como a de Descartes ou a de Leibniz, admitimos

sempre que a vontade segue mais ou menos a inteligência ou pelo menos a

acompanha, e que Deus, quando cria, sabe perfeitamente o que cria.

Assim, o conceito do homem, no espírito de Deus, é assimilável ao conceito

de um corta-papel no espírito do industrial; e Deus produz o homem segundo

técnicas e uma concepção, exatamente como o artífice fabrica um corta-papel

segundo uma definição e uma técnica. Assim, o homem individual realiza um

certo conceito que está na inteligência divina.

No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção de Deus,

mas não a idéia de que a essência precede a existência. Tal idéia encontramo-

la nós um pouco em todo o lado: encontramo-la em Diderot, em Voltaire e até

mesmo num Kant. O homem possui uma natureza humana; esta natureza, que

é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que

cada homem é um exemplo particular de um conceito universal - o homem;

para Kant resulta de universalidade que o homem da selva, o homem

primitivo, como o burguês, estão adstritos à mesma definição e possuem as

mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda aí, a essência do homem

precede essa existência histórica que encontramos na natureza. (...)

O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se

Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a

essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito,

e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana.

Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa

que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só

depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é

definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e

tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não

há Deus para a conceber.

O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja,

como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este

impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o

primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que se chama a

subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos

dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma

pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem

primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança

para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. (...)

Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é

responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o

de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total

responsablidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é

responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável

pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens."

Jean-Paul Sartre

"A existência precede a essência". Eis a frase fundamental do existencialismo.

Para melhor compreender o significado dela, é preciso rever o que quer dizer

essência. A essência é o que faz com que uma coisa seja o que é, e não outra

coisa. Por exemplo, a essência de uma mesa é o ser mesmo da mesa, aquilo

que faz com que ela seja mesa e não cadeira. Não importa que seja de

madeira, fórmica ou vidro, que seja grande ou pequena; importa que tenha as

características que nos permitam usá-la como mesa.

No famoso texto O existencialismo é um humanismo, Sartre usa como

exemplo um objeto fabricado qualquer, como um livro ou um corta-papel:

neles a essência precede a existência; da mesma forma, se imaginarmos um

Deus criador, o identificamos a um artífice superior que cria o homem

segundo um modelo, tal qual o artífice fabrica um corta-papel. Daí deriva a

noção de que o homem tem uma natureza humana, encontrada igualmente em

todos os homens. Portanto, nessa concepção, a essência do homem precederia

a existência. Não é essa, no entanto, a posição de Sartre ao afirmar que a

existência precede a essência: "Significa que o homem primeramente existe,

se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o

concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é

nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não

há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não

apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe

depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o

homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do

existencialismo".

O Existencialismo é um Humanismo.

Sartre defende o existencialismo contra os católicos afirmando que esta é uma

doutrina que torna a vida humana possível graças a subjetividade humana.

Sartre ainda especifica a diferenciação entre as duas escolas do

existencialismo, a dos existencialistas cristãos Jaspers e Marcel e os ateus

Heidegger e o próprio Sartre, afirma que a única coisa que une estas duas

correntes é que a existência precede a essência. Ou se preferir é necessário

partir da subjetividade.

O existencialismo ateu afirma que, se Deus não existe há pelo menos um ser

no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser

definido por qualquer conceito. Este ser é o homem ou melhor a realidade

humana . Isto significa que , em primeira instância , o homem existe, surge no

mundo e só posteriormente se define.

O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma

definição porque, de início, não é nada ; só posteriormente será alguma coisa e

será aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza humana, já

que não existe um Deus para concebê-la .

O homem é aquilo que ele mesmo faz de si, é a isto que chamamos de

subjetividade. Porém, se realmente a existência precede a essência, o homem é

responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo do existencialismo é de

por todo o homem na posse do que ele é de submete-lo à responsabilidade

total de sua existência.

Ao afirmarmos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada

um de nós se escolhe, e também escolhe todos os homens.

O existencialista, pensa que é extremamente incômodo que Deus não exista,

pois, junto com ele, desaparece toda e qualquer possibilidade de encontrar

valores num céu inteligível; não pode mais existir nenhum bem a priori; já que

não existe uma consciência infinita e perfeita para pensa-lo.

Se Deus não existe, não encontramos, já prontos, valores ou ordens que

possam legitimar a nossa conduta. Assim não teremos nem atras nem a frente

nenhuma justificativa para nossa conduta . Estamos sós , sem desculpas. É o

que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre.

Condenado, porque não se criou a si mesmo mas por estar livre no mundo

estamos condenados a ser livres.

O existencialista não pensara nunca, que o homem possa conseguir o auxilio

de um sinal qualquer que o oriente no mundo, pois é o homem quem decifra

os sinais.

Principais obras:

Obras filosóficas: A Imaginação(1936)

A transcendência do Ego(1937)

O Imaginário(1940)

O Ser e o Nada(1943)

O existencialismo é um humanismo (1946)

Crítica da Razão Dialética(1960)

O idiota da família(1971)

Anotações para uma moral(1983)

Ensaios:

São Genet, comediante e mártir(1952)

Questão de método(1960)

Romances e Contos:

A náusea(1938)

O muro(1939)

A idade da razão(1945)

Sursis(1945)

Com a morte na alma(1949)

Teatro:

As moscas(1943)

Entre quatro paredes(1945)

Mortos sem sepultura(1946)

A prostituta respeitosa(1946)

As mãos sujas(1948)

O diabo e o bom Deus(1951)

Os seqüestrados de Altona(1960)

Autobiográficas:

As palavras(1964)

Diário de uma guerra estranha(1983)

http://www.geocities.com/Area51/Shire/2670/filosof.htm

Introdução. O Existencialismo difundiu-se como o pensamento mais radical a

respeito do homem na época contemporânea. Surgiu em meados do século

XIX com o pensador dinamarquês Kierkegaard e alcançou seu apogeu após a

Segunda Grande Guerra, nos anos cinqüenta e sessenta, com Heidegger e

Jean-Paul Sartre.

A corrente existencialista assimilou ainda uma influência da fenomenologia

cuja figura principal, Husserl, já citado, propõe a descrição dos fenômenos tais

como eles parecem ser, sem nenhum pressuposto de como eles sejam na

verdade. Para o existencialismo, a fenomenologia de Husserl significou um

interesse novo no fenômeno da consciência.

Reunindo as sínteses do pensamento de cada um desses filósofos podemos

listar os postulados principais dessa corrente filosófica que são:

1. A primeira é o ser humano enquanto indivíduo, e não com as teorias gerais

sobre o homem. Há uma preocupação com o sentido ou o objetivo das vidas

humanas, mais que com verdades científicas ou metafísicas sobre o universo.

Assim, a experiência interior ou subjetiva - e aí está a influência da

fenomenologia - é considerada mais importante do que a verdade "objetiva",

um fundamento igual à da filosofia oriental.

2. O homem não foi planejado por alguém para uma finalidade, como os

objetos que o próprio homem cria, mediante um projeto. O homem se faz em

sua própria existência.

3. O mundo, como nós o conhecemos, é irracional e absurdo, ou pelo menos

está além de nossa total compreensão; nenhuma explicação final pode ser dada

para o fato de ele ser da maneira que é;

4. A falta de sentido, a liberdade conseqüente da indeterminação, a ameaça

permanente de sofrimento, da origem à ansiedade, à descrença em si mesmo e

ao desespero; há uma ênfase na liberdade dos indivíduos como a sua

propriedade humana distintiva mais importante, da qual não pode fugir

Kierkegaard. O dinamarquês Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855), encontra

sua posição filosófica ao insurgir-se contra posições aristotélicas

remanescentes na filosofia, o que faz opondo-se à filosofia de Hegel (1770 -

1831). Kierkegaard não só rejeitou o determinismo lógico de Hegel (tudo está

logicamente predeterminado para acontecer) como sustentou a importância

suprema do indivíduo e das suas escolhas lógicas ou ilógicas.

Kierkegaard contribuiu com a idéia original do existencialismo de que não

existe qualquer predeterminação com respeito ao homem, e que esta

indeterminação e liberdade levam o homem a uma permanente angústia.

Segundo Kierkegaard, o homem tem diante de si várias opções possíveis, é

inteiramente livre, não se conforma a um predeterminismo lógico, ao qual,

segundo Hegel, estão submetidos todos os fatos e também as ações humanas.

A verdade não é encontrada através do raciocínio lógico, mas segundo a

paixão que é colocada na afirmação e sustentação dos fatos: a verdade é

subjetividade. A conseqüência de ser a verdade subjetiva é que a liberdade

torna-se ilimitada. Consequentemente não se pode, também, fazer qualquer

afirmativa sobre o homem. O pensamento fundamental de Kierkegaard, e que

veio a se constituir em linha mestra do Existencialismo, é este: inexiste um

projeto básico, para o homem verdadeiro, uma essência definidora do homem

porque cada um se define a si mesmo e assim é uma verdade para si. Daí o

moto conhecido que sintetiza o pensamento existencialista: "no homem, a

existência precede a essência"

No caminho da vida há várias direções, vários tipos de vida a escolher, dentro

de três escolhas fundamentais: o modo de vida estético, do indivíduo que não

busca senão gozar a vida em cada momento; o modo ético, do indivíduo que é

maquinalmente correto com a família e devotado ao trabalho, e o modo

religioso dentro de uma consciência de fé.

A liberdade, segundo ele, gera no homem a angústia que pode levá-lo, de

várias formas, ao desespero Então, cada decisão é um risco, o que deixa a

pessoa mergulhada na incerteza, pressionada por uma decisão que se torna

angustiante. Como no modo de vida estético, ele escolhe fugir dessa angústia e

do desespero através do prazer e de buscar a inconsciência de quem ele é.

Outra forma de fuga é ignorar o próprio eu, tornar-se um autômato, apegar-se

a um papel, como no modo de vída ético.

Heidegger. O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) declarou-se um

investigador da natureza do Ser. Heidegger contribuiu com seu pensamento

sobre o ser e a existência, de onde o nome dado à corrente filosófica de

"Existencialismo".

A angustia tem, no pensamento de Heidegger, origem diversa da liberdade.

Para ele a angústia resulta da falta da precariedade da base da existência

humana. A "existência" do homem é algo temporário, paira entre o seu

nascimento e a morte que ele não pode evitar. Sua vida está entre o passado

(em suas experiências) e o futuro, sobre o qual ele não tem controle, e onde

seu projeto será sempre incompleto diante da morte inevitável.

Como uma filosofia do tempo, o existencialismo exorta o homem a existir

inteiramente "aqui" e "agora", para aceitar sua intensa "realidade humana" do

momento presente. O passado representa arquivos de experiências a serem

usadas no serviço do presente, e o futuro não é outra coisa que visões e ilusões

para dar ao nosso presente direção e propósito..

Portanto, no homem, o ser está relacionado ao tempo e está dado, - existe -,

em três fenômenos, três "existenciais" que caracterizam como as coisas do

passado, do presente e do futuro se manifestem para o homem e a unidade

desses três fenômenos constitui a estrutura temporal que faz a existência

inteligível, compreensível. São a afetividade, com que se liga ao passado pelo

seu julgamento; a fala, com que se liga ao presente, e o entendimento, que é a

inteligência com que lida com o seu futuro, com a angústia de sua

predestinação à morte. Não podemos nos submeter a condicionamentos de

nosso passado; não podemos permitir que sentimentos, memórias, ou hábitos

se imponham sobre nosso presente e determinem seu conteúdo e qualidade.

Nós também não podemos permitir que a ansiedade sobre os eventos futuros

ocupem nosso presente, tirem sua espontaneidade e intensidade. Não podemos

permitir que nosso "aqui e agora" seja liquidado

Na angústia, o homem experimenta a finitude da sua existência humana.

Todas as coisas supérfluas em que estava mergulhado se afastam deixando-o a

nú, como uma liberdade para encontrar-se com sua própria morte (das Freisein

für den Tod), um "estar preparado para" e um contínuo "estar relacionado

com" sua própria morte (Sein zum Tode). Essa visão existencial do homem,

em que ele se conscientiza das estruturas existenciais a que está condicionado

e que o tira da superficialidade em que desenvolve seus conflitos tornou-se

sedutora para a psiquiatria.

A angústia funciona para revelar o ser autêntico, e a liberdade (Frei-sein)

enseja o homem a escolher a si mesmo e governar a si mesmo.

Sartre. Heidegger e Sartre foram os dois mais importantes filósofos da

corrente existencialista. Ambos foram profundamente influenciados pela

filosofia de Edmund Husserl, a fenomenologia, e desenvolveram um método

fenomenológico como base de suas respectivas posições filosóficas. Sartre

contribuiu com mais pensamentos sobre a liberdade e chefiou dentro do

movimento uma corrente ateísta.

Para Jean-Paul Sartre (1905-1980), a idéia central de todo pensamento

existencialista é que a existência precede a essência. Não existe nenhum Deus

que tenha planejado o homem e portanto não existe nenhuma natureza humana

fixa a que o homem deva respeitar. O homem está totalmente livre é o único

responsável pelo que faz de si mesmo. E são para ele, assim como havia

colocado Kierkegaard, esta liberdade e responsabilidade é a fonte da angústia,

Sartre leva o indeterminismo às suas mais radicais conseqüências. Porque não

há nenhum Deus e portanto nenhum plano divino que determina o que deve

acontecer, não há nenhum determinismo. O homem é livre. Não pode

desculpar sua ação dizendo que está forçado por circunstâncias ou movido

pela paixão ou determinado de alguma maneira a fazer o que ele faz.

O pensamento de Sartre, contido em seus romances e peças de teatro e em

escritos filosóficos influenciou fortemente os intelectuais franceses, entre eles

Gabriel Marcel, que desenvolveu sua filosofia no âmbito do catolicismo

romano, tornando-se um expoente do existencialismo cristão.

Gabriel Marcel. Apesar do precursor do existencialismo, Soren Kierkegaard,

ser profundamente cristão, os principais filósofos que o desenvolveram e

divulgaram, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre, eram ateus, com uma

filosofia materialista, bastante pessimista, e atéia. Surgiu porém uma corrente

existencialista cristã, sendo o principal filósofo dessa corrente o filósofo

Gabriel Marcel.

A psicanálise e a terapia existencial. Ao definir causas de estados mentais

como a angústia e o desespero, Kierkegaard criou um elo com a psicologia

Este elo prevaleceria e se fortificaria no futuro, com as posições de Sartre e

sua crítica à psicanálise, com as posições de Gabriel Marcel e finalmente com

a adesão a essas duas linhas, respectivamente, de psiquiatras ateus e

psiquiatras cristãos. A partir das idéias filosóficas existenciais psicoterapeutas

como Ronald David Laing, na corrente materialista de Sartre, e Viktor Emil

Frankl, na corrente religiosa de Gabriel Marcel, propuseram práticas

psicoterápicas originais.

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Aberta em 04/06/2001

Direitos reservados. Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. - Existencialismo.

Site cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2001.

Corrente filosófica que se funda na situação do indivíduo vivendo num

universo absurdo, ou sem sentido, em que os homens são dotados de vontade

própria. Os existencialistas sustentam que as pessoas são responsáveis pelas

suas próprias acções, e o seu único juiz, na medida em que a sua existência

afecta a dos outros. A origem do existencialismo é geralmente atribuída ao

filósofo dinamarquês Kierkegaard. Entre os seus outros proponentes

destacam-se Martin Heidegger, na Alemanha, e Jean-Paul Sartre, em França.

Todos os indivíduos dotados de autoconsciência podem compreender ou

intuir a sua própria existência e liberdade, daí que não devam deixar que as

suas escolhas sejam limitadas por nada - nem pela razão, nem pela moral. Esta

liberdade para escolher conduz à noção de "não-ser", ou "nada", que pode

provocar a angústia ou o medo. O existencialismo possui muitas variantes.

Kierkegaard salientou a importância da escolha pura na ética e na crença

cristã, Sartre procurou combinar o existencialismo com o marxismo.

O pensamento filosófico dos autores existencialistas não se caracteriza

nem por uma sistematização racional sobre a vida nem por reflexão abstracta e

logicizante acerca do ser humano. O homem é o problema central do

existencialismo, não enquanto ser abstracto, com uma natureza definida, mas

como um ser concreto, que sofre, que trabalha e ama.

Para os filósofos existencialistas contemporâneos, a existência humana é

entendida como algo demasiado fluído e rico e, por isso, escapa a todas as

sistematizações abstractas. Assim, para estes autores, acima de tudo a vida é

para ser vivida. Faz parte inerente da existência humana o devir, a inquietação,

o desespero e a angústia. A existência é algo em aberto, sempre em mudança,

e não há nenhum tipo de determinismo ou fatalismo.

A negação de um destino faz da vida um jogo de possíveis entre possíveis.

Cabe ao homem, a cada instante, escolher, optar e, por isso mesmo, ele torna-

se um ser responsável pela sua vida. A escolha humana traz consigo

inevitavelmente a angústia e muitas vezes o desespero.

Para os existencialistas, o indivíduo não pode ser diluído e apagado num

todo, uma vez que cada um é um ser concreto, único e de valor insubstituível.

Por isso, nesta reflexão, o homem é sempre entendido como um ser individual

e concreto, na sua vida quotidiana, no seu contexto particular, e nunca

entendido como uma entidade metafísica e abstracta. Nesta medida, os autores

existencialistas são aqueles que colocam a existência do homem no plano

central das suas reflexões, como dirá Sartre, a existência precede a essência. O

homem à partida não está definido, ele é um projecto em construção, cada

pessoa é aquilo em que se torna consoante aquilo que faz.

O Existencialismo segundo Kierkegaard

"O existencialismo nunca poderá ser uma teoria como outra qualquer,

porque a existência não é, em si, susceptível de teoria. O existencialismo, para

Kierkegaard, é apenas a expressão da sua própria vida e a única coisa de geral

ou de universal que contém é a exortação que a todos nos dirige para que nos

tornemos cristãos. A natureza deste existencialismo só poderá, portanto, ser

definida em função das condições que são requeridas por um existir autêntico

- existir que se deverá iniciar e intensificar seguidamente, por meio de uma

reflexão capaz de fazer, de uma existência vivida, uma existência desejada e

pensada. Essas condições podem reduzir-se a três: a necessidade do

compromisso e do risco, o primado da subjectividade e a prova da angústia e

do desespero."

R.Jolivet, As Doutrinas Existencialistas

O Existencialismo segundo Karl Marx

"O que Marx mais critica é a questão de como compreender o que é o

homem. Não é o ter consciência (ser racional), nem tampouco ser um animal

político, que confere ao homem sua singularidade, mas ser capaz de produzir

suas condições de existência, tanto material quanto ideal, que diferencia o

homem."

A essência do homem é não ter essência, a essência do homem é algo que

ele próprio constrói, ou seja, a História. "A existência precede a essência";

nenhum ser humano nasce pronto, mas o homem é, em sua essência, produto

do meio em que vive, que é construído a partir de suas relações sociais em que

cada pessoa se encontra. Assim como o homem produz o seu próprio

ambiente, por outro lado, esta produção da condição de existência não é

livremente escolhida, mas sim, previamente determinada. O homem pode

fazer a sua História mas não pode fazer nas condições por ele escolhidas. O

homem é historicamente determinado pelas condições, logo é responsável por

todos os seus actos, pois ele é livre para escolher. Logo todas as teorias de

Marx estão fundamentadas naquilo que é o homem, ou seja, o que é a sua

existência. O Homem é condenado a ser livre.

As relações sociais do homem são tidas pelas relações que o homem

mantém com a natureza, onde desenvolve suas práticas, ou seja, o homem se

constitui a partir de seu próprio trabalho, e sua sociedade se constitui a partir

de suas condições materiais de produção, que dependem de factores naturais

(clima, biologia, geografia...) ou seja, relação homem-Natureza, assim como

da divisão social do trabalho, sua cultura. Logo, também há a relação homem-

Natureza-Cultura.

O Existencialismo segundo Jean Paule Sartre

A distinção entre essência e existência corresponde a distinção entre

conhecimento intelectual e conhecimento sensível. Os sentidos põem em

contacto com os seres particulares e contingentes, únicos que realmente

existem, ao passo que a inteligência permite aprender as ideias ou essências,

géneros e espécies universais, meras possibilidades de ser, em si mesmas

inexistentes. Sabe-se, no entanto, desde Sócrates, que o objecto da ciência é o

universal e não o particular, quer dizer a essência e não a existência. Platão

tenta resolver essa contradição hipostasiando as ideias, atribuindo-lhes a

realidade, no mundo supra-sensível ou topos ouranoú (lugar do céu). Poder-se-

ia dizer que é em nome da existência que Aristóteles critica a teoria platónica

das ideias, sustentando que as ideias, ou essências, não estão fora mas dentro

das próprias coisas, as quais, feitas de matéria e de forma, contem, em si

mesmas, o universal e o particular, a essência e a existência.

Em oposição as filosofias que se poderia chamar 'essencialistas', as

filosofias existencialistas partem do pressuposto de que a existência e anterior

a essência, tanto ontológica quanto epistemologicamente ,quer dizer tanto em

relação ao ser, ou à realidade, quanto em relação ao conhecimento. Na

perspectiva do existencialismo, as ideias, ou as essências, não são anteriores às

coisas, pois não se acham previamente contidas nem na inteligência de Deus

nem na inteligência do homem. As ideias, ou essências, são contemporâneas

das coisas, são as próprias coisas consideradas de determinado ponto de vista,

em sua universalidade e não em sua particularidade. Síntese do universal e do

particular, o indivíduo existente é redutível ao pensamento, ou inteligível, na

medida em que contem o universal, a essência humana, por exemplo, nesse

homem determinado, e irredutível, enquanto particular, esse homem com

características que o distinguem de todos os demais e o tornam único e

insubstituível.

A afirmação da anterioridade ou do primado da existência em relação a

essência, entendida aqui como existência humana, implica uma série de teses

que distinguem o existencialismo das filosofias essencialistas. O primado da

liberdade em relação ao ser, subjectividade, em relação a objectividade, o

dualismo, o voluntarismo, o aticismo, o personalismo, o antropologismo,

seriam algumas das características desse tipo ou modalidade de filosofia. O

existencialismo não é nem uma teologia, ou filosofia de Deus, nem uma

cosmologia, ou filosofia do mundo, da natureza. O existencialismo é,

fundamentalmente, uma antropologia, quer dizer, uma reflexão filosófica

sobre o homem, ou melhor, sobre o ser do homem enquanto existente.

Na perspectiva antropológica, surgem os temas ou problemas

característicos do pensamento existencial. A finitude, a contingência e a

fragilidade da existência humana; a alienação, a solidão e a comunicação, o

segredo, o nada, o tédio, a náusea, a angústia e o desespero; a preocupação e o

projecto, o engajamento e o risco, são alguns dos temas principais de que se

tem ocupado os representantes do existencialismo. Para essa filosofia, a

angústia e o desespero, por exemplo, deixam de ser sintomas mórbidos,

objectos da psicopatologia, para se tornarem categorias ontológicas que

propiciam acesso á essência da condição humana e do próprio ser.

A ideia de existência, como já se observou, não é nova. Com a mesma

palavra, ousía , Platão designa a essência e a existência, e a crítica de

Aristóteles ao idealismo platónico pressupõe o hilomorfismo, ou teoria do ser

entendido como existente, feito de matéria e de forma. Platão, sem dúvida, é

idealista, mas é uma experiência existencial, a vida e a morte de Sócrates, que

o leva a filosofar.

O Existencialismo segundo Vergílio Ferreira

"O existencialismo ergue o seu protesto, afirmando que o Homem é

pessoalmente, individualmente, um valor; que a sua liberdade (em todas as

suas dimensões e não apenas em algumas) é uma riqueza, uma necessidade

estrutural de que não deve perder-se entre a trituração do dia-a-dia; e

finalmente que, fixando o homem nos seus estritos limites, só por distracção

ou imbecilidade ou por crime se não vê ou não deixa ver que ao mesmo

homem impende a tarefa ingente e grandiosa de se restabelecer em harmonia

no mundo, para que em harmonia a sua vida lucidamente se realize desde o

nascer ao morrer.

Possivelmente gostaríeis ou teríeis curiosidade de me ouvir falar de mim,

já que vou sendo insensivelmente investido na qualidade de uma espécie de

delegado nacional ou regional do Existencialismo. Mas eu jamais me disse

"existencialista", embora muito deva à temática existencial e pelo

Existencialismo tenha manifestado publicamente o maior interesse. É que

aceitarmos um rótulo automaticamente obriga a aceitar-lhe todas as

consequências, entre as quais a de nos responsabilizarmos por tudo quanto sob

este rótulo se disser ou fizer.

Por mim, preferia definir o Existencialismo como a corrente de

pensamento que, regressada ao existente humano, a ele privilegia e dele parte

para todo o ulterior questionar. Ou então - e paralelamente ou implicitamente

a essa definição - preferiria dizer, continuando Sartre, aliás, que o

Existencialismo é uma corrente do pensamento que reabsorve no próprio "eu"

de cada um toda e qualquer problemática e a revê através do seu raciocinar

pessoal ou preferentemente da sua profunda vivência. Aí se implica portanto

que nenhum questionar se estabelece em abstracto, de fora para dentro, mas

antes se retoma a partir da nossa dimensão original, ou seja, verdadeiramente,

de dentro para fora."

F. Vergílio, Espaço Invisível II http://vferreira.no.sapo.pt/exist.html

1) Vida e obra do autor

Jean–Paul Sartre era um filósofo francês, nascido em Paris no dia

21/06/1905. Em 1907 perdeu seu pai e mudou-se para a casa de um avô

materno, em Meudon, mas volta para Paris quatro anos depois. Em 1924, ele

matricula-se na École Normale Supérieure (Escola Normal Superior), em

Paris. Conhece Simone de Beaunvoir, sua futura amante. Em 1931, é nomeado

professor de filosofia em Le Havre. Em 1936 publica a obra “A Imaginação e

a Transcendência do Ego”. Em 1937 é nomeado professor de filosofia no

Lycée Pasteur, em Paris. Em 1938 é publicado o romance “A náusea”, e no

mesmo ano eclode a II Guerra Mundial. Em 1939, é convocado para o serviço

militar. Em 1940, servindo na guerra, Sartre é feito prisioneiro pelos alemães e

é enviado a um campo de concentração. Em 1941 é liberto, volta para a França

e entra para a Resistência. Lecionando no Lycée Condorcet, no mesmo ano

funda o movimento “Socialismo e Liberdade”. Em 1943 publica sua principal

obra “O ser e o Nada”. Em 1945, com o fim da II Guerra Mundial, é

licenciado por tempo indeterminado. Sartre dissolve Socialismo e Liberdade e

funda, com Merlaun – Ponty, a revista “Les Temps Modernes” (Os Tempos

Modernos) e escreve para o jornal de Paris Libértacion. Em 1952 ingressa o

Partido Comunista Francês. Em 1956, rompe com o Partido Comunista e

escreve “O Fantasma de Stálin”. Em 1960 ele publica “Crítica da Razão

Dialética”. Em 1964 publica “As Palavras” e recusa Nobel de Literatura. Em

1968, durante a revolta estudantil na França e em várias partes do mundo,

Sartre põe-se ao lado dos estudantes da barricada. Em 1970 assume

simbolicamente a direção do jornal esquerdista “La Cause de Peuple”, em

protesto à prisão de seus diretores. Em 1971 ele publica “O Idiota da Família”.

Em 1973 ele colabora na fundação do jornal libertário Libertación. Em

15/04/1980, morre, já senil, de ataque cardíaco.

“Obras”:

· “A Lenda da verdade” - Romance (1928)

· “A Imaginação e a Transcendência do Ego”, influenciado pela

fenomenologia (1936)

· “A náusea” – Romance (1938)

· Três ensaios: “O muro”, “Esboço de uma teoria de emoções” e “O

Imaginário”

· “O ser e o nada” – Sobre o existencialismo (1939)

· “As moscas” – Primeira peça encenada por ele (1943)

· Nova peça teatral (1945)

· “Entre quatro paredes”

· Romances – “A Idade da Razão”, “Surses”, “Com a morte na alma”

· “O existencialismo é um humanismo” – Significado ético do

existencialismo

Toda a produção de Sartre foi marcada pela II Guerra Mundial e pela

ocupação nazista da França, e a Resistência também influi bastante na sua

concepção política de engajamento (necessidade de um pensador de estar

voltado para a análise completa da situação em que vive). Pelo engajamento, a

liberdade deixa de ser imaginação pra se tornar ação. Participou, ao lado de

Simone de Beauvoir, sua companheira por toda a vida, da vida política da

França e do mundo. Era marxista, mas nunca deixou de criticar o

autoritarismo. Saía nas ruas em protesto e vendia nas ruas o jornal maoísta “La

Cause du Peuple” (A Casa do Povo), sem que ninguém ousasse prendê-lo.

“Frases conhecidas do autor”:

- “O inferno são os outros”

- “A vida me deu tudo o que pedi, mas se o que pedi foi muito pouco, aí é

problema meu”

- “A fé, mesmo quando é profunda, nunca é completa”

- “É preciso ter a coragem de fazer como todo mundo para não ser como

ninguém” : com esta afirmação, Sartre fala do peso da responsabilidade de

sermos livres. Com esta liberdade, o homem fica angustiado devido à escolha,

que só ele pode fazer. Muitos pensam que ao ficarem paralisados não são

obrigados a escolher, mas ao não agirem, já estão fazendo a sua escolha, a

escolha de não escolher. Se arriscar, agir mesmo sabendo que será preciso

enfrentar conseqüências é uma tarefa difícil, mas necessária para termos

conhecimento de quem nós realmente somos.

2) Síntese das idéias principais do autor

Sartre faz parte da lista dos existencialistas ateus, junto com Jaspers e

Heidegger, por exemplo. O Existencialismo não tem muito a ver com a fé. O

termo existencialismo foi aprendido na América depois da II Guerra. Foi

criado justamente por Sartre para descrever suas filosofias. Os conceitos do

existencialismo são simples: a espécie humana tem livre arbítrio; a vida é uma

série de escolhas; poucas decisões não têm nenhuma conseqüência negativa;

algumas coisas são absurdas ou irracionais, sem explicação; se você toma uma

decisão, deve levá-la até o fim. O termo é aplicado amplamente, os homens

acham que têm livre arbítrio apenas quando tomam uma decisão...

Os existencialistas possuem alguns temas comuns:

1) Individualismo moral : “eu preciso encontrar a verdade que é verdadeira

pra mim... a idéia pela qual eu vivo ou morro” (Kierkegaard). Todos devem

achar a sua própria vocação. Toda escolha envolve um julgamento sobre

aquilo que é certo e errado. Devido a isso, os existencialistas dizem que

nenhuma base racional ou objetiva pode ser encontrada nas decisões morais.

2) Subjetividade: A compreensão de determinada situação por alguém

envolvido nessa situação é superior à de um observador imparcial. A claridade

racional é desejável onde quer que seja, mas a mais importante questão na

vida não é acessível à razão ou ciência. Nem mesmo a ciência é tão racional

como se supõe.

3) Escolha e compromisso: Cada ser humano toma decisões que criam sua

própria natureza. Para Sartre, a existência precede a essência. Até a recusa da

escolha é uma escolha, e como toda escolha, implica em conseqüências que

acarretam compromisso e responsabilidade.

4) Horror e angústia: O horror é um sentimento de apreensão generalizado,

o que é interpretado como um compromisso com um modo de vida pessoal

válido. Já a angústia leva ao confronto do indivíduo com o nada e com a

impossibilidade de encontrar justificativas para as escolhas que ele ou ela

devem fazer. Na filosofia de Sartre, a palavra angústia é usada para o

reconhecimento da total liberdade de escolha que confronta o indivíduo a cada

momento.

3) Por que Sartre era ateu?

Sartre era o único existencialista que realmente não acreditava em forças

divinas, em algo que o transcendesse. Fora criado num ambiente religioso,

mas com a II Guerra Mundial, onde presenciou de perto o sofrimento no

mundo, ele se questionava quanto à existência de Deus, pois não entendia que

Ele deixaria que as pessoas sofressem tanto.

Apesar de ateu, nos últimos anos de sua vida, estudou e explorou a fé e a

dedicação com um judeu ortodoxo. Nada foi registrado e por isso só se pode

imaginar as conversas. Para os existencialistas cristãos, a fé defende o

indivíduo e guia as decisões com um conjunto rigoroso de regras, mas para os

ateus, a ironia é a que não importa o quanto você faça para melhorar a si e aos

outros, você sempre vai se deteriorar e morrer. Muitos acreditam que o

absurdo da vida é aceitá-la.

Sartre acreditava que cada um precisava encontrar a verdade para si mesmo,

sem seguir padrões universais. Ele prezava a liberdade de escolha, tomam

decisões que criam sua própria natureza, a escolha é inevitável, e

freqüentemente, qualquer escolha é uma escolha ruim. O livre arbítrio é um

direito das pessoas, e uma vez que Deus traça nosso destino, se o homem é

pré-determinado, não se existe liberdade, pois não se tem o direito de mudar o

destino.

4) Conclusão

Sartre pregava a liberdade e por isso não acreditava em Deus, acreditando que

esse era um obstáculo para o ser humano ser livre. Pra ele todos têm o direito

de decidir sobre sua própria vida e escolher o rumo que considerar melhor pra

ela. Mas também acredita que se Deus existisse, não haveria sofrimento e tudo

seria perfeito, e as pessoas se matariam pra acabar com o sofrimento.

Muitas idéias da sua filosofia fazem sentido e são até óbvias, mas ele coloca a

culpa de tudo aquilo que acontece de ruim em Deus. Na verdade o livre

arbítrio existe, e realmente Deus nos concedeu ele para podermos escolher por

quais caminhos andar. Portanto, se sofremos, é porque escolhemos sofrer.

Deus só teria a capacidade de impedir nosso sofrimento se nos tirasse o livre

arbítrio e realmente controlasse nossa vida, da forma que ele julgasse

adequada, o que não acontece. Ele não deseja o sofrimento de ninguém, não é

por culpa dele que desgraças acontecem e tudo mais. As pessoas são livres

desde que não ultrapassem a liberdade do próximo.

Embora a religião não traga todas as respostas, muitas vezes é esse o motivo

que faz dela algo tão importante. Muitas vezes em nossa vida, respostas claras,

óbvias e racionais não trazem conforto. Elas não explicam tudo o que

sentimos, o porque sentimos. Não existe uma explicação concreta que

comprove a existência de Deus, mas é a própria curiosidade das pessoas e a

necessidade de se apoiarem em algo que não as decepcionaram e em alguém

que não as deixará sozinha faz de algo abstrato (Deus), uma coisa concreta.

Tudo existe de verdade se acreditamos com fé em sua existência.

Deus não impede a liberdade do homem, apenas o ajuda a alcançar o bem e a

respeitar os outros, fazendo com que a vida em sociedade seja possível , o que

não se relaciona com a liberdade que o homem continua tendo. http://www.sartrerainha.hpg.ig.com.br/index.htm

1. Doutrina filosófica segundo a qual o homem não é determinado

antecipadamente por sua essência, e sim livre e responsável por sua existência.

O nada. A influência do idealista G. W. F. Hegel em Sartre torna-se aparente

quando o filósofo tenta interpretar tudo pelo método dialético, isto é, através

de uma tensão de opostos. A dialética do "ser-um-com-o-outro" do homem é

central: ver e ser visto corresponde a dominar e a ser dominado. Ser e não ser,

como em "O Ser e o Nada" é outro exemplo dessa influência hegeliana, em

que o confronto é entre a consciência e o seu objeto..

O homem. Como seres conscientes estamos sempre querendo preencher o

"nada" que é a essência do nosso ser consciente; queremos nos transformar em

coisas em vez de permanecer perpetuamente num estado em que as

possibilidades estão sempre irrealizadas.

É o principal postulado do existencialismo sartreano que não há afirmações

gerais verdadeiras sobre o que os homens devem ser. Sartre leva esse

indeterminismo às suas mais radicais conseqüências; nega que haja uma

natureza humana: não há nenhuma coisa como uma natureza humana que seja

comum a todos os seres humanos; nenhuma coisa como uma essência

específica que defina o que seja ser humano existe!. Por exemplo, para

Aristóteles, e os filósofos gregos, a essência de ser humano era ser racional.

Mas para Sartre, a pessoa deve produzir sua própria essência, porque nenhum

Deus criou seres humanos de acordo com um conceito, um projeto divino

definido. - você é o que você faz de você mesmo.

Quando diz "a existência do homem precede sua essência", ou "no homem, a

existência precede a essência", ele quer dizer que o homem se apresentou no

mundo sem qualquer projeto concebido previamente por um Criador. Não

havendo tal essência, todos são iguais e igualmente livres para se fazerem.

Liberdade. No entender de Sartre, estamos "condenados à liberdade"; não há

limite para nossa liberdade, exceto o de que "não somos livres para deixarmos

de sermos livres." Porque não há nenhum Deus e portanto não há qualquer

plano divino que determine o que deve acontecer, não há nenhum

determinismo. O homem é livre. Nada o força a fazer o que faz. "Nós estamos

sozinhos, sem desculpas." O homem não pode desculpar sua ação dizendo que

está forçado por circunstâncias ou movido pela paixão ou determinado de

alguma maneira a fazer o que faz.

A angústia. Seguindo a Kierkegaard, Sartre usa o termo "angústia" para

descrever essa consciência da própria liberdade. Nós estamos livres porque

nós não podemos confiar em um Deus ou na sociedade para justificar nossa

ação ou para nos dizer o que e quem nós somos. Nós estamos condenados

porque sem diretrizes absolutas, nós devemos sofrer a agonia de nossa tomada

de decisão e a angustia de suas conseqüências. A angustia é, então, a

consciência da própria liberdade... A angústia é a consciência dessa liberdade

de escolha, a consciência da imprevisibilidade última do próprio

comportamento... Uma pessoa à beira de um penhasco perigoso tem medo de

cair, e sente angustia ao pensar que nada o impede de se jogar lá embaixo, de

se lançar no abismo.. O pensamento mais angustioso de todos é quando, num

dado momento, nós não sabemos como nós iremos nos comportar no

momento seguinte.

A "má fé". Às vezes nós escapamos da ansiedade fingindo que nós não

estamos livres, como quando nós fingimos que nossos genes ou nosso

ambiente são a causa de como nós agimos. Nós nos permitimos ser auto-

enganados ou mentir para nós mesmos, especialmente quando isto toma a

forma de responsabilizar as circunstâncias por nosso fado e de não lançar mão

da liberdade para realizar a nós mesmos na ação. Quando nós fingimos, nós

agimos de má fé.

A má fé é a tentativa de fugir da angústia fingindo que não somos livres.

Tentamos nos convencer que as nossas atitudes e ações são determinadas pela

nossa personalidade, por nossa situação, ou por qualquer outra coisa fora de

nós mesmos". Porém, diz Sartre, o que é aprendido, ou os propósitos, as

experiências passadas, não determinam o comportamento atual.. Segundo ele,

"nenhum motivo ou resolução passada determina o que fazemos agora". "Cada

momento requer uma escolha nova ou renovada".

Psicanálise. Sartre rejeita enfaticamente a idéia de causas inconscientes dos

fatos psíquicos; para ele tudo que está na mente é consciente. Rompeu com a

psicanálise por esta retirar a responsabilidade do indivíduo ao invocar a ação

de uma força subconsciente e estados mentais inconscientes, que, para Sartre,

não existem. Sustenta que a consciência é necessariamente transparente para si

mesma. Todos os aspectos de nossas vidas mentais são intencionais,

escolhidos, e de nossa responsabilidade, o que é incompatível com o total

determinismo psíquico postulado por Freud.

Socialismo. Sartre rompeu com o socialismo e a psicanálise considerando o

quanto o Existencialismo se opõe à teoria psicanalítica. A submissão ao

inconsciente significaria cerceamento da liberdade. O mesmo diz do

socialismo. Depois de renunciar ele mesmo ao comunismo, denunciou que o

planejamento social implica restrição ou perda total da liberdade. Os

existencialistas acreditam na capacidade de todo indivíduo de escolher as suas

atitudes, objetivos, valores e formas de vida e seu postulado de liberdade

representa obstáculo intransponível ao conformismo requerido pelo

planejamento socialista e sua negação da individualidade em favor do social e

coletivo.

Posteriormente Sartre adotou uma forma de marxismo que ele considerava

como a "filosofia inescapável do nosso tempo", que só precisava ser

refertilizada pelo existencialismo. Esta mudança de ponto de vista encontra-se

na sua "Crítica da Razão Dialética", volume I, de 1960.

Deus. Sartre é um existencialista ateu. Segundo Sartre, o homem está

abandonado; Deus não existe e, para Sartre, a não-existência de Deus tem

implicações extremadas. Aliás, alguns dos problemas principais que se

levantam do abandono parecem também levantar-se meramente do fato de nós

não podermos saber se Deus existe. Se Deus realmente existe, nós "não

estamos abandonados". O problema do abandono levanta-se meramente do

fato de nós não podermos saber se Deus existe. Sua existência em tais

condições equivale, para Sartre, em uma não-existência efetiva, que tem

implicações drásticas. Primeiro, porque não há Deus, não há nenhum criador

do homem e nem tal coisa como um concepção divina do homem de acordo

com a qual o homem foi criado. Segundo, diz ele, louvando-se em Dostoiévski

(na fala de Ivan Karamazov, na famosa novela daquele escritor russo): Se

Deus não existe, então tudo é permitido. Terceiro, "Não há um sentido ou

propósito último inerente à vida humana; a vida é absurda".

Isto significa que o indivíduo, foi jogado de fato na existência sem nenhuma

razão real para ser. "Simplesmente descobrimos que existimos e temos então

de decidir o que fazer de nós mesmos.".

Resta como o único valor para o existencialismo ateu a liberdade. Afirma que

não pode haver uma justificativa objetiva para qualquer outro valor.

Porque não há nenhum Deus, não há nenhum padrão objetivo dos valores.

Com o desaparecimento dele desaparece também toda possibilidade de

encontrar valores. Não pode então haver qualquer bem a priori porque se nós

não sabemos se Deus existe, então nós não sabemos se há alguma razão final

porque as coisas acontecem da maneira que acontecem; não há nenhuma razão

final porque qualquer coisa tenha acontecido ou porque as coisas são da

maneira que elas são e não de alguma outra maneira e nós não sabemos se

aqueles valores que acreditamos que estão baseados em Deus têm realmente

validade objetiva. Consequentemente, porque um mundo sem Deus não tem

valores objetivos, nós devemos estabelecer ou inventar, a partir da liberdade,

nossos próprios valores particulares. Na verdade, mesmo se nós soubéssemos

que Deus existe e aceitássemos que os valores devessem basear-se em Deus,

nós ainda poderíamos não saber que valores estariam baseados em Deus, nós

poderíamos ainda assim não saber quais seriam os critérios e os padrões

absolutos do certo e do errado. E mesmo se nós sabemos quais são os padrões

do certo e do errado (critérios), exatamente o que significam ainda seria

matéria da interpretação subjetiva. E assim o dilema humano que resultaria

poderia ser muitíssimo o mesmo como se não houvesse Deus.

Ética. Sartre acredita na capacidade de todo indivíduo de escolher as suas

atitudes, objetivos, valores e formas de vida. É uma ilusão a crença de que os

valores existem objetivamente no mundo, em vez de serem criados apenas

pela escolha humana. Recomenda honestidade, ou seja, que façamos nossas

escolhas individuais com plena consciência de que são autenticamente nossas

e nada as determina por nós. Parece assim que Sartre, a partir das próprias

premissas, teria que elogiar o homem que escolhe devotar a vida à

exterminação dos judeus, contanto que ele escolha isso com plena consciência

do que está fazendo. Porém, paradoxalmente, a "sinceridade" que iria

contrapor-se à má fé, não é inteiramente possível. O ideal de sinceridade

completa parece condenado ao fracasso por dois motivos. Primeiro, uma vez

que não podemos ser simplesmente objetos observados e corretamente

descritos, não podemos ser considerados, nem por nós mesmos, como

honestos. Segundo, por que se é sincero no mal. Assim sendo, o único valor

fundamental e universal para o existencialismo é a liberdade. Diz Sartre "Não

pode haver uma justificativa objetiva para qualquer outro valor". A única

recomendação positiva que Sartre pode fazer é que deveríamos evitar a má fé

e procurar fazer escolhas autênticas.

Crítica. Sartre foi, sem dúvida, essencialmente um filósofo moralista e um

psicólogo arguto, e contou com a simpatia de uma vasta imprensa esquerdista

em todo o mundo. Porém, pouco do que disse foi concepção original sua. Ele

tomou seu ponto de partida das filosofias de Husserl e Heidegger. Seu

primeiro trabalho, L'Imagination (1936) e L'Imaginaire: Psychologie

phénoménologique de l'imagination (1940), ficam completamente no contexto

da análise da consciência que fez Husserl. O pensamento de Heidegger

aparece com clareza em "A Náusea". A definição do homem como um ser de

possibilidades que encontra ou perde a si mesmo nas escolhas que faz com

respeito a si mesmo corresponde à definição de Heidegger do que chamou

Dasein como o ser que tem que se fazer, se materializar. Segundo seus

críticos, no L'Être et le néant (1943), um ensaio de ontologia fenomenológica,

está óbvio que Sartre copiou de Heidegger. Algumas passagens da obra de

Heidegger Was ist Metaphysik? (1929- "Que é a Metafísica?"), na verdade

foram literalmente copiadas. O significado do "Nada", objeto da investigação

de Heidegger em suas aulas, foi a questão que guiou o pensamento de Sartre.

A LIBERDADE

"O homem está condenado à liberdade". Tal é a máxima sartreana, inúmeras

vezes citada, que se tornou um lugar comum ao se falar em liberdade. Por que

condenado? Afirma Sartre, que a essência do homem é liberdade. Os homens

fazem a partir da liberdade, o que bem entendem de si mesmos.

Esta liberdade não deve Ter limites, não está vinculada a nenhuma lei moral.

Isto não quer dizer que seja confundida com libertinagem. Liberdade absoluta

só existe na projeto fundamental, que é escolha condicionada. Todas as outras

escolhas estão condicionadas a esta escolha fundamental. Sartre procurou dar

à liberdade um caráter social, vinculando-a à responsabilidade que o homem

deve sentir pela humanidade.

Por sua liberdade o homem é responsável por tudo o que lhe aconteça. A

própria negação da liberdade é uma situação de escolha. O homem escolhe, é

livre, mesmo ao escolher não ser livre, pois este é o seu projeto, sua escolha

fundamental, ainda que neste caso seja uma escolha covarde.

O medo da liberdade, a fuga da angústia que ela provoca leva o homem à

atitude de má fé. Esta má-fé é uma atitude paradoxal, irresponsável, uma

mentira , uma ilusão de responsabilidade para com o homem e com o mundo.

É uma mentira que o homem conta para sí próprio. É a atitude de quem finge

escolher.

O homem que recusa a si mesmo naquilo que fundamentalmente o caracteriza

a si mesmo, ou seja, a liberdade, torna-se "sujo", recusa a dimensão do para-si,

e reduz-se à facticidade.

É através da atitude de assumir o risco da liberdade , e sua conseqüente

responsabilidade para com o homem e com o mundo que o homem supera a

má-fé. Ao assumir a liberdade, com todo o seu peso e angústia, o homem

assume a responsabilidade para com toda a humanidade. "...nossa

responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve

toda a humanidade". (J-P. Sartre, O existencialismo é um humanismo, p.219)

Mesmo tendo como inspiração o pensamento de Kierkeggard, Sartre contraria

o pensamento kierkeggardiano ao tomar a posição ateísta. Para ele existe

incompatibilidade absoluta entre ser-em-si e ser-para-si, portanto não pode

conceber Deus como um ser ao mesmo tempo em-si e para-si.

O existencialismo sartreano é uma moral de ação, que vê o ato humano como

definidor do homem. O que importa é o que o homem faz com o que fizeram

dele, diz Sartre em "O existencialismo o é um Humanismo".

Jean-Paul Sartre – Vida e Obra

“A Filosofia aparece a alguns como um meio homogêneo: os pensamentos

nascem nele, morrem nele, os sistemas nele se edificam para nele desmoronar.

Outros consideram-na como certa atitude cuja adoção estaria sempre ao

alcance de nossa liberdade. Outros ainda, como um setor determinado da

cultura. A nosso ver, a Filosofia não existe; sob qualquer forma que a

consideremos, essa sombra da ciência, essa eminência parda da humanidade

não passa de uma abstração hipostasiada.”

O texto acima constitui as linhas iniciais do livro Questão de Método, escrito,

paradoxalmente, por um homem que jamais deixou de fazer de todos os

momentos de sua vida uma permanente reflexão sobre os problemas

fundamentais da existência humana.

Jean-Paul Sartre nasceu em Paris, no dia 21 de junho de 1905. O pai faleceu

dois anos depois e a mãe, Anne-Marie Schweitzer, mudou-se para Meudon,

nos arredores da capital, a fim de viver na casa de Charles Schweitzer, avô

materno de Sartre. Sobre a morte do pai, escreverá mais tarde: “Foi um mal,

um bem? Não sei; mas subscrevo de bom grado o veredicto de um eminente

psicanalista: não tenho Superego”.

Seja como for, talvez a ausência da figura paterna em sua vida possa explicar

por que Sartre se tornou um homem radicalmente livre, tomada a expressão no

sentido que ele lhe dará posteriormente: não existe uma natureza humana, é o

próprio homem, numa escolha livre porém “situada”, quem determina sua

própria existência.

Outro traço marcante na formação de Sartre foi a imaginação criativa,

alimentada pela leitura precoce e intensiva: “...por ter descoberto o mundo

através da linguagem, tomei durante muito tempo a linguagem pelo mundo.

Existir era possuir uma marca registrada, alguma porta nas tábuas infinitas do

Verbo; escrever era gravar nela seres novos foi a minha mais tenaz ilusão ,

colher as coisas vivas nas armadilhas das frases...” Como conseqüência, aos

dez anos de idade quis tornar-se escritor e ganhou uma máquina de escrever.

Seria seu instrumento de trabalho por toda a vida.

Em 1924, aos dezenove anos de idade, Sartre ingressou no curso de filosofia

da Escola Normal Superior, onde não foi aluno brilhante, mas muito

interessado, especialmente pelas aulas de Alain (1868-1951), que dedicava

atenção particular à discussão do problema da liberdade. Na Escola Normal,

Sartre conheceu Simone de Beauvoir (1908 - 1986), “uma moça bem-

comportada” que lhe afirmou : “A parti r de agora, eu tomo conta de você”.

Desde então, nunca mais se separaram.

Terminado o curso de filosofia, em 1928, Sartre teve de prestar o serviço

militar e o fez em Tours, na função de meteorologista Depois disso obteve

uma cadeira de filosofia numa escola secundária do Havre, cidade portuária.

Nessa época escreveu um romance, A Lenda da Verdade, recusado pelos

editores. Em 1933, passou um ano em Berlim, estudando a fenomenologia de

Edmund Husserl (1859-1938), as teorias existencialistas de Heidegger e Karl

Jaspers (1883-1969) e a filosofia de Max Scheller (1874-1928). A partir

desses autores, Sartre foi levado a obras de Kierkegaard (1813-1855). Apoiado

nessas referências principais, Sartre elaborou sua própria versão da filosofia

existencialista.

Na Alemanha, Sartre iniciou a redação de Melancolia, romance mais tarde

concluído e intitulado A Náusea. De volta à França, publicou, em 1936, A

Imaginação e A Transcendência do Ego, trabalhos marcados por forte

influência da fenomenologia. Em 1938, foi editada A Náusea. Um ano depois,

uma coletânea de contos, O Muro, e o ensaio Esboço de uma Teoria das

Emoções; em 1940, mais um ensaio, O Imaginário, que, como o anterior,

utilizava o método fenomenológico.

O “engajamento” existencialista

Ao estourar a Segunda Guerra Mundial, Sartre foi convocado para

servir como meteorologista na Lorena. Em junho de 1940, caiu prisioneiro e

foi encerrado no campo de concentração de Trier, Alemanha. Cerca de um ano

mais tarde, conseguiu escapar e, na primavera de 1941, encontrou-se, em

Paris, com Simone de Beauvoir.

Em Paris, Sartre fundou o grupo Socialismo e Liberdade, a fim de colaborar

com a Resistência, produzindo panfletos clandestinos contra a ocupação alemã

e contra os colaboracionistas franceses. Em março de 1943, encenou sua

primeira peça teatral, intitulada As Moscas, uma lenda grega, segundo o

programa. Na verdade, todos os elementos da peça funcionavam

simbolicamente: o reino de Agamenão era a França ocupada; Egisto, o

comando alemão que depusera ás autoridades francesas; Clitemnestra, os

colaboracionistas; a praga das moscas, o medo de setores cada vez mais

amplos da população; o gesto final de Orestes, eliminando a praga das moscas,

uma exortação à luta contra os alemães.

No mesmo ano, Sartre publicou um volumoso ensaio filosófico, iniciado em

1939: O Ser e o Nada, obra fundamental da teoria existencialista. Em 1945,

uma nova peça teatral, Entre Quatro Paredes, põe em cena personagens que

vivem os dramas existenciais abordados por Sartre nas obras teóricas. Os

romances que escreveu na mesma época fazem o mesmo: A idade da Razão,

Sursis, Com a Morte na Alma.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, Sartre dissolveu o

movimento Socialismo e Liberdade, por corresponder apenas a uma

necessidade da Resistência, e fundou a revista Os Tempos Modernos,

juntamente com Merleau-Ponty (1908-1961), Raymond Aron (1905-1983) e

outros intelectuais. Na revista apareceram os trabalhos mais diversos,

colocando e analisando os principais problemas da época, sem qualquer

espírito sectário.

Em 1946, diante das críticas à sua filosofia existencialista, exposta em O Ser e

o Nada, Sartre publica O Existencialismo é um Humanismo, onde mostra o

significado ético do existencialismo. No mesmo ano, publica também duas

peças, Mortos sem Sepultura e A Prostituta Respeitosa e o ensaio Reflexões

Sobre a Questão Judaica, onde defende a tese de que a emancipação dos

judeus só será possível numa sociedade sem classes. Em 1948, encena As

Mãos Sujas e, três anos depois, O Diabo e o Bom Deus. No plano da ação

política, política essa época marca a aproximação de Sartre do Partido

Comunista, ao qual acaba por filiar-se, em 1952. A intervenção soviética na

Hungria, em 1956, leva-o, porém, a romper com o Partido e escrever um

artigo, O Fantasma de Stálin, no qual explica sua posição, em face dos desvios

do espírito do marxismo por parte das autoridades soviéticas.

Nos anos seguintes, Sartre continuaria sendo, ao mesmo tempo, um homem de

ação e de pensamento. Em 1960, publica um extenso trabalho, ho, a Crítica da

Razão Dialética, precedido ido pelo ensaio Questão de Método, nos quais se

encontram reflexões no sentido de unir o existencialismo e o marxismo. A

obra literária também não cessa e no mesmo ano é estreada a peça

Seqüestrados de Altona, cujo tema é o problema do colonialismo francês na

Argélia, embora a ação transcorra na Alemanha nazista. O interesse pelo

problema argelino liga-se, em Sartre, aos problemas mais gerais do Terceiro

Mundo. Viaja para Cuba e para o Brasil (1961) e vê no conflito vietnamita um

alargamento “do campo do possível” por parte dos revolucionários vietcongs.

Em 1964, surpreende seus admiradores com As Palavras, análise do

significado psicológico e existencial de sua infância. No mesmo ano é-lhe

atribuído o Prêmio Nobel de Literatura, mas ele o recusa. Receber a honraria

significaria reconhecer a autoridade dos juízes, o que considera inadmissível

concessão.

A carreira Literária de Sartre parecia a muitos ter-se encerrado com As

Palavras. Em 1971, porém, Sartre surpreende de novo seu público, com a

primeira parte de um extenso estudo sobre Flaubert, L'Idiot de Famille.

Itinerário do pensamento sartreano

Do ponto de vista estritamente filosófico, o itinerário do pensamento de Sartre

inicia-se com A Transcendência do Ego, A Imaginação, Esboço de uma

Teoria das Emoções e O Imaginário, publicados entre 1936 e 1940. Neles

encontram-se aplicações do método fenomenológico formulado por Husserl,

ao mesmo tempo que o autor se afasta do mestre e chega a criticar algumas de

suas posições. Mas a obra na qual se encontra a filosofia existencialista que

celebrizou Sartre é O Ser e o Nada.

O Ser e o Nada subintitula-se ensaio de ontologia fenomenológica, o que

desde o início define a perspectiva metodológica adotada pelo autora A

abordagem proposta pretende não confundir o objetivo do livro com as

metafísicas tradicionais. Estas sempre contrastaram ser a aparência, essências

subjacentes à realidade e fenômenos, o que estaria atrás das coisas e as

próprias coisas como suas manifestações. A ontologia fenomenológica

superaria essa dual idade pela descrição do ser como aquilo que se dá

imediatamente, ou seja, não propondo explicar a experiência humana por

referência a uma realidade extrafenomenal. Nesse sentido, a ontologia

fenomenológica seria idêntica a outras espécies de descrições

fenomenológicas, como as que o próprio Sartre realizou com relação às

emoções e ao imaginário. Para Sartre, o dualismo de ser e parecer não tem

mais “direito de cidadania na filosofia”. O ser de um existente qualquer seria

precisamente aquilo que parece e não existiria outra real idade fora do

fenômeno: “O fenômeno pode ser estudado e descrito enquanto tal, pois ele é

absolutamente indicativo de si mesmo”. Isso não quer dizer que o fenômeno

não seja verdadeiramente um ser. Para Sartre, o ser do fenômeno é posto pela

própria consciência e esta tem como caráter essencial a intencionalidade. Em

outros termos, a consciência visa a um objeto transcendente, implicando,

portanto, a existência de um ser não-consciente. Poder-se-ia então concluir

que existem dois tipos de ser: o ser-para-si (consciência) e o ser-em-si

(fenômeno).

Do ser-em-si somente se pode dizer que ele “é aquilo que é”. Isso significa

que o “ser-em-si é opaco para si mesmo”, nem ativo nem passivo, sem

qualquer relação fora de si, não derivado de nada, nem de outro ser: o ser-em-

si simplesmente é. Daí o caráter de absurdo que o ser-em-si carrega como sua

determinação fundamental. A densidade opaca, o absurdo do ser-em-si

provocaria no homem o mal-estar, que Sartre denomina náusea.

Para Sartre, o ser-para-si, a consciência, é radicalmente diferente, definindo-se

“como sendo aquilo que não é e não sendo aquilo que ele é”. Enquanto o ser-

em-si é inteiramente preenchido por si mesmo e sem nenhum vazio, a

consciência é constituída por uma descompressão do ser. A consciência é

presença para si mesma, o que supõe que uma fissura se instala dentro do ser.

Essa fissura, ou descolamento, é a marca do nada no interior da consciência. O

nada é um “buraco” mediante o qual se constitui o ser-para-si, e o fundamento

do nada é o próprio homem: “mediante o homem é que o nada irrompe no

mundo”.

O ser-para-si conteria, portanto, uma abertura e seria precisamente essa

abertura a responsável pela faculdade do para-si no sentido de sempre poder

ultrapassar seus próprios limites. Enquanto o ser-em-si permaneceria fechado

dentro de suas próprias fronteiras, o ser-para-si ultrapassar-se-ia

perpetuamente, e esse poder de transcendência seria expresso através das

formas do tempo. Em outros termos, o ser-para-si seria um ser para o futuro,

seria espontaneidade criadora.

Segundo Sartre, o tempo é também expressão de mistura entre o em-si e o

para-si e essa mistura constitui a existência humana. Dentro dessa perspectiva,

o passado não existe, a não ser enquanto ligado ao presente; todo indivíduo

pode afirmar: eu sou meu passado e no momento de minha morte não serei

mais do que o meu passado que, agora, é meu presente. O passado, pensa

Sartre, é a marca do em-si. Enquanto o homem é consciente de si mesmo, no

presente, ele vive segundo o modo do para-si; contudo, o seu passado tem

todas as características do em-si. Da mesma forma como o corpo humano das

sereias termina em cauda de peixe, a existência humana constitui-se,

sobretudo, pela espontaneidade da consciência, mas encontra atrás de si um

ser que tem toda a fixidez de uma coisa qualquer do mundo.

Apesar disso, afirma Sartre, não é possível ver na consciência algo distinto do

corpo: Este não é uma coisa que se liga exteriormente à consciência; pelo

contrário, é constitutivo da própria consciência. A consciência é,

estruturalmente, intencional e, portanto, relação com o mundo; o corpo

exprime a imersão no mundo, característica da existência humana. O corpo é

um centro, em relação ao qual se ordenam as coisas do mundo e, por isso,

constitui uma estrutura permanente que torna possível a consciência. Sartre

vai mais longe em sua interpretação, dizendo que o corpo é a própria condição

da liberdade. Não existe liberdade sem escolha e o corpo é precisamente a

necessidade de que haja escolha, isto é, de que o homem não seja

imediatamente a total idade do ser. O corpo é, por conseguinte, tanto a

condição da consciência como consciência do mundo, quanto fundamento da

consciência enquanto liberdade.

Dramas da liberdade

A teoria sartreana do ser-para-si conduz a uma teoria da liberdade. O ser-para-

si define-se como ação e a primeira condição da ação é a liberdade. O que está

na base da existência humana é a livre escolha que cada homem faz de si

mesmo e de sua maneira de ser. O em-si, sendo simplesmente aquilo que é,

não pode ser livre. A liberdade provém do nada que obriga o homem a fazer-

se, em lugar de apenas ser. Desse princípio decorre a doutrina de Sartre,

segundo a qual o homem é inteiramente responsável por aquilo que é; não tem

sentido as pessoas quererem atribuir suas falhas a fatores externos, como a

hereditariedade ou a ação do meio ambiente ou a influência de outras pessoas.

Por outro lado, a autonomia da liberdade, enquanto determinação fundamental

e radical do ser-para-si, vale dizer do homem, faz da doutrina existencialista

uma filosofia que prescinde inteiramente da idéia de Deus. Sartre tira todas as

conseqüências desse ateísmo, eliminando qualquer fundamento sobrenatural

para os valores: é o homem que os cria. A vida não tem sentido algum antes e

independentemente do fato de o homem viver; o valor da vida é o sentido que

cada homem escolhe para si mesmo. Em síntese, o existencialismo sartreano é

uma radical forma de humanismo, suprimindo a necessidade de Deus e

colocando o próprio homem como criador de todos os valores.

Ao lado das análises volumosas e rigorosamente técnicas de O Ser e a Nada,

nas quais se encontra exposta a filosofia existencialista, Sartre expressou seu

pensamento através de várias obras I literárias,

que o colocam como um dos maiores escritores do século XX. Nelas

encontram-se todos os temas fundamentais de sua concepção do homem, real

realizados no plano concreto das personagens, suas ações e suas situações

existenciais.

Antoine Roquentin, personagem principal de A Náusea (1938), vive sozinho,

sem amigos, sem amante, nada lhe importando, nem os outros homens, nem

ele mesmo; o mundo para ele não tem nenhuma razão de ser e é absurdo

porque composto de seres em-si: a cidade, o jardim, as árvores.

Pablo Ibietta, republicano espanhol, personagem central de O Muro, vive uma

das “situações-limite” descritas por Sartre: momentos de intensificação de

conflitos sociais e individuais, quando o homem é obrigado a fazer uma

escolha e afirmar sua liberdade radical. Pablo Ibietta, preso e torturado pelos

fascistas de Franco, vê postas à prova as virtudes da coragem, fidelidade e

sangue-frio. O próprio Sartre viveu uma dessas “'situações-limite”, quando

preso num campo de concentração nazista, em 1940, do qual conseguiu fugir,

fazendo sua escolha: participar da resistência ao invasor alemão.

O problema da ação e da liberdade constitui o tema da trilogia de romances Os

Caminhos da Liberdade. No primeiro, A Idade da Razão (1945), as questões

individuais predominam, a história e a política são panos de fundo. Mathieu

Delorme, jovem professor de filosofia, procura a liberdade pura, sem

compromisso de qualquer espécie; Brunet, ao contrário, personifica a renúncia

da liberdade pessoal em favor do engajamento político; Daniel ilustra a tese

gideana da liberdade como ato gratuito, sem qualquer motivo; Jacques

abandona os sonhos juvenis de liberdade para casar-se, ter um trabalho, viver

uma vida “regular”. No segundo volume da trilogia, Sursis (1945), os

acontecimentos políticos revelam que os projetos de vida individuais são, na

verdade, determinados pelo curso da história, tornando-se ilusória a busca da

liberdade num plano puramente pessoal: a liberdade é sempre vivida "em

situação" e realizada no engajamento de projetos voltados para interesses

humanos comunitários. Apenas um compromisso com a história pode dar

sentido à existência individual. Em Com a Morte na Alma (1949), último

romance da trilogia, trilogia, Mathieu ilustra a tese do engajamento gratuito;

ele arrisca a própria vida apenas para retardar algumas horas a investida das

tropas alemãs.

Outras obras literárias de Sartre ilustram as teses existencialistas. Canoris,

personagem da peça Mortos sem Sepultura (1946), é um homem de ação,

pronto para enfrentar a morte pela causa da liberdade. Hugo, nas Mãos Sujas

(1948), é um intelectual da classe média, engajado no Partido Comunista, não

“por convicção” mas para satisfazer sua necessidade de ação. Na peça O

Diabo e o Bom Deus (1951), Goetz é um nobre da Idade Média que abandona

seus privilégios para fazer o bem aos camponeses. Inspirados nesse exemplo,

os camponeses rebelam-se contra todos os senhores feudais e empregam a

violência. Goetz acaba por concluir que, para transformar o mundo, a

violência, às vezes, é necessária; é preciso “ter as mãos sujas”, para combater

a opressão; o Bem abstrato e sobrenatural nada consegue realizar, só o próprio

homem é criador de sua liberdade.

Existencialismo e marxismo

O homem enquanto ser-em-situação, a necessidade de engajamento, a

responsabilidade pessoal por todas as ações e projetos de vida e, sobretudo, a

liberdade como raiz fundamental da pessoa humana são as coordenadas do

pensamento existencialista de Sartre. As obras puramente teóricas expõem

seus fundamentos filosóficos, e o teatro, o romance e o conto revelam

concretamente essas idéias. Por outro lado, a própria vida do autor,

principalmente depois de 1940, quando passou a participar ativamente dos

acontecimentos políticos de seu tempo, também é testemunho de suas teses.

As posições filosóficas iniciais de Sartre sofreram transformações, à medida

que o filósofo buscou inserir o existencialismo numa concepção mais ampla.

Essas transformações derivaram, por um lado, do próprio existencialismo

sartreano, que constitui uma filosofia “aberta”, e, por outro, do engajamento

social e político do filósofo. Do ponto de vista da fundamentação teórica, essa

nova concepção de Sartre encontra-se em Questão de Método e Crítica da

Razão Dialética, publicadas em 1960.

Nessas obras, o problema fundamental colocado pelo autor é saber se é

possível constituir uma antropologia ao mesmo tempo estrutural e histórica.

Em outros termos, o objetivo visado por Sartre é saber se há possibilidade de

se reencontrar uma compreensão unitária do homem, para além das várias

teorias, das várias técnicas, das várias ciências que o investigam. Sartre,

contudo, não pretende inventar esse novo saber do homem. Não se trata de

opor à tradição uma nova filosofia, capaz de fornecer soluções para os

problemas que as antigas doutrinas sobre o homem não conseguiram resolvera

Esse novo saber já existe segundo Sartre e circula anonimamente entre os

homens: o marxismo. O marxismo, para Sartre, é a filosofia insuperável do

século XX, “é o clima de nossas idéias, o meio no qual estas se nutrem... a

totalização do saber contemporâneo”, porque reflete a práxis que a engendrou.

Na mesma linha de idéias, Sartre afirma que, depois da morte do pensamento

burguês, o marxismo é, por si só, “a cultura, pois é o único que permite

compreender as obras, os homens e os acontecimento i mentos”.

Sartre, contudo, não quer se referir ao marxismo oficial, tampouco pretende

revisar ou superar as obras de Marx, pois para ele o marxismo supera-se a si

mesmo, sendo uma filosofia que, por conta própria, se adapta às

transformações sociais. Por outro lado, também não pretende voltar ao

materialismo dialético puro e simples, pois este – pensa Sartre – não

conseguiu dar conta das ciências, que permanecem ainda no estágio

positivista. Também não se trata do materialismo histórico exclusivamente.

Separar o materialismo dialético do materialismo histórico constituiria uma

divisão artificial dos domínios do saber e contrariaria o espírito do marxismo,

que pretende ser um projeto de totalização do conhecimento.

Dentro da concepção sartreana de que o marxismo constitui a “filosofia de

nosso tempo”, o existencialismo é concebido como “um território encravado

no própria marxismo” que, ao mesmo tempo, o engendra e o recusa. O

marxismo de Sartre é, assim, um marxismo existencialista, dentro do qual o

existencialismo seria apenas uma ideologia. Um segundo aspecto de sua

doutrina consistiria no modo pelo qual Sartre procura resolver o problema das

relações materiais de produção, através do projeto existencial. O que não

significa que se trate de um existencialismo tingido de marxismo, posto que o

existencialismo esteja “encravado” no marxismo. Significa antes que, se o

saber é marxista, sua linguagem pode ser a linguagem do existencialismo. Ao

afirmar que o marxismo “é a filosofia insuperável de nosso tempo”, Sartre não

faz dela uma filosofia eterna. A rigor afirma , o marxismo deverá ser superado

quando existir “para todos uma margem de liberdade real além da produção da

vida”. Pode-se imaginar, no futuro, num universo de abundância, uma

filosofia que seja apenas uma filosofia da liberdade; mas a experiência atual

não permite sequer imaginá-la.

Cronologia

1905 – Jean-Paul Sartre nasce em Paris, a 21 de junho.

1907 – Morte de seu pai: Muda se para a casa da avó materna, em Meudon;

retorna a Paris quatro anos depois.

1917 – Em novembro, os comunistas conquistam o poder na Rússia. 1922 –

Mussolini, na Itália, instaura o regime fascista.

1924 – Sartre matricula-se na Escola Normal Superior, em Paris. Conhece

Simone de Beauvoir.

1931 – É nomeado professor de filosofia no Havre.

1933 – Hitler instaura o regime nazista na Alemanha.

1936 – Sartre publica A Imaginação e A Transcendência do Ego.

1938 – Publica A Náusea.

1939 – Eclode a Segunda Guerra Mundial.

1940 – Servindo na guerra, Sartre é feito prisioneiro pelos alemães e enviado a

um campo de concentração.

1941 – Liberto, volta a França e entra para a Resistência. Funda o movimento

Socialismo e Liberdade.

1943 – Publica O Ser e o Nada.

1945 – Fim da Segunda Guerra Mundial. Sartre dissolve Socialismo e

Liberdade e funda, com Merleau-Ponty, a revista Les Temps Modernes.

1952 – Sartre ingressa no Partido Comunista Francês.

1956 – Rompe com o Partido Comunista. Escreve O Fantasma de Stálin.

1960 – Sartre publica Crítica da Razão Dialética.

1964 – Publica As Palavras. Recusa o Prêmio Nobel de Literatura.

1968 – Durante a revolta estudantil na França e em várias partes do mundo,

Sartre põe-se ao lado dos estudantes nas barricadas.

1970 – Sartre assume simbolicamente a direção do jornal esquerdista La

Cause de Peuple, em protesto à prisão de seus diretores.

1971 – Publica O Idiota da Família.

1973 – Colabora na fundação do jornal libertário Libértacion.

1980 – Morre Jean-Paul Sartre.

Bibliografia:

SARTRE – Os Pensadores – Ed. Abril – Consultoria: Marilena Chauí