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1 COLEÇÃO DE BOLSAS INSPIRADA NO CENTENÁRIO DE VIDA DE CARMEM MIRANDA HANDBAG COLLECTION Samantha Feroldi 1 Taiza Kalinowski Anselmo 2 Resumo Artigo vinculado à área do Design de Moda o qual aborda pesquisas relacionadas aos hábitos de consumo do público feminino, ao mercado de bolsas e acessórios em geral além de aspectos relevantes da vida da figura inspiradora, cujo centenário de vida é comemorado no ano de 2009, para o desenvolvimento de uma coleção de bolsas femininas para o verão 2010 a qual se aproxime da personalidade do público alvo e seja a introdutora de uma nova marca de acessórios femininos no mercado. Para tanto utiliza uma metodologia de projeto própria idealizada a partir do método desenvolvido por Gomes (2005) intitulado “Os 4 P’s do Design” e do pensamento metodológico proposto por Keller (2003) intitulado “Planejamento de Coleção”. Palavras-chave: Bolsas, Mulheres, Consumo e Carmem Miranda. Abstract Article entailed with Fashion Design discussing searches about women consume habits, the fashion accessories and bags market and important points about the inspiration`s life, whose life centenarian is commemorated in 2009, to the development of a female Handbag collection summer 2009 that approach to the public and introduce a new brand of female accessories in fashion market. Apply a personal project methodology based on method of Gomes (2005) called “The 4 P’S of Design” and the methodology suggested by Keller(2003) and called “Collection Planning”. Keywords: Handbags, Women; Consume and Carmem Miranda. 1 INTRODUÇÃO Em algum momento da História, de acordo com Johnson (2002), um punhado de pele atado a um pedaço de pau serviu para armazenar alimentos e pequenas ferramentas do homem: seria este o esboço conferido à primeira bolsa. Já no século XVII, sua principal função passou a ser o transporte de moedas e, amarradas à cintura, eram utilizadas tanto por homens quanto por mulheres, sendo que elas a carregavam sob as volumosas saias. 1 Acadêmica do 8º período do curso de Design de Moda da Univali. 2 Professora Orientadora

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COLEÇÃO DE BOLSAS INSPIRADA NO CENTENÁRIO DE VIDA

DE CARMEM MIRANDA

HANDBAG COLLECTION

Samantha Feroldi

1

Taiza Kalinowski Anselmo2

Resumo

Artigo vinculado à área do Design de Moda o qual aborda pesquisas relacionadas aos hábitos de consumo do público

feminino, ao mercado de bolsas e acessórios em geral além de aspectos relevantes da vida da figura inspiradora, cujo

centenário de vida é comemorado no ano de 2009, para o desenvolvimento de uma coleção de bolsas femininas para o verão

2010 a qual se aproxime da personalidade do público alvo e seja a introdutora de uma nova marca de acessórios femininos

no mercado. Para tanto utiliza uma metodologia de projeto própria idealizada a partir do método desenvolvido por Gomes

(2005) intitulado “Os 4 P’s do Design” e do pensamento metodológico proposto por Keller (2003) intitulado “Planejamento

de Coleção”.

Palavras-chave: Bolsas, Mulheres, Consumo e Carmem Miranda.

Abstract

Article entailed with Fashion Design discussing searches about women consume habits, the fashion accessories and bags

market and important points about the inspiration`s life, whose life centenarian is commemorated in 2009, to the

development of a female Handbag collection summer 2009 that approach to the public and introduce a new brand of female

accessories in fashion market. Apply a personal project methodology based on method of Gomes (2005) called “The 4 P’S

of Design” and the methodology suggested by Keller(2003) and called “Collection Planning”.

Keywords: Handbags, Women; Consume and Carmem Miranda.

1 INTRODUÇÃO

Em algum momento da História, de acordo com Johnson (2002), um punhado de pele

atado a um pedaço de pau serviu para armazenar alimentos e pequenas ferramentas do

homem: seria este o esboço conferido à primeira bolsa. Já no século XVII, sua principal

função passou a ser o transporte de moedas e, amarradas à cintura, eram utilizadas tanto por

homens quanto por mulheres, sendo que elas a carregavam sob as volumosas saias.

1 Acadêmica do 8º período do curso de Design de Moda da Univali.

2 Professora Orientadora

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Por volta de 1805, as mulheres passaram a utilizar suas pequenas bolsas por fora do

traje e este seria o fato que faria da bolsa um acessório estritamente feminino: os homens

utilizariam os bolsos das calças para guardar seus pertences e as mulheres passariam a

carregar seus “bolsos” à mão (JOHNSON, Anna 2002).

Com o passar do tempo, este acessório se tornou indispensável ao dia a dia feminino e

acompanhou a evolução do papel da mulher na sociedade, suas conquistas e seus dilemas.

Hoje, é um produto intimamente vinculado à personalidade e estilo de cada usuária em

particular, carregando consigo a essência da feminilidade e a afirmação da independência

feminina.

Não se pode falar da história da mala3 sem referir à emancipação da mulher, porque

o modo como a mulher transporta os seus pertences está intimamente relacionado

com a forma como dirige a sua própria vida. [...] No século XXI, a opulência da sua

mala pode sugerir a sua riqueza, embora esta nunca seja inteiramente revelada. O

poder de uma mala (e de uma mulher) reside na solidez, no secretismo e na

elegância que encerram em si. (JOHNSON, 2002, p.05)

Mesmo havendo pouco material científico publicado a respeito do tema, este laço tão

íntimo estabelecido entre o público feminino e a bolsa já o torna interessante e curioso aos

olhos da moda e da pesquisa. Mercadologicamente falando, dados da ABIACAV4 (2008),

comprovam esta afirmativa: anualmente, o Brasil consome em média 62.000.00 de bolsas e

carteiras femininas, um número representativo. Mesmo sendo um mercado consolidado, com

aproximadamente 3.000 indústrias formalmente atuantes no setor, este nicho de mercado

mostra-se economicamente interessante para a inserção de novos produtos que apresentem

inovação estética ou funcional e estabeleçam relações emocionais com a consumidora.

Além desses fatores, este trabalho justifica-se pelo interesse particular da autora pelo

tema Bolsas, tendo ela conhecimento prático na confecção do produto e o intuito de atuar

profissionalmente na área. A materialização desta coleção será, portanto, o primeiro passo

para a realização de seu projeto pessoal que já se encontra vinculado à Pré-Incubadora de

Empresas da Univali: a introdução de uma nova marca de acessórios femininos no mercado, a

Feroldina.

Sendo assim a pesquisa do presente artigo abordará assuntos pertinentes aos hábitos de

vida e de consumo do público alvo, ao cenário do mercado de bolsas em geral e ao universo

3 Termo usado por Jonhson, para referenciar “bolsa”

4 Associação Brasileira das Indústrias de Artefatos de Couro e Acessórios de Viagem

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das marcas no âmbito do marketing, a fim de embasar o desenvolvimento de uma coleção de

bolsas femininas para o verão 2010 a qual desperte o desejo de mulheres femininas,

independentes e criativas e que seja competitiva comercialmente.

Já a escolha da temática de inspiração para a coleção é defendida em função da

comemoração, no ano de 2009, do centenário de vida de Maria do Carmo Miranda da Cunha,

Carmem Miranda, um ícone da cultura brasileira e, por que não, da moda.

Carmem, com sua figura de mulher independente e inovadora, muito se assemelha

com as características da mulher contemporânea e inspirou diversos designers os quais

utilizaram seu apelo visual para compor uma variada gama de produtos. O problema

observado ao qual esta pesquisa fornecerá subsídios para a resolução concentra-se justamente

no fato de como criar um produto que contenha a essência da temática e simultaneamente fuja

da obviedade estética a ela vinculada, já tão conhecida no mercado e que não se enquadra no

estilo do público alvo.

2 METODOLOGIA

Fazendo uso dos conceitos abordados por Gil (1991) a respeito da pesquisa científica,

a presente pesquisa é classificada quanto aos seus objetivos como descritiva por tratar da

descrição e entendimento de uma parcela específica da população, público-alvo, baseando-se

em técnicas padronizadas de coleta de dados.

Tratará do problema de forma quantitativa, utilizando procedimentos técnicos como a

pesquisa bibliográfica e o levantamento de dados.

Quanto á metodologia de projeto, a partir de Munari (1981), consiste em um conjunto

de operações dispostas em uma ordem lógica comprovada pela experiência e necessária para

alcançar o objetivo de um projeto, substituindo a forma artística de criação de um produto por

um estudo prévio no campo no qual se vai projetar, organizando o pensamento criativo. Essa

concepção apresentada pelo autor é totalmente pertinente aos projetos de design voltados a

área da moda, os quais envolvem, além de valores estético-simbólicos, a articulação de

aspectos funcionais, técnicos e mercadológicos.

Cabe ressaltar que projetos de design de moda não registrem-se ao aspecto

estético-formal de um produto, como é entendido pelo senso comum, seu

cerne está justamente na abrangência do processo projetual, o qual envolve

uma visão panorâmica e multidisciplinar (SANCHES, 2008, p.290).

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Tendo em vista o conceito de metodologia de projeto e a sua relevância para o

desenvolvimento de novos produtos, optou-se neste projeto por uma metodologia própria

baseada na proposta metodológica de Keller (2004), intitulada “Planejamento de Coleção”, a

qual parte da escolha da temática e desenvolve-se em 4 etapas seguintes relacionadas à

Pesquisa, Portfólio/Coleção, Desenvolvimento de produto e Composto Mercadológico, e o

método desenvolvido por Gomes (2005), e denominado “Os 4P’S do Design”, sendo estes:

Problema, Posicionamento de mercado, Proposta e Produto.

O Posicionamento de Mercado trata de uma situação ou cenário real/ possível no qual

o projeto enquadrar-se-á. O Problema está relacionado ao grande objetivo pretendido pelo

projeto e deve ser sanado pela Proposta na qual o designer expressará sua capacidade criativa.

Esta, por sua vez, deve materializar-se em um Produto. O importante é que cada qual cumpra

com seu objetivo, independentemente da seqüência escolhida ou até mesmo simultaneidade.

Gomes (2005) defende a flexibilidade em contraponto à linearidade de pensamento

adotada por propostas de outros autores. Segundo ele, o meio não-linear estimula a

intervenção do aluno/designer no método e apresenta-se mais coerente com a realidade de

mercado o qual, em função do tempo escasso, não propicia o andamento totalmente linear. O

dinamismo, porém, faz com que o andamento fique muito mais suscetível à desorganização,

fato que exige do aluno um acompanhamento rígido do cumprimento dos objetivos em

relação aos prazos.

A metodologia mais adequada às particularidades do projeto foi então idealizada a

partir do pensamento organizacional de Keller e adotando a flexibilidade proposta por Gomes.

Foi elaborada a fim de satisfazer as necessidades específicas do projeto. Como é possível

observar no Fluxograma abaixo, após a escolha do tema, dá-se a formulação de

P1(Problema) e P2(Posicionamento de mercado), sendo P2 focado na Pesquisa

Bibliográfica e de Campo relacionada aos hábitos do público e comportamento do mercado de

Bolsas e ações concretas de posicionamento de mercado.

Após a análise e síntese visual desta primeira etapa, dá-se a conceituação, na qual o

conceito, as cores e os materiais são documentados em forma de desenhos e dão origem à

coleção propriamente dita. É o momento de formular P3(Proposta) trabalhando com P1.

Na etapa três, o foco é direcionado para a produção que originará P4(Produto) e terá

como base a modelagem, a elaboração da ficha técnica, o estudo dos processos produtivos e

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os testes com protótipos. Após as devidas adequações, os modelos finais são produzidos e

possibilitam ações relacionadas ao Marketing como a produção de moda e a Exposição a qual

lançará a coleção da marca no mercado regional, retomando assim P2.

Com P3 materializada e P1 resolvido, no momento 4, o composto mercadológico é

criado e, para sentir o impacto resultante do lançamento do produto no mercado regional, a

pesquisa relacionada à P2 é novamente retomada para compor o composto mercadológico

com o qual a marca será apresentada ao mercado.

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Figura 01: Metodologia de Projeto própria, adaptada de Keller (2004) e Gomes (2005).

Fonte: Acervo pessoal (2009)

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Foram escolhidas algumas ferramentas de projeto para aplicação durante as etapas 1 e

2 da Metotodologia propostas por Baxter (2000), Painéis Semânticos e P.F.F.O.A –análise

das Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças dos concorrentes. Foram eleitas por

apresentarem como característica principal a síntese de informações de maneira dinâmica e

ágil. Além destas, a ferramenta de projeto Cronograma é utilizada durante todas as etapas da

metodologia para que os objetivos possam ser alcançados de acordo com os prazos

estabelecidos. Faz-se uso de técnicas auxiliares no processo criativo como o Brainwriting,

também proposto Baxter (2000), a qual visa a documentação de um grande número de idéias e

posterior triagem das mesmas para alcançar soluções criativas, além de uma técnica própria

denominada SketchBook, livro documental no qual as imagens de referência são articuladas

juntamente com desenhos livres.

3 AMBIENTAÇÃO E TEMÁTICA

Com o intuito de atingir o objetivo principal apresentado, faz-se necessária a utilização

de um referencial teórico a respeito de itens de pesquisa pertinentes ao tema tais como o

consumo no contexto do público feminino e a relação entre ele a bolsa, abordagens de

marketing relevantes para a introdução de uma nova marca no mercado além da pesquisa

relacionada à temática de inspiração.

3.1 O consumo no contexto feminino

Poucos autores tratam da origem do modelo de consumo no qual a sociedade encontra-

se inserida atualmente. Sant’Anna (2008) aponta que, sociologicamente, houve um período

histórico no qual o consumo de bens pelo homem passou a adquirir um caráter simbólico

vinculado a felicidade e satisfação pessoal, deixando em segundo plano a funcionalidade em

si. Desde a Revolução Industrial, a oferta de produtos beneficiados e industrializados se

tornou crescente, mas foi a partir da década de cinqüenta, com o fim dos tempos de guerra e o

clima de liberdade dos anos dourados, que o consumidor passou a interagir com esses

produtos de uma maneira diferenciada estimulados pelo idealismo do american way of life.

Segundo Sant’Anna (2008), nesta época, os meios de comunicação brasileiros

passaram a difundir um clima de juventude e modernização inspirados também na figura

jovial e na proposta política do então presidente JK, que defendia a modernização do país

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com energia e agilidade fazendo uso do slogan 50 anos em 5. O cinema americano e a

imprensa estimulavam a liberdade de comportamento frente aos padrões rígidos sociais

vigentes até então, estimulando a juventude a novas formas de pensamento associadas ao bem

estar pessoal e às experiências de prazer antes reprimidas pelos pais. Esses fatores

modificaram a forma de publicidade adotada pelas empresas, que passaram a enfatizar a

sensação do individuo ao usar seu produto e não mais os benefícios funcionais que ele

proporcionava e, com isso, o consumidor passou a projetar imagens relacionadas ao uso dos

mesmos em seu psicológico no ato da compra, associando-os à construção de uma imagem

pessoal ajustada a sua personalidade e à nova modernidade. Um fator que fortaleceu ainda

mais este vinculo foi o surgimento do shopping center e das redes de supermercados que

proporcionavam a compra de produtos sem o intermédio de vendedores, possibilitando aos

clientes uma nova sensação de compra.

Para isso, as transformações na relação de compra e venda foram

significativas (...) a mediação feita pelos vendedores passou a concorrer com

uma experiência diferente: aquela de apreciar os produtos sem auxílio dos

vendedores. Essa experiência aproximou o comprador do produto criando

entre eles uma espécie de intimidade ä primeira vista. O consumidor pode,

assim, ficar sozinho, procurando e escolhendo uma gama diversificada de

produtos, ampliando o espaço da projeção de imagens próprias futuras

(SANT’ANNA, 2008, p.04)

Para as mulheres, essa mudança na relação de compra e venda foi ainda mais

significativa. Ao longo de toda a história, elas sempre foram estimuladas a recriminar seus

desejos em virtude do pudor e da moralidade. A mesma autora ressalta que a publicidade nos

anos cinqüenta passou a explorar cenas em que a mulher se abraçava e, fechando os olhos,

sorria exprimindo sua alegria de viver. Não mostrava mais a imagem feminina vinculada à

dona de casa com o avental sujo e rodeada pelos filhos, e sim a esposa e mãe moderna, jovem,

adepta dos novos eletrodomésticos que facilitavam a vida nos afazeres do lar e permitiam às

mulheres ter mais tempo para cuidar de sua beleza e seu bem estar. Agora, elas tinham

também à sua disposição cosméticos que ajudavam a melhorar a aparência, tornando a beleza

mais democrática e acessível. As revistas femininas da época ajudaram a difundir essa nova

imagem da mulher que começava a explorar sua feminilidade e sensualidade, permitindo-se,

com ajuda dos produtos, satisfazer seus anseios pessoais. Seria o primeiro estalo de uma

revolução no mundo feminino que eclodiria, no futuro, na liberdade sexual e na entrada em

massa das mulheres no mercado de trabalho.

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Mesmo com tal mudança em andamento no processo de consumo generalizado,

Feghali (2008), defende que, nos anos 60, a compra especifica de produtos de moda ainda era

orientada por três motivações: necessidade, ocasiões especiais e substituição. Segundo ela, a

grande parte das pessoas não tinha condições financeiras de comprar roupas e acessórios além

do necessário. Foi a produção em massa, as novas tecnologias e o aumento do poder

aquisitivo de grande parcela da população que fez com que as pessoas passassem a consumir

com mais freqüência e por motivações de cunho social como estar na moda, impressionar,

integrar-se a determinado grupo.

O consumidor, aos poucos, mudou suas prioridades e, hoje, os valores emocionais

ligados á simbologia dos produtos guiam a maioria das decisões de compra. Há uma vasta

bibliografia sobre o tema que aponta o consumo, principalmente dos produtos de moda, como

um fator intrinsecamente ligado à formação da identidade pessoal do consumidor. Para Eco

(1989), o comportamento de consumo nada mais é do que a expressão de significados

mediante a posse de produtos que informam aos demais como o indivíduo se percebe e que,

sendo a moda composta essencialmente por símbolos, a ela se aplica muito bem tal

transferência de significados.

Este sistema de significação inerente ao processo da compra de um produto de moda

parece ser ainda mais particular em se tratando do público feminino. Segundo Delvechio,

Andrade e Brünemann (2007), a valorização do relacionamento é algo muito forte entre as

mulheres e por isso elas tendem a estabelecer com mais facilidade um círculo afetivo com

seus objetos de consumo. Seu comportamento é muito mais afetivo-emocional do que

racional e está diretamente ligado a fatores como auto-estima e feminilidade. Desta maneira,

“o consumo da moda pela mulher contém o caráter lúdico, a descoberta enigmática do fio

mágico que faz o encontro com a feminilidade.” (SOUZA COELHO,1995,p. 99 apud

FREITAS 2003, p. 116).

Em se tratando de bolsas, este vínculo se torna significativo já que este produto, ao

contrário de vários outros produtos de moda, não exige que a consumidora se enquadre em

determinados padrões de peso, altura ou idade para usá-lo e torná-lo parte de sua identidade

pessoal. Deixa a mulher livre para expressar seus desejos em qualquer situação, sem

estereotipar ou descriminar nenhum biótipo.

A mala ideal, tal como um bonito par de sapatos, nunca foi, na realidade, uma

questão de necessidade. Pertence ao mundo dos sonhos, do desejo e da

libertação do cotidiano. É a casa de praia que não podemos ter, encarnada

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numa mala de palha italiana, [...] é um lampejo de pedraria como o de uma

estrela de cinema. Objecto portátil da moda, imperturbável perante as

mudanças do corpo e do envelhecimento, a mala é infinitamente optimista.

Usamo-la e ela transporta-nos para as vidas que gostaríamos de viver

(JOHNSON, 2007).

Além da relação especial dos produtos de moda com o público feminino observada

acima, dados quantitativos foram relevantes para a escolha deste público como alvo, a

exemplo do número apontado pelo IBGE (2004) de mulheres economicamente ativas no

Brasil: 44%. Esses fatores revelam o quanto esse público é comercialmente interessante para a

concepção de produtos nesta área do design e que, mesmo tendo uma significativa gama de

produtos de moda a sua disposição no mercado, possibilita novas intervenções criativas

agregadas de inovação estética e valores simbólicos.

1.2 Visões de marketing para a introdução de uma nova marca de acessórios

femininos no mercado

Segundo Cobra (2007), as marcas começaram a ter importância no mercado da moda

quando os tecidos vendidos por metro para as costureiras e alfaiates passaram a ser

identificados pelo nome da fábrica ou do vendedor.

Com a globalização, a marcas dos produtos de moda a ser identificadas pelos

consumidores como referencias de estilo de vida e personalidade, tornando

obsoleta a idéia de marca como pura distinção de procedência para se tornar a soma intangível

dos atributos do produto como seu nome, seu preço, embalagem, história e publicidade. Para

Martins (1999), o “espírito da marca” sintetiza todo o significado que ela contém e é

reconhecido pelas pessoas imediatamente fazendo com que ela se torne parte de um habitat

específico no qual o público a percebe.

O desafio das novas marcas atuantes nos diversos segmentos da moda para fazer frente

a seus concorrentes é envolver o público criando experiências diferenciadas. Para tanto, faz-se

uso das abordagens do Marketing relacionadas ao posicionamento e segmentação de mercado

a fim de estabelecer as relações emocionais corretas junto ao consumidor.

O posicionamento de um produto de moda, conforme os argumentos de Cobra (2007),

não se dá no mercado e sim na mente do consumidor e depende da repercussão da marca na

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mídia especializada e a aceitação do varejo em geral. Segundo ele, as estratégias de

posicionamento podem se dar de diversas maneiras como:

enfoque nos atributos como durabilidade e resistência;

enfoque no tipo de uso e ocasião de consumo;

posicionamento segundo a relação custo benefício em que a imagem do produto

trabalha para conferir diferenciação social ao usuário.

Já a segmentação de mercado é defendida por Cobra (2007) como uma das

ferramentas do Marketing mais utilizadas para conquistar mercados específicos. De acordo

com ele, segmentar é agrupar homogeneamente consumidores de determinada categoria de

produtos por meio de critérios geográficos, demográficos e socioeconômicos - renda, classe

social, ocupação etc.- e psicográficos – estilo de vida e hábitos comportamentais. Para definir

tais aspectos utiliza-se a pesquisa, principalmente de campo, para identificar as características

mais comuns dos compradores para o produto de moda a ser lançado e, conseqüentemente,

possíveis agrupamentos de consumidores potenciais. A partir das informações obtidas pode-se

identificar o tipo ideal de mensagem publicitária a ser utilizada e também a ação varejista para

melhor atender o público pretendido, visando obter vantagens competitivas frente á

concorrência e ainda mensurar o real valor do produto para uma política adequada de preços.

Sendo assim, no momento de planejamento de coleção e inserção de uma nova marca

no mercado, esses fatores relacionados ao Marketing acima descritos são importante pois

relacionam-se diretamente com o conceito que marca/produto pretende estabelecer junto ao

cliente. Sendo a Feroldina uma marca de acessórios femininos que será inserida em um

mercado específico, a segmentação torna-se primordial para guiar o foco da marca junto ao

público alvo.

3.1 Temática de Inspiração

Sabe-se com base em dados mercadológicos que a indústria da moda, hoje, é um dos

setores que mais contribui para a economia do Brasil, empregando milhões de pessoas e

girando um capital financeiro significativo. Além disso, a criatividade brasileira nesta área

vem sendo mais e mais valorizada como diferencial nos produtos.

Para Sanches (2008), neste contexto deflagra-se uma demanda por criadores que

possuam visão abrangente contemplando questões mercadológicas, técnico-produtivas e

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socioculturais envolvidas na elaboração dos produtos de moda para que estes estejam em

maior coerência com as necessidades e desejos dos consumidores. Ela defende que a cultura

da cópia vem sendo, aos poucos, substituída pela cultura da inovação.

Tal inovação exigida nos produtos pelo mercado torna- se complexa quando não há

um objeto de inspiração temática que forneça subsídios para a criação, pois a sensibilidade e

criatividade do designer deve ser constantemente aguçada (RECH, 2003). Aceitando tal ponto

de vista, a inspiração visual para o alcance do objetivo deste projeto encontra-se centrada em

uma das mais importantes figuras da cultura brasileira, Carmem Miranda.

A crise política instaurada em Portugal com a morte do rei Dom Carlos I foi o grande

responsável pela vinda da família de Carmem Miranda ao Brasil em 1909. De acordo com

Castro (2005), no dia 09 de fevereiro de 1909 nasceu Maria do Carmo Miranda da Cunha, em

uma província ao Norte de Portugal, desembarcando no Rio de Janeiro em dezembro de 1909

com pouco mais de 10 meses de idade.

O registro de nascimento de Carmem Miranda nunca a fez sentir-se menos brasileira,

pelo contrário, tinha mais Carnaval nas veias e gingado nos quadris que muitos brasileiros

legítimos. Tinha tino para música e, aos 20 anos, foi descoberta por um organizador de

espetáculos. A música brasileira passava, na época, por muitas mudanças. “Até então, as

canções vinham do teatro e não eram aprendidas no rádio. A presença de sambas e

marchinhas era insignificante, mas tudo isso mudaria próximo a década de trinta, em grande

parte, porque haveria uma Carmem Miranda com interpretação e talento único para enxergar

as entrelinhas das frases ” (CASTRO, 2005, P.41). Seu primeiro grande sucesso, a marchinha

“Taí”, daria início a uma carreira avassaladora e sem precedentes a qualquer cantora nacional.

Carmem passou a ganhar muito dinheiro e, para o público brasileiro em geral, ela era a

primeira mulher a criar para si uma personalidade própria e viver dela, sem a sombra de uma

figura masculina. Na sua idade as moças deveriam estar ao pé do altar e não eram bem vistas

trabalhando como artistas.

Desde menina sonhava com o cinema. Participou de alguns filmes musicais singelos

produzidos no Brasil, mas destes o que realmente se tornou importante para sua vida foi o

filme “Banana da Terra”, onde pela primeira vez incorporou uma personagem que a

acompanharia por muito tempo: a baiana. O samba “O que é que a baiana tem”, de Dorival

Caymmi, se encaixou perfeitamente na interpretação de Carmem.

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Carmem sabia costurar e, quando menina, cosia suas próprias roupas além de trabalhar

numa chapelaria. Essas habilidades a ajudariam a pensar e customizar figurinos únicos. A

fantasia de baiana não era novidade no Carnaval carioca, e por ser barata e de fácil execução,

era vista com desdém nos bailes de gala. No filme “Banana da Terra”, foram os toques

pessoais que deram graça e estilo a baiana de Carmem.

O turbante ainda era modesto para os padrões futuros, mas já levava apliques de

perolas e pedras. Os brincos, enormes. O xale era de renda com fios dourados,

disparando uma profusão de brilhos para a câmera. A bata e a saia eram de cetim,

em listras verdes, douradas e vermelho fúcsia- Carmem intuitivamente atenta para as

cores que fotografassem bem em preto e branco. A saia, por sua vez, dispensava

anáguas e tinha um caimento natural, escondendo as plataformas e emprestando a

Carmem uma silhueta esguia (CASTRO, 2005. p. 172).

Antes da baiana, inventou sua primeira marca registrada: o sapato plataforma. Ela

encomendou a um sapateiro de confiança uma mistura de sapato ortopédico com um tamanco

português. Seu intuito era parecer mais alta que seus 1,52 m e, por esse mesmo princípio,

adotou o uso dos turbantes. Para Castro (2005) estes não eram invenção sua, as mulheres

costumavam usá-los como opção aos chapéus na década de 30 e 40. O que se tornou

realmente inusitado e autêntico foi a união dos dois elementos no look de Carmem.

Em 1939 Carmem estreou uma peça musical nos E.U.A. Os americanos aplaudiram

seu estilo e, logo, suas fotos estavam estampadas nas capas das revistas. Além disso, o que

vestia passou a ser copiado pelas mulheres e as empresas americnas passaram a utilizar sua

imagem para vender produtos de moda.

Figura 02: Inspiração

Fonte: Compilação de imagens realizada pela autora (2009)

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Entre 1940 e 1952, rodou um total de 14 filmes americanos. Seus figurinos afastaram-

se da baiana original, mas eram cada vez mais criativos e surpreendentes. Os filmes, de

acordo com a própria opinião de Carmem, tinham roteiros fracos e seus papéis nunca

passaram de personagens cômicas. O sucesso de Carmem devia-se, além do apelo

comediante, a sua fantástica interpretação musical e as fantasias que explodiam em cores nas

telas.

O fim de sua carreira, como ressalta Castro (2005), teve início com a chegada da

guerra que mudou o clima nos estúdios: de repente, apenas importavam os filmes

“socialmente significantes”. Além disso, com a maratona de trabalho nos E.U.A Carmem

passara a ingerir, gradativamente, doses exorbitantes de anfetaminas para se manter acordada

e barbitúricos para dormir. Por conta deles passara a sentir efeitos colaterais terríveis como

alucinações e ranger de dentes. Por fim, aos 36 anos, entrara em um casamento infeliz e

perdera todas as possibilidades de realizar um sonho pessoal, ser mãe. Nos últimos filmes, a

câmera mostrava uma figura envelhecida, inchada e triste por conta da depressão profunda

que se apossava de sua saúde.

Em 1955, em sua casa, Carmem não resistiu, teve um infarto maciço aos 46 anos. No

Rio de Janeiro, teve seu enterro acompanhado por multidões ao som de suas músicas de maior

sucesso, relembrando os antigos Carnavais em que ela dançara até o amanhecer.

Sua figura, até hoje, encontra-se vinculada à moda e à brasilidade. O São Paulo

Fashion Week Inverno 2009 homenageou seu centenário de vida completado em 2009 com

uma exposição de fotos e trajes do acervo do Museu Carmem Miranda/Funarj e a exemplo

deste, diversos outros eventos em homenagem ao seu centenário seguiram-se nos estados do

Rio de Janeiro e São Paulo, segundo dados divulgados pela imprensa. Muitos também são os

designers e marcas de moda que, ao longo dos anos, vêm utilizando-a como inspiração. É o

caso da Salinas, marca brasileira de biquínis internacionalmente conhecida que se inspirou em

Carmem para sua coleção de verão em 2005 e, recentemente, a Malwee, que a utilizou como

temática para criar peças para um projeto especial que homenageia a arte brasileira. Além

deles, muitos trabalhos artesanais ao estilo Carmem Miranda encontram-se no mercado virtual

como bolsas, acessório e outros badulaques.

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A maioria destes produtos, porém, apresenta uma obviedade estética carregada de

elementos decorativos e poluída visualmente, conforme ilustra o painel semântico da figura

03. Percebe-se então a necessidade de uma abordagem diferenciada em relação à esta temática

de inspiração e que se assemelhe com as características de personalidade e estilo de vida do

público alvo.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA

Após ambientando o cenário no qual o projeto será inserido por meio dos pensamentos

dos autores acima citados e da temática de inspiração, serão descritas neste item análises

referentes aos resultados da pesquisa de campo realizada junto ao público alvo e da pesquisa

de mercado feita com base em dados disponíveis nos sites de algumas das principais marcas

atuantes no setor de acessórios de moda.

4.1 Pesquisa de Campo junto ao Público alvo

Faghiani (2006), explica que as pessoas consomem dentro do ambiente social de sua

cultura, sendo esta um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, costumes e

hábitos. O acesso a tais informações é primordial no momento de criação da proposta que irá

sanar o problema de projeto levantado.

Figura 03: Produtos inspirados em Carmem Miranda

Fonte: Compilação de imagens realizada pela autora (2009)

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O público alvo, conforme painel semântico apresentado na figura 04, é caracterizado

por mulheres jovens em suas atitudes, atuantes no mercado de trabalho e independentes

financeiramente, assumindo diversos papéis na sociedade enquanto mulheres

contemporâneas. Gostam de investir seu dinheiro em produtos que satisfaçam suas

necessidades pessoais e estejam coerentes ao seu ritmo de vida, nunca abrindo mão da

feminilidade e do design em seus objetos de consumo. Desta maneira, o fazem

conscientemente escolhendo produtos de moda de acordo com sua personalidade, não

aderindo a qualquer modismo apenas por influencia da mídia ou para se enquadrar em

determinados grupos.

Para conhecer melhor tal público e traçar o perfil adequado destas futuras

consumidoras, dados quantitativos foram levantados por meio da aplicação de 50

questionários nos municípios de Joinville e Balneário Camboriú, em locais freqüentados pelo

perfil de mulheres acima descrito descritas como Shoppings e Salões de Beleza. As duas

cidade foram escolhidas como locais de aplicação por serem dois grandes centros urbanos do

estado de Santa Catarina, sendo Balneário Camboríu um dos maiores pólos de consumo de

moda da região sul do Brasil. O número de questionários aplicados foi considerado suficiente

pela estabilidade das respostas do quadro percentual.

Dentre as 45 mulheres que responderam os questionários a maioria enquadrou-se na

faixa etária de 18 a 24 anos ou 24 a 30 anos e 98% delas afirmaram ter ensino superior

completo ou em andamento e 91% carro próprio. Estes dados demonstram o bom nível social

relacionado à renda o qual grande parte das entrevistadas possui.

Figura 04: Público alvo Fonte: Compilação de imagens realizada pela autora (2009)

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Além disso, 84% das mulheres costumam comprar acessórios assiduamente e 91%

compram mais de uma bolsa por ano. Sendo assim, gostam de investir seu dinheiro em

acessórios de moda que valorizem sua beleza e ressaltem seu estilo próprio. Se informam

sobre moda e generalidades em revistas femininas como Elle e Cláudia e poucas recordaram-

se das últimas marcas de bolsas que consumiram. Este ultimo fator demonstra que, para elas,

a marca não é o mais importante na escolha de um produto de moda e sim o design e a

qualidade do mesmo. Tais afirmativas comprovam-se ainda mais com a prioridade eleita por

36 das 45 mulheres como a mais relevante na hora da compra de uma bolsa: a estética.

Seguiram-se outros itens, conforme ilustra a figura 05, como qualidade de acabamento, cor e

preço os quais salientam uma consumidora exigente quanto à qualidade dos produtos que

consome e atenta ao seu custo/benefício.

Quando questionadas a respeito do estilo de bolsas que mais se aproxima ao seu

próprio 82% das entrevistadas optaram pelo estilo descrito como casual/sofisticado e

representado visualmente pelas imagens dos produtos abaixo. Apenas 13% são adeptas do

estilo artesanal/customizado ou alternativo, categoria na qual enquadram-se grande parte dos

produtos inspirados na temática Carmem Miranda.

Figura 05: Prioridade no momento de compra de uma bolsa Fonte: Da autora (2009)

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A partir do resultado deste questionamento específico confirma-se a necessidade

levantada quanto à uma abordagem diferenciada relacionada ao tema de inspiração que se

aproxime conceitualmente de um estilo feminino e criativo mas apresente um maior grau de

refinamento, design e sofisticação.

Tais dados são de grande relevância para a etapa criativa da coleção, assim como a

pesquisa descrita no item seguinte relacionada ao mercado de bolsas.

4.1 Pesquisa de mercado

Pesquisar o cenário no qual será inserido novos produtos é de extrema necessidade

quando se trata de um mercado maduro e consolidado no Brasil como o de acessórios/bolsas.

Muitas são as marcas atuantes no setor e de acordo com Jobim e Neves (2008), as

informações relacionadas às inovações tecnológicas e estéticas por elas apresentadas bem

como às tendências identificadas no mercado quanto a formas, estruturas, cores, materiais e

texturas, estimulam e despertam o olhar criativo do designer, o qual deve diferenciar-se em

suas criações buscando a originalidade para competir.

Analisando então as coleções das principais marcas de acessórios internacionais e

nacionais foi possível detectar o estado do design referente a este mercado, ou seja, o que as

marcas propõem de mais novo e interessante.

Nota-se que cada vez mais novas tecnologias vêm sendo agregadas ao couro,

conferindo aos produtos inovações estéticas atrativas. Ainda é o material economicamente

mais valorizado no mercado e seu processamento têm apresentado avanços relacionados à

Gráfico 06: Preferência por estilo de bolsas Fonte: Compilação de imagens realizada pela autora (2009)

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diminuição dos impactos ambientais. A marca brasileira Raphaella Booz apresenta em sua

coleção de verão 2010 sandálias, bolsas e carteiras utilizando estamparia digital sobre o couro

no lugar da pintura a mão já utilizada em outras coleções por ela e outras marcas.

Outros materiais também vêm ganhando espaço, como os tramados em palha

trabalhados pela marca italiana Braccialini, tecidos de algodão e até mesmo sacos de cimento.

O Designer brasileiro Rogério Lima utilizou este material, anteriormente descartado,

beneficiando-o para garantir resistência e aproveitando os próprios desenhos das embalagens

como estampa para suas peças. Já Bruna Starling, designer de bolsas joinvilense que ganha

espaço no mercado nacional, utiliza um material sintético aveludado semelhante ao bojo de

sutiã feminino em suas criações exclusivas como alternativa ao couro. Penas e plumagens

aparecem com freqüência revestindo carteiras de mão e bolsas de festa além do crochê, que

aliado ao couro, é utilizado pela brasileira Irá Salles para confecção de bolsas e carteiras

esteticamente diferenciadas desvinculando este trabalho manual milenar do conceito

ultrapassado de artesanato.

Em relação às formas e volumes, formatos volumosos de rosa sobre o couro foram

concebidos de maneira singular por Valentino e as sobreposições de laços e flores

harmoniosamente pela marca Villador. Além destas, outras marcas utilizaram de babados,

franzidos e formas fragmentadas para compor suas peças, conforme ilustra a figura abaixo. Os

tamanhos, de uma maneira geral, permanecem de médios a grandes e pequenos, em contra

partida da maxi bolsa, tendência de temporadas anteriores.

Figura 07: Estado do design- Materiais Fonte: Compilação de imagens realizada pela autora (2009)

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Quanto à texturização, destacam-se os calçados e bolsas do italiano Sergio Rossi, que

aplicou o bordado manual sobre o couro com textura de cobra trabalhando elementos

orgânicos em tamanhos expressivos, a Braccialini com um trabalho minucioso e criativo de

com recortes e sobreposições de couro em formatos de desenhos. A designer nacional Elisa

Ateniense inovou com tiras de couro em “passa-fitas”, tramados em rede e trançados

inusitados, além do couro retalhado e a Arezzo apresentou em sua coleção o maxitressê,

tramado matelassê em quadriculados maiores.

Figura 08: Estado do design- Formas e volumes

Fonte: Compilação de imagens realizada pela autora (2009)

Figura 09: Estado do design- Texturizações

Fonte: Compilação de imagens realizada pela autora (2009)

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Dentre as marcas nacionais analisadas no estado do design, algumas foram

selecionadas como possíveis concorrentes por apresentarem conceito e público alvo

semelhantes ao proposto pela marca Feroldina, entre elas Elisa Atheniense, Raphaella Booz e

Bruna Starling. As forças, fraquezas, oportunidades e ameaças relacionadas a estes

concorrentes foram analisadas a fim de conhecer suas particularidades e estratégias de

mercado por meio da ferramenta P.F.F.O.A (Pontos Fortes, Fracos, Oportunidades e

Ameaças), conforme a figura abaixo. A análise destes itens possibilita traçar táticas de

inserção e diferenciação do produto no mercado com uma visão abrangente e objetiva da

concorrência.

Figura 10: Análise da concorrência- P.F.F.O.A

Fonte: Acervo pessoal (2009)

A marca Feroldina utilizará o couro como matéria prima de seus produtos, buscando

qualidade de acabamento e diferenciação na aplicação deste material para conceber peças com

design criativo e refinado. A utilização da estamparia é uma boa oportunidade vista em

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relação aos concorrentes porém, necessitará de uma análise futura mais aprofundada para

garantir uma aplicação consensual da técnica com o conceito da marca, fugindo da imagem

demasiadamente casual e de trabalhos já lançados no mercado como a estampa sobre couro

trabalhada pela Raphaella Booz em bolsas e sapatos na ultima coleção de verão..

O preço do produto oferecido ao consumidor final se enquadrará no nível médio no qual

também se encontra o preço dos produtos Raphaella Booz. Como estratégias de marketing

serão adotados catálogos de moda, site atualizado, anúncio em revista além do lançamento

das coleções por meio de eventos comemorativos/culturais.

Quanto ao mercado de atuação, inicialmente, a marca será inserida regionalmente abrangendo

as principais regiões do Estado de Santa Catarina e sul do Brasil, locais de pouca atuação da

marca Elisa Atheniense. Para conquistar uma clientela variada e aumentar o campo de atuação

é prevista a participação de feiras específicas do ramo de acessórios como a Mostra

Acessórios em São Paulo, que tem a marca Bruna Starling como uma de suas expositoras. O

projeto futuro consiste em iniciar a venda das bolsas Feroldina por meio de lojas próprias e,

posteriormente, adotar o sistema de franquias, tal qual vêm fazendo a Raphaella Booz, hoje

com um total de nove lojas no país, e Elisa Atheniense com sete lojas, sendo 4 próprias.

Os dados coletados durante toda a pesquisa fornecem os subsídios necessários para a etapa

criativa, na qual será expressa a solução obtida para o problema levantado no início do

projeto.

5 RESULTADO PARCIAL DA COLEÇÃO

A Feroldina inspira-se para sua coleção de estréia em um dos maiores ícones da cultura

brasileira cujo centenário de vida é comemorado no ano de 2009: Carmem Miranda.

Uma mulher a frente do seu tempo, dona de uma trajetória de sucesso avassaladora na

música brasileira e também no cinema dos anos 30 e 40 que empresta babados, volumes e o

colorido à coleção Verão 2010 Feroldina.

O tema de inspiração traz para esta estação verdes, rosas, laranjas e lilás combinados à

tons variantes de marrom compondo um total de 15 modelos em um mix de bolsas em

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tamanho grande, médio e maxicarteiras abordandoum olhar novo e refinado de Carmem

Miranda .

Um Chica, Chica, Boom CHIC para mulheres femininas, criativas e com muita atitude .

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se que grande parte dos objetivos traçados no início deste projeto foram

alcançados, tendo assim desenvolvido uma coleção de Bolsas Femininas para o verão 2010

próxima do estilo do público alvo da marca, observando os dados coletados na pesquisa de

campo relacionado ao estilo e hábitos de consumo destas mulheres.

Muitos foram os desafios encontrados durante o processo produtivo dos modelos

sendo que a modelagem de bolsas, em nível profissional, é complexa e detalhada, exigindo

um alto grau de conhecimento, estudo e dedicação para que o produto atinja as expectativas

desejadas. Cabe ressaltar que o apoio da empresa do ramo na qual realiza estágio foi essencial

para que a mesma pudesse desempenhar com sucesso a etapa de produção da coleção.

O resultado alcançado, de uma maneira geral, conseguiu resolver o problema criativo

levantando a respeito da abordagem da temática da inspiração. Esse fato será realmente

comprovado quando o produto estiver no mercado em contato direto com a consumidora

final, medindo seu grau de satisfação por meio da compra.

Figura 11: Modelos escolhidos para produção

Fonte: da (2009)

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A marca criada, Feroldina, apresenta um satisfatório grau de planejamento para ser

inserida no cenário de artefatos de couro/ acessórios de maneira competitiva, tendo nesta

coleção o ponto de partida para a atuação profissional na área.

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