COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em...

11
ARTIGO COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OE FALAR SOCIOCONSTRUCIONISTA DIALOGIC COLLABORATION: A SOCIALCONSTRUCTIONIST WAY TO SPEAK ... RESUMO: Esteartigo contern alguns dos töpicos mais importantes da colaboracäo dialöcica em contextos terapeuücos: importantes conceitos do construcionismo social, a contribuicäo da multi- vocalidade para a construcäo social, 0 ceticismo com relacäo a grande narrativa da "psicopatolo- gia",alegitima,ao da eoiaboracäo psicoterapeu- tica e terapia e aconselhamentocorno processos de consnucäo social, Apresenta reftexäo edis- cussäo de formas exitosas de organizar a cola- boracäodialogica e uma postura facilitadora para atingi-Ia, e discute suas irnplicacöes. ABSTRACT: The article contains some oft he most important topics of dialogic collaborationin thera- peutic contexts: important implications of social constructionism, how multivocality contributes to social construction, skepticism towards the grand narrative of "psychopathology", the legitimation of psychotherapeutic collaboration, therapy and counseling as social construetion processes, ways to organize dialogic collaboration success- fully and a stance to foster dialogic collaboration are renectec and implications are discussed. PAlAVRAS-CHAVE: Construcionismo social; cola- boracäodialogica; multivocalidade; psicopatolopia KEYWORDS: Social constructionism, dialogic collaboration, psychopathology KLAUS G. DEISSLER Psic6logo, doutor em Filosofia, diretor do Instituto Sistemico de Marburg, Alemanha, Associado do Instituo Taos - EVA Communicamus ergo sum. * KENNETH J. GERGEN Recebidoem: 15/09/2014 Aprovadoem: 20/10/2014 INTRODUCÄO A pergunta "0 que e construeionismo social?" recebera diferentes respostas, a de- pender de a quem seja feita. Portanto, näo havera respostas univocas ou identi- cas. Dito isso, deve-se esclarecer que 0 presente artigo representa uma tentativa de apresentar minha propria resposta a essa pergunta. Por um lado, esse esfor- <;:0 encontra-se em um contexto de discussöes com pessoas com as quais troquei pontos de vista e formas da pratica terapeutica, ou seja, meus clientes, colegas, e meus propries pareeiros proximos na vida. Claro, as pessoas que me pediram para formular algwnas afirmacöcs sobre esse assunto tarnbem tern sua pareela de influencia ern rninhas forrnulacöes. Estas palavras introdut6rias ja contem mTI prindpio central do construcio- nismo social: tudo 0 que e dito, e dito em contextos de conversacäo concretos. Ern outras palavras, näo ha afirmacöes livres de contexto, que ocorram fora das relacöes atreladas a tempo e lugar, em suma, näo ha afirrnacöcs fora das conver- sacöes."" Novamente, isso significa que 0 significado e construido em contextos comunicativos. A releväncia dessas consideracöes para nossa pratica terapeutica e de aconselhamento sera explicada nas secöes a seguir. * (Iat.): "Comurucamos, logo cxisto'; Gergen. Kcnneth J. (1994). ** 0 postulado consrrurivista (algo) radical de Maturana: "Tudo 0 que c dito, e dito por um observador" significa. ao ser reelaborado nos termos do construcfontsmosocial: Tudo 0 quc e observado por individuos e observado nas conversaesem comum: em outras palavras, observacöes säe sempre partes de um processo comurucaüvo, que säo processos particularmentc dialogicos.

Transcript of COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em...

Page 1: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

ARTIGO

COLABORAC;ÄO OIALOGICA:UMA FORMA OE FALAR SOCIOCONSTRUCIONISTA

DIALOGIC COLLABORATION: A SOCIALCONSTRUCTIONIST WAY TO SPEAK ...

RESUMO: Este artigo contern alguns dos töpicosmais importantes da colaboracäo dialöcica emcontextos terapeuücos: importantes conceitos doconstrucionismo social, a contribuicäo da multi-vocalidade para a construcäo social, 0 ceticismocom relacäo a grande narrativa da "psicopatolo-gia", a legitima,ao da eoiaboracäo psicoterapeu-tica e terapia e aconselhamento corno processosde consnucäo social, Apresenta reftexäo e dis-cussäo de formas exitosas de organizar a cola-boracäo dialogica e uma postura facilitadora paraatingi-Ia, e discute suas irnplicacöes.

ABSTRACT: The article contains some oft hemostimportant topics of dialogic collaboration in thera-peutic contexts: important implications of socialconstructionism, how multivocality contributes tosocial construction, skepticism towards the grandnarrative of "psychopathology", the legitimationof psychotherapeutic collaboration, therapy andcounseling as social construetion processes,ways to organize dialogic collaboration success-fully and a stance to foster dialogic collaborationare renectec and implications are discussed.

PAlAVRAS-CHAVE: Construcionismo social; cola-boracäo dialogica; multivocalidade; psicopatolopia

KEYWORDS: Social constructionism, dialogiccollaboration, psychopathology

KLAUS G. DEISSLERPsic6logo, doutor emFilosofia, diretor do InstitutoSistemico de Marburg,Alemanha, Associado doInstituo Taos - EVA

Communicamus ergo sum. *KENNETH J. GERGEN Recebidoem: 15/09/2014

Aprovadoem: 20/10/2014

INTRODUCÄO

A pergunta "0 que e construeionismo social?" recebera diferentes respostas, a de-pender de a quem seja feita. Portanto, näo havera respostas univocas ou identi-cas. Dito isso, deve-se esclarecer que 0 presente artigo representa uma tentativade apresentar minha propria resposta a essa pergunta. Por um lado, esse esfor-<;:0 encontra-se em um contexto de discussöes com pessoas com as quais troqueipontos de vista e formas da pratica terapeutica, ou seja, meus clientes, colegas,e meus propries pareeiros proximos na vida. Claro, as pessoas que me pedirampara formular algwnas afirmacöcs sobre esse assunto tarnbem tern sua pareela deinfluencia ern rninhas forrnulacöes.

Estas palavras introdut6rias ja contem mTI prindpio central do construcio-nismo social: tudo 0 que e dito, e dito em contextos de conversacäo concretos.Ern outras palavras, näo ha afirmacöes livres de contexto, que ocorram fora dasrelacöes atreladas a tempo e lugar, em suma, näo ha afirrnacöcs fora das conver-sacöes."" Novamente, isso significa que 0 significado e construido em contextoscomunicativos. A releväncia dessas consideracöes para nossa pratica terapeutica ede aconselhamento sera explicada nas secöes a seguir.

* (Iat.): "Comurucamos, logocxisto'; Gergen. Kcnneth J.(1994).

** 0 postulado consrrurivista(algo) radical de Maturana:"Tudo 0 que c dito, e dito porum observador" significa. aoser reelaborado nos termosdo construcfontsmo social:Tudo 0 quc e observado porindividuos e observado nasconversacöes em comum: emoutras palavras, observacöessäe sempre partes de umprocesso comurucaüvo, quesäo processos particularmentcdialogicos.

Page 2: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

8CONSTRUCIONISMO SOCIAL

o construcionisrno social pode ser sim-plesmente definido corno uma "posturafilosofica" (Anderson, 1997), que se rea-Iiza corno wna "forrna de vida" (Witt-genstein, 1984). Essa forma de vida- entendida corno a forrna por rneioda qual moldarnos nossas vidas cornu-nicacionalmente - näo apenas se refereä nossa vida diaria, rnas tambem a vidaprofissional de terapeutas e conselhei-ros", quando se trata de sua pratica. Emambas as areas, as forrnas preferidas depratica säo aquelas nas quais 0 encontrohwnano face a face tem um papel cen-tral, e nas quais, por exemplo, 0 terapeu-ta se torna um "convidado" na vida deseus ou suas clientes (Anderson, 1997).

Central para essa posicäo e 0 pressu-posto de que 0 que chamamos realida-de e criado ern nossos relaeionamentossociais. Dessa forma, esse processo deconstrucäo de realidade que ocorre nae por meio da cornunicacäo tern prece-dencia episternologica sobre as contri-buicöes individuais ao processo. Essanocäo ecoa a afirrnacäo de Bateson deque «0 relacionamento näo e interno clpessoa individual. Näo faz sentido falarsobre 'dependencia' ou 'agressividade'ou 'orgulho' e assim por diante. Todasessas palavras tern suas ralzes no queacontece entre as pessoas, näo ern al-gurna coisa interna ä pessoa. [... ] Maso relacionamento vem primeiro, prece-de" (Bateson, 1982, p. 133). Assim, fazparte da tradicäo de ideias sisternicas.

Esse relacionalismo radical pode serdestacado rnetaforicamente por rneioda resposta a pergunta "0 que vernprirneiro, 0 ovo ou agalinha?". Umaresposta socioconstrucionista seria "arelacäo entre a galinha e 0 galo"

Portanto, ern vez de colocar a descri-cäo da historia e caracteristicas indivi-duais ern primeiro plano, a descricäosoeioconstrucionista do dilerna ilustra

OU outros gruposproflssionais.. a proerninencia das relacöes criando

novidade por meio de processos con-juntos de entendirnento e construcäo.

Isso propöe que 0 significado dascoisas, ideias e especialmente do quefazemos ou dizemos, e C0l110 0 fa-zemos e dizernos, e criado dentro denossas relacöes. Assim, por exernplo, 0

significado de wna faca dcpenderä daforrna com que e usada em um contex-to de cornunicacäo ou em um contextoespecffico de relacöes, Tera diferentessentidos caso seja usada na prepara-cäo de eornida ou corno arrna letal. Damesma forrna, 0 significado mudara sefor usada ern um palco de teatro ou ernum cenario da vida real.

Os diferentes sentidos säe, portan-to, criados ern contextos de relacöessociais. As nocöes de construcionismosocial referern- se, assim, a esses contex-tos. Tornam claro que näo ha wna ne-cessidade "objetiva' ou "transcendente"atribuida, digarnos, ao significado de"Pare!" a "luz verrnelha' no tränsito. 0significado "Pare!" e resultado de umprocesso de construcäo social, e de wnaconvencäo que foi desenvolvida, adqui-rida, testada, modificada, e transrnitidaatraves de muitas geracöes e culturas.

Por isso, as construcöes de sentido-isto e, as construcöes sernänticas - ternsuas raizes nos processos sociais, en-contrando-se, portanto, ern um fluxoperene de transforrnacäo. Definicöestais como 0 significado estabelecidode "luz de tränsito verrnelha' säo umproduto dos processos de construcäosocial e estäo sujeitos a constante afir-macäo e tambern transforrnacäo. In-felizrnente, isso e frequentemente es-quecido e rnuitas vezes agimos cornose essas construcöes sociais fossem"objetivamente" dadas.

Essas consideracöes preliminarestern releväncia consideravel em nossasdiscussöes referentes a classiflcacöes"psicopatolögicas" especialmente quan-do säo vistas corno "objetivamente da-das': Dessa forma, agimos como se esti-

Nova Perspectiva Sistemica, Rio de [aneiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 2014.

Page 3: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

vessemos lidando corn condicöes dadascorno "realidades objetivas" a espera deserem descobertas por especialistas psi-cossociais, de forrna que estas possamentrar na comunicacäo terapeutica e ser"tratadas" de forma correspondente.

de Bakhtin virarn de ponta a cabeca 0

modelo dominante da psicopatologia,ja que signifiearn que as observacöesdos clientes e terapeutas säo vistascorno possuindo valor igual e estäoigualrnente contribuindo para 0 inter-cämbio comunicativo.

Essa conceitualizacäo rernete ästeses criticas de Harlene Anderson eHarry Goolishian (1989), que ques-tionam as estruturas hierarquicas es-pecialistas - e näo especialistas esta-beleeidas em contextos psicossociais.Falarn da atitude de "näo-especialista"e de "näo saber" dos assim charnadosespecialistas e contrastarn essa ati-tude corn a expertise do cliente. Essae a base subjacente a partir da qualAnderson (1997) deriva 0 eonceitode uma colaboracäo ern que eliente eterapeuta säo igualmente aptos a re-alizar contribuicöes e tornar decisöes .00 processo terapeutico - uma "ex-pertise partilhada" cujo enfoque e acolaboracäo co-criativa de clientes eterapeutas.

Ern um de seus prirneiros arti-gos sobre "questionamento circular"Peggy Penn (1983) ja havia defendidoque, por meio de diferentes descricöesda mesrna situacäo - aproxirnando--se da "descricäo dupla" de Bateson -,e possivel alcancar um entendirnento"mais aprofundado" dos problemasnas inter-relacöes hurnanas. Assimcorno as percepcöes duplas resultan-tes de duas posicöes diferentes dosolhos permitem a visäo ern profund i-dade, da rnesrna maneira, descricöesduplas tern repercussöes positivasna comunicacäo humana, na medi-da ern que possibilitarn um entendi-mento melhor emais profundo entreas pessoas. Se aceitamos essa visäo epostulamos que as diferentes vozes edescricöes säo igualrnente legltimas,podemos falar de descricoes multiplas.Elas abrem espacos dialogicos (Penn,

Colabor~äo Dialogica:uma forma de falarsocioconstruclooista ..._ & /leiSSlc<

9

MULTIVOCALIDADE*E CONSTRUCÄO SOCIAL

Nessa perspectiva, outra questäo irn-portante e como apreender os signifi-cados do que fazernos e dizemos: comodeserever os processos de comunicacäopor meio dos quais os sen tidos säo cria-dos e como as pessoas envolvidas con-tribuern para esses processos de comu-nicacäo nos quais participam juntas?

A esse respeito, conceitos cornomultivocalidade e diferencas ern des-cricöes multiplas estäo agora esta-beleeidos como parte das reflexöessocioconstrucionistas.

Excursus: Por meio de sua analise dosromances de Dostoievsky, Bakhtinchegou ao conceito de polifonia. Nes-se ponto, ele expresse a visäo de que ospersonagens que participam dos aconte-

cimentos dos romances de Dostoievskysäo igualmente dignos de se expressar -

e mais, alem disso, 0 autor tambem secxprcssa de forma sirnilar, sem advogarpara si um ponto de vista "superior" ouvalores eticos maiores do que aquelesdos per~onagensdo romance. Dcssa for-rna, todas as diferentes ideias säo vistascorno possuidoras dc igual valor. Essespensamentos ja säe extraordinärtos nocontexto da teoria literana do romance.De acordo com Bakhtin, representam 0

traco que mais distingue os romances deDostoievsky,que e 0 fato de serem poli-fönicos (Bakhtin, 1971).

Se transferidas ao contexto da psi-coterapia e aconselhamento, as ideias •Multtvocalidadc (lat.),

polifonia (gr.) ""muitas vozcs.

Nova Perspectiva Ststemtca, Rio de lanelro, n. 50. p. 7-17, dezembro 2014.

Page 4: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

10 NPS 50 I Dezembro 20141966) para um melhor entendirnentomutuo entre os participantes (Penn,2009). Alern disso, as diferencas queaeornpanharn as multiplas descricöestrazern novas ideias e ampliam a la-titude de acäo. E preeisarnente quan-do 0 valor das mültiplas descricöes econsiderado e as diferencas entre elastornam-se claras que 0 processo deconstrucäo social ocorre. E quandoos significados podern desdobrar -se etransformar-se em um processo con-tinuo de "proposicäo e construcäo desentidos" (Gergen, 2002).

CETICISMO COM RElACÄO A GRANDENARRATIVA DA "PSICOPATOlOGIA"

A consequencia pratica mais impor-tante do "conhecimento pos-rnoder-no" de jean Franccis Lyotard (1979) eseu ceticismo corn relacäo ao que de-nomina "grandes narrativas" DU "meta--narrativas" Estas säo teorias de gran-de escala e/ou tradicöes narrativas, querepresentam e constituem a base paranossos conceitos sobre as areas maisdiversas de nossa existencia e seus sig-nificados para nossa vida cotidiana. 0objetivo dessas grandes narrativas eatingir deterrninadas realidades con-sensuais nos termos dessas teorias. Säoexemplos: crencas religiosas monoreis-tas, teorias sociais corno 0 rnarxismoe as teorias da capitalisrno, ou a teoriade sistemas e psicanalitica enquantoparadigmas psicologicos universais.Ern oposicäo a essas teorias abrangen-tes que explicam 0 rnundo dando-Ihesentido, Lyotard apresenta "pequenasnarrativas" que ocorrem em conversas(diseursos) atreladas ao local. Tais nar-rativas servern para lidar com os pro-blemas cotidianos e criar novos senti-dos e possibilidades de acäo.

Lyotard tern as pequenas teorias ernalta estirna: na totalidade de sua rnulti-

plicidade evariedade, elas ultrapassamo sentido de cosmologias ou teoriasmonoliticas. Obviamente formas te-rapeuticas e de aconselhamento co-laborativas podern ser localizadas naarea que Lyotard denomina "pequenasnarrativas"

Entretanto, ern nossa profissäo, li-damos com uma grande narrativa,caracterizada pelo fato que esta e pa-radoxalmente co"nsiderada indispen-savel por rnuitos especialistas, quandocertos problemas interpessoais terngue ser resolvidos. Näo podernos fazernada alem de questionar essa grandenarrativa se quisermos possibilidadesalternativas: precisamos desconstruira "psicopatologia" Essa narrativa se-gue um lema que a medicina classicaconsidera incgociavel: "Antes do trata-rnento, Deus colocou 0 diagnostico," Eraro que se passe um dia sem relatosque geram bastante atencäo da midiasobre a necessidade crescente de tra-tamento de diferentes doencas psi-copatologicas, enquanto, ao mesrnotempo, 0 numero de doencas rnentaisinventadas ou "descobertas" aumentaexponencialmente.

Nessa perspectiva os discursos cien-tificos estabelecidos se empenharn ernfortalecer essas nocöes. Assim, a gran-de narrativa da psicopatologia pare-ce tornar-se um produto facilrnentevendavel de eujo "valor verdadeiro"a existencia erendimentos de mais emais profissöes e ocupacöes tornarn--se dependentes. Ern outras palavras,a grande narrativa da psicopatologiatambern representa a plataforrna deatividades psicossociais e psicotera-peuticas cujo custo deve ser deduzidodos fundos de seguro de saude: semdeclarar um achado psicopatologico(um diagnostico) associado a umapessoa em particular, näo seria pos-sivel "financiar a psicoterapia' (ouquaisquer out ras atividades psicosso-

Nova Pcrspectlva Sisternica, Rio de Janeiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 2014.

Page 5: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

ciais) "atraves do seguro de saude" emnossas latitudes.o objetivo de qualquer tratarnen-

to pslcotcrapöutico, entretanto, eprecisarnente dissolver os problernasdeclarados - na medida do possivel- ou ao menos reduzi-los e de formaalgurna reafirrna-los ou tornä-los pio-res. Portanto, se a despatologizacäoe a criacäo de novas possibilidadesde acäo estäo no centro da colabo-racäo psicotcrapeutica, e obvio queo que preeisarnos e ter uma posicäocetica eom relacäo a grande narrativada psicopatologia. Dessa forma, näopode ser tarefa de psicoterapeutasestarem sempre elaborando, estabele-cendo e justificando novos emais re-finados resultados de pesquisa sobrepsicopatologia, promovendo e conso-lidando sua aceitacäo pelo consensono discurso social. A primeira e maisurgente virtude do psicoterapeuta de-veria ser reconhecer e superar 0 cara-ter descontextualizado da psicopato-logia e contribuir para 0 processo dedespatologizacäo".

Isso pode ocorrer ern virtude da co-laboracäo corn nossos clientes empe-nhando-nos em desconstruir e contex-tualizar ern principios sisternicos 0 quesuperfieialmente parece ser e foi diag-nostieado corno doenca mental asso-ciada a um individuo. Em virtude dessaforrna de entendirnento, todo proeessodiagnostico torna-se claramente umprocesso de construcäo social e, assim,abre novas possibilidades para a comu-nicacäo tcrapeutica. Nessa colaboracäoentre clientes e terapeutas, novos senti-dos podern ser gerados e diseursos queabrern novas possibilidades podem serpromovidos, podendo ser considera-dos näo apenas conversas tcrapeuticasem um sentido estreito, mas tamberncontribuicöes para 0 discurso socialem geral (Gergen, Anderson & Hoff-man, 1997; Gergen, 2006).

A LEGITIMACÄO DA COLABORACÄOPSICOTERAPEUTICA delalar

sociOconstrucionista ...Klaus G. DeissJer

11

Nesse contexto, corno a colaboracäopsicoterapeutica pode ser legitimadase näo for baseada ern resultados depesquisa, estabelecidos por especia-listas, mas colocando no centro a co-laboracäo terapeutica entre clientese terapeutas ern termos de igualdade(Anderson, 1997)?

Como poderia a pratica psicotera-peutica legitimar-se, se fosse definidafora do modelo da grande narrativada psicopatologia? Nessa questäo, aargumentacäo de Lyotard pode ser se-guida novamente, coincide eom aque-la do construeionisrno social onde edesenvolvida dentro das prernissasdesse autor: a legitimacäo da colabo-racäo psicoterapeutica reside apenasnos diseursos sociais localmente atre-lados, quer dizer, micronarrativas queproduzem novas experiencias e näoprecisam ser orientadas a um consen-so psicopatol6gico universal. Lyotardcharna isso de "legitimacäo por meioda paralogia" (Lyotard, 1994, p. 175).

Nos term os de nossa discussäoatual, as forrnas de colaboracäo po-dem ser legitirnadas sempre que ospartieipantes se engajem nela coleti-varnente, de forma prod utiva, criativae eticamente responsävcl. Ern outraspalavras, legitirnacöes que se utilizamde procedimentos tradicionais cornofundamentos cientificos baseados ernevidencias fundarnentadas em crite-rios "objetivos" Antes, correspondema um discurso social que e justifiea-do pela grande narrativa da psieo-patologia e continua a se reconstruire ajustar dentro do discurso dessametanarrativa. Essa forrna de cons-trucäo social provoca a ernergenciade acordos (regras de consenso), queoferecem orientacäo sobre quandoum procedirnento psicotcrapeutico

•Diseurses salurogcncncoscorno aquelcs Intelades porAntonovsky (1997) estäoexplicitamente inclufdos aqul.

Nova Perspectiva Sisternica, Rio de [aneiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 2014.

Page 6: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

12 NPS 50 1 De!embro 2014deve ter reconhecimento cientificoe, por isso, legitirnidade, e quandonäo. Entretanto, a Iegitimacäo quenäo e orientada ao consenso ditadapela grande narrativa psicopatologi-ca, rnas se apoia preferencialmenteern multiplas descricöcs de micro-narrativas, pode tanto ser investigadacorno praticada como uma alternati-va. A simples afirrnacäo dos clientesdeclarando que a psicoterapia foi utile atingiu seus objetivos bastara parareconhecer essa validade, desde gueesteja daro corno a colaboracäo tera-peutica criou diferencas com as quaisvieram novas ideias e sen ti dos e abriunovas possibilidades de acäo,

COLABORACÄO DIALÖGICA

Terapia e aconselhamento cornoprocessos de constru,äo social

McNarnee e Gergen (1992), assimcorno Gergen (2006), descreverncorno formas diferenres de psicotera-pia e aconselhamento podern ser des-critas corno processos de construcäosocial. Somado aisso, os ultimos 20a 30 anos testernunharam 0 estabele-cimento de abordagens terapeuticasque ou foram diretarnente inspiradasem ideias socioconstrucionistas, oufinalmente, fizerarn uso delas. Isso eparticularrnente verdadeiro no casodas abordagens que Lynn Hoffman(2001) charnou "terapias conversacio-nais" e que tambern se tornou conhe-eido corno forrnas de terapia dialogi-camente orientadas.

Como conselheiros e psicoterapeu-tas, ternos que Iidar corn "problernas',cuja origem näo necessariamente pre-eisa ser proeminente 110 contexto denossa discussäo. Em sua maior par-te, säo - nas palavras de Anderson eGoolishian (1992) - "comunicacöes

alarrnadas" de certas pessoas lidandocorn interacöes interpessoais especi-ficas. A maioria e descrita de man ei-ra reduzida na Iingua dominante den0550 campo, e conceitualizada cornofenömenos psicopatol6gicos associa-dos a individuos. Oe acordo com Go-olishian, pessoas lidando corn 0 "pro-blerna" se organizam ern torno dessascornunicacöes alarrnadas verbahnentedeclaradas, que Iancam as bases paratratamento, discussäo e negociacöcssubsequentes. 0 grupo forrnado poressas pessoas constitui 0 sistema-pro-blerna, 0 que tambern inclui a equipetecnica envolvida, equipe, assistentesetc., incluindo a si mesmos.

Essa concepcäo esta em clara oposi-cäo a nocäo de problernas gencticos defarn ilia que postulam a farnilia corno"fäbrica" de psicopatologia. Estipulaque "a familia, que eriou 0 problema',deveria ser definida corno unidade detratamento, enquanto excluirnos a nosmesrnos enquanto terapeutas (interlo-cutores, observadores Oll diagnostica-dor) corno fora de consideracäo.

A situacäo e diferente com os assimchamados sisternas-problerna. Nessecaso, para comecar. todas as pessoasenvolvidas no probierna säo levadasem consideracäo, participem ou näodiretamente do processo de comuni-cacäo pertinente ao probierna, falernou näo sobre eie. lsso inclui todos osprofissionais, por exernplo, outros te-rapeutas, professores etc. e tambem anos mesrnos (por exernplo eomo te-rapeutas). Os partieipantes estäo en-täo conectados corn 0 problema pormeio da comunicacäo estabelecidacom relacäo a eie (por exernplo, aoconversar sobre ele), mais do que pormeio de relacöes de parentesco, cornono caso na concepcäo genetica da fa-milia corno causa, conservacäo e so-lucäo de problemas. De acordo corna explanacäo acima, as pessoas que

Nova Perspectiva Sistemica, Rio de [aneiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 2014.

Page 7: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

lid am corn 0 tratarnento tcrapeuticopor meio da linguagern constituerno "sisterna terapeutico" Conscquen-temente, conforrne exposto na pers-pectiva de Goolishian e Anderson(1992), 0 sistema terapeutico e "umsistema organizador-dissolvedor deproblerna" Essa organizacäo e resolu-cäo de problernas ocorre por meio dointercämbio comunicativo entre osparticipantes e a solucäo final do pro-blerna - particularrnente por rneio dalinguagern.

Ern suma, 0 que tern sido tradi-cionalrnente descrito como psicopa-tologia individual corn antecedentesfamiliares geneticos e reconhecidona abordagem presente em terrnos deproblernas socialrnente construidos,envolvendo a participacäo de todosaqueles que comunicam ou falarn unseom os outros em conexäo com osassuntos que estäo postos. Ern outraspalavras, 0 que e descrito corno fenö-menos psicopatologicos säo aeordossocialrnente construidos, que podernentäo ser especialrnente dissolvidosem processos de comunicacäo social,Portanto, conforrne destacado porGoolishian, a tarefa do terapeuta con-siste, acirna de tudo, ern promover di-alogos entre os participantes, rnantero fluxo da conversacäo, e contribuirpara dissolver 0 probierna (cf. Deiss-ler 1988).

Corno as conversas podem tornar-seeficientesi

A rnaior parte dos terapeutas e con-selheiros deseja ter uma "caixa de fer-rarnentas" cheia de intervencöes que,quando aplicadas, levariam a solucäocorrespondente a cada um dos pro-blemas especiflcos, ou ainda melhor,que represente chaves quase universaispara a solucäo de qualquer problerna.Essa abordagern tarnbern pode ser en-contrada entre os que advogam pelas"intervencöes para 0 distürbio espe-

cifico" e "abordagens orientadas paraproblemas"

Qual a situacäo com terapeutas econselheiros quando se trata da ques-täo de uma "caixa de ferramentas"orientada a colaboracäo dialogicai Ernprimeiro lugar, precisamos cornecar doconceito de que conversas terapöuticassäo processos de construcäo social,nos quais a realidade social e eriadana forma de relacionarnentos. Assim,terapeutas e eonselheiros orientadospor uma abordagern dialogica desern-penham 0 papel de co-construtoresque determinam as formas, conteudose metas dos dialogos, junto corn seusclientes. Seu investimento Da proces-so depende menos de "ferramentasespecificas para 0 disturbio', 0 quenesse caso deve ser entendido comolistas gerais utilizadas para dar for-ma äs conversas ern colaboracäo eomo cliente, de tal rnaneira que possamcontribuir para os objetivos que eramos motivos da encontro ern primeirolugar. Ern outras palavras, 0 que re-presenta 0 inventario de intervencöesda especialista no caso da orientacäode disturbio especifico e transforrna-da em diversas formas de conversae colaboracäo construidas pela inte-racäo terapeuta -cliente - no caso daorientacäo dialogica. E apenas dandoforma conjuntamente a esse processo,formas, conteudos e metas que a co-laboracäo dialogica pode ser tornadaefetiva e contribuir para a resolucäodos problernas. E claro, conselheirose terapeutas gostariam e certamentefariam bem ao conhecer as formas emetodos, para construir uma colabo-racäo dialogica, e fazer sugestöes con-venientes. Entretanto, eles se absteräode determinar forrnatos de eonversaunilaterais, ou impö-los de algurnrnodo. Ern Ultima instäncia, sempre eurna questäo de esforco concentradodos clientes e terapeutas a fim de cons-

,...... IÖ" malögica;a lonna de talar

;odocOnstrucIOflista ..G. Deissler-----..,

13

Nova Perspectiva Ststerruca, Rio de [aneiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 20]4.

Page 8: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

truir a rnelhor colaboracäo dialogicapossivel para 0 problema apresenta-do. Por esse processo, a colaboracäo

1qWlf"----~--------,s se torna significativa para os parceirosna comunicacäo, tanto de uma pers-pectiva existencial quanto ecossiste-rnica (Deissler, 1981), tornando possi-vel organizar, transformar e dissolvero problema, conforrne indieado porAnderson e Goolishian (Anderson &Goolishian, 1992; Deissler, 2009, 2007,2000 a, 2000 b; Gergen, MeNarnee &Barrett, 2003). Portanto, pode-se con-cluir que se a colaboracäo dial6gica eexitosa, a terapia tambem sera.

Corno a colaboracäo dial6gica podeser organizada de maneira exitosa?

A guisa de conclusäo, eu gostariade responder a pergunta acima fa-zendo algumas observacöes brevesrelacionadas ao fenömeno da 110-

vidade, por meio do qual a conver-sa e conduzida, 0 ritrno entre ouvir,falar e refletir, assim como a posturaterapeutica.

Pelo que foi discutido ate 0 rnornen-to, deveria ter se tornado daro que 0

processo transformador ocorre cornoesforco conjunto. Tanto os clientesquanto os terapeutas/conselheirosestäo envolvidos nesse processo deconstrucäo social e ambos deixam asconversas diferentes da maneira comque nela entraram (Gadamer, 1986).Para que isso aconteca, esse proeessoconjunto precisa de algo que pode sermais bern definido corno "aberturapara 0 novo" Como essa abertura podeser promovida?

Ern primeiro lugar, uma coisa podeser considerada corno certa para apratica diaria de conversas terapeuti-cas: se clientes e terapeutas constroerna colaboracäo dialogica juntos, niiopode haver certeza quanto ao cursodesse processo - näo ha corno de-terminar uma maneira unilateral decorno as coisas devem se desenvolver.

14 NPS 50 I Dezembro 2014Isso pode ser mais bern ilustrado corna metäfora do teatro do irnproviso,de muitas formas significativo para acolaboracäo dialogica, Quer dizer, aabertura de uma conversa terapeuti-ca deve ocorrer em muitos aspectos:conte ud os, processos (formas de con-versa) e resultados (metas). Por meiodessa abertura, e possivel atingir di-ferentes formas de .novo, e 0 espectrode possibilidades na colaboracäo dia-logica pode se estender para alern doaqui e agora. [untos, e posslvel criarum tempo que perrnita cxpcrienciasnovas, imprevisiveis - quase de formasimilar a que tambem ocorre no tea-tro do irnproviso.

De forma sernelhante, a questäodo ritmo entre ouvir, falar e refletir(Andersen, 1990) tambem e irnpor-tante. Ern outras palavras, se certasforrnas de conversa säo construidasjuntas, formas de escuta tambem säoconstruidas ao rnesrno tempo. Se, porcxernplo, ha preocupacäo com 0 equi-llbrio de duracäo das contribuicöesverbais, as medidas de tempo paraouvir e refletir säo simultaneamenteinfluenciadas.

Finalrnente, pode ser importantedistinguir entre dialogos abertos e es-truturados. A sequencia de dialogospode ser estruturada de acordo comas pessoas envolvidas - corno e, porexernplo, 0 caso corn a equipe reflexi-va e suas variacöes (Andersen, 1990, eDeissler, Keller e Schug, 1997). Pode-se,entretanto, mante-Ia aberta (Seikkula& Arnkil, 2007). Se e rnais estruturadaou mais aberta isso depende da com-posicäo pessoal do sistema terapeuticoou do estagio da conversa terapeutica.

Que postura um terapeuta podeadotar para promover a colaboracäodial6gica?

Finalmente, e necessario fazer apergunta sobre que postura os tera-peutas e conselheiros deveriam adotar

Nova Perspectiva Sistemica, Rio de [aneiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 2014.

Page 9: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

na conversa. Muito foi dito e escri-to sobre esse aspecto da colaboracäoterapeutica, a qual a maioria das es-colas terapeuticas concedern grandeimportäncia.

Ao discutir 0 desenvolvimento dacolaboracäo dialogica, tres compo-nentes parecem ser importantes paramim. 0 primeiro e 0 que Anderson& Goolishian (1992) charnam a atitu-de de "näo saber" Trata-se de um tipode prontidäo para aprender e aberturaimpareial corn relacäo ao que 0 clienteapresenta na conversa, e a forma comgue 0 dizern. Eu chamaria esse aspeetode estar presente.

Andersen (1997) descreve 0 se-gundo aspecto corno sensibilidade doprocesso terapeutico, Isso se refere ahabilidade de sentir mudancas nosrelaeionamentos. Significa que os te-rapeutas deveriam desenvolver e re-finar seu contato com as sensacöespara perceber as transforrnacöes re-laeionais. Essa sensibilidade pode seraprendida e melhorada corn forrnasparticulares de investigacäo conjuntade processos terapeuticos anteriores(Andersen, 1997). Lindseth (2005)definiu essa postura terapöutica pra-ticada por Andersen com 0 termodescritivo "näo saber, ser tocado" 0terceiro aspecto se refere ao que de-nominei, neste artige, colaboracäodialogica, e 0 que tern sido usado paradescrever a criacäo conjunta de umarnudanca. Pode-se designalo orienta-~äo dial6gica ou simplesmente dialo-gismo, terrno cunhado por Holquist(1990). .

Da uniäo dos tres aspectos - pre-senca, sensibilidade e dialogisrno -näo seria dificil derivar uma postura,quase auto definida corno sensibili-dade dial6gica presente. Sua principalcaracteristica e assegurar que os parti-cipantes tenham tempo e espa<;o parao processo dialogico de transforrna-

cäo no presente. Conseguern-no con-cordando corn certos ritmos de suasmutuas trocas verbais, e oferecendonovas possibilidades de entendimentoe acäo,

As reflexöes acima apontam queessa postura näo esta relacionada ahabilidades tecnicas ou competencias,mas a urna posicäo filos6fica (Ander-son, 1997). Da mesrna forrna, deve-seter em mente que 0 efeito transforma-dor das conversas (Gergen, McNamee& Barrett, 2003), acompanhado peladissolucäo dos problernas permaneceum assunto altamente complexo, e sopode ser obtido atraves de processosde construcäo socia!, corno e a colabo-racäo dialogica,

REFERENCIAS

Andersen, T. (19900. Das reflektierendeTeam. Dialoge und Dialoge über dieDialoge. Dortmund: Borgmann.

Andersen, T. (1997). Steigerung derSensitivität des Therapeuten durcheinen gemeinsamen Forschungs-prozess von Klienten und Thera-peuten. Zeitschrift für SystemischeTherapie, 15 (3): 160-167.

Anderson, H. (1997). Conversation,Language, and Possibilities. A Post-modern Approach to Therapy. NewYork: Basic Books.

Anderson, H. & Goolishian, H. (1992).Der Klient ist Experte. Ein thera-peutischer Ansatz des Nicht -Wis-sens. Zeitschriftfür System ische The-rapie, JO(3): 176-189.

Antonovsky, A. (1997). Salutogenese.Zur Entmystijizierung der Ge-sundheit. Tübingen: DGVT- Verlag.

Bachtin, M. (1971). Probleme der Poe-tik Dostoevskijs., Frankfurt/Main:Ullstein.

Bateson, G.(1979). Mind andNature. ANecessary Unity., New York:Dutton.

uma fonna de falar 15sociotonstrutlomsta ..IiJaJJsG.Deissler-----_ ...

Nova Perspectiva Sisternica, Rio de [aneiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 2014.

Page 10: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

16 NPS 50 I Dezembro 2014Deissler, K. (2009). Dialogischer Wan-

del im therapeutischen Kontext.Von Metaphern, Geschichten undGleichnissen - Umgangsformenund Sprechweisen.

Zeitschrift für Systemische Therapieund Beratung, 27 (1): 5-13.

Deissler, K. (2007). Dialogische Han-dlungsmöglichkeiten konstruieren- Auswege aus den Zwickmühlenvon Zwangsmaßnahmen

Zeitschrift für Sys!emische Therapie undBeratung, 25: 147-156

Deissler, K. (2000). "Ich, mein Pro-blem und die anderen': - Von Ich-Erzählungen, Beziehungsgeschich-ten, transformativen Dialogen undGesprächen im Dialog. Familiendy-namik, 25(4): 411-449.

Deissler, K. (2013). La poesia social de laconversacion terapeutica Inventarsea si mismo mediante una reflexioncomprornetida con la relacion. In:Deissler. Klaus G. &McNarnee, Shei-la (ed). Filo y Sofia en Diilogo:Lapoesia social de la conversaci6n tera-peutica. http://www.taosinstitute.netlfilo-y-sofia-en-dialogo

Deissler,K.; Keller, T.& Schug, R. (1997).Kooperative Gesprächsmodera-tion. Selbstreflexive Gespräche. In:Deissler, K. Sich selbst erfinden? -Von systemischen Interventionen zuselbstreflexiven Gespräche. Münster:Waxmann.

Deissler, K, (1988). ErfinderischesInterviewen - wie man das syste-mische Interview für die alltäglichePraxis nutzen kann - durch Varia-tionen über eine Frage?

Familiendynamik 4: 345-363.Deissler, K. (1981). Anmerkungen zur

ökosystemischen Sichtweise derPsychotherapie. Familiendynamik6: 158-175 In: Deissler, Klaus G. 1985.Beiträge zur Systemischen Therapie.InFaM, Marburg.

Gadamer, H. G. (1986). Wahrheit undMethode. Grundzüge einer philoso-phischen Hermeneutik. Tübingen:Mohr.

Gergen, K. (2006). Therapeutic Reali-ties. Coliaboration, Oppression andRelational Flow.,Chagrin Falls: TaosInstitute Publieations.

Gergen, K. (2002). KonstruierteWirklichkeiten. Eine Hinführungzum Sozialen ConstructionismStut-tgart:. Kohlhammer.

Gergen, K. (1994). Realities and Rela-tionschips. Soundings in SocialConstruction. Carnbidge: HarvardUniversity Press.

Gergen, K., McNamee, S. & Barret!, F.(2003). Transformativer Dialog.Zeitschrift für System ische Thera-pie, 21:69-89.

Gergen, K., Anderson, H. & Hoffman, L.(1997). Diagnose ein Desaster. Einkonstruktionistischer Trialog. Zeits-chrift für System ische Therapie, 4:224-241.

Goolishian, H., Anderson, H. et al.(1989), From Construction to

Conversation: A Book of Readings., Gal-veston: Galveston Family Institute

Hoffman, L. (2001). Family Therapy: Anlntimate History. New York: Norton.

Holquist, M. (1990). Dialogism., NewYork: Routledge.

Lindseth, A. (2005). Zur Sache der Phi-losophischen Praxis. Philosophierenin Gesprächen mit ratsuchendenMenschen. München: Kar! AJber.

Lyotard, J.F. (1979). Das postmoderneWissen., Wien: Passagen- Verlag.

McHamee, S. & Gergen, K. (1992): The-rapy as Social Construction., Lon-don: Sage.

Penn, P. (2009)'/oinedImaginations. Wri-fing and Language in Therapy. Cha-grin Falls:Taos Institute Publications.

Penn, P. (1996). Dialogische Räume.Schreiben, Multiplicity of voices,narrative Vielfalt und Teilnehrner-

Nova Perspectiva Sisternica, Rio de [aneiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 2014.

Page 11: COLABORAC;ÄO OIALOGICA: UMA FORMA OEFALAR … · mais importantes da colaboracäo dialöcica em ... tica eterapia eaconselhamento corno processos ... transformar-se em um processo

texte. Familiendynamik (21): 183-202 Räume.

Penn, P. (1983). Zirkuläres Fragen. Fa-miliendynamik 1983/3: 198-220.

Seikkula, J. & Arnkil, T. E. (2007).Dialoge im Netzwerk. Neue Bera-

tungskonzepte für die psychosozialePraxis. Newnünster: Paranus.

Wiltgenstein, l. (1984). PhilosophischeUntersuchungen. Frankfurt/Main:Werks ausgabe Band I Suhrkarnp.

1'''coIabOiiiä<>~~a:----Ulna terma de talar 17soclotonstruclOllista__G._

Nova Perspectiva Sisremica, Rio de Ianeiro, n. 50, p. 7-17, dezembro 2014.