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PREVISÃO DE CAPACIDADE DE CARGA DE UMA

FUNDAÇÃO EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA APOIADA

SOBRE SOLO MOLE: UM ESTUDO DE CASO

Eng. Kelly Oliveira Dias

Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, E-mail: [email protected]

Prof. Erinaldo Hilário Cavalcante

Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, E-mail: [email protected]

Eng. Victor Carlos Santos Barbosa

Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, E-mail: [email protected]

Prof. Osvaldo de Freitas Neto

Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, E-mail: [email protected]

Prof. Carlos Rezende Cardoso Júnior

Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, E-mail: [email protected]

Eng. Filadelfo Araújo Prata Júnior

Procuradoria da República em Sergipe, Aracaju, Brasil, E-mail: [email protected]

RESUMO: Este artigo apresenta uma análise de um projeto de fundações profundas, em estacas do

tipo hélice contínua monitorada, a ser executadas em perfil geotécnico estratificado, com presença

de solos moles e alagadiços. Trata-se de um estudo de caso do projeto de fundações da nova sede da

Procuradoria do Ministério Público Federal na cidade de Aracaju, estado de Sergipe. O estudo foi

realizado com base nos documentos fornecidos pelo Ministério Público, o qual disponibilizou

sondagens, atas de reuniões, plantas do projeto, memoriais descritivos, entre outros, o que propiciou

uma análise fundamentada desde o projeto concebido inicialmente até a avaliação dos problemas de

caráter executivo. A análise baseou-se na comparação entre os resultados obtidos da aplicação de

seis métodos de previsão da capacidade de carga dos elementos de fundação, em que se constatou

grande variabilidade nos valores obtidos, havendo, entretanto, somente um método que satisfez à

capacidade de carga necessária para suportar a solicitação advinda da superestrutura, com os dados

do dimensionamento dos elementos estruturais adotados para as fundações em análise.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações, Hélice Contínua, Capacidade de Carga.

1 INTRODUÇÃO

A atual complexidade das obras de engenharia

civil tem-se recorrido a técnicas construtivas

cada vez mais econômicas, seguras e eficazes

em tempo hábil, situação que é reflexo de um

mercado consumidor cada vez maior e mais

exigente. Neste cenário, a engenharia de

fundações vem evoluindo pela busca de

soluções tecnicamente viáveis, com elevada

produtividade e que garantam bom desempenho

da fundação em qualquer tipo de solo.

Sabe-se que o elevado crescimento das

cidades tem induzido ao uso intensivo dos

espaços urbanos, tanto pela iniciativa pública

quanto pelo setor privado, áreas que muitas

vezes são oriundas de mangues ou outros

terrenos alagadiços, em geral, de solos

compressíveis e/ou com baixa resistência.

Qualquer fundação apoiada em solos moles

deve ser projetada com precauções adicionais,

de forma que a magnitude dos recalques

decorrentes estejam dentro dos limites

aceitáveis para a obra. Como esses solos são,

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quase sempre, heterogêneos, na maioria dos

casos é necessário se projetar com fundação

profunda para se atingir camadas que suportem

suficientemente a solicitação da superestrutura.

O crescente uso de estacas tipo hélice

contínua em Aracaju, cidade litorânea com

muitas áreas de solos compressíveis, motivou a

realização deste trabalho, focado no estudo de

caso desse tipo de estaca instalada em perfil

geotécnico altamente variegado, com presença

de solo mole, a obra das fundações da nova

sede da Procuradoria da República em Sergipe.

Para isso, foram levantados dados como as

características estruturais da obra e do subsolo,

os memoriais de cálculo do projeto, relatórios

técnicos e outros documentos considerados

pertinentes à análise.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1 Estacas Hélice Contínua Monitorada

As estacas do tipo hélice contínua são estacas

de substituição, moldadas “in loco”, executadas

mediante operação de um trado contínuo

helicoidal.

Essas estacas, introduzidas no Brasil desde

1987 (PENNA et al., 1999), têm apresentado

ampla utilização e divulgação no segmento da

construção civil nos últimos anos. Observou-se

aumento do seu uso principalmente em grandes

centros urbanos, devido às vantagens e

facilidades que seu processo construtivo

oferece, como: alta produtividade e ausência de

ruído ou vibrações nas edificações vizinhas.

2.2 Capacidade de Carga

Em projetos de fundações é necessário

determinar a capacidade de carga dos seus

elementos, sendo prática comum entre

projetistas adotar métodos semi-empíricos

desenvolvidos para este fim.

Existem vários métodos de cálculo que

podem estimar a carga última de profundações

profundas. No caso particular da estaca hélice

contínua, podem ser utilizados alguns métodos

gerais, que se aplicam a vários tipos de estacas,

em que se destacam os métodos descritos por

Aoki e Velloso (1975), Décourt & Quaresma

(1978), Velloso (1981) e Teixeira (1996).

Existem também outros métodos de capacidade

de carga específicos para estacas hélice

contínua dispostos na literatura, como o método

de Antunes e Cabral (1996) e o método de

Alonso (1996).

3 ESTUDO DE CASO

3.1 Descrição do objeto de referência

O projeto de fundação objeto deste artigo foi o

concebido para a edificação da nova sede da

Procuradoria da República no Estado de

Sergipe (PRSE), situada na capital Aracaju. O

empreendimento analisado é composto por uma

torre de 11 (onze) pavimentos, cuja solução

estrutural adotada foi do tipo concreto armado

convencional. O prédio foi concebido com 92

pilares com cargas variando entre 35,0 kN

(P83) e 9.670,0 kN (P49), perfazendo uma

carga total de 251.760,0 kN, com tensão média

aplicada no terreno da ordem de 100 kN/m2. As

cargas dos pilares são transferidas ao solo

através de 71 blocos de fundação apoiados em

elementos estruturais do tipo estaca hélice

contínua.

Para o reconhecimento do subsolo da área

em estudo, foram realizados oito furos de

sondagem SPT, com profundidades variando

entre 34,45 m e 49,96 m. O terreno de

implantação está localizado numa região

formada por areias fofas e solos moles,

alagadiços, com origem em manguezais,

encontrados entre as cotas +0,28 e +0,46. O

nível d’água é superficial, situando-se entre

0,38 m (SP-07) e 1,18 m (SP-05A), suscetível a

pequenas alterações em função do regime das

marés.

A análise das sondagens revela um terreno

bastante heterogêneo e de difícil caracterização.

Os dados de cinco, dos oito boletins de

sondagem foram compilados para conceber o

perfil do subsolo (Figura 1), buscando-se

destacar sua estratigrafia.

É conveniente destacar o perfil estratigráfico

da sondagem SP-05A, uma vez que este foi o

perfil geotécnico utilizado como base para o

dimensionamento das fundações.

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Figura 1 - Perfil de sondagem SPT do subsolo da obra.

O furo SP-05 foi interrompido aos 36,45 m

devido à fuga d’água, ocorrendo o mesmo com

o furo deslocado SP-05A, interrompido aos

35,45 m. Por esse motivo, este último foi

considerado o perfil de sondagem SPT mais

desfavorável pelo projetista, razão pela qual o

mesmo foi adotado nas análises contidas neste

trabalho.

3.2 Projeto de fundação objeto deste estudo

Com base nos dados da investigação geotécnica

e nas elevadas cargas provenientes da estrutura,

o projetista adotou fundação profunda como

solução, usando estacas do tipo Hélice Contínua

Monitorada (HCM).

O projeto de fundações foi concebido com

241 estacas, de diâmetros variando entre 30 cm

e 120 cm, e comprimentos variando entre 18 m

e 27 m. Um total de 71 blocos foram

dimensionados para fazer a ligação das estacas

à superestrutura.

3.2.1 Critérios de dimensionamento

Para este trabalho foram avaliadas as estacas

que compõem dois blocos de fundação

adjacentes: o bloco B1, projetado para

transmitir os esforços dos pilares

P31+P32+P48+P49+P64+P65; e bloco B2,

dimensionado para receber os pilares P46+P47.

A opção pela análise destes blocos está baseada

no fato que se trata de estruturas de fundação

com dimensões muito diferentes e relativamente

próximos. Além disso, sobre estes já havia uma

análise de previsão de recalques e distorção

angular feita por outro profissional da

engenharia de fundações.

O bloco B1 é composto por 24 estacas de

120 cm de diâmetro e 27 m de comprimento,

com uma carga total de 50.450,0 kN, sendo o

maior bloco de fundação do projeto, com 10,40

m de largura e 16,40 m de comprimento. Por

outro lado, o bloco B2, transfere uma carga

total de 6.610,0 kN a 4 estacas de 90 cm de

diâmetro e 27 m de profundidade cada.

A previsão da capacidade de carga das

estacas do projeto foi realizada empregando-se

o método de Décourt-Quaresma (1978), com

base na sondagem SP-05A. O projetista

considerou uma carga de trabalho de 2300 kN

para cada estaca do bloco B1. Segundo seu

memorial de cálculo, as estacas com 120 cm de

diâmetro só apresentavam essa capacidade aos

27 m de profundidade.

Cabe destacar que a parcela da resistência de

ponta das estacas foi desprezada pelo projetista.

Logo, considerou-se, neste caso, que os

esforços axiais de compressão serão resistidos

somente pelo atrito lateral no fuste das estacas,

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sendo estas classificadas como estacas

flutuantes. Essa consideração é sustentada pelo

fato da ponta da estaca não atingir uma camada

de solo com resistência significativa.

A mesma consideração é feita para os outros

blocos da fundação. As estacas do bloco, assim

como as estacas de 120 cm de diâmetro,

também estão a uma profundidade de 27 m, e

são classificadas como estacas flutuantes.

Destaca-se ainda, que a análise inicial do

projetista especificou que as estacas deveriam

ser armadas ao longo de todo o seu

comprimento, no caso dos blocos B1 e B2, ou

seja, ao longo dos 27 m de extensão, do topo à

ponta, o que sugere ser desnecessário.

Quanto às previsões dos recalques total e

diferencial, estas foram feitas, segundo o

projetista das fundações contratado

inicialmente, com o uso de um programa

computacional que considera a interação solo-

estrutura, aplicando o método dos elementos

finitos. Entretanto, estes autores não

localizaram nenhum memorial de cálculo que

expusesse os detalhes dos resultados

apresentados.

3.2.2 Breve histórico desse projeto de fundação

Após a licitação do empreendimento, alguns

questionamentos foram levantados pela

empresa construtora, quanto à exequibilidade

das fundações e a estabilidade estrutural da

edificação. Um engenheiro civil (geotécnico)

experiente, que presta consultoria na área de

fundações, foi contratado pela construtora para

analisar o projeto, e apresentar suas

considerações sobre a viabilidade técnica de

execução, as quais são relatadas a seguir.

Primeiramente, a solução em estaca hélice

com diâmetro de 120 cm, comprimento de até

27 m, e armação em todo o comprimento da

estaca foi considerada inadequada para essa

obra por razões de execução, das

particularidades geotécnicas locais e da

estabilidade estrutural.

Foi também contestada a opção da escolha

de estacas com diâmetro de 120 cm, em virtude

da carência de equipamentos na região nordeste

com capacidade para execução de HCM com

esse porte. Destacou-se ainda, a impossibilidade

para se introduzir a armadura por toda a

extensão da estaca, tendo-se em vista as

dificuldades impostas pelo processo.

Foi enfatizado que o comprimento da

armação não se justificava em virtude do

carregamento do prédio, e os esforços de flexão

em estacas desse tipo de estrutura são

desprezíveis a partir de profundidades na faixa

de 6 m a 9 m, existindo prédios em Aracaju

mais altos e mais esbeltos que esse, também

com estacas hélice contínua, porém, armadas

somente no trecho superior.

Foi discutido também que as grandes

variações das propriedades geotécnicas do

terreno, tanto em planta quanto em

profundidade, dificultariam o critério de

paralisação das estacas. Havendo inclusive,

casos de estacas com ponta em solo argiloso

mole, com repercussão nos recalques, inclusive

ao longo do tempo.

O consultor da Construtora realizou também

uma avaliação complementar, fazendo a

previsão dos recalques dos blocos B1 e B2, da

da fundação projetada, empregando os métodos

de Aoki-Lopes (1975) e da NBR 6122 (2010).

No método de Aoki-Lopes (1975) admitiu-se

estacas tipo flutuantes com comprimento de 16

m. Já no método da NBR 6122 (2010) admitiu-

se que toda a carga do bloco seria transferida a

18 m de profundidade (1/3 do comprimento das

estacas a partir da ponta). O relatório de

sondagem utilizado foi SPT-05, e os resultados

obtidos foram os seguintes:

i. O recalque absoluto calculado para o bloco

B1 varia de 79 mm a 66 mm dependendo do

método. Para o bloco B2, o recalque

absoluto calculado pelo Método de Aoki-

Lopes (1975) foi igual a 12 mm.

ii. O recalque diferencial calculado entre os

pilares P47 e P48 foi igual a 67 mm e a

distorção angular foi igual a 1/108, sendo

este valor maior que o limite tolerável para o

aparecimento de danos estéticos e estruturais

em estruturas aporticadas de concreto

armado.

Diante deste cenário de resultados e

questionamentos, foi colocada em evidência

que o projeto poderia não atender ao critério de

deformações toleráveis, ensejando a

possibilidade da ocorrência de patologias

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intoleráveis à edificação. Para eliminar tal

possibilidade, foi sugerido que o comprimento

das estacas fosse aumentado até ser encontrada

a camada de calcário, que no local está entre 42

m e 48 m de profundidade.

Devido à grande repercussão quanto à

estabilidade estrutural do projeto, reuniões

aconteceram entre os envolvidos para discutir

tecnicamente os questionamentos levantados.

Nelas foi atestada a impossibilidade de se

executar estacas com o comprimento das

armaduras tão longas, além de ser este um

aspecto considerado desnecessário para se

atingir o bom desempenho da estaca. O

projetista reavaliou a situação e modificou o

comprimento das ferragens para 16 m de

profundidade. Entretanto, ficou ainda a

possibilidade de, caso ainda existissem

dificuldades de inserção, seria permitida uma

profundidade mínima de 12 m da armadura.

Em relação às discussões técnicas sobre os

recalques, o projetista manteve sua posição,

argumentando que todos os cálculos relativos à

avaliação da segurança do conjunto

superestrutura/fundação atendem aos requisitos

das normas brasileiras, e que os resultados estão

dentro dos limites aceitáveis. Além disso, foi

relatado que os questionamentos divergentes

com relação à avaliação dos recalques absolutos

e diferenciais apresentados pela construtora,

ocorrem porque os parâmetros adotados nas

previsões foram os das situações mais

desfavoráveis, enquanto que o projetista adota

parâmetros medianos e leva em consideração a

interação do conjunto superestrutura/fundação,

o que, de acordo com aquele projetista, dessa

forma, os dados são mais abrangentes.

Diante dessa conjuntura, ficou determinado

que a construtora seguisse o projeto, visto que,

apesar dos questionamentos, o projetista se

recusou a atender a solicitação de aumentar o

comprimento da estaca ou utilizar outra solução

para a fundação, como por exemplo, estacas

metálicas, solução também sugerida pela

consultoria. O projetista continuou, portanto,

contra-argumentando que o projeto foi

analisado e o mesmo atende aos requisitos

técnicos e segurança das normas brasileiras.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS

RESULTADOS

Neste item serão apresentados e analisados os

resultados das previsões da capacidade de carga

e recalque dos blocos B1 e B2. Entretanto,

devido à indisponibilidade de resultados de

prova de carga, visto que ela ainda não foi

realizada, não foi possível se fazer comparações

entre as previsões, os dados de projeto e a

verificação de desempenho em campo.

4.1 Estimativas da Capacidade de Carga

As previsões da capacidade de carga foram

realizadas utilizando seis diferentes métodos de

cálculo semi-empíricos: i) Aoki & Veloso

(1975); ii) Décourt & Quaresma (1978); iii)

Velloso (1981); iv) Teixeira (1996); v) Alonso

(1996) e vi) Antunes & Cabral (1996).

Os parâmetros do solo foram baseados na

sondagem SP-05A, adotada como referência,

cujo perfil geotécnico foi dividido em 7

camadas de solo, conforme discriminado e

mostrado na Tabela 1.

Tabela 1. Perfil geotécnico da sondagem SP-05A

dividido em 7 camadas.

CAMADA COTA TIPO DE

SOLO

CONSISTÊNCIA /

COMPACIDADE

1 até 2 m Areia

siltosa Pouco compacta

2 2 a 4 m Argila Muito mole

3 4 a 13 m Areia

siltosa

Fofa a medianamente

compacta

4 13 a 17 m Areia Medianamente

compacta a compacta

5 17 a 19 m Areia

siltosa

Fofa a pouco

compacta

6 19 a 26 m Argila

siltosa Mole a média

7 26 a 36 m Argila

siltosa Média

Conforme frisado, o bloco B1 possui uma

carga solicitante de 50.540 kN. Dividindo-se

essa carga pelo número total de estacas que

compõe o bloco, tem-se uma carga de trabalho

de 2.100 kN para cada estaca isoladamente. De

acordo com os dados constantes do projeto, as

estacas de 120 cm de diâmetro apresentam

resistência teórica suficiente aos 27 m de

profundidade. Levando-se em consideração esse

fato, a capacidade de carga das estacas para o

bloco foi recalculada para esse comprimento, de

forma a certificar a profundidade escolhida. Os

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valores obtidos nessa retroanálise estão

apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Resultados dos métodos para estacas de 120

cm.

MÉTODO DE

CÁLCULO

CARGA

LATERAL

(kN)

CARGA DE

PONTA (kN)

Velloso (1981) 4137 462

Aoki-Velloso (1975) 2427 871

Décourt-Quaresma

(1978) 2952 599

Teixeira (1996) 3031 746

Alonso (1996) 3082 749

Antunes e Cabral (1996) 2780 792

MÉDIA 3068,2 703,2

DESVIO PADRÃO 574,7 147,7

COEFICIENTE DE

VARIAÇÃO 0,19 0,21

Apesar das estacas terem sido consideradas

flutuantes, nota-se pelos resultados mostrados

na Tabela 2, que a carga de ponta apresenta

significância em comparação à carga total

resistida pelo sistema solo-estaca, com o

equivalente a cerca de 23% da resistência

lateral. Além disso, são observados coeficientes

de variação medianamente significativos, de

19% para a carga lateral, a 21% para a carga de

ponta, refletindo a heterogeneidade do solo e da

variabilidade dos resultados apresentados pelos

métodos.

Para avaliar a hipótese do projetista, também

desconsiderou-se a parcela da ponta nesta

pesquisa, considerando que toda a carga total da

estaca seria absorvida pelo fuste. Aplicando-se

um fator de segurança igual a 2,0, estabelecido

pela NBR 6122 (2010), obteve-se as cargas de

trabalho conforme mostrado na Tabela 3.

Tabela 3. Cargas de trabalho das estacas de 120 cm de

diâmetro.

MÉTODO DE

CÁLCULO

CARGA

LATERAL

(kN)

CARGA DE

TRABALHO

(kN)

Velloso (1981) 4137 2069

Aoki-Velloso (1975) 2427 1214

Décourt-Quaresma

(1978) 2952 1476

Teixeira (1996) 3031 1516

Alonso (1996) 3082 1541

Antunes e Cabral (1996) 2780 1390

MÉDIA 3068,2 1534,1

DESVIO PADRÃO 574,7 287,4

COEF. VARIAÇÃO 0,19 0,19

Analisando-se os dados da Tabela 3,

verifica-se que nenhum método garante que a

solicitação em cada estaca (2.100 kN) seja

inferior à carga de trabalho prevista. Nesta

estimativa, o método tradicional de Velloso

(1981) foi o que mais se aproximou da carga

solicitante, tendo uma diferença para menos

igual a 31 kN em relação à carga solicitante.

Aumentando-se o comprimento da estaca para

28 m, o método de Velloso (1981) apresentaria

uma carga de trabalho igual a 2139,5 kN,

indicando que para essa profundidade não

haveria ruptura do sistema solo-estaca, de forma

que o fator limitante seria a carga estrutural.

Quanto aos demais métodos empregados

neste trabalho, os valores de capacidade de

carga obtidos indicaram que os comprimentos

das estacas deveriam ser ainda maiores. Com

base na sondagem SP-05A se pode avaliar a

capacidade de carga das estacas até à

profundidade igual a 35,45 m. Entretanto, para

esse comprimento, as cargas de trabalho obtidas

seriam ainda inferiores à carga de solicitação,

tornando necessária a utilização de sondagens

adicionais com a finalidade de se analisar a cota

de parada para os demais métodos.

O método de Décourt-Quaresma (1978), em

particular, foi o empregado pelo projetista e

merece uma atenção maior. Conforme mostrado

anteriormente, o projetista previu carga de

trabalho suficiente aos 27 m de profundidade.

Isso ocorreu porque o mesmo utilizou os fatores

de segurança recomendados pelos autores do

método, que neste caso são fatores de segurança

diferenciados para as parcelas de resistência de

ponta (F.S.= 4) e de atrito lateral (F.S.= 1,3).

Por resultar num fator de segurança menos

conservador para a resistência lateral do que o

da norma NBR 6122 (2010), a previsão

conduziu ao valor carga de solicitação da

estaca. Vale ressaltar que se optou por utilizar o

fator de segurança global da norma brasileira

neste trabalho (FS = 2,0), para que os resultados

dos seis métodos de previsão utilizados neste

trabalho fossem comparados sob o mesmo valor

do fator de segurança.

Visando um conhecimento mais realista do

comportamento das estacas que foram

determinados a partir do método de Décourt-

Quaresma (1978), os valores das cargas de

trabalho lateral e de ponta estimadas a cada

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metro da estaca, utilizando-se o fator de

segurança recomendado pelos autores dos

métodos estão mostrados nas Figuras 2 e 3,

respectivamente. Da Figura 2, observa-se que a

carga de ponta entre os 14 m e 17 m de

profundidade apresenta valores

consideravelmente elevados. A camada de solo

referente a esse intervalo foi identificada como

areia fina de compacidade média, e apresenta os

maiores valores de NSPT na sondagem (NSPT da

ordem de 34, a 15 m de profundidade), o que

justifica o maior valor da carga de ponta

atingida com esse comprimento.

Quanto à carga mobilizada pelo atrito lateral

observa-se da Figura 2. Perfil de carga de ponta das

estacas de diâmetro igual a 120 cm obtidas com o

emprego do método de Décourt-Quaresma (1978),

utilizando o fator de segurança recomendado pelo

método. que a estaca apresenta carga lateral (de

trabalho) suficiente aos 26 m de profundidade

(2203,8 kN) para suportar a carga solicitante,

podendo ser esta, a cota de parada da estaca.

Figura 2. Perfil de carga de ponta das estacas de

diâmetro igual a 120 cm obtidas com o emprego do

método de Décourt-Quaresma (1978), utilizando o fator

de segurança recomendado pelo método.

Figura 3. Perfil de carga de trabalho por atrito lateral das

estacas de diâmetro igual a 120 cm obtidas com o

emprego do método de Décourt-Quaresma (1978),

utilizando o fator de segurança recomendado pelo

método.

Por outro lado, as estacas do bloco B2

precisariam trabalhar com carga de trabalho

mínima de 1660 kN cada estaca, com 90 cm de

diâmetro. Usando-se os mesmos métodos de

previsão aplicados às estacas do bloco B1,

foram obtidos para as estacas do bloco B2 os

valores mostrados na Tabela 4.

Tabela 4. Resultados dos métodos para estacas de 90 cm.

MÉTODO DE

CÁLCULO

CARGA

LATERAL

(kN)

CARGA

ADMISSÍVEL

(kN)

Velloso (1981) 3103 1552

Aoki-Velloso (1975) 1821 911

Décourt-Quaresma (1978) 2214 1107

Teixeira (1996) 2273 1137

Alonso (1996) 2312 1156

Antunes e Cabral (1996) 2085 1043

MÉDIA 2301,3 1150,7

DESVIO PADRÃO 431,0 215,5

COEF. VARIAÇÃO 0,19 0,19

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Análogo ao caso das estacas de 120 cm de

diâmetro nota-se que, novamente, o método de

Velloso (1981) foi o que apresentou o melhor

resultado, quando comparados os métodos entre

si, para estaca de 27 m de comprimento.

Entretanto, ele não atinge o valor da carga

solicitante. Não foi possível também identificar

a cota de parada para os outros métodos devido

à limitação da profundidade da sondagem

escolhida. Vale ressaltar ainda que o coeficiente

de variação manteve-se em 19% para as cargas

lateral e admissível, representando uma

variação mediana dos dados.

A análise das parcelas de resistência lateral e

de ponta a cada metro de estaca pelo método de

Décourt-Quaresma (1978) utilizando os fatores

de segurança recomendados pelos autores,

indica que as estacas apresentam carga lateral

de trabalho suficiente a partir dos 27 m de

profundidade, corroborando a escolha do

projetista pelo critério de parada a essa

profundidade. Quanto à carga de ponta,

observou-se comportamento semelhante ao

obtido para as estacas de 120 cm de diâmetro.

5 CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou resultados de uma

análise de projeto de fundações em estacas do

tipo hélice contínua monitorada apoiadas em

perfil geotécnico com presença de solo de baixa

resistência, incluindo areias fofas e argilas

moles. Trata-se de um estudo de caso do projeto

de fundações da nova sede da Procuradoria do

Ministério Público Federal na cidade de

Aracaju, Estado de Sergipe. O estudo foi

realizado com base nos documentos fornecidos

pelo Ministério Público, o qual disponibilizou

sondagens, atas de reuniões, plantas do projeto,

memoriais descritivos, entre outros.

As análises dos resultados das previsões de

capacidade de carga possibilitaram detectar uma

grande variabilidade nos valores obtidos com a

aplicação dos seis métodos escolhidos. O

método tradicional de Velloso (1981) foi o que

apresentou os melhores resultados quando

aplicado à previsão da capacidade de carga das

estacas de 90 cm e 120 cm de diâmetros.

Entretanto, nenhum dos métodos previu a

capacidade de carga necessária para suportar a

solicitação advinda da superestrutura,

considerando estacas com 27 metros de

comprimento.

No tocante à análise dos resultados obtidos

com a aplicação do método de Décourt-

Quaresma (1978), observou-se que ao utilizar o

fator de segurança recomendado pelos autores

(F.S = 1,3 para a resistência lateral) foi possível

atingir carga admissível suficiente para resistir à

carga solicitante, tomando-se como referência

os 27 m de profundidade das estacas dos blocos

B1 e B2. Isso se deveu ao fato de que os autores

do método sugeriram coeficientes de segurança

menos conservadores do que aquele presente na

norma NBR 6122 (2010), isto é F.S. = 2.

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eletrônica – Previsão da capacidade de carga através

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