Cobaia #108 | 2011 |

16
Cobaia Arqueologia: Quem produz ciência em Santa Catarina? | 5 BOTOX além da estética CIENTÍFICO #108 | Maio | 2011 | Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - Univali Ciência e ficção Aspectos da genética forense abordados por séries da televisão americana já fazem parte do cotidiano na região a verdadeira máquina do tempo

description

Cobaia, Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Univali. Edição 108.

Transcript of Cobaia #108 | 2011 |

Page 1: Cobaia #108 | 2011 |

Cobaia

Arqueologia:

Quem produz ciência em Santa Catarina? | 5

BOTOXalém da estética

CIEN

TÍFICO

#108 | Maio | 2011 | Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - Univali

Ciência e ficçãoAspectos da genética forense abordados por séries da televisão americana já fazem parte do cotidiano na região

a verdadeira máquina do tempo

Page 2: Cobaia #108 | 2011 |

Eterno aprendiz

Cobaia Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UNIVALI

EditorSandro Lauri GalarçaReg. Prof. 8357 MTb/RSProjeto Gráfico/CapaSandro Lauri GalarçaEstagiárioRafael Huppes PiassiniAgência Integrada deComunicação - INEditora deste número:Valquíria Michela John

E ditorial

Descobertas ganham vida e o gosto pela

divulgação ensaia as primeiras linhas

Participaram desta EdiçãoAmanda Caroline Souza, Analú Vignoli, Antô-nio Sabará, Bárbara Bianchi, Anelise Margraf, Bianca de Oliveira, Camila Maurer, Celso Pei-xoto, Ediane Souza, Felipe Campos, Felipe Ra-mon Moro, Gabriela Piske, Jefferson Douglas da Silva, Jessica Eufrazio, Jonas Algusto da Rosa, Julia Benthien Paniz, Lara da Cunha, Luís Costa, Luisa Morena, Nathan Kaiser, Neuseli dos Santos, Patrícia Cancelier, Patrine Marchi Avosani, Paulo José Mueller, Robérto Dávila, Talita Aparecida Odeli,Thayana Heinzen, Va-nessa Garcia Borges.

Sandro Galarç[email protected]

A nossa Constituição Cidadã rege que a educação, direito de todos, deve primar pelo padrão de máxima qualidade, visando o pleno desenvolvimento pesso-al e qualificação profissional. O aprendizado (capital cultural) é para toda a vida. A educação tem uma enorme ca-pacidade e potencialidade trans-formadora, fazendo-se necessário cotidianamente que o estudante tenha conscientização e critici-dade para “ler o mundo e poder

Marioly Oze [email protected]

transfomá-lo”. O educador Paulo Freire en-

fatizava de que o estudante deve assimilar de “aprender a ler (co-nhecer) a realidade para em se-guida poder reescrever (transfor-mar) essa realidade”, como sujeito ativo da própria história, para que as qualidades e virtudes sejam construídas no esforço de cada um para reduzir ao máximo entre o que falamos e fazemos (saber vinculado ao agir).

É urgente e extremamente necessário “aprender a apren-der”, pois tudo está em constante transformação e interação (tudo

se liga a tudo), por isso o professor tem a obrigação de “inquietar” seus alunos para a busca inces-sante do conhecimento (quanti-dade com qualidade) e do saber (consciência de si e do mundo) e o estudante deve sempre estar aten-to para desenvolver o seu espírito de investigador (ser um eterno curioso), questionador e criativo, para que construa uma visão crí-tica da realidade (porém, sempre com a certeza de que não há uma verdade absoluta).

O educador inglês Lawrence Stenhouse destacava que o pro-fessor precisa assumir o compro-

misso de ser um eterno aprendiz, pois quando o mestre está cons-ciente da necessidade de apren-der permanentemente (sem medo de aprender), deixa de se com-portar como o aparente “dono do saber”.

O filósofo norte-americano John Dewey realçava a necessi-dade de o professor despertar o entusisasmo e valorizar a capaci-dade de pensar dos seus alunos (jamais apresentando respostas e soluções prontas), preparando-os para questionar a realidade (“problematizar”), unindo teoria e prática, para que o estudante pon-

dere e ordene os próprios concei-tos para depois confrontar com o conhecimento sistematizado.

Apesar dos constantes avan-ços, a mente humana continua a ser um extenso território a ser explorado (o potencial de apren-der está em cada um de nós). Que haja transformação (ideias em prática) e que comece com o educador (provocador do conhe-cimento), para que o aluno tenha confiança na sua própria capa-cidade de pensar e agir (visão e reflexão crítica dos problemas reais). Eu acredito que possamos “fazer mais e melhor”.

www.cerino.com.br

Responda rápido: o que ciência e so-ciedade têm a ver uma com a outra? Se você pensou mais de três segundos, é porque faz parte da maioria que entende ciência como algo isolado do cotidiano, fruto de experiências inalcançáveis e ina-tingíveis que só vemos em programas de TV ou em livros especializados.

Entretanto, para supresa de muitos brasileiros, sociedade e ciência têm uma ligação umbilical: além de toda a ciência ser praticada com o objetivo de servir a sociedade, melhorar a expectativa de vida, trazer mais confor-to e comodidade aos novos seres sociais, é nas pequenas des-cobertas do cotidiano que o homem deixa seu legado e escreve sua própria história. Einstein, Foucault, Freud, cada um a sua maneira teve uma contribuição fundamental para o desenvolvimento e a compreensão da sociedade à luz de traba-lhos científicos distintos mas não menos importantes.

Discutir a ciência no âmbito universi-tário e, principalmente no curso de Jor-nalismo, tem sido tarefa curricular dos estudantes da disciplina de Jornalismo Científico, que se materializa e ganha corpo a cada semestre com a publicação do Cobaia Especial. Neste espaço, não só novas descobertas ocorridas ou com pos-siblidades de ocorrer, como outras antigas questões voltam à pauta para uma edição mais elaborada, na medida em que o co-tidiano de uma turma inteira volta seu olhar para um assunto inicialmente es-tranho. Quebrada a primeira barreira, o resultado é espetacular: acadêmicos es-crevendo de ciência como gente grande,

fontes pouco ou quase nunca procuradas ganham voz e vez e o objeto de estudo de muitos pesquisadores começa a tomar tí-mida visibilidade.

É bem verdade que a supervisão da professora Valquíria Michela John, que responde pela edição deste número, sem-pre muito pontual e preocupada, ajuda a reduzir pequenos equívocos e incentiva novas incursões pelo campo da ciência. Assim, num momento em que descober-tas ganham vida e o gosto pela divulga-

ção científica ensaia as primeiras linhas, vislumbra-se um fu-turo não tão distante da realidade univer-sitária.

A edição do mês de abril chega dis-cutindo temas inte-ressantes e cada vez mais presentes na sociedade. Medicina, saúde, esporte de alto desempenho, o uso da ciência na genéti-ca forense, alimenta-

ção, arqueologia. Assuntos tão distantes e ainda sim pertencem ao mesmo universo de conhecimento, dividem as páginas das editorias deste mês, sob uma perspecti-va jornalística em que o fim social surge como preocupação sempre presente nos meios de comunicação.

Se uma das funções do jornal-labo-ratório é a experimentação de diferentes formas, conceitos e iniciativas, agrupar assuntos recorrentes nos meios tradicio-nais de comunicação e mudar sua abor-dagem, ajustar o foco para uma nova pla-teia pode ser um exercício interessante de pluralidade e democracia da informação. Com vocês, o resultado desta experiência em 16 belas páginas de jornalismo depois de muitas doses de suor e ousadia. Apro-veitem a mistura.

Page 3: Cobaia #108 | 2011 |

Bom até que ponto?Julia Benthien Paniz

[email protected]

Se você pensa que todo atleta é saudável, precisa rever o que lhe foi ensinado. A crença de que esporte é sinônimo de saúde pode não ser de todo verdadei-ra. Basta começar pela simples distinção entre atividade física e esporte de alto rendimento. A primeira, praticada regularmen-te e sem exageros, está sim vin-culada à saúde. O segundo, nem sempre.

Ainda que o esporte de alto rendimento proporcione ao atle-ta benefícios como a disciplina, está diretamente relacionado à competição. Tanto nos esportes individuais (corrida, natação, boxe, tênis, etc), como nos co-letivos (vôlei, handebol, futebol, basquete, etc), existe a busca constante do limite máximo de rendimento corporal e de sua su-peração. Assim, por ser contínuo e intenso, pode sobrecarregar a estrutura física e psicológica do atleta.

O médico ortopedista do Ins-tituto de Ortopedia e Traumato-logia de Blumenau (IOT), Paulo Bordone, afirma que a fuga da normalidade na prática da ati-vidade física compromete o bem estar de quem a pratica. “Assim como não fazer nada faz mal, tudo o que é em excesso, tam-bém”.

O treinador e competidor de triathlon (que envolve corri-da, natação e ciclismo), Juliano Schmidt Torquato Luiz, 32 anos, atleta da Fundação Municipal de Esportes de Blumenau, con-firma as constatações. Em oito anos de carreira, as quatro ou cinco horas diárias de treino e as competições a cada duas ou três semanas conferiram-lhe uma lis-ta de lesões corporais. “A mais recente é a tendinite no quadril. Tive duas crises em quarenta dias. No período pré-competi-tivo, passei dez dias à base de anti-inflamatórios, injeções e sessões de fisioterapia. Sofri, mas consegui participar da pro-va”. Apesar de o triathlon exigir 70% da atuação dos membros in-feriores em sua realização – daí as lesões na coxa, no ligamento do tornozelo e na panturrilha -, os membros superiores também podem ser lesionados. “No om-bro eu tenho o que se chama de estabilidade de ombro e tendini-

te. Mesmo com a fisioterapia, a dor vai e volta. Não tem cura”, lamenta.

Este é apenas um caso de atleta que foi prejudicado pela excessiva prática esportiva. Em todos os esportes de alto rendi-mento os participantes preci-sam, além de se preocupar com a vitória, saber que estão sujei-tos a prejudicar seu corpo. Mas, muitas vezes isso não é um dos grandes problemas. O esporte acaba se tornando um vício di-ário e algumas preocupações, como essa, são deixadas de lado pelo prazer de praticar, competir e estar sempre em busca da per-feição. O problema é que este ci-clo não tem fim, e os esportistas podem nem perceber quando es-tão perto de se prejudicar a pon-to de não serem mais capazes de praticar aquilo que lhes fornece tanto prazer. A insistência tam-bém está incluída neste ciclo. É aquela velha história de que “isto não vai acontecer comigo”. Ao assistirmos uma competição, podemos perceber diversos atle-tas com proteções nas mãos, joe-lhos e braços. Estes, normalmen-te, são os que já possuem alguma lesão. Mas, não vai ser o técnico que vai pedir para eles pararem, nem os familiares, nem a dor. O que possivelmente os fará parar é a lesão. E, muitas vezes, para sempre.

Outro fator a ser considera-do quando se fala em esporte de alto rendimento é a idade de iní-cio da prática esportiva. Ainda que a chance de ter um campeão mirim seja maior, a probabilida-de de ocorrer algum problema físico também pode ser, o que depende do esporte. Há atletas de ginástica olímpica (um dos esportes que mais exige e que causa impactos) que estão “ve-lhos” aos 28 anos. Por isso, o acompanhamento médico é fun-damental para o atleta de alto nível, pois diminui as possibili-dades de lesão e pode aumentar a sobrevida atlética.

Controle mentalAssim como o esforço físi-

co afeta o desempenho de um competidor, a alimentação tam-bém. Entretanto, tão importante quanto estes, é o fator psicológi-co. Para o professor e psicólogo do esporte da Fundação Univer-sitária Regional de Blumenau (Furb), Carlos Nunes, o atleta que tem acompanhamento psi-cológico tem resultado superior. “O ideal é que seja diário”, diz o profissional que iniciou a carrei-ra com a equipe de voleibol de

Patrine Marchi Avosani [email protected]

Blumenau e agora é responsá-vel pelo time de handebol femi-nino. Ele afirma que no esporte, o acompanhamento psicológico não se limita à motivação e tem as seguintes expressões como palavras-chave: atenção, ativa-ção, concentração, comunica-ção, questão tática e motivação. Segundo ele, o atleta precisa estar concentrado e manter o foco durante o jogo/competição. “Desviar a atenção à torcida e a falta de comunicação podem atrapalhar”. Nunes diz “estar sempre junto” na quadra, apesar de não poder ficar no banco com a equipe técnica. “O nosso tra-balho é conjunto. Verifico para onde o atleta está olhando, se ele gasta energia à toa. Fico na torcida motivando o time e dou dicas de forma discreta para os reservas que estão no banco”.

O acompanhamento psicoló-gico não pode ocorrer somente durante o jogo, já que todo atleta possui dúvidas e inseguranças vindas, por exemplo, de um sen-timento de incompetência sobre alguma tarefa não realizada. O atleta sente-se angustiado por não conseguir executar funções que ele considera importantes. Casos como o do handebol, em que o pivô não consegue fazer um gol, e no vôlei, em que o ata-cante não faz o ponto, não “põe a bola no chão”, são ilustrações deste sentimento de incapacida-de.

Em palestra promovida pela CBN em Blumenau, no Teatro Carlos Gomes, o comentarista esportivo Juca Kfouri mencio-nou o episódio de descontrole emocional em campo do joga-dor de futebol Neymar. Kfouri defende o garoto: “Ele não teve infância, desde os 13 anos está sendo preparado para brilhar. Há muita hipocrisia em querer puni-lo”. O jornalista critica ain-da a falta de contratação de um psicólogo por parte dos grandes clubes de futebol. “Essa garo-tada sai da favela direto para o campo e, muitas vezes, direto para o estrelato. Não há nin-guém para cuidar da cabeça de-les e dessa mudança repentina. Pagam R$ 400.000,00 de salário, mas não pagam R$ 12.000,00 por um psicólogo”.

A concorrência entre os com-petidores e a cobrança de patro-cinadores e apoiadores para que vençam as provas são outros ge-radores de estresse. “Fico meio neurótico. A cobrança é grande. Não tem motivo para continu-arem patrocinando se não ven-cermos as provas e virarmos no-tícia”, conta Juliano.

A prática do esporte de alto rendimento não garante saúde aos atletas que buscam a superação física

Juliano não deixa de apontar o fato de o esporte competitivo possibilitar seu sus-tento. Mas o lado negativo é ressaltado. “Não tem nada de saúde. Tenho muita le-são, estresse, vivo com dor, tenho que trei-nar cansado, no calor, no frio, na chuva. Fora as bolhas, os calos e os dedos dos pés sem unhas”, queixa-se.

O psicólogo Carlos Nunes concorda categoricamente. “Não é saúde! Há con-fronto sempre, tanto físico quanto psicoló-gico”. No entanto, faz questão de ressaltar as qualidades da superação física. “Vencer é muito bom, você não tem ideia do que é. E o esporte desenvolve no atleta a discipli-na que falta para o não atleta. Mas, tam-bém tem decepções. O pior não é perder. É o fracasso de não conseguir fazer, quando o adversário se sai melhor”.

Celso Peixoto

Outras faces do jogo

Page 4: Cobaia #108 | 2011 |

Analú Vignoli [email protected]

Um terrível assassinato na Rua Forest Vista em Spring Valley – Los Angeles (EUA), o assassino ataca sem deixar evi-dências. Aparentemente, não fica para trás nenhuma molécula de vestígio sobre sua passagem. Vinte horas e trinta minutos de-pois, a equipe do entomólogo fo-rense Gil Grissom chega ao local que já fora isolado por policiais. Nada deve passar despercebido. Digitais, saliva, sangue, pele, unha, marcas de sapatos, he-matomas. Já no laboratório, em minutos, o resultado do DNA, parece que temos um suspeito. É hora de pegá-lo! Para a série de TV americana Crime Scene Investigation – CSI, um aparen-te suicídio pode revelar-se um cruel assassinato. Treinados e bem equipados, os especialistas da série buscam todas as evidên-cias para solucionar os crimes.

Da ficção para a realidade, dos Estados Unidos para Balne-ário Camboriú, o que temos em comum? Talvez a poluição ge-rada pelo uso frequente de veí-culos ou o clima agradável para uma ida a praia. Mas, em se tra-tando de investigação e genética forense, é preciso diferenciar o

Instituto Geral de Perícias – IGP e o Crime Scene Investigation - CSI.

As séries de TV possuem iní-cio, meio e fim. Análises labora-toriais, de DNA, saliva, chassis de veículos são feitas rapida-mente e os casos são soluciona-dos em um único episódio, ou seja, dentro de uma hora. Na vida real, o resultado de um exa-me de DNA sai em uma semana. O IGP de Balneário Camboriú e região é responsável por investi-gar homicídios, suicídios, locais de acidentes de trânsito, arrom-bamentos, carros, falsificação de documentos como identidade, cheques, dinheiro, pirataria, en-tre outros.

Segundo Lucia H.I. Bedus-chi, coordenadora do IGP de Balneário Camboriú e Itajaí, as séries de TV mostram o princí-pio da perícia. O isolamento do local, por exemplo, se faz neces-sário, e é de extrema importân-cia para o resultado, o menor detalhe esquecido, contaminado ou removido, pode prejudicar a interpretação nos laudos. A cole-ta de pêlos, substâncias corpóre-as, posição do corpo, local onde a vítima foi atingida, por onde o criminoso entrou e saiu, entre outras questões já citadas, são averiguadas tanto nas séries de TV quanto pelo IGP da região e em qualquer outro lugar.

O IGP começou a formar um banco de dados aderindo a um

sistema utilizado pelos Estados Unidos, o Automatic Finger Print Identification System – AFIS, em que informações sobre as pesso-as ficam armazenadas. No pro-cesso de retirada das novas car-teiras de identidade brasileira, já estão sendo coletadas as digitais para o armazenamento. Porém, o volume de digitais a serem colhidas é enorme, é necessário coletar as digitais da população e também dos que já estão con-denados. Alguns equipamentos e recursos exibidos nas séries são aspirações aqui, e utopia até mesmo nos Estados Unidos. Pro-fissionais da área dizem que es-peram pelo dia em que o avanço tecnológico seja capaz de identi-ficar até a roupa usada pelo in-vestigado, através da digital.

Enquanto isso, a rotina cri-minal em nossa região tem que continuar sendo atendida. Se nas séries os peritos são respon-sáveis pelo inquérito do suspeito e prisão, aqui esse trabalho fica com a polícia, e os peritos com a investigação do local. Quando algo ocorre, o número que vem logo à mente das pessoas é o 190, que dispara a Polícia Mili-tar, sempre a primeira a chegar ao local. Ao ser constatado que a vítima está morta, a polícia trata de isolar a área, nada pode ser retirado ou colocado, ninguém deve sair ou entrar. O departa-mento de Polícia Civil é chama-do e então a perícia é acionada.

Amanda Caroline Sousa [email protected]

Quando os peritos chegam ao lo-cal, o trabalho minucioso come-ça, as técnicas e capacidades de associação de um vestígio com o crime são testadas. Para corres-ponder à expectativa, os profis-sionais possuem curso superior, são concursados e passam seis meses na academia do IGP em Florianópolis.

O grande problema é que quando a perícia chega ao local, a cena do crime muitas vezes já sofreu interferências, o corpo foi deslocado, a arma já foi retirada do local, entre outros aspectos. “As séries de TV são positivas, ao mostrarem e cultuarem entre as pessoas a necessidade de pre-servação do local, já que no Bra-sil, não se tem essa consciência” afirma Beduschi.

Todo o material recolhido é responsabilidade do IGP, já o corpo da vítima é levado ao Ins-tituto Médico Legal – IML. Para averiguar a causa da morte, é necessário que o legista abra o corpo da vítima, até mesmo por-que recursos de verificação me-cânica, como RX, útil em alguns casos, não estão disponíveis no local. São coletadas amostras de sangue, urina, tudo que pos-sa ajudar nos laudos. Nos casos que envolvem uso de arma de fogo, é feito um mapeamento do corpo da vítima, um croqui das lesões para ser entregue ao de-legado responsável. Para os fun-cionários do IML de Balneário

Camboriú, os piores casos são os de afogamento, pela forma como são encontrados os corpos, já em decomposição. Em casos de não decomposição, o IML tem seis horas para iniciar os trabalhos após a chegada do corpo e 12 ho-ras para a conclusão. Os corpos identificados são entregues à fu-nerária, já os não identificados, ficam na cama mortuária por 30 dias. Caso não sejam procura-dos, são doados às instituições de ensino, ou enterrados como indigentes.

Na equipe do IGP de Bal-neário Camboriú estão quatro peritos, um auxiliar criminalista e seis estagiários. Já as análises que envolvem soluções quími-cas e reagentes são direcionadas a cidade de Florianópolis, para o Instituto de Análises Labora-toriais – IAL. Para a descentrali-zação de trabalho, pensa-se em montar um IGP na cidade de Joinvile, a maior cidade do Es-tado.

Com 293 municípios, Santa Catarina está formando apenas 12 novos peritos, sendo que seis já estão com estações de traba-lhos definidas, os demais serão direcionados aos locais com mais índices de ocorrências. “Após sua autonomia em 2005, o IGP está melhor equipado para bus-car solucionar os casos, ainda há muito que conquistar, mas já deixou de ser o “patinho feio” da Polícia Civil”, conclui Beduschi.

Aspectos da genética forense abordados por séries da televisão americana já fazem parte do cotidiano

A realidade da ficção

Confira algumas das séries que abordam o trabalho da perícia em seus enredos:

BONES NCIS NUNB3RS CSI:MIAMI

CSI:New York

CSI:L.Vegas

Page 5: Cobaia #108 | 2011 |

160000

140000

120000

100000

80000

60000

40000

60000

50000

40000

10000

20000

Jefferson da Silva [email protected]

Ela tem 21 anos, cabelos cas-tanhos escuros, e relativamente curtos. O estilo é de uma jovem conectada com seu tempo: je-ans, camiseta estampada e tênis. Gosta de rock e MPB, e sabe tudo de computador. A camboriuen-se Silvia Mendes circula pelos corredores da universidade, e é confundida com os demais aca-dêmicos. Mas não é uma estu-dante qualquer. É uma cientista. Embora a descrição acima não combine em nada com a imagem que temos no nosso imaginário, cientista não é apenas o homem de jaleco branco, enfurnado em um laboratório em meio a tu-bos de ensaio ou microscópio. As ferramentas de pesquisa da universitária são outras: compu-tador e livros, muitos livros. Há dois anos ela atua no Monitor de Mídia, um grupo de estudo do conteúdo exibido por veículos de comunicação, criado em 2001 e mantido pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali) com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Come-çou pesquisando as referências bibliográficas em livros do jor-nalista Caco Barcellos, e tomou gosto pela coisa. “Pesquisa não precisa ser chata”, resume a es-tudante, “desde que a gente es-colha um tema legal”.

O termo cientista é do sé-culo 19. Foi cunhado em 1833 pelo inglês William Whewell para descrever um especialista no estudo da natureza, concei-to que se popularizou no sé-culo 20. De uma forma ampla, define uma pessoa que realiza uma atividade sistemática, com método que possa ser testado, para obter determinado conhe-cimento. “O processo de desen-volvimento da sociedade passa necessariamente pela pesquisa científica”, explica a professora Thereza Monteiro de Lima, da UFSC, representante catarinen-

Pesquisa made in SCse da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A entidade, fundada nos mol-des de instituições europeias e norte-americanas, se propôs a trabalhar pela “remoção de empecilhos e incompreensões que entravem o progresso da ciência”, conforme expresso na própria ata de fundação, de ju-lho de 1948. E são milhares de pessoas trabalhando neste sen-tido. Dados do anuário do CNPq mostram que o Sul do Brasil é uma região próspera em pes-quisas científicas. Em oito anos o número de pesquisadores em atuação mais que dobrou (pas-sou de 10.378 para 24.708); e a quantidade de doutores envol-vidos na produção de conheci-mento praticamente triplicou (de 5.034 para 14.931). Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ficam atrás apenas dos es-tados do Sudeste, quando o as-sunto é produção científica (veja gráfico). Um trabalho realizado basicamente em universidades, e com financiamento público.

Pesquisa? Sobre o quê?

Foi o trabalho científico que definiu cada avanço obtido na medicina, química, física, as-tronomia, entre tantas outras ciências. E há muito ainda por ser descoberto a partir da curio-sidade pessoal dos cientistas; da percepção de uma mudança no ambiente; o surgimento de uma nova demanda; ou até as con-dições criadas pela instituição onde atua. Só na Universidade Federal de Santa Catarina cerca de oito mil pesquisadores, dou-tores estudantes e técnicos atu-am em pesquisas. São estudos como o que testa a viabilidade de duas vacinas para evitar o câncer de colo de útero; o em-prego de células-tronco no tra-tamento de lesões no cérebro; ou o emprego de nanotecnolo-gia para acelerar reações quí-micas. Pesquisas que colocam a UFSC como a terceira universi-dade brasileira no Webometric,

um ranking que avalia 12 mil instituições e é elaborado desde 2004 por um órgão ligado ao Mi-nistério da Educação espanhol. A Universidade do Vale do Ita-jaí (Univali) também aparece no ranking em função de trabalhos como do Laboratório de Análise e Produção de Medicamentos, habituado a criar patentes de medicamentos. Neste momen-to os pesquisadores do Lapam trabalham para desenvolver um novo analgésico utilizando como matéria-prima a nogueira-da-índia (Aleurites moluccana). A planta exótica, adaptada à flora brasileira, foi alvo de mais de dez anos de estudos e pode ser empregada na fabricação de um potente medicamento contra a dor, em parceria com um labora-tório farmacêutico. Já na Univer-sidade Regional de Blumenau (Furb), pesquisadores compro-varam que a utilização de enzi-mas (proteínas produzidas por micro-organismo e que ajudam na fermentação de bebidas, e até no processo de digestão do ser humano) pode economizar água, energia, e produtos quími-cos utilizados no beneficiamento têxtil. Esse processo biotecnoló-gico permite “determinar as re-ações que desejamos, sem, por exemplo, destruir determinadas fibras do tecido, o que poderia ocorrer com reagentes químicos normais”, explica o professor Jürgen Andreaus. O cálculo im-pressiona. Mudando o proces-so, pode-se evitar o lançamento de mil quilos de gás carbônico (CO2) na atmosfera a cada tone-lada de malha produzida.

Os trabalhos catarinenses podem não ser comparados a pesquisas como a que recebeu o prêmio Nobel de Física de 2010. Pesquisadores russos consegui-ram criar o grafeno - um material mais duro e condutor – capaz de revolucionar setores como os de energia e comunicações nos pró-ximos anos. Mas, “retratam bem a inovação científica catarinen-se”, complementa a represen-tante catarinense na SBPC.

Qual o perfil dos cientistas catarinenses? E que pesquisas são realizadas hoje em Santa Catarina?

Indicadores de pesquisa no Brasil e na região sul

20000

40000

60000

80000

100000

120000

20000

2002 2004 2006 2008

PESQUISADORES

Sul

Brasil

S

BS

SSSS

B

BB

BB

30000

20000

2002 2004 2006 2008

DOUTORES

Sul

Brasil

S

BSS

SSS

B

B

B

BB

70000

80000

20000

20000

2002 2004 2006 2008

ESTUDANTES

SS

SSS

BB

B

BB

180000

Fonte: CNPq

Criou a Teoria da Relatividade e

concebeu concei-tos que permiti-

ram o desenvolvi-mento da energia

atômica.

Químico sueco. Desenvolveu

produtos como a borracha

sintética e o dinamite.

Descobriu a Lei dos Corpos e fez avanços notáveis

na astronomia. É considerado o “Pai da Ciência

Moderna”.

Astrônomo norte-americano.

Descobriu as chamadas “Nebulosas”,

galáxias fora da Via Láctea.

Ainda no século 13 desenvolveu

conceitos do que mais tarde seria o tanque de guerra, e o helicóptero, a calculadora, entre

outros.

É um dos fundadores da microbiologia.

Inventou a vacina contra a raiva e o método da pasteurização.

Bioquímico norte-americano. Recebeu o Nobel

de Química por estudos

sobre o papel do carbono na fotossíntese.

Albert Einstein Alfred Nobel Galileu Galilei Edwin P. Hubble Leonardo Da Vinci Louis Pasteur Melvin Calvin

Page 6: Cobaia #108 | 2011 |

Diálise com segurançaA garantia de sucesso na filtragem do sangue está nos cuidados com o material que é reutilizado

Neuseli dos Santos [email protected]

Patrícia [email protected]

Munidos de máscaras, óculos e luvas, a equipe de enfermeiros realiza o reprocessamento do ma-terial utilizado em seus pacientes de hemodiálise. Essa medida de reutilização é válida mesmo que o material tenha sido utilizado em pacientes com doenças graves como as hepatites B e C. Apenas quem é HIV positivo recebe uten-sílios novos.

Na Associação Renal Vida de Itajaí cada paciente que realiza a hemodiálise tem o seu material devidamente identificado e reuti-lizado apenas nele. No reproces-samento também é verificado o volume interno dos capilares, que são uma membrana dialisadora, transportando o fluxo de sangue abundante durante quatro horas, retirando tudo o que é indesejá-vel.

Para a esterilização dos capi-lares é usado o ácido peracético numa concentração de 5%. É um esterilizante de contato, ele fica de 6 a 8 horas em contato com o material internamente, pra depois ele ser considerado estéril e ser utilizado novamente.

O total de água medido no interior dos capilares na hemodi-álise não pode ser inferior a 80% do priming inicial, ou seja, do pri-meiro uso. Cada paciente recebe um tamanho de acordo com suas necessidades e esse material é

reutilizado, em média, até 20 ve-zes.

De acordo com o nefrologista Mauro Azevedo Machado, du-rante o tratamento, o sangue sai desse capilar e vai pra dentro de uma máquina e retorna no mes-mo cateter, que tem duas vias. “Se esse sistema não estiver to-talmente limpo, ele pode se con-taminar com bactérias até letais e o paciente ganhar uma infecção, que não precisa ser somente local, pode ser generalizada, atingindo todos os órgãos do corpo e pode, inclusive, levar à morte”. O mé-dico atende pacientes de 18 a 84 anos, mas a média fica entre 50 e 60 anos, quando as doenças crôni-cas começam a trazer problemas progressivos de longo tempo. Os pacientes jovens, na faixa dos 18 anos, geralmente são levados por doenças próprias do rim.

A primeira causa de insufici-ência renal terminal é o diabetes. A doença é uma das responsáveis por levar os pacientes para a he-modiálise. Nesse grupo entram também a hipertensão e as do-enças próprias do rim que, com o passar dos anos, levam à perda das funções renais até chegar ao ponto de o paciente ter 10% ou menos de funcionamento renal, não conseguindo sobreviver sozi-nho. É quando se indica iniciar o tratamento pela hemodiálise.

Durante a hemodiálise, o san-gue do paciente fica de um lado do capilar e a solução química de outro, no meio fica uma membra-na. Se a água que passar por ali não for de qualidade, pode causar

uma contaminação para o pacien-te através dessa membrana.

A água responsável pela lim-peza do sangue não é a mesma encontrada nas torneiras, é uma água especialmente tratada. Se-gundo Machado, a água sofre uma constante ionização, um pro-cesso onde se deixa apenas o mí-nimo necessário de íons pra que ela saia pura. “Ferro, cloro e sódio, por exemplo, são quase totalmente excluídos do líquido, para depois poder entrar na máquina e fazer as misturas com os íons presentes na solução própria da hemodiá-lise”. No capilar, o sangue passa por dentro das fibras do material. Por fora é que passa a substância com a água preparada. É ali que acontece todo o processo de filtra-gem e limpeza do sangue.

Para iniciar o tratamento é pre-ciso ter um vaso resistente e aces-sível que permita ser puncionado três vezes por semana com agu-lhas. Para isso, é necessário fazer um acesso venoso subcutâneo no paciente que se chama confecção de fístula arteriovenosa. Ela é fei-ta unindo uma veia e uma artéria superficial do braço. O sangue da primeira passa para a segun-da e a veia fica mais ingurgitada e com fluxo de sangue mais for-te. “É onde você pode puncionar e trazer o sangue para o sistema de hemodiálise pra filtrar e depois devolver o sangue na mesma fís-tula, limpo”, explica o médico.

Além disso, no local da im-plantação do cateter sempre fica um pedaço para o lado de fora e um para o lado de dentro. É justa-

mente nessa beirada de transição que a pele pode entrar em contato com bactérias. Essa pulsão precisa também de cuidados para evitar contaminação, que pode inflamar o local e dali migrar a bactéria pra dentro da circulação ocasionando infecções generalizadas.

São usadas duas agulhas que se mantêm na fístula artério-ve-nosa (FAV), durante 4 horas, três vezes por semana.

Quatro salas

Para evitar a contaminação dos materiais pelos pacientes de do-enças infecciosas, eles são separa-dos por quatro grupos de acordo com a sorologia. O salão grande é chamado de sala branca, onde ficam os pacientes que tem con-trole das virologias, ou seja: não são HIV positivo e não tem hepa-tite, doenças que são transmitidas pelo sangue ou secreções.

Já na sala C, ficam os pacien-tes de hepatite C positivo, também controlados. Nessa sala, a diálise é feita separada. A sala B destina-se a pacientes com Hepatite B. O material nesses casos é reproces-sado. “A gente acredita que é mais fácil um paciente de HIV contrair hepatite do que o contrário”, ex-plica Machado.

A equipe é orientada a usar os Equipamentos de Proteção Indi-vidual (EPIs) e tem conhecimento de que aquela sala específica lida com determinado paciente. Os pacientes HIV positivo são os úni-cos que não reutilizam material. O controle das doenças é feito a

cada seis meses, independente do grupo do paciente.

Cuidados são indispesáveis

Nos pacientes com doenças virais o cuidado deve ser maior por parte do profissional. Macha-do conta que já houve acidentes de trabalho na clínica em que atua, mas os profissionais fizeram os exames necessários e não se contaminaram. “Às vezes fica tão rotineiro que eles não tomam o devido cuidado”.

Quanto aos pacientes, só pode haver contaminação se ele estiver num período chamado de janela imunológica, em que o médico não consiga determinar a doença naquele momento.

Para o enfermeiro Mario Heinz Junior, o risco de acidentes para o profissional é baixo. “Já furei o dedo”, lembra. Mas isso depende de cada profissional e da sua ma-neira de lidar com o material. “Se levar em conta que eu trabalho há 14 anos e furei o dedo uma única vez e ainda foi um deslize e não foi nada de comprometedor, o ris-co é pequeno”.

O lixo contaminado é separado em caixas especificas e guardados em salas fechadas fora da clínica. A coleta seletiva se encarrega de levar o lixo contaminado para a vigilância sanitária. A água usa-da na diálise também tem destino especial. Ela passa por um trata-mento de efluentes que depois vai servir para atividades como regar jardins, lavar carros ou ser usada em descargas de banheiro.

Os principais sintomas são de doenças renais são: pressão alta; inchaço (sobretudo no rosto, nas pernas e no corpo todo); san-gue na urina, cólica renal causa-da por cálculos (pedras); indícios de infecção urinária (dor, ardor ou dificuldade para urinar, urina mal cheirosa ou turva, aumento da frequência das idas ao ba-nheiro); palidez e fraqueza (sem outras justificativas).

Os pacientes de doenças re-nais precisam fazer uma “lim-peza” no organismo pelo menos três vezes por semana, já que eles não conseguem eliminar as toxinas do organismo através da

Tratamento

urina, como acontece em pes-soas saudáveis. A diálise é o processo artificial usado para filtrar essas substâncias inde-sejáveis acumuladas pela do-ença.

A diálise pode ser feita de duas formas. A primeira é atra-vés de uma membrana filtrante do rim artificial, que reveste toda a cavidade abdominal do corpo e é chamada de di-álise peritoneal ambulatorial contínua(CAPD). Já na hemo-diálise, é usada uma membra-na dialisadora, formada por um conjunto de tubos finos, cha-mados de capilares.

http://2.bp.blogspot.com

Page 7: Cobaia #108 | 2011 |

Botox além da estéticaIara da Cunha

[email protected]

“Não saia de casa para passe-ar, conversar. Quando eu conver-sava, o rosto começava a repu-xar. Todo mundo ficava olhando. Tinha vergonha.” Esse é o relato de Najla Gama Kauss, 67 anos. Ela tem espasmo hemifacial. A doença sempre a incomodou. Não havia nenhum tratamento recomendado até que, em 2004, foi indicado por uma médica ou-tra opção para melhorar a sua qualidade de vida.

Para muitos, o Botox® (mar-ca americana) como é popular-mente conhecida a Toxina Bo-tulínica, é sinônimo de um rosto rejuvenescido. Mas, para Dona Najla e tantas outras pessoas, se tornou uma esperança no trata-mento de doenças que antes exi-giam cirurgias.

A Toxina Botulínica é produ-zida pela bactéria Clostridium Botulinum. Essa neurotoxina é conhecida por seu efeito tóxico e causa o botulismo, uma intoxica-ção que afeta o sistema nervoso e provoca a paralisia gradual dos músculos. Em 1950, descobriu-se que em doses muito peque-nas, seria possível utilizá-la para fins terapêuticos.

A toxina começou a ser usada no Brasil em 1995. Seu principal uso, nessa época, era eliminar as linhas de expressão, especial-mente os vincos da testa e os fa-mosos “pés-de-galinha”. A partir do ano 2000, foi aprovada para indicações terapêuticas como a hiperidrose axilar e palmar (ex-cesso de suor). A administração do produto é feita através de in-jeções. O método é simples, não requer repouso nem interrupção das atividades cotidianas.

Hoje, a Toxina Botulínica tem importante papel no tratamento de sorriso gengival, bexiga hipe-rativa (incontinência urinária), hiperidrose (suor excessivo nos pés, mãos e axilas), estrabismo

(desalinhamento dos olhos), dis-tonia (contrações involuntárias da musculatura), blefaroespas-mos (movimentos involuntários das pálpebras, semelhantes a um tique nervoso), espasticida-de (rigidez excessiva da mus-culatura de braços e pernas) e espasmo hemifacial (contrações involuntárias dos músculos da face).

O fisioterapeuta Camilo Artur Camargo, de Guarapua-va, no Paraná, utiliza a toxina botulínica na reabilitação de crianças com paralisia cerebral. Antes não existia nenhum me-dicamento compatível com os resultados dessa toxina. No má-ximo era utilizado algum tipo de órtese (aparelho de metal para fixar pernas, cintura, coluna) e gesso, visando o alongamento e a prevenção de contraturas das estruturas músculo-tendíneas. “Os efeitos da toxina botulínica associados às técnicas e recursos fisioterapêuticos específicos são relevantes para o processo de reabilitação dessas crianças”.

Camilo destaca ainda que, como todo medicamento, a to-xina só deve ser usada com su-pervisão e orientação médica. Algumas das contraindicações apresentadas são: alergia conhe-cida ao medicamento, infecção local e não deve ser utilizado em caso de gestação. Outros casos em que a toxina botulínica não é indicada devem ser observados como doença neuromuscular as-sociada (uma enfermidade que leva ao enfraquecimento grada-tivo do músculo), coagulopatia associada (problema relacio-nado à coagulação sanguínea), falta de colaboração do paciente para o procedimento global, con-traturas fixas (contração muscu-lar que causa dor), lactação e uso de potencializadores como aminoglicosídeos, por exemplo a neomicina, um medicamento utilizado para tratar infecções bacterianas.

Marly Hardt, 71 anos, faz uso da toxina botulínica há oito anos. Ela tem espasmo hemifacial e através de um neurocirurgião, obteve indicação para o trata-

mento. “O Botox melhorou este-ticamente e fisicamente, pois ele me deixa sem dor”. Inicialmente realizava a aplicação a cada oito meses. Com o passar do tempo, o intervalo entre uma aplicação e outra diminuiu. Hoje, as inje-ções precisam ser feitas de três em três meses. “O efeito reduziu com o passar do tempo, mas a melhora da contração e a ausên-cia de dor quando eu aplico o Botox me deixa confortável”.

Nem sempre o resultado es-perado com o uso da toxina bo-tulínica é alcançado. É o caso de Lenio Chaves Cabral, 51 anos, que tem doença de Parkinson. Em decorrência disso, apresen-tou incontinência urinária e seu urologista indicou a toxina, afir-mando que a aplicação melhora-ria o quadro. Lenio afirma que sentiu segurança quando seu médico indicou o uso do produto. Não pensou duas vezes e agendou a aplicação, afinal, seu problema seria resolvido. O procedimento foi realizado em março de 2010. Ele conta que foi internado em um hospital e sedado. O medicamento foi in-jetado pelo canal da uretra, sem nenhum corte. “Não senti dor alguma e recebi alta no mesmo dia”. No dia seguinte à aplica-ção, percebeu que o volume de urina era mínimo e retornou ao médico, que recomendou utili-zar sonda uretral para solucio-nar o problema ocasionado com o tratamento. O resultado espe-rado não era o de interromper totalmente o fluxo da urina, mas diminuir a incontinência.

O tratamento com uso da toxi-na botulínica ainda é caro. Cada frasco do medicamento custa em torno de R$ 1,1 mil. Dependendo da doença, pode ser necessária a utilização de vários frascos.

O Ministério da Saúde, em parceria com cada Estado, forne-ce gratuitamente o produto para os pacientes que tenham indica-ção clínica no tratamento com a toxina botulínica. De acordo com o farmacêutico da Secreta-ria de Saúde de Itajaí, Leandro Zago, para ter acesso a este be-nefício o cidadão precisa entrar

Ruga não é o único alvo da Toxina Botulínica. Doenças neurológicas também são tratadas com o produto

Paulo José Mueller [email protected]

com um processo junto ao órgão, preencher formulário próprio e comprovar, através de laudos e exames médicos, que necessita do medicamento para tratamen-to de saúde. Em Santa Catarina, depois de preenchidos todos os critérios, essa documentação é enviada para Florianópolis, onde é analisada por uma junta médica no Centro de Reabilita-ção. Todo esse processo dura, em média, dois meses para garantir que não ocorra desvio do medi-camento para uso estético.

Qualquer pessoa que rece-ba indicação médica para trata-mento de sua doença com uso de toxina botulínica pode realizar a aplicação de forma gratuita no Centro de Reabilitação, em Flo-rianópolis. Porém, se optar por não realizar a aplicação neste centro, o custo não será coberto pelo Estado, devendo o paciente assumir essa despesa.

Botox em outras doenças

Uma nova forma de unir e reconstruir moléculas e usá-las para refinar a toxina botulínica do tipo “A” foi desenvolvida por cientistas britânicos para apri-

morar o uso desta neurotoxina em pacientes com doença de Parkinson, paralisia cerebral e enxaqueca.

De acordo com a reportagem “Cientistas refinam Botox para uso contra Parkinson, paralisia e enxaqueca”, publicada em 05/10/2010 no jornal “Estadão Online”, especialistas do Labo-ratório de Biologia Molecular do Conselho Britânico de Pesquisa Médica acreditam que suas des-cobertas podem levar à criação de analgésicos de longa dura-ção. O novo método gera uma molécula refinada que poderia ser utilizada clinicamente sem efeitos tóxicos indesejados.

Ainda de acordo com a re-portagem, o Reino Unido foi o primeiro país a aprovar a toxina para o tratamento de enxaque-ca.

O tempo de duração do efei-to da toxina botulínica no trata-mento de doenças neurológicas varia de quatro a seis meses. Os cientistas britânicos acreditam que esse novo método pode re-sultar no desenvolvimento de analgésicos que permitam ao paciente ficar sem dor crônica pelo mesmo intervalo de tempo.

CENTRO CATARINENSE DE REABILITAÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Rua Rui Barbosa, n 780

Bairro: Agronômica

Florianópolis – SC

Tel.: (48) 3221-9200 / 3221-9202

E-mail: [email protected]

Horário de atendimento: 07:00 hs às 19:00 hs

SERVIÇOS PRESTADOS:

- Serviço de Reabilitação Neurológica

- Serviço de Traumato-ortopedia

- Serviço de reabilitação Cardiológica

- Oficina Ortopédica (Serviços de: Próteses, Órteses, Aparelhos e Sapataria)

- Atendimento Médico (Fisiatria, Pediatria, Urologia, Neurologia e Cardiologia)

- Serviços de Enfermagem

- Serviços de Psicologia

- Serviços de Fonoaudiologia

- Serviços de Terapia Ocupacional

- Serviços de Assistência Social

- Serviços Pedagógicos

Serviço

Paulo José Mueller

Botox - Toxina Boltulinica Tipo 1 - Laboratório Allergan

Page 8: Cobaia #108 | 2011 |

malmente remete à arqueologia as descobertas de tesouros e coisas parecidas, conforme co-menta o geógrafo Eloy Labatut, que desenvolve trabalhos em conjunto com arqueólogos em Joinville.

O que comumente acontece são análises de objetos, inde-pendente de forma, tamanho ou valor financeiro. “Para impor-tantes descobertas não existe padrão. Uma peça pequena e com aspecto pouco atrativo tam-bém pode significar muito para a ciência”, complementa Eloy.

Mexe aqui, revira ali, e logo se percebe que aquele lugar não pode ser tão comum quanto se pensa. Montes de conchas, além dos objetos aparentemente es-culpidos em rocha mostram que o local merece, de fato, atenção pela arqueologia, palavra que tem origem grega e significa “estudo das coisas antigas”.

Com parte do punho atola-do na lama, surge uma dúvida: Será que algum arqueólogo vai perder tempo em um lugar que não tem ossos de dinossauros? Claro que sim! Ossos de dinos-sauro interessam aos paleon-tólogos. A ciência que estuda restos ou vestígios de diversas formas de vida animal é a pa-leontologia, diferente da arque-ologia que é uma ciência social e comumente não trabalha com restos de seres vivos.

O arqueólogo estuda as cul-turas e os modos de vida huma-na do passado, a partir da aná-lise de vestígios materiais, que até podem ser ossos, no caso dos humanos, mas com outro enfoque.

O arqueólogo carioca Dar-lan Pereira Cordeiro, que dentre outras atividades presta serviços junto à Fundação Genésio Mi-randa Lins, em Itajaí, conta que a arqueologia e os profissionais arqueólogos têm ganhado espa-ço. Ele explica que a legislação vigente visa proteger ou preser-var os sítios arqueológicos, que são pela lei considerados patri-mônio da união. O professor diz que o perfil do arqueólogo e sua importância são agora mais des-tacados em função da mudança dos modelos de cuidado à prote-ção do meio ambiente.

Sentado perto de um barran-co, em algum ponto da margem do rio Cubatão, em Joinville, nordeste de Santa Catarina, pode-se ficar imaginando como escrever sobre aquele lugar. A partir de um primeiro olhar, não tem nada de muito atrativo. Uma vegetação não muito den-sa, a terra úmida, o rio com água meio turva. O vaivém das aves é interessante, em uma constan-te procura por alimentos, mas ainda não inspira de forma sufi-ciente para a escrita.

Um lamaçal de dar dó a qual-quer par de tênis branco. Mas, a dúvida persiste: como escrever sobre um lugar assim? Afinal de contas, os leitores podem desis-tir, perdendo o interesse já no primeiro ou segundo parágrafo do texto, caso o conteúdo seja chato.

Na verdade, permanecer pa-rado e sentado, por quase meia hora, não adianta muito. Já que o tênis está devidamente sujo e a calça também, o negócio é dar uma caminhada ao redor.

Escavações e conchas. Epa! Parece que a sorte está mudan-do no terreno que aparentemen-te nada tem para se ver e contar. Pisamos todos os dias em muitos lugares, sem imaginarmos o que pode ter logo abaixo dos nossos pés. Finalmente, o barranco de lama começa a ficar interessan-te. Por que não sujar as mãos também? Tênis, calça e mãos... Como será que vai terminar esta história?

Independente do cinema, através de histórias como as de Indiana Jones e outras persona-gens, a arqueologia sempre foi vista com fascínio pela maioria das pessoas. As viagens, escava-ções, busca pelo desconhecido, com revelações surpreendentes que permitem e permitiram co-nhecer melhor o modo de vida ancestral, seduzem diversas ge-rações.

O imaginário popular nor-

Antônio Sabará[email protected]

Especial

Luís [email protected]

A arqueologia pode nos levar ao passado e, quem sabe, nos fazer ressurgir no futuro

A máquina do tempo

Museu Arqueológico de Itajaí e artefatos encontrados em Santa Catarina

Fotos: Luís Costa

Page 9: Cobaia #108 | 2011 |

Especial

A máquina do tempo

Museu Arqueológico de Itajaí e artefatos encontrados em Santa Catarina

Os sítios arqueológicos de Joinvil-le estão devidamente catalogados e são alvo da atenção de profissionais como a arqueóloga Beatriz Costa, atualmente vinculada ao Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville (Fundação Cultu-ral). Ela explica que dentre outras ativi-dades, os arqueólogos podem trabalhar em duas frentes: diretamente nos locais de escavações, ou realizando estudos e análises posteriores.

Beatriz comenta que as atividades relativas à arqueologia, pela complexi-dade apresentada, também ocorrem de maneira interdisciplinar, juntamente com geógrafos e outros profissionais pesqui-sadores. Somente na região de Joinville foram registrados 41 sítios. O ideal, para preservação dos materiais e não preju-dicar as pesquisas, é que o acesso aos locais ocorra, preferencialmente, com monitoramento ou autorização. Além das ferramentas mais simples, como pás e enxadas, alta tecnologia também auxilia os profissionais, como o teste do carbono 14 (exame que possibilita a estimativa de existência de fósseis e outros elementos).

Portanto, a caminhada do repórter descrita no início deste texto não resul-tou apenas em lama e vegetação. Muitas conchas, além daquele pedaço de rocha esculpida, que foi recolocado no mesmo lugar, estavam lá, como páginas soltas de um livro de história. Só faltou encontrar um osso humano, quem sabe o crânio de um sambaquiano.

Sambaquis

Sambaquianos são os povos ou pes-soas que viviam junto aos sambaquis, palavra de origem guarani, que signi-fica monte de conchas em ambientes

normalmente litorâneos. Os estudos ar-queológicos levaram à conclusão de que somente os sambaquianos produziam os zoolitos (zoo = animal + litos = rocha). As esculturas, feitas de rochas têm formas variadas, cujos significados possíveis são objetos de estudo. Mais raras são as en-contradas com formato humano.

Como interessa ao arqueólogo tanto os elementos da natureza quanto os produzi-dos pelos seres humanos, questionam-se possíveis laços entre os povos indígenas contemporâneos e os sambaquianos. O Cacique Hyral, da reserva Guarani, que está situada no quilômetro 190 da BR 101, em Biguaçú, acredita ser possível uma ligação entre os povos. Algumas evidên-cias nas formas geométricas vistas nos elementos pré-históricos, se comparados aos dos Guaranis, podem direcionar para esta conclusão. Ele diz ser difícil concluir, mas que é uma hipótese viável.

No sul do estado está localizado aquele que é considerado o maior Sam-baqui do mundo, com 120 mil metros quadrados, aproximadamente, na região de Garopaba. Em Joinville, o Sambaqui Cubatão reúne uma equipe multidiscipli-nar liderada por equipes da USP e UFRJ, que já descobriram matérias de fibra pre-servadas, caso raro, mas possível porque imerso em água alguns elementos ficam mais preservados. De acordo com Darlan, o Canal Discovery está produzindo um documentário sobre o local.

Preservar os objetos e especialmente o conhecimento obtido pelas pesquisas é fundamental para que possamos compre-ender um pouco mais as nossas origens, desvendando a senda humana no plane-ta. Não é por acaso que Indiana Jones está entre os personagens mais lembra-dos do cinema.

Museu arqueológico

Sítio arqueológico

Joinville

Itajaí

Bal. Camororiú

Floripa

Garopaba

Sítios arqueológicos em Santa CatarinaAr

queo

logi

a Paleontologia

Ciência Social que estuda as culturas, não trabalha com restos de seres vivos. Estudo das coisas antigas e diversas modalidades de pesquisa, como a histórica;

Como a maioria das descobertas, alguns dos

primeiros achados arqueo-lógicos registrados podem ter acontecido por acaso. Os iniciais registros do

que hoje é concebido como arqueologia são muito

antigos, estando associados também a atividades

militares e de pesquisas particulares, por homens apaixonados por “novas”

descobertas;

A arqueologia tem resquí-cios mais evidentes desde a passagem da idade mé-dia para a moderna (séc.

XVI), com os humanistas e o renascimento;

O arqueólogo estuda as culturas e os modos de

vida humana do passado, a partir da análise de

vestígios materiais. Extra-ordinariamente (de acordo com a circunsntância) pode estudar dinossauros, mas

não é o foco.

Quadro não comparativoSão ciências distintas entre si / cada qual com sua importância

específica

Também relacionada com a biologia e a geologia;

Estuda restos ou vestígios de diversas formas de vida

animal;

Dinossauros;

Verifica a atividade biológi-ca dos seres pesquisados: pisadas, coprólitos, biotur-

bações, fósseis ósseos;

Page 10: Cobaia #108 | 2011 |

Prevenção é o remédioAlimentação balanceada reduz o uso de antibióticos e anti-inflamatórios devido à falta de vitamina A

Anelise Margraf [email protected]

Nem sempre os pais estão presentes no dia a dia dos filhos para cuidar de sua alimentação. É o caso de dona Gersoli Batis-ta Ferreira, 61 anos, que é avó e um de seus netos mora com ela. Daniel Vitor Nunes Pereira tem 9 anos e não come verduras e saladas. O motivo não é a falta de pratos deliciosos preparados pela avó, e sim porque o meni-no afirma não gostar de legumes e verdura, alimentos essenciais no dia-a-dia de uma criança em fase de crescimento.

Embora Daniel não goste de comer alimentos como cenoura, couve-flor, espinafre, fígado de boi, dona Gersoli não deixa de complementar seu almoço com esses ingredientes que para ela são essenciais à mesa.

Balas, chicletes, pirulitos, chocolates, sorvetes entre ou-tros tantos doces apreciados pela criançada também estão na rotina de Daniel. Todas essas delícias estão no dia-a-dia do neto que consegue as sobreme-sas mesmo quando não come os pratos cheios de vitamina A.E por que é importante que Daniel consuma os pratos preparados pela avó?

A importância da vitamina A reside no fato de exercer im-portantes e numerosas funções no organismo e, portanto, a sua deficiência acarretar consequ-ências fisiopatológicas para o indivíduo, principalmente para as crianças.

De acordo com a nutricionis-

ta Janete Tridapalli, de Brusque, o problema é que normalmen-te as pessoas deixam de lado a importância fundamental da vi-tamina para o nosso corpo. Ela explica que vitaminas são ele-mentos nutritivos essenciais para a vida, que na sua maioria pos-suem na sua estrutura compostos nitrogenados (aminas),os quais o organismo não é capaz de sinte-tizar e que, se faltarem na nutri-ção provocarão manifestações de carência no organismo. O corpo humano deve receber as vitami-nas através da alimentação, que é importantíssima.

A vitamina A, assim como todas as vitaminas é um micro-nutriente necessário ao organis-mo, por possuir uma variedade extensa de funções. A deficiência que está relacionada com sua ca-rência chama-se Xeroftalmia. O sintoma mais comum é a ceguei-ra noturna, sensibilidade à luz, seguido de problemas na córnea, podendo chegar à ulceração e até mesmo a cegueira irreversí-vel (chamada de cerotomalácia).

A ingestão de vitamina A

Para o infectologista Júlio Artur Keeler, de Balneário Cam-boriú, outras complicações sérias podem acarretar graves proble-mas devido à ausência da vita-mina A: redução do olfato e do paladar, ressecamento e lesões na pele e mucosas, hiperplasias (multiplicação descontrolada das células) e metaplasias (perda da forma celular), enfraquecimen-to do sistema imunológico, que é a capacidade do organismo se defender o que leva a infecções

frequentes.Conforme o infectologista, to-

das as infecções e complicações podem ser evitadas se a alimen-tação for bem planejada com ali-mentos ricos em vitaminas A. “As evidências indicam também que essa deficiência pode compro-meter o crescimento de crianças e diminuir a resistência às infec-ções.”

Já o excesso de vitamina A, uma situação frequente em pes-soas que ingerem vitaminas de-liberadamente, também pode gerar problemas. Segundo Kee-ler, a ingestão de vitamina A em quantidade superior à necessária é bastante rara, pois esta se da-ria na forma de uma quantidade muito elevada de legumes ou verduras, que na alimentação di-ária é muito difícil de acontecer. O que normalmente acontece é a ingestão de vitamina A sintética, em complementos vitamínicos adquiridos em farmácias. Neste caso, os sintomas mais comuns são: cefaleia, náuseas, vômitos, mal estar, indigestão, dor abdo-minal, icterícia (pele amarelada); que são resultado de complica-ções do fígado, onde as vitami-nas são processadas.

Quando existe o excesso da vitamina A, o fígado não conse-gue metabolizar esta quantidade maior e por isso ocorre uma “in-toxicação hepática” cujo trata-mento é a suspensão imediata de alimentos ou complexos que con-tenham a vitamina. “No caso de crianças a situação é semelhan-te, e isto faz com que elas sofram, muitas vezes, atraso no desen-volvimento psicomotor,”explica o médico.

Onde encontrar a vitamina A

Confira no quadro abaixo as fontes que fornecem essa importante vitamina:

Fontes vegetais Fontes animais

Abacate

Caju

Manga

Mamão

Abóbora

Brócolis

Cenoura

Gema

Leite

Queijo

Sardinha

Fígado bovino

Fígado de galinha

Óleo de fígado de bacalhau

Rael

Bri

an R

au

Page 11: Cobaia #108 | 2011 |

Produção sustentável

Perceba tudo a sua volta, tijolos nas paredes, equipamentos eletrô-nicos, móveis, inclusive suas rou-pas. Você já parou para pensar no quanto o meio ambiente foi pro-vavelmente prejudicado para lhe proporcionar tal momento e como-didades? Quantas árvores derru-badas e a infinidade de produtos químicos despejados nos rios para lhe entregarem esses produtos prontos? As pessoas geralmente não fazem tal reflexão e acabam contribuindo indiretamente para a

Bárbara Bianchi [email protected]

Empresas percebem cada vez mais a importância de investir em ações que diminuam o impacto ambiental

Talita Aparecida Odeli [email protected]

degradação da natureza, que vem ficando cada vez mais escassa.

Porém, nada está completa-mente perdido. A tecnologia que retira recursos da natureza é a mesma que a salva. As indústrias vêm investindo fortemente para evitar prejuízos ao ambiente e, consequentemente, aos seres hu-manos.

Visando reduzir a emissão de substâncias poluentes na atmosfe-ra, solo ou corpos d’água, diversas empresas estão aplicando um alto valor em estações de tratamento de efluentes. Efluentes são produ-tos líquidos ou gasosos produzidos por indústrias ou então resultantes dos esgotos domésticos urbanos, que são lançados no meio am-biente.

Na região do Vale do Itajaí, polo têxtil de Santa Catarina, essa situação não é diferente. Várias empresas vêm se adaptando a essa forma de preservação, es-pecificamente no tratamento de efluentes líquidos. Além de uma prática ambientalmente correta, essas estações de tratamento são obrigatórias em alguns casos e fazem parte do conceito legal de poluição. A advogada especia-lista em Direito Socioambiental, Mariane Schappo, de Joinville, explica que no caso de indús-trias, a obrigatoriedade de man-ter um sistema de tratamento de efluentes emana do próprio licen-ciamento obtido junto ao órgão ambiental. A obrigatoriedade do licenciamento ambiental, por sua vez, está prevista no artigo 10 da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente assim transcrita:

“A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades uti-lizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencial-mente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, de-penderão de prévio licenciamen-to de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - Ibama, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis”.

Assim, ao obter o licencia-mento ambiental, a empresa fica obrigada a cumprir condições es-

tabelecidas pelo órgão ambiental, dentre elas, a instalação de ETE - Estações de Tratamento de Efluen-tes - permitindo o lançamento de efluentes apenas se cumpridos os padrões estabelecidos e instalação de equipamentos que controlem também as emissões atmosféri-cas. As empresas comprometem-se a enviar relatórios de análises ao órgão licenciador, com periodi-cidade também estabelecida pelo órgão, como explica Mariane.

Qual a importância dessa prevenção?

Segundo o biólogo e mestre em Engenharia Ambiental, Mar-cos Pedro Veber, de Luiz Alves, o lançamento indevido de efluentes de diferentes fontes ocasiona mo-dificações nas características do solo e da água, podendo poluir ou contaminar o meio ambiente. Po-dem provocar a mortalidade e/ou seleção das espécies da flora e da fauna aquática, assim como a in-viabilização do tratamento para o abastecimento doméstico, proces-samentos alimentício e a irrigação de hortaliças, entre outros danos. "Com o tratamento consegue-se remover os sólidos em suspensão, matéria orgânica e inorgânica, or-ganismos patogênicos, entre ou-tros. A importância se dá pelo fato de evitar a degradação ambiental e de disseminar doenças", enfati-za Marcos.

A fiscalização é de responsabi-lidade dos órgãos ambientais mu-nicipais, se houver, estaduais, no caso de Santa Catarina a FATMA – Fundação do Meio Ambiente, ou

federais, o IBAMA – Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos naturais Renováveis.

Em caso de desconformidades com o que é exigido, as empresas poderão sofrer imputação crimi-nal e incorrer nas penas previs-tas na Lei nº 9.605/1998, como a prestação pecuniária (pagamento de multa), suspensão parcial ou total de atividades, prestação de serviços à comunidade.

Empresas que não se adapta-rem poderão ainda ser responsa-bilizadas civilmente, ficando obri-gadas a reparar o dano ou, diante da impossibilidade de reparação, compensar de forma econômica (indenização) o dano causado.

Os efluentes, portanto, exi-gem atenção especial por parte dos responsáveis pelas indústrias. Seu tratamento deve ser eficien-te e alcançar os padrões exigidos pelas normas vigentes, evitando qualquer tipo de dano ao meio ambiente.

É importante considerar que a implantação de um sistema de tratamento é um benefício inques-tionável e único. As empresas ge-radoras de efluentes, acima da obrigatoriedade, devem ser cons-cientes e responsáveis pelo trata-mento do efluente para que possa ser lançado no meio ambiente de forma adequada. Cabe às empre-sas a responsabilidade de mini-mizar ou evitar que no processo produtivo se produza uma grande quantidade de efluentes. Assim, consegue-se diminuir custos e essa cooperação e participação contribuem para o desenvolvi-

Bactérias auxiliam em preservação ambientalDurante o processo de tra-

tamento de efluentes, entra em cena uma etapa curiosa. Bactérias auxiliam na diminuição de sujei-ra da água, absorvendo boa parte da massa poluidora existente.

Segundo o coordenador do curso de Ciências Biológicas da Univali, Marcos Pessatti, existem poucos organismos na natureza que conseguem degradar uma

tinta, por exemplo, que é lan-çada no rio. Por isso, na ETE existe uma piscina especial, onde um grande número de bactérias capazes de realizar essa atividade são concentra-das para metabolizar as tin-tas tóxicas. Esse processo é chamado de bioremediação, devido ao “conserto” de um problema ambiental com bac-

térias, que não foram genetica-mente modificadas. O professor alerta, entretanto, que “ se deve ter cuidado e fazer constantes análises na água que é devolvi-da ao rio. No caso de efluentes são 20 análises diferentes, pois essas bactérias podem chegar até o rio e prejudicar os demais seres aquáticos, causando a morte de peixes e algas”.

Piscina onde o efluente sofre o processo de decantação

Fluxograma: estação de tratamento de efluentesBá

rbar

a Bi

anch

i

Page 12: Cobaia #108 | 2011 |

Falta tempo para estudar

“O meu maior estresse é a falta de tempo, gosto muito do meu curso, mas não tenho tempo para ler”. Essa é a reclamação da acadêmica de Direito, Josiane Marques Pereira. Ela trabalha durante todo o dia e à noite vai para a faculdade. O tempo para estudar torna-se pequeno diante das várias tarefas e obrigações diárias.

Além da Josiane, muitos aca-dêmicos reclamam constante-mente desse problema. O aluno está sendo cobrado toda hora, não pode errar, precisa estar com os neurônios totalmente ligados, conectados e abertos, ele está sempre sendo avaliado. A psicó-loga Mariléia Matos afirma que o estudante se ocupa ao longo de muitas horas com tarefas obriga-tórias, como trabalho, estudo, família, o que pode levar à falta de êxito em todas algumas das obrigações assumidas, devido a um bloqueio estressante cumu-lativo. “O estresse pode causar um momento desagradável até a

prática de um ato inconveniente. Além disso, pode contaminar as pessoas próximas”.

“Será que todo mundo con-segue entender a matéria e eu não?” Luanna Cota é acadêmica de Administração e diz que quan-do o professor ministra a aula que ela menos gosta e ainda por cima tem dificuldade, a sensa-ção de incapacidade e o estresse logo aparecem. Mariléia explica que o estresse é proveniente do novo. Tudo que é novo exige uma maior reação orgânica. “Então nesse estágio de aprendizado, de percepção, de conhecimentos novos, de avaliação e auto-ava-liação, isto intensifica o estágio de estresse”. Alguns acadêmicos perdem o controle e o equilíbrio da situação, sendo assim, os in-vestimentos que seriam para um futuro promissor tornam-se uma verdadeira tortura.

As consequências do estres-se se manifestam de forma dife-rente em cada pessoa. Segundo a psicóloga, alguns acadêmicos podem vir a ter absenteísmo, ou seja, faltar aulas, não ter o desempenho esperado nas pro-vas, dificuldades de concentra-ção. Outros, podem chegar com uma fadiga física e emocional acentuada ao final do curso. O

Ediane [email protected]

Robérto Dávila [email protected]

estresse também dá origem a ra-dicais livres e níveis elevados de cortisol, ou seja, a pessoa acaba por perder um pouco da capaci-dade de memorização. Quando o estresse diminui, a memória normaliza.

Mas, são as pessoas próximas do estudante que mais sofrem as consequências. A mãe da Luan-na, Marli Cota, diz que em épo-cas de provas não é muito fácil aturar a filha. “Tá todo mundo tranquilo, mas de repente chega a Luanna com um mau humor e estressa todo mundo”. Por con-ta da relação de proximidade, o acadêmico acaba colocando es-sas pessoas no mesmo contexto de estresse.

A psicóloga Rosélis Machado afirma que é importante que o acadêmico comprometa-se com o papel que está sendo execu-tado naquele momento, mas de forma equilibrada, “é saudável também poder desabafar com outra pessoa”. A psicóloga Ma-riléia concorda com Rosélis e enfatiza que é necessário ter pa-ciência e lembrar que as pessoas que estão a nossa volta não são válvulas de escape para descon-tar todo o estresse.

O lazer é essencial para a condição de relaxamento. De

acordo com o professor de Edu-cação Física, Pedro de Souza, a melhor forma de reduzir o es-tresse é ter um momento de rela-xamento. O acadêmico tem que conciliar seu tempo entre tarefas e o prazer do dia-a-dia, ou seja, reservar pelo menos 30 minutos para atividades prazerosas que sirvam como revigorante e fuga do estresse diário. Esse tempo também deve ser dedicado a um momento de reflexão. “A quali-dade e a forma de alimentar-se também repercutem no estado geral da saúde, uma alimenta-ção saudável traz vigor, energia e motivação”.

A execução de uma tarefa por um período de três a quatro horas como, por exemplo, estudar para uma prova, pode resultar em ineficiência e o tempo de execu-ção pode tornar-se muito maior. O interessante é parar um pou-co, tirar uma soneca, fazer um alongamento ou até escutar uma música, 15 minutos já seriam suficientes para relaxar. Ao vol-tar, o estudante estará mais des-cansado, trabalhará sob menos pressão e renderá muito mais. Por isso, otimize seu tempo, te-nha uma alimentação saudável, pratique exercícios e tenha uma vida em abundância!

Gastrite

Alergias

Bruxismo

Dor de cabeça

Tremor na voz

Suor excessivo

Tensão muscular

Dores musculares

Esgotamento físico

Esgotamento físico

Emotividade acentuada

Tiques nervosos

Desmotivação

Esquecimento

Irritabilidade

Isolamento

Ansiedade

Desânimo

Apatia

Psicológicos

Físicos

Sintomas do estresse:Sintomas do estresse:

Acadêmicos sofrem com estresse e não conseguem cumprir as várias obrigações durante o dia

Ediene Souza

Page 13: Cobaia #108 | 2011 |

Uma forte dor de cabeça que logo se espalhou por todo o cor-po, causando dormência genera-lizada. Foi dessa forma que a do-ença deu seus primeiros sinais na vida da jovem Margarete, de apenas 18 anos. O surto, na épo-ca não diagnosticado, se repetiu dez anos depois. Aos 28, Marga-rete Custódio Paul se descobria portadora de Esclerose Múltipla, doença que atinge cerca de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla – Abem.

A Esclerose Múltipla – tam-bém conhecida pela sigla EM - atinge o Sistema Nervoso Cen-tral, constituído pelo cérebro e pela medula espinhal. Também chamada Esclerose em Placas, se caracteriza pela inflamação da mielina, camada que envolve os nervos, a qual se transforma em placas duras, dificultando a transmissão dos impulsos nervo-sos e causando os surtos – como são chamados os períodos em que a doença se manifesta.

Os nervos são responsáveis pela condução de impulsos elé-tricos para todas as partes do corpo. Eles determinam as fun-ções que um órgão ou membro precisa desempenhar, e inter-pretam as informações recebi-das desses órgãos. Os impulsos nervosos podem ser entendidos como uma ordem de ação, atra-vés da qual os nervos “dizem” ao corpo o que fazer.

Muitas dessas fibras nervosas são envoltas por uma camada de gordura e proteínas, a mielina. A função desse revestimento é tor-nar os impulsos nervosos mais rápidos. Para se ter uma ideia, a mielina possibilita que um impulso nervoso seja transmiti-

Camila Maurer [email protected]

do a uma velocidade superior a 100 metros por segundo. Quan-do essa camada é danificada, os impulsos nervosos ficam mais lentos e podem chegar a ser blo-queados completamente, geran-do uma série de sintomas. É exa-tamente isso o que acontece com quem tem Esclerose Múltipla.

O diagnóstico é feito, em um primeiro momento, através do histórico clínico do paciente, isto é, das informações relatadas por ele durante a consulta. Muitos sintomas da Esclerose Múltipla, tais como dor de cabeça, fadiga intensa e dificuldades motoras, são comuns a diversas doenças neurológicas, fator que, por ve-zes, dificulta o diagnóstico. A pulsão lombar, exame em que é retirada uma amostra de líquido da medula espinhal, e a resso-nância magnética são essenciais para a confirmação do diagnós-tico.

A gravidade da doença varia de acordo com o caso. São re-conhecidos atualmente quatro tipos de Esclerose Múltipla, sen-do que o tipo Remitente/Recor-rente é notadamente o mais co-mum, acometendo cerca de 80% dos pacientes. Nesses casos, a pessoa tem surtos, períodos em que a mielina está danificada e os sintomas se manifestam. Em outros casos, no entanto, a doen-ça é sempre progressiva e leva, muitas vezes, à imobilidade, po-dendo ser fatal em algumas situ-ações. De acordo com o neuro-logista Walter Roque Teixeira, de Blumenau, a Esclerose Múltipla é a principal causa de incapaci-dade entre jovens, excetuando-se os acidentes de trânsito.

Ainda segundo o médico, a faixa etária mais acometida pela doença fica entre os 20 e os 50 anos, sendo que as mulheres são as mais atingidas. No Brasil, atu-almente, cerca de 25 mil pessoas são portadoras. As causas da do-ença, no entanto, ainda são um mistério para a medicina. Acre-dita-se que ela possa ser causa-

Múltiplas perspectivasCom tratamento, pessoas com Esclerose Múltipla podem desfrutar de excelente qualidade de vida

Jessica Eufrazio [email protected]

O apoio parte dos próprios portadores

da por uma reação autoimune do organismo, que é quando o sistema imunológico, por algum motivo ainda não totalmente co-nhecido, “ataca” as células do próprio corpo.

O neurologista, que tem ex-periência no tratamento de Es-clerose Múltipla, revela que a quantidade de pacientes diag-nosticados tem aumentado nos últimos anos, o que não signifi-ca, necessariamente, uma pro-gressão no número de casos. “Não há indicação de que a doença esteja aparecendo mais. Mas melhoraram enormemente as facilidades para diagnóstico”, explica.

A evolução da doença depen-de da continuidade do tratamen-to e do tipo de Esclerose Múlti-pla. Em todos os tipos, contudo, os medicamentos costumam ser eficientes, evitando o apareci-mento de surtos e retardando a evolução do quadro, nos casos progressivos. Tais medicamen-tos, normalmente de custo ele-vado, bem como os exames para diagnóstico da EM, são garanti-dos pelo governo, uma grande conquista.

O que talvez ainda falte con-quistar é a disseminação de in-formações sobre a doença que, além de ajudar portadores a atingirem uma melhor qualida-de de vida, cumpriria o papel de desmistificar o assunto, colocan-do ponto final no preconceito e na desinformação.

Com a intenção de forne-cer apoio aos portadores do estado, foi fundada a Asso-ciação Catarinense de Escle-rose Múltipla – Acaem – fruto da parceria entre Margarete e seu médico, o neurologista Walter Teixeira. A Associação já existe há 15 anos e, du-rante esse tempo, tem sido de grande importância para quem se descobre com EM.

Pessoas de diferentes lugares do país entram em contato com a entidade para relatar suas dúvidas com re-lação à doença e comparti-lhar experiências. Dentre es-ses relatos, chama a atenção a quantidade de casos de mu-lheres que sofrem preconcei-to por parte de seus próprios parceiros. “É comum que os maridos se afastem. Eles vão embora e a mulher tem que segurar a barra sozinha”, conta Margarete, fundadora e presidente da Acaem. Ela, ao contrário, teve mais sorte. O apoio por parte da família foi total.

Em Santa Catarina, há mais duas entidades que atu-am no apoio a portadores, a

Associação de Apoio a Por-tadores de Esclerose Múlti-pla da Grande Florianópolis - Aflorem – e a Associação de Apoio a Portadores de Esclerose Múltipla de Join-ville e Região – ARPEMJ. O neurologista Walter Teixeira, consultor médico da Acaem, ressalta que a importância dessas instituições reside em permitir a união para a luta por maiores e melhores con-dições de assistência social e de tratamentos.

Ainda não há cura para a Esclerose Múltipla. Com o tratamento, no entanto, é possível manter excelente qualidade de vida. Marga-rete é o exemplo vivo dessa realidade. Leva uma vida completamente normal e ca-minha 10 km todos os dias. O aprofundamento dos co-nhecimentos acerca das cau-sas da doença pode ajudar a desenvolver tratamentos ainda mais eficazes e, talvez, a cura. Os portadores, no en-tanto já dispõem de múlti-plas alternativas para viver bem, enquanto esperam por mais essa conquista.

Como se desenvolve a esclerose múltipla Desmielinização

Fonte: Abem – Associação Brasileira de Esclerose Múltiplahttp

://w

ww

.opo

rtal

saud

e.co

m

Page 14: Cobaia #108 | 2011 |

Balneário Camboriú também realiza mudanças no trânsito

O amanhã começa hojeJonas Augusto da Rosa

[email protected]

O celular começa a tocar, mas não é ninguém chamando, apenas o despertador que insiste que está na hora de levantar. Já são 7h30min da manhã quando Guilherme Lemos embarca no primeiro ônibus dos muitos que terá pela frente no decorrer do dia. Depois de 20 minutos, ele chega ao Terminal do Aterro, o maior e mais movimentado de Blumenau. Às 8h, Guilherme pega a condução que o deixa em frente ao trabalho. Passa o dia e é hora de ir para a aula. Ele é acadêmico de Jornalismo em uma faculdade que fica no Cen-tro da cidade. Às 18h, Guilherme vai novamente para o Terminal do Aterro e, após cinco minutos, já está à espera do próximo em-barque. E que espera. São 30 mi-nutos para entrar no Troncal 10, a linha de ônibus mais utilizada pelos blumenauenses. Dentro do veículo, junto com a superlota-ção, é mais meia hora para che-gar até a faculdade. Uma última condução, às 22h, para estar em casa às 22h15 e o dia dar vestí-gios do fim. E aí vem uma nova manhã...

Embarcar em cinco ônibus por dia faz parte da rotina de Guilherme e de muitos blume-nauenses. Tempos de espera, veículos públicos lotados e per-cursos de longa distância. Estes são os principais obstáculos de mobilidade urbana que a po-pulação de Blumenau enfrenta hoje. Mas, a situação está a ca-minho de mudança. A curto e médio prazo, e daqui a 40 anos, indícios apontam para uma nova Blumenau no transporte coleti-vo e em outras áreas da cidade. Perspectiva esta devido ao proje-to Blumenau 2050.

Desenvolvido pela Secreta-

ria Municipal de Planejamen-to Urbano, o projeto deu seus primeiros passos em 2006, com mais uma revisão do Plano Di-retor - lei que estabelece dire-trizes quanto às ocupações de cada município e que existe na cidade desde 1977. A proposta dessa vez não era fazê-lo só com definições técnicas, mas sim em consulta à comunidade. “Então foi quando resolvemos conversar com o atual prefeito, João Paulo Kleinübing. Vimos que preci-sávamos fazer uma agenda de compromisso pública, para que o cidadão conheça o que a ci-dade está programando”, conta Walfredo Balistieri, secretário de Planejamento Urbano.

Com alguns estudos, a Se-cretaria concluiu que, hoje, Blu-menau está com cerca de 300 mil habitantes, mas a saturação ocorrerá em 2050, quando che-gará aos 700 mil. “Assim surgiu o Blumenau 2050”, complementa Balistieri.

Com o diagnóstico do cresci-mento populacional e o início da elaboração do Blumenau 2050, percebeu-se a necessidade de medidas em áreas específicas da cidade. Então, o projeto foi divi-dido em cinco eixos de atuação: uso e ocupação do solo; sistema de circulação e transporte; inter-venções para o desenvolvimento econômico, o turismo e o lazer; habitação e regularização fundi-ária; e saneamento e meio am-biente. Cada eixo conta com de-terminadas obras para realizar. Prazos para a execução dessas obras também foram definidos. Ações a curto (até 2015), a mé-dio (até 2030) e a longo prazo (até 2050).

Cerca de 12 entidades vincu-ladas ao desenvolvimento urba-no, além de mais sete secretarias e autarquias da Prefeitura, ado-taram a ideia e estão ajudando a elaborar esse programa através de seminários técnicos realiza-dos anualmente. Para Walfredo Balistieri, esse é um planejamen-

Projeto Blumenau 2050 prevê nova cidade. Corredores de ônibus são ações da mudança que já começou

Gabriela Piske [email protected]

to da cidade e não somente do órgão público. “As entidades or-ganizadas assinaram essa agen-da conosco. Pois uma adminis-tração passa, mas as entidades ficam. E elas irão auxiliar para não deixar o projeto morrer”.

Transporte público

Umas das melhores, e mais úteis invenções do homem, sem dúvida, é o veículo motorizado. O primeiro transporte deste tipo foi construído em 1885, e com somente três rodas, pelo alemão Karl Benz. Daí em diante, as evo-luções não pararam mais. Mas, o que veio com a finalidade de trazer agilidade e rapidez para a população se locomover dentro da própria cidade e até mesmo pelo país, está se tornando um problema. As frotas de veículos aumentam gradativamente. Se-gundo dados de agosto de 2010, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), há mais de 62 milhões de automóveis em circulação no Brasil. Ou seja, as vias públicas, tanto de metrópo-les, quanto em pequenos muni-cípios, já não comportam mais esse número elevado. Originan-do assim, os constantes conges-tionamentos.

Paulo Tarso Vilela de Resen-de, doutor em Planejamento de Transportes e Logística, destaca no artigo “Mobilidade urbana nas grandes cidades brasileiras: estudo sobre os impactos do con-gestionamento” (2009), que os engarrafamentos causam várias consequências na qualidade de vida dos cidadãos, somados aos prejuízos econômicos e sociais. Poluição, acidente, estresse, perda de tempo e dinheiro são alguns dos fatores negativos ci-tados na pesquisa. Ainda segun-do ele, a administração pública deve dar extrema prioridade aos investimentos quanto à mobili-dade urbana de uma cidade. Em Blumenau, mudanças para uma melhor fluidez no trânsito estão

na pauta da Prefeitura. A primei-ra medida são os corredores de ônibus, que já estão sendo cons-truídos.

Os corredores de ônibus são diretrizes apontadas pelo Eixo 2 do Blumenau 2050: sistema de circulação e transporte. Obra que visa promover mais fluidez no tráfego urbano, através de vias, exclusivas e preferenciais – ha-verá trechos das duas maneiras -, para a circulação do transporte público. Serão implantados oito corredores na área central da ci-dade: Rua 7 de Setembro; Aveni-da Martin Luther; Rua São Pau-lo; Rua Engenheiro Paul Werner; Avenida Beira-Rio; e Rua 2 de Setembro, respectivamente.

Segundo a Secretaria de Pla-nejamento, os corredores trarão um transporte coletivo de quali-dade e segurança, somados a be-nefícios tais como cumprimento dos horários; tempo de embar-que e desembarque mais rápido; e veículos sem superlotação.

A professora do curso de Ar-quitetura e Urbanismo da Uni-versidade do Vale do Itajaí (Uni-vali), Luciana Noronha Pereira, acredita que tanto os corredores exclusivos quanto preferenciais

podem trazer resultados posi-tivos para o desafogamento no tráfego viário. “Toda cidade deve definir as problemáticas e priori-dades. Mas, se o município tiver verba para construir e adaptar avenidas e ruas para a faixa ex-clusiva, com certeza terá um re-sultado mais perceptível. Só que esse tipo de obra exige espaço e logística nas vias”.

Blumenau conta com 194 mil automóveis pelas ruas e uma média de 1,63 veículo por pessoa. Nos locais onde haverá os corredores, circulam cerca de 70% dos 125 mil passageiros que utilizam o transporte públi-co diariamente, de acordo com dados do Serviço Autônomo Municipal de Trânsitos e Trans-portes de Blumenau (Seterb). O valor total das obras é de R$4,6 milhões, provenientes de finan-ciamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O prazo para o término em todas as vias está previsto para a metade de 2011. Enquanto isso, as mudanças vão acontecendo... até 2050. E a população fica imaginando como será a cidade em 40 anos.

Implantação dos corredores de ônibus em Blumenau

Um dos principais desti-nos turísticos de Santa Ca-tarina, Balneário Camboriú também vem investindo em alternativas na mobilidade urbana, com mudanças na Avenida do Estado, a princi-pal via de acesso entre a cida-de e Itajaí.

Por meio de recursos pró-prios, a Prefeitura está insta-lando faixas exclusivas para ônibus e táxis. Segundo Carla Luiza Schsus, arquiteta e ur-banista da Secretaria de Pla-nejamento, houve um traba-lho de pesquisa em conjunto

com as Secretarias de Obras, de Segurança e a Companhia de Desenvolvimento e Urba-nização (Compur), a fim de elaborar planos para a infra-estrutura da mobilidade.

As obras devem ser con-cluídas no primeiro semes-tre de 2011. Outra medida da Prefeitura é estender a faixa também para o trecho que liga Balneário Cambo-riú a Itajaí. De acordo com a arquiteta, as duas admi-nistrações estão realizando reuniões para discutir a pos-sibilidade.

sub5.com.br

Gabriela Piske

Ciências Sociais Aplicadas

Page 15: Cobaia #108 | 2011 |

Migrantes vêm a Balneário Camboriú em busca de

melhores condições, mas o destino de muitos é a rua

Como um despertador eficien-te, todos os dias, às sete horas da manhã, membros da Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social de Balneário Camboriu saem em busca de homens e mu-lheres que passaram a noite na rua. Logo na primeira parada, os fiscais cumprimentam Fábio, um dos moradores de rua que já é co-nhecido por eles:

“Bom dia Fábio, já está acor-dado é?, brinca o fiscal Dão Koe-edermann.

“Já sim, e na rua 500 tem um monte de cabeçada dormindo lá!”, se referindo a outros morado-res de rua.

A Kombi ronda a cidade com roteiros dos pontos mais críticos escolhidos pelos “trecheiros”, migrantes que viajam de trecho em trecho, sem ficar muito tempo em um mesmo lugar. Apesar de ficarem na rua, conseguem lugar para dormir e tomar banho. Os fis-cais também recebem denúncias do paradeiro desses migrantes.

A maioria dos trecheiros que são despertados já passou por centros de recuperação, rece-beu apoio para buscar trabalho e passagem de volta à cidade na-tal. Porém, voltaram às ruas. “Os índices de recuperação não são nada animadores, além do custo alto com especialistas, não há um tratamento adequado. O Estado deve se preocupar com isso, é um problema de saúde pública”, afir-

Bianca [email protected]

ma Dão, fiscal e vereador de Bal-neário Camboriú pelo PSDB.

No primeiro semestre de 2010, 32% dos 807 atendidos eram do estado de Santa Catarina, 30% do Paraná e 14% do Rio Grande do Sul.

Alguns moradores de rua são velhos conhecidos dos fiscais. “China” é um dos mais antigos atendidos pela Secretaria de In-clusão Social, está acostumado a dormir na Avenida Atlântica, em frente a um dos restaurantes na beira mar. Já recebeu ajuda ou-tras vezes para voltar a Videira, no meio oeste de Santa Catarina, onde tem familiares.

“Fiquei oito meses sem beber, consegui passagem de volta para casa, mas lá na minha cidade não tinha emprego, decidi voltar. Na minha despedida, bebi uma cer-veja com meu sobrinho, na rodovi-ária pedi um uísque, aí desandei. Não foi opção minha dormir na rua, o povo pensa que sou men-digo, cachaceiro, mas sou doente, sou alcoólatra”, diz o morador de rua, que acabou de acordar, mas cheira a álcool.

A Prefeitura tem convênios com casas de recuperação como a Viver Livre, que atua há nove anos na cidade. O período de tratamen-to é de nove meses sendo gastos ao mês, em média, R$600,00 por pessoa, mesmo que ele ou ela queira fugir no dia seguinte. “Nosso trabalho não é acreditar nas histórias que eles contam. É ajudar, não podemos obrigar o vi-ciado a ir para a clínica, ele deve ir por livre e espontânea vontade. A maioria já passou pelo centro mais de quatro vezes, mas foge ou arruma confusão, o próprio centro de recuperação não aceita mais”, explica a fiscal Mari Assis.

A casa acolhe, no máximo, 30 dependentes químicos. Vinte va-

gas são sociais, para migrantes retirados das ruas pelo projeto de inclusão social e as outras dez va-gas são particulares.

Segundo a assistente social Neide Schmitt, há dois tipos de migrantes que passam pelo Esta-do. O migrante de oportunidade é aquele aventureiro, tem entre 25 e 35 anos, que larga sua família e vem trabalhar em qualquer tipo de serviço da cidade. E o migran-te temporário, que vem trabalhar na época de alta temporada.

Os migrantes temporários que não arrumam emprego acabam dormindo em terrenos baldios. Muitas vezes sobrevivem com venda de latinhas para recicla-gem, pedem esmolas ou até prati-cam pequenos furtos para susten-tar seu vício. 95% dos que moram na rua têm algum vício relaciona-do ao álcool ou outras drogas.

Segundo Ismail Ali El Assal, graduado em Ciências Sociais pela PUC do Paraná e residente há 10 anos na cidade de Balneário

Felipe Ramon [email protected]

Vanessa Garcia [email protected]

Camboriú, “nessas idas e vindas do Município de Balneário Cam-boriú, obtivemos um aumento considerável de andarilhos pela cidade. Eles logo são recolhidos e mandados para sua cidade de ori-gem, pois o município não possui área de ocupação para construir casas.Também pela cidade não ter interesse econômico em acolher estes indivíduos, pois não pos-suem qualificação.”

Cristiane Pacheco, 24 anos, está há um mês na cidade à pro-cura de emprego. Quando chegou a Balneário Camboriú conseguiu trabalhar em um lava-rápido, mas não ficou muito tempo. “Eu recebia R$17,00 por dia, é uma exploração, não sou cachorro”. Sem emprego, ela e o marido Luis Carlos estão dormindo na rua. O casal espera conseguir arrumar uma casa, e assim trazer seus três filhos que ficaram no Paraná com a irmã de Cristiane.

A procura pela felicidade é um desejo de todo ser humano.

Conhecer o desconhecido muitas vezes é a saída para quem quer melhor qualidade de vida, como a corrente imigratória que tivemos no ínicio do século 20, ou mesmo para aqueles que querem se isolar de seus familiares para viver in-dependente, manter seus vicios e não causar vergonha para seus fa-miliares. Para a psicóloga Jamile Csecchi, os migrantes dependen-tes químicos fogem de suas famí-lias para evitar cobranças e pedi-dos de internação, e se entregam ainda mais às drogas.

Apesar da boa vontade da Prefeitura em encaminhar os sem-tetos viciados para clínicas de re-abilitação, os moradores de rua que não concordam em ir para as clínicas são apenas "exportados" para outras cidades. Ainda não há um serviço de apoio psiquiá-trico a todos os moradores de rua, assim como ainda não existe na cidade um mecanismo social para a retirada dos mendigos da rua e sua reinserção na sociedade.

Volta do filho pródigo

Funcinários da Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social em mais um dia de trabalho em Balneário Camboriú

Foto

s: B

ianc

a de

Oliv

eira

SOCIEDADE

Page 16: Cobaia #108 | 2011 |

Ensaio FotográFico

Ciência no cotidianoEnsaio produzido pelos alunos do curso de Fotografia

do campus Itajaí, na disciplina de Fotojornalismo do segun-do semestre de 2010, sob a responsabilidade do professor

Robson Souza dos Santos.

Thayana Heinzen

Luiza Morena

Celso Peixoto

Nathan Kaiser

Felipe Campos