Cluster de Biscoito de São Tiago 1

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO

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Almir Feliciano Neto Jos Luiz Magalhes

ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS LOCAIS DAS EMPRESAS DE BISCOITO DE SO TIAGOA IDIA DE CRIAR UM CLUSTER NA REGIO

Artigo apresentado ao Curso de Mestrado Profissional de Administrao da Faculdade de Cincias Humanas de Pedro Leopoldo, como requisito parcial matria Novos Modelos de Gesto. rea de concentrao: Capital Humano Disciplina: Novos Modelos de Gesto Professora: Adelaide Maria Coelho Baeta Perodo: Agosto a Setembro de 2002

Belo Horizonte Faculdade de Cincias Humanas de Pedro Leopoldo 2002

Elaborado: Adm. Almir Feliciano Neto; Adm. Jos Luiz Magalhes

Mestrado Profissional em Administrao

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ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS LOCAIS DAS EMPRESAS DE BISCOITO DE SO TIAGO MINAS GERAISA IDIA DE CRIAR UM CLUSTER NA REGIO

ResumoSo Tiago uma cidade tpica do interior de Minas Gerais, prxima de So Joo Del Rey, com vocao natural para a produo de biscoitos. Boa parte da populao tem uma pequena fbrica, e a seu modo, artesanalmente, produz e distribui um biscoito tradicional de receita aprendida de seus antepassados, passada de pai para filho. A matria-prima quase toda produzida na regio. Os pequenos produtores no tm experincia e conhecimentos sobre clusters. Esse artigo tem o propsito de conscientizar, em primeiro lugar, as autoridades, e, em segundo, os empreendedores locais a respeito das possibilidades de se reunirem em torno de um projeto comum para benefcio de todos, tornando So Tiago um cluster competitivo de biscoito. O artigo apresenta uma proposta preliminar para estudo de viabilidade da organizao de um arranjo produtivo local de biscoito em So Tiago. O texto est organizado em quatro partes. A introduo trata de aspectos relacionados s vantagens e receitas de sucesso na criao de arranjos locais. A segunda parte trabalha o conceito de cluster e arranjos produtivos locais. A terceira parte analisa a idia de sua estruturao em So Tiago, levando em considerao sua histria, infra-estrutura e condies atuais, apontando o impacto da indstria de biscoito para a regio. Finalmente, a concluso sugere vantagens da implementao do projeto para a regio.

1. IntroduoDe gerao em gerao as empresas vo surgindo no contexto familiar seguindo antigas tradies. importante ressaltar que os Clusteres freqentemente se tornam repositrios de habilidades especficas da indstria. Como o tempo, os conhecimentos acumulam-se e as habilidades so repassadas de pessoa a pessoa, de modo que esses conhecimentos passam a tornar-se comuns a todo cluster. Amato Neto Joo, 2000. Receita de Sucesso As concentraes geogrficas e setoriais de PME`s so sinais evidentes da formao de um conglomerado (cluster), porm, no suficiente para gerar benefcios diretos para todos os seus membros, os quais s podem ser obtidos via um conjunto de fatores facilitadores como condio: 1) diviso do trabalho e da especializao entre produtores; 2) especialidade de cada um; 3) surgimento de fornecedores de matria-prima e de mquinas;

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 4) surgimento de agentes que vendam para mercados distantes;

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5) surgimento de empresas especialistas em servios tecnolgicos, financeiros e contbeis; 6) surgimento de uma classe de trabalhadores assalariados com qualificao e habilidades especficas; 7) surgimento de associaes para a realizao de lobby e de tarefas especficas para o conjunto de seus membros. (Humphrey e Schmitz, 1998) Para a implantao de um sistema local produtivo, necessrio que algumas condies se faam presentes como: 1) um nmero significativo de empresas e demais agentes; 2) a especializao destes em uma determinada atividade produtiva; 3) existncia de uma mo-de-obra local qualificada e reconhecida por sua capacitao; 4) a existncia de atividades correlacionadas para frente e para traz da cadeira produtiva; 5) a articulao do sistema local para o exterior tanto para escoar a produo quanto para captar os novos desenvolvimentos tecnolgicos; 6) interdependncia forte entre as empresas e demais agentes; 7) existncia de uma comunidade e forte identidade local ou regional que favoream a cooperao, a solidariedade e a reciprocidade; 8) presena de instituies locais comunitrias e pblicas capazes de compreender e sustentar o sistema, de promover seu desenvolvimento, favorecendo a inovao (ETD 2000). O sucesso no estabelecimento de uma rede eficiente de empresas/organizaes virtuais depende de uma srie de fatores, podendo-se destacar as seguintes: 1) existncia de parceiros qualificados; 2) mecanismo para identificao de competncias reais ou potenciais dos parceiros da rede; 3) existncia de meios para projetar grandes competncias, que esto em constante mudana; 4) forma de identificar e qualificar rapidamente novas oportunidades para constituio de organizaes virtuais; 5) critrios objetivos para escolha dos parceiros que devero compor as novas organizaes virtuais; 6) critrios objetivos e formas para distribuio dos benefcios gerados pelas atividades dos parceiros das organizaes virtuais constitudas. (Amato Neto, pg. 64).

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 4 de 15 Iniciativas de sucesso mostram que um cluster bem implantado aquele que possui as seguintes caractersticas: 1) uma compreenso compartilhada sobre competitividade dos negcios e o papel do cluster na criao e manuteno de vantagem competitiva e dinmica; 2) ateno dirigida para a remoo de obstculos e atenuao dos constrangimentos que impedem os avanos dos setores; 3) uma composio diversificada de setores, incluindo desde os tradicionais, at aqueles em declnio, os emergentes e os mais consolidados; 4) as fronteiras reais de um cluster definem-se pelas ligaes estreitas e complementares de seus negcios constituintes e no necessariamente por suas fronteiras polticas; 5) amplo desenvolvimento dos participantes e instituies associadas aos clusters; 6) liderana do setor privado; 7) ateno especial para com os relacionamentos pessoais, estimulando as comunicaes; 8) combinao de diagnstico com viso de futuro e passos concretos para alcan-lo; 9) consolidao do cluster: um processo que vai alm de um primeiro e nico passo.

2. ConceitoUma regio descobre sua vocao natural para uma determinada atividade produtiva quando h envolvimento na constituio de projeto de negcio sustentvel, em geral de pequeno porte, nas situaes em que empreendedores com idias inovadoras e viso as coloca em prticas. Com o tempo, uma histria de sucesso sugestiona outros empreendedores a copiarem a idia. Num primeiro momento, o negcio, por si s, se torna concorrente. A idia encampada por instituies ou motivada s vezes pela igreja, ou prefeituras ou o estado, tende a crescer. Embora a produo seja focada, num primeiro estgio, para o consumo interno, ultrapassa as fronteiras regionais. Num segundo momento, toda uma populao sobrevive da economia gerada do entorno do negcio. O Que um Cluster? Ing; cluster = 'aglomerado, grupo (dic. Houaiss)' Agrupamento de empresas, operando em cooperao na cadeia produtiva. (Amato Neto Joo, 2000). Closteres so concentraes geogrficas de empresas interconectadas e instituies em um campo particular. Clusteres englobam uma srie de indstrias vinculadas e outras entidades importantes para competio. Elas incluem, por exemplo, fornecedores de inputs especializados tais como componentes, mquinas e servios e provedores de infra-estrutura especializada. Cluster tambm freqentemente estende a jusante para canais e clientes e lateralmente para manufaturadores de produtos complementares e para empresas da indstria relacionada pelas habilidades, tecnologias, ou

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 5 de 15 imputs comuns. Finalmente, muitos clusters incluem instituies governamentais e outras tais como a universidade, agncia de controle de qualidade, treinamento vocacional e associaes de comrcio que promovem treinamentos especializados, educao, informao, pesquisa e suporte tcnico. (Porter, 1999) Clusters so concentraes geogrficas de organizaes e instituies de um certo setor, abrangendo uma rede de industrias inter-relacionadas e outras entidades importantes para a competitividade. Eles incluem, por exemplo, suprimentos de insumos especializados, tais como componentes, maquinrios e servios, e fornecedores de infra-estrutura especializada. Muitas vezes, tambm, os clusteres permeiam os canais de distribuio e os consumidores, envolvendo paralelamente os fabricantes de produtos complementares e organizaes responsveis por normas tcnicas, tecnologias ou insumos comuns (Porter, 1998). Os aglomerados geralmente incluem empresas dos setores a jusante (ou seja, distribuidores ou clientes), fabricantes dos produtos complementares, fornecedores de infra-estrutura especializada, instituies governamentais e outras, dedicadas ao treinamento especializado, informao, pesquisa e suporte tcnico (como Universidades, Centro de altos estudos e prestao de servios, de treinamento vocacional), e agncias de normatizao. Os rgos governamentais com influncia significativa sobre os aglomerados, seriam uma de suas partes integrantes. Finalmente, muitos aglomerados incluem a associaes comerciais e outras entidades associativas do setor privado, que apiam seus participantes. (Porter, 1999). Cluster consiste de indstrias e instituies que tem ligaes particularmente fortes entre si, tanto horizontal quanto verticalmente, e, usualmente, inclui: empresas fornecedoras; empresas prestadoras de servios; instituies de pesquisas; instituies pblicas e privadas de suporte fundamental. Anlise de Cluster focaliza os insumos crticos, no sentido geral, que as empresas geradoras de renda e riqueza necessitam para serem dinamicamente competitivas. A essncia do desenvolvimento de um cluster a criao de capacidades produtivas especializadas dentro de regies para promoo de seu desenvolvimento econmico, ambiental e social (Haddad, 1999). O cluster inerente a toda economia e industria e um cluster ativo oferece muitos benefcios competitivos para grandes e pequenas firmas. O cluster uma rede de funes conectadas; so atividades que se inter-relacionam numa cadeia industrial de valor; uma aglomerao geogrfica de diferentes atividades. LALL, 1998 apud Lopes Neto, 1998. Cluster uma forma mais ampla de atuao em rede, na qual a proximidade das empresas e instituies assegura certas formas de aes em comum e incrementa a freqncia e impacto das interaes. Funcionando bem, um cluster move-se de uma hierarquia rgida para transformar-se numa porta aberta a inmeros envolvimentos e conexes entre pessoas, empresas e ins-

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 6 de 15 tituies, sempre repetidas, constantemente modificadas e muitas vezes expandidas para outras indstrias relacionadas. Vilela, 1999. Segundo vrios autores (Schmitz, 1989, 1991, 1992; Pyke, 1992; Pyke e Sengenberger, 1992; Porter, 1998), citados por (Joo Amato Neto, Rede de Cooperao Produtiva, 2000, pg. 18), a emergncia de novas formas de organizao industrial voltadas para maior cooperao entre empresas e as formaes de aglomerao de empresas (Cluster), ou, ainda, a constituio das chamadas redes relacionais entre organizaes operando em determinada cadeia produtiva, oferecem elementos originais para a elaborao de polticas industriais. Nesse caso, as pequenas e mdias empresas operam numa cadeia produtiva mais cooperativa e estreitamente ligada a um cliente final na forma de agrupamento (Cluster) de empresas. Essa estrutura de organizao industrial, reconhecida como distritos industriais na literatura internacional. (Piorre e Sabel, 1984; Pyke e Sengenberger, 1992; e Smitz, 1992), aponta para certas vantagens competitivas, que no so desfrutadas por empresas que atuam isoladamente. (Amato Neto Joo 2000, Pg. 19). A perda de prestgio das estratgias tradicionais de desenvolvimento econmico durante as duas ltimas dcadas, quase todas elas baseadas na atrao ou consolidao de grandes empreendimentos pblicos e/ou privados, tem cedido lugar a uma impressionante expectativa sobre a fecundidade de aes estruturadas sobre os arranjos produtivos locais, conceito brasileiro que tem sido usado como uma procurao do conceito norteamericano de cluster. Caporali, Renato, 2001. O que se pretende ao criar uma rede dinmica de cooperao entre grupos de empresas que operam numa mesma cadeia produtiva, e no de forma isolada, a busca da eficincia coletiva atravs de arranjos produtivos locais, conforme a sua abrangncia tecnolgica e operacional. De acordo com os vrios autores, o aumento da eficincia produtiva do conjunto tende a beneficiar o crescimento da regio pela atrao natural de investimentos e possibilidade de desenvolvimento integrado. Uma srie de vantagens pode ser percebidas nas estratgias de desenvolvimento baseadas em arranjos produtivos locais. A mais importante delas encontra-se no fato dessas aes ser oriundas de uma intensa mobilizao de atores locais/regionais, voltados para a transformao das suas prprias condies scio-econmicas, procurando aumentar de forma metdica o domnio dos elementos bsicos de seu mercado, buscando agir sobre as estruturas de custos, tecnolgicas, de comercializao, sobre os prprios conceitos dos produtos, enfim, sobre os fundamentos de seu setor econmico (Caporali, Renato, 2001).

3. O caso de So TiagoA idia de criar um cluster na regio

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 7 de 15 Observa-se nos estudos mais recentes realizados em vrios pases inclusive o Brasil que a nova realidade de transformaes radicais por alguns denominada de Nova Economia, por outros de Economia do Aprendizado e do Conhecimento ou Regime de Acumulao dominado pelas Finanas exige novas perspectivas e estratgias de anlise. Sabe-se que o desenvolvimento depende predominantemente da capacidade de gerar e aplicar produtivamente o conhecimento, condio indispensvel para o fortalecimento da produtividade, da competitividade e do capital social. Tambm tem sido constatada mundialmente a eficcia das estratgias regionais e municipais de um desenvolvimento sustentado na interao dos diversos agentes sociais e na circulao ampliada do conhecimento e da informao. A inovao (em seu sentido mais amplo, tecnolgico e social) torna-se objeto-chave para as polticas e estratgias de desenvolvimento. (Cossiolato Jos E. Lastres Helena M.M e Szapiro Marina, 2000). So Tiago se apresenta como regio potencial propcia criao de uma rede de cooperao, partindo da idia de alianas estratgicas entre os vrios agentes envolvidos. O objetivo visa unir os produtores de biscoito da cidade em torno de metas comuns para melhorar o sistema da cadeia produtiva do setor, com vistas a produzir e vender os seus produtos de forma integrada. A comunidade produtora perceber as vantagens dessa organizao que se relacionam a: 1) combinar competncias e utilizar know how tecnolgico de outras empresas; 2) dividir o nus de realizar pesquisa de mercado compartilhando os conhecimentos adquiridos; 3) partilhar riscos e custos de explorar novas oportunidades, realizando experincias em conjunto; 4) oferecer uma linha padronizada de produtos de qualidade superior e mais diversificada; 5) oferecer uma presso maior no mercado aumentando a fora competitiva em benefcio do cliente; 6) compartilhar recursos, com especial destaque aos que esto sendo subutilizados; 7) fortalecer o poder de compra de insumos; 8) obter maior fora para atuar nos mercados nacional e internacional. Amato Neto Joo, 1998, pg. 42. O mercado globalizado exige no s produtos padronizados, mas sobretudo, a dinmica de um modelo gerencial capaz de competir com marca, preo, qualidade e entrega. A percepo dessa condio poder substituir e consolidar a transio de uma fase individualista de competitividade interna, para retorno vantajoso para toda uma populao. O projeto visa no s criar um empreendimento para os pequenos produtores regionais, como tambm ofertar subsdios para uma deciso governamental, uma vez que haver necessidade de investimentos e treinamentos. O treinamento administrativo gerencial, fator propulsor para o desenvolvimento sustentvel, se constitui em apoio para que atividades como marketing, vendas, produo, finanas, recursos humanos, sejam organizadas. Profissionais especializados em administrao, com parcerias institucionais, fornecero conhecimentos gerenciais para pequenos negcios

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 8 de 15 com foco no cliente, visando o crescimento contnuo da indstria local e o desenvolvimento scio-econmico regional. A Historia A historia do biscoito de So Tiago nasce no perodo de explorao do ouro em Minas Gerais pelos espanhis e portugueses. Da preparao e fornecimento do biscoito para os exploradores veio a alcunha de terra do caf com biscoito. A historia registra fatos que fazem do seu povo digno do apelido e da atividade que hoje desenvolve em pequenas fbricas de biscoitos. Alm dos exploradores de ouro ali estabelecidos, o local era ponto de parada dos viajantes, condutores de gado e tropas, que se destinavam regio do Tringulo Mineiro, passando por caminho novo ou caminho do serto que atravessava exatamente a rea do municpio. Tais paradas, s vezes demoradas, devido longa distncia a ser percorrida, exigiam dos moradores do lugar prestao de servios como fornecimento de alimentao e servio de ferreiro ou de seleiro queles que deles precisavam. As famlias aqui estabelecidas, hospitaleiras, para agradar os viajantes, se esmeravam no preparo das refeies feitas em panela de ferro ou pedra e na fabricao de biscoitos de fub e polvilho. Escasseando a explorao do ouro, foram surgindo e se impondo na regio as atividades agropecurias, dentre elas a produo de leite, caf, o cultivo da mandioca e fabricao do polvilho, que se mantm at hoje. Recentemente, o povo So-tiaguense, em busca de uma atividade que assegurasse a melhoria de suas condies scio-econmicas, tem investido no seu velho saber: fabricao de biscoitos. Atividade at ento corriqueira e passada de gerao para gerao, por ser um produto presente no cardpio de todas as famlias e para ser oferecido aos visitantes, ou servido em eventos religiosos ou sociais, passou a ser uma atividade comercial importante. Desde 1999, a populao da regio comemora o seu principal produto com uma festa anual de confraternizao, criada para incentivar os produtores, alavancar negcios, tornar a regio conhecida nacionalmente como ponto referencial de produo de biscoitos. O evento foi batizado de Festival do caf com biscoito. O Cluster de So Tiago H cinco anos o povo de So Tiago, investe de maneira mais decisiva na sua prpria vocao, fabricar biscoitos. Experincia que d certo e faz com que a atividade seja reconhecida no s por aqueles que a praticam, mas por todos que j puderam saborear as delicias dos fornos de So Tiago. So Tiago tem uma economia voltada para uma indstria funcionando de forma no ordenada, tendo como produto a fabricao de biscoitos para consumo na cidade e distribuio para os estados de Minas Gerais, Esprito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e So Paulo. As matriasprimas utilizadas na linha de produo de biscoitos so o polvilho da mandioca, leite e queijo, abundantes na regio, produzidos em grande parte pelo prprio fabricante.

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 9 de 15 So Tiago um projeto de desenvolvimento regional, lastreado no desenvolvimento local, isto , na inovao em todos os domnios e no uso intensivo de conhecimento emprico regional, para gerar emprego e renda e, ainda, no desenvolvimento harmnico entre a cidade e o meio ambiente. um projeto inovador porque no foi induzido por nenhum agente governamental, nem por universidade ou instituto de pesquisa, mas nasceu do interesse da sociedade em adotar um projeto para o futuro da regio oriunda da cultura histrica da cidade. O projeto tem como objetivo dinamizar a industria de biscoitos em So Tiago, possibilitar a estruturao de um novo espao econmico que privilegie as interaes, a gerao de novos conhecimentos e de atividades econmicas baseadas em inovaes. A criao de um grande nmero de MPEs (Micro e Pequenas Empresas), padronizadas para criar empregos e gerar renda para a regio, o agrupamento de empresas, especialmente de produo industrial, em parques, plos e condomnios, abre perspectivas para o desenvolvimento econmico local, ancorado no desenvolvimento industrial. O Projeto pretende desenvolver localmente as empresas de base para possibilitar a modernizao do parque industrial com forte reflexo na rea social.Riscos, Ameaas e Oportunidades de um Cluster Produtivo

Riscos e Ameaas

Oportunidades Potenciais

Poder de barganha dos Supridores; Poder de barganha dos Compradores; Novos concorrentes internos; Novos clusters equivalentes; Abertura econmica; Produtos substitutivos.

CLUSTER PRODUTIVO

Novos mercados por reduo de custos e diferenciao de produtos; Adensamento da cadeia de valor; Abertura econmica; Ajustes para melhor atendimento da demanda potencial.

Dinmica de crescimento e sustentabilidade econmica do cluster

Haddad, 2002

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Diagrama Ilustrativo do Arranjo Produtivo de Biscoitos de So TiagoEntidades Pblicas Sebrae Senac Senai Sesc Senar Senat Universidades

Assistncia Tcnica Espcializada Treinamento Pesquisa

Bancos

Financiamento Fomento

Mercado Exteno Mercado Interno Marketing Vendas Logstica Fornecedores

Fornos Mquinas Especiais Embalagens Lenha Gs Energia gua Mo de Obra Transporte

Produto

Fbrica de Biscoito

Granjas

Ovos

Marca Qualidade Custo Resultado Melhoria Crescimento

Indstrias

Polvilho Doce

Laticnios

Queijo Manteiga Nata

Propriedades Rurais

Leite Mandioca Frutas

Incentivos Fiscais

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 11 de 15 A Prefeitura oferece reduo de pagamento dos impostos e taxas municipais a empresas que queiram instalar-se ou que estejam instaladas em So Tiago, e que venham a realizar novos investimentos. Oferece, ainda, alquota de ISS reduzida para setores ligados Produo. Caracterstica da Regio O Projeto visa a instalao de um plo de atividades industriais na regio de So Tiago. As empresas sediadas em So Tiago contam com uma srie de vantagens econmicas e sociais. A logstica privilegiada pela localizao estratgica do municpio, junto importante malha rodoviria do pas, BR 381. So Tiago apresenta uma das melhores logsticas do estado, em torno da qual se concentra boa parte da movimentao de cargas do pas. So Tiago fica a 187 km da cidade de Belo Horizonte e a 58 km de So Joo Del Rey MG, 390 km do Rio de Janeiro, 500 km de So Paulo, 925 km de Braslia, 660 km de Vitria, 207 km de Juiz de Fora, 110 km de Barbacena, 141 km de Divinpolis, 126 km de Lavras MG, 44 km de Bom Sucesso, ligadas pelas rodovias BR 381 e BR 494, todas asfaltadas. So Tiago classificada como regio I Metalrgica e Campos das Vertentes. A rea do municpio equivale a 576 km2, com altitude de 1290 metros do nvel do mar. A temperatura mdia anual 19,5 e mdia mxima igual a 24,9, a mdia mnima igual a 14,6. Os rios so Ribeiro da Fbrica e Rio do Peixe da Bacia Hidrogrfica do Rio Grande. So Tiago MG Sntese Pessoas residentes 2000 Pessoas residentes - 10 anos ou mais de idade - alfabetizada 2000 Domiclios particulares permanentes 2000 Empresas com CNPJ atuantes - unidade territorial - 1998 Pessoal ocupado unidades locais 1998 Agncias bancrias 2000 rea total 2000 Fonte: IBGE, Base de Informaes Municipais. Caractersticas do Setor A demanda por biscoitos tem aumentado no mercado interno, o que descortina promissoras perspectivas para o setor nos prximos anos. O consumo de biscoitos cresceu a taxas elevadas na dcada de 90, mas ainda deixa o Brasil como um dos menores ndices de consumo per capita de biscoito da Amrica Latina, ou seja, 4 kg por habitante por ano, enquanto a Argentina tem um consumo mdio de 6 Kg por habitante (fonte secundria: Palestra Marins, 2001). A capacidade de produo das empresas do cluster significativa, chegando a 150 toneladas de biscoitos de polvilho e 30 toneladas de biscoito de farinha de trigo por ms, com uma variedade de 60 tipos de biscoitos. A matria-prima principal quase toda produzida na regio, 10.245 7.599 2.836 260 785 1 574,01 habitantes habitantes domiclios empresas pessoas ocupadas agncia km2

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 12 de 15 sendo a produo de leite igual a 1.500.000 litros/ano tendo quatro laticnios na cidade. O consumo de polvilho, segundo fabricantes locais, de 3.000 quilos por dia. So 39 fbricas registradas e 11 informais com 700 empregados diretos e 500 indiretos. Hoje o mercado comprador est dividido entre Rio de Janeiro, So Paulo e Minas Gerais. Vantagens Competitivas As origens culturais referendam ao produto uma qualidade intrnseca, advinda das histrias do perodo dos bandeirantes. A qualidade superior revestida pela tradio de produto artesanal do interior de Minas, validada pelas matrias-primas regionais de qualidade e: 1) condio histrica de acumulao de conhecimento emprico desde a poca de explorao do ouro; 2) infra-estrutura bsica e condies favorveis para que muitas famlias criem seus negcios. Tais fatores viabilizam o crescimento do cluster na regio, aliado experincia dos produtores como vantagem competitiva. Oportunidades de Negcios O objetivo do desenvolvimento da industria de biscoitos promover o surgimento de novas oportunidades de negcios na regio do Campo das Vertentes nesta cadeia produtiva. H espao para o crescimento das empresas existentes e para a criao de novas empresas de fabricao de biscoitos, porque o cluster favorece o apoio operacional, logstico, tecnolgico e a comercializao dos produtos em todo o pas e no exterior. A regio tem outras oportunidades de negcios que podero emergir da ncora do biscoito tais como o turismo da regio histrica de So Del Rey, MG, pela proximidade da Estrada Real, artesanatos e comidas tpicas. Metas e Impactos na economia O desenvolvimento do cluster de biscoitos na regio dever prever metas ousadas para os prximos anos. Atingir estas metas ser fundamental para que se consolide na regio como arranjo produtivo local, contribuindo para o desenvolvimento da economia mineira e para o aumento da gerao de empregos na cidade.

4. Concluso e SugestesPode-se concluir esse artigo enfatizando os pontos importantes mencionados que merecem destaque na criao dos arranjos produtivos de maneira geral que so plenamente cabveis no projeto em estudo. Constatam-se necessidades prementes para a implementao do projeto de arranjos produtivos de So Tiago:

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO 13 de 15 1) treinamento dos recursos humanos. Assim, significativos esforos devem ser empreendidos e compatibilizados entre as instncias federal, estadual e municipal para o desenvolvimento cultural e ampliao da escolaridade que valorize os esforos produtivos locais; 2) capacitao empresarial para a incorporao de procedimentos inovativos permanentes para a gesto dos recursos voltados para diversos mercados; 3) intensificao das relaes industriais que envolvam diversos agentes regionais como sindicatos, associaes comunitrias, escolas; 4) esforo poltico para a criao de linhas de crditos de financiamentos de produo, desenvolvimento e expanso; 5) interao e cooperao para o aprendizado e a inovao para melhoria do desempenho; 6) desenvolvimento de aes conjuntas visando a melhoria de eficincia na compra de insumos e equipamentos, compartilhamento de equipamentos, desenvolvimento de novos processos e produtos, comercializao e marketing; 7) desenvolver recursos humanos voltados para atividades de pesquisa cientfica e tecnolgica; 8) construo e interao entre os atores de suporte local para a coordenao das atividades de aprendizado interativo, levando em considerao as diferentes necessidades de conhecimento; 9) criar condies para mediar os conflitos resultantes do aumento da competitividade em situaes de ocorrncia de conflitos de natureza e referncia ao negcio.

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDOEtapas do Processo de desenvolvimento do Cluster de So Tiago

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Potencialidades nomobilizadas

A idia

Realidade ScioEconmica

Informaes Tcnicas

Diagnstico

Debate

Recursos Disponveis

Proposta de Mudana

Consultas s Lideranas

Consistncia Tcnica

Plano de Ao

Processo de Negociao

Comit Gestor do Cluster

Implementao

Conselho Consultivo do Cluster

Diagrama

O projeto ser implementado aps negociao com as lideranas local e disponibilizao dos elaborado. recursos definidos no projeto de implementao a ser

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FUNDAO PEDRO LEOPOLDO Referncia Bibliogrfica:

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