Claun

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Instituto de Comunicação e Artes

João Ricardo

Julio Cruz

Claun

Mídias Digitais

Belo Horizonte

2013.2

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João Ricardo

Julio Cruz

Claun

Mídias Digitais

Trabalho apresentado como requisito de

avaliação do curso de Cinema e Audiovisual

do Centro Universitário UNA para aprovação

na disciplina Mídias Digitais

.

Professora orientadora: Tatiana Carvalho

Costa

Belo Horizonte

2013.2

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Claun – por Felipe Bragança

Claun é um projeto transmidiático de Felipe Bragança, produzido pela Bananeira Filmes e a

Duas Mariola Filmes. Além da série de três episódios lançada em 2013, ainda há o

desenvolvimento de diversos outros produtos, como uma HQ online, jogos para diferentes

plataformas e a segunda temporada, que já está em processo de pré-produção. Além disso, ela

está sendo exibida em diversos festivais ao redor do mundo, em seu outro formato, um filme-

piloto. Cada episódio possui cerca de 20 minutos de duração e vem falar do contato da menina

Ayana com os Bate-bolas.

Claun é uma série que age diferente de outros projetos criados para a web. Felipe tem uma

carreira antiga dentro do meio cinematográfico brasileiro, e utiliza seu know-how para a

constituição do projeto. Para inicio de conversa, é uma websérie vinculada apenas no Vimeo,

um canal de difusão de vídeos menos divulgado. Além disso, o projeto inteiro está sendo

distribuído em festivais de cinema ao redor do mundo. Teve sua estreia em Rotterdam e já

passou pelo Festival de Berlim, entre outras janelas dominadas pelo cinema. Tendo essa

forma de distribuição, os episódios são abertos periodicamente, por um curto período de

tempo, quando está sendo exibido em algum festival de renome.

É também uma série que, diferentemente de outros exemplos brasileiros, como Heróis e

Apocalipze de Guto Aeraphe, Porta dos Fundos, Lado Nix, entre outras, que tentam imitar um

estilo americanizado e televisivo de série, Felipe Bragança inunda a série de um estilo próprio

do cinema nacional contemporâneo. O enredo é o único ponto de contato da série com o

mercado norte-americano de televisão, sendo possível, bem ao longe, afirmar que Claun seria

um Heroes e/ou Lost abrasileirado.

Porém, é uma série que rebusca num tradicionalismo e num folclore a formula para a temática

que será trazida a série.

No início do Século 20, quando o carnaval era uma festa para poucos e a cidade passava por

grandes transformações, grupos de mascarados se reuniam pelos becos da cidade e

enfrentavam a ordem pública e a repressão. Diziam ter o corpo fechado, falar com espíritos e

terem poderes sobre-humanos. Eram chamados de “clóvis”, de “clowns” ou de “bate-bolas”.

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Para construção artística do projeto Filipe Bragança pensou num formato urbano, já que a

historia que se conta é relacionada com um movimento criado no século passado de grupos de

mascarados que se reuniam pelos becos da cidade para enfrentavam a ordem pública e a

repressão.

Os ambientes onde a historia se passa e de grande hostilidade e argumenta muito com a

situação dos personagens. Todos os ambientes são de ordem publica, que transparecem uma

carência, deixando de lado uma exuberante luxúria ou riqueza.

O que mais chama atenção dessa webserie é a construção dos personagens sobre as

influencias do figurino; como já citado antes os personagens são baseados numa estrutura

real, são esses “heróis” do passado que criam essa narrativa que prende a atenção do

espectador.

Todo o calor e cores do figurino remetem a uma data comemorativa, o carnaval que era na

qual havia uma maior atuação dos “bate-bolas” da vida real; os “Clóvis” são pessoas com uma

fantasia sempre muito colorida que consiste em macacões compridos de caveira, morcego e

palhaço entre outros e máscaras de rede com cabelos coloridos que dificulta a identificação do

rosto mostrando apenas um desenho assustador, o diferencial é que no lugar da boca tem uma

chupeta ou um apito. O mais importante, porém é a bexiga de boi que eles têm sempre em

mãos. Essa bexiga quando batida no chão faz um barulho bem alto que assusta até os mais

preparados. As bexigas hoje em dia foram substituídas por bolas de plástico que não tem o

efeito sonoro desejado.

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Eles normalmente andam em grupos e às vezes podemos ouvi-los cantar músicas direcionadas

sempre a uma pessoa. Como em muitas vezes o grupo tem crianças, fica parecendo que são

anões o que deixa a aparência do bate-bola ainda mais assustadora. Outra característica

importante é que os “Clóvis” nunca se falam, eles se comunicam sempre por mímica ou pelo

som do apito.

As formas de assustar são diversas: bater as bolas nos portões fazendo esporro, apitar no

ouvido das pessoas ou jogar a bola em cima de alguém.

Para essa construção, Felipe Bragança utiliza em seu figurino, aderindo como exemplo

principal a transcorrência do primeiro episódio, uma confecção, para os heróis, bastante viva e

intensa.

Temos amplo uso de mascaras feitas de meia calça, pintadas de aquarela e tinta guache, para a

decoração das faces. Nessa forma, há uma tentativa de aproximação do imaginário normal de

super-heróis, que utilizam de máscaras para encobrir sua identidade, mas com o artesanato e

elementos, como cores bastante vibrantes e quentes do contexto brasileiro. Nas cabeças, no

lugar de tocas, ele faz uso de chapéus de TNT e emborrachados, bordados com cetins, ou

plumas, e perucas de plumas, algo que desconstrói aquela identificação heroica, e aproxima a

série ainda mais de seu contexto folclórico e artesanal.

As roupas do grupo de heróis, segue a mesma fórmula, com cores super-saturadas, permeadas

por plumas e utiliza estampas de padrões que designam a classe daquele determinado grupo,

dentro das apresentadas na narrativa.

Os batedores representam a força bruta, e fazem uso de uma estampa de cor única, geralmente

escura, com plumas adornando os ombros, e um estandarte no peito, com a figura de São

Jorge, para a representação dessa forma guerreira dentro dos Bate-bolas. Além disso, suas

roupas, bastante largas, tem a forma de calças, para puxar para uma representação mais

masculina, já que se trata de uma figura com uma masculinidade mais aflorada.

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Os Ilusionistas utilizam padrões geométricos que formam flores de diferentes cores, mas com

tamanhos iguais, na barra da saia que utilizam, nas botas e nas mangas. Seu estandarte

representa uma sereia, Iara, que puxa, folcloricamente, o conceito de sua força. Utilizam

também uma sombrinha como outro adereço, com o padrão floral geométrico.

Há ainda o palhaço, uma figura que compõe “Um clã de um homem só”, conforme diz em sua

apresentação à Ayana. Ele é a figura mais simplista, e portanto, mais enigmática da série.

Utiliza no rosto apenas uma maquiagem simples, com uma mascara feita de tinta preta,

cobrindo os olhos, uma tinta branca sobre o restante do rosto, algo bem próximo da

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maquiagem dos mímicos, e palhaços, que não resgata quase nada do folclore brasileiro. Ele

utiliza camisetas regatas brancas e bermudas de estilo surfista, tendo seu destaque, exatamente

pela simplicidade de seu figurino.

Sendo assim Claun tem como força artística a colorização de um ambiente de hostilidade.

A personagem Ayana, que no próprio rosto simbolizaria o enigma desse universo através de

um tapa-olho que esconde parte de sua face quase infantil. Tal universo que se representa por

violência e misticismo. Seu figurino possui duas formas distintas durante a estrutura da série.

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De um lado, temos uma garota periférica, que utiliza um vestido roxo na altura dos joelhos e

um tapa-olho branco, enquanto está no processo de busca desse universo mágico dos Bate-

bolas. Após ser inserida nesse novo universo, Ayana passa a utilizar uma evolução do figurino

dos batedores. Fazendo uso de uma espécie de armadura de papel laminado e um tapa-olho

marrom-claro, ela se torna uma representação feminina do estandarte carregado pelos

batedores. Ela personifica a força de todo um grupo. O uso da cor dos tapa-olhos diferentes

simboliza a forma como a visão dela se amplifica, perdendo assim, a inocência que possuíra

até então, algo que aparentemente será gradativo durante as outras temporadas da série, indo

de encontro à coloração preta.

Felipe Bragança cria na sua webserie “heróis” que enfrentam a corrupção e a repressão; tudo

que se cria nessa serie tem teor politico e simbológico.

Essa repressão vem da esfera capitalista, que pretende acabar com o aspecto folclórico e

tradicional do Rio de Janeiro. Isso é bastante representado pelo próprio grupo principal de

vilões, um milionário e suas filhas, que são vestidos com roupas de grife, para simbolizar que

o inimigo da tradição e do folclore brasileiro é o capital.

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Dessa forma, os cenários reais do Rio de Janeiro serão selecionados de forma a encarnar tanto

essa estrutura conflituosa da ordem do público, como um abandono do estado sobre

determinados locais. Serão explorados casarões e terrenos baldios (como na cena em que

Ayana veste sua fantasia pela primeira vez no primeiro episódio, que se passa em um grande

galpão abandonado com arquitetura similar a da década de 1930), invocando a força desses

mascarados, desses heróis contra um poder opressor e corrupto.

Há ainda a utilização de muitas ervas daninhas nas locações. Como se trata de uma história

enredada em diversas reviravoltas e incertezas acerca das intenções de todos os personagens,

esse é um elemento que, além de reforçar a ideia do abandono do estado aos mais pobres,

simboliza também esse enredo obtuso e controverso que vai se desenrolando a medida que a

trama vai avançando.

Há também a utilização de elementos cênicos bastante singulares. De um lado temos os

místicos personagens da classe vilã, que é envolta de iates e champanhes caros, simbolizando

a própria falta de distribuição de renda, devido a corrupção. Do outro, os heróis do povo

vivem em barracões suburbanos, bastante humildes, como a casa de Ayana, que no primeiro

episódio possui pouquíssima iluminação, ou o esconderijo dos bate-bolas, um lugar

abarrotado de quinquilharias, onde eles se empoleiram nos poucos acentos velhos do local.

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Ainda é importante ressaltar o caráter artesanal da arte. Todos os elementos do grupo de

heróis possui elementos que simbolizam o carnaval, dessa forma, elementos com um cunho

artesanal muito forte. Até alguns objetos ou animais, como o boi que Ayana abre para tirar

seu irmão, possui uma caracterização bastante singular, já que é utilizado na cena um pedaço

de couro cortado com uma faca de cozinha, por Ayana.

Felipe Bragança cria na sua webserie “heróis” que enfrentam a corrupção e a repressão; tudo

que se cria nessa serie tem teor politico e simbológico.