Citaçoes e textos sobre viagem e escrita
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“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou
TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia
plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor.
E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um
homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que
nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que
nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e
simplesmente ir ver.”
Amyr Klink
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa, 20-9-1933
“Embora não viajasse sozinha há muito tempo e estivesse um pouco tensa com a
situação pelo fato de ser mulher e estar só nesta empreitada, a cidade de Salvador
acolheu-me calorosamente. Aos poucos, a tensão foi dissipada pelo aprendizado
anteriormente acumulado tanto nas viagens de aventura quanto naquelas exigidas pelo
trabalho de campo que já fizera. Conforme comprovava minha experiência em tempos
idos, quem viaja só pode estar muito bem acompanhado desde que se satisfaça com “a
prática de si” (FOUCAULT, 1985: 69) e com os encantamentos da socialização
necessária àqueles que se locomovem nesta condição.”
Patrícia de Araújo Brandão Couto, antropóloga, em “Entres Saias Justas e Jogos de
Cintura”, p. 311
“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-
se em memória, em lembrança, em narrativa.”
José Saramago - “Folha de S. Paulo” (1991)
“A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte que recorrem todos os narradores.
E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias
orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos. Entre estes, existem dois grupos,
que se interpenetram de múltiplas maneiras. A figura do narrador só se torna
plenamente tangível se temos presentes esses dois grupos. ‘Quem viaja tem muito que
contar”, diz o povo, e com isso imagina o narrador como alguém que vem de longe.
Mas também escutamos com prazer o homem que ganhou honestamente sua vida sem
sair do seu país e que conhece suas histórias e tradições.”
Walter Benjamin, em O Narrador
“A narrativa de viagem é analisada como uma importante etapa no processo de viajar,
tanto para o viajante que, no ato da escrita, adquire autoridade sobre sal própria
experiência no campo, quanto para o leitor sedentário, que reanima sua imaginação, as
imagens grafadas no papel.”
Luciana de Lima Martins, em O Rio de Janeiro dos Viajantes: o olhar britânico (1800-
1850)
Escrever é estar no extremo
de si mesmo, e quem está
assim se exercendo nessa
nudez, a mais nua que há,
tem pudor de que outros vejam
o que deve haver de esgar,
de tiques, de gestos falhos,
de pouco espetacular
na torta visão de uma alma
no pleno estertor de criar.
João Cabral de Melo Neto