Citações de Medicina Experimental de Claude Bernard

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Claude Bernard e a medicina experimental - citações

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BERNARD, Claude

BERNARD, Claude. Introduo medicina experimental. [1865]. Traduo Maria Jos Marinho. Lisboa: Guimares & Co. Editores, 1978.36

Os que condenaram o emprego das hipteses e das idias preconcebidas, no mtodo experimental, erraram, ao confundir a inveno da experincia com a verificao dos seus resultados. (...) Deve-se, pelo contrrio, dar livre curso imaginao; a idia que o princpio de todo o raciocnio e de toda a inveno, nela que mergulha toda a espcie de iniciativa. No se poderia abaf-la nem expuls-la com o pretexto de que pode ser prejudicial, basta regul-la e fornecer-lhe um critrio, o que bem diferente.

40-1

O metafsico, o escolstico e o experimentador, procedem todos por uma idia a priori. A diferena consiste em que o escolstico impe a sua idia como uma verdade absoluta que encontrou, e a partir da qual deduz, somente com a ajuda da lgica, todas as conseqncias. O experimentador mais modesto, considera a sua idia, pelo contrrio, como uma questo, como uma interpretao antecipada da natureza, mais ou menos provvel, donde deduz logicamente conseqncias que confronta, a cada instante, com a realidade, por meio da experincia. Caminha assim das verdades parciais s mais gerais, mas sem nunca ousar pretender que alcanou a verdade absoluta.[No importa de onde venha a idia, como afirma Popper]

48

As idias experimentais, como veremos mais tarde, podem surgir ou a propsito de um fato observado por acaso, ou aps uma tentativa experimental, ou ainda como corolrios de uma teoria admitida. (...) No h regras a dar para fazer nascer no crebro, a propsito de uma dada observao, uma idia justa e fecunda que seja, para o experimentador, uma espcie de antecipao intuitiva do esprito em relao a uma pesquisa feliz.

[Falseabilidade de Popper]

51

A primeira condio que um sbio, que se dedica investigao dos fenmenos natura deve preencher, conservar uma inteira liberdade de esprito assente na dvida filosfica. Torna-se, portanto, necessrio, no ser ctico; acreditar (...) na relao absoluta e necessria das coisas, (...) mas, ao mesmo tempo, preciso estar realmente convencido de que s alcanarmos essa relao de uma maneira mais ou menos aproximativa, e que as teorias que possumos esto longe de representar verdades imutveis. Quando elaboramos uma teoria geral das cincias, a nica coisa de que estamos certos, que, falando com propriedade, todas essas teorias so falsas. Elas limitam-se a ser verdades parciais e provisrias que nos so necessrias, como degraus em que repousamos, para avanar na investigao; representam apenas o estado atual de nosso conhecimento e, por conseguinte, devero vir a modificar-se com o desenvolvimento da cincia, e tanto mais quanto menos essas cincias estiverem avanadas na sua evoluo.51

Se uma idia se nos apresenta, no devemos rejeit-la apenas por no estar de acordo com as conseqncias lgicas de uma teoria reinante. Podemos seguir o nosso sentimento e a nossa idia, dar livre curso imaginao, desde que todas essas idias constituam pretexto para instituir novas experincias que possam levar-nos a fornecer fatos probatrios ou inesperados e fecundos.

52

Com efeito, esses homens [a que chamarei sistemticos] partem de uma idia mais ou menos fundamentada na observao, e que consideram como uma verdade absoluta. Ento raciocinam logicamente, sem experimentar, e chegam, de conseqncia em conseqncia, a constituir um sistema lgico, mas que no possui nenhuma realidade cientfica. Muitas vezes as pessoas superficiais deixam-se entusiasmar por esta aparncia lgica e assim que, s vezes, nos nossos dias, se renovam discusses dignas da antiga escolstica.53

(...) vale mais nada saber do que ter no esprito idias fixas, apoiadas em teorias de que constantemente se procura a confirmao, negligenciando tudo o que com isso no se relaciona.

54

Os homens que tm uma excessiva f nas teorias ou nas suas idias, (...). Necessariamente observam com uma idia pr-concebida e, quando organizam uma experincia, apenas desejam ver, nos resultados, a confirmao da sua teoria. Desfiguram deste modo a observao e desprezam, freqentemente, fatos muito importantes, porque eles no concorrem para o seu fim. (...) S realizam experincias para destruir uma teoria, em vez de as efetuarem para procurar a verdade.

[Revoluo cientfica, posteriormente definida por Thomas Kuhn]

57

Nas cincias experimentais, as verdades so relativas, e a cincia s consegue avanar pela revoluo e absoro das verdades antigas em uma nova forma cientfica.

58

Em resumo, o mtodo experimental extrai de si prprio uma autoridade impessoal que domina a cincia. Impe-na mesmo aos grandes homens, em lugar de procurar, como os escolsticos, provar pelos textos que so infalveis e que viram, disseram ou pensaram tudo o que foi descoberto aps eles. A cada poca pertence a sua soma de erros e verdades. Existem erros que so de certa maneira inerentes sua poca e que apenas os progressos ulteriores da cincia podem fazer reconhecer.59

A personalidade mdica colocada acima da cincia pelos prprios mdicos; procuram a autoridade na tradio, nas doutrinas, ou no tato mdico. Este estado de coisas a mais clara prova de que o mtodo experimental no chegou ainda medicina.

66

O raciocnio experimental , precisamente, o inverso do raciocnio escolstico. A escolstica quer sempre um ponto de partida fixo e indubitvel e, no podendo encontr-lo nem nas coisas exteriores nem na razo, tira-o de uma fonte irracional qualquer, tal como uma revelao, uma tradio, ou uma autoridade convencional ou arbitrria. Uma vez assente o ponto de partida, o escolstico ou o sistemtico deduzem dele logicamente todas as conseqncias (...) a nica condio que o ponto de partida permanea imutvel e no varie de acordo com as experincias e observaes mas que, pelo contrrio, os fatos sejam interpretados para se lhes poderem adaptar. O experimentador, pelo contrrio, nunca admite um ponto de partida imutvel; o seu princpio um postulado de que deduz, logicamente, todas as conseqncias, mas sem nunca o considerar como absoluto ou fora do alcance da experincia.67

O escolstico ou o sistemtico, que a mesma coisa, nunca duvidam do seu ponto de partida, com o qual querem relacionar tudo; possuem o esprito orgulhoso e intolerante e no aceitam a contradio, visto que no admitem que o ponto de partida possa ser modificado.

79

Cada ser vivo aparece-nos como possuindo uma espcie de fora interior que preside a manifestaes vitais cada vez mais independentes das influncias csmicas gerais, medida que o ser se eleva na escala da organizao. Nos animais superiores e no homem, por exemplo, esta fora vital parece ter, como resultado, subtrair o corpo vivo s influncias fsico-qumicas gerais, e torn-lo, assim muito dificilmente acessvel experimentao.

79-80

Muitos mdicos e fisiologistas especulativos, assim como anatomistas e naturalistas, exploram estes diversos argumentos para se levantarem contra a experimentao nos seres vivos. Admitiram que a fora vital estava em oposio com as foras fsico-qumicas, que estas dominavam todos os fenmenos da vida, sujeitando-os a leis especiais, e fazendo do organismo um todo organizado em que o experimentador no podia tocar sem destruir o prprio carter da vida. (...) Estas idias, que tiveram xito em outras pocas, cada vez mais, hoje em dia, vo desaparecendo; mas, no entanto, importa extirpar os ltimos germes, porque o que ainda resta, em certos espritos, destas idias chamadas vitalistas, constitui um verdadeiro obstculo aos progressos da medicina experimental.83

A explicao real dos fenmenos da vida baseia-se no estudo e no conhecimento das partculas mais ntimas e mais sutis que constituem os elementos orgnicos do corpo. (...) ...estas partculas ntimas do organismo s manifestam a sua atividade vital graas a uma relao fsico-qumica necessria como meios ntimos, que devemos igualmente estudar e conhecer.

84

De outro modo, se nos limitamos ao exame dos fenmenos de conjunto visveis do exterior, podemos acreditar, falsamente, que existe no ser vivo uma fora prpria que viola as leis fsico-qumicas do meio csmico geral, tal como um ignorante poderia acreditar que, em uma mquina que sobe nos ares ou que corre pela terra, h uma fora especial que viola as leis da gravitao. (...) No existem foras em oposio e em luta umas contra as outras; na natureza s possvel acordo e desacordo, harmonia e desarmonia.

86

Para chegar resoluo destes diversos problemas, preciso de alguma maneira, decompor sucessivamente o organismo, tal como se desmonta uma mquina para lhe reconhecer e estudar todos os mecanismos; o que quer dizer que, antes de chegar experimentao sobre os elementos, cumpre experimentar, primeiro, sobre os aparelhos e sobre os rgos.

87

Para o experimentador fisiologista, no poder existir nem espiritualismo nem materialismo.

87

O mtodo experimental afasta-nos, naturalmente, da pesquisa quimrica do princpio vital; no existe fora vital nem fora mineral, ou se preferirmos, tanto existe uma como a outra. A palavra que empregamos apenas uma abstrao de que nos servimos por comodidade de linguagem.

88

Devemos imitar os fsicos e dizer como Newton, a propsito da atrao: Os corpos caem segundo um movimento acelerado de que no se conhece a lei; eis o fato real. Mas a causa primeira que faz cair os corpos absolutamente desconhecida. Pode dizer-se, para que o esprito compreenda o fenmeno, que os corpos caiem como se existisse uma fora de atrao que os solicitasse em direo ao centro da Terra, quasi esset attractio. Mas a fora de atrao no existe, ou no a vemos, apenas uma palavra para resumir o problema. De igual modo, quando um fisiologista invoca tambm a fora vital ou a vida, no a v, limita-se a pronunciar uma palavra; o fenmeno vital s existe relacionado com as condies materiais, e a nica coisa que pode estudar e conhecer.

89Assim, como j dissemos, aquilo a que se chama fora vital uma causa primeira anloga a todas as outras, no sentido em que nos , totalmente, desconhecida.

90

Porm, entre os naturalistas e, sobretudo, entre os mdicos, encontram-se homens que, em nome daquilo a que chamam vitalismo, emitem acerca do assunto de que nos ocupamos as mais erradas opinies. Pensam que o estudo dos fenmenos da matria viva no pode manter nenhuma relao com o estudo dos fenmenos da matria bruta. Consideram a vida como uma influncia misteriosa e sobrenatural que age arbitrariamente, libertando-se de todo o determinismo, e chamam materialistas aos que se esforam por subordinar os fenmenos vitais a condies orgnicas e fsico-qumicas determinadas. Isto so idias falsas, difceis de extirpar uma vez que obtenham direito de cidade no nosso esprito; s os progressos da cincia podem faz-las desaparecer. Mas as idias vitalistas, tomadas no sentido que acabamos de indicar, no passam de uma espcie de superstio mdica, uma crena no sobrenatural. Ora na medicina, a crena em causas ocultas, quer se chame vitalismo ou qualquer outra ciosa, favorece a ignorncia e gera uma espcie de charlatanismo involuntrio, ou seja, crena em uma cincia confusa e indeterminvel.

Estaria de acordo com os vitalistas se quisessem, apenas, reconhecer que os seres vivos apresentam fenmenos que no se encontram na natureza bruta e que, por conseqncia, lhes so especiais. Admito, com efeito, que as manifestaes vitais no poderiam ser elucidadas apenas pelos fenmenos fsico-qumicos, j conhecidos na matria bruta. (...) Portanto, se as cincias vitais devem diferir das outras pelas explicaes e pelas leis especiais, no se distinguem pelo mtodo cientfico. A biologia deve aproveitar das cincias fsico-qumicas o mtodo experimental, mas guardar os seus fenmenos especiais e as suas leis prprias.98

A eletricidade, por exemplo, o resultado da ao do cobre e do zinco em certas condies qumicas; mas se suprimimos a relao de tais corpos, a eletricidade passa a ser uma abstrao e, no existindo por si mesma, deixa de se manifestar. Assim, tambm a vida o resultado do contato do organismo e do meio; no a podemos compreender s com o organismo, ou s com o meio. , portanto, igualmente uma abstrao, isto , uma fora que nos aparece como estando fora da matria.

98

A cincia antiga s pde conceber o meio exterior; mas preciso, para fundar a cincia biolgica experimental, conceber o meio interior. Suponho ser o primeiro a expor claramente esta idia, e o primeiro a ter insistido nela, para melhor fazer compreender a aplicao da experimentao nos seres vivos.

102

No , portanto, preciso, como tambm j dissemos, estabelecer um antagonismo entre os fenmenos vitais e os fsico-qumicos, mas, antes pelo contrrio, verificar um paralelismo completo e necessrio entre essas duas ordens de fenmenos.

105

A verdade absoluta, nos corpos vivos, seria ainda mais difcil de atingir; porque alm de pressupor o conhecimento de todo o universo exterior ao corpo vivo, exigiria tambm o completo conhecimento do organismo, que forma ele prprio, como vem a afirmar-se h muito tempo um pequeno mundo (microcosmo) em um grande universo (macrocosmo).113

O fisiologista e o mdico no devem nunca esquecer que o ser vivo forma um organismo e uma individualidade. (...) Resulta disso que o fsico e o qumico podem rejeitar todas as idias acerca das causas finais, em relao aos fatos que observam; enquanto o fisiologista levado a admitir uma finalidade harmnica e preestabelecida no corpo organizado, sendo todas as aes parciais solidrias e geradoras umas das outras. preciso, portanto, saber bem que, se decompomos o organismo vivo, isolando as suas diversas partes, para facilitar a anlise experimental e no para as conceber separadamente.

114

Foi, sem dvida, por ter sentido a necessidade de tal solidariedade de todas as partes do organismo que Cuvier disse que a experimentao no era aplicvel aos seres vivos, porque separava partes organizadas que deviam permanecer reunidas. no mesmo sentido que outros fisiologistas ou mdicos, chamados vitalistas, proscreveram ou proscrevem, ainda, a experimentao em medicina. Essas opinies, que tm um aspecto justo, tornam-se, no entanto, falsas nas suas condies gerais, e prejudicaram consideravelmente o avano da cincia.

115

Ser sempre preciso, depois de ter praticado a anlise dos fenmenos, refazer a sntese fisiolgica, a fim de possuir a viso da ao conjunta de todas as partes que se haviam isolado anteriormente. (...) Enfim, quando se renem elementos fisiolgicos, vemos surgir propriedades que no podiam ser apreciadas nos seus elementos separados.

118A vida tem a sua essncia primitiva na fora de desenvolvimento orgnico, fora que constitua a natureza mediadora de Hipcrates e o archus faber de Van Helmont. Porm, seja qual for a idia que se tenha acerca da natureza dessa fora, manifesta-se sempre, juntamente e paralelamente, com condies fsico-qumicas prprias dos fenmenos vitais.

118

O que caracteriza a mquina viva no a natureza das suas propriedades fsico-qumicas, por muito complexas que sejam, mas a criao de tal mquina que trabalha perante os nossos olhos, nas condies que lhe so prprias, e segundo uma idia definida que exprime a natureza do ser vivo e a prpria essncia da vida.

118-19

Este agrupamento s se realiza em conseqncia de leis que regem as propriedades fsico-qumicas da matria; mas o que pertence, essencialmente, ao domnio da vida, e que no pertence nem qumica nem fsica, nem a qualquer outra coisa, a idia diretriz desta evoluo vital. Em todo o germe vivo existe uma idia criadora que se desenvolve e manifesta pela organizao. Durante a sua existncia, o ser vivo permanece sob a ao desta fora vital criadora, e a morte chega quando ela deixa de se poder realizar.119

sempre esta mesma idia vital que conserva o ser, reconstituindo as partes vivas desorganizadas pelo exerccio, ou destrudas por acidentes e doenas...

120Cada uma das cincias possui, seno um mtodo prprio, pelo menos processos especiais, e, alm disso, servem reciprocamente de instrumentos umas das outras. (...) Neste auxlio mtuo que as cincias prestam preciso distinguir bem o sbio que faz avanar cada cincia daquele que s se serve dela.

120

J se viu e vem-se ainda, muitas vezes, qumicos e fsicos que, em lugar de se limitarem a pedir aos fenmenos dos corpos vivos que lhes forneam meios ou argumentos prprios para estabelecer certos princpios das ss cincias, querem tambm absorver a fisiologia e reduzi-la a simples fenmenos fsico-qumicos. Do da vida explicaes ou sistemas que por vezes seduzem, graas sua enganadora simplicidade, mas que, em qualquer caso, prejudicam a cincia biolgica e introduzem-lhe falsas direes e erros que levam, depois, muito tempo a dissipar.

248

Sem dvida, h nos seres vivos uma fora especial que no se encontra em outro lugar, e que preside sua organizao; mas a sua existncia no poderia alterar as noes que possumos das propriedades da matria organizada, matria que, uma vez criada, fica dotada de propriedades fsico-qumicas fixas e determinadas. A fora vital , portanto, uma fora organizadora e mantenedora, mas de nenhuma forma determina a manifestao das propriedades da matria viva.253

Os clnicos hbeis podem, portanto, adquirir grande e legtimo poder entre os homens, porque, fora da cincia, exercem na sociedade uma ao moralizadora.

259

No caso em que fosse provado ao experimentador que o remdio no curava, e com mais forte razo, lhe fosse demonstrado que era nocivo, deveria abster-se e permanecer, como o hipocrtico, na expectativa. Existem clnicos que, convencidos at ao fanatismo da excelncia dos medicamentos, no compreenderiam a crtica experimental teraputica de que acabo de falar.

260

Cumpre, como dissemos, viver o empirismo como um estado transitrio e imperfeito da medicina, e no erigi-lo em sistema. No seria, portanto, lcito, limitarmo-nos, como disseram, a formar curandeiros e empricos nas faculdades de Medicina; isso seria degradar a medicina e rebaix-la ao nvel de uma indstria.261

Se o mdico hipocrtico, limitar-se- expectao; se emprico, ministrar remdios, baseando-se, ainda, na observao, que ter obtido por experimentao ou de outro modo; se o mdico sistemtico, poder acompanhar o tratamento de explicaes vitalistas ou outras quaisquer, e isso em nada alterar o resultado. Apenas a estatstica ser invocada para estabelecer o valor do tratamento.270Bom evitar, com cuidado, toda a espcie de sistema, e a razo que encontro os sistemas no estarem na natureza, mas apenas no esprito dos homens. O positivismo que, em nome da cincia, respeita os sistemas filosficos te, como estes, o mal de ser um sistema. (...) Penso que, neste caso, o melhor sistema filosfico no ter nenhum.

270

Como experimentador, evito, portanto, os sistemas filosficos, mas no poderia, por isso, rejeitar esse esprito filosfico que, sem estar especialmente em nenhuma parte, est em todas, e que, sem pertencer a nenhum sistema, deve reinar, no somente em todas as cincias mas tambm em todos os conhecimentos humanos. Com efeito, do ponto de vista cientfico, a filosofia apresenta a aspirao eterna da razo humana, de alcanar o conhecimento do desconhecido.

273

Uma cincia que se imobilizasse em um sistema permaneceria estacionria e isolar-se-ia, porque a sistematizao representa um verdadeiro enquistamento cientfico, e toda a parte enquistada em um organismo deixa escravizar o esprito humano, e a nica utilidade que, penso eu, se lhes pode encontrar, o suscitarem combates que os destroem, agitando e excitando a vitalidade da cincia. Com efeito, preciso procurar quebrar os entraves dos sistemas filosficos e cientficos, como se destrussemos cadeias de uma escravatura intelectual.