Cinico
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DIÓGENES DE SINOPE E O CINISMODIOGENES FROM SINOPE AND THE CYNISIM
Giulia Sgromo PeruginoIsabella Yullia Thomaz Murta
Lorena Thifany Cruz de OliveiraLuciana Cristina de Oliveira AndradePaula Carvalho Abreu Lobato Souza
Sabrina Marques Rezende
RESUMO
O Cinismo define-se como um movimento filosófico-cultural ocorrido na
Grécia Clássica, sendo, provavelmente, a ramificação mais original e influente da
tradição socrática na Antiguidade. O cínico é um homem do mundo que opta pela
pobreza e mendicância, abordando as pessoas para dizer-lhes a verdade, sempre
defendendo que a alma deveria estar acima de qualquer valor material. O principal
representante cínico é Diógenes de Sinope, um homem que viveu abdicando das
coisas supérfluas, utilizando-se apenas do essencial para realizar suas atividades,
acreditando ser assim possível alcançar a felicidade. Adotou o estilo de vida
defendido pelo movimento cínico e agia conforme as suas vontades, não se
preocupando em como suas ações repercutiriam na sociedade. Cinismo e Diógenes
até hoje são temas de debate, que geram opiniões divergentes e provocam a
reflexão.
PALAVRAS-CHAVE: Diógenes de Sinope; Cinismo; Desapego; Supérfluo.
ABSTRACT
Cynisim is defined as a philosofical cultural movement that occurred in the
Classical Greece. It was probably the most original ramification and influent Socratic
antique tradition. Cynical is the man in the world that opts for poverty and beggarly,
working people up to tell them the truth and always defending that the soul should be
above any material value. The main cynical representative is Diogenes from Sinope,
Alunas do Primeiro Período do curso de Direito da Faculdade de Direito Milton Campos.
1
a man that lived abdicating expandable things and utilizing only the essential to
accomplish his activities keeping on hopping being possible to achieve happyness.
He adopted a life style shielded by the Cynical movement and acted according to his
own free will not worrying about how his options sounded like in society.
KEY WORDS: Diogenes from Sinope; Cynisim; Detachment; Excessive.
1 INTRODUÇÃO
Diógenes de Sinope é o principal representante do cinismo, seguidor do
precursor cínico Antístenes. Diógenes viveu abdicando das coisas supérfluas,
utilizando-se apenas do essencial para realizar suas atividades, acreditando ser
assim possível alcançar a felicidade. Seus atos eram simplesmente realizados, sem
que houvesse a mínima preocupação com a repercussão que eles poderiam ter,
sem levar em consideração a opinião alheia; Diógenes fazia o que era de sua
vontade no momento da realização de seu ato. A sua importância para o cinismo é
incontestável, uma vez que se destacou dentre tantos envolvidos no movimento
cínico devido a demonstração prática de seus ensinamentos. Foi a partir da sua
atuação que o movimento se tornou mais conhecido e difundido. As idéias cínicas se
assemelham às de movimentos de contestação ao conservadorismo.
Foi feita uma análise do sistema, realizando-se uma dialética entre sistema e
problema, tal como se considerou as questões problemáticas da Grécia Antiga.
Houve com isso um processo de generalização e construção de hipóteses
envolvendo Diógenes e os cínicos, assim como houve a comparação entre
antinomias do mesmo sistema.
2 DESENVOLVIMENTO
Diógenes nasceu há cerca de dois mil e quatrocentos anos, na Grécia, na
cidade de Sinope, por isso é conhecido como Diógenes de Sinope. De acordo com
notícias da Antiguidade, seu pai era um banqueiro chamado Icésio, que se envolveu
em adulteração de moedas; ao invés de retirar moeda falsa de circulação, o que era
sua tarefa como administrador do banco público de Sinope, ele recolhia as moedas
2
verdadeiras como falsas. Junto com seu pai, Diógenes se envolveu nesse escândalo
financeiro e foi exilado de Sinope, para onde jamais regressou1. Tal acontecimento
parece ser uma metáfora da vida do então filósofo andarilho: adulterar a moeda por
seu pai parece ser a missão de Diógenes, já que ao recusar as regras sociais e
políticas vigentes, ele dá espaço à vida cínica autêntica, o que seria seu grande
projeto filosófico. É a partir do ocorrido que Diógenes procura mostrar aos homens,
por meio de um pensamento crítico e irreverente, a falsidade das afirmações morais
tidas na maioria das vezes como verdadeiras, tais como a de que o dinheiro torne o
homem feliz ou que o poder traga felicidade. Ele, com isso, tentava mostrar que as
pessoas detinham tudo o que precisavam para alcançar a felicidade, e que um modo
de vida simples possibilitaria este alcance.
De acordo com Diógenes Laércio, o alexandrino responsável pela biografia
dos filósofos célebres da Antiguidade, Diógenes teria conhecido Antístenes, discípulo
de Sócrates, e tido como o fundador do Cinismo ao chegar em Atenas. O Cinismo
teve como precursor Antístenes e como maior símbolo, Diógenes de Sinope. Este
recebeu influência dos textos de Xenofonte ou do próprio Antistenes, que defende a
afirmação no "banquete de Xenofonte"2. de que embora não tenha dinheiro algum, ele
se orgulha de sua riqueza não material; tal como foi influenciado também pela
inspiração própria original, que encontra sustentação e recordação nas idéias
socráticas.
Percebe-se que este movimento filosófico inspirou-se no modelo de
comportamento socrático, isto é, em sua independência de caráter, mas muito pouco
na elaboração filosófica efetuada por Platão. Os cínicos3 desprezavam as artes, os
ensinamentos, a matemática e as ciências naturais, enfim, negavam a teoria das
idéias platônicas em sua essência. Logo, pode-se notar que as principais idéias da
escola fundada por Antístenes foram expostas por Diógenes, já que foi ele quem
deu as grandes linhas filosóficas do Cinismo.
Os primeiros passos de Diógenes rumo a uma vida cínica se encontravam 1 Aldo Dinucci, São Cristóvão/SE – 2007. Introdução à Filosofia.
<vivavox.site90.com/CinismoAdinucci.pdf> Acesso em 15/10/2009.2 GOULET-CAZÉ, Marie & BRANHAM, R. Bracht. Os Cínicos. O movimento cínico na Antiguidade e
o seu legado. São Paulo: Edições Loyola, 2007. p. 43.3 1. Pessoa que acredita que todas as pessoas são motivadas por interesse próprio. 2. Membro de uma
seita de filósofos gregos antigos que acreditavam que a virtude era o único bem e o auto-controle o único meio de alcançar a virtude. – cínico adj. 1. cínico. 2. de ou relativo aos cínicos ou às suas crenças [Latim cynicus, filósofo cínico, do grego kynikos, kyon, kyn-, cachorro.] Obra Os Cínicos. O movimento cínico na Antiguidade e o seu legado. Marie Odile Goulet-Cazé e R. Bracht Branham. São Paulo: Edições Loyola, 2007. p. 96.
3
em seu estilo de vida. Ele vivia de forma extremamente miserável, desalinhado, sem
higiene ou cuidados pessoais, negando a cultura, sem respeito pelas normas nem
pela civilização, não tendo apego pelas riquezas e pelas honras, aceitando apenas o
que era da natureza e vivendo quase como um animal4. Uma vez que este (animal)
precisa de muito pouco pra viver, está, portanto, mais próximo de Deus, que, por ser
perfeito, não necessita de nada. Para se assemelhar mais ao estilo de vida dos
animais, Diógenes, que não conseguiu materializar o seu desejo de ter uma casa,
passa a morar em uma barrica na rua, onde ficava praticamente nu, pois só possuía
o mínimo possível de bens, que eram um manto, com o qual se vestia, um bastão,
em que se apoiava na velhice para caminhar e um alforje, que colocava os alimentos
simples com os quais vivia, tal como tipos de frutas secas e pão, uma caneca e um
prato. Diógenes eventualmente abandonava esse prato, estando um dia a pegar
água em uma fonte, quando por um ato impulsivo, atira tal prato, por considerá-lo
supérfluo, ao ver um menino bebendo água com as mãos. O mesmo ocorre quando
se depara com um outro menino comendo lentilhas sobre um pedaço de pão,
Diógenes atira seu prato, que ele encheria com lentilhas, pela mesma sensação de
supérfluo que o acometeu em relação à caneca5.
A vida desse cínico estava fortemente relacionada e identificada com a dos
cães, pois vivia solto e livre, estando aí o motivo pelo qual o chamavam de cínico.
Indagaram certa vez a Diógenes por qual razão ele chamava a si próprio de cão, ao
qual ele respondeu: “Porque rosno para os que me aborrecem e abano a cauda para
os que me agradam”6. O cão, logo, torna-se o modelo para o homem, na medida em
que não necessita de muitas coisas, não busca nada de supérfluo e está
plenamente feliz com o essencial para a vida: água, comida, um lugar para dormir,
amigos e sexo. Assim, para os cínicos, o homem, em sua busca pela sabedoria de
vida, deve tornar-se “cão” na medida do possível. O animal também não tem
objetivos para viver e ainda assim, vive. Por meio desse estilo de vida mendicante,
4 Entrevista concedida por Professor Doutor Jorge Luis Gutiérrez. Diógenes de Sinope e os cínicos. <http://jorgelrg.sites.uol.com.br/ENTREVISTA_DIOGENES.htm> Acesso em 12/10/2009.
5 Entrevista concedida por Professor Doutor Jorge Luis Gutiérrez. Diógenes de Sinope e os cínicos. <http://jorgelrg.sites.uol.com.br/ENTREVISTA_DIOGENES.htm> Acesso em 12/10/2009.
6 DINUCCI, Aldo, Introdução à Filosofia. São Cristóvão/SE. 2007. <vivavox.site90.com/CinismoAdinucci.pdf> Acesso em15/10/2009.
4
ele transmitia seus ensinamentos, valendo-se sempre da importância da razão. Além
de demonstrar que os bens materiais são supérfluos para a conquista da felicidade,
ele demonstra que o poder também o é, e que, ao contrário do que se pensa, a
tomada do poder pode retirar toda a liberdade adquirida pelo homem.
Em meio a esses ensinamentos no modo de viver, que o deixava livre para
ser ele mesmo, ao eliminar a necessidade de coisas fúteis, Diógenes acreditava
atingir tal liberdade desgastando o corpo para se habituar a dominar os prazeres até
desprezá-los por completo, pois os cínicos acreditavam que os prazeres
enfraquecem o corpo e a alma, colocando em risco a liberdade do homem, já que o
tornava escravos dos mesmos. Observa-se que as atitudes de Diógenes eram de se
escandalizar, mostrando seu ascetismo e despudor. Ao mesmo tempo em que
tomava sol, masturbava-se em praça pública e defecava na beira da rua, com igual
naturalidade. Sua fala direta também atraía multidões em praça pública, enquanto
discursava para os passantes. Exemplos de sentenças ditas por Diógenes são:
"Busco um homem honesto", "Elogiar a si mesmo desagrada a todos", "O amor é
uma ocupação de quem não tem o que fazer", "O insulto ofende a quem o faz e não
a quem o recebe", "A sabedoria serve para reprimir os jovens, para consolar os
velhos, para enriquecer os pobres e para enfeitar os ricos", "A liberdade para falar é
a coisa mais bela para um homem", "O filósofo só serve para machucar os
sentimentos de alguém", "O tempo é o espelho da eternidade" e "Sou uma criatura
do mundo"7. Exemplo de atitude irônica deste cínico se encontra no episódio em que
Diógenes, um dia, lavando alfaces em uma fonte para ganhar algum trocado, é
surpreendido por Platão, que por ali passava, e diz: “Se honrasse o tirano Dionísio,
não terias que lavar alfaces”. A resposta dada por Diógenes foi: “Se eu não lavasse
alfaces, eu teria de honrar Dionísio”. O que quer dizer com isso é que mais vale ter
liberdade, dignidade e uma ocupação simples do que viver como escravo de um
homem poderoso para obter favores.
Para Foucault, o que melhor descreve a irreverência cínica de Diógenes, e
7 MARCONATTO, Arildo Luiz. <http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=30> Acesso em 17/10/2009.
5
ainda mostra-se como um máximo exemplo de parrhesia8 é o encontro de
Alexandre, o Grande, com o cínico de Sinope. Como Aristóteles fora tutor de
Alexandre, este havia tornado-se um grande patrocinador e, principalmente,
admirador dos filósofos, o que justifica em sua passagem por Corinto a procura por
Diógenes de Sinope. Quando Alexandre encontrou-se com o filósofo, este estava
em seu abrigo, o que proporcionou a seguinte pergunta de Alexandre: "Pede-me o
que quiseres". Diógenes responde: "Não me faças sombra. Devolva meu sol"9. Este
episódio de Diógenes e Alexandre é importante na compreensão da autonomia e da
indiferença de Diógenes frente ao mundo. Na visão de Foucault, este é um exemplo
significativo da parrhesia empregada pelos cínicos devido ao diálogo provocativo.
Observa-se que, em diversos momentos, Alexandre mostrava-se irritado e com
vontade de matar Diógenes, ao que este responde: "Tudo bem. Sei que está
enfurecido e também é livre. Tens tanto a habilidade quanto a sanção legal de me
matar. Mas serás corajoso o bastante para ouvir a verdade de mim, ou serás um
covarde que preferira me matar?"10. Logo, a parrhesia é a liberdade da palavra, já
que ao tocar os limites da desfaçatez e da arrogância, atinge até mesmo aos
poderosos. Liberdade esta tão almejada por Diógenes em seus ensinamentos, pois,
para ele, quanto mais se eliminam as necessidades supérfluas, mais se é livre. Para
finalizar a conversa com Alexandre, Diógenes aponta três modos errôneos de um rei
se comportar, que são: a devoção à riqueza, ao prazer físico e à glória e ao poder
político. O confronto entre esses três requisitos é o conselho final de Diógenes,
permitindo a Alexandre empreender uma guerra espiritual consigo mesmo. Para
Foucault, o diálogo tem como objetivo "levar o interlocutor a internalizar esta luta
parrhesiástica"11. Logo, a prática da parrhesia está ligada ao cuidado de si. Pode
estar na política envolvendo a organização do Estado de uma cidade, e na moral
8 Existe em português o termo parrhésia com o significado estrito de atrevimento lingüístico mas como a interpretação de Foucault vai além do sentido puramente retórico, apontando uma dimensão ética (envolvimento do sujeito) e lógica (compromisso com a verdade), preferimos manter a transcrição do termo grego original. Saly Wellausen. São Paulo. 1996. <www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/.../michel%20foucaut.pdf> Acesso em 17/10/2009.
9 São Paulo, 2001. <www.rubedo.psc.br/artigosb/diogenes.htm> Carlos Bernardi Acesso em 17/10/2009.
10 FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982) Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana (Trad. Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail), p. 128.
11 FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982) Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail, p. 133.
6
envolvendo as relações pessoais. Diógenes se mostrava adepto da parrhesia
exatamente por usar da fala franca em seus discursos. Dessa forma, o fato de estar
em perigo é o que torna alguém um parrhesiastes, pois este "escolhe primariamente
um relacionamento específico consigo mesmo: ele prefere ser um contador de
verdade ao invés de um ser vivo que é falso consigo mesmo"12. Porém, o
parrhesiastes é sempre menos poderoso do que o seu interlocutor. "A parrhesia vem de baixo, por assim dizer, e é dirigida para o alto."13 Para Foucault, a parrhesia
é como uma "atividade verbal na qual o falante expressa seu relacionamento verbal
com a verdade e arrisca sua vida, porque reconhece que dizer a verdade é um dever
para melhorar ou ajudar às outras pessoas (assim como a si mesmo)"14. A prática
cínica da parrhesia é de anti-realismo e ruptura. O fato de Diógenes defender roubos
de templos e negar a validade de tabus dietéticos e sexuais, como aqueles contra o
canibalismo e o incesto é coerente com a sua postura anti- realista15. O exercício dessa liberdade em palavras é, como Diógenes afirma
claramente, "a melhor coisa do mundo"16. Sua justificativa para exercitar a
pahrresia é de que o corpo não é só uma ferramenta para atacar inimigos ou
chocar o público - embora sirva a esses dois propósitos eminentemente
retóricos - mas também uma fonte da autoridade do cínico. O hábito de
Diógenes ascender sua lamparina em plena luz do dia nos ambientes mais
cheios também revela o caráter contestador deste cínico. Ao caminhar,
pronunciava "procuro o homem"17, com o objetivo de descobrir homens
verdadeiros. Com evidente e provocante ironia, a busca por esse homem
verdadeiro significava buscar o homem que vivia de acordo com sua mais
autêntica essência, isto é, buscar o homem que vive além de sua exterioridade,
12 FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982) Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana (Trad. Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail), p. 17.
13 FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982) Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail, p.18.
14 FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982) Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana Tradução Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail, p. 19.
15 GOULET-CAZÉ, Marie Odile & BRANHAM, R. Bracht. “Os Cínicos”. O movimento cínico na Antiguidade e o seu legado. São Paulo: Edições Loyola, 2007. p. 110.
16 GOULET-CAZÉ, Marie Odile & BRANHAM, R. Bracht. “Os Cínicos”. O movimento cínico na Antiguidade e o seu legado. Marie Odile Goulet-Cazé e R. Bracht Branham. São Paulo: Edições Loyola, 2007. p. 112.
17 CUNHA, Hermison Frazzon da. São Pedro do Sul/RS 2008. <www.artigonal.com/literatura-artigos/a/lanterna-de-diogenes-520928.html> Acesso em 13/10/2009.
7
de todas as convenções da sociedade e do próprio luxo da sorte e da fortuna.
Diógenes queria em sua busca reencontrar um homem que vivesse segundo
uma genuína natureza, ou seja, que vivesse conforme a natureza e que dessa
forma conseguisse ser feliz. Essa típica ironia cínica, para Foucault, é uma
diferença marcante entre os cínicos e Sócrates. Enquanto o último emprega
uma técnica sinuosa pra encontrar uma compreensão da ignorância, o cínico,
através da agressividade assume que sabe a verdade e que deve comunicá-la a
todos, ou seja, antes de utilizar ações e palavras, faz o uso do seu próprio
exemplo18. Fontes da Antiguidade revelam o seguinte: "Diógenes, o cínico,
andava gritando repetidamente que os deuses concederam aos homens fáceis
meios de vida, mas que, todavia, os esconderam da vista humana”. O objetivo
fundamental de Diógenes é trazer à vista aqueles fáceis meios de vida e
demonstrar que o homem tem sempre à sua disposição aquilo de que necessita
para ser feliz, desde que saiba dar conta das exigências efetivas da sua
natureza. No aspecto da política, ensinava que a cidade e as leis eram
necessárias. As leis porque não é possível a existência do Estado sem elas. E a
cidade porque é uma comunidade civilizada e organizada, sem a qual as leis
não tem nenhuma utilidade. Também ridicularizava a nobreza de nascimento,
defendia uma organização política universal, a comunidade das mulheres e dos
filhos, além do que, não via problema em roubar dos templos. Diógenes tentava
seduzir o homem cansado, em que as decepções tinham destruído o
entusiasmo natural19.
Ao longo do período helenístico, a religião deriva facilmente para a superstição. A certos rituais é atribuído um valor mágico. A religião torna-se um refúgio das incertezas da vida e do medo do mundo. Um dos apotegmas de Diógenes, conforme relatado por Diógenes Laércio, foi quando alguém que era dado à supertição lhe disse: "com um único soco eu abrirei a sua cabeça". Diogenes respondeu: "E eu farei tremer espirrando para o meu lado esquerdo". Um segundo apotegma é relatado por Clemente de Alexandria. Aqui, Diógenes faz piada com os escritos que eram encontrados com freqüência nas paredes das casas e que se acreditava terem um valor mágico. Por exemplo, quando ele lê na casa de uma pessoa de caráter duvidoso, "Hércules de grandes vitórias vive aqui; que nenhum mal possa entrar". Ele comenta, com ingenuidade: "Mas como, então, o dono dessa casa poderá entrar?".
18 BERNARDI, Carlos. <www.rubedo.psc.br/artigosb/diogenes.htm Carlos Bernardi> São Paulo, 2001. Acesso em 15/10/2009
19 GOULET-CAZÉ, Marie & BRANHAM, R. Bracht. “Os Cínicos”. O movimento cínico na Antiguidade e o seu legado. São Paulo: Edições Loyola. 2007. p. .61-63.
8
O lado irracional dessas práticas naturalmente despertou uma forte reação adversa das pessoas instruídas, a ponto de sermos obrigados a distinguir a religião popular da religião dos filósofos. Este antagonismo intelectual nos permite compreender como se tornou possível a reavaliação radical da religião tradicional pelos cínicos e, igualmente, como suas idéias religiosas nem sempre foram tão revolucionárias como poderiam parecer à primeira vista. (GOULET-CAZÉ & BRANHAM. 2007. p. 76)
Existem uma série de ditos sarcásticos, irônicos, com caráter pitoresco e
espírito prático que fazem de Diógenes um filósofo sagaz e também desconcertante,
tal como arrogante. Uma boa situação que exemplifica a irreverência de Diógenes
deu-se quando uma pessoa lhe perguntou se a morte era um mal, e ele prontamente
respondeu: “Como poderia ser um mal se quando está presente não a
percebemos?”20. Esses ditos, e muitos outros a ele atribuídos, mostram uma coisa em
comum, qual seja a filosofia, para Diógenes é uma filosofia prática, como resposta de
pensamento diante das eventualidades da vida cotidiana. Aliás, é essa mesma a
concepção que Diógenes tem quanto à finalidade da filosofia: “No mínimo, estar
preparado para enfrentar todas as vicissitudes da sorte”21. Este filósofo cínico faz da
filosofia uma arma retórica com uma boa dose de ironia, sarcasmo e agressividade,
além do comportamento despudorado, o que o torna um filósofo fora dos padrões.
Pela forma de vida e pelo seu estilo agressivo, Platão, quando perguntado sobre que
espécie de homem era Diógenes, sentenciou: “Um Sócrates enlouquecido”22. Não dá
para dizer que um adorasse o outro. Apesar disso, era amado pelos atenienses, o que
é comprovado pelo que fala Diógenes Laércio, que “quando um rapaz lhe quebrou o
tonel, os atenienses surraram o rapaz e deram outro tonel a Diógenes”23.
A imagem dos cínicos tem mudado nos últimos anos. Antes, eram vistos
como mendigos que se posicionavam negativamente frente à vida, miseráveis e mal
educados, negando a cultura. Nos primeiros anos da década de noventa, vários
estudos foram realizados e mostraram uma nova visão quanto aos cínicos,
20 ZAMPIERI, Gilmar. <www.estef.edu.br/.../ESTEF_PESSOAL_28_10_2008_19_36_59_Diogenes.doc> São Paulo. 2007 Acesso em18/10/2009.
21 ZAMPIERI, Gilmar. <www.estef.edu.br/.../ESTEF_PESSOAL_28_10_2008_19_36_59_Diogenes.doc> São Paulo. 2007 Acesso em 18/10/2009.
22 ZAMPIERI, Gilmar. <www.estef.edu.br/.../ESTEF_PESSOAL_28_10_2008_19_36_59_Diogenes.doc> São Paulo. 2007 Acesso em 18/10/2009>
23 ZAMPIERI, Gilmar.<www.estef.edu.br/.../ESTEF_PESSOAL_28_10_2008_19_36_59_Diogenes.doc> São Paulo. 2007 Acesso em 18/10/2009.
9
abandonando seu antigo caráter e tomando uma conotação mais positiva e
filosófica. Um bom exemplo dessa nova visão é o Dicionário de Filosofia, de André
Comte-Sponville, publicado na França em 2001, no qual a definição acerca dos
cínicos está carregado de frases positivas24. Hoje, o que as pesquisas tentam
resgatar é a imagem filosófica e positiva. Contemporaneamente, o Cinismo é muito
diferente daquele. A significação atual é um esvaziamento de sentido, conformismo,
falar e não agir, agir e não falar, desvalorizar e desmerecer as coisas.
Atualmente, seria difícil aceitar o modo como viviam os cínicos no passado.
Outrora, hoje também há uma grande procura por independência, tranqüilidade,
abandono do supérfluo, e, principalmente, por felicidade. Também pode ser
resgatada a visão cosmopolita cínica de sua sociedade, visto que a nossa cultura é
cada vez mais cosmopolita.
O cinismo é um típico fenômeno de contracultura semelhante ao movimento
hippie surgido na transição da década de cinqüenta para sessenta, que representou,
junto a outros movimentos da época, uma manifestação estética da contestação ao
conservadorismo, sendo, assim como o cinismo, uma reivindicação de liberdade total,
tanto em relação às paixões, quanto às necessidades físicas e às obrigações morais.
CONCLUSÃO
Para Diógenes, o maior dos bens sociais, o ideal, seria o livre pensamento, a
liberdade de expressão, e uma das maiores qualidades do homem seria não fazer
mal a ninguém e não ter inveja de nada. Diógenes, na sua maneira de pensar e agir
desfrutou o maior de todos os prazeres que é a liberdade.
Com o modo de vida simples seria alcançado a verdadeira felicidade, ou seja,
o homem conseguiria ser auto-suficiente com aquilo que a natureza lhe oferece, sem
bens materiais. O jeito cínico de levar a vida em vários aspectos se assemelha ao
movimento hippie, pelo caráter de reivindicar a liberdade.
Diógenes possuía uma ideologia a frente de seu tempo, com pensamentos
objetivos, o que transparecia franqueza, ou seja, a parrehsia. Nem só por sua fala franca
24 Entrevista concedida por Professor Doutor Jorge Luis Gutiérrez. Diógenes de Sinope e os cínicos. <http://jorgelrg.sites.uol.com.br/ENTREVISTA_DIOGENES.htm> Acesso em 12/10/2009.
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ele era conhecido, mas também pelo seu modo de viver. Simples em seus discursos,
tinha como alvo e público a sociedade altamente instruída da Grécia Clássica.
O cínico de Sinope deixou seus bens materiais para viver de modo simples,
para alcançar o que ele chamava de verdadeira felicidade.
REFERÊNCIAS
BERNADI, Carlos <www.rubedo.psc.br/artigosb/diogenes.htm> São Paulo, 2001. Acesso em 17/10/2009.
CUNHA, Hermison Frazzon da. <www.artigonal.com/literatura-artigos/a/lanterna-de-diogenes-520928.html> São Pedro do Sul/RS. 2008. Acesso em 17/10/2009.
DINUCCI, Aldo, Introdução à Filosofia. <vivavox.site90.com/CinismoAdinucci.pdf> São Cristóvão/SE. 2007. Acesso em 17/10/2009.
Entrevista concedida por Professor Doutor Jorge Luis Gutiérrez. Diógenes de Sinope e os cínicos. <http://jorgelrg.sites.uol.com.br/ENTREVISTA_DIOGENES.htm> Acesso em 12/10/2009.
FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. Curso dado no Collège de France (1981-1982) Edição estabelecida por Frédéric Gros sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana (Trad. Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail), 1981-1982. p. 17-133.
GOULET-CAZÉ, Marie Odile & BRANHAM, R. Bracht. Os Cínicos. O movimento cínico na Antiguidade e o seu legado. São Paulo: Edições Loyola. 2007. p. 43-112.
MARCONATTO, Arildo Luiz, <http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=30> 2008/2009. Acesso em 17/10/2009.
WELLAUSEN, Saly. <www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/.../michel%20foucaut.pdf> São Paulo. 1996. Acesso em 17/10/2009.
ZAMPIERI, Gilmar. <www.estef.edu.br/.../ESTEF_PESSOAL_28_10_2008_19_36_59_Diogenes.doc> São Paulo. 2007. Acesso em 18/10/2009.
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