Cinema Surrealista: Filme Fantasma Da Liberdade
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FILME: FANTASMA DA LIBERDADE
UMA ANÁLISE FÍLMICA DA OBRA SURREALISTA DE LUIS BUÑUEL
¹Adriana Rodrigues Suarez
e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Ponta GrossaDepartamento de Artes
Ponta Grossa, PR
. Resumo: O objetivo do presente artigo destaca características do gênero do cinemasurrealista, a análise da obra fílmica de Luis Buñuel, Fantasma da Liberdade,descrevendo através de uma leitura das cenas do filme, as figuras de linguagemsurrealista, onde o diretor apresenta situações do cotidiano, invertendo assim ascondições do ser humano em vários momentos, nada mais, que uma apresentação
de inversões de valores sociais e morais.
Palavras-chave: Cinema, Análise Fílmica, Surrealismo, Luis Buñuel.
Introdução
Esse artigo apresenta características de um filme surrealista e uma breve
análise fílmica da obra: Fantasma da Liberdade, este, penúltimo filme do mestre
espanhol Luis Buñuel, reconhecido como um dos mais importantes e hilariantes da
sua carreira, apresentando situações do cotidiano de pessoas, alterando
declaradamente todas as regras de conduta social, apresentando ao espectador
situações de puras representações da linguagem surrealista.
As características do cinema surrealista consistem na montagem que não
explica o real pela continuidade lógica e racional, como no cinema clássico, essalinguagem surrealista apresenta uma ruptura, no sentido da cena, cenário, da
narração, descontextualizando todos esses elementos da realidade, tornando-os
estranhos e dotados de naturezas que não as lógico-racionais. (NAPOLITANO,
2006, p.22)
Busca libertar o indivíduo das pulsões inconscientes, quebrando o fluxo
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verossímil, estimulando as associações livres não controlando o espaço e o tempo,
permitindo o inconsciente interagir, desligando-se do certo e do errado,
experimentando sensações que contrariam qualquer padrão ético (NAPOLITANO,
2006, p.28). Com uma linguagem surrealista, o filme Fantasma da Liberdade, do
diretor Luis Buñuel, não possui ao menos uma história lógica, mas, um conjunto de
cenas desconexas, o que nos intriga ao assistirmos, pois em determinados
momentos a percepção nos engana, acreditando que perdemos cenas importantes
para o entendimento do contexto geral.
Com essa linguagem surrealista, o diretor Luis Buñuel caracteriza uma
liberdade em relação às amarras sociais, como somos conduzidos no nosso dia a
dia, podendo somente ser experimentada por nós através da arte, das nossas
utopias, utilizando de absurdos, devaneios da mente, nos brindando com momentos
de extrema inteligência e sofisticação. (GERLINGS, 2008) Na ligação das cenas, o
diretor Luis Buñuel, constrói através de um personagem comum entre as cenas, isto
é, o figurante de uma cena, passa a ser protagonista de outra cena, sucedendo
assim um encontro entre a câmera e mais outro personagem.
Luis Buñuel nasceu na aldeia de Calanda, Teruel, na Espanha, em 22 de
fevereiro de 1900, conquistou em sua trajetória o título de consagrado diretor do
cinema surrealista, apresentando em suas obras fílmicas, espontâneos processos doinconsciente, mostrando como o próprio mundo é caótico e multifacetado. Trabalhou
com o grande artista plástico espanhol Salvador Dalí, de quem sofreu forte influência
surrealista. (GERLINGS, 2008, p.41)
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Metodologia
A realização desse artigo é de natureza interpretativa. A Análise fílmica faz
parte da proposta desse estudo; analisar um filme é sinônimo de decompor esse
mesmo filme. A metodologia para se proceder à análise de um filme, implica em
duas etapas importantes: em primeiro lugar decompor, ou seja, descrever e, em
seguida, estabelecer e compreender as relações entre esses elementos
decompostos, ou seja, interpretar. (VANOYE, 1994, p.15)
A decomposição recorre a conceitos relativos à imagem, fazer uma descrição
plástica dos planos. O objetivo da análise é o de explicar/esclarecer o funcionamento
de um determinado filme e propor -lhe uma interpretação. Após a identificação
desses elementos é necessário perceber a articulação entre os mesmos. Trata-se de
fazer uma reconstrução para perceber de que modo esses elementos foram
associados num determinado filme, no caso do corpus dessa pesquisa o filme O
Fantasma da Liberdade. (VANOYE, 1994, p.28).
Desenvolvimento
Análise das cenas selecionadas do Filme Fantasma da Liberdade
O filme Fantasma da Liberdade apresenta uma sequência de cenas, com
início do relato do que se passou em Toledo, na Espanha, em 1808, na época dasguerras napoleônicas, baseado num conto do escritor romântico espanhol Gustavo
A. Becquer e muito bem ilustrado pela obra pictórica Fuzilamento de 3 de Maio do
grande mestre espanhol do romantismo Francisco Goya, obra pictórica que plasma a
repressão ocorrida na Espanha após a invasão de Napoleão Bonaparte.
(GERLINGS, 2008, p.38)
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“Fuzilamento 3 de Maio”, 1814- óleo sobre tela (266X 345 cm)
A cena inicial é escura, com sons de tiros, bombardeamento, soldados com
uniformes muito bem caracterizados, senhores nobres e prisioneiros, estes sendo
levados presos, colocados contra a parede para que aconteça o fuzilamento,
remetendo assim ao poema e a obra pictórica citada acima.
Pelo poder de voz e postura, percebe-se a arrogância desses nobres e as
injustiças por eles praticadas. Já na sequência muda-se a luz do filme, se rompe o
som dos tiros e aparece um cenário com muita festa entre esses poderosos. Música,
bebidas e um momento de muita prepotência, o personagem de um oficial do
exército napoleônico que ao sentir fome, vai até o sacrário e alimenta-se de hóstias
sagradas, uma provocação à Igreja em relação ao significado do corpo de Cristo.
Este mesmo oficial do exército napoleônico beija uma escultura da esposa de um
cavalheiro já falecido, D. Elvira. A escultura do cavalheiro, de uma maneira hilária,
com seu braço, ataca a cabeça do personagem do oficial e este como forma de se
vingar, aposta com os outros oficiais do exército que levará para sua cama os restos
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mortais da D. Elvira, mas ao abrir o caixão a falecida está com o mesmo semblante,
conservando o frescor da sua juventude.
Na sequência fílmica, a troca pelo cenário acontece partindo do final do
século XIX para a segunda metade do século XX, onde duas mulheres sentadas em
um Parque, muito bonito, com um dia muito claro conversam e uma delas, está com
um livro como se contasse sobre a cena anterior, uma fantástica passagem de
ruptura cênica. Nesse quadro, um homem desconhecido, muito bem arrumado,
entrega para duas meninas cartões pedindo que não mostrem para os adultos,
somente para as crianças, dando parecer que são imagens pornográficas.
Ao chegarem a casa, uma das meninas apresenta para os pais os cartões,
esses ficam horrorizados com as imagens, chamam a empregada e a despedem por
não ter impedido esse acontecimento, logo aparece os pais com comentários
absurdos e em um momento a câmera mostra o que vinha a serem aqueles cartões,
nada mais que belos pontos turísticos, transmitindo ao espectador um desconforto
ao perceber a relação construída na cena.
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Na continuação da apresentação dessa análise, a cena comentada é a de
uma enfermeira que vai visitar seu pai doente, seguindo em viagem até a cidade que
ele se encontra. No meio do caminho ela se hospeda em um hotel de beira de
estrada, lá estão monges, que se encontram rezando para seu pai. Acontecem
situações durante esse período de hospedagem, onde torna bem clara a crítica do
autor sobre a Igreja e seus mandamentos. Os monges vão até o quarto da
enfermeira e convidam-na para jogar cartas, fumam e bebem de maneira exagerada.
Nessa mesma cena, chegam ao hotel um casal muito intrigante, um jovem e uma
senhora. Este jovem era sobrinho da mulher dirige-se ao quarto, o rapaz pede a
senhora que tire sua roupa, pois quer vê-la nua, a mesma faz toda uma encenação
contra esse pedido, mesmo assim ele arranca os lençóis, revelando um corpo muito
jovem da senhora, chocado ele sai do quarto e vai até o quarto de um outro casal.
Este casal convida os monges, a enfermeira e o rapaz para que participem de um
momento de sadomasoquismo.
Uma cena para exemplificar, como foi falado acima, sobre a passagem do
figurante como protagonista, é o momento que a enfermeira ao sair do hotel e seguir
sua viagem ao encontro do seu pai doente, dá carona a um personagem figurante,
um senhor que estava tomando café no hotel, ao deixá-lo em seu destino, este
passa a ser protagonista da próxima cena como professor de uma escola militar,desenrolando assim mais uma cena, com pontos surrealistas, característica do filme.
Esse professor encontra uma sala de aula totalmente atribulada, mesmo
sendo composta por militares, que carregam em seus princípios ordem e respeito,
fazem do professor um indivíduo ridicularizado. O professor então chama o coronel
que ao entrar na sala os alunos o respeitam, mostrando talvez a hipocrisia da
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sociedade e do exército. Nesse momento o professor, sob a supervisão do coronel,
conclui sua aula iniciando assim, outra passagem de cena do filme, que se faz
permear pela cena descrita acima.
A cena seguinte, o professor e sua esposa são convidados para um jantar.
Caracteriza-se pela total troca de valores sociais, onde na sala de jantar, no lugar
das cadeiras, encontram-se vasos sanitários, revistas sobre a mesa. Todos são
convidados a se sentarem em lugares pré- determinados pela dona da casa,
naquele ambiente, como se fosse uma sala de jantar, todos conversam sobre
assuntos diversos como problemas da industrialização, problemas sanitários que
envolvem o mundo, com uso de palavras grotescas, invertendo a situação do
contexto. Destacasse a fala de uma criança que diz estar com fome e a mãe chama-
lhe a atenção para que não fale essas coisas na mesa de jantar, ao mesmo tempo
os personagens fazem também suas necessidades fisiológicas, causando um
impacto visual dessa condição apresentada em público.
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Uma lembrança histórica remete a essa situação apresentada no filme
Fantasma da Liberdade, do diretor Luis Buñuel, ao contexto da Idade Média, qual
existia realmente uma cadeira com orifício central, posicionando-se um pinico, de
modo que as pessoas participassem do banquete sem que precisassem quando
necessário evacuar, deixar a mesa. (GERLINGS, 2008, p.25)
O professor ao puxar a descarga, levantasse da mesa e questiona a
empregada onde fica a sala de jantar, então essa o orienta que fica ao final do
corredor. Há uma “doce subversão”, palavras do próprio Buñuel, essa troca de
situações relata muito claramente a crítica feita pelo diretor, sobre a hipocrisia de
uma sociedade que apresenta discursos e atitudes inversas, tabus colocados em
contextos errôneos, aparentando atitudes coerentes. Uma sociedade presa a jaulas
psíquicas, tornando-se escravos de desejos, escravo de si mesmo, denunciando as
prisões a que estamos atados, por convenções sociais.
Ao ambiente que o professor se dirige caracteriza-se a mistura de um
banheiro à sala de jantar, fechado a esse espaço, ele se alimenta. Ao baterem na
porta, responde claramente que esse espaço está ocupado, voltando à cena inicial
do professor na sala de aula, encerrando esse capítulo fantástico.
Os pais recebem um telefonema da escola da filha informando-os que a
mesma desapareceu. Vão imediatamente à escola. Em todo o momento da cena amenina está presente, o que torna fascinante essa cena, que por algum momento,
você se depara com a situação, como se não compreendesse, ou que você teria
perdido alguma sequência do capítulo. Vão até a polícia, sempre a menina está ao
lado dos seus pais. Depois que a polícia da o comando de busca a toda equipe
policial de Paris, os pais voltam para casa com a menina, esperar que ela seja
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encontrada. Que loucura! A cena relatada nesse parágrafo confirma a condição de
não querermos enxergar coisas que estão a nossa frente, manias sociais de ocultar
ao olho nu situações perplexas que não queremos, por algum motivo, assumir para
não nos tornarmos responsáveis.
Na cena agora relatada, faz uma analogia entre justiça e injustiça,
apresentando um homem que inicialmente em seu discurso, engraxando seu sapato,
com um cão ao lado e discursando sobre a injustiça que as pessoas cometem em
relação aos animais. Deixa então o local, vai para o alto de um prédio e começa a
atirar sobre as pessoas que passam na rua, até que a polícia descobre. Este vai ao
julgamento e é condenado à pena de morte, mas de maneira espontânea, o policial
tira a algema do condenado, os advogados ainda no júri, oferecem lhe um cigarro e
o indivíduo saiu do tribunal livre e como se fosse um herói, distribuindo autógrafos.
Volta para a cena do desaparecimento da menina. Nesse momento o pai aguarda
o reencontro com a filha “desaparecida”, que entra na sala com sua mãe, o pai lhe
abraça e agradece ao advogado pela ação. O advogado começa a ler um
documento sobre uma explosão terrível que havia acontecido, sendo interrompido
pela secretária, avisando-o de um compromisso importante.
Ao desenrolar do filme, as cenas ficam cada vez mais confusas, com
situações surtadas e desconexas, apresentando todo contexto da linguagemsurrealista abordada pelo diretor Luis Buñuel, que critica de maneira cômica e muitas
vezes sórdida os valores sociais, alfinetando a burguesia e o clericalismo.
Uma cena que chama muita atenção pelas discussões sobre o mistério da
morte, um senhor em um bar relata o episódio da morte da sua irmã para uma
mulher que chega ao estabelecimento. Nesse relato ele entra no quarto da sua irmã
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e ela está nua tocando piano como se estivesse vestida, a atitude dele é de muita
naturalidade, quando volta à cena para o bar, o telefone toca e é anunciado que sua
irmã quer falar com ele e explicá-lo o mistério da morte.
Ele vai até o cemitério, como combinado e entra no túmulo em que a irmã foi
enterrada e é preso por uma equipe de policiais, por violação de sepultura. Cada vez
mais o filme apresenta situações sem sentido, trazendo claramente a exploração da
linguagem surrealista, ligada às perturbações do inconsciente humano. Depois o
homem preso é recebido por um comissário de polícia, onde conversam sobre
outras coisas, como se fossem velhos conhecidos e na verdade eles são
companheiros de profissão, muita confusão, encaminham-se para outra missão, ir ao
zoológico, onde eles querem impedir os animais de entrarem às jaulas. Aparecem
várias espécies de animais, encerrando a cena com sons de tiros, referindo-se ao
início do filme, quando o diretor abordou a situação de Toledo, na Espanha, mas
como protagonista desse momento, aparece uma Ema, observando tudo o que
estava acontecendo.
O diretor Luis Buñuel faz questão de deixar inúmeras incógnitas em vários
momentos do filme, levando o espectador à análise da situação, usando de
metáforas em situações do cotidiano, invertendo assim condições do ser humano
em vários momentos, como já falado nesse artigo, o filme apresenta nada mais queuma apresentação de inversões de valores sociais. (AUMONT, 1995, p.53)
“O pensamento que me segue guiando hoje, aos setenta e cincoanos, é o mesmo que me guiou aos vinte e sete. É uma idéia deEngels. O artista descreve as relações sociais autênticas com oobjetivo de destruir as idéias convencionais dessas relações, pôr emcrise o otimismo do mundo burguês e obrigar o público a duvidar daordem estabelecida.” (L. Buñuel)
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Conclusão
Nesse artigo, procurei discutir possíveis ralações surrealistas apresentadas
nas cenas selecionadas. O filme apresenta uma profunda interação entre a poética
pictórica e a poética fílmica, a partir de um diálogo constante, como se cada plano
fosse um quadro surrealista. As imagens sofrem influências tanto da percepção do
artista e do receptor, como da forma que é transmitida (AUMONT, 1995, p.47). Os
tipos de cenários, as tomadas e ângulos de câmera, o figurino, a fotografia,
enquadramentos, usados pelo diretor Luis Buñuel determinaram a mensagem e a
forma de interpretação de cada cena.
Ao analisar o filme, percebi a comunhão entre as artes surrealistas, da pintura
de Salvador Dalí e o Cinema de Luis Buñuel. Consigo compreender o papel da
pintura e o papel do cinema, sei que cada um tem sua particularidade, mas
claramente, para mim, conseguem “conversar” entre si. (AUMONT, 1995, p.23)
Ismail Xavier discursa sobre a criação do cinema, destaca sobre a linguagem
cinematográfica como os enquadramentos, campo, contracampo, planos,
decupagem, que me fez perceber a grande manipulação imagética que o cinema
produz para passar uma determinada mensagem. (XAVIER, 1997, p.82) Cada
detalhe torna-se essencial para a construção da cena, muito visível na decupagem
analisada. A construção dos planos é definida pela maneira com que o material
plástico do cinema é manipulado, conferindo unidade entre os planos, agindo sobre
a consciência do espectador.
As obras plásticas de Salvador Dalí, um dos artistas reconhecido na pintura
surrealista são baseadas na teoria freudiana dos sonhos, o que o levou a enfatizar
seu método paranóico crítico, onde utilizava as “fotografias de sonhos pintadas a
mão”, envolvendo assim a percepção de mais de uma imagem em uma
configuração, trabalhando essa confusão de interpretações metafóricas,
assemelhando-se a produção dos filmes de Luis Buñuel, que não seguiam uma
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lógica, pelo contrário, o ilógico é que fazia parte de toda linha de pensamento da
produção dos dois artistas: Dalí e Buñuel. (GERLINGS, 2008, p.71)
Essa parceria só poderia ter dado certo, pois com os pensamentos e criação
de revolução imagética, permitindo uma abertura da visão global do indivíduo
através de metáforas, representaram o inconsciente, dando abertura aos instintos
humanos e perturbando a análise dos valores socias de um mundo sofrido pelo
contexto da guerra. (GERLINGS, 2008, p.78)
Como espectadora senti uma provocação através das combinações estranhas,
das repetições produzidas pelo diretor, as quais romperam com a lógica da narrativa
clássica, algo muito em comum no movimento surrealista. O filme, em minha opinião,
atingiu esse rompimento do olhar cotidiano.
Referências
AUMONT et al. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995.
FILME “ Fantasma da Liberdade”. Disponível emhttp://www.cineplayers.com/critica.php?id=1048. Acessado em 15/09/2011.
GERLINGS.C. 100 Grandes Artistas. Belo Horizonte, MG: Cedic, 2008.
NAPOLITANO, M. Como usar o cinema em sala de aula. 4°ed. São Paulo: Contexto,
2006.
VANOYE, F. Ensaio sobre a Análise Fílmica, Campinas: Papirus, 1994.
XAVIER, I. O Discurso Cinematográfico: a Opacidade e a Transparência. Rio deJaneiro: Paz & Terra, 1997.
1-Graduada em Licenciatura em Artes Visuais, especialista em Arte Educação, Mestre em Comunicação e
Linguagens. Participo do Grupo de Pesquisa em Artes Visuais, Educação e Cultura- CNPq/UEPG,
Professora colaboradora do Curso de Artes Visuais/UEPG, com as disciplinas História da Arte, Reflexão em
Artes Visuais, e Professora no CESCAGE, do curso de Publicidade com a disciplina Estética e Cultura de
Massa e História da Arte.