cinema francês entra na idade da adolescência. Entre ante ... · e do mundo através das imagens...

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METROPOLIS 13ª Festa do Cinema Francês O festival que se propõe celebrar o cinema francês entra na idade da adolescência. Entre ante-estreias, secções temáticas e eventos paralelos, são 52 filmes para descobrir a partir de 4 de Outubro. Organizada pelo Institut Français du Portugal e os seus parceiros, desde o ano 2000 que a Festa do Francês assume um importante papel na promoção da cinematografia de origem francesa em Portugal, tornando-se uma das suas manifestações culturais mais respeitadas e populares. Uma das razões para o sucesso encontra-se no facto de não se realizar apenas em Lisboa, mas também por cidades onde a programação comercial das salas raramente contempla o cinema que não seja falado em inglês.

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O festival que se propõe celebrar o cinema francês entra na idade da adolescência. Entre ante-estreias, secções temáticas e eventos paralelos, são 52 filmes para descobrir a partir de 4 de Outubro.

Organizada pelo Institut Français du Portugal e os seus parceiros, desde o

ano 2000 que a Festa do Francês assume um importante papel na promoção

da cinematografia de origem francesa em Portugal, tornando-se uma das suas

manifestações culturais mais respeitadas e populares. Uma das razões para o

sucesso encontra-se no facto de não se realizar apenas em Lisboa, mas também

por cidades onde a programação comercial das salas raramente contempla o

cinema que não seja falado em inglês.

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A 13ª Festa, que começa no cinema S. Jorge de Lisboa a 4 de Outubro e termina em Guimarães a 9 de Novembro, passando ainda por Almada, Faro, Porto e Coimbra, não é imune à crise. O catálogo, por exemplo, deixa de ser gratuito, estando agora disponível por dois euros, um valor quase simbólico quando comparado com o que representa para os espectadores mais frequentes.

No entanto, é a própria programação que, nas palavras da organização, estará “atenta às inquietações e à realidade social” que marcam estes tempos, nomeadamente com a exibição, um ano depois do DocLisboa, de «Fragments d’une Revolution», uma crónica da gigantesca contestação política que se seguiu às fraudulentas eleições de 2009 que reconduziram Mahmoud Ahmadinejad à presidência do Irão através das imagens das câmaras digitais e telemóveis que a censura do regime não conseguiu controlar, significativamente assinado sob o pseudónimo de Ana Nyma por uma realizadora iraniana. Ou ainda de «Indignados», de Tony Gatlif, que reflecte sobre uma realidade muito próxima: o realizador de «Gadjo Dilo» e «Exílios», inspirado pelo grande sucesso literário “Indignai-vos” de Stéphane Hessell, cruza a ficção de uma jovem africana que chega à Europa e se vê confrontada com a hostilidade das autoridades, com as imagens dos protestos que atravessaram Espanha, França e Grécia em 2011, com ramificações hoje mais presentes do que nunca. Por sua vez, «L’Exercice de l’État» (premiado em Fevereiro com os César, a distinção máxima do cinema francês, para melhor argumento, actor secundário e som), descreve “a prática do poder, do Estado, através daqueles que o encarnam e que a ele se entregam”, nas palavras de Pierre Schoeller, o seu realizador, e «Le Fils de l’Autre», de Lorraine Levy e com Emmanuelle Devos, aborda a história de dois jovens, um israelita e outro palestiniano, que descobrem ter sido trocados acidentalmente quando nasceram. E o documentário «Journal de France» propõe uma viagem pelos últimos 50 anos da história da França e do mundo através das imagens do fotógrafo Raymond Depardon.

Curiosamente, estes títulos estão entre os 10 apresentados na principal secção, a das ante-estreias, que não estão adquiridos para exibição comercial no nosso país. Tendo em conta o histórico de edições anteriores, aconselha-se a maior atenção a estes inéditos, uma vez que a Festa constituirá provavelmente a oportunidade única para o seu visionamento já que nem costumam são recuperados posteriormente pelo mercado de vídeo.

Em relação às restantes propostas, que se seja que possam ser vistas mais cedo do que tarde nas salas nacionais, existem dramas com estrelas bem conhecidas do público português. Desde logo o título de encerramento, «De

Rouille et d’os», de Jacques Audiard, com Marion Cotillard, mas também os controversos «Captive», de Brillante Mendoza, com a presença monumental de Isabelle Huppert, «Elas», de Malgorzata Szumowska, com Juliette Binoche, e «Galinha com Ameixas», de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi, com Mathieu Amalric e Maria de Madeiros (a madrinha da Festa), a que se junta «Présumé Coupable», de Vincent Garenq, uma história verídica sobre a condenação de um homem por um crime que não cometeu.

Não obstante, talvez seguindo a recomendação de que o melhor remédio para esquecer as tristezas seja uma terapia de riso (e não foi «Amigos Improváveis» um dos maiores sucessos de 2012 em todo o mundo, incluindo em Portugal, onde foi visto por mais de 215 mil espectadores?), a comédia está presente em vários títulos da programação, numa aposta natural uma vez que o género que domina incontestavelmente as bilheteiras francesas. Uma das propostas da Festa é precisamente o maior sucesso do ano: «Sur la Piste du Marsupilami», de Alain Chabat e com o incontornável Jamel Debbouze,uma adaptação “de carne e osso” dos álbuns de banda desenhada concebidos por Franquin. E «Paulette», de Jérôme Enrico, o filme de abertura (e que, a par de “La Pirogue”, de Moussa Touré, é exibido no nosso país antes da estreia comercial em França), acaba por ser, de certa forma, uma reflexão social: uma idosa com uma magra reforma e dificuldades em chegar ao fim do mês decide iniciar-se na venda de haxixe depois de se aperceber dos negócios que ocorrem no seu bairro social!

A presença de convidados ligados às produções apresentadas e o debate estabelecido com os espectadores no final das sessões costuma ser um dos aspectos mais cativantes dos Festivais e a Festa não é excepção. Para além da presença natural de Maria de Medeiros, estão confirmados os actores Dominique Lavanant («Paulette»), Pascal Elbé e Jules Sitruk («Le Fils de l’autre»), Valérie Dréville («De Bon Matin»), Baya Belal («Le Cochon de Gaza»), dos realizadores Cécila Rouaud («Je me Suis Fait Tout Petit»), Pierre Schoeler («L’Exercice de l’État»), Mehdi Ben Attia («Je Ne Suis Pas Mort»), François Manceaux («Portugal, os Caminhos da Incerteza»), Camille Brottes Beaulieu «À l’abri de la Tempête») e Pierre Pinaud «Está no Ar») e da produtora Virginie Lacombe («Le Fils de l’Autre»).

Esperemos que as distribuidoras portuguesas saibam retribuir o esforço da organização da Festa do Cinema Francês, bem como a generosidade dos seus espectadores e convidados, apresentando e promovendo dignamente estes filmes nas salas de cinema…

Nuno Antunes

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A sessão de encerramento na capital fica por conta de um drama aclamado em Cannes, «De Rouille et d’os», a história de uma treinadora de orcas que sofre um acidente e se vê amputada das duas pernas e numa cadeira de roda. Parece ser um título incontornável nos próximos meses pois todos os analistas garantem que colocará

a sua protagonista, Marion Cottilard, novamente na rota dos Óscares. A realização é de Jacques Audiard, que tem direito a uma retrospectiva no cinema Nimas de Lisboa uma carreira que já inclui títulos como «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta».

Jacques Audiard

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Um Profeta

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Dos 20 filmes apresentados em ante-estreia, dez já têm os direitos de exibição

comercial adquiridos para

Portugal e estarão a concurso para

o Prémio do Público, iniciativa que

conta com grande adesão dos

espectadores da Festa e em que

a distribuidora do filme vencedor

recebe 2500€ para a campanha de

divulgação aquando da sua estreia

comercial. São eles: “Captive” (de

Brillante Mendoza), «De Rouille et

d’os» (Jacques Audiard), «Elles»

(Malgorzata Szumowska), “L’art

d’Aimer” (Emmanuel Mouret),

«Le Cochon de Gaza» (Sylvain

Estibal), «Paulette» (Jérôme

Enrico), «Parlez-moi de vous»

(Pierre Pinaud), «Galinha com

Ameixas» (Vicent Paronnaud e

Marjane Satrapi), «Sur la Piste du

Marsupilami» (Alain Chabat) e

“Un Heureux Évènement” (Rémi

Bezançon).

Os títulos apresentados em ante-

estreia que não têm exibição

comercial garantida são «Le fils

de l’autre» (de Lorraine Levy),

«Fragments d’une Revolution»

(anónima), «Je me suis fait tout

petit» (Cécilia Rouaud), «De bon

matin» (Jean-Marc Moutout), «Toi,

Moi, Les autres – Leila» (Audrey

Estrougo), «Journal de France»

(Raymond Depardon, Claudine

Nougaret), «Présumé Coupable»

(Vincent Garenq), «Indignados»

(Tony Gatlif), «L’exercice de l’état»

(Pierre Schoeller) e «La Pirogue»

(Moussa Touré).Sur la Piste du Marsupilami

Le Fils de L’Autre

Journal de France

De Rouille et d’os

Présumé Coupable

Le Cochon de Gaza

Je me suis fait tout petit

De bon matin

Poulet aux Prunes

La Pirogue

Indignados

Captive

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Un Heureux Évènement

Paulette

L’Exercice de L’ëtat

Fragments d’une revolution

Toi, Moi, Les autres - Leila

Parlez-moi de vous

L’Art d’Aimer

Elles

Sur la Piste du Marsupilami

Le Fils de L’Autre

Journal de France

De Rouille et d’os

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Maria de Medeiros será a Madrinha desta 13ª Festa, sucedendo a Sandrine Bonnaire e Carole Bouquet, escolhendo e apresentando seis títulos de uma carreira como actriz, realizadora e cantora que, como evoca a organização, personifica a relação estreita entre Portugal e França: «À l’abri de la tempête» (2010), «Capitães de Abril»

(2000), «Je t’aime, Moi Non Plus – Artistes et Critiques» (2004), «Je Ne Suis Pas Mort» (2011), «Três Irmãos» (1994) e «Viagem a Portugal» (2011). Maria de Medeiros será a Madrinha desta 13ª Festa, sucedendo a Sandrine Bonnaire e Carole Bouquet, escolhendo e apresentando seis títulos de uma carreira como actriz, realizadora e cantora que, como evoca a organização, personifica a relação estreita entre Portugal e França: «À l’abri de la tempête» (2010), «Capitães de Abril» (2000), «Je t’aime, Moi Non Plus – Artistes et Critiques» (2004), «Je Ne Suis Pas Mort» (2011), «Três Irmãos» (1994) e «Viagem a Portugal» (2011).

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Vale a pena ainda destacar um ciclo que não costuma receber tanta atenção mediática, o “Universo de Animação”, que inclui as ante-estreias de «L’apprenti Père Noël», de Luc Vinciguerra, “Zarafa”, de Rémi Bezançon e Jean-Christophe Lie, «Couleur de peau: Miel», uma mistura de animação com documentário assinada por Laurent

Boileau & Jung Henin. O homenageado com uma retrospectiva é Jean-François Laguionie, figura incontornável no género, que apresentará «Gwen, le Livre de Sable» (1985), a sua primeira longa-metragem, «La Fabrique –, L’île de Black Mór» (2004) e o seu mais recente filme, «Le Tableau» (2011), que foi nomeado este ano para o César de Melhor Filme de Animação. Com direito a programar um filme, a ele também lhe podemos agradecer a apresentação do clássico da animação «O Planeta Selvagem» (1973), de René Laloux. Vale a pena ainda destacar um ciclo que não costuma receber tanta atenção mediática, o “Universo de Animação”, que inclui as ante-estreias de «L’apprenti Père Noël», de Luc Vinciguerra, “Zarafa”, de Rémi Bezançon e Jean-Christophe Lie, «Couleur de peau: Miel», uma mistura de animação com documentário assinada por Laurent Boileau & Jung Henin. O homenageado com uma retrospectiva é Jean-François Laguionie, figura incontornável no género, que apresentará «Gwen, le Livre de Sable» (1985), a sua primeira longa-metragem, «La Fabrique –, L’île de Black Mór» (2004) e o seu mais recente filme, «Le Tableau» (2011), que foi nomeado este ano para o César de Melhor Filme de Animação. Com direito a programar um filme, a ele também lhe podemos agradecer a apresentação do clássico da animação «O Planeta Selvagem» (1973), de René Laloux.

Em parceria com a Cinemateca Portuguesa será homenageado o realizador Olivier Assayas com a exibição de 12 dos seus filmes, incluindo o mais recente, «Après Mai», com Lola Créton e Dolores Chaplin, que ainda não estreou em França. Atenção à oportunidade para ver a versão longa de «Carlos».