Cine Cap7finalizacao

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  Apostila de C inematog rafia – Pro f. Filipe Salles  58 C A PÍT UL O 7 PROC ESSOS DE FINA L IZAÇÃO EM CINEMA 1 . O c inem a e o vídeo A partir da observação de uma constante evolução da tecnologia do vídeo, é possível entender como se interagem o cinema e o vídeo na produção audiovisual contemporânea. A convergência entre as mídias visuais de movimento se acelera a cada ano, tanto pelo custo como pela facilidade, e também por razões ecológicas. Até mesmo os termos deixaram de significar suportes estagnados, de diferenças intransponíveis; já se fala genericamente de audiovisual  p ara produç ões de cinema, de deo ou ambas simultaneamente. A razão pela q ual estes dois sistemas passaram a conversar tão intimamente faz parte de uma lógica de mercado que almeja o barateamento e otimização dos processos de produção nesta indústria, mas que também envolve diversos outros fatores, como a facilidade de armazenar e distribuir o produto final (um vídeo ou um DVD inteiro por exemplo, que podem ser baixados na internet) e democratiz ão dos mei os de produç ão. Mas, a realidade brasileira ainda não comporta todas as facilidades e vantagens destes processos híbridos, em parte porque não temos uma indústria que sustente a produção autônoma, e consequentemente, não temos concorrência comercial que permitiria o barateamento imediato de diversos processos. Mas existe uma tendência mundial que converge para o suporte eletrônico da imagem, pelo custo, questões ambientais e facilidades que os processos digitais oferecem, e que em algum tempo haverá de tornar a película fotográfica e cinemato gráfi ca r es tr i ta a pe que nos gr upo s ou artesão s es p ecializados. Mas então, por qual motivo a película ainda é utilizada? Porque ainda é o melhor suporte para captação de imagens, tanto em qualidade quanto em custo. Em termos simples, a quantidade de memória necessária para armazenar uma imagem eletrônica com qualidade similar a um fotograma de cinema 35mm é aproximadamente 10 megabytes. Considerando que o c inema func iona a 24 f.p.s ., um l ong a -metr ag em de 120 minutos teria a p r oxima da mente 172.800 fotogramas, o que seria equivalente a 1.728.000 megabytes de memória necessária, sendo que na produção semp r e se filma p elo me nos 3 vez es o tempo estimado do fi lme, no r malmente. Uma fita magnética não tem condições de armazenar tal quantidade de informação, e isso significa uma imensa quantidade de Hard-disks para armazenar a imagem captada que teria de ser levada ao set de filmagem, como realmente foi em alguns casos, como  Star Wa rs Ep isod e II  e  Supe rman Re turns. Mas é claro que, por enquanto, isto só é possível em produções de alto orçamento gerad o pela forte indús tr ia a mer icana. Em todos os outros casos, é mais prático, eficiente e barato filmar diretamente em película 35mm. Mas e quanto aos outros processos de vídeo? Uma câmera de HDTV 1080p não poderia simular uma boa i mage m? Es ta é uma ques tão relati va, dep endendo de c omo é c ap tad a, qua l o tratamento dado à imagem na finalização e qual será o suporte final. Isso porque, sempre que geramos uma cópia reduzida da imagem original, esta cópia terá melhor qualidade do que se feita originalmente no seu tamanho final (ver o texto “Bitolas Formatos”). E, do contrário, se uma i mage m for a mpl iada na c óp ia, a pe rda de qua lidade é inevi tável e qua l quer s is tema. Is s o é ba s tante vi vel qua ndo li ga mos a televisão e de cara pe rcebemos se es tá p assando um filme ou uma novela. As qualidades de captação de ambas são diferentes, e portanto percep veis, pois quando a qualidade de c ap taç ão é muito grande, mesmo s endo ap r esentada numa televisão (que limita à sua capacidade as linhas visíveis), a imagem apresenta notórias diferenças, que para o olho se traduz numa imagem melhor. E o mais interessante é que a i mag em tem o mesmo número de linhas s emp re (uma televisão não po de aumentar o número de linhas só porque está passando uma imagem captada com mais linhas), mas como a imagem original possui mais informação que o suporte que a reproduz (no caso a TV), essa diferença é entendida como uma imagem de melhor qualidade, por causa da definição original e outros fator es , como c ontr aste, saturaç ão de c or e latitude.

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Texto trata do vídeo. Uma das primeiras experiências praticadas na década de 1980.

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    CAPTULO 7 PROCESSOS DE FINALIZAO EM CINEMA

    1. O cinema e o vdeo A partir da observao de uma constante evoluo da tecnologia do vdeo, possvel

    entender como se interagem o cinema e o vdeo na produo audiovisual contempornea. A convergncia entre as mdias visuais de movimento se acelera a cada ano, tanto pelo custo como pela facilidade, e tambm por razes ecolgicas. At mesmo os termos deixaram de significar suportes estagnados, de diferenas intransponveis; j se fala genericamente de audiovisual para produes de cinema, de vdeo ou ambas simultaneamente. A razo pela qual estes dois sistemas passaram a conversar to intimamente faz parte de uma lgica de mercado que almeja o barateamento e otimizao dos processos de produo nesta indstria, mas que tambm envolve diversos outros fatores, como a facilidade de armazenar e distribuir o produto final (um vdeo ou um DVD inteiro por exemplo, que podem ser baixados na internet) e democratizao dos meios de produo.

    Mas, a realidade brasileira ainda no comporta todas as facilidades e vantagens destes processos hbridos, em parte porque no temos uma indstria que sustente a produo autnoma, e consequentemente, no temos concorrncia comercial que permitiria o barateamento imediato de diversos processos. Mas existe uma tendncia mundial que converge para o suporte eletrnico da imagem, pelo custo, questes ambientais e facilidades que os processos digitais oferecem, e que em algum tempo haver de tornar a pelcula fotogrfica e cinematogrfica restrita a pequenos grupos ou artesos especializados.

    Mas ento, por qual motivo a pelcula ainda utilizada? Porque ainda o melhor suporte para captao de imagens, tanto em qualidade quanto em custo. Em termos simples, a quantidade de memria necessria para armazenar uma imagem eletrnica com qualidade similar a um fotograma de cinema 35mm aproximadamente 10 megabytes. Considerando que o cinema funciona a 24 f.p.s., um longa-metragem de 120 minutos teria aproximadamente 172.800 fotogramas, o que seria equivalente a 1.728.000 megabytes de memria necessria, sendo que na produo sempre se filma pelo menos 3 vezes o tempo estimado do filme, normalmente. Uma fita magntica no tem condies de armazenar tal quantidade de informao, e isso significa uma imensa quantidade de Hard-disks para armazenar a imagem captada que teria de ser levada ao set de filmagem, como realmente foi em alguns casos, como Star Wars Episode II e Superman Returns. Mas claro que, por enquanto, isto s possvel em produes de alto oramento gerado pela forte indstria americana.

    Em todos os outros casos, mais prtico, eficiente e barato filmar diretamente em pelcula 35mm.

    Mas e quanto aos outros processos de vdeo? Uma cmera de HDTV 1080p no poderia simular uma boa imagem? Esta uma questo relativa, dependendo de como captada, qual o tratamento dado imagem na finalizao e qual ser o suporte final. Isso porque, sempre que geramos uma cpia reduzida da imagem original, esta cpia ter melhor qualidade do que se feita originalmente no seu tamanho final (ver o texto Bitolas Formatos). E, do contrrio, se uma imagem for ampliada na cpia, a perda de qualidade inevitvel e qualquer sistema.

    Isso bastante visvel quando ligamos a televiso e de cara percebemos se est passando um filme ou uma novela. As qualidades de captao de ambas so diferentes, e portanto perceptveis, pois quando a qualidade de captao muito grande, mesmo sendo apresentada numa televiso (que limita sua capacidade as linhas visveis), a imagem apresenta notrias diferenas, que para o olho se traduz numa imagem melhor. E o mais interessante que a imagem tem o mesmo nmero de linhas sempre (uma televiso no pode aumentar o nmero de linhas s porque est passando uma imagem captada com mais linhas), mas como a imagem original possui mais informao que o suporte que a reproduz (no caso a TV), essa diferena entendida como uma imagem de melhor qualidade, por causa da definio original e outros fatores, como contraste, saturao de cor e latitude.

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    Assim, se a inteno que a imagem seja reproduzida na TV, a captao em 1080p daria uma excelente impresso, e que talvez confundisse at especialistas, pois a imagem se pareceria muito com pelcula telecinada. Mas, se a inteno for uma ampliao para o suporte qumico, a pelcula, esta imagem certamente no ter a mesma qualidade que uma pelcula original. Isso ruim? No necessariamente. Mas preciso conhecer os resultados de cada caso para julgar economica e esteticamente uma escolha entre a captao e finalizao dos processos audiovisuais modernos.

    Primeiramente, o cinema e o vdeo, por estarem em suportes diferentes, precisam ser convertidos um no outro para trabalharem em conjunto. Vamos ver como isso funciona:

    Telecinagem o processo pelo

    qual a imagem da pelcula cinematogrfica transformada em sinal de vdeo. Existem diferentes maneiras de realizar a telecinagem, desde filmar com uma cmera de vdeo uma projeo de cinema (obviamente um mtodo tosco), at a telecinagem digital de ltima gerao. O princpio o mesmo, cada fotograma do filme lido por um CCD eletrnico e transformado em sinal eltrico, da seguindo normalmente como o vdeo: escolhe-se o sistema de cor (NTSC, PAL, etc.), o formato e a compresso do material telecinado (DV, Beta, etc.). Os telecines profissionais so capazes de varrer continuamente a pelcula qualquer que tenha sido a velocidade de captao, bem como eliminar a flicagem decorrente da diferena de batimento entre o obturador do cinema e os frames do vdeo.

    Fig.7 Esquema de telecinagem

    com Pull Down 3:2 Esta ltima propriedade

    importante e necessita de uma explicao mais minuciosa: a maioria dos filmes foram captados em 24 f.p.s., e o vdeo no padro NTSC trabalha com 29,97 f.p.s divididos em 2 fields, totalizando, como j visto, 59,94 quadros por segundo reais. Ento, na telecinagem, preciso converter 24 em

    60, praticamente, e por isso existe um processo chamado Pull Down, que calcula diferentes razes para repetir ou suprimir fotogramas a cada tanto e assim obter um movimento contnuo sem flicagem nem diferenas perceptveis de movimento entre um e outro. Na figura 7 da pgina anterior, possvel entender o esquema de um pull down na razo 3:2, ou seja, cada fotograma de cinema copiado 3 e 2 vezes intercaladas, provocando por vezes duas imagens no mesmo frame, cada uma num campo.

    Todo filme visto pela TV, pelo vdeo-cassete ou DVD, ou qualquer outro meio eletrnico, foi telecinado.

    Fig.8 um telecine moderno

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    Film Transfer o processo inverso da telecinagem, quando se passa de um sinal eletrnico para a pelcula cinematogrfica. H pouco tempo o transfer era tambm conhecido como Kinescopia, processo mais rudimentar e pouco utilizado hoje em dia, porm mais barato. A Kinescopia consistia basicamente na filmagem em pelcula de um monitor de vdeo de alta definio, tambm com batimento controlado para evitar a flicagem da diferena de quadros. Este processo tornou-se obsoleto a partir do desenvolvimento de uma nova tecnologia capaz de varrer o negativo de um fotograma de cinema com luz, gerada a partir da informao eletrnica, como um scanner invertido: a imagem projetada (varrida) quadro a quadro no negativo. Os sistemas mais comuns de film transfer so atualmente:

    - CRT Raio catdico convencional - LASER Sistema da Arriflex o Arrilaser que varre o negativo com um feixe de laser,

    imprimindo a imagem do vdeo na pelcula. - EBR Sistema da SONY, por eltrons, que grava separadamente o RGB em pelcula

    preto-e-branco, como um Technicolor Digital. A grande vantagem de gravar em vdeo progressivo e no mais entrelaado pode ser entendida no processo de film transfer: no uso de uma cmera 24p, possvel fazer o transfer sem pull down, j que cada frame do vdeo equivale a um fotograma da pelcula.

    2. Processos de Finalizao Entende-se por finalizao toda a etapa posterior produo de um filme, ou seja, aps

    ter sido rodado. Ela comea teoricamente na prpria edio do filme, mas alguns autores consideram a finalizao apenas o processo posterior edio. Atualmente, com os sistemas qumicos e eletrnicos mesclando-se, as etapas de finalizao variam muito, em termos de qualidade, preo e meios de veiculao/distribuio. Por isso faz-se necessrio conhecer, pelo menos em linhas gerais, cada um dos principais processos utilizados na ps-produo de um filme. Terminada a etapa de finalizao, o produto audiovisual estar pronto para ser projetado em qualquer meio.

    A Finalizao Tradicional: Sistema tico-qumico

    Depois de todo o material filmado, este revelado e copiado num laboratrio de cinema. Tem-se, ento, o negativo do filme, que fica guardado no prprio laboratrio ou numa cinemateca, climatizada e com controle de umidade, e que no tocado em nenhum momento at que a montagem esteja pronta.

    O copio, como chamada a cpia de trabalho, vai para a moviola, e entra o papel do montador, essencial e importantssimo, que uma funo exclusiva da ps-produo. O montador vai pegar o copio, que contm tudo o que foi filmado, e vai, em vrias etapas, fazer a edio do filme, que o corte da pelcula (fisicamente,

    com uma guilhotina e durex para colar as partes), montando assim todos os planos na seqncia correta e com o mximo de fluidez de movimentos possvel, por vezes suprimindo trechos inteiros. Muitas vezes pensamos em planos que no roteiro funcionam bem; na moviola, entretanto, estes planos por vezes so dispensveis, suprfluos, ou ainda simplesmente no montam, no se encaixam, obrigando o montador a exclu-los. Por isso essa funo se chama montagem, ou edio. H pouco tempo havia uma distino entre montagem e edio, para diferenciar da montagem em vdeo, a edio. Mas ambas querem dizer a mesma coisa e hoje tanto faz.

    Fig. 9 Acima, uma moviola de 4 pratos: 1 ou 2 para imagem e 2 ou 3 para som. A maioria das

    moviolas trabalha com 1 prato para imagem e 3 para som.

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    Fig. 10 direita, uma coladeira. Os copies de trabalho so cortados e emendados com durex

    nelas. H uma imensa bibliografia e uma grande

    quantidade de textos tericos falando exclusivamente da montagem, tal sua importncia para o cinema. O cineasta russo Serguei Eisenstein escreveu duas grandes obras que tratam da esttica do cinema, com especial meno para a montagem, atravs de teorias que ele prprio desenvolveu na prtica, e esses ttulos esto disponveis no Brasil: A Forma do Filme e O Sentido do Filme.

    Uma outra funo da montagem a sincronizao do som. O som, em cinema, no captado na cmera, e sim num gravador externo, que deve atender a trs requisitos bsicos: tima qualidade gravao (resposta de freqncia), praticidade (fcil manuseio e transporte) e principalmente possibilidade de sincronismo com a imagem, uma vez que externo cmera e no h cabos ligando um ao outro. Os equipamentos disponveis para isso so o clssico Nagra (Fig.11, que se utiliza de fita de de polegada), e os modernos DAT (Digital Audio Tape). Apesar das diferenas, as razes para se

    trabalhar com um ou outro so muitas, e mesmo um Nagra analgico (existe a verso digital) por vezes ser requisitado. Este gravadores tm motor regulados com cristais de quartzo, e, portanto, no variam a velocidade, podendo ser usados com qualquer cmera que opere com motor similar, garantindo o sincronismo perfeito entre som e imagem. Para facilitar esse sincronismo na moviola, usada a claquete, que nada mais que uma chapa de madeira dotada de uma pequena ripa, tambm de madeira, na sua parte superior,

    presa por uma dobradia. Esta ripa deve ser levantada e batida na chapa de madeira, produzindo um som. A batida da claquete captada pelo gravador e o movimento pela cmera, gerando um ponto de referncia para o sincronismo, que ser achado posteriormente na moviola.

    Fig. 11 & 12 esquerda, o gravador Nagra, e direita, uma claquete Uma vez que o som foi todo captado, ele deve ser transcrito, de seu formato original de

    captao (que uma fita , no caso do Nagra, ou fita DAT) para um magntico perfurado. O magntico perfurado nada mais que uma fita magntica, como os antigos k-7, s que bem maior, e com as mesmas perfuraes que a pelcula de cinema, para poder ser sincronizada na moviola, uma vez que o sincronismo depende das rodas dentadas que tracionam o filme e o som. A transcrio tambm deve ser feita com todos os rudos adicionais e com a msica, para que tudo possa ser montado na moviola, ocasionando um rolo de copio em pelcula e dois, trs ou mais rolos de magntico com o som. Assim, da mesma maneira que a imagem do copio, o som tambm cortado, fisicamente, e emendado com durex, obtendo um ou mais copies de som montados.

    A prxima etapa a mixagem, para transformar todos os rolos de magntico perfurado numa nica fita magntica perfurada, j com todas as pistas balanceadas. Conferido o sincronismo na moviola, essa fita com todo o som do filme transcrita novamente, desta vez para

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    uma pelcula de cinema, para um filme. a chamada transcrio tica, ou seja, numa mquina especfica, o som lido e traduzido em termos de vibraes eltricas (como os antigos LPs), movimentando uma agulha de luz que impressionar a lateral de um filme negativo preto-e-branco, de alto contraste. Esta pelcula igual a qualquer filme, deve ser revelada no laboratrio. Obtemos ento o negativo de som.

    Fig. 13 O som tico: um canal

    (mono), direita, e 2 canais (streo) abaixo. As ampliaes so de material positivo.

    Na moviola feita uma marca de referncia tanto no som como na imagem, para que

    ambos se mantenham em sincronismo na cpia final. Nesta altura, o som j est praticamente finalizado, e a imagem j est montada. Mas, para a cpia final, preciso voltar ao negativo.

    Uma vez montado, o filme vai para o corte de negativo. A sim que o negativo ser requisitado, mas no pelo montador, e sim pelo montador de negativo, que uma outra funo tambm especfica e muito importante. Para fazer uma cpia final do filme preciso que ela no

    tenha emendas (o copio, no final, estar cheio de emendas de durex), e para isso preciso reproduzir exatamente o corte feito do copio no negativo, s que com cuidados especiais, pois o negativo no pode ser riscado e nem cortado errado.

    Fig.14 Nmero de bordo, esquerda, impresso no filme Isso possvel graas a um nmero impresso na base de todo o

    filme, o nmero de bordo (fig.14) e que o montador de negativo, ao verificar o nmero no copio, procura o mesmo nmero no negativo. Achando o trecho cortado, reproduz o mesmo nmero de fotogramas a partir do corte e faz o mesmo: corta fisicamente o negativo, s que monta

    no mais com durex, e sim com uma cola especial que permite a passagem na mquina copiadora.

    Agora s falta a marcao de luz. Esta etapa a ltima a ser realizada, quando tudo j est

    pronto, e de responsabilidade exclusiva do fotgrafo do filme. Consiste na determinao da filtragem de cpia, ou seja, no balanceamento da luz e da cor de cada plano, a fim de manter uma coerncia das luzes entre os planos e a unidade esttica do filme. uma marcao necessria, conforme j descrito na funo do fotgrafo, em razo de um filme no ser feito com planos filmados cronologicamente, variando condies de luz, revelao e cpia, e que precisam ser uniformizados.

    E assim, quando temos o negativo montado e marcado, e o som tico revelado, basta unir ambos na copiadeira, mquina do laboratrio que sobrepe 3 pelculas, simultaneamente ou consecutivamente: o negativo montado, o negativo de som e o filme para cpia virgem, que so transpassados por um feixe de luz, gerando assim uma cpia positiva pronta para exibio.

    Fig. 15 Cpia final (no caso, 16mm), j com o som tico.

    importante lembrar que, para manter o sincronismo do som e da imagem na

    sobreposio dos negativos, preciso que ambos tenham um ponto comum, chamado Start,

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    que o ponto a partir de onde o laboratrio copiar ambos os negativos. Se o montador no colocar o Start do som ou da imagem no lugar certo, a cpia perder o sincronismo.

    Sistemas modernos de Edio e Ps-Produo Este o processo clssico de finalizao, que feito h mais de 100 anos nas

    cinematografias de todo o mundo. Entretanto, modernamente, h diversas outras alternativas, que ainda so muito caras, mas que j so comuns em muitas produes. Antes de falar sobre elas, bom lembrar que esse processo acima descrito funciona muito bem, e que processos modernos nada mais so que extenses para facilitar algumas etapas, mas que a grosso modo no podem ser suprimidas, e sim otimizadas ou abreviadas conforme o processo escolhido. isso que torna os processos hbridos to interessantes.

    Modernamente, possvel trabalhar com ilha de edio digital, e no mais com a moviola, ou seja, no h necessidade do copio. Para isso, deve-se gerar um sinal especfico chamado Time-Code. Esse Time-Code, ou TC, pode ser gravado na prpria pelcula durante a filmagem ou mesmo ser gerado na telecinagem, e serve para sincronizar a edio em ilhas digitais, tais como AVID, Final Cut ou Premire. Modernamente se utiliza uma claquete eletrnica (fig.17) para este fim, que gera um TC simultneo para a cmera e para o DAT, deixando ambos sincronizados sem necessidade de bater a claquete. Ao entrar com as informaes no AVID, ele j sincroniza automaticamente, j que o TC o mesmo.

    Fig.16 AVID, moderna ilha de edio eletrnica

    Essas mquinas de edio lem o TC de todos os cortes, mas o TC em si de nada serve

    para finalizao em pelcula, uma vez que o montador de negativo precisa achar os cortes pelo nmero de bordo. Por este motivo, existe o Key-Code, que a informao do nmero de bordo da pelcula em cdigo de barras, lido tambm pelos telecines. Os programas de edio reconhecem o Key code do telecine e, ao final da edio, o programa gera uma Cut List, que

    uma converso do TC dos cortes em nmero de bordo, feita comparando ambos. O key code vem impresso na pelcula de fbrica (Kodak, Fuji), ou gerado pela cmera no caso de utilizar claquete eletrnica (Aatoncode, Arricode), e atravs dele a mquina fornece uma lista de corte para o negativo.

    Fig. 17 Claquete eletrnica Esse novo sistema teoricamente reduz os gastos de

    copiar o filme, e todos os demais gastos com as transcries de som (s seria necessria a transcrio tica), mas os telecines no Brasil no so ainda dos mais baratos do mundo, e para gerar uma cpia final, ainda preciso considerar muito bem os oramentos, solues tcnicas e facilidades para optar corretamente por algum sistema. A seguir, um esquema dos principais:

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    CAPTAO EDIO FINALIZAO SUPORTE FINAL

    1. Mtodo clssico Pelcula 16mm,

    35mm

    Copio Som magntico perfurado

    Edio em Moviola

    Som tico Montagem de negativo

    Marcao de luz

    Cpia final pelcula Projeo em Pelcula

    2. Pelcula 16mm, Super-16, 35mm,

    Super-35

    Telecinagem Normal (DV/Mini DV ) Edio eletrnica

    som digital cut-list

    Som tico Montagem de negativo / marcao Internegativo / Blow-up tico (no caso de Super-16 ou Super-35)

    Cpia final pelcula Projeo em Pelcula

    3. Pelcula 16mm, Super-16, 35mm,

    Super-35

    Telecinagem HD (2k / 4k) Edio eletrnica Digital intermediate

    Blow-up digital Film Transfer

    Som tico Montagem de negativo

    Marcao de luz

    Cpia final pelcula Projeo em Pelcula

    4. Pelcula 16mm, Super-16, 35mm,

    Super-35

    Telecinagem Intermediria (Beta / HDTV) Edio eletrnica

    Som digital

    Som e imagem digitais em suporte vdeo

    Marcao de luz eletrnica

    TV ou projeo digital

    5. Vdeo DV, HDV, HDTV

    2k, 4k

    Edio eletrnica Som digital

    Compresso dependendo do formato final

    Correo Tape to tape

    TV ou projeo digital

    6. Vdeo DV, HDV, HDTV

    2k, 4k

    Edio eletrnica Som digital

    Film Transfer Volta para pelcula Som tico

    Marcao de luz

    Cpia final pelcula Projeo em Pelcula

    Percebe-se que existem muitas possibilidades para finalizao, e como os processos so

    muito diferentes, preciso ter claro como e qual ser o produto final para optar por qualquer um deles desde o incio. Mudar durante o processo perigoso e pode acarretar perda significativa da qualidade original.

    E mesmo considerando processos bem planejados, a diferena de qualidade que cada um apresenta considervel e por vezes gritante. H que se dizer que quando temos finalizao em vdeo, por exemplo para projeo digital, s formatos acima de HDTV (2k e 4k) resultaro em imagens com qualidade similar pelcula. O mesmo se pode dizer do transfer. Se um original em vdeo for passado para pelcula, apenas nestes formatos (do chamado cinema digital ) que apresentaro qualidade suficiente para confrontar o 35mm.

    Quanto captao em vdeo, vale dizer que a maior parte das cmeras trabalha em HDTV 1k (por volta de 1000 linhas), e as poucas cmeras que fazem 2k ou 4k, como a Viper film stream, tem o inconveniente da impossibilidade do armazenamento em fitas, o que torna o sistema muito pouco prtico (sem considerar o custo), conforme citado anteriormente. So necessrios caminhes de Hard-disks para o registro do filme todo e por este motivo a pelcula ainda sobrevive.

    Na figura 18 adiante podemos ver um esquema que resume os principais tipos de finalizao a partir da captao Super-35 3 perfuraes:

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    A ilustrao demonstra de forma prtica as possibilidades de finalizao a partir da pelcula, telecine para finalizao em vdeo, para intermediao digital com efeitos ou mesmo com intermediao tica para projeo direta.

    Conforme a tecnologia vai se modificando, novos mtodos so acrescidos e outros caem em desuso, razo pela qual o profissional de cinema, e principalmente da rea de fotografia ou finalizao, deve estar sempre atento a estas novidades, Me digam se isso no muito louco?

    Os sistemas modernos de finalizao tendem a privilegiar uma relao em que os custos caiam, os processos sejam mais rpidos e a qualidade no seja prejudicada. A questo da qualidade muito relativa em termos de finalizao, mas a idia sempre que possvel conseguir a melhor imagem como matriz, o que significa, considerando o custo x benefcio, o 35mm, j em seu formato Super com 3 perfuraes. Esse mtodo permite uma telecinagem 2k ou 4k e finalizao toda digital com possibilidade de ser feito transfer ou mesmo ser projetado digitalmente, com diferena muito pouco perceptvel para o pblico em geral. Mtodos assim (com algumas variaes) foram utilizados em filmes como Amlie Poulain, Lord of the Rings e at nos nacionais O invasor e Deus brasileiro.

    A realidade do cinema brasileiro, entretanto, ainda bem diferente, j que o preo da telecinagem 2k (aqui no feito 4k) muito alto em relao ao custo total de uma produo, o que significa que em geral bem mais barato manter toda a finalizao em pelcula, apenas telecinando para montagem em AVID, conforme descrito no item 2 do quadro de sistemas. E provvel, em algum tempo, que as salas de cinema com projeo digital logo se tornem mais comuns e baratas, de tal maneira que a captao em pelcula e a finalizao eletrnica devero coexistir por um bom tempo ainda.

    BIBLIOGRAFIA:

    BROWN, Blain. Cinematography: Image Making for Cinematographers, Directors, and Videographers, Focal Press, 2002

    BROWN, Blain. Cinematography: theory and practice. Amsterdam: Focal Press, 2002 MALKIEWICZ, Kris. Cinematography : A Guide for Film Makers and Film Teachers, Simon &

    Schuster, 2nd edition, 1992 RYAN, Rod (org.) American Cinematographer Manual, ASC Press, CA, EUA, 7 Edio, 1993