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Ciência Veterinária nos Trópicos v. 18 nº 1

janeiro-abril/2015

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DE PERNAMBUCO – CRMV-PE

DIRETORIA EXECUTIVAMed. Vet. Erivânia Camelo de Almeida

PresidenteMed. Vet. Geraldo Vieira de Andrade Filho

Vice-presidenteMed. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual

Secretária-geralMed. Vet. Maria Luiza de Melo Coelho da Costa

Tesoureiro

CONSELHEIROS TITULARESMed. Vet. João Alves do Nascimento JúniorZootec. Valderedes Martins da SilvaMed. Vet. Paulo Ricardo Magnata da FonteMed. Vet. Jadson Queiros Alves JuniorMed. Vet. Mariana Gomes Ferreira M. de SiqueiraMed. Vet. Maria Claudia Ribeiro Agra

CONSELHEIROS SUPLENTESMed. Vet. João Ferreira CaldasMed. Vet. Elton Figueiroa Medeiros de SouzaMed. Vet. Marcos André FernandesMed. Vet. Francisco Hermano Q. CavalcanteMed. Vet. Maria José de Sena

SEDE DO CRMV/PE Rua Conselheiro Theodoro, 460, Zumbi, Recife, PE, CEP 50711-030Fone: 081-3797.2517 | Fax: 081-3797.2506www.crmvpe.org.br

Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Resolução nº 652, de 18 de novembro de 1998.

INDEXAÇÃORevista Ciência Veterinária nos Trópicos está indexada na base de dados da Cabi Abstracts, Agris e Agrobase.

CONSELHO EDITORIAL

EDITORHélio Cordeiro Manso Filho

EDITORES ASSOCIADOSMárcia de Figueiredo PereiraKésia Alcântara Queiroz PontualAndre Mariano BatistaJosé Wilton Pinheiro JuniorGustavo Férrer Carneiro

JORNALISTA RESPONSÁVELEldemberga Grangeiro dos Anjos

Reg. Prof. 3686 DRT-PE

REVISÃO TÉCNICA Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual

EDITORAÇÃO GRÁFICAJônathas Souza

Mameluco Design

PERIODICIDADEQuadrimestral

SITEEdições da Revista Ciência Veterinária nos Trópicos estão disponíveis no site www.rcvt.org.br

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Sumário Table of Contents

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Características seminais de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços em condições de clima tropicalSeminal and testicular characteristics of Dorper, Santa Inês and crossbreed rams in a semi-arid tropical environmentMAIA, M.S.; SILVA, J.V.C.; MEDEIROS, I.M.; LIMA, C.A.C.;

MOURA, C.E.B.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças

Campolina e Mangalarga MarchadorDMRT3 mutant allele in batida and picada gaited

horses from Campolina and Mangalarga Marchador breeds

MANSO FILHO, H.C.; COTHRAN, E.G.; JURAS, R.; GOMES

FILHO, M.A.; SILVA, N.M.V.; SILVA, G.B.; FERREIRA, L.M.C.;

ABREU, J.M.G.; MANSO, H.E.C.C.C.;

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Indigestão por manga (Mangifera indica) em bovinos - Primeiro relato

Indigestion for mango (Mangifera indica) in bovine - first report

RIZZO, H.; CARVALHO, J.S.; HORA, J.H.C.; RODRIGUES, F.M.;

FRAGA, G.J.M.; VILLA-LOBOS, E.M.C.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Toxic levels of zinc in mineral salt mixtures used in beef cattle

suplementationNiveis tóxicos de zinco em misturas minerais

utilizadas na suplementação de bovinos para corteMARÇAL, W.S.; NASCIMENTO, M.R.L. MENCK, M.F.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Determinação das variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos Mangalarga

Marchador durante prova oficial de marcha

Physiological and biochemical findings in Mangalarga Marchador horses during official competition of

marchaSILVA, M.C.P.; BERKMAN, C.; BADIAL, P.R.; SARMENTO,

E.C.L.B.S.; OLIVEIRA, N.G.F.; RAPHAEL, U.B.; MEDEIROS,

J.M.Q.; TEIXEIRA, L.G.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Fraturas dos metacárpicos acessórios e a incidência da desmite do suspensório

de boleto em cavalos de pólo: estudo retrospectivo de 35 casos

Fractures of the accessories metacarpals bones and incidence of desmitis of the suspensory ligament in

polo’s horses: retrospective study of 35 casesBERNARDO, J.O.; ESCODRO, P.B.; MARIZ, T.M.A.; DIAZ,

K.A.F.; BITTAR, M.J.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Ocorrência espontânea de linfoma maligno em ovelha: Relato de casoSpontaneous Occurrence of Malignant Lymphoma in Sheep: Case ReportREGO, R.O.; SOUZA, J.C.A.; MENDONÇA, C.L.; SILVA, R.J.;

SILVA, N.A.A.; RIET-CORREA, F.; AFONSO, J.A.B.

REVISÃO DE LITERATURA • LITERATURE REVIEW Nitrato na alimentação de ruminantes mitiga a produção de metanoNitrate in ruminant feeding mitigates methane production FREIRE, A.P.A.; SILVA, F.L.M.; POLIZEL, D.M.; SUSIN, I.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservadoEffect on supplementation of three taurine’s concentration in cryopreserved goat spermLIMONGI, R.; ARAÚJO SILVA, R.A.J.; BATISTA, A.M.;

GUERRA, M.M.P.; SILVA, S.V.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomiasClinical and histopathological aspects of bitches with breast cancer that underwent mastectomyRÊGO, M.S.A.; FUKAHORI, F.L.P.; DIAS, M.B.M.C.; SILVA,

V.C.L.; LEITÃO, R.S.C.S.; SANTOS, F.L.; PEREIRA, M.F.; LIMA,

E.R.; ALMEIDA, E.L.

Informações Gerais

Editorial

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Informações Gerais revista Ciência Veterinária nos Trópicos é editada quadrimestralmente pelo Con-selho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE), e destina--se a divulgação de trabalhos técnico-científicos (trabalhos originais de interesse na área de ciência veterinária e zootecnia, ainda não publicados, nem encaminha-dos a outra revista para o mesmo fim) e de notícias de cunho profissional, ligadas

a área de ciência veterinária em meio digital.Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal de Me-

dicina Veterinária (Resolução no 652, de 18 de novembro de 1998).

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:

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Informações a respeito do Regulamento Editorial e Normas de Estilo poderão ser obtidas atra-vés do site: http://www.rcvt.org.br e do e-mail [email protected]

Os artigos publicados nesta Revista são indexados nas bases de dados: CABI ABSTRACTS, AGRIS E AGROBASE

Ciência Veterinária nos Trópicos, v. 18, n. 1 (jan-abr 2015) – Recife: CRMV – PE, 2015

Quadrimestral ISSN 1415-6326

1. Veterinária – Ciência – Periódico I. Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco, Recife, PE.

CDD 636.08905

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Editorial

Hélio Cordeiro Manso FilHo

stamos iniciando o ano de 2015 com mais uma edição da revista Ciência Veterinária nos Trópicos, e nessa oportunidade estaremos publicando 10 novos trabalhos nas diferentes áreas da Ciência Veterinária.

O trabalho de revisão, que dá início ao novo volume, vai em direção de um dos temas atuais associado à melhor convivência entre a criação de animais, a ecologia e o bem-estar dos animais. Nele é abordado tema de como a suplementação com minerais pode afetar a produção de metano nas criações de ruminantes, sem deixar de observar que o excesso de nitrato poderá causar toxidade.

Em seguida teremos uma publicação que aborda, com detalhes, a problemática do câncer em caninos. No caso detalha a histopatologia dos tumores de mama em cadelas após a mastectomia. Trabalho rico em figuras e sempre atual na medicina de pequenos animais.

Ainda nesse mesmo volume há mais três publicações que relatam aspectos impor-tantes na criação dos pequenos ruminantes. A primeira delas nós trás informações sobre as características do sêmen de ovinos Dopper, Santa Inês e mestiços em condições tropicais. Esses animais passaram a fazer parte dos sistema de criação no Nordeste mas ainda há poucos estu-dos combinados com esses grupos. O segundo, refere-se ao aos efeitos da suplementação com taurina sobre a qualidade do sêmen congelado de caprinos, o que ainda desperta muita atenção dos pesquisadores pois nem sempre esse tipo de processo tem obtido sucesso com o observado nos bovinos. Finalmente, a revista apresenta uma publicação com a ocorrência de um tipo de tumor em ovinos, o que não é um acontecimento regularmente diagnosticado devido as carac-terística de criação desses animais. Esse trabalho estar fartamente ilustrado, facilitando bastante a compreensão do processo.

Nas publicações com bovinos, a revista apresenta duas novas publicações. Uma de-monstra como os animas podem ser acometidos de problemas nutricionais devido aos erros do manejo. No primeiro caso há um relato de caso sobre a indigestão por consumo excessivo de mangas, e no segundo apresenta uma detalhada discussão sobre os níveis tóxico de zinco em produtos comerciais utilizados na suplementação com sal mineralizado para bovinos. Esse último, em inglês, inicia a internacionalização de nossa revista.

Finalmente a revista termina com a apresentação de três trabalho que envolvem os equinos de esporte. Em um deles os autores demonstram como os animas de marcha utilizam os compostos energéticos durante as provas de marcha, utilizando animais com diferente ida-des. Em seguida outro grupo de pesquisadores descrevem a presença do gene DMRT3, que é conhecido como “gait keeper” e responsável pela dissociação nos andamentos marchados. E por último há uma publicação sobre a ocorrência de fraturas nos animais de pólo, esporte que não é praticado em nosso região mas bastante desenvolvido em todo o Mundo.

Esperamos que a leitura desses temas tão atuais, sejam importantes para todo e que contribuam para o desenvolvimento profissional e cultural de todos os leitores. Também gos-taríamos de convidar a todos para que “socializem” as suas experiência e pesquisas em nossa revista, para assim contribuir a a Ciência Veterinária nos Trópicos.

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Nitrato na alimentação de ruminantes mitiga a produção de metanoAna Paula Alves FREIRE¹*, Fernanda Lavínia Moura SILVA¹, Daniel Montanher POLIZEL¹, Ivanete SUSIN¹

RESUMO

O metano e o dióxido de carbono são subprodutos naturais da fermentação microbiana principalmente de carboidratos e em menor extensão dos aminoácidos no rúmen e no intes-tino grosso dos animais. O fator primário que afeta a produção de metano pelos ruminantes é a alimentação, pelo fato de fornecer substrato para as bactérias metanogênicas. Mudanças na alimentação dos animais através do uso estratégico de recursos disponíveis, com uma dieta equilibrada com base nas necessidades fisiológicas dos animais contribui com a redução da produção de metano. O nitrato quando fornecido na dieta de ruminantes promove o uso de íons hidrogênio para sua conversão em amônia. Alguns microrganismos são capazes de reduzir nitrato a nitrito e então nitrito a amônia com o uso de hidrogênio, assim a metanogênese pode ser reduzida. No entanto, o fornecimento de nitrato, em teores excessivos para ruminantes, sem cuidados quanto à adaptação dos animais as dietas, pode levar a ocorrência de metahemoglo-binemia. Para evitar a intoxicação recomenda-se que haja adaptação dos animais aos teores de nitrato.

P A L A V R A S - C H A V E Amônia, Gases de efeito estufa, Metahemoglobina, Metano entérico, Nitrito.

Nitrate in ruminant feeding mitigates methane production

ABSTRACT

Methane and carbon dioxide are natural products of microbial fermentation primarily of carbohydrates and lesser extent of amino acids in rumen and intestine of the animals. The main factor affecting methane production in ruminants is the food, due to providing substrate for methanogenic bacteria. Changes in animal nutrition through the use of strategic resources, with a balanced diet based on the physiological needs of animals contributes to the reduction of methane production. Nitrate when added in ruminant diet promotes the use of hydrogen ions for its conversion to ammonia. Some microorganisms are able to reduce nitrate to nitrite and then nitrite to ammonia using hydrogen, and therefore methanogenesis can be reduced. However, the supply of nitrate, without an adaptation period, in levels that exceed the rumi-nant capacity to use it can lead to the occurrence of methemoglobinemia. To avoid poisoning is recommended an adaptation period of animals to the nitrate content.

K E Y W O R D S Ammonia, Enteric methane, Greenhouse gases, Methemoglobin, Nitrite

1 Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Departamento de Zootecnia - Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal e Pastagens. Piracicaba, SP, Brasil.

* Autor correspondente: [email protected]

INTRODUÇÃO

A atividade enzimática microbiana no rúmen resulta da hi-drólise da maior parte da matéria orgânica dietética, e o metano proveniente da digestão dos alimentos representa perda de ener-gia para o animal e contribui para o aumento do metano presen-te na atmosfera. A fermentação microbiana da matéria orgânica por microorganismos do rúmen depende de um abastecimento de NAD+, o qual é convertido para NADH e o H2 e seus elétrons do

NADH são usados pelas Archaea para reduzir CO2 em metano, permitindo que NAD+ seja regenerado para que a fermentação possa continuar (NOLAN et al., 2010).

O fornecimento de nitrato na ração de ruminantes promove o uso de hidrogênio competindo com a produção de metano. O nitrato além de mitigar metano (NOLAN et al, 2010; VAN ZI-JDERVELD et al., 2011; EL-ZAIAT et al., 2014; NEWBOLD et al., 2014), fornece amônia para a síntese de proteína micro-biana no rúmen (LENG, 2008). Pesquisas que utilizam aditivos

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Nitrato na alimentação de ruminantes mitiga a produção de metano

alimentares, como o nitrato, sem prejudicar o desempenho pro-dutivo dos animais e que ainda permitem utilizar a energia que seria perdida com a produção de metano, são importantes para determinar melhor utilização dos nutrientes.

EMISSÕES DE METANO

Os principais gases responsáveis pelo efeito estufa são: a) o dióxido de carbono, produzido através da queima de com-bustíveis fósseis e queima da biomassa; b) o metano que pode ser produzido naturalmente em solos inundados, em lavouras de arroz e oriundo da fermentação ruminal e produzido arti-ficialmente ou de fontes sintéticas na produção de gás natural, mineração de carvão, tratamento de esgoto e aterros sanitários; c) os clorofluorcarbonos, oriundos da atividade industrial; d) o óxido nitroso liberado após aplicação de fertilizantes nitroge-nados em áreas agrícolas (LASSEY, 2008; MILICH, 1999).

A pecuária representa uma importante fonte de liberação dos gases do efeito estufa gerando dióxido de carbono, óxido nitroso e metano tanto de forma direta, através da fermentação ruminal nos ruminantes ou de forma indireta, através das ati-vidades, como por exemplo, na produção de rações (HRISTOV et al., 2013b). O metano produzido pelos ruminantes com-preende 17% e 3,3% das emissões globais de metano e gases de efeito estufa, respectivamente (KNAPP et al., 2014). O metano do esterco tanto de ruminantes e não ruminantes contribui de 2% das emissões globais de metano e 0,4% das emissões globais de gases de efeito estufa (KNAPP et al., 2014). Ovinos e caprinos produzem 10 a 16 kg de CH4/ano e bovinos cerca de 60 a 160 kg de CH4/ano, dependendo do tamanho corporal e da ingestão de matéria seca pelo animal.

As técnicas de mensuração da produção de metano per-mitem que diversas pesquisas sejam realizadas utilizando uma diversidade de aditivos e ingredientes alimentares que atuam sobre a metanogênese nos ruminantes. Estratégias de alimen-tação são importantes para que a eficiência de utilização do alimento seja aumentada e ainda, que venha a contribuir com a redução da produção de metano. No contexto global, aten-ção especial deve ser colocada na mitigação das emissões dos gases de efeito estufa. Em 2005, a Europa, a América do Norte e os países da antiga União Soviética produziram 46,3% de carne e leite de ruminantes e foram responsáveis por apenas 25,5% das emissões de metano. Em contraste a Ásia, África e América Latina produziram quantidades semelhante (47,1%) de carne e leite, no entanto as emissões de metano produzido por ru-minantes foi de 69% (O’MARA, 2011). Isso é devido aos paí-ses em desenvolvimento, possuirem a maioria dos agricultores trabalhando em pequenos sistemas lavoura-pecuária. Nessas regiões a eficiência é reduzida, pois os pequenos agricultores normalmente contam com maior número de animais de baixa produção, com baixa qualidade da alimentação e baixo poten-cial genético.

Melhoria na alimentação dos animais através de uso estra-tégico de recursos disponíveis, com uma dieta equilibrada com base nas necessidades fisiológicas dos animais contribui com a redução da produção de metano.

Fermentação ruminal e microrganismos metanogênicosA maior parte do metano é produzido pela fermentação no

rúmen-retículo e grande parte é emitido pelas narinas e boca e somente cerca de 3% do metano emitido é proveniente do reto (MUÑOZ et al, 2012). O metano é produzido em condições anaeróbias por microrganismos metanogênicos presentes no rúmen. A sua produção é modulada principalmente pela pre-sença de dióxido de carbono e de hidrogênio livre no ambien-te ruminal, onde, a partir do hidrogênio livre, ocorre a redução do dióxido de carbono por microrganismos metanogênicos, com consequente formação de metano. A fermentação de equivalentes de glicose liberados a partir de polímeros de car-boidratos é um processo oxidativo sob condições anaeróbias que ocorre na via Embden-Meyerhof e formando co-factores reduzidos como o NADH. Estes cofactores reduzidos devem ser re-oxidados para NAD para que a fermentação de açúca-res tenha continuidade. NAD+ é regenerado por transferência de elétrons para outros receptores de oxigênio (CO2, sulfato, nitrato e fumarato) (MOSS; JOUANY; NEWBOLD, 2000). O H2 é um dos principais produtos finais da fermentação por protozoários, fungos e bactérias, e não há acúmulo no rúmen porque ele é imediatamente utilizado por outras bactérias. No rúmen, a formação de metano é a principal via de eliminação do hidrogênio por meio da seguinte reação: CO2 + 4H2 → CH4 + 2H2O (MOSS; JOUANY; NEWBOLD, 2000)

O fator primário que afeta a produção de metano pelos ru-minantes é a alimentação, pelo fato de fornecer substrato para as bactérias metanogênicas. A conversão anaeróbia para produ-ção de metano no primeiro passo, ocorre a hidrólise de políme-ros orgânicos (tais como o polissacarídeos, lipídios, proteínas e gorduras) em monômeros orgânicos solúveis e este passo é realizado por bactérias anaeróbias, tais como Bacterioides, Clos-tridium, e Streptococcus. O segundo passo envolve a fermentação anaeróbia de monômeros em H2, CO2, acetato, propionato e butirato. A terceira etapa, a metanogênese, envolve a conver-são de acetato, H2 e CO2 em metano pelas Archaeas (LIU e WHITMAN, 2008). A metanogênese é considerada uma etapa limitante, e a atividade das Archaeas é importante para a ma-nutenção da digestão anaeróbia eficiente e evita o acúmulo de H2 e ácidos graxos de cadeia curta (LIU e WHITMAN, 2008).

As Archaeas são vulneráveis a parâmetros tais como tem-peratura, pH, e podem ser inibidas por produtos químicos (LIU e WHITMAN, 2008). Os microrganismos metanogênicos pertencem a um separado domínio de Archaea sobre o reino dos Euryarchaeota e encontram-se em vários outros ambientes anaeróbios além do rúmen. A maioria das Archaeas no rúmen utilizam energia para o seu crescimento pela redução bioquí-mica de CO2 com H2, e algumas bactérias utilizam acetato e compostos contendo grupo metil para produzir metano (LIU e WHITMAN, 2008).

As Archaeas estão presentes no rúmen em quantidade que varia de 107 a 109 células/mL de líquido ruminal que irá de-pender do tipo da dieta fornecida ao animal, especialmente o conteúdo de fibra na ração (KAMRA, 2005). No rúmen, as Archaeas estão associadas com os protozoários (LANGE; WES-TERMANN; AHRING, 2005), portanto, qualquer aditivo que reduz a população de protozoários irá inibir a produção de

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Ana Paula Alves Freire et al.

metano. As Archaeas também interagem com outros micror-ganismos ruminais em uma competição pelo uso do hidrogê-nio para produzir metano e outros produtos finais na fermen-tação ruminal.

ESTRATÉGIAS ALIMENTARES PARA REDUÇÃO DA PRODUÇÃO DE METANO

Há várias estratégias estudadas para redução do metano e elas podem ser classificados em três grandes categorias: a pri-meira é o manejo alimentar, pelo fornecimento de alimentos de boa qualidade e aumento da produtividade animal e eficiên-cia alimentar. Alguns alimentos podem aumentar ou diminuir a produção de propionato, diminuindo H2 que seria converti-do a metano; a segunda são os modificadores ruminais, pela adição de substâncias específicas que direta ou indiretamente inibem as bactérias metanogênicas; a terceira é o aumento da produção animal através da genética e outras abordagens de gestão, com a melhoria de utilização de nutrientes para fins produtivos, aumentando a eficiência alimentar e diminuindo a produção de metano por unidade de produto, seja carne ou leite (KNAPP et al., 2014).

Devido à má qualidade de algumas pastagens, o manejo do pastejo pode não ser uma opção viável para melhorar a nu-trição animal em muitas regiões, e a melhoria da produtivida-de deve vir pelo fornecimento de forragens conservadas ou ali-mentos concentrados. O crescimento da produção de grãos de cereais geralmente acompanhou o crescimento da população mundial (HRISTOV et al., 2013a), no entanto é questionável se grande quantidade de grãos estarão disponíveis para a alimen-tação dos animais ruminantes. Aumentar a inclusão de grãos nas rações dos ruminantes pode ser economicamente viável para aumentar a produção de leite e, particularmente, a produ-ção de carne e, assim, reduzir o impacto ambiental da pecuária, porém, é questionável a longo prazo (HRISTOV et al., 2013b).

Manipulando a composição nutricional da alimentação de ruminantes pode-se alterar a produção de metano, pois a composição e a qualidade dos alimentos interferem na fer-mentação e nos produtos da fermentação ruminal. Segundo Johnson e Johnson (1995), a produção de metano é influen-ciada pelo nível de ingestão de ração, o tipo de carboidrato da dieta e a alteração da microflora ruminal. Desta maneira, estra-tégias alimentares que reduzam as emissões de metano podem trazer benefícios não somente ao meio ambiente, mas também ao próprio ruminante. Para reduzir a produção de metano pe-los ruminantes alguns aditivos estão sendo estudados e utili-zados, como os ionóforos; lipídeos; os receptores de elétrons, por exemplo o nitrato; componentes secundários de plan-tas, como taninos condensados, saponinas e óleos essenciais (ODONGO et al., 2007; GRAINGER et al., 2010; TAN et al., 2011; MOHAMMED et al., 2011; JORDAN et al., 2006; VAN ZIJDERVELD et al., 2011; EL-ZAIAT et al., 2014; NEWBOLD et al., 2014). Além disso, estratégias também são utilizadas, tais como a defaunação; a inclusão de concentrado na ração dos ruminantes e alteração do processamento de rações (HALES, COLE e MCDONALD, 2012).

O modo de ação depende do aditivo, mas pode incluir inibição direta da metanogênese, supressão de protozoários ciliados, fornecer ou estimular um caminho competitivo para eliminação de H2 (KANAPP et al., 2014). Quando as Archaeas são reduzidas ou eliminadas, uma outra rota deve existir para eliminação de hidrogênio, ou as concentrações de hidrogênio no rúmen aumentará e potencialmente inibe a fermentação. Segundo Brown et al. (2011), idealmente este dissipador de hi-drogênio alternativo resultaria na produção de um composto que pode ser absorvido e metabolizado pelo animal de modo que a energia não seja perdida.

Nitrato na alimentação de ruminantesSob certas condições, uma grande variedade de plantas po-

dem acumular quantidades de nitrato. Além disso, certas ervas daninhas que normalmente habitam pastagens ou lavouras tam-bém pode acumular nitratos. No entanto, grãos de cereais e con-centrados proteicos raramente contêm concentrações de nitrato apreciáveis. O nitrato não é distribuído uniformemente em plan-tas, por exemplo, onde os teores são normalmente mais elevados em hastes, menor em folhas e extremamente baixo em sementes (LENG, 2008). Nos animais em pastejo sob condições normais, as concentrações de nitrato são baixas e não são significativas no que diz respeito à quantidade de nitrogênio necessário para a fermentação microbiana eficiente no rúmen. É apenas sob condi-ções especiais que o nitrato é elevado o suficiente para estar perto das exigências do nitrogênio ruminal (LENG, 2008). Além do nitrato naturalmente encontrado nas pastagens, é possível forne-cê-lo como ingrediente nas rações de ruminantes como uma fonte de nitrogênio não-proteico.

As bactérias ficam aderidas ao epitélio ruminal e liberam enzimas nitrato redutase e nitrito redutase que são produzidas somente quando há presença de substrato, o nitrato é reduzido a nitrito e posteriormente a amônia (KOZLOSKI, 2009). Stephen-son e Whetham (1925) mostraram que Echerichia coli reduz o nitrato a nitrito na presença de doadores de hidrogênio, como lac-tato, glicerol, ácido succínico ou ácido málico. Adicionalmente, segundo Woods (1938), a Escherichia coli e Clostridium welchii foram capazes, na presença de hidrogênio, de reduzir o nitrato a amônia quantitativamente. Em experimento in vitro, o pH ótimo para redução do nitrato e nitrito são 6,2 e 5,6, respectivamente e na presença de hidrogênio o nitrato é reduzido a amônia com o consumo de hidrogênio, de acordo com a equação: KNO3 + 4H2 NH3 + 2H2O + KOH (LEWIS, 1951a). O nitrato é um inibidor da metanogênese ruminal, no entanto, é preciso ter cuidado quan-to aos riscos de toxicidade por nitrito.

O fornecimento de nitrato, em teores excessivos para rumi-nantes sem cuidados quanto à adaptação dos animais as dietas podem levar a ocorrência de metahemoglobinemia. A metahemo-globinemia é uma condição causada pela oxidação do ferro férri-co da hemoglobina, tornando a molécula incapaz de transportar oxigênio, ocorrendo assim anóxia celular (VAN ZIJDERVELD et al., 2011). Isso se deve ao nitrato ser reduzido pelas bactérias ruminais a nitrito, que ao ser absorvido, oxida o íon ferro da he-moglobina no sangue que se transforma em metahemoglobina (LEWIS, 1951b). Segundo Hubert e Voordouw (2007) a adição de sulfato à dieta contendo nitrato atua como doador de elétrons na redução de nitrito à amônia, evitando a formação de metahe-

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Nitrato na alimentação de ruminantes mitiga a produção de metano

moglobina. Além disso, é importante também o fornecimento gradativo dos teores de nitrato aos animais, para que possibilite adaptação da microbiota ruminal e assim tenha capacidade de reduzir nitrato a amônia.

A utilização de nitrato tem mostrado benefícios quanto a re-dução do metano produzido pelos ruminantes, e, além disso, é uma fonte de nitrogênio não protéico para a microbiota ruminal. Nolan et al. (2010) estudaram ovinos da raça Merino alimentados com feno de chaffed oaten e uma fonte de nitrogênio não-protei-co (5,54 g de ureia por kg de feno ou 4% de KNO3). Os autores registraram que os animais alimentados com KNO3 tiveram au-mento dos ácidos graxos de cadeia curta no rúmen, principalmen-te acetato. A produção de metano (L/kg matéria seca consumida) nesses animais foi 23% menor na dieta com KNO3. Os autores constataram que a redução da produção de metano duas horas após a alimentação não permaneceu. Assim, talvez uma forma de liberação lenta do nitrato pode melhorar a mitigação de metano e reduzir o nitrato e o nitrito absorvido pelo rúmen e assim reduzir o risco de toxicidade. Corroborando com os autores citados ante-riormente van Zijderveld et al. (2010) constataram que a produ-ção de metano (L/dia) reduziu 32% em ovinos alimentados com ração contendo nitrato e 16% nos animais que consumiram sulfa-to. Os autores estudaram ovinos da raça Texel substituindo ureia por 2,6% de nitrato em dietas contendo, 2,6% de sulfato, 2,6% de nitrato + 2,6% de sulfato e sem adição de ambos. Na redução de nitrato no rúmen há utilização de quatro moles de hidrogênio, equivalendo ao decréscimo de 25,8g de metano por cada 100 g de nitrato consumido. O nitrato influenciou na redução dos mi-crorganismos metanogênicos, e segundo os autores, foi devido a menor disponibilidade de elétrons para essas bactérias ou ainda pela toxicidade do nitrito a esses microrganismos.

O nitrato influencia na redução dos microrganismos metano-gênicos, devido à menor disponibilidade de elétrons para essas bactérias ou ainda pela toxicidade do nitrito a esses microrganis-mos (VAN ZIJDERVELD et al., 2010; HULSHOF et al., 2012). Segundo Iwamoto, Asanuma e Hino (2002), a presença de nitrato favorece o crescimento das bactérias Selenomonas ruminantium, Veillonella parvula, e Wolinella succinogenes, pois estas bacté-rias são nitroredutoras e obtem energia a partir da redução de nitrato e/ou nitrito; e além disso, as bactérias redutoras podem reduzir a metanogênese ruminal sem acumúmulo de hidrogênio. Segundo El-Zaiat et al. (2014), a inclusão de 4,51% de nitrato de cálcio encapsulado (contendo 60,83% NO3

- na matéria seca) reduziu a população de protozoários no rúmen de 22,55 (× 105/mL) em uma dieta controle para 19,90 (× 105/mL) quando adicio-naram nitrato de cálcio. Esta redução foi devido os protozoários estabelecerem uma estreita relação simbiótica com as bactérias metanogênicas. Protozoários são conhecidos por produzir gran-des quantidades de H2, o qual é utilizado pelas bactérias metano-gênicas, encontrados dentro e próximas aos protozoários (MOR-GAVI et al., 2010).

Zhou, Yu e Meng (2012) estudaram a incubação in vitro de feno de alfafa com concentrações de 12, 24, 36 e 48 µmol/mL de nitrato e observaram que a produção de metano foi inibida com o acréscimo do nitrato e os microrganismos metanogênicos reduzi-ram. Também as populações de F. succinogenes e R. flavefaciens foram reduzidas, sugerindo que estas espécies são sensíveis ao

nitrato. Foi sugerido que o nitrito inibe bactérias que produzem ATP através de sistemas de transporte de elétrons, mas não as bactérias que não possuem citocromos e utilizam ATP através da fosforilação de substratos (MARAIS et al., 1988). Este modo de atuação aos microrganismos pode explicar, pelo menos parcial-mente, a inibição que o nitrato causa a R. flavefaciens que obtém para 50% do seu ATP através de processos de transporte de elé-trons (DAWSON et al., 1979). Segundo Zhou, Yu e Meng (2012) a administração de nitrato resultou em aumento no pH e dimi-nuição das concentrações totais de ácidos graxos de cadeia curta quando a concentração de nitrato foi em 24 µmol/mL ou superior.

A suplementação com nitrato (22g/kg de matéria seca) em comparação com dieta contendo ureia fornecida a bovinos Nelo-re x Guzerá reduziu a ingestão de matéria seca (HULSHOF et al., 2012). No entanto, os autores observaram que a adição de nitrato não influenciou na concentração de ácidos graxos de cadeia curta totais, sugerindo pouca inibição dos microrganismos devido ao nitrato. Os autores constataram ainda que a emissão de metano reduziu em 32% nas dietas com nitrato, e possivelmente, o ni-trato como um dissipador de elétron não foi a única razão para a diminuição da emissão de metano, podendo o efeito tóxico do nitrito intermediário ter afetado os microrganismos e consequen-temente a fermentação ruminal. Estequiometricamente, 4 moles de hidrogênio são redirecionadas para a redução de 1 mole de nitrato, equivalente a 258,7 g de metano por kg de nitrato. A miti-gação de metano obtida foi de 5,0 g de metano por kg de matéria seca ingerida, resultando em uma eficiência de 87% (HULSHOF et al., 2012).

van Zijderveld et al. (2011) estudaram a adição de 2,1% de nitrato de cálcio em substituição a ureia em dietas com teores de 34% de concentrado fornecido a vacas. Os autores observaram uma redução da produção de metano em 16% (g de metano por kg de matéria seca ingerida), e o consumo de matéria seca não foi alterado na dieta com nitrato (25 g de nitrato por kg de matéria seca). Quando é fornecido um teor elevado de nitrato, é provável que parte do nitrato ingerido e do nitrito formado no rúmen sejam absorvidos através da parede do rúmen para o sangue e perdido na urina (TAKAHASHI et al., 1998).

El-Zaiat et al. (2014) estudaram dietas com ureia, 4,51% de nitrato encapsulado na dieta de ovinos Santa Inês e observaram que o nitrato encapsulado diminui a quantidade de protozoários no rúmen e a produção de metano também é reduzida, sem al-terar o consumo de matéria seca pelos animais. A produção de metano foi de 28,6 e 19,1 L por kg de matéria seca ingerida, nos tratamentos com ureia e 4,51% de nitrato encapsulado, respecti-vamente.

Newbold et al. (2014) realizaram dois experimentos, sendo que no experimento 1 estudaram a influência de teores de nitrato em 0; 0,6; 1,2; 1,8; 2,4 e 3% quanto a produção de metano na dieta de bovinos da raça Honlandês e observaram que o nitrato reduziu a produção de metano produzido em até 28%. No expe-rimento 2 testaram teores de nitrato em 0; 0,48; 0,96; 1,44; 1,92 e 2,40% em dietas fornecidas a bovinos da raça Nelore quanto ao desempenho e observaram que, o peso corporal, o ganho de peso, o peso de carcaça e o rendimento de carcaça não foram influenciados pela adição de nitrato. No entanto, à medida que o teor de nitrato foi aumentado na dieta, o consumo de matéria seca

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reduziu e a eficiência alimentar foi aumentada. Assim como os autores anteriores, de Raphélis-Soissan et al. (2014), avaliaram 2% de nitrato ou 1,1% de ureia em rações para ovinos da raça Merino e verificaram que a adição de nitrato mitiga metano, além disso verificaram aumento no pH ruminal, na concentração de acetato e na relação acetato:propionato e redução nas concentra-ções de propionato.

Velazco, Cottle e Hegarty (2014) forneceram dietas conten-do 11,5% de proteína bruta com 0,89% de ureia ou 2,57% de nitrato de cálcio a bovinos da raça Angus, e observaram que o nitrato de cálcio não influenciou o consumo de matéria seca pe-los animais, e diferentemente de outros estudos não verificaram influencia na produção de metano.

A vantagem energética na produção seja de carne ou leite, devido a redução da produção de metano pela adição de nitrato, é pouco mostrada na literatura. Segundo El-Zaiat et al. (2014) a adição de nitrato de cálcio não apresentou benefícios no aumento do ganho de peso de ovinos e van Zijderveld et al. (2011) não observaram aumento na produção de leite de vacas. Newbold et al. (2014) avaliaram teores crescentes de nitrato até 2,4% e ob-servaram redução do consumo de matéria seca por bovinos, no entanto o peso corporal final dos animais não foram afetados, e a eficiência alimentar foi maior nos animais que consumiram teores crescentes de nitrato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O nitrato na alimentação de ruminantes em várias pesquisas é um ingrediente que reduz a produção de metano, e desde que se utilize nitrato de forma cuidadosa e os animais tenham adaptação ao ingrediente, não representa riscos de intoxicação com forma-ção de metahemoglobina. Além da vantagem de redução do me-tano produzido pelos animais, é também uma fonte de nitrogênio não proteico para a síntese de proteína microbiana no rúmen, e permite a redução da inclusão de fontes de proteína verdadeira.

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Aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomiaMichelle Suassuna de Azevedo RÊGO¹*, Fernanda Lúcia Passos FUKAHORI¹, Mirella Bezerra de Melo Colaço DIAS¹, Vanessa Carla Lima da SILVA², Renata Serpa Cordeiro Sá LEITÃO², Fernando Leandro dos SANTOS³, Márcia de Figueiredo PEREIRA³, Evilda Rodrigues de LIMA³, Edvaldo Lopes de ALMEIDA³

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo analisar os aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomia. Foram avaliadas 36 cadelas, sem predile-ção de raça, idade, e porte, submetidas à anamnese, exame físico para a classificação clínica do câncer (TNMc), exames de rotina no pré-operatório e amostra histopatológica coletada após a cirurgia para caracterização do tipo de tumor. Todos os animais tiveram como tratamento a mastectomia. A amostra foi analisada com predominância de idade 6-10 anos (55,5%), e a obesidade estava presente em apenas 16,7% delas e 83,3% de escore normal. A maioria das cadelas eram nulíparas (55,5%), apresentando pseudogestação (25,0%), tumoração das mamas inguinais (75,0%), em ambas as cadeias, com nódulos multicêntricos (77,8%), prevalecendo nódulos (27,0%) de tamanho superior a 2cm de diâmetro, e no histopatológico prevaleceu o carcinoma complexo (30,5%), com intensa anaplasia, anisocariose e anisocitose. Conclui-se que pseudogestação, nuliparidade, idade, localização, tamanho e classificação das neoplasias  ma-márias são importantes fatores prognósticos que podem subsidiar o clínico veterinário para uma abordagem sistematizada desses animais. Com esta prática há a possibilidade da realização do diagnóstico precoce aumentando às alternativas do tratamento e cura.

P A L A V R A S - C H A V E Oncologia, tumoração da mama, câncer, cães.

Clinical and histopathological aspects of bitches with breast cancer that underwent mastectomy

ABSTRACT

This study aimed to analyze the clinical and histopathological aspects of bitches with breast cancer that underwent mastectomy. 36 bitches were studied there was without predilec-tion for race, age, and size, to medical history, physical examination for clinical classification of cancer (TNMc), routine tests before surgery and histopathology samples collected after mas-tectomy for characterization of tumor type. All animals underwent mastectomy as treatment. Analysis of the sample showed a predominance of subjects with ages 6-10 years (55,5%), nor-mal score (83,3%) with a mixed diet intake (55,5%). The majority (55,5%) of the bitches were nulliparous, with pseudocyesis (25,0%), tumors in inguinal glands (75,0%), in both sides of the midline, with multicentric nodules (77,8%), with a prevalence of nodules (27,0%) larger than 2cm in diameter, while on histopathology there was a higher prevalence of complex carcino-mas (30,5%), with severe anaplasia, anisokaryosis and anisocytosis. It is concluded that pseudo-pregnancy, nulliparity, age, location, size and classification of mammary tumors are important prognostics factors that can subsidize the veterinary practitioner a systematic approach to these animals. With this practice there is the possibility of holding early diagnosis increases the treat-ment and healing alternatives.

K E Y W O R D S Oncology, mammary tumor, cancer, dogs.

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

² Médica Veterinária autônoma

³ Professor (a) do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

*Autor para correspondência: [email protected]

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Michelle Suassuna de Azevedo Rêgo et al.

INTRODUÇÃO

Os tumores da mama representam 52,0% de todas as neo-plasias na fêmea canina, sendo que 50,0% destas são malignas (Mac EWEN e WITHROW, 1996). A etiologia do câncer de mama é multifatorial, com participação de fatores genéticos, ambientais, infecciosos, nutricionais e, principalmente, de fa-tores hormonais, sendo essa considerada uma neoplasia hor-mônio-dependente (SILVA et al., 2004). Na cadela, existe gran-de controvérsia no que se refere aos fatores predisponentes que podem estar associados aos tumores de mama. Alguns autores associam as neoplasias da mama a desordens endócrinas decor-rentes de cistos foliculares e corpo lúteo persistente, além de outros fatores como pseudogestação, nuliparidade, obesidade e utilização de progestágenos (MOL et al., 1997). Contudo, es-ses fatores não são significativos para carcinogênese da mama (MORRISON, 1998).

Há uma maior prevalência de neoplasias em fêmeas da es-pécie canina quando comparada aos machos, e os tumores de mama são responsáveis pela prevalência desses processos neo-plásicos. Animais com idade entre 8 e 12 anos são os mais aco-metidos (Silva, 2001). Cadelas bem nutridas apresentam me-nor ocorrência de câncer de mama que as obesas. Desse modo, fatores nutricionais podem ter papel no desenvolvimento do tumor de mama (Mac EWEN e WITHROW, 1996). Dieta rica em gordura animal, que resulta em obesidade, aumenta a pro-babilidade do aparecimento dos tumores de mama na mulher e nos roedores. Contudo, a gordura animal atua muito mais como um promotor do que iniciador da carcinogênese (CO-TRAN et al., 2000).

Para as neoplasias da mama em fêmeas da espécie cani-na, a mastectomia constitui a terapia de escolha, com exceção dos carcinomas inflamatórios as metástases à distância. Foi ob-servada mínima atividade antitumoral com a combinação de quimioterápicos como a doxorrubicina e ciclofosfamida ou a cisplastina como agente único, nos tumores de mama (Mac EWEN e WITHROW, 1996).

Diante do aspectos abordados e da necessidade de estudos desta enfermidade na espécie canina, este trabalho teve por ob-jetivo analisar os aspectos clínicos e histopatológicos de cade-las com neoplasia mamária submetidas à mastectomia.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi realizada no Hospital Veterinário do De-partamento de Medicina Veterinária (DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), envolvendo os setores de Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais e os Laboratórios de Patologia Clínica Veterinária e de Patologia Animal, além do Laboratório de Biologia Molecular Aplicada à Produção Animal (BIOPA), localizado no Departamento de Zootecnia.

Foram utilizadas 36 cadelas da rotina clínica e cirúrgica, todas com autorização dos proprietários e a aprovação do Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UFRPE nº 017/2011, no período de agosto de 2010 a março de 2011. Na anamnese, os proprietários foram questionados sobre: idade,

antecedentes genéticos, tipo de alimentação, ambiente onde vive, se é vacinado e vermifugado, regularidade do cio, se é ova-riectomizada, ocorrência de pseudo-gestação, de corrimentos vaginais, frequência do uso de progestágenos contraceptivos, histórico reprodutivo, entre outros.

Os animais foram submetidos ao exame físico geral e ao exame específico das mamas. No geral avaliou-se a idade, porte dos animais, estado corporal, e raça, e no específico das mamas, identificaram-se as lesões tumorais quanto ao número, tama-nho, localização, consistência, aderência à fáscia e músculos abdominais, e a descrição do aparecimento de edema, necro-se, inflamação, ulceração e secreção. Também foi realizada a avaliação macroscópica de nódulos cutâneos e alterações dos linfonodos regionais axilar e inguinal.

Quanto à idade, os cães foram classificados em: adultos (de um a nove anos) e idosos (maiores de dez anos). A classificação do porte físico dos animais obedeceu às normas do manual da confederação do Brasil Kennel Clube, no qual o porte é obtido a partir da altura entre o solo e a cernelha, com o animal em posição, apoiado sobre os quatro membros. Animais com até 35 cm foram classificados como de porte pequeno, de 36 a 46 cm de porte médio e acima de 46 cm de porte grande (CBKC, 1987). A condição corporal foi avaliada segundo os critérios da Hill’s (2008) pela visualização do estado geral do animal durante o exame físico. As cadelas foram classificadas como magras, normais e obesas. A raça foi estabelecida pela visuali-zação das características de cada animal, seguindo os padrões das mesmas.

Quanto à localização, as neoplasias foram classificadas em mama torácica cranial, mama torácica caudal, mama abdomi-nal cranial, mama abdominal caudal e mama inguinal (Figura 1A). Quanto ao tamanho dos tumores, ao comprometimento linfonodal e metástase, os animais foram classificados de acor-do com o sistema TNM proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (MISDORP et al., 1999). A classificação pelo TNM-clínico (adaptado de EISENBERG e KOIFMAN, 2000), tem como base os seguintes critérios:

T= Tamanho ou Extensão Tumoral (maior diâmetro do tumor primário); Tx – tumor primário não pode ser avaliado; T0 – nenhuma evidência de tumor primário; TIS – carcinoma in situ ou doença de Paget do mamilo sem tumor adjacente; T1 – 2 cm ou menos; T2 - > 2,0 até 5,0 cm; T3 - > 5,0 cm; T4 – qualquer tamanho de tumor com extensão direta para parede torácica ou pele; T4a – extensão à parede torácica; T4b – edema, ulceração da pele ou nódulos cutâneos satélites con-finados à mesma mama; T4c – T4a + T4b T4d – carcinoma inflamatório; N = Envolvimento Linfonodal; Nx – linfonodos regionais não podem ser avaliados; N0 – ausência de metásta-ses para linfonodos regionais; N1 – metástases para linfonodos regionais ipsilaterais móveis; N2 - metástases para linfonodos regionais ipsilaterais fixos (linfonodos fixos uns aos outros ou fixos a outras estruturas); N3 – metástases para linfonodos da cadeia mamária interna ipsilateral; M = Metástase à Distância; Mx – metástases não podem ser avaliadas; M0 – não existem metástases; M1 – presença de metástases à distância.

Após a avaliação destes fatores, os casos foram agrupados em estágios que variavam de I a IV graus crescentes de acordo

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Aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomia

com a gravidade da doença (Quadro1). Para tais informações utilizou-se uma ficha clínica de

acompanhamento de tumores da mama.Os proprietários foram orientados a trazerem seus animais

em jejum alimentar de 12 horas e hídrico de seis horas ao am-bulatório da Área de Cirurgia de Pequenos Animais e encami-nhados para a tricotomia do abdômen ventral e puncionamen-to da veia cefálica para a manutenção do animal em venóclise com solução de ringer com lactato. Os animais foram sedados com acepromazina (0,2mg/kg) associado com sulfato de atro-pina (0,044mg/kg) intravenoso, e encaminhados ao bloco ci-rúrgico. Realizou-se a indução anestésica com propofol (4mg/kg) intravenoso, e intubados com sonda orotraqueal e oxigê-nio a 100% e a manutenção com isofluorano. Como indutor de dor foi aplicado o Tramadol (4mg/kg) intravenoso.

Os animais foram colocados em decúbito dorsal, feita a

antissepsia da pele com povidine tópico e colocação dos cam-pos cirúrgicos (Figura 1B). Utilizou-se instrumental básico de cirurgia geral (diérese, hemostasia e síntese) em todos os casos e procedendo-se a mastectomia. As massas tumorais foram re-movidas com áreas de segurança de aproximadamente 1cm do tecido sadio. O leito cirúrgico em todos os atos foi lavado com soro fisiológico a 0,9% à temperatura ambiente e aspirado com compressa cirúrgica. Realizou-se ovariosalpingohisterectomia associada à mastectomia em apenas algumas cadelas. As he-mostasias foram realizadas com pinças hemostáticas e ligadas com categut cromado número 1 e fechamento abdominal e da pele com mononylon 2-0 com pontos simples (Figura 1C). Sobre a ferida cirúrgica colocamos curativo compressivo.

As mamas ou fragmentos de tecido da mama foram ime-diatamente encaminhados ao Setor de Patologia Animal, após extirpação cirúrgica da lesão para serem registradas, examina-

Estadiamento Tamanho Linfonodo Metástase

Estádio 0 TIS N0 M0Estádio I T1 N0 M0

Estádio IIA T0 N1 M0T1 N2 M0T2 N0 M0

Estádio IIB T2 N1 M0T3 N0 M0

Estádio IIIA T0 N2 M0T1 N2 M0T2 N2 M0T3 N1, N2 M0

Estádio IIIB T4 *qqN M0*qqT N3 M0

Estádio IV *qqT *qqN M1

*qqT- qualquer tamanho, *qqN- qualquer envolvimento linfonodal

Tabela 3: Percentual (média ± desvio padrão) de integridade do acrossoma (iAC), integridade da membrana plasmática (iMP) e alto potencial de membrana mitocondrial (aPMM) de espermatozoides caprinos Boer pós-descongelação, suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação

Figura 1: A) Neoplasia mamária localizada na região abdominal caudal direita com pontos de ulceração em cadela. B) Preparação da mastectomia, com colocação de campos cirúrgicos. C) Mastectomia da cadeia mamária direita.

A B C

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Michelle Suassuna de Azevedo Rêgo et al.

das detalhadamente, pesadas, sendo as características macros-cópicas das lesões anotadas no livro de registro e em fichas apropriadas e fotografadas. Em seguida foram colhidos frag-mentos de cada porção lesada para posterior estudo histoló-gico. Estes fragmentos foram fixados em solução de formol neutra tamponada a 10%, desidratadas, diafanizados, embebi-dos em parafina, laminados em micrótomo com espessura de 5 micra e corados pela hematoxilina-eosina (HE) de acordo com a técnica preconizada por Luna (1968) e Prophet (1992). A classificação dos tumores de mama teve como base a propos-ta de Misdorp et al. (1999) publicada pela AFIP (Armed Forces Institute of Patology).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O peso das cadelas variou de 2,6 a 40 kg com média de 15,5, sendo que 6/36 (16,7%) dos animais eram de pequeno porte com peso variando de 2,6 a 7,8 kg, 23/36 (63,9%) de por-te médio com peso entre 7 a 21 kg e 7/36 (19,4%) de porte grande com peso de 20 a 40 kg. A obesidade estava presente em apenas 6/36 (16,7%) delas, sendo as outras 30/36 (83,3%) de escore normal, discordando com Mac Ewen e Withrow (1996), quando verificaram que cadelas bem nutridas apresentam me-nor ocorrência de câncer de mama que as obesas. Nesta pes-quisa, 20/36 (55,5%) das cadelas recebiam alimentação mista (caseira e ração industrializada), sendo que 12/36 (33,3%) das cadelas receberam exclusivamente ração industrializada e 4/36 (11,1%) apenas comida caseira.

Observou-se idade mínima de cinco e a máxima de 16 anos, com média de 10,1. Das 36 cadelas, 20/36 (55,5%) delas estavam na faixa de seis a 10 anos, 15/36 (41,6%) acima de dez anos e apenas 1/36 (2,7%) animal abaixo de seis anos. Esses percentuais mais elevados nos animais de seis a 10 anos estão próximos aos de Silva (2001) quando afirma que os tumores de mama são responsáveis pela prevalência dos processos neoplá-sicos nas fêmeas caninas com idade entre 8 e 12 anos.

A partir de dados, fornecidos pelos proprietários, sobre a vida reprodutiva dos animais analisados, observou-se o núme-ro médio de partos por animal sendo de 1,0, onde o número máximo foi três e o mínimo zero, 20/36 (55,5%) cadelas eram nulíparas, com distribuição de 9/22 (40,9%), 6/8 (75,0%) e 5/6 (83,3%) animais de portes médio, grande e pequeno, respecti-vamente, e 16/36 (44,5%) haviam tido pelo menos uma cria, sendo distribuídas em 13/22 (59,0%), 2/6 (33,3%) e 1/8 (12,5%) cadelas de médio, grande e pequeno porte, respectivamente, confirmando os dados da literatura que denotam maior sus-ceptibilidade de animais nulíparos ou com pequena quantida-de de crias no desenvolvimento de tumores da mama (KOHLI et al., 1998).

Dos animais estudados, 30/36 (83,3%) apresentaram cios regulares e 6/36 (16,6%), sendo 4/22 (18,1%) de porte médio e 2/6 (33,3%) de porte pequeno, foram ovariectomizadas após o terceiro ano de vida. Os animais ovariectomizados nesta pesquisa, não se encontravam na faixa etária onde Johnston (1993) acredita haver alguma função protetora no desenvolvi-mento das neoplasias mamárias, que se estende até dois anos

e meio. De Nardi et al. (2002) preconizam a esterilização antes do primeiro estro para a prevenção, no entanto Silva (2003) acredita que a esterilização deve ocorrer após o primeiro cio para que o animal tenha pleno desenvolvimento endócrino.

A história de pseudogestação esteve presente em 9/36 (25,0%) animais, na sequência dos portes médio 5/22 (22,7%), grande 3/8 (37,5%) e pequeno 1/6 (16,6%). Apenas 3/22 (13,6%) cadelas (porte médio) apresentaram secreção vaginal, 14/36 (38,8%) (11/22 (50,0%) de porte médio, 2/8 (25,0%) grandes e 1/6 (16,6%) de porte pequeno) receberam anticoncepcionais e 4/36 (11,1%) (3/22 (13,6%) de médio porte e 1/8 (12,5%) de grande porte) apresentaram aborto até o momento do estudo.

Na cadela existe controvérsia no que se refere aos fatores que podem estar associados aos tumores mamários. Todavia, pseudogestação, nuliparidade e utilização de progestágenos vem sendo continuamente indicados como predisponentes (MOL et al., 1997; SILVA et al., 2004). No entanto para Morri-son (1998) número de crias, pseudogestação, ciclo estral anor-mal não são fatores significantes para tumorigênese mamária.

As lesões mostraram-se mais frequentes nas mamas ingui-nais, acometendo 27/36 (75,0%) animais com diferente distri-buição entre as cadeias esquerda (40,7%) e direita (18,6%) e em ambas (40,7%), com predominância da esquerda. Dos 36 casos, oito (22,2%) apresentaram um único nódulo mamário enquanto que o envolvimento multicêntrico estava presente em 28/36 (77,8%) animais, onde 20/36 (55,5%) tinham envol-vimento bilateral, 4/36 (11,1%) tinha envolvimento apenas do lado direito, percentual idêntico da incidência de envolvimen-to apenas do lado esquerdo.

Os tumores localizados nas mamas abdominais e ingui-nais representaram 88,8% dos tumores primários dessa pesqui-sa, dados semelhantes ao encontrado por Moulton (1990), Mac Ewen e Withrow (1996), Fonseca (1999) e Burini (2002) que afirmam que a frequência de neoplasia mamária é significa-tivamente maior nas mamas inguinais e abdominais, sem ex-plicações para tais acontecimentos. Enquanto Moulton (1990) afirma que essas mamas são mais acometidas, devido a maior quantidade de parênquima mamário, sofrendo assim maior al-teração proliferativa em resposta aos hormônios.

Pela apresentação macroscópica dos tumores, concluímos que os animais acometidos de tumores multicêntricos foram maioria absoluta, totalizando 77,8% do total de casos tratados. Resultado superior ao encontrado por Burini (2002) que relata 57,0% de acometimento multicêntrico dos animais pesquisa-dos. Moulton (1990) afirma que o envolvimento multicêntrico pode chegar a 50,0% dos casos.

Segundo Donegan e Spratt (1988) o câncer de mama na cadela é frequentemente um processo multifocal e é comum o desenvolvimento independente de câncer entre as mamas. Quando se divide o número total de tumores encontrados pela quantidade de animais tratados, têm-se uma média de 3,05 tu-mores por animal, um número bastante alto se considerarmos que 22,2% dos animais não apresentavam tumores multicên-tricos. Um animal apresentava tumores em 7 mamas das duas cadeias mamárias.

Em 27/36 (75,0%) dos animais, os tumores apresentaram integridade cutânea, valor próximo ao encontrado por Burini

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Aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomia

(2002) que relata 78,0% de tumores íntegros no seu estudo. Segundo Cassali et al. (2002) ulcerações têm efeito significati-vamente negativo no tempo de sobrevida dos animais. No nos-so estudo, 9/36 (25,0%) dos tumores primários apresentavam ulcerações, sendo que a totalidade dos tumores que apresenta-va essas ulcerações tinha comportamento maligno, dados que corroboram com a afirmação que ulcerações pioram o prog-nóstico do paciente.

Do grupo de animais pesquisados, 21/36 (58,3%) tinha aco-metimento das duas cadeias mamárias, 7/36 (19,4%) somente da cadeia mamária direita e 8/36 (22,2%) da cadeia mamária esquerda. Em 1/36 (2,7%) dos casos foi constatada alteração de volume do linfonodo, o que não é suficiente para confirmar um quadro de metástase local, apenas demonstra o linfonodo responsivo a afecções. O acometimento neoplásico linfono-dal encontrado com exame histopatológico por Cavalcanti e Cassali (2006) foi de 10,0%, muito acima do encontrado em nosso estudo, associado a um pior diagnóstico (QUEIROGA e LOPES, 2002).

Dos animais pesquisados, 11 (30,5%) tiveram o tumor clas-sificado como carcinoma complexo com falta de orientação de crescimento, anisocariose e anisocitose e intensa anaplasia; 9 (25,0%) carcinoma túbulo-papilar com reduzida relação citoplasma núcleo, núcleos proeminentes, claros e granula-res, infiltrado mononuclear, focos de necrose e anisocitose; 7 (19,4%) carcinossarcoma com anisocitose, algumas áreas de mineralização, infiltrado mononuclear e inflamação; 2 (5,6%) fibrossarcoma com anaplasia, anisocariose e anisocitose e fal-ta de orientação de crescimento; 2 (5,6%) carcinoma simples com anisocitose, anaplasia citoplasmática e nuclear, células arredondadas ou alongadas; 1 (2,8%) carcinoma misto com es-trutura complexa de origem ectodérmica; 1 (2,8%) carcinoma sólido com baixa relação núcleo citoplasma e anisocariose; e 3 (8,3%) material inconclusivo.

Na Figura 2 observam-se características quanto a classifica-ção histopatológica de carcinoma túbulo-papilar (Figura 2A), carcinoma complexo (Figura 2B) e carcinossarcoma (Figura 2C).

Sorenmo (2003) encontrou o aumento de malignidade do

carcinoma complexo para o carcinoma simples, e deste para o sarcoma. Considerando apenas o grupo dos carcinomas sim-ples, foi observada a seguinte ordem crescente de malignidade: não-infiltrativo (in situ); túbulo-papilar; sólido e anaplásico. Enquanto que no presente trabalho, observou-se que apresen-taram o maior grau de malignidade foram: carcinoma comple-xo, carcinoma simples, sólido e fibrosarcoma.

Os carcinossarcomas são compostos de componentes epi-teliais e mesenquimais malignos. Os animais portadores pos-suem um prognóstico desfavorável e desenvolvem metástases no primeiro ano após a cirurgia (BENJAMIN et al., 1999).

Animais que apresentavam tumores em estádio avança-do de crescimento (maiores que 5cm) representaram 11/36 (30,5%) dos casos, enquanto tumores com diâmetro de 3 a 5cm representaram 13/36 (36,1%). 12/36 (33,3%) dos cães apresen-tavam processo neoplásico em fase considerada inicial, com nódulos de até 3 cm. O tamanho tumoral é um dado muito importante no que diz respeito ao prognóstico do animal. Os resultados atestam a busca tardia de tratamento como compor-tamento geral dos proprietários.

Tumores malignos representaram 100,0% do total pesqui-sado, pois este era um requisito para a inclusão nesta pesqui-sa. Observou-se que 8/36 (22,2%) se encontravam em estádio clínico I que apresenta grandes possibilidades de cura por meio da remoção cirúrgica do tumor, no entanto, o animal pode, eventualmente, desenvolver a forma disseminada e vir a óbito, antes da detecção clínica (BURINI, 2002). Metástase foi diagnosticada, em 1/36 (2,7%) do total de animais, a partir de exame histopatológico do linfonodo. Este mesmo animal apresentou estádio IV, ou seja, o pior prognóstico, enquanto 27/36 (75,0%) estavam em estádio II e III, que por definição não inclui pacientes com evidência de metástase à distância.

De uma forma geral, o avançado estado evolutivo dos tu-mores pesquisados no que diz respeito ao tamanho, preserva-ção da integridade cutânea e multicentricidade, evidencia que o prognóstico ruim de forma geral dos animais pesquisados se deve a busca tardia do tratamento, demonstrando assim um comportamento pouco cuidadoso dos proprietários desses animais, muitas vezes orientados por veterinários, que, infeliz-

Figura 2: A) Carcinoma túbulo-papilar. Formação de túbulos com projeções papilares. Glândula mamária, cadela, 12 anos. Hematoxilina & Eosina, obj.40x/0,65. B) Carcinoma complexo. Células epiteliais em um padrão sólido a tubular e células tipo mioepiteliais (seta vazada). Inúmeras mitoses (seta cheia) Glândula mamária, cadela. Hematoxilina & Eosina, obj. 40x./0,65. C) Carcinossarcoma. Presença de células epiteliais e células seme-lhantes a elementos do tecido conjuntivo maligno. Hematoxilina & Eosina, obj.10x./0,65.

A B C

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Michelle Suassuna de Azevedo Rêgo et al.

mente, preferem esperar o crescimento do tumor antes do tra-tamento. Com essa prática, além da possibilidade de evolução de quadros neoplásicos malignos, fato que piora sensivelmente o prognóstico do paciente, devido a disseminação do tumor, tumores inicialmente benignos podem sofrer malignização.

CONCLUSÕES

Conclui-se que pseudogestação, nuliparidade, idade, lo-calização, tamanho e classificação das neoplasias    mamárias são importantes fatores prognósticos que podem subsidiar o clínico veterinário para uma abordagem sistematizada desses animais. Com esta prática há a possibilidade da realização do diagnóstico precoce aumentando às alternativas do tratamen-to e cura.

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Características seminais de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços em condições de clima tropicalMarciane da Silva MAIA¹ *, Joelma Vasconcelos Celestino da SILVA² , Iralice Monte-negro de MEDEIROS², Claudio Adriano Correia de LIMA³ , Carlos Eduardo Bezerra de MOURA4

RESUMO

Avaliaram-se os parâmetros seminais e testiculares de 17 carneiros (cinco Santa Inês, cinco Dorper e sete mestiços ¾ Dorper + ¼ Santa Inês). A coleta de dados foi realizada quinze-nalmente. Os ejaculados foram colhidos em vagina artificial, mantidos em banho-maria (37 °C) e avaliados quanto ao volume, aspecto, vigor, motilidade, turbilhonamento, concentração, morfologia e viabilidade espermática. Houve diferença significativa (P <0,05) entre as raças para perímetro escrotal, temperatura retal e algumas das características seminais. O volume do ejaculado foi maior (P <0,05) na Dorper (1,27 ± 0,1 ml) comparado à Santa Inês (0,81 ± 0,1 ml) e mestiços (1,00 ± 0,1 ml). A motilidade espermática foi significativamente maior nos carneiros Santa Inês e mestiços (85,5 ± 2,2 e 85,2 ± 1,4%, respectivamente) do que no Dorper (77,8 ± 3,2%). O total de espermatozoides anormais, a porcentagem de defeitos maiores e a temperatu-ra retal média foram mais elevados (P <0.05) na Dorper do que nas outras raças. As evidências sugerem que os carneiros da raça Santa Inês e mestiços apresentam melhor desempenho repro-dutivo sob as condições em que o estudo foi conduzido, possivelmente por estarem mais bem adaptados às condições ambientais da região.

P A L A V R A S - C H A V E Estresse térmico, perímetro escrotal, qualidade de sêmen, morfologia espermática, ovino

Seminal and testicular characteristics of Dorper, Santa Inês and crossbreed rams in a semi-arid tropical environment

ABSTRACT The seminal and testicular parameters of 17 rams (five of Santa Ines, five Dorper and seven

crossbreed - ¾ Dorper + ¼ Santa Inês) were evaluated every two weeks. The ejaculates were collected by artificial vagina and after collection; the semen was kept in a water bath (37°C) and evaluated for volume, aspect, vigor, total motility, mass motility, concentration, morpholo-gy and viability. Significant differences (P<0.05) were observed between breeds for the scrotal circumference, rectal temperature and some of the seminal characteristics. The semen volume was greater (P <0.05) in the Dorper (1.27 ± 0.1 ml) compared to Santa Ines (0.81 ± 0.1 ml) and crossbreed (1.00 ± 0.1 ml) and significantly higher sperm motility was found for the Santa Ines and crossbreed (85.5 ± 2.2 and 85.2 ± 1.4%, respectively) compared to the Dorper rams (77.8 ± 3.2%). The total morphological abnormalities and the percentage of major defects were higher (P <0.05) in the Dorper than in the other breeds. The average rectal temperature was also sig-nificantly (P <0.05) higher in the Dorper than in the other breeds. The evidence suggests that Santa Ines and crossbreed rams show better reproductive performance under conditions in which the study was conducted, possibly because they are better adapted to the environmental conditions of the region.

K E Y W O R D S thermal stress, scrotal circumference, semen quality, sperm morphology, sheep

¹ Embrapa Semiárido – EMPARN. Av. Eliza Branco Pereira dos Santos, SN.

Parque das Nações, Caixa postal 188, CEP: 59158-160, Parnamirim-RN.

[email protected].* autor para correspondência.

² Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. CEP: 59280-000,

Macaíba-RN. [email protected]; [email protected]

³ Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do

Norte – EMATER. CEP: 59064-901, Natal -RN. clazootecnista@yahoo.

com.br

4 Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA, Mossoró –RN.

[email protected]

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Características seminais de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços em condições de clima tropical

INTRODUÇÃO

A região Nordeste possui o maior efetivo (57,2%) do re-banho ovino do país (IBGE, 2011). Nessa região, o rebanho é formado, predominantemente, por ovinos deslanados sem padrão racial definido (SPRD) e por animais puros das raças nativas Santa Inês, Somalis e Morada Nova.

Em geral, a ovinocultura nordestina está voltada para a produção de carne e pele, de forma extensiva, sendo o desem-penho produtivo e reprodutivo prejudicados pelo baixo nível de tecnologia aplicado ao sistema. Apesar de produzir cerca de oito toneladas de carne ovina/ ano (FAO, 2009) e desse tipo de carne apresentar valor comercial muito maior do que a carne de outras espécies animais, a produção brasileira não é sufi-ciente para atender a demanda do mercado, devido principal-mente, ao sistema de produção deficiente. Assim, precisa haver um aprimoramento no processo de produção como um todo, para que a atividade possa se tornar mais competitiva. Para isso a genética é fundamental. No entanto, é preciso investir não só em melhoramento genético, como também em opções de manejo, alimentação e sanidade dos rebanhos.

As biotécnicas de reprodução como a inseminação arti-ficial e a transferência de embriões, assim como a melhoria nos processos de congelação de sêmen, poderão contribuir para maximizar o uso de reprodutores. Porém é importante lembrar que para obter bons resultados com essas biotécnicas, deve-se partir de um sêmen de boa qualidade. Sendo assim, os reprodutores devem ser mantidos sob condições de ambiente e manejo que favoreçam a produção de sêmen de boa qualida-de. Nos últimos anos tem havido a introdução de animais de raças exóticas especializadas para carne, como a Dorper, com o intuito de promover o melhoramento genético dos rebanhos. A raça Dorper quase sempre é apontada como alternativa para cruzamentos industriais, em acasalamentos com fêmeas da raça Santa Inês e do tipo SPRD (Silva et al., 2010) com o obje-tivo de melhorar os índices produtivos e a qualidade da carcaça (Cezar et al., 2004). No entanto, existe pouca informação sobre a fertilidade e o desempenho reprodutivo destes animais sob as condições de clima e manejo do Nordeste do Brasil. Portan-to, é importante comparar as características reprodutivas dos animais Dorper com aqueles das raças nativas da região para que os produtores possam ter uma garantia de sucesso em seu investimento.

O uso de reprodutores que produzam sêmen de boa qua-lidade é fundamental para maximizar o desempenho repro-dutivo dos rebanhos. Assim, o objetivo deste estudo foi obter informações sobre as características seminais e testiculares de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços (¾ Dorper + ¼ Santa Inês) criados nas condições de clima e manejo do Nordeste do Brasil.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Fazenda São Joaquim, localizada no município de Macaíba – RN, no período de 15 de fevereiro a 14 de maio de 2011. Durante o período experi-mental a temperatura média do ar foi de 31,8°C, a umidade re-

lativa foi de 80,9% e o ITU (índice de temperatura e umidade) 85,9. As coletas de dados ocorreram quinzenalmente, quando se realizava a colheita de um ejaculado, a medição do períme-tro escrotal e da temperatura retal de cada animal. Realizava-se também, a medição da temperatura e umidade relativa do ar com o auxílio de um termo-higrômetro (GRX BRASIL, mode-lo 5195.03.0.00).

Foram utilizados 17 machos ovinos adultos, com três a cinco anos de idade, clinicamente sadios e com escore de con-dição corporal 3,5 a 4, sendo cinco da raça Dorper, cinco Santa Inês e sete mestiços (¾ Dorper + ¼ Santa Inês). Os animais eram mantidos em um sistema de confinamento a céu aberto. Durante o dia permaneciam em um piquete de capim Pango-la (Digitaria decumbes), onde recebiam uma suplementação alimentar (750 g/animal/dia) contendo milho, soja, torta de al-godão, uréia e mistura mineral, com aproximadamente 17% de proteína bruta e capim elefante, palma forrageira e mandioca, picados, à vontade. Ao final da tarde, os carneiros eram levados ao centro de manejo onde pernoitavam com as fêmeas, para a realização dos acasalamentos.

Durante a coleta de dados realizava-se inicialmente, a me-dição do perímetro escrotal com auxílio de fita métrica, aferida em centímetros, com precisão de 1,0mm; no ponto de maior diâmetro testicular. Em seguida, procedia-se a medição da temperatura retal (TR) utilizando-se um termômetro clínico com escala em mercúrio de 35 a 43°C o qual era introduzido no reto do animal onde permanecia por cerca de três minutos e então era feita a leitura da temperatura. Após estas avaliações, procedia-se a colheita dos ejaculados.

Os ejaculados foram colhidos pela técnica da vagina arti-ficial, pois a mesma não provoca dor e produz um ejaculado de melhor qualidade, comparada à técnica do eletroejaculador (Chemineau et al., 1991; Evans e Maxwell, 1987). Após a ini-bição inicial, devido a presença de humanos, todos os animais se submeteram a colheita voluntariamente. Utilizou-se uma vagina artificial aquecida (41 a 42°C) e uma fêmea em estro para estimulação do macho. De cada animal foram colhidos seis ejaculados. Após a colheita o sêmen era mantido em ba-nho-maria a 37 oC e imediatamente, avaliado quanto ao volu-me, aspecto, turbilhonamento, motilidade e vigor espermático (Maia, 2010). Para a avaliação da motilidade espermática uma pequena gota de sêmen foi depositada sobre uma lâmina de vidro limpa e aquecida (37 ° C), diluída com uma gota de so-lução de citrato de sódio a 2,94% e coberta com lamínula e em seguida, examinada sob microscopia óptica (400x). Três cam-pos foram analisados por lâmina e a percentagem de esper-matozoides móveis estimada subjetivamente. Para avaliação do movimento de massa uma gota de sêmen puro foi depositada sobre uma lâmina de vidro (37 ° C) e avaliada sob microscópio óptico com uma ampliação de 100 x. O resultado foi expresso em notas numa escala de 0 a 5, onde zero correspondia a au-sência de turbilhonamento e cinco ao turbilhonamento má-ximo (Maia, 2010; Chemineau et al., 1991;. Evans e Maxwell, 1987). Em seguida retirava-se uma amostra para a determina-ção da concentração espermática (diluição de 1:400, hematoci-tômetro) e preparava-se um esfregaço com uma gota de sêmen corada com eosina-nigrosina (Maia, 2010; Chemineau et al., 1991; Evans e Maxwell, 1987) para posterior avaliação da mor-

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Marciane da Silva MAIA et al.

fologia espermática e porcentagem de vivos. A morfologia es-permática foi determinada em 200 espermatozoides/lâmina e as anomalias observadas foram classificadas em defeitos maio-res e defeitos menores conforme o modelo proposto por Blom (1973). As avaliações foram feitas sob microscopia de luz (1000 x, sob imersão -BIOVAL – L1000, Brasil) com o auxílio de um contador de células digital (CH@MPION-VET, AS-24, Brasil). Todas as avaliações foram realizadas no Laboratório de Tecno-logia de Sêmen (LATES), localizado na estação experimental da EMPARN, em Parnamirim-RN.

Análise estatísticaOs dados foram analisados estatisticamente utilizando-se a

análise de variância (ANOVA) para determinar o efeito da raça sobre os diferentes parâmetros considerados. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 95% de confiança.

Os valores percentuais foram submetidos à transformação logarítmica para homogeneização das variâncias, e em seguida submetidos à ANOVA. Realizou-se também a análise de cor-relação (coeficiente de correlação linear de Pearson) entre os parâmetros espermáticos e a temperatura retal (TR) e períme-tro escrotal (PE). Todas as análises foram realizadas com o au-xílio do programa estatístico Statgraphics (Statistical Graphis Corp., USA).

RESULTADOS

O volume do ejaculado diferiu significativamente (P<0,05) entre as raças. Os carneiros da raça Dorper apresentaram um ejaculado com volume maior, que os da raça Santa Inês e mes-tiços. A motilidade espermática também foi afetada pela raça.

Os carneiros da raça Santa Inês e os mestiços apresentaram motilidade significativamente maior que os da raça Dorper. A concentração espermática, bem como, a porcentagem de vivos, turbilhonamento e defeitos menores não diferiu significativa-mente entre as raças (Tabela 1). O valor médio da concentração espermática foi 3.591,6 x106 sptz/mL.

O total de defeitos espermáticos (TDE) e o percentual de defeitos maiores (DMA) diferiram significativamente entre as raças. Os carneiros da raça Dorper apresentaram TDE e DMA mais altos que aqueles observados para a raça Santa Inês e mes-tiços, os quais, não diferiram entre si (Tabela 1). Dentre as pa-tologias espermáticas observadas, destacaram-se as patologias de acrossoma (37,11%), cauda dobrada (13,63%), cauda forte-mente dobrada (12,24%), gota proximal (10,20%), gota distal (6,82%) e cabeça solta normal (5,13%).

O perímetro escrotal foi significativamente maior nos car-neiros mestiços comparados aos Dorper e semelhante ao San-ta Inês (Tabela 1). Houve baixa correlação positiva entre PE e concentração espermática (Tabela 2).

A temperatura retal (TR) foi significativamente maior (P < 0,05) nos carneiros da raça Dorper comparada à Santa Inês e mestiços, os quais apresentaram médias semelhantes entre si (Tabela 1).

Os parâmetros seminais, motilidade (MT), concentração e vivos, correlacionaram-se negativamente, com a TR. Enquan-to que o percentual de espermatozoides anormais (TDE) e o percentual de DMA apresentaram uma alta correlação positiva com a TR e uma correlação negativa com o PE. Observou-se também uma correlação positiva entre concentração espermá-tica e perímetro escrotal (Tabela 2).

Tabela 1 - Parâmetros seminais, testiculares e fisiológicos (media ± ep) de carneiros das raças Santa Inês, Dorper e Mestiços, no nordeste do Brasil

Parâmetro

Raça Média Geral

(n = 102)CV(%)Dorper

(n = 30)Santa Inês

(n = 30)Mestiços(n = 42)

V (mL) 1,27±0,1a 0,81±0,1c 1,00±0,1b 1,02±0,03 38,96C (x106/mL) 3375,6±208,4 3936,3±204,2 3492,4±174,9 3591,6±116,1 32,69

MT (%) 77,8 ± 3,2b 85,5 ± 2,2a 85,2 ± 1,4a 81,9 ± 1,5 15,84Vivos (%)* 82,7±1,7 83,0±2,1 84,9±1,3 83,7±1,0 11,35MM (0 - 5) 4,2±0,1 4,3±0,1 4,3±0,1 4,3±0,1 15,04

Vigor (0 - 5) 4,00±0,1 4,4±0,1 4,2±0,1 4,2±0,1 17,31TDE (%) 26,2±3,8a 17,7±1,3b 15,3±1,3b 19,2±1,5 20,32DMA (%) 21,5±3,8a 12,4±1,4b 10,8±0,9b 14,4±1,2 25,68DME (%) 4,8± 0,6 5,3±0,7 4,5±0,7 4,8± 0,4 62,63PE (cm) 35,0± 0,4b 35,1 ± 0,4ab 36,1 ± 0,3a 35,6 ± 0,2 6,00TR (°C) 39,59±0,11a 38,68±0,09b 38,68±0,11b 38,92±0,14 2,84

Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem entre si a P < 0,05, pelo teste de Tukey. *Coloração vital. V: volume; C: concentração espermática; MT: motilidade total; MM: turbilhonamento; TDE: total de defeitos espermáticos; DMA: defeitos maiores; DME: defeitos menores; PE: perímetro escrotal; TR: temperatura

retal.

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Características seminais de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços em condições de clima tropical

DISCUSSÃO

Os valores dos parâmetros seminais e testiculares avaliados diferiram entre os três grupos de animais estudados e varia-ram bastante em comparação com diversos estudos realizados com ovinos deslanados (Maia et al., 2011; Frazão Sobrinho et al., 2009; Souza et al., 2007; Fourie et al., 2004). Porém, elimi-nando-se o fator raça, o valor médio de todos os achados está de acordo com os valores recomendados para a espécie ovina (CBRA 2013; Evans e Maxwell, 1987). A diferença entre os três grupos de carneiros pode ser atribuída às variações no grau de tolerância dos indivíduos ao estresse térmico. De acordo com Chemineau et al. (1991) a temperatura ambiente elevada obser-vada em regiões tropicais, especialmente na estação seca, pode interferir com a termorregulação testicular refletindo negativa-mente sobre a espermatogênese e, portanto, sobre a qualidade do sêmen. Para avaliar a tolerância dos carneiros ao estresse tér-mico foi medida a temperatura retal dos animais, uma vez que este parâmetro tem sido utilizado para esta finalidade (Mota, 1997). A temperatura retal média (TR) dos animais foi de 38,9 °C, semelhante à referida por Raslan (2008) para fêmeas e ma-chos no turno matutino e estava dentro do intervalo de ter-moneutralidade (38,8-39,9 °C) descrito por Marai et al. (2007) em ovinos. No entanto, houve diferença significativa entre as raças para TR, com os animais da raça Dorper mostrando os va-lores mais altos. Provavelmente, as condições ambientais sob as quais o estudo foi realizado foram estressante para os animais desta raça que eram menos tolerantes ao estresse térmico do que os animais Santa Inês e mestiços. Cezar et al. (2004) tam-bém relataram os animais Dorper e mestiços demonstraram menor grau de adaptabilidade ao ambiente semiárido do que os Santa Inês. Em nosso estudo, a média do ITU pela manhã foi de 85,9 que está na faixa considerada de emergência. O ITU é um índice de conforto térmico que pode ser relacionado com o desempenho do animal; quando acima da normali-dade (até 70 normal; 71-78 crítico; 79-83 situação de perigo; 84 ou maior emergência; Hahn 1985 citado por Raslan, 2008) ocassiona estresse térmico e alterações fisiológicas e comporta-mentais nos animais, podendo comprometer a produtividade e sobrevivência. Trabalhando com os mesmos genótipos aqui avaliados (Santa Inês, Dorper e mestiços) Cezar et al. (2004) observaram que um ITU de 82,4 obtido no turno da tarde cau-sou estresse térmico em todos os animais, resultando em eleva-ção da temperatura retal, frequência respiratória e frequência cardíaca. Porém, os machos Dorper e mestiços apresentaram

frequência respiratória, significativamente mais elevada que os Santa Inês. Possivelmente como mecanismo para eliminar o excesso de calor.

Em carneiros, as características seminais mais afetadas pela temperatura ambiente elevada são a motilidade, vigor, con-centração e morfologia (Maia et al., 2011; Moreira et al., 2001; Freitas e Nunes, 1992). Além disso, a elevação da temperatu-ra retal a 39-39,5 °C afeta a espermatogênese, resultando no aparecimento de espermatozoides anormais no ejaculado al-gumas semanas mais tarde (Chemineau et al., 1991). Em nosso estudo, as anormalidades espermáticas mais frequentes foram as de acrossoma, cauda dobrada e enrolada, gota proximal e distal e cabeças soltas normais. Estes tipos de defeitos estão relacionados ao estresse térmico e / ou degeneração testicular (Moreira et al., 2001; Santos e Simplício, 2000; Barth e Oko, 1989). O percentual médio de anormalidades espermáticas totais (19,2%) foi inferior ao encontrado em outros estudos com animais da raça Dorper e Santa Inês (Maia et al., 2011; Souza et al., 2007; Fourie et al., 2004). No entanto, ao compa-rarmos os três grupos de animais avaliados, observamos que os da raça Dorper apresentaram um maior percentual de defeitos espermáticos totais (TDE; 26,2%) e defeitos maiores (DMA), comparado às outras raças, valor este superior ao recomendado para espécie (CBRA, 2013). A constatação da temperatura retal mais elevada na Dorper que nas outras raças é indicativo de que esses animais estavam sofrendo estresse térmico nas nossas condições climáticas. Além disso, foi observada uma alta cor-relação positiva entre TDE e DMA com a TR. Assim, quanto mais elevada for a TR maior será a porcentagem de anomalias espermáticas. De acordo com Fourie et al. (2004) os carneiros da raça Dorper acumulam uma grande quantidade de gordura no tecido subcutâneo do cordão espermático e bolsa escrotal. Essa gordura escrotal pode interferir com o mecanismo de termorregulação testicular, o qual é essencial para uma ótima espermatogênese. Assim, todos esses fatores podem ter contri-buído para a maior porcentagem de TDE e DMA observados na raça Dorper. Estes achados demonstram ainda, a influência da temperatura corporal elevada, em situações de estresse ca-lórico, sobre as características seminais, em particular a morfo-logia espermática.

A motilidade espermática também foi afetada pela raça. Os carneiros da raça Santa Inês e os mestiços apresentaram sêmen com motilidade espermática superior aos da raça Dor-per, cujo valor (77,8%) foi inferior ao mínimo aceitável para sêmen ovino colhido em vagina artificial (CBRA, 2013). Essa diferença pode ser atribuída ao alto percentual de TDE obser-

V C MT MM VIVOS TDE DMA DME

TR 0,17 -0,21* -0,28* -0,19 -0,20* 0,79** 0,86** 0,16PE 0,06 0,20* 0,09 0,15 0,09 -0,34** -0,31** -0,14

*P<0,05 ** P<0,01. V: volume, C: concentração espermática, MT: motilidade total, MM: turbilhonamento, TDE: total de defeitos espermáticos, DMA: defeitos maiores, DME: defeitos menores, PE: perímetro escrotal, TR: temperatura retal.

Tabela 2 - Coeficiente de correlação linear de Pearson (r) entre a temperatura retal (TR) e perímetro escrotal (PE) com os parâmetros espermáticos

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Marciane da Silva MAIA et al.

vado na Dorper, uma vez que existe uma relação negativa entre motilidade e anormalidade espermática (Bearden et al., 2004). Esse fato foi verificado em nosso estudo onde os dois grupos de animais com maior motilidade espermática (Santa Inês e Mestiços), também foram os que apresentaram o menor por-centual de células anormais, em relação ao Dorper.

O perímetro escrotal diferiu entre os três grupos de ani-mais sem, no entanto, apresentar qualquer efeito sobre a con-centração espermática. Essa diferença pode ser atribuída à predominância do formato testicular longo-oval (Araújo et al., 2011) na raça Dorper, afetando o valor do PE em relação às outras raças. Observou-se também, uma ampla variação no perímetro escrotal em comparação com outros estudos realiza-dos com animais deslanados (Salgueiro e Nunes, 1999; Bitten-court et al., 2003; Fourie et al., 2004; Monteiro, 2007; Maia et al., 2011), possivelmente em decorrência da variação na idade e peso dos animais, bem como, às diferenças no manejo nutri-cional dispensado aos mesmos (Siqueira Filho, 2007; Bitten-court et al., 2003).

CONCLUSÕES

Os carneiros Santa Inês e os mestiços mostraram-se bem adaptados às condições de clima e manejo da região onde o estudo foi realizado, produzindo sêmen de boa qualidade. Já os da raça Dorper demonstraram alterações espermáticas que podem comprometer sua capacidade fecundante, sendo neces-sário proporcionar a estes animais as condições adequadas de ambiente e manejo que favoreçam a produção de sêmen de boa qualidade.

A termorregulação testicular influencia diretamente as ca-racterísticas seminais, em particular a morfologia espermática, sendo o estresse calórico decorrente das altas temperaturas am-bientais, um fator de efeito negativo sobre essa característica. A medição da temperatura retal pode ser utilizada como um parâmetro de avaliação da tolerância dos indivíduos ao estresse calórico e um indicador do seu impacto na qualidade seminal.

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Ocorrência espontânea de linfoma maligno em ovelha: Relato de casoRafael Otaviano do REGO¹, José Claudio de Almeida SOUZA², Carla Lopes de MENDONÇA³, Rafael José da SILVA³, Nivan Antônio Alves da SILVA³, Franklin RIET-CORREA4, José Augusto Bastos AFONSO³.

RESUMO

Os relatos na literatura de linfoma em ovinos são escassos, logo o objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência dessa doença em uma ovelha atendida na Clínica de Bovinos, Campus-Ga-ranhuns/UFRPE. Os achados foram obtidos de uma ovelha mestiça de quatro anos, pesando 40 kg, criada em sistema semi-intensivo. O proprietário relatou que adquiriu esse animal há três meses de outro rebanho e que há dois observou que o animal ficou apático, com perda do apeti-te e separado do rebanho, foi medicado na propriedade sem sucesso. Clinicamente apresentou um quadro de apatia, taquicardia, caquexia, anorexia, bem como hipomotilidade ruminal e intestinal. No hemograma evidenciou-se leucocitose por neutrofilia, com presença de leucóci-tos degenerados no esfregaço sanguíneo. A sorologia (IDGA) para vírus da Leucose Enzoótica Bovina foi negativa. Além desses achados, a ultrassonografia revelou um comprometimento pulmonar grave. O animal veio a óbito após sete dias. Na necropsia observou-se uma massa no tecido subcutâneo, aderida à região torácica caudal esternal, firme com características nodular e de coloração esbranquiçada. Nodulações idênticas e de tamanhos menores foram visualizadas na serosa do retículo e abomaso, com metástases nos rins, omento, linfonodos mesentéricos, diafragma, coração e pulmão. A histopatologia revelou estruturas atípicas disposta na forma de manto, com múltiplos vacúolos, com estroma fibroso entremeado. As células tumorais ca-racterizam-se por serem pequenas e arredondadas, basofílicas, com citoplasma escasso, núcleo grande e redondo, hipercromático, com cromatina densa e com raras mitoses. Estes achados indicam uma forma de linfoma espontâneo em ovelha.

P A L A V R A S - C H A V E Ovino, neoplasia, linfoma, tumor, caquexia

Spontaneous Occurrence of Malignant Lymphoma in Sheep: Case Report

ABSTRACT

There are very few reports of lymphoma in sheep in the literature. Therefore, the aim of the present study was to report the prevalence of this disease among sheep cared for in the Clinic of Cattle in the Campus Garanhuns of the Federal Rural University of Pernambuco (UFRPE). The results were obtained from a four year old sheep (weight 40 kg) that had been reared in a semi-intensive system. The owner reported that he had acquired this animal three months earlier from another herd and that, one month later; he had noticed that the animal was apathetic, no appetite and distanced itself from the herd. The animal was treated unsuc-cessfully on the farm. The animal exhibited clinical signs of apathy, tachycardia, cachexia and anorexia, as well as ruminal and intestinal hypomotility. The hemogram showed evidence of leukocytosis by neutrophilia, with the presence of deteriorated leukocytes in the blood smear. The serology (IDGA) for the enzootic bovine leukosis virus was negative. The ultrasound con-firmed severe lung disease. The animal died after seven days. In the necropsy there was a mass in the subcutaneous tissue adhered to chest sternal there was a notable increase in the volume adhered in the external caudal subcutaneous region, with nodular characteristics and a whitish coloration. Identical, although smaller, nodulations were visualized in the serous membrane of the reticulum and the abomasum, with metastases in the kidneys, omentum, mesenteric lymph

¹ Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco; Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n; Dois Irmãos; Recife-PE, Brasil; 52171-900. E-mail: [email protected]. Autor para correspondência.

² Unidade Acadêmica de Garanhuns, UFRPE, Garanhuns, PE. 55.292-901.

³ Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, s/n. CP 152. Boa Vista. Garanhuns-PE. 55 292-270.

4 Hospital Veterinário, Centro de Saúde e Tecnologia Rural (CSTR), Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos, 58700-000, Patos, PB, Brasil.

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Ocorrência espontânea de linfoma maligno em ovelha: Relato de caso

INTRODUÇÃO

A ocorrência de neoplasias em animais domésticos é fre-quentemente observada, no entanto estudos sobre as prevalên-cias de tumores em pequenos ruminantes são escassos, princi-palmente por conta do abate desses animais em idade precoce (Ramos et al., 2008; Pawaiya & Pawam, 2011).

Os principais sistemas acometidos por tumores nessas espécies são os sistemas tegumentar e reprodutor, tendo com maior frequência os de origem epitelial. Entre as neoplasias, o linfossarcoma de forma espontânea raramente acometem ovi-nos, apesar desta espécie se mostrar susceptível (Valentine & Mcdonough, 2003; Ramos et al., 2008; Carvalho et al., 2014).

O linfossarcoma faz parte das “neoplasias linfoides” e, é um distúrbio linfoproliferativo onde o tumor se inicia mais frequentemente em órgãos hematopoiéticos sólidos, como os linfonodos, baço ou tecido linfoide associado à mucosa e, me-nos frequentemente, em órgãos não linfoides (Panziera et al., 2014).

A transformação neoplásica de um tipo celular da linha-gem linfocitária ocasiona expansão descontrolada de clones dessa célula. A causa dessa alteração geralmente é desconheci-da, porém pode estar associado à exposição ao vírus da leucose bovina (VLB), como demonstrado experimentalmente em ovi-nos (Olson & Baungartener, 1976; Valentine & Mcdonough, 2003; Pugh, 2004).

Embora não completamente elucidada, a patogênese dessa doença está relacionada a produtos do complexo de histocom-patibilidade principal e glicoproteínas expressas na superfície das células B receptoras em decorrência da ação viral, ligadas a peptídeos presentes em células T apresentadoras de antíge-nos. Demonstrou-se também que ovinos inoculados com VLB apresentam quadros de linfocitose, com alto número de linfó-citos do tipo B e linfossarcomas com este mesmo tipo celular em curtos períodos de tempo, o que viabiliza estudos de pato-gênese dessa doença, tanto em ovinos como bovinos (Olson & Baungartener, 1976).

A importância econômica da ocorrência de linfossarco-mas reside nas perdas acarretadas por vários fatores como: custos com o diagnóstico, o tratamento das complicações se-cundárias, descarte prematuro ou morte dos animais, particu-larmente daqueles com alto potencial genético, e condenação de carcaças em frigoríficos (Silva-Filho et al., 2011).

Devido às poucas descrições de linfossarcoma em ovinos, a finalidade deste trabalho é relatar a ocorrência clínica e ana-tomopatológica dessa enfermidade em uma ovelha no Agreste de Pernambuco.

MATERIAL E MÉTODOS

As descrições dos achados foram obtidas a partir de um ovino, atendido na Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns/UFRPE, fêmea, mestiça e com quatro anos de idade, pesando 40 kg, oriunda de uma fazenda no município de São João-PE, compondo um rebanho de 50 animais. Na anamnese, o pro-prietário relatou que há dois dias observou que o animal estava apático, com perda do apetite e separado do rebanho, tendo sido medicado na propriedade sem sucesso. Foi relatado que esse animal juntamente com os demais foi trazido a três meses de outro estado e apenas um animal adoeceu. Os animais eram criados em sistema semi-intensivo, cuja alimentação diária era constituída de capim elefante (Pennisetum purpureum), ca-pim pangola (Digitaria decumbens) e 500g ração - a base de fa-relo de milho e trigo - fornecida duas vezes ao dia e sal mineral ad libitum. O exame clínico foi realizado segundo Radostits et al. (2007).

Para avaliação hematológica o sangue foi coletado em tubos de vidro com anticoagulante EDTA a 10%, no qual se realizou o hemograma, a determinação da proteína plasmática total e o fibrinogênio plasmático seguindo a metodologia pro-posta por Jain (1993).

Foram coletadas amostras de soro do animal em questão e em 20 ovinos (± 20% do rebanho) da propriedade, adultos e de ambos os sexos. As amostras foram submetidas à prova de imunodifusão em Gel de Agar (IDGA), com antígeno glico-proteico para a detecção de anticorpos contra o vírus da Leu-cose Enzoótica Bovina (LEB), conforme técnica descrita por Flores et al. (1988).

O exame ultrassonográfico foi realizado no antímero di-reito com o animal em posição quadrupedal, sem sedação e após ampla tricotomia compreendendo a caudalmente o 11o espaço intercostal (EIC), dorsalmente na altura da cartilagem da escápula, cranialmente o 6o (EIC) e ventralmente a linha mediana caudal ao esterno, segundo a técnica descrita por Flöck (2004) utilizando um transdutor convexo de 3,5 MHz1. Durante o período em que permaneceu internado, nove dias, o quadro clínico agravou-se e foi indicada a eutanásia, conforme Luna & Teixeira (2007). O animal foi encaminhado ao exame necroscópico.

Durante a necropsia foram colhidos fragmentos do rú-men, reticulo, abomaso, linfonodos, rins, coração, pulmão e diafragma, fixados em formol a 10%. Estes fragmentos foram processados rotineiramente e corados pela hematoxilina e eo-sina (HE) para avaliação descritiva da lesão (Barros & Marques, 2003).

1 Ultrassom GE – Logiq 100 pro.

nodes, diaphragm, heart and lungs. The histopathology revealed atypical mantle structures, with multiple vacuoles and interspersed fibrous stroma. The tumoral cells were small, round, basophilic, with scarce cytoplasm and a large, round nucleus, with hyperchromatic qualities, dense chromatin and rare mitosis. The results of the present study confirm that this was a case of atypical lymphosarcoma in the sheep in question.

K E Y W O R D S sheep; neoplasia; lymphoma; tumor, cachexia.

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Rafael Otaviano do Rego¹, José Claudio de Almeida Souza², Carla Lopes de Mendonça³, Rafael José da Silva³, Nivan Antônio Alves da Silva³, Franklin Riet-Correa4, José Augusto Bastos Afonso³. et al.

RESULTADOS

Os principais sinais clínicos observados durante o exame físico foram apatia, escore nutricional regular (II), presença de moderado edema submandibular e grau de desidratação de 8%. Além de anorexia, taquicardia, taquipnéia, hipomotilidade ruminal e abomasal. O animal apresentava dificuldade de ex-pansão pulmonar, com áreas de hipofonese, com a respiração predominantemente abdominal e na auscultação observaram--se sibilos na porção dorsal do pulmão direito. A temperatura se manteve dentro da faixa de normalidade para a espécie.

No hemograma observou-se que não houve alterações na série vermelha, proteína plasmática total e fibrinogênio plas-mático, porém no leucograma foi constatado leucocitose por neutrofilia e a presença de leucócitos degenerados (Tabela 01). A prova de IDGA revelou resultado negativo para o animal

atendido e os demais do rebanho analisados.O exame ultrasonográfico do antímero direito, entre 11º e

6º espaços intercostais, evidenciou presença de grande quanti-dade de conteúdo líquido, com aspecto predominantemente anaecóico, deslocando medialmente os pulmões, aproximada-mente 11 cm, e provocando a distensão caudal do campo to-rácico. No interior do conteúdo anaecóico foram identificados filamentos ecogênicos livres sugestivos de fibrina. No 6º espa-ço intercostal, na altura da linha do cotovelo, foi evidenciado saco pericárdico deslocado medialmente, aproximadamente 5 cm, por conteúdo anaecóico similar ao observado nas outras janelas acústicas. Foram observados depósitos e filamentos eco-gênicos aderidos à superfície do saco pericárdico sugestivos de aderências e fibrina.

Ao exame anatomopatológico, observou-se uma massa no tecido subcutâneo, aderida a região torácica caudal esternal, de consistência firme com características nodular e de coloração esbranquiçada. Nodulações com as mesmas características e de tamanhos menores foram visualizadas de forma focal na serosa do reticulo, do rúmen e multifocal infiltrada com expansão mural na serosa do abomaso (Figura 01-A).

Além desses órgãos, foi observada, ainda, uma massa de aproximadamente cinco centímetros, com mesmas caracterís-ticas, no omento (Figura 01-B) e esta lesão também foi eviden-ciada nos linfonodos mesentéricos (Figuras 02-A). Constata-ram-se ainda no córtex renal áreas esbranquiçadas circulares, irregulares multifocais que se aprofundavam ao parênquima (Figura 02-B). Na cavidade torácica além da pleuropneumonia exsudativa e a grande quantidade de derrame cavitário sero--sanguinolento, massas semelhantes foram observadas na face abdominal do diafragma, no epicárdio direito e lobo apical direito do pulmão (Figuras 02-C e D).

Os achados histopatológicos das estruturas nodulares re-velaram massas com estruturas atípicas disposta na forma de manto, com múltiplos vacúolos de diversos tamanho, distri-buídos aleatoriamente e com um discreto estroma fibroso (Figura 3-A). Essas células tumorais caracterizam-se por serem pequenas e arredondadas, basofílicas, com citoplasma escas-so, núcleo grande e redondo, hipercromático, com cromatina densa e basófílica, e nucléolo pouco evidente, além de discreto pleomorfismo. Observaram-se raras mitoses. (Figura 03-B).

Tabela 1 - Resultado hematológico de uma ovelha SRD, atendida na Clínica de Bovinos, Campus-Garanhuns da UFRPE com linfossarcoma atípico.

Avaliação Hematológica

Valores

Hematológicos Referência*

Eritrócitos (x106/μL) 10,1 (9,0-15,0)

Hematócrito (%) 41 (27,0-45,0)Hemoglobina (g/dL) 14,9 (9,0-15,0)

VCM (fL) a 40,59 (28,0-40,0)

CHCM (%)b 36,34 (31,0-34,0)

Leucócitos (/μL) 14.100 (4,0-12,0)Neutrófilos (/μL) 10.857 (700-6.000)Linfócitos (/μL) 3243 (2.000-9.000)

PPT (g/dL)c 6,4 (6,0-7,5)

Fp (mg/dL) d 400 (100-500)

* Fonte: Kramer (2000); a VCM: Volume Corpuscular Médio; b CHCM: Concentração Corpuscular Média, c Proteína plasmática total, d Fibrinogênio

Plasmático.

Figura 1 - Linfossarcoma linfocítico no sistema digestório de uma ovelha adulta na CBG/UFRPE. A. Massas tumorais na serosa e parede do abomaso e retículo. B. Presença de massa tumoral de aproximadamente cinco centímetros de diâmetro no omento (seta).

A B

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Ocorrência espontânea de linfoma maligno em ovelha: Relato de caso

Figura 02: Linfossarcoma linfocítico em diversos órgãos de uma ovelha adulta na CBG/UFRPE. A. Linfonodo mesentérico aumentado de tamanho. B. Massa tumoral na superfície e parênquima da cortical dos rins. C. Massa tumoral focal no diafragma (seta), D. Massa tumoral focal no epicárdio direito (seta)

Figura 03: Achados histológicos do linfossarcoma em ovelha CBG/UFRPE. A. Massa com discreto estroma fibroso entremeado e com múltiplos va-cúolos de tamanhos variados (10x). B. Células tumorais pequenas e arredondadas, basófílicas, com citoplasma escasso, núcleo grande e redondo, com cromatina densa e basófílica e nucléolo pouco evidente (40x).

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Rafael Otaviano do Rego¹, José Claudio de Almeida Souza², Carla Lopes de Mendonça³, Rafael José da Silva³, Nivan Antônio Alves da Silva³, Franklin Riet-Correa4, José Augusto Bastos Afonso³. et al.

DISCUSSÃO

A associação das informações obtidas nos achados clínicos e laboratoriais, principalmente na macroscopia e histopatolo-gia ratificou o diagnóstico de linfossarcoma. A ocorrência de forma espontânea em ovinos é rara, e tem muita similaridade a forma esporádica ou linfossarcoma juvenil em bovinos, na qual nem o vírus da leucemia bovina nem anticorpos contra o VLB estão associados. Tal achado se assemelha como ao en-contrado em cabras acometidas com a forma natural de linfos-sarcoma (Smith & Sherman, 2009). Geralmente o diagnóstico do linfossarcoma, como no animal em estudo, é constatado em animais acima de dois anos de idade (Johnstone & Manktelow 1978, Anjos et al. 2010).

Os achados clínicos desse relato são semelhantes aos en-contrados por DiGrassie et al. (1997) e Anjos et al. (2010), os quais relataram que a rápida deterioração da condição física, ocorre quando os sinais clínicos são notados. Em caprinos aco-metidos com linfossarcoma geralmente podem ter uma varie-dade de sinais clínicos incluindo febre, emaciação, dispneia e diarreia, com a morte ou a eutanásia ocorrendo em uma sema-na a dois meses na maioria dos casos. Achados estes observados no caso em estudo.

Mesmo o animal atendido sendo um adulto, os ovinos apresentam uma prevalência baixa para ocorrência de linfos-sarcoma devido essa espécie ser abatida de forma precoce, ou seja, antes da meia-idade e por isso tem menor probabilidade de desenvolver tumores (Ramos et al., 2008). Apesar da baixa ocorrência, Valli (2007) descreve que cerca de 30-60% dos ovi-nos jovens infectados desenvolvem linfossarcomas de células B. Linfomas em pequenos ruminantes não apresentam predis-posição por sexo nem raça (Jacobs et al., 2002).

A leucocitose por neutrofilia pode ser interpretada como consequência da condição inflamatória que estava acometen-do o pulmão (Jain, 1993; Radostits et al., 2007). Estes achados, associados ao resultado negativo do IDAG, se assemelham a forma esporádica do linfossarcoma juvenil em bovinos, que não está associada ao vírus da LEB em bovinos, na qual pode também ser observado leucocitose persistente por linfocitose, além da presença de linfócitos atípicos na circulação (Barros, 2007; Radostits et al., 2007).

Geralmente, a distribuição das lesões do linfoma em pe-quenos ruminantes é idêntica às observadas em bovinos, sen-do a forma multicêntrica a mais observada nessas espécies. Nos ovinos os linfonodos ilíacos, cervical e mediastínicos são os frequentemente mais afetados. Outros órgãos comumente afetados em ovinos e caprinos com linfoma são baço, fígado, rim, trato alimentar, músculo esquelético e coração. Ocasional-mente as lesões macroscópicas em ovinos são encontradas nos rins e trato alimentar, como foi constatado no caso em estudo (Parodi, 1987; Southwood et al., 1996; Jacobs et al., 2002)

As alterações renais observadas nesse estudo são mais des-critas em casos espontâneos de ovelhas com linfossarcomas conforme os casos descritos por Johnstone & Manktelow (1978) e Anjos et al. (2010), do que nos casos experimentais como relatado por Olson & Baumgartener (1976), onde a tu-moração geralmente ocorre de forma bilateral na forma de

nódulos que podem ser salientes ou não, frequentemente múl-tiplos, acometendo mais o córtex do que a região medular e que segundo Jacobs et al. (2002) muitas vezes é o único achado macroscópico de linfomas em ovinos.

A apresentação multicêntrica observada no animal em questão é a forma predominantemente no ovino, conforme re-lato de Anjos et. al. (2010). Outras formas como a cutânea e tí-mica também podem ocorrer como as descritas por Johnstone & Manktelow (1978). A forma multicêntrica nesse caso afetou a serosa do rúmen e do abomaso e parênquima renal, causan-do linfoadenomegalia simétrica e envolvendo outros órgãos, assim como observado nos ovários em caprinos (Digrassie et. al., 1997), além do fígado, rins, linfonodos, baço, trato alimen-tar, músculos esqueléticos e coração (Johnstone & Manktelow, 1978; Valentine & Mcdonough, 2003).

As alterações microscópicas encontradas na ovelha de proliferação de células neoplásicas arranjadas em mantos, sustentada por um fino estroma fibrovascular, são descritas comumente nos casos espontâneos em pequenos ruminantes (Digrassie et al., 1997; Anjos et al., 2010) e nos casos experi-mentais (Olson & Baumgartener, 1976; Djilali & Parodi et al., 1989).

Com base nos achados clínicos-patológicos confirmou-se o diagnóstico de linfossarcoma multicêntrico, aumentando a casuística conjuntamente aos casos encontrado no Sul do Bra-sil por Anjos et. al. (2010), e fora do país por Jacobs et al. (2002).

CONCLUSÃO

Os achados encontrados contextualizam os relatos da lite-ratura, que são poucos, sobre o comprometimento da vida pro-dutiva dos animais quando acometidos com esta enfermidade. A constatação de casos espontâneos, como o em estudo, na for-ma multicêntrica, devem ser analisados quanto a sua origem e os riscos que possam representar para a sanidade do rebanho.

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Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservadoRafael LIMONGI de Souza¹, Robespierre Augusto Joaquim ARAÚJO SILVA², André Mariano BATISTA², Maria Madalena Pessoa GUERRA², Sildivane Valcácia SILVA¹

RESUMO

Objetivou-se avaliar o efeito da adição de diferentes concentrações de taurina ao sêmen ca-prino pós-descongelação. Utilizou-se sêmen criopreservado de caprinos Boer (n=3), onde foram descongeladas duas palhetas de cada reprodutor (37 ºC/30 s) e as amostras foram homogenei-zadas. Quatro grupos experimentais foram formados: GC= grupo controle (sêmen com adição de meio essencial mínimo); G1= sêmen + 5 mM de taurina; G2= sêmen + 25 mM de taurina; G3= sêmen + 50 mM de taurina; submetidos à avaliação de cinética espermática e integridade de membrana plasmática, acrossoma e função mitocondrial nos momentos após formação dos grupos amostrais (T0), uma (T1) e três (T3) horas pós-descongelação. Foram realizadas seis repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA, One way) e teste de Tukey, com nível de significância de 5%. O GC apresentou redução (p<0,05) para os valores de motilidade total, motilidade progressiva, percentual de espermatozoides rápidos e frequência de batimento cruzado no T3, resultado não observado para os grupos tratados com taurina. Não foram observadas diferenças (p>0,05) para os demais parâmetros cinéticos e de integridade das membranas espermáticas entre os grupos tratados e o grupo controle. Mediante o exposto, conclui-se que a taurina, nas concentrações de 5, 25 e 50 mM mantem a motilidade total, moti-lidade progressiva, percentual de espermatozoides rápidos e frequência de batimento cruzado de espermatozoide caprino após três horas pós-descongelação.

P A L A V R A S - C H A V E Aminoácido; espermatozoide; motilidade

Effect on supplementation of three taurine´s concentration in cryopreserved goat sperm

ABSTRACT

This study aimed to evaluate the effect of different concentrations of taurine to post-thaw goat semen. It was used goat cryopreserved semen Boer (n=3); two pallets of each breeding animal were thawed (37 °C/30 s) and samples were homogenized. Four experimental groups were formed: CG= control group (semen with minimal essential medium); G1= semen + 5 mM taurine; G2= semen + 25 mM taurine; G3= semen + 50 mM taurine; assessed for sperm kinetics, plasma membrane and acrosome integrity, and mitochondrial function after the sam-ple groups formation: at thawing moment (T0), one (T1) and three (T3) hours post-thaw. Six replicates were performed. Data were subjected to variance analysis (ANOVA, One way) and Tukey’s test at 5% significance level. The CG decreased (p<0.05) values for total motility, pro-gressive motility, rapid sperm and beat cross frequency after T3, which was not observed in the groups treated with taurine. No observed differences (p>0.05) to other kinematic parameters and integrity of sperm membranes among the treated groups and the CG. Thus, in conclusion, the taurine at concentrations 5, 25 and 50 mM preserves total motility, progressive motility, rapid sperm and beat cross frequency of goat sperm after three hours post-thaw.

K E Y W O R D S amino acid; sperm; motility

1 Laboratório de Biotecnologia em Reprodução Animal (LABRA), Centro de Biotecnologia (CBiotec), UFPB, João Pessoa/PB.

² Laboratório de Andrologia (ANDROLAB), Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE, Recife/PE. *E-mail: [email protected].

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Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservado

INTRODUÇÃO

A criopreservação é uma biotécnica que permite preservar tecidos biológicos ou células, como os espermatozoides, por tempo indeterminado através da congelação a temperatura de -196 ºC. Esta biotécnica pode induzir danos letais ou subletais à célula espermática devido à mudança de temperatura (WAT-SON, 2000) e ao estresse osmótico provocado durante a conge-lação e descongelação do sêmen (PARKS e GRAHAM, 1992).

As lesões causadas pelo processo de criopreservação às estruturas que conferem motilidade e viabilidade espermá-tica também podem ser induzidas pela formação de radicais livres, entre eles estão as espécies reativas de oxigênio (ROS). O aumento de ROS no meio celular pode exceder a capacidade protetora do sistema antioxidante, provocar lesões nas estru-turas celulares e desencadear o processo de estresse oxidativo (SIKKA et al., 1995).

O sistema antioxidante participa no bloqueio da ação dos radicais livres antes que causem a lesão, ou como reparador da lesão ocorrida. Estes agentes estão presentes no plasma seminal e nos espermatozoides (BILODEAU et al., 2002), entretanto, os espermatozoides criopreservados de caprino são desprovidos de antioxidantes extracelulares, devido à retirada do plasma se-minal (NUNES, 1982), o que justifica a necessidade da adição de antioxidantes antes da congelação ou pós-descongelação.

A taurina é um aminoácido que não participa da sínte-se proteica, mas tem função na excreção de colesterol, atuan-do como neurotransmissor, osmorregulador e como potente antioxidante (HUXTABLE, 1992; BOUCKENOOGHE et al., 2006). O uso da taurina como forma de melhorar a qualidade do sêmen tem o objetivo de minimizar danos causados pela geração excessiva de radicais livres, diminuindo o ataque de ROS à membrana da célula.

Em estudos com búfalos da raça Murrah e de gado da raça Karan Fries, Kumar et al. (2013) notaram que a incorporação de taurina (50 mM) ao diluente preservou significativamente a motilidade, viabilidade e integridade das membranas espermá-ticas. Perumal et al. (2013) observaram em seus estudos, com bovinos da raça Mithun, que a inclusão de taurina (25, 50 e 100 mM) ao diluente reduziu os percentuais de espermato-zoides mortos, com alterações de cauda e anormalidades acros-sômicas, atribuindo essas melhorias à atividade antioxidante da taurina que impediu a geração excessiva de ROS. Alvarez e Storey (1983) utilizaram à taurina (0,5 mM) na criopreserva-ção de sêmen de coelhos e observaram a redução dos índices de peroxidação lipídica com melhora na taxa de motilidade espermática, e Bucak et al. (2007) observaram que a adição de taurina (25 e 50 mM) ao sêmen ovino promoveu o aumento dos níveis de vitamina E, antioxidante responsável pela preser-vação da membrana plasmática.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da adição de taurina ao sêmen caprino pós-desconge-lação.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Exceto os especificados, todos os químicos utilizados nes-te estudo foram adquiridos da Sigma-Aldrich®, St Louis, MO, USA.

Neste trabalho foram utilizadas amostras congeladas de sêmen de reprodutores caprinos da raça Boer (n=3), obtidas em central de reprodução. Foram descongeladas duas palhetas de cada reprodutor (37 ºC/30 s) e as amostras foram homoge-neizadas para evitar variabilidade individual (BUCAK et al., 2008). Após avaliação inicial da motilidade total e progressiva por análise computadorizada de espermatozoides (CASA), o pool foi destinado à formação dos quatro grupos experimen-tais: GC= grupo controle, adição de solução salina fisiológica, sem adição de taurina [90 µL de sêmen + 100 µL de meio essen-cial mínimo (DMEM)]; G1= sêmen com 5 mM de taurina (900 µL de sêmen + 10 µL de taurina 500 mM + 90 µL de DMEM); G2= sêmen com 25 mM de taurina (900 µL de sêmen + 50 µL de taurina 500 mM + 50 µL de DMEM); G3= sêmen + 50 mM de taurina (900 µL de sêmen + 100 µL de taurina 500 mM). A solução mãe de taurina (500 mM) foi preparada em DMEM.

2.1 ANÁLISES ESPERMÁTICAS

As análises foram realizadas em três momentos: após a for-mação dos grupos amostrais (T0), uma (T1) e três (T3) horas pós-descongelação. Durante esse período as amostras ficaram incubadas na bancada com temperatura aproximada de 28 °C. Em cada momento, previamente à realização das análises, para cada um dos grupos foi realizada uma diluição (1:10 v/v) em DMEM de forma a se obter uma concentração de 20-30x106 es-permatozoides/mL. Cada avaliação foi realizada em triplicata e este experimento foi realizado seis vezes.

2.1.1 CINÉTICA ESPERMÁTICA

A cinética espermática foi analisada através do sistema computadorizado de análise espermática (CASA; Sperm Class Analyzer - SCATM software, Microptics, v. 5.1, S.L., Barcelona, Espanha). Uma alíquota (5 µL) de cada amostra foi deposita-da sobre lâmina previamente aquecida (37 ºC), coberta com lamínula e analisada por microscópio de contraste de fase (au-mento de 100x; NikonTM H5505, Eclipse 50i, Tóquio, Japão) e as imagens foram capturadas utilizando uma câmera de vídeo (Basler Vision TechnologiesTM A312FC, Ahrensburg, Alema-nha). Para cada amostra foram analisados cinco campos não consecutivos, selecionados aleatoriamente, com registro de, no mínimo, 2000 espermatozoides. Foram avaliados os seguintes parâmetros: motilidade total (MT), motilidade progressiva (MP), linearidade (LIN), retilinearidade (STR), índice de osci-lação (WOB) e percentual de espermatozoides rápidos (RAP), sendo estes expressos em porcentagem; velocidade curvilinear (VCL), velocidade em linha reta (VSL), velocidade média do percurso (VAP), expressos em micrômetros por segundos; am-plitude do deslocamento lateral da cabeça espermática (ALH), expresso em micrômetros e a frequência do batimento flagelar cruzado (BCF), expressa em Hertz. Os pontos finais da cinética

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Rafael Limongi de Souza et al.

foram mensurados com as seguintes configurações: tempera-tura de 37 ºC, taxa de frame de 25 s, contraste mínimo de 75, 25 frames adquiridos por campo, velocidade analisada entre 0 a 180 µm/s e limiar de 75% de STR.

2.1.2 INTEGRIDADE DE MEMBRANA PLASMÁTICA

Para avaliação da integridade de membrana plasmática (iMP) utilizou-se o método de coloração dupla com Diaceta-to de Carboxifluoresceína (DCF) e Iodeto de Propídeo (IP), segundo Silva et al. (2011). Alíquotas de 5,0 µL de DCF (0,46 mg/mL em DMSO) e 5,0 µL de IP (0,5 mg/mL em PBS) foram adicionadas a 30 µL de cada amostra e incubados por 10 mi-nutos a 37 ºC. Um total de 200 espermatozoides foi avaliado em microscópio de epifluorescência (Carl Zeiss, Gottingen, Alemanha), com aumento de 400x, usando filtro de emissão DBP 580-640 nm e excitação DBP 485-520 nm. Os espermato-zoides foram classificados com a membrana plasmática intacta quando fluoresceram em verde, e com membrana danificada quando fluorescidos em vermelho.

2.1.3 INTEGRIDADE DO ACROSSOMA

Para determinar a integridade acrossomal (iAC), foram confeccionados estiraços os quais foram posteriormente co-rados com Isotiocíanato de Fluoresceína conjugado a Peanut agglutinin (FITC-PNA), de acordo com a técnica descrita por Câmara et al. (2011). Uma alíquota de 20 µL da solução es-toque FITC-PNA (1 mg/mL) foi descongelada e adicionada a 480 µL de PBS para obter concentração final de 100 µg/mL. Alíquotas (20 µL) desta solução foram colocadas sobre lâminas estiradas, as quais foram incubadas por 20 minutos em câmara úmida (4 ºC), na ausência de luz. Após a incubação, as lâminas foram enxaguadas duas vezes em água miliQ refrigerada (4 ºC) e colocadas para secagem na ausência de luz. Imediatamente antes da avaliação, 5 µL de meio de montagem (4,5 mL de glicerol, 0,5 mL de PBS e 5 mg de p-phenylediamine) foi colo-cado sobre a lâmina e coberto com lamínula.

Foram avaliados 200 espermatozoides por lâmina, em microscopia de epifluorescência, com aumento de 1000x sob imersão, usando filtro de emissão LP 515 nm e BP 450-490 nm para excitação. Os gametas foram classificados como por-tadores de acrossomas intactos, quando apresentavam a região acrossomal com fluorescência verde, ou acrossomas reagidos, quando apresentavam faixa verde fluorescente na região equa-torial da cabeça espermática ou não apresentavam fluorescên-cia verde na região acrossomal.

2.1.4 FUNÇÃO MITOCONDRIAL

A função mitocondrial dos espermatozoides foi determi-nada pela utilização do fluorocromo catiônico lipofílico JC-1 (SILVA et al., 2012). Alíquotas de 5,0 µL de JC-1 (0,15 mM em DMSO) foram adicionadas a 30 µL de cada grupo experimen-tal e incubadas por 10 minutos a 37 ºC. Duzentos esperma-tozoides foram avaliados em microscopia de epifluorescência, com aumento de 400x, usando filtro de emissão LP 515 nm e

BP 450-490 nm para excitação. As células que apresentavam a peça intermediária fluorescentes em laranja foram classifica-das com alto potencial de membrana mitocondrial, enquanto aquelas fluorescentes em verde foram classificadas com baixo potencial de membrana.

2.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados foram avaliados pelo teste de Kolmogorov-Smir-nov para testar a normalidade da variância. Para comparações entre os tempos do mesmo tratamento e comparações entre os tratamentos em um mesmo tempo foi utilizado o teste de comparação de médias ANOVA, seguida do pós-teste de Tu-key (p≤0,05) pelo software da IBM, SPSS Statistics (versão 18.0 para Windows).

3. RESULTADOS

Os resultados dos parâmetros cinéticos foram expressos na forma de média e desvio padrão e estão apresentados em grá-ficos na figura 1, e nas tabelas 1 e 2. A motilidade espermática total (MT) e a motilidade progressiva (MP) foram superiores a 30% em todos os grupos estudados (Figura 1) sendo estas amostras aprovadas segundo o Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento (MAPA) para comercialização em pro-gramas de inseminação artificial (CBRA, 2013).

A análise dos parâmetros cinéticos de espermatozoides caprinos pós-descongelação constatou que a MT, MP e RAP (Figura 1) foram inferiores (p<0,05) para o grupo controle após 3h de descongelação/incubação, fato não observado para os grupos tratados com a taurina. Apesar dos grupos GC e G3 apresentarem redução (p<0,05) para o BCF (Figura 1) no T3 em relação ao T0, o G3 não diferiu dos demais grupos tratados neste momento.

O tratamento com taurina não influenciou (p>0,05) os re-sultados de VCL, VSL, VAP (Tabela 1), WOB (Tabela 2) e ALH (Figura 1). Entretanto, para a LIN e STR (Tabela 2), foi observa-do que no T1 houve redução destes valores para o G3, e ao ava-liar o T3 foi visto que esses valores foram restabelecidos. Não houve efeito (p>0,05) do tempo de descongelação/incubação ou tratamento para as variáveis iMP, iAC e aPMM (Tabela 3).

4. DISCUSSÃO

A cinética espermática obtida pela análise computadori-zada dos espermatozoides descongelados demonstrou que os parâmetros de velocidade deste experimento encontram-se na média, ou são superiores a alguns estudos com utilização de sêmen caprino criopreservado (DORADO et al., 2007; SOA-RES et al., 2011).

O comportamento pós-descongelação do sêmen sem a adição do aminoácido mostrou-se como o esperado, uma vez que espermatozoides expostos à redução de temperatura so-frem o efeito do choque térmico, causado pelo desequilíbrio iônico, com aumento dos íons cálcio, sódio e zinco e dimi-

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Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservado

Figura 01: Parâmetros (média ± desvio padrão) de motilidade to-tal (A), motilidade progressiva (B), percentual de espermatozoides rápidos (C), batimento flagelar cruzado (D) e amplitude lateral da cabeça (E) de espermatozoides caprinos da raça Boer pós-des-congelação, suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação.

GC=Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5 mM de Taurina); G2=Grupo 2 (25 mM de Taurina); G3=Grupo 3 (50 mM de Taurina). T0=Momento de avaliação após descongelação; T1=Momento de avaliação 1 hora após descongelação; T3=Momento de avaliação 3 horas após descongelação. Diferentes letras minúsculas representam diferença (p<0,05) entre os tempos em um mesmo grupo. Diferentes letras maiúsculas representam diferença (p<0,05) entre os grupos em um mesmo tempo.

VCL (µm/s) VSL (µm/s) VAP (µm/s)T0 120,57±19,04 89,95±22,84 107,13±21,66

GC T1 124,80±8,76 84,43±15,86 108,43±12,23T3 134,83±12,76 92,37±20,22 118,78±17,61

T0 126,75±10,21 92,08±15,76 112,05±12,78G1 T1 127,23±6,43 82,38±5,91 108,23±7,56

T3 132,10±7,03 87,63±19,93 114,30±13,63

T0 133,88±16,85 99,62±21,43 119,60±19,67G2 T1 128,13±16,78 87,50±27,36 110,36±24,13

T3 125,60±17,96 86,63±23,22 108,61±22,15

T0 121,92±12,60 89,75±15,76 107,36±15,71G3 T1 112,03±17,81 69,65±19,68 90,56±20,99

T3 133,50±16,68 92,40±17,92 117,95±19,30GC=Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5 mM de Taurina); G2=Grupo 2 (25 mM de Taurina); G3=Grupo 3 (50 mM de Taurina).

T0=Momento de avaliação após descongelação; T1=Momento de avaliação 1 hora após descongelação; T3=Momento de avaliação 3 horas após descongelação.

Tabela 1 - Valores médios (± desvio padrão) para velocidade curvilínea (VCL), velocidade linear progressiva (VSL) e velocidade média da trajetória (VAP) de espermatozoides de caprino Boer pós-descongelação e suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação

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Rafael Limongi de Souza et al.

nuição dos íons potássio e magnésio, resultando na redução da motilidade do espermatozoide caprino (BEZERRA, 2010). Além do desequilíbrio iônico, o espermatozoide ainda pode sofrer alterações da osmolaridade, levando a célula espermá-tica ao processo de choque osmótico (HOLT, 2000), que pode levar a diminuição de sua motilidade. Os grupos tratados com taurina, independente das concentrações utilizadas, não apre-sentaram esta diminuição, possivelmente pela sua capacidade osmorreguladora, onde a taurina é transportada por um trans-portador específico dependente de Na+, ou seja, seu transporte corresponde a alterações iônicas além de ser sensível a outras

substâncias orgânicas, como a glicose (HUXTABLE, 1992). Ainda, Tappaz (2004) define a taurina como um osmólito or-gânico utilizado pelas células para regulação do volume celu-lar, se readequando ao desbalanceamento osmótico, evitando o desequilíbrio e suas lesões.

Verstegen et al. (2002) relataram que o aumento dos va-lores de VSL, VCL e VAP estão associados a fertilidade, onde observaram que os espermatozoides com valores elevados para estes parâmetros fertilizaram mais de 50% dos oócitos insemi-nados. O aumento do BCF e ALH, associados ao aumento do padrão do vigor, são indicadores de hiperativação espermática

LIN (%) STR (%) WOB (%)T0 73,86±7,95a 83,43±4,98a 88,38±4,37

GC T1 67,35±9,04a 77,43±6,72a 86,58±4,44T3 67,88±9,17a 77,11±6,91a 87,71±5,11

T0 72,25±7,20a 81,76±5,44a 88,22±3,30G1 T1 64,75±3,15a 76,15±1,85a 85,01±2,86

T3 65,88±10,76a 75,95±7,77a 86,25±6,42

T0 73,70±8,10a 82,66±5,53a 88,96±4,14G2 T1 66,95±12,12a 78,13±7,71a 85,15±7,53

T3 66,55±8,77a 77,16±5,78a 85,93±5,30

T0 73,30±6,44a 83,35±3,00a 87,83±5,00G3 T1 61,35±9,11b 76,25±4,37b 80,37±8,07

T3 69,70±5,66ab 79,08±3,7ab 88,03±3,60GC= Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5 mM de Taurina); G2=Grupo 2 (25 mM de Taurina); G3=Grupo 3 (50 mM de Taurina). T0=Momento de avaliação após descongelação; T1=Momento de avaliação 1 hora após descongelação; T3=Momento de avaliação 3 horas após descongelação.

Diferentes letras representam diferença (p<0,05) entre os tempos em um mesmo grupo.

iAC (%) iMP (%) aPMM (%)T0 65,58±7,27 44,00±7,11 62,32±6,21

GC T1 62,25±6,46 34,67±8,70 54,84±6,62T3 55,00±11,40 48,33±11,26 53,17±11,39

T0 52,58±14,79 38,67±5,35 60,67±10,08G1 T1 55,92±9,76 31,83±6,31 58,75±11,00

T3 49,33±7,63 38,42±10,42 51,25±12,31

T0 58,91±8,17 40,92±4,42 58,35±5,52G2 T1 56,00±7,35 34,08±8,22 58,58±6,88

T3 51,25±12,55 38,58±8,56 49,92±11,73

T0 56,58±8,15 38,92±6,41 51,58±16,44G3 T1 60,25±10,10 35,73±8,80 58,83±6,18

T3 48,42±14,62 42,90±6,90 54,18±13,09

GC= Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5 mM de Taurina); G2=Grupo 2 (25 mM de Taurina); G3=Grupo 3 (50 mM de Taurina). T0=Momento de avaliação após descongelação; T1=Momento de avaliação 1 hora após descongelação; T3=Momento de avaliação 3 horas após descongelação.

Tabela 2: Percentual (média ± desvio padrão) de linearidade (LIN), retilinearidade (STR) e índice de oscilação (WOB) de espermatozoide de caprinos Boer pós-descongelação e suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação

Tabela 3: Percentual (média ± desvio padrão) de integridade do acrossoma (iAC), integridade da membrana plasmática (iMP) e alto potencial de membrana mitocondrial (aPMM) de espermatozoides caprinos Boer pós-descongelação, suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação

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Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservado

(MORTIMER e MORTIMER, 1990) e aumento dos índices de fertilidade. Valores elevados de BCF e LIN implicam na melhor migração e penetração do espermatozoide no muco cervical (MORTIMER, 2000). Entretanto, o GC no momento três horas pós-descongelação, apresentou diminuição dos seus valores para o BCF, fator este que implicaria na sua menor efi-ciência de migração no muco cervical. O G3, mesmo sofrendo redução do BCF no T3 em relação aos demais tratamentos, ainda preservou este parâmetro quando comparado ao GC. As amostras descongeladas apresentam bons níveis de capaci-dade de penetração cervical quando analisado os valores da LIN, com percentuais superiores a 50% em todos os grupos, entretanto, a ALH que é uma variável importante para deter-minação da boa capacidade penetrante do espermatozoide, teve seus valores menores que os descritos por Cox et al. (2006) para espécie caprina.

Os efeitos protetores da taurina, evidenciados pela pre-servação da MT, MP, RAP e BCF, também podem estar rela-cionados ao mecanismo antioxidante deste aminoácido, uma vez que a taurina reage com o ânion superóxido, tendo função scavenger1, protegendo a célula espermática dos efeitos deleté-rios de algumas espécies reativas de oxigênio, além de evitar a perda da atividade enzimática da superóxido dismutase (OLI-VEIRA et al., 2010).

Os dados de preservação da motilidade espermática com o uso da taurina obtidos neste estudo corroboram com os resul-tados positivos para motilidade espermática nos experimentos de Bucak et al. (2007) e Kumar et al. (2013), que testaram a taurina na concentração de 50 mM em sêmen de carneiro e sêmen de búfalo, respectivamente. Ainda, Perumal et al. (2013) e Atessahin et al. (2008), utilizando sêmen bovino com 25 e 50 mM, e sêmen caprino com 25 mM de taurina, respectivamente, atribuíram a boa qualidade dos parâmetros cinéticos do sêmen devido ao aumento da atividade de enzimas antioxidantes nas células espermáticas, como a glutationa peroxidase (GSH-PX) e Vitamina A, impedindo a geração excessiva dos radicais li-vres e minimizando injúrias provocadas por estes, concordan-do com o descrito por Bucak et al. (2007), onde relatam que a taurina mantém a integridade e normalidade do acrossoma, estabilizando a membrana plasmática e melhora a motilidade espermática devido a atividade antioxidante da taurina.

Além do seu potencial osmorregulador e função antioxi-dante, a taurina pode ter preservado as características móveis do espermatozoide neste experimento devido a sua função es-timuladora da glicólise e moduladora da atividade Na+/K+-A-TPase (HUXTABLE, 1992; IJAZ e DUCHARME, 1995), onde a combinação desses efeitos faz com que a célula espermática preserve a sua motilidade modulando seu aporte energético. Entretanto, não foi observado aumento do aPMM dos esper-matozoides.

Neste experimento, foi observado que todos os grupos preservaram seus padrões de integridade da membrana plas-mática e acrossomal, entretanto, por mais que a integridade

1 Uma molécula scavenger é toda substância química capaz de atenuar ou dissipar os efeitos tóxicos de outra molécula. Referida como uma substância capaz de eliminar as impurezas de uma mistura.

dessas membranas sejam atributos essenciais para fertilidade do espermatozoide, a motilidade espermática, que é um pa-râmetro relacionado à capacidade fertilizante, pode diminuir mesmo que não ocorra lesões nessas estruturas (BAUMBER et al., 2000), como o observado no grupo controle deste estudo.

5. CONCLUSÃO

A adição da taurina ao sêmen caprino pós-descongelação, nas concentrações de 5, 25 e 50 mM preserva a motilidade total, motilidade progressiva, percentual de espermatozoides rápidos e o batimento flagelar cruzado de espermatozoide ca-prino após três horas de incubação.

AGRADECIMENTOS

À Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPG) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pelo fornecimento de bolsa ao discente e por fomentar parte da pesquisa com o programa Pró-PIBIC; ao Laboratório de Andrologia (AN-DROLAB) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), por fornecer o espaço e equipamentos necessários para o desenvolvimento deste trabalho.

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INTRODUÇÃO

Os distúrbios da cavidade rumenorreti-cular, que incluem casos de acidose ruminal, indigestão simples, compactação ruminal e timpanismo estão, na maioria das vezes, asso-ciados a erros alimentares devido à escassez de forragem em períodos de estiagem. Os alimen-tos disponíveis nesses períodos geralmente são de má qualidade e de pouca digestibilidade levando ao aumento do fornecimento de ali-

mento concentrado. Dieta com altos teores de concentrado é a principal causa das indi-gestões de origem alimentar em ruminantes (Afonso et al., 2008, Coutinho et al., 2009, Lira et al., 2011).

Outras fontes de alimento, comum ou não a dieta dos ruminantes, também podem levar a transtornos digestivos como a palma forrageira (Afonso et al., 2008) e leguminosas Stylosanthes spp. (Moraes et al., 2010). Surtos de timpanismo espumoso em bovinos foram

Indigestão por manga (Mangifera indica) em bovinos - Primeiro relatoHuber RIZZO1*, Artur Cezar de Carvalho FERNANDES1, Rachel Livingstone Felizola Soares de ANDRADE2

RESUMO

O objetivo deste trabalho é relatar um caso de indigestão causado pela ingestão de manga por uma vaca leiteira, em final de gestação, criado no município de Itaporanga D’ajuda-SE. Foi relatado que o animal apresentou timpanismo recidivante, seguido de secreção nasal bi-lateral seromucosa. Na Clínica de Grandes Animais do Hospital Veterinário da Faculdade Pio Décimo, o mesmo foi submetido a cesariana, com nascimento de bezerro a termo, seguida de rumenotomia onde foram retirados 174 caroços de manga. O conteúdo ruminal encontrava-se acidótico (pH 5,0). O comprometimento sistêmico ficou evidente nos exames hematológicos, diante de um quadro de leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda, e alteração nos valores referentes a função hepática e renal. Após seis horas do procedimento cirúrgico o ani-mal veio a óbito. No exame necroscópico observou-se hiperemia de mucosa ruminal, além da presença de mais um caroço. Histologicamente observou-se congestão hepática e renal e rúmen com áreas multifocais de infiltrado inflamatório neutrofílico perivascular na camada mucosa.

P A L A V R A S - C H A V E cesariana, sistema digestório e rumenotomia.

Indigestion for mango (Mangifera indica) in bovine - first report

ABSTRACT

The objective of this study is to report a case of indigestion caused by the mango intake by a dairy cow in late gestation, created in the city of Itaporanga D’ajuda, state of Sergipe, Brazil. It was reported that the animal had recurring bloat, followed by bilateral nasal seromucous se-cretion. At the Large Animal Clinic on the Veterinary Hospital of the Faculty Pio Décimo, the animal was submitted to a cesarean section with calf birth at term, followed by rumenotomy, whereby were removed 174 mango pits. The rumen content was acidotic (pH 5.0). The sys-temic involvement was evident in hematological tests, presenting leukocytosis by neutrophilia with left desviation and change in values for liver and kidney function. After six hours of sur-gery the animal died. In the autopsy observed ruminal mucosa detachment, and the presence of another mango pit. Histologically, hepatic and kidney congestion. The rumen mucous layer presented also multifocal areas of perivascular neutrophilic inflammatory infiltrate.layer.

K E Y W O R D S caesarean, digestive system and rumenotomy.

1 Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, CEP: 52171-900, Recife, PE

2 Curso de Medicina Veterinária, Faculdade Pio Décimo, CEP: 49095-000 Aracaju, SE

*autor para correspondência: e-mail: [email protected]

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40 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 39-42 - janeiro/abril, 2015

Huber RIZZO et al.

relacionados a pastagens de Trifolium repens (trevo-branco) e Trifolium pratense (trevo-vermelho) (Dalto et al. 2009, Cos-ta et al., 2013). A acidose ruminal foi descrita em pequenos ruminantes que recebiam restos de comida caseira (lavagens) e de padaria, frutas e fontes de carboidrato de fácil digestão como milho em grãos e farelo de milho (Lira et al., 2011) e em ovinos, relatou-se compactação rumenal e abomasal devido à ingestão de côco catoté (Oliveira et al., 2007).

Os sinais clínicos observados em geral são apatia, anorexia, queda na produção de leite, perda crônica de peso, taquicardia, taquipnéia, atonia ruminal, desidratação, aumento do flanco esquerdo ou de ambos, mucosas congestas, fezes pastosas, fé-tidas, ressecadas e/ou escassas, decúbito e óbito. O conteúdo ruminal pode estar líquido ou ressecado com alterações de pH e microbiota (Afonso et al., 2008, Dalto et al., 2009, Lira at al., 2011).

Considerando a ausência de relatos, o objetivo deste traba-lho é, pela primeira vez, descrever um caso de indigestão por caroço de manga (Mangifera indica) em bovino leiteiro que ocorreu no Estado de Sergipe, Brasil.

RELATO DE CASO

Foi atendido na Clínica de Grandes Animais do Hospital Veterinário Dr. Vicente Borelli da Faculdade de Medicina Vete-rinária Pio Décimo de Aracaju, Sergipe (CGA-Pio X) uma vaca mestiça (¾ Holandês x ¼ Gir) com cinco anos, em período final de gestação, criada no município de Itaporanga D’aju-da-SE em sistema semi-intensivo, submetida a duas ordenhas diárias. Devido à estiagem causada pelo longo período de seca no Estado no ano de 2013, o proprietário relata que aumentou o fornecimento de alimento concentrado com o objetivo de manter a produção do rebanho. A propriedade possuía uma particularidade que era a presença de árvores de manga (Man-gifera indica) no trajeto diário das vacas em lactação do pasto a sala de ordenha, sendo que alguns animais durante esse trajeto ingeriam os frutos depositados no solo. Há 20 dias do aten-dimento do animal o proprietário relata queda da produção de leite e perda de peso progressivo, além de três episódios de dilatação do flanco esquerdo que foi revertido através da administração, via oral, de 100 ml de medicamento a base de silicone a 30% suspenso em metilcelulose (Ruminol®). A par-tir do segundo episódio de timpanismo o animal tornou-se anoréxico e apresentou secreção nasal mucosa intermitente.

Ao chegar à CGA-Pio X, a vaca encontrava-se em decúbi-to lateral no caminhão de transporte e foi retirado do mesmo suspenso devido o estado de inanição. Foi examinada em de-cúbito lateral, onde pode-se confirmar seu baixo escore de con-dição corporal (ECC 1,5) e a presença de desidratação (10%), enoftálmia, mucosas hipocoradas, relaxamento dos ligamentos pélvicos sacro-ilíacos, úbere pouco desenvolvido, mas com se-creção colostral e, a palpação retal, feto posicionado na entrada da cavidade abdominal responsivo a prova de balotamento. Outro dado que indicou a viabilidade fetal foi presença do frê-mito arterial.

No exame hematológico, o animal apresentou valores de

hemácias de 6,86x106/µL, hemoglobina de 10,3 g/dL, volume globular de 25% (VG: 25%, HGM: 15pg VGM: 36,4fL, CHGM: 41,2%). Observou-se leucocitose (23x103/µL) por neutrofilia, com desvio a esquerda (bastonetes 12% e 2,76x103/µL, seg-mentados 62% e 14,26x103/µL, linfócitos 24 % e 5,52x103/µL, monócitos 1% e 0,23x103/µL, eosinófilos 1% e 0,23x103/µL respectivamente para relativos e absolutos), além da presença de eritroblasto e crenação. As plaquetas se mostraram baixas (133x103/µL). No exame bioquímico notou-se comprometi-mento hepático (ALT/TGP: 26 UI/L, AST/TGO 460 UI/L, GGT 48 UI/L, bilirrubina total: 3,91 mg/dl, bilirrubina direta: 0,89 mg/dl e bilirrubina indireta: 3,02 mg/dl) e renal (uréia: 127 g/l e creatinina: 2,7 mg/dl). Outros parâmetros avaliados foram proteína (5,9 g/dl), albumina (2 g/dl) e globulina (4 g/dl) (Li et al., 2011, Oliveira et al., 2014).

Após a avaliação dos parâmetros clínicos e dos exames complementares optou-se pela cesariana onde foi retirado, a termo, um bezerro macho de 27 kg. Após o parto procedeu--se a exploração da cavidade abdominal e durante a palpação, através da parede ruminal foram localizadas várias estruturas ovalares achatadas de aproximadamente 10 cm de comprimen-to. Procedeu-se, portanto, com a rumenotomia de onde foram retirados 174 caroços de manga (Mangifera indica) do rúmen e retículo do animal. Os caroços, ainda úmidos pesavam 6,4 quilos (Figura 1).

Figura 1: Caroços de manga (Mangifera indica) retiradas de do rúmen e retículo de bovino submetido a cesariana e rumenotomia

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41Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 19-25 - janeiro/abril, 2015

Indigestão por manga (Mangifera indica) em bovinos - Primeiro relato

O conteúdo ruminal era de coloração castanha, consistên-cia pastosa, pH 5,0 e tempo de redução de azul de metileno de 12 minutos. O liquido ruminal acidótico foi retirado, pro-cedeu-se a transfaunação e em seguida a rumenocentese, rafia da musculatura e pele. No pós-cirúrgico imediato foi admi-nistrado oxitetraciclina de longa ação (10/mg/kg/IM), flunixim meglumine (1,1/mg/kg/IV) e fluidoterapia visando estabilizar o quadro de acidose metabólica, no entanto após seis horas do procedimento cirúrgico, em função da gravidade da condição clínica, o animal veio a óbito.

No exame necroscópico observou-se vísceras anêmicas, hi-peremia de mucosa ruminal além de mais um caroço de man-ga em seu interior, presença de objeto metálico perfurante de 2,5 cm (parafuso) fixo na mucosa em favo do retículo, hipere-mia serosa e repleção da vesícula biliar, moderada hemorragia petequial multifocal a coalescente na superfície epicárdica e discreta congestão e enfisema pulmonar. Histologicamente notou-se moderada congestão hepática, focalmente extensa na região centrolobular; presença de discreto infiltrado inflama-tório linfocítico em região cortical renal, com moderado grau de degeneração tubular, além de congestão cortical e medular. No rúmen foram observadas áreas multifocais de discreto infil-trado inflamatório neutrofílico perivascular na camada muco-sa e no coração foram visualizados múltiplos cistos parasitários compatíveis com Sarcocystis spp., sem infiltrado inflamatório associado. Não foram observadas alterações patológicas no abomaso e omaso.

DISCUSSÃO

A escassez de alimento, seja ela por condições climáticas ou pelo oferecimento de um alimento de baixo valor nutritivo, de fato leva os animais a buscar fontes alternativas de alimento principalmente em situações de final de gestação quando pode se desenvolver um quadro de balanço enenrgético negativo, devido a elevada necessidade energética (Lago et al., 2014). O alto índice de matéria seca e carboidrato da manga levou aos distúrbios digestórios no rúmen, onde o farelo da amêndoa da semente apresenta teores de matéria seca, proteína bruta, fibra detergente neutro, fibra detergente ácido, fibra bruta, lignina, extrato etéreo, matéria mineral, cálcio, fósforo e carboidratos totais, respectivamente de 88,36%%; 4,39%; 29,65%; 2,20%; 1,90%; 0,72%; 12,18%; 1,81%; 0,10%; 0,05% e 69,98% (Santa-na et al., 2007). Alem disso houve ocorrência de lesão mecâni-ca sobre a mucosa causada pelos caroços de manga.

O pH ruminal acidótico leva a crer que mesmo um grande número de caroços não tenha causado compactação abomasal que poderia levar ao aumento de pH devido o refluxo de sua secreção ao rúmen. Isto foi observado em um caso de ovino que apresentou pH ruminal de 7,5 em quadro de compacta-ção de rúmen e abomaso por cerca de 1250 unidades de côco catolé (Syagrus olearacea) preenchendo 2/3 desses comparti-mentos (Oliveira et al., 2007). O diferente desenvolvimento dos casos se deve ao diâmetro dos caroços de manga que não permitiu sua passagem pelo orifício retículo-omasal para che-gar ao abomaso. De forma a contribuir com o diagnóstico de

acidose ruminal, vale ressaltar as alterações renais observadas no exame bioquímicos, devido a redução da taxa de filtração glomerular decorrente dos danos renais, observados no histo-patológico, onde havia degeneração tubular e congestão corti-cal e medular, além da queda do fluxo sanguíneo renal devido a diminuição na pressão sanguínea arterial justificado pelo presença do baixo hematócrito, além da severa desidratação que a acidose provoca. O comprometimento renal pode ter se agravado uma vez que o animal desenvolveu um quadro de cetose devido as exigências nutricionais do final da gestação, a oferta de alimentos de baixa qualidade e pela anorexia causada pela indigestão (Li et al., 2011).

Dentre os achados histopatológicos da acidose, estão as al-terações da mucosa e papilas ruminas causadas pela queda do pH do fluido, caracterizado por infiltrado inflamatório de po-limorfonucleares e degeneração hidrópica das papilas, além de congestão hepática com degeneração e necrose de hepatócitos (Xu e Ding, 2001), órgãos esses que também foram afetados, no bovino relatado, tanto pela acidose ruminal quanto pela cetose, levando a elevação das enzimas hepáticas e hiperemia da mucosa ruminal (Oliveira et al., 2014),.

CONCLUSÃO

A ingestão de manga (Mangifera indica) pode levar a indigestão devido à acidose ruminal em bovinos. Deve-se pre-venir a ingestão de frutos, principalmente contendo amêndoas e sementes, que caiam ao solo e ficam a disposição na pasta-gem e possam se acumular no rúmen causando distúrbios di-gestivos.

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Toxic levels of zinc in mineral salt mixtures used in beef cattle supplementationWilmar Sachetin MARÇAL1, Marcos Roberto Lopes do NASCIMENTO2, Maísa Fabiana MENCK3.

ABSTRACT

Zinc concentration was measured in 36 salt formulations collected from the states of São Paulo and Paraná, Brazil. Zinc content in each sample was determined by inductively coupled plasma atomic emission spectrometry. Thirty-five samples (range 70 ± 24.5 to 11,200 ± 6.27 ppm) had values above 300 ppm, the maximum acceptable value in cattle nutrition. These results show the necessity to monitor the industry, because some mineral mixtures can be dan-gerous to animal health, therefore impair food safety production.

K E Y W O R D S Cattle, Mineral Salt, Zinc.

Niveis tóxicos de zinco em misturas minerais utilizadas na suplementação de bovinos para corte

RESUMO

A concentração de zinco foi mensurada em 36 formulações de sal colhidas no estado de São Paulo e Paraná, Brasil. A concentração de zinco em cada amostra foi determinada por es-pectrometria de emissão atômica com plasma indutivamente acoplado. Trinta e cinco amostras (intervalo de 70 ± 24,5 a 11.200 ± 6,27 ppm) apresentaram valores acima de 300 ppm, o máximo valor aceitável em nutrição de bovinos. Estes resultados mostram a necessidade de monitorar a indústria, porque algumas misturas minerais podem ser perigosas para a saúde animal, portan-to, prejudicando a produção de segurança alimentar.

P A L A V R A S - C H A V E Bovinos, Sal Mineral, Zinco.

¹ Veterinary Clinic Department, Londrina State University, Londrina, Paraná, Brazil. *[email protected]

² Químico, CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Poços de Caldas, Minas Gerais

³ Londrina State University, Londrina, Paraná, Brazil.

INTRODUCTION

The increased competition in the Bra-zilian market for the commercialization of mineral salt mixtures (MSM) for animal con-sumption is one of the main reasons why the mineral mixture industry (MMI) look to re-duce costs with the aim to win competition and guarantee future business. Today, there are around 5,500 formulations of mineral mixtures being sold throughout the Brazilian market (MARÇAL et al, 2005).

In order to be profitable and maintain it business, the MMI have negligenciated some important aspects related to the concepts of total quality. Some of these aspects are quali-ty raw material sources that comprise mineral salt mixtures. The materials chosen are at the

most accessible price, including from interna-tional origin (MARÇAL et al, 2003).

It is believed that some of these raw ma-terial sources can be contaminated with toxic elements, such as heavy metals and radioactive substances, generating a subject of concern among nutritionists, clinical veterinarians and technicians that work with the area of health and animal production (MARÇAL et al, 2005). By this reason, investigative research project was launched with the intention to evaluate the level of pollutants in mineral for-mulations used as cattle feed supplement in Brazil.

The objective of this study is to investigate the zinc presence in some different mineral supplements produced in Brazil, through lab-oratory analysis to quantify those pollutants,

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Wilmar Sachetin MARÇAL et al.

which can be connected with the macro and micro mineral elements of the formulations prepared for animal feed.

The zinc was the element chosen, because is considered for many specialists as an inorganic chemist of large risk to the animals, mainly in the bovine species (McDOWELL, 1985; BRITO, 1993; NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1996; MARÇAL, 1996; MARÇAL et al, 1999; ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS, 2001 and MARÇAL et al, 2005), where the animal contamination can occur by the ingestion of contaminated mineral formulations.

MATERIAL AND METHODS

The samples were collected directly from the main com-mercial resellers in selected cities, where they had many cattle. Each sample weighed about 200 grams, and noted the man-ufacturing date, expiry period and batch number. At harvest the containers were sealed, with original factory. Samples were paid an identication code to prevent the disclosure of the brand and manufacturer, with respect to research ethics.

The criterion used to determine the number of samples considered the study conducted by MIGUEL (1982). The dif-ference in samples between states occurred because the state of Paraná had more trademark officially controlled by the Feder-al Government agencies.

Samples were conditioned in transparent plastic contain-ers and then send to analysis at the National Commission of Nuclear Energy (CNEN) Laboratory of Poços de Caldas, Minas Gerais, Brazil. After drying at 110 0C samples were solubilized by multiacid attack with nitric, hydrofluoric and hydrochloric acids, and then zinc was determined by inductively coupled plasma atomic emission spectrometry using a Jarrell-Ash mod-el 975 equipment.

In the analytic detection of zinc in the mineral formula-tions, it was not possible to separate the raw material compo-nents, so in order to proceed with the investigation the authors worked with readily industrialized formulations.

To calculate the values of central tendency (average and medium), percentages for the quantitative variables and vari-ability values (deviate pattern and variation coefficient), the program SAS/BASIC was used, as described in SAS PROCE-DURES GUIDE (1990).

RESULTS AND DISCUSSION

The results obtained from the present research, whose inorganic zinc element was quantified in 36 most important mineral formulations produced in the two states, are present-ed in Table 1 and Fig. 1.

The concern about mineral formulations contaminated by metallic elements and/or radioactive substances has been a subject of attention for technicians and farmers. The evaluated results have generating debates among researchers in several countries, with great impulse in the early nineties.

The subject of health control in animal feeding is a point

of great interest and increased attention also in Brazil with strengthened participation by specialists (MARÇAL et al, 1999; MARÇAL et al, 2001).

The microelements sources, most costly in the MSM, can be contaminated with zinc element (CAMPOS NETO & MARÇAL, 1996; MARÇAL et al, 2003), because industries try to find cheaper, alternatives sources of microelements to de-crease it production costs.

In this aspect, the main objective of this study was to in-vestigate the zinc element presence in mineral, mixed supple-ments produced in Brazil. There was no type of research like this realized anywhere in the country until now. Preliminary

State Sample nº. CityValue of Zinc

(ppm)

SÃO PAULO

010203040506070809101112131415

AvaréAvaréAvaré

Mogi MirimRibeirão Preto

AraçatubaPiracicabaBatataisBirigüíBirigüí

São VicentePresidente Prudente

General SalgadoCampinas

Fernandópolis

11.200 ± 6.274.710 ± 1.101.310 ± 0.088,020 ± 3.21 1.250 ± 0.071.890 ± 0.173.700 ± 0.681.620 ± 0.131.030 ± 0.051.270 ± 0.087.700 ± 2.962.140 ± 0.222.660 ± 0.352.120 ± 0.223.060 ± 0.46

PARANÁ

161718192021222324252627282930313233343536

LondrinaLondrinaRolândia

Cornélio ProcópioMaringáCascavel

ParanaguáLondrinaCambé

UmuaramaUmuaramaUmuarama

Jandaia do SulJandaia do Sul

MaringáLondrinaLondrinaLondrinaMaringá

ColomboCatanduvas

470 ± 110.451.770 ± 0.061.770 ± 0.06440 ± 96.8070 ± 24.5

6.820 ± 2.322.270 ± 0.251.510 ± 0.114.450 ± 0.99380 ± 72.204.910 ± 1.202.100 ± 0.2211.000 ± 6.054.600 ± 1.0511.000 ± 6.051.670 ± 0.133.050 ± 0.464.240 ± 0.891.750 ± 0.152.470 ± 0.302.600 ± 0.33

Table 1: Zinc concentrations in individual samples of mineral salt in Brazil

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Toxic levels of zinc in mineral salt mixtures used in beef cattle supplementation

studies shown that contaminated raw material has been used in the MSM with the intention to decrease production costs of the final product (MARÇAL et al, 2003; MARÇAL et al, 2005).

Because of the high number of mineral formulations on the market in Brazil, we proceeded to select samples only from the manufacturing states. One approach is work in some feder-ation states that hold significant cattle population consuming the main MSM marks manufactured countrywide. The states chosen were São Paulo, Paraná, which together hold approxi-mately 14.06% of the bovine herds in Brazil.

In great number of the samples, values were higher that the acceptable maximum limit of 300 ppm attributed by AS-SOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS (2001).

It is necessary to emphasize that the next phase of our studies will be to evaluate possible sub-clinical effects of zinc toxicity in cattle receiving MSM with the highest zinc concen-trations. The main objective will be to verify changes in the bovine reproductive system, looking for possible impairment of the toxic element in the reproduction of the cow, as referred to by STUART and OEHME (1982); McDOWELL (1985); MA-RACEK et al (1998); MARÇAL et al (1999); MARÇAL et al (2003) and MARÇAL et al (2005). It is important to detach that excessive amounts of zinc in the diet are known to de-press food consumption and may induce copper deficiency (McDONALD et al, 1987; MARÇAL et al (2003).

These results show the necessity to constant monitor the industry and when failures are found the proper recommen-dations should be made. The environment has received a large discharge of this element and in quantities which are not absorbed, it is eliminated through animal’s excrements that contaminate soil, plants and water. Great attention must be

done with raw materials sources because of the threat to ani-mal health. Government agencies must be aware to the issue, because besides the animal health, human health can be in danger due to possible man contamination with foods from animals that were fed with suspicious MSM. An accumula-tive zinc contamination can occur with those individuals that constantly ingest contaminated animals products, therefore, this can impair the potential of animal food production for the domestic market and for the export of Brazilian Animal Food products to potential worldwide markets that demands quality.

CONCLUSIONS

Analysis of results observed in researches conducted to date that permits the following conclusions:

1st) Thirty-five samples were found with the zinc concen-tration upper to 300 ppm, the maximum limit attributed by ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFI-CIALS (2001), representing 97.22% of the analyzed mineral formulations;

2nd) The largest value founded, 11,200 ppm, refers to a mineral formulation sold in the state of São Paulo, which holds the highest human population by state in Brazil.

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Figure 1: Average values (N=36) for zinc concentra-tions in mineral salt from two states in Brazil, corre-lated with reference values from ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS (2001).

*ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS (2001).

3302 3579

300 ppm AAFCOI*

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Fraturas dos metacárpicos acessórios e a incidência da desmite do suspensório de boleto em cavalos de pólo: estudo retrospectivo de 35 casosJuliana de Oliveira BERNARDO¹, Pierre Barnabé ESCODRO², Tobyas Maia de Albuquerque MARIZ³, Kathryn Anne Ford DIAZ4, Maurício José BITTAR5

RESUMO

As fraturas dos ossos metacárpicos acessórios (MTCa) são comuns em cavalos de corrida, trote, salto e pólo. A desmite do suspensório do boleto (LSB) pode estar associada à fratura ou proliferação periostal no eixo axial do MTCa, que comprime o LSB e causa a lesão. O objetivo deste trabalho foi realizar o estudo retrospectivo dos casos de fraturas de MTCa em cavalos de pólo, submetidos à ostectomia parcial, correlacionando o membro acometido e a incidên-cia de desmite de LSB. Foram estudados 35 casos, sendo que 29 (82,86%) das fraturas foram no membro torácico direito (M.T.D.) e seis (17,14%) no membro torácico esquerdo (M.T.E.). Das 35 fraturas, 25 (71,43%) ocorreram no quarto metacárpico (MTC-IV), sendo 21 (84%) no M.T.D. e quatro (16%) no M.T.E e 10 (28,57%) ocorreram no MTC-II, sendo 8 (80%) no M.T.D e 2 (20%) no M.T.E. Quinze animais apresentavam desmite do LSB, representando 42,85 % do total, porém apenas 26,7% apresentavam lesões agudas, demonstrando assim que, a desmite do LSB não está relacionada diretamente às fraturas de MTCa, sendo estas ocasionadas por trau-mas diretos durante o esporte. Concluiu-se que a incidência das fraturas nos ossos metacárpicos acessórios, em cavalos de pólo são mais comuns nos membros torácicos direito e quartos ossos metacárpicos.

P A L A V R A S - C H A V E Equino, Esporte, Fratura, Metacárpicos, Desmite.

Fractures of the accessories metacarpals bones and incidence of desmitis of the suspensory ligament in polo’s horses: retrospective study of 35 cases

ABSTRACT

The fractures of the accessories metacarpals bones are common in race horses, trotting, jumping and polo. The desmitis of the suspensory ligament (LSB) may be associated with fracture or periosteal proliferation in the axial accessory metacarpal, which compresses the LSB and cause injury. The aim of this study was the retrospective study of cases of fracture of accessory metacarpal in polo´s horses, who underwent partial ostectomy, correlating with the incidence of desmitis LSB. Were studied 35 cases, and 29 (82.86%) of the fractures were in the right forelimb (M.T.D) and six (17.14%) in the left forelimb (M.T.E). Twenty-five of 35 fractures (71.42%) involved the fourth metacarpal bone, 21 (72.41%) in the right forelimb and four (66.66%) in the left forelimb and 10 (28.57%) involved the second bone MTC-II, 8 (80%) in the right forelimb and 2 (20%) in the left forelimb. Fifteen animals had desmitis the LSB, represen-ting 42.85% of the total, but only 26.7% had acute lesions, demonstrating that the desmitis the LSB is not directly related to fractures of accessories metacarpals bones, which are caused by direct trauma during sport. It was concluded that the incidence of bone fractures metacarpal accessories, polo’s horses are more common in right forelimbs and fourth metacarpals bones.

K E Y W O R D S Equine, Sport, Fracture, Metacarpals, Desmitis.

1 Mestranda, Departamento de Cirurgia de Grandes Animais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu/SP;

2 Professor Adjunto de Clínica Médica e Cirúrgica de Equídeos, Universidade Federal de Alagoas,

3 Professor Adjunto de Equinocultura, Universidade Federal de Alagoas;

4 Médica Veterinária Autônoma Rio de Janeiro-RJ;

5 Medico Veterinário Autônomo, Anestesiologista de Equinos no Estado de São Paulo

*autor para correspondência: [email protected]

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Juliana de Oliveira Bernardo et al.

INTRODUÇÃO

Os equinos possuem três ossos metacárpicos denominados de segundo (MTC-II), terceiro (MTC-III) e quarto osso meta-cárpico (MTC-IV). O MTC-III no equino é bem desenvolvido e possui grande importância na dinâmica da locomoção, en-quanto o MTC-II e MTC-IV, situados respectivamente, na face palmar medial e palmar lateral do MTC-III, são rudimentares, sendo chamados de metacárpicos acessórios (MTCa) ou splint bones (BUDRAS; SACK; RÖCK, 2009, ASHDOWN; DONE, 2008, KÖNIG; LIEBICH, 2002).

As fraturas de MTCa podem ser proximais, médias ou dis-tais; simples ou compostas; abertas ou fechadas. As fraturas na região proximal dos MTCa são as mais comuns, porém nem sempre são facilmente detectáveis no exame radiológico (SÁ; FRANÇA, 2004).

Os animais de pólo são frequentemente acometidos por fraturas de MTCa e desmite devido ao esforço desempenhado em movimentos repentinos e explosões durante as partidas e aos riscos de traumas diretos por taco e bola (GOMES, 2008; ROONEY, 1974).

Alguns autores afirmam que as fraturas de metacárpicos acessórios em equinos estão frequentemente associadas à des-mite do ligamento suspensório do boleto (LSB) (WRIGHT, 2010; (ESCODRO; IBIAPINA; DIAZ, 2008; BERTONE, 2006; SMITH, 2006; BUTLER et al., 2000). Dyson et al. (1995) ainda sugerem que a fibrose formada no LSB decorrente a desmite diminui a capacidade da articulação metacarpofalângica na absorção de impactos o que leva a fratura dos MTCa. A des-mite do LSB pode ocorrer devido ao estresse excessivo, porém nem sempre são diagnosticadas na prática da medicina espor-tiva equina (SCHWARZBACH et al., 2008).

Os principais sinais clínicos envolvidos nos casos de fratu-ra dos MTCa são a claudicação após o repouso do exercício, au-mento do volume da região metacárpica, aumento de tempera-tura local e a sensibilidade dolorosa à palpação (GEORGETTI, 2007; THOMASSIAN, 2005; DEVAS, 1967). O aumento de volume na região ocorre normalmente em fraturas proximais, podendo estar presente ou não em fraturas distais, podendo--se relacionar o aumento de volume com a gravidade da lesão, quanto maior o edema, maior a gravidade da fratura, porém em alguns casos, os animais são medicados sem acompanha-mento médico veterinário o que dificulta o diagnóstico clínico (ESCODRO; IBIAPINA; DIAZ, 2008).

Para o diagnóstico de fraturas de MTCa deve-se realizar um exame clínico minucioso com vista às claudicações (ES-CODRO; GIANINI; LOPES, 2007). Como exames comple-mentares, pode-se utilizar os bloqueios perineurais, radiografia e ultrassonografia. A radiografia é essencial para o diagnóstico correto, pois permite diferenciar o tipo de lesão e outros danos às estruturas adjacentes. Porém, é indispensável a realização da ultrassonografia para avaliar se lesões no LSB.

Na ultrassonografia é possível encontrar áreas anecogêni-cas ou hipoecogênicas marginais sob a área da fratura. Já em casos onde a desmite do LSB é primária, a lesão é central, dife-renciando das lesões secundárias a fratura (ESCODRO; GIA-NINI; LOPES, 2007; BERTONE, 2006; DYSON et al., 1995).

O objetivo deste trabalho é realizar um estudo retrospecti-vo dos casos de fratura de MTCa em cavalos de pólo, submeti-dos à ostectomia parcial no Hospital Vetpolo, correlacionando o membro acometido e a incidência de desmite de LSB.

MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado, com previa autorização dos proprietários, o estudo retrospectivo da incidência do membro e a presença ou não de desmite do LSB em 35 animais com diagnóstico radio-gráfico de fratura dos MTCa e submetidos a ostectomia parcial no Hospital Vetpolo no período de 2002 a 2008. Foram atendi-dos 22 fêmeas e 13 machos, puro sangue inglês, com peso entre 372 a 488 kg e idade entre 5 e 16 anos, sendo todos os animais praticantes de pólo.

Os animais foram submetidos ao exame clínico minucio-so, com atenção especial à claudicação, realizando-se, quando necessário, bloqueios perineurais. Realizou-se então, os exames radiográficos, com equipamento portátil de raio-x (FNX-90 CTI - Electra, Rio de Janeiro, Brasil) e exames ultrassonográ-ficos, utilizando-se de transdutor convexo de 7,5 MHz (Aloka SSD 500 - Aloka Co. - Tokio, Japão).

Estatísticas descritivas foram realizadas com o objetivo de avaliar qual membro e osso mais acometido por fraturas em MTCa em equinos de pólo e correlacioná-las à presença de desmite do LSB. Além disto, realizou-se uma distribuição de probabilidade para avaliação das variáveis aleatórias categóri-cas para analisar a probabilidade de ocorrência de fraturas de acordo com o membro acometido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi possível observar nos exames radiográficos dos 35 ca-valos com fraturas de MTCa, que 29 (82,86%) animais apre-sentaram fraturas no membro torácico direito (M.T.D.) e seis (17,14%) no membro torácico esquerdo (M.T.E.), havendo so-mente fraturas unilaterais, médias ou distais. O maior número de fêmeas acometidas (62,85%) pode ser justificado pela prefe-rência na utilização do gênero neste esporte.

Das 35 fraturas, 25 (71,43%) ocorreram no MTC-IV, sendo 21 (84%) no M.T.D. e 4 (16%) no M.T.E. Dez fraturas ocorreram (28,57%) ocorreram no MTC-II, sendo 8 (80%) no M.T.D e 2 (20%) no M.T.E. (Figura 1), todas médio-distais, sem necessidade de colocação de pinos de fixação, divergindo do descrito por. Sá e França (2004), que citam que geralmente as fraturas de MTCa exigem a colocação de pinos a fim de evitar instabilidade local, migração, sequestro ósseo ou afecções se-cundárias a fratura.

Observou-se uma maior incidência de fraturas no M.T.D, representando 29 casos (82,86%), o que pode ser explicado pelo esporte exercido pelos animais, onde o taco e bola rolam pelo lado direito quando em avanço da partida, devido o ta-queio do jogador ser realizado com o braço direito. Sá e França (2004) encontraram uma proporção de 56% no M.T.D. e 44% no M.T.E. de fraturas de MTCa em equinos de pólo, não encon-

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Toxic levels of zinc in mineral salt mixtures used in beef cattle supplementation

trando diferença significativa entre os membros acometidos, porém com M.T.D. também sendo o que apresenta maior nú-meros de fraturas..

Esta peculiaridade no esporte, também pode alicerçar a explicação da maioria das fraturas serem no quarto metacárpi-co (71,42%), já que o taqueio ocorre na face lateral do M.T.D. Diferentemente dos resultados encontrados por Sá e França (2004), onde 52% dos animais apresentavam fraturas de MT-C-II e 48% fraturas de MTC-IV. Em relação ao M.T.E., a inci-dência também pode ser explicada pelas jogadas de “back”, em que o jogador faz o movimento de defesa pelo lado esquerdo

do animal. O valor das variáveis categóricas neste estudo foi significa-

tivo, demonstrando ser o membro torácico direito mais aco-metido com fraturas em equinos praticantes de polo (82%), enquanto que apenas 18% ocorreram no membro torácico esquerdo. Além disso, a probabilidade do quarto osso meta-cárpico acessório ser acometido no M.T.D. foi de 84% e apenas 16% no M.T.E. A probabilidade do segundo osso metacárpico acessório ser acometido no M.T.D. foi de 80%, enquanto houve apenas 20% no M.T.E. (Figura 2).

Nas avaliações ultrassonográficas do ligamento suspensó-

Figura 1 - Incidência (%) de fraturas nos segundo (MTC-II) e quarto (MTC-IV) ossos metacárpicos acessórios em membro torácico direito (M.T.D.) e membro torácico esquerdo (M.T.E.) em equinos praticantes de pólo.

Figura 2 - Probabilidade (%) de ocorrência de fraturas dos segundo ( MTC-II) e quarto (MTC-IV) ossos metacárpicos acessórios em membro torácico direito (M.T.D.) e membro torácico esquerdo (M.T.E.) em equinos praticantes de pólo.

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Juliana de Oliveira Bernardo et al.

rio do boleto (LSB), foi possível observar áreas anecogênicas ou hipoecogênicas na região relacionada à fratura do MTCa, em 15 animais, indicando desmite do LSB, representando 42,86% dos casos. Destes 15 animais, 11 (73,34%) apresenta-ram lesões crônicas, com tempo de evolução de 20 a 90 dias, e quatro (26,66%) apresentaram lesões agudas, com no máximo três dias de evolução.

Em relação ao membro acometido com desmite do LSB, observou-se que no M.T.D., 9 (60,00%) animais apresentaram lesões crônicas e 4 (26,66%), lesões agudas, totalizando 13 ani-mais, ou seja, 46,43% dos casos de fratura de MTCa. Em relação ao M.T.E., 2 (13,33%) animais apresentaram lesões agudas, to-talizando 2 animais, ou seja, 33,33% dos casos (Figura 3).

As desmites de LSB associadas às fraturas de MTCa estive-ram presentes em 42,86% dos casos, sendo mais comuns em traumas crônicos, representando 73,33% do total. Estes valo-res diferem dos resultados encontrados por Schwarzbach et al. (2008) que notaram uma maior incidência de desmite do liga-mento suspensório no membro torácico em associação com fraturas de MTCa e Sá e França (2004) que verificaram uma alta incidência de desmite do ligamento suspensório em ani-mais de pólo que apresentavam fraturas de segundo ou quarto metacarpianos (82,35%), afirmando não haver predileção pelo membro acometido.

Os autores ainda afirmam que é difícil discernir se a ocor-rência da desmite do LSB leva a fratura de MTCa ou se a fra-tura leva à desmite (SCHWARZBACH et al., 2008; SÁ; FRAN-ÇA, 2004). Porém, os resultados deste estudo retrospectivo, mostraram que a desmite do LSB pode estar mais associada à proliferação óssea no eixo axial do osso, devido á calcifica-ção da fratura, do que propriamente com a fratura primária, sendo que a ostectomia parcial precoce pode auxiliar no não comprometimento do LSB em animais com fraturas de meta-cárpicos acessórios.

A partir dos dados analisados, pode-se levantar a hipótese que a maioria das fraturas em cavalos de pólo está relacionada

com trauma direto, e não com lesão primária do LSB, como ocorre em cavalos de corrida, relatado por Wright (2010) e Bertone (2006) que tem fraturas no segundo osso metacárpico direito e quarto osso metacárpico esquerdo, devido ao senti-do anti-horário das corridas. Uma vez que 82% dos animais apresentaram fratura no M.T.D., apenas 42,46% apresentaram desmite do LSB, confirmando assim esta hipótese.

A causa principal de claudicação dos animais acometidos foi devido a desmite do ligamento suspensório. A ostectomia parcial foi considerada o tratamento de escolha, pois os ani-mais voltaram a sua atividade atlética.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a incidência as fraturas dos ossos meta-cárpicos acessórios, em cavalos de pólo são mais comuns nos membros torácicos direito e quarto osso metacárpico, divergin-do da estatística de casos em cavalos de corrida, provavelmente estando associadas aos traumas diretos com tacos e bolas.

São necessários mais estudos retrospectivos e pesquisas, buscando reforçar os dados aqui levantados, bem como pes-quisar o prognóstico das ostectomias parciais e retorno à ati-vidade esportiva dos animais, correlacionando os casos com a desmite do LSB.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. –G. Anatomia dos animais domésticos. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. Cap. 12, p. 461-494.

ROONEY, J.R. The lame horse: causes, symptoms and treatment. New Jersey: A.S. Barnes and Co., 1974, 237p.

Figura 3 - Incidência (%) de fratura em metacárpicos acessórios associada à des-mite do ligamento suspensório do boleto no membro torácico direito (M.T.D.) e membro torácico esquerdo (M.T.E.).

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Toxic levels of zinc in mineral salt mixtures used in beef cattle supplementation

SÁ, P. S.; FRANÇA, R. O. Ocorrência de fraturas do segundo e quarto metacarpianos em cavalos de pólo. In: CONGRESSO BRASILE-IRO DE CIRURGIA E ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA, 2004. Indaiatuba. Braz. J. vet. Res. anim. Sci, 41 (suplemento): 277-278, 2004,

SCHWARZBACH, S. V.; PAGLIOSA, G. M.; ROSCOEL, M. P.; ALVES, G. E. S. Suspensory ligament of equine metacarpus/metatarsus fa-langeal joint: evolutive anatomical, histophysiological aspects and pathologies. Ciência Rural, Santa Maria, 38 (4): 1193-1198, 2008

SMITH, J.J. Emergency Fracture Stabilization. Clinical Techniques in Equine Practice, 5: 154-160, 2006,

THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Cavalos. São Paulo: Varela, 2005, p.122.

WRIGHT, R.G. Splints and Fractures of the Splint Bone in Horses. Disponível em: <http://www.omafra.gov.on.ca/english/livestock/horses/facts/89-093.htm > Acesso em 29.10.2010.

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Determinação das variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos Mangalarga Marchador durante prova oficial de marchaMayra Carla Pedrosa da SILVA1, Carolina BERKMAN2, Peres Ramos BADIAL3, Emílio Carlos Leão Bittencourt SARMENTO1, Nielma Gabrielle Fidelis OLIVEIRA4, Ulisses Barbosa RAPHAEL4, Jéssica Monteiro Queiróz de MEDEIROS4, Luisa Gouvêa TEIXEIRA*5.

RESUMO

Objetivou-se avaliar os efeitos da prova de marcha nas variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos e compará-los entre os dois tipos de marcha (picada e batida). Aferiu-se a frequência cardíaca (FC), temperatura retal (TR), lactatemia e glicemia de 18 cavalos atletas, Mangalarga Marchadores, machos, divididos nas categorias de Cavalo Júnior e Cavalo Jovem. Em cada uma destas, cinco animais realizaram marcha picada e quatro realizaram marcha batida. Os dados foram coletados 60 minutos antes da prova (T0), um (T1), cinco (T2) e dez minutos (T3) após o término desta. Os dados foram analisados pelo ANOVA, com nível de probabilidade de 5%, e para as diferenças entre as médias utilizou-se o Teste de Tukey (p≤0,05). Observou-se aumento significativo apenas da FC no T1 e da TR nos T1 a T3, exceto em Júnior Marcha Picada. Não houve diferença significativa entre as marchas. Conclui-se que os equinos estavam aptos para exercer tais provas e que a execução da marcha picada ou da batida exigiu o mesmo condicio-namento físico.

P A L A V R A S - C H A V E glicemia, lactatemia, marcha picada, marcha batida.

Physiological and biochemical findings in Mangalarga Marchador horses during official competition of marcha

ABSTRACT

We evaluated the gait competition effects on some physiological and biochemical para-meters in Mangalarga-Marchador horses, and compared these findings between two gait types (marcha picada and marcha batida). Heart rate (HR), rectal temperature (RT), lactatemia, and glycemia were measured in 18 athlete male horses subdivided in two categories (Júnior and Jovem). Each category was comprised of five and four animals performing marcha picada and marcha batida, respectively. The variables were measured 60 minutes before (T0), and one (T1), five (T2) and ten (T3) minutes after the competition. Data were analyzed using ANOVA fol-lowed by Tukey’s test considering significance level at P=0.05. The HR and RT increased sig-nificantly on T1, and from T1 to T3, respectively, when compared to T0 in all groups except one (Júnior category, marcha picada). There was no significant changes between groups. We conclude that all horses were well trained and conditioned to perform the competition. Also, the same conditioning level is necessary to perform marcha picada or marcha batida.

K E Y W O R D S glycemia, lactatemia, marcha picada, marcha batida.

1 Médico(a) Veterinário(a) autônomo(a).

2 Docente do Departamento de Diagnóstico por Imagem da UFMT, Sinop, MT.

3 Postdoctoral Research Associate Mississipi State University, College of Veterinary Medicine Department of Pathobiology and Population Medicine Starkville, MS, US.

4 Graduando(a) do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesmac, Marechal Deodoro, AL.

5 Docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesmac, Marechal Deodoro, AL e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária da FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP.

*Autora para correspondência: [email protected]

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Determinação das variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos Mangalarga Marchador durante prova oficial de marcha

INTRODUÇÃO

No Brasil, a população de equinos é estimada em aproxi-madamente 5,5 milhões de cabeças, sendo a quarta maior do mundo (IBGE, 2015). Os equinos são utilizados em diversas áreas esportistas e este setor do agronegócio movimenta anual-mente, em média, R$ 705 milhões e emprega cerca de 20 mil pessoas. Nas últimas décadas, o setor esportivo desenvolveu- se rapidamente, contribuindo para o aumento do estudo da fisio-patologia do exercício equino (LIMA et al., 2006). No entanto, devido à grande variedade de esportes e das raças de cavalos, torna-se importante a avaliação dos animais praticando as suas atividades físicas em condições de campo para que se estabele-çam programas de nutrição e condicionamento físico (WAN-DERLEY et al., 2010).

A raça Mangalarga Marchador é a mais populosa do Bra-sil, havendo aproximadamente 350.000 equinos registrados (WANDERLEY et al., 2010). Poucas pesquisas são realizadas com esta raça, cujo andamento característico é a marcha. Du-rante as provas equestres desta modalidade, o animal realiza exercício de longa duração, em um percurso em círculo, sem repouso e em velocidade constante, considerado exaustivo e de grande gasto energético (GAMA et al., 2012).

O estudo de variáveis fisiológicas como frequência cardía-ca (FC) e temperatura retal (TR), e das variáveis bioquímicas como o lactato e glicose sanguíneos, auxiliam na determina-ção do grau de condicionamento e dos gastos energéticos de equinos atletas durante o esforço físico (ROGERS et al., 2007; EVANS et al. 2007; FERRAZ et al., 2010). Estas variáveis, quan-do relacionadas, tornam-se uma importante ferramenta para avaliar o tipo de via metabólica utilizada durante o exercício (DAVIE et al., 2000; VERMEULEN et al., 2006).

A utilização de testes para a avaliação do desempenho atlético, realizados a campo (pista), adicionado a avaliação das respostas fisiológicas obtidas pela ação do exercício e do trei-namento, pode ser considerada uma valiosa ferramenta para maximização dos resultados obtidos nas competições. Desta forma, o programa de treinamento deixa de ser realizado so-mente de maneira empírica tornando-se um processo técni-co, com embasamento clínico e fisiológico (SANTOS, 2006; ERCK et al., 2007). No entanto, pouco se tem estudado sobre a influência do tipo de prova equestre nas variáveis fisiológicas e bioquímicas, em cavalos de marcha.

A partir do presente estudo, objetivou-se avaliar em cavalos Mangalarga Marchadores os efeitos da prova de marcha em re-lação às variáveis fisiológicas (FC e TR) e bioquímicas (lactato e glicose plasmáticos) de cada categoria, além de compará-los entre os dois tipos de marcha (picada e batida).

MATERIAL E MÉTODOS

ANIMAIS

Durante prova oficial de marcha realizada no Parque de Exposições José da Silva Nogueira, situado na cidade de Ma-ceió - AL, foram avaliados 18 equinos Mangalarga Marchado-

res, machos, em plena atividade atlética, distribuídos em duas categorias, sendo Cavalo Júnior (30 a 36 meses de idade) e Cavalo Jovem (36 a 54 meses de idade). Em cada uma destas categorias, cinco animais realizaram marcha picada e quatro animais marcha batida.

PROCEDIMENTOS

As aferições dos parâmetros físicos, ambientais e coletas de sangue foram realizadas 60 minutos antes do início de cada prova de marcha (T0), um (T1), cinco (T2) e dez minutos (T3) após o término destas. Realizou-se a aferição da FC (batimen-tos por minuto - bpm) por meio de estetoscópio, da TR (ºC) utilizando-se termômetro digital e do tempo de cada prova (min.) com o cronômetro digital. Foram mensuradas, com auxílio de termo-higrômetro digital, a temperatura do ar e a umidade do ambiente no qual foi realizada a prova equestre.

A partir de um banco de amostras pertencente à Associa-ção Alagoana dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marcha-dor (AACCMM), filiada à Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), as amostras plasmáticas sanguíneas congeladas foram gentilmente cedidas para este estudo. Previamente, estas foram coletadas por meio de venopunção jugular à vácuo, em frascos estéreis conten-do fluoreto de sódio, e centrifugadas a 1000 x g durante cin-co minutos para obtenção apenas do plasma sanguíneo. Este foi acondicionado em microtubos de 1,5 mL e congelado em freezer a -20 ºC. Posteriormente, as amostras foram analisadas a partir do analisador bioquímico semi-automático (Bioplus 200F®) utilizando- se kits comerciais para mensuração do lac-tato (Liquiform, Labtest®, Ref. 116-1/40) e glicose (PAP Liqui-form, Labtest®, Ref. 84-1/500) plasmáticos.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados obtidos foram submetidos a testes paramé-tricos, por meio da análise de variância em blocos (ANOVA) e as médias submetidas ao Teste de Tukey. As médias relacio-nadas aos equinos em repouso (T0) com os demais momentos (T1, T2 e T3), foram comparadas em uma mesma categoria e tipo de marcha. O efeito do tipo de marcha (picada versus ba-tida) foi comparado em cada categoria e no mesmo momento de avaliação. A análise estatística foi realizada utilizando-se o programa SAS (Statistical Analysis System®), considerando-se nível de probabilidade de 5% (p≤0,05).

RESULTADOS

A temperatura ambiente média foi de 26,69 ± 1,56 °C e a umidade do ar de 80,0 ± 0,08 % no dia da execução das provas de marcha, as quais foram realizadas no tempo médio de 18,88 ± 0,25 minutos para as categorias Cavalo Jovem ou Júnior, tanto marcha batida quanto picada.

Os valores da FC apresentaram aumento significativo (p≤0,05) apenas no T1 quando comparadas ao T0, nas cate-gorias Cavalo Jovem Marcha Batida (tabela 1), Cavalo Jovem

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Mayra Carla Pedrosa da Silva et al.

Marcha Picada (tabela 2) e Cavalo Júnior Marcha Batida (ta-bela 3). A categoria de Cavalo Júnior Marcha Picada (tabela 4) não apresentou alteração significativa (p>0,05) da FC. Adicio-nalmente, observou-se o declínio dos valores da FC (p>0,05) nos momentos T2 e T3, se comparado ao T0, em todas as ca-tegoria e tipos de marcha, apresentando-se próximo ao T0 aos dez minutos após o término da prova (T3).

Em relação aos resultados da TR, observou-se diferen-ça significativa (p≤0,05) nos momentos T1, T2 e T3, quando

comparados ao T0, para as categorias Cavalo Jovem Marcha Batida (tabela 1) e Cavalo Jovem Marcha Picada (tabela 2) e Cavalo Júnior Marcha Batida (tabela 3). A categoria Cavalo Jú-nior Marcha Picada (tabela 4) apresentou aumento significati-vo (p≤0,05) somente em T1, para esta variável. No entanto, ao avaliarmos os valores da TR nas diferentes categorias, pode-se observar que houve a diminuição de T3 para T1, sendo em T1 o maior valor após a prova de marcha, para esta variável.

Os valores do lactato plasmático do presente estudo não

Momento da Coleta Frequência cardíaca (bpm) Temperatura retal (ºC) Lactato (mmol/L) Glicose (mmol/L)

T0 44,00±4,90a 37,90±0,19a 1,61 ± 0,42a 5,52±0,47a

T1 67,50±3,30b 39,63±0,29*b 2,89±0,42a 6,72±0,58a

T2 57,75±5,72ab 39,53±0,19b 3,02±0,67a 6,64±0,41a

T3 49,25±4,11ab 39,00±0,08b 3,02±0,70a 6,99±0,29a

Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05). *(P<0,01). T0 = 60 minutos antes da prova de marcha; T1 = um minuto, T2 = cinco minutos e T3 = 10 minutos após o término da prova de marcha.

Momento da Coleta Frequência cardíaca (bpm) Temperatura retal (ºC) Lactato (mmol/L) Glicose (mmol/L)

T0 39,20±2,33a 37,88±0,17a 1,11±0,09a 5,19±0,43a

T1 73,80±4,15*b 39,66±0,23*b 3,06±0,70a 6,44±0,80a

T2 58,60±4,47ab 39,02±0,33b 2,84±0,60a 6,27±0,82a

T3 52,20±2,76ac 38,98±0,21b 2,04±0,42a 5,52±0,56a

Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05). *(P<0,01). T0 = 60 minutos antes da prova de marcha; T1 = um minuto, T2 = cinco minutos e T3 = 10 minutos após o término da prova de marcha.

Tabela 2 - Médias ± desvios-padrão obtidos para a frequência cardíaca, glicose, lactato e temperatura retal de equinos da raça Mangalarga Mar-chador e categoria Cavalo Jovem Marcha Picada.

Tabela 1 - Médias ± desvios-padrão obtidos para a frequência cardíaca, glicose, lactato e temperatura retal de equinos da raça Mangalarga Mar-chador e categoria Cavalo Jovem Marcha Batida.

Tabela 3 - Médias ± desvios-padrão obtidos para a frequência cardíaca, glicose, lactato e temperatura retal de equinos da raça Mangalarga Mar-chador e categoria Cavalo Júnior Marcha Batida.

Momento da Coleta Frequência cardíaca (bpm) Temperatura retal (ºC) Lactato (mmol/L) Glicose (mmol/L)

T0 43,00±6,61a 37,93±0,09a 1,78±0,30a 5,33±0,14a

T1 70,50±5,62b 39,65±0,33*b 4,11±1,67a 6,38±0,17a

T2 56,75±6,21ab 39,38±0,35b 4,16±2,17a 6,14±0,28a

T3 50,75±5,44ab 39,38±0,21b 3,64±1,65a 6,34±0,25a

Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05). *(P<0,01). T0 = 60 minutos antes da prova de marcha; T1 = um minuto, T2 = cinco minutos e T3 = 10 minutos após o término da prova de marcha.

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Determinação das variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos Mangalarga Marchador durante prova oficial de marcha

apresentaram diferença estatística (p>0,05), apesar do maior valor destes em T1, T2 e T3 se comparados ao T0, nas catego-rias de Cavalo Jovem Marcha Batida (tabela 1), Cavalo Jovem Marcha Picada (tabela 2), Cavalo Júnior Marcha Batida (tabe-la 3) e Cavalo Júnior Marcha Picada (tabela 4). Também foi possível verificar que os níveis desta variável apresentaram-se menores em T3 do que em T1, tendendo ao retorno aos valores basais aos 10 minutos após o exercício.

Os valores de glicose plasmática nas categorias Cavalo Jo-vem Marcha Batida (tabela 1), Cavalo Jovem Marcha Picada (tabela 2), Cavalo Júnior Marcha Batida (tabela 3) e Cavalos Júnior Marcha Picada (tabela 4) não apresentaram diferença estatística (p>0,05) nos diferentes momentos após o exercício, se comparados ao T0. No entanto, o aumento foi observado nos valores da glicose em T1, T2, e T3, nas duas categorias e tipos de marchas, apesar de não significativo (p>0,05). Neste estudo, a média de aumento dos valores da glicose nas diferen-tes categorias e tipos de marcha durante o T1 foi de 20 % em relação ao T0, exceto para Cavalo Júnior Marcha Picada, que foi de 14%.

Comparando os dois tipos de marcha (Picada versus Ba-tida) não foi observada diferença estatística (p>0,05) entre as categorias Cavalo Júnior e Cavalo Jovem nos momentos T0, T1, T2 e T3 para as variáveis analisadas (FC, TR, lactato e gli-cose). Logo, neste estudo, os resultados desta comparação não foram apresentados em forma de tabela, visto que não houve diferença significativa.

DISCUSSÃO

O aumento dos valores da FC é fisiologicamente mediado por estímulos ao sistema nervoso simpático, a partir da libe-ração das catecolaminas durante o exercício e captação destas pelos receptores β-adrenérgicos, produzindo assim alteração desta variável (MARTÍNEZ et al., 2009). Os resultados relati-vos à FC no presente estudo, corroboram aqueles obtidos por Wanderley et al. (2006) e Gomes et al. (2015), os quais relatam aumento significativo desta em equinos, imediatamente após o término de prova de marcha e vaquejada, respectivamente, com diminuição da FC para valores próximo ao basal, aos

quinze minutos de repouso. Pode-se inferir que recuperação do ritmo cardíaco dentro dos primeiros dez minutos após o término de uma prova equestre ocorre em cavalos bem condi-cionados ao exercício (FLAMÍNIO e RUSH, 1998). Além disto, sugere-se que o rápido retorno da FC demonstra também que não houve superaquecimento corpóreo como consequência deste (GOMES et al., 2015).

A ausência de alteração significativa da FC observada no grupo Cavalo Júnior Marcha Picada indica que a intensidade do exercício não foi suficiente para alterá-la e que estes ani-mais podem estar mais condicionados em relação aqueles dos demais grupos.

Os valores da TR registrados neste estudo corroboram aqueles descritos por Lopes et al. (2009) e Gomes et al. (2015), os quais também observaram aumento significativo (p≤0,05) da TR após o exercício em cavalos da raça Quarto de Milha, submetidos à prova de vaquejada. McConaghy (1994) e Mc-Cutcheon e Geor (2008), relatam que após 10 minutos do fim de exercícios extenuantes, a TR dos equinos fica em torno de 39ºC a 40ºC e deve diminuir nos 10 a 20 minutos seguintes, corroborando os resultados apresentados no presente estudo. Isto indica que os animais estavam retornando a TR para o basal, não sendo observado aumento progressivo da TR após o término do exercício.

Os equinos possuem mecanismos termorregulatórios ela-borados que são capazes de manter a temperatura corpórea interna, apesar dos efeitos ambientais (McCONAGHY, 1994). Assim, a atividade física produz energia térmica suficiente para elevar a temperatura corporal em até 5°C, sendo que este calor é difundido pelo sangue em direção à pele e trato respiratório, para dissipação por meio da sudação e evaporação. No entanto, durante o exercício físico cansativos, a taxa de calor produzido excede a taxa de dissipação, podendo elevar a temperatura em até 1ºC por minuto (JONES, et al. 2006).

A ausência de alterações significativas nas concentrações de lactato também foram observadas por Rizzo et al. (2008) ao avaliar éguas Mangalarga Marchadoras submetidas a prova de marcha, concordando com os resultados desta pesquisa para essa variável. No entanto, Wanderley et al. (2010) e Gama et al. (2012), examinando cavalos desta mesma raça após prova experimental de marcha, demonstram o aumento significati-

Momento da Coleta Frequência cardíaca (bpm) Temperatura retal (ºC) Lactato (mmol/L) Glicose (mmol/L)

T0 44,80±4,96a 38,56±0,33a 3,02±1,50a 5,42±0,45a

T1 64,60±5,47a 39,92±0,11b 3,31±0,44a 6,18±0,38a

T2 56,80±5,12a 39,46±0,21ab 2,86±0,45a 5,94±0,45a

T3 51,00±3,90a 39,40±0,19ab 2,71±0,43a 6,00±0,64a

Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05). T0 = 60 minutos antes da prova de marcha; T1 = um minuto, T2 = cinco minutos e T3 = 10 minutos após o término da prova de marcha.

Tabela 4 -Médias ± desvios-padrão obtidos para a frequência cardíaca, glicose, lactato e temperatura retal de equinos da raça Mangalarga Marchador e categoria Cavalo Júnior Marcha Picada.

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Mayra Carla Pedrosa da Silva et al.

vo do lactato plasmático imediatamente e aos cinco minutos, respectivamente, após o exercício. Este fato deveu-se, provavel-mente, ao maior tempo de prova aos quais os equinos foram submetidos, se comparados ao presente estudo.

A redução observada nos níveis plasmáticos de lactato du-rante o T3 desta pequisa, tendendo aos valores basais, apesar de não significativa, foi semelhante aquela descrita por Wan-derley et al. (2010), os quais também relataram a diminuição destes após 15 minutos do término da simulação da prova de marcha, à campo.

O lactato é uma variável sanguínea importante para ser analisada, pois serve de parâmetro para todos os tipos de trei-namento, podendo ser um fator limitante durante a atividade atlética (HYYPPA et al., 1997). O aumento do lactato plasmá-tico superior a 4,0 mmol/L é indicativo de exercício de curta duração e alta intensidade, sendo a produção de energia rea-lizada por via anaeróbia. Os exercícios de intensidade mode-rada (submáxima) e longa duração caracterizam aumentos plasmáticos entre 2,5 e 4,0 mmol/L, com predominância do metabolismo aeróbio (GAMA et al., 2012). As concentrações do lactato abaixo do limiar de anaerobiose justificam os resul-tados encontrados neste experimento possibilitando classificar o tipo de exercício realizado pelos equinos do presente estudo, como submáximo.

Desta forma, a avaliação da concentração de lactato plas-mático pode ser um parâmetro empregado para indicar o condicionamento atlético de cavalos, visto que animais que apresentam grande capacidade aeróbia geralmente possuem baixas elevações das concentrações de lactato em resposta ao exercício, justificando os presentes resultados (GAMA et al., 2012). Assim, cavalos bem treinados absorvem melhor o lacta-to, após o esforço físico, se comparados aos não treinados. Em um organismo sadio, a produção de lactato aumenta durante o exercício quando se necessita de mais energia por unidade de tempo, do que aquela produzida pelo metabolismo oxida-tivo. No entanto, o excesso de lactato causa a fadiga muscular (LINDNER, 2006; OÇANHA, 2011).

Os valores de glicose plasmática encontrados no presente delineamento, quando os equinos estavam em repouso (T0), estão dentro do intervalo considerado fisiológico para esta es-pécie, sendo de 4,16 a 6,18 mmol/L (COELHO et al., 2011). O aumento da glicose sanguínea após a execução de prova de marcha nesta pesquisa, corrobora aqueles citados por Silva et al. (2014), apesar do resultado destes ter sido significativo esta-tisticamente. Desta forma, infere-se que houve o aumento na glicemia apenas em decorrência da execução de atividade físi-ca, havendo a disponibilização de substrato energético para o trabalho muscular, no presente estudo.

O efeito do exercício sobre a concentração sanguínea da glicose é variável, dependendo do tipo e duração do exercício. Esta variável se eleva em decorrência do aumento da atividade de hormônios que regulam o metabolismo energético, como as catecolaminas e o glucagon que, ao serem liberados, provo-cam glicogenólise e gliconeogênese hepática. Neste processo metabólico há diminuição da liberação da insulina, que soma-dos ao efeito do cortisol, promovem um efeito hiperglicêmico (HYPPA et al., 1997).

Semelhante aos nossos resultados, Wanderley et al. (2010) encontraram valores de glicose sanguínea 20% maiores em ca-valos submetidos à simulação de prova de marcha à campo, quando comparado aqueles em repouso. Equinos melhor con-dicionados demonstram maiores valores de glicose durante a prova de marcha, em relação aqueles pouco condicionados (SILVA et al., 2014).

Wanderley et al. (2006), ao avaliarem cavalos Mangalarga Marchadores durante prova experimental de marcha picada e batida, relataram diferença significativa de FC, frequência res-piratória, volume globular sanguíneo e lactato plasmático, os quais foram maiores naqueles que realizaram marcha picada, diferindo do presente estudo. Estes autores sugerem que os animais deveriam estar mais adaptados ao exercício proposto e citam que a realização da marcha picada requer maior gasto de energia por produzir maior atrito e contato com a superfície do solo durante a locomoção, quando comparada à marcha ba-tida. No entanto, a partir dos resultados obtidos após compara-ção entre os dois tipos de marcha no presente estudo, pode-se inferir que o gasto energético e exigência de condicionamento físico para a realização da marcha picada e marcha batida foi o mesmo.

Deve-se considerar que os dados da presente pesquisa fo-ram coletados em uma prova oficial de marcha a campo e não durante simulação deste tipo de prova. Assim, os equinos deste estudo são atletas em plena atividade, fato que justifica o bom condicionamento ao tipo de prova realizada. Neste estudo não foram questionados os protocolos de treinamento ou nutri-cional dos cavalos. Acredita-se que haja relação direta do tipo de treinamento e alimentação com os resultados encontrados, visto que não houve prejuízos metabólicos para estes animais, após a prova. Assim, sugere-se a realização de estudos que rela-cionem o condicionamento físico de cavalos Mangalarga Mar-chadores durante prova de marcha, com protocolos de treina-mento e alimentar destes animais.

CONCLUSÃO

A realização da prova de marcha ocasionou alterações nos valores das variáveis fisiológicas dos equinos, retornando próximo aos valores basais aos dez minutos após o término do exercício. Este fato, aliado à ausência de aumento significativo dos valores das variáveis bioquímicas, faz-nos sugerir que os equinos do presente estudo estavam devidamente condiciona-dos para exercer as respectivas provas de marcha. Adicional-mente, infere-se que a execução da marcha picada ou da mar-cha batida exige o mesmo gasto energético e condicionamento físico dos cavalos Mangalarga Marchadores, quando estes são atletas.

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Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga MarchadorHélio Cordeiro MANSO FILHO1*; Ernest Gus COTHRAN2; Rytis JURAS2; Manuel Adrião GOMES FILHO3; Núbia Michelle Vieira da SILVA1; Gisele Barbosa da SILVA1; Lúcia Maia Cavalcanti FERREIRA1; José Mário Girão ABREU4; Helena Emília Caval-canti da Costa Cordeiro MANSO1

RESUMO

Recentemente, diferentes publicações demonstraram que o alelo DMRT3 esta associado aos importantes aspectos da locomoção relacionados com a associações entre bípedes e por isso é denominado “the Gait Keeper”. Ele, quando mutante, promove os andamentos dissociados, sejam eles marchados ou saltados. Todavia, as comparações entre os tipos de marcha e as raças Campolina (CAMP) e Mangalarga Marchador (MM) no que se refere à presença desse alelo mutante não foram estudadas. Esse trabalho objetivou o estudo da presença do alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador. Foram utilizadas amostras de DNA de 105 equinos adultos (50 CAMP (batida n=27; picada n=25); 53 MM (batida n=27; picada n=26). O material genético o foi sequenciado utilizando-se protocolos do Borlaug Center através Illumina Hi-Seq 100-PE e os resultados foram analisados através da distribuição da frequência desse gene entre as raças e entre os andamentos. As raças Campolina (CAMP) e Mangalarga Marchador (MM) possuem o DMRT3 mutante. Na CAMP não encontrou-se o alelo DMRT3 normal homozigoto, tanto na picada como na batida. Ain-da na CAMP, a maior frequência no DMRT3 mutante homozigoto ocorreu tanto na picada (~44%) como na batida (~26%). Na raça MM não encontrou-se o alelo mutante em homozigose nos animais de marcha batida. As maiores frequências na MM de batida foi no alelo DMRT3 normal homozigoto (~43%) e na picada no alelo mutante em homozigose (~32%). Esse estudo indica que o alelo DMRT3 mutante encontra-se nas raças CAMP e MM e que a frequência dele tem relação não só com a raça, mas também com o tipo do andamento. Por isso, surge a necessi-dade de estudos mais detalhados para se determinar o possível uso da análise do alelo DMRT3, normal e mutante, como ferramenta dentro dos programas de melhoramento genético e de treinamento para que possam ser utilizados nos equinos marchadores.

P A L A V R A S - C H A V E equídeo; genética; andamento; exercício; cavalo; marchador

DMRT3 mutant allele in batida and picada gaited horses from Campolina and Mangalarga Marchador breeds

ABSTRACT Recently, few papers had shown that DMRT3 allele has association with different aspects of

the locomotion in horses and other animals, principally ones that have relationships with ani-mal legs associations and now is denominated “ the Gait Keeper”. This allele, when mutant, pro-duce dissociated gaits, with ou without flying phase. However, there is no information about the DMRT3 mutant allele presence when it is compared different types of marcha, batida and picada, and different gaited horses breeds, Campolina (CAMP) and Mangalarga Marchador (MM). The aims of this paper were the evaluation of the DMRT3 wild type and mutant alleles in gaited horses with batida and picada gait from CAMP and MM breeds. It was used DNA samples from 105 adult horses (50 CAMP (batida n=27; picada n=25); 53 MM (batida n=27; pi-cada n=26). All genetic samples was sequenced using the Borlaug Center protocol by Illumina

¹ Núcleo de Pesquisa Equina, Departamento de Zootecnia,

Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife-PE;

2 Department of Veterinary Integrative Biosciences, Texas A&M University,

College Station-TX, Estados Unidos da America;

3 Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, UFRPE, Recife-PE,

Brasil.4 Faculdade de Medicina Veterinária,

Universidade Estaural do Ceará, Fortaleza-CE, Brasil;

*Autor para a correspondência: [email protected]

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Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador

INTRODUÇÃO

Ao longo dos últimos anos, diferentes sistemas de melho-ramento animal foram empregados na seleção dos animais domésticos, sendo que a força e os andamentos sempre forma-ram os maiores objetivos na seleção dos equídeos. No Brasil, ao longo das décadas, formaram-se dois grandes grupos de raças de equídeos selecionados a partir da sua função e por conse-guinte pelos seus tipos de andamentos. Em um dos grupos, há raças nacionais desenvolvidas para o trabalho em fazendas e atividades pecuárias, com animais que se deslocam em anda-mentos associados como o trote e o galope e nele estão raças de equinos (Nordestina, Pantaneira e Crioula) e de asinino (Nordestina). Já um segundo grupo, formou-se com animais utilizados mais para as cavalgadas e deslocamentos em baixa velocidade, mas com um andamento dissociados e suas varia-ções (picada, batida, de centro e trotada) e nele estão raças de equinos (Campolina, Mangalarga e Mangalarga Marchador) e de asininos (Pêga e Brasileira).

No sentido de se compreender como os andamentos do ponto de vista genético, nos últimos anos foram estudados e identificado os genes associados a locomoção dos animais. En-tre eles foi demonstrado que o alelo DMRT3 é um dos mais importantes e por isso foi denominado “Gait Keeper”. Ele coordena os movimentos tanto entre os membros esquerdos e direitos, como também entre membros torácicos e pélvicos (ANDERSSON et al., 2012). Também foi descoberto que nos equinos o “Gait Keeper” ainda se apresenta tanto na forma na-tural (“wild type” ou CC) como em uma forma mutante (AA) (ANDERSSON et al., 2012). A forma alelo DMRT3 AA ocorre a partir da troca da Cisteína pela Adenosina em determinada área do alelo e que os animais com o alelo DMRT3 AA apre-sentam melhor desempenho nas modalidades esportivas pró-prias das raças quando comparados com animais com o alelo natural (ANDERSSON et al., 2012; JÄDERKVIST et al., 2015).

O alelo DMRT3 AA causa importantes modificações nos andamentos dos animais. Andersson et al. (2012) demonstram que em camundongos transgênicos, com DMRT3-null, o com-primento da passada é maior, devido a maior fase de extensão dos membros, quando comparados com os animais controles com o alelo DMRT3 CC, semelhantemente ao que ocorre nos cavalos Standardbreds. Também foi demonstrado que o alelo DMRT3 CC ocorre em maior frequência nas raças com anda-

mentos associados, enquanto que a forma mutante está mais frequente em raças conhecidas como “gaited horses” ou de an-damento dissociados, como a marcha e o tölk (ANDERSSON et al., 2012; PROMEROVÁ et al., 2014; PATTERSON et al., 2015). Nesse aspecto, já há estudos demonstrando que algu-mas raças Brasileiras possuem o alelo DMRT3 AA, tanto de an-damento dissociado (Campolina: 89-95%; Mangalarga: ~7%; Mangalarga Marchador: ~45-50%) como nas de andamento as-sociado (Marajoara: ~7%; Crioulo: ~2%) (MANSO FILHO et al., 2014; PROMEROVÁ et al., 2014; PATTERSON et al., 2015).

O alelo DMRT3 AA provoca modificações nos padrões de deslocamento, favorecendo o aparecimento de andamentos dissociados, sejam eles marchados ou saltados. Entretanto, ain-da não há comparações quem combinem as análises dos tipos de marcha (batida e picada) e das raças (Campolina e Manga-larga Marchador) no que se refere à presença do alelo DMRT3 AA, CC ou CA. Esse trabalho objetivou o estudo da presença do alelo DMRT3 AA e CC em equinos de marcha batida e de marcha picada e nas raças Campolina e Mangalarga Marcha-dor. O conhecimento da distribuição desse gene entre as raças e nos diferentes andamentos poderá contribuir para o melhor entendimento dos andamentos dessas raças e das habilidades esportivas, facilitando a adoção de práticas de treinamento e de melhoramento genético que visem o bem-estar dos animais.

MATERIAL E MÉTODOS

Animais e colheita de amostras: Foram utilizadas amostras dos pelos da crina caudal de 105 equinos, sendo 52 da raças Campolina (batida n=27; picada n=25) e 53 da raça Mangalar-ga Marchador (batida n=27; picada n=26). Todos eram adultos (5-20 anos), com registro definitivo e com o andamento fixa-do, seguindo as regras das respectivas associações de criadores, com local nascimento tanto em Pernambuco como em outros Estados do Brasil. Esses animais também haviam competido em provas de marchas nos últimos anos ou estavam compe-tindo em provas de marcha, conforme o seu andamento. As amostras de pelos colhidas desses animais estavam armaze-nadas no banco de amostras do Núcleo de Pesquisa Equina/UFRPE e os procedimentos utilizados no atual experimento foram aprovados pelo Comitê de Ética na Pesquisa Animal da UFRPE (026/2013) .

Hi-Seq 100-PE and the results were analyzed by frequency distribution of this allele between breeds and gaits. Results showed that CAMP and MM have the DMRT3 mutant allele. In CAMP breed it was not observed DMRT3 wild type allele in homozy-gous, in batida and picada horses. In addition, the DMRT3 mutant homozygous in CAMP breed occurred in picada (~44%) and batida (~26%) gaits animals in large frequencies. The MM breed did not have DMRT3 mutant homozygous in batida horses. The largest frequency in batida horses in MM breed was obtained in DMRT3 wild type homozygous (~43%) and in picada horses was in DMRT3 mutant homozygous (~32%). This research showed that DMRT3 mutant allele is present in CAMP and MM breeds and its frequency has relationships not only with horse’s breed but also with type of the horse’s gait. Finally, to understand the importance for gaited horses of the DMRT3 allele, mutant or wild type, it is necessary more studies because this knowledge has important implication for development new genetic selection methods and training programs to these breeds.

K E Y W O R D S equid; genetic; gaits; exercise; equine, four-beat horse

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Hélio Cordeiro Manso Filho et al.

Análise do material genético e análise de dados: O mate-rial genético obtido das amostras de pelos dos animais foram sequenciadas utilizando-se protocolos do Borlaug Center atra-vés Illumina Hi-Seq 100-PE, na Texas A&M University, e estão detalhadamente descritos na literatura (ANDERSSON et al., 2012). Os resultados foram analisados através da distribuição da frequência dos alelos DMRT3 natural homozigoto (CC), mutante homozigoto (AA) e heterozigoto (CA) entre as raças e entre os andamentos.Também foram obtidas as frequências alélicas e heterozigosidade esperada (He) e observada (Ho) se-gundo Nei (1987) e o teste para o equilíbrio de Hardy-Wein-berg foram realizados com auxílio do GENEPOP versão 4.2, conforme Rousset (2008).

RESULTADOS

Os resultados encontrados determinaram que o alelo DMRT3 mutante (AA), estava presente nas raças Campolina (CAMP) e Mangalarga Marchador (MM). Contudo, nessas ra-ças foi observado que o alelo DMRT3 em homozigose, tanto do alelo natural (CC) como do mutante (AA), e em heterozi-gose (CA) apresentavam diferentes variações nas suas frequên-cias, tanto entre as raças CAMP e MM, como entre os animais de marcha batida e picada.

Os animas da raça CAMP não apresentaram o alelo DMRT3 CC, tanto para os cavalos de marcha picada como para os de marcha batida. Ainda na raça CAMP determinou-se que os animais de marcha picada apresentaram a maior fre-quência do alelo DMRT3 AA (~43%). Já nos animais da raça MM não foi encontrado o alelo DMRT3 AA nos animais de marcha batida. As maiores frequências observadas na raça MM

de marcha batida foi do alelo DMRT3 CC (~42%) e na mar-cha picada do alelo DMRT3 AA (~32%). A presença do alelo DMRT3 CA foi observada em todos os grupos avaliados, sendo que na raça CAMP a maior frequência foi determinada nos animais de marcha batida (~24%) e na raça MM nos animais de marcha picada (~15%).

Ainda conforme as Tabelas 1 e 2, ambas as raças não estão em Equilíbrio de Hardy-Weinberg e apresentam um excesso de genótipos homozigóticos quando analisa-se os resultados en-contrados. O coeficiente de endogamia foi baixo na raça Cam-polina para a marcha batida com 0,19% e alto na picada com 39,9% e com um erro padrão 0,003 e 0,0019, respectivamente. Já na raça MM a consanguinidade foi alta na marcha batida com 31,6% e baixa na marcha picada com 2,4%. Devido as ca-racterísticas do programa Genepop não foi possível comparar os resultados entre as raças pois alguns apelos apresentavam valores inferiores a dois.

DISCUSSÃO

Ao redor do mundo as raças com andamentos dissociados ou “gaited horses” estão presentes em diferente centros de cria-ção de equinos mas com importância produtivas diferentes. Para que uma raça possua o andamento dissociado natural, ela deverá possuir a presença do alelo DMRT3 mutante (AA), sen-do que a frequência desse alelo poderá depender do sistema de seleção genética utilizado ao longo dos anos e da popula-ção avaliada. Em estudo com mais de 140 raças de equinos foi identificado que o alelo DMRT3 AA esta presente em cerca de 48% das raças analisadas, com a frequência variando de 1 até 100% (PROMEROVÁ et al., 2014). Esse estudo demonstra cla-

ANDAMENTOALELO

N F SECC AA AC

Batida 0 12 15 27 0,0019 0,0003Picada 0 3 22 25 0,3994 0,0019Total 52

Observação: CC: alelo homozigoto natural; CA: alelo heterozigoto; AA: alelo homozigoto mutante; N: número de cavalos para cada tipo de marcha; F: coeficiente de consanguinidade dentro de cada tipo de marcha; SE: erro padrão, medida de variabilidade da média.

ANDAMENTOALELO

N F SECC AA AC

Batida 23 4 0 27 0,3163 0,0021Picada 1 8 17 26 0,0242 0,001Total 53

Observação: CC: alelo homozigoto natural; CA: alelo heterozigoto; AA: alelo homozigoto mutante; N: número de cavalos para cada tipo de marcha; F: coeficiente de consanguinidade dentro de cada tipo de marcha; SE: erro padrão, medida de variabilidade da média.

Tabela 1 - Frequência de Alelos de acordo com o tipo de andamento e o coeficiente de consanguinidade na raça Campolina.

Tabela 2 - Frequência de Alelos de acordo o tipo de andamento e o coeficiente de consanguinidade na raça Mangalarga Machador.

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Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador

Figura 1. Distribuição do alelo DMRT3, natural e mutante, conforme raça e tipo de marcha em Cavalos das raças Campolina e Mangalarga Marchador.

Observações: CC: alelo homozigoto natural; CA: alelo heterozigoto; AA: alelo homozigoto mutante equinos adultos das raças Campolina (n=52) (A) e Mangalarga Marchador (n=53) (B).

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Hélio Cordeiro Manso Filho et al.

ramente que há interesse de diferentes criadores e associações de criadores pela seleção em favor do alelo DMRT3 AA que causa o andamento dissociado, que é refletido na diferentes distribuição dos alelos, natural e mutante, em diferentes raças.

No atual estudo, ao avaliar os animais em conjunto (n=105) e independente do tipo de andamento, observa-se que o alelo DMRT3 AA esta presente em mais de 70% dos animais, sendo que na raça Campolina ele chega a 100%, enquanto que na MM é de pouco superior aos 54%. Ainda no atual experimento, observa-se que são poucos os animais CA na raça Mangalarga Marchador (~25%), diferentemente do encontra-do nos animais da raça Campolina (~45%). Promerová et al., (2014) estudando essas duas raças, mas sem indicar o tipo de andamento marchado, observa que na raça CAMP (n=18) há uma frequência de ~89% do alelo DMRT3 AA enquanto que na raça MM (n=22) esse número é de ~45%. Já na publicação de Patterson et al. (2015) (n=81), analisando animais MM de marcha batida (n=44) e picada (n=37), identificou que a fre-quência do alelo DMRT3 mutante foi de ~50%, quando os animais dos dois andamentos foram combinados. Ambos os estudos acima apresentaram resultados bastante semelhantes aos descritos aqui e indicam que a combinação entre as três publicações fornece uma boa indicação da realidade na fre-quência do DMRT3 natural e mutante nas raças CAMP e MM, principalmente, sabendo-se que essas pesquisas utilizaram di-ferentes populações de equinos em suas análises.

O alelo DMRT3 AA pode ser responsabilizado pelas di-ferenças, tanto intra-racial como inter-racial, na qualidade e tipo do andamento marchado dissociado nas raças CAMP e MM. Em outras raças com andamentos dissociados, a frequên-cia desse alelo DMRT3 AA é elevada, mas ausente em raças com andamentos associados com no cavalo Árabe e Puro-San-gue Inglês (ANDERSSON et al., 2012). Jäderkvist et al (2015) observa que equinos das raças Standardbred, Icelandic e Fin-nhorses que possuem o alelo DMRT3 AA, são superiores nas competições indicadas para essas raças e que animais que são CC ou CA não se saem tão bem nessas provas raciais específi-cas, sendo mais eficientes no adestramento e hipismo clássicos. Nesse sentido, Andersson et al., (2012) ainda comentam que animais AA possuem uma certa dificuldade para a coordena-ção entre membros ao trote e no galope, devido às caracterís-ticas de formação nas conexões nevosas motoras. Entretanto, a dissociação promovida pelo alelo DMRT3 AA ou CA, pode fa-vorecer os andamentos marchados na raças nacionais, seja ela batida ou picada, aumentado a frequência dos tríplice apoios e o conforto naturalmente durante o deslocamento do cavaleiro.

Deve-se observar que a dissociação entre os membros, du-rante os deslocamentos à marcha, é largamente buscado na seleção das raças CAMP, MM e outras raças nacionais de equí-deos marchadores. A dissociação entre os membros, seja ela natural ou artificial, é um dos principais pontos na avaliação das raças durante as competições de marcha. Nesse sentido, os animais da raça MM já competem, separadamente, em pro-vas de marcha batida e picada desde a década de 1990, prática introduzida na raça Campolina somente nos anos 2000. Esse sistema de melhoramento genético, com base nos andamen-to, ainda passou outra variação na forma de seleção entre as

duas raças, aonde na raça MM adotou a marcha com critério de desempate entre animais nas competições muito antes que a raça CAMP, e com isso, provavelmente, se formaram popu-lações distintas entre as raças. Entretanto, ainda não esta claro com a presença do alelo DMRT3 AA poderia ter sua frequên-cia modificada e contribuir para todo o processo de seleção das raças, já que a marcha pode ser artificial, e que diversas prática de treinamento podem alterar a forma dos membros se associarem ou dissociarem, sendo assim diferentes aspectos da epigenética, como o treinamento e condicionamento, de-vem ser levados em consideração quando são analisados esses resultados.

As diferenças inter-raciais, no que diz respeito ao alelo DMRT3 CC ou AA, devem ser melhor analisadas, já que es-tudos com diferentes parâmetros fisiológicos e bioquímicos demonstram poucas diferenças entre as raças CAMP e MM, incluíndo a estimativa de gasto energético estimado para o deslocamento à marcha (SILVA et al., 2015; MANSO FILHO et al., 2012). Entretanto, Wanderley et al (2010) demonstrou que quando cavalos da raça MM de marchas picada e batida, são avaliados numa mesma velocidade média (~3,2m/s), apre-sentam acúmulo de lactato significativamente diferente. Nesse caso, o animais de marcha picada apresentam maior acúmulo de lactato, frequências cardíacas e respiratória mais elevadas, indicando maior gasto energético quando comparado com os de marcha batida (WANDERLEY et al., 2010). Contudo, quando os animais das duas raças deslocam-se em velocida-des médias diferentes, mas entre 3 e 4 m/s, não são observa-das diferenças significativas inter-raciais, tanto para parâme-tros fisiológicos (frequência cardíaca), como para parâmetros bioquímicos (concentrações de glicose e lactato). Nesse caso, compreende-se claramente que os conceitos do custo da lo-comoção, detalhadamente descrita por Hoyt e Taylor (1981) e por Winkler et al (2002), são responsáveis por importantes adaptações no metabolismo do cavalo atleta. Sendo assim, os conceitos da economia da locomoção deveriam fazer parte da avaliação dos animais durante as provas de andamento regu-larmente, ou seja, durante as avaliações os animais deveriam se deslocar em velocidades diferentes em conjunto ou de forma individual, para melhor serem analisados.

Ainda analisando-se o perfil da frequência do alelo DMRT3 nas raças marchadoras, foi descrito que a maior ou menor presença do alelo DMRT3 AA ou CA poderia estar as-sociada ao nível de consanguinidade ou de endogamia em uma determinada raça. Nesse sentido, Patterson et al. (2015) ressalta que uma maior frequência do alelo DMRT3 mutante, pode estar associado ao maior “inbreeding” na população da raça MM analisada. No atual estudo o nível de consanguinidade observado nas duas raças estudas variou de forma importante conforme o tipo de andamento, sendo mais baixa nos CAMP batida e MM picada (Tabelas 1 e 2), mas devido ausência de alguns alelos o programa utilizado par as análise não permitiu a indicação do valor de P. na comprando entre os alelos. Em outro estudo com a raça MM, Costa et al (2005) encontrou o coeficiente de endogamia para todos a população registrada de 1,3% e de 5,7% para os animais endogâmicos dessa raça. Seme-lhantemente, Procópio et al (2003) observa que o coeficiente

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Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador

de endogamia na raça CAMP é próxima a zero para toda a po-pulação registrada na associação dos criadores, sendo que nos animais endogâmicos dessa raça o coeficiente de endogamia foi de 6,0%. Sendo assim, essas diferenças na frequência dos alelos DMRT3 detectadas no atual experimento e as diferenças entre os níveis de endogamia entre as populações de equinos das raças CAMP e MM podem possuir alguma relação mas que devem ser melhor estudadas.

Para se compreender melhor os efeito da variação do DMRT3 nas populações das raças MM e CAMP deve-se ob-servar também o período de fechamento do livro de registro aberto. Nesses livros eram registrados animais sem ancestrais conhecidos, mas com a morfologia no padrão da raça em ques-tão. Na raça MM ele foi fechado para os machos na década de 60 e para as fêmeas na década de 80, do século XX. Já na raça CAMP esse livro foi fechado no final década de 60 para os machos, e nos anos 90 para as fêmeas, também no século XX. Esses fatores, fechamento dos livros abertos e nível de con-sanguinidade, podem também terem contribuído para o atual tipo de andamento marchado e nas diferentes frequências do alelo DMRT3 CC e AA nas raças CAMP e MM. Finalmente de-ve-se observar que nos últimos anos a raça MM realizou alguns termos de ajuste de conduta (TAC) junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), reconhecen-do a utilização, nos cruzamentos e programas de reprodução, de animais de outras raças em sua população, principalmente animais da raça Mangalarga. Essa última raça que possui um andamento marchado associado e com baixa frequência do alelo DMRT3 mutante (PROMEROVÁ et al., 2014).

Finalmente, deve-se ressaltar que os diferentes aspectos da epigenética podem ser importantes no entendimento dos atuais resultados, já que a marcha, picada ou batida, pode ser um andamento natural ou artificial, e que os treinamentos, tanto para o condicionamento físico como o condicionamen-to para habilidades específicas, podem modificar a qualidade dos andamentos e a forma pela qual os membros se associam ou se dissociam durante o deslocamento do animal. Esses efei-tos ainda não estão bem claros e devem ser melhor explicados nos próximos anos com o advento de novas técnicas de estu-dos genético, em populações maiores, associados aos estudos da cinemática. Ainda deve-se recordar que as tentativas de se introduzir o andamento marchado dissociado em raças com andamentos tipicamente associados, raramente, terminam em grande sucesso. Quando os animais de raças tipicamente de andamentos associados conseguem desenvolver algum tipo de andamento marchado e dissociado, eles tendem a desenvolver lesões nos membros locomotores mais precocemente do que os animais naturalmente marchadores. Sendo assim, estudos mais complexos devem ser realizados para que o conhecimen-to da frequência do alelo DMRT3, CC ou AA, e a importância dos animais alelo DMRT3 CA, possam ser melhor aplicados na seleção das raças CAMP e MM, e assim estimular novas prá-ticas de melhoramento genético e de treinamento nos cavalos marchadores no Brasil.

CONCLUSÕES

Esse estudo demonstrou que na população analisada das raças CAMP e MM existem a presença do alelo DMRT3 mu-tante, e que ele apresenta diferenças na sua frequência, não só entre as raças mas também entre os tipos do andamentos que as duas raças apresentam. Também foi demonstrado que há ausência do alelo CC na CAMP, em ambos andamentos, e a do alelo AA na MM nos animais de marcha batida, na população analisada. Por isso, estudos mais detalhados, para se determinar o possível uso da análise do alelo DMRT3 como ferramenta dentro dos programas de melhoramento genético, devem ser realizado pois as diferentes frequências pode ser importantes nas práticas de treinamento físico, específico ou não, que pos-sam ser utilizados nos equinos marchadores com andamento dissociados.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, CAPES e a Guabi Nutrição Animal pelo supor-te financeiro a esse projeto, e aos membros do Clube do Cavalo Campolina e do Núcleo dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, ambos do Estado de Pernambuco, pela inestimável ajuda com seus animais.

INFORMAÇÃO RELEVANTE

Parte desse trabalho, que descreve a presença do alelo DMRT3 mutante nas raças CAMP e MM, foi publicado nos Anais do Congresso Anual da Associação Brasileira de Médi-cos Veterinários de Equídeos - ABRAVEQ, em Julho de 2014, Campos do Jordão-SP.

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Hélio Cordeiro Manso Filho et al.

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