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VOLUME XVI Nº 2 Diretor: FILIPE CRISTOVÃO DEZEMBRO 2013
CIÊNCIA E TÉCNICA
A MULHER DE IDADE FÉRTIL EM HEMODIÁLISE
FAV FEMORO-FEMORAL: UM NOVO DESAFIO NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM
CITRATO DE SÓDIO VS HEPARINA SÓDICA COMO SOLUÇÃO LOCK DOS CVC EM DOENTES EM HEMODIÁLISE: ESTUDO COMPARATIVO
QUE FUTURO PARA A CONSULTA DE ENFERMAGEM AO DOENTE RENAL CRÓNICO? - REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
PERITONITE PRECOCE
PROMOÇÃO DO AUTOCUIDADO NO DOENTE RENAL CRÓNICO EM PRÉ-DIÁLISE
CORPOS GERENTES DA APEDT
MESA DA ASSEMBLEIA GERALPresidente Serafim Figueiral Rebelo Sócio 33 Braga
Vice-presidente António Filipe Amaral Jesus Cristóvão Sócio 54 Massamá
Secretário Maria Adelina Silva Monteiro Mota Sócio 60 Castelo Maia
CONSELHO FISCALPresidente Sergio David Lourenço Gomes Sócio 200 Lisboa
Secretário Maria Lurdes Martins Saraiva Sócio 03 Lisboa
Secretário António Sampaio Dias Sócio 199 Lisboa
DIREÇÃOPresidente Fernando Luís Freire Vilares Sócio 16 Porto
Vice-presidente Miguel Fernando Pereira Sousa Sócio 53 Gondomar
Secretário Alexandre Miguel Andrade Pereira Sócio 91 S.M. Infesta
Tesoureiro Pedro Miguel Cardoso Rodrigues Sócio 52 Porto
1º Vogal Jorge Manuel Antunes Mendes Sócio 38 Castelo Branco
2º Vogal Esmeralda Duarte Pacheco Sócio 40 Vila Nova de Gaia
3º Vogal Maria Arminda Silva Tavares Sócio 63 Coimbra
EDITORIALFilipe Cristóvão
CARTA DO PRESIDENTEFernando Vilares
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS
A MULHER DE IDADE FÉRTIL EM HEMODIÁLISECarolina Luís, Margarida Meneses
FAV FEMORO-FEMORAL: UM NOVO DESAFIO NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEMAna Filipa Loureiro Marques, Dália Santos
CITRATO DE SÓDIO VS HEPARINA SÓDICA COMO SOLUÇÃO LOCK DOS CVC EM DOENTES EM HEMODIÁLISE: ESTUDO COMPARATIVOJorge Melo, Pedro Gonçalves, Rui Sousa, Marta Coimbra, Andreia Marques, Susana Marinho, Marta Marques
QUE FUTURO PARA A CONSULTA DE ENFERMAGEM AO DOENTE RENAL CRÓNICO? - REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURAZélia Nascimento, Iolanda Sousa, Raquel Ribeiro
PERITONITE PRECOCECasimira Carvalho, Elisabete Costa, Sara Pereira
PROMOÇÃO DO AUTOCUIDADO NO DOENTE RENAL CRÓNICO EM PRÉ-DIÁLISEElisabete Gonçalves Avelar Dias, Filipe Cristóvão
ÍNDICE3
5
67
11
16
23
30
36
FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE APEDTTrav. Elaine Sanceau, 27 - 3.º Esq.4465-620 Leça do BalioPortugalTelm.: 918 152 [email protected] | www.apedt.pt
DIRETOR Enf.º Filipe Cristóvão
CONSELHO REDATORIAL Enf.º Sampaio Dias,Enf.ª Maria Saraiva,Enf.º Miguel Sousa, Enf.ª Esmeralda Pacheco,Enf.ª Arminda Tavares
EDITOREnf.º Pedro Rodrigues
PRODUÇÃO E IMPRESSÃO Cromotema - Artes Gráficaswww.cromotema.pt
PERIODICIDADE Semestral
TIRAGEM 500 ex.
Distribuição gratuíta aos Sócios da Associação Portuguesa de Enfermeiros de Diálise e Transplantação.
NEPHRO’S | Volume XVI | Nº 2 | 1
NEPHRO’S
A revista Nephro’s está ligada à missão da Associação Portuguesa de Enfermeiros de Diálise e Transplan-tação (APEDT) na procura da divulgação do conhecimento científico e no aperfeiçoamento da prática profissional. Ao longo da sua existência tem publicado os trabalhos realizados por muitos enfermeiros de nefrologia, que assim partilham o seu saber, as suas opiniões e a sua sensibilidade, ajudando à construção de uma enfermagem nefrológica. A formação académica e profissional, a aspiração à progressão na carreira ou o simples interesse e curiosidade, têm sido bons estímulos para a produção científica. Contudo, nos dois ou três últimos anos temos verificado uma menor produção de artigos e de trabalhos científicos no âm-bito da APEDT. As dificuldades atuais têm levado a opções no sentido de gerir os recursos económicos da forma equilibrada, chegando o mais próximo possível dos associados. Foi essa necessidade que conduziu à prioridade de divulgar a revista Nephro’s através do endereço eletrónico da APEDT e reduzir a tiragem ao mínimo. Esta opção parece acertada por ser eficaz e ajustada às necessidades. Porém, a opção de permitir que apenas os associados possam aceder à publicação é polémica. Claro que é justo que os enfermeiros de nefrologia que sejam associados da APEDT possam ter o privilégio de aceder à revista sem custos. Muitas publicações seguem essa orientação. E é óbvio que o acesso livre à Nephro’s pode ser um benefício para os enfermeiros que nada contribuem para a associação. Talvez seja útil perguntar: será que uma medida tão justa não mata a revista? Não estaremos desta fora, a diminuir o impacto e o interesse desta publicação dirigida a enfermeiros de nefrologia? Reduzindo o número de leitores, não estaremos seguramente a con-tribuir para a missão da Nephro’s. Por isso apelo para que todos possam aceder a uma fonte de informação que se pretende aberta a todos os enfermeiros de nefrologia e outros interessados.
Tenho defendido a necessidade de ancorar os trabalhos aqui apresentados, numa perspetiva de enferma-gem. Isso significa fundamentar o enfoque dos artigos e dos trabalhos de investigação em pressupostos, valores e paradigmas de enfermagem. De que serve elaborar sobre uma intervenção na área da saúde, se não for possível realçar o mérito de ser realizada por enfermeiros e de ser útil às pessoas? Acredito que não falta espaço de manobra para dar visibilidade à enfermagem. As seguintes áreas continuarão a exigir atenção: justificar as intervenções de enfermagem de acordo com a evidência científica; compreender fe-nómenos de saúde vividos pelos doentes e família, suscetíveis de serem abordados pelos enfermeiros de nefrologia; segurança e qualidade dos cuidados; a educação para a saúde das pessoas ao nosso cuidado e familiares; ou formação dos profissionais. Há sempre espaço para incorporar os conhecimentos de outras áreas científicas, pelo que não se pode desprezar competência dos enfermeiros m outros domínios. Os arti-gos publicados neste número espelham a importância que atribuímos à componente técnica dos cuidados (acessos vasculares, manutenção da permeabilidade dos cateteres de hemodiálise e peritonite), à educação e independência dos doentes renais (promovendo o autocuidado e consulta de enfermagem), e aos fenó-menos humana (maternidade). Boa leitura.
Filipe Cristóvão
Filipe Cristóvão | Diretor da NEPHRO’S
EDITORIAL
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NEPHRO’S
Comunicações Livres/Posters Regras para atri-buição de prémios
1. Todos os enfermeiros poderão enviar os re-sumos dos trabalhos, para se candidatarem à apresentação no congresso, sendo efectuada uma pré-avaliação pela comissão científica. No caso de serem aceites, durante a apresentação no congresso será avaliado o reconhecimento científico, independentemente de serem ou não candidatos a prémios.
2. A comissão científica será constituída por enfer-meiros da área da prestação de cuidados e do ensino de enfermagem em igualdade paritária.
3. A comissão científica terá em conta os seguintes parâmetros na avaliação dos trabalhos:3.1. Estrutura e conteúdo do resumo 3.2. Cumprimento das regras na elaboração e apresentação dos trabalhos3.3. Metodologia cientifica utilizada3.4. Argumentação do autor nas questões colocadas 3.5. Interesse técnico/cientifico na área da Enfermagem de Nefrologia3.6. Originalidade do tema3.7. Contributos para a investigação
4. Para além do reconhecimento científico dos melhores trabalhos a Comissão Científica atribui prémios às 2 melhores comunicações orais e aos 2 melhores posters, desde que reúnam os seguintes requisitos:
• MaiorpontuaçãoatribuídapelaComissãoCien-tífica,
• Umdosautoresdotrabalhoteráquesersócioda APEDT, com as quotas actualizadas.
5. Para além dos prémios habituais, poderão ser atribuídas menções honrosas, se a comissão científica assim o entender.
6. A atribuição dos prémios é da inteira responsa-bilidade da comissão científica do congresso, podendo esta não atribuir qualquer dos prémios se entender que os trabalhos não reúnem qua-lidade mínima suficiente.
7. Qualquer elemento da Comissão Científica não poderá fazer parte dos grupos de trabalho que sejam candidatos a prémio das comunicações orais ou posters.
8. Os prémios só poderão ser levantados se os autores enviarem para a APEDT, no prazo máximo de 30 dias após o congresso, o respectivo trabalho, em forma de artigo, podendo fazê-lo enviando por e-mail ou através de outro suporte informático, de acordo com as normas de publicação da revista Nephro’s.
Regras na emissão dos certifi-cados das comunicações livres e posteres
A. Recomenda-se que os trabalhos enviados tenham no máximo 5 autores, devendo o apresentador do trabalho estar obrigatoriamente inscrito no evento. A este será passado um certificado de autoria e apresentação, ficando registado no certificado os restantes autores.
B. Apenas serão emitidos certificados para co-autores de trabalhos, se estes estiverem inscritos no congresso.
C. Os certificados serão providencialmente entregues aos seus destinatários, caso não seja possível, deverão ser reclamados, no máximo até 4 meses após realização do evento.
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NEPHRO’S
CARTA DO PRESIDENTE
A APEDT tem sempre colaborado com outras Organizações e Associações, procurando dar o seu contributo
com o objetivo de melhorar a organização, estrutura e resultados no tratamento da pessoa com insuficiência
renal. No entanto alguns sinais que surgem alertam-nos para pensar que o reconhecimento do enfermeiro,
como imprescindível no processo do cuidar em Nefrologia, continua a não ser um dado adquirido. A Portaria
nº 347/2013, publicada em 28 de Novembro e que regulamenta de novo o licenciamento das unidades
de diálise, parece ser um dos sinais que referi. No que respeita aos enfermeiros é muito genérica deixando
dúvidas a quem a lê. Volto a convidar-vos para analisar no futuro próximo, com isenção e bom senso, se estão
garantidas as condições de trabalho para prestarmos cuidados com qualidade, segurança e de confiança
aos doentes renais em tratamento de substituição. Cada enfermeiro deve contribuir para a nossa afirmação
profissional, quando cuida da Pessoa doente. Relembro que a qualidade dos cuidados de Enfermagem
deNefrologia já alcançadadependerá sempredaaposta contínuaemUnidades comdotações seguras,
profissionais motivados e especializados nesta área.
A Direção da APEDT tem dado todo o apoio para a elaboração do Manual de Boas Práticas para a diálise,
tendo já participado em duas reuniões com a supervisão da Ordem dos Enfermeiros. Acreditamos que o
Manual de Boas Práticas de enfermagem na diálise será uma realidade breve e um instrumento de trabalho
importante para o desempenho da nossa atividade como enfermeiros. Durante o XXVIII Congresso da
APEDT vamos ter oportunidade de trocar impressões sobre este tema assim como apresentaremos um novo
projeto em curso sobre o Manual da Qualidade das Atividades Formativas. Este Manual irá descrever todos
os processos, procedimentos e metodologias utilizadas no ciclo formativo, traduzindo as práticas existentes
e a implementar pela APEDT.
O XXVIII Congresso APEDT irá decorrer de 10 a 12 de Abril, inserido no Encontro Renal 2014 e em parceria
com a Sociedade Portuguesa de Nefrologia. No dia 11 realiza-se a Assembleia Eleitoral para eleger os Corpos
Gerentes da APEDT, para o triénio de 2014-2016. Será mais uma oportunidade para podermos participar no
caminho iniciado em 1984, propondo novas ideias e projetos que garantam a continuidade da dinâmica e
importância da Nossa Associação.
Despeço-me, com os melhores cumprimentos.
Fernando L. F. Vilares Presidente da APEDT
Caros Colegas,
Fernando L. F. Vilares
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NEPHRO’S
Só poderão ser publicados artigos originais. Certifique-se de que o trabalho que nos en-via não é apresentado noutras publicações.A identificação do(s) autor(es) é realizada com nome, título profissional, instituição e serviço onde desempenha funções, morada, telefone e e-mail para eventual contacto.O conteúdo dos artigos (juízos e opiniões) são da exclusiva responsabilidade do(s) autor(es), e não reflectem necessariamente a opinião do conselho redactorial ou direc-ção. Os artigos publicados ficarão proprie-dade da APEDT e só poderão ser reprodu-zidos com autorização desta. A selecção e oportunidade de publicação são da exclusi-va responsabilidade da revista. O Conselho Redatorial poderá solicitar os autores para abreviar e resumir o trabalho, caso não se ajuste às normas de publicação. Podendo também aconselhar a fazer revi-sões/modificações que beneficiem a sua clareza e compreensão.Após apreciação pelo Conselho Redatorial e caso o seu trabalho não seja aceite ou exis-tam sugestões a fazer-lhe, ser-lhe-á enviada resposta por escrito, ou via e-mail. Os trabalhos enviados não serão devolvi-dos, independentemente de serem ou não publicados. Terão preferência para publica-ção, os trabalhos em que os autores sejam sócios da APEDT.
Apresentação – extensão e formato do textoOs trabalhos devem ser enviados em forma-to Word, com letra do tipo arial, tamanho 12, em folhas A4, a 1,5 espaços, não exce-dendo as 10 páginas, de acordo com as re-gras de apresentação de trabalhos escritos. Os trabalhos de investigação poderão ter até 15 páginas. O texto, para além de impresso, deve fazer-se acompanhar de disquete ou CD. O suporte informático deverá estar rotu-lado com o nome do(s) autor(es) e nome do(s) ficheiro(s). O título deve ser curto, e sem abreviaturas.
Os trabalhos devem apresentar um breve resumo, e palavras chave que permitam a caracterização do texto.O autor poderá, se achar conveniente, assinalar partes do texto para eventual destaque. Nos trabalhos de investigação, recomenda-se a estrutura convencional de apresentação dos trabalhos, como por ex: resumo, introdução, material e métodos ou metodologia, resultados, discussão, con-clusões e bibliografia. Nos restantes tipo de trabalhos o autor pode fazê-lo se achar conveniente.
Tipo de artigos que podem ser enviadosCartas à direcção – comentários, observa-ções cientificas ou criticas sobe artigos e/ou temas surgidos na revista, assim como dúvidas ou experiências que podem ser resumidas. Quando justificar, a direcção da Nephro’s envia aos autores visados as cartas para direito de resposta.Revisão/reflexão temática – preferencial-mente englobando implicações na prática profissional;Estudo de caso/análise de cuidados – in-cluindo necessariamente plano de cuida-dos (e histórico no estudo de caso);Trabalhos de investigação – deverão incluir problema, quadro de referência (em síntese), metodologia (resumida), principais resulta-dos, discussão, conclusões e sugestões.
Ilustrações Enviar todas as imagens, gravadas em for-mato JPG, em ficheiro autónomo.Os quadros, gráficos, figuras, tabelas ou dia-gramas devem ser numerados, elaborados em formato Word, e em ficheiros separados.Enviar anotações claras sobre as ilustrações, o respectivo enquadramento no texto e as especificações da sua publicação.
Responsabilidades éticasAs investigações realizadas em instituições carecem de autorização prévia das adminis-trações. Quando se descrevem experiências realizadas em seres humanos deve-se indi-car se os procedimentos estão de acordo com as normas da comissão de ética. Deve ser clara a permissão de publicação por entidades/instituições que financiaram a investigação. Os autores são responsáveis por obter as necessárias autorizações para a reprodução parcial ou total de material (texto, quadros, figuras ou fotografias) de outras publica-ções. Estas autorizações devem pedir-se
tanto ao autor como à editora.Na lista de autores devem figurar unica-mente as pessoas que contribuíram para o desenvolvimento do trabalho. De forma geral para figurar como autor, deve-se cum-prir os seguintes requisitos:
• Ter participado na concepção e realização do trabalho do qual resultou o artigo em questão;
• Ter participado na redacção do texto e nas eventuais revisões do mesmo;
• Estar de acordo com a versão que final-mente vai ser publicada;
A Nephro’s declina qualquer responsabili-dade sobre possíveis conflitos decorrentes da autoria dos trabalhos que se publicam. Os autores devem mencionar na sessão de métodos, se os procedimentos utilizados nos utentes e grupos de controlo se reali-zaram com o consentimento informado. Os autores devem juntamente com o envio dos originais, enviar uma folha onde decla-rem ceder graciosamente à APEDT, todos os direitos de publicação do artigo. Daí que, um artigo enviado para a Nephro’s, até re-jeição da sua publicação, não pode ser en-viado para outra revista.
Citações e referências bibliográficasSeguir as normas aceites pela comunidade ciêntifica, nomeadamente a Norma Portu-guesa, NP 405-1.
Exemplo de livro: ROPER, Nancy et al – Modelo de enfermeria. 2ª ed. Madrid: Interamericana, 1987. 380 p.
Exemplo de artigo: BASTO, Marta Lima – “Interacção enfermeira-doente hospi-talizado”. Nursing, Lisboa, 1992. nº 49, p. 6-9.
Como enviar o artigoEnviar o artigo por correio electrónico, ace-dendo ao site: www.apedt.pt e entrar na secção enviar artigo, ou directamente para o e-mail: [email protected] Poderá ainda enviar por correio normal. para o seguinte endereço:
APEDT
Trav. Elaine Sanceau, 27 - 3.º Esq.
4465-620 Leça do Balio
Portugal
REVISTA NEPHRO’S
NORMAS PARA
PUBLICAÇÃO DE
TRABALHOS
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RESUMO
A mulher de idade fértil em Hemodiálise é uma temática de interesse peculiar, enquanto enfermeiras prestadoras
de cuidados a doentes de idade fértil, com a esperança da maternidade algures abandonada pelo surgir da Doença
Renal Crónica.
A maternidade, segundo Scorsafava, A., é desejada e vivenciada por muitas mulheres, sendo um fator importante e
comumente considerado como ocasião especial nas suas vidas. Mais do que um processo corporal, a gravidez e a
maternidade são condições para a realização da mulher como sujeito num universo simbólico. Paim (2001)
A capacidade de reprodução numa mulher com insuficiência renal é diminuída.
Segundo Pessegueiro, P. et ali, a gravidez é possível em mulheres em terapêutica substitutiva da função renal.
Nestes casos, o diagnóstico de gravidez é dificultado pelo fato de se registarem habitualmente valores elevados da
hormona beta-hCG, pelo que é apenas confirmado por ecografia ginecológica. Apesar de ocorrer aborto espontâ-
neo em cerca de metade dos casos, sobretudo no segundo trimestre, com uma melhor qualidade de vida e com
o tratamento de dialise é possível uma percentagem aceitável de nados vivos.
Palavras-chave: Mulher; Idade fértil; Hemodiálise
A MULHER DE IDADE FÉRTIL EM HEMODIÁLISE
Autores: Carolina Luís, Margarida Meneses.Enfermeiras na Davita Eurodial - Leiria
ABSTRACT
The fertile age women and the hemodialysis is a subject with a peculiar interest has nurses, working with fertile
age patients with pregnancy hopes vanished due to a chronic renal disease.
The cultural usage of the word women is connected with a female person after puberty. From then on, in accordance
with the socio-cultural standard, a girl becomes a woman after her first menstruation, this meaning that in her
physical and psychological development the woman is now ready for pregnancy. Scorsafava, A., points out that
the pregnancy is desired and experienced by many women has being an important factor, considered by most a
special occasion on their lifetime. More than a physical process pregnancy and motherhood are considered to be
conditions for women personal fulfillment as subjects in a symbolic universe. Paim (2001)
The sexual reproduction capabilities in women who suffer from a renal disease are diminished.
Has Pessegueiro, P. et ali point out the anovulatory cycle are the rule in uremic women. Although rare, pregnancy is
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possible during Dialysis treatments. In these cases pregnancy diagnosis is very difficult due to the fact that usually
beta-hCG hormone is found in very high levels, whereat this diagnosis can only be achieved with a gynecological
ultrasound. Although normally half of the cases are spontaneous abortions, mostly during the second trimester,
with a better lifestyle and a good dialyses treatment it is possible to reach an acceptable percentage of success.
Keywords: woman, fertile age, hemodialysis
INTRODUÇÃO
A utilização cultural da palavra mulher está interligada
à pessoa do sexo feminino já tendo atingido a puber-
dade ou a idade adulta. Assim, no padrão sociocultural,
a menina torna-se mulher, aquando da sua primeira
menstruação. A Mulher no seu desenvolvimento físico
e psíquico alcança maturação para a maternidade,
sendo esta desejada e vivenciada como uma ocasião
especial na sua vida.
Segundo O’Reilly (2008), a menarca (primeiro período
menstrual) ocorre por volta dos 13 anos e a menopausa
(último período menstrual) ocorre por volta dos 51
anos, no entanto é comum haver uma variação de 2/3
anos mais cedo ou mais tarde.
O período de idade fértil numa mulher é considerado
desde a menarca até á menopausa, havendo o mo-
mento mais propício para a maternidade, o segundo
terço desse período.
De acordo com Organização Mundial de Saúde (2013),
“a saúde sexual é um estado de bem-estar físico,
mental e social em relação à sexualidade. Ela exige
uma abordagem positiva e respeitosa à sexualidade
e relações sexuais, bem como a possibilidade de ter
experiências sexuais prazerosas e seguras, livres de
coerção, discriminação e violência.”
A sexualidade e suas alterações são comumente ba-
nalizadas pela mulher por preconceito e estigmas da
sociedade e cultura transmitida, não fazendo parte dos
cuidados e ensinos realizados à mulher de idade fértil
com doença renal e/ou em hemodiálise.
OBJETIVOS
Intervir junto das mulheres de idade fértil em programa
de hemodiálise na clínica Eurodial — Leiria, de modo
a diagnosticar os problemas e necessidades das mes-
mas, realizar uma vigilância da saúde da mulher com
ensinos individualizados e orientação para a consulta
de planeamento familiar.
METODOLOGIA
Revisão sistemática da literatura para fundamentação
da problemática levantada e observada nas mulheres
de idade fértil em programa de hemodiálise.
A pesquisa científica realizada foi restringida ao período
de 2000/2013.
RESULTADOS
A mulher de idade fértil está sujeita a uma regulação
hormonal fundamental para a sua maturidade e de-
senvolvimento da sexualidade, assim verifica-se uma
maior segregação de GnRH, LH e FSH. [1]
A mulher de idade fértil em hemodiálise está sujeita
a alterações hormonais que condicionam todas as
fases da resposta sexual, nomeadamente o desejo, a
excitação, o orgasmo e a resolução. [2]
As alterações físicas, como a presença de cicatrizes
resultantes do acesso vascular, e psicológicas, como
a pessoa se sente e constrói as suas relações, podem
afetar a sexualidade manifestando-se por diminuição
do interesse e desempenho sexual.
Segundo Pessegueiro, P. et al (2005), os ciclos ano-
vulatórios são regra em mulheres urémicas. Embora
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NC
IAE
TÉCN
ICA
rara, a gravidez é possível em mulheres em terapêutica
substitutiva da função renal. Nestes casos, o diagnóstico
de gravidez é dificultado pelo facto de se registarem
habitualmente valores elevados da hormona beta-
hCG, pelo que é apenas confirmado por ecografia
ginecológica. [3]
Segundo LIM et al citado por Pessegueiro, P. et al,
(2005), a disfunção sexual, nomeadamente, a inferti-
lidade e a desregulação do ciclo menstrual, ocorrem
frequentemente em mulheres com insuficiência renal
crónica terminal. Estas, ainda segundo Pessegueiro, P.
et al, (2005) mesmo sem ciclos menstruais regulares,
deverão ser encorajadas a utilizar métodos anticon-
cecionais, sobretudo os de barreira. [3]
A resposta sexual da mulher com doença renal pode ser
comprometida pela medicação utilizada nestes casos,
assim como a anemia, a fadiga, a depressão que podem
contribuir para uma falta de libido. [4] (ver tabela 1)
CONCLUSÃO
Concluímos que, a função sexual das mulheres de idade fértil em hemodiálise é um elemento determinante na qua-
lidade de vida das mesmas.
A capacidade de reprodução numa mulher com insuficiência renal é diminuída e embora rara, a gravidez é possível.
Umadequadoacompanhamentoeapoiopodeproporcionaraestasmulheresaesperançadamaternidadealgu-
res abandonada e um melhor relacionamento consigo mesma e com o seu companheiro. Contribuindo também
para uma saúde sexual da mulher em estado de bem-estar físico, mental e social por diagnóstico precoce.
MEDICAÇÃO COM REPERCURSSÕES NEGATIVAS SOBRE A
SEXUALIDADE
Medicação Fase da resposta sexual com possível
Anti
depressivos
- Tricíclicos
- Inibidores da recaptação
da serotonina
- Inibidores da mono-aminocidade
- Carbonato de lítio
Desejo, excitação e orgasmo
Anti
hipertensivos
- De ação central
- Alfa e beta bloqueadores
Desejo
Desejo e Orgasmo
Diuréticos - Espironalactona
- Tiazídicos
Desejo e excitação
Excitação
Hormonal - Corticosteroides
- Drogas que promovem
hiperprolactinémia
Desejo, excitação e orgasmo
Inibem o desejo
Tabela 1. Medicação com repercussões negativas sobre a sexualidade. [2]
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NEPHRO’S
[1]HLADUNEWICH,Michelle;etal. (2011)Pregnancy in End Stage Renal Disease. Seminars in Dialysis; vol. 24: pág.
634 a 639
[2]MARQUES, FlorenceZanchettaC. (2006).Qualidade de vida e sexualidade de mulheres em diálise. Dissertação
de Mestrado. Acedido a 1470272013 em URL: http://tede.pucrs.br/tde_arquivos/17/TDE-2006-12-20T074703Z-209/
Publico/346158.pdf
[3]O’REILLY, B.; BOTTOMLEY, C.; RYMER, J. (2008). Livro de Bolso de Ginecologia e Obstetrícia. Lusodidacta: 1ª edição.
Loures
[4]PAIM,H. (1998).Corpoe reprodução.Acedidoa28.01.2013emURL:http://books.scielo.org/id/yw42p/pdf/
duarte-9788575412572-02.pdf
[5]PESSEGUEIRO,P.etal,(2005).Gravidez em Dialise. Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão; vol. 19 (4):
pág. 217 a 224
[6] SCORSAFAVA, A. ().MÃE e SER MULHER no contexto social e familiar.Acedidoa28.01.2013,emURL:http://www.
psicoexistencial.com.br/mae_ser_mulher.pdf
[7] SEELY, R.; STEFHENS, T. TATE, P. (2001). Anatomia e Fisiologia. Lusodidacta: 1ª edição. Lisboa
[8]WorldHealthOrganization(2013).Sexual health.Genebra:WHO.(2006ª,update2010).Acedidoa30.4.2013,em
URL:http://www.who.int/topics/sexual_health/en/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO
Umavezesgotadastodasaspossibilidadesdeacessosvascularesemmembrossuperiores,aconstruçãodefístula
arteriovenosa (FAV) no membro inferior (MI) constitui uma opção. As particularidades desta FAV, tornaram perti-
nente investigar os cuidados de enfermagem associados, de modo a adequa-los às exigências deste acesso.
Foram estudados os dois doentes com FAV na Femoro-Femoral em programa regular de hemodiálise (HD) no
Centro Hospitalar do Porto (CHP), no que se refere à sua facilidade de punção, fluxo de hemodiálise, presença de
edema, pressão venosa espontânea, ausência de débito e adequação de diálise segundo K.T/V e presença ou não
de complicações.
Os resultados latos e finais analisados foram os seguintes: dificuldade de punção (0,7%), fluxo médio de sangue du-
rante a hemodiálise (350ml/min), presença de edema (1,2%) pressão venosa espontânea (0%), ausência de débito
(0%) e complicações (0%).
Os cuidados de enfermagem selecionados e aplicados na nossa prática clínica mostraram-se adequados às ne-
cessidades dos doentes, não tendo ocorrido complicações durante o estudo. O quadro conceptual construído
demonstrou que existe um conjunto de cuidados de enfermagem específicos e importantes na gestão da FAV dos
membros inferiores, tendo em vista a prevenção de complicações inerentes
Palavras-chave: Fístula arteriovenosa; Membro inferior; Cuidados de Enfermagem
FAV FEMORO-FEMORAL: UM NOVO DESAFIO NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM
Autores: Ana Filipa Loureiro Marques; Dália SantosEnfermeiras no Serviço de Nefrologia do Centro Hospitalar do Porto, Hospital Geral Santo António
INTRODUÇÃO
Umaabordagemestruturadasobreotipoelocalização
dos acessos para hemodiálise (HD) a longo prazo contri-
bui para otimizar a sobrevivência do acesso e minimizar
as suas complicações. Deste modo, o acesso deve ser
colocado distalmente e nas extremidades superiores
sempre que possível. A opção para a construção da
FAV deve ser considerada em primeiro lugar, seguida
pela construção de próteses vasculares se a fístula não
for possível. Os cateteres devem ser evitados para HD
e usados apenas quando outras opções não estiverem
disponíveis. (KDOQI, 2012)
A FAV é considerada o acesso vascular de eleição para
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NEPHRO’S
HD por apresentar maior durabilidade, menos inter-
venções de manutenção e menores taxas de infeção,
hospitalizaçãoemortalidade.Umavezesgotadastodas
as possibilidades de acessos em membros superio-
res, a construção de FAV em membros inferiores (MI)
constitui uma opção, recorrendo à artéria femoral e
às veias femoral ou safena.
Os cuidados de enfermagem à pessoa com FAV não
devem centrar-se apenas na execução técnica, sendo
também importante direcionar a prática do cuidar
para a pessoa com doença renal crónica (DRC) com
FAV. Isto pode ser feito através da aquisição do conhe-
cimento; do saber específico sobre a DRC e a FAV: do
planeamento e materialização de intervenções acções
e intervenções autónomas destinadas a favorecer a
maturação e o desenvolvimento da FAV, desde a sua
construção até à sua punção (Sousa, 2012).
As particularidades da FAV do MI, tornaram pertinente
investigar os cuidados de enfermagem associados, de
modo a adequa-los às exigências deste acesso vascular.
Com este trabalho pretendemos enunciar um quadro
conceptual de cuidados de enfermagem que aponte
para o aperfeiçoamento contínuo das práticas direc-
cionadas para a pessoa com FAV no MI e pretendemos
também, apresentar a experiência de cuidados de
enfermagem inerentes à FAV do MI.
METODOLOGIA
Para a concretização deste trabalho procedeu-se a
uma investigação acção. Este tipo de investigação
caracteriza-se pela forma interativa como se desenvol-
ve, e tem como principal objetivo a produção teórica
de saberes, dando assim uma grande importância à
reformulação das práticas, embora as conclusões das
investigações sejam necessárias para questionar a ação
e lhe conferir sentido.
Assim, na fase metodológica foram seguidas as quatros
fases de Pérez Serrano (1994) apresentado por Jaume
Trilla (1998).
1. Diagnosticar ou descobrir uma preocupação te-
mática, isto é o “problema”, que definimos o cuidar
da pessoa com fístula do membro inferior;
2. Construção do plano de ação, este foi elaborado
através de uma análise sistemática do material re-
sultante de uma pesquisa eletrónica em português
e inglês nos seguintes motores de busca: PubMed;
Medline; Scielo
3. Proposta prática do plano e observação de como
funciona, que foi conseguida através da aplicação
do manual de boas práticas na gestão da FAV do
MI, e adaptação de acordo com a experiência do
serviço. Assim, foram estudados os dois doentes
com FAV na Femoro-Femoral em programa regular
de HD no CHP, no que refere à sua facilidade de
punção, fluxo de hemodiálise, presença de edema,
pressão venosa espontânea, ausência de débito e
adequação de diálise segundo K.T/V e presença ou
não de complicações.
4. Reflexão, interpretação e integração dos resultados.
Os dados dos doentes em estudo foram anotados no
protocolo de seguimento e compilados e analisados
neste trabalho, através de uma análise estatística
dos dados.
Da efetividade desta metodologia emergiu da fase 2
e fase 3, o manual de boas práticas na gestão da FAV
do MI, apresentado de seguida.
Manual de boas práticas na gestão da FAV do MI
1. Objetivos
• Descrever o procedimento acerca das boas
práticas na gestão da FAV no membro inferior.
• Enunciar umquadro conceptual de cuidados
de enfermagem que aponte para o aperfeiçoa-
mento contínuo das práticas direcionadas para
a pessoa com FAV no membro inferior.
• Uniformizar os cuidados de enfermagem na
gestão deste tipo de acesso.
• Capacitar a pessoa para o autocuidado da FAV no MI.
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2. Âmbito
Doentes em programa regular de hemodiálise com
FAV no MI.
3. Definições
• Autocuidadoé“um tipo de ação realizada pelo
próprio com as características específicas: tomar
conta do necessário para se manter, manter-se
operacional e lidar com as necessidades individuais
básicas e íntimas e as actividades de vida.” (CIPE,
2005)
• OAutocuidadoàFAVéumtipodeaçãorealizada
pelo próprio doente dirigido à manutenção do
acesso nas melhores condições possíveis, atra-
vés do desenvolvimento de comportamentos
adequados.
4. Metodologia
Investigação Ação, com recurso à pesquisa eletrónica
em português, inglês e espanhol nos seguintes motores
de busca: PubMed; Medline; Scielo; Redalyc, com os
focos de fístula arteriovenosa; femoral; cuidados de
enfermagem.
5. Procedimento
5.1. Intervenções de enfermagem específicas da FAV
do MI:
• CapacitarapessoaparaoautocuidadodaFAV;
• Geriroambientefísico,deformaaassegurara
privacidade e conforto da pessoa na exposição
do membro inferior;
• Aplicargarroteutilizandoamãodapessoa;
• Monitorizar os sinais vitais, de formana asse-
gurar a estabilidade hemodinâmica da pessoa,
evitando hipotensões e posicionamentos em
trendlemburg;
• Vigiar omembro inferior: coloração (palidez,
cianose) temperatura e alteração da integridade
da pele, sensibilidade e mobilidade do pé com-
parando com o outro membro inferior; vigiar o
pulso poplíteo e tibial.
• Vigiar/Executarahemóstasedoacesso.
5.2. Autocuidado dirigido à FAV do MI:
• ExplicarquenestetipodeFAVexisteummaior
risco de infeção associado à localização anató-
mica;
• Ensinarsobrecuidadosdehigieneeasuaim-
portância (lavar com água e sabão);
• Ensinarsobreavigilânciadoacesso (observar
se a FAV apresenta sinais inflamatórios e sentir
várias vezes por dia o frémito). Se apresentar
sinais de inflamatórios ou alteração do frémito
contactar a unidade de dialise.
• Ensinarapessoasobreaimportânciadaobser-
vação diária dos pés;
• Instruirapessoaaobservaropé:coloraçãoe
descamação da pele do pé, existência de feridas,
palidez e cianose, dor e alteração da temperatura
comparando com o outro membro inferior;
• Informarapessoasobreprecauçõesdesegurança
com a FAV relativamente ao conduzir, ao desporto,
ao tipo de vestuário (roupa apertada, meias de
liga) e suporte de pesos no colo quando sentado
(exemplo computador portátil, crianças);
• Ensinarapessoasobreoscuidadosatercoma
pele da FAV: não retirar pêlos (depilação); crostas;
não coçar; aplicar creme hidratante regularmente
exceto nos dias de tratamento;
• Usarmeiaelásticaparapreveniroedemaperifé-
rico do membro, exceto nos dias de tratamento;
• ExplicarquenestetipodeFAVporutilizaruma
artéria de alto fluxo a compressão dos locais
de punção após o tratamento deve ser maior e
deverá ser efetuada pelo menos durante a 10-15
minutos.
Apresentação e discussão de Resultados
Os dados do estudo recolhidos do processo clínicos
dos doentes, foram alvo de tratamento estatístico,
dos quais originaram os seguintes resultados: O,7%
dificuldade na punção, sendo que foi definida como
dificuldade de punção a cateterização da fístula não
eficaz na sua primeira tentativa. (Gráfico 1)
NEPHRO’S | Volume XVI | Nº 2 | 13
NEPHRO’S
No que diz respeito à presença de edema, este ocorreu
em 1,2%, sendo atribuído ao período pós cirúrgico não
imediato. Para o valor reduzido apresentado, considera-
se extremamente importante as atitudes preventivas
como o uso de meias elásticas, o posicionamento do
membro e as precauções de segurança associadas à
prática de exercício físico. (Gráfico 2)
Em relação ao débito sanguíneo médio inferior a 350ml/
min foi de 2,8% devendo-se à aplicação do protocolo
de primeiras punções da unidade, que pressupõe um
débito entre os 200 e os 250ml/min. O débito médio
superior a 350ml/min, exprime o bom desenvolvimento
da rede vascular destas FAV´s, o que está associado ao
calibre maIor da fístula, assim como a um autocuidado
adequado ao bom desempenho da FAV. (Gráfico 3)
Neste estudo não se verificaram ocorrências de pressão venosa espontânea, ou seja, ausência de pressão venosa
espontânea, pressão menor que 100 mmHg na extremidade de devolução com fluxo sanguíneo de 200ml/h.
Não se apuraram ausências de débito ou complicações com o acesso como estenoses, síndrome de roubo ou
infeção.
Neste tipo de FAV existe um maior risco de infeção associado à técnica cirúrgica, anatomofisiologia dos vasos e
à localização anatómica. Dado este maior risco de infeção, tornou-se importante adotar medidas preventivas de
infeção associadas ao autocuidado da FAV.
CONCLUSÃO
Os cuidados de enfermagem selecionados e aplicados na nossa prática clínica mostraram-se adequados às ne-
cessidades dos doentes, não tendo ocorrido complicações durante o estudo.
O quadro conceptual construído demonstrou que existe um conjunto de cuidados de enfermagem específicos
e importantes na gestão da FAV dos membros inferiores, tendo em vista a prevenção de complicações inerentes
e frequentes neste tipo de acesso.
A nossa experiência com a FAV no MI está ainda numa fase inicial, o período de follow-up é ainda reduzido e a
casuística pouco significativa, pelo que manteremos o curso deste estudo e esperamos ter resultados tardios
igualmente satisfatórios, porque apesar dos progressos científicos, o acesso vascular continua a ser “o calcanhar
de Aquiles” do tratamento dialítico
Dificuldade na Punção
Gráfico n.º 1 Gráfico n.º 2
Presença de Edema
Gráfico n.º 3
Débito Sanguíneo
14 | Volume XVI | Nº 2 | NEPHRO’S
NEPHRO’S
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BIBLIOGRAFIA
NEPHRO’S | Volume XVI | Nº 2 | 15
NEPHRO’S
RESUMOIntrodução: A efetividade do tratamento hemodialítico depende, em larga medida, da adequação do fluxo de sangue através do dialisador. Neste sentido, importa que seja assegurado um acesso vascular que permita a ob-tenção de fluxos de sangue suficientes, que seja fácil de usar, com um potencial mínimo de complicações e com comprovada resistência à infeção.A fístula arteriovenosa é, hoje, considerada o gold standard. Contudo, mercê de diferentes condicionalismos, ob-serva-se uma incidência e prevalência crescentes de cateteres venosos centrais (CVC).Sabendo-se que a trombose associada à utilização destes dispositivos é um evento frequente, a sua profilaxia as-sume importância fundamental. Neste contexto, a heparina sódica tem sido a solução classicamente mais adotada na profilaxia anti trombótica. Contudo, mercê de algumas limitações associadas à sua utilização continuada, a opção por soluções com alta concentração de citrato, tem vindo a merecer a crescente aceitação. Pretendeu-se comparar a efetividade da utilização do citrato a 30%, como alternativa à heparina sódica na antico-agulação intra-luminal dos CVC de longa duração (LD) para hemodiálise (HD).Material e métodos: Estudo com base na metodologia da investigação acão, de natureza descritiva, no domínio da investigação quantitativa, exploratório, longitudinal do tipo descritivo-correlacional. Foram constituídos dois grupos de 33 doentes portadores do CVC de longa duração como acesso vascular para HD: num foi utilizada hepa-rina,naconcentraçãode5000UI,parapreenchimentodosramosdoCVCenooutrofoiaplicadoocitratodesódioa 30%. Os grupos foram comparados para os indicadores débito médio do CVC, sessões de HD com Qb <250ml/min, sessões de HD com Kt/V<1,2, sessões de HD com tempo efetivo<95%, sessões de HD com pressões arteriais<-220mmHg, sessões c/ ramos CVC invertidos, sessões pressões venosas>220mmHg, sessões de HD com ramos do CVC invertidos, episódios aplicação de rTPA.Resultados: Os CVC em que foi utilizado o citrato como solução lock, apresentaram maior número de sessões de HD com ramos dos CVC invertidos (p=0,01); A média das sessões de HD com valor de Kt/V inferior a 1,2 foi, tenden-cialmente, superior nos CVC em que se utilizou o citrato como solução lock (p=0,06); O número médio de sessões de HD com pressões arteriais <220mmHg foi, tendencialmente, verificado nos CVC em que foi utilizado o citrato como solução lock (p=0,06); Conclusões: A utilização de citrato de 30% não está associada a uma melhor performance dos CVC de LD para HD: condiciona um maior número de episódios de inversão dos ramos do CVC para viabilização dos tratamentos; parece estar associada a um valor médio de Kt/V inferior; sugere uma tendência para estar relacionada com valores de pressões arteriais mais baixos; tende a condicionar maior utilização de trombólise intra-luminal.
Palavras-chave: hemodialise, cateteres longa duração, heparina, citrato.
CITRATO DE SÓDIO VS HEPARINA SÓDICA COMO SOLUÇÃO LOCK DOS CVC EM DOENTES EM HEMODIÁLISE: ESTUDO COMPARATIVO
Autores: Jorge Melo; Pedro Gonçalves; Rui Sousa; Marta Coimbra; Andreia Marques; Susana Marinho; Marta Marques Nephrocare - Viseu
16 | Volume XVI | Nº 2 | NEPHRO’S
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ABSTRACT Introduction: The effectiveness of hemodialysis treatment depends largely on the adequacy of blood flow through the dialyzer. It is therefore important to be assured of a vascular access that allows obtaining sufficient blood flow, easy to use, with a minimal potential for complications and with proven resistance to infection.The arteriovenous fistula is now considered the gold standard. However, thanks to various constrains, there is a growing incidence and prevalence of central venous catheters (CVC).Given that thrombosis associated with the use of these devices is frequent, their prophylaxis is of fundamental importance. In this context, the sodic heparin has classically been the most widely adopted solution in thrombosis prophylaxis. However, thanks to some limitations associated with its continued use, the choice of solutions with high concentrations of citrate has been increasingly accepted.The intention was to compare the effectiveness of the use of 30% citrate as an alternative to sodic heparin in the intra-luminal anticoagulation of long-term CVC (LD) for hemodialysis (HD).Material and methods: Study based on the methodology of research action, descriptive in nature, in the field of quantitative research, exploratory, longitudinal descriptive-correlational. Two groups of 33 patients suffering from long-term CVC as HD vascular access were constituted: in one group was used heparin at a concentration of5000IU,tofulfillingthebranchesofCVC.Intheothergroupwasappliedsodiumcitrateat30%.Thegroupswere compared for indicators mean output of CVC, HD sessions with Qb <250ml/min, HD sessions with Kt / V <1.2, HD sessions with effective time <95%, HD sessions with blood pressures <-220mmHg, sessions with inverted CVC branches, sessions with venous pressure> 220mmHg, HD sessions with of inverted CVC branches, episodes of rTPA application.Results: The CVC where the citrate was used as lock solution showed a higher number of HD sessions with the branches of inverted CVC (p = 0.01). The average of the HD sessions with a value of Kt / V less than 1, 2 tended to be higher in CVC where the citrate lock solution (p = 0.06) was used; the average number of HD sessions with blood pressure <220mmHg was tendentiously observed in the CVC where the citrate was used as a lock solution (p = 0.06);Conclusions: The use of citrate of 30% is not associated with a better performance of the CVC of LD for HD: it constrains a greater number of episodes of inversion of the CVC branches to make the treatment possible; it see-ms to be related to a lower average value of Kt / V, it suggests a tendency to be related to lower values of blood pressure, it tends to constrain a larger use of intraluminal thrombolysis.
INTRODUÇÃO
A efetividade do tratamento hemodialítico depende, em larga medida, da adequação do fluxo de sangue através do dialisador. Neste sentido, importa que seja assegurado um acesso vascular que permita a obtenção de fluxos de sangue suficientes, que seja fácil de usar, com um potencial mínimo de complicações e com comprovada resistência à infeção. A fístula arteriovenosa é, hoje, considerada o gold standard sendo recomendada pelos vários guidelines1,2,3. Contudo, e não obstante as iniciativas implemen-tadas nos últimos anos em diferentes países tendo em vista a redução do número de CVC, observa-se uma incidência e prevalência crescentes de doentes portadores destes dispositivos nos EUA, Canadá eEuropa4,5,6,7. Este padrão também se tem verificado em Portugal, onde se registou, entre 2007 e 2010, um aumento da incidência de CVC de 15% para 19,2%, tendência que sofreu uma infleção em 2011, ano que
se verificou uma ligeira redução para 18,5% 8, refle-tindo o esforço que vem sendo levado a cabo neste âmbito, particularmente nos últimos anos. Também na Nephrocare-Viseu, e não obstante a existência de um programa de monitorização e gestão do acesso vascular eficaz e efetivo, constatamos um padrão onde persiste uma prevalência de CVC ligeiramente acima da média nacional. Sabendo-se da elevada incidência de trombose e infeção associadas à utilização dos CVC, comprovada em diferentes estudos que apontam para um risco relativo de morte bastante aumentado nos doentes portadores destes dispositivos quando comparados com os doentes com FAV6,7,9, a sua profilaxia assume, neste contexto, importância fundamental. No que diz respeito à disfunção do CVC, este é um evento relativamente comum, cuja principal causa é a formação de trombo intraluminal, que condiciona
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uma redução do fluxo de sangue efetivo com a con-sequente redução da dose de diálise9,10,11. Umavezcompletamente formadootrombo,aobs-trução associada requer intervenções, muitas vezes recorrentes, com agentes antitrombóticos e, quando o retorno destas intervenções não se traduz na efe-tividade desejada, torna-se necessária a substituição do cateter. Neste contexto, a heparina sódica tem sido a solução classicamente mais adotada na profilaxia anti trom-bótica12,13,14. Exercendo a sua atividade coagulante, principalmente através da ativação da antitrombina III, têm-se mostrado eficaz, mesmo para concentrações baixas(1UI/ml).Noentanto,asuautilizaçãocomportaalgumas limitações, nomeadamente a ineficácia para a remoção de trombos ou bainhas de fibrina, efeito para o qual têm sido utilizados enzimas como a uroquinase ou o ativador do plaminogénio tecidual recombinante (rTPA). É também reconhecida à heparina, a ausência de propriedades antibacterianas, podendo mesmo promover a formação de biofilme, uma camada pro-teica formada sobre a superfície dos CVC que tem o contraproducente efeito de proteger as bactérias da ação dos antibióticos. Em adição, estão também descri-tas algumas complicações associadas à sua utilização continuada, particularmente a trombocitopenia, ou síndrome de “white-clot” 15.Neste contexto, a utilização de soluções com alta con-centração de citrato, tem vindo a merecer um interesse renovado como solução “lock” do CVC, mercê das suas propriedades antitrombóticas e antimicrobianas, que decorrem da ação quelante do cálcio e do magnésio, e conduzem á interrupção da via normal da coagulação e da formação do biofilme13,14,15,16. Com efeito, as vantagens elencadas para o uso do citrato, demonstradas em diferentes estudos9,15,16,17,18, prendem-se, sobretudo, com o seu feito bactericida, obtido a partir de concentrações mais elevadas (supe-riores a 23%), e que se traduz na redução da bacteriemia diretamente associada ao CVC. Contudo, quando comparada a ação da heparina e do citrato, relativamente à prevenção da trombose e á manutenção do fluxo do CVC, os resultados não de-monstram a existência de diferenças estatisticamente significativas 9,12,13,16,19.A perceção desta realidade, na prática clínica, na clíni-ca de hemodiálise Nephrocare-Viseu sugere contudo,
a existência de diferença nos fluxos de sangue e na eficácia dialítica apresentados pelos CVC, cuja solução lock é a heparina sódica ou o citrato de sódio a 30%. Neste enquadramento, considerámos pertinente a utilização de metodologia científica para comparar a efetividade da utilização do citrato a 30%, como alterna-tiva à heparina sódica na anticoagulação intra-luminal dos CVC de longa duração (LD) para hemodiálise (HD). A realização deste estudo teve como finalidade a obtenção de informação que contribuisse para o de-senvolvimento de uma prestação de cuidados de en-fermagem mais efetiva, aos doentes renais crónicos em programa regular de hemodiálise, portadores de cateter venoso central de longa duração. Simultaneamente, pretendeu-se reforçar a importância da metodologia da investigação ação, como instrumento para ajuda à reflexão e tomada de decisão, em enfermagem.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi desenvolvido um estudo com base na metodologia da investigação acão, descritivo, no domínio da inves-tigação quantitativa, exploratório, longitudinal do tipo descritivo-correlacional com o objetivo de comparar a performance dos CVC de LD associada à utilização de heparina vs citrato a 30% como soluções lock.A investigação foi levada a cabo na clínica Nephrocare-Viseu, no período compreendido entre 01 de Janeiro de 2011 e 30 de Junho de 2012. Foram constituídos dois grupos de 33 doentes portadores do CVC de longa duração como acesso vascular para HD: num foi utilizada heparina, na concentração de 5000UI,para preenchimento dos ramos do CVC no intervalo de tempo que medeia entre as sessões de hemodiálise e no outro foi utilizado, para o mesmo efeito, o citrato de sódio a 30%. Os CVC foram manipulados, em todas as sessões, de acordo com protocolo da Nephrocare que contempla a utilização de técnica asséptica, lavagens inicial e final dos ramos do CVC mediante “flush” com solução salina a 0,9%, com utilização de dupla seringa e preenchi-mento do lúmen dos ramos do CVC, com heparina ou citrato, na quantidade exata preconizada pelo fabricante, utilizando para o efeito, também, seringas individualizadas. OscateteresutilizadosforamdamarcaMedcomp®,comareferênciaSplit-Stream®decumprimentos24,28e40cm.
18 | Volume XVI | Nº 2 | NEPHRO’S
NEPHRO’S
A variável “ patência do CVC de LD nos doentes renais crónicos em programa regular de hemodiálise” foi
operacionalizada com recurso à avaliação dos seguintes
indicadores:
• Débitodesangueobtidoduranteassessõesde
hemodiálise;
• Valoresdaspressõesvenosasearteriaisregistadas
nas sessões de hemodiálise;
• ValoresdoKT/Vemcadasessãodehemodiálise;
• Númerodesessõesdehemodiáliseefetuadas
com os ramos do CVC invertidos;
• Tempoefetivodetratamentorealizado;
• EpisódiosaplicaçãoderTPA nos ramos do CVC.
O tratamento estatístico foi efetuado com recurso ao
programaSPSS,versão15.0paraoWindows.
Foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov, com a
correção de Lilliefors para analisar a normalidade da
distribuição das variáveis; o teste t de Student para
amostras independentes na relação entre variáveis
contínuas e dicotómicas; o teste do Qui-Quadrado
para a relação entre variáveis nominais18.
Na aplicação destes testes utilizámos os seguintes valores de significância:
• p<0,05*-diferençaestatísticasignificativa• p<0,01**-diferençaestatísticabastantesigni-
ficativa• p< 0,001*** - diferença estatística altamente
significativa• p>0,05n.s.-nãosignificativa.
RESULTADOS
A amostra incluída no estudo foi composta por um total de 66 doentes, com distribuição similar ao nível do género e uma idade média de 75,76 anos, em programa regular de hemodiálise há cerca de 2 anos. A maioria dos doentes tinha o CVC implantado numa veia jugular interna (74,2%), seguindo-se a veia femoral com 19,7% e, por fim, a veia subclávia com 6,1%.Os dados demográficos e clínicos relativos aos dois grupos em estudo são apresentados na tabela 1. A inexistência de diferença estatisticamente significativa permite concluir da homogeneidade de ambos, para as diferentes variáveis estudadas.
TABLELA1:DADOSDEMOGRÁFICOSECLÍNICOSCaracterísticas Grupo Heparina (n=33) Grupo Citrato (n=33) p
Média Idade (anos) 75,55 +-9,53 75,97 +-10,02 0,86 n.s.
Sexo-n(%)Masculino 19 (54,3) 16 (45,7) 0,45 n.s.
Feminino 14 (45,2) 17 (54,8)
Diabetes méllitus 14 (42,4) 9 (27,3) 0,19 n.s.
Tempo médio e HD (meses) 42,03 +-34,06 55,73 +-57,1 0,24 n.s.
Tempo médio CVC (dias) 286,67 +-291,93 321,09 +-295,15 0,63 n.s.
n(%)
1 AV2 AV3 AV4 AV
>= 5AV
21 (9,1)5 (15,2)9 (27,3)7 (21,2)9 (27,3)
15 (36,4)5 (15,2)4 (12,1)6 (18,2)6 (18,2)
0,09 n.s.
n(%)
CVCFAV
Prot. Vasc.1º acesso
3 (63,6)8 (24,2)1 (3,0)3 (9,1)
12 (45,5)5 (15,2)1 (3,0)
12 (36,4)
0,06 n.s.
n(%)V. Jugular
V.Subclávia V. Femoral
25 (75,8)7 (21,2)1 (3,0)
24 (72,7)6 (18,2)3 (9,1)
0,57 n.s.
Média CVC anteriores 2.09+-1.86 1,16+-1,93 0,54 n.s.
Média sessões realizadas 97,55 (4-291) 114,06 (11-246) 0,40 n.s.
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Os eventos observados em cada grupo, durante o perí-
odo em que foi levado a cabo o estudo, são expostos na
tabela 2. O débito médio apresentado pelos CVC, não
apresentou diferenças estatisticamente significativas
nos dois grupos (p=0,79), o mesmo se verificando em
relação ao número médio de sessões de HD em que a
velocidade de bomba (Qb) obtida foi inferior a 250ml/
min, por deficiente fluxo do CVC (p=0,18). De igual
modo, no que diz respeito ao número de sessões de
HD em que o tempo efetivo de tratamento foi inferior
a 95%, por falta de débito do CVC, não foi identificada
diferença com significância estatística (p=0,21), o que
também se constatou, em relação ao número médio
de sessões de HD em que as pressões venosas regis-
tadas foram superiores a 220mmHg, por obstrução
do ramo venoso do CVC (p=0,89). Quanto à média
de sessões de HD em que foi necessário inverter ao
ramos do CVC para viabilizar o tratamento, por falta de
efetividade do fluxo apresentado pelo ramo arterial,
foi constatada diferença estatisticamente significativa
entre os dois grupos em estudo, com o maior número
de episódios a ser observado nos doentes em que foi
utilizado citrato como solução lock (p=0,01). No que
diz respeito aos tratamentos de HD em que o valor
de Kt/V obtido foi inferior a 1,2, bem como aqueles
em que foram registados valores de pressões arteriais
inferiores a -220mmHg, por deficiente débito do CVC,
observou-se que, para ambos os eventos, o número
médio de sessões em que os mesmos se registaram
foi maior no grupo dos doentes em que foi utilizado
citrato como solução lock, sendo que, essa diferença
apresenta uma significância estatística apenas marginal
(p=0,06). Esta tendência também foi constatada para
o número médio de episódios de trombólise intralu-
minal, com rTPA, ainda que com menos significância
estatística (p=0,09).
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos neste estudo mostram que a utilização de citrato a 30%, como solução lock para os CVC de LD utilizados em doentes em HD, quando comparado com a utilização de heparina sódica na concentraçãode5000UI/ml,nãoestáassociadaaumamaior patência destes dispositivos. Estes resultados são corroborados, na generalidade, pelos estudos prévios que abordam a prevenção da trombose na manutenção do fluxo dos CVC 9,12,13,16,19.Importa realçar que a metodologia utilizada neste estudo para avaliação da patência dos CVC, com recurso
à monitorização, avaliação e comparação dos diferentes indicadores que, reconhecidamente, operacionalizam esta variável, não encontra paralelo na literatura. Com efeito, as pesquisas prévias, apenas elegem, com este objetivo, a ocorrência de episódios de trombólise in-traluminal, quer sejam com uroquinase13,14,15 ou com ativador do plaminogénio tecidual recombinante (rTPA)9,12,20. A exceção identificada encontra-se num estudo de Stás e coladoradores19, em que é utilizada uma grelha para avaliação do fluxo do CVC, antes de iniciar sessão de HD, com atribuição de uma pontuação
TABELA2:OCORRÊNCIADEEVENTOSEventos Grupo Heparina (n=33) Grupo Citrato (n=33) p
Débito médio 298,24+-36,41 296,27+-22,73 0,79 n.s.
Nº médio sessões c/ Qb <250ml/min 37,88 +-42,14 52,06 +-43,71 0,18 n.s.
Nº médio sessões c/ Kt/V<1,2 16,00 +-20,58 30,82 +-39,39 0,06 n.s.
Nº médio sessões tempo efetivo<95% 16,39 +-18,74 23,91 +-28,83 0,21 n.s.
Nº médio sessões PArt<-220mmHg 24,33 +-29,10 39,94 +-36,60 0,06 n.s.
Nº médio sessões PVen>220mmHg 6,59 +-18,01 6,00 +-19,02 0,89 n.s.
Nº médio sessões c/ ramos CVC invertidos 2,27 +-3,97 6,79 +-8,94 0,01**
Nº médio de episódios aplicação de rTPA 0,36 +-0,74 0,85 +-1,48 0,09 n.s.
n.s. p > 0,05; * p<0.05
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face ao grau de obstrução identificado.A constatação deste facto, limita, de alguma forma, a reflexão em torno dos resultados obtidos, à luz do conhecimento disponível, nomeadamente os que se prendem com indicadores como o débito médio dos CVC, a velocidade de bomba máxima obtida, o tempo efetivo de tratamento e a eficácia dialítica, o valor das pressões as pressões arteriais e venosas e os episódios em que foi necessário inverter ao ramos do CVC para viabilizar o tratamento. Somos, no entanto, de opinião que, a avaliação, em simultâneo, destes parâmetros, permitem uma análise mais fina e consistente do grau de patência dos CVC, com tradução na eficácia do tratamento hemodialítico21. Colocando o enfoque na avaliação parcelar dos re-sultados obtidos para cada um dos indicadores, em termos genéricos, não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos estudados. No entanto, alguns indicadores estudados não parecem seguir esta tendência, como sendo a média de sessões de HD em que foi necessário inverter ao ramos do CVC para viabilizar o tratamento, por falta de efetividade do fluxo apresentado pelo ramo arterial (p=0,01), ou os tratamentos de HD em que o valor de Kt/V obtido foi inferior a 1,2, bem como aqueles em que foram registados valores de pressões arteriais inferiores a -220mmHg, por deficiente débito do CVC. Ainda que, nestes últimos, a diferença tenha apenas uma expressão marginal (p=0,06), e não obstante a impossibilidade de comparação com outros estudos, estes resultados apontam no sentido de alguma vantagem da heparina na prevenção da trombose intraluminal dos CVC. Também no que diz respeito à necessidade de trombólise intraluminal com rTPA, foi no grupo dos doentes em que utilizou o citrato como solução lock que ocorreu maior número de episódios (p=0,09). Este resultado, ainda que não traduza robustez estatística significativa, expressa uma tendência que não encontra eco homo-géneo na literatura, sendo corroborado por alguns estudos14,22, mas não estando em linha com outros que não identificam diferenças desta magnitude9,12,13,19 ou mesmo em que os resultados são opostos15,20. Esta he-terogeneidade de resultados poderá estar associada às diferentes metodologias utilizadas, no entanto, importa realçar que o único estudo randomizado e controlado disponível, ainda que de pequena dimensão, apresenta
um resultado em linha com o da presente pesquisa 14.Importa referir que o presente estudo, mais centrado na atividade antitrombótica dos soluções lock, não aborda, no entanto, a importante dimensão associada à prevenção de infeções com origem intraluminal que decorre da sua atividade antimicrobiana, onde a litera-tura aponta para a vantagem na utilização do citrato, sobretudo em concentrações mais elevadas 9,15,16,17,18. Contudo, importa também referir que a utilização do citrato mais concentrado, também comporta riscos significativos 23,24, pelo que a sua utilização deve ser acompanhada de rigor acrescido.
CONCLUSÕES
Face aos resultados obtidos com a realização deste estudo concluímos que a utilização de citrato a 30% como solução lock , não está associada a uma melhor patência dos CVC de LD para HD pois:• Condiciona ummaior número de episódios de
inversão dos ramos do CVC para viabilização dos tratamentos;
• PareceestarassociadaaumvalormédiodeKt/Vinferior;
• Sugereumatendênciaparaestarrelacionadacomvalores de pressões arteriais mais baixos;
• Tendeacondicionarmaiorutilizaçãodetrombóliseintraluminal.
O estudo comporta, no entanto, algumas limitações, nomeadamente:• Otamanhoreduzidodaamostraeasuaconveni-
ência;• Asuaabrangêncialimitada,circunscrevendo-seao
universo da clínica onde foi realizado;• Aausênciadadimensãoassociadaaoefeitoanti-
bacteriano das soluções em estudo;No entanto tratando-se de um estudo de investigação ação, a sua finalidade será apenas “…criar soluções para problemas da prática, relevantes para um determinado hospital ou contexto (…) não visa generalizar soluções para problemas que se aplicam a um número semelhante em que a investigação ocorre”25. Face às conclusões apontam-se algumas implicações/sugestões.• Adecisãoparaautilizaçãodassoluções lock nos
CVC de LD em doentes em HD deve ser ajustada a cada contexto;
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• Natomadadestadecisão,aopiniãodosenfermeiros,num contexto de multidisciplinaridade, deverá ter um papel determinante;
• Aefetividadedautilizaçãodastecnologiasdasaúdedeve ser validada e refletida para cada contexto, não existindo um standard generalizável;
• Ametodologiadainvestigaçãoacãoapresenta-secomo uma boa metodologia para refletir, de forma sustentada, sobre a prática, ficando reforçado o seu enorme potencial, como ferramenta para ajudar a sustentar a tomada de decisão em enfermagem.
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BIBLIOGRAFIA
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QUE FUTURO PARA A CONSULTA DE ENFERMAGEM AO DOENTE RENAL CRÓNICO? - REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA.
Autores: Zélia Nascimento *; Iolanda Sousa **; Raquel Ribeiro *** Enfermeira Chefe - CHLN/HSM - Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal; ** Enfermeira - CHLN/HSM - Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal
Trabalho elaborado com base na conferência apresentada no XXVI Congresso Português de Nefrologia 30 de Março 2012 – Centro de Congressos de Vilamoura.
RESUMO
As guidelines internacionais, recomendam que os doentes renais crónicos (DRC) nos estádios 3 e 4, sejam acompa-nhados e educados de forma a retardar a evolução da doença e que sejam preparados para iniciar diálise de forma adequada quando necessitarem de terapia de substituição da função renal (TSFR). Mas não referem como fazê-lo. Assim esta revisão sistemática da literatura (RSL) pretende responder à seguinte questão de investigação: Que mo-delos de prestação de cuidados aos DRC demonstraram efetividade e/ou melhoria de resultados? Concluímos, que em Portugal a prática de cuidados é ainda essencialmente baseada no modelo tradicional (consulta de nefrologia, com o nefrologista) e que para melhorar os cuidados prestados aos DRC devemos evoluir para modelos multidisci-plinares. Nesta RSL encontrámos 8 artigos que avaliaram a sua eficácia e demonstraram resultados. Destes, apenas um dos artigos não refletiu os resultados esperados com a implementação destes modelos. Os restantes foram bas-tante consistentes nos resultados encontrados, demonstrando clara evidência na sobrevida e melhoria da qualidade de vida dos doentes, preparando-os para o início da TSFR aproximando os resultados às guidelines recomendadas.
Palavras-chave: doença renal crónica, consulta enfermagem.
INTRODUÇÃO
Em todo o mundo a doença renal crónica tem vindo a
ser reconhecida como um problema de saúde pública,
principalmente porque a evolução da doença pode
levar à necessidade de TSFR. A TSFR representa elevada
morbilidade e mortalidade, fraca qualidade de vida e
custos diretos e indiretos consideráveis para a socie-
dade e grande sofrimento para os doentes e família.
(Covic & Schille, 2010). Com o aumento epidemiológico
da incidência e prevalência da doença, esta começa
aserumapreocupaçãopolitica(Zoccali,Krammer,&
Jager, 2010). Além deste aumento, é de considerar o
envelhecimento da população com DRC e o fato de
esta ser uma população com mais comorbilidades e
situações clínicas complexas (Neyhart et. al 2010 e
Randolph et al 2006). A literatura caracteriza a atual
prestação de cuidados com fraco investimento na edu-
cação do doente na fase pré-dialítica, pouco suporte
à autogestão e seguimento para retardar o início da
TSFR. Refere ainda uma inadequada preparação dos
doentes para iniciar diálise, um início da diálise sem
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acesso vascular definitivo (FAV), internamentos prolon-gados, internamentos e idas à urgência desnecessárias. A informação administrativa, clínica e laboratorial é dispersa e a comunicação com centros de diálise ineficiente (Neyhart et. al 2010 e Randolph et al 2006).As guidelines internacionais, recomendam que os doentes nos estádios 3 e 4 sejam acompanhados e educados de forma a retardar a evolução da doença e sejam preparados para iniciar diálise de forma ade-quada quando necessitarem de TSFR. Considerando que a prática atual em Portugal tem as características identificadas pelos autores acima citados, pretende-se com esta RSL identificar os modelos de prestação de cuidados que demonstram melhor efetividade e resultados em saúde.
METODOLOGIA
No âmbito dos cuidados aos DRC pretendemos com esta revisão sistemática da literatura responder à seguinte questão de investigação: Que modelos de prestação de cuidados aos DRC demonstraram melhor eficiência e/ou melhoria de resultados? Como objetivo princi-pal propusemo-nos conhecer os diferentes modelos internacionais de prestação de cuidados ao DRC em fase pré-dialítica que tenham demonstrado melhor eficiência e/ou melhoria de resultados.Para a revisão sistemática da literatura foram utilizadas as seguintes palavras-chave: efectivness nurse, nursing, results, strategies. Associaram-se os seguintes termos ou palavras-chave como descritores da pesquisa: CKD, Nurse, Nursing, results, efectivness, strategies.Foram selecionados os artigos completos, publicados
em Inglês e português, nos últimos timos 10 anos, incluindotodososestádiosdaDRC.Usámosomotorde busca EBSCOhost para aceder às bases de dados CINHAL, CHOCRANE e MEDLINE. Privilegiámos os artigos que comparassem modelos de prestação de cuidados multidisciplinares com modelos tradicionais ou que apresentassem resultados da implementação de modelos multidisciplinares com enfermeiros. Foram encontrados 30 artigos, tendo selecionado os 8 que respeitaram os critérios de inclusão.Para a literatura científica relevante para a nossa investigação, utiliza-mos: Motor de busca EBSCOhost para acesso às bases de dados: CINHAL, CHOCRANE, MEDLINE. A análise dos estudos incluídos na revisão foi realizada de acordo com as orientações do “Center for Reviews and Dissemi-
nation guidance for undertaking reviews in health care”.
RESULTADOS
Dos 8 artigos selecionados, 3 são do ano 2011, e os restantes são de 2010, 2008, 2007, 2005 e 2004. Quanto aos países de origem, 3 artigos são de autores do Cana-dá,2dosEUA,1daHolanda,1deautoresdoCanadáeItália e por fim 1 do Brasil. Em termos metodológicos 2 são estudos randomizados controlados, 4 são estudos de coorte, 1 estudo descritivo e 1 longitudinal retros-petivo. Este tema tem despertado crescente interesse na investigação, sendo os estudos mais recentes dese-nhados com uma metodologia com maior evidência científica e em países onde a prestação de cuidados de enfermagem ao doente renal é efetuada em fases mais precoces do estádio da doença. O quadro 1 caracteriza os estudos selecionados
Quadro1 – Estudos incluídos na revisão sistemática da literatura.
Titulo|Local Autor| Ano
Tipo Estudo, objetivo e População
Descrição e Modelo Cuidados
Resultados
Nurse practitioners improve quality of care in chronic kidney disease: Tow-year re-sults of a randomised study Holanda Zuiden et al. 2011
Estudo Randomizado Controlado duplamente cego. Avaliar o valor de adicionar aos cuidados ao DRC enfermeiros especialistas. 346 GC 35 2GI 6,7% estadio1 ou2 60.8% estadio 3 30,2% estadio 4 2,4% estadio 5
No grupo de intervenção junta-se à consulta do Nefrologista os cuidados de um enf especialista que intervém ativamente nos estilos de vida e implemen-tação das guidelines.
O controlo dos fatores de risco melhorou em ambos os grupos.A diferença entre os grupos não foi significa-tiva para a cessação tabágica, peso, ativida-de física, ingestão de sódio – Estilos de vida. Os doentes do GI apresentam menores valo-res de TA p= 0.004); Colesterol LDL (p=0.03)Coaching por um enfermeiro especialista beneficia os cuidados diários aos DRC.
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A Nurse-coordinated Model of Care versus Usual Care for Stage 3/4 Chronic Kidney Disease in the Community: A Randomized Controlled Trial Canadà Barret et al.2011
Estudo Randomizado Controlado : Comparação entre os cuidados tradicionais pelo médico de fa-mília e um modelo de cuidados com um enfermeiro especialista a fazer coordenação com um nefrologista 236 GC | 238 GI
GC – cuidados usuais – mé-dico de familia. GI –adicionalmente tem cuidados prestados pela enfermeira em coordenação com o nefrologista
Os doentes seguidos no estadio 3/ 4 iden-tificados pelas análises não apresentaram progressão da DRC mas tinham risco cardio-vascular.Num periodo médio de 24 meses a equipa coordenada pela enfermeira não demons-trou diferença significativa no declinio TFG ou controlo dos fatores de risco quando comparado com os cuidados usuais.
A new nursing model for the care of patients with Chronic Kidney Disease: The UNC Kidney Center Nephro-logy Nursing Initiative.EUA Neyhart et al 2010
Estudo Descritivo.Descrição do desenvolvimento e implementação de um modelo de prestação de cuidados coordena-do pela enfermagem. Todos os doentes seguidos no UNC Kidney Center .
Desenvolveram uma estru-tura com 6 enfermeiras de nefrologia, que gerem todo o percurso do doente no seu processo de doença.
Diminuição da demora média de interna-mentoNº de hospitalizações por doente por ano Rácio de cateteres por doentes em diálise Os doentes são referenciados atempada-mente para construção de acesso e avalia-ção para transplanteA comunicação entre as unidades de hemo-diálise e o hospital melhorou significativa-mente Aumento de doentes que iniciam diálise sem necessitar de internamento
Multidisciplinary CKD Care Enhances Outcomes at dialysis initiation. EUA Dixon et al 2011
Estudo Longitudinal Retrospetivo Comparação dos resultados de doentes que iniciam Dialiseseguidos no modelo multidiscipli-nar / modelo tradicional seguidos em consulta de nefrologia 2 grupos 89 doentes modelo multidisci-plinar 82 doentes modelo tradicional.
Uma enfermeira especialista coordena os cuidados aos doentes renais trabalhando em conjunto com o nefrolo-gista e envolve a educação e suporte ao auto-cuidado e interface com os cuidados de saúde primários
Diminuição do nº de internamentos (p 0.001) Aumento de doentes com FAV cons-truída (p 0.001) Aumento de doentes que iniciam HD por FAV(p 0.001) Controlo anemia – valor hemoglobina pré diálise (p 0.003) 42% de menor probabilidade de interna-mento para iniciar Diálise. Diminuição da demora média de interna-mento
The short-and long-term impact of multidisciplinary clinics in addition to stan-dard nephrology care on patient outcomes Canada e Itália 2005Curtis et. al.
2 estudos de coorte Itália e Ca-nada.GI – 132 GC - 156Comparam os dois grupos nos dois países.Doentes que iniciaram diálise e que foram seguidos por mais de 3 meses, por 6 e 12 meses após inicio diálise
Programa de educação Canada 5 visitas 1H30 e 1 CSFR – 2hItália – 3 sessões 2h CSFR em 3 meses+ 6h educação - Protocolo seguimento analítico
Os doentes seguidos pela equipa multidisci-plinar apresentam níveis mais altos de he-moglobina (p<0,0001), albumina(p=0.002) níveis cálcio (p<0.0001)Sobrevida no grupo seguido pela equipa multidisciplinar significativamente melhor (kaplan-meier p= 0,01)Analise de Cox, Standard vs Equipa multidis-ciplinar demonstrou significância estatística para preditor de morte (Rácio 2,17 IC 95%) com ajustamento pelo risco.
Efeitos da Abordagem inter-disciplinar na Qualidade de vida e em parâmetros labo-ratoriais de pacientes com doença renal cronica.Brasil 2008Santos et al
Estudo de coorte 2 grupos de DRC em fase pré-dialitica.GI - 50 doentes do grupo PRE-VENRIM do núcleo Interdisciplinar de Estudos e pesquisas em Nefro-logia da Universidade Federal de Juiz de Fora GC –25 doentes de amb. do ser-viço de Controle de HTA, DM e Obesidade
Equipa composta por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais fixos na equipa, consultas no mesmo dia. Discussão pré-via dos casos definindo as intervenções.Discussão se-manal dos casos e apresen-tação de artigos científicos. Coordenação rotativa.
Após 1 ano,GI - apresentaram melhoria da qualidade de vida nos parâmetros capacidade funcional, aspetos físicos, estado geral de saúde, vita-lidade e aspetos emocionais; no GC - parâ-metros sem alteração. GI – Redução significativa do peso, aumento da hemoglobina e cálcio plasmáticos.
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Dos estudos apresentados 7 comparam a eficiência da
prestação de cuidados ao DRC em consulta de nefrolo-
gia, entre o modelo tradicional realizado pelo médico
nefrologista e modelos que incluem enfermeiros espe-
cialistas com funções de coordenação de cuidados ou
equipas multidisciplinares na prestação de cuidados.
Em todos os artigos analisados os enfermeiros são par-
te integrante da equipa multidisciplinar. Nos estudos
deZuidenet.al.(2011),Neyhartet.al.(2010)eDixon
et.al. (2011) aos cuidados tradicionais é adicionada
apenas a prestação de cuidados por um enfermeiro
especialista em nefrologia. Nos restantes estudos as
equipas multidisciplinares incluem normalmente o
nefrologista, o enfermeiro, o dietista, a assistente so-
cial. Em alguns casos acrescia ainda a intervenção de
farmacêuticos e psicólogos. No estudo de Santos et.al.
(2008) a coordenação da equipa é rotativa.
O estudo de Barret et.al. (2011) compara a prestação
de cuidados efetuada pelo médico de família, com
um modelo de seguimento do DRC nos cuidados de
saúde primários, por uma enfermeira em coordenação
com um médico nefrologista.
À exceção do estudo de Barret et. al. (2011) onde não
foram encontradas evidencias da melhoria dos resul-
tados dos cuidados coordenados pela enfermeira em
comparação com os cuidados prestados pelo médico
de família, os restantes demonstraram melhoria na
eficiência e melhoria dos resultados dos modelos
propostos em comparação com o modelo tradicional
de prestação de cuidados.
A melhoria da sobrevida do DRC, foi um dos resultados
mais significativos dos estudos de Hemmelgarn et. al.
(2007), EDTA (2005) e Goldstein et. al. (2004). O estudo
de Hemmelgarn et. al. (2007) com uma população de
doentes com mais de 66 anos demonstrou uma redu-
ção de 50% no risco de morte nos doentes seguidos
pela equipa multidisciplinar, quando comparado com
doentes seguidos pelo médico nefrologista (HR 0,50 IC
95% pelo modelo de Cox). No estudo da EDTA (2005)
a sobrevida no grupo seguido pela equipa multidisci-
plinar também se revelou significativamente melhor
(kaplan-meier p= 0,01) que a sobrevida oferecida pelo
modelo tradicional de prestação de cuidados, mesmo
quando ajustado pelo risco. Já Goldstein et. al. (2004)
encontraram menos mortes no grupo seguido pela
equipa multidisciplinar durante um ano (2% vs 23%
; p<0.01).
A diminuição do número de internamentos foi encon-
trada em vários estudos (Neyhart et al. 2010, Dixon
et. al. 2011, Hemmelgarn et. al. 2007 e Goldenstein
et. al. 2004).
Outro dos resultados encontrados nos estudos acima
referidos que consideramos de grande relevância foi
a melhoria dos valores analíticos. Isso significa que os
Association between Multi-disciplinary Care and Survi-val for Elderly Patients with Chronic Kidney Disease. Hemmelgarn et al. Canadà 2007
Estudo de coorte DRC com mais de 66 A6978GI – 187 – 2,7%
Referenciados para a equi-pa multidisciplinar pelo nefrologista.1ª sessão feita pela enfermeira especia-lista, dietista e assistente social ao doente e família. Leva suporte informativo. Equipa vê o doente com periodicidade de 1 a 3 me-ses e o nefrologista de 3 a 6 meses
Modelo de Cox demonstrou 50% redução do risco de morte do GI comparado com GC (HR 0,50 IC 95%) Não encontraram diferença estatisticamente significativa para o risco de hospitalização embora tenham verificado uma tendência clara para a sua diminuição.
Multidisciplinary Predialysis Care and Morbidity and Mortality of Patients on Dialysis. Goldstein et alCanada 2004
Estudo de coorteAvaliar o impacto da abordagem multidisciplinar nos resultados dos doentes esperando-se menos internamentos, melhores resulta-dos clínicos.
Equipa multidisciplinar composta por dietista, nefrologista, enfermeira “educadora”, farmacêutico e assistente social. Discussão do caso em equipa.
No inicio da diálise GI - maior probabilidade de ter um acesso funcionante, melhores valores de albumina e cálcio sérico. Menos hospitalizações em um ano (7 vs 67 d/doentes/ ano p=0.01)Menos mortes (2%vs 67% p=0.01)
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doentes entram em programa de diálise em melhores
condições, aceitando melhor a sua nova condição de
saúde/doença.(Zuidenet.al.2011,Dixonet.al.2011,
EDTA, 2005, Santos et. al. 2009, Goldestein, et. al. 2004).
Três estudos (Goldestein et. al. 2004, Dixon et. al. 2011,
Neyhart et. al. 2010) revelaram ainda uma construção
atempada de acessos para diálise.
DISCUSSÃO
Da pesquisa efetuada importa salientar que este parece
ser um tema bastante discutido e atual, uma vez que a
bibliografia encontrada é maioritariamente dos últimos
5 anos. No que respeita à distribuição geográfica, os
artigos selecionados provêm de países com artigos que
analisam a prestação de cuidados ao DRC. De salientar
que estas descrições correspondem a modelos de
prestação de cuidados nos quais se salienta o papel de
enfermeiros especialistas com funções de coordenação
de cuidados ou uma equipa multidisciplinar, modelos
que segundo esta revisão da literatura demonstraram
melhor eficácia e resultados em saúde.
EmpaísescomoEUA,Canadá,AustráliaeNovaZelândia
as políticas de saúde têm dado enfoque aos programas
de gestão da doença. Estes programas desenvolvem
ações multidisciplinares em todos os estádios. Nos
estádios 1 e 2 promove-se a identificação das pessoas
com DRC nos Cuidados de Saúde Primários, existindo
um papel ativo dos enfermeiros (nurse care manager)
que coordenam os cuidados, desenvolvendo e dis-
cutindo um plano de cuidados de saúde primários
com o nefrologista, de acordo com as guidelines. Nos
estádios 3 a 5 os cuidados são geridos habitualmente
por médicos e enfermeiros nefrologistas em equipa
multidisciplinar, com o objetivo de proteger a função
renal, prevenir e lidar com as complicações da DRC, e
preparar para a TSFR. (Campoy, 2005). A tendência Euro-
peia, numa análise apresentada por Bennett (2007),revela
que países como a Holanda, optaram por cuidados
coordenados por enfermeiros (Nurse Practitioners)
que focalizam a sua ação em cuidados de saúde mais
personalizados, no sentido de prevenir a redução da
função renal, minimizar co morbilidades e assegurar
a preparação de doentes para possíveis transplantes.
Estes enfermeiros coordenam a ação entre o médico de
família e o nefrologista, e promovem a uniformização
dos cuidados, respeitando as necessidades. A Espanha
valoriza as políticas de transplantação renal e de diálise
domiciliária. Já na Alemanha a tónica incide sobre a
partilha de decisões entre o doente e o cuidador. Por
último,noReinoUnido,ofocoestánacoordenação
entre cuidados de saúde primários e cuidados especia-
lizados de nefrologia, com cumprimento de guidelines
e contratualização com incentivos ao médico família.
Em Portugal, embora esteja a ser implementado o
modelo experimental da gestão integrada da doença,
a aplicação deste modelo à DRC tem sido traduzida
apenas pela aplicação do modelo de financiamento
das clínicas de hemodiálise (preço compreensivo)
Assim, na prática ainda não se assiste a qualquer al-
teração da estrutura ou dos processos de prestação
de cuidados (Escoval, 2010). Por outro lado, a imple-
mentação da norma nº 017/2011 da Direção Geral da
Saúde, torna obrigatória uma consulta de nefrologia
específica destinada ao esclarecimento do doente
acerca das diferentes modalidades de tratamento da
DRC. Acreditamos que isso promova uma abordagem
multidisciplinar, onde o enfermeiro, à semelhança da
tendência internacional, venha a ter um papel ativo
de coordenação de cuidados.
Os modelos multidisciplinares demonstraram que os
doentes entraram em programa de diálise em melhor
estado geral, com melhores valores analíticos. De
acordo com as KDOQI Guidelines do National Kidney
Foundation um timing ótimo de início de TSFR pre-
vine uma série de complicações urémicas, incluindo
desnutrição, edema, hemorragia, serosites, depressões,
diminuição da capacidade cognitiva, neuropatias peri-
féricas, infertilidade e maior suscetibilidade a infeções.
Outro dos resultados demonstrados foi um aumento
de doentes a iniciar hemodiálise com acesso definitivo
–FAV.ONationalKidneyFoundationapontoucomo
objetivo em 2009 que 65% dos indivíduos seguidos
em consulta de nefrologia iniciem HD com FAV. O uso
28 | Volume XVI | Nº 2 | NEPHRO’S
NEPHRO’S
de cateter está relacionado com altas taxas de infeção,
trombose, baixo débito de sangue e estenoses cen-
trais, que podem comprometer a construção de um
acesso definitivo.
Os resultados encontrados para menos internamentos,
demoras médias inferiores e menor mortalidade nestes
doentes, relacionam-se com os resultados anteriores
e justificam-se com um melhor acompanhamento
destes doentes e naturalmente uma educação mais
adequada. Esta associação também é defendida pelo
National Kidney Foundation na Guideline sobre o início
da diálise, propondo que a educação dos doentes para
adiálisedevainiciar-senoestádio4.Umaeducação
atempada permite melhorar os resultados e diminuir os
custos. De acordo com a guideline devemos começar a
preparar o doente para o início da diálise no estádio 4,
porque o ritmo de progressão da doença pode não ser
previsível, os doentes variam na capacidade de assimilar
e agir de acordo com a informação da falência renal,
e o hospital ou o sistema de saúde podem ter dificul-
dade em responder às necessidades de educação do
doente (por exemplo no agendamento de consultas,
na realização de exames, ou na construção das FAV).
Algumas das barreiras para a generalização dos mo-
delos de cuidados multidisciplinares apresentados na
literatura prendem-se com a ideia de alguns nefrolo-
gistas não aceitarem que um modelo multidisciplinar
possa ser melhor do que a abordagem tradicional. Tal
como defende Mendelssohn,2005, os resultados desta
revisão da literatura demonstram que esta posição é
completamente retrógrada e deve ser abandonada.
Por outro lado, algumas instituições não providenciam
o financiamento, as infraestruturas, espaço e salários
para uma equipa multidisciplinar, tornando-a inviável
ou incompleta. Mas estes resultados sugerem que estas
equipas são mais eficientes uma vez que a melhoria dos
resultados apresentados estão relacionadas com uma
diminuição dos custos no tratamento destes doentes.
Serão necessários estudos de avaliação económica
nofuturo.Umdosfatoresquepoderáincentivarain-
trodução de modelos multidisciplinares é o aumento
da incidência e prevalência da DRC e o aumento da
referenciação precoce destes doentes. As equipas
multidisciplinares irão permitir um melhor seguimento
destes doentes sem sobrecarregar os recursos limitados
de nefrologistas existentes.
CONCLUSÃO
Nesta revisão da literatura comparou-se a eficácia da
prestação de cuidados ao DRC seguido em consulta
de nefrologia, realizada pelo médico nefrologista, de
acordo com o modelo tradicional de cuidados, compa-
rada com a prestação de cuidados na qual colaboram
enfermeiros especialistas com funções de coordenação
de cuidados ou com o modelo que inclui uma equipa
multidisciplinar.
Os novos modelos propostos demonstraram que as
equipas multidisciplinares são mais eficientes e obtêm
melhores dos resultados. Estes modelos revelaram uma
melhoria na sobrevida dos DRC, uma diminuição do
número de internamentos, e uma melhoria dos valores
analíticos, o que significa que os doentes entram em
programa de diálise em melhores condições, facilitando
a aceitação da sua nova condição de saúde/doença.
Verificou-se ainda a construção de acessos para diálise
de forma mais atempada.
Concluímos, que em Portugal a prática de cuidados
é ainda essencialmente baseada no modelo tradicio-
nal. No entanto, estes resultados mostram que para
garantir a melhoria dos cuidados prestados aos DRC
devemos evoluir para modelos multidisciplinares. Estes
modelos são considerados na literatura como os que
melhor respondem às necessidades destes doentes.
Nesta RSL encontrámos 8 artigos que avaliaram a sua
eficácia e demonstraram resultados. Destes, apenas um
dos artigos não refletiu os resultados esperados com
a implementação destes modelos. Os restantes foram
bastante consistentes nos resultados encontrados,
demonstrando clara evidência na sobrevida, melhoria
da qualidade de vida e preparando melhor os doentes
para o início da TSFR aproximando os resultados às
guidelines recomendadas.
CIÊ
NC
IAE
TÉCN
ICA
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BIBLIOGRAFIA
NEPHRO’S | Volume XVI | Nº 2 | 29
NEPHRO’S
30 | Volume XVI | Nº 2 | NEPHRO’S
NEPHRO’S
PERITONITE PRECOCE
Autor: *Casimira Carvalho; *Elisabete Costa; *Sara Pereira Unidade de dialise Peritoneal – Hospital de Santa Cruz - Centro Hospitalar Lisboa Ocidental
RESUMO
As alterações anátomo-fisiológicas “impostas” pela Dialise Peritoneal, nomeadamente, 1) a comunicação da cavi-
dade peritoneal com o exterior através do cateter e 2) a introdução das soluções de diálise na cavidade peritoneal
constituem, só por si, um risco para os doentes que se submetem a este método de substituição da função renal.
Desta forma, a própria técnica acarreta risco de infeção; mesmo para um doente cuidadoso e disciplinado, a proba-
bilidade de ocorrer peritonite no período em que este está em Dialise Peritoneal é elevadíssima.
São inúmeros os fatores de risco associados ao desenvolvimento das peritonites. Conhecê-los facilita o desenvol-
vimento de estratégias para prevenir a peritonite.
Palavras-chave: Dialise Peritoneal; Peritonite precoce.
ABSTRACT
The anatomical and physiological changes “imposed” by the Peritoneal Dialysis, namely, 1) the communication of the
peritoneal cavity to the outside through the catheter and 2) the introduction of dialysis solutions on the peritoneal
cavity constitute, in itself, a risk for patients undergoing this method of replacing renal function.
There for, the technique itself carries risk of infection; even for a careful and disciplined patient, the probability of peri-
tonitis in the period in which it is in Peritoneal Dialysis is very high.
There are numerous risk factors associated with the development of peritonitis. Know them facilitates the develop-
ment of strategies to prevent peritonitis.
CIÊ
NC
IAE
TÉCN
ICA
INTRODUÇÃO
Em Portugal, estimam-se cerca de 800 mil pessoas com
doença renal crónica; em tratamento substitutivo da
função renal (dialise e transplante) existem actualmente
cerca de 17 mil portugueses.
Os profissionais de saúde que trabalham nos servi-
ços de nefrologia, nomeadamente o enfermeiro de
dialise peritoneal responsável pelo ensino da técnica
ao doente insuficiente renal que optou, ou que por
falência de acessos vasculares foi a técnica que se lhe
ofereceu, é o profissional que mais contacta com este
doente e família.
Esse enfermeiro tem um papel de extrema importância
pois cabe-lhe coordenar os métodos de ajuda válidos
que vão ao encontro das necessidades de educação,
treino, avaliação e acompanhamento dos mesmos,
prevenindo, destacando e corrigindo problemas que
surjam, consciencializando-os e capacitando-os para
o autocuidado.
Com o objetivo de tentar conhecer como a infeção
(peritonite) ocorre nos doentes em dialise peritoneal e
posteriormente tentar definir estratégias para melhorar
os cuidados de saúde, especificamente os cuidados de
enfermagem prestados, desenvolvemos este estudo.
1) CONTEXTUALIZAÇÃO
O número de doentes que sofre de doença renal crónica
está a aumentar em Portugal e no mundo.
Os rins são os órgãos fundamentais para a manutenção
da homeostase do corpo humano. Na doença renal
ocorre uma queda progressiva da filtração glomerular e
consequente perda das funções regulatória, excretória
e endócrina.
Quando a queda da filtração glomerular atinge valores
muito baixos - geralmente inferiores a 15 ml/min -
estabelece-se o que denominamos falência renal, ou
seja, o estadio mais avançado da doença renal -estadio V.
Insuficiência Renal Cronica é uma doença provocada
pela deterioração lenta e irreversível da função renal que
evolui até à acumulação de produtos metabólicos de
excreção no sangue; é uma doença que põe em risco
a vida do doente e requer tratamento para substituir
a função perdida do rim.
A otimização do tratamento da doença renal envolve:
1) o diagnóstico imediato da doença, 2) o encaminha-
mento precoce para os cuidados especializados, 3) a
implementação de medidas que retardem da progres-
são da doença e a instalação da doença renal crónica
irreversível, 4) também a identificação e correção das
complicações e co-morbilidades mais comuns, 5) bem
como a educação e a preparação para as técnicas de
substituição da função renal.
Técnicas de substituição da função renal, são técnicas
que substituem algumas das funções que o rim já perdeu,
devido á Insuficiência Renal Crónica Avançada, essas
técnicas são: 1) a diálise peritoneal, 2) a hemodiálise,
3) o transplante renal e 4) o tratamento conservador.
Dialise peritoneal é o processo de depuração do
sangue no qual a transferência de solutos e líquidos
ocorre através de uma membrana semipermeável
heterogenia, com múltiplos poros - o peritoneu.
A membrana separa dois compartimentos: 1) a cavidade
abdominal e 2) a cavidade peritoneal.
O peritoneu age como um filtro, que recebe o solu-
to de dialise e permite a transferência entre os dois
compartimentos através de três processos que ocor-
rem simultaneamente: 1) a difusão, 2) a osmose e 3)
a convecção.
Como membrana que passou a estar em contacto com
o exterior através dum cateter, se não forem respeitadas
todas as regras de assepsia o peritoneu corre o risco
de contaminação.
Peritonite define-se como uma inflamação da membrana
peritoneal, habitualmente causada por bactérias. É a
principal causa de hospitalização, de falha na técnica
e até mesmo de mortalidade nos doentes em diálise
NEPHRO’S | Volume XVI | Nº 2 | 31
NEPHRO’S
peritoneal.
Identificam-se como fatores de risco de peritonite:
• Falta de limpeza do local onde se efetuam as trocas
• Quebra da assepsia durante as trocas
• Lavagem ineficaz das mãos
• Usoincorrectodamáscara
• Número de conexões/desconexões
• Desconexões realizadas ao acordar (sonolência)
• Usofrequentedeantibióticos
• Portador nasal de Staphilococcus aureus
• Presença de animais de estimação
• Quadros abdominais importantes
• Redução da acuidade visual
• Infecção do Orifício de Saída e túnel do cateter
Com o objetivo de melhorar os cuidados de saúde
prestados aos doentes insuficientes renais em programa
de diálise peritoneal e, partindo do pressuposto que
“peritonite precoce é a que se desenvolve nos primeiros
6 meses da técnica”, fomos analisar os doentes que
induziram diálise peritoneal, na nossa unidade, entre
1 de janeiro de 2010 e 30 de junho de 2012, embora o
estudo se prolongue até 31 de dezembro do mesmo ano.
2) METODOLOGIA
Efetuámos um estudo do tipo descritivo e analítico
com base na consulta dos processos clínicos dos do-
entes e nas bases de dados sobre infeção da unidade
de dialise peritoneal.
Após a compilação de dados, foi caraterizada a popula-
ção em género, idade e proveniência (dialise peritoneal
como primeira escolha, transição da hemodialise ou
do transplante renal).
Posteriormente, fomos estudar o período de tempo
em que os doentes em estudo permaneceram no
ensino da técnica.
Por fim, analisámos o tipo de agente, a necessidade
de internamento e qual a resolução final do episódio
de peritonite.
3) APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
No período estudado, induziram diálise peritoneal
58 doente, 13 dos quais desenvolveram peritonite
precoce (22%).
Em termos de caracterização de género, concluímos
que ambos os grupos (induções e peritonite) têm
características semelhantes, ou seja, maior proporção
de homens em relação às mulheres.
Estes dados são corroborados pelos Relatórios anuais
do Gabinete de Registo de Sociedade Portuguesa de
Nefrologia, que apontam para a predominância do
género masculino.
Relativamente à idade, concluímos haver uma predomi-
nância de doentes com idade inferior a 65 anos; dado
este que mais uma vez é corroborado pelos Relatórios
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO O
GÉNERO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A IDADE
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
PROVENIÊNCIA
37 9
21
4 0
20 40 60 80
Induções Peritonite
Feminino Masculino
42 8
16
5 0
20 40 60 80
Induções Peritonite
> 65 anos < 65 anos
40
10 13 3 5 0
0 10 20 30 40 50
Induções Peritonite
DP first HD Tx Renal
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO O
GÉNERO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A IDADE
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
PROVENIÊNCIA
37 9
21
4 0
20 40 60 80
Induções Peritonite
Feminino Masculino
42 8
16
5 0
20 40 60 80
Induções Peritonite
> 65 anos < 65 anos
40
10 13 3 5 0
0 10 20 30 40 50
Induções Peritonite
DP first HD Tx Renal
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ICA
anuais do Gabinete de Registo de Sociedade Portuguesa
de Nefrologia.
A idade média de ambos os grupos é similar, sendo que
nas induções é de 53,4 anos e na peritonite é de 54,92.
Relativamente á proveniência dos 58 doentes que in-
duziram, 40 optaram por DP como primeira técnica de
substituição da função renal, 13 transitaram da hemo-
dialise e 5 eram provenientes de pós transplante renal.
No grupo da peritonite, 10 dos 13 doentes optou por
DP como primeira técnica de substituição da função
renal e 3 transitaram da HD; nenhum dos doentes que
veio do transplante desenvolveu peritonite.
Na nossa unidade, o ensino da Dialise Peritoneal obe-
dece a um protocolo instituído que tem a duração
prevista de 5 dias.
No que diz respeito aos dias de ensino, ambos os
grupostiveramumamédiade6diasdeensino–6,04
nas induções e 6,61 na peritonite.
Dos 13 doentes com peritonite, apenas 3 não compa-
receramnaUDPnoprópriodia.
Nas razões apontadas para não o fazerem: 2 doentes
referiram não identificar de imediato os sinais de pe-
ritonite, recorrendo àUnidadedeDialise Peritoneal
somente por não aguentarem a dor; o outro doente
referiu que, por ser de longe, ficou à espera que pas-
sasse para não ter que fazer a viagem sem motivo.
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO OS DIAS DE ENSINO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
COMPARÊNCIA NA UNIDADE DE DIALISE
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
NECESSIDADE DE INTERNAMENTO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO O
AGENTE INFECIOSO
45
5 13 8
0 10 20 30 40 50
Induções Peritonite
5 dias > 5 dias
10
3
0
5
10
15
Sim Não
3
10
0
5
10
15
Sim Não
2
9
4
0 2 4 6 8
10
Sem agente Gram + Gram -
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO OS DIAS DE ENSINO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
COMPARÊNCIA NA UNIDADE DE DIALISE
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
NECESSIDADE DE INTERNAMENTO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO O
AGENTE INFECIOSO
45
5 13 8
0 10 20 30 40 50
Induções Peritonite
5 dias > 5 dias
10
3
0
5
10
15
Sim Não
3
10
0
5
10
15
Sim Não
2
9
4
0 2 4 6 8
10
Sem agente Gram + Gram -
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO O
GÉNERO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A IDADE
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
PROVENIÊNCIA
37 9
21
4 0
20 40 60 80
Induções Peritonite
Feminino Masculino
42 8
16
5 0
20 40 60 80
Induções Peritonite
> 65 anos < 65 anos
40
10 13 3 5 0
0 10 20 30 40 50
Induções Peritonite
DP first HD Tx Renal
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO OS DIAS DE ENSINO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
COMPARÊNCIA NA UNIDADE DE DIALISE
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
NECESSIDADE DE INTERNAMENTO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO O
AGENTE INFECIOSO
45
5 13 8
0 10 20 30 40 50
Induções Peritonite
5 dias > 5 dias
10
3
0
5
10
15
Sim Não
3
10
0
5
10
15
Sim Não
2
9
4
0 2 4 6 8
10
Sem agente Gram + Gram -
NEPHRO’S | Volume XVI | Nº 2 | 33
NEPHRO’S
No que diz respeito à necessidade de internamento,
apenas três necessitaram de internamento durante o
episódio da peritonite.
O internamento relacionou-se com as intervenções ao
cateter e não para tratamento da infeção.
No grupo de doentes que desenvolveu peritonite, 2
doentes (15%) tiveram 2 episódios de peritonite (1
doente teve peritonite recorrente e outro peritonite de
repetição), pelo que ocorreram na totalidade 15 episó-
dios - 2 episódios (13%) foram peritonites assépticas,
9 episódios (60%) peritonites a microrganismos gram
positivos e 4 episódios (27%) peritonites a microrga-
nismos gram negativos.
Segundo as guidelines, predominam os agentes gram
positivos, tendência que se verificou na nossa população.
Em três dos doentes em estudo, a peritonite relacionou-se
com o cateter já que apresentaram Infeção do Orificio
de Saída ao mesmo agente (Staphilococcus aureus).
Dos 13 doentes com peritonite, 10 (77%) manteve o
cateter.
Os restantes três doentes (23%) foram alvo de interven-
ções relacionadas com o cateter, motivando por isso
o seu internamento, como anteriormente referimos.
Desses 3 doentes - 1 retirou cateter e saiu da técnica
por inadaptação à mesma; outro substituiu o cateter
após 2 recidivas da peritonite e o outro reposicionou o
cateter por este se encontrar envolvido em epíploon.
4) CONSIDERAÇÕES FINAIS
Qualquer que seja a estratégia desenvolvida para prevenir
aperitonite,opapeldaenfermeiraéFUNDAMENTAL,
pois é da sua inteira responsabilidade o ensino que é
feito ao doente.
É com base nesse ensino que o doente irá agir quando
confrontado com as adversidades, nomeadamente
com a peritonite.
É durante este processo que são desenvolvidas es-
tratégias cujo objetivo é a redução dos episódios de
peritonite.
Essas estratégias são:
1) O ensino e treino são individualizados, em espaço
próprio, com ambiente calmo, com linguagem adap-
tada e respeitando os tempos de aprendizagem de
cada doente;
2) As trocas de DP são efetuadas com o cumprimento
rigoroso da técnica;
3) O correto uso da máscara facial;
4) A lavagem e desinfeção das mãos de acordo com
a técnica ensinada e treinada;
5) A importância de ser cuidadoso com a limpeza do
ambiente e os cuidados de higiene diários;
6) A importância da inspeção e realização diárias do
penso do Orifício de Saída;
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO OS DIAS DE ENSINO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
COMPARÊNCIA NA UNIDADE DE DIALISE
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
NECESSIDADE DE INTERNAMENTO
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO O
AGENTE INFECIOSO
45
5 13 8
0 10 20 30 40 50
Induções Peritonite
5 dias > 5 dias
10
3
0
5
10
15
Sim Não
3
10
0
5
10
15
Sim Não
2
9
4
0 2 4 6 8
10
Sem agente Gram + Gram -
CARACTERIZAÇÃO SEGUNDO A
RESOLUÇÃO FINAL DA PERITONITE
10
1 1 1 0
5
10
15 Manteve cateter
Retirou cateter
Substituiu cateter
Reposicionou cateter
34 | Volume XVI | Nº 2 | NEPHRO’S
NEPHRO’S
CIÊ
NC
IAE
TÉCN
ICA7) O ensino sobre os sintomas e sinais de alarme, re-
lativamente às infeções;
8)AimportânciadavindaatempadaàUDPemsituação
de infeção, para resolução da mesma;
9) O reforço das boas e a correção das más práticas.
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BIBLIOGRAFIA
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INTRODUÇÃO
O aumento da esperança de vida, o envelhecimento da população e os estilos de vida, têm contribuído para um aumento das doenças crónicas, atingindo pessoas saudáveis e independentes, que passam a necessitar de orientações e a depender permanentemente de cuidados de saúde. A Doença Renal Crónica (DRC) afeta cada vez mais pessoas, levando a um aumento do tratamento substitutivo da função renal (TSFR) e dos custos com a saúde. Em 2011, existiam em Portugal 17553 doentes em TSFR com uma prevalência elevada, sobretudo em idosos, segundo o gabinete de registo da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN) em 2012.A consulta de enfermagem pré-diálise é um espaço
adequado à Educação para a Saúde, visando promover o autocuidado (AC), retardar a progressão da doença e o início do TSFR, e facilitar a aceitação dos cuidados indispensáveis à manutenção do bem-estar. O enfer-meiro promove comportamentos de AC ao desenvolver o potencial do doente para a realização das atividades necessárias à manutenção da saúde e do bem-estar (Orem, 1980).Este estudo analisa a capacidade para a gestão do AC do doente renal crónico no estádio 4-5 seguido na consulta de enfermagem pré-diálise e visa identificar as necessidades de AC e as áreas da educação para a saúde em que é necessário investir para promover o AC.
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PROMOÇÃO DO AUTOCUIDADO NO DOENTE RENAL CRÓNICO EM PRÉ-DIÁLISE
Autor: Elisabete Gonçalves Avelar Dias *; Filipe Cristóvão ** * Enfermeira Especialista do Serviço de Nefrologia do Hospital de Santa Cruz; ** Professor da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
RESUMO
Este estudo descritivo visa identificar as necessidades de autocuidado (AC) em doentes renais crónicos em pré-
diálise. A amostra incluiu 18 adultos com doença renal crónica nos estádios 4 e 5, inscritos na consulta de en-
fermagem em fase de pré-diálise. Avaliámos a frequência com que os sujeitos realizaram ações de AC em várias
dimensões, notando que 61% dos sujeitos apresenta um nível de AC globalmente insatisfatório. As dimensões do
AC mais comprometidas foram o controlo da pressão arterial e o exercício físico. As dimensões que apresentaram
melhor nível de AC foram o controlo hídrico e da glicémia, a avaliação do acesso vascular,o controlo da dieta e dos
edemas. Estes resultados ajudam os enfermeiros a orientar os eforços para promover o AC nos doentes renais em
pré-diálise.
Palavras-chave: Autocuidado; Consulta de Enfermagem; Doença Renal Crónica; Educação para a saúde.
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QUADRO CONCETUAL
Viver com doença crónica impõe elevados custos hu-manos, sociais e económicos, com alteração de estilos de vida e dependência de outros. A DRC é uma doença progressiva e sem cura, com forte impacto na qualidade de vida, atingindo não só muitos idosos, mas também adultos em idade ativa. Capacitar o doente para gerir a doença, é uma responsabilidade dos enfermeiros.Em Portugal há uma elevada prevalência (1661,96 pmp) de doentes renais em TSFR (SPN, 2012). Retardar a progressão da DRC passa por controlar fatores de risco como a diabetes, hipertensão arterial ou obe-sidade (Sá, 2012). A DRC é uma perda progressiva e irreversível da função renal, que geralmente evolui de forma silenciosa e, numa fase avançada, pode exigir TSFR em qualquer uma das diferentes modalidades. Para Chadban et al. (2007), a DRC surge quando a taxa de filtração glomerular (TFG) é inferior a 60 ml/min/1.73m2, persiste por mais de 3 meses, com ou sem evidência de dano renal, com proteinúria, hematúria, alterações patológicas ou estruturais dos rins. A NKF (2002) classifica a progressão da DRC em 5 estádios, desde um estádio 0 (fase de vulnerabilidade) em que a função renal é normal sem lesão renal, até um estádio 5 (fase terminal), com uma TFG inferior a 15ml/m/1.73m2, tornando inevitável o recurso a TSFR. Para Remuzzi et al. (2006) o tratamento da albuminúria, o controlo rigoroso da pressão arterial, glicemia, dislipidémia e da anemia, retardam a progressão da DRC.A Educação para a Saúde visa capacitar o doente para cumprir o tratamento e para prevenir as complicações, sempre que ele seja capaz de gerir a sua própria do-ença de uma forma eficaz. Num estudo comparativo, Pagels,Wäng &Wengström (2008)mostraramqueem doentes com DRC em tratamento conservador, a educação em diferentes domínios (acesso vascular, dieta, atividade física, ingestão fluidos, etc.) melhora o nível de conhecimento e o AC.Várias instituições recomendam um programa de edu-cação para a saúde, seis meses antes do início da fase terminal, ou durante os estádios 4 e 5 da DRC, quando a TFG for inferior a 30 ml/min/1.73m2, incidindo sobre estilos de vida (tabaco, álcool e exercício físico), medi-cação (anti hipertensores, diuréticos, estimuladores de eritropoietina, ou vitaminas), dieta (restrição proteica e de sódio, controlo de ingestão de alimentos ricos
em potássio e fósforo), controlo da glicemia (HbA1C <6,5%), da pressão arterial (<130/80 mmHg), controlo do peso e construção do acesso vascular quando a TFG for inferior a 30ml/m/1.73m2 (NKF, 2002; Kidney Health Australia, 2007; Canadian Society of Nephrolo-gy, 2008; Sociedad Latinoamericana de Nefrologia e Hipertensión, 2010). A proximidade com o doente permite ao enfermeiro uma melhor compreensão das necessidades educa-cionais, psicossociais e económicas de cada doente, o que faz dele o profissional de eleição para coordenar o ensino (Pacheco e Santos, 2005). Para atender as necessidades do doente, é necessário que os enfer-meiros possam educar os doentes de forma eficiente que lhes permita promover o AC, para melhor gerir o tratamento, compreender e aceitar os cuidados indis-pensáveis ao bem-estar (Santos, Rocha e Berardinelli, 2011). Neste contexto, a consulta de enfermagem é uma atividade independente, visando condições para melhorar a qualidade de vida, através de uma aborda-gem contextualizada e participativa (Machado et al., 2005). De acordo com a Portaria nº 306-A/2011 de 20 de dezembro (p. 5348-2) é uma “intervenção visando a realização de uma avaliação, ou o estabelecimento de plano de cuidados de enfermagem, no sentido de ajudar o indivíduo a atingir a máxima capacidade de autocuidado”. O AC é uma função individual que a pessoa desempe-nha deliberadamente, com o objetivo de preservar a vida, a saúde, o desenvolvimento e o bem-estar (Orem, 1980). Quando o doente não consegue satisfazer as necessidades de AC, é necessária a intervenção da enfermagem para o ajudar, assistir, compensar e subs-tituir os défices de AC. Assim, cabe ao enfermeiro de nefrologia promover competências e habilidades no doente para controlar a pressão arterial, a glicémia, a ingesta hídrica e os ede-mas; avaliar a diurese; e praticar exercício físico. Estes comportamentos de AC devem ser continuamente monitorizados, para ajudar o doente a adaptar-se à sua situação de portador de doença crónica terminal e adotar comportamentos que lhe permitam gerir a sua saúde de forma a evitar complicações futuras.
METODOLOGIA
Realizámos um estudo descritivo e transversal, na consulta de enfermagem de pré-diálise do serviço
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de nefrologia de um hospital da área metropolitana de Lisboa. A população é composta por adultos com DRC em fase de pré-diálise, nos estádios 4 e 5, inscritos naquela consulta de enfermagem. A amostra de con-veniência inclui os 18 sujeitos atendidos na consulta de enfermagem pré-diálise que aceitaram participar voluntariamente no estudo, expressando o seu consen-timento, com os seguintes critérios de inclusão: ter mais de 18 anos; apresentar TFG <30ml/min/1.73m2. Foram excluídos doentes internados ou com internamentos no último mês e com défice cognitivo.A partir da revisão da literatura sobre a DRC e o AC para retardar a progressão da doença, construímos um formulário dividido em duas partes: a primeira com dados sociodemográficos e clínicos, para caracterizar a amostra; a segunda com uma escala de dez questões para avaliar a frequência com que os sujeitos realizaram ações de AC nos últimos 14 dias, nas seguintes dimen-sões: procura de informação; cumprimento da dieta; controlo hídrico; controlo dos edemas; cumprimento da medicação; controlo da pressão arterial; controlo da glicemia; controlo do peso corporal; avaliação do funcionamento do acesso vascular; e exercício físico. O formulário foi revisto e aprovado por três enfermeiros peritos na área de nefrologia. Avaliámos a capacidade de AC calculando o score médio de cada sujeito em relação ao cumprimento dos 10 requisitos de AC da escala (scores de 0 a 140), variando entre autocuidado muito insatisfatório (≤35), autocuidado insatisfatório (36 a 70), autocuidado satisfatório (71 a 105) e autocuidado muito satisfatório (≥106). Também avaliámos o nível de AC em cada dimensão, calculando o score médio para cada requisito de AC (score entre 0 e 14), variando entre autocuidado muito insatisfatório (≤3,5), autocuidado insatisfatório (>3,5 a 7), autocuidado satisfatório (>7 a 10,5) e autocuidado muito satisfatório (≥10,5).Após autorização da comissão de ética e da direção do serviço de nefrologia, selecionámos os sujeitos calculando a TFG pela fórmula da Modification of Diet in Renal Disease (Jenkins, 2007).
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Caracterização da amostra: os 18 sujeitos da amostra tinham entre 45 e 84 anos de idade. Apresentaram uma média de idades de 67,4 anos (±13,74 anos), com 10 (55%) sujeitos acima dos 65 anos. A maioria (11; 61%)
dos sujeitos era do género feminino, ao contrário do observado em estudos nesta população. A maioria (10; 55%) dos sujeitos era casada, com 3 (17%) viúvos e 2 (11%) separados/divorciados. A família constitui um importante recurso para os doentes em estádios 4 e 5 da doença renal crónica (Murphy et al., 2009). A maioria (11; 61%) dos sujeitos só frequentou o ensino primário, o que traduz um baixo nível de escolaridade, provavelmente por não ter beneficiado da escolari-dade obrigatória. Das comorbidades mais frequentes destacam-se a hipertensão arterial (11;61%), a doença cardíaca, diabetes e doença vascular, cada uma com 7 (39%) sujeitos. Também notámos que a maioria (13; 72%) dos sujeitos apresentava duas ou mais co mor-bidades. As limitações visuais estavam presentes na maioria dos sujeitos (14;78%), seguidas da diminuição da capacidade de concentração (9;50%); das limitações auditivas (7;39%) e das limitações na marcha e dimi-nuição e na sensibilidade periférica, cada uma com 6 (33%) sujeitos (Tabela 1).
Tabela 1 – Distribuição dos sujeitos por limitações para o autocuidado
(AC)
Limitações Número de sujeitos
Visuais 14
Capacidade de concentração 9
Auditivas 7
Dificuldade na marcha 6
Sensibilidade periférica 6
Estes resultados são consistentes com os achados de Fernandez e Manrique-Abril (2011) em que o défice da acuidade visual foi a principal limitação encontrada (71,3%), seguida das motoras (41,3%) e das auditivas (34,6%). Pela avaliação da TFG a maioria (11;61%) dos sujeitos estava nos estádios 4 e 5 da evolução da DRC e metade da amostra era seguida em consulta de nefrologia há mais de 4 anos. Notamos que 6 (33%) dos sujeitos não eram acompanhados nas consultas. Para os restantes 67%, o cônjuge era o acompanhan-te mais referido. Este resultado é consistente com o estudo de Morton et al. (2009) no qual a maioria dos doentes era acompanhada por um familiar quando vinha às consultas.Necessidade de autocuidado: A maioria (13;72%) dos sujeitos considerou não necessitar de apoio para as
1 TFG (ml/min/1.73m2) = 186x {[creatinina sérica µmol/l/88.4] – 1.154}x{idade (anos) – 0.203} x 0.742 se é mulher e x 1.21 se é afro-americano (Jenkins, 2007).38 | Volume XVI | Nº 2 | NEPHRO’S
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atividades de vida diária, nem para gerir o tratamento. Mas os 5 (28%) sujeitos que reconheceram a necessidade de um agente facilitador do AC, referiram recorrer ao enfermeiro para administrar o fator estimulante da eritro-poiese e para avaliar a glicemia e à família para administrar a terapêutica e realizar as atividades de vida diária.Requisitos de autocuidado: avaliámos o AC a partir do score total obtido pelos sujeitos somando as várias di-mensões da escala, variando entre 0 e 140, com os seguintes níveis: AC muito insatisfatório (≤35); AC insatisfatório (>35 ≤70); AC satisfatório (>70≤105) e AC muito satisfatório (>105≤140). Pelo gráfico 1 podemos notar que 17% sujeitos apresentam um nível muito insatisfatório de AC, 44% situam-se no nível insatisfatório e que os restantes 39% apresentam um nível satisfatório de AC. Estes achados contrastam com os resultados referenciados por Arias e Alvarez (2009), em que os sujeitos apresentavam grandes capacidades de AC. É possível que a forma de analisar algumas dimensões do AC tenha influenciado os resultados globais. Este aspeto pode ser uma limitação do estudo, pelo que o instrumento de colheita de dados precisa ser aperfeiçoado para melhor se adequar às características da nossa população.Analisámos a variável “requisitos de AC” em cada uma das dimensões (gráfico 2). Na dimensão “procura de informação”, a maioria dos sujeitos (16;89%) revela um nível de AC muito insatisfatório, pois nos últimos 14 dias procuraram informação uma ou duas vezes. Apenas 2 (11%) sujeitos o fizeram de forma mais insistente, com AC satisfatório. Este resultado pode estar relacionado com o tempo de diagnóstico e com a informação já adquirida pelo doente.
Gráfico 1 – Distribuição percentual dos sujeitos por níveis globais de autocuidado (AC)
Gráfico 2 – Distribuição percentual dos sujeitos por níveis de autocuidado nas dimensões de autocuidado
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De acordo com a EDTNA/ERCA (2009), os doentes que
adquirem conhecimentos sobre a sua condição, têm
menos complicações e menos hospitalizações por
situações agudas. Na dimensão “cumprimento da dieta”
notamos que 5 (28%) dos sujeitos não cumpriam com
rigor as restrições dietéticas, apresentando um AC muito
insatisfatório, talvez por não estarem cientes da neces-
sidade de cumprir uma dieta tão restrita. Mas a maioria
(11;61%) dos sujeitos revela um nível muito satisfatório
nesta dimensão de AC. Na dimensão “controlo hídrico”
verificámos que a maioria (16;89%) dos sujeitos apre-
sentava um AC muito satisfatório (afirmam cumprir as
restrições entre 10 e 14 dias). Os restantes (11%) sujeitos
apresentaram um AC muito insatisfatório. A restrição
hídrica só é fundamental quando a TFG é inferior a 5
ml/min/1.73 m2 (Riella, 2003). A dimensão “controlo
dos edemas” ajuda o doente a perceber os sintomas
causados pelo excesso de líquidos. Nesta dimensão,
7 (39%) dos sujeitos apresentavam um AC muito insa-
tisfatório, embora a maioria (11;61%) apresentasse um
AC muito satisfatório. Assim, é necessária a orientação
de enfermagem neste domínio. Na dimensão “cumpri-
mento da medicação” a maioria dos sujeitos (14;78%)
relatou ter cumprido com rigor a toma da medicação
(horário, dosagem), sendo considerada como um AC
muito satisfatório. É um aspeto muito positivo, pois
estes doentes necessitam de hipertensores, estimu-
lantes da eritropoiese, diuréticos, quelantes de fósforo
e vitaminas, entre outros. Os familiares podem ajudar
os doentes nesta ação de AC. Na dimensão “controlo
da pressão arterial” 4 (22%) sujeitos apresentaram um
nível de AC muito satisfatório (avaliaram todos os 14
dias) enquanto a maioria (13;72%) apresentou um AC
muito insatisfatório (avaliou até 3 vezes). Estes critérios
podem ser muito exigentes, pois talvez seja suficiente
uma avaliação semanal da pressão arterial. É importante
notar que 4 sujeitos reconheciam nunca ter avaliado
a pressão arterial naquele período de tempo e 1 só
avaliou uma vez, o que reforça a necessidade do apoio
de enfermagem. A dimensão “controlo da glicemia” só
incidiu sobre os 7 sujeitos diabéticos do estudo, mas
mostrou que apenas 1 (14%) nunca tinha avaliado
o nível de glicemia capilar nos últimos 14 dias, por
necessitar de um agente que apoie esta atividade de
AC e não conseguir deslocar-se ao Centro de Saúde.
Os restantes (6;86%) avaliaram a glicémia capilar dia-
riamente, revelando um nível muito satisfatório de AC.
Na dimensão “controlo do peso” a maioria (14;78%) dos
sujeitos foi considerada com um nível de AC muito
insatisfatório, mas o critério adotado pode ser con-
siderado demasiado exigente porque nem sempre o
doente com DRC tem a noção de que o aumento de
peso pode significar uma deterioração da sua função
renal excretora; 8 sujeitos avaliaram o peso por duas
vezes (corresponde a uma avaliação semanal) e 4 afir-
maram nunca ter avaliado o peso nos últimos 14 dias.
A dimensão “avaliação do acesso vascular” só incluiu os
6 sujeitos com acesso vascular arteriovenoso. A maioria
(5;83%) dos sujeitos apresentou um nível de AC muito
satisfatório. O sujeito com apenas uma avaliação em 14
dias tinha construído o acesso vascular na véspera da
colheita de dados. Estes resultados mostram a grande
preocupação dos doentes com o acesso vascular. Na
dimensão “realizar exercício físico” a maioria (11;61%)
dos sujeitos revela um nível muito insatisfatório de
AC, com 7 sujeitos que nunca realizaram exercício
físico durante os 14 dias. Estes resultados refletem a
necessidade de promover o exercício físico, mas há
fatores (anemia, problemas cardiovasculares) que
podem influenciar esta dimensão do AC, uma vez que
a astenia, quase sempre presente nestes estádios, lhes
dificulta a realização desta atividade.
CONCLUSÕES
Apesar das limitações associadas à reduzida amostra
e do instrumento de colheita de dados, é importante
destacar que a maioria dos sujeitos apresenta co mor-
bidades (HTA, diabetes, doença cardíaca) e limitações
(visuais, na concentração e auditivas) que condicionam
o AC. A maioria (61%) dos sujeitos apresenta um nível
de AC globalmente insatisfatório. As dimensões do AC
mais comprometidas foram a procura de informação,
o controlo da pressão arterial e a realização de exer-
cício físico. As dimensões onde os sujeitos mostram
melhor nível de AC foram o controlo hídrico, controlo
da glicémia, avaliação do acesso vascular, controlo da
dieta e dos edemas. Estes resultados podem ajudar os
enfermeiros a orientar os eforços de promoção do AC
nos doentes renais em fase de pré-diálise.
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Elisabete Gonçalves Avelar Dias *; Filipe Cristóvão *** Enfermeira Especialista do Serviço de Nefrologia do Hospital de Santa Cruz; ** Professor da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
ANÁLISE CRÍTICA
Este trabalho é, em nossa opinião, da maior relevância uma vez que não é muito frequente a abordagem do tema relacionado com os cuidados ao doente renal em fase de pré diálise. É interessante o desenvolvimento de competências de Enfermagem de Nefrologia numa fase em que ainda não está instituído o tratamento dialítico e o que se pretende é motivar estes doentes para o auto cuidado.Este estudo configura em termos de Investigação uma metodologia quantitativa num estudo descritivo e transversal, na consulta de enfermagem de pré-diálise, que, cada vez mais vai sendo uma realidade nas nossas instituições. Como referem os autores deste estudo, o instrumento utilizado, pode não ter medido de uma forma eficaz, todas as dimensões desta variável. Aconselhamos a continuação deste estudo com um instrumento mais adequado à população portuguesa de doentes renais nos estádios 4 e 5 da doença renal.De uma maneira geral é um artigo de grande qualidade cujos resultados espelham a neces-sidade do desenvolvimento de competências numa fase em que é fundamental a ajuda do Enfermeiro de Nefrologia para motivar, o doente renal, na promoção do auto cuidado que lhe permitirá uma melhor adaptação à sua doença crónica e tratamento da substituição da função renal em qualquer das modalidades.
Para uma discussão mais aprofundada, outros comentários, sugestões ou direito de resposta por favor escreva para:[email protected]
NEPHRO’S | Volume XVI | Nº 2 | 43
NEPHRO’S
Os textos de opinião pretendem contribuir para o
enriquecimento da revista, assim como dar a oportunidade
aos leitores de expressarem as suas ideias e opiniões
relativas a um determinado assunto.
A publicação de artigos de opinião visa incentivar
a expressão livre da opinião, particularmente, dos
enfermeiros, o debate crítico da actualidade nefrológica,
a troca e confronto de ideias e a assunção pública de
posições de uma forma civicamente responsável.
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para os nossos leitores são os principais critérios da
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opinião a defesa de interesses particulares, a NEPHRO’S
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ARTIGOS DE OPINIÃO
44 | Volume XVI | Nº 2 | NEPHRO’S
NEPHRO’S
Mensagem de Boas Vindas*
Caros colegas e amigos, É uma grande honra convidar-vos a todos para a 43ª Conferência Internacional EDTNA/ERCA que terá lugar em Riga, capital da Letónia, de 6 a 9 de Setembro de 2014. A EDTNA / ERCA é uma organização multidisciplinar e através do Programa Científico oferecemos uma contribuição significativa e valiosa àqueles que necessitam dos nossos serviços. Cuidado renal centrado no paciente é o foco da conferência deste ano, onde importantes trocas de informação e experiências ocorrerão utilizando a experiência dos profissionais de saúde, líderes de serviços, professores, pesquisadores, pessoas com doença renal e parceiros da indústria que se reúnem para partilhar inovações e conhecimento. A Conferência é um fórum para o intercâmbio das melhores investigações e inovações na prática e ajuda na iniciação e promoção da qualidade da investigação renal e da prática em todo o mundo. Terão a oportunidade de visitar uma exposição renal emocionante abrangendo a mais moderna tecnologia e investigação no cuidado renal. Agradecemos sinceramente a todos os nossos parceiros da indústria pelo seu generoso apoio. Riga tem um espírito especial que se desenvolveu fora da história, tradição, arte, arquitetura, cultura e o sentido das coisas boas da vida. Estamos certos de que irão aproveitar esta oportunidade para apreciar a atmosfera única desta cidade. Estamos desejosos de lhe dar as boas vindas à bela cidade de Riga! Muitas felicidades Comité Executivo EDTNA/ERCA *(Traduzido. APEDT)
EDIÇÕES APEDT
DOENÇA RENAL CRÓNICA
DIÁLISE PERITONEAL
Prefácio
É com grande satisfação que vemos surgir uma nova publicação
produzida por enfermeiros, algo ainda pouco comum no nosso
país e que revela a crescente preparação e competência técnica
e humana dos enfermeiros. A publicação deste manual é a con-
cretização do empenho de um grupo de enfermeiros que sentiu a
importância de elaborar um documento que sintetiza os aspectos
fundamentais para a prestação de cuidados de enfermagem às
pessoas em diálise peritoneal. O espírito empreendedor destes
enfermeiros constitui um exemplo de partilha de saberes e
experiência. Este manual concorre para a afirmação da enfermagem,
favorece o desenvolvimento da prática profissional e proporciona
ainda aos enfermeiros e aos estudantes de enfermagem um
conjunto de conhecimentos científicos que constituem as bases
para a prestação de cuidados de enfermagem, num domínio muito
especifico que é a diálise peritoneal.
Ao apresentar-se à comunidade, este manual reflecte a importância
que os enfermeiros actualmente conferem à diálise peritoneal
enquanto alternativa terapêutica ao serviço das pessoas com
insuficiência renal crónica. A diálise peritoneal é ainda a modalidade
terapêutica que em Portugal tem menor expressão no tratamento
da insuficiência renal crónica terminal, ao abranger apenas cerca
de três por cento desta população de doentes. No entanto, entre
2001 e 2006, o número de doentes renais crónicos que dela
beneficiam aumentou trinta e nove por cento (dados do Gabinete
de Registo da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, divulgados no
XXI Congresso Português de Nefrologia, em Maio de 2006). Além
de constituir uma modalidade terapêutica com maior expressão
em muitos países europeus, parece potenciar a independência e
a qualidade de vida dos doentes renais.
Para além da preocupação com os aspectos técnicos da diálise
peritoneal, o manual perspectiva uma enfermagem centrada
na pessoa e no auto-cuidado. Realça a importância social do
enfermeiro enquanto profissional com competências para ajudar a
satisfazer as necessidades de saúde das pessoas com insuficiência
renal crónica, quer numa instituição prestadora de cuidados, quer
no domicílio. As temáticas abordadas manifestam a preocupação
do enfermeiro em agir pela pessoa quando não está em condições
de assumir a responsabilidade de cuidar de si mesma ou não tem
quem por ela se responsabilize. Mas também a preocupação em
promover a sua autonomia ao desenvolver competências na pessoa
que necessita de auto-cuidados de saúde e nos seus familiares.
É a perspectiva de Dorothea Orem que continua actual e útil
na sociedade dos nossos dias. Nesse sentido, assume especial
importância a atenção dedicada aos problemas psico-sociais, ao
ensino e à consulta de pré-diálise. Também se valoriza a segurança
na execução da técnica e à prevenção de complicações, dando
expressão à enfermagem enquanto campo da prática.A este
lançamento quiseram associar-se duas instituições de grande
prestígio: a APEDT enquanto associação a quem cabe desen-
volver a enfermagem nefrológica; e a Baxter, enquanto empresa
vocacionada para prestar os melhores cuidados de saúde na
insuficiência renal e para melhorar a qualidade de vida dos doentes.Filipe CristóvãoProfessor Coordenador
Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
Em cada dia, a cada minuto, em qualquer lugar a Baxter chega aos seus Doentes.
Líder em Diálise PeritonealRef. Baxter PT: 22/2011 Data ref. Baxter PT: 03/2011
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