Ciência e Fé Módulo XI – Milagres e Ciência Outubro de 2011 a Fevereiro de 2012.
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Ciência e FéMódulo XI – Milagres e Ciência
Outubro de 2011 a Fevereiro de 2012
Ciência e Fé
Estrutura do Curso
I - Introdução
II - Filosofia grega e cosmologia grega
III - Filosofia medieval e ciência medieval
IV - Inquisição e Ciência
V e VI - O caso Galileu
VII - A revolução científica
VIII - Darwin e a Igreja Católica
IX - Os Argumentos Cosmológico e Teleológico
X - Filosofia da Mente e Inteligência Artificial
XI - Milagres e Ciência
XII - Desafios ao diálogo entre Ciência e Fé
3
1. Introdução
2. As aparições em Fátima
3. O milagre do Sol
4. As testemunhas oculares
5. As explicações
6. Conclusão
Índice
Causas naturais mas desconhecidas
Ilusão (o fenómeno não aconteceu)
Farsa (o fenómeno foi simulado)
Filosofia materialista
Só há matéria: o sobrenatural é irreal
Logo, não há causas sobrenaturais
Filosofia cristã
A realidade é natural e sobrenatural
Logo, há causas naturais e sobrenaturais
Fenómeno sem explicação naturalFenómeno sem explicação natural Fenómeno sem explicação naturalFenómeno sem explicação natural
Causas naturais mas desconhecidas
Causas sobrenaturais
Ilusão (o fenómeno não aconteceu)
Farsa (o fenómeno foi simulado)
Introdução
Os conceitos de “lei natural” e de “milagre” só fazem sentido num Universo com “leis gerais” e no contexto de uma teologia de um Deus fiel!
Os conceitos de “lei natural” e de “milagre” só fazem sentido num Universo com “leis gerais” e no contexto de uma teologia de um Deus fiel!
Introdução
O que é um milagre (do latim “miraculum”, “admirar”)?É um acontecimento empírico (os milagres são detectados pelos sentidos)É um acontecimento imprevisível e inexplicável pelas “causas segundas” (naturais)É uma decisão voluntária e livre de Deus, que é a causa do “ser” de tudo o que existe
Como se constroem as “leis” da Natureza?1. Hipótese: supor “leis” gerais que expliquem certos fenómenos empíricos2. Dedução: deduzir resultados empíricos decorrentes dessas hipotéticas “leis” gerais3. Experimentação: preparar experiências que corroborem ou refutem a hipótese original
O método hipotético-dedutivo não dá verdade absoluta a uma “lei”, mas sim verosimilhançaMas esse método permite, por falsificação, refutar com certeza uma suposta (hipotética) “lei”
É impossível a ocorrência de fenómenos que não se enquadram nas “leis” da Natureza?As “leis” da Natureza não são necessárias: são contingentes, ou seja, podiam não ser assimNão é possível provar que tais “leis” se verificam sempre e em toda a parteTeologicamente, a regularidade dessas “leis” está radicada na vontade divinaO Antigo Testamento (por exemplo, no livro dos Salmos) associa várias vezes a estabilidade da Criação à aliança de Deus para com o povo de Israel
Milagres
Vários tipos de milagre
Co-natural: provocar ou catalisar algo que poderia ter ocorrido de forma natural mas com baixa probabilidade (por exemplo, Cristo curar um doente)
Contra-natural: alterar localmente a dinâmica de um sistema natural contrariando o seu curso natural (por exemplo, Cristo caminhar sobre as águas)
Sobre-natural: causar um fenómeno que nenhuma causa natural poderia provocar (por exemplo, Cristo ressuscitar um morto)
• O materialista coerente, que vê o ser humano como apenas uma "máquina" biológica, não deve ver a ressurreição como uma impossibilidade física, mas apenas prática!
Será que é correcto falar em “violação de leis naturais” quando se fala em milagres?
• As “leis” da Natureza regem o comportamento normal da realidade natural
• Um milagre é o efeito de uma causa “externa” ("sobrenatural”) que altera localmente o comportamento normal da Natureza: nenhuma “lei” natural é violada!
•Mais correcto será dizer que um milagre pode implicar a suspensão das “leis” naturais
Introdução
Deus não está obrigado a seguir as “leis” que Ele mesmo mantém em existência, “leis” essas que, no fim de contas, reflectem a Sua vontadeDeus não está obrigado a seguir as “leis” que Ele mesmo mantém em existência, “leis” essas que, no fim de contas, reflectem a Sua vontade
Os milagres resultam de decisões pessoais de Deus
Os efeitos de um milagre são sempre naturais, mas a causa é sobrenatural e pessoal
Por isso, são desapropriados os estudos científicos para aferir a eficácia da oração para obter curas miraculosas: Deus é um agente livre, e não uma entidade natural cientificamente analisável
Milagres e Ciência
Os dois tipos de explicação são necessários e não se excluem mutuamenteOs dois tipos de explicação são necessários e não se excluem mutuamente
Veículo de 540 Kg de peso, 3,4 m de comprimento, motor de 4 cilindros em
bloco, caixa epicicloidal de 2 mudanças, 2894 cm3 e 20 cv (15kW) de potência.
Veículo de 540 Kg de peso, 3,4 m de comprimento, motor de 4 cilindros em
bloco, caixa epicicloidal de 2 mudanças, 2894 cm3 e 20 cv (15kW) de potência.
Ford Modelo T (1908-1927) Explicação científica (natural)
Explicação pessoal (decisão livre)
Henry Ford (1863-1947)Henry Ford (1863-1947)
Rudolph Bultmann (1884-1976), teólogo luterano, contra os milagres
Bultmann apenas aceita a Ressurreição como facto sobrenatural, suficiente para a fé cristã
Rejeita os milagres de forma apriorística, confundindo um naturalismo metodológico em História com
um naturalismo ontológico (real, ou seja, inexistência de causas sobrenaturais)
Considera mitológicos os relatos miraculosos do Novo Testamento, legado de uma era pré-científica
A atitude de Bultmann é injustificada: é uma posição filosófica apriorística
Nenhum conhecimento científico, do passado ou do presente, justifica a atitude de Bultmann
A Ciência não prova que a realidade total seja um contínuo fechado de causa e efeito
Introdução
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«O método histórico inclui o pressuposto de que a história é uma
unidade no sentido de um contínuo fechado de efeitos nos quais
eventos individuais estão ligados pela sucessão de causa e efeito.
[Este contínuo, para mais,] não pode ser rasgado pela interferência de
poderes sobrenaturais e transcendentes.»
«(...) é impossível usar a luz eléctrica e [a tecnologia] sem fios e
socorrermo-nos das modernas descobertas médicas e cirúrgicas, e ao
mesmo tempo, acreditar no mundo neotestamentário de espíritos e
milagres.»
«O método histórico inclui o pressuposto de que a história é uma
unidade no sentido de um contínuo fechado de efeitos nos quais
eventos individuais estão ligados pela sucessão de causa e efeito.
[Este contínuo, para mais,] não pode ser rasgado pela interferência de
poderes sobrenaturais e transcendentes.»
«(...) é impossível usar a luz eléctrica e [a tecnologia] sem fios e
socorrermo-nos das modernas descobertas médicas e cirúrgicas, e ao
mesmo tempo, acreditar no mundo neotestamentário de espíritos e
milagres.»
Física clássica Lei da conservação do momento: se nenhuma força externa actua sobre um sistema fechado, então o
momento total do sistema mantém-se constante
Lei da conservação da energia: a energia total de um sistema fechado (isolado) mantém-se constante
Introdução
9
A física clássica é incompatível com milagres?
Isaac Newton (1642-1727), físico, matemático, astrónomo, mas também teólogo
Newton não só aceitava os milagres como postulava a intervenção de Deus de
forma rotineira, por exemplo, para “reformar” as órbitas dos planetas:
As leis da física clássica pressupõem sistemas fechados ou isolados de causas externas!
Qualquer acção externa sobre um sistema físico altera a energia ou o momento desse sistema
Um milagre é uma acção externa sobre um sistema que não está isolado nem fechado!
«Pois enquanto os cometas se movem em órbitas muito excêntricas em todo o tipo
de posições, o destino cego nunca conseguiria fazer mover os planetas de uma só
forma em órbitas concêntricas, salvo irregularidades desprezáveis que podem
resultar da acção mútua entre cometas e planetas, e que tendem a aumentar, até
que este sistema precise de uma reforma.»
«Pois enquanto os cometas se movem em órbitas muito excêntricas em todo o tipo
de posições, o destino cego nunca conseguiria fazer mover os planetas de uma só
forma em órbitas concêntricas, salvo irregularidades desprezáveis que podem
resultar da acção mútua entre cometas e planetas, e que tendem a aumentar, até
que este sistema precise de uma reforma.»
É um disparate afirmar que os milagres contradizem as leis da física clássica!É um disparate afirmar que os milagres contradizem as leis da física clássica!
A tese metafísica de Pierre-Simon Laplace (1749-1827)
Introdução
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«Devemos então ver o estado presente do universo como o efeito do seu
estado anterior, e como a causa do que vem a seguir. Uma inteligência que,
para um dado instante, conhecesse todas as forças das quais a natureza está
animada, e a situação respectiva dos seres que a compõem, se ela fosse
suficientemente vasta para submeter estes dados à análise, abraçaria na
mesma fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do mais
leve átomo: nada seria incerto para ela, e o futuro como o passado, seria
[como] o presente aos seus olhos.»
«Devemos então ver o estado presente do universo como o efeito do seu
estado anterior, e como a causa do que vem a seguir. Uma inteligência que,
para um dado instante, conhecesse todas as forças das quais a natureza está
animada, e a situação respectiva dos seres que a compõem, se ela fosse
suficientemente vasta para submeter estes dados à análise, abraçaria na
mesma fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do mais
leve átomo: nada seria incerto para ela, e o futuro como o passado, seria
[como] o presente aos seus olhos.»
Para além de ser uma tese apriorística, poderá vir a ser falsificada pela MC!Para além de ser uma tese apriorística, poderá vir a ser falsificada pela MC!
Será esta tese de Laplace compatível com os milagres? Não é compatível: Laplace vê o Universo como uma máquina determinística
Se o estado do Universo num instante é totalmente determinado (causado) pelo estado anterior...
... não há qualquer espaço para intervenções causais de Deus
Mas porque é que seria verdadeira esta a tese de Laplace? Ele não a demonstrou...
Como se poderá alguma vez demonstrar que o Universo é um sistema fechado?
Para mais, a Mecânica Quântica permite interpretações epistemológicas indeterministas!
David Hume (1711-1776), filósofo escocês, contra os milagres
O argumento de Hume é falacioso (petição de princípio) e circular:
• Rejeita os milagres de forma apriorística: “[há] experiência uniforme contra todo o evento
miraculoso”
• Os milagres não são reais porque não há testemunhos credíveis de “violação” das leis da Natureza
• Não há testemunhos credíveis dessas “violações”, porque os milagres não são reais
• A confiança de Hume na inviolabilidade das leis da Natureza é contradita pelo próprio, quando Hume
procura refutar um argumento para a existência de Deus a partir da grandeza e racionalidade do Cosmos,
dizendo que “vários mundos poderiam ter sido [criados] defeituosos ou ineptos, por toda uma eternidade”
Introdução
11
«Um milagre é uma violação das leis da natureza. (…) Nada é tido como
milagre, se ocorre no decorrer comum da natureza. (…) Mas é um milagre
que um homem morto possa voltar à vida, porque tal nunca foi observado em
época ou país algum. Deve, então, existir uma experiência uniforme contra
todo o evento miraculoso, ou então o evento não mereceria esse epíteto…
(…) Quando alguém me diz que viu um homem morto voltar à vida, eu
imediatamente tomo em consideração se será mais provável que essa
pessoa esteja enganada ou a querer enganar, ou se o facto que ele relata
poderia realmente ter acontecido.»
«Um milagre é uma violação das leis da natureza. (…) Nada é tido como
milagre, se ocorre no decorrer comum da natureza. (…) Mas é um milagre
que um homem morto possa voltar à vida, porque tal nunca foi observado em
época ou país algum. Deve, então, existir uma experiência uniforme contra
todo o evento miraculoso, ou então o evento não mereceria esse epíteto…
(…) Quando alguém me diz que viu um homem morto voltar à vida, eu
imediatamente tomo em consideração se será mais provável que essa
pessoa esteja enganada ou a querer enganar, ou se o facto que ele relata
poderia realmente ter acontecido.»
Haldane e a imutabilidade das leis da Natureza
John Burdon Sanderson Haldane (1892-1964), geneticista britânico:
Haldane era marxista e materialista, convencido da imutabilidade das leis da Natureza
Mas entendeu que esse materialismo minava os conceitos de verdade e conhecimento
Quando o ser humano toma decisões livres, viola as leis da Natureza?
Qual é a lei, ou leis, da Natureza que determina que eu vou levantar o meu braço aqui e agora?
Qual é a lei, ou leis, da Natureza que determina as minhas convicções?
Mas se negamos o livre arbítrio, se as nossas decisões nunca são livres…
Tudo o que fazemos é determinado pelas leis da Natureza, pelo nosso passado e por influências externas
Mesmo as nossas convicções e ideias estão pré-determinadas
Logo, não podemos saber se o livre arbítrio é verdadeiro ou falso!
Introdução
12
«Se os meus processos mentais estão determinados totalmente
pelo movimento de átomos no meu cérebro, eu não tenho razões
para supor que as minhas crenças são verdadeiras. Elas podem
ser quimicamente consistentes, mas isso não as torna
logicamente consistentes. E então, eu não tenho qualquer razão
para supor que o meu cérebro seja composto por átomos.»
«Se os meus processos mentais estão determinados totalmente
pelo movimento de átomos no meu cérebro, eu não tenho razões
para supor que as minhas crenças são verdadeiras. Elas podem
ser quimicamente consistentes, mas isso não as torna
logicamente consistentes. E então, eu não tenho qualquer razão
para supor que o meu cérebro seja composto por átomos.»
Stokes e a imutabilidade das leis da Natureza
Sir George Gabriel Stokes (1819-1903), matemático e físico britânico
Leccionou de 1849 a 1903 a cátedra lucasiana de Matemáticas em Cambridge
Entre 1891 e 1893, Stokes leccionou as Gifford Lectures
As Gifford Lectures, dedicadas à Teologia Natural, tiveram início em 1888
Os conhecimentos teológicos de Stokes eram notáveis para um físico
Stokes tinha uma ideia teológica correcta acerca da Criação
Stokes sabia que o Deus pessoal do cristianismo criou tudo a partir do nada (“ex nihilo”)
Apenas com esta visão correcta acerca da criação é possível:
A compreensão correcta das leis da natureza como expressão da vontade (“lei”) divina
A compreensão correcta dos milagres como expressão dessa mesma vontade divina
Introdução
13
«Admita-se a existência de um Deus, de um Deus pessoal, e a
possibilidade de milagres decorre imediatamente. (...) se as leis da
natureza são mantidas de acordo com a Sua [de Deus] vontade,
Aquele que as quis pode querer a sua suspensão.» - Stokes, Natural
Theology
«Admita-se a existência de um Deus, de um Deus pessoal, e a
possibilidade de milagres decorre imediatamente. (...) se as leis da
natureza são mantidas de acordo com a Sua [de Deus] vontade,
Aquele que as quis pode querer a sua suspensão.» - Stokes, Natural
Theology
14
1. Introdução
2. As aparições em Fátima
3. O milagre do Sol
4. As testemunhas oculares
5. As explicações
6. Conclusão
Índice
As aparições em Fátima
Lúcia de Jesus dos Santos (1907-2005), Francisco Marto (1908-1919) e Jacinta Marto (1910-1920)
Os videntes
As aparições em Fátima
1915: Lúcia de Jesus, com 7 anos, recebe a guarda do rebanho da família
Escolhe três companheiras de pastoreio: Teresa e Maria Rosa Matias, e Maria Justino
Dirige o rebanho para a encosta norte do monte do Cabeço
Por volta do meio-dia, come a merenda com as companheiras, e depois rezam o terço
Vêem “como que suspensa no ar, sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma estátua de neve que os raios do Sol tornavam algo transparente”
Lúcia diz a sua mãe: “Parecia uma pessoa embrulhada em um lençol”
Esta visão repete-se mais duas vezes a estas raparigas em dias diferentes
1916: Francisco e Jacinta Marto pedem e obtêm dos pais licença para guardar o rebanho
Lúcia passa a pastorear juntamente com os seus primos
Um dia, num monte da propriedade dos pais de Lúcia, no olival de Anastácio, padrinho de Lúcia…
Comeram a merenda e rezaram o terço apressadamente, na ânsia de ir brincar…
Primeiras visões
«Vemos, então, que sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei. A Jacinta e o
Francisco ainda nunca a tinham visto, nem eu Ihes havia falado nela. À maneira que se aproximava, íamos
divisando as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava
transparente como se fora de cristal e duma grande beleza.»
«Vemos, então, que sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei. A Jacinta e o
Francisco ainda nunca a tinham visto, nem eu Ihes havia falado nela. À maneira que se aproximava, íamos
divisando as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava
transparente como se fora de cristal e duma grande beleza.»
As aparições em Fátima
Lúcia diz que “passado bastante tempo, em um dia de Verão”, estavam os três no poço do quinta do Arneiro, quando voltam a ver o Anjo:
A mensagem do Anjo
«Ao chegar junto de nós, disse: “Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.” E ajoelhando em terra,
curvou a fronte até ao chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras: “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero
e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam.”
Depois, erguendo-se, disse: “Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas
súplicas.”»
«Ao chegar junto de nós, disse: “Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.” E ajoelhando em terra,
curvou a fronte até ao chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras: “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero
e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam.”
Depois, erguendo-se, disse: “Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas
súplicas.”»
«De repente, vemos junto de nós a mesma figura ou Anjo, como me parece que era, e diz: “Que fazeis?
Orai, orai muito. Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.
Oferecei constantemente, ao Altíssimo, orações e sacrifícios.” – “Como nos havemos de sacrificar?”,
perguntei. “De tudo que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que
Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o
Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o
Senhor vos enviar.”»
«De repente, vemos junto de nós a mesma figura ou Anjo, como me parece que era, e diz: “Que fazeis?
Orai, orai muito. Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.
Oferecei constantemente, ao Altíssimo, orações e sacrifícios.” – “Como nos havemos de sacrificar?”,
perguntei. “De tudo que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que
Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o
Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o
Senhor vos enviar.”»
As aparições em Fátima
Segundo Lúcia, “passou-se bastante tempo” até que os três voltaram a ver, e pela última vez, o Anjo
Surge de novo numa encosta do monte do Cabeço, pouco acima de Valinhos, no olival da Prégueira:
A mensagem do Anjo
«Logo que aí chegámos, de joelhos, com os rostos em terra, começámos a repetir a oração do Anjo: Meu
Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc. Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando
vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava e vemos o Anjo
tendo em a mão esquerda um Cálix, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de
Sangue dentro do Cálix. O Anjo deixa suspenso no ar o Cálix, ajoelha junto de nós, e faz-nos repetir três
vezes: “Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, (adoro-Vos profundamente e) ofereço-Vos o
preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os
Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E
pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão
dos pobres pecadores.” Depois levanta-se, toma em suas mãos o Cálix e a Hóstia. Dá-me a Sagrada Hóstia
a mim e o Sangue do Cálix divide-O pela Jacinta e o Francisco dizendo ao mesmo tempo: “Tomai e bebei o
Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e
consolai o vosso Deus.” E prostrando-se de novo em terra, repetiu connosco outras três vezes a mesma
oração: Santíssima Trindade... etc., e desapareceu. Nós permanecemos na mesma atitude, repetindo sempre
as mesmas palavras; e quando nos erguemos, vimos que era noite e, por isso, horas de virmos para casa.»
«Logo que aí chegámos, de joelhos, com os rostos em terra, começámos a repetir a oração do Anjo: Meu
Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc. Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando
vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava e vemos o Anjo
tendo em a mão esquerda um Cálix, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de
Sangue dentro do Cálix. O Anjo deixa suspenso no ar o Cálix, ajoelha junto de nós, e faz-nos repetir três
vezes: “Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, (adoro-Vos profundamente e) ofereço-Vos o
preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os
Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E
pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão
dos pobres pecadores.” Depois levanta-se, toma em suas mãos o Cálix e a Hóstia. Dá-me a Sagrada Hóstia
a mim e o Sangue do Cálix divide-O pela Jacinta e o Francisco dizendo ao mesmo tempo: “Tomai e bebei o
Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e
consolai o vosso Deus.” E prostrando-se de novo em terra, repetiu connosco outras três vezes a mesma
oração: Santíssima Trindade... etc., e desapareceu. Nós permanecemos na mesma atitude, repetindo sempre
as mesmas palavras; e quando nos erguemos, vimos que era noite e, por isso, horas de virmos para casa.»
As aparições em Fátima
13 de Maio: primeira aparição de Maria sobre a azinheira:
Sempre segundo Lúcia, esta dialoga com Nossa Senhora:
Lúcia perguntam se os três irão para o Céu, e Maria responde que sim
Maria pergunta se eles querem oferecer os seus sofrimentos em reparação pelos pecados cometidos contra Deus e em súplica pela conversão dos pecadores
Lúcia responde que sim
Maria pede-lhes que rezem o terço todos os dias pela paz no Mundo e pelo fim da Guerra
As aparições de 1917
«Era uma Senhora vestida de branco e mais brilhante que o Sol,
espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de
água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente. A sua face,
indescritivelmente bela não era nem triste, nem alegre, mas séria, com
ar de suave censura. As mãos juntas, como a rezar, apoiadas no peito e
voltadas para cima. Da mão direita pendia um rosário. As vestes
pareciam feitas só de luz. A túnica era branca e branco o manto, orlado
de ouro que cobria a cabeça da Virgem e lhe descia até aos pés. Não se
Lhe viam os cabelos nem as orelhas.»
«Era uma Senhora vestida de branco e mais brilhante que o Sol,
espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de
água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente. A sua face,
indescritivelmente bela não era nem triste, nem alegre, mas séria, com
ar de suave censura. As mãos juntas, como a rezar, apoiadas no peito e
voltadas para cima. Da mão direita pendia um rosário. As vestes
pareciam feitas só de luz. A túnica era branca e branco o manto, orlado
de ouro que cobria a cabeça da Virgem e lhe descia até aos pés. Não se
Lhe viam os cabelos nem as orelhas.»
As aparições em Fátima
13 de Junho: segunda aparição de Maria sobre a azinheira
Acompanhavam os pastorinhos cerca de 50 a 70 pessoas curiosas
Depois, relata Lúcia:
As aparições de 1917
«Lúcia: - Vossemecê que me quer? Nossa Senhora: - Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem,
que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois, direi o que quero. Lúcia pediu a cura de um
doente. - Se se converter, curar-se-á durante o ano. - Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu. - Sim, a
Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para
Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem
a abraçar, prometo a salvação e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a
adornar o seu trono. - Fico cá sozinha? - Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te
deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.»
«Lúcia: - Vossemecê que me quer? Nossa Senhora: - Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem,
que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois, direi o que quero. Lúcia pediu a cura de um
doente. - Se se converter, curar-se-á durante o ano. - Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu. - Sim, a
Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para
Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem
a abraçar, prometo a salvação e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a
adornar o seu trono. - Fico cá sozinha? - Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te
deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.»
«Foi no momento que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o
reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam
estar na parte dessa luz que se elevava para o céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da
mão direita de Nossa Senhora estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados.
Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria ultrajado pelos pecados da humanidade que queria
reparação. Quando se desvaneceu esta visão, a Senhora, envolta ainda na luz que d'Ela irradiava, elevou-se da
arvorezinha sem esforço, suavemente na direcção do leste até desaparecer de todo.»
«Foi no momento que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o
reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam
estar na parte dessa luz que se elevava para o céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da
mão direita de Nossa Senhora estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados.
Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria ultrajado pelos pecados da humanidade que queria
reparação. Quando se desvaneceu esta visão, a Senhora, envolta ainda na luz que d'Ela irradiava, elevou-se da
arvorezinha sem esforço, suavemente na direcção do leste até desaparecer de todo.»
As aparições em Fátima
A mãe de Lúcia não acredita nas visões da filha
Leva-a ao Prior de Fátima, o Padre Manuel Marques Ferreira, e avisa-a:
Lúcia mantém-se firme no testemunho; é bem tratada pelo Padre Ferreira, que se mostra céptico
O Padre Ferreira desconfia de que a aparição seja de origem demoníaca, e di-lo a Lúcia
Com dúvidas, Lúcia decide não ir ao local das aparições na véspera de 13 de Julho
No próprio dia, Lúcia acaba por decidir ir à Cova da Iria; estão lá cerca de duas mil pessoas
Maria reforça o pedido de continuarem a vir nos dias 13 e rezar o terço todos os dias pela Paz
Lúcia pede a Nossa Senhora um milagre para que acreditem neles, e pede várias curas
Maria responde que fará um milagre em Outubro
Maria revela o “segredo”: a visão do Inferno, a devoção ao Sagrado Coração de Maria como forma de salvar almas e evitar uma segunda Guerra, e a visão do “Bispo vestido de branco”
As aparições de 1917
«Não me rales mais! Agora diz ao Senhor Prior que mentiste, para que ele
possa, no Domingo, dizer na Igreja que foi mentira e assim acabar tudo. Isto
tem lá jeito! Toda a gente a correr para a Cova de Iria, a rezar diante duma
carrasqueira!»
«Não me rales mais! Agora diz ao Senhor Prior que mentiste, para que ele
possa, no Domingo, dizer na Igreja que foi mentira e assim acabar tudo. Isto
tem lá jeito! Toda a gente a correr para a Cova de Iria, a rezar diante duma
carrasqueira!»
As aparições em Fátima
Artur de Oliveira Santos (1884-1955), Administrador de Ourém, maçon e anticlerical, rapta os três pastorinhos na manhã de 13 de Agosto e leva-os para sua casa para os convencer a negar tudo
No entretanto, entre cinco e vinte mil pessoas esperavam pelos pastorinhos na Cova da Iria
Fenómenos no local: trovoada e relâmpago, nuvem de fumo sobre a azinheira, paisagem multicolor
Pelas 10 horas de 14 de Agosto, são de novo interrogados na Administração do Concelho
O Administrador tenta que as crianças lhe digam qual o Padre por detrás das “mistificações”
No dia seguinte, 15 de Agosto, são de novo interrogados na Administração do Concelho
Desta vez, são ameaçadas de morte (serem fervidas em óleo) e chamadas uma a uma: no entanto, nem esta estratégia funciona, porque as crianças mantêm a história e não cedem à chantagem:
A acção de Oliveira Santos revela-se um fiasco, e ele liberta as crianças no dia 15 de Agosto
19 de Agosto: quarta aparição de Maria: as crianças estão sozinhas
Maria surge no campo dos Valinhos, pelas 16 horas, por cima de uma azinheira mais altaMaria promete um milagre para Outubro, sem revelar a natureza deste milagreMaria promete que, em Outubro, eles verão São José com o menino ao coloMaria pede que eles continuem a rezar muito pelos pecadores, sobretudo rezando o terço
As aparições de 1917
«Quando, depois de nos terem separado, voltaram a juntar-nos em uma sala da cadeia, dizendo que dentro em
pouco nos vinham buscar para nos fritar, a Jacinta afastou-se para junto duma janela que dava para a feira do
gado. Julguei, a principio, que se estaria a distrair com as vistas; mas não tardei a reconhecer que chorava.»
«Quando, depois de nos terem separado, voltaram a juntar-nos em uma sala da cadeia, dizendo que dentro em
pouco nos vinham buscar para nos fritar, a Jacinta afastou-se para junto duma janela que dava para a feira do
gado. Julguei, a principio, que se estaria a distrair com as vistas; mas não tardei a reconhecer que chorava.»
As aparições em Fátima
Fátima, em 1917, pertencia ao Patriarcado de Lisboa: D. João Evangelista de Lima Vidal, à frente do Patriarcado durante o desterro do Patriarca, “dera ordens terminantes para que nenhum sacerdote interviesse, fosse de que maneira fosse, nos acontecimentos em marcha, proibindo-os mesmo de comparecerem na Cova da Iria ainda que em mera atitude de curiosos” – C. Brochado
O Padre Ferreira (de Fátima) duvidou das aparições desde o início
O Prior do Olival (Vigário da Vara de Ourém), Padre Faustino José Jacinto Ferreira, também duvidou, e motivou os colegas, em nome do Patriarcado a não se envolverem no caso
O pároco de Santa Catarina da Serra chegou a advertir os paroquianos a não irem à Cova da Iria
Na manhã de 13 de Agosto, o Administrador de Ourém, antes de os raptar, interrogou os videntes em casa do Prior de Fátima, Padre Ferreira, o que gerou fortes antipatias do povo contra o Padre
22 de Agosto: o Padre Ferreira pede a publicação de uma carta no Mensageiro de Leiria:
As aparições de 1917
«Com toda a repulsão do coração de padre católico, venho tornar patente e asseverar perante todos os que tiveram
conhecimento ou o possam vir a ter do boato tanto mais infamante e repelente quanto mais perigoso para a minha
existência [o Prior temia ser linchado pela população] e dignidade paroquial, de que fui cúmplice no brusco
arrebatamento das criancinhas, que dizem ver Nossa Senhora, à autoridade de seus pais (...) O administrador não
me confiou o segredo das suas intenções (...) Escolheu a minha casa com que fim? Para se furtar às iras que seu
acto iria promover? Para que o povo se amotinasse, como se amotinou, contra mim, como cúmplice? (...)»
«Com toda a repulsão do coração de padre católico, venho tornar patente e asseverar perante todos os que tiveram
conhecimento ou o possam vir a ter do boato tanto mais infamante e repelente quanto mais perigoso para a minha
existência [o Prior temia ser linchado pela população] e dignidade paroquial, de que fui cúmplice no brusco
arrebatamento das criancinhas, que dizem ver Nossa Senhora, à autoridade de seus pais (...) O administrador não
me confiou o segredo das suas intenções (...) Escolheu a minha casa com que fim? Para se furtar às iras que seu
acto iria promover? Para que o povo se amotinasse, como se amotinou, contra mim, como cúmplice? (...)»
A atitude do Prior de Fátima revela o alheamento inicial das autoridades da Igreja Católica face aos acontecimentos da Cova da Iria
A atitude do Prior de Fátima revela o alheamento inicial das autoridades da Igreja Católica face aos acontecimentos da Cova da Iria
As aparições em Fátima
13 de Setembro: data da quinta aparição de Maria sobre a azinheira
Cerca de dez mil pessoas estão presentes na Cova da Iria perto do local das aparições
Inácio António Marques, funcionário dos Correios em Lisboa, numa carta ao Promotor da Fé datada de 23 de Novembro de 1922, relata o que viu nesse dia:
Inácio Marques foi operado ao estômago em Lisboa no dia 18 de Dezembro de 1917
Foi considerado sem recuperação possível: segundo os médicos, morreria em breve de pneumonia
Enquanto lutava pela sobrevivência, Inácio Marques rezou à Nossa Senhora do Rosário de Fátima
No dia seguinte, estava curado
As aparições de 1917
«Lúcia recitou o rosário à hora indicada. Seguiu-se a sua conversa com a Senhora e assim que ela [Lúcia] disse “Lá
vai ela”, o Sol escureceu ao ponto de a Lua e as estrelas aparecerem no firmamento. O calor diminuiu e uma brisa
passou pelas nossas frontes. Entretanto surgiram, bem alto no ar, de este para oeste, pequenos bocados muito
pequenos como se fossem flocos de neve. Alguns pensaram que eram pombas brancas, mas podia-se ver
perfeitamente que não eram pássaros. De pé bem perto de mim estava o Rev. Padre Joaquim Ferreira Gonçalves
das Neves, pároco de Santa Catarina da Serra. Ao ver que ele olhava sem nada ver, virei-me para ele e perguntei-
lhe se ele via alguma coisa; ele respondeu que não via nada. Indiquei-lhe uma direcção e ele imediatamente me
disse que agora via [os bocados brancos]. Quando o fenómeno terminou, vi o mesmo padre de joelhos a recitar o
rosário. Parece-me que ele foi o primeiro eclesiástico a recitar o rosário juntamente com os outros naquele local
sagrado.»
«Lúcia recitou o rosário à hora indicada. Seguiu-se a sua conversa com a Senhora e assim que ela [Lúcia] disse “Lá
vai ela”, o Sol escureceu ao ponto de a Lua e as estrelas aparecerem no firmamento. O calor diminuiu e uma brisa
passou pelas nossas frontes. Entretanto surgiram, bem alto no ar, de este para oeste, pequenos bocados muito
pequenos como se fossem flocos de neve. Alguns pensaram que eram pombas brancas, mas podia-se ver
perfeitamente que não eram pássaros. De pé bem perto de mim estava o Rev. Padre Joaquim Ferreira Gonçalves
das Neves, pároco de Santa Catarina da Serra. Ao ver que ele olhava sem nada ver, virei-me para ele e perguntei-
lhe se ele via alguma coisa; ele respondeu que não via nada. Indiquei-lhe uma direcção e ele imediatamente me
disse que agora via [os bocados brancos]. Quando o fenómeno terminou, vi o mesmo padre de joelhos a recitar o
rosário. Parece-me que ele foi o primeiro eclesiástico a recitar o rosário juntamente com os outros naquele local
sagrado.»
25
1. Introdução
2. As aparições em Fátima
3. O milagre do Sol
4. As testemunhas oculares
5. As explicações
6. Conclusão
Índice
O milagre do Sol
Avelino de Almeida, jornalista de “O Século”
Fora seminarista na sua juventude, mas não seguiu essa vocação
Com 44 anos na altura dos acontecimentos, Avelino não era o típico jornalista anticlerical, como era frequente na imprensa laica do tempo
No início de Outubro, corriam rumores por todo o país acerca do milagre previsto para o dia 13, que explicam a multidão desse dia na Cova da Iria
Num artigo, escrito antes, que sai na edição de Sábado dia 13 d’”O Século”, Avelino vaticina um fiasco, doloroso para os crentes, para esse Sábado:
O artigo é escrito num tom céptico e algo trocista, por vezes paternalista
Avelino, nesse artigo, teme (e censura) a exploração comercial da situação
Avelino vai para a Cova da Iria com o objectivo de obter um “furo” jornalístico
Chega à estação de comboios de Chão de Maçãs por volta das 16 horas de Sexta-feira dia 12
Faz-se acompanhar do fotógrafo Judah Ruah, sobrinho do famoso olissipógrafo Joshua Benoliel
Uma inesperada testemunha do 13 de Outubro
«EM PLENO SOBRENATURAL! AS APARIÇÕES DE FÁTIMA.
Milhares de pessoas concorrem a uma charneca nos arredores de Ourém
por vêrem e ouvirem a Virgem Maria.»
«EM PLENO SOBRENATURAL! AS APARIÇÕES DE FÁTIMA.
Milhares de pessoas concorrem a uma charneca nos arredores de Ourém
por vêrem e ouvirem a Virgem Maria.»
O milagre do Sol
Edição de Segunda-feira dia 15 de Outubro de 1917, jornal ”O Século”
«(...)
E assiste-se então a um espectáculo unico e inacreditavel para quem não foi testemunha d'ele.
Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas,
a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se
para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zenit. O astro lembra uma placa de prata fosca e
é possivel fitar-lhe o disco sem o minimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-hia estar-se
realisando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se
encontram mais perto se ouve gritar:
- Milagre, milagre! Maravilha, maravilha!
Aos olhos deslumbrados d'aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos biblicos e que,
palido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca
vistos movimentos bruscos fóra de todas as leis cosmicas - o sol «bailou», segundo a tipica
expressão dos camponeses...
(...)»
«(...)
E assiste-se então a um espectáculo unico e inacreditavel para quem não foi testemunha d'ele.
Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas,
a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se
para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zenit. O astro lembra uma placa de prata fosca e
é possivel fitar-lhe o disco sem o minimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-hia estar-se
realisando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se
encontram mais perto se ouve gritar:
- Milagre, milagre! Maravilha, maravilha!
Aos olhos deslumbrados d'aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos biblicos e que,
palido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca
vistos movimentos bruscos fóra de todas as leis cosmicas - o sol «bailou», segundo a tipica
expressão dos camponeses...
(...)»
O milagre do Sol
Avelino de Almeida, ”Ilustração Portugueza”, 29 de Outubro de 1917, p. 353 e 356
O milagre do Sol
Avelino de Almeida, ”Ilustração Portugueza”, 29 de Outubro de 1917, pp. 354-355
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
O milagre do Sol
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1. Introdução
2. As aparições em Fátima
3. O milagre do Sol
4. As testemunhas oculares
5. As explicações
6. Conclusão
Índice
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Avelino de Almeida, jornalista, artigos n’“O Século”, 15-10-1917 e na “Ilustração Portugueza”, 29-10-1917
Correspondente do Diário de Notícias em Ourém
Cónego Manuel Nunes Formigão
Domingos Pinto Coelho, advogado
Carlos Silva
Maria Madalena de Martel Patrício (mulher do juiz António Maria Pereira)
Anónimo, “O Caso de Fátima”, jornal “A Beira Baixa”, 20-10-1917
Padre José António Marques da Cruz Curado, de Penacova
“uma estimável senhora” (Maria Joaquina Proença de Almeida Garrett?), jornal “A Ordem”
António dos Ramos Mira, residente em Reguengo do Fetal
Romano dos Santos
Maria da Conceição Stokler Parente, carta a um padre do Porto, 16-10-1917
Joaquim Gregório Tavares, funcionário dos Correios em Tomar
Maria José de Lemos Queirós, no “Jornal da Beira”, 30-10-1917
Dr. Nascimento e Sousa, advogado de Alcobaça, carta de 31-10-1917
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Ana Maria e Antónia Rafaela da Câmara, testemunho sob juramento, 3-11-1917
João Maria Lúcio Serra, jornal “A Ordem”, 21-11-1917
Maria Augusta Saraiva Vieira de Campos, “A minha peregrinação a Fátima”, Novembro de 1917
Gonçalo Xavier de Almeida Garrett, 3-12-1917
José Maria Proença de Almeida Garrett, antes de 18-12-1917, única testemunha que teria binóculos
Dr. Luís António Vieira de Magalhães e Vasconcelos (Alvaiázere), licenciado em Direito (Coimbra)
Dr. Luís Andrade e Silva, padre, licenciado em Direito (Coimbra)
Maria Caminha, residente na Trav. da Fábrica dos Pentes (Lisboa), jornal “A Guarda” (Porto, 12-1-1918)
Manuel Gonçalves Júnior, local, depoimento feito a 31-12-1917
Jacinto de Almeida Lopes, depoimento feito a 20-12-1917
Olívia Mendes, residente em Leiria, carta ao Bispo de Leiria, 5-6-1922
Manuel da Costa Pereira, carta escrita de Salvaterra de Magos, 3-1-1924, ”A Voz de Fátima” (13-3-
1923)
Anónimo, publicada n’”A Voz de Fátima” (13-9-1924), acerca dos acontecimentos de 13 de Agosto
Maria Carreira (“Maria da Capelinha”)
Maria do Carmo da Cruz Menezes
Alfredo da Silva Santos, lisboeta
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Mariana Pinto Coelho, em carta a sua Tia, a Marquesa da Ribeira Grande, Outubro de 1917: “Vi o sol
descer à terra de uma maneira extraordinária, chegando a incomodar o calor; vi-o andar à roda com velocidade,
como as rodinhas de fogo preso”
Dr. Nascimento e Sousa, advogado em Alcobaça, em carta de 31 de Outubro de 1917: “Nunca mais
passarei momentos tão agradáveis (...) Em face do fenómeno solar que vi, acredito e acredito que houve na
Fátima, no dia 13 de Outubro de 1917, um caso tão extraordinário que enquanto a ciência mo não explicar é única
e exclusivamente obra de Deus”
Dr. Cortês Pinto e sua mulher
Maria Augusta Saraiva Vieira de Campos: “A Minha Peregrinação a Fátima”, Coimbra, Outubro de 1917
Dr. Luís António Vieira de Magalhães (Barão de Alvaiázere), oficial do Registo Civil em Vila Nova de
Ourém, foi à Cova da Iria como descrente: “Recordei, então, como por vezes já tinha recordado, aquele
princípio de Gustavo le Bon que se resume em que o indivíduo numa colectividade não consegue fugir à corrente
hipnótica que o domina. Era preciso precaver-me, não me deixar influenciar. (...) Sei apenas que gritei: creio, creio
creio! E que as lágrimas caíram dos meus olhos maravilhado, extasiado, perante essa manifestação do poder
divino. (...) Então estes fenómenos escapam à previsão da ciência e não escapam à previsão de umas pastorinhas
da serra, que os anunciam com uma precisão verdadeiramente matemática?”
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
No dia 15 de Outubro, o Prior de Fátima escreve ao Rev.º Arcebispo de Mitilene, então à frente do
Patriarcado de Lisboa: “Careço e imploro de V. Exa. Rev.ma urgentes e acertados conselhos para o
governo desta freguesia”
A 3 de Novembro, recebe a resposta: o Prior deve “proceder a um inquérito consciencioso sobre os
factos ocorridos nessa paróquia a seu cargo, no dia 13 do mês passado, ouvindo testemunhas fidedignas,
e principalmente as crianças que se dizem favorecidas de graças singulares do Céu”
O Patriarcado pediu o mesmo ao Arcipreste de Ourém e ao Vigário de Porto de Mós
Este último, o Padre Joaquim Vieira da Rosa, esclarece num ofício de 11 de Novembro de 1917:
“Consultei muitas pessoas sobre o assunto e todas elas confirmam o mesmo que disseram as testemunhas
constantes do mesmo documento, e por isso me abstive de mandar escrever os seus depoimentos. O que
actualmente tem resfriado um pouco a fé de algumas pessoas é uma das pastoras ter dito que a guerra acabaria
naquele dia mesmo ou na noite seguinte, e ela ainda continua com todo o incremento”
De seguida, o Padre de Porto de Mós relata os depoimentos das testemunhas inquiridas:
António dos Ramos Mira, casado, da Freguesia do Reguengo do Fetal: “[o sol] tinha sinais
desusados, girando sobre si, tremendo, observando ao mesmo tempo que em volta dele aparecera uma
cor amarelo-vermelha que se reflectiu em toda a multidão e no horizonte, havendo ao mesmo tempo
afrouxamento de luz e aumento de temperatura”
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Mais depoimentos das testemunhas inquiridas pelo Padre Joaquim Vieira da Rosa:
Angelino Francisco Mira, casado, do Reguengo do Fetal: “viu o sol girando como uma roda de fogo
e que se aproximou da grande multidão (...) e viu também diferentes cores no povo e no horizonte”
Manuel Ribeiro de Carvalho, casado, proprietário, da mesma freguesia: “viu que o sol girou sobre
si mesmo, aproximando-se do povo, e que lançou bastante calor, e ao mesmo tempo observou a cor azul
e encarnada no horizonte”
António Maria Menita, proprietário, da mesma freguesia, viu “mais ou menos como o anterior”
Romano dos Santos, de Alqueidão da Serra, a quem o sol parecia “girando como uma roda de
fogo”
Manuel João Sénior, da mesma freguesia, “olhou perfeitamente para o sol sem incómodo algum para
a vista, e viu-o por três vezes girar como uma roda de fogo, aproximando-se, à hora marcada pelos
pastores”
João Vieira Gomes, da mesma freguesia, “viu o sol girar como uma roda de foto, fitando o sol sem
incómodo para o órgão visual, tremendo ele e gritando toda a multidão por Nossa Senhora”
Manuel Carvalho, da mesma freguesia, “viu o sol baixar, segundo o seu entender, revestiu-se de
várias cores, girando como uma roda de fogo de artifício e que se podia sem incómodo ver”
Domingos Pedro, da mesma freguesia, “viu o sol girar como uma roda de fogo e baixar, segundo o
seu modo de ver, (...) à hora marcada três meses antes”
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Gonçalo Xavier de Almeida Garrett (1841-1925), Professor de Matemáticas na Universidade de
Coimbra
A Biblioteca Nacional contém três referências a obras suas de astronomia:
Theses ex adplicata mathesi quas in conimbricensi academia propugnandes [Tese de
Doutoramento, nas áreas de Mecânica Celeste e Astronomia], Imprensa da Universidade de
Coimbra, 1869
A questão dos planetas intra-mercuriaes, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1869
Estudo sôbre o plano invariavel do systema solar, Imprensa da Universidade de Coimbra,
1870
Os registos da Universidade de Coimbra para o ano lectivo de 1908-09 indicam-no como
professor de:
Álgebra avançada
Geometria analítica a duas e três dimensões
Trigonometria esférica
Em 1917, já com 75 anos, o Prof. Gonçalo Xavier de Almeida Garrett estava reformado
O seu filho, o advogado José Maria Proença de Almeida Garrett, estava com ele no dia 13
As testemunhas oculares
O Cónego Formigão conheceu o Prof. Gonçalo Almeida Garrett e sua mulher no dia 13 de Outubro
Pouco depois, ele pede-lhe um testemunho escrito acerca do que ele presenciou nesse dia
O Professor deixa o seu testemunho numa carta ao Cónego datada de 3 de Dezembro de 1917
A carta é extremamente concisa e objectiva, relatando os factos de forma numerada:
1. O fenómeno [do Sol ao meio-dia] durou entre oito e dez minutos
2. O Sol perdeu o seu brilho encandeante, tomando o aspecto da Lua, podendo ser olhado com
facilidade
3. Durante este período, o Sol por três vezes exibiu um movimento de rotação na [sua]
circunferência, lançando faíscas de luz da borda, tal como uma bem conhecida roda de fogo
4. Este movimento rotativo da borda do Sol, três vezes manifestado e três vezes interrompido, foi
rápido e durou entre oito e dez minutos, ou menos
5. De seguida, o Sol tomou uma cor violeta, e depois laranja, espalhando estas cores por todo o
lado. Finalmente recuperou ou seu brilho e esplendor, impossível de ser observado a olho nu
6. Foi pouco depois do meio-dia [hora solar, uma e meia hora na hora legal] e [com o Sol] perto do
[seu] zénite (o que é da maior importância) que estes eventos tiveram lugar
O testemunho de Gonçalo Xavier de Almeida Garrett (1841-1925)
As testemunhas oculares
O testemunho de José Maria Proença de Almeida Garrett
«Vou relatar de uma maneira breve e concisa, sem frases que velem a verdade, o que vi em Fátima no dia
13 de Outubro de 1917. As horas a que me referirei são as que nessa época marcavam oficialmente o
tempo segundo a determinação do governo que unificara a nossa hora com a dos países beligerantes.
Faço isto para maior verdade, pois não me era fácil designar com precisão o momento em que o sol
alcançou o zenith.
Cheguei ao meio-dia. A chuva que desde manhã caía miúda e persistente, tocada de um vento agreste,
prosseguia, irritante, na ameaça de querer tudo liquefazer. O céu baço e pesado tinha uma cor pardacenta
prenhe de água, prenúncio de chuva abundante e de longa duração.
Quedei-me na estrada, ao abrigo da capota do automóvel e um pouco sobranceiro ao local que diziam ser o
da aparição, não ousando meter-me ao lamaçal barrento e pegajoso do campo frescamente lavrado.
Estaria a pouco mais de cem metros dos elevados postes que uma tosca cruz encimava, vendo
distintamente em redor deles o largo círculo de gente que, com os guardas-chuvas abertos, parecia um
vasto sobrado de broquéis.
Pouco depois da uma hora chegaram a este sítio as crianças a quem a Virgem (garantiam elas) marcara
lugar, dia e hora da aparição. Ouviam-se os cânticos entoados pelo povo que as cercava.
Numa determinada altura esta larga massa, confusa e compacta, fechou os guardas-chuvas e descobriu-se
num gesto que devia ser de humildade ou respeito mas que me deixou surpreso e admirado, porque a
chuva, numa continuidade cega, molhava agora cabeças, encharcava e ensopava. Disseram-me depois
que esta gente, que acabou por ajoelhar na lama, tinha obedecido à voz de uma criança.
«Vou relatar de uma maneira breve e concisa, sem frases que velem a verdade, o que vi em Fátima no dia
13 de Outubro de 1917. As horas a que me referirei são as que nessa época marcavam oficialmente o
tempo segundo a determinação do governo que unificara a nossa hora com a dos países beligerantes.
Faço isto para maior verdade, pois não me era fácil designar com precisão o momento em que o sol
alcançou o zenith.
Cheguei ao meio-dia. A chuva que desde manhã caía miúda e persistente, tocada de um vento agreste,
prosseguia, irritante, na ameaça de querer tudo liquefazer. O céu baço e pesado tinha uma cor pardacenta
prenhe de água, prenúncio de chuva abundante e de longa duração.
Quedei-me na estrada, ao abrigo da capota do automóvel e um pouco sobranceiro ao local que diziam ser o
da aparição, não ousando meter-me ao lamaçal barrento e pegajoso do campo frescamente lavrado.
Estaria a pouco mais de cem metros dos elevados postes que uma tosca cruz encimava, vendo
distintamente em redor deles o largo círculo de gente que, com os guardas-chuvas abertos, parecia um
vasto sobrado de broquéis.
Pouco depois da uma hora chegaram a este sítio as crianças a quem a Virgem (garantiam elas) marcara
lugar, dia e hora da aparição. Ouviam-se os cânticos entoados pelo povo que as cercava.
Numa determinada altura esta larga massa, confusa e compacta, fechou os guardas-chuvas e descobriu-se
num gesto que devia ser de humildade ou respeito mas que me deixou surpreso e admirado, porque a
chuva, numa continuidade cega, molhava agora cabeças, encharcava e ensopava. Disseram-me depois
que esta gente, que acabou por ajoelhar na lama, tinha obedecido à voz de uma criança.
As testemunhas oculares
O testemunho de José Maria Proença de Almeida Garrett
«Devia ser uma e meia (treze e meia) quando se ergueu, no local preciso onde estavam as crianças, uma
coluna de fumo, delgada, ténue e azulada, que subiu direita até dois metros, talvez, acima das cabeças
para nessa altura se esvair. Durou este fenómeno, perfeitamente visível a olho nu, alguns segundos. Não
tendo marcado o tempo da duração, não posso afirmar se foi mais ou menos de um minuto. Dissipou-se
bruscamente o fumo, e passado algum tempo voltou a repetir-se o fenómeno, uma segunda e uma terceira
vez. Das três vezes, e sobretudo da última, destacaram-se nitidamente os postes esguios na atmosfera
cinzenta. Dirigi para lá o binóculo. Nada consegui ver além das colunas de fumo, mas convencido fiquei de
que eram produzidas por algum turíbulo, não agitado, em que se queimava incenso. Depois pessoas
dignas de fé afirmaram-me que era uso produzir-se o acontecimento nos dias treze dos cinco meses
anteriores, e que nesses dias, como neste, nunca ali se queimara nada nem se fizera fogo.
Continuando a olhar o lugar da aparição, numa espectativa serena e fria e com uma curiosidade que ia
amortecendo, porque o tempo decorrera longo e vagaroso sem que nada activasse a minha atenção, ouvi o
bruaá de milhares de vozes e vi aquela multidão, espraiada pelo largo campo que se estendia a meus pés,
ou concentrada em vagas compactas em redor dos madeiros erguidos, ou sobre os baixos socalcos que
retinham as terras, voltar as costas ao ponto para o qual até então convergiam os desejos e ânsias e olhar
o céu do lado oposto.
Eram quase duas horas. O sol, momentos antes, tinha rompido ovante a densa camada de nuvens que o
tivera escondido, para brilhar clara e intensamente. Voltei-me para este imã que atraía todos os olhares e
pude vê-lo semelhante a um disco de bordo nítido e aresta viva, luminosa e luzente, mas sem magoar.
«Devia ser uma e meia (treze e meia) quando se ergueu, no local preciso onde estavam as crianças, uma
coluna de fumo, delgada, ténue e azulada, que subiu direita até dois metros, talvez, acima das cabeças
para nessa altura se esvair. Durou este fenómeno, perfeitamente visível a olho nu, alguns segundos. Não
tendo marcado o tempo da duração, não posso afirmar se foi mais ou menos de um minuto. Dissipou-se
bruscamente o fumo, e passado algum tempo voltou a repetir-se o fenómeno, uma segunda e uma terceira
vez. Das três vezes, e sobretudo da última, destacaram-se nitidamente os postes esguios na atmosfera
cinzenta. Dirigi para lá o binóculo. Nada consegui ver além das colunas de fumo, mas convencido fiquei de
que eram produzidas por algum turíbulo, não agitado, em que se queimava incenso. Depois pessoas
dignas de fé afirmaram-me que era uso produzir-se o acontecimento nos dias treze dos cinco meses
anteriores, e que nesses dias, como neste, nunca ali se queimara nada nem se fizera fogo.
Continuando a olhar o lugar da aparição, numa espectativa serena e fria e com uma curiosidade que ia
amortecendo, porque o tempo decorrera longo e vagaroso sem que nada activasse a minha atenção, ouvi o
bruaá de milhares de vozes e vi aquela multidão, espraiada pelo largo campo que se estendia a meus pés,
ou concentrada em vagas compactas em redor dos madeiros erguidos, ou sobre os baixos socalcos que
retinham as terras, voltar as costas ao ponto para o qual até então convergiam os desejos e ânsias e olhar
o céu do lado oposto.
Eram quase duas horas. O sol, momentos antes, tinha rompido ovante a densa camada de nuvens que o
tivera escondido, para brilhar clara e intensamente. Voltei-me para este imã que atraía todos os olhares e
pude vê-lo semelhante a um disco de bordo nítido e aresta viva, luminosa e luzente, mas sem magoar.
As testemunhas oculares
O testemunho de José Maria Proença de Almeida Garrett
«Não me pareceu bem a comparação, que ainda em Fátima ouvi fazer, de um disco de prata fosca. Era
uma cor mais clara, activa e rica, e com cambiantes, tendo como que o oriente de uma pérola. Em nada se
assemelhava à lua em noite transparente e pura, porque se via e sentia-se ser um astro vivo.
Não era, como a lua, esférica, não tinha a mesma tonalidade nem os claros-escuros. Parecia uma rodela
brunida cortada no nácar de uma concha. Isto não é uma comparação banal de poesia barata. Os meus
olhos viram assim; também se não confundia com o sol encarado através de nevoeiro (que aliás não havia
àquele tempo), porque não era opaco, difuso e velado. Em Fátima tinha luz e calor e desenhava-se nítido e
com a borda cortada em aresta, como uma tábua de jogo.
A abóbada celeste estava enevoada de cirrus leves, tendo frestas de azul aqui e acolá, mas o sol algumas
vezes se destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens que corriam ligeiras de poente para oriente não
empanavam a luz (que não feria) do sol, dando a impressão facilmente compreensível e explicável de
passar por detrás, mas por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol,
uma tonalidade rosa ou azul diáfana.
Maravilhoso é que, durante longo tempo, se pudesse fixar o astro, labareda de luz e brasa de calor, sem
uma dor nos olhos e sem um deslumbramento na retina, que cegasse.
Este fenómeno, com duas breves interrupções, em que o sol bravio arremessou os seus raios mais
coruscantes e refulgentes, e que obrigaram a desviar o olhar, devia ter durado cerca de dez minutos.
Este disco nacarado tinha a vertigem do movimento. Não era a cintilação de um astro em plena vida. Girava
sobre si mesmo numa velocidade arrebatada.
«Não me pareceu bem a comparação, que ainda em Fátima ouvi fazer, de um disco de prata fosca. Era
uma cor mais clara, activa e rica, e com cambiantes, tendo como que o oriente de uma pérola. Em nada se
assemelhava à lua em noite transparente e pura, porque se via e sentia-se ser um astro vivo.
Não era, como a lua, esférica, não tinha a mesma tonalidade nem os claros-escuros. Parecia uma rodela
brunida cortada no nácar de uma concha. Isto não é uma comparação banal de poesia barata. Os meus
olhos viram assim; também se não confundia com o sol encarado através de nevoeiro (que aliás não havia
àquele tempo), porque não era opaco, difuso e velado. Em Fátima tinha luz e calor e desenhava-se nítido e
com a borda cortada em aresta, como uma tábua de jogo.
A abóbada celeste estava enevoada de cirrus leves, tendo frestas de azul aqui e acolá, mas o sol algumas
vezes se destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens que corriam ligeiras de poente para oriente não
empanavam a luz (que não feria) do sol, dando a impressão facilmente compreensível e explicável de
passar por detrás, mas por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol,
uma tonalidade rosa ou azul diáfana.
Maravilhoso é que, durante longo tempo, se pudesse fixar o astro, labareda de luz e brasa de calor, sem
uma dor nos olhos e sem um deslumbramento na retina, que cegasse.
Este fenómeno, com duas breves interrupções, em que o sol bravio arremessou os seus raios mais
coruscantes e refulgentes, e que obrigaram a desviar o olhar, devia ter durado cerca de dez minutos.
Este disco nacarado tinha a vertigem do movimento. Não era a cintilação de um astro em plena vida. Girava
sobre si mesmo numa velocidade arrebatada.
As testemunhas oculares
O testemunho de José Maria Proença de Almeida Garrett
A certa altura, o advogado fornece detalhes meteorológicos muito importantes:
Presença de nuvens de tipo cirro (feitas de cristais de gelo, formam-se a altas altitudes)
Vento de Poente para Oriente que arrastava as nuvens em frente ao Sol
O advogado diz que, por vezes, essas nuvens pareciam passar por detrás do Sol
Este detalhe é fundamental: mostra que a imagem aparente do Sol estava a ser formada na atmosfera, sendo o aspecto do Sol distorcido ao atravessar as nuvens
Este testemunho não é o único que contém detalhes meteorológicos, mas é dos melhores
«A abóbada celeste estava enevoada de cirrus leves, tendo frestas de azul aqui e
acolá, mas o sol algumas vezes se destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens que
corriam ligeiras de poente para oriente não empanavam a luz (que não feria) do sol,
dando a impressão facilmente compreensível e explicável de passar por detrás, mas
por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol,
uma tonalidade rosa ou azul diáfana.»
«A abóbada celeste estava enevoada de cirrus leves, tendo frestas de azul aqui e
acolá, mas o sol algumas vezes se destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens que
corriam ligeiras de poente para oriente não empanavam a luz (que não feria) do sol,
dando a impressão facilmente compreensível e explicável de passar por detrás, mas
por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol,
uma tonalidade rosa ou azul diáfana.»
As testemunhas oculares
O testemunho de José Maria Proença de Almeida Garrett
«De repente ouve-se um clamor, como que um grito de angústia de todo aquele povo. O sol, conservando a
celeridade da sua rotação, destaca-se do firmamento e sanguíneo avança sobre a terra ameaçando
esmagar-nos com o peso da sua ígnea e ingente mó. São segundos de impressão terrífica.
Durante o acidente solar, que detalhadamente tenho vindo a descrever, houve na atmosfera coloridos
impressionantes. Não posso precisar bem a ocasião, porque já lá vão dois meses passados e eu não tomei
notas. Lembra-me que não foi logo no princípio e antes creio que foi para o fim. Estando a fixar o sol, notei
que tudo escurecia à minha volta. Olhei o que estava perto e alonguei a vista até ao extremo horizonte e vi
tudo cor de ametista. Os objectos, o céu e a camada atmosférica tinham a mesma cor. Uma carvalheira
arroxeada, que se erguia na minha frente, lançava sobre a terra uma sombra carregada. Receando ter
sofrido uma afecção de retina, hipótese pouco provável, porque, dado este caso, não devia ver as coisas
de roxo, voltei-me, cerrei as pálpebras e retive-as com as mãos para interceptar a luz. Ainda de costas abri
os olhos e reconheci que, como antes, a paisagem e o ar continuavam da mesma cor roxa.
A impressão que se tinha não era de eclipse. Vi um eclipse do sol, que em Viseu, onde eu estava, foi total.
À medida que a lua marcha a esconder o sol, a luz vai-se acinzentando até que tudo se torna baço e negro.
A vista alcança um pequeno circo, para lá do qual os objectos se vão tornando cada vez mais confusos até
que se perdem no negrume. Baixa a temperatura consideravelmente e dir-se-á que a vida da terra se
extinguiu. Em Fátima, a atmosfera, embora roxa, permaneceu transparente até nos confins do horizonte
que se distingue e vê claramente, e eu não tive a sensação de uma paragem de energia universal.
«De repente ouve-se um clamor, como que um grito de angústia de todo aquele povo. O sol, conservando a
celeridade da sua rotação, destaca-se do firmamento e sanguíneo avança sobre a terra ameaçando
esmagar-nos com o peso da sua ígnea e ingente mó. São segundos de impressão terrífica.
Durante o acidente solar, que detalhadamente tenho vindo a descrever, houve na atmosfera coloridos
impressionantes. Não posso precisar bem a ocasião, porque já lá vão dois meses passados e eu não tomei
notas. Lembra-me que não foi logo no princípio e antes creio que foi para o fim. Estando a fixar o sol, notei
que tudo escurecia à minha volta. Olhei o que estava perto e alonguei a vista até ao extremo horizonte e vi
tudo cor de ametista. Os objectos, o céu e a camada atmosférica tinham a mesma cor. Uma carvalheira
arroxeada, que se erguia na minha frente, lançava sobre a terra uma sombra carregada. Receando ter
sofrido uma afecção de retina, hipótese pouco provável, porque, dado este caso, não devia ver as coisas
de roxo, voltei-me, cerrei as pálpebras e retive-as com as mãos para interceptar a luz. Ainda de costas abri
os olhos e reconheci que, como antes, a paisagem e o ar continuavam da mesma cor roxa.
A impressão que se tinha não era de eclipse. Vi um eclipse do sol, que em Viseu, onde eu estava, foi total.
À medida que a lua marcha a esconder o sol, a luz vai-se acinzentando até que tudo se torna baço e negro.
A vista alcança um pequeno circo, para lá do qual os objectos se vão tornando cada vez mais confusos até
que se perdem no negrume. Baixa a temperatura consideravelmente e dir-se-á que a vida da terra se
extinguiu. Em Fátima, a atmosfera, embora roxa, permaneceu transparente até nos confins do horizonte
que se distingue e vê claramente, e eu não tive a sensação de uma paragem de energia universal.
As testemunhas oculares
O testemunho de José Maria Proença de Almeida Garrett
«Continuando a olhar o sol, reparei que o ambiente tinha aclarado. Logo depois ouvi um campónio que
cerca de mim estava a dizer com voz de pasmo: “esta senhora está amarela!”
De facto tudo agora mudara, perto e distante, tomando a cor de velhos damascos amarelos. As pessoas
pareciam doentias e com icterícia. Sorri-me de as achar francamente feias e desairosas. Ouviram-se risos.
A minha mão tinha o mesmo tom amarelo. Dias depois fiz a experiência de fixar o sol uns breves instantes.
Retirada a vista, vi, após alguns momentos, manchas amarelas, irregulares na forma.
Não se vê tudo de uma cor uniforme, como se no ar se tivesse volatilizado um topázio, mas nódoas ou
malhas que com o movimento do olhar se deslocam. Todos estes fenómenos que citei e descrevi observei-
os eu sossegada e serenamente sem uma emoção ou sobressalto.
A outros cumpre-os explicá-los ou interpretá-los.
Para terminar devo fazer a afirmação de que nunca, nem antes, nem depois do dia 13 de Outubro, vi iguais
fenómenos solares ou atmosféricos»
«Continuando a olhar o sol, reparei que o ambiente tinha aclarado. Logo depois ouvi um campónio que
cerca de mim estava a dizer com voz de pasmo: “esta senhora está amarela!”
De facto tudo agora mudara, perto e distante, tomando a cor de velhos damascos amarelos. As pessoas
pareciam doentias e com icterícia. Sorri-me de as achar francamente feias e desairosas. Ouviram-se risos.
A minha mão tinha o mesmo tom amarelo. Dias depois fiz a experiência de fixar o sol uns breves instantes.
Retirada a vista, vi, após alguns momentos, manchas amarelas, irregulares na forma.
Não se vê tudo de uma cor uniforme, como se no ar se tivesse volatilizado um topázio, mas nódoas ou
malhas que com o movimento do olhar se deslocam. Todos estes fenómenos que citei e descrevi observei-
os eu sossegada e serenamente sem uma emoção ou sobressalto.
A outros cumpre-os explicá-los ou interpretá-los.
Para terminar devo fazer a afirmação de que nunca, nem antes, nem depois do dia 13 de Outubro, vi iguais
fenómenos solares ou atmosféricos»
As testemunhas oculares
Afirmações comuns a quase todos os testemunhos oculares
Manhã de chuva, céu muito carregado, Sol totalmente coberto, lamaçal na Cova da Iria
Por volta da uma e meia (meio-dia solar), a chuva pára
Por três vezes, eleva-se uma coluna de fumo perto das crianças (nada arde no local)
Lúcia avisa a multidão de que esta deve olhar para o céu: fecham-se os chapéus de chuva
O Sol torna-se claramente visível e com forma nítida mas o céu não está limpo
É possível olhar para o Sol sem ferir a vista ou prejudicar a retina
O contorno do Sol (e não o Sol todo) dá a impressão de girar sobre si mesmo, "faiscando"
Este fenómeno é multicolor, e as várias cores afectam a cor dos objectos e das pessoas no solo
A certa altura, o Sol dá a impressão de aumentar de tamanho, como se fosse cair sobre a Terra
Este fenómeno repete-se algumas vezes, lançando o terror sobre as pessoas
O Sol volta ao seu estado normal, descoberto, e nesta fase já não é possível olhar para ele
Várias pessoas relatam que as suas roupas, antes molhadas, ficaram subitamente secas
59
1. Introdução
2. As aparições em Fátima
3. O milagre do Sol
4. As testemunhas oculares
5. As explicações
6. Conclusão
Índice
As explicações
Alucinação colectiva?
O poeta Afonso Lopes Vieira (1878-1946) viu o fenómeno da sua varanda em São Pedro de
Moel
Distância em linha recta de São Pedro de Moel ao local das aparições: 33,7 Km
«Nesse dia 13 de Outubro de 1917, eu, que não me lembrava da predição dos pastorinhos,
fiquei encantado com um espectáculo deslumbrante diante de mim, para mim inteiramente inédito,
a que assisti dessa varanda» - 20 de Outubro de 1935
A sua mulher Helena e a sua sogra também o viram
A 12 de Agosto de 1929, inaugurou uma capela junto
de sua casa, dedicada a Nossa Senhora de Fátima
As explicações
Alucinação colectiva?
O testemunho de Inácio Lourenço Pereira, rapaz de Alburitel, com nove anos em 1917
O seu irmão Joaquim Lourenço (1905-1963), com doze anos, também testemunhou o fenómeno
Inácio seguiria o sacerdócio, ingressando no Seminário de São José em Mangalore (Índia)
A pedido do Bispo, redige um primeiro depoimento a 13 de Julho de 1931
O depoimento é publicado na edição de Julho de 1931 do Catholic Register de Meliapore:
«Tinha então apenas 9 anos e frequentava a escola de primeiras letras da minha aldeia... Era meio dia
mais ou menos quando fomos sobressaltados pelos gritos e exclamações de alguns homens e mulheres
que passavam na rua diante da nossa escola. A professora, senhora muito boa e piedosa, mais facilmente
impressionável e excessivamente tímida, foi a primeira a correr para a rua, sem poder impedir que todas as
crianças corressem atrás dela. Na rua o povo chorava e gritava, apontando para o sol, sem atender às
perguntas que aflitíssima lhe fazia a nossa professora. Era o grande Milagre, que se via distintissimamente
do alto do monte, onde fica situada a minha terra: era o Milagre do sol, com todos os seus fenómenos
extraordinários.
Sinto-me incapaz de o descrever, como o vi e senti então. Eu olhava fixamente para o sol, e parecia-me
pálido de modo que não cegava os olhos: era como um globo de neve a rodar sobre si mesmo. Depois, de
repente, pareceu que baixava em zig-zag ameaçando cair sobre a terra. Aterrado, corri a meter-me no meio
da gente. Todos choravam aguardando de um instante para o outro o fim do mundo.»
«Tinha então apenas 9 anos e frequentava a escola de primeiras letras da minha aldeia... Era meio dia
mais ou menos quando fomos sobressaltados pelos gritos e exclamações de alguns homens e mulheres
que passavam na rua diante da nossa escola. A professora, senhora muito boa e piedosa, mais facilmente
impressionável e excessivamente tímida, foi a primeira a correr para a rua, sem poder impedir que todas as
crianças corressem atrás dela. Na rua o povo chorava e gritava, apontando para o sol, sem atender às
perguntas que aflitíssima lhe fazia a nossa professora. Era o grande Milagre, que se via distintissimamente
do alto do monte, onde fica situada a minha terra: era o Milagre do sol, com todos os seus fenómenos
extraordinários.
Sinto-me incapaz de o descrever, como o vi e senti então. Eu olhava fixamente para o sol, e parecia-me
pálido de modo que não cegava os olhos: era como um globo de neve a rodar sobre si mesmo. Depois, de
repente, pareceu que baixava em zig-zag ameaçando cair sobre a terra. Aterrado, corri a meter-me no meio
da gente. Todos choravam aguardando de um instante para o outro o fim do mundo.»
As explicações
Alucinação colectiva?
O Padre Inácio faria novo depoimento em 1952:
«Junto de nós estava um incrédulo, sem religião, que tinha passado a manhã a mofar dos simplórios que
faziam toda aquela caminhada da Fátima para irem ver uma rapariga. Olhei para ele: estava como
paralisado, assombrado, com os olhos fitos no sol. Depois vi-o tremer dos pés à cabeça, e levantando as
mãos ao céu, caiu de joelhos na lama, gritando: - Nossa Senhora! Nossa Senhora!
Entretanto, a gente continuava a gritar e a chorar pedindo a Deus perdão dos próprios pecados... Depois
corremos para as duas capelas da aldeia, que em poucos instantes ficaram repletas... Durante estes longos
minutos do fenómeno solar... os objectos à volta de nós reflectiam todas as cores do arco-íris. Olhando uns
para os outros, um parecia azul, outro amarelo, outro vermelho, etc... Todos estes estranhos fenómenos,
aumentavam o terror do povo. Passados uns dez minutos, o sol voltou ao seu lugar, do mesmo modo
como tinha descido, pálido ainda e sem esplendor... Quando a gente se persuadiu de que o perigo tinha
desaparecido, foi uma explosão de alegria. Todos prorromperam num coro de acção de graças: - Milagre!
Milagre! Bendita seja Nossa Senhora!»
«Junto de nós estava um incrédulo, sem religião, que tinha passado a manhã a mofar dos simplórios que
faziam toda aquela caminhada da Fátima para irem ver uma rapariga. Olhei para ele: estava como
paralisado, assombrado, com os olhos fitos no sol. Depois vi-o tremer dos pés à cabeça, e levantando as
mãos ao céu, caiu de joelhos na lama, gritando: - Nossa Senhora! Nossa Senhora!
Entretanto, a gente continuava a gritar e a chorar pedindo a Deus perdão dos próprios pecados... Depois
corremos para as duas capelas da aldeia, que em poucos instantes ficaram repletas... Durante estes longos
minutos do fenómeno solar... os objectos à volta de nós reflectiam todas as cores do arco-íris. Olhando uns
para os outros, um parecia azul, outro amarelo, outro vermelho, etc... Todos estes estranhos fenómenos,
aumentavam o terror do povo. Passados uns dez minutos, o sol voltou ao seu lugar, do mesmo modo
como tinha descido, pálido ainda e sem esplendor... Quando a gente se persuadiu de que o perigo tinha
desaparecido, foi uma explosão de alegria. Todos prorromperam num coro de acção de graças: - Milagre!
Milagre! Bendita seja Nossa Senhora!»
«Frequentei a escola elementar de Alburitel no Concelho de Vila Nova de Ourém. Naquele dia de 13 de
Outubro de 1917, os meus pais foram a Fátima, como fizeram outras pessoas da região, porque havia
rumores de que Nossa Senhora tinha anunciado um milagre para esse dia. Eu era um rapaz novo e na
noite anterior eu tinha feito umas asneiras na plantação de melão de um vizinho. Como castigo os meus
pais não me levaram. Estava na escola e lembro-me distintamente de que chovia fortemente.»
«Frequentei a escola elementar de Alburitel no Concelho de Vila Nova de Ourém. Naquele dia de 13 de
Outubro de 1917, os meus pais foram a Fátima, como fizeram outras pessoas da região, porque havia
rumores de que Nossa Senhora tinha anunciado um milagre para esse dia. Eu era um rapaz novo e na
noite anterior eu tinha feito umas asneiras na plantação de melão de um vizinho. Como castigo os meus
pais não me levaram. Estava na escola e lembro-me distintamente de que chovia fortemente.»
As explicações
Alucinação colectiva?
«De repente a chuva parou e ouvimos pessoas a gritar lá fora. A professora não nos conseguiu conter. Na
rua, a multidão, eu diria mesmo a maioria da aldeia, apontava para o céu. Por momentos vimos um tipo de
clarabóia muito brilhante por entre as nuvens negras, como se fosse uma abertura no céu. Raios do sol
projectados através dessa abertura como se fossem várias fitas caindo através dessa abertura baixa, e no
meio dela [da clarabóia], mesmo no topo, bem mais alto, o sol começava a perder o seu brilho. No entanto,
não cegava. Era como uma roda de fogo, muito grande e avermelhada. Um minuto depois (cerca de um
minuto, não sei), “aquela roda” começou a rodar sobre si mesma a grande velocidade, lançando chamas de
várias cores. Alguns disseram: “Parece a mó do moinho de Verdasca” (havia um moinho mecânico perto de
Ourém). As cores do céu reflectiam-se nas caras das pessoas. Algumas diziam, “Estás amarelo”. Outras,
“Estás vermelho” (todas as cores do arco-íris). E todos desataram em pranto, “É o fim do mundo! Nossa
Senhora nos salve!”. Entretanto muitos largaram as ferramentas que transportavam e correram para a
capela para rezar em voz alta.
Pouco depois o sol começou a descer, em zig-zag, através da abertura da clarabóia, de tal forma que
apareceu mesmo acima do topo da torre da igreja. Ficou ali por dois ou três minutos. O povo ajoelhou-se
na lama. Então o sol começou a subir, sempre para cima, e a rodar. Mais um momento e depois a
gigantesca roda de fogo tornou-se no sol normal, e a cegar-nos como de costume quando tentamos olhar
para ele.»
«De repente a chuva parou e ouvimos pessoas a gritar lá fora. A professora não nos conseguiu conter. Na
rua, a multidão, eu diria mesmo a maioria da aldeia, apontava para o céu. Por momentos vimos um tipo de
clarabóia muito brilhante por entre as nuvens negras, como se fosse uma abertura no céu. Raios do sol
projectados através dessa abertura como se fossem várias fitas caindo através dessa abertura baixa, e no
meio dela [da clarabóia], mesmo no topo, bem mais alto, o sol começava a perder o seu brilho. No entanto,
não cegava. Era como uma roda de fogo, muito grande e avermelhada. Um minuto depois (cerca de um
minuto, não sei), “aquela roda” começou a rodar sobre si mesma a grande velocidade, lançando chamas de
várias cores. Alguns disseram: “Parece a mó do moinho de Verdasca” (havia um moinho mecânico perto de
Ourém). As cores do céu reflectiam-se nas caras das pessoas. Algumas diziam, “Estás amarelo”. Outras,
“Estás vermelho” (todas as cores do arco-íris). E todos desataram em pranto, “É o fim do mundo! Nossa
Senhora nos salve!”. Entretanto muitos largaram as ferramentas que transportavam e correram para a
capela para rezar em voz alta.
Pouco depois o sol começou a descer, em zig-zag, através da abertura da clarabóia, de tal forma que
apareceu mesmo acima do topo da torre da igreja. Ficou ali por dois ou três minutos. O povo ajoelhou-se
na lama. Então o sol começou a subir, sempre para cima, e a rodar. Mais um momento e depois a
gigantesca roda de fogo tornou-se no sol normal, e a cegar-nos como de costume quando tentamos olhar
para ele.»
As explicações
As explicações
Uma fotografia enganadora?
Esta fotografia circula pela Internet, referenciada como “fotografia original” do milagre do Sol
Consta que foi publicada pelo jornal “L’Osservatore Romano” em 1951 (não pude confirmar)
Mesmo que tenha sido tirada nesse dia, foi ao pôr-do-sol, e não ao meio-dia solar (zénite)
As explicações
As explicações possíveis
O fenómeno não ocorreu
1. Farsa: as testemunhas inventaram os seus testemunhosX Testemunhas neutras ou cépticas: Avelino de Almeida, Barão de Alvaiázere, etc.
2. Alucinação colectiva: as testemunhas julgaram ver algo que não aconteceuX Testemunhas fora da Cova da Iria: Afonso Lopes Vieira, Inácio Lourenço Pereira, etc.
O fenómeno ocorreu
3. Astronómico: o Sol moveu-seX Nada de irregular acerca do Sol foi registado em qualquer observatório astronómico
4. Extraterrestre: um OVNI estaria na origem do fenómenoX É mais difícil fundamentar esta explicação do que o próprio fenómeno, e além disso não explica a previsão
5. Atmosférico: o Sol não se moveu, as testemunhas viram distorções atmosféricas
• Natural: um raro e belo fenómeno ocorreu, mas tem explicação natural
Os pastorinhos previram com antecedência o dia, a hora e o local
Sobrenatural: o fenómeno não se explica inteiramente por via natural
3. A explicação sobrenatural é a mais consistente e racional
As explicações
Uma explicação natural?
Não há explicação natural para a previsão do fenómeno por parte dos pastorinhos
Mas pode haver explicação natural para o fenómeno em si mesmo
Fenómenos atmosféricos que alteram a aparência do Sol são bem conhecidos, apesar de raros
No entanto, o fenómeno de 13 de Outubro de 1917 apresenta propriedades bem mais
complexas
Iridescência rara em nuvens de tipo cirroMontanha Oquirrh, no norte do Utah (EUA)
25 de Novembro de 1998
Raro halo solar criado por cristais de gelo Estação do Pólo Sul
21 de Dezembro de 1980
As explicações
A explicação do Padre Stanley Jaki
A imagem (aparente) do Sol formou-se dentro de nuvens de tipo cirro (feitas de cristais de gelo)
Isso explicaria a alusão de algumas testemunhas à impressão de ver nuvens atrás do Sol
Nuvens de vapor de água ou de cristais de gelo podem explicar o “filtro” translúcido que deu
opacidade ao Sol, permitindo que este fosse observado sem esforço ou sem impressionar a retina
As cores amarela, vermelha e púrpura são as principais cores do espectro visível:
Surgem naturalmente pela refracção dos raios solares nas gotas de água ou nos cristais de gelo
A refracção da luz solar é mais intensa ao pôr-do-sol, o que torna o milagre do Sol mais exótico
Nuvens de cristais de gelo podem actuar como lentes, ampliando a imagem (aparente) do Sol
A rotação destas “lentes” por acção do vento, pode explicar o efeito “roda de fogo”
Um fenómeno de inversão térmica, com correntes de ar quente descendente, pode explicar:
O calor relatado pelas testemunhas e a secagem estranhamente rápida das suas roupas
A ilusão de que o Sol se aproximava da Terra, pela descida das “lentes” de cristais de
gelo Esta explicação natural não afecta o carácter miraculoso da previsão! Esta explicação natural não afecta o carácter miraculoso da previsão!
69
1. Introdução
2. As aparições em Fátima
3. O milagre do Sol
4. As testemunhas oculares
5. As explicações
6. Conclusão
Índice
Conclusão
Para saber mais...
“Documentação crítica de Fátima”, Santuário de Fátima, 1992-...
Centro de Estudos de História Religiosa da UCP
Serviço de Estudos e Difusão do Santuário, Pe. Luciano Cristino
Vol. I: Interrogatórios aos Videntes (1917)
Vol. II: Processo Canónico Diocesano (1922-1930)
Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 1 (1917-1918)
Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 2 (1918-1920)
Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 3 (1920-1922)
Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania
1 (3 Mai.-12 Out. 1922)
Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 2 (13 Out. 1922 - 12 Out. 1924)
Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 3 (13 Out. 1924 - 31 Dez 1925)
Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 4 (1 Jan. 1926 - 12 Jul. 1927)
Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 1 (13 Jul. 1927 - 31 Dez. 1928)
Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 2 (1 de Janeiro a 30 de Junho de 1929)
Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 3 (1 de Julho a 31 de Dezembro de 1929)
Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 4 (1 de Janeiro a 30 de Abril de 1930)
Conclusão
Uma questão de proporção...
O cepticismo acerca dos milagres resulta de uma ideia errada acerca das “leis” da Natureza
O cepticismo acerca dos milagres resulta de uma deficiente teologia da Criação
Necessidade de coerência: se Jesus atravessa portas fechadas (cfr. São João 20), então o Seu
nascimento pode ser compatível com a virgindade perpétua de Maria (doutrina “de fide”)
«O milagre da concepção física de Cristo pode ser, fisicamente
falando, nada mais do que a criação de uma célula haplóide
masculina, com o seu conjunto de cromossomas, para fertilizar
uma célula haplóide feminina (óvulo) no ventre de Maria. (...)
Por isso, desde que se atribua a existência do universo (...) a
Deus, que o criou do nada, a introdução milagrosa daquela célula
haplóide masculina no ventre de Maria apenas deveria criar
problemas para aqueles que perderam o sentido da proporção.
O que devemos pensar acerca daquele bioquímico que acha
difícil aceitar que Jesus não teve pai humano, quando ele, como
Católico, não acha difícil admitir a criação do universo?» - Pe. Jaki
«O milagre da concepção física de Cristo pode ser, fisicamente
falando, nada mais do que a criação de uma célula haplóide
masculina, com o seu conjunto de cromossomas, para fertilizar
uma célula haplóide feminina (óvulo) no ventre de Maria. (...)
Por isso, desde que se atribua a existência do universo (...) a
Deus, que o criou do nada, a introdução milagrosa daquela célula
haplóide masculina no ventre de Maria apenas deveria criar
problemas para aqueles que perderam o sentido da proporção.
O que devemos pensar acerca daquele bioquímico que acha
difícil aceitar que Jesus não teve pai humano, quando ele, como
Católico, não acha difícil admitir a criação do universo?» - Pe. Jaki Padre Stanley Jaki (1924-2009)
Conclusão