Ciência e a Modernidade no Ensino Agrícola no Pará no ... · controverso nos embates ao...
Transcript of Ciência e a Modernidade no Ensino Agrícola no Pará no ... · controverso nos embates ao...
Ciência e a Modernidade no Ensino Agrícola no Pará no governo de Lauro Sodré
(1892-1921)
José Arimatéa Gouveia dos Santos1
Lauro Sodré é reconhecido por historiadores2 por sua atuação do governo do
Estado e liderança política no Pará no momento histórico conhecido como Belle
Époque, no qual ocorreram grandes transformações na paisagem da capital. Essas
transformações foram decorrente de mudanças de mentalidade de influencias da Europa
que proponham indicar o caminho da modernidade para qualquer região no mundo.
Essa crença, as elites paraense absorveram e creram de que poderiam traçar o percurso
até ao alvo do progresso e dos níveis de padrões de civilidade de países europeus que
estavam na dianteira do processo.
Nesse processo de difusão pelo mundo, alguns homens no Brasil tiveram os
primeiros contatos com as ideias modernas, em espaços educativos, bebendo da fonte
entusiasta que indicavam o caminho de como transformar um pais em uma nação nos
moldes de países como França, Alemanha, Inglaterra e outros. Entre esses homens de
vários pontos do pais estava Lauro Sodré, que se tornou aluno próximo de Benjamim
Constam. E ao voltar para Belém lançou suas concepções cientificistas, sobretudo
positivistas, que guiaram como líder do partido Republicano e governante do Estado do
Pará.
No seu primeiro governo no final do século XIX, entre 1891 a 1997 Machado
(2011, p. 210) o “considera responsável pela reforma e florescimento de Instituições
científicas, culturais e educacionais”. No campo da pesquisa científica contratou o
1 Mestre em Educação Científica e Matemática e Doutorando pelo 2 Alan Watrin Coelho pesquisa os debates entre Lauro Sodré e o bispo Dom Macedo da Costa, em 1888,
como representação do confronto entre Republica, ciência e progresso versus fé, religião e Monarquia.
Nesse trabalho Coelho (2006) demonstra o protagonismo de Lauro Sodré no Pará ao fazer apologia num
jornal pela filosofia positivista e crença na ciência para atingir o progresso na capital paraense. Já Felipe
de Moraes Tavares teve objetivo de analisar as concepções política-educacionais que orientou as reformas
no primeiro governo de Lauro Sodré (1891-1897). Na História da Ciência foi analisado por José Jerônimo
Alves no sentido de ver seu papel na difusão do cientificismo na Amazônia.
zoólogo Emilio Goeldi para administração do Museu Paraense que, em pouco tempo,
fez da Instituição uma referência internacional. Na Cultura mobiliza as obras no Teatro
da Paz, traz o maestro Carlos Gomes em 1895 para dirigir o Conservatório de Artes,
“instituição fundada especialmente para abrigar o compositor de O Guarani em seu
retorno definitivo ao Brasil” (COELHO, 2006, 30)
Na Educação manteve na instrução primária a proposta iniciada com a
proclamação da República, a presença das ciências naturais no currículo “de acordo
com os princípios da moderna ciência pedagógica” (SODRE, 1891, p. 9). Deu atenção
a Escola Normal no sentido de possibilitar a presença da moderna pedagogia na atuação
do magistério. No secundário fez o Liceu Paraense ser equiparado ao Ginásio Nacional
garantindo validade dos exames para matricula nos cursos superiores no país e criou no
mesmo espaço o curso de agrimensura (MORAES, 2011).
Ainda na Instrução Publica, deu atenção especial ao ensino técnico, criando o
Lyceu de artes e ofícios sob a direção da Sociedade Propagadora do Ensino. Além
disso, construiu um novo espaço suntuoso para o Instituto de Educandos de Artes e
ofícios. As propostas do ensino técnico tinha o objetivo de proporcionar o
“derramamento da luzes das ciências” para as classes populares (SODRÉ, 1891 p. 9). O
primeiro voltado para público adulto oferecendo ensino secundário no período noturno e
o segundo para crianças pobres podendo ou não ser no sistema de internato. Além
dessas instituições, outra obra que intencionava o acesso do conhecimento ao público
em geral foi a revitalização da Biblioteca.
Diante de um governante que propunha promover a modernidade dentro da
Região Amazônica, torna-se pertinente perguntar: Qual o papel desempenhado por
Lauro Sodré na modernidade do ensino agrícola? E, ainda investigar de que forma as
ciências naturais e técnicas racionais estiveram presente nesse processo?
Mas, para isso analisaremos a introdução da modernidade e das ciências nesse
processo não como entidades universais, como fez Michael Foucault, que viriam trazer
progresso para todos os povos, e, sim, como a inserção de um modo de vida e de
conhecimentos diferenciados, em uma sociedade que ainda se pautava, em parte pela
ordem tradicional. Para obter resposta a esses questionamentos, esta pesquisa utiliza
como fontes primárias: relatórios de governos, livros sobre Lauro Sodré e decretos
estaduais. Além de fontes secundárias, como: artigos, dissertações e teses que abordam
que abordam sua atuação no Pará.
Sodré é um sujeito histórico visto por diversas facetas, como: arauto dos
discursos republicano de progresso e do abandono das ideias monárquicas e
administrador moderno da reforma educacional no final do século XIX no Pará;
controverso nos embates ao conceituado Bispo do Para D. Macedo da Costa sobre
laicismo e religião, fé e razão científica e também nas disputas políticas 3promovida por
seus aliados, chamados lauristas e por sua oposição lideradas por Antônio Lemos,
chamados lemista. Ainda que lauristas e lemista convergissem na ideia de modernidade
da capital, ambos disputavam a direção política dessas mudanças; Difusor do
cientificismo no Pará, principalmente pela ótica positivista. Este sujeito de importância
histórica e científica no Pará pode ser investigado em outro pontos pela História da
Ciência, como na contribuição da modernidade do ensino agrícola.
Diante disso, este artigo tem por objetivo analisar as contribuições do
governador Lauro Sodré na modernização do ensino agrícola com a introdução das
Ciências Naturais e de Técnicas Racionais no Estado do Pará de 1892 a 1921. E assim,
pesquisar esse intelectual na perspectiva da história da ciência.
Formação e atuação política no Pará
Sodré obteve sua graduação em bacharel em Ciências Físicas e Matemática, em
1883, pela Escola Superior de Guerra no Rio de Janeiro. Além dessa graduação,
formou-se no Curso de Estado Maior da Escola Militar, que possibilitava “base sólida
científica” (ALVES, 2006, 62). No seu segundo ano de curso teve como professor na
cadeira de cálculo, Benjamin Constant, “cujos alunos seduziam de suas ideias
republicanas e positivistas; Lauro foi dos mais convictos e ardorosos e principiou a
propagá-las como colaborador da Fênix Literária, revista da Escola Militar” (BORGES,
3 Adriana Modesto Coimbra estudou na sua dissertação as disputas políticas entre Lauro Sodré e Antônio
Lemos durante o auge da Belle Époque Amazônica com grandes transformações na urbanização de
Belém. Nesse trabalho é demonstrado os debates controversos, em jornais, entre os grupos lauristas e
lemista na condução administrativa de Belém.
1986, p. 205). Nessa atmosfera dominada de discursos cientificistas, sobretudo
positivistas, Sodré construiu o alicerce de suas concepções que guiaram sua carreira
política como governador do Estado do Pará.
O positivismo de Augusto Comte seguido por Lauro Sodré não em sua
totalidade, pregava que por meio das ciências, o homem aprimoraria sua racionalidade,
e assim se tronaria mais razoável e mais racional. Por essa concepção de conhecimento,
Sodré considerava Comte um vultoso homem para humanidade por sobrepor a ciência
em relação aos outros conhecimentos. Sobre Comte ele exponha: “foi um colaborador
titânico d’essa obra grandiosa” (SODRÉ apud COELHO, 2006, pp. 74-75).
Nas Escolas em que se graduou havia uma grande valorização da disciplina de
matemática, pois tal atitude estava em consonância com as ideias de Comte que
considerava a matemática como base para o conhecimento de toda ciência, seria a pedra
fundamental para o desenvolvimento das ciências e da racionalidades necessária para
desenvolvimento de qualquer atividade civilizada. Para ele a matemática e física já
haviam sidos arrancados da teologia e filosofia. Enquanto os “alquimistas haviam visto
Lavoisier lançar os alicerces da - química positiva” e os fenômenos biológicos ‘tinham
sido solidamente firmados pelas descobertas das propriedades gerais dos tecidos”.
(SODRÉ apud COELHO, 2006, p. 74).
Nesse sentido, a engenharia civil e naval, equipamentos militares,
desenvolvimento de tecnologias a vapor e elétrica, preparação de produtos químicos,
conhecimento do funcionamento do corpo humano e dos demais seres vivos e outros
estariam na dependência da matemática para sua comprovação e aplicação na sociedade.
Essa concepção epistemológica da ciência continua, linear e progressiva, os indivíduos
aperfeiçoariam o “senso de clareza, o rigor, a ponderação do pensamento, o equilíbrio e
bom senso, em oposição à falta de lógica, o barroco e à loucura” (ALVES, 2005, p. 64).
Como seguidor do positivismo, Lauro não foi apenas um ouvinte sossegado da
filosofia positivista, ele se engajava nos movimentos políticos do meio positivista. Na
Escola Militar ao ouvir sobre positivismo e ciência por Benjamim Constant ‘foi dos
mais convictos e ardorosos e principiou a propagá-las como colaborador da Fênix
Literária” (BORGES, 1986, p. 205). Na sua militância pela difusão do positivismo no
Pará, em 1881 entrou em polêmica com o jornal católico A Boa Nova ao defender “os
conceitos chave que sustentavam o discurso de positivistas em torno da questão máxima
do tempo, a do progresso advindo da ciência, que só poderia ser alcançado através de
uma república laica e científica” (COELHO, 2006, p. 28). Assim, para positivistas como
Sodré, a instalação da República com a laicização do Estado e a pregação da razão
cientifica eram considerados caminhos serem trilhados à conquista do estado positivo.
No retorno a Belém, participa de um núcleo positivista, onde se promovia
eventos e materiais impressos no sentido difundir o positivismo na região” (ALVES,
2005, p. 62). Mantendo seu labor pela propagação do positivismo no Estado do Pará,
em 1888, rebateu “às críticas feitas pelo Conselheiro Tito Franco de Almeida, através d’
O Liberal do Pará, texto que em sustentava o advento da república como imperativo
das leis do progresso” (COELHO, 2006, p. 33). Na revolta da Vacina, desencadeada
em 1904 pela Lei do governo federal que estabeleceu a obrigatoriedade da vacina contra
a varíola, “Lauro liderou não só os positivistas, mas a oposição em geral” (ALVES,
2005, p. 67).
Esse perfil de liderança e articulador dos discursos cientificista de Lauro Sodré
contribuíram para que em 1892 fosse eleito governador do Estado do Pará. Na frente do
governo lança suas propostas positivista para modernizar o Estado. Suas diretrizes
políticas priorizavam criar ou redirecionar e fortalecer instituições governamentais no
agenciamento dos conhecimentos modernos, principalmente das ciências. Nesse
proposito, organizou um conjunto de instituições educativas, entre elas destacam-se o
Museu Paraense, Liceu Paraense, a Escola Normal, Sociedade de Estudos paraenses,
Sociedade Propagadora do ensino e a Biblioteca Pública. Além do que ele declavara
derramamento das luzes da ciência, Sodré propunha um programa de civilização as
camadas populares, o qual poderia imprimir o modo de vida moderno (SANJAD, 2005).
Nesse rol de obras há reforma do Instituto Paraense Artificies em um suntuoso prédio
para crianças pobres de todo estado, o instituto de Liceu de Artes e Ofícios para
público adulto, e para crianças “desvalidas” associação protetora dos órfãos e Colégio
Nossa Senhora do Amparo. Na saúde reforma a Casa de Misericórdia e amplia a
Diretoria de Fiscalização Sanitária
Como podemos ver, nos discursos de Lauro Sodré no sentido de promover a
modernidade em vários seguimentos de atuação do Estado do Pará: a educação, a
pesquisa cientifica e a arte. Quanto à agricultura, essa também estaria em pauta como
veremos no item a seguir.
Agricultura moderna e os discursos sobre o ensino agrícola
Lauro Sodré para modernizar agricultura no Estado lançou um conjunto de
propostas, como: imigração, prêmios a produtividade, questão agraria, financiamento
rural e o ensino agrícola. Nesse sentido, organizou um intenso programa de colonização
de imigração nacional e internacional com a intensão de melhorar e ampliar os núcleos
agrícolas por meio de remuneração aos colonos “considerados qualificados para a
introdução de práticas agrícolas atualizadas na faixa destinada à ferrovia Belém-
Bragança” (OLIVEIRA & ROCHA, 2010, p. 113). Solicitou à Assembleia Legislativa
que isentasse o imposto de exportação sobre o cacau que onerava seu custo ao mercado
internacional. Criou a partir de 1893 prêmios para lavouras produtivas e em 1891
regulou alienação de terras devolutas e legitimidade de posses para pequeno produtor.
Favoreceu o crédito rural, prêmio de produtividade e estimulou o ensino agrícola
(SODRÉ, 1917).
Sobre a última proposta, ele se posicionou firmemente a favor da instrução para
agricultura ao congresso do Estado, quando manifestou as seguintes palavras: “penso
que é de certo a criação e a divulgação do ensino agrícola, ministrado especialmente sob
o ponto de vista prático, único verdadeiramente útil” (SODRÉ, 1892, p. 23). Esse
discurso em favor do ensino agrícola, não era uma ação exclusiva para qualificação de
trabalhadores na atividades da agricultura, estava dentro da proposta de promoção do
ensino profissional ou técnico.
A capacitação de mão de obra para várias atividades econômicas, como
indústria, comercio e agricultura era um mecanismo utilizados pelos países
considerados modernos que podia ser aplicado no Pará na compreensão administrativa
de Sodré. Mas para isso, ele defendia um ensino técnico para atividades agrícolas
distinta da tradição da formação de bacharéis, comum no Brasil e no Pará, em que o
resultado da formação superior beneficiava na sua maioria apenas o indivíduo. Após
obtenção do diploma, muitos iriam compor o exército de funcionários públicos que ele
considerava onerosa aos cofres públicos como ocorria usualmente no Brasil e no Pará e
sem impactos significativos de retorno a sociedade. Nas suas palavras, ele afirmar que
as profissões liberais em termos de campo de trabalho se restringiam ao funcionalismo
ao ponto de constitui um “obstáculo ao progresso e isto ocorria somente por causa da
insuficiência de um ensino técnico capaz de fazer amar cada um o oficio, que poderia
eleger, si para tal meios e oportunidades se lhe oferecessem” (SODRÉ, 1892, p. 24).
No desejo de alcançar os padrões de países considerados referência na
modernidade, Sodré concebia o ensino profissional ou técnico, incluindo o voltado para
a agricultura, uma questão muito importante. Segundo Santos (2013, p. 67) sobre o
estudo do escolas agrícola do Pará, o governador Lauro entendia que essa modalidade
de ensino era vital para os povos modernos, “pois além de agir no campo da educação,
possibilitava aparelhamento dos vários setores da sociedade com certo grau de instrução
da população”. Sodré possuía a crença que “quanto mais instruída fosse uma população,
melhor seria o desenvolvimento da nação”. E nessa conquista, o Pais ou Estado estariam
em condições de enfrentar as disputas de mercado internacional acirradas entre os povos
modernos.
A organização do ensino técnico, disse já alguém, não é uma simples questão
de pedagogia, antes é uma questão vital para todos os povos modernos
empenhados na luta travada no terreno da população e das permutas. Nos
torneios, de que hoje se entretece o drama da vida das nações policiadas, a
vitória há de caber aos mais aparelhados, isto é aos mais instruídos (SODRÉ,
1892, p. 29).
A instrução agrícola para Lauro Sodré era um mecanismo moderno de imprimir
no homem local o ritmo de trabalho como modelo de vida ligado a lavoura, assim como,
de implantar positivamente a valorização de seu papel na sociedade como fornecedor de
produtos agrícolas nas áreas rurais. Nesse sentido, ele declarou “mais grave talvez da
insuficiência da instrução agrícola é uma sorte de desclassificação da população rural”.
Mas para garantir “o agricultor nos campos e necessário leva-lo a tomar interesse pelo
que faz, dar-lhe consideração e bem estar, é preciso ministra-lhe opinião melhor do
papel que realmente cabe-lhe na sociedade” (SODRÉ, 1892, p. 29).
Além do entendimento dos mecanismo modernos para conformar o homem
paraense aos padrões dos países que estavam no centro de referência de civilização,
Lauro Sodré conhecia os efeitos do progresso material promovida pelo conhecimento
cientifico nos países europeus, e por isso levantava a bandeira explicitamente da ciência
como principal elemento de modernidade da agricultura, pois a concepção tradicional de
cultivo baseada na experiência local não correspondia mais ao novo modelo de
agricultura que se estabelecia entre as nações.
No seu repertório administrativo de diretrizes para modernizar o Estado, a
agricultura tinha seu lugar nesse processo, e isso ocorreria para Sodré por meio da
aplicação da ciência e técnicas modernas e não mais por técnicas da tradição local, de
origem indígena somadas com aquelas trazidas da Europa no período da Colônia. A
agricultura moderna consistia numa quantidade significativa de conhecimentos que
seriam aprendidas por meio do ensino escolar e não mais nos espaços de circulação de
saberes tradicionais que mantinham a mesma rotina para ele.
A agricultura não é em si uma ciência, aplica o princípio de várias ciências. Por
que deixá-la-emos, entre nós abandonada a rotina, que é a ignorância ou a
inercia feitas sistemas, a exploração do solo, que apenas pode ser largamente
frutífera sob direção esclarecida pelo estudo (SODRÉ, 1892, p. 29).
O governador acreditava que por meio do conhecimento das ciências naturais e
sua posterior aplicação na agricultura, o setor agrícola chegaria aos padrões
internacionais modernos. E assim, após se manifestar a favor do ensino agrícola e da
ciência para o agricultor, Lauro Sodré propõe a criação de instituições de ensino
agrícola no Estado conforme os padrões de países de centro de produção de
conhecimento cientifico: “Criemos uma Escola agrícola; e sendo possível estações
agronômicas, como possuem-nas em tamanha copia o Estados Unidos da América do
Norte, onde só no ano de 1888 fundaram-se 26” (SODRÉ, 1892, p. 29).
Cinco anos depois desse discurso, ele continuava a afirmar que o método
aplicado na agricultura era o cerne da questão para melhoria da produção no Estado, ou
seja, substituir a prática rotineira4 por processos aperfeiçoados “baseados nos
4 Um exemplo disso era o da técnica da produção da farinha de mandioca que utilizava uma técnica em
várias etapas e com instrumentos próprio da região herdado do saber indígena. Esta técnica não estava
inserida dentro de aspectos decorrentes da modernidade - tempo e produção. Sobre a técnica indígena ver
a obra de Berta Ribeiro O Índio na História do Brasil. Sobre o resignificado do tempo na Belle Èpoque
ensinamentos de ciência” (SODRÉ, 1897, p. 30). Entre esses dois tipos de instituições
de ensino agrícola citados acima, Sodré manteve preferência na criação de uma escola,
E isto ele manifestou na Assembleia de deputados, quando relatou as características
utilitária para agricultura, baseada em conhecimentos científicos, mas sem tendência ao
excesso de conhecimento teórico que, segundo suas palavras, predominavam entre os
doutores agrônomos da época. Por isso, ele defendia a criação de uma escola agrícola
ministrada “especialmente sob o ponto de vista prático, único verdadeiramente útil,
fugindo da formação de doutores agrônomos, que na vida pública entram no grande
exército do funcionalismo, fugindo do campo da atividade industrial do pergaminho”
(SODRÉ, 1897, p. 29).
O apelo ao Congresso do Estado de Lauro por uma escola agrícola ocorreu,
desde 1892, quando no mesmo ano a Assembleia Legislativa autorizou a “fundação de
uma escola de agricultura e uma fazenda agrícola” pela lei n 53 de 27 de agosto de 1892
(SODRÉ, 1897, p. 30). No entanto, o governador Lauro Sodré informou o entrave na
implantação da lei: “Ainda não foi possível tentar a execução a essa medida por não ter
sido votado o credito necessário” (SODRÉ, 1897, p. 29).
Diante do embaraço para construção de uma nova escola. Três deputados5
criaram uma secção de agronomia no “Instituto Lauro Sodré com um valor bem menor
para os cofres do Estado” (PARÁ 1897, p. 72 apud SOUZA 1994, p.24). O ensino
agrícola defendido por Lauro Sodré estava proposto justamente no espaço por ele
pensado para o exercício do ensino técnico em 1892: “Deveis autorizar a reforma
completa do Instituto Paraense de Educando artífices, ou realizai-a, dando a este
estabelecimento organização inteiramente nova, que permita corresponder aos intuitos
que determinaram sua criação” (SODRÉ, 1892, p. 29)
Dentro do Projeto proposto pelos deputados para a criação da escola agrícola no
currículo estavam presentes as ciências naturais propriamente ditas e técnicas modernas,
como podemos ver:
1. Cadeira - Botânica e Zoologia; 2. Meteorologia e Geologia; 2.Anatomia e
Fisiologia veterinária;3. Cirurgia veterinária; 4. Entomologia, economia
política e arquitetura rural; 5.trabalho de campo; 6. Conhecimento prático das
da Amazônia ver o artigo de José J. A. Alves Tempo, Espaço e Modernidade na Belle Èpoque
Amazônica. 5 Deputados: J. Sarmento, L. A. Salazar e Amado da Silva. Ver a dissertação de Orlando Nobre Bezerra
de Souza “Ensino Agrícola: do instituído aos novos horizontes profissionais”.
línguas francesa, inglesas e alemã. (PARÁ, 1897, p. 72 apud SOUZA 1994, p
.24).
A presença das ciências naturais nesse currículo torna-se distinta no ensino
agrícola paraense até então, pois antes da criação desse projeto apenas foram criadas
escolas agrícolas por entidades religiosas e uma exclusivamente pelo Estado - a Escola
Rural Dom Pedro (1860). Quando comparamos os currículos vemos certa diversificação
das Ciências Naturais em disciplinas no final do século XIX do Brasil República em
relação ao período Imperial, como: botânica e zoologia, meteorologia e geologia,
anatomia e fisiologia veterinária, cirurgia veterinária e entomologia.
A valorização de novas técnicas e ciências naturais diferenciavam-se dos que
acompanhavam as práticas de agricultura disseminadas anteriormente na região, tanto a
praticada pelas tribos indígenas, como a transmitida pelas ordens religiosas e, ainda,
pela Escola Rural D. Pedro II, que foi criada anteriormente e durou apenas em torno de
dois anos e meio. Esta escola, criada em 1860, transmitiu alguns conhecimentos
diferentes dos que vinham sendo praticados na região. Entre esses conhecimentos, havia
disciplinas técnicas, como “Agricultura Geral”, “Silvicultura Geral” e “Zootecnia
Geral”, mas, não disciplinas propriamente dita cientifica, como zoologia e botânica.
Por fim, a proposta inicial de criação de uma escola agrícola por Lauro Sodré
sofreu modificação no Congresso Legislativo que por meio das Comissões de Instrução
Pública e Fazenda que autorizaram a criação, não de uma escola, mas de um curso
agrícola nas dependências do Instituto Lauro Sodré (SOUZA, 1994). Só no governo de
Paes de Carvalho em 1899 ocorreu a criação do curso no Instituto Lauro Sodré (novo
nome dado ao Instituto de Educandos Artificies e Ofícios) chamado de Curso Regente
Agrícola que durou em torno de três anos, mas que foi importante para o ensino
agrícola por introduzir o “caráter cientifico e tecnológico” no seu currículo e propor
espaços distinto no ensino de ciências, como o laboratório de química (SANTOS E
ALVES, 2014, p. 36)
O Curso regente não foi criado por Lauro Sodré, mas seus discursos sobre
ensino agrícola fundamentado na ciência e nas técnicas possibilitaram condições de suas
existências. Segundo Santos (2013, p.54) na pesquisa sobre o Curso Agrícola, foi partir
do governo de Lauro Sodré nos anos 1892 encontrou discursos dos governos
Republicanos que “enfatizavam a necessidade de promover o ensino agrícola, na região,
por meio de um ensino baseado nas ciências e nas técnicas modernas”. Anteriormente
ao seu governo no período imperial ao início da Republica encontroamos discursos no
que afirmavam “que o atraso da atividade agrícola no Pará estavam atrelado à falta de
instrução”, ou seja, até antes do governo Sodré os discursos sobre atraso da agricultura
estavam atrelado a falta de instrução, mas a partir Sodré vai-se mais além, com a
proposta da inclusão das ciências e de técnicas modernas (SANTOS & ALVES, 2014).
Segundo governo e a Criação da Escola de agronomia do Pará
Lauro Sodré, em 1917, assume pela segunda vez o mandato de governador do
Estado, diferente do primeiro governo, a posse ocorre após grandes conturbações
políticas. No alicerce das diretrizes políticas mantem a crença na ciência para alcançar
o progresso da sociedade. Mas para isso, valoriza a instrução publica como o meio de
disseminar o conhecimento moderno as camadas populares. Sua pronuncia na Casa
Legislativa do Estado, em 1920, faz uma síntese de sua política de governo:
“a instrução ficará entre os assuntos que mais de perto hão de constituir o
objeto de nossas constantes preocupações. Palavras e atos meus aí estão para
provar que sempre olhe com carinho para as coisas de ensino, tendo como o
primeiro dos deveres, entre que pertence ao Estado, esse semear em
profusão por toda parte as luzes a ciência, dando a todos os homens essas
clartés de tour, que façam deles os instrumentos inteligentes do progresso de
um país livre,em lugar de deixá-los vegetando na ignorância” (SODRÉ,
1920, p. 59)
Mas, além da instrução geral, Sodré conserva a mesma atenção especial ao
ensino técnico, visão esta característica dos positivistas no Brasil que rompiam com
conhecimento contemplativo, característico do bacharelismo, para um conhecimento
que considerava promotor de serviços e bens para o progresso material. Nesta questão,
em 1919, faz referência do seu olhar em prol do ensino técnico desde do seu primeiro
governo: “Logo nos primeiros anos do período que me coube a direção pleiteava em
favor desse ensino mal tratado entre nós (SODRÉ, 1919, p.120).
Sodré mantia a ideia que no mundo moderno a instrução era um aparelho que
possibilitava não só o conhecimento, mas condições de uma sociedade se tornar
produtiva e ser capaz de concorre no mercado internacional. Assim ele repete uma
mesma frase usada desde seu primeiro governo: “A organização do ensino técnico, disse
já alguém, não é uma simples questão pedagógica, antes uma questão vital para todos os
povos modernos, empenhados nesta luta travada no terreno da produção e das
permutas” (SODRÉ, 1919, p.120).
No caso da particular do ensino agrícola, além do propósito de formar mão-de-
obra para setor agrícola, tinha também a intensão de capacitar um contingente de força
de trabalho com métodos racionais e modernos. Esse investimento para ele não só
resolveria a questão de abandono da agricultura, mas conduziria as práticas modernas de
cultivo e usos de tecnologias na lavoura e assim, melhoraria a produtividade. Como
seguidor do cientificismo, ele acreditava que agricultura no Estado melhoraria com a
difusão do ensino das Ciências nas práticas agrícolas. Podemos ver isso quando ele
repete a mesma frase dita no seu primeiro governo: “o clima, as qualidades do solo, e o
suor do trabalhador cessaram de ser os únicos fatores do rendimento agrícola, a ciência
do cultivador tornou-se o seu principal agente” (SODRÉ 1917, p.14).
Modernizar a agricultura aos olhos Sodré, não era apenas uma questão de cifras
econômicas, era a possibilidade de racionalizar, aplicar tecnologia e envolver a
população numa atividade que imprimia o modo de vida civilizado ligado a
produtividade. Mesmo tendo usufruído dos recursos fartos da economia da borracha
para promoção de suas políticas no seu primeiro governo, Sodré declarava desde aquele
momento críticas a economia gomífera por provocar decadência da agricultura, pois
aquela a atividade arregimentava a mão-de-obra local disponível provocando
desinteresse na atividade agrícola. Nas suas palavras “a atração de braços para esse
ramo de atividade [...] de escassa população, tem gerado uma situação de lamentável e
visível decadência para a Agricultura” (SODRÉ, 1892 p.19).
Seus murmúrios sobre o prejuízo da agricultura decorrente da atividade da
borracha, no seu segundo mandato, após o apogeu da produção gomifera6, continuavam
nos seus discursos: “quando de Belém saiam entre os produtos de seu comércio de
exportação, e avultando entre eles, o café, o cacau, o açúcar, o milho, e decaindo dia-a-
6 Segundo a autora Ana Maria Daou o período de grande prosperidade na Amazônia decorrente da
exportação da goma elástica foi de 1880 a 1910. No qual, Belém e Manaus foram cidades que sofreram
transformações culturais, econômicas e de suas paisagens com grande avanço urbanístico.
dia desde que entrou a crescer a exploração de borracha tão sedutora e compensadora”
(SODRÉ, 1918, p.17).
Lauro Sodré exaltava a agricultura e seus defensores e isto ele demonstrava
desde o final do século XIX a admiração pelos fisiocratas7. Segundo o governante, os
fisiocratas consideravam a agricultura “classificada como a indústria produtiva por
excelência, e a juízo dos modernos a primeira indústria do homem” (SODRÉ, 1892,
p.20). Nessa compreensão, a agricultura possibilitaria a circulação de produtos nela
cultivável para outras localidades do mundo, assim como a vinda de produtos
decorrentes da importação, esse intercambio acarretaria a ampliação na produção e
acúmulo de capital, de tal modo que traria benefícios à população. Diante desta crença
ele exaltava a situação da agricultura nos país por considerar “melhor sinal da sua
riqueza”, pois apresenta “com efeito, conexões tais com a circulação de capitães e com
bem estar da população” e pode ser “considerada uma espécie de barômetro econômico”
(SODRÉ, 1892, p.21).
Vale ressaltar a interrelação agricultura-solo, pois o primeiro é dependente do
segundo para que desenvolva e prospere. Nesse contexto, de acordo com os discursos
do governador, o solo do Estado do Pará era promissor para o cultivo os diversos
gêneros agrícolas para o mercado internacional e assim dando grandes oportunidades no
setor agrícola. Nesse sentido, Lauro Sodré incentivador da agricultura, cita o estrangeiro
Alfred Wallace como autoridades de referência para legitimar o discurso das
potencialidades do solo da região. Segundo Lauro Sodré, o naturalista disse as seguintes
palavras: “Em parte nenhuma do mundo a natureza e o clima são, como aqui, são tão
favoráveis ao lavrador”, e acrescenta sobre a questão da produtividade das florestas
virgens que podem transformadas “em ricas pastagens e pradarias, em campos de
cultura, em jardins, em pomares cobertos de todas variedades de frutas com menos
trabalho” e “em muito menos tempo entre nós” (WALLACE apud SODRÉ, 1918, p.16).
Podemos perceber na fala de Sodré a importância a que dava a agricultura como
atividade econômica grandiosa e de acordo com sua desenvoltura um sinal evidente da
modernidade de um pais. Entretanto este governante reclamava desde seu primeiro
7 Fisiocratas: defensores da ideia de desenvolvimento econômico através da agricultura, do uso solo para
produção de riquezas.
governo a decadência dessa atividade e rotina que perpetuava suas práticas, distante de
técnicas racionais e de aplicação das ciências. Isto ele declara ao Congresso do
Legislativo do Estado do Pará, em 1918: “Em Dez anos a nossa agricultura desalenta e
rotineira não deu um passo”. Mas para que isso mudasse Sodré acreditava na
interferência do Estado: “E de aparelhas com as solicitações a favor de providências
salvadoras para a agricultura estacionaria e decrépita,” (SODRÉ, 1918, p.17).
Nesse contexto de valorização da instrução e da agricultura e de modernizar as
práticas agrícolas consideradas rotineiras, Lauro Sodré apoia a criação da Escola de
Agronomia do Pará pela entidade particular chamada Centro Propagador de Ciências8.
Ele considerava esta Entidade, fundada em 23 de janeiro de 1918, composta por homens
aliados de sua proposta de modernidade. No período da criação da Escola o jornal Folha
do Norte anunciava que no Centro Propagador de Ciência havia pessoas “que se
propunham estabelecer, manter e superintender cursos em que fossem ministrados com
maior desenvolvimento, conhecimentos científicos sobre Odontologia, Agronomia
Veterinária, Farmácia e quaisquer outros ramos das ciências a nível superior”
(ESCOLA, 1918, p.1).
A Entidade particular fundou a Escola de Agronomia do Pará no dia 1º de março
do mesmo ano de 1918. A atenção dada a Escola pelo Estado permitiu que foi
oficializada em 5 de novembro pela Lei nº 1679 (NORTE AGRONÔMICO, 1942, p.
23). A criação da Escola Agronômica do Pará não foi realizada pelo Estado do Pará,
mas teve grande apoio de Sodré. Sobre a importância da sociedade particular Centro
Propagador de Ciência para o ensino superior agrícola no Estado ele pronunciou que a
entidade “preencheu a lacuna que o Estado não pode realizar” no sentido de “ser útil a
terra que desejamos engrandecida. Daí nasceu a ideia da fundação da Escola de
Agronomia” (SODRÉ 1920, p.65).
No interesse pela Escola de Agronomia do Pará, Lauro Sodré não só apoiou sua
criação mas possibilitou seu funcionamento dentro dos critérios da ciência agronômica
com a autorização de realizar as aulas práticas em Repartições Públicas do Estado para
o ensino do manejo da terra e de animais no ensino de botânica e zoologia, da
8 A diretoria da entidade era composta pelos senhores Arthur França, Pinheiro Sosinho e Porto de
Oliveira. Juntamente com criação do Centro Propagador foi fundada a Faculdade de Odontologia sob a
direção do médico-cirurgião Jaime Aben-Athar (FACULDADE, 1918, p. 2).
manipulação de produtos químicos e instrumentos de físicas nas aulas de química e
física e analise de gado nas aulas de anatomia e fisiologia animal. Nesse apoio a Escola
Sodré expõe: “permitam o funcionamento das aulas práticas, que só podem ser agora
dadas fora de sua sede, como são no Campo de Cultura Experimental, no Laboratório
do Estado , no Museu Goeldi e no Matadouro” (SODRÈ, 1920, p. 65)
Como espaço do ensino agrícola moderno baseado nas ciências naturais e
técnicas racionais, no qual Sodré havia lançado suas esperanças na modernidade da
agricultura do Estado. A Escola apresentava em 1918 no currículo9 disciplinas química
e suas derivada inorgânica, orgânica, analítica, industrial e agrícola, também a “física
agrícola, meteorologia e climatologia, botânica, zoologia, com conhecimento técnico
agrimensura e elementos da mecânica geral e agrícola, e tecnológicas como industrias
agrícolas, elementos de hidráulica agrícola e construções rurais e desenho” (ESCOLA,
1918, p.1).
A predominância e variedade de disciplinas ditas cientificas, disciplinas técnicas
e tecnológicas no currículo da Escola se distingue do que existira antes na história do
ensino agrícola do Pará. Isto mostra o processo de ampliação e especialização da
Ciência no ensino agrícola do Pará. Além disso, solidificação do ensino agrícola no
Estado como elemento da modernidade que negociou sua entrada num local e conseguiu
se fixa, após várias tentativas de criação e fechamento de escolas agrícola na Amazônia.
A importância de Lauro Sodré a criação da Escola Agronômica do Pará,
podemos analisar que apesar da Escola ser criada por uma entidade particular, seu apoio
permitiu além da criação e regulamentação para o início de suas atividades também seu
funcionamento em condições até o final de seu mandato no ano de 1921 com até
contribuições financeiras.
Considerações Finais
9 Era constituída pelas disciplinas “Álgebra, geometria e trigonometria, química inorgânica, química
orgânica, química analítica, química industrial e agrícola, física agrícola, meteorologia e climatologia,
botânica agrícola, anatomia e fisiologia animal, zoologia, fitopatologia, aerologia e agronomia,
entomologia, parasitologia e micologia, agrimensura, desenho planimétrico, elementos da mecânica geral
e agrícola, economia geral, legislação agrária e florestal, industrias agrícolas, elementos de hidráulica
agrícola e construções rurais e desenho.” (ESCOLA, 1918, p.1).
Em Lauro Sodré podemos perceber a presença de um governante que
explicitamente discursava na Assembleia Legislativa a favor da agricultura e da criação
(elementar) e apoio (superior) as escolas agrícola que estimulassem o envolvimento da
população paraense com a agricultura e desenvolvesse práticas modernas na atividade
agrícola. As suas políticas possibilitaram condições para a criação de uma escola
agrícola que por fim foi transformada no Curso Regente Agrícola após seu primeiro
mandato e também da Escola de Agronomia do Pará no segundo governo. A criação do
Curso e da Escola consideramos dois acontecimentos importante na história das ciências
no ensino agrícola. Isto se deve pelo fato de apresentarem a introdução de disciplinas
das ciências naturais, de técnicas racionais e de tecnologias no currículo e por
apresentarem espaços físicos que favoreciam o ensino desses conhecimentos da
racionalidade moderna.
A agricultura foi valorizada por Lauro Sodré não por ser uma ação isolada de um
intelectual atuante politicamente na região amazônica, mas por apresentar como os
demais positivistas do Brasil de sua época crença de que agricultura como um solo fértil
para aplicação das Ciências Naturais, um setor promissor que conduziria o Estado e o
País a um desenvolvimento econômico semelhante a países da Europa e Estados
Unidos. O ensino agrícola nos diferentes níveis e modalidade foi incentivado,
promovido e apoiado por Lauro Sodré por considerar via para melhoria da atividade
agrícola no Estado. Esta ação estava em sintonia em com outros homens do pais que
atribuíam “a tarefa de levar a ciência ao meio rural” (BHERING, 2008, p.50). Assim
como, em consonância com as ideias positivistas no Brasil que atuavam através do
poder público para o encontro da atividade científica e agrícola. A nível nacional o
resultado desse encontro ocorreu com a criação do o Ministério da Agricultura,
Indústria e Comércio (1906/1909) que cria decreto nº 8.319, em 20 de outubro de 1910,
dando regras ao ensino agronômico em todo o país, além de criar a Escola Superior de
Agricultura e Medicina Veterinária como referência federal do ensino superior agrícola
para todo país, no sentido de oferecer o tempo de duração do curso, o currículo e a
estrutura física, coisas em que a Escola de Agronomia do Pará se assemelhava
REFERENCIAS
ALVES, José Jerônimo de Alencar. O Cientificismo da França para a Amazônia: O
Positivismo de Lauro Sodré. In Múltiplas Faces da História das Ciências na
Amazônia, (org) ALVES, José J. Alencar, p. 61-75. Belém: EDUFPA, 2005.
ALVES, José J. Alencar. Tempo, Espaço e Modernidade na Belle Èpoque
Amazônica. In Diálogos sobre o tempo, (ed.) Francisco Caruso, p. 75-82. São Paulo:
Casa Editorial Maluby & Co, 2010.
ALVES, José J. Alencar. BARROS, Jonatas Barros & MACHADO, Jorge. Ciência,
Tecnologia e Sociedade: da Europa para Belle Èpoque Amazônica. In Ciência e
Tecnologia: um diálogo Permanente, (ed.) Francisco Caruso, p. 87 a 96. São Paulo:
Casa Editorial Maluby & Co, 2011.
BERING, Marcos Jugmann. Positivismo e Modernização: políticas e institutos
científicos de agricultura (1909 – 1935). Dissertação (mestrado Acadêmico em
História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Rio de Janeiro,
2008.
BORGES, Ricardo. Lauro Nina Sodré e Silva in Vultos Notáveis do Pará. Belém:
Cejup, 1999.
COELHO, Alan Watrin. A ciência do governar: positivismo, evolucionismo e
natureza em Lauro Sodré. Dissertação (mestrado acadêmico em História Social da
Amazônia) Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará.
COIMBRA, Adriana Modesto. A cidade concedida: urbanização e disputas políticas
em Belém do Pará na virada do século XX. In Anais XXVII Simposio Nacional de
História. Natal, 22 a 27 de junho de 2011.
DAOU, Ana Maria. A Belle Époque Amazônica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2000.
FERRARO, Mario Roberto. A Gênese da Agricultura e da Silvicultura Moderna.
Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luiz
de Queiroz”. São Paulo, 2005.
FOLHA DO NORTE. Escola de Agronomia. p. 1. Centur: Microfilmagem – Folha do
Norte Jan/jun de 1918; Rolo 45, arq. 09, gav. 02.
FOLHA DO NORTE. Faculdade de Odontologia do Pará, 26 de janeiro de 1918, p. 2.
Centur: Microfilmagem – Folha do Norte Jan/jun de 1918; Rolo 45, arq. 09, gav. 02.
FERREIRA, Luiz Otávio. O Ethos Positivista e a institucionalização da Ciência no
Brasil no início do século XIX. Revista de História e Estudos Culturais. Vol. 4, ano IV,
nº 3 (Julho/agosto/setembro de 2007), p. 1 a 12.
FRANÇA, Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de. Raízes Históricas
do Ensino Secundário Público na Província do Grão-Pará: O Liceu Paraense 1840-
1889. Dissertação de Mestrado, Departamento de Filosofia e História da Educação,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997.
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso – Aula inaugural no College de France.
Pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Ed. Loyola. 1996.
LIBONATI, Virgílio et al. Faculdade de Ciências Agrárias do Pará: memorial
histórico 1951-1991. Ministério da Educação. Belém 1992.
NORTE AGRONÔMICO. Escola de Agronomia do Para. Ano IV - nº 18, janeiro –
março de 1942, p. 23.
MACHADO, Diego Ramon Silva & ALVES, José Jerônimo de Alencar. A “Atraente
Escola de Intuição”: o Jardim Zoológico e o Horto Botânico do Museu Paraense de
História Natural e Etnografia (1897-1900).
MORAES, Felipe Tavares de. A Educação no Primeiro Governo de Lauro Sodré
(1886-1897): os sentidos de uma concepção político - educacional republicana.
Dissertação (Mestrado Acadêmico em Currículo e Formação de Professores) – Instituto
de Ciências da Educação, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
OLIVEIRA, Gleice Izaura da Costa & ROCHA, Genylton Odilon Rêgo da.
Transformando menores orphãos ou abandonados em feitores do campo,
pomicultores, horticultores, jardinocultores, abegões e profissionais práticos nos
diversos offícios agrícolas: a criação do patronato agrícola no Pará republicano.
Revista HISTEDBR On-line, Campinas, número especial, p. 103-123, out 2011
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/43e/art06_43e.pdf. Acesso: 12 de
janeiro de 2012.
SÁ, Jean Magno Moura de. O público e o privado no ensino agrícola no maranhão:
do início ao ruralismo pedagógico. In VIII Seminário Nacional de Estudos e
Pesquisas, História, Educação e Transformação: tendências e perspectivas. Realizado
em 30 de junho a 03 de julho de 2009. Universidade Estadual de Campinas UNICAMP.
SANJAD, Nelson. A Coruja de Minerva: o Museu Paraense entre o Império e a
República, 1866-1907. Tese (Doutorado em História das Ciências). Fundação Oswaldo
Cruz - Rio de Janeiro, 2005.
SARGES, Maria de Nazaré. Belém: riquezas produzindo a Belle Époque (1870-
1912). Belém: Paka-Tatu, 2010.
SANTOS, Jose A, Gouveia. O papel das Escolas Agrícolas na introdução da
racionalidade científica no Pará (1860-1912). Dissertação (Mestrado Acadêmico em
Educação em Ciências e Matemáticas) – Instituto de Educação Matemática e Científica/
IEMCI/UFPA, 2013.
SANTOS, José A. Gouveia & ALVES, José J. de Alencar. O Curso Regente Agrícola
como Introdutor das Ciências e Técnicas Modernas na Amazônia. Revista História
da Ciência e Ensino: construindo interfaces. Volume 10, 2014, p. 19-38.
SODRÉ, Lauro. Mensagem dirigida pelo senhor Governador Lauro Sodré ao
Congresso do Estado do Pará. Em 1º de fevereiro de 1892. Belém: Typ. Diário
Oficial, 1892.
SODRÉ, Lauro. Mensagem dirigida pelo senhor Governador Lauro Sodré ao
Congresso do Estado do Pará. Em 1º de fevereiro de 1893. Belém: Typ. Diário
Oficial, 1893.
SODRÉ, Lauro. Mensagem dirigida pelo senhor Governador Lauro Sodré ao
Congresso do Estado do Pará. Em 1º de fevereiro de 1897. Belém: Typ. Diário
Oficial, 1897.
SODRÉ, Lauro. Mensagem lida em 1ª de fevereiro de 1917 perante o Congresso
Legislativo Estado do Pará pelo senhor Dr Lauro Sodré. Por ocasião de sua posse
no cargo de Governador do Pará. Belém. Typ. da Imprensa Oficial do Estado 1917.
SODRÉ, Lauro. Mensagem apresentada pelo senhor Governador Lauro Sodré ao
Congresso Legislativo Estado do Pará. Em sessão solene de abertura da 1ª reunião
da 10ª legislatura a 7 de setembro de 1918. Pará, Typ. da Imprensa Oficial do Estado
1918.
SODRÉ, Lauro. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo do Estado do
Pará pelo senhor Governador Lauro Sodré. Em sessão solene de abertura da 2ª
reunião da 10ª legislatura a 7 de setembro de 1919. Pará. Typ. da Imprensa Oficial
do Estado, 1919.
SODRÉ, Lauro. Mensagem apresentada ao Congresso do Legislativo do Estado do
Pará pelo senhor Governador Lauro Sodré. Em sessão solene de abertura da 3ª
reunião da 10ª legislatura a 7 de setembro de 1920. Pará. Typ. da Imprensa Oficial
do Estado, 1920.
SODRÉ E SILVA, Lauro Nina. Crenças e Opiniões. Belém: Tipografia do Diário
Oficial, 1896.
SOUZA, Orlando Nobre Bezerra. Ensino agrícola: do instituído aos novos horizontes
profissionais. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Planejamento e Desenvolvimento)
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAE), Universidade Federal do Pará, 1994.