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Ciência e a Modernidade no Ensino Agrícola no Pará no governo de Lauro Sodré (1892-1921) José Arimatéa Gouveia dos Santos 1 Lauro Sodré é reconhecido por historiadores 2 por sua atuação do governo do Estado e liderança política no Pará no momento histórico conhecido como Belle Époque, no qual ocorreram grandes transformações na paisagem da capital. Essas transformações foram decorrente de mudanças de mentalidade de influencias da Europa que proponham indicar o caminho da modernidade para qualquer região no mundo. Essa crença, as elites paraense absorveram e creram de que poderiam traçar o percurso até ao alvo do progresso e dos níveis de padrões de civilidade de países europeus que estavam na dianteira do processo. Nesse processo de difusão pelo mundo, alguns homens no Brasil tiveram os primeiros contatos com as ideias modernas, em espaços educativos, bebendo da fonte entusiasta que indicavam o caminho de como transformar um pais em uma nação nos moldes de países como França, Alemanha, Inglaterra e outros. Entre esses homens de vários pontos do pais estava Lauro Sodré, que se tornou aluno próximo de Benjamim Constam. E ao voltar para Belém lançou suas concepções cientificistas, sobretudo positivistas, que guiaram como líder do partido Republicano e governante do Estado do Pará. No seu primeiro governo no final do século XIX, entre 1891 a 1997 Machado (2011, p. 210) o “considera responsável pela reforma e florescimento de Instituições científicas, culturais e educacionais”. No campo da pesquisa científica contratou o 1 Mestre em Educação Científica e Matemática e Doutorando pelo 2 Alan Watrin Coelho pesquisa os debates entre Lauro Sodré e o bispo Dom Macedo da Costa, em 1888, como representação do confronto entre Republica, ciência e progresso versus fé, religião e Monarquia. Nesse trabalho Coelho (2006) demonstra o protagonismo de Lauro Sodré no Pará ao fazer apologia num jornal pela filosofia positivista e crença na ciência para atingir o progresso na capital paraense. Já Felipe de Moraes Tavares teve objetivo de analisar as concepções política-educacionais que orientou as reformas no primeiro governo de Lauro Sodré (1891-1897). Na História da Ciência foi analisado por José Jerônimo Alves no sentido de ver seu papel na difusão do cientificismo na Amazônia.

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Ciência e a Modernidade no Ensino Agrícola no Pará no governo de Lauro Sodré

(1892-1921)

José Arimatéa Gouveia dos Santos1

Lauro Sodré é reconhecido por historiadores2 por sua atuação do governo do

Estado e liderança política no Pará no momento histórico conhecido como Belle

Époque, no qual ocorreram grandes transformações na paisagem da capital. Essas

transformações foram decorrente de mudanças de mentalidade de influencias da Europa

que proponham indicar o caminho da modernidade para qualquer região no mundo.

Essa crença, as elites paraense absorveram e creram de que poderiam traçar o percurso

até ao alvo do progresso e dos níveis de padrões de civilidade de países europeus que

estavam na dianteira do processo.

Nesse processo de difusão pelo mundo, alguns homens no Brasil tiveram os

primeiros contatos com as ideias modernas, em espaços educativos, bebendo da fonte

entusiasta que indicavam o caminho de como transformar um pais em uma nação nos

moldes de países como França, Alemanha, Inglaterra e outros. Entre esses homens de

vários pontos do pais estava Lauro Sodré, que se tornou aluno próximo de Benjamim

Constam. E ao voltar para Belém lançou suas concepções cientificistas, sobretudo

positivistas, que guiaram como líder do partido Republicano e governante do Estado do

Pará.

No seu primeiro governo no final do século XIX, entre 1891 a 1997 Machado

(2011, p. 210) o “considera responsável pela reforma e florescimento de Instituições

científicas, culturais e educacionais”. No campo da pesquisa científica contratou o

1 Mestre em Educação Científica e Matemática e Doutorando pelo 2 Alan Watrin Coelho pesquisa os debates entre Lauro Sodré e o bispo Dom Macedo da Costa, em 1888,

como representação do confronto entre Republica, ciência e progresso versus fé, religião e Monarquia.

Nesse trabalho Coelho (2006) demonstra o protagonismo de Lauro Sodré no Pará ao fazer apologia num

jornal pela filosofia positivista e crença na ciência para atingir o progresso na capital paraense. Já Felipe

de Moraes Tavares teve objetivo de analisar as concepções política-educacionais que orientou as reformas

no primeiro governo de Lauro Sodré (1891-1897). Na História da Ciência foi analisado por José Jerônimo

Alves no sentido de ver seu papel na difusão do cientificismo na Amazônia.

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zoólogo Emilio Goeldi para administração do Museu Paraense que, em pouco tempo,

fez da Instituição uma referência internacional. Na Cultura mobiliza as obras no Teatro

da Paz, traz o maestro Carlos Gomes em 1895 para dirigir o Conservatório de Artes,

“instituição fundada especialmente para abrigar o compositor de O Guarani em seu

retorno definitivo ao Brasil” (COELHO, 2006, 30)

Na Educação manteve na instrução primária a proposta iniciada com a

proclamação da República, a presença das ciências naturais no currículo “de acordo

com os princípios da moderna ciência pedagógica” (SODRE, 1891, p. 9). Deu atenção

a Escola Normal no sentido de possibilitar a presença da moderna pedagogia na atuação

do magistério. No secundário fez o Liceu Paraense ser equiparado ao Ginásio Nacional

garantindo validade dos exames para matricula nos cursos superiores no país e criou no

mesmo espaço o curso de agrimensura (MORAES, 2011).

Ainda na Instrução Publica, deu atenção especial ao ensino técnico, criando o

Lyceu de artes e ofícios sob a direção da Sociedade Propagadora do Ensino. Além

disso, construiu um novo espaço suntuoso para o Instituto de Educandos de Artes e

ofícios. As propostas do ensino técnico tinha o objetivo de proporcionar o

“derramamento da luzes das ciências” para as classes populares (SODRÉ, 1891 p. 9). O

primeiro voltado para público adulto oferecendo ensino secundário no período noturno e

o segundo para crianças pobres podendo ou não ser no sistema de internato. Além

dessas instituições, outra obra que intencionava o acesso do conhecimento ao público

em geral foi a revitalização da Biblioteca.

Diante de um governante que propunha promover a modernidade dentro da

Região Amazônica, torna-se pertinente perguntar: Qual o papel desempenhado por

Lauro Sodré na modernidade do ensino agrícola? E, ainda investigar de que forma as

ciências naturais e técnicas racionais estiveram presente nesse processo?

Mas, para isso analisaremos a introdução da modernidade e das ciências nesse

processo não como entidades universais, como fez Michael Foucault, que viriam trazer

progresso para todos os povos, e, sim, como a inserção de um modo de vida e de

conhecimentos diferenciados, em uma sociedade que ainda se pautava, em parte pela

ordem tradicional. Para obter resposta a esses questionamentos, esta pesquisa utiliza

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como fontes primárias: relatórios de governos, livros sobre Lauro Sodré e decretos

estaduais. Além de fontes secundárias, como: artigos, dissertações e teses que abordam

que abordam sua atuação no Pará.

Sodré é um sujeito histórico visto por diversas facetas, como: arauto dos

discursos republicano de progresso e do abandono das ideias monárquicas e

administrador moderno da reforma educacional no final do século XIX no Pará;

controverso nos embates ao conceituado Bispo do Para D. Macedo da Costa sobre

laicismo e religião, fé e razão científica e também nas disputas políticas 3promovida por

seus aliados, chamados lauristas e por sua oposição lideradas por Antônio Lemos,

chamados lemista. Ainda que lauristas e lemista convergissem na ideia de modernidade

da capital, ambos disputavam a direção política dessas mudanças; Difusor do

cientificismo no Pará, principalmente pela ótica positivista. Este sujeito de importância

histórica e científica no Pará pode ser investigado em outro pontos pela História da

Ciência, como na contribuição da modernidade do ensino agrícola.

Diante disso, este artigo tem por objetivo analisar as contribuições do

governador Lauro Sodré na modernização do ensino agrícola com a introdução das

Ciências Naturais e de Técnicas Racionais no Estado do Pará de 1892 a 1921. E assim,

pesquisar esse intelectual na perspectiva da história da ciência.

Formação e atuação política no Pará

Sodré obteve sua graduação em bacharel em Ciências Físicas e Matemática, em

1883, pela Escola Superior de Guerra no Rio de Janeiro. Além dessa graduação,

formou-se no Curso de Estado Maior da Escola Militar, que possibilitava “base sólida

científica” (ALVES, 2006, 62). No seu segundo ano de curso teve como professor na

cadeira de cálculo, Benjamin Constant, “cujos alunos seduziam de suas ideias

republicanas e positivistas; Lauro foi dos mais convictos e ardorosos e principiou a

propagá-las como colaborador da Fênix Literária, revista da Escola Militar” (BORGES,

3 Adriana Modesto Coimbra estudou na sua dissertação as disputas políticas entre Lauro Sodré e Antônio

Lemos durante o auge da Belle Époque Amazônica com grandes transformações na urbanização de

Belém. Nesse trabalho é demonstrado os debates controversos, em jornais, entre os grupos lauristas e

lemista na condução administrativa de Belém.

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1986, p. 205). Nessa atmosfera dominada de discursos cientificistas, sobretudo

positivistas, Sodré construiu o alicerce de suas concepções que guiaram sua carreira

política como governador do Estado do Pará.

O positivismo de Augusto Comte seguido por Lauro Sodré não em sua

totalidade, pregava que por meio das ciências, o homem aprimoraria sua racionalidade,

e assim se tronaria mais razoável e mais racional. Por essa concepção de conhecimento,

Sodré considerava Comte um vultoso homem para humanidade por sobrepor a ciência

em relação aos outros conhecimentos. Sobre Comte ele exponha: “foi um colaborador

titânico d’essa obra grandiosa” (SODRÉ apud COELHO, 2006, pp. 74-75).

Nas Escolas em que se graduou havia uma grande valorização da disciplina de

matemática, pois tal atitude estava em consonância com as ideias de Comte que

considerava a matemática como base para o conhecimento de toda ciência, seria a pedra

fundamental para o desenvolvimento das ciências e da racionalidades necessária para

desenvolvimento de qualquer atividade civilizada. Para ele a matemática e física já

haviam sidos arrancados da teologia e filosofia. Enquanto os “alquimistas haviam visto

Lavoisier lançar os alicerces da - química positiva” e os fenômenos biológicos ‘tinham

sido solidamente firmados pelas descobertas das propriedades gerais dos tecidos”.

(SODRÉ apud COELHO, 2006, p. 74).

Nesse sentido, a engenharia civil e naval, equipamentos militares,

desenvolvimento de tecnologias a vapor e elétrica, preparação de produtos químicos,

conhecimento do funcionamento do corpo humano e dos demais seres vivos e outros

estariam na dependência da matemática para sua comprovação e aplicação na sociedade.

Essa concepção epistemológica da ciência continua, linear e progressiva, os indivíduos

aperfeiçoariam o “senso de clareza, o rigor, a ponderação do pensamento, o equilíbrio e

bom senso, em oposição à falta de lógica, o barroco e à loucura” (ALVES, 2005, p. 64).

Como seguidor do positivismo, Lauro não foi apenas um ouvinte sossegado da

filosofia positivista, ele se engajava nos movimentos políticos do meio positivista. Na

Escola Militar ao ouvir sobre positivismo e ciência por Benjamim Constant ‘foi dos

mais convictos e ardorosos e principiou a propagá-las como colaborador da Fênix

Literária” (BORGES, 1986, p. 205). Na sua militância pela difusão do positivismo no

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Pará, em 1881 entrou em polêmica com o jornal católico A Boa Nova ao defender “os

conceitos chave que sustentavam o discurso de positivistas em torno da questão máxima

do tempo, a do progresso advindo da ciência, que só poderia ser alcançado através de

uma república laica e científica” (COELHO, 2006, p. 28). Assim, para positivistas como

Sodré, a instalação da República com a laicização do Estado e a pregação da razão

cientifica eram considerados caminhos serem trilhados à conquista do estado positivo.

No retorno a Belém, participa de um núcleo positivista, onde se promovia

eventos e materiais impressos no sentido difundir o positivismo na região” (ALVES,

2005, p. 62). Mantendo seu labor pela propagação do positivismo no Estado do Pará,

em 1888, rebateu “às críticas feitas pelo Conselheiro Tito Franco de Almeida, através d’

O Liberal do Pará, texto que em sustentava o advento da república como imperativo

das leis do progresso” (COELHO, 2006, p. 33). Na revolta da Vacina, desencadeada

em 1904 pela Lei do governo federal que estabeleceu a obrigatoriedade da vacina contra

a varíola, “Lauro liderou não só os positivistas, mas a oposição em geral” (ALVES,

2005, p. 67).

Esse perfil de liderança e articulador dos discursos cientificista de Lauro Sodré

contribuíram para que em 1892 fosse eleito governador do Estado do Pará. Na frente do

governo lança suas propostas positivista para modernizar o Estado. Suas diretrizes

políticas priorizavam criar ou redirecionar e fortalecer instituições governamentais no

agenciamento dos conhecimentos modernos, principalmente das ciências. Nesse

proposito, organizou um conjunto de instituições educativas, entre elas destacam-se o

Museu Paraense, Liceu Paraense, a Escola Normal, Sociedade de Estudos paraenses,

Sociedade Propagadora do ensino e a Biblioteca Pública. Além do que ele declavara

derramamento das luzes da ciência, Sodré propunha um programa de civilização as

camadas populares, o qual poderia imprimir o modo de vida moderno (SANJAD, 2005).

Nesse rol de obras há reforma do Instituto Paraense Artificies em um suntuoso prédio

para crianças pobres de todo estado, o instituto de Liceu de Artes e Ofícios para

público adulto, e para crianças “desvalidas” associação protetora dos órfãos e Colégio

Nossa Senhora do Amparo. Na saúde reforma a Casa de Misericórdia e amplia a

Diretoria de Fiscalização Sanitária

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Como podemos ver, nos discursos de Lauro Sodré no sentido de promover a

modernidade em vários seguimentos de atuação do Estado do Pará: a educação, a

pesquisa cientifica e a arte. Quanto à agricultura, essa também estaria em pauta como

veremos no item a seguir.

Agricultura moderna e os discursos sobre o ensino agrícola

Lauro Sodré para modernizar agricultura no Estado lançou um conjunto de

propostas, como: imigração, prêmios a produtividade, questão agraria, financiamento

rural e o ensino agrícola. Nesse sentido, organizou um intenso programa de colonização

de imigração nacional e internacional com a intensão de melhorar e ampliar os núcleos

agrícolas por meio de remuneração aos colonos “considerados qualificados para a

introdução de práticas agrícolas atualizadas na faixa destinada à ferrovia Belém-

Bragança” (OLIVEIRA & ROCHA, 2010, p. 113). Solicitou à Assembleia Legislativa

que isentasse o imposto de exportação sobre o cacau que onerava seu custo ao mercado

internacional. Criou a partir de 1893 prêmios para lavouras produtivas e em 1891

regulou alienação de terras devolutas e legitimidade de posses para pequeno produtor.

Favoreceu o crédito rural, prêmio de produtividade e estimulou o ensino agrícola

(SODRÉ, 1917).

Sobre a última proposta, ele se posicionou firmemente a favor da instrução para

agricultura ao congresso do Estado, quando manifestou as seguintes palavras: “penso

que é de certo a criação e a divulgação do ensino agrícola, ministrado especialmente sob

o ponto de vista prático, único verdadeiramente útil” (SODRÉ, 1892, p. 23). Esse

discurso em favor do ensino agrícola, não era uma ação exclusiva para qualificação de

trabalhadores na atividades da agricultura, estava dentro da proposta de promoção do

ensino profissional ou técnico.

A capacitação de mão de obra para várias atividades econômicas, como

indústria, comercio e agricultura era um mecanismo utilizados pelos países

considerados modernos que podia ser aplicado no Pará na compreensão administrativa

de Sodré. Mas para isso, ele defendia um ensino técnico para atividades agrícolas

distinta da tradição da formação de bacharéis, comum no Brasil e no Pará, em que o

resultado da formação superior beneficiava na sua maioria apenas o indivíduo. Após

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obtenção do diploma, muitos iriam compor o exército de funcionários públicos que ele

considerava onerosa aos cofres públicos como ocorria usualmente no Brasil e no Pará e

sem impactos significativos de retorno a sociedade. Nas suas palavras, ele afirmar que

as profissões liberais em termos de campo de trabalho se restringiam ao funcionalismo

ao ponto de constitui um “obstáculo ao progresso e isto ocorria somente por causa da

insuficiência de um ensino técnico capaz de fazer amar cada um o oficio, que poderia

eleger, si para tal meios e oportunidades se lhe oferecessem” (SODRÉ, 1892, p. 24).

No desejo de alcançar os padrões de países considerados referência na

modernidade, Sodré concebia o ensino profissional ou técnico, incluindo o voltado para

a agricultura, uma questão muito importante. Segundo Santos (2013, p. 67) sobre o

estudo do escolas agrícola do Pará, o governador Lauro entendia que essa modalidade

de ensino era vital para os povos modernos, “pois além de agir no campo da educação,

possibilitava aparelhamento dos vários setores da sociedade com certo grau de instrução

da população”. Sodré possuía a crença que “quanto mais instruída fosse uma população,

melhor seria o desenvolvimento da nação”. E nessa conquista, o Pais ou Estado estariam

em condições de enfrentar as disputas de mercado internacional acirradas entre os povos

modernos.

A organização do ensino técnico, disse já alguém, não é uma simples questão

de pedagogia, antes é uma questão vital para todos os povos modernos

empenhados na luta travada no terreno da população e das permutas. Nos

torneios, de que hoje se entretece o drama da vida das nações policiadas, a

vitória há de caber aos mais aparelhados, isto é aos mais instruídos (SODRÉ,

1892, p. 29).

A instrução agrícola para Lauro Sodré era um mecanismo moderno de imprimir

no homem local o ritmo de trabalho como modelo de vida ligado a lavoura, assim como,

de implantar positivamente a valorização de seu papel na sociedade como fornecedor de

produtos agrícolas nas áreas rurais. Nesse sentido, ele declarou “mais grave talvez da

insuficiência da instrução agrícola é uma sorte de desclassificação da população rural”.

Mas para garantir “o agricultor nos campos e necessário leva-lo a tomar interesse pelo

que faz, dar-lhe consideração e bem estar, é preciso ministra-lhe opinião melhor do

papel que realmente cabe-lhe na sociedade” (SODRÉ, 1892, p. 29).

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Além do entendimento dos mecanismo modernos para conformar o homem

paraense aos padrões dos países que estavam no centro de referência de civilização,

Lauro Sodré conhecia os efeitos do progresso material promovida pelo conhecimento

cientifico nos países europeus, e por isso levantava a bandeira explicitamente da ciência

como principal elemento de modernidade da agricultura, pois a concepção tradicional de

cultivo baseada na experiência local não correspondia mais ao novo modelo de

agricultura que se estabelecia entre as nações.

No seu repertório administrativo de diretrizes para modernizar o Estado, a

agricultura tinha seu lugar nesse processo, e isso ocorreria para Sodré por meio da

aplicação da ciência e técnicas modernas e não mais por técnicas da tradição local, de

origem indígena somadas com aquelas trazidas da Europa no período da Colônia. A

agricultura moderna consistia numa quantidade significativa de conhecimentos que

seriam aprendidas por meio do ensino escolar e não mais nos espaços de circulação de

saberes tradicionais que mantinham a mesma rotina para ele.

A agricultura não é em si uma ciência, aplica o princípio de várias ciências. Por

que deixá-la-emos, entre nós abandonada a rotina, que é a ignorância ou a

inercia feitas sistemas, a exploração do solo, que apenas pode ser largamente

frutífera sob direção esclarecida pelo estudo (SODRÉ, 1892, p. 29).

O governador acreditava que por meio do conhecimento das ciências naturais e

sua posterior aplicação na agricultura, o setor agrícola chegaria aos padrões

internacionais modernos. E assim, após se manifestar a favor do ensino agrícola e da

ciência para o agricultor, Lauro Sodré propõe a criação de instituições de ensino

agrícola no Estado conforme os padrões de países de centro de produção de

conhecimento cientifico: “Criemos uma Escola agrícola; e sendo possível estações

agronômicas, como possuem-nas em tamanha copia o Estados Unidos da América do

Norte, onde só no ano de 1888 fundaram-se 26” (SODRÉ, 1892, p. 29).

Cinco anos depois desse discurso, ele continuava a afirmar que o método

aplicado na agricultura era o cerne da questão para melhoria da produção no Estado, ou

seja, substituir a prática rotineira4 por processos aperfeiçoados “baseados nos

4 Um exemplo disso era o da técnica da produção da farinha de mandioca que utilizava uma técnica em

várias etapas e com instrumentos próprio da região herdado do saber indígena. Esta técnica não estava

inserida dentro de aspectos decorrentes da modernidade - tempo e produção. Sobre a técnica indígena ver

a obra de Berta Ribeiro O Índio na História do Brasil. Sobre o resignificado do tempo na Belle Èpoque

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ensinamentos de ciência” (SODRÉ, 1897, p. 30). Entre esses dois tipos de instituições

de ensino agrícola citados acima, Sodré manteve preferência na criação de uma escola,

E isto ele manifestou na Assembleia de deputados, quando relatou as características

utilitária para agricultura, baseada em conhecimentos científicos, mas sem tendência ao

excesso de conhecimento teórico que, segundo suas palavras, predominavam entre os

doutores agrônomos da época. Por isso, ele defendia a criação de uma escola agrícola

ministrada “especialmente sob o ponto de vista prático, único verdadeiramente útil,

fugindo da formação de doutores agrônomos, que na vida pública entram no grande

exército do funcionalismo, fugindo do campo da atividade industrial do pergaminho”

(SODRÉ, 1897, p. 29).

O apelo ao Congresso do Estado de Lauro por uma escola agrícola ocorreu,

desde 1892, quando no mesmo ano a Assembleia Legislativa autorizou a “fundação de

uma escola de agricultura e uma fazenda agrícola” pela lei n 53 de 27 de agosto de 1892

(SODRÉ, 1897, p. 30). No entanto, o governador Lauro Sodré informou o entrave na

implantação da lei: “Ainda não foi possível tentar a execução a essa medida por não ter

sido votado o credito necessário” (SODRÉ, 1897, p. 29).

Diante do embaraço para construção de uma nova escola. Três deputados5

criaram uma secção de agronomia no “Instituto Lauro Sodré com um valor bem menor

para os cofres do Estado” (PARÁ 1897, p. 72 apud SOUZA 1994, p.24). O ensino

agrícola defendido por Lauro Sodré estava proposto justamente no espaço por ele

pensado para o exercício do ensino técnico em 1892: “Deveis autorizar a reforma

completa do Instituto Paraense de Educando artífices, ou realizai-a, dando a este

estabelecimento organização inteiramente nova, que permita corresponder aos intuitos

que determinaram sua criação” (SODRÉ, 1892, p. 29)

Dentro do Projeto proposto pelos deputados para a criação da escola agrícola no

currículo estavam presentes as ciências naturais propriamente ditas e técnicas modernas,

como podemos ver:

1. Cadeira - Botânica e Zoologia; 2. Meteorologia e Geologia; 2.Anatomia e

Fisiologia veterinária;3. Cirurgia veterinária; 4. Entomologia, economia

política e arquitetura rural; 5.trabalho de campo; 6. Conhecimento prático das

da Amazônia ver o artigo de José J. A. Alves Tempo, Espaço e Modernidade na Belle Èpoque

Amazônica. 5 Deputados: J. Sarmento, L. A. Salazar e Amado da Silva. Ver a dissertação de Orlando Nobre Bezerra

de Souza “Ensino Agrícola: do instituído aos novos horizontes profissionais”.

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línguas francesa, inglesas e alemã. (PARÁ, 1897, p. 72 apud SOUZA 1994, p

.24).

A presença das ciências naturais nesse currículo torna-se distinta no ensino

agrícola paraense até então, pois antes da criação desse projeto apenas foram criadas

escolas agrícolas por entidades religiosas e uma exclusivamente pelo Estado - a Escola

Rural Dom Pedro (1860). Quando comparamos os currículos vemos certa diversificação

das Ciências Naturais em disciplinas no final do século XIX do Brasil República em

relação ao período Imperial, como: botânica e zoologia, meteorologia e geologia,

anatomia e fisiologia veterinária, cirurgia veterinária e entomologia.

A valorização de novas técnicas e ciências naturais diferenciavam-se dos que

acompanhavam as práticas de agricultura disseminadas anteriormente na região, tanto a

praticada pelas tribos indígenas, como a transmitida pelas ordens religiosas e, ainda,

pela Escola Rural D. Pedro II, que foi criada anteriormente e durou apenas em torno de

dois anos e meio. Esta escola, criada em 1860, transmitiu alguns conhecimentos

diferentes dos que vinham sendo praticados na região. Entre esses conhecimentos, havia

disciplinas técnicas, como “Agricultura Geral”, “Silvicultura Geral” e “Zootecnia

Geral”, mas, não disciplinas propriamente dita cientifica, como zoologia e botânica.

Por fim, a proposta inicial de criação de uma escola agrícola por Lauro Sodré

sofreu modificação no Congresso Legislativo que por meio das Comissões de Instrução

Pública e Fazenda que autorizaram a criação, não de uma escola, mas de um curso

agrícola nas dependências do Instituto Lauro Sodré (SOUZA, 1994). Só no governo de

Paes de Carvalho em 1899 ocorreu a criação do curso no Instituto Lauro Sodré (novo

nome dado ao Instituto de Educandos Artificies e Ofícios) chamado de Curso Regente

Agrícola que durou em torno de três anos, mas que foi importante para o ensino

agrícola por introduzir o “caráter cientifico e tecnológico” no seu currículo e propor

espaços distinto no ensino de ciências, como o laboratório de química (SANTOS E

ALVES, 2014, p. 36)

O Curso regente não foi criado por Lauro Sodré, mas seus discursos sobre

ensino agrícola fundamentado na ciência e nas técnicas possibilitaram condições de suas

existências. Segundo Santos (2013, p.54) na pesquisa sobre o Curso Agrícola, foi partir

do governo de Lauro Sodré nos anos 1892 encontrou discursos dos governos

Republicanos que “enfatizavam a necessidade de promover o ensino agrícola, na região,

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por meio de um ensino baseado nas ciências e nas técnicas modernas”. Anteriormente

ao seu governo no período imperial ao início da Republica encontroamos discursos no

que afirmavam “que o atraso da atividade agrícola no Pará estavam atrelado à falta de

instrução”, ou seja, até antes do governo Sodré os discursos sobre atraso da agricultura

estavam atrelado a falta de instrução, mas a partir Sodré vai-se mais além, com a

proposta da inclusão das ciências e de técnicas modernas (SANTOS & ALVES, 2014).

Segundo governo e a Criação da Escola de agronomia do Pará

Lauro Sodré, em 1917, assume pela segunda vez o mandato de governador do

Estado, diferente do primeiro governo, a posse ocorre após grandes conturbações

políticas. No alicerce das diretrizes políticas mantem a crença na ciência para alcançar

o progresso da sociedade. Mas para isso, valoriza a instrução publica como o meio de

disseminar o conhecimento moderno as camadas populares. Sua pronuncia na Casa

Legislativa do Estado, em 1920, faz uma síntese de sua política de governo:

“a instrução ficará entre os assuntos que mais de perto hão de constituir o

objeto de nossas constantes preocupações. Palavras e atos meus aí estão para

provar que sempre olhe com carinho para as coisas de ensino, tendo como o

primeiro dos deveres, entre que pertence ao Estado, esse semear em

profusão por toda parte as luzes a ciência, dando a todos os homens essas

clartés de tour, que façam deles os instrumentos inteligentes do progresso de

um país livre,em lugar de deixá-los vegetando na ignorância” (SODRÉ,

1920, p. 59)

Mas, além da instrução geral, Sodré conserva a mesma atenção especial ao

ensino técnico, visão esta característica dos positivistas no Brasil que rompiam com

conhecimento contemplativo, característico do bacharelismo, para um conhecimento

que considerava promotor de serviços e bens para o progresso material. Nesta questão,

em 1919, faz referência do seu olhar em prol do ensino técnico desde do seu primeiro

governo: “Logo nos primeiros anos do período que me coube a direção pleiteava em

favor desse ensino mal tratado entre nós (SODRÉ, 1919, p.120).

Sodré mantia a ideia que no mundo moderno a instrução era um aparelho que

possibilitava não só o conhecimento, mas condições de uma sociedade se tornar

produtiva e ser capaz de concorre no mercado internacional. Assim ele repete uma

mesma frase usada desde seu primeiro governo: “A organização do ensino técnico, disse

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já alguém, não é uma simples questão pedagógica, antes uma questão vital para todos os

povos modernos, empenhados nesta luta travada no terreno da produção e das

permutas” (SODRÉ, 1919, p.120).

No caso da particular do ensino agrícola, além do propósito de formar mão-de-

obra para setor agrícola, tinha também a intensão de capacitar um contingente de força

de trabalho com métodos racionais e modernos. Esse investimento para ele não só

resolveria a questão de abandono da agricultura, mas conduziria as práticas modernas de

cultivo e usos de tecnologias na lavoura e assim, melhoraria a produtividade. Como

seguidor do cientificismo, ele acreditava que agricultura no Estado melhoraria com a

difusão do ensino das Ciências nas práticas agrícolas. Podemos ver isso quando ele

repete a mesma frase dita no seu primeiro governo: “o clima, as qualidades do solo, e o

suor do trabalhador cessaram de ser os únicos fatores do rendimento agrícola, a ciência

do cultivador tornou-se o seu principal agente” (SODRÉ 1917, p.14).

Modernizar a agricultura aos olhos Sodré, não era apenas uma questão de cifras

econômicas, era a possibilidade de racionalizar, aplicar tecnologia e envolver a

população numa atividade que imprimia o modo de vida civilizado ligado a

produtividade. Mesmo tendo usufruído dos recursos fartos da economia da borracha

para promoção de suas políticas no seu primeiro governo, Sodré declarava desde aquele

momento críticas a economia gomífera por provocar decadência da agricultura, pois

aquela a atividade arregimentava a mão-de-obra local disponível provocando

desinteresse na atividade agrícola. Nas suas palavras “a atração de braços para esse

ramo de atividade [...] de escassa população, tem gerado uma situação de lamentável e

visível decadência para a Agricultura” (SODRÉ, 1892 p.19).

Seus murmúrios sobre o prejuízo da agricultura decorrente da atividade da

borracha, no seu segundo mandato, após o apogeu da produção gomifera6, continuavam

nos seus discursos: “quando de Belém saiam entre os produtos de seu comércio de

exportação, e avultando entre eles, o café, o cacau, o açúcar, o milho, e decaindo dia-a-

6 Segundo a autora Ana Maria Daou o período de grande prosperidade na Amazônia decorrente da

exportação da goma elástica foi de 1880 a 1910. No qual, Belém e Manaus foram cidades que sofreram

transformações culturais, econômicas e de suas paisagens com grande avanço urbanístico.

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dia desde que entrou a crescer a exploração de borracha tão sedutora e compensadora”

(SODRÉ, 1918, p.17).

Lauro Sodré exaltava a agricultura e seus defensores e isto ele demonstrava

desde o final do século XIX a admiração pelos fisiocratas7. Segundo o governante, os

fisiocratas consideravam a agricultura “classificada como a indústria produtiva por

excelência, e a juízo dos modernos a primeira indústria do homem” (SODRÉ, 1892,

p.20). Nessa compreensão, a agricultura possibilitaria a circulação de produtos nela

cultivável para outras localidades do mundo, assim como a vinda de produtos

decorrentes da importação, esse intercambio acarretaria a ampliação na produção e

acúmulo de capital, de tal modo que traria benefícios à população. Diante desta crença

ele exaltava a situação da agricultura nos país por considerar “melhor sinal da sua

riqueza”, pois apresenta “com efeito, conexões tais com a circulação de capitães e com

bem estar da população” e pode ser “considerada uma espécie de barômetro econômico”

(SODRÉ, 1892, p.21).

Vale ressaltar a interrelação agricultura-solo, pois o primeiro é dependente do

segundo para que desenvolva e prospere. Nesse contexto, de acordo com os discursos

do governador, o solo do Estado do Pará era promissor para o cultivo os diversos

gêneros agrícolas para o mercado internacional e assim dando grandes oportunidades no

setor agrícola. Nesse sentido, Lauro Sodré incentivador da agricultura, cita o estrangeiro

Alfred Wallace como autoridades de referência para legitimar o discurso das

potencialidades do solo da região. Segundo Lauro Sodré, o naturalista disse as seguintes

palavras: “Em parte nenhuma do mundo a natureza e o clima são, como aqui, são tão

favoráveis ao lavrador”, e acrescenta sobre a questão da produtividade das florestas

virgens que podem transformadas “em ricas pastagens e pradarias, em campos de

cultura, em jardins, em pomares cobertos de todas variedades de frutas com menos

trabalho” e “em muito menos tempo entre nós” (WALLACE apud SODRÉ, 1918, p.16).

Podemos perceber na fala de Sodré a importância a que dava a agricultura como

atividade econômica grandiosa e de acordo com sua desenvoltura um sinal evidente da

modernidade de um pais. Entretanto este governante reclamava desde seu primeiro

7 Fisiocratas: defensores da ideia de desenvolvimento econômico através da agricultura, do uso solo para

produção de riquezas.

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governo a decadência dessa atividade e rotina que perpetuava suas práticas, distante de

técnicas racionais e de aplicação das ciências. Isto ele declara ao Congresso do

Legislativo do Estado do Pará, em 1918: “Em Dez anos a nossa agricultura desalenta e

rotineira não deu um passo”. Mas para que isso mudasse Sodré acreditava na

interferência do Estado: “E de aparelhas com as solicitações a favor de providências

salvadoras para a agricultura estacionaria e decrépita,” (SODRÉ, 1918, p.17).

Nesse contexto de valorização da instrução e da agricultura e de modernizar as

práticas agrícolas consideradas rotineiras, Lauro Sodré apoia a criação da Escola de

Agronomia do Pará pela entidade particular chamada Centro Propagador de Ciências8.

Ele considerava esta Entidade, fundada em 23 de janeiro de 1918, composta por homens

aliados de sua proposta de modernidade. No período da criação da Escola o jornal Folha

do Norte anunciava que no Centro Propagador de Ciência havia pessoas “que se

propunham estabelecer, manter e superintender cursos em que fossem ministrados com

maior desenvolvimento, conhecimentos científicos sobre Odontologia, Agronomia

Veterinária, Farmácia e quaisquer outros ramos das ciências a nível superior”

(ESCOLA, 1918, p.1).

A Entidade particular fundou a Escola de Agronomia do Pará no dia 1º de março

do mesmo ano de 1918. A atenção dada a Escola pelo Estado permitiu que foi

oficializada em 5 de novembro pela Lei nº 1679 (NORTE AGRONÔMICO, 1942, p.

23). A criação da Escola Agronômica do Pará não foi realizada pelo Estado do Pará,

mas teve grande apoio de Sodré. Sobre a importância da sociedade particular Centro

Propagador de Ciência para o ensino superior agrícola no Estado ele pronunciou que a

entidade “preencheu a lacuna que o Estado não pode realizar” no sentido de “ser útil a

terra que desejamos engrandecida. Daí nasceu a ideia da fundação da Escola de

Agronomia” (SODRÉ 1920, p.65).

No interesse pela Escola de Agronomia do Pará, Lauro Sodré não só apoiou sua

criação mas possibilitou seu funcionamento dentro dos critérios da ciência agronômica

com a autorização de realizar as aulas práticas em Repartições Públicas do Estado para

o ensino do manejo da terra e de animais no ensino de botânica e zoologia, da

8 A diretoria da entidade era composta pelos senhores Arthur França, Pinheiro Sosinho e Porto de

Oliveira. Juntamente com criação do Centro Propagador foi fundada a Faculdade de Odontologia sob a

direção do médico-cirurgião Jaime Aben-Athar (FACULDADE, 1918, p. 2).

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manipulação de produtos químicos e instrumentos de físicas nas aulas de química e

física e analise de gado nas aulas de anatomia e fisiologia animal. Nesse apoio a Escola

Sodré expõe: “permitam o funcionamento das aulas práticas, que só podem ser agora

dadas fora de sua sede, como são no Campo de Cultura Experimental, no Laboratório

do Estado , no Museu Goeldi e no Matadouro” (SODRÈ, 1920, p. 65)

Como espaço do ensino agrícola moderno baseado nas ciências naturais e

técnicas racionais, no qual Sodré havia lançado suas esperanças na modernidade da

agricultura do Estado. A Escola apresentava em 1918 no currículo9 disciplinas química

e suas derivada inorgânica, orgânica, analítica, industrial e agrícola, também a “física

agrícola, meteorologia e climatologia, botânica, zoologia, com conhecimento técnico

agrimensura e elementos da mecânica geral e agrícola, e tecnológicas como industrias

agrícolas, elementos de hidráulica agrícola e construções rurais e desenho” (ESCOLA,

1918, p.1).

A predominância e variedade de disciplinas ditas cientificas, disciplinas técnicas

e tecnológicas no currículo da Escola se distingue do que existira antes na história do

ensino agrícola do Pará. Isto mostra o processo de ampliação e especialização da

Ciência no ensino agrícola do Pará. Além disso, solidificação do ensino agrícola no

Estado como elemento da modernidade que negociou sua entrada num local e conseguiu

se fixa, após várias tentativas de criação e fechamento de escolas agrícola na Amazônia.

A importância de Lauro Sodré a criação da Escola Agronômica do Pará,

podemos analisar que apesar da Escola ser criada por uma entidade particular, seu apoio

permitiu além da criação e regulamentação para o início de suas atividades também seu

funcionamento em condições até o final de seu mandato no ano de 1921 com até

contribuições financeiras.

Considerações Finais

9 Era constituída pelas disciplinas “Álgebra, geometria e trigonometria, química inorgânica, química

orgânica, química analítica, química industrial e agrícola, física agrícola, meteorologia e climatologia,

botânica agrícola, anatomia e fisiologia animal, zoologia, fitopatologia, aerologia e agronomia,

entomologia, parasitologia e micologia, agrimensura, desenho planimétrico, elementos da mecânica geral

e agrícola, economia geral, legislação agrária e florestal, industrias agrícolas, elementos de hidráulica

agrícola e construções rurais e desenho.” (ESCOLA, 1918, p.1).

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Em Lauro Sodré podemos perceber a presença de um governante que

explicitamente discursava na Assembleia Legislativa a favor da agricultura e da criação

(elementar) e apoio (superior) as escolas agrícola que estimulassem o envolvimento da

população paraense com a agricultura e desenvolvesse práticas modernas na atividade

agrícola. As suas políticas possibilitaram condições para a criação de uma escola

agrícola que por fim foi transformada no Curso Regente Agrícola após seu primeiro

mandato e também da Escola de Agronomia do Pará no segundo governo. A criação do

Curso e da Escola consideramos dois acontecimentos importante na história das ciências

no ensino agrícola. Isto se deve pelo fato de apresentarem a introdução de disciplinas

das ciências naturais, de técnicas racionais e de tecnologias no currículo e por

apresentarem espaços físicos que favoreciam o ensino desses conhecimentos da

racionalidade moderna.

A agricultura foi valorizada por Lauro Sodré não por ser uma ação isolada de um

intelectual atuante politicamente na região amazônica, mas por apresentar como os

demais positivistas do Brasil de sua época crença de que agricultura como um solo fértil

para aplicação das Ciências Naturais, um setor promissor que conduziria o Estado e o

País a um desenvolvimento econômico semelhante a países da Europa e Estados

Unidos. O ensino agrícola nos diferentes níveis e modalidade foi incentivado,

promovido e apoiado por Lauro Sodré por considerar via para melhoria da atividade

agrícola no Estado. Esta ação estava em sintonia em com outros homens do pais que

atribuíam “a tarefa de levar a ciência ao meio rural” (BHERING, 2008, p.50). Assim

como, em consonância com as ideias positivistas no Brasil que atuavam através do

poder público para o encontro da atividade científica e agrícola. A nível nacional o

resultado desse encontro ocorreu com a criação do o Ministério da Agricultura,

Indústria e Comércio (1906/1909) que cria decreto nº 8.319, em 20 de outubro de 1910,

dando regras ao ensino agronômico em todo o país, além de criar a Escola Superior de

Agricultura e Medicina Veterinária como referência federal do ensino superior agrícola

para todo país, no sentido de oferecer o tempo de duração do curso, o currículo e a

estrutura física, coisas em que a Escola de Agronomia do Pará se assemelhava

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