Cidades mais sustentáveis - Solutions&Co by Sparknews · nos, o objetivo do encontro é co- ......

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_>>> Enxerto Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 4/11/2016 (16:40) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Sexta-feira, 4 de novembro de 2016 | F1 Especial Empresas & Clima Hoje, 20 dos principais jornais de economia em todo o mundo publicam simultaneamente suplementos que apresentam soluções de negócios para cidades sustentáveis Cidades mais sustentáveis B astante céticos em rela- ção às mudanças cli- máticas até pouco tem- po, os russos se rende- ram às evidências e começam a desenvolver soluções para prote- ger as cidades dos impactos do aquecimento global. São Petes- burgo, conhecido destino turís- tico, assiste à elevação do mar que come suas orlas e sofre com ameaças à sua infraestrutura pe- las águas subterrâneas. Com parceiros na Finlândia, que está na mesma latitude, a se- gunda maior cidade russa ma- peia riscos e busca formas de mitigá-los. É um dos exemplos reunidos neste suplemento que apresenta soluções desenvolvi- das por empresas e governos, em diferentes áreas — do com- bate ao desperdício de alimen- tos à construção de casas em 3D —, para ajudar as cidades a se tornarem mais sustentáveis e re- silientes aos desafios do clima. Com reportagens produzidas e compartilhadas por 20 dos principais jornais de economia de diferentes países, a iniciativa, que tem a participação do Valor , é capitaneada pela Sparknews, organização dedicada a divulgar e multiplicar ações que contri- buam para solucionar proble- mas que afetam todo o mundo. Os negócios que se estabele- cem nos novos termos da econo- mia de baixo carbono conjugam soluções inovadoras e também conseguem responder a deman- das sociais. É o caso das câmaras frigoríficas da Cold Hubs, ali- mentadas por energia solar, que, por um preço bastante acessível, ajudam agricultores nigerianos a conservar sua produção, amea- çada pelo calor e pela falta de condições de armazenamento. A francesa Phénix busca redu- zir o desperdício de alimentos ao atuar como canal entre gran- des supermercados e entidades beneficentes com o encaminha- mento de produtos que não po- dem ser vendidos, mas ainda têm outras utilidades. Na área de energia existem projetos surpreendentes como a Wattway, estrada feita com pai- néis fotovoltaicos e uma resina especial que está em teste na França e pode produzir, em um quilômetro, energia suficiente para abastecer uma vila de 5 mil habitantes. As pequenas ilhas do sul da Itália aproveitam sol, mar e ven- to. Algumas são movidas a ener- gia das ondas, com um custo que já é competitivo em relação ao da rede elétrica tradicional. Transporte mais limpo, com- bustíveis que passam longe dos fósseis, reaproveitamento de ma- teriais e revitalização de espaços urbanos estão entre os temas das reportagens reunidas neste ca- derno. As diferentes iniciativas de gestão e soluções de negócio inovadoras apontam para cami- nhos promissores no enfrenta- mento dos desafios climáticos.

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Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 4/11/2016 (16:40) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Sexta-feira, 4 de novembro de 2016 | F1

Es p e c i a lEmpresas & Clima

Hoje, 20 dos principais jornais de economia em todo o mundo publicam simultaneamente suplementos que apresentam soluções de negócios para cidades sustentáveis

Cidades mais sustentáveisB

astante céticos em rela-ção às mudanças cli-máticas até pouco tem-po, os russos se rende-

ram às evidências e começam adesenvolver soluções para prote-ger as cidades dos impactos doaquecimento global. São Petes-burgo, conhecido destino turís-tico, assiste à elevação do marque come suas orlas e sofre comameaças à sua infraestrutura pe-las águas subterrâneas.

Com parceiros na Finlândia,

que está na mesma latitude, a se-gunda maior cidade russa ma-peia riscos e busca formas demitigá-los. É um dos exemplosreunidos neste suplemento queapresenta soluções desenvolvi-das por empresas e governos,em diferentes áreas — do com-bate ao desperdício de alimen-tos à construção de casas em 3D—, para ajudar as cidades a setornarem mais sustentáveis e re-silientes aos desafios do clima.

Com reportagens produzidas

e compartilhadas por 20 dosprincipais jornais de economiade diferentes países, a iniciativa,que tem a participação do Va l o r ,é capitaneada pela Sparknews,organização dedicada a divulgare multiplicar ações que contri-buam para solucionar proble-mas que afetam todo o mundo.

Os negócios que se estabele-cem nos novos termos da econo-mia de baixo carbono conjugamsoluções inovadoras e tambémconseguem responder a deman-

das sociais. É o caso das câmarasfrigoríficas da Cold Hubs, ali-mentadas por energia solar, que,por um preço bastante acessível,ajudam agricultores nigerianos aconservar sua produção, amea-çada pelo calor e pela falta decondições de armazenamento.

A francesa Phénix busca redu-zir o desperdício de alimentosao atuar como canal entre gran-des supermercados e entidadesbeneficentes com o encaminha-mento de produtos que não po-

dem ser vendidos, mas aindatêm outras utilidades.

Na área de energia existemprojetos surpreendentes como aWattway, estrada feita com pai-néis fotovoltaicos e uma resinaespecial que está em teste naFrança e pode produzir, em umquilômetro, energia suficientepara abastecer uma vila de 5 milhabitantes.

As pequenas ilhas do sul daItália aproveitam sol, mar e ven-to. Algumas são movidas a ener-

gia das ondas, com um custoque já é competitivo em relaçãoao da rede elétrica tradicional.

Transporte mais limpo, com-bustíveis que passam longe dosfósseis, reaproveitamento de ma-teriais e revitalização de espaçosurbanos estão entre os temas dasreportagens reunidas neste ca-derno. As diferentes iniciativasde gestão e soluções de negócioinovadoras apontam para cami-nhos promissores no enfrenta-mento dos desafios climáticos.

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F2 | Valor | Sexta-feira, 4 de novembro de 20 1 6

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 4/11/2016 (17:55) - Página 2- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Acordo de Paris Recursos para adaptação ao aquecimento são vitais

Africanos se preparampara uma luta na CoP-22David ThomasDa African Business (Londres)

Quando o ministro das Rela-ções Exteriores da França, Lau-rent Fabius, bateu o martelo so-bre o histórico acordo climáticode Paris, em dezembro, represen-tantes das delegações se abraça-ram nos corredores e celebraramaté tarde da noite. Esse acordoculminou em uma promessa me-ticulosamente construída com oobjetivo de limitar o aumento datemperatura global a não mais de1,5° C acima dos níveis pré-indus-triais. Dada a importância doacordo, a reunião de seguimentoeste mês, em Marrakech, pode pa-recer pouco mais do que um de-sencargo de consciência.

Com o retorno da CoP-22 à Áfri-ca pela primeira vez em cinco anos,os negociadores do continente es-tão adotando um tom de realismoracional e se preparam para a tare-fa vital de implementar o acordo.Para a África, um continente ex-cepcionalmente vulnerável ao im-pacto das mudanças climáticas, anecessidade de ação continua a sermais urgente do que nunca.

Em 2020, entre 75 milhões e250 milhões de pessoas na Áfricapodem sofrer maiores dificulda-des relacionadas à água devidoàs alterações climáticas, enquan-to as terras áridas e semiáridas docontinente podem se expandirem até 8% até 2080.

Embora os africanos tenhamacolhido o acordo de Paris comoum importante passo à frente, par-ticularmente devido ao alcanceglobal, somente sua rígida imple-

mentação deve ajudar o continen-te a combater os piores efeitos dasalterações climáticas.

Para os representantes africa-nos, o objetivo do encontro é co-locar pressão no resto do mundo.“A nossa abordagem em relação àCoP-22 é nos certificar de que oacordo de Paris, assinado anopassado, seja aplicado, e que osinteresses da África estejam emum plano prioritário” diz KwameAbabio, oficial do programa paraalterações climáticas da agênciaNepad na União Africana.

“Isso significa que os problemasde adaptação que as liderançasafricanas têm mencionado consis-tentemente devem ser discutidosno mais alto nível”, afirma. A ques-tão das finanças para a adaptação— os recursos necessários para aju-dar a África e outras regiões em de-senvolvimento a se preparar paraos efeitos das alterações climáticas— tem sido um ponto de atrito nas

conversações globais. Os compro-missos anteriores de US$ 100 bi-lhões por ano até 2020 — que emestimativa posterior feita pela OC-DE chegaram a $ 52 bilhões em2013 e $ 62 bilhões em 2014 — ain -da precisam ser esclarecidos.

Com os custos de adaptaçãoestimados em pelo menos 5% a10% do PIB do continente, os afri-canos continuam a pressionarpor um maior suporte dos paísesmais ricos. Enquanto o acordo deParis em grande parte evitou aadaptação, na tentativa de forjarum consenso global, os formula-dores de políticas da África têmmuita esperança de recolocar aquestão em primeiro lugar na or-dem do dia em Marrakech. “Exa -minando o cenário financeiroglobal e os recursos disponíveispara o clima, a África tem recebi-do muito pouco. As finanças sãoum componente muito impor-tante que precisa ser reavaliado”,

diz Ababio. Transferências de tec-nologia e capacitação tambémsão vistas como essenciais para of u t u r o.

No entanto, o caráter flexíveldo Acordo de Paris permaneceum grande obstáculo para as am-bições do continente africano.Todos os signatários do acordopublicaram documentos nacio-nais ambiciosos mapeando seusplanos — conhecidos como INDC(sigla em inglês para contribui-ção nacionalmente determina-das), mas os mecanismos de exe-cução permanecem evidente-mente vagos. Sem ratificaçãoglobal, a meta de 1,5° C começa aparecer muito frágil.

“Como estamos trabalhandopor meio do sistema das NaçõesUnidas, que exige a formação deum consenso, é difícil ter umacordo vinculante”, diz Ababio.“Mais de 60 países já o ratifica-ram, então esperamos que mui-tos mais vão aderir e se alinharcom os princípios do Acordo dePa r i s ”, afirma. A prioridade paraa África será convencer o mundode que o acordo representa o iní-cio de uma jornada, ao invés deseu destino final. Talvez a escolhade Marrakech — uma cidade dosemiárido com um calor de 35° Cem novembro — seja suficientepara concentrar as mentes dos lí-deres nos custos da passividade.

D I V U LG A Ç Ã O

No deserto, turbinas para aproveitar o vento e transformá-lo em energia

As cidades podemresponder aosdesafios do clima

As cidades estãono centro damudançaclimática:respondem por

70% das emissões degases-estufa e abrigam 54%da população global — em2050 serão 66%. As áreasurbanas também funcionamcomo centros para negócios,inovação e criação deestratégias para resiliênciaaos desafios do clima. Sãocapazes de reinventar nossosmodos de produção,consumo e distribuição,além de moldar um novorelacionamento commobilidade urbana, energiae resíduos.

Colocar as cidades comofoco editorial desta segundaedição do Solutions&Co —iniciativa da Sparknews quereúne jornais de economia detodo o mundo para divulgarrespostas bem-sucedidas domundo corporativo à questãoclimática — foi uma opçãoóbvia para nós e nossoparceiro de mídia comercial.

Hoje, 4 de novembro, artigosproduzidos por umprestigiado grupo de 20

jornais de economia, incluindoo Va l o r , estão sendopublicados em vários países.Leitores na China, Brasil, Áfricado Sul, Arábia Saudita, França eAlemanha, entre outros, vãodescobrir juntos negócios eorganizações que fazem adiferença.

Para dar um passo além,reunimos as opiniões deimportantes especialistas emclima, como Mary Robinson eDame Ellen MacArthur, naforma de um e-book(download disponível emw w w. s o l u t i o n s a n d c o. o r g ) .

O Sparknews temtrabalhado com os principaisveículos de mídia ao longo dosúltimos cinco anos com opropósito de identificar epublicar as histórias de ummundo que sabe comoencontrar soluções para seusdesafios. Ao mesmo tempo,nosso foco está nos atores quetêm o maior impactopotencial: governos locais,tomadores de decisõeseconômicas eempreendedores. Todos têmum papel a desempenhar.

Christian de Boisredon éfundador do Sparknews

Especial | Empresas & Clima

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F6 | Valor | Sexta-feira, 4 de novembro de 20 1 6

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 4/11/2016 (16:42) - Página 6- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Phénixfac ilitadoaçõesdo varejoJulien ChauveauDo Les Echos (França)

Sob o telhado de vidro de ummoderno armazém adaptado,cerca de dez jovens profissionaisdividem o espaço de trabalhocom uma mesa de pebolim. Estaé a Phénix: uma startup inova-dora criada em março de 2014por dois amigos, Jean Moreau eBaptiste Corval.

A Phénix — pássaro da mitolo-gia grega que renasce, triunfal-mente, das cinzas — quer reduzir odesperdício de alimentos ao servircomo canal entre grandes super-mercados e associações beneficen-tes, ativando a economia circular.

A startup é também fruto dabusca pessoal de seu co-fundador,Jean Moreau, por um significadomaior em sua vida. Esse ex-executi-vo de banco de investimento de 33anos passou por uma reciclagem,após perceber que não queria“reunir planilhas do Excel pelo res-to da vida, para encerrar sua carrei-ra aos 50 anos com um monte dedinheiro na conta”.

Nos supermercados, produtosconsiderados impróprios para oconsumo, por terem ultrapassadoa data de validade ou por estaremde alguma forma danificados, são,em geral, empilhados em almoxa-rifados antes de ser descartados,cobertos por água sanitária ou re-duzidos a cinzas.

“Destruir esses produtos en-volve um custo para as empre-sas”, explica Moreau, enquantopassa um slide após o outro degráficos que mostram as váriasmaneiras pelas quais os super-mercados acumulam custos de-correntes da armazenagem etransporte de sobras de produ-tos, além da taxa de incineração.

A Phénix está tentando fecharacordos com grandes companhiaspara ajudá-las a economizar, ouaté mesmo a recuperar alguns va-lores. Graças à legislação francesasobre doações a associações bene-ficentes, a Phénix consegue garan-tir que as empresas se beneficiemde uma dedução fiscal equivalentea 66% do valor das doações. A star-tup recebe uma parcela do valoreconomizado em impostos pormeio de uma comissão de 30%.

Todo e qualquer produto é pró-prio para doação desde que tenhaum valor contábil. Estão nessa ca-tegoria produtos alimentícios, la-tas de tinta amassadas, jogos de ta-buleiro antiquados ou roupas datemporada anterior.

A plataforma da Phénix forneceaos grandes supermercados ma-neiras fáceis de rastrear os produ-tos que eles querem doar e a infor-mar o prazo de validade. Cria-seentão uma conexão entre a distri-buidora e a associação, bem seme-lhante à formação de casais numsite de namoro.

Para aumentar a participação delojas menores, de bairro, a Phénixse encarrega do deslocamento,providenciando serviços de coletade produtos e os entregam a asso-ciações em motocicletas ecológi-cas. A equipe da Phénix tambémajuda a treinar funcionários de lo-jas para selecionar os produtos eeleva seu grau de conscientizaçãosobre as questões que cercam odesperdício de alimentos.

O alvo principal da Phénix é a in-dústria de alimentos — a startup jáfechou parcerias com 220 empre-sas, entre as quais C a r r e f o u r, Fran -prix, Leclerc e Système U. Produtosnão destinados ao consumo hu-mano (cerca de 25% de todas asdoações) são encaminhados paracircos, zoos e aquários.

Em 2015, a startup informouter contabilizado um faturamen-to de € 1 milhão. Trabalha atual-mente em cidades francesas si-tuadas fora de Paris, como Mont-pellier, Rennes e Lyon, e pretendeincorporar cerca de 40 pessoas àsua equipe. Ao mesmo tempo, es-tá se abrindo para o mercado in-ternacional, a começar por Espa-nha e Portugal, cujas normas fis-cais para doações se assemelhamàs vigentes na França.

Bactérias reduzem emissões da indústriaBrandon SmithDa Sparknews

No laboratório da L a n z a Te c h ,que fica na sede da empresa nasproximidades de Chicago, um lí-quido leitoso se agita no interiorde um cilindro de aço e plástico.Ele contém milhões de bactériasque podem transformar gases re-siduais de indústrias em biocom-bustíveis a serem utilizados emcarros, ou até mesmo aviões.

Até o momento, o etanol e ou-tros biocombustíveis tradicio-nais provêm sobretudo de plan-tas, como milho ou grãos de so-ja, o que requer campos agríco-las valiosos e água. Buscandouma fonte alternativa, a Lanza-Tech propôs a utilização micró-bios naturais que crescem emgases, e não em açúcares.

A empresa instala grandes fer-

mentadores nas fábricas, transfor-mando gases residuais — que nor-malmente seriam emitidos comogases de efeito-estufa — em com-bustível. “Nosso primeiro sloganfoi: ‘não existem resíduos’ ”, disseSean Simpson, um biólogo co-fun-dador da empresa na Nova Zelân-dia, em 2005. Ele compara o pro-cesso à colocação de uma cerveja-ria em uma fábrica de aço.

Simpson afirma que, com asubstituição do óleo como fontede combustível, o biocombustí-vel libera, no mínimo, 60% a me-nos de CO2 no ar do que a gasoli-na. A tecnologia desenvolvidapela LanzaTech pode, até mesmo,gaseificar resíduos de aterros, eutilizar a síntese de gases na ge-ração de combustível para movercaminhões de lixo — a economiacircular em ação.

Jennifer Holmgren, CEO da

empresa, acrescenta, ainda, que“na fábrica de aço, um fermenta-dor em operação pode gerarcombustível suficiente para mo-ver 100.000 carros por ano, comemissões equivalentes a 20.000carros. Se eles estivessem presen-tes nas fábricas de aço da China,isso equivaleria à retirada de 11milhões de carros das estradas.”

Com a transformação cada vezmais recorrente de transportesterrestres em transportes elétri-cos, a LanzaTech tem trabalhadoem tecnologias que gerem com-bustíveis de aviação de baixo car-bono. Em 2011, a empresa assi-nou uma importante parceriacom a companhia aérea VirginAtlantic, para desenvolver for-mas de produzir combustível pa-ra jatos, a partir de resíduos de fá-bricas de aço, e em 2014, o bancobritânico HSBC concordou em fi-

nanciar sua produção. Está pro-gramado para 2017 um voo testecom o combustível.

Apesar de a LanzaTech aindanão ser rentável, ela arrecadoumais de US$ 200 milhões em ca-pital de risco em quatro rodadasde financiamento. Seu potencialinovador foi reconhecido em Da-vos, onde ela ganhou o YoungGlobal Leader Award for CircularEconomy Entrepreneur (Prêmiode Jovem Líder Global por Em-preendedor de Economia Circu-lar), como parte do programa dePrêmios Circulares de 2016.

A LanzaTech trabalha com in-dústrias que normalmente pro-duzem gases ricos em carbono —produção de aço, refino de óleo,produção de substâncias quími-cas. Em vez de adquirir os fer-mentadores, que custam mais deUS$ 50 milhões a peça, ela licen-

cia a tecnologia e auxilia as em-presas em sua instalação. A em-presa tem mais de 200 patentesglobais para proteger sua tecno-logia e oferece aos investidoresuma forma de seguro.

Seu primeiro foco foi a China,onde são produzidos 50% do açodo mundo; plantas comerciaisestão crescendo na China, com aShougang, e em Taiwan com aChina Steel. Na Bélgica, a Arce -lorMittal, maior siderúrgica domundo, investiu € 87 milhõesem um sistema da LanzaTech.No início deste ano, a Armetis(companhia de biotecnologiaindustrial) tornou-se a primeiralicenciada americana, assegu-rando 12 anos de direitos exclu-sivos à tecnologia na Califórnia.

Cold Hubs salvaalimentos do lixoDavid ThomasDa African Business (Londres)

Para milhões de nigerianos noEstado rural de Kaduna, uma idaaté a feira oferece acesso barato eimediato aos produtos básicosda dieta tradicional. Numa sema-na normal, dúzias de cestas de vi-me transbordam com tomatesmaduros, um ingrediente essen-cial nos ricos ensopados preferi-dos pelos moradores locais.

Mas, no verão, em maio, osclientes ficaram espantados peloaumento de custos de uma frutaque se tornou uma necessidadenacional. Após uma praga de ma-riposas destruir 80% das planta-ções de tomates da região, alavan-cando o preço de uma cesta de US$1,20 para mais de US$ 40, as autori-dades de Kaduna foram obrigadasa declarar estado de emergência.

A “emergência do tomate” deKaduna é parte de uma quebra naprodução de alimentos, que estápreocupando os peritos em segu-rança alimentar na Nigéria. NoNordeste, a produção foi pratica-mente abandonada devido aosataques constantes pelos militan-tes do Boko Haram, colocando mi-lhões de pessoas em risco.

Mesmo nas áreas onde a produ-

ção de alimentos permanece forte,os pobres métodos de manipula-ção, armazenagem e distribuiçãosignificam que muito do alimentoda Nigéria é desperdiçado antes dechegar aos que precisam dele. Nu-ma tentativa para minimizar asperdas pós-colheita — que o gover-no estima que podem ser maioresque 50% para algumas frutas e le-gumes — as empresas começam adesenvolver novas tecnologias pa-ra ajudar os agricultores. Para umempresário, as causas das perdaspós-colheita são óbvias.

“Muito do desperdício começanas fazendas, porque os agriculto-res não recebem visitas de cami-nhões de distribuição todos osdias”, diz Nnaemeka Ikegwuonu,diretor executivo da Cold Hubs.“Às vezes leva de 3 a 4 dias para oscaminhões aparecerem na fazen-da. Então, esses agricultores man-têm o alimento num galpão outentam cobri-lo, e quando os cami-nhões chegam, o alimento já estáestragando. Os caminhões fazemuma longa viagem até os merca-dos, e o desperdício aumenta.”

Esse é um problema comum dasfazendas em todo o continente.Em 2011, o Programa Mundial deAlimentos da ONU estimou que asperdas anuais de alimentos na

África Subsaariana excederam 30%da safra total, com custo de cercade US$ 4 bilhões anuais.

A Cold Hubs oferece uma solu-ção simples. A firma instala câma-ras frigoríficas perto das fazendase dos mercados, numa tentativa depreservar safras valiosas no perío-do crítico, antes que cheguem aosconsumidores. Os tomates queapodreceriam perto das planta-ções são rapidamente despacha-dos para uma unidade de refrige-ração próxima, que cobra dos agri-cultores US$ 0,50 ao dia por engra-dado pela refrigeração. É o modelo“pague o necessário”, que permiteque os agricultores escapem de ca-ros contratos de armazenagem.

Talvez mais conveniente ainda— num país onde se estima que 95

milhões de pessoas não tenhamacesso à eletricidade — seja o fatode que os centros de refrigeraçãosão totalmente movidos a energiasolar. Seja onde for instalada a uni-dade de refrigeração, perto de vilasrurais remotas ou movimentadosmercados urbanos, a energia solarpode ser aproveitada para econo-mizar a produção, não para estra-gá-la. Livre de uma cara infraestru-tura, este é um modelo acessível eecologicamente correto, que a em-presa acredita que deve ser lança-do rapidamente no continente, co-meçando com uma expansão naNigéria até um possível esquemade franquias no Quênia.

“Em cinco anos queremos ter1.000 unidades instaladas na Ni-géria, e no futuro, poderia haver 1

milhão de unidades em toda aÁ f r i c a”, diz Ikegwuonu. “Somosambiciosos porque há muitasoportunidades no mercado, e épossível usar as unidades em esco-las, hospitais, aeroportos — emqualquer lugar onde seja necessá-rio armazenar alimentos.”

Para vendedores ambulantes econsumidores das feiras de Kadu-na, pode ser o primeiro passo paraassegurar que a “emergência dot o m a t e” de 2016 fique apenas co-mo uma memória desagradável.

Te c n o l o g i a Minerais dos componentes são obtidos de minas certificadas em áreas pacíficas

Startup holandesa cria celular éticoFA I R P H O N E / D I V U LG A Ç Ã O

Placa do aparelho, cujas peças podem ser trocadas facilmente, usando uma chave de fenda e evitando lixo tóxico

Nina SiegalDa Sparknews

Há diversos motivos para nãose comprar um telefone celular,pelo menos do ponto de vista éti-co. Um smartphone comum écomposto por cerca de 40 mine-rais diferentes, muitos oriundosde países pobres em que a mine-ração ocorre por meio de práticasde exploração e onde, muitas ve-zes, o lucro financia conflitos lo-cais. Os celulares geralmente sãoproduzidos em fábricas em quetrabalhadores de baixo saláriosão empregados em condiçõesinadequadas. E como o ciclo devida médio de um smartphone éde um a dois anos e as peças sãodifíceis de trocar, gera-se umaenormidade de lixo eletrônico.

Em um antigo e espaçoso ar-mazém nas docas a leste de Ams-terdã, cerca de 50 jovens empre-endedores estão trabalhando pa-ra aperfeiçoar o primeiro smart-phone socialmente sustentáveldo mundo, o Fairphone.

O fundador, Bas van Abel, e osco-fundadores, Miquel Ballester eTessa Wernink, não têm nenhumaexperiência em criar celulares. VanAbel e Ballester se conheceram em2011, enquanto faziam pesquisassobre o mercado futuro de “eletrô -nicos justos” no Open Design Labda Waag Society, uma organizaçãosem fins lucrativos. Tessa Werninkera uma profissional de marketinge comunicação.

Para entender o tamanho dodesafio, a equipe viajou para a re-gião leste da República Demo-crática do Congo, onde há muitamineração, e para a China, ondea maioria dos celulares é fabrica-da. Eles fizeram uma pesquisa ex-tensiva sobre a tecnologia dossmartphones. E, juntos, desco-briram como melhorar as práti-cas junto com toda a cadeia devalor da indústria, desde as ma-térias-primas até a reciclagem.

Em 2013, a Fa i r p h o n e angariouum investimento inicial de € 400mil e iniciou uma campanha de fi-nanciamento coletivo, ultrapas-sou a meta e vendeu 25.000 celula-res antes de a produção sequer co-meçar. “De repente, tínhamos € 8milhões na nossa conta bancária”,disse Wernink, “e não tínhamosproduzido um único celular.”

Com a parceria com uma pe-quena fábrica na China, a Fair-phone vendeu 60.000 unidadesdo primeiro modelo. Um modelomais complexo, o Fairphone 2, émodular, com peças que podemser trocadas facilmente usandouma chave de fenda pequena ca-so quebrem (e, no futuro, ser tro-cadas por melhorias). Mais de50.000 celulares foram vendidosdesde julho de 2015, a cerca de €525 a unidade.

A revista “Wired” o chamou de“um bom celular com um ótimodesign interno e um design exter-no tedioso.” A empresa está bus-cando atualizar o design do apare-

lho e planeja permitir que as pes-soas personalizem o visual.

Os desafios que a Fairphone en-frenta incluem definir canais dedistribuição — é complicado ven-der fora da Europa por diversosmotivos, incluindo especificaçõestécnicas dos diferentes mercados.Além disso, não é viável para a em-presa verificar se a cadeia de supri-mentos de cada mineral é correta,embora ela prometa que pelo me-nos quatro de seus componentes— estanho, tântalo, tungstênio eouro — sejam obtidos de minascertificadas livres de conflito.

“Neste momento, é importan-

te dizer que não existe um celu-lar totalmente ‘j u s t o’ ainda, por-que ninguém pode verificar exa-tamente de onde cada materialv e i o”, diz Wernink. “Mas, ao criaresse celular, pelo menos pude-mos começar a tornar isso possí-vel”, afirma.

Atualmente, a empresa lucra€ 9 por celular vendido. Todo o lu-cro é divulgado de forma trans-parente no site da empresa. Alémde trabalhar com fábricas quepromovem condições de traba-lho justas, a Fairphone reservafundos para um programa debem-estar do funcionário. A em-

presa ainda gerencia o lixo eletrô-nico: € 3 da venda de cada Fair-phone são destinados à recicla-gem de celulares descartados emGana, Ruanda, Camarões e Ugan-da, por meio de uma parceriacom a organização de reciclagemholandesa Closing the Loop.

Em 2015, a empresa conseguiuficou no vermelho, disse o repre-sentante Fabian Hühne, e o objeti-vo neste ano é vender 100.000 ce-lulares, o que pode tornar a empre-sa financeiramente sustentável .

D I V U LG A Ç Ã O

Unidade de armazenamento de alimentos: os centros de refrigeração são totalmente movidos a energia solar

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Especial | Empresas & Clima

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Sexta-feira, 4 de novembro de 2016 | Valor | F7

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 4/11/2016 (20:7) - Página 7- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Especial | Empresas & Clima

Recursos hídricos Prefeituras investem na chamada infraestrutura verde

Gestão da água move ossetores público e privado

ADI LEITE/VALOR

No Nordeste, o desafio é lidar com escassez de água nas regiões semiáridas

Andrea VialliPara o Valor, de São Paulo

Em 2014, uma crise hídricasem precedentes fez com que oSistema Cantareira, o maior re-servatório de água que abasteceSão Paulo, chegasse aos mais bai-xos níveis de sua história. Umacombinação de fatores climáti-cos, como um verão extrema-mente seco e o crescimento doconsumo ao longo dos anos dei-xou milhares de pessoas com astorneiras secas na cidade.

O fato acendeu o sinal de aler-ta para o modo como as grandesmetrópoles brasileiras estavamgerenciando seus recursos hídri-cos. Embora concentre 12% daágua doce do planeta, o Brasil en-frenta problemas para abastecersuas regiões mais populosas, quesofrem ainda com a falta de in-vestimentos em saneamento bá-sico — apenas 40% dos esgotossão tratados no país; o restantesegue direto para os rios e mares.

“A despeito de diferenças regio-nais, as regiões metropolitanas so-frem com a combinação de fatorescomo a degradação dos manan-ciais, o crescimento desordenado

das cidades, que pressiona o con-sumo de água e a falta de investi-mentos ao longo dos anos”, afirmaSamuel Barreto, especialista em re-cursos hídricos e gerente da ONGThe Nature Conservancy (TNC).

Para tentar buscar soluçõespara a questão, a ONG articulouum movimento para unir prefei-turas e empresas das principaisregiões metropolitanas do paíspara lidar com os riscos hídricos.Batizado de Coalizão Cidades pe-la Água, o movimento, lançadoem 2015, engloba hoje 6 regiõesmetropolitanas (São Paulo, Riode Janeiro, Vitória, Belo Horizon-te, Brasília e Curitiba) e empresasde grande porte, como A m b e v,Coca-Cola, Klabin e U n i l e v e r.

Um dos desafios do grupo éconscientizar o poder públicosobre a necessidade de investirna chamada infraestrutura verde— que é a recuperação das flores-tas degradadas no entorno dosmananciais. Com apoio financei-ro das empresas, a coalizão já le-vantou R$ 18 milhões que estãosendo utilizados na recuperaçãode matas ciliares dos rios queabastecem os sistemas Cantarei-ra e Alto Tietê, em São Paulo, e

Guandu, no Rio de Janeiro, pelospróximos cinco anos. “O plano éestender as ações de restauraçãopara outras seis regiões metropo-litanas, trazendo segurança hí-drica para mais de 60 milhões depessoas”, diz Barreto.

Além da perda da vegetação ci-liar, um dos grandes problemasrelacionados à água que afetamas regiões metropolitanas são asgrandes perdas que ocorrem narede de distribuição. De acordocom o Instituto Trata Brasil, orga-nização sem fins lucrativos queatua na área de saneamento, oBrasil desperdiça 37% da águatratada. Mas em algumas regiões,como o Norte, esse índice podechegar a 70%.

Esse elevado índice de perdasabriu oportunidades de merca-do para que empresas de tecno-logia passassem a desenvolversoluções para a questão. É o casoda Optimale, de Campo Grande(MS). Fundada em 2009 pelo en-genheiro e pesquisador PeterCheung, a empresa fornece solu-ções baseadas em sensoriamen-to, análise de dados e computa-ção em nuvem para monitorarperdas em tempo real.

Além das perdas físicas (quanti-dade de água que vaza pelas tubu-lações), o sistema permite quanti-ficar as perdas comerciais, causa-das por fraudes e ligações clandes-tinas. “Para as empresas de sanea-mento, investir nesse tipo de tec-nologia traz mais resultado finan-ceiro do que colocar equipes emc a m p o”, diz Cheung.

O sistema está sendo utilizadopela concessionária Águas Guari-roba, em Campo Grande, que con-seguiu reduzir as perdas que eramde 56% em 2006 para menos de20% atualmente. A Optimale tam-bém desenvolve sistemas para ra-cionalização do consumo de águaem aeroportos.

No Nordeste, o desafio é outro:lidar com a escassez de água nasregiões semiáridas, que tambémsofrem com a falta de recursos fi-nanceiros para combater a seca.Diversos programas, tanto do go-verno federal quanto dos Estadosvêm sendo realizados desde osanos 2000 com o objetivo de au-mentar o acesso a água potávelno interior nordestino.

Um deles, o Programa Água Do-ce, chama a atenção por unir duastecnologias inovadoras: a dessali-

nização das águas por meio demembranas que utilizam nanotec-nologia, em um sistema movidopor energia solar.

Por causa do solo, as águas sub-terrâneas da região são salobras einviáveis para o consumo humanoe animal sem tratamento. O proje-to piloto, instalado em um assen-tamento rural em João Câmara(RN), já trata a água dos poços ar-tesianos e beneficia 220 morado-res. “Além da energia solar, esta-

mos estudando também o uso deenergia eólica na ampliação doprograma para outras comunida-des”, afirma José Mairton França,secretário de meio ambiente e re-cursos hídricos do Rio Grande doNorte. O programa é realizado emparceria com o governo federal eprevê a instalação, até junho de2017, de 120 sistemas de dessalini-zação em todo o Estado, um inves-timento de R$ 20 milhões que devebeneficiar 12 mil pessoas.

Em Luxemburgo, a principalbolsa de títulos verdes do mundoCordelia ChatonDo Lëtzebuerger Journal( Lu xe m b u rg o )

Projetos verdes de grandes di-mensões — de energia geotérmicaa energia eólica ou descarte am-bientalmente responsável de resí-duos — são frequentemente muitocaros e podem defrontar-se comdificuldades para atrair grandesinvestimentos. No entanto, há al-guns anos existe um lugar particu-larmente favorável, para a comu-nidade financeira internacional,no que diz respeito a tais projetos:a Bolsa de Valores de Luxemburgo(LuxSE), que se tornou líder naárea de “títulos verdes”.

Chiara Caprioli, gerente de de-senvolvimento de negócios da Bol-sa de Luxemburgo, não se surpre-ende. “Estamos entre os pioneirosnesse campo; o primeiro título foiemitido aqui em 2007”, comenta.Esse foi efetivamente o primeiro tí-tulo verde emitido em todo omundo — lançado pelo Banco Eu-ropeu de Investimentos (BEI), queapoia e incentiva projetos que re-fletem os ideais e objetivos euro-peus de preservação ambiental.

O desenvolvimento nessa áreacomeçou hesitante, devido à cri-se financeira de 2008, mas em2014 o número de títulos verdes

exibiu um crescimento enorme.Alguns dos maiores emissoresforam o Banco Mundial, o K f W, aprovíncia canadense de Ontário,o Banco Asiático de Desenvolvi-mento e o Gruppo Hera, da Itália.Cerca de 26 empresas optarampor embarcar na plataforma ver-de da Bolsa de Luxemburgo, oque corresponde a um valor decerca de US$ 45 milhões, envol-vendo 110 títulos.

“Nós também somos um lídermundial no que diz respeito ao nú-mero de títulos e volumes”, dizChiara. “No momento, a participa-ção de títulos verdes representa 1%do total do mercado. Por isso, éprovável que o mercado vá crescerainda mais, aquecido tanto porobjetivos políticos como pelasconvicções dos investidores”, afir-ma. “Mediante uma diversificaçãomaior e mais progressiva, acredita-mos no desenvolvimento de maiorcompetição entre diferentes cen-tros financeiros. Hoje, todo mun-do quer atrair emissores da Chinae Índia por causa dos títulos de altorendimento que foram lançadosdepois da entrada deles no merca-do, em 2015, por meio do BancoAgrícola da China, do Banco Axis edo Yes Bank, para citar alguns.”

De acordo com a Bolsa, as carac-terísticas mais importantes que

atraem os emissores são transpa-rência, prestação de contas, facili-dade de comparações e prática dosmais altos padrões possíveis. Os in-teressados em negociar seus títu-los verdes em Luxemburgo têm dedivulgar uma boa quantidade deinformações. “Por meio desse pro-cesso, esperamos conseguir evitaro chamado ‘greenwashing’ (ima -gem verde que não corresponde àrealidade)”, diz Chiara. O objetivoda Bolsa de Valores não é julgar osprojetos, mas proteger os investi-dores. “Nós treinamos nossos fun-cionários para que eles se sintamcapazes de questionar intensa-mente os emissores”, diz ela.

Por trás do desenvolvimentodos títulos verdes estão eventos co-mo a Conferência do Clima Paris(CoP-21) em 2015. “Para concreti-zar esses objetivos políticos, vamosnecessitar financiamento tantopúblico como privado. Os bancosestão com as mãos atadas pela re-gulamentação de Basileia II. Bolsasde valores podem desempenharum papel importante em propor-cionar os meios para financiar aspolíticas para enfrentamento dasmudanças climáticas”.

Startup reúne cooperativas etecnologia na gestão de resíduosDe São Paulo

O Brasil hoje produz lixo comouma nação rica, mas o descartacomo um país subdesenvolvido.Nas grandes metrópoles comoSão Paulo e Rio de Janeiro, cadabrasileiro gera, em média, 1,2 kgde lixo por dia. E 41% dos resí-duos urbanos gerados ainda sãodescartados sem tratamento, es-pecialmente em depósitos a céuaberto, os chamados lixões. A si-tuação é comum no interior dopaís e até mesmo na capital fede-ral, Brasília, que ainda descartaseus resíduos em um lixão.

Sancionada em 2010, a lei na-cional de resíduos sólidos trouxeconceitos modernos para a gestãodo lixo no país, mas sua aplicaçãoainda não garantiu avanços signi-ficativos. Entre outros pontos, a leiprevia a extinção dos lixões até oprazo limite de 2014. Mas muitasprefeituras, sem verba, se mobili-zaram e o prazo foi estendido para2018. Embora o Brasil recicle gran-des volumes de alguns materiais –caso da lata de alumínio, onde opaís é recordista mundial de reci-clagem, com 98% das embalagensretornando à indústria – a coletaseletiva não está estruturada emtodas as cidades. Muitas delas de-pendem das cooperativas de cata-

dores, muitas delas atuando na in-formalidade, para fazer com queos materiais do dia a dia (plástico,papel, metal e vidro) voltem à in-dústria como matérias-primas.

Pela lei, a própria indústria devese responsabilizar pela destinaçãoeficiente dos resíduos que gera – eisso inclui de uma simples embala-gem de xampu até um computa-dor ao fim de sua vida útil. Com oobjetivo de ligar duas pontas dessacadeia – a indústria e as cooperati-vas de catadores – surgiu, há poucomais de um ano, a New Hope Eco-tech, startup criada por dois jovensgestores em São Paulo, LucianaOliveira e Thiago Carvalho Pinto.Após concluírem um MBA na Kel-logg School of Management, emChicago, eles buscaram um mode-lo de negócio com impacto social.Luciana, que já havia trabalhadono Google, tinha afinidade com aárea de tecnologia – e a nova em-presa nasceu com o propósito deunir esses dois universos.

A proposta do negócio é utili-zar soluções de software de ges-tão de dados para que empresasprodutoras de bens de consumoremunerem os catadores pelosvolumes de resíduos que elesconseguem tirar do meio am-biente e reinserir no processoprodutivo. Tudo registrado em

um sistema on-line, que conferetransparência em tempo real aoprocesso. O capital semente paraa empresa veio de uma premia-ção de US$ 70 mil da própria Kel-logg, que possui incentivos paraalunos que se destacam em lide-rança e empreendedorismo.

“A maior parte dos catadoresde resíduos possui baixa rendaporque as matérias-primas sãocommodities, seu valor de mer-cado flutua muito e não permiteuma boa remuneração. Nossonegócio é fazer com que as em-presas remunerem diretamenteesses trabalhadores pelos resí-duos que coletam, sem interme-diários ” explica Luciana. Ossoftwares em nuvem gerenciamindicadores como a quantidadede material que chega às coope-rativas, classificando por tipo deresíduo, fornecedor e data de en-trada. A quantidade de materiaisque é vendida para a indústria dereciclagem também fica armaze-nada no software, e os dados ge-ram relatórios que compilam es-sas informações. A empresa tam-bém desenvolveu uma platafor-ma de gestão gratuita para reci-cladores. Atualmente cinco em-presas que produzem alimentose bebidas já estão utilizando osserviços da startup. ( AV )

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Sexta-feira, 4 de novembro de 2016 | Valor | F3

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 4/11/2016 (16:41) - Página 3- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Paris reduz emissão em dez anos,mas precisa multiplicar esforçosMatthieu QuiretDo Les Echos (França)

A cidade de Paris já tem um no-me engraçado para os beneficiá-rios de sua nova iniciativa: “les Pa-risculteurs” (plantadores de Paris,em tradução livre), mas ainda nãohá nada a colher. A Câmara Muni-cipal prometeu aos parisiensescerca de 30 hectares para plantioaté 2020, como parte de seu novoplano para cultivar plantas e vege-tais em cem hectares de espaço detelhados e fachadas, um terço dosquais serão designados para a pro-dução de alimentos.

Atualmente na moda, a agricul-tura urbana poupa horas, e atédias, de tempo de transporte dosalimentos, e reduz as emissões degases de efeito-estufa, pois as plan-tas nos telhados absorvem os raiosde sol no verão, reduzindo a neces-sidade de ar-condicionado.

Aos poucos a prefeita de Paris,Anne Hidalgo, está tentando dei-xar a cidade mais verde. Ela segueos passos de seu antecessor, Ber-trand Delanoë, mas com umaabordagem mais ousada. Em se-tembro, ela aumentou as restri-ções de trânsito na cidade, fechan-do a rodovia urbana que passavaàs margens do Rio Sena. Embora osque utilizavam a via não estejamsatisfeito, demais parisienses e tu-ristas estão encantados por pode-rem retomar a margem direita dorio para caminhadas e lazer.

Paris está lentamente seguindo

o exemplo de cidades do Norte daEuropa. Mesmo a oposição de di-reita, antes contrária a tais políti-cas, agora reconhece a necessidadede reduzir a prevalência do dieselna cidade. E as empresas, pragmá-ticas como sempre, estão lenta-mente aceitando as restrições deveículos. As entregas feitas por ca-minhões elétricos estão aumen-tando e a RATP, operadora detransporte estatal, introduz aospoucos ônibus alimentados poreletricidade ou gás natural.

Gradualmente os resultados vãoaparecendo. Entre 2004 e 2014,houve uma redução calculada de9,2% nas emissões de gases-estufa,equivalente a 25,6 milhões de to-neladas, segundo o registro deemissões de carbono da cidade pu-blicado em julho. O estudo temum amplo escopo, chegando a in-cluir as viagens aéreas dos pari-sienses, que compõem cerca deum quarto do total e aumentaram3% nesses dez anos. Esse é o únicoponto negativo relevante, ao ladode um aumento de 10% nas emis-sões ligadas a alimentos, devido afatores demográficos.

O transporte de mercadorias é osetor que mais contribuiu para aredução geral, com uma queda de18%, para cinco milhões de tonela-das, embora isso provavelmenteesteja mais relacionado aos efeitosda crise financeira do que à logísti-ca mais ecológica. A mesma expli-cação pode ser fornecida para aqueda no impacto do consumo de

matérias-primas (a crise da indús-tria da construção civil).

As emissões das construções caí-ram em 15%. A Câmara Municipalatribui esse progresso ao fato deempresas e escritórios, bem comocasas, terem reduzido seu consu-mo. As políticas nacionais parapromover a eficiência energética,combinadas à disponibilidadecrescente de produtos que ofere-cem um melhor desempenho am-biental, continuam a ajudar a re-duzir as emissões, principalmentede iluminação e eletrodomésticos.

Desde 2001, a política de redu-ção de veículos claramente teveum efeito positivo na poluição, jáque as emissões causadas portransportes de passageiros terres-tres caíram em 23%, ou até 39% se oanel viário de Paris não for conta-bilizado. Em dez anos, o trânsitode veículos em Paris foi reduzidoem 30% e o número de carros caiude 600.000 para 500.000. A melho-ra na circulação de ônibus geradapor pistas exclusivas para ônibus ea instalação de um sistema apri-morado de bonde elétrico otimi-zou o desempenho do transportepúblico na capital.

Mas ainda é preciso fazer mais.O Plano Climático e Energético deParis de 2012 tinha definido a me-ta de reduzir os níveis de gases doefeito-estufa na França em umquarto entre 2004 e 2020.

Montreal aposta em plano derevitalização do espaço urbanoAnne GaignaireDo Les Affaires (Canadá)

Fachadas de tijolos vermelhos,colunas de metal, janelas enormese pés-direitos altos... os únicos tra-ços do passado nesse distrito in-dustrial da antiga Canadian PacificRailway (CPR) em Rosemont, Mon-treal, são os esqueletos dos pré-dios. Entre 1902 e 1992, essas “An -gus Shops” foram um local impor-tante, onde eram feitas manuten-ções e consertos nos trens e loco-motivas da CPR.

Depois do fechamento da em-presa, o local se tornou uma áreaindustrial desativada por cercade dez anos, até ganhar um novosopro de vida: foi convertido emuma área comercial e residencialque incorporou os mais recentespadrões ambientais de constru-ção. “Foi renascido de um desas-t r e”, diz Christian Yaccarini, pre-sidente e CEO da Société de Déve-loppement Angus (SDA).

“Depois da desindustrializaçãodos anos 1980, que resultou no fe-chamento de inúmeras fábricas,uma taxa de desemprego de 20%atingiu a região e tínhamos umagrande área de terra contaminada.Não queríamos que aquilo conti-nuasse daquele jeito. Tivemos queencontrar maneiras de fazer comque o local fosse sustentavelmented e s e nv o l v i d o”.

A SDA foi formada tanto comouma empresa aberta quanto comouma organização sem fins lucrati-

vos. A empresa comprou um terre-no na área industrial de Rosemonte desenhou plantas para o espaço,levando em consideração a neces-sidade de desenvolvimento sus-tentável, ao mesmo tempo quebuscou a revitalização do bairropor meio da fusão entre imóveisresidenciais e comerciais.

Hoje, o espaço convertido abri-ga um shopping center, restau-rantes e lojas de conveniência,serviços de mídia, TI e saúde, to-dos funcionando lado a lado.Muitas organizações de Montrealaderiram ao projeto, ao mesmotempo que cerca de 60 empresasde pequeno e médio porte, comaproximadamente 2.300 funcio-nários, estão muito bem estabele-cidas nos 13 prédios do local. Essafoi a primeira fase do projeto Te-chnopôle Angus.

“As pequenas e médias empre-sas são atraídas ao local por causada qualidade dos imóveis, bem co-mo devido à proximidade de umamão-de-obra em potencial e ao fa-to de que a sustentabilidade équestão-chave para os gerentes ded e s e nv o l v i m e n t o”, diz Yaccarini.

O local, que possui uma área desuperfície de cerca de 180 km2,abriga muitas áreas verdes abertase todos os prédios foram construí-dos de acordo com os padrões am-bientais da Leed (Leadership inEnergy and Environmental Design- Liderança em Energia e DesignAmbiental, em tradução livre). Umsistema de reciclagem e composta-

gem foi lançado no local, assim co-mo uma iniciativa de caronas.“Preocupações com o meio am-biente não devem levar a medidasque se assemelhem a punições, ca-so contrário as pessoas se esqui-v a m”, diz Yaccarini.

A SDA quer promover soluçõesambientais que coexistam com arealidade econômica e construirprédios Leed ao mesmo preço queprédios comuns. A solução: “Esta -mos escolhendo investimentos demaneira sábia. Recusamos usarapetrechos que não têm um im-pacto comprovado na performan-ce ambiental do prédio”, afirma.

Quem instalou seu negócio nolocal está satisfeito. “Ficamos caí-dos pelo charme desse lugar e pelafilosofia de criar um ambiente sus-tentável e confortável para os fun-cionários. Isso prova que podemoscorrigir o passado e não cometeros mesmos erros novamente”, dizIsabelle Gratton, presidente daP M T, especializada em pós-produ-ção audiovisual, com cerca de 40funcionários.

A segunda fase de desenvolvi-mento sustentável na TechnopôleAngus está a caminho: 300 km2 deespaço comercial e residencial têmsido planejados. A companhia pre-tende acomodar cerca de 40 novasempresas e criar 1.500 postos detrabalho. O espaço também vai in-cluir casas residenciais.

Es s e n Cidade alemã abandona o ar poeirento e riospoluídos para se transformar em um local ecológico

Da indústria doaço ao oásis verdeFranz HubikDe Handelsblatt (Alemanha)

A maravilha verdejante de Si-mone Raskob se estende por vin-te e um quilômetros e é totalmen-te pavimentada. Ao longo dos an-tigos trilhos da ferrovia de Rhine-land, a mulher responsável pelodepartamento ambiental da ci-dade de Essen está construindo oque parece ser uma rodovia parabicicletas. Ao longo da estradasem cruzamentos — que quandocompleta irá de Duisburg, pas-sando por Essen, até Dortmund —ciclistas poderão pedalar semcarros para incomodá-los.

“Todos devem conseguir ir tra-balhar de uma maneira mais eco-l ó g i c a”, diz Raskob. Ela esperaque a pista rápida para bicicletasestimule as pessoas a deixar seuscarros em casa, eliminando osengarrafamentos na região maispopulosa da Alemanha.

A ciclovia está sendo construí-

da no mesmo lugar em que trens,totalmente carregados com car-vão e metais pesados, costuma-vam passar em seu caminho atéas siderúrgicas de Phönix ou amina de carvão de Zeche Carl.

“Este é um símbolo da capacida-de de transformação de nossa ci-d a d e”, diz Raskob. As regiões in-dustriais abandonadas, como osantigos trilhos da ferrovia, estãosendo totalmente revitalizadas emtoda a metrópole de Ruhr. A cida-de abandonou sua imagem dechaminés esfumaçadas e minera-dores de carvão há muito tempo, eagora é reconhecida por blocos deescritórios e paisagistas. O antigocentro industrial pode ser descritoquase como um oásis ecológico.Essa transformação bem-sucedidaestá sendo usada como modelopara outras cidades que ainda so-frem com problemas estruturais.

Por 150 anos, Essen foi com-pletamente absorvida pelas in-dústrias do carvão e aço. Quando

ocorreu a crise do carvão, em1958, e o petróleo bruto baratotomou o posto do carvão caro deRuhr pela primeira vez, dezenasde milhares de trabalhadoresperderam seus empregos.

Todos que conseguiram ir em-bora de Essen, foram. A cidade vemperdendo moradores há cinquen-ta anos, mas, nos últimos quatroanos mais pessoas se mudaram pa-ra a cidade do que saíram dela. Oclichê de que Essen não tem nada aoferecer além de fábricas enferru-jadas e dívidas altas está sendodesmentido. A cidade sairá do ver-melho em 2017 pela primeira vezem vinte e cinco anos.

A última usina de carvão coqueda cidade, o Complexo Industrialde Mina de Carvão Zollverein, fe-chou suas portas em 1986. Hoje, arelíquia do carvão recebeu um es-paço do Patrimônio Mundial daUnesco e recebe milhares de visi-tantes atraídos por seus concertos,museus e restaurantes. Mas não é

só o ímpeto cultural que estátransformando Essen em um lugarmelhor para se morar. Cerca de54% da cidade é verde. Isso tornaEssen a terceira cidade mais verdeda Alemanha, atrás de Magdeburge Hanover. E existem novas expec-tativas econômicas também.

Algumas das empresas maisecologicamente sustentáveis daAlemanha estão em Essen. As gi-gantes do setor de energia Eon,RWE e Steag têm suas sedes lá,além da gigante da indústria Thys -s e n K r u p p, a empresa química Evo -nik e a rede de supermercados AldiNord. Nos últimos anos, cerca de14.000 empregos foram criados na

esfera de tecnologia ambiental.“Por questões históricas, há

uma quantidade enorme de co-nhecimento como eliminar anti-gos resíduos contaminados deuma maneira ecologicamentecorreta, ou como a água poluídapode ser tratada”, diz Rudolf Ju-chelka. O geógrafo econômicoda Universidade de Duisburg-Es-sen relembra como as indústriasde carvão e aço de Essen elimina-vam os resíduos tóxicos das fá-bricas em grandes lixões. Com otempo, os metais pesados infil-traram-se no solo e contamina-ram os lençóis freáticos.

Já existem dezenas de empre-

sas especializadas na limpezadesses antigos resíduos contami-nados. “Essas são habilidadesúteis que Essen pode exportar”,diz Juchelka. Nesta cidade de cer-ca de 600.000 habitantes, a baga-gem ecológica da indústria pesa-da e de mineração não é vista co-mo um fardo a ser carregado,mas como uma oportunidade.Esta abordagem foi recentemen-te elogiada pela Comissão da UE.Essen recebeu o título de ‘CapitalVerde Europeia’ para 2017.

Na Rússia, planejamento contra o avanço das águasAngelina DavydovaDo Kommersant (Rússia)

São Petersburgo, a segundamaior cidade da Rússia e um dosmais comuns destinos turísticosda Europa, será fortemente atingi-da por efeitos de mudanças climá-ticas. A cidade já está perdendosuas orlas, enquanto o mar em ele-vação e as águas subterrâneas re-presentam uma séria ameaça àssua infraestrutura de moradia etransporte. A primeira estratégiade adaptação climática da Rússiaestá sendo rascunhada na cidade,com o objetivo de proteger a in-fraestrutura existente e mudar asfuturas regras de construções, as-sim como fortalecer suas orlas.

A Rússia não é tão conhecidapor ser um país particularmentesensível à questão da mudança cli-mática. Durante anos, os cientistasduvidaram da credibilidade doaquecimento global, com políti-cos locais fazendo piada sobre a

abertura de novas oportunidadesno país — como plantação de ba-nanas na tundra ou a utilização daPassagem do Nordeste no Ártico.Mas os últimos anos trouxeram osprimeiros impactos negativos: in-cêndios florestais e secas no verãode 2010, quando mais de 10.000mortes foram registradas em Mos-cou devido à poluição do ar, atéuma enchente na cidade sulista deKrymsk, que matou 200 morado-

res no verão de 2012, fatos que pes-quisas posteriores relacionaram àelevação da temperatura média doMar Negro.

Histórias mais recentes incluemum surto de Antrax siberiano napenínsula de Yamal no verão desteano, que exigiu o extermínio demais de 2.500 renas, além de cau-sar perdas significativas de meiosde subsistência para as comunida-des nativas, devido a um verão

quente na Sibéria, e o derretimen-to do permafrost (pergelissolo),um fenômeno que também cau-sou a formação de profundas cra-teras na Península de Yamal.

Alexey Kokorin, diretor do pro-grama de energia e clima da WWFRússia, pede que sejam desenvolvi-das e implementadas estratégiasfederais e regionais de adaptaçãoclimática, assim como levadas emconta as mudanças climáticasquando do planejamento munici-pal e regional. “As regiões árticasda Rússia, o Oriente Longínquo, oSul e a cidade de São Petersburgoserão atingidos mais duramente.”

São Petersburgo é um exemplotípico: construída do zero há 313anos, em uma área pantanosa,quase ao nível do mar, a cidade éparticularmente vulnerável. A par-te histórica é protegida por umabarreira a contra inundações, co-locada em operação em 2011. Mes-mo assim, o nível do mar em eleva-ção (1 mm a 2 mm por ano), as or-

las recuando (média de 0,5 metropor ano), as águas subterrâneasem elevação e enchentes mais fre-quentes e impetuosas são uma sé-ria ameaça à velha infraestruturade moradias, transporte e enge-nharia. O comitê ambiental localtem trabalhado em um Plano deAdaptação Climática nos últimostrês anos, para ajudar a cidade, aeconomia e os residentes.

“Junto com nossos parceiros daFinlândia, estimamos e mapeamosos riscos da mudança de clima pa-ra a cidade e seus residentes, deli-neamos inúmeras recomendaçõese estamos tentando integrá-las emestratégias adicionais para o de-senvolvimento da cidade”, diz Yu-lia Menshova, a chefe do projeto.Segundo suas estimativas, o custoda introdução do ‘fator climático’na economia e planejamento dacidade é 27 vezes mais baixo doque os custos com cobertura deperdas adicionais.

“Teremos que redesenvolver

nossas áreas costeiras, talvez atédeslocar alguns prédios residen-ciais. As medidas de fortalecimen-to costeiro são também uma ne-c e s s i d a d e”, diz Valery Malinin,uma das pesquisadoras do proje-to, professora da Universidade Hi-drometeorológica da Rússia. Issodiz respeito particularmente àsáreas além da barreira de proteçãocontra inundações (uma misturade novas áreas residenciais de altonível, dachas tradicionais e novoshotéis particulares de luxo) pois asondas de inundações desviam-senelas e caem nas orlas, erodindo aspraias. Os moradores tentam seproteger com muros e cercas depedra, mas eles são facilmente es-magados pelas ondas, que podematingir a orla mais facilmente devi-do aos invernos mais quentes emenor formação de gelo no MarB á l t i c o.

CHRISTOF NOLDEN/DIVULGAÇÃO

A alemã Essen, que passou por uma grande transformação e recebeu o título de “Capital Verde Europeia” para 2017

YULIA SMIRNOVA

Mar em elevação e águas subterrâneas ameaçam São Petesburgo

Especial | Empresas & Clima

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F4 | Valor | Sexta-feira, 4 de novembro de 20 1 6

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 4/11/2016 (16:42) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Poluição reduzida no transporte

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Maior fabricante de locomotivaselétricas da China, a CRRC ZhuZhouLocomotive Company lançou nesteano dois novos meios de transportepúblico de baixa emissão decarbono. Um deles é o bonde elétricode piso rebaixado, movido por um

supercapacitor que conseguearmazenar 85% da energia geradapelos freios do veículo.A outra novidade entrou emoperação em maio: o primeiro tremde passageiros de levitaçãomagnética (maglev, na sigla em

Casas impressas

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Maior potência de construção nomundo hoje, a China está empenhadaem reduzir a emissão de carbono nosprojetos e obras. A Shanghai WinSunDecoration Design Engineering Corespondeu ao apelo com a utilizaçãode técnicas de impressão 3D e

recuperação de materiais residuaistanto para a construção de edifícios,quanto para decoração interior.A Winsun é a primeira empresa dealta tecnologia do mundo a construircasas por meio da impressão 3D. Osmateriais que servem como "tinta"

Sol, mar e vento Na Itália, fenômenos naturais são utilizados de forma inteligente em diferentes projetos

Ilhas movidas por energia das ondasP O R F Í R IO

Vista aérea de ilha no Sul da Itália que utiliza a energia elétrica gerada por aparelhos que aproveitam o movimento constante das ondas do mar

Elena ComelliDo Il Sole 24 Ore (Itália)

Sol, mar e vento: coisas belasde se vivenciar, mas tambémúteis para gerar energia limpa, seempregadas de forma inteligen-te. As ilhas italianas têm abun-dância dessas matérias-primas.Pode-se até contar a energia geo-térmica entre as fontes renová-veis clássicas, graças aos vulcõespresentes nas ilhas. Além disso,as ilhas do Sul desfrutam de umclima ameno, muito menos exi-gente do ponto de vista energéti-co. A energia necessária paraaquecer essas ilhas meridionaisno inverno é muito inferior à ne-cessária nas ilhas do Norte, quepraticamente já alcançaramtambém a autossuficiência gra-ças às turbinas de captação deenergia eólica e às centrais elétri-cas a combustão de biomassa.

Nas ilhas do Sul, há um focomaior na energia captada a partirdo sol e do mar. Pantelleria, amaior das ilhas-satélites da Sicília,começou a explorar a energia dasondas com um dispositivo proje-tado pela Wave for Energy (W4E),uma subsidiária desmembradacomo independente da Universi-dade Politécnica de Turim.

A ISWEC, uma unidade flu-tuante de 200 kilowatts, produz150 megawatts-hora por ano emovimenta uma usina de dessali-nização, produtora de água doce,um recurso natural escasso e pre-cioso na ilha. Com 50 metros decomprimento, 8 metros de largu-ra e 5 metros de altura, 4 dosquais submersos, o aparelho temo mesmo impacto visual de umbarco ancorado ao largo da costa.

A energia é produzida pelo usode dois módulos de conversoresgiroscópicos, compostos por doisvolantes metálicos de 10 tonela-das cada, movidos pela energia

das ondas. O próximo projeto éinstalar mais um aparelho dessetipo, que atenderá às necessida-des energéticas de 200 famílias.

Além dos aparelhos da Uni-versidade Politécnica, o projetoIlha Pantelleria Inteligente prevêa implementação de sistemas fo-tovoltaicos, sistemas térmicossolares para a produção de águaquente, miniturbinas eólicas esistemas de armazenamento deenergia. O projeto será lançadoneste verão pela companhiaenergética Te r n a , em conjuntocom a prefeitura de Pantelleria,com o objetivo de aumentar pa-ra 30% a produção de energiagerada a partir de fontes renová-veis na ilha.

A ilha de Elba também se con-centra na energia gerada pelasondas. Ali foi instalado o primei-ro aparelho comercial produzidopela 40SouthEnerg y. Fundadapelo italiano Michele Grassi, essaempresa inovadora, que tem es-critórios em Londres e Pisa, rece-beu apoio, em diferentes fases, damultinacional italiana de energiarenovável Enel Green Power.

A empresa de Grassi é a única atestar aparelhos que, em vez decaptar energia na superfície, in-terceptam a energia das profun-dezas. O menor de seus apare-lhos, o H24, de 50 kilowatts, con-siste de uma parte direcionadoraestacionária que repousa no fun-do do mar e de outra parte apoia-da sobre a primeira que se movepara frente e para trás com as on-das ou marés.

O motivo para se procurarenergia onde ela é escassa estáclaro: a superfície da água podeter mais energia, mas dispositi-vos flutuantes são muitas vezesdestruídos por tempestades, en-quanto os instalados no fundodo mar são muito mais resisten-tes. Com um custo pela energia

que já é competitivo com o da re-de de energia elétrica, a energiadas ondas pode se revelar o trun-fo das pequenas ilhas italianas.

Em Favignana, a maior dasilhas Égadi, o plano é estimularo uso generalizado de módulosfotovoltaicos e desenvolver mo-bilidade sustentável, redes inte-ligentes e iluminação a LED. Co-mo primeiro passo, a empresade energia elétrica La Sea, deÉgadi — ao lado de suas sóciasno projeto da ABB, a Gewiss e aMercedes-Benz — quer cobrir otelhado do novo shopping cen-ter da ilha com painéis de capta-ção de energia solar. Essa insta-

lação permitirá que essas em-presas produzam cerca de 700megawatt/hora por ano de ener-gia elétrica e fornecerão energiapara as novas estações de recar-ga para veículos elétricos.

Favignana, em especial, temmais de 300 bicicletas elétricas,graças ao incentivo da CâmaraMunicipal. A meta de médio pra-zo é atender a toda a demandapor energia elétrica por meio doemprego da energia solar, quesubstituirá gradualmente o die-sel, atualmente a principal fontede energia dos habitantes da ilha.

De acordo com um estudo daLa Sea, a área total da superfície

dos telhados em Favignana é decerca de 320 mil metros quadra-dos. Teoricamente, isso se traduznuma potência instalada de cer-ca de 11 megawatts: é energiaelétrica suficiente para garantiruma produção anual capaz decorresponder a toda a necessida-de da ilha, mesmo na alta tem-porada. A conclusão do progra-ma como um todo, incluindosistemas fotovoltaicos, tanquesde armazenamento e redes inte-ligentes, envolverá um investi-mento total de aproximada-mente € 25 milhões.

Em Ventotene, uma das ilhasdo arquipélago das ilhas Ponti-

nas, que inclui Ponza, a Enel ins-talou baterias de lítio de 300 ki-lowatts. Essa solução de armaze-namento eletroquímico possibi-litou uma redução de 20% anuaisno consumo de combustível eabriu o caminho para a instala-ção de sistemas fotovoltaicosadicionais, sem causar desequilí-brios na rede. A meta é reprodu-zir esse modelo em outras ilhas,menores, especialmente na deCapraia e nas ilhas Eólias.

Wattway, uma estrada solar que inova na FrançaMyriam ChauvotDe Les Echos (França)

Inovações em construção mui-to raramente despertam o inte-resse da população francesa, comuma recente exceção. Concebidana França, e emergindo como aprimeira de seu tipo no mundo, aestrada solar já está agitando osetor energético.

A estrada fotovoltaica (ou es-tacionamento) é fruto de umprojeto de pesquisa conjunta decinco anos entre a Colas — umasubsidiária do grupo construtorde estradas Bouygues — e o Insti-tuto Nacional de Energia Solar.Os esforços combinados dasduas partes criaram a Wattway:uma superfície de estrada quevem no formato de ladrilhos fo-tovoltaicos cobertos por uma re-sina resistente. Esse “p i c h e” forte

promete suportar o tráfego in-tenso de caminhões que pesamcerca de 13 toneladas por eixo.

“Em Chambéry e Grenoble,testamos com sucesso aWattway usando um tráfegoequivalente a um milhão de veí-culos, e a superfície não se mo-veu”, explicou Hervé Le Bouc, di-retor da Colas, durante a apre-sentação inicial da nova tecnolo-gia em outubro de 2015. “Toda aexpertise da Colas — protegidapor duas patentes — culminouna criação deste revestimentotransparente, que foi criado pa-ra proteger as frágeis células fo-tovoltaicas”, afirmou Le Bouc.

Com a Wattway, não há neces-sidade de destruir e substituir asestradas, porque os ladrilhos sãofacilmente instalados sobre a su-perfície original. Conectores en-tão transferem a eletricidade pro-

duzida pelos ladrilhos direta-mente para pontos de uso — co -mo postes de luz e sinais de tráfe-go — ou para sistemas de trans-porte e armazenagem de energia.

Segundo estimativas da Ade-me (Agência Francesa de Geren-ciamento Ambiental e Energéti-co), quatro metros de estradaWattway (ou 20 metros quadra-dos) podem fornecer eletricida-de suficiente para abastecer umaresidência, exceto a calefação.Eles também afirmam que 15metros quadrados podem ener-gizar os semáforos num cruza-mento, e um quilômetro de es-trada pode energizar uma vilacom 5.000 habitantes.

Já existem muitas possibilida-des de aplicação da tecnologia, ehá expectativa sobre quais outrasideias interessantes estão por vir.No entanto, há grupos de céticos

que necessitam ser convencidos.Em primeiro lugar, estão as em-presas de energia que duvidamque o custo da produção energéti-ca possa rivalizar o custo das fazen-das solares convencionais. Há tam-bém os profissionais do transporterodoviário, que têm reservas emrelação à resistência dos ladrilhos.

“Em qualquer caso, a Wattway éclaramente não indicada para trá-fego pesado, porque a Colas só atestou num tráfego equivalente aum milhão de caminhões. Numarodovia com tráfego intenso, nu-ma taxa de 80.000 veículos por dia,incluindo 15.000 caminhões, amarca de um milhão é alcançadaem menos de três meses”, observaum perito. Isso seria de fato um ci-clo de vida reduzido para uma es-trada Wattway.

“Até 2018, teremos testado osdiferentes usos da Wattway com

vários clientes parceiros, tantodo setor público quanto do setorprivado, por cerca de cem dife-rentes locais de aplicação naFrança e internacionalmente. Is-so inclui trinta locais ainda estea n o”, afirma Pascal Tebibel, dire-tor de previsão estratégica da Co-las. “Os testes serão feitos sobcondições realistas, cobrindoáreas que variam de 20 a 100 me-tros quadrados (máximo).”

Após um anúncio feito em ju-nho, o primeiro desses testes estáatualmente em curso com o de-partamento de Vendée: será acriação de um estacionamento de50 metros quadrados num com-plexo esportivo. A energia geradavai abastecer uma estação de car-ga de veículos elétricos. Os planospara o local do segundo teste ain-da não foram revelados.

A ministra da Ecologia da Fran-

ça, Ségolène Royal, já está com osplanos de vento em popa. Em ja-neiro, declarou que quer instalar1.000 km de estradas solares emcinco anos, antes de anunciar, emmarço, que ela quer disponibilizar€ 5 milhões para o projeto (embo-ra isso não tenha se concretizadoaté agora). Depois, ela visitou a fá-brica da SNA em Tourouvre (Orne)em 26 de julho, onde os 5.000 me-tros quadrados de ladrilhos estãosendo fabricados para os locais dea p l i c a ç ã o.

Se a Wattway ainda estiver nocaminho certo, terminados os tes-tes, “a linha de produção da SNAserá capaz de produzir 150.000metros quadrados”, explica PascalTebibel. “Em 2018, poderemos en-tão iniciar a comercialização.”

Especial | Empresas & Clima

para a impressora sãoprincipalmente resíduos deconstrução e resíduos industriais.

inglês). Entre as vantagens estãoníveis limitados de ruído, alto graude desempenho e baixo custo.

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