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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X CIBERFEMINISMO NO BRASIL: CONSTRUINDO IDENTIDADES DENTRO DOS LIMITES DA REDE Debora Albu 1 Resumo: Essa pesquisa analisa a emergência do ciberfeminismo no Brasil na última década. O conceito oferece três enquadramentos possíveis para o desenvolvimento de narrativas sobre feminismo, seus significados e re/produções. A principal pergunta de pesquisa é como e porque mulheres jovens se engajam no ciberfeminismo no Brasil e quais significados são atrelados a isso. O trabalho argumenta que o ciberfeminismo é entendido e utilizado em três dimensões: como uma plataforma, como uma identidade e como uma forma de ativismo. Apesar das representações otimistas do conceito da literatura, a pesquisa também discute algumas limitações do mesmo em cada uma dessas dimensões, como a falta de institucionalidade, as barreiras para o empoderamento e a divisão interna do movimento feminista. Palavras-chave: Cyberfeminismo, Brasil, Jovens, Internet, ativismo. Introdução Ciberfeminismo é um conceito em disputa dentro da teoria feminista nas últimas duas décadas, tendo sido apresentado como uma filosofia (Paterson, 1992; Hawthorne e Klein, 1999), como uma conexão entre mulheres e o ciberespaço (Plant, 1996), como uma ferramenta de empoderamento (Millar, 1998; Lee, 2006; Harris, 2008; Martin e Valenti, 2012; Keller, 2012; Zeillinger, 2013; Keller, 2015), como um lugar de resistência (VNS Matrix, 1991; Daniells, 2009; Pierce, 2010), como um chamado para inclusão e solidariedade (Braidotti, 1996; Wilding, 1998; Thelandersson, 2014) e como uma utopia (Haraway, 1991). Todos esses diferentes significados e usos apontam para o ciberfeminismo como um projeto múltiplo, ainda em construção tanto no nível teórico quanto prático. Ciberfeminismo é uma expressão do movimento feminista que se dá no espaço da sociedade civil. Essa esfera foi analisada pela teoria feminista majoritariamente pelo viés das tradições liberais (Dahlerup, 1994; Dean, 1996; Phillips, 1999; Phillips 2002). Nancy Fraser (1997) apresenta o conceito de “contra-públicos subalternos” como uma crítica efetivadessas leituras, que conceituam o espaço público, a sociedade civil e os públicos como alheios à gênero. Esses públicos marginalizados também navegam o espaço público, construindo lugares de resistência e alterando seu status como periféricos. 1 Debora Albu é mestre em Gênero e Desenvolvimento pela London School of Economics e pesquisadora da área de Democracia e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio).

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    Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

    Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

    CIBERFEMINISMO NO BRASIL: CONSTRUINDO IDENTIDADES DENTRO DOS

    LIMITES DA REDE

    Debora Albu1

    Resumo: Essa pesquisa analisa a emergência do ciberfeminismo no Brasil na última década. O

    conceito oferece três enquadramentos possíveis para o desenvolvimento de narrativas sobre

    feminismo, seus significados e re/produções. A principal pergunta de pesquisa é como e porque

    mulheres jovens se engajam no ciberfeminismo no Brasil e quais significados são atrelados a isso. O

    trabalho argumenta que o ciberfeminismo é entendido e utilizado em três dimensões: como uma

    plataforma, como uma identidade e como uma forma de ativismo. Apesar das representações

    otimistas do conceito da literatura, a pesquisa também discute algumas limitações do mesmo em cada

    uma dessas dimensões, como a falta de institucionalidade, as barreiras para o empoderamento e a

    divisão interna do movimento feminista.

    Palavras-chave: Cyberfeminismo, Brasil, Jovens, Internet, ativismo.

    Introdução

    Ciberfeminismo é um conceito em disputa dentro da teoria feminista nas últimas duas

    décadas, tendo sido apresentado como uma filosofia (Paterson, 1992; Hawthorne e Klein, 1999),

    como uma conexão entre mulheres e o ciberespaço (Plant, 1996), como uma ferramenta de

    empoderamento (Millar, 1998; Lee, 2006; Harris, 2008; Martin e Valenti, 2012; Keller, 2012;

    Zeillinger, 2013; Keller, 2015), como um lugar de resistência (VNS Matrix, 1991; Daniells, 2009;

    Pierce, 2010), como um chamado para inclusão e solidariedade (Braidotti, 1996; Wilding, 1998;

    Thelandersson, 2014) e como uma utopia (Haraway, 1991). Todos esses diferentes significados e

    usos apontam para o ciberfeminismo como um projeto múltiplo, ainda em construção tanto no nível

    teórico quanto prático.

    Ciberfeminismo é uma expressão do movimento feminista que se dá no espaço da sociedade

    civil. Essa esfera foi analisada pela teoria feminista majoritariamente pelo viés das tradições liberais

    (Dahlerup, 1994; Dean, 1996; Phillips, 1999; Phillips 2002). Nancy Fraser (1997) apresenta o

    conceito de “contra-públicos subalternos” como uma crítica efetivadessas leituras, que conceituam o

    espaço público, a sociedade civil e os públicos como alheios à gênero. Esses públicos marginalizados

    também navegam o espaço público, construindo lugares de resistência e alterando seu status como

    periféricos.

    1 Debora Albu é mestre em Gênero e Desenvolvimento pela London School of Economics e pesquisadora da área de Democracia e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio).

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    No Brasil, em sua maioria, são as mulheres jovens que performam o ciberfeminismo em

    diversas frentes. Elas criam canais de mídia independentes, como blogs e revistas virtuais, páginas de

    redes sociais e grupos de discussão, seminários online, canais de vídeo (Lemos, 2009; Vieira, 2012;

    Schlindwein, 2012). Todas essas diferentes formas de engajamento online sugerem que diferentes

    mulheres têm diferentes necessidades, identidades e possibilidades. Isso resulta nesta miríade de

    agendas feministas, a qual pode ser explorada a partir de dois caminhos: a diversidade permite que

    uma pluralidade de vozes seja ouvida e considerada, contudo, pode acarretar em uma dissonância que

    enrijece as possibilidades de coalizões para objetivos e lutas comuns (Cunha, 2013).

    Sob a luz desses conceitos e ideias, esse artigo analisará os entendimentos e usos do

    ciberfeminismo no Brasil por mulheres jovens: como elas se engajam no movimento feminista por

    meio do ciberfeminismo? O que essa expressão de ativismo oferece para o movimento? Existem

    limites da aplicação prática desse conceito? O trabalho argumenta que mulheres jovens se apropriam

    do ciberfeminismo de três formas: como uma plataforma, como uma identidade e como uma prática.

    Primeiramente, o ciberfeminismo acontece na ciberesfera, a qual oferece possibilidades para o debate,

    para o posicionamento do indivíduo como cidadão e para o aprendizado, espaço esse que difere

    daqueles não-virtuais, que são, em sua maioria, mais hierarquizados. Além disso, o ciberfeminismo

    se tornou um estímulo para que essas mulheres jovens se identifiquem como feministas e reifica as

    identidades de “mulher” e “jovem” por meio do conhecimento e do discurso. Finalmente, mulheres

    jovens veem no ciberfeminismo uma ferramenta para o ativismo, se empoderando online, quebrando

    silêncios opressivos e promovendo agendas feministas.

    Todavia essas possibilidades apresentam limitações. Como um espaço, o ciberfeminismo nem

    sempre consegue transformar debates frutíferos sobre questões feministas em ganhos “reais” de

    direitos das mulheres e igualdade de gênero. Discursos conservadores da direita mainstream política

    no Brasil, a influência das igrejas evangélicas na política e a crise que sucedeu o impeachment da

    primeira presidenta eleita no país, Dilma Rousseff, demonstram que a falta de força e de caráter

    institucional do ciberfeminismo não permitem que o mesmo concretize esses avanços. Na perspectiva

    do ciberfeminismo como um a ferramenta para processos de subjetivação, ele é bloqueado por

    dinâmicas de reação negativa (“backlash”), críticas excessivas (“trashing”) e silenciamento

    (Crenshaw, 1993; Collins, 2000; Mann, 2014), o que acarreta efeitos negativos para o ciberfeminismo

    como instrumento de auto-empoderamento e agência.

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    A metodologia empregada está baseada em fontes primárias e secundárias. Como fonte

    primária, são utilizadas entrevistas realizadas com treze jovens brasileiras ciberfeministas por meio

    de um questionário semi-estruturado, o qual desenvolveu cada uma das três dimensões de análise

    apresentadas acima. Além dessas entrevistas, sete plataformas de mídia feminista independente

    virtual foram revisadas, sendo identificados tópicos e conceitos comuns com as entrevistas em seus

    tutoriais e publicações. Todo o material foi investigado por meio de análise de discurso e de conteúdo

    em conexão com a literatura secundária sobre a área.

    Esse artigo está organizado em três seções: a primeira delineará os debates teóricos

    envolvendo os conceitos de sociedade civil na teoria feminista e de ciberfeminismo. A segunda trará

    a análise desenvolvida, dividida em duas subseções: das oportunidades e das limitações do conceito

    em questão. Por fim, a conclusão fará uma breve recapitulação da discussão bem como apresentará

    pontos para debate e pesquisas futuras.

    Delineando o debate

    A teoria feminista vem debatendo ciberfeminismo desde a década de 1980. Apesar da

    dificuldade em se definir uma genealogia única do conceito, para muitos autores, o conceito tem sua

    origem no trabalho de Donna Haraway (Braidotti, 1996; Wilding, 1998; Hawthorne e Klein, 1999;

    Paasonen, 2011). Haraway (1991) descreve o “ciborgue” como um “híbrido de máquina e organismo”

    que, como um “encorporamento” positivo para as mulheres, pode “definir uma polis tecnológica

    baseada em parte na revolução das relações sociais dentro do oikos, o lar” (Haraway, 1991, p.151).

    Esse ciborgue - antes localizado na divisão público/ privado - cria um novo tipo de cidadania, a

    “cidadania ciborgue” e, por meio da “escrita ciborgue”, consegue mudar o mundo que “[...] lhe marca

    como outro” (Haraway, 1991, p.175). Neste ensaio, a autora produz a base de significação do

    ciberfeminismo como uma identidade e como uma forma de ativismo.

    O ciberfeminismo enquanto plataforma é realçado por diversos fatores Eble and Breault,

    2002; Gerrard, 2002; Gordon, 2008; Daniells, 2009; Pierce, 2010; Martin and Valenti, 2012; er, 2012;

    Keller, 2015). Primeiro, o ciberespaço é a alternativa aos espaços offline, mais difíceis de serem

    acessados, dada a concentração regional de oportunidades, riqueza e as barreiras geográficas

    existentes. Segundo, plataformas feministas online são entendidas como espaços seguros quando

    justapostas a espaços não-virtuais (White, 2016), pois permitem certa anonimidade e uma não-

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    exposição física. Terceiro, essas plataformas re/criam ambientes comunitários onde mulheres podem

    dividir experiências e procurar apoio sobre violência de gênero em suas mais variadas formas, sendo

    muito similares aos grupos de conscientização das décadas de 1960 e 1970. Por fim, a Internet 2.0

    aumenta a conectividade e o alcance pelo desenvolvimento das mídias sociais, nas quais os sujeitos

    são não só consumidores passivos de conteúdo, mas também produtores e disseminadores disso

    (Pruchniewska, 2016), ou seja, novas vozes marginalizadas podem ter papéis fundamentais nesta

    dinâmica.

    Já enquanto prática, o ciberfeminismo é múltiplo, oferecendo uma diversidade de táticas de

    engajamento e de participação na sociedade civil (Harris, 2008; Daniells, 2009; Martin and Valenti,

    2012). Jovens feministas estão criando uma “cultura de participação” por meio do ciberfeminismo:

    postando, escrevendo blogs, tweetando e produzindo discurso online que as empodera (Harris, 2008;

    Keller, 2012; Dixon, 2014; Portwood-Stacer and Berridge, 2014; Khoja-Moolji, 2015; Olson, 2016).

    Essas estratégias micropolíticas de participação permitem que tenham uma atuação não mais limitada

    ao espaço privado; uma vez públicas, essas vozes criam um coro de diferentes demandas e agendas

    (Harris, 2008; Gordon, 2008).

    Contudo o ciberfeminismo também apresenta barreiras para o crescimento da solidariedade e

    avanço de agendas do movimento (Loza, 2014; Mann, 2014; Baer, 2016). A pluralidade do

    movimento e o fato de todas possuírem vozes pode incorrer em argumentos contra-produtivos que

    criam ambientes tóxicos no ciberespaço, limitando o potencial dessa estratégia (Goldberg, 2014;

    Bahadur, 2014). Essa toxicidade gera alguns problemas, dos quais três abordaremos nesse trabalho:

    silenciamento (Crenshaw, 1993; Collins, 2000; Mann, 2014), crítica excessiva personalizada –

    “trashing” (Freeman, 1976) e policiamento de tom (Cross, 2015).

    A literatura brasileira não explora o ciberfeminismo de maneira tão abrangente. O fato de ser

    tão recente faz com que a análise do conceito sob o viés acadêmico não tenha ganho força apesar de

    seu rápido desenvolvimento na prática (Lemos, 2009; Vieira, 2012; Schlindwein, 2012). Muitas

    autoras consideram esse desenvolvimento positivo, já que permite a democratização do movimento

    no Brasil, construindo pontes entre diversos grupos de mulheres, provendo um espaço para a

    manifestar suas demandas (Vieira, 2012; Bernardes, 2014; Lagner et al, 2015). Outra característica

    ressaltada na literatura é a conectividade, especialmente com as mídias sociais (Bernades, 2014;

    Lagner et al, 2015), que constrói potencial de crescimento e fortalecimento do movimento. Esta

    pesquisa visa analisar não só um blog (Lima, 2013; Ventura and Rodrigues, 2015) ou página de

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    Facebook específicos (Ferreira, 2013; Rodrigues and Luvizotto, 2014; Santos and Barros, 2015;

    Rodrigues et al, 2016), mas sim desenvolver uma análise mais ampla sobre o fenômeno no país.

    Ciberfeminismo como oportunidade

    “A Internet oferece um espaço de possibilidades ontológicas”: potencial para o ciberfeminismo

    como extensão da sociedade civil

    A ideia da Internet como uma espécie de ágora virtual (Castells, 2008; Castells, 2010; Castells,

    2012) foi reforçada nas entrevistas: todas as mulheres entrevistadas relataram usar essa plataforma

    para debater e aprofundar seus entendimentos sobre o feminismo. As representantes da revista

    “Capitolina”, por exemplo, afirmam que a razão principal para desenvolver o conteúdo de forma

    digital é o fato desse espaço permitir mais interação com as pessoas leitoras do que meios impressos.

    O editorial da plataforma “Blogueiras Feministas” afirma que seu objetivo é “[...] discutir o

    feminismo. Em todas as suas pluralidades e particularidades. [...] nós queremos refletir sobre os

    assuntos que circundam a criação de um mundo mais justo e igualitário para todas as pessoas”

    (Blogueiras Feministas, n.d.). Esses exemplos explicitam ideais democráticos presentes no feminismo

    e no conceito feminista de sociedade civil (Fraser, 1997; Phillips, 2002).

    Outro relevante aspecto ressaltado pelas entrevistadas é o alcance possível da Internet

    (Palczewski, 2001; McCaughey and Ayers, 2003; Garret, 2006). Representantes dos canais de mídia

    reforçaram o ponto da difusão da informação, justificando que empodera mulheres ao apresentar

    novas possibilidades e ideias. Uma representante da revista “Capitolina” relembrou o fato dessa

    informação ser - desconsiderado o custo de acesso - gratuita, logo, mais acessível para meninas e

    mulheres mais pobres. Esse alcance e velocidade faz com que debates viralizem e saiam das margens

    para o centro, conforme canais de mídia mainstream começar a debater tais assuntos, como é o caso

    da campanha #MeuPrimeiroAssédio, da ONG Think Olga.

    Alcance também está relacionado com a in/formalidade do conteúdo produzido nessas

    plataformas: seu tamanho e a ausência de jargões acadêmicos permitem que grupos de meninas e

    adolescentes, por exemplo, se engajem e, consequentemente, se aproximem do movimento feminista.

    R.M. diz “Eu acho maravilhoso que uma geração inteira de meninas possa dizer ‘Meu corpo, minhas

    regras’ e pronto”. Além disso, conteúdo feminista consegue atingir públicos-alvo fora da academia,

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    desconstruindo essa divisão dentro do feminismo, já que essas plataformas possibilitam mulheres das

    periferias (territoriais e de saber) aprender e produzir seu próprio “conhecimento situado” (Haraway,

    1988).

    Plataformas feministas online também quebram sistemas hierarquizados de poder dada sua

    fluidez e, de certa forma, sua falta de institucionalização. Para a revista “Capitolina” e o “Blogueiras

    Feministas”, essa característica permite uma maior inclusão e membrezia de regiões diferentes do

    Brasil, descentralizando o foco das regiões Sudeste e Sul: organizar a produção de conteúdo online

    evita a criação de uma “periferia do trabalho”, a qual pode marginalizar algumas escritoras / criadoras,

    abrindo divisões desnecessárias (S.S.).

    As características explicitadas acima - compartilhamento, alcance, horizontalidade - apontam

    para a possibilidade da construção de comunidades, considerando diferenças de identidade e

    localidade dentre mulheres. O conceito de Mohanty de “diferença comum” funciona aqui como uma

    lente para entender as oportunidades de empatia e solidariedade entre mulheres brasileiras (Mohanty,

    2003), dado que plataformas feministas online oferecem o espaço necessário para a troca de opiniões

    e construção de objetivos comuns por meio do debate.

    “Essa identidade só ganhou um nome” – Criando relações com o feminismo

    Quando perguntadas sobre sua relação com o feminismo, as entrevistadas se auto-

    identificaram como feministas. A maioria começou a usar ativamente essa identidade como uma

    “marca” quando adolescentes, durante o ensino médio ou a graduação. Além de espaços como

    coletivos feministas nas escolas ou universidades, plataformas feministas online tiveram uma grande

    relevância ao formatar sua relação com o feminismo. A materialização ou institucionalização desses

    espaços facilitou o engajamento e processos de subjetivação das entrevistadas. Um ponto em comum

    destacado nas respostas foi o fato de se identificarem com agendas feministas antes de se

    identificarem como feministas per se. T.T. afirma que “muitas mulheres da minha família se

    posicionavam próximas a ideias feministas, apesar de não usarem essa palavra”, o que a levou a

    enquadrar seu feminismo em uma etapa mais avançada de sua vida.

    Para elas, os motivos para se identificarem enquanto feministas variam desde “é algo natural”

    até “é uma necessidade”. Segundo A.P., “Eu faço isso, porque eu preciso. É um desconforto pessoal”.

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    Outras consideram algo “natural”, como um esforço para compreender o mundo e, conforme

    perceberam desigualdades de gênero em diferentes esferas, elas sentiram a necessidade de assumirem

    essa identidade, sendo ativas na busca por justiça de gênero em suas ações: “Foi muito natural para

    mim e, consoante ao crescimento do movimento, percebi que era muito similar à minha forma de

    pensar; era, de certa forma, inevitável: essas ideias já se alinhavam ao que eu acreditava, foi mais

    uma questão de dar um nome a isso” (L.F.).

    Dessa forma, o mote “o pessoal é político” está imbricado nesse processo de identificação

    com o feminismo para essas jovens mulheres (Hanisch, 1969), devido à sua necessidade de politizar

    suas crenças e experiências pessoais. Essa politização é fundamentalmente conectada ao processo de

    se tornar cidadã por meio das mídias sociais, parte de suas vidas cotidianas (Harris et al 2007; Biesta

    et al, 2009; Coleman, 2006; Wood, 2014).

    “Não estou quebrando meu silêncio sozinha” – Significados de engajamento no ciberfeminismo

    A fim de entender como mulheres jovens se engajam com o ciberfeminismo no Brazil, é

    importante entender porque o fazem. A primeira razão reportada se conecta ao processo de formação

    de identidade em duas frentes: tanto como jovens quanto como mulheres. Ser jovem significa, para

    muitas das entrevistadas, ter crescido em concomitância com a popularização da Internet, tornando

    essa plataforma parte de suas vidas cotidianas em diversos aspectos, desde socializar com amigos até

    advogar por direitos das mulheres em posts ou blogs: elas existem enquanto sujeitos na Internet.

    Muitas apontam que em seus momentos de vida atuais não há tempo para engajamento offline - em

    protestos na rua ou encontros feministas presenciais - e, por isso, o ciberativismo “se encaixa” em

    suas rotinas e possibilidades. Essa “falta de tempo” sugere que mulheres jovens possuem restrições

    que são específicas ao seu grupo etário e, diferentemente de meninas e adolescentes, se engajar no

    ciberfeminismo não seria necessariamente sua primeira opção enquanto ativistas feministas: é, senão,

    a opção viável. Segundo M.B.: Eu queria que minha vida enquanto ativista fosse mais integrada

    [online e offline], mas por uma série de razões, isso não é possível, incluindo a falta de tempo e de

    variedade e o acesso aos grupos que se encontram offline”.

    Como mulheres, as informantes destacaram a ideia de necessidade: porque são mulheres, elas

    precisam lutar por igualdade de gênero; elas devem ser quem aponta essa questão em todos os espaços

    em que ocupam. Assim, se estão na Internet, elas precisam ser ativistas feministas nesse espaço.

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    Políticas de identidade atuam de forma essencial como uma das razões para o engajamento online. É

    um processo co-constituitivo e constante: elas se engajam online e se tornam feministas e se

    identificam como feministas porque se engajam online. Esse “transbordar” do pessoal para o público

    se revela como uma catarse, combinando emoções como medo e raiva: “Eu sou feminista, porque, se

    eu não for, enquanto mulher, eu não vou sobreviver e ser capaz de fazer e ser aquilo que acredito. Eu

    sou ativista porque preciso ser” (T.B.).

    Essa dinâmica “contamina” mais mulheres mais rápido e de diferentes contextos, criando um

    efeito bola de neve positivo. Duas informantes usaram a caraterística de alcance para justificar seu

    engajamento online. Para elas, nessa esfera elas conseguem alcançar audiências maiores do que o

    fariam offline e iniciar conversas e debates que não seriam possíveis em seus círculos offline. A

    repetição dessa característica indica a importância da pluralidade para essas mulheres jovens e laços

    com as agendas da chamada “Terceira Onda” feminista.

    Finalmente, um terceiro tópico comum é o empoderamento. “Blogueiras Negras”, “Think

    Olga” e “Geledés” usam esse termo em suas páginas institucionais e em suas políticas editoriais: “

    [...] além de ser tratada como uma ferramenta de visibilidade, comunicação é considerado um link

    para o empoderamento” (Geledés, n.d.). Representantes da revista “Capitolina” argumentam pela

    necessidade de dar “voz e espaço” para meninas e adolescentes, lhes dando “inspiração, não

    aspiração”. Empoderamento tem diferentes significados a partir de diferentes identidades. S.R., uma

    jovem mulher negra, resume esse processo:

    “Nós somos silenciadas durante nossas vidas inteiras, especialmente mulheres negras.

    Escrever foi a forma que encontrei para quebrar esse silêncio e, ao fazê-lo, entendi que não

    estava quebrando meu silêncio sozinha, estava quebrando vários silêncios. [...] É parte do meu

    empoderamento e minha descoberta como mulher negra.”

    Limites do ciberfeminismo

    “É um veneno com o qual feministas se auto-contaminam” – Silenciando irmãs

    O silenciamento foi uma das táticas identificadas pelas entrevistadas como um componente

    negativo no ciberfeminismo, funcionando como uma limitação de seu potencial transformador. Em

    alguns casos, resulta da crítica excessiva personalizada - o “trashing”: alvos são assediados e atacados

    de forma tão incisiva que são silenciadas e desistem de participar nessas plataformas. Também é

    importante considerar disputas de poder que giram em torno de “qual feminismo é mais correto”. No

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    Brasil, um dos debates que provocou muitas ações de “trashing” e de silenciamento é o tema da

    prostituição e o projeto de lei “Gabriela Leite”, do deputado federal Jean Wyllis (PSOL), a qual afirma

    regular a profissão, criando uma espécie de estatuto. Muitas das informantes mencionaram essa

    questão como um dos debates recentes que polarizam as ciberfeministas na rede: aquelas que seguem

    o feminismo radical - que são contra o PL - escrevem de maneira agressiva sobre suas posições em

    plataformas online, desencorajando outras feministas com opiniões divergentes de se manifestarem.

    Esse exemplo traz evidências de que buscar consenso dentro das “diferenças comuns”

    (Mohanty, 2003) nem sempre é atingível, mesmo na ciberesfera, que oferece mais possibilidades de

    debate do que o espaço offline. Como pergunta R.M.: “É mais importante discutir o que o feminismo

    é ou não do torná-lo um princípio garantidor da liberdade de expressão para todas as mulheres?”.

    “Essas rachas e vulgaridades me deixam sem esperança” – “Trashing” online, uma nova

    modalidade

    Outra limitação do potencial do ciberfeminismo é o ato de “trashing”, conceito conhecido

    dentro da literatura (Freeman, 1976). Todavia, diferentemente de como era praticado, “trashing”

    agora ganhou uma modalidade online, em que mulheres xingam, agridem e destroem outras mulheres

    em plataformas na ciberesfera.

    “Feminismo online pode ser complexo, às vezes: ele repete erros que já foram cometidos por

    outras feministas no passado, como ‘trashing’; muitas mulheres se atacam indiretamente, não

    por causa de suas divergências políticas, mas em um sentido pessoal, atacando seu

    comportamento, a forma como se vestem [...]. Isso cria divisões e isolamento dentro do

    movimento”. (S.R.)

    Duas informantes afirmam que “trashing” acontece no ciberfeminismo exatamente porque,

    em espaços virtuais, as mulheres não necessariamente se conhecem e, mesmo que seja o caso, elas

    não estão “frente a frente” (T.D.B.). Além disso, a dimensão textual é aspecto fundamental na

    Internet: tudo fica registrado e pode ser usado contra outra mulher, gerando um “cultura de

    revanchismo” (M.C.). Esse aspecto foi o que desencorajou diversas entrevistadas a participarem de

    forma ativa em grupos de discussão online, dado o elemento “tóxico” desses ambientes, o que limita

    o desenvolvimento de debates produtivos e saudáveis.

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    Conclusão

    Essa pesquisa teve como objetivo entender como e porque mulheres jovens se engajam com

    o ciberfeminismo no Brasil na última década. O artigo argumentou que elas enquadram essa relação

    a partir de três perspectivas: ciberfeminismo como plataforma, como identidade e como forma de

    ativismo. A dimensão espacial oferece uma plataforma possível e necessária para advogar pelos

    direitos das mulheres e para expressar opiniões no debate público, funcionando como uma extensão

    da sociedade civil (Fraser, 1992; Fraser, 1997).

    Ciberfeminismo também foi entendido como uma ferramenta para processos de auto-

    identificação como jovens, mulheres e feministas. Plataformas online funcionam como espaços de

    descoberta pessoal e empoderamento, pelas quais elas começam suas jornadas como ativistas pela

    igualdade de gênero (Harris, 2008; Keller, 2012; Keller, 2015) e criam ligações solidárias entre si

    (Mohanty, 2003; Thelandersson, 2014), rompendo ciclos de silenciamento no nível individual e

    coletivo (Vickery, 2010).

    Contudo, ciberfeminismo tem limitações dentro de cada um desses enquadramentos. Dada sua

    própria ontologia, o ciberespaço é mais horizontal e menos estruturado do que instituições offline.

    Em um país com pouca tradição de participação cívica - visto o recente processo de redemocratização

    - advogar por causas online não é suficiente para avançar agendas feministas de maneira tão efetiva.

    Além disso, o ciberfeminismo cai em armadilhas antigas de “trashing” (Freeman, 1976) e de

    silenciamento (Crenshaw, 1993; Collins, 2000; Mann, 2014), que impõe limites ao seu potencial para

    a solidariedade e a ação coletiva.

    Nesse sentido, a pesquisa objetivou desconstruir a visão predominante de que espaços online

    sempre promovem mais democratização e participação e incorporam os aspectos positivos de

    horizontalidade da rede (Castells, 2008; Castells, 2010; Castells, 2012) e de fluidez e horizontalidade

    (Phillips, 1999; Phillips, 2002). Visto que todas as características da rede são aumentadas, os pontos

    negativos também são aprofundados: diferença se transforma em divergência, debates se transformam

    em querelas, antipatias se transformam em ódio. O movimento feminista, especialmente por meio do

    ciberfeminismo, poderia se beneficiar ao focar nas convergências e pontos de consenso e

    solidariedade, respeitando a pluralidade.

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    This concept offers three possible framings for the development of new narratives about feminism,

    its meanings, productions and reproductions. The main research question addressed is how and why

    young women engage with cyberfeminism in Brazil and which meanings are attached to it. The main

    argument is that cyberfeminism is understood as a platform, as an identity and as a form of activism.

    Despite optimistic representations of the concept in the literature, this research also discusses some

    limitations cyberfeminism presents regarding each of these framings.

    Keywords: Cyberfeminism, feminist movement, cyberactivism, Brazil, civil society.

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