Ciberativismo em obras-completo-11dez

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Em um momento em que cada vez mais o mundo real converge com o virtual, o ciberativismo é um dos exemplos mais claros dessa dinâmica, dois mundos coexistindo e fortalecendo-se mutuamente. A informação transformada em conhecimento, que gera mobilizações e que se estendem para a vida real são os ideais do ciberativismo. Um Teto Para Meu País (UTPMP), uma ONG que luta contra a injustiça da divisão do espaço físico, do latifúndio e da injustiça social da extrema pobreza pode buscar no ciberespaço formas de potencializar o desenvolvimento e alcance de suas ações sociais. Este trabalho pretende estudar e criar soluções para a presença da ONG no ciberespaço, soluções de design que ofereçam meios práticos e eficazes de se trabalhar o ciberativismo em suas ações.

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

DESIGN DIGITAL

NA7

Projeto Transdisciplinar

São Paulo

2011/2

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

DESIGN DIGITAL

NA7

São Paulo

2011/2

Daniel GrafEduardo Schrappe

Odair AugerThomas Moraes

William Fernandes

Projeto TransdisciplinarCiberativismo “Em Obras”

Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência parcial àobtenção do título de bacharel em Design Digital da Universidade Anhembi Morumbi.

Orientação: Profº Nelson Somma JrCoordenação: ProfªJunia Meirelles

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BANCA EXAMINADORA_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho a todas as pessoas que se mobilizam por um contexto mais amplo, em benefício do coletivo e de uma sociedade mais justa.

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AGRADECIMENTOS

A família e amigos que estiveram ao nosso lado, até mesmo nos momentos de maior ausência, obrigado pela paciência. Aos professores responsáveis por todo o conhecimento e reflexões, confirmando que esse trabalho, mais que uma obrigação é um grande aprendizado. À Deus, que inspira sensibilidade para a solidariedade e inteligência para as novas tecnologias.

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RESUMO

Em um momento em que cada vez mais o mundo real converge com o virtual, o ciberativismo é um dos exemplos mais claros dessa dinâmica, dois mundos coexistindo e

fortalecendo-se mutuamente. A informação transformada em conhecimento, que gera mobilizações e que se estendem para a vida real são os ideais do ciberativismo.

Um Teto Para Meu País (UTPMP), uma ONG que luta contra a injustiça da divisão do espaço físico, do latifúndio e da injustiça social da extrema pobreza pode buscar no ciberespaço formas de

potencializar o desenvolvimento e alcance de suas ações sociais. Este trabalho pretende estudar e criar soluções para a presença da ONG no ciberespaço, soluções de design que ofereçam

meios práticos e eficazes de se trabalhar o ciberativismo em suas ações.

Palavras-chave: Design. Ciberativismo. Cidadania. Habitação. Redes Sociais.

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ABSTRACT

In a time when increasingly converges with the real world virtual, cyber activism is one of the clearest examples of this dynamic, two worlds coexisting and

reinforcing each other. The information transformed into knowledge that leads protests and extend to real life are the ideals of cyber activism.

Um Teto Para Meu País (UTPMP), an NGO which fights against the injustice of the division of physical space, the large estates of social injustice and extreme poverty in cyberspace

may seek ways to enhance the development and scope of outreach activities. This work aims to study and create solutions to the presence of NGOs in cyberspace, design solutions that

offer practical and effective ways of working in the cyber-activism in their actions.

Key words: Design. Cyberactivism.Citizenship.Habitation. Social Networks.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 ............................................................................................................... 29Figura 2 ............................................................................................................... 31Figura 3 ............................................................................................................... 47Figura 4 ............................................................................................................... 52Figura 5 ............................................................................................................... 77Figura 6 ............................................................................................................... 80Figura 7 ............................................................................................................... 84Figura 8 ............................................................................................................... 85Figura 9 ............................................................................................................... 86Figura 10 ............................................................................................................. 87Figura 11 ............................................................................................................. 88Figura 12 ............................................................................................................. 89Figura 13 ............................................................................................................. 90Figura 14 ............................................................................................................. 91Figura 15 ............................................................................................................. 92Figura 16 ............................................................................................................. 93Figura 17 ............................................................................................................. 94Figura 18 ............................................................................................................. 95Figura 19.............................................................................................................. 96Figura 20 ............................................................................................................. 97Figura 21 ............................................................................................................. 98Figura 22 ............................................................................................................. 99Figura 23 ............................................................................................................ 101Figura 24 ............................................................................................................ 103Figura 25 ............................................................................................................ 104Figura 26 ............................................................................................................ 105Figura 27 ............................................................................................................ 106Figura 28 ............................................................................................................ 107Figura 29 ............................................................................................................ 108Figura 30 ............................................................................................................ 110Figura 31 ............................................................................................................ 111Figura 32............................................................................................................. 112Figura 33 ............................................................................................................ 113Figura 34 ............................................................................................................ 114

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Introdução ............................................... 21

Considerações finais ...................... 117

Referências .............................................. 121

Anexos ........................................................ 129

3.1 História .........................................................................................................................

3.2 Missão e Visão .....................................................................................................

3.3 Modelo de Intervenção .............................................................................

3.4 Construção .............................................................................................................

3.5 Conceitos-chave ..............................................................................................

3.6 Escritório ...................................................................................................................

3.6.1 Áreas ....................................................................................................................

3.6.1.1 Social .........................................................................................................

3.6.1.2 Comercial .............................................................................................

3.7 Presença e ações na rede .......................................................................

3.7.1 Site www.umtetoparameupais.org.br .................................

3.7.2 Fan page no Facebook .....................................................................

3.7.3 Ciberativismo no "Teto"? ...............................................................

3.1.1 A casa de emergência ......................................................................

2.1 Redes sociais e mobilidade ..................................................................

2.2.1 Formação ........................................................................................................

2.2.3 Marcos importantes ............................................................................

2.2.2 A ação nos meios de comunicação e na rede .....

1.1 América Latina e suas raízes centralizadoras ...................

1.2 Um país rico chamado Brasil ..............................................................

1.3 Movimentos em relação à habitação ........................................

1.5 Prática da cidadania .....................................................................................

1.4 O cenário da habitação em São Paulo ....................................

2.2 Movimento zapatista ...................................................................................

2.3 Ciberativismo ........................................................................................................

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Introdução

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Introdução

m pleno século XXI é difícil imaginar que ainda existam pessoas vivendo em situa-ções precárias, abaixo da linha da pobreza.

Só a América Latina ostenta uma preocu-pante marca de quase 200 milhões de pes-

soas vivendo em situação de extrema pobreza. É direito do cidadão e dever do Poder Público garantir infraestru-tura básica de saneamento, saúde e segurança, porém, na prática, ainda há muito a ser feito.

Com o objetivo de resgatar a dignidade dessas pessoas que vivem nessasituação, ONGs mobilizam-se e reúnem milhares de voluntários a fim de tentar amenizar a falta de programas públicos do Estado. Uma dessas ONGs, objeto de estudo deste trabalho, chama-se Um Teto Para Meu País (UTPMP).A entidade já possui uma longa histó-ria de luta em prol de famílias carentes latino-americanas.

Este trabalho tem por objetivo identificar se as ações da ONG, que se utiliza da internet para potencializar a capacidade de mobilização de seus voluntários, podem ser consideradas ciberativistas. Com isso, busca-se discu-tir a importância do design para o ativismo digital e gerar propostas de estratégias e/ou ferramentas que possam potencializar o desenvolvimento dessas ações sociais.

Esta pesquisa está dividida em três blocos principais, organizados em capítulos. O primeiro capítulo traz, em um primeiro momento, um brevehistórico do processo de colonização e formação das sociedades na América Latina.A partir disso, a discussão é trazida para o Brasil, onde procura-se entender a origem dos problemas atu-

ais em relação à habitação e desigualdade social. Por fim, parte-se para uma abordagem local do problema, em que a história de São Paulo vem à tona e serve de base para a identificação de movimentos, tentativas e expectativas em relação à habitação no estado. Estado onde, por hora, a ONG Um Teto Para Meu País concentra suas atividades. Uma vez retratada a situação atual paulista e seus movimentos em prol da habitação, inicia-se a discussão acer-ca de temas como cidadania e civilidade, onde a importância da participação dos cidadãos e do trabalho em equipe fica evidente para que haja, realmente, uma transformação da sociedade.

O segundo capítulo, por sua vez, busca apontar, de início, qual o impacto exercido pela internet e pela Comunicação Mediada por Computador (CMC) na vida dos brasileiros, indicando como o comportamento dos indivíduos, que nesse momento se transformam em usuários interatores, vem se modi-ficando graças ao avanço tecnológico e ao surgimento das redes sociais da internet. Em um segundo momento, a pesquisa caminha para a discussão do ativismo online, ou ciberativismo, um dos pontos centrais deste trabalho. Para isso, utiliza-se da história do Movimento Zapatista, pioneiro nesse tipo de ativismo, para reforçar o estudo do tema e para dar base à análise das ações da ONG Um Teto Para Meu País, afim de identificar se suas ações se configuram ciberativas de fato.

Por fim, no terceiro capítulo, imerge-se no objeto de estudo. Utilizando-se de pesquisas bibliográficas, de documentos cedidos pela ONG e até de visitas a campo, onde foi possível percebero que os voluntários sentem ao trabalhar com as famílias necessitadas, traçou-se a história da entidade, desde suas primeiras ações em outros países a até suas perspectivas futuras no Brasil. Por meio das análises do site da ONG, de seus perfis nas redes sociais, como Twitter e Facebook, e de outras formas de presença na rede,buscou-se reunir material suficiente para constatar se e quais ações da organização podem ser consideradas ciberativistas.

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Se quisermos que mude a sociedade temos também

que mudar muitas das nossas atitudes

Felipe Berrios de SolarSacerdote, jesuíta , ativista e escritor chileno.

Fundador da ONG Um Teto para meu País.

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ara discutir questões contem-porâneas sobre a habitação, faz-se importanteindicar que

a sociedade atual é produto das origens civilizatóriasda humanidade. Estudos sobre o início das civilizações vol-tam-se a um passado longínquo, de 10.000 anos atrás, com o registro dos primeiros po-vos a habitarem as terras e suas movimen-tações além-mar. A questão da terra sempre foi motivadora de grandes conflitos e mu-danças nas sociedades. Guerras, tecnologia, culturas, conquistas, expansão, colonização, desenvolvimento, todas essas movimenta-ções moldaram a sociedade,resultando em diferentes contextos locais. Alguns se desen-volveram mais, outros menos, em diferentes aspectos, o que habitualmente passa-se a chamar de países desenvolvidos e países em desenvolvimento, dependentes diretamente da forma como fora civilizado. Por civiliza-do entende-se um estado de adiantamen-to e cultura social, ato de civilizar, conforme Stavans (2004). Originara-se no final da fase média da formação do inglês e deriva do

francês arcaico civilité e do latim civilitas, que por sua vez, procede de civilis, relativo a cidadão. Etimologicamente, a palavra está ligada à polidez e cortesia na fala e comporta-mento.

O processo de civilização, historicamente, baseou-se na dominação de um povo sobre outro, gerando uma pirâmide social desigual em direitos e oportunidades. Na maior par-te dos casos, para se manter no topo, a classe dominante utilizou-se e utiliza-se de meios para explorar e sufocar o desenvolvimento da população abaixo. Hoje, no século XXI, isso ainda ocorre, mais discretamente e dentro de princípios envernizados de uma pseudo-ética. A América Latina teve um processo de civilização majoritariamente exploratório e ainda hoje colhe os frutos desse processo: uma socieda-de profundamente desigual, patrocinada pelo classicismo e pela omissão.

O relato histórico acrescenta que os nobres romanos, ao com-

provarem que sem seus artesãos e labregos a cidade deixava de funcio-

nar, aceitaram as exigências de um melhor tratamento para convencê-

-los a retornar (BARRANTE et al. – 1985, p. 67)

O problema da habitação e segregação sócio espacial na América Latina não pode ser analisado como um efeito de fatos recentes, tem sua origem na problemática colonização

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1.1 América Latina e suas raízes centralizadoras

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da América Latina, baseada na exploração – uma herança histórica dos movimentos da economia e da sociedade a longo prazo, cristalizada tanto nas estruturas materiais do espaço construído como nas formas sociais da sua valorização simbólica e de apropria-ção (PRÉTECEILLE – 2003).

Tudo, nos séculos, transformou-se inces-

santemente. Só ela, aclasse dirigente, permaneceu

igual a si mesma, exercendo sua interminável hege-

monia. Senhorios velhos se sucedem em senhorios

novos, super-homogêneos e solidários entre si, numa

férrea união superparada e a tudo predisposta para

manter o povo gemendo e produzindo. Não o que

querem e precisam, mas o que lhes mandam produ-

zir, na forma que impõem, indiferentes a seu destino.

Não alcançam, aqui, nem mesmo a façanha menor

de gerar uma prosperidade generalizável à massa tra-

balhadora, tal como se conseguiu, sob os mesmos

regimes, em outras áreas. Menos êxito teve, ainda, em seus esforços por

integrar-se na civilização industrial. Hoje, seu desígnio é forçar-nos à

marginalidade na civilização que está emergindo

(RIBEIRO – 1995, p.69)

A inércia, histórica na estrutura hierárquica das grandes cidades da América Latina, promove uma reflexão sobre o papel do Estado e a participação dos cidadãos em transfor-mar esse quadro. É perceptível que em grande parte da eli-te dominante, minoria na sociedade e maioria no poder, há um comodismo que mantêm esse quadro parasitário que dificilmente irá, por si só, promover mudanças significativas para contribuir com uma melhor distribuição de renda e, por exemplo, uma reforma agrária. Por isso, faz-se necessária a participação dos cidadãos que sofrem as consequências desse processo, e que são a maioria.

Em um continente como a América Latina, em que o cen-

tralismo transbordou, não só em suas manifestações físicas, tal como a

própria macrocefalia metropolitana, como também na nudez de seus

traços econômico, social e politicamente centralizadores e excluden-

tes, parece estranho perguntar pelo papel que possa caber, dentro desse

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processo, à participação dos cidadãos. E, no entanto,

ela o tem (BARRANTE et al. – 1985, p. 66)

Da formação das cidades na América Lati-na, quase que sem exceção, o papel do Es-tado apareceu antes do lento crescimento e consciência social civil (papel regional) e cons-ciência de Nação (papel nacional). Ou seja, as necessidades do Estado se sobrepuseram às necessidades das comunidades. Esse fato marca profundamente nossa história, que é agravada pela postura estatista do Estado em relação aos problemas.

Em contrapartida, a América Latina hoje é um ponto de luz na economia pós-re-cessão, global, conforme relatório da McKinsey Global Institute “Construindo cidades global-mente competitivas: A chave para o cresci-mento da América Latina”, de agosto de 2011 (CADENA et. al – 2011). Trata-se do continente mais urbanizado do que qualquer região do mundo em desenvolvimento, com 80% da população vivendo em cidades relativamente jovens. Esse número tende a subir para 85%

até 2025 (CADENA et. al – 2011). É fato que economias de escala têm impulsionado a produtividade de expansão das cidades, reduzindo o custo de entrega de serviços básicos aos seus ha-bitantes. Mas, ao mesmo tempo, muitos dos maiores centros urbanos estão enfrentando engarrafamentos, falta de moradia, e outros sintomas de deseconomias de escala. Cada cidade da América Latina enfrenta seu próprio conjunto distinto de de-safios e prioridades, de acordo com seu ponto de partida. Se as tensões enfrentadas por essas cidades não são abordadas, correm o risco de arrastar para baixo a trajetória de crescimento da América Latina em geral.

O relatório se baseia em experimentadas e testadas histórias de sucesso da região e de todo o mundo para identificar ações concretas que os líderes da região da cidade podem tomar para resolver as questões de maior prioridade que enfrentam. Conforme o relatório, a experiência da McKinsey mostra que as políticas eficazes podem reverter a situação de uma cidade em menos de 10 anos.

Essa expectativa otimista depende de um desenvolvimento de base efetivo por parte dos governantes, caso contrário, um mero crescimento econômico, sem dúvida, sucumbirá se ur-gentes questões como condições sociais, uso sustentável dos recursos e desempenho econômico não forem trabalhadas devidamente nesse novo ciclo.

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O que entende-se hoje por sociedade brasi-leira originou-se na formação do povo brasi-leiro. Provém do primeiro encontro, o choque entre a civilidade dos colonizadores europeus, e os índios nativos dessa terra, a América. Uma civilidade menos baseada na “polidez e corte-sia, na fala e comportamento”, e mais na do-minação de um povo invasor sobre um povo nativo, o que Darcy Ribeiro (2007)chama de “avassalamento de povos estranhos”. Ainda conforme Ribeiro, as próximas etapas segui-ram na ordenação econômico-social, criação de novas formas de produção e exploração das formas antigas, vinculando os novos nú-cleos à sociedade em expansão e a difusão in-tencional de sua tradição cultural.

Para os que chegavam, o mundo em que en-

travam era a arena dos seus ganhos, em ouro e glórias.

Para os índios que ali estavam, nus na praia, o mundo

era um luxo de se viver. Este foi o encontro fatal que ali

se dera. Ao longo das praias brasileiras de 1500, se de-

frontaram, pasmos de se verem uns aos outros tal qual

eram, a selvageria e a civilização. Suas concepções, não só diferentes mas

opostas, do mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente.

Os navegantes, barbudos, hirsutos, fedorentos, escalavrados de feridas de

escorbuto, olhavam o que parecia ser a inocência e a beleza encarnadas. Os

índios, esplêndidos de vigor e de beleza, viam, ainda mais pasmos, aqueles

seres que saíam do mar (RIBEIRO – 2007, p. 33)

E assim seguiu-se o processo de colonização do Brasil pelos portugueses, envolvendo um genocídio gigantesco de índios, que, é claro, não aceitaram aquela condição brutalmen-te imposta pela civilidade européia. Morreram lutando por sua liberdade ou por maus-tratos nos cativeiros. A questão da terra pode ser observada desde a chegada dos portugueses no Bra-sil. A terra como território, e tudo mais que há nela, é o grande motivador das expedições colonizadoras, que de um jeito ou de outro resultavam na dominação de um povo sobre o outro.

1.2 Um país rico chamado Brasil

Figura 1: A escravidão indígena na história colonial.

Fonte: www.brasilescola.com/historiab/escravidao-indigena.

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Na primeira década deste século, a situação

indígena brasileira era altamente conflitiva. Missioná-

rios se apropriavam das terras dos índios que cate-

quizavam e as estavam loteando, com grande revol-

ta dos índios. Vastas áreas entregues à colonização

estrangeira (RIBEIRO – 1995, p. 147)

Os índios formam o primeiro grupo no Bra-

sil a ter seu espaço tomado pela colonização

centralizadora da Coroa portuguesa. Os grupos

indígenas das costas brasileiras que não eram

capturados ou que fugiam, migravam cada vez

para o interior do país. Esse início de civilização

latino-americana, baseada no classicismo, em

pouco tempo gerou uma esmagadora maioria

de excluídos e desdobramentos bastante pro-

blemáticos ainda no século XXI, isso porque a

raiz centralizadora ainda permanece. O segun-

do grupo de excluídos no Brasil foi formado

pelos negros trazidos da África como escravos,

a força braçal que construiria o país. Desterrados de sua terra

pátria, conforme Ribeiro:

A primeira tarefa cultural do negro brasileiro foi a de apren-

der a falar o português que ouvia nos berros do capataz. Teve de fazê-

-lo para comunicar-se com seus companheiros de desterro, oriundos de

diferentes povos (RIBEIRO – 1995, p. 220)

Os negros, sendo tratados como mero combustível huma-no a gastar nas plantações, sofriam as mais pesadas repressões e punições preventivas. Essa situação perdurou até 1888 com a abolição da escravatura. Livres no papel, porém, nem um pouco livres para escolher seus destinos. Uma liberdade sem oportunidade pouco mudou a situação de sofrimento dos ex--escravos.Os negros sem nenhuma solução do que fazer com essa liberdade foram jogados no mundo a toda sorte, ainda de mãos atadas.

Em consequência, os ex-escravos abandonam as fazendas em

que labutavam, ganham as estradas à procura de terrenos baldios em que

pudessem acampar, para viverem livres como se estivessem nos quilombos,

plantando milho e mandioca para comer. Caíram, então, em tal condição de

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miserabilidade que a população negra reduziu-se subs-

tancialmente. (...) Muito mais pela terrível miséria a que

foram atirados. Não podiam estar em lugar algum, por-

que cada vez que acampavam, os fazendeiros vizinhos

se organizavam e convocavam forças policiais para

expulsá-los, uma vez que toda a terra estava possuída

e, saindo de uma fazenda, se caía fatalmente em outra.

As atuais classes dominantes brasileiras, feitas de filhos e

netos dos antigos senhores de escravos, guardam, dian-

te do negro, mesma atitude de desprezo vil

(RIBEIRO – 1995, p. 222)

E as senzalas de ontem são as favelas de hoje. Alguns histo-riadores atribuem o início das favelas exatamente à abolição da escravatura, pois os negros eram livres, mas não tinham casas, nem terreno, nem comida. Começaram a viver em casas feitas de qualquer maneira, em terrenos que não pertencia a eles.

Mais de 120 anos se passaram desde que os negros foram libertos do título de escravos e as condições de vida da maioria dos negros ainda são lamentáveis.

A nação brasileira, (...) nunca fez nada pela massa negra que a cons-

truíra. Negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para viver e culti-

var, de escolas em que pudesse educar seus filhos, e de qualquer ordem

de assistência. Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão. Gran-

de parte desses negros dirigiu-se às cidades, onde encontrava um am-

biente de convivência social menos hostil. Constituíram, originalmente, os

chamados bairros africanos, que deram lugar às favelas. Desde então, elas

vêm se multiplicando, como a solução que o pobre encontra para morar

e conviver. Sempre debaixo da permanente ameaça de serem erradicados

e expulsos (RIBEIRO – 1995, p. 222)

Conforme aponta o Relatório de Desenvolvimento Humano Figura 2: Escravos negros trazidos da África. Fonte: http://www.50emais.com.br/2010/11/

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Brasil de 2005, 64,1% dos pobres são negros, a porcentagem foi calculada com base na ren-da per capita média dos negros em 2000 (R$ 162,75), que correspondeu a menos da meta-de do que ganhavam os brancos em 1980 (R$ 341,71). O percentual de negros que viviam em favelas em 1991 (6,6%) era mais que o dobro do de brancos vivendo nessas condições (3,1%) (www.revistacidades.com.br).

A pesquisa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça” detectou que nos últimos 15 anos houve uma melhora nas condições de habitação no Brasil. Divulgada em dezembro de 2008 pelo Instituto de Pesquisa Econômi-ca Aplicada (Ipea), o material aponta que entre 1993 e 2007 o percentual de residências que se encontravam em favelas ou semelhantes passou de 3,2% para 3,6%. Apesar de aparentar ser um percentual baixo, representa um uni-verso de 2 milhões de domicílios, ou pelo me-nos 8 milhões de pessoas. Os números ainda mostram que a presença dos negros na favela é predominante, sendo que 40,1% dessas ca-sas são chefiadas por homens negros, 26% por

mulheres negras, 21,3% por homens brancos e 11,7% por mu-lheres brancas. Essa distribuição reforça as dificuldades e maior vulnerabilidade social dos negros (www.socialismo.org.br). Será mesmo que deve-se continuar alimentando essa postura cen-tralizadora com a indiferença?

O mais grave é que esse abismo não conduz a conflitos tendentes

a transpô-lo, porque se cristalizam num modus vivendi que aparta os ricos

dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os privilegiados simplesmente

se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja

miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia

social, que perpetua a alternidade. O povo‐massa, sofrido e perplexo, vê a

ordem social como um sistema sagrado que privilegia uma minoria con-

templada por Deus, à qual tudo é consentido e concedido. Inclusive o dom

de serem, às vezes, dadivosos, mas sempre frios e perversos e, invariavel-

mente, imprevisíveis (RIBEIRO – 1995, p. 224)

Ainda não foram suficientes 511 anos de colonização para mudar essa situação. A origem das cidades no Brasil segue o mesmo modelo das cidades latino-americanas, entregando as raízes centralizadoras impostas historicamente pelos coloni-

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zadores vindos da Europa. Raízes profundas e impregnadas culturalmente na sociedade bra-sileira até os dias de hoje. As cidades brasileiras já nasceram como civilização urbana desde meados de 1500. A primeira delas, de fato,foi a Bahia, junto com Rio de Janeiro e João Pes-soa. Diferentemente da experiência do pro-gressivo crescimento e desenvolvimento ad-quirido pelos burgos europeus, na América Latina esse processo ocorre de maneira bem menos natural, baseado na propriedade, extra-ção de matéria-prima, produção de alimentos e lucro sobre serviços, com o objetivo de servir os grandes centros da economia mundial por meio da utilização de mão-de-obra escrava e pela exploração da população indígena local. Ao contrário das cidades européias:

(...) foram, no passado longínquo, aldeias neolí-

ticas, aldeias da antiguidade clássica, ou aldeias de ori-

gem posterior; e se caracterizavam pelo crescimento

lento e transformação em burgos fortificados na Idade

Média, capitalizando sua localização à beira de um rio,

num cruzamento de caminhos, na entrada de vale ou no topo de uma

colina. A partir daí, foram essas cidades consolidando seu papel regional e

nacional, ampliando a sua representação simbólica de uma poder adminis-

trativo e político (BARRANTE et al. – 1985, p. 85)

O Brasil, predominantemente rural durante alguns séculos, somente em meados de 1930 sofreu transformações na agro-pecuária e aumento das migrações internas decorrentes do iní-cio da industrialização no país.

Com a industrialização se altera essa constelação urbana no que

tinha de fundamental, que era sua tecnologia produtiva, transformando

todo o seu modo de ser, de pensar e de agir. Provocaria uma sequência de

alterações reflexas nas sociedades dependentes, de natureza tanto técnica

quanto ideológica que, aqui também, transfiguraram o caráter da própria

civilização (RIBEIRO – 1995, p. 197)

Conforme Faria (1976), em 1920 apenas 16,6% da população brasileira residia em cidades. Em1940, a população urbana já representava 31,2% dos residentes do país. Mesmo com a ex-pansão do desenvolvimento industrial no Brasil, em 1960, foi

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somente nos anos 80 que a nação tornou--se predominantemente urbana, com 67,6% dos brasileiros residindo em centros urbanos, conforme Ribeiro (1995). A população urbana saltou de 12,8 milhões, em 1940, para 80,5mi-lhões, em 1980. No ano 2000, totalizou-se 81,2% de residentes urbanos e a formação de novos centros e grandes aglomerações me-tropolitanas.

Cresceu-se imensamente. O estado desen-volvimentista colheu os louros do processo de substituição de importações, do período após a segunda grande guerra até os anos 70. A ri-queza e a renda per capita foram multiplicadas por cinco e o produto interno bruto aumentou a uma taxa média de 5,9% ao ano (POCHMANN

et al., 2004).Como se vê, a sociedade passou por um gran-

de êxodo rural. A gravidade disso está no fato de que nenhuma cidade brasileira tinha condições de receber essa enorme quantidade de gente.

O resultado disso foi a miserabilização da po-pulação urbana e o alto índice de desemprega-dos. Pode-se observar esse movimento, inicial-

mente por parte das classes proletárias em busca de emprego, do campo para a cidade. Depois, pelas classes dominantes, que notaram o potencial econômico das cidades. Assim, nos anos 70 iniciou-se um movimento por parte do governo para o afasta-mento da população mais pobre do centro para as áreas perifé-ricas, sendo realocadas nos conjuntos habitacionais.

Esse crescimento explosivo entra em crise em 1982, anunciando a

impossibilidade de seguir crescendo economicamente sob o peso das cons-

trições sociais que deformavam o desenvolvimento nacional. Primeiro, a es-

trutura agrária dominada pelo latifúndio que, incapaz de elevar a produção

agrícola ao nível do crescimento da população, de ocupar e pagar as mas-

sas rurais, as expulsa em enormes contingentes do campo para as cidades,

condenando a imensa maioria da população à marginalidade. Segundo, a

espoliação estrangeira, que amparada pela política governamental fortalecera

seu domínio, fazendo-se sócia da expansão industrial, jugulando a economia

do país pela sucção de todas as riquezas produtivas. O Brasil alcança des-

se modo, uma extraordinária vida urbana, inaugurando, provavelmente, um

novo modo de ser das metrópoles. Dentro delas geram-se pressões tremen-

das, porque a população deixada ao abandono mantém sua cultura arcai-

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ca, mas muito integrada e criativa. Dificulta, porém, uma

verdadeira modernização, porque nenhum governo se

ocupa efetivamente da educação popular e da sanidade

as expulsa em enormes contingentes do campo para as

cidade (RIBEIRO – 1995, p. 200)

A população de baixa renda é, então, “joga-da” para áreas periféricas pelos programas dos conjuntos habitacionais de baixo custo, inicia-dos nos anos 60 e tendo seu ápice nos anos 70. Abordaremos melhor esse assunto no próximo capítulo.

esse desenvolvimento teve um caráter bastante

desigual e excludente, sendo incapaz de efetuar as refor-

mas civilizatórias do capitalismo (como a reforma agrária,

a reforma tributária ou uma reforma que universalizasse a

proteção social) e de distribuir melhor a riqueza

(CARVALHO – 2006, online)

Ainda sobre o crescimento econômico, a pro-

dução comercial da agricultura não foi prejudicada, ao contrário, mecanizada, passou a produzir mais e melhor. Talvez se um país desenvolvido se fizesse somente pelo aumento das exportações esse enorme êxodo seria admissível. Mas, conforme Ribeiro (1995, p. 56), “como a questão que a história nos põe é organi-zar toda a economia para que todos trabalhem e comam”, essa equação gera enormes problemas.

O grande desafio que o Brasil enfrenta é alcançar a necessária lu-

cidez para concatenar essas energias e orienta-las politicamente, com clara

consciência dos riscos de retrocessos e das possibilidades de liberação que

elas ensejam. O povo brasileiro pagou, historicamente, um preço terrivelmen-

te alto em lutas das mais cruentas de que se tem registro na história, sem

conseguir sair, através delas, da situação de dependência e opressão em que

vive e peleja. Nessas lutas, índios foram dizimados e negros foram chacinados

aos milhões, sempre vencidos e integrados nos plantéis de escravos. O povo

inteiro, de vastas regiões, às centenas de milhares, foi também sangrado em

contra-revoluções sem conseguir jamais, senão episodicamente, conquistar

o comando de seu destino para reorientar o curso da história. Ao contrário

do que alega a historiografia oficial, nunca faltou aqui, até excedeu, o apelo à

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38

violência pela classe dominante como arma fundamen-

tal da construção da história. O que faltou, sempre, foi

espaço para movimentos sociais capazes de promover

sua reversão. Faltou sempre, e falta ainda, clamorosa-

mente, uma clara compreensão da história vivida, como

necessária nas circunstâncias em que ocorreu, e um cla-

ro projeto alternativo de ordenação social, lucidamente

formulado, que seja apoiado e adotado como seu pelas

grandes maiorias. Não é impensável que a reordenação

social se faça sem convulsão social, por via de um refor-

mismo democrático

(RIBEIRO – 1995, p. 25)

Para onde cresce o Brasil, então? Há grande

crescimento econômico, sim, porém, sobre

uma das maiores desigualdades sociais do pla-

neta. Crescimento não significa desenvolvi-

mento.

1.3 Movimentos em relação à habitação

Os movimentos em relação à habitação surgem de problemas relacionados à terra, ao latifúndio e à falta de trabalho como ge-rador de renda. São problemas acumulados entre o descaso, e incapacidade do governo em resolvê-los, do papel constritor das

classes dominantes internas e do conformismo do povo.

Se quisermos construir uma verdadeira democracia, é urgente for-

talecer os mecanismos de participação popular. Mas a participação não deve

significar que a perversa economia de mercado e o Estado negligente e in-

competente descarreguem sobre a população um problema que são incapa-

zes de resolver para ela (SACHS apud BOLAFFI –1999, p. 83)

Conforme afirma RIBEIRO, a situação de desigualdade da América Latina não pode ser resumida de forma simplista a uma crise de transição entre o feudalismo e capitalismo, como afirma o marxismo dogmático, transformando, assim, uma crise evolu-tiva em um trauma paralisante. E assim é, desde o início:

A sociedade como um todo era, porém, passiva em face des-

se estado de coisas. Explicava a pobreza e a riqueza por conceitos místicos

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capazes de infundir uma atitude de resignação a certas

camadas. Essa situação não pode alterar-se devido à co-

munidade de interesses das classes dominantes e dos

agentes externos da exploração, empenhados, ambos,

em manter a escravidão, o latifúndio, a monocultura de

que todos, afinal, viviam. (...) O sistema vigente também

não era capaz de evoluir para formas autônomas e pro-

gressistas de ordenação da sociedade e da economia.

Quando as condições de vida em uma área alcançavam

níveis demasiado baixos, eclodindo atos desesperados de

expansão místico-religiosa da penúria, estes eram pron-

tamente esmagados em nome da ordem. Os excedentes

de população gerados dentro de cada região distribuíam-

-se por outras, indo engrossar as fronteiras de penetração

das regiões inexploradas ou regrediam a uma economia

de subsistência (...) (RIBEIRO – 2007, p. 41)

Dentro da grave questão da habitação, por par-te do governo,observam-se programas que mo-dificaram paliativamente algumas situações, mas

que não resolvem a questão por um trabalho efetivo e a longo pra-zo. Foram programas como a Cohab, iniciado nos anos 60, época em que o problema da habitação ficou mais evidente. Ao longo de sua existência, as políticas econômicas e fundiárias limitaram os programas de promoção publica de habitações sociais a meros programas de compensação social. Conforme SACHS, novos va-zios urbanos foram criados na cidade com a tendência resultante dos conjuntos da Cohab em direção à periferia sua passagem, a partir disso temos uma especulação imobiliária incessantemente renovada e que abarca espaços vazios cada vez maiores.É preciso mais do que programas habitacionais que trabalhem só nos efei-tos do problema, trabalhar na causa significa superar a burocracia e movimentar os diversos setores da sociedade, é ai que entram a maiores dificuldades.

Poderia ter sido diferente se os programas de apoio à auto-cons-

trução houvessem tido um desenvolvimento maior. As iniciativas da Cohab

nesse sentido mal ultrapassaram o estágio de projetos pilotos

(SACHS –1999, p. 23)

A primeira vez que esse conformismo foi quebrado em um movimento mais organizado aconteceu nos quilombos. Grupos formados por escravos negros africanos que fugiam das casas

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de engenho para encontrar na sua liberdade, mesmo que por um momento, o seu pedaço de terra. Seus irmãos, não mais em raça, mas que também dividiam a mesma situação tor-tuosa da escravidão, organizando-se em uma tentativa de combate a toda a humilhação e maus-tratos que vinham sofrendo.

Somente nos estratos subalternos fervia o es-

pírito de rebelião contra a ordem social, sobretudo sobre

negros escravos e índio explorados, que se levantavam,

periodicamente, em insurreições. Estasassumiam, em

geral, uma feição milenarista porque tinham como único

padrão de reordenação social uma idealização do passa-

do remoto em que não existiam senhores de escravos.

Mesmo quando vitoriosas, não se capacitavam a reorde-

nar intencionalmente a sociedade segundo um projeto

próprio que a tornasse economicamente viável e pro-

gressista. Por isso acabaram sendo todas derrotadas

(RIBEIRO – 2007, p. 41)

Entre os conflitos ideológicos, raciais e classistas que fazem parte da história, o último é o mais problemático desde a época de colônia. O atraso de vida na América Latina.

Aqui se enfrentam, de um lado, os privilegiados proprietários de ter-

ras, de bens de produção, que são predominantemente brancos, e de outro

lado, as grandes massas de trabalhadores, estas majoritariamente mestiças ou

negras (RIBEIRO – 1995, p. 174)

A soma de fatores como o aumento da população e os proble-mas decorrentes do não planejamento ou políticas ineficazes de ordem estrutural e econômica por parte do Estado darão origem aos movimentos sociais locais e a progressiva participação por parte da população.

Desde o início da década de 1970, assistimos a uma participação

crescente das massas populares e das classes médias nos movimentos so-

ciais mais diversos e na vida associativa em todos os níveis: associações de

bairro, cujas reivindicações giram em torno dos problemas da vida cotidiana,

e que somam em São Paulo mais de 1300 movimentos de mulheres, de ne-

gros, de jovens; organizações de estudantes; grupos reunindo as profissões

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liberais; sindicatos particularmente ativos na região me-

tropolitana de São Paulo e outros

(BARRANTES et al. – 1985, p. 166)

Essa participação crescente na cidade de São Paulo ocorre também nas grandes cidades da América Latina, porém, conforme TOMIC, nem sempre foi assim:

Um conhecido sociólogo europeu, depois de

viver muitos anos na África e outros tantos na América

Latina, emitiu o seguinte juízo revelador: ‘Dez quilôme-

tros adiante das últimas luzes da cidade, a pobreza na

América Latina é mais aguda, solitária e dolorosa do que

nas sociedades africanas, onde a organização tribal e sé-

culos de solidariedade familiar ainda não corrompida pela

racionalidade atomizadora do capitalismo proporciona-

ram aos africanos uma rede solidária, da qual carece os

povos latino-americanos

(BARRANTES et al. – 1985, p. 66)

Da questão da terra mais propriamente dita, movimentos como Movimento dos Sem Terra (MST), ainda não conseguiram uma mudança efetiva. Por mais burocrático que seja, uma alternativa de trabalho que envolva amplamente a sociedade, inclusive o poder público, pode ser mais eficaz que movimentos isolados.

Partindo para uma abordagem local, São Paulo nasceu em 1554, em função do poder público-administrativo da época, a Coroa Portuguesa, não passando pela etapa de aldeia. Cidade ainda pequena e sem importância econômica durante três sé-culos.

(...) com toda a importância de símbolo e coroa, a mensagem

dos conquistadores e colonizadores, a soberba implantação urbana so-

bre o vasto mundo da natureza, em que o índio, habitante autóctone,

era considerado mero elemento utilizável dessa natureza hostil, porém

potencialmente fértil

(BARRANTES et al. – 1985, p. 86)

Conforme Wilheim, São Paulo até então era um mero centro

simbólico e administrativo do poder colonial. Mas foi em 1822,

com a independência política e a cultura do café, que tudo mu-

1.4 O cenário da habitação em São Paulo

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42

dou. A economia do café exigiu e impulsionou um importante desenvolvimento da cidade, por consequência das complexidades empresariais dessa atividade, reforçando, assim, atividades urbanas e a posterior industrialização paulis-tana. No século XIX, possuía 64.934 habitan-tes, porém, com a imigração de um milhão de italianos para as fazendas do interior, a cidade teve seu primeiro salto populacional: 239.820 em 1900, ultrapassando o milhão somente em 1940 (1.326.261). Em 1950 um salto ainda maior, decorrente do florescimento da indústria na-cional de produtos em substituição aos impor-tados, e das montadoras de automóveis. A atra-ção de empregos e o contraste que São Paulo apresentava em relação às condições pré-capi-talistas de trabalho no Nordeste foram decisivos para esse grande salto populacional (3.788.857). Sobre essa atração que as cidades causam, Blás Tomic, consultor do Programa Regional do Em-prego para a América Latina e Caribe (PREALC), tece interessantes comentários na ocasião do Seminário “Rede de intercâmbio e informações e experiências entre as metrópoles da América

Latina e Caribe”, realizado em 1985:

(...) Há outro tema que também surte o efeito de fator cau-

sador desse crescimento desmesurado: é o da fascinação das luzes da

cidade. Esse fator psicológico, que atrai de um modo quase irresistível

o ser humano para os símbolos externos do progresso e da civilização,

soe ser sub-valorizado, justamente por seu caráter subjetivo; porém,

o subjetivo não o torna falso de maneira alguma. Talvez aí se encerre

uma ilusão, mas é certo que, no fundo dessa fascinação, encontramos

mais outra expressão do desejo irrenunciável que o ser humano tem

de participar (BARRANTES et al. – 1985, p. 67)

Participar. Talvez essa seja a palavra mais pronunciada, discuti-da e reivindicada desde que os problemas sociais começaram a surgir. A grande questão se apresenta: qual é o papel que cabe à participação dos cidadãos nesse processo de desenvolvimento? Segundo Tomic:

É prudente entrar nessa reflexão explicitando desde o começo

qual é a definição de participação que nos inspira. Em não o fazendo, estarí-

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amos nos condenando a ficar fechados na selva de um

vocabulário que, nessa matéria, foi repisado, abusado e

finalmente desvirtuado por um longo tempo de instru-

mentalização política interessada. Colocado de maneira

esquemática, participar não é tanto uma ação, mas um

direito e uma capacidade. É direito que todo cidadão

tem que a sociedade lhe garanta canais institucionais

que lhe permitam intervir como sujeito protagonista das

decisões e medidas que afetam as condições sociais

de sua existência. Por outro lado, é a capacidade des-

se cidadão para exercer esse direito, isto é, contar com

acesso aos recursos que são indispensáveis para utilizar

com eficácia aqueles canais institucionais de participação

(BARRANTES et al. – 1985, p. 66)

Sem uma participação democrática, a popu-lação de São Paulo continuou aumentando nas décadas de 60 e 70, impulsionada pelo cres-cimento selvagem e a todo custo, promovido durante o regime autoritário (entre 4% e 5% ao ano. Fonte: SMDU-SP). Com isso, a cidade obte-

ve uma modernização do sistema produtivo e da administração pública, além de uma forte expansão dos meios de comunica-ção de massa. Porém, crescimento não necessariamente signifi-ca desenvolvimento:

A degradação das condições de habitação popular em São Pau-

lo explica-se conjunção de um rápido crescimento demográfico com

um crescimento econômico pela desigualdade e a exclusão social que

dele resulta (SACHS – 1999, p. 70)

É claro que esse crescimento teve um preço, quem pagou por tudo isso? A população, sobretudo a população de baixa ren-da. Na década de 80 já se totalizavam três milhões de migran-tes vindos de diversas regiões do país. Na mesma época, esse crescimento deparou-se com uma séria contração financeira. A América Latina sofria um reflexo de tomada de decisões por parte de países centrais, assumindo, aqui, a forma de recessão econômica. Durante esses anos de crise, as tensões sociais, in-vasões de áreas por parte de desabrigados, violentos confrontos por alimentos e movimentos de massas pela conquista de em-pregos, emergiram da população carente, que historicamente é a que sente mais as consequências dessas crises.

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Um desses fatores é a pobreza desesperada do

setor rural (...) É esta pobreza que empurra o homem, a

mulher e sobretudo o jovem camponês a somar-se aos

milhões de emigrados que procuram nas cidades aque-

las vantagens elementares que não podem conseguir

em nenhuma outra parte. Que reflete esse fenômeno se

não uma busca angustiada por parte dessas centenas de

milhares de emigrantes de oportunidade para chegarem

a ser donos de seu próprio destino, ou seja, artífices de

um processo do qual se sentem excluídos?

(BARRANTES et al. – 1985, p. 66)

Ser dono do próprio destino é ter um míni-mo de oportunidade de escolha, que destino têm pessoas em situação de extrema pobreza? Atualmente são 16,2 milhões de brasileiros nes-sa situação, 30 milhões na América Latina. Esse é nosso legado, a história que deveria ser ensi-nada nas escolas. Funciona como um câncer que deteriora a sociedade por dentro, trazendo mais pobreza, violência, desemprego e tensões

sociais de todo tipo. Trata-se de um continente extremamente injusto.

Por outro lado, hoje, o continente latino-americano começa a se tornar politicamente mais solidário, registrando cada vez mais movimentos e conquistas de expressão no campo da cidadania efetiva, assunto que abordado adiante.

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1.5 Prática da cidadania

Atualmente, as pessoas vivem de acordo com situações onde elas têm o controle de coisas que as rodeiam: situações onde se submetem às regras e políticas trabalhistas e governistas, ocasiões onde perdem quase que completamente o controle de suas vi-das como na saúde e dependem do Estado e outras Instituições para mantê-las saudá-veis, regras das quais se submetem quan-do aderem a uma religião ou credo, o seu direito de ‘ir e vir’, um translado entre todas essas situações, que depende do transporte público ou particular e que muitas vezes exi-ge paciência de cidadão já estressado pelos afazeres da vida. Segundo Oliveira (2009), o atual cenário da cidadania no Brasil foi her-dado de uma sociedade que vivia sob regi-me autoritário.

Num país de capitalismo tardio e periférico

como o Brasil o pleno cidadão nunca chegou a existir

de fato. Por um lado, porque tivemos como herança colonial uma so-

ciedade de tradição autoritária, na qual os homens tinham muito mais

deveres do que direitos e cujo fundamento da disciplina era a simples e

inquestionável obediência (OLIVEIRA - 2009, p. 1)

É um erro achar que o que falta na nossa sociedade é mais ”solidariedade”, no sentido de que aquele que tem mais deve ajudar ao que mais necessita. Esse é um dever do Estado. Cabe aos cidadãos, aprender o raciocínio do servir ao próxi-mo em que, independente da situação social de um sujeito, exista a cultura de todos trabalharem para o bem de um in-divíduo ou da comunidade.

Cidadania não é ajudar o outro, e sim servir o outro. (...) In-

felizmente diretores de marketing ou jovens não pensam em ser-

vir os outros. Querem patrocinadores, ou seja, querem que alguém

sirva financeiramente o projeto que eles criaram. Só pensam no

próprio benefício (KANIT – 2004, p. 221-222)

Um grande problema no Brasil está na falta de autonomia da maior parte da população em exercer a sua cidadania, conhecendo seus direitos e deveres. Hoje milhões de fa-

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mílias ainda moram em barracos e não sa-bem o que podem e o que não podem ter. Para piorar essa situação, políticos dão maior prioridade às famílias pertencentes às classes média e alta.

Com a mudança na estrutura social, novas religiões e condutas sociais também foram introduzidas, o que antes poderia parecer um convívio até bastante pacífico, agora exige tolerância e aceitação dos diversos grupos sociais. Um exemplo disso são os mutirões de construção de casas, em que a comunidade se move para construir a casa de um de seus membros, ou a horta comu-nitária, onde a comunidade ara, semeia, cui-da, colhe e divide o que plantou. Existem vá-rios projetos que levam essa cultura a sério e que movem a comunidade a melhorar as condições gerais de seus membros e bairros.

A cidadania pode contar com o trabalho em equipe, visando melhorar a qualidade de vida de uma coletividade. Evidentemente que é dever do Estado e do Poder Público garantirem condições básicas de moradia

e saneamento básico, porém, os jovens, principalmente os universitários, também têm capacidade de contribuir para a melhora de vida dos cidadãos, utilizando os conhecimentos que obtêm em suas formações. É necessário haver uma mu-dança de atitude de cada um para que se consiga entender onde e como vivem as pessoas em pobreza extrema. Revis-tas, jornais e televisão mostram diversas situações e imagens dessa pobreza, mas esse contato é muito artificial, pouco motivador e dificilmente estimulará uma mudança de pos-tura. Contar para as outras pessoas os acontecimentos de uma situação é diferente de contar o que se vê, com os pró-prios olhos e do que se sente com a própria experiência. Traz outro sentido e uma reflexão sobre a realidade. Ou seja, não bastam apenas intenções para mudar a postura da socieda-de, mas, sim,é preciso que os cidadãos mudem muitas de suas atitudes (SOLAR – 2010).

Enquanto não houver uma mudança de atitude e uma preocupação em relação à extrema pobreza que ainda exis-te, dificilmente esse cenário mudará. Essa condição precária em que muitas pessoas vivem continua crescendo, pois a própria sociedade, cada vez mais individualista, não oferece meios que solucionem esse grave problema. Qualquer pes-soa que se depara com esse tipo de situação, seja por meio dos noticiários ou até vivenciando como é a vida em comu-

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nidades carentes, se choca e, provavelmen-te, dirá que quer mudar esse quadro. Porém, após um tempo, a indignação vai embora. Não existe uma união entre os cidadãos, o que faz com que apenas poucos grupos se mobilizem, quantidade que não consegue provocar muitas mudanças. As atitudes que são tomadas precisam ser revistas a fim de se fomentar engajamento nesses cidadãos. As pessoas não param para se perguntar o que é ser universitário, o que se entende por juventude, a importância de trabalho em equipe e qual o conceito de liberdade. A falta de discussões acerca desses temas e a falta de atitude são fatores chave para o aumento da injustiça e da pobreza (SOLAR – 2010).

Ser jovem é mostrar oportunidade e com-promisso. Atualmente, o jovem vive em um país irreal por causa da mídia que provoca o consumismo. A tendência é um jovem sem-pre se preocupar com os seus bens e sem-pre se comparar com o que os outros pos-suem. É uma geração que evita sofrer ou de ter compromisso, em que o objetivo é não encontrar tempo livre para ser influenciado

pela realidade do país. O sistema consegue enganar os jo-vens, consegue fazer parecerem temíveis (SOLAR - 2010). Em situações destas, os universitários pensam de forma diferen-te. A juventude é a definição de ajuda e servir o outro, de pôr o jogo em risco. Saber dar valor à vida e consequentemente se dispor a melhorar a condição precária em que as pessoas vivem em nosso país. O país está em uma situação em que precisa de bons profissionais que sirvam de exemplo para os demais profissionais em enfrentar os conflitos e problemas atuais, por exemplo, a superação da pobreza. Encaixa, então, na responsabilidade e à pressão que o universitário tem em cumprir o seu papel e nele levar a sério para servir como exemplo e crescer em um bom profissional.

Um estado que a mídia e a propaganda normalmen-te associam aos jovens é a liberdade. Porém, é uma li-berdade consumista, voltada para a escolha do jovem de forma em que este mesmo seja o seu próprio escravo. Segundo SOLAR:

Não é uma liberdade ‘para’, mas uma liberdade ‘pela liberda-

de’. A verdadeira liberdade, com a letra maiúscula, é aquela conseguida

quando se assume o que a gente é e tem. Grande parte da liberdade

consiste em assumir mais do que escolher (SOLAR – 2010, p. 59)

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Ao exercera liberdade é que se configura o compromisso. É uma responsabilidade assu-mida para completar uma tarefa. É quando essa responsabilidade é colocada em pri-meiro lugar na lista de prioridade indepen-dente da situação. Significa estar disposto a trabalhar e se dedicar para realizar um so-nho ou dar o melhor que pode para atingir um objetivo. A partir do momento em que a pessoa se preocupa com os riscos ou com o que poderia dar errado, automaticamen-te não está se comprometendo. Com isso já se pode filtrar as pessoas que mostram este comprometimento, podendo acabar com as situações de injustiça e pobreza (SOLAR –

2010).

A palavra-chave que melhor se encaixa dentro da preocupação de terminar com a pobreza pode ser trabalho em equipe. Tra-balho esse, que aproxima o exercício dos universitários para o resultado final, a exter-minação da pobreza extrema. Ter as opor-tunidades de compartilhar idéias, destacar os pontos fortes e fracos de todo o processo de trabalho, facilitar a localização de famílias

mais necessitadas etc. Porém, trabalhar em equipe tem suas dificuldades, obstáculos no meio do caminho. De certa for-ma, a cultura atual é individualista e privilegiada, onde o foco é competir contra o outro em vez de compartilhar com o outro (SOLAR - 2010). Ser competitivo não é necessariamente algo ruim, pois mostra a criatividade, raciocínio rápido ou produção rápida com qualidade.

Logo, este sistema competitivo e individualista não fun-ciona da mesma forma com os fracos, pouco responsáveis, que possuem dificuldades. O sistema afasta estas pessoas, fazendo com que se sintam excluídas, diferente de todos por causa dos seus pontos fracos. Precisam “se virar” para conseguir um trabalho, uma moradia descente, um terre-no registrado, alimentação para a família toda, um emprego fixo com carteira registrada ou até mesmo os direitos huma-nos, que todos deveriam ter. São criados medos e angús-tias nas pessoas, fazendo com que se sintam acomodadas, acreditando que se fizerem alguma coisa fora das regras do sistema, serão expulsos da zona de conforto em que estão.Dá-se, então, o início do que entende-se por a guerra de sobrevivência,em que cada indivíduo luta para manter o seu terreno, seus bens, seu emprego, sua moradia, seus direitos de permanecer incluído no sistema.

Por causa desta guerra de sobrevivência, pela forma em que o sistema trabalha e pela velocidade em que vai levando

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os “fortes” é que aparece a pobreza e, logo, o compromisso e trabalho que os universitá-rios tomam e fazem. Conforme SOLAR:

Para isto é muito importante trabalhar para

construir instituições, fortalecê-las e cuidar daquelas

que já existem. As instituições protegem os mais fra-

cos e aqueles que são fortes ajuda-os a serem irmãos

dos seus irmãos. Os fortes não precisam das insti-

tuições para ser protegidos. Eles podem e sabem se

proteger, eles podem prescindir das instituições para

subsistir (SOLAR – 2010, p. 75)

Os que precisam mais destas instituições são os fracos, os prtunidades que em outras situações não terobres, para se-rem protegidos e para abrirem opoiam. O trabalho em equi-pe é fundamental para dar a força em manter as instituições e também para ajudar a melhorar a condição da pobreza ex-trema deste país. É importantíssimo o universitário divulgar, manifestar-se para os demais e procurar maneiras de mudar a atitude que a juventude tem na cultura atual.

Figura 3: Felipe Berrios de Solar.Fonte: .wikipedia.org/wiki/Felipe_Berr%C3%ADos

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É preciso ser visto para existir no ciberespaço

Raquel RecueroJornalista, professora e pesquisadora.

Autora do livro “Redes sociais na internet”.

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tualmente é impossível imagi-nar o mundo sem a internet. O avanço tecnológico vem tornan-

do a web mais colaborativa do que nunca, permitindo que indivíduos criem, editem e recombinem conteúdo. A cada dia que passa, a estruturação da linguagem vir-tual vem se tornando mais sólida, ganhando estilo próprio e características únicas.

Porém, não é somente a internet que está mudando, mas, também, o comportamento dos seus usuários. Em uma pesquisa reali-zada pela multinacional Cisco Systems Inc., que entrevistou mais de 2800 pessoas em 14 países (entre eles, o Brasil), na faixa etá-ria de 18 a 29 anos, constatou-se que “um em cada três estudantes e jovens profissio-nais consideram a internet tão importante quanto alimento, água e ar, e nove em cada dez estudantes e profissionais possuem uma conta no Facebook” (CISCO – 2011). Outra pesquisa, realizada pela ComScore (2011), mostra que em apenas um ano, o país cres-ceu em 20% o número de usuários com 15 anos ou mais que acessam a internet de

A casa e do trabalho, passando de 33,3 milhões em 2009 para 40 milhões em 2010, tornando-se o país latino-americano com maior população online e ultrapassando países desen-volvidos como o Reino Unido, que possui 38,6 milhões de usuários (COMSCORE – 2011, p. 16-19). Porém, para o IBOPE Nielsen Online (2011), o número total de brasileiros, com 16 anos ou mais, que acessam a internet de casa, do trabalho, em lanhouses, clubes etc., chega a 73,9 milhões de pessoas, sendo o acesso de casa o ponto de maior crescimento nos últimos meses (+24%) (IBOPE – 2011).

Dados como esses só atestam o poder e o impacto que a web exerce no país e, por que não, no mundo. Com mais de 38% da população do Brasil acessando a rede mundial de computadores e com o volume de informações e possibili-dades que ela dispõe, fica evidente a mudança de paradigma dos dias atuais.

Essa infinidade de meios e ferramentas disponíveis no ci-

berespaço propiciou que novas formas de comunicação

se estabelecessem, criando, assim,um outro jeito de se co-

municar, a Comunicação Mediada por Computador (CMC).

Porém, segundo Raquel Recuero (2010), ela não se resume

apenas à comunicação convencional, uma vez que “essa co-

municação, mais do que permitir aos indivíduos comunicar-

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-se, amplificou a capacidade de conexão, permitindo que redes fossem criadas e ex-pressas nesses espaços: as redes sociais me-diadas pelo computador” (RECUERO – 2010, p. 16).

2.1 Redes sociais e mobilidade

Antes de se discutir redes sociais media-das por computador é importante explicitar como se constitui uma rede social, quaissão seus elementos fundamentais e como ela se organiza. Para que uma rede social seja defi-nida como tal, ela precisa de dois elementos fundamentais: os atores (também chamados de nós da rede), que podem ser pessoas, ins-tituições ou grupos1 , e suas conexões (inte-rações entre os atores ou laços sociais).

Segundo José Carlos S. Ribeiro (2001), o ciberespaço pode proporcionar aos atores relações sociais sólidas, uma vez que “dentro deste espaço de convivências, constata-se que as pessoas frequentemente iniciam rela-ções, formam grupamentos, criam ligações

fortes em intensidades por vezes bastante significativas” (RI-BEIRO, 2001, p. 142).

A partir da interação entre os atores, considerada a “ma-téria-prima das relações e dos laços sociais” por Recuero (2010, p. 30-31), é que suas identidades serão estabelecidas e reconhecidas pelos demais no ciberespaço. Com isso, per-cebe-se que um dos aspectos mais importantes no estudo de redes sociais na internet é a conexão, pois são suas varia-ções que alteram as estruturas e as formas de organização nas redes.

Apesar das interações serem processos sempre comuni-cacionais, existem algumas particularidades reservadas às interações mediadas por computador. Um primeiro fator re-levante é que os atores não se conhecem imediatamente. Toda comunicação se dá pela mediação do computador. Outro ponto importante se dá pelo fato de existirem diversas ferramentas que suportam essas interações no ciberespaço – proporcionando formas distintas de se comunicar e dese relacionar – e que o produto dessas interações permane-ce na rede, podendo promover o surgimento de interações assíncronas2 (RECUERO – 2010). Outro fator de diferenciação entre a comunicação através das vias convencionais e a Co-municação Mediada por Computador é o estímulo ao ano-nimato em detrimento da identificação. Justamente pelo fato dos atores envolvidos na interação não necessariamen-

1 Porém, segundo Recuero (2010), instituições, grupos, weblogs, fotologs etc., não são, de fato, considerados atores sociais, mas, sim, representações dos mesmos. Portanto, esses nós da rede são espaços de interação construídos pelos atores de forma a expressar elementos das suas personalidades. 2 Uma interação é consi-derada assíncrona quando não há resposta imediata, por exemplo, um e-mail, que pode ser lido muito tempo depois de ter sido enviado. Já a interação síncrona é aquela que simula uma comunicação em tempo real (RECUERO – 2010).

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te se conhecerem, a não identificação torna--se uma atitude tentadora, diminuindo a res-ponsabilidade ante ao conteúdo publicado e protegendo o ator de uma possível punição.

Observando como os atores sociais se dis-tribuem e se conectam à internet, modelos estruturais das redes foram desenvolvidos. Por meio de grafos, que são representações gráficas das redes, a estrutura de uma rede pode ser facilmente distinguida de outra. Os grafos ilustram os atores (nós) e suas cone-xões, evidenciando as características da rede por eles constituída.

Existem muitas topologias diferentes nas redes, porém, segundo Paul Baran (1964), to-das essas estruturas baseiam-se em apenas três modelos (figura 4): centralizada, no qual um nó centraliza a maioria das conexões, descentralizada, que possuiu vários peque-nos centros – chamados de clusters3 – co-nectados a outros nós, e distribuída, em que todos os nós possuem mais ou menos o mesmo número de conexões.

Figura 4: diagrama de Paul Baran (1964, p. 2).Fonte: www.rand.org/pubs/research_memoranda/2006/RM3420.pdf

Por meio de grafos como os propostos por Baran, a compre-

ensão de como os atores sociais se conectam na rede se torna mais

tangível, facilitando a análise das redes sociais mediadas por computa-

dor. Recuero reforça a importância das conexões ao dizer que elas “são

constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através

da interação social entre os atores

(RECUERO – 2010, p. 30).

3 Cluster é um grupo de nós mais densamente conectados em uma rede. aquela que simula uma comunicação em tempo real (RECUERO – 2010).

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A autora ainda sintetiza em uma tabela quais os tipos de laços e interações sociais. (quadro 1)

Com o crescimento da oferta de compu-tadores pessoais e graças às inovações tec-nológicas que os deixaram cada vez meno-res, acoplando-os aos dispositivos móveis e trazendo à tona o smartphones, tão comuns nos dias atuais, as interações sociais no ci-berespaço ganharam uma grande aliada: a mobilidade.

Segundo André Lemos, o desenvolvimen-to tecnológico que propiciou o surgimento desses dispositivos portáteis também está sendo responsável por mudanças na socie-dade e no comportamento humano. Para o autor, a civilização já passou para uma outra era, deixando para trás a era da informação.

O desenvolvimento da cibercultura se dá

com o surgimento da micro-informática nos anos 70,

com a convergência tecnológica e o estabelecimento

do personalcomputer (PC). Nos anos 80-90, assistimos a popularização

da internet e a transformação do PC em um “computador coletivo”, co-

nectado ao ciberespaço, a substituição do PC pelo CC. Aqui, a rede é o

computador e o computador uma máquina de conexão. Agora, em ple-

no século XXI, com o desenvolvimento da computação móvel e das no-

vas tecnologias nômades (laptops, palms, celulares), o que está em mar-

cha é a fase da computação ubíqua, pervasiva e senciente, insistindo na

mobilidade. Estamos na era da conexão (LEMOS - 2004, p.1-2)

4Gartner Inc.(http://www.gartner.com/technology/home.jsp);

.

Quadro 1: Tipos de laços sociais e suas respectivas interações.Fonte: (RECUERO – 2010, p. 40).

Tipo de laço Tipo de interação Exemplo

Decidir ser amigo de alguém no Orkut, trocar links com al-guém no Fotolog etc.

Laço associativo Interação reativa

Conversar com alguém atra-vés do MSN, trocar recados no Orkut etc.

Laço dialógico Interação mútua

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A perspectiva de crescimento das vendas dos smartphones e dos tablets é compro-vada por meio dos dados apresentados pela consultoria 4Gartner e divulgados pelo jor-nal Valor Econômico em setembro de 2011. A reportagem informa que “as vendas mun-diais de smartphones deverão crescer 57,7% até o fim de2011, chegando a 468 milhões de unidades, enquanto as vendas de tablets deverão mais que triplicar para quase 70 mi-lhões de unidades” (VALOR – 2011, Online).

Com dispositivos cada vez mais portáteis e poderosos, os atores não mais necessitam de um ponto fixo de acesso à web e, aliado à possibilidade de acesso à internet por meio das redes de telefonia celular, podem chegar até a ficar conectados e disponíveis 24 horas por dia. O avanço tecnológico desses tipos de dispositivos promoveu o surgimento de novos produtos virtuais: os aplicativos para dispositivos móveis. Oferecendo desde jo-gos a até serviços de muita utilidade – como acesso a contas bancárias, geolocalização via GPS e etc. –, uma infinidade de possibili-

dades foi exposta.Logo, um movimento de adaptação configurou-se, em

que sites de redes sociais, que já existiam na internet, cria-ram versões mobiles, como, por exemplo, o caso dos acla-mados 5Facebook e 6Twitter . Porém, o inverso também ocorreu. Além da adaptação ao mobile, o aperfeiçoamento dos dispositivos fomentou o surgimento de novos serviços e aplicações exclusivamente móveis, como o 7Foursquare , um microblog que utiliza dados de localização do GPS do dispo-sitivo móvel para que o usuário compartilhe sua localização de momento com seus amigos.

Portanto, “laços sociais mediados pelo computador costu-mam ser mais multiplexos, pois refletem interações aconte-cendo em diversos espaços e sistemas” (RECUERO – 2010, p. 42).

Essa multiplicidade de meios e possibilidades disponíveis na web aliados à sua característica descentralizada e de li-vre expressão, ainda mais agora, com o aparecimento e a consolidação das redes sociais mediadas por computador, oferece aos usuários a oportunidade de terem suas vozes ouvidas. O caráter colaborativo da internet fez com que gru-pos sociais ganhassem muita força, como se pode ver hoje no Oriente Médio, onde a população, unida através da rede mundial de computadores, se organiza e se fortalece a ponto de derrubar governos ditatoriais que pareciam invulneráveis.

5Facebook (http://www.facebook.com/);6Twitter (http://twitter.com/); 7Foursquare (https://pt.foursquare.com/)

.

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Os pioneiros nesse tipo de movimento que faz uso do computador para se mobilizar e ganhar força social foram os Zapatistas, no México da década de 50.

Portanto, conhecer a história do Zapatismo se mostra muito importante antes de abor-dar temas como ciberativismo e dese pros-seguir com este trabalho.

2.2 Movimento zapatista

O movimento zapatista tem duas raízes: um grupo político-militar urbano e uma or-ganização indígena.

O grupo urbano era uma organização clan-destina que procurava crescer com trabalho político composto basicamente por gente de classe média. Como eles precisariam de um lugar para se preparar militarmente, en-traram em contato com o grupo indígena de Chiapas, que, vivendo dentro da realidade deles, sabiam também que haveria essa ne-cessidade

2.2.1 Formação

O Movimento Zapatista teve origem no Sul do México, ins-pirado por Emiliano Zapata, um camponês que não se con-formava com o governo do ditador Porfírio Diaz, um governo oligárquico que só beneficiava os latifundiários e a burguesia ligados ao governo. Inconformado, Zapata havia organizado um pequeno grupo de indígenas e camponeses no sul do México enquanto Pancho Villa, militar revolucionário mexi-cano, comandava camponeses no norte do México.Ambos lutavam para que fosse realizada a reforma agrária, em que o intuito principal seria a divisão de terras de forma igualitária entre os latifundiários, indígenas e camponeses.

Em 1950, período conhecido como Contra Reforma (por causa das políticas agrárias que foram modificadas para be-neficiar os médios e grandes fazendeiros), inúmeras comu-nidades indígenas foram expulsas de seus territórios por la-tifundiários. Esses grupos se encaminharam para a região da Selva Lacandona, em Chiapas. A Contra Reforma contribuiu para o crescimento de produções individuais dos fazendei-ros, abalando fortemente os ejidos, que eram as proprieda-des rurais para uso coletivo que não podiam ser negociadas de forma alguma.

Em Chiapas já haviam muitas organizações indígenas se

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formando contra o governo e com o mes-mo intuito do movimento zapatista, porém, faltava força suficiente para combater o go-verno. Quando o presidente mexicano Luiz Echeverría exigiu que os indígenas da Selva da Lacandona se retirassem,a situação se tornou insustentável. As Organizações indí-genas se uniram com as Furerzas de Libera-cion Nacional (FLN) que tinham acabado de chegar a Lacandona e formaram o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).

O ato inicial aconteceu no primeiro dia de 1994. Havia um tratado Norte-Americano do Livre Comércio, o NAFTA,exigindo que o México acabasse com os ejidos para que pudesse fazer parte do tratado. Os ejidosfoi um direito adquirido com muito suor duran-te a Revolução Mexicana. Dificilmente iriam abrir mão desse direito. Para mostrar sua po-sição contrária à política que se instalava no México, a EZLN dominou cinco cidades do México (Chiapas, San Crisóbal, Ocosingo, Al-tamirano e Magaritas), mais uma estação de rádio, que passou a servir como meio de co-

municação do movimento para mobilizar a população.

2.2.2 A ação nos meios de comunicação e na rede

A utilização dos meios de comunicação pelos zapatistas foi sempre focada no intuito de mobilizar, principalmente, a população mexicana e, posteriormente, o mundo, falando (rádio) ou mostrando (internet, televisão, jornal) a situação desumana e o descaso que se encontravam comunidades indígenas e camponeses mexicanos.

A tomada de uma rádio na cidade de San Cristobal de lãs Casas, em 1993, teve como intuito apresentar à população a 1.ª Declaração da Selva Lacandona, declaração que continha os onze pontos iniciais de reivindicação: trabalho, terra, teto, alimentação, saúde, educação, independência, liberdade, democracia, justiça e paz.

Desde a tomada na rádio, tudo já estava organizado para o 1.º dia de Janeiro de 1994, dia em que começava a valer o acordo do livre comércio (TLC-NAFTA) entre Estados Unidos, Canadá e México. Se aproveitando do momento, o movi-mento Zapatista soube expor e trabalhar sua imagem,como diz Ortiz, Brige e Ferrari:

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Além da hábil utilização das redes eletrôni-

cas de comunicação, o movimento zapatista soube

trabalhar sua imagem no restante da mídia, conse-

guindo efeitos surpreendentes. As ações armadas de

1.º de janeiro de 1994 não foram ingenuamente coin-

cidentes com a data de entrada em vigor do TLC-

-NAFTA e eles deixaram clara essa intenção com seus

pronunciamentos públicos

Jornais como “La jornada” e simpatizan-tes mexicanos do movimento zapatista se encarregavam de colocar os textos da EZLN nos endereços eletrônicos que foram surgindo,rapidamente postado em algumas listas e endereços deconferências eletrôni-cas sobre o México. No diário mexicano “La Jornada”, o fato virou notícia no dia seguinte, publicado na íntegra e prontamente traduzi-da para o inglês e outros idiomas.

O Levante Indígena se espalhou e repercu-tiu entre os principais jornais do planeta. Em suas páginas principais, foram estampadas

fotos dos guerrilheiros zapatistas com seus rostos cobertos por pasamontañas e paliacates, as máscaras de lã e lenços vermelhos que ocultam suas identidades. Alguns trechos da declaração da Selva Lacandona foram reproduzidos em di-versos meios de comunicação.

Pego de surpresa, o governo mexicano não soube como reagir de imediato. Em um governo autoritário e marcado por uma oligarquia que só beneficiava os latifundiários e a burguesia, a resposta só poderia ser na base da violência. Decidido a apelar para uma contraofensiva militar, o gover-no ordenou que suas tropas em Chiapas respondessem aos rebeldes. Alguns enfrentamentos ocorreram em cidades pequenas, onde os zapatistas estavam mal armados e, por consequência,foram derrotados.Nas selvas e nas monta-nhas, onde voltaram para seus esconderijos, conseguiram resistir a ofensiva militar.

Nessa altura, informações sobre a guerra circulavam pelo mundo todo por meio da Internet. Marcos, o Subcoman-dante, produzia os textos sobre os fatos que estavam acon-tecendo e passava para os mensageiros que conseguiam furar os bloqueios militares pelas selvas e montanhas, até chegarem nas mãos dos jornalistas, que disseminavam a in-formação pelos veículos de comunicação, chegando até o ouvido da população mexicana e do mundo todo, o que

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foi motivo para uma revolta, como diz Ortiz, Brige e Ferrari:

Manifestações civis na Cidade do Méxi-

co e nas principais cidades do país clamavam por

um cessar-fogo e abertura de negociações entre

as partes

(ORTIZ, BRIGE, FERRARI – 2006, p. 27).

Depois de muita pressão e insistência por parte da população mexicana e do mundo todo, o governo mexicano decidiu se abrir para negociação. A intermediação entre o governo e o Exército Zapatista foi feita pelo bispo de San Cristóbal de Las Casas, Don Sa-muel Ruiz García. Para que ambas as partes pudessem chegar a um acordo, foi criada a CONAI, Comissão Nacional de Intermedia-ção, tendo como integrantes intelectuais, artistas e dirigentes sociais. Com essa co-missão, as negociações do processo de paz puderam ser aplicadas.

Não se pode deixar de destacar um im-

portante apoiador que proporcionou grande agilidade para a comunicação do movimento Zapatista.A APC (Associação para as Comunicações Progressistas)foi um dos primeiros servidores a proporcionar acesso à internet a um custo bem acessível para os movimentos sociais, ativistas de direitos humanos, ecologistas, estudantes e sindicatos, como expli-cam José Bisco e Sonia Lino:

No México, grupos de discussão e conferências sobre Chiapas

surgiram em “Laneta”, a conexão mexicana via internet com a “teia” de re-

des eletrônicas alternativas onde estão conectados muitos movimentos

de direitos humanos, ativistas e ONGs em vários países, a partir de San

Francisco, Califórnia (EUA) sede da APC

(BISCO, LINO – 2011, p. 3)

A rede da APC, formada por outros endereços eletrônicos como Laneta, continha diretórios com informações sobre Chiapas e, consequentemente, sobre a guerra, fazendo com que as informações circulassem pelos computadores do mundo todo, fator importantíssimo para a mobilização glo-bal que ocorreu. Assim foram se multiplicando os endereços com notícias do conflito.Análises, ações de solidariedade, grupos de discussões e manifestações foram surgindo e aos

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poucos o movimento Zapatista já contava com apoiadores do mundo todo.

A estratégia adotada pelos Zapatistas foi muito mais inteligente do que a adotada pelo governo. Enquanto o governo omitia e distorcia informações além das represálias violentas não divulgadas, os zapatistas de-senvolviam uma nova maneira de guerrilhar, a mobilização pelos meios de comunicação e, principalmente, pela Internet. Com tantos mexicanos e pessoas do mundo todo contra o governo mexicano, não havia como con-tinuar com a guerra à base da violência.Nes-se aspecto, os zapatistas sempre estiveram muito mais preparados.

A mobilização ao redor do mundo foi tan-ta que chegou ao ponto de pessoas se so-lidarizarem com a situação dos indígenas, serem responsáveis diretos pela publicação de conteúdo na Internet. O Subcomandante Marcos escrevia todo o conteúdo, mas não tinha recurso disponível naquele tempo no meio da selva e das montanhas para que pu-desse navegar e publicar conteúdos na In-

ternet, nem ele e nenhum guerrilheiro, como explica Ortiz, Brige e Ferrari.

Efetivamente, não eram os guerrilheiros Zapatistas em pessoas

que colocavam os comunicados do EZLN na Internet nem navegavam

pela web. Uma rede de solidariedade bastante ampla, dentro e fora do

México, e que nos momentos críticos se mobiliza para defender a inte-

gridade física e a sobrevivência da população indígena na zona de con-

flito, também atua como rede de comunicação

Combinando táticas de lutas sociais e de ações de soli-dariedade, com o uso das redes eletrônicas, os Zapatistas criaram uma forma inteligente e eficaz de se comunicarem. O primeiro movimento a utilizar o ciberespaço para propor-cionar discussões, debates, mobilizações-relâmpago, passe-atas, manifestações, caravanas de solidariedade entre muitas outras formas de mobilização da população local e global tinha, também, a mesma agilidade para produzir e fazer cir-cular vídeos, fitas de áudio, compilações dos comunicados, emissões de rádio e TV’s comunitárias, de forma que am-pliasse o alcance das informações para quem estava distante fisicamente ou que não tinha acesso permanente à Internet.

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2.2.3 Marcos importantes

1994No primeiro dia de janeiro entrou em vigor

o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLC-NAFTA) e o Exército Zapatista de Libertação Nacional respondeu dominan-do cinco cidades do México (Chiapas, San Crisóbal, Ocosingo, Altamirano e Magari-tas), mais uma estação de rádio que serviria como meio de comunicação do movimento para mobilizar a população.

No dia 3 de janeiro, o EZLN captura o ge-neral AbsalónDomínguez, ex-governador do Estado de Chiapas, e o mantém como refém.Mas, em 12 de janeiro, o governo decreta cessar-fogo e diz querer buscar uma solução negociável.

No dia16 de fevereiro, O EZLN liberta o ex-governador e em troca o governo libera centenas de indígenas Zapatistas encarcera-dos.

No dialogo de paz na catedral de San Cris-tóbal, realizado em 21 de fevereiro, apresen-

ta-se um documento de 34 compromissos por parte do go-verno, que o EZLN aceita levar para consulta com suas bases de apoio para, no dia 12 de julho, rejeitá-los. Por meioda 2.ª Declaração da Selva Lacandona, convocaram a Convenção Nacional Democrática que entre os dias 6 e 9 de agosto uniu organizações populares de todo o México.

Um dos últimos marcoszapatistas importantes do ano foi no dia 19 de dezembro, em queeles romperam o cerco mi-litar e, pacificamente, estabeleceram posições em 38 muni-cípios, declarando-os autônomos e rebeldes.No dia 24 de dezembro, o exército zapatista, junto com o governo fede-ral, aceitou a Comissão Nacional de Intermediação (CONAI), presidida pelo bispo Samuel Ruiz, como mediadora do con-flito.

1995No primeiro dia do ano é proposta a 3.ª Declaração da Sel-

va de Lacandona, ondeo EZLN propõe para a sociedade civil a formação de um Movimento de Libertação Nacional. O governo, no dia 9 de fevereiro,revelou a identidade do sub-comandante Marcos e ordenou a prisão dos líderes zapatis-tas. No Distrito Federal, milhares de pessoas manifestaram sua oposição à ofensiva militar. O Congresso Nacional apro-vou, no dia 11 de março, a Lei para o Diálogo, a Conciliação

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Primeiro Encontro Continental pela Humanidade e Contra o Neoliberalismo, organizado pelo EZLN. Em dezembro, o EZLN aceitou a proposta de lei feita pelo governo.

1997No dia 16 de fevereiro mais de 10 mil indígenas zapatis-

tas marcharamem San Cristóbal para exigir o cumprimento dos Acordos de San Andrés, aceitando a iniciativa de lei da COCOPA. No final do ano, no dia 8 de dezembro, o México e a União Europeia firmaram um convênio que abriria o ca-minho para negociar uma zona de livre comércio a partir do próximo ano.

1998A COCOPA e a CONAI, em janeiro dia 11, reivindicaram10

“condiciones indispensables” para a retomada do diálogo, entre elas: cumprimento dos Acordos de San Andrés, res-peito à Lei para o Diálogo, a Conciliação e a Paz, redução da presença militar, desarmamento dos grupos paramilita-res, castigo aos autores do massacre de Acteal.No dia 25 de maio, o coordenador para o Diálogo e a Negociação em Chiapas, Emilio Rabasa Gamboa, apresentoua estratégia do governo federal para apoiar o processo de pacificação na zona de conflito:

e a Paz Digna em Chiapas. A lei definiu um marco para a retomada do processo de paz.Em9 de abril é realizado um primeiro encon-tro entre os zapatistas, a CONAI criada em 1994 e a delegação governamental. Os te-mas discutidos foram:

Mesa 1 - Direitos e Culturas Indígenas;Mesa 2 - Democracia e Justiça;Mesa 3 - Bem-Estar e Desenvolvimento;Mesa 4 - Conciliação em Chiapas;Mesa 5 - Direitos da Mulher;

Mesa 6 - Fim das Hostilidades.

1996Em 1.º de janeiro, o EZLN anunciou a cria-

ção da Frente Zapatista de Libertação Nacio-nal (FZLN), nova força política e não partidá-ria, independente e pacífica (4.ª Declaração da Selva de Lacandona).

Após cinco meses de negociações, em 16 de fevereiro, o governo e o EZLN firmaram os primeiros acordos sobre Direitos e Cultu-ras Indígenas.

Do dia 4 até ao dia 8 de abril aconteceu o

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No dia 7 de junho, o bispo Samuel Ruiz anunciou a dissolução da CONAI devido aos ataques governamentais contra a sua pes-soa, a diocese de San Cristóbal e a CONAI.

Exigiu dos governos federal e estadual que terminassem com sua estratégia de guerra e que demonstrassem, na prá-tica, sua vontade de resolver o conflito. Em julho, no dia 17, o EZLN divulgou a 5.ª Declaração da Selva de Lacandona, anunciando uma Consulta Nacional pelo Reconhecimento dos Povos Indígenas e pelo Fim da Guerra de Extermínio.

No dia 4 de outubro, o PRI ganhou as eleições para as pre-feituras municipais e o Congresso Local em Chiapas, apesar de uma abstenção de 54%. Os observadores e partidos de oposição denunciaram fraude por parte do PRI e constata-ram muitas irregularidades.

1999Nos meses de abril, maio e junho houve uma entrega de

armas de supostos zapatistas em troca de apoios econômi-cos governamentais, mas, o EZLN qualificou o fato como “farsa e teatro”.

Nas primeiras duas semanas de junho houve um aumento significativo de incursões militares e policiais em comunida-des zapatistas, detenções arbitrárias de supostos zapatistas, abusos por parte dos militares nos bloqueios, e concentra-ção de tropas militares. Em cada uma das incursões partici-param entre cem e mil militares e policiais. Como pretexto para todas estas operações, as autoridades estatais e federais

1) Atender as demandas sociais do povo chia-paneco;

2) Destinar maior gasto social aos municípios de maior marginalização;

3) Buscas a vigência do estado direto;

4) Estabelecer uma política de reconciliação in-

tercomunitária;

5) Reforçar esta política em Chenalhó e em ou-

tros municípios

onde se encontram famílias desalojadas;

6) Impulsionar uma legislação dos povos e co-

munidades

indígenas;

7) Reiterar a posição de Ernesto Zedillo de bus-car uma saída pacífica ao conflito;

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mencionaram a aplicação da Lei de Armas de Fogo e Explosivos, a luta contra o narco-tráfico, a detenção de delinquentes e a pro-teção dos habitantes.

No dia 17 de julho, o Comitê de Direitos Humanos da ONU expressou que os te-mas de Chiapas, a administração de justiça, a violência contra as mulheres, a crescente militarização e a impunidade continuavam causando “inquietude” e “profunda preocu-pação”.

O secretário de Governo, Diódoro Carrasco Altamirano, em 8 de setembro, apresentou a nova proposta governamental para o diálogo em Chiapas, onde propôs a retomada ime-diata das negociações com o EZLN. Carrasco assegurou que estaria disposto a encabeçar a comissão negociadora, em qualquer mo-mento e em qualquer lugar. A nova proposta consistia em 6 pontos:

Durante sua visita ao México, de 24 a 27 de novembro, Mary Robinson, Alta Comissionada de Direitos Humanos da ONU, comentou que era preocupante a impunidade, a mi-litarização e uma má administração de justiça em Chiapas. Mencionou que entre os fatores que contribuíam para criar um clima de impunidade se incluiaa crescente militarização das funções de segurança pública.

1) Propor ao Senado da República que retomas-se o tema das mudanças constitucionais sobre direitose cultura indígenas e que recebessepro-postas do EZLN do próprio governo e dos de-mais grupos envolvidos no conflito;

2) Pedisse ao EZLN que propusesse datas para que o governo cumprisse o acordado em San Andrés sobre o desenvolvimento das comunida-des indígenas de Chiapas;

3) Solicitasse que as instânciasde Procuração da Justiça libertassem os presos zapatistas que não estivessem implicados em assassinatos ou viola-ções;

4) Se comprometessem a analisar as denúncias de organizações de Direitos Humanos sobre as agressões nas comunidades indígenas de Chia-pas;

5) Aceitasse a criação de uma nova comissão ntermediação civil e apartidária;

6) Se comprometessem a enviar uma comissão governamental negociadora que tivesse capaci-dade de decisão.

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2000A presidente relatora do Grupo de Trabalho

sobre Povos Indígenas da ONU, Erika Irene Daes, ao concluir sua visita ao México no dia 4 de fevereiro, pediu ao governo mexicano que respeitasse os Acordos de San Andrés.

No dia 2 de julho, Vicent Fox, candidato pelo Partido Acción Nacional (PAN), ganhou as eleições presidenciais com 43,43% dos votos.No dia 20 de agosto é a vez de Pablo Salazar, da Aliança por Chiapas, ganhar as eleições do governo do Estado com 535.860 votos (51,50%).

Dia 18 de outubro, o presidente Zedillo expropriou3,5 hectares de “ejido” Amador Hernández, comunidade zapatista no mu-nicípio de Ocosingo, para construir insta-lações militares.No dia 28 de novembro, o presidente eleito, Vicent Fox, montou seu gabinete. Luis H. Alvarez é nomeado Comis-sionado para a Paz em Chiapas. O EZLNo definiu,posteriormente, como um “interlo-cutor válido”.

No primeiro dia de dezembro do mesmo

ano,Vicent Fox tomou posse no cargo de presidente. Afirmou que combateria a corrupção e a impunidade, e se compro-meteu a solucionar o conflito chiapaneco. Fox ordenou a retirada de 53 bloqueios militares da zona de conflito e o fim dos patrulhamentos e sobrevoos do Exército.

No dia seguinte à posse, 2 de dezembro, o EZLN pediu três sinais ao executivo para reiniciar o diálogo: cumprimen-to dos Acordos de San Andrés por meio da aprovação da lei COCOPA, liberdade para todos os presos políticos zapatis-tas, fechamento de sete acampamentos militares “de los 259 que mantieneactualmenteenla zona de conflicto”. Anunciou a caravana zapatista para a Cidade do México para reivindi-car ao Congresso Nacional o cumprimento dos Acordos de San Andrés.

Dia 20 de dezembro, o recém-empossado governador de Chiapas, Pablo Salazar, destituiu a Comissão Estadual para a Remunicipalização, criada pelo governo de Albores Guillén e que fundou sete novos municípios, principalmente em zo-nas zapatistas.No dia 22 de dezembro, o exército desocupou a base militar de Amador Hernández (Selva Lacandona). O governo federal restituiu o local para a comunidade, expro-priado pelo ex-presidente Zedillo em outubro de 2000. No dia seguinte, 23 de dezembro, o presidente Fox eliminou o requisito de permissão prévia para ser observador de Direito

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Humanos no México e no último dia do ano, o Exército mexicano desalojou o segundo quartel militar, de Jolnachoj, município de San Andrés Larrainzar.

2001No dia10 de janeiro, o Exército abandonou

o acampamento militar de Caxuljá, municí-pio de Ocsingoe no dia 17 de janeiro, desa-tivoua base da comunidade de Raberto Bar-rios, município de Palenque.

No dia 19 de março, o presidente Fox anun-ciou a retirada do exército da comunidade zapatista de Guadalupe Tepeyac, na Selva Lacandona.

Dia 25 de abril, o Senado da República aprovou uma reforma constitucional em matéria indígena.

O Congresso Nacional Indígena, no dia seguinte,afirmou que a lei indígena aprovada pelo Senado desconhecia pontos importan-tes dos Acordos do San Andrés. Mais um dia se passou e no dia 27 de abril, a Câmara de Deputados aprovou a Lei de Direitos e Cultu-

ra Indígenas, com 386 votos a favor e 60 contra.Dia 29 de abril, por meio de um comunicado,os zapatistas

romperam o diálogo com o governo. O EZLN permaneceu silencioso.

No dia 3 de julho, 1.400 escritores, intelectuais, religiosos, acadêmicos, defensores dos Direitos Humanos, bem como de ONGs do México e do exterior, pediram que os congres-sos estaduais não aprovassem a lei indígena.No dia 11 do mesmo mês, os poderes legislativos e executivos de Oaxaca e Chiapas pediram aos congressos estaduais que ainda não tinha votado, que rejeitassem a lei indígena.

Dia 18 de julho, a Reforma Indígena fora aprovada na maio-ria dos congressos locais eficara consumada. A presidência fixava sua postura algumas horas depois: pleno respeito ao Congresso.

No dia 8 de outubro, o México se tornou membro do Con-selho de Segurança da ONU depois de 20 anos de ausência. Nas eleições estaduais, o PRI conservou a maioria no Con-gresso local, numa votação com 48% de abstenções. Triun-fou em 21 de 24 distritos (PRD 2, PAN 1), e em 72 de 118 prefeituras (PRD 19, PAN 11).

O assassinato em 19 de outubro da Digna Ochoa, advogada de-fensora dos Direitos Humanos mobilizou mais de 80 ONGs e enti-dades civis que exigiam investigação e apuração imediata do crime.

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2002No dia 6 de março, o executivo apresentou

o Plano Oficial para o desenvolvimento dos povos indígenas.

2003No primeiro dia do ano, O EZLN rompeu o

silêncio que durava desde abril de 2001. Na concentração mais numerosa de suas bases de apoio, mais de 20 mil indígenas “toma-ram” a cidade de San Cristóbal. Condenaram os três principais partidos políticos por tra-írem o espírito dos Acordos de San Andrés com a lei indígena aprovada. Advertiram ao comissionado governamental para a paz que impediria a entrada a seus territórios.

Em 6 de julho ocorreram atos violentos durante as eleições legislativas em zonas indígenas de Chiapas, principalmente em San Juan Cancun, Zinacantán y Chenalhó. No pleno fe-deral, se registrou a maior abstenção na história recente do país.

2004Em 27 de janeiro, o governo do Estado de Chiapas fir-

mou um convênio com a União Europeia para co-financiar o “Proyecto de Desarrollo Social Integrado y Sostenible de la Selva Lacandona” (PRODESIS), que seria executado na zona de amortecimento da Reserva de Montes Azules. Em contra-partida, a Europadestinaria ao projeto 15 milhões de euros e outros 16 milhões viriam do governo do Estado de Chiapas.

No dia 10 de abril, bases de apoio zapatistas do município de Zincantánsofreramemboscadas por membros do PRD, dei-xando um saldo de dezenas de feridos e 125 famílias zapatistas desalojadas. O fato se produziu quando os zapatistas termina-vam uma marcha no aniversário de morte de Emiliano Zapata, depois de distribuírem água aos habitantes da comunidade de Jechvó, privados dela há vários meses por membros do PRD. Em 3 de outubro,ocorrerameleições municipais em Chiapas. O Instituto Federal Electoral (IFE) negociou com o EZLN para as-segurar a tranquilidade durante o processo eleitoral.

Objetivo 1: “contribuir a laconstrucción de una nuevarelación entre el Estado, lospueblos indíge-nas y el conjunto de lasociedad”;

Objetivo 2: melhorar a qualidade de vida dos po-vos indígenas;

Objetivo 3: garantir o efetivo acesso dos povos

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2005No final de abril, diante da pressão popu-

lar expressada em diversas manifestações, não aconteceuo desaforamento de Andrés Manuel López Obrador. Em 18 de maio, a Enalce Civil, organização encarregada de apoiar projetos nos municípios autônomos zapatistas, recebeu o Banco Bilbao Vizcaya - Bancomer, a informação de que suas nove contas bancárias seriam canceladas dentro de 30 dias, pela acusação de “lavagem de di-nheiro ilícito”.

Entre os dias 20 e 26 de junho o EZLN pu-blicou vários comunicados:

Entre meados de agosto de setembro aconteceram di-

versas reuniões entre sociedade civil e o EZLN em diversas

comunidades da Selva de Lacandona, para preparar a saí-

da da delegação zapatista que percorreriao país. Em uma

sessão plenária em meados de setembro, chegaram 2069

pessoas ao Caracol de La Garrucha. Em 16 de setembro, o

EZLN anunciou que o subcomandante Marcos encabeçará

a primeira etapa da “Outra Campanha”, que teria início em

primeiro de janeiro do próximo ano,em San Cristóbal de Las

Casas, e terminaria em 24 de janeiro.

No dia 20 de novembro, em um comunicado do EZLN,

se anunciou a dissolução da Frente Zapatista de Libertação

Nacional (FZLN). Em 25 de novembro, o EZLN anunciou a

criação da Comissão Intergaláctica da Sexta Declaração, que

seria encabeçada pelo tenente-coronel Moisés.

20 de junho: anunciou a reestruturação políti-ca e militar interna do EZLN.

20 de junho: esclareceu que o Alerta Verme-lho havia sido uma “medida preventiva” para proteger uma consulta interna convocada pelo CCRI-CG do EZLN. Em fevereiro de 1995, o EZLN estava realizando um consulta em suas comunidades, quando aconteceu a ofensiva militar para prender os comandantes zapatistas.

21 de junho: anunciou para a sociedade civil nacional e inter-nacional que seu próximo passo não seria uma ação militar.

26 de junho: informou que depois da consulta e das assem-bleias comunitárias o EZLN havia decidido empreender “una nueva política de caráter nacional e internacional”, que expli-caria por meio da Sexta Declaração de Lacandona (La Sexta).

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2.3 Ciberativismo

Movimentos sociais que sabem se apro-veitar do ciberespaço e suas ferramentas, como os Zapatistas, considerados os pionei-ros nessa prática, têm a possibilidade de se fortalecerem e de difundirem seus discursos e suas reivindicações para um número de in-divíduos muito grande. Segundo Recuero, a presença nesse ambiente virtual só se dá se o conteúdo ali depositado é acessado, pois “é preciso ser visto para existir no ciberespa-ço” (RECUERO – 2010, p. 27).

Quando o ativismo – que visa a transfor-mação de uma realidade e normalmente é associado à militância política – vem para o meio digital, ele se configura como ativismo online, ou, como passou a ser chamado, ci-berativismo, que, segundo Ronald Stresser Junior (2010)

Trata-se de nova forma de ação política;

uma maneira de fazer política através de suportesci-

bernéticos; buscando a veiculação de um ideal através de uma mídia de

grande alcance, é o ativismo contemporâneo praticado em rede, através

da internet (STRESSER – 2010, 2).

Além dos Zapatistas – considerados os pioneiros nesse tipo de ativismo8 –, ainda segundo Stresser (2010), no final da década de 90 o ciberativismo

(...) ganhou corpo (...) com a migração de grupos notoriamente

ativistas, minorias,dentre outras organizações sócio-políticas, para o cibe-

respaço. (...) Estes grupos encontraram na internet uma forma eficaz,não

onerosa e rápida, para transmitir suas mensagens a um grande número

depessoas, engajadas, ou não, em suas atividades

(STRESSER – 2010, 3).

O avanço tecnológico, o aumento na oferta de serviços e ferramentas na internet e o surgimento das redes sociais, como o Facebook e o Twitter, também contribuem com o ativismo online, pois “através docomputador o ativista faz seus estudos, cria e edita textos, sons e imagens, difunde-conteúdo, faz propaganda de sua ideologia, além de orga-

8Segundo o autor, apesar de existirem “(...) estudos que atribuem o surgimento desta nova maneira de fazer política aos movimentos ciberpunks europeus, que pregaram sua ideologia na rede (...)” (STRESSER – 2010, 3), o EZLN ainda é considerado pioneiro nessa prática.

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nizar mobilizações em rede,movimentos e passeatas” (STRESSER – 2010, 2).

Portanto, percebe-se que, para se configu-rar o ciberativismo, não basta apenas que o conteúdo online seja lido. É preciso que o internauta faça uso das informações dispo-níveis para se mobilizar, a fim de fazer com que essa mobilização venha para o plano real, não ficando somente no virtual, e pro-mova a cidadania.

“Alicerçando campanhas e aspirações à distância, a rede propicia, graças à platafor-ma digital, os chamados à mobilização so-cial. (...) o ciberativismo, congregando as en-tidades civis, faz uso da Internet enquanto canal público de comunicação, livre da rígi-da regulamentação e dos controles externos e internos dos outros meios para disseminar informações e análises que contribuam para o fortalecimento da cidadania, questionando as hegemonias constituídas.

Por meio da rede, as intervenções dos mo-vimentos sociais ganham agilidade e visibili-dade (...)” (CAPUTO – 2008, 66).

Segundo Vegh (2003), existem três catego-

rias de classificação do ativismo online:

A maioria das organizações ativistas que podem ser classifi-

cadas nessa categoria de conscientização e apoio, tem como objetivo

proteger e reivindicar os direitos de segmentos marginalizados, como

minorias étnicas e mulheres, por exemplo. Sua atuação é muito impor-

tante na divulgação de informações provenientes de localidades com

regimes antidemocráticos (RIGITANO – 2003, p. 3).

Na primeira, informações acerca de ações offline, como locais, datas e horários, são disponibilizadas na rede em con-vites enviados por e-mails.

Como exemplo é possível citar as mobilizações online para

os protestos offline ‘antiglobalização’, que ocorreram em cidades como

Seattle, Washington, Praga, Gênova, dentre outras. A partir de listas de

1) Conscientização e apoio: a internet como fonte alternativa de informações, onde organizações e indivíduos (atores sociais) difun-dem, de forma colaborativa, informações e eventos ignorados ou pouco divulgados pelas mídias de massa.

2) Organização e mobilização a partir da internet: Vegh (2003) traz três formas de mobilização por meio do uso da web.

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e-mails e discussão e da construção de sites específi-

cos para cada protesto, foi possível obter informações

que possibilitavam a participação em manifestações

e eventos, tais como calendário dos acontecimentos,

palestras, fóruns, mostra de artes e debates, como

chegar aos países e cidades dos protestos, acomoda-

ções, serviço de advogados (caso o ativista tivesse al-

gum problema com a polícia durante a manifestação),

além de dicas para se proteger de gás lacrimogêneo e

sprays de pimenta (RIGITANO – 2003, p. 4)

A segunda forma de mobilização proposta por Vegh (2003) trata-se de usar a internet em ações que normalmente aconteceriam offline, mas que podem ser muito mais efi-cientes quando online, como, por exemplo, contatar representantes do governo via e--mail. A terceira e última forma de mobili-zação a partir da rede se dá em ações que só existem graças ao advento da internet, como a coordenação de uma campanha para saturar um servidor online com o envio

massivo de spams9 , por exemplo.

Com base nas categorias de ciberativismo propostas por Vegh, faz-se importante identificar se a ONG Um Teto Para Meu País pode ser considerada ciberativista e, em caso afir-mativo, em qual das classificações ela melhor se enquadra. Porém, para que essa análise seja executada, é preciso, pri-meiro, conhecer mais profundamente a entidade, objeto de estudo deste trabalho.

O capítulo a seguir traz informações importantes sobre a organização Um Teto Para Meu País, começando com seu histórico e sua origem no Chile até os dias atuais.

3) Iniciativas de ação/reação: também conhecidas por ativismo “hacker” ou “hacktivismo” (VEGH – 2003, p. 75), envolve diversos tipos de ações, que variam desde apoio online e invasão de sites a até cibercrimes ou ciberterroris-mo. “Esse tipo de iniciativa visa executar ações diretas (pela Internet) proativas ou reativas” (RIGITANO – 2003, p. 5).

9 Porém, Vegh alerta que esse tipo de mobilização pode ser classificado, muitas vezes, como pertencente à terceira categoria de ciberativismo: ação/reação (RIGITANO – 2003).

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O Brasil não é um país pobre, e sim

um país profundamente injusto

Ricardo MonteroDiretor Social da ONG UTPMP - Brasil

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m Teto Para Meu País (UTPMP) é um organização não governamen-tal (ONG) latino-americana formada, principalmente,por universitários e jo-

vens profissionais. Milhares de voluntários espalhados pelo continente trabalham diretamente com famílias de assentamentos irregulares e favelas, a fim dese melhorar sua qualidade de vida. Suas ações são divididas em três fases: 1) construção de casas de emergência para retirar a família de uma situação pre-cária; 2) programas de habilitação social que visam gerar estratégias para reduzir a vulnerabilidade da-queles que vivem em situação de extrema pobreza; 3) regularização e transformação do assentamento em uma comunidade sustentável por meio de programas que orientam a autogestão, a organização e a parti-cipação social, habilitando os próprios moradores a lutar por seus direitos e, finalmente, ter acesso às re-des formais de educação, saneamento básico, saúde, moradia, crédito etc.

3.1 História

No ano de 1997, o sacerdote jesuíta Felipe Berríos S.J., que já havia se unido a universitários na constru-ção de uma capela e que estava incomodado com a desigualdade social e com a pobreza no Chile, sua terra natal, reuniu um grupo de jovens com as mes-

mas preocupações e, juntos, decidiram ir à Curanilahue, município pro-vinciano localizado na região de Bióbio, mais ao sul do país. O objetivo da viagem era o de construir 350 casas para pessoas que viviam em situação precária, caracterizada como pobreza extrema. Esse foi o nasci-mento da ONG, batizada de UnTecho Para Chile (Um Teto para o Chile), e o começo da organização de suas ações.

Ainda sem maiores ambições ou planejamento, a ideia, na época, era apenas executar uma medida emergencial para tirar aquelas pes-soas de um cenário dramático. Porém, o sucesso foi muito grande, pois essa ação não só mudou a vida e resgatou um pouco da dignidade das pessoas ajudadas, como, também, promoveu uma mudança nos pró-prios voluntários. Os jovens colaboradores se sentiram motivados a fazer ações ainda maiores.

Com isso, uma meta mais ambiciosa foi traçada: construir 2000 casas até o ano 2000. Mais uma vez as expectativas foram superadas e as casas foram entregues em setembro de 1999, pelo menos três meses antes do previsto.

No ano 2000, muitas comunidades carentes do Chile foram assoladas por tragédias devido às fortes chuvas enfrentadas pelo país. Esses acon-tecimentos comoveram a sociedade, que viu na ONG Um Teto para o Chile uma oportunidade de ajudar. O número de voluntários aumen-tou.Só naquele ano, 5.701 moradias de emergência foram construídas. O projeto ganhou força nacional e escritórios foram instalados nas princi-pais cidades chilenas.

Em 2001, o país El Salvador, da América Central, também sofreu muito com os estragos causados por desastres naturais, onde dois terremo-tos mataram 315 pessoas e deixaram muitas outras famílias sem nada. Naquela época, um salvadorenho que participava como voluntário na ONG Um Teto para o Chile, motivou outros voluntários a irem com ele

U

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para sua terra eajudar no socorro às vítimas. Um Teto para o Chile, que já estava fortalecida em seu país de origem, teve ajuda do Departamento de Promoção de Exportações (ProChile)10 e se uniu a universitários desses outros países latino-americanos, nascendo, assim, UnTecho Para Mi País (Um Teto Para Meu País).

Alguns meses depois, outros tremores foram senti-dos em Moquegua e Tcna, cidades localizadas ao sul do Peru e, mais uma vez, Um Teto Para Meu País se mobilizou na ajuda à população peruana.

Liderada por jovens, Um Teto Para Meu País (UTPMP) começou a se expandir rapidamente. Logo em seu início, contou com o apoio do Fundo Multilateral de Investimentos (FUMIN) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). No Brasil, começou com os trabalhos em São Paulo, no ano de 2006.Tem a meta de construir 1000 habitações de emergência até o fim de 2011. Hoje a organização não governamen-tal sem fins lucrativos já está presente em 19 países das Américas do Sul e Central: Argentina, Bolívia, Bra-sil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Para-guai, Panamá, Peru, Republica Dominicana, Uruguai e Venezuela.

3.2 Missão e Visão

A missão da ONG Um Teto para meu País é procu-

rar melhorar a qualidade de vida das famílias, que atualmente vivem em situação de pobreza, por meio de construção de casas emergenciais e com planos de habilitação social a partir do trabalho conjunto entre os voluntários e a comunidade. Querem denunciar a realidade marginali-zada em que vivem mais de 200 milhões de pessoas na América Latina e envolver a toda a sociedade, fazendo com que se comprometam e unam-se à tarefa de construir um continente mais solidário e sem a in-justiça da pobreza.

A visão ONG é uma América Latina sem extrema pobreza, em que nenhuma família tenha a necessidade de uma moradia mínima e todos tenham as possibilidades de melhorar sua qualidade de vida.

3.3 Modelo de Intervenção

O modelo de intervenção de UTPMP consisteem três etapas: 1) Cons-trução de casas de emergência; 2) Desenvolvimento de planos de habi-litação social; 3) Alcance de uma comunidade sustentável.

Objetivos de cada fase:

1) Construção de casas de emergência

a) Resposta emergencial a uma situação precária de habitação;

b) Contato entre o voluntário universitário e a realidade de seu país;

c) Denúncia da realidade do déficit habitacional e a exclusão que se concentra em assentamentos humanos.

10 O Departamento de Promoção de Exportações (ProChile) é uma agência da Direção-Geral de Relações Econômicas Internacionais do Ministério das Relações Exteriores do Chile. Sua missão é contribuir para o desenvolvimento econômico através de sua promoção no exterior e internacionalização de seus negócios sustentáveis (http://www.prochile.cl/).

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2) Habilitação social

3) Comunidade sustentável

Características do modelo:

3.3.1 A casa de emergência

HistóriaA origem das Habitações de Emergência data a partir o terremoto do

ano de 1939, em Chillan, Chile. Surgidas nos assentamentos irregulares e nas ocupações ilegais de terreno, a Casa de Emergência veio espontane-amente amenizar o problema da habitação na época. Nesses lugares, os moradores construíam suas casas de maneira muito semelhante ao que hoje conhecemos como Habitação de Emergência – HE –, utilizando madeira, telhas de amianto, cimento, plástico, papelão e, em geral, qual-quer material descartado que servisse.

Em 1958 foi enviado para trabalhar no Chile o sacerdote jesuíta Josse van der Rest , junto a estudantes universitários dessa época. Dedicou--se a construir melhores casas para os moradores de assentamentos. Conforme Josse afirma: “começamos comprando telhas e madeira, per-corríamos os assentamentos em uma caminhonete Volkswagen igual a do Padre Alberto Hurtado . Construíamos setenta casas ao ano. Pouco a pouco começamos a industrializar a fabricação”. A experiência ensinou que a vida familiar fica seriamente prejudicada pela má qualidade da habitação e pelas condições de amontoamento em que convivem os moradores das comunidades em situação de pobreza. Por isso, o pa-dre Josse insistia em que: “mais valem quatro tábuas agora que uma casa sólida em 10 anos mais”, quando a família já se separou. A falta de segurança e privacidade das habitações precárias e o adensamento ex-cessivo, ou seja, o número muito grande de pessoas na residência,eram alguns dos problemas.

Com a experiência proporcionada na construção, a casa começou a ganhar contornos padrões, viabilizando sua construção em série na Fá-brica de Hogar de Cristo Habitação, em Santiago do Chile. Do padre

a) Fortalecimento da comunidade por meio de planos de habilitação social (microcrédito, planos de educação, saúde, assistência jurídica, capacitação em ofícios);

b) Desenvolvimento social e organização co-munitária

a) Soluções definitivas;

b) Não necessariamente pelas construções de moradias definitivas.

I. Não assistencialista;

II. Sustentável;

III. Envolvimento de toda sociedade;

IV. Empoderamento das famílias e comunida-

des. Famílias como protagonistas de seu pró-

prio desenvolvimento;

V. Trabalho voluntário;

VI. Processo de desenvolvimento a longo prazo.

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Josse nasceu a ideia dos seis painéis pré-fabricados que facilitariam uma construção mais simples e rápi-da, de forma massiva, que asseguraria a estabilidade e que permitiria o desmonte da casa em caso de uma eventual mudança de lugar, geralmente um desalo-jamento.

Por isso, esse jesuíta é considerado o inventor da mediágua, ainda que ele mesmo reconheça que: “a mediágua foi inventada pela população carente, só fui responsável por sua industrialização, e por fazer com que tivessem que pagar o mais barato possível”. O custo da mediágua se manteve fora do plano, o que impediu que se desenvolvesse uma simples entrega de casas, fria e rígida, um único objeto pronto.Pelo contrário, como o grupo de Josse não contava com mãodeobraespecializada, se fez necessário construir todos juntos, em uma espécie de mutirão voluntário.

As casas foram sofrendo modificações e adapta-ções, a principal delas tem a ver com o tamanho da habitação. A princípio, se construíam moradias de 3 x 3 metros, que pouco a pouco foram sendo substituí-das pela atual casa de 3 x 6 metros, como a construída por UTPMP. Leva-se em conta que, em média, numa família vivem cinco pessoas, e as normas internacio-nais de habitação aceitam como mínima uma área de 3,5 m2 para que uma pessoa viva (3,5 x 5 = 17,5 m2). Outras mudanças feitas na casa foram a substi-tuição do piso de terra pelo piso e pilotis de madeira, além das implementações de mudanças que tendem

a melhorar a durabilidade e a estética da casa, como a troca de uma queda de água (“meia-água”) por duas.

Para os avanços em durabilidade – aplicáveis somente a alguns países de acordo com suas particularidades – mudou-se o sentido horizontal das tábuas do forro, que agora se dispõem verticalmente (para fazer com que a água da chuva corra melhor e não se concentre umidade nas juntas e ranhuras). Além disso, a sobreposição entre elas foi aumentada,

Figura 5: Casa de emergênciaFonte: umtetoparameupais.org.br

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o telhado de amianto foi substituído por pranchas de zinco/alumínio e se incorporou à técnica de encaixe (macho-fêmea) ao piso, o que possibilitou maior ri-gidez e isolamento do mesmo.O isolamento térmico também foi melhorado com forros que são coloca-dos antes das telhas. Todas as substituições mencio-nadas acima foram feitas mantendo o uso de mate-riais baratos que permitiram a massificação.(a minha dúvida está em relação à relevância dessa descrição para o contexto do trabalho. Não sei o que o orienta-dor disse a vocês.)

Finalmente, os pilotis que sustentam a casa são fei-tos de madeira tratada que duram muito mais.Em al-guns países foi dada a possibilidade dos proprietários escolherem janelas de madeira com ou sem vidro para suas casas, aumentou-se a altura da casa - para alcançar uma estética mais similar ao conceito de “casa” - e se incluíram vigas sobre os pilotis e entre os painéis de piso, para conseguir maior estabilidade e isolamento do chão. A maioria das mudanças foi ge-rada por meio da experiência da construção, e vieram de moradores e universitários voluntários.

Objetivos da Casa de Emergência

> Dar uma solução rápida a uma situação de emer-gência;

> Gerar um trabalho horizontal em que se possam

reunir, por meio do trabalho físico, em igualdade de condições, duas realidades diferentes, como a dos moradores de assentamentos e a dos estudantes universitários;

> Entregar um espaço melhor para as famílias, diminuindo problemas como a violência intrafamiliar, abusos sexuais etc;

> Outorgar uma maior independência, aumentar a privacidade e per-mitir a intimidade de casais;

> Fomentar o sentimento de propriedade pelo feito da própria família custear parte da casa. Este mesmo custo fomenta o cuidado com a casa;

> Denunciar uma realidade, colocar na agenda pública o tema do dé-ficit habitacional e a exclusão que se concentra em assentamentos hu-manos;

> Meio utilizado como porta de entrada a uma relação de confiança com as famílias dos assentamentos, no qual se criam os primeiros vín-culos;

> Primeiro passo dentro de um processo integral de

Habilitação Social;

Justificativas

> É uma solução rápida, concreta, prática e simples;

> É modular, desmontável e transportável, o que assegura a possibi-lidade de reutilizá-la caso seja necessário a mudança para outro lugar;

> Isola do frio e da chuva, diminuindo as doenças, especialmente entre as crianças e idosos;

> É uma solução de emergência, não uma moradia definitiva;

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> Não requer mãodeobra qualificada para sua cons-trução;

> É o ícone do trabalho concreto que realiza a UTPMP, a forma gráfica de representá-lo;

> Ao ser de baixo custo, pode ser massificada e, as-sim, responder a alta demanda existente;

> Sem assistencialismo, constrói-seum teto junto a uma família que vive em condições de extrema po-breza, que paga o valor simbólico de 5% do valor to-tal da casa, com o intuito de valorizar a conquista de uma nova moradia;

> É uma habitação com características comuns, o que a faz reconhecível como realizada pela UTPMP em toda a América Latina.

Conceitos básicos que deve cumprir uma Casa de Emergência de UTPMP

1) Habitação de madeira: fácil armação, baixo custo, disponível no mercado;

2) Massiva: a produção de peças, partes ou sistema da casa devem ser apta para a massificação da solu-ção, a diminuição dos tempos de construção, imple-mentação e dos custos por economias de escala;

3) Modular: os painéis devem ser montados e des-montados com facilidade, e dessa forma ser reutili-zados;

4) Transportável: os painéis pré-fabricados devem ser fáceis de trans-portar;

5) Fácil de construir: construída por moradores e voluntários, conside-rados como mãodeobra não qualificada. A casa deve ser montada em dois dias;

6) Baixo custo: que permita sua massificação;7) Uniformidade do desenho: dimensão de 3 x 6 metros, uma porta e

duas janelas na face frontal da casa. Vista pelo maior lado, deve ter duas quedas d’água;

8) Durabilidade e níveis mínimos de qualidade: mesmo não sendo de-finitiva, exigem-se esses aspectos mínimos que garantam um prazo para se seguir trabalhando. O tempo médio de duração da casa é de seis anos, geralmente suficientes para se iniciar a segunda fase.

3.4 Construção

A preocupação da construção de moradias de emergência no UTPMP começou com um sacerdote jesuíta chamado Felipe Berríos. Foi durante a sua atividade em que construía capelas com um grupo de universitá-rios que notou, ao seu redor, a condição precária da moradia das pessoas que habitavam naquele meio. Então, largou a sua atividade e junto com o grupo começou a construir casas de emergências para as pessoas po-bres mais necessitadas. Pela necessidade da família ser extremamente alta, a casa precisava ser construída o mais rápido possível. Foi então que surgiu a ideia de usar seis painéis pré-fabricados, de madeira, para mon-tar a casa dentro do prazo de dois dias.

A princípio o tamanho da casa era3x6 metros (18 m²), no entanto, o tamanho pode variar dependendo do tamanho do terreno em que a

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família habita. É importante ressaltar que o tamanho mínimo que a casa pode ter é 3,5 m². Uma mudan-ça que teve na habitação de emergência no UTPMP foi o piso. No início, o piso da casa era apenas terra.Depois de enquetesfeitas com cada família, viu-se a necessidade de elevar a casa do solo, com pilotes, mi-nimizando a infestação de insetos tais como, baratas, cobras, ratos e outros, e também minimizando a pos-sibilidade de infiltração de água em épocas de chuvas fortes, em consequência o piso agora é de madeira.

A casa, depois de construída, tem a durabilidade de seis anos devido a algumas características do mate-rial. A primeira é a substituição da telha de amianto

por telha de zinco. Abaixo da telha de zinco existe um manto que serve para reter o calor, evitando, no verão, que o ambiente interno da casa não sofra com a alta temperatura, deixando o clima mais refrescante. O segundo aspecto são asjanelas. Muitos barracos não possuem jane-la, consequentemente, a casa absorve toda a umidade, aumentando a possibilidade de doenças para os integrantes da família. As tábuas de ma-deira são montadas no vertical para que, ao chover, a água não escorre para dentro das rachaduras. Todas essas mudanças e melhorias da casa foram surgindo pelasexperiênciase da prática dos grupos de voluntários universitários.

Os benefícios que a casa construída desta forma traz para o UTPMP é o custo baixo, fácil armação e fácil transporte dos painéis pré-fabricados, tudo isso sem a necessidade de mãodeobra qualificada, contando ape-nas com a integração da família e dos voluntários – que veem de toda a América Latina – para que, juntos, construam e participem em prol das comunidades necessitadas.

3.5 Conceitos-chave

Transitoriedade da casa de emergência

A casa construída é transitória, pois representa o primeiro passo de

um modelo de intervenção que tem, como objetivo, o alcance de uma

comunidade sustentável. Com a construção, não se pretende resolver

de forma definitiva seu problema de habitação, mas, sim, denunciar a

realidade em que vivem essas pessoas. Para isso, um projeto de longo

prazo é necessário.

Figura 6: Equipe durante construçãoFonte: umtetoparameupais.org.br

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Modelo de intervençãoO modelo de intervenção possui três fases: come-

çando com a moradia de emergência, seguindo com planos de habitação social, onde se desenvolvem ações de microcrédito como educação e saúde, por exemplo, tudo com o propósito de alcançar uma co-munidade sustentável, ao buscar com os moradores do local integração ao resto da sociedade, capaz de gerenciar-se e inserir-se em redes formais.

Jovens voluntários universitáriosTodos os dias, milhares de jovens voluntários uni-

versitários latino-americanos trabalham movidos por uma causa comum: a eliminação da pobreza extrema na América Latina. Focando nesse grupo de pessoas, a UTPMP acredita que os jovens universitários podem aliar seus conhecimentos teóricos às necessidades práticas das comunidades. Além disso, são esses os jovens que estarão à frente de empresas, secretarias e outras organizações no futuro.

Colocá-los em contato com a realidade de seu país é extremamente importante para a sua formação e para que essas pessoas ajam em prol da mudança dessa realidade.

Envolvimento de toda a sociedadePretende-se envolver toda a sociedade, desde em-

presas, cidadãos, setor público e meios de comuni-cação, em prol desta missão.Melhorar a qualidade de

vida das pessoas que vivem em condição de extrema pobreza no con-tinente.

Não assistencialistaAs famílias se envolvem em todas as etapas da construção, em um

trabalho prévio, em que estas se encarreguem de desmontar sua própria casa e limpar o terreno.Também participam durante todo o processo da construção, convivendo com os voluntários durante a ação e ajudando no trabalho físico.

Além disso, 5% do valor da casa são pagos pelas famílias para que par-ticipem desse processo e se sintam os verdadeiros proprietários da casa.

Projeto Latino-americanoO projeto é latino-americano e já está presente em 19 países. No total

já foram construídos mais de 76.000 casas, com mais de 380.000 vo-luntários mobilizados. A meta de estar presente em todos os países da América Latina já está cumprida.

3.6 Escritório

O escritório da UTPMP atualmente encontra-se localizado na cidade de São Paulo, na Rua Artur Riedel, 99, nobairro Alto de Pinheiros. Cada área de gestão da ONG é essencial para o seu funcionamento.

A maioria dos funcionários são voluntários universitários. Para se can-didatar a uma vaga de determinada área, antes o voluntário necessita ter experiência prévia na área e deve participar de reuniões de apresentação

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da ONG, que são divulgadas no site e confirmadas através de cadastro.

3.6.1 Áreas

Abaixo segue a lista das áreas e suas funções dentro da UTPMP . As áreas são divididas nas categorias social e co-mercial:

3.6.1.1 Social

A área social tem como finalidade se responsabilizar, principalmente,pelas ações em campo, conscientização e constante denúncia da situação de extrema pobreza na realidade de muitas famílias brasileiras. Fica também encar-regada da gestão de equipes, formando e organizando os voluntários para construções e enquetes massivas. Garan-tir o crescimento e desenvolvimento do projeto no Brasil é a meta desta área.Essa área possui outras subáreas, sendo elas:

Formação e voluntariado: responsável pela gestão de relacionamento em colégios e universidades.Essa área fica encarregada na formação e captação de voluntários, juntamente com o posicionamento da UTPMP perante as universidades.

Detecção e Designação: o primeiro contato com as comunidades é estabelecido por esta área.É primordial o posicionamento da UTPMP nessa etapa dentro das comu-

nidades. Ficam responsabilizados pela detecção das famílias mais necessitadas e designação por intermédio das enquetes.

Logística: área encarregada de acompanhar e garantir a qualidade do pro-cesso construtivo, desde seus fornecedores, passando pelo projeto, fabricação e construção das casas.Também fica responsável pela alimentação dos volun-tários durante a construção.

Construção: esta área envolve as áreas de Detecção e Designação, como também a área de Logística. É nesta área, em que se desenvolve a etapa de construção das casas. Para isso é preciso antes passar pela coordenação das áreas de Detecção e Logística para que se possa designar a qual família será construída a casa.

3.6.1.2 Comercial

Responsável por toda parte burocrática e judicial, essa área se encarrega das

ações de marketing e conscientização de um público-alvo mais delimitado,

como empresas e parceiros, com objetivo de manter sustentável a UTPMP.

Também fica encarregada de ações na rede.

Assim como a área Social, a área Comercial é composta por algumas outras subáreas:

Recursos: área responsável pela captação de recursos para as construções planejadas e gastos fixos mensais,além da captação de recursos de emergên-cia. Esses recursos são arrecadados por meio de parcerias estratégicas e susten-táveis, ou por meio de planos de sócios, construções corporativas e parcerias com fornecedores.

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Administração e Finanças: esta área zela por garantir a transparência dos recursos financeiros arrecadados, como, também, sua correta aplicação. Responsável pela adminis-tração do espaço físico do escritório e suas auditorias.

Comunicação: pode se dizer que é uma das áre-as mais importantes, em se tratando da divulgação da UTPMP. Esta área tem como finalidade promover ações na rede por meio de denúncias positivas e di-vulgações dos eventos organizados pela ONG. A co-municação e gestão de relacionamento com parcei-ros, agências de publicidades, assessoria de imprensa e divulgação na mídia sãoresponsabilidadesdesta área.Uma de suas maiores preocupações consiste no objetivo de manter a imagem interna e externa da UTPMP.

Jurídico: todo assunto jurídico da UTPMP éderes-ponsabilidade desta área.Dentre eles constam o le-vantamento dos antecedentes do terreno (primordial para a etapa de construção), contratos, parcerias e convênios com empresas e outros parceiros. Porém, a UTPMP não é responsável pela assistência jurídica das famílias.

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Figura 7: Mapa de informação.

3.7 Presença e ações na rede

3.7.1 Site www.umtetoparameupais.org.br

Design de Informação

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Topo do site: Em todas as páginas do site da ONG as informações no topo são as mesmas, menu, logo da ONG, números de moradias construídas, último tweet e ícone das redes sociais.

Figura 8: cabeçalho do site.

Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Coluna da direita - As informações que estão na coluna da direita também são as mesmas em todas as páginas, só que estão dispostas como imagens rotativas, Como Ajudar – Plano de sócios, Área para se Vo-luntariar, Mensagem de Boas Vindas, logo dos parceiros, das alianças regionais e locais.

Figura 9: detalhe da coluna direita do site.

Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Rodapé – Nessa área,encontram-se o endereço do escritório da ONG localizado em São Paulo, assim como o telefone e o e-mail para contato.

Figura 10: rodapé do site da ONG.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Home – logo,textos, imagens/ícones e banner animado.

As informações da Home concentram-se em mobilizar as pessoas para assim captar voluntários.

No alto há um banner animado (flash), que é uma chamada para a próxima construção, sempre é relacionado com algum evento da ONG que irá acontecer. A chamada do banner tem um apelo mais visual com chamadinhas mais curtas que são descritas melhor nas informações textuais em for-ma de posts.

As informações textuais estão dispostas em for-ma de posts, forma comum utilizada em blogs. Osposts são chamadas para os eventos da ONG que vão acontecer com explicações mais longas e detalhadas, clicando no “Continue Lendo”.

Figura 11: detalhe das informações na homepage.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Páginas InternasA linguagem das informações nas páginas internas são predominantemente textos e imagens. Textos que

explicam cada item e imagens que ilustram o conteúdo textual descrito. Dentro das páginas, encontramos umsubmenuque em cada página contém itens diferentes.

Quem Somos – texto, imagem e submenu (hyperlinks).

Figura 12: submenu da página “Quem Somos”.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Figura 13: conteúdo da página "Quem Somos".Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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O que fazemos – texto, imagem esubmenu (hyperlinks).

Figura 14: submenuda página “O que fazemos”.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Figura 15: conteúdo da página "O que fazemos".Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Como Apoiar/Voluntário – texto, imagem e submenu (hyperlinks).

Figura 16: submenu da página “Como apoiar/voluntário”.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Figura 17: conteúdo da página “Como apoiar/volun-tário”.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Multimídia – galeria de imagem, Vídeos, Clipping (Revistas, Jornais, Internet) e submenu (hyperlinks).

Figura 18: submenu da página “Multimídia”.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Figura 19: conteúdo da página “conteúdo da página “Multimídia”.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Contato – Formulário para contato, mapa de localização do escritório em São Paulo (Google maps), Or-ganograma e submenu (hyperlinks).

Figura 20: submenu da página “Contato”.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Figura 21: conteúdo da página “Contato”.Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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Design de InteraçãoO site da ONG é pouco inte-

rativo, os recursos de interações não passam de cliques simples com informações dispostas em forma de texto,imagens rotati-vas e estáticas, como mostra o mapa abaixo (figura 22).

Figura 22: mapa de interação.

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Na página interna Multimídia,os recursos da mesma são mais explorados em forma de fotos e vídeos e em algumas publicações em revistas e jornais sobre a ONG.

Com uma pequena área dedicada ao último tweet, essa é uma forma de interação com o usuário. Quan-do há construções, os tweet são mais constantes, informando o usuário dos últimos acontecimentos nos eventos. Mas, durante a semana e em dias normais, não há nenhum evento específico da ONG.Ostweets ainda são baixos.

Ainda assim, todos esses recursos são considerados de baixa interação no ponto de vista do Design de Interação, pois o usuário ainda estabelece uma relação passiva com a interface digital.

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Design de Navegação

A navegação do site (figura 23) da ONG é de certa forma não linear, mas, também,há casos em que se exigecerta linearidade para que o usuário tenha acesso a uma determinada página.

Figura 23: mapa de navegação

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Por ter um Menu principal e outros submenusalocados dentro das páginas internas, é necessário que o usuário entre primeiro em um conteúdo do Menu para que depois possa escolher algum item do submenu.

Essa forma de navegação não é necessariamente negativa, pois implica diretamente na organização da informação do site.Divididos em categorias para cada item, o usuário consegue encontrá-la mais rápido sem passar por dificuldades.

Design de Interface

O site foi feito na plataformaWord Press, provavelmente em um template alterado, o que já implica em certas limitações de layout. Na home (figura 24), o conteúdo textual é exposto em forma de posts, o que acontece em Blogs, normalmente.É praticamente impossível não estabelecer essa ligação para pessoas que têm conhecimento da área de web.

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Figura 24: homepage da ONG Um Teto Para Meu País (Brasil).Fonte: http://www.umtetoparameupais.org.br.

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A interface do site da ONG mantém um padrão limpo, sem poluição visual,priorizando o conteúdo. O menu, localizado no extremo topo do site, o deixa mais contínuo.O conteúdofica mais junto e sem muita rolagem, o que é mais fácil e funcional para o usuário.

A composição visual da interface utiliza a cor branca e azul como predominantes por pertencerem à identidade visual da ONG, usando detalhes em cinza e em textura de madeira, o que faz alusão às casas de emergência que são construídas pela ONG.

Figura 25: fanpage oficial da matriz chilena da ONG Um Teto Para Meu País.Fonte: http://www.facebook.com/pages/Un-Techo--para-mi-Pa%C3%ADs/79616214317.

3.7.2 Página no Facebook (fanpage)

As redes sociais e mais especificamente o Facebook aproximam cada vez mais a vida virtual da vida real. Hoje é difícil separar uma da outra, estão convergindo em uma simbiose sutil, um modus vivendi.

O Facebook é a rede mais utilizada por instituições e pessoas, com cerca de 800 milhões de usuários ativosno mundo. Isso se deve à capacidade em compartilhar, discutir, mobilizar, organizar e potencializar ideias de forma simples e viral, repercutindo dentro e fora da rede. Na ONG UmTeto Para Meu País,essa poderosa fer-ramenta é utilizada tanto para iniciar ações que nascem dentro da própria rede, quanto para organizar ações nascidas fora dela, des-de contextos mais formais, como reuniões de áreas no escritório, até conversas informais entre voluntários de universidades.

A ONG possui uma fanpage oficial geral, que é também a pági-na do ONG do seu país de origem, o Chile. Essa é a fanpage com mais participantes: 171.078 pessoas (figura 25).

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Cada país possui uma fanpage local, no total são 19 paí-ses na América Latina, cada um com suas ações locais, for-mas de se trabalhar as ferramentas e seções particulares. Porém,todas falando dentro de um modelo de trabalho e um mesmo objetivo. A ONG procura fazer um trabalho unifica-do na América Latina justamente para fortalecer sua presen-ça no continente e expor o problema da extrema pobreza como uma questão comum em todos os países.

Figura 26: fanpages oficiais das sedes da ONG em outros países da Amé-rica Latina.Fonte: http://www.facebook.com.

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A fanpage da ONG no Brasil tem um quantidade de fãs considerável, cerca de 13.700 até o momento. A quantida-de de posts por dia, em média quatro, sempre divulga itens relacionado à ONG e ao trabalho contra a extrema pobreza, entre eles links, eventos, fotos, vídeos e algumas enquetes.Tudo isso mantém um bom engajamento dos usuários, com respostas rápidas e massivas, além da repercussão dos posts da ONG pelos próprios usuários, tudo por meio do compar-tilhamento.

Figura 27: 1) Banner lateral trocado conforme necessidade de divulgação de eventos. 2) Abas laterais da fanpage com informações diversas.

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As abas laterais são criadas e controladas pelo administrador da fanpage, são elas:

Informações: traz dados gerais da ONG, um breve histórico, modelo de ação, presença no Brasil, missão, e-mail, telefones, website e links oficiais ligados à ONG, como o twitter (figura 28), o canal no youtube (figura 29) e a fanpage da ONG da matriz no Chile.

Figura 28: conta da ONG no twitter utilizada para divulgar os principais eventos e links de interesse. Possui mais de 3.300 segui-dores.Fonte: http://twitter.com/#!/UmTeto_BRA

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Figura 29: canal no youtube, batizado de canalTETO, possui desde material produzido pela ONG até reportagens e vídeos que a citam ou que de alguma forma têm relação com a organização.Fonte: http://www.youtube.com/user/canalTETO?feature=chclk.

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Atividades de amigos: nela é possível ver as ativi-dades do seu círculo de amigos dentro da fanpage da ONG.

Um Teto para meu país: se apresenta uma espécie de quadro de avisos com banners de imagens estáti-cas com links para a campanha principal do momen-to. Um banner chamado “Quer ser voluntário?”, que leva ao site na seção de inscrição para ser voluntário. Ao lado há o banner “Plano de Sócios”, que leva ao site na seção do plano mensal para que pessoas físicas colaborem financeiramente com o projeto. “Colabore conosco” leva à página do site onde há os dados ban-cários para doações ocasionais. Há ainda um banner intitulado “Saiba mais sobre nosso trabalho”, onde são explicadas as três fases do projeto. Por fim, existem banners para o twitter, o canal no youtube e o site oficial no Brasil.

YouTube: logicamente mostra vídeos do youtube sobre a ONG, mas não necessariamente os vídeos do canal oficial da ONG no youtube.

Eventos: são mostrados os próximos eventos que a ONG promoverá, incluindo todos os detalhes, quem já confirmou participação e a opção de confirmar ou não a própria participação, além da possibilidade de poder exportar a lista de eventos nos formatos para a Apple iCal, Microsoft Outlook e Google Calendar. Em “Eventos anteriores” é possível acessar os últimos eventos desde o início do ano.

Notas: têm quase os mesmos conteúdos dos posts

do site, como avisos de próximos eventos. A diferença é que essa aba é mais aberta a posts mais informais do que no site, como, por exemplo, uma nota intitulada “Texto de um voluntário”.Trata-se de um relato lon-go, mas, de fato, emocionante sobre o que o voluntário sentia e o que via antes, durante e após a construção. Essa nota teve grande repercus-são na rede, com 32 compartilhamentos e 82 pessoas “curtindo”. Sim, o “curtir” se torna importante ao se considerar que tudo que o usuário “curte” aparece na timeline do mural pessoal do mesmo, ou seja, todos os amigos dele têm acesso ao que ele curtiu e podem interagir com o conteúdo.

Fotos: duas coleções de álbuns, uma de “Fotos de Um Teto Para Meu País”, em que há álbuns com fotos publicadas originalmente na própria fanpage da ONG, e outra coleção chamada “Fotos e vídeos com Um Teto Para Meu País”.Aqui, tratam-se de pessoas que publicaram fotos da ONG nos seus álbuns pessoais.

Links: uma seleção de posts mais relevantes feitos pela ONG ou pelos seus fãs.

Perguntas: há somente uma pergunta referente à participação na grande construção latino-americana de novembro, avisando o prazo para se inscrever e quatro opções de respostas, três positivas e uma ne-gativa.Há opção de enviar essa pergunta aos amigos, acompanhar as respostas e escrever algo sobre a pergunta. Essa aba, se bem utilizada, pode ser usada como métricas e incentivo de participação nos eventos.

Detalhadas todas as abas da fanpage oficial, faz-se importante apontar os grupos não oficiais formados pelos usuários do Facebook. Um grupo grande, mas não oficial, chamado“Tetcheros” é o maior grupo não oficial da ONG no Brasil, criado pelos próprios voluntários, cerca de 700 pesso-as até então.Esse grupo tem um grande movimento de troca de ideias para movimentar ações físicas e virtuais (figura 30).

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Figura 30: grupo criado no Facebook por voluntários da ONG.Fonte: http://facebook.com.

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Figura 31: grupo criado no Facebook por voluntários da ONG.Fonte: http://facebook.com.

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Os grupos temporários (figura 32), que são grupos criados por uma necessidade de trabalho no momento, por exemplo, um grupo de voluntários que trabalhou na Logística da construção de outubro de 2011 nasceu um mês antes da construção, para definir datas e organizar o trabalho da distribuição dos painéis das casas para as diferentes comunidades que iriam receber a construção. Isso pode envolver um trabalho de quatro finais de semana antes da construção e necessita de comunicação rápida e massiva, em uma equipe que chega geralmente a cinquenta pessoas.Existe um pico de movimentação enquanto o evento não ocorre, gerando muita discussão nesses grupos. Após o acontecimento do evento, os grupos continuam existindo, mas seus movimentos diminuem muito, havendo somente comentários esporádicos e questões pontuais de tempos em tempos.

14 Equipe responsável pelo carregamento de painéis das casas nos caminhões, descarregamento e distribuição dos painéis nos

locais da construção.

Figura 32: exemplo de grupo temporário criado para um trabalho específico.Fonte: http://facebook.com.

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A própria área de Logística e outras áreas do escritório central têm um grupo fixo ofi-cial no Facebook (figura 33). No caso, esses grupos são criados pelos próprios diretores, subdiretores ou coordenadores de área, for-mado por eles e pelos voluntários de cada área do escritório.

Outros pequenos grupos abordando a ONG podem existir, mas esse é o panorama geral da presença da ONG no facebook com suas principais representações. A seguir, ba-seados nos conceitos de ciberativismo, será trazido à discussão se essas ações na rede são de fato ciberativistas ou não.

Figura 33 Grupos fixos oficiais de alguma áreas do escritório central.Fonte: http://www.facebook.com.

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3.7.3 Ciberativismo no “Teto”?

A ONG Um Teto Para Meu País é ciberati-vista, de fato? Como já citado anteriormen-te, no capítulo sobre ciberativismo, para que ações na rede se configurem como cibera-tivismo não basta apenas que o conteúdo online seja lido, é preciso que a informação transponha o virtual e se faça conhecimen-to útil para ação na vida real. Partindo desse princípio, a ação na rede que mais pode se aproximar são os eventos criados no face-book (figura 34), onde as pessoas são convi-dadas a confirmarem a participação, discutir e opinar sobre.

No evento em questão, haviam 1.123 pes-soas confirmadas no facebook, sendo que compareceram de fato cerca de 800 pesso-as. Grande parte dessas pessoas sem dúvi-da foi mobilizada pelo engajamento que o evento proporciona aos participantes. É co-mum que usuários convidados divulguem e convidem outros usuários do facebook e que isso resulte em inscrições efetivas que não ocorreria com tanta facilidade de outra

Figura 34: Evento da Construção Latino-Americana 2011, criado no facebook dois meses antes da evento ocorrer.Fonte: http://www.facebook.com

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forma. Observa-se que os eventos do fa-cebook se configuram como ciberativistas, pois são ações que transpõe o virtual e po-tencializam ações no real.

Pode-se concluir, portanto, que assim como o website da ONG, que é informacio-nal, o facebook tem a função de informação e de mobilização ao mesmo tempo. O gran-de poder dessa rede em disseminar conteú-dos, promover discussões em torno de uma ação e solicitar uma decisão, de confirmar--se presente ou não no plano real do evento, torna essa presença realmente ciberativista.

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ConsideraçõesFinais

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Considerações Finais

Com um histórico de desigualdade e descaso her-dado desde a colonização, a América Latina detém uma preocupante marca de quase 200 milhões de pessoas vivendo em condições precárias. No Brasil, apesar de suas dimensões continentais, não é preciso ir tão longe dos grandes centros para se deparar com famílias, e até mesmo comunidades inteiras, que so-brevivem em estado de pobreza extrema. A urgência dessa situação faz com que pessoas, verdadeiros ci-dadãos de bem, se mobilizem e se dediquem, muitas vezes, durante uma vida inteira na tentativa de ame-nizar as falhas de um Poder Público ineficiente.

Graças a cidadãos como esses, foi formada, em 1997, a Organização Não-Governamental chilena Un-Techo Para Chile (Um Teto Para o Chile). Em 2006, suas atividades foram expandidas e a ONG chegou a São Paulo (Brasil), onde recebeu o nome de Um Teto Para Meu País. A perspectiva é que, a partir de 2012, novos escritórios sejam montados em outros estados e, com isso, que a atuação da entidade chegue até os mais necessitados.

A ONG Um Teto Para Meu País, acompanhando a evolução tecnológica, possui um site próprio, páginas (fanpages) no Facebook, conta no Twitter e canal no Youtube – tudo mantido e atualizado por voluntários. Porém, apesar de estar presente na internet, como constatado, ainda são poucas as ações que podem ser consideradas ciberativistas. Ainda há muito que fazer nesse sentido para que a marca da instituição seja melhor aproveitada.

Um dos recursos mais poderosos para reforçar as ações da ONG na rede e buscar torna-la ciberativa é o design. Por meio dele, aplicando seus conceitos e conhecendo melhor o público-alvo, novas propostas e soluções podem ser criadas e pesquisadas.

Com contribuições que podem variar desde a reprogramação visual do site, deixando-o mais atrativo ao público-alvo da ONG, formado por universitários, e se utilizando de conceitos de design de informação e de interface para organizar o conteúdo, as peças digitais (site, twitter, etc.) podem trazer muito mais voluntários.

A capacidade do design em promover mudanças, em alterar o status quo, pode, e deve, ser utilizada em situações como essa.

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Referências

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Livros

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Referências

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Artigos

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Teses e dissertações

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Anexos

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ANEXO 1 – Questionário socio-econômico aplicado para cadastro das famílias

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ANEXO 1 – Verso do questionário socio-econômico aplicado para cadastro das famílias

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ANEXO 2 – Etapas da construção da casa de emergência

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