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1 Preparação para a Congregação Geral 35 3a A OBEDIÊNCIA Introdução A Companhia deu passos importantes no campo da obediência, a partir da C.G. 31. Esta procurou atualizar a doutrina da obediência de acordo ao espírito de renovação (aggiornamento) da vida religiosa promovido pelo Concílio Vaticano II. A CG 31 nos convida a compreender e viver a obediência, ao mesmo tempo em fidelidade à idéia original de S. Inácio e de acordo com as mudanças culturais e de sensibilidade próprias do tempo. A Companhia continua reconhecendo na obediência o meio privilegiado, tanto para manter a união entre os jesuítas espalhados por todo o mundo, como para melhor discernir a vontade de Deus e realizar com maior eficácia a missão, como “servidores da missão de Cristo”. As CC.GG. 32, 33 e 34 não elaboraram nenhum decreto sobre a obediência. Este pode ser um tema sobre o qual a C.G. 35 diga uma palavra oportuna. Desafios que a época atual apresenta à obediência, as novas sensibilidades Concretamente, poderíamos enumerar os seguintes traços da cultura atual que têm a ver com o nosso tema: - O pluralismo valorativo pode desfazer a necessidade de estruturas de autoridade e de normas. - O individualismo leva a proceder por conta própria, seja por uma mal entendida autonomia, seja por não aceitar as exigências próprias do trabalho em equipe. - Em uma cultura secularizada não se compreende como um ser humano possa ser um válido mediador ou acompanhante do próprio discernimento da vontade de Deus. Dão-se, inclusive, interpretações da ‘vontade de Deus’ que virtualmente a reduzem a um sentimento piedoso. - O justo espírito de respeito aos direitos da pessoa pode ser mal entendido como contraposto ao exercício da obediência. - Por outra parte, em cada época histórica se dá uma influência entre a cultura e as características das novas gerações. Algumas destas características, mais de tipo pessoal e psicológico, podem influir de maneira importante na vivencia da obediência, por exemplo:

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Preparação para a Congregação Geral 35 – 3a

A OBEDIÊNCIA

Introdução

A Companhia deu passos importantes no campo da obediência, a partir da C.G. 31. Esta procurou atualizar a doutrina da obediência de acordo ao espírito de renovação (aggiornamento) da vida religiosa promovido pelo Concílio Vaticano II. A CG 31 nos convida a compreender e viver a obediência, ao mesmo tempo em fidelidade à idéia original de S. Inácio e de acordo com as mudanças culturais e de sensibilidade próprias do tempo.

A Companhia continua reconhecendo na obediência o meio privilegiado, tanto para manter a união entre os jesuítas espalhados por todo o mundo, como para melhor discernir a vontade de Deus e realizar com maior eficácia a missão, como “servidores da missão de Cristo”.

As CC.GG. 32, 33 e 34 não elaboraram nenhum decreto sobre a obediência. Este pode ser um tema sobre o qual a C.G. 35 diga uma palavra oportuna.

Desafios que a época atual apresenta à obediência, as novas sensibilidades

Concretamente, poderíamos enumerar os seguintes traços da cultura atual que têm a ver com o nosso tema:- O pluralismo valorativo pode desfazer a necessidade de estruturas de

autoridade e de normas.- O individualismo leva a proceder por conta própria, seja por uma mal

entendida autonomia, seja por não aceitar as exigências próprias do trabalho em equipe.

- Em uma cultura secularizada não se compreende como um ser humano possa ser um válido mediador ou acompanhante do próprio discernimento da vontade de Deus. Dão-se, inclusive, interpretações da ‘vontade de Deus’ que virtualmente a reduzem a um sentimento piedoso.

- O justo espírito de respeito aos direitos da pessoa pode ser mal entendido como contraposto ao exercício da obediência.

- Por outra parte, em cada época histórica se dá uma influência entre a cultura e as características das novas gerações. Algumas destas características, mais de tipo pessoal e psicológico, podem influir de maneira importante na vivencia da obediência, por exemplo: As dificuldades que atravessa a vida familiar influem nas atitudes quanto à

autoridade, seja por uma excessiva dependência, seja pela experiência de um exercício arbitrário da autoridade, que leva a rechaçar toda autoridade.

A maturidade afetiva dos jovens tem se atrasado e isso lança um desafio para os primeiros anos da formação. Às vezes dão-se processos de adolescência prolongada que dificultam a obediência inclusive na idade adulta.

A maioridade de muitos candidatos à Companhia traz consigo, por uma parte uma maior segurança e independência, e por outra, um desejo de autonomia que pode entrar em conflito com a obediência.

- Do ponto de vista do governo da Companhia, tem-se apresentado um novo desafio à obediência que, à luz da experiência passada, ainda requer uma clarificação: concretamente, em referência à relação entre o superior e o diretor de obra, especialmente quando este não é jesuíta.

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Documentos C.G. 31, Decreto 17 C.G. 32, Decreto 11, n. 27-33 Directivas para los superiores locales y para las relaciones entre el superior y

el director de obra (Roma: Curia General, 1998. Trad. in: O Superior Religioso e o Diretor de Obra, S. Paulo, Ed. Loyola, 1999, Coleção Ignatiana, n.42).

Carta do P. Geral sobre a Conta de Consciência (Roma, 21 Fevereiro 2005).

Algumas perguntas para a reflexão pessoal e comunitária

1. O P. Pedro Arrupe advertia a C.G. 31: “É uma nova arte de governar e uma nova arte de obedecer o que é preciso aprender” (Discurso à C.G. 31). Como se poderia atualizar esta recomendação?

2. Como apoiar os jesuítas a quem se pede o serviço de autoridade, a realizarem mais plenamente a sua missão? Como animá-los a realizarem essa missão sem que se imponham, nem o medo de governar, nem a preguiça de governar, nem o recurso a um autoritarismo antievangélico?

3. Aos membros das comunidades nos é pedido viver o “modo inaciano de obedecer”. Como favorecer a experiência espiritual profunda, mística, que nos faça capazes de viver, de novo “com gozo espiritual e perseverança”, a obediência como nos pede a Companhia, seja ao Supremo Pontífice, seja aos superiores da mesma Companhia? Por exemplo, aprofunda-se suficientemente na experiência do Inácio plasmada no Diário Espiritual (‘acatamento’, ‘reverência’, ‘humildade amorosa’, etc.)?

4. A vivência da obediência tem diversos matizes, conforme seja a etapa de sua própria vida religiosa em que se encontra o jesuíta: formação, apostolado de tempo completo, maioridade. Quais são os problemas próprios de cada etapa e que ajudas se podem oferecer ao jesuíta para manejá-los positivamente? Dada a maior ‘expectativa de vida’ para os jesuítas em geral, o que se tem pensado, o que se faz, para ajudar os nossos irmãos mais velhos a realizar em obediência um serviço inevitavelmente limitado pela idade, sentindo-se realmente úteis à missão da Companhia?

5. De maneira particular, como se pode viver mais frutuosamente e potencializar a conta de consciência, meio essencial para viver a obediência na Companhia? Tem sido suficientemente conhecida e aprofundada a carta do P. Geral a respeito (cf. Supra, “Documentos”)?