CERTO Melina da Silveira Leite Como se dá a … · Na sequência aparecem Whatsapp: 58%; Youtube:...
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Como se dá a interação entre jornais/portais e seus leitores através do Facebook
Melina da Silveira Leite1
Resumo: O presente trabalho buscou realizar uma investigação sobre interatividade em páginas do Facebook. Para tanto foram escolhidas as fanpages do portal de notícias BBC Brasil e dos jornais Folha de São Paulo e O Globo. Se ocorre interação nestes meios, entre produtor versus consumidor, através de comentários, como e quando se dá? A partir de monitoramento durante cinco dias consecutivos em um período de tempo para cada, foi possível observar que, por parte da BBC Brasil, existe interação em alguns casos, porém em apenas parte dos comentários, não em todos de determinada postagem. Já a Folha de São Paulo e O Globo não interagem com seus usuários. Propomos aqui uma análise sobre esta possibilidade de comunicação rápida entre emissor e receptor, diferente de tempos idos, quando não se tinha tanta tecnologia à disposição e a comunicação nem sempre era bidirecional. Mesmo diante desta possibilidade proporcionada pelas Redes, o contato entre ambos parece ser em pequena escala. Trazemos aqui uma reflexão sobre o posicionamento adotado pelas empresas que pretende fomentar a discussão sobre pontos que podem ser considerados positivos e negativos diante desta postura. Palavras-chave: Facebook. Interatividade. Jornalismo. Redes Sociais.
1 Graduada em Jornalismo; Especialista em Linguagens Verbais e Visuais e Suas Tecnologias; Mestranda em Ciências da Comunicação na linha de pesquisa de Linguagens e Práticas Jornalísticas pela Unisinos. Integra o Grupo de Pesquisa Estudos em Jornalismo (GPJor) e Laboratório de Investigação do Ciberacontecimento (LIC) da mesma Universidade. Jornalista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]
2
INTRODUÇÃO
Com o surgimento e desenvolvimento da Internet, atualmente todos os jornais
brasileiros de grande circulação, além de possuírem portais de notícias, estão
presentes em uma ou mais redes sociais. As mais populares costumam ser:
Facebook, Twitter, Instagram, Youtube, Google Plus e, mais recentemente, o
Snapchat e o aplicativo para troca de mensagens, Whatsapp. De acordo com dados
da pesquisa denominada “Pesquisa brasileira de mídia - Hábitos de consumo de mídia
pela população brasileira”, divulgada em 2015 pela Secretaria de comunicação social
da Presidência da República2, a rede social mais utilizada por usuários no Brasil é o
Facebook com uma porcentagem de 85%. Na sequência aparecem Whatsapp: 58%;
Youtube: 17%; Instagram: 12%; e, Google Plus: 8%3. Conforme a publicação (2014,
p.50) “O Twitter, popular entre as elites políticas e formadores de opinião, foi
mencionado apenas por 5% dos entrevistados4”. Se formos realizar uma pesquisa
informal na Internet, é possível encontrar diversas previsões, também informais, sobre
a queda de acessos ao Facebook em um futuro próximo. Entretanto, esse burburinho
já existe há algum tempo e o que se observa, através da pesquisa citada acima, feita
pelo Ibope Inteligência, é que esta rede social segue na liderança como a mais
utilizada no Brasil.
O acesso simplificado às mídias sociais, através de sites das redes sociais, no caso
de computadores e/ou por aplicativos em dispositivos móveis como smartphones e
tablets, propicia que os usuários se conectem a uma vasta rede de contatos e de
conteúdo. Estes, são personalizados, pois vão de acordo com gostos e preferências.
Se o usuário se interessar por rock, poderá, no caso do Facebook, curtir páginas de
revistas especializadas no tema, além das fanpages oficiais das bandas e cantores e,
também, das criadas por fãs. Pode ainda fazer parte de grupos abertos ou fechados
2 A coleta dos dados e o processamento das informações foram feitos pelo Instituto Ibope Inteligência. Para o desenho amostral foram utilizados dados do Censo Demográfico Brasileiro de 2010 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2011, do IBGE. O tamanho total da amostra foi fixado em 18.312 entrevistas, distribuídas em todo o Brasil. 3 Na época em que a pesquisa foi realizada, o Snapchat não existia, por isso não consta nos dados. 4 Os entrevistados puderam escolher múltiplas respostas.
3
que discutam sobre o tema. Isso possibilita, em ambos os casos, que ele partilhe e
compartilhe conteúdos e interaja com outros (não necessariamente) fãs da mesma
banda/cantor (a). De acordo com Jenkins (2009, p.29), “A circulação de conteúdos –
por meio de diferentes sistemas de mídias, sistemas administrativos de mídias
concorrentes e fronteiras nacionais depende fortemente da participação ativa de
consumidores”, isso reforça a ideia de que as redes sociais, como o Facebook,
potencializam a interação, através do espalhamento de conteúdos entre usuários,
sejam eles produtores e consumidores ou apenas entre consumidores.
A interação no Facebook pode ser através dos reactions que são ícones que
representam as seguintes emoções: Curtir, Amei, Haha, Uau, Triste e Grr - e por
comentários que podem gerar outras manifestações de humor, além de réplicas,
tréplicas e assim por diante, na forma de comentários, a partir do que foi escrito. Em
alguns casos, o usuário só conseguirá interagir, mediante permissão do (s)
administrador (es) da página.
Figura 1 (Reactions do Facebook) Fonte: facebook.com
Conforme Primo (2007, p.7) “(...) uma rede social online não se forma pela simples
conexão de terminais. Trata-se de um processo emergente que mantém sua
existência através de interações entre os envolvidos”. As redes sociais, algumas de
forma semelhante, outras de maneira diferente, possibilitam a interação entre pessoas
instantaneamente. O exemplo citado foi rock, mas existe uma infinidade de páginas e
grupos que versam sobre os mais diversificados assuntos: cinema, livros, culinária,
religião, ensino, lugares, esportes, carros, jornais, revistas e etc.
O presente trabalho pretende analisar, a partir do que foi até aqui exposto, se existe
e como se dá a interação entre (administradores de) páginas de jornais/portais no
Facebook, com seus leitores, por meio de comentários. Para isso foram escolhidas,
4
aleatoriamente três fanpages: BBC Brasil5, Folha de São Paulo6 e O Globo7. Serão
relatados, porém sem análise, o número de reactions, compartilhamentos e
comentários dos posts exemplificados.
AS INTERAÇÕES NA BBC BRASIL, FOLHA DE SÃO PAULO E O GLOBO
Criada em 1926, na Grã-Bretanha, a BBC é detentora do monopólio radiofônico no
Reino Unido. Os serviços da BBC Brasil iniciaram-se em 1938, através de diferentes
tipos de mídia. O site de notícias foi criado em 1999. Conforme consta na descrição
do portal “Além do seu próprio site, o conteúdo jornalístico da BBC Brasil aparece em
vários sites parceiros, entre eles os principais portais e sites de notícias do país”. A
página no Facebook foi criada em fevereiro de 2010 e conta com 2.347.548
curtidores8. A análise da fanpage do Facebook da BBC Brasil compreendeu as postagens
realizadas dos dias 12 a 16 de junho de 2016. O que se pôde observar é que existe
interação do portal (administradores) com os usuários, apenas em alguns casos.
Durante este período ocorreram em três postagens:
1) Sob a descrição “(Parte 2) Como a população de rua enfrenta a onda de frio em
SP? Participe do nosso bate-papo ao vivo:”, a postagem não possui título por não ter
link de redirecionamento. Trata-se de um vídeo de 38 minutos e 30 segundos,
presente exclusivamente no Facebook. O conteúdo, com data de 14/06, às 16h33min,
mostra o bate-papo entre um repórter do portal, três moradores de rua e um padre.
Durante a transmissão, o jornalista explica que os leitores podem participar da
conversa, mandando perguntas através das mídias sociais, porém não especifica
quais são. A postagem teve 27 mil visualizações, 1.100 curtidas (reactions)9, 147
5 https://www.facebook.com/bbcbrasil/ 6 https://www.facebook.com/folhadesp/ 7 https://www.facebook.com/jornaloglobo/ 8 Dado colhido no dia 13/07/2016. 9 As curtidas feitas pela autora deste trabalho, serão desconsideradas, porque foram para efeito de marcação dos posts. As emoções, independentemente de quais sejam, serão descritas sempre como curtidas neste estudo.
5
compartilhamentos e 585 comentários10. Destes, os 18 primeiros (feitos das 16h49min
às 16h51min) foram respondidos pela BBC Brasil (das 18h29min às 18h52min) no
mesmo dia. Os comentários, em sua grande maioria, são em tom de elogio pelo “belo
trabalho” apresentado. A BBC Brasil, responde cada um destes comentários, uns de
forma igual, outros de maneira diferente, agradecendo e mencionando o nome do
leitor.
Figura 2 (Comentário na página do Facebook da BBC Brasil)
2) Com a descrição: “#MAISLIDAS Wagner Moura está de volta como o traficante
Pablo Escobar na segunda temporada de Narcos, a partir de 2 de setembro. Assista
ao #VÍDEO em que mostramos que - apesar do sucesso da primeira temporada - a
atuação do brasileiro dividiu opiniões em Bogotá” e o título “O que os Colombianos
acham de ‘Narcos’?”, houve a interação com um leitor que elogiou a matéria. Na
resposta por parte da BBC, eles sugerem outra matéria feita pelo portal. O post, do
dia 13/06, às 20h22min, tem 399 curtidas, 21 compartilhamentos, 39 comentários11.
10 Dados até o dia 13/07/2016. 11 Dados até o dia 13/07/2016.
6
Figura 3 (Comentário na página do Facebook da BBC Brasil)
3) O post com o título “A menina que trabalhava em pedreiras, virou desembargadora
e hoje luta contra o trabalho infantil” e descrição “Zuíla Dutra sabe que ela própria é
uma exceção. Em sua trajetória, destaca seguidamente o papel da mãe, Oscarina. ‘Já
adulta, eu ensinei minha mãe a escrever o nome. Minha mãe está viva, tem 85 anos,
e foi a minha posse como desembargadora. É minha heroína, orgulha-se’”, do dia
13/06, às 9h43, gerou 837 curtidas, nenhum compartilhamento e três comentários12,
destes, um foi respondido pela BBC Brasil de forma mais ampla e elaborada.
Figura 4 (Comentário na página do Facebook da BBC Brasil)
De circulação nacional, a Folha de São Paulo é um jornal impresso diário, fundado em
1921, na cidade de São Paulo-SP. Em sua descrição se diz como “o primeiro veículo
de comunicação do Brasil a adotar a figura do ombudsman e a oferecer
conteúdo online a seus leitores”. O site de notícias do jornal foi fundado em 1995.
12 Dados até o dia 13/07/2016.
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Como o Facebook não disponibiliza a data de criação das páginas e este dado não
consta no perfil, não se sabe quando o Facebook da Folha foi criado. Atualmente conta
com 5.579.469 curtidores13.
Analisada de 10 a 14 de junho de 2016, a Folha de São Paulo não interage com seus
leitores. Durante o período de observação não foram encontradas situações
polêmicas, apenas um fato curioso. Quando os leitores pensaram ter encontrado um
erro, aprenderam algo que desconheciam no português: gradis é plural de gradil que
é sinônimo de grade. A postagem de 11/06, às 21h15min, não tem descrição e traz
como título: “Gradis são parcialmente retirados do entorno da casa de Temer em SP”.
A explicação foi postada por um leitor em resposta a usuários que discorriam sobre o
suposto erro. O jornal não se manifestou. Foram 318 curtidas, 110 comentários e 19
compartilhamentos14.
Figura 5 (Comentários na página do Facebook da Folha de SP)
O Globo é um jornal impresso carioca de circulação diária estadual, fundado em 1925,
no Rio de Janeiro-RJ. O site do jornal foi criado no ano de 1996. “A essa incursão
13 Dado colhido no dia 13/07/2016. 14 Dados até o dia 14/07/2016.
8
inicial do Globo na internet seguiu-se, ao longo dos anos seguintes, o lançamento de
outras plataformas digitais”, embora citado na página de memórias em sua linha do
tempo, não constam informações sobre a data de criação da página do Facebook.
Atualmente conta com 4.838.092 curtidores15.
Monitorado de 16 a 20 de junho de 2016, O Globo não interagiu em nenhum momento
com seus leitores, que, por duas vezes neste período, alertaram sobre erros de
ortografia. Somente um deles foi corrigido. Intitulado “Cérebros de jovens com desvios
de conduta têm 'marcas da rebeldia'”, a descrição do post do dia 18/06, às 4h, trazia
a palavra “Estupo” ao invés de “Estudo”: “Estupo mostra a importância do papel do
órgão na hora de explicar os comportamentos antissociais”. Alertado sobre o erro, o
jornal fez a correção sem se manifestar. Foram 168 curtidas, 29 comentários e 25
compartilhamentos16.
Figura 6 (Comentários na página do Facebook do Globo)
Sob o título “Modelo capixaba Naira Lili vai para Londres, epois de deixar o trabalho
como feirante”, a postagem do dia 18/06, às 12h45min, traz como descrição “Ela conta
15 Dado colhido no dia 13/07/2016. 16 Dados até o dia 14/07/2016.
9
que, até os 12 anos, só usava roupas de segunda mão. No entanto, conseguiu tirar a
mãe do trabalho.” Os leitores alertaram o veículo acerca do erro de ortografia
apresentado no título, “epois”. O Globo não corrigiu, nem se manifestou. O post teve
1,3 mil curtidas, 68 comentários e 51 compartilhamentos.17
Figura 7 (Post na página do Facebook do Globo)
POSICIONAMENTO DAS EMPRESAS E COMPORTAMENTO DO LEITOR
A BBC Brasil interagiu com seus leitores em três posts, em dois, dos cinco dias
monitorados. Nos dois primeiros exemplos, houve interação em agradecimento a
elogios, com reforço de propaganda de suas iniciativas “Nosso plano é fazer com mais
frequência, ouvir nosso público, acertar o formato, corrigir alguns problemas e, em
breve, lançar um projeto diário”, escreveu referindo-se ao primeiro post, além do
pedido de divulgação “Continue conosco e compartilhe com os amigos!”. Foram 18
17 Dados até o dia 14/07/2016.
10
interações, que representam 3,07%, de 585 comentários. Os leitores, sim, interagiram
bastante entre si.
De acordo com Rudiger (2011, p. 13): Na nova mídia digital, a comunicação, com efeito, é interativa em sentido simultaneamente específico e ampliado: ampliado, por um lado, porque permite a interação humana ativa e em mão dupla com os próprios meios e equipamento que a viabilizam; específico, de outro, porque essa circunstância permite ainda a interação social ativa e em mão dupla entre os seres humanos, ao ensejar o aparecimento de redes sociotécnicas participativas que transcendem a sua pura e simples interligação social, como ocorria na esfera da velha mídia.
As redes sociais e seus sistemas de interação, permitem que, de forma rápida, se
estabeleça um diálogo entre emissor e receptor e assim sucessivamente. Diferente
dos tempos em que a tecnologia não era tão vasta e a interação não era imediata, a
exemplo das cartas enviadas às redações. O segundo post, segue a mesma linha do
anterior, a divulgação de outra reportagem que trata de um tema de interesse do leitor.
O curioso é que neste post foram 39 comentários, pouco se comparado ao exemplo
antecedente. Houve interação apenas no primeiro.
Já o terceiro, destoou bastante dos anteriores, neste caso a empresa tomou partido e
exprimiu opinião. No primeiro, dos três comentários deste post, o usuário questiona a
luta contra o trabalho infantil, diz que trabalha desde cedo e o trabalho dignifica o
homem. A BBC agradeceu educadamente por ele ter compartilhado a sua história e
colocou que outras pessoas têm opiniões semelhantes, entretanto a maioria,
geralmente de forma confidencial, relata o oposto. Explica que para a
desembargadora, a mãe teve um papel diferencial e questiona “Mas o que mais a
criança poderia ter alcançado se tivesse tido uma infância com mais oportunidades e
obrigações proporcionais a sua idade?” E, por fim, esclarece que o trabalho infantil é
ilegal. Essa resposta da BBC dentro do comentário rendeu outros seis comentários
de leitores apoiando e criticando, e do próprio autor fazendo uma defesa do que
escreveu.
Nota-se, através desses comentários, que as pessoas gostam de colocar seus pontos
de vista, independente se estão de acordo com leis e normas e (porque não dizer)
sendo politicamente corretas. Essa ideia vai ao encontro do que coloca Wolton (2001,
p. 15) “Os receptores, ou seja, os indivíduos e os povos, resistem às informações que
11
os incomodam e querem mostrar os seus modos de ver o mundo”. Uma das mais
antigas teorias e/ou escolas, o Interacionismo Simbólico (IS), termo criado por Herbert
Blumer em 1937, diz que uma pessoa não pode ter significado para alguma coisa
independentemente da interação com outros seres humanos. Não existe ação
humana, separada da interação. Tudo o que é feito pela pessoa se forma através da
interação com outras pessoas (Blumer, 1980). Fato observado nessas postagens. As
pessoas sentem a necessidade de compartilhar suas opiniões com outras e o fazem
através de comentários que, normalmente, geram interações.
De acordo com Primo (2008), o interacionismo, seria uma oposição à análise que
fragmenta o processo de comunicação em partes, a exemplo das visões
transmissionistas e funcionalistas de Shannon e Weaver com a teoria matemática e
Lasswell com a propaganda massiva, pois surge para investigar como ocorrem as
interações entre os indivíduos, em contraposição ao modelo linear: emissor, canal,
mensagem, receptor. Os outros dois comentários da postagem apresentam defesa e
crítica ao assunto. Para estes não houve nenhum tipo de manifestação por parte da
BBC, o que demonstra que a empresa não deixa de interagir por excesso de
comentários, o que poderia ser o motivo em comparação aos posts anteriores, visto
que nesse caso foram apenas três, desconsiderando as interações textuais dentro de
um mesmo comentário. Talvez a razão para isso, seja para evitar a multiplicação de
opiniões polêmicas e/ou raivosas, bastante comuns em páginas de redes sociais.
Já a Folha de São Paulo, não interagiu em nenhum post, sob nenhuma circunstância.
O jornal possui um link chamado “notas” no Facebook em que apresenta termos e
condições de uso dos comentários. São oito tópicos em que lista regras para uso do
espaço. Dentre eles, no terceiro tópico consta “A Folha não se responsabiliza pelo
conteúdo de nenhum comentário. A Folha reserva-se o direito de eliminar comentários
em desacordo com o propósito do site, a seu exclusivo critério”, porém não tem como
saber se, de fato, apagam comentários, visto que, a exemplo do post em que os
usuários apontaram um possível erro, não parecem importar-se com o que eles
escrevem. A Folha poderia ter explicado aos leitores que a utilização da palavra gradis
estava certa, no entanto, não houve nenhum tipo de manifestação. O esclarecimento
ficou por conta de um leitor. Isso gerou bastante interação entre usuários.
12
O Globo também não interage com os leitores. Nos dois casos observados, em que
ocorreram erros de ortografia e alerta disso por parte dos leitores, O Globo não se
manifestou. Em um dos posts, o erro foi corrigido, porém sem aviso. Nem
agradecimento pelo fato de os usuários avisarem e nem algum tipo de sinalização de
que a palavra havia sido consertada. No segundo caso, mesmo sob diversos avisos
dos leitores, a empresa não arrumou a palavra “epois”. Talvez os alertas feitos pelos
consumidores tenham passado despercebidos pelo jornal que manteve a postagem
da mesma forma, sem nenhum tipo de alteração.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As empresas jornalísticas precisam de audiência para manterem-se ativas. Em uma
época na qual o jornalismo enfrenta uma grande crise, não apenas econômica, mas
também em razão do surgimento de mídias alternativas e gratuitas, o que oferecer
aos usuários como diferencial e como mantê-los? Estão aí as redes sociais de portais/
jornais que têm como função não apenas comunicar e informar, mas atrair os
consumidores. Despertar-lhes interesse, para além da audiência, quem sabe como
leitores em potencial que comprem assinaturas, uma forma de buscar anunciantes e
garantir rentabilidade.
Muitas vezes, atraídos pelo título ou descrição de uma postagem, o leitor não se
interessa em clicar no link para saber do que realmente trata o assunto, ler o conteúdo
e absorver a informação. O pouco que lhe é fornecido, basta para ter e expôr a sua
opinião nos comentários. Polemizando, ponderando, apenas dando um pitaco, seja lá
qual for a forma, muitos usuários se tornam incansáveis comentaristas no Facebook.
Existe muita interação entre leitores, entretanto nem sempre há por parte das
empresas com seus usuários, seja quando fazem elogios ou questionamentos. Há
bastante crítica, ofensa, mas até que ponto o silêncio por parte das empresas é o
ideal? Fala-se em humanização das redes sociais. Em contraposição a isso, a ideia
que muitas empresas passam é de que a postagem é feita por uma máquina e que ali
não há uma pessoa de carne, osso, sentimentos e opiniões, escrevendo e publicando.
A exemplo do comportamento adotado pela Folha e pelo O Globo, não existe o que
Rudiger (2011) define como via de mão dupla, em que existam trocas, pois o conteúdo
13
é postado e a impressão que geralmente passa é de que se preocupam com a próxima
postagem, esquecendo por completo a anterior e assim por diante, afinal é inegável a
abundância de produção e circulação de conteúdo neste meio.
Para Mielniczuk e Silveira (2008, p. 176) “A internet passou a ser vista e pensada
como uma plataforma, onde os indivíduos geram conteúdos, discutem, buscam
informações e se relacionam”. Como potencial produtor de conteúdo, será que as
empresas estão tomando a postura correta de não interagir com seus públicos e
investir na cultura colaborativa, ou então, como é o caso da BBC Brasil, interagir
apenas em alguns casos com parte deles? Na postagem do vídeo eles solicitam
sugestões de pautas aos leitores, mas caso estes o tenham feito, será que foram
lidas?
Wolton (2011, p.74) faz uma crítica dizendo que “a mídia recorre cada vez mais ao
público para saber o que ele ‘pensa e quer’, ignorando que esse procedimento se
transforma facilmente em sistema de pressão”. Ele critica ainda a revolução da
informação, em que os jornalistas fazem apurações de dentro da redação, diante de
telas de computador, sem ter o contato com o que de fato está acontecendo na rua.
Para ele isso nada mais é do que uma nova configuração empresarial para que se
tenham menos jornalistas, produzindo mais. Talvez esta seja a resposta para o fato
de não haver muita interação por parte das empresas de jornalismo: faltam
profissionais e tempo para fazê-lo, visto que atualmente os jornalistas precisam fazer
mil coisas ao mesmo tempo e atuar em diferentes áreas. Nem sempre dão conta do
trabalho, é a antiga e tão atual lógica comercial de que é preciso fazer mais com
menos.
Por outro lado, se forem interagir em todos os comentários, várias podem ser as
repercussões negativas: problemas de interpretação que gerem discussões
intermináveis, necessidade de tomada de postura e até de partido, como é o caso de
notícias políticas e que impactam economicamente na vida das pessoas. Ficam mais
questionamentos do que certezas. Essa é uma longa discussão que não cessa aqui e
que, com certeza, pode render inúmeros outros trabalhos e tensionamentos.
REFERÊNCIAS:
14
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