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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local ANA PAULA RIBEIRO RODRIGUES ENSINO MÉDIO INTEGRADO: Atualidade do debate em torno do princípio educativo do trabalho Belo Horizonte 2014

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

ANA PAULA RIBEIRO RODRIGUES

ENSINO MÉDIO INTEGRADO:

Atualidade do debate em torno do princípio educativo do trabalho

Belo Horizonte

2014

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ANA PAULA RIBEIRO RODRIGUES

ENSINO MÉDIO INTEGRADO:

Atualidade do debate em torno do princípio educativo do trabalho

Dissertação apresentada ao Programa de pós-

graduação em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro

Universitário UNA, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Inovações Sociais,

Educação e Desenvolvimento Local.

Linha de pesquisa: Educação e

Desenvolvimento Local.

Orientadora: Profa. Drª. Eloisa Helena Santos.

Belo Horizonte

2014

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Ao meu pai,

meu chão, meu céu, meu mundo,

que com seu exemplo me ensinou a amar tudo e a todos,

das pequenas às grandes coisas da vida.

E com o seu saber-fazer ensinou-me a saber-ser.

Minha eterna gratidão...

Ao Adriano, meu amor,

companheiro, marido e maior incentivador neste projeto,

que com sua firmeza soube me orientar

e com sua doçura soube acolher minhas angústias

e não me deixar desistir.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus, por estar sempre comigo.

À minha orientadora, Professora Eloísa Helena Santos, que com sua sabedoria e paciência

guiou-me, acolheu minhas angústias e instigou-me, fazendo-se abrir novos caminhos e

acima de tudo possibilitando construir uma nova Ana ao longo desta pesquisa.

À Professora Matilde Cadete e Lúcia Afonso, que com seu carinho maternal e o jeito doce

de ver a vida permitiu que esta caminhada se tornasse mais suave.

A Lucília Machado e Gaudêncio Frigotto, intelectuais que, lutando pelas mesmas causas,

contribuíram ativamente no debate aqui referido; e com as entrevistas a mim concedidas

enriqueceram de forma primorosa a construção desta pesquisa.

À diretora da minha escola, que permitiu minhas ausências e apostou em mim.

A minha sobrinha, Bárbara, que nos primeiros momentos desta caminhada foi os meus

passos...

À minha sogra e segunda mãe, pelo apoio incondicional.

Às antigas e eternas amizades, Kamilla, Júnia, Fabiana e Kelly, que compreenderam

minhas ausências e só fizeram confirmar nossos laços.

Às amizades conquistadas, Vitor de Lazzari, Fabiana Fadul, Michelle Alves e Cátia Pontes,

que compartilharam angústias, enxugaram minhas lágrimas, dividiram pizzas e muitas

risadas. Espero que os laços se eternizem e as pizzas façam sempre parte de nosso

cardápio, registrando bons momentos.

Por último, e não menos importante, aos professores sujeitos desta pesquisa, que

dispensaram a mim alguns preciosos momentos desse ritmo frenético de trabalho. Sem

vocês, nada disto se concretizaria.

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“A força de Marx é de ter fundamentado todos esses ideais liberais e comunistas, não

sobre um desejo abstrato do dever ser, como acontece com todos os fundadores idealistas

do liberalismo, mas pela constatação de um poder ser; não a partir da moral, mas da

realidade efetiva, e, portanto, pelos progressos da história, seja na produção da vida

material, seja na organização da vida espiritual, cultural, política, como um possível

desenvolvimento racional da história da humanidade em seu caminho pleno de contrastes”.

Mario Alighiero Manacorda.

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RESUMO

Este estudo é fruto de uma pesquisa que se originou no seguinte problema: de um lado, o

debate referente ao princípio educativo do trabalho expressa uma produção de

conhecimento no campo da educação, que revela avanços teóricos significativos acerca da

proposta de formação integral para o ensino médio integrado. Do mesmo modo, expressa a

mobilização de setores da sociedade em torno da proposta. que revela avanços políticos

expressivos. De outro lado, apresenta-se uma dificuldade que se identifica nos Projetos

Político Pedagógicos (PPPs) das escolas como também nos planos de ensino e na prática

cotidiana de docentes e discentes: a de incorporar o princípio educativo do trabalho no

currículo do ensino médio integrado. Essa contradição constituiu o problema que conduziu

esta pesquisa. A questão central que se buscou responder foi: como se manifesta o debate

em torno da incorporação do princípio educativo do trabalho entre os professores das áreas

de conhecimentos gerais e específicos nos cursos da área de informática na modalidade

integrado em três instituições públicas de educação profissional? O objetivo foi analisar a

atualidade do debate em torno da incorporação desse princípio educativo entre os

professores das áreas de conhecimentos gerais e específicos nos cursos e na modalidade

citados, em três instituições públicas que ofertam educação profissional. Para isso,

considerou-se o desenvolvimento de contribuição técnica na área de educação voltada para

o desenvolvimento local e com características de inovação social. Para realizar esse

objetivo, utilizou-se a abordagem qualitativa e optou-se pelo tipo descritivo. Dos

procedimentos da pesquisa constaram: uma etapa bibliográfica e outra empírica. O cenário

da pesquisa abrangeu três instituições que ofertam ensino médio integrado: duas em Belo

Horizonte e outra no interior de Minas Gerais. Os sujeitos foram 16 professores da área de

conhecimentos gerais e quatro da área de conhecimentos específicos. Os resultados da

pesquisa compõem o presente trabalho, que se estrutura da seguinte maneira: a introdução;

o capítulo 1, que apresenta o debate em torno do princípio educativo do trabalho - os

sujeitos protagonistas do debate, entidades envolvidas no debate, influências sobre as

políticas educacionais, conceitos que sustentam o debate, proposta de ensino médio

integrado e as considerações finais; o capítulo 2, que relata os dados da pesquisa empírica,

bem como sua análise. A proposta de intervenção, exigência relativa ao Mestrado em

Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, consiste em um informe técnico. Esse

informe técnico descreve as contribuições da pesquisa, na forma de apontamentos, que

problematizam a incorporação referente ao debate sobre o princípio educativo do trabalho

entre os docentes dos cursos de ensino médio integrado, que se manifesta na concepção e

experiência que os docentes têm da integração. Este documento será remetido aos gestores

e docentes das três instituições envolvidas na pesquisa. Compõe, ainda, a pesquisa, um

capítulo de considerações finais seguido dos apêndices.

Palavras-chave: Princípio educativo do trabalho. Ensino médio integrado. Educação e

desenvolvimento local.

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ABSTRACT

This work is the result of a research which originated in the following problem: on one

hand, the debate regarding the educational principle of work expresses a production of

knowledge in the field of education that reveals significant theoretical advances on the

proposed integral education for integrated high school.Similarly, expressed the

mobilization of segments of society surrounding the proposal which reveals expressive

political advances. On the other hand, it presents a difficulty which identifies the Political

Pedagogical Project - PPP - of the schools as well as in the curriculum and in the daily

practice of teachers and students: to incorporate the educational principle of work in the

integrated high school curriculum. This contradiction constituted the problem that led this

research. The central question that we sought to answer was how to manifest the debate on

the incorporation of the principle of educational work among teachers in the areas of

general and specific knowledge in the area of information technology in integrated mode

courses in three public institutions of vocational education? The objective was to analyze

The actuality of the debate surrounding the incorporation of the principle of educational

work among teachers in the areas of general and specific knowledge in courses in

information technology in integrated mode, in three public institutions that offer

professional education with a view to the development of technical contribution in the area

of education directed to the local development and characteristics of social innovation. To

accomplish this objective a qualitative approach was used and the descriptive type was

chosen. Procedures consisted of a literature survey and other empirical phase. The scenario

of the research covered three institutions that offer integrated high school: two in Belo

Horizonte and another in Minas Gerais. The individuals were 16 teachers of general

knowledge area and 4 of the specific knowledge area. The research results that comprise

this dissertation are structured as follows: the introduction.Chapter 1, which presents the

debate on the educational principle of work: the protagonists individuals of the debate,

entities involved in the debate, influences on educational policies, concepts that sustain the

debate, proposed integrated high school and the final considerations.Chapter 2, which

presents the data of the empirical research as well as their analysis. The proposal of

intervention, requirement for Masters in Social, Education and Local Development

Management, that consists of a technical report.This technical report presents the research

contributions in the form of suggestions and recommendations that problematize the

incorporation refering to the debate on the principle of educational work among the faculty

members of integrated high school, which is manifested in the design and experience that

teachers have of the integration.This document will be submitted to managers and

professors of the three institutions involved in the research. Also comprise the dissertation,

a chapter of final considerations followed by appendices.

Key words: Educational Principle of work. Integrated high school. Education and local

development.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na

instituição A........................................................................................

62

QUADRO 2 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na

instituição B........................................................................................

62

QUADRO 3 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na

instituição C........................................................................................

63

QUADRO 4 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na

instituição A........................................................................................

96

QUADRO 5 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na

instituição B........................................................................................

97

QUADRO 6 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na

instituição C........................................................................................

98

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANDE Associação Nacional de Educação

ANPED Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação

CBE Conferência Nacional de Educação

CEDEC Centro de Estudos da Cultura Contemporânea

CEDES Centro de Estudos de Educação e Sociedade

CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica

CNPq Conselho Nacional de Pesquisa Certifica e Tecnológica

COLTEC Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais

CONCEFET Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação

Tecnológica

CONED Congresso Nacional de Educação

CONIF Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica

CONSED Conselho Nacional dos Secretários de Educação

CUT Central única dos Trabalhadores

EFA Escola da Família Agrícola

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

EPSVJ/FIOCRUZ Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio

FHC Fernando Henrique Cardoso

FNDEP Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública

GT Grupo de Trabalho

IF Instituto Federal

IFRN Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande

do Norte

LDB Lei de Diretrizes e Bases

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação e Cultura

MS Ministério da Saúde

MTE Ministério do Trabalho e Saúde

PNE Plano Nacional de Educação

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PPFH Políticas Públicas e Formação Humana

PPGEP Programa de Pós-Graduação Educação Profissional

PPP Projetos Político-Pedagógicos

PROEJA Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a

Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos

PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego.

Institucional

PUC Pontifícia Universidade Católica

SEMTEC Secretaria de Educação profissional e Tecnológica

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SINASEF Sindicato Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação

SISTEC Sistema Nacional de Informações da Educação

UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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SUMÁRIO1

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13

2 ENSINO MÉDIO INTEGRADO: ATUALIDADE DO DEBATE EM TORNO

DO PRINCÍPIO EDUCATIVO DO TRABALHO....................................................

26

2.1 Introdução............................................................................................................. 26

2.2 Sujeitos protagonistas do debate........................................................................... 29

2.3 Entidades envolvidas no debate............................................................................ 33

2.4 Influências sobre as políticas educacionais de 1980............................................. 40

2.5 Conceito, noções e teorias que sustentam o debate............................................... 48

2.6 Ensino médio integrado........................................................................................ 53

2.7 Considerações finais............................................................................................. 55

3 ANÁLISE DE DADOS........................................................................................... 59

3.1 A incorporação do princípio educativo do trabalho pelos professores do ensino

médio integrado..........................................................................................................

59

3.1.1 Introdução.......................................................................................................... 59

3.1.2 A concepção de princípio educativo do trabalho e de ensino médio integrado

do ponto de vista dos estudiosos do tema...................................................................

64

3.1.3 A experiência dos professores sobre a incorporação do princípio educativo

do trabalho no ensino médio integrado.......................................................................

69

3.1.4 A concepção de integração do ponto de vista dos estudiosos do tema.............. 75

3.1.5 A experiência dos professores sobre a integração no ensino médio integrado.. 76

3.1.6 Considerações finais.......................................................................................... 83

4 INFORME TÉCNICO............................................................................................. 85

4.1 Introdução............................................................................................................. 85

4.2 Considerações finais............................................................................................. 104

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo Ortográfico

assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em vigor no

Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com a ABNT NBR 14724 de 17.04.2011.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 106

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 111

APÊNDICES E ANEXO............................................................................................ 119

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1 INTRODUÇÃO

O interesse pela educação profissional sempre esteve presente para pesquisadora. Ainda

adolescente, interessou-se pelo curso técnico no Centro Federal de Educação Tecnológica

(CEFET) e Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (COLTEC), nos

quais fez processos seletivos ao terminar o ensino fundamental, sem sucesso, e o curso de

formação gerencial que cursou no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)

logo após concluir o magistério.

Por um momento esse interesse permaneceu latente, mas veio à tona novamente quando,

em outubro de 2012, a pesquisadora foi convidada a lecionar, durante um mês, a disciplina

Psicologia do Trabalho, no curso de Segurança de Trabalho, no SENAI de Pedro

Leopoldo. O curso é destinado a todos que estejam cursando ou já tenham concluído o

ensino médio.

Ao adentrar essa experiência de lecionar em um curso técnico, a pesquisadora começou a

perceber que os componentes da disciplina que ministrava eram incapazes de aliar

conhecimentos gerais e específicos e, ainda, que os alunos queixavam-se do seu conteúdo

demasiadamente teórico.

Essa experiência revelou à pesquisadora as dificuldades do curso e dos docentes de

realizarem a articulação entre trabalho e educação. Do mesmo modo, aumentou o seu

interesse em permanecer nessa área e atuar na docência para a formação de professores da

educação profissional e em equipes de gestão que trabalhem diretamente com a educação

profissional.

A opção por investigar este tema de pesquisa contribuiu para que esta autora se

qualificasse para ampliar suas possibilidades de atuação profissional em uma área de

interesse que fez parte da sua trajetória acadêmica e profissional, bem como circunscreveu

o seu problema de pesquisa, conforme se apresenta a seguir.

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O percurso histórico da educação no Brasil demonstra que o cenário é de complexo

problema educacional que precisa ser reconhecido e enfrentado, principalmente como um

problema político. A sociedade é construída historicamente em pilares cuja lógica produz e

reproduz desigualdades sociais que expressam “dualidades estruturais, tais como: inclusão

e exclusão social, trabalho manual para índios e escravos, trabalho livre e intelectual para

as elites, escola acadêmica para poucos e educação profissional para os trabalhadores”

(GARCIA; CUNHA, 1991, p. 7). A educação reproduz essa dualidade estrutural, pois traça

caminhos distintos para as diferentes classes sociais. Ela não unifica, mas segrega ao

constituir uma educação que forma trabalhadores manuais e trabalhadores intelectuais. E é

no ensino médio que essa dualidade mostra a sua face mais explícita.

De acordo com Pacheco (2012), este tema há muito tempo aglutina educadores e suscita

debates que ganharam força nas últimas décadas, ao buscar superar a dualidade entre

formação específica e formação geral no ensino médio, sobretudo no ensino técnico de

nível médio.

Para Cardozo (2010), a proposta que busca superá-la fundamenta-se na concepção de

educação politécnica, que se opõe a uma educação unilateral, ou seja, aquela provocada

pela divisão social do trabalho, que é determinada pelos interesses do capital. O autor

pontua que a proposta de educação omnilateral tem origem em Marx, da qual nasce o

conceito da formação humana integral defendida pelos educadores brasileiros.

A educação omnilateral pressupõe uma ruptura com o homem alienado pelas relações

capitalistas (SOUSA JÚNIOR, 2009). Para que isso aconteça, a formação do ser social

implica considerar uma totalidade que envolva as dimensões intelectual, física, política,

afetiva, cultural. Sua finalidade é a emancipação humana. Nessa perspectiva, a educação se

volta para além do horizonte do capital e leva em consideração as necessidades individuais

e sociais dos formandos. Busca-se a formação de homens que se posicionem

historicamente, se reconheçam em sua liberdade, consigam superar seu individualismo e

principalmente superar a separação entre trabalho manual e trabalho intelectual.

Desta forma, o conceito de formação humana integral não se faz sem o binômio trabalho-

educação e põe por terra a dualidade entre trabalho manual e intelectual que marca toda a

história social brasileira.

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A concepção de formação integral marxiana toma a superação da divisão do

trabalho, a união do trabalho manual ao trabalho intelectual e o processo

histórico-concreto de construção da sociedade, sob o qual a formação integral se

constrói. A perspectiva é de que esta formação integral leve os trabalhadores ao

domínio científico e tecnológico do novo processo de produção em curso e

propicie as condições para a construção de uma estrutura social, na qual os

trabalhadores se constituam como classe dirigente (QUARESMA, 2009, p. 3).

Historicamente, de acordo com Pacheco (2012), os cursos técnicos de nível médio foram

direcionados para as camadas de menor poder aquisitivo, ficando a universidade,

especialmente as públicas, reservadas para a elite. Por trás dessa realidade está a ideia de

que o trabalho manual é destinado a “escravos”, o que condiz com uma sociedade

escravocrata. Às elites reservam-se o não trabalho, a tarefa do pensar e do “filosofar”, pois

trabalhar guarda um caráter ofensivo, é desdenhado e privado de valor.

Presente nas legislações anteriores, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN) nº 9.394, de 1996 (BRASIL, 1996), traz novamente à tona o conflito da

dualidade. Já no processo de sua construção dois projetos distintos estão em disputa:

De um lado, a defesa de formação profissional lato sensu integrada ao 2º grau

nos seus múltiplos aspectos humanísticos e científico-tecnológicos constante no

primeiro projeto da LDB. [...] Do outro lado estavam os partidários de uma

educação subordinada à lógica mercantil. Não por acaso, a perspectiva de

formação integral foi se perdendo gradativamente em função da mesma

correlação de forças já mencionada, ao se tratar do embate entre educação

pública e educação privada (PACHECO, 2012, p. 18).

O texto da LDBEN (BRASIL, 1996) estabelece como finalidade para o ensino médio o

aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, a formação cidadã

para a vida social e para o mercado de trabalho. Ainda oferece conhecimentos necessários

para o ingresso no ensino superior. Lodi (2006) afirma que o “ensino médio como última

etapa da educação básica deve também oferecer a preparação básica para o trabalho, de

forma que atenda à formação geral e ainda direcione o aluno para o exercício de profissões

técnicas” (LODI, 2006, p. 3).

Nesse sentido, mantém-se a separação obrigatória entre o ensino médio e a educação

profissional: para o ensino médio, uma escolarização clássica; e para o ensino técnico, a

preparação para o trabalho. Este último sequer era considerado parte da estrutura regular da

educação básica.

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O Decreto 2.208, de 1997, que regulamenta a LDBEN/96, promove ações que ficaram

conhecidas como Reforma da Educação Profissional e estrutura o ensino médio de maneira

que (BRASIL, 1997):

a) O ensino médio retoma legalmente seu sentido propedêutico;

b) os cursos técnicos são obrigatoriamente separados do ensino médio e são

oferecidos de duas formas:

Concomitante ao ensino médio: o estudante faz ao mesmo tempo o ensino

médio e o curso técnico, com matrículas e currículos distintos, podendo os dois

cursos serem realizados na mesma instituição (concomitância interna) ou em

diferentes instituições (concomitância externa);

sequencial: destinada a quem já tenha concluído o ensino médio, portanto, após

a educação básica.

O Decreto 2.208/97 (BRASIL, 1997) incorpora a ideologia mercantilista e fragmentada do

conhecimento ao conceber a educação profissional na dimensão econômica. Fundamenta-

se na ideia de que o mercado é regulador da sociabilidade e retira a centralidade do ser

humano e de sua relação com a natureza. Define um modelo de educação profissional

centrado no modelo de competências e não só atribui submissão das finalidades

educacionais ao mercado de trabalho, como destitui todo um processo de discussões e

debates em torno do tema.

Assim sendo, o Decreto 2.208/97 (BRASIL, 1997) contribuiu para um grave retrocesso na

busca de uma formação unitária e integral no nível do ensino médio, mas se mostrou

coerente com os objetivos do governo de Fernando Henrique Cardoso.

A partir de 2003, fomentados por setores educacionais vinculados ao campo da educação

profissional, principalmente no âmbito dos sindicatos e dos pesquisadores da área

“trabalho e educação” (PACHECO, 2012, p. 26), os debates sobre a dualidade entre ensino

profissional e propedêutico ganham nova efervescência. O governo do Presidente Luis

Inácio Lula da Silva traz mudanças significativas ao contexto da educação básica,

principalmente no que diz respeito ao ensino médio e à educação profissional.

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Ele concebe a modalidade do ensino médio integrado à educação profissional como uma

prioridade social, por meio do Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004 (BRASIL, 2004).

Fica estabelecido o desafio de proporcionar melhores condições para que o jovem tenha

inserção no mercado de trabalho sem que para isso o conhecimento geral esteja ausente de

sua formação, em posição contrária ou superior ao conhecimento específico.

A educação profissional de nível médio no Brasil, hoje, é regulada pela Lei nº 11.747/08,

que incorporou o Decreto nº 5.154 (BRASIL, 2004). Ela mantém a oferta dos cursos

concomitantes e sequenciais, mas retoma a possibilidade de integrar o ensino médio à

educação profissional técnica de nível médio. Segundo o decreto (BRASIL, 2004):

“Art. 4o A educação profissional técnica de nível médio, nos termos dispostos no

§ 2o do art. 36, art. 40 e parágrafo único do art. 41 da Lei n

o 9.394, de 1996, será

desenvolvida de forma articulada com o ensino médio, observados:

I - os objetivos contidos nas diretrizes curriculares nacionais definidas pelo

Conselho Nacional de Educação;

II - as normas complementares dos respectivos sistemas de ensino; e

III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de seu projeto

pedagógico” (BRASIL, 2004).

Esse decreto (BRASIL, 2004), ao incorporar o debate anterior, sinaliza a possibilidade de

enfrentar a dualidade entre conhecimentos gerais e específicos, discutindo a integração da

formação básica e profissional de forma unitária, ou seja, em um mesmo currículo; e

integral, isto é, articulando trabalho e educação e formando trabalhadores capazes de atuar

como dirigentes e cidadãos.

Os debates citados anteriormente acerca da integração do ensino médio com a educação

profissional retomam a proposta marxista da educação politécnica:

Compreendendo-a como uma educação unitária e universal destinada à

superação da dualidade entre cultura geral e cultura técnica e voltada para “o

domínio dos conhecimentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam

o processo de trabalho produtivo moderno” (SAVIANI, 2003, p. 140 apud

FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005, p. 42) sem, no entanto, voltar-se para

uma formação profissional stricto sensu, ou seja, sem formar profissionais em

cursos técnicos específicos (MOURA, 2007, p. 23).

Muito ainda há que se avançar em relação ao Decreto 5.154/04 (BRASIL, 2004), pois nele

estão impressos limites. Para citar apenas alguns, há que se avançar na integração

curricular, na formação de professores e na articulação entre cultura, ciência e trabalho,

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elementos que podem alavancar ou emperrar o projeto de integração entre educação

profissional de nível médio e o ensino médio.

O ensino médio integrado, uma das modalidades de integração entre o ensino médio e o

ensino técnico, fundamenta-se em uma concepção de formação humana, em que todas as

dimensões da vida se integrem no processo educativo, conforme já mencionado.

Pressupõe-se que essa integração propicia uma formação que produz uma ruptura da

limitação imposta ao homem pela sociedade capitalista, bem como a superação da

dualidade da educação.

No entanto, esta não é uma proposta fácil de ser colocada em prática. Por um lado, requer

tomada de decisões que são envolvidas pela correlação de forças entre capital e trabalho,

pela natureza do Estado, pelas opções de governo. Envolve também uma articulação

dialógica entre secretarias e ministérios do governo, sociedade civil e comunidades

acadêmicas. Por outro lado, envolve uma política adequada de formação inicial e

continuada de professores e recursos de toda ordem.

A proposta de integração do curso médio e do curso técnico de nível médio,

alternativa constante do Decreto nº 5.154/04, possui um significado e um desafio

para além da prática disciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar, pois implica

um compromisso de construir uma articulação e uma integração orgânica entre o

trabalho como princípio educativo, a ciência como criação e recriação pela

humanidade de sua natureza e cultura, como síntese de toda produção e relação

dos seres humanos com seu meio. Portanto, ensino integrado implica um

conjunto de categorias e práticas educativas no espaço escolar que desenvolvam

uma formação integral do sujeito trabalhador (BRASIL, 2004, p. 9).

A proposta de uma formação integrada incorpora o princípio educativo do trabalho.

Embora já se tenha avançado na formulação dessa proposta, pesquisas recentes indicam

que a sua operacionalização permanece um grande desafio.

Sabemos que não se trata de uma proposta fácil; antes, é um grande desafio a ser

construído processualmente pelos sistemas e instituições de ensino, visando as

práticas curriculares e pedagógicas que levem à formação plena do educando e

possibilitem construções intelectuais elevadas, mediante a apropriação de

conceitos necessários à intervenção consciente na realidade. Uma política de

ensino médio integrado nessa perspectiva visaria fomentar, estimular e gerar

condições para que os sistemas e as instituições de ensino, com seus sujeitos,

formulassem seus projetos em coerência com as necessidades e visando à

consecução de finalidades universais posta para esta etapa da educação

(RAMOS, 2004, p. 10).

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Essa discussão identifica a seguinte contradição: de um lado, o debate expressa uma

produção de conhecimento no campo da educação, que revela avanços teóricos

significativos acerca da proposta de formação integral para o ensino médio integrado. Do

mesmo modo, expressa a mobilização de setores da sociedade em torno da proposta, que

detecta expressivos avanços políticos. De outro lado, apresenta-se uma dificuldade que se

identifica nos Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) das escolas como também nos planos

de ensino e na prática cotidiana de docentes e discentes: a de incorporar o princípio

educativo do trabalho no currículo do ensino médio integrado. Essa contradição constituiu

o problema que conduziu esta pesquisa.

A questão central que a animou foi assim definida: como se manifesta o debate em torno

da incorporação do princípio educativo do trabalho entre os professores das áreas de

conhecimentos gerais e específicos nos cursos da área de Informática na modalidade

integrado em três instituições públicas de educação profissional?

Tomou-se como objeto de pesquisa, portanto, a atualidade do debate em torno da

incorporação do princípio educativo do trabalho entre estes professores.

Partiu-se da hipótese de que a assimilação ou não do debate em torno do princípio

educativo do trabalho, que se desenvolveu nos anos 1980 com desdobramentos nas

décadas seguintes entre educadores interessados na educação profissional, pode produzir

no ensino médio integrado propostas afinadas com esse debate ou inibidoras de avanços

em sua direção.

A pesquisa teve como objetivo geral analisar a atualidade do debate em torno da

incorporação do princípio educativo do trabalho entre os professores das áreas de

conhecimentos gerais e específicos nos cursos na área de informática na modalidade

integrado em três instituições públicas que ofertam educação profissional. Baseou-se no

desenvolvimento de contribuição técnica na área de educação voltada para o

desenvolvimento local e com características de inovação social.

Os objetivos específicos foram assim definidos:

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20

a) Contextualizar o debate que se desenvolveu, nos anos 1980, entre pesquisadores,

educadores e instituições de educação profissional, em torno do princípio educativo

do trabalho.

b) Conhecer a assimilação desse debate pelos professores das áreas de conhecimentos

gerais e específicos do curso de Informática na modalidade integrado nas três

instituições.

Os resultados obtidos com a pesquisa compõem um informe técnico que será encaminhado

às instituições participantes. Eles serão, ainda, socializados em veículo de divulgação

voltado para a formação de professores e gestores implicados com a educação profissional.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UNA,

pelo parecer nº 540.917 (ANEXO A).

Para realizar os objetivos, utilizou-se a abordagem qualitativa e optou-se pelo tipo

descritivo. Minayo (2008, p. 39) considera que o que diferencia a pesquisa no campo das

Ciências Sociais “é o fato incontestável de que o objeto das Ciências Sociais é histórico”.

Portanto, as marcas deixadas pelo passado e aquilo que se projeta para um futuro

conversam dialeticamente. De acordo com a autora:

Sua matéria-prima é composta por um conjunto de substantivos cujos sentidos se

complementam: experiência, vivência, senso comum e ação. E o movimento que

informa qualquer abordagem ou análise se baseia em três verbos: compreender,

interpretar e dialetizar (MINAYO, 2012, p. 625).

Dessa forma, foi uma pesquisa que exigiu análise crítica em cada uma de suas etapas de

investigação.

Dos procedimentos deste estudo constaram uma etapa bibliográfica e outra empírica. A

pesquisa bibliográfica buscou contextualizar o debate ocorrido na década de 1980 em torno

do princípio educativo do trabalho entre pesquisadores, educadores e instituições de

educação profissional, focalizando os principais autores, seus textos e conceitos

trabalhados, bem como os desdobramentos após aquela década. A pesquisa empírica se

voltou para os professores de três cursos de ensino médio integrado da área de informática.

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O cenário da pesquisa abrangeu três instituições que ofertam ensino médio integrado: duas

em Belo Horizonte e outra no interior de Minas Gerais.

Fez-se levantamento junto ao site do Sistema Nacional de Informações da Educação

(SISTEC), que permitiu identificar, inicialmente, escolas que oferecem esses cursos no

estado de Minas Gerais para, posteriormente, chegar às instituições selecionadas.

Num primeiro momento, identificaram-se cursos de ensino médio integrado no estado de

Minas. Entre os cursos identificados, três da área de informática apareciam em três

instituições diferentes.

O perfil dos cursos do ensino médio técnico oferecido por essas instituições apresenta

diferenças: concomitante, subsequente e integrado. A este trabalho interessaram os cursos

de ensino médio integrado.

Foram identificados 159 cursos de ensino médio integrado em instituições de natureza

diversa: 35 são escolas públicas que se dividem entre uma universidade federal e 23

institutos federais; oito CEFETs; um colégio municipal, duas escolas estaduais; seis

instituições pertencem ao Sistema S e 13 são escolas privadas.

Foram definidos os seguintes critérios para a escolha das instituições que participaram da

pesquisa: oferecer cursos de ensino médio integrado; haver coincidência de áreas de

conhecimento dos cursos ofertados; localizar-se a instituição lna cidade de Belo Horizonte

ou próximo dela; ter cursos de instituições públicas de dependência administrativa federal.

De acordo com esses critérios, foram selecionadas as seguintes instituições de ensino:

a) Instituição A2 - que disponibiliza os seguintes cursos técnicos: técnico de

informática industrial, técnico em edificações, técnico em edificações (Programa

Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na

Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA), técnico em eletrônica,

técnico em informática e técnico em química.

2 Consta no site da instituição A um número maior de cursos oferecidos na modalidade integrado do que

aqueles no site do SISTEC.

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b) Instituição B, que oferece os cursos técnicos em química, análises clínica,

automação industrial e informática; ambos na cidade de Belo Horizonte.

c) Instituição C, que fica a 83 km de Belo Horizonte, e oferece os cursos técnicos em

edificações, manutenção e suporte de informática (PROEJA), manutenção e suporte

de informática, mecânica e mineração3.

O primeiro contato com essas instituições aconteceu por meio de telefone, quando foram

agendados encontros presenciais. O primeiro encontro foi realizado com gestores para

apresentação do objetivo da pesquisa e o convite para a participação nela.

Para as entrevistas, foram selecionados professores das áreas de conhecimentos gerais4 e

conhecimentos específicos5 dos cursos da área de informática, nas três instituições, com

perfis de formação e trajetórias profissionais diferentes.

Como critérios para a escolha dos sujeitos da pesquisa ficaram definidos os professores da

área de conhecimentos gerais; professores da área de conhecimentos específicos;

professores formados nas décadas de 1980, 1990 e 2000; professores com doutorado;

professores com mestrado; professores com formação pedagógica.

As técnicas de coleta de dados utilizadas foram entrevistas semiestruturadas com os

professores das áreas de conhecimentos gerais e específicos. Para as entrevistas, foram

agendados encontros com alguns professores, que se manifestaram positivamente quanto a

participar da entrevista.

Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta

frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos

dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de

interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em

que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de

informação (GIL, 2008, p. 109).

3 No entanto, quando a pesquisadora foi a campo dar início à sua coleta de dados, constatou que o curso que

havia sido selecionado pelos critérios da pesquisa – manutenção e suporte de informática – só era ofertado na

modalidade integrado PROEJA. No site do SISTEC, de onde foram retiradas as informações, constavam as

duas modalidades – integrado e integrado PROEJA. 4 Ao se referirem aos conhecimentos gerais, alguns professores utilizam termos como: disciplina básica,

formação geral, disciplinas do núcleo básico e núcleo geral. 5 Ao se referirem aos conhecimentos específicos alguns professores utilizam termos como: disciplina técnica,

formação técnica, disciplinas do núcleo profissional e núcleo específico.

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Com a entrevista buscou-se o aprofundamento do conhecimento desses professores sobre a

assimilação do debate em pauta e seus desdobramentos na prática docente.

Essa técnica exigiu interação entre a pesquisadora e o pesquisado, justificando a ida a

campo da primeira às três instituições selecionadas.

Entendo por campo, na pesquisa qualitativa, o recorte espacial que diz respeito à

abrangência, em termos empíricos, do recorte teórico correspondente ao objeto

da investigação. Por exemplo, quando trato de entender as concepções de saúde e

doença de determinado grupo social; quando busco compreender a relação

pedagógica entre médico e paciente ou o impacto de determinada política de

saúde para uma população específica, cada um desses temas corresponde a um

campo empírico determinado (MINAYO, 2008, p. 202).

Para que sejam preservadas as identidades das instituições e de seus docentes, as primeiras

serão denominadas ao longo da dissertação pelas letras A, B e C e os professores serão

identificados pela letra P seguida por um número ordinal. Foi entrevistado o total de 20

professores, sendo seis da instituição A, oito da instituição B e seis da instituição C.

Na instituição A não foi possível a realização de entrevistas com os professores da área de

conhecimentos específicos devido a dificuldades postas pela coordenação do curso de

Informática e Manutenção de Redes em favorecer o contato, bem como a ausência de

retorno aos contatos feitos diretamente com os professores pela pesquisadora via e-mail.

Após a aprovação do projeto, outros fatores interferiram no início da coleta de dados e no

cumprimento do cronograma da pesquisa: duas das três instituições a serem pesquisadas

tiveram seu calendário escolar modificado devido a período de greve; nesses casos, os

períodos de férias coincidiram com o início da coleta de dados programado. Esses

contratempos exigiram modificação na metodologia com a exclusão de um dos

instrumentos de coleta de dados: o questionário. Essas alterações, no entanto, não afetaram

os princípios éticos da pesquisa, tampouco a produção de resultados cientificamente

significativos.

A entrevista permitiu à pesquisadora ter contato mais direto com o entrevistado, no sentido

de se inteirar da atualidade do debate em torno do princípio educativo do trabalho no

ensino médio integrado. Ela pressupôs minucioso planejamento na sua elaboração e

aplicação e os objetivos propostos na pesquisa foram efetivamente alcançados.

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Após a transcrição dos dados coletados junto aos sujeitos da pesquisa, eles passaram pela

análise de conteúdo baseada nos referenciais de Bardin (2010), seguindo as três fases

cronológicas propostas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados.

Na pré-análise organizou-se o material coletado por meio das entrevistas. Esse material

passou por uma exploração que consistiu na definição das categorias; os dados foram

organizados de modo a descrever as características do conteúdo analisado. O tratamento

dos resultados envolveu a sua condensação, bem como o destaque dos elementos para a

análise.

Seguidas essas etapas, a partir da codificação de todo o material por meio dos recortes em

unidades de registro, elas foram unidas por convergência e tiveram a fase de interpretação

e análises reflexivas (BARDIN, 2010).

Os dados obtidos nas entrevistas foram agrupados em dois tipos de categorias: a) a

experiência dos professores sobre a incorporação do princípio educativo do trabalho no

ensino médio integrado; b) a experiência dos professores sobre a integração no ensino

médio integrado. “A categorização é uma operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto, por diferenciação, e seguidamente, por reagrupamento

segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos” (BARDIN, 2010, p.

117).

Para cada categoria teórica foram criadas subcategorias empíricas que propiciaram melhor

organização dos dados para que estes recebessem tratamento respeitando literalmente as

falas dos entrevistados e os objetivos que pautam esta pesquisa.

Esta dissertação está estruturada nos seguintes tópicos: além desta introdução, o capítulo 1,

que descreve o debate em torno do princípio educativo do trabalho - os sujeitos

protagonistas do debate, entidades envolvidas no debate, influências sobre as políticas

educacionais de 1980, conceitos, noções e teorias que sustentam o debate, ensino médio

integrado e as considerações finais.

O capítulo 2 relata os dados da pesquisa empírica, bem como sua análise. A proposta de

intervenção, exigência relativa ao Mestrado em Gestão Social, Educação e

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Desenvolvimento Local, consiste em um informe técnico. Esse informe técnico apresenta

as contribuições da pesquisa, na forma de apontamentos, que problematizam a

incorporação referente ao debate sobre o princípio educativo do trabalho entre os docentes

dos cursos de ensino médio integrado. O debate se manifesta, então, na concepção e

experiência que os docentes têm da integração. Esse documento será remetido aos gestores

e docentes das três instituições envolvidas na pesquisa. Compõe, ainda, a dissertação, um

capítulo de considerações finais seguido dos apêndices.

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2 ENSINO MÉDIO INTERGADO: ATUALIDADE DO DEBATE EM

TORNO DO PRINCÍPIO EDUCATIVO DO TRABALHO

Ensino médio integrado: Atualidade do debate em torno do princípio educativo do

trabalho

Ana Paula Ribeiro Rodrigues

Eloisa Helena Santos

Resumo

Este artigo objetiva apresentar uma revisão bibliográfica com elementos do percurso

histórico do debate em torno da incorporação do princípio educativo do trabalho na

educação. Esse debate, que envolveu educadores brasileiros, inicia-se no final da década de

1970, tem seu auge nos anos 1980 e se perpetua até os dias atuais. Ele incide em um

contexto em que está em jogo a disputa de ideias e de hegemonia para a construção de um

novo projeto de sociedade, no interior do qual realça um novo projeto educacional. O

trabalho é concebido em sua dupla dimensão: ontológica e histórica. A partir daí,

desenvolvem-se as ideias que sustentam o debate em torno do princípio educativo do

trabalho. Nele sobressaem as concepções de omnilateralidade, politecnia e formação

humana, além da crítica à dualidade da educação brasileira e, em especial, do ensino

médio.

Palavras-chave: Princípio educativo do trabalho. Ensino Médio Integrado.

2.1 Introdução

O debate em torno do princípio educativo do trabalho tem uma longa trajetória e está

relacionado aos anseios de transformação social, política e econômica da sociedade e, em

especial, da educação brasileira.

Embora ganhe força na década de 1980, é possível verificar alguns elementos de seu

conteúdo já no Manifesto dos Pioneiros da Educação - 1932 (2006)6. O grupo de

pensadores que constituíam o movimento atribuía à educação papel fundamental para a

construção de uma nação baseada em novas relações sociais. Defendiam a igualdade de

6 Constituído por 26 intelectuais, o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” foi um documento

direcionado para o “povo e o governo” marcando a luta pela reforma educacional da época, que desde então

almejava uma educação pública e gratuita. A Reconstrução Educacional no Brasil, São Paulo, Ao povo e ao

Governo – Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Cia. Ed. Nacional, 1932, Exemplar nº.0334.

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direitos e educação pública e de qualidade para todos como caminho para pôr fim às

desigualdades sociais.

Ao reagir à velha estrutura educacional brasileira, o movimento dos pioneiros traz à tona

novas perspectivas para o pensamento pedagógico da época. A crítica à dualidade da

educação brasileira se estendia à denúncia da oportunidade de acesso e qualidade de ensino

como privilégio de uma pequena classe dominante em detrimento de grande parcela da

população para a qual estava destinada a educação para o trabalho. No entanto, o

Manifesto chamava a atenção para o trabalho como fundamento do processo educativo:

A escola socializada, reconstruída sobre a base da atividade e da produção, em

que se considera o trabalho como melhor maneira de estudar a realidade em geral

(aquisição ativa da cultura) e a melhor maneira de estudar o trabalho em si

mesmo, como fundamento da sociedade humana, se organizou para remontar a

corrente e estabelecer entre os homens o espírito de disciplina, solidariedade e

cooperação, por uma profunda obra social que ultrapassa largamente o quadro

estrito dos interesses de classes (O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA

EDUCAÇÃO, 1932, 2006, p. 192).

A luta dos pioneiros da educação e o debate acerca do princípio educativo do trabalho, que

tiveram seu auge nos anos de 1980, aconteceram, pois, envoltos por um campo de disputa

contra-hegemônica. No entanto, a partir da década de 1960, a discussão sobre o trabalho se

deu de um ponto de vista da economia da educação. Para Frigotto (2006, p. 28), “a partir

dos anos 60, modificações na legislação educacional profissionalizante buscaram

aproximar a educação formal das necessidades do modelo de desenvolvimento econômico

[...]”.

Ao final da década de 1970, em um panorama de luta contra uma ditadura que reprimia

violentamente os movimentos sociais e sindicais, marcada por intolerância, censura à

imprensa e por atos violentos contra a oposição ao regime militar, o debate acerca do

princípio educativo do trabalho ganhou outra perspectiva: “a área educacional,

capitalizando o debate crítico e o confronto de concepções, mobiliza-se em novas

experiências e lutas” (CUNHA apud FRIGOTTO, 2006, p. 39).

De acordo com Frigotto (2006), os anos 1980 foram marcados pela transição do período

ditatorial para a democratização do país, com a sociedade civil se mobilizando em torno de

uma forte disputa de projetos societários e de educação. Segundo ele, “a questão

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democrática assume centralidade nos debates e nas lutas em todos os âmbitos da sociedade

ao longo desta década” (FRIGOTTO, 2006, p. 34).

O país, envolto em um processo de redemocratização, abriu caminhos para que se instale a

participação da sociedade civil: surgem novos sujeitos políticos vinculados aos interesses

das classes trabalhadoras, o Movimento das Diretas Já, a Central Única dos Trabalhadores

(CUT), além da aprovação da nova Constituição brasileira.

Após longos anos de ditadura militar, a aprovação da nova Constituição se tornou um

ganho importante para os direitos políticos e sociais. No entanto, como toda luta se faz no

contraponto, do outro lado a classe hegemônica detentora do capital, que carregava forte

traço dos aparatos da ditadura, buscava se reorganizar.

O campo estrutural fornece a materialidade de processos históricos de longo

prazo e o campo conjuntural indica no médio e no curto prazo as maneiras como

os grupos, classes ou frações de classes, em síntese, as forças sociais disputam

seus interesses e estabelecem relações mediadas por instituições, movimentos e

lutas concretas (FRIGOTTO, 2006, p. 27).

É esse terreno árido e de forte disputa de poder, de exclusão e de desigualdade social que

marcou o desenvolvimento capitalista.

A sociedade brasileira estaria no seguinte dilema: a construção de uma sociedade

ou de uma nação em que os seres humanos possam produzir dignamente sua

existência ou a permanência num projeto de sociedade que aprofunda sua

dependência aos grandes interesses dos centros hegemônicos do capitalismo

mundial (FURTADO apud FRIGOTTO, 2006, p. 28).

Entre as várias forças em disputa da época, o campo da educação se sobressaiu,

principalmente no que se refere à educação profissional de nível médio. “De início em

cidades (já ao findar a década de 1970) e, depois, em estados (Paraná, Minas), estruturam-

se propostas alternativas de educação tendo como foco a democratização e a superação do

tecnicismo” (FRIGOTTO, 2006, p. 39). A luta pela reestruturação da educação brasileira

retratava a necessidade de um rearranjo da sociedade em sua dimensão estrutural, na qual

se mantinham privilégios para poucos e exploração para muitos.

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É nesse contexto que um importante debate em torno do princípio educativo do trabalho

ganhou corpo. Este artigo procura apresentar os meandros desse debate entre educadores,

sociedade civil e instituições até os dias atuais7.

2.2 Sujeitos protagonistas do debate

Como exposto, ao final dos anos 1970 e na década de 1980, o processo de

redemocratização do país envolveu uma mobilização social pela transformação da

educação. No seu interior, o debate acerca do princípio educativo do trabalho alcançou

espaços e sujeitos variados.

No início da década de 1980, o Programa de Pós-graduação em Educação da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) – coordenado pelo professor Dermeval

Saviani8 – desempenhou papel de destaque nesse debate.

Dermeval Saviani e seu grupo de orientandos, ocupados em buscar no trabalho os

fundamentos da educação, desenvolveram estudos e pesquisas sobre a temática do

trabalho. Eles se sustentaram no pensamento de autores clássicos, que tomam o trabalho

em uma perspectiva histórica na tradição do materialismo histórico dialético, dando

sustentação ao debate em torno do princípio educativo do trabalho.

[...] alguns programas de pós-graduação começaram a trazer para dentro do

debate, inclusive este Programa, o [...] pensamento de Gramsci, de Thompson,

de Marx, de Engels, agregado [aos] clássicos, no rumo da Sociologia na

educação: Durkheim, Weber, etc. (FRIGOTTO, 2013, depoimento).

Outros autores vêm se juntar aos citados anteriormente: “[...] alguma influência do Célestin

Freinet [...] da Pedagogia soviética, Makarenko, Blonski, Pinkevich, Krupskaia, Lenin,

Pistrak e Carbonel” (MACHADO, 2013, depoimento). A leitura desses autores acima

2- A reconstituição desse debate foi desenvolvida para orientar uma pesquisa realizada com professores das

áreas de conhecimento gerais e específicos nos cursos de Informática na modalidade integrado, sobre a

atualidade do debate em torno da incorporação do princípio educativo do trabalho. Sua elaboração teve

parâmetros estabelecidos por duas enriquecedoras entrevistas concedidas por dois educadores que

participaram efetivamente deste debate: Lucília Machado e Gaudêncio Frigotto. 8 Formado em Filosofia, especializou-se em Filosofia da educação e construiu sua trajetória profissional

dedicando-se ao magistério, articulando teoria e prática na construção possível para uma educação de

qualidade, por meio da Pedagogia histórico-crítica, que tem como objetivo a transmissão de conhecimentos

significativos que contribuem para a inclusão social do educando. Para informações sobre a trajetória do

autor e suas produções, acessar http://www.fae.unicamp.br/dermeval/index2.html. Acesso em: 14/12/2013.

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conduziu o grupo de educadores e pesquisadores ao encontro de duas dimensões do

trabalho: a ontológica e a dimensão histórica.

O trabalho, na sua dimensão ontológica, “como práxis humana e, então, como a forma pela

qual o homem produz sua própria existência na relação com a natureza e com os outros

homens e, assim, produz conhecimentos” (PACHECO, 2012, p. 68).

Dessa forma o trabalho é uma atividade exclusiva do homem, responsável pela relação

entre ele e a natureza e é, “através do trabalho que a humanidade se constitui como tal”

(NETTO; BRAZ, 2008, p. 34). O homem, na tentativa de atender às suas necessidades

naturais, transforma o seu meio, se autotransforma e se humaniza.

No entanto, é também por meio dessa relação estabelecida entre o homem e a natureza que

as variações do trabalho no tempo e no espaço serão determinadas. Dessa maneira, o

trabalho se apresenta também numa perspectiva histórica. Ao longo da história da

humanidade, ele assume formas diferentes, já que relações específicas se estabelecem entre

os próprios homens em cada momento histórico. Na sociedade capitalista:

[...] os produtos do trabalho e da imaginação humanos deixam de se mostrar

como objetivações que expressam a humanidade dos homens [...] caracterizando

o fenômeno histórico da alienação [...] a alienação é própria de sociedades onde

têm vigência a divisão social do trabalho e a propriedade privada dos meios de

produção fundamentais [...] sociedades nas quais existem formas determinadas

de exploração do homem pelo homem (NETTO; BRAZ, 2008, p.44).

Segundo Nosella (2009, p. 43, 2009), “Marx introduziu e consagrou, na ciência

pedagógica, a ideia de ser o trabalho elemento determinante e fundamental de todo o

processo educativo, logo, de toda instituição escolar”.

É nessa perspectiva que se apresenta o princípio educativo do trabalho. Trata-se, de acordo

com Frigotto e Ciavatta (2012, p. 749), de um “princípio fundante do gênero humano e na

construção da sociedade”, que possibilita ao homem criar e recriar sua existência.

No debate que se desenvolve, então, ao princípio educativo do trabalho agregam-se outros

conceitos, como: politecnia, escola unitária e omnilateralidade. No entanto, eles não serão

objeto deste artigo.

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31

Entre aqueles orientandos de Saviani referidos anteriormente estavam os professores

Gaudêncio Frigotto9, Lucília Machado

10 e Acácia Kuenzer

11 e Paolo Nosella

12, que

realizaram estudos e pesquisas relevantes sobre os temas citados. O princípio educativo do

trabalho está presente na produção de cada um desses pesquisadores com especificidades

particulares.

Ainda na década, outros pesquisadores e educadores oriundos de outros Programas de Pós-

graduação e em atividade no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade

Federal de Minas Gerais contribuíram também com suas produções para o debate na

educação em geral, mas também no que se refere à educação profissional: Miguel

Arroyo13

, Carlos Roberto Jamil Cury14

, Oder José dos Santos15

e Neidson Rodrigues16

. A

9 Possui graduação e bacharelado em Filosofia (1971), graduação em Pedagogia (1973), mestrado em

Administração de Sistemas Educacionais (1977) e doutorado em Educação: História, Política, Sociedade

(1983). É professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professor titular em Economia

Política da Educação. Aposentou-se na Universidade Federal Fluminense e é pesquisador AI - Sênior do

Conselho Nacional de Pesquisa Certifica e Tecnológica (CNPq). Disponível em:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4780705Y6. Acesso em:

16/07/2014. 10

Graduada em Ciências Sociais (UFMG, 1972), com mestrado (UFMG, 1979) e doutorado (PUC-SP, 1984)

em Educação e pós-doutorado em Sociologia do Trabalho (Iresco, CNRS, França, 1997/98). É professora

titular aposentada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente, está

vinculada como professora ao Centro Universitário UNA (Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil), onde

coordena o Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. <Disponível em:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=W19041. Acesso em: 16/07/2014. 11

Possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1972), mestrado em

Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1979) e doutorado em Educação:

História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1984). É professora titular

aposentada da Universidade Federal do Paraná. Atualmente é professora da Universidade Feevale.

Disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4727773J7

#Identificacao. Acesso em: 16/07/2014. 12

Nasceu na Itália (1942), onde se licenciou em Filosofia. Em 1967, veio ao Brasil, para trabalhar em

educação popular, no estado do Espírito Santo, criando as primeiras Escolas da Família Agrícola (EFAs) da

Pedagogia da Alternância. Fez mestrado e doutorado em Filosofia da Educação na PUC/SP, respectivamente,

nos anos de 1977 e 1981. Professor titular em Filosofia da Educação na Universidade Federal de São

Carlos/SP. Professor Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Nove de Julho de

São Paulo (UNINOVE). Disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do. Acesso em:

16/07/2014. 13

Possui graduação em Ciências Sociais pela UFMG (1970), mestrado em Ciência Política pela Universidade

Federal de Minas Gerais (1974) e doutorado PhD em Educação - Stanford University (1976). É Professor

Titular Emérito da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4787299P4. Acesso em: 16/07/2014. 14

Possui graduação em Filosofia (1971), mestrado em Educação: História, Política, Sociedade (1977) e

doutorado em Educação: História, Política, Sociedade (1979). Cursou pós-doutorado, em 1994, na Faculdade

de Direito do Largo S. Francisco - USP. É professor titular (aposentado) da Faculdade de Educação da

UFMG da qual é professor emérito. É professor adjunto da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

atuando na graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado). Disponível em:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4788980D6. Acesso em: 07/03/2014. 15

Professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em:

http://www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/trabedu/article/viewFile/1469/1115. Acesso em: 16/07/14.

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esses educadores e pesquisadores mais tarde se juntaram, entre outros, Eunice Trein17

, Iraci

Picanço, Maria Ciavatta18

, Dante Henrique Moura19

, Marise Ramos20

e Jaqueline Moll21

.

Embora cada pesquisador focalize uma especificidade ao abordar o tema, um denominador

comum reúne alguns de seus interesses: a relação entre trabalho e educação.

Vários desses pesquisadores, tomados por interesse comum, dão vida à Associação

Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) e ao seu Grupo de Trabalho

(GT) Trabalho e Educação22

, espaço privilegiado do referencial teórico marxista no campo

16

Possui graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1971), mestrado em Filosofia pela

Universidade de São Paulo (1975), doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (1979) e pós-doutorado pela University of London (1991). Atualmente é professor titular da

Universidade Federal de Minas Gerais, atuando principalmente nos seguintes temas: Economia e Educação,

Política e Educação, Estado e Autoritarismo. Disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/

buscatextual/visualizacv.do?id=K4781400J7. Acesso em: 14/07/2014. 17

Possui graduação em Filosofia (1969), mestrado em Educação (1987) e doutorado em Educação (1994).

Atualmente é professora Associada I da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de

Educação, com ênfase em Filosofia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação,

mundo do trabalho, educação ambiental, trabalho e educação e ensino regular. Disponível em:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4786563Z8> Acesso em: 14/07/2014. 18

Possui licenciatura em Filosofia (1967) e em Letras Clássicas (1960), mestrado em Educação (1978) e

doutorado em Educação (1990). Cursou pós-doutorado em Sociologia do Trabalho em El Colegio de México

(1994-95), na Università degli Studi di Bologna, Itália (1995-96), e no Depto. de História de Universidade

Federal Fluminense. Professora titular em Trabalho e Educação pela Universidade Federal Fluminense.

Atualmente, associada ao Programa de Pós-graduação em Educação - Mestrado e Doutorado da Universidade

Federal Fluminense. Disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4728295J8.

Acesso em: 14/07/2014. 19

Técnico em Eletrotécnica (1979), possui graduação em Engenharia Elétrica (1986) e doutorado (2003). É

professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) desde

1986. Atualmente coordena o Programa de Pós-Graduação Educação Profissional (PPGEP) na mesma

instituição. Participou (2005 a 2007) dos grupos de trabalho que elaboraram, no âmbito do Ministério da

Educação e Cultura (MEC), os Documentos Base do Programa Nacional de Integração da Educação

Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos PROEJA (ensino

fundamental e ensino médio) e do Ensino médio integrado aos cursos técnicos de nível médio. Disponível

em: http://buscatextual.cnpq.br/ buscatextual/visualizacv.do?id=K4785443P8. Acesso em: 14/07/2014. 20

Possui graduação em Licenciatura em Química (1990), mestrado em Educação (1995) e doutorado em

Educação (2001). É Especialista em Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Escola

Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/FIOCRUZ) e professora

adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Docente credenciada

no quadro permanente dos Programas de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana

(PPFH/UERJ) e de Educação Profissional em Saúde (EPSJV/Fiocruz). <Disponível em:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4790909E4. Acesso em: 07/03/2014. 21

Possui graduação em Pedagogia Centro de Ensino Superior de Erechim (1986), Especialização em

Alfabetização (1997), Especialização em Educação Popular Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1988),

Mestrado em Educação (1991) e Doutorado em Educação (1998), tendo realizado parte dos estudos na

Universidade de Barcelona (1997). Atualmente é professora associada 3 da Faculdade de Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalhou no Ministério da Educação no período de 2005 a

2013, tendo exercido as funções de Diretora de Políticas e Articulação Institucional da Secretaria de

Educação Profissional e Tecnológica. Disponível em:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4721475Y9> Acesso em: 14/07/2014. 22

Esse grupo teve sua criação no ano de 1981, no Rio de Janeiro, na reunião anual organizada pela ANPED.

Para aprofundamento sobre o tema, ver: KUENZER, Acácia. Educação e Trabalho no Brasil: o estado da

questão. Brasília: INEP, 1991.

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educacional brasileiro. Uma inversão do nome desse GT de originalmente Educação e

Trabalho para Trabalho e Educação manifesta o pressuposto de que:

O trabalho é o princípio educativo do homem. O homem se forma e se educa

pelo trabalho, que adquire determinada características de acordo com um modo

de produção específico. Por seu elemento de formação o trabalho é a própria

essência do homem (HANDFA, 2007, p. 389).

2.3 Entidades envolvidas no debate

Com o aquecimento do debate no campo educacional, na década de 1980, algumas

entidades importantes no contexto da educação foram criadas: Centro de Estudos Educação

e Sociedade (CEDES)23

, Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação

(ANPED)24

, Associação Nacional de Educação (ANDE) e Centro de Estudos da Cultura

Contemporânea (CEDEC)25

.

Essas entidades se uniram e organizaram a I Conferência Nacional de Educação (CBE)26

,

que deu continuidade a uma série de conferências nas quais o debate no campo educacional

se expressava.

No âmbito do debate de ideias e propostas no campo da educação, ao longo da

década de 1980, organizam-se cinco Conferências Brasileiras de Educação

(CBEs), sendo a primeira em abril de 1980 e a última em agosto de 198827

. A

primeira não por acaso, efetivada na PUC de São Paulo, onde se desenvolvia um

programa de doutoramento iniciado em 1978 com base dominante num

referencial de análise inscrito na tradição do materialismo histórico

(FRIGOTTO, 2006, p. 39).

A I Conferência Brasileira de Educação aconteceu do dia 31 de março a 3 de abril em

1980, no Campus da PUC São Paulo.

23

O Centro de Estudos Educação e Sociedade surgiu em março de 1979, em Campinas (SP), como resultado

da atuação de alguns educadores preocupados com a reflexão e a ação ligadas às relações da educação com a

sociedade. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br/sobreocedes.htm. Acesso em: 16/12/2013. 24

A ANPEd, nomeada Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação “na década de 1980,

passou a nomear-se Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. É uma

sociedade sem fins lucrativos, fundada em 1976 graças ao esforço de alguns programas de pós-

graduação da área de educação”. Disponível em”: https://www.ufba.br/noticias/anped-concede-

homenagem-professores-da-ufba?page=2> Acesso em: 16/07/2013. 25

O CEDEC é um centro de pesquisa, reflexão e ação. Fundado em 1976, com sede em São Paulo, dedica-se

ao estudo de problemas da realidade brasileira nas suas dimensões locais e internacionais e à sua vocação de

espaço plural de debates. Disponível em: http://www.cedec.org.br/. Acesso em: 16/12/2013. 26

Na década de 1980 foram realizadas seis Conferências Brasileiras de Educação (CBE), sendo: I CBE, 1980

– São Paulo; II CBE, 1982 – Belo Horizonte; III CBE, 1984 – Niterói; IV CBE, 1986 – Goiânia; V CBE,

1988 – Brasília e VI CBE, 1991 – São Paulo. 27

Consta nos Anais do evento que a 6ª e última conferência foi realizada no ano de 1991.

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O agravamento das condições de ensino em nosso país – resultado de uma

política educacional autoritária – tinha sido criticada em diversos encontros,

congressos e reuniões de educadores. Todo esse esforço carecia, entretanto, ser

articulado, de modo que nós educadores pudéssemos não só perceber os

desdobramentos e o alcance da política educacional do Estado, como, também,

unificar nossas lutas em prol da democratização do ensino (ASSOCIAÇÃO

NACIONAL DE EDUCAÇÃO/ ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO/ CENTRO DE ESTUDOS EDUCAÇÃO E

SOCIEDADE – ANDE/ANPED/CEDES, 1980, p. 1).

A Conferência tinha entre seus objetivos “construir um espaço que permitisse ampla

discussão a respeito dos problemas educacionais brasileiros, de suas possíveis soluções e

das formas de ação e participação de educadores e educandos no delineamento dessas

soluções” (ANDE/ANPED/CEDES, 1980, p. 6). A reunião de mais de mil participantes no

evento representava um processo de construção coletiva de um novo projeto educacional.

O evento obteve importantes avanços na organização e participação dos profissionais da

educação, que há muito tempo se organizavam de maneira segmentada, e possibilitou

amplo debate sobre ações práticas e efetivas na ação político-educacional, na perspectiva

de “superação da crítica meramente ideológica da educação”, nas palavras da comissão

coordenadora do evento.

O tema central voltou-se para a política educacional com ênfase na educação popular, pré-

escola, ensino de 1º e 2º graus, ensino público, associações de docentes e ensino superior.

Em 1982, a II Conferência de Educação foi realizada em Belo Horizonte, no período de 10

a 13 de junho, com o tema “Educação: perspectivas na democratização da sociedade”

(ANDE/ANPED/CEDES, 1982, p. 7). Na pauta do evento estavam os profissionais da

educação, a gestão da educação, educação e participação popular, a questão pedagógica,

enfatizando-se “as novas perspectivas delineadas pelas atuais condições políticas que o

povo brasileiro vem conquistando” (ANDE/ANPED/CEDES, 1982, p. 7).

Entre as várias mesas que ocorreram nesse evento houve uma que se destacou, devido à

sua audácia em reunir em um evento academicista apenas trabalhadores para debater sobre

a temática da educação.

A ideia central da mesa foi a seguinte: não convidar intelectual para falar e sim

ouvir o operário. Porque não há lugar onde se fala mais de operário do que a

universidade. Na hora de conferência, em simpósio se fala do trabalhador, mas

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ninguém convida o trabalhador para se apresentar. O que irrita é você ver muito

“representante” de trabalhador. Geralmente de boa pequena burguesia que é

nossa classe, falando em nome dele. Daí decorre a sugestão construtiva aos

outros companheiros das universidades: quando tiver simpósio, conferência,

mesa redonda, debate, lembrar que tem trabalhador que apesar disto pensa. Ele

não só faz, pensa (TRAGTENBERG, 1983, p. 82).

No entendimento de Tragtemberg, a mesa composta de operários oportunizava que estes se

manifestassem sobre os caminhos percorridos em seu processo de trabalho e de sua

formação no mesmo. O princípio educativo do trabalho era o pano de fundo aqui.

A III CBE ocorreu em meio a um cenário político que desenhava, enfim, os últimos

vestígios de uma longa ditadura e uma vitória importante da participação popular nas

eleições de seus representantes.

A III Conferência teve como temática principal “Das Críticas a Propostas da

Ação”, seus subtemas: A Política Educacional e a Crise Brasileira, A Questão

Pedagógica e os Desafios das Questões Sociais, a Gestão Pública dos Negócios

da Educação. Aconteceu em Niterói – Rio de Janeiro, de 12 a 15 de outubro de

1984 (ANDE/ANPED/CEDES, 1984, p. 9).

A IV CBE realizou-se em Goiânia, de 2 a 5 de setembro de 1986. Seu tema foi “Educação

e Constituinte”, que se desdobrou em:

10 subtemas: A Política Educacional da Nova República, Priorização do 1º

grau, Participação na Definição e Gestão da Escola Pública: lutas populares pelo

direito à educação, Captação e Aplicação de Recursos, Política Nacional de

Recursos, Política Nacional do Magistério, Implicações Políticas,

Administrativas e Pedagógicas da Proposta de Municipalização do Ensino,

Questões de Administração e Gestão da Política Educacional, Questões

Relativas ao 2º Grau, A Função Sociopolítica da Universidade Hoje e Educação

e Constituinte (ANDE/ANPED/CEDES, 1986, p. 17).

Naquele momento, havia entre os participantes da IV CBE uma compreensão dos avanços

alcançados pela sociedade, principalmente no que se refere à participação popular na

construção da democracia. No entanto, por outro lado, havia também a consciência de que

muito ainda precisava ser feito, principalmente no tocante à educação. As mudanças

recentes no cenário político de então contribuíram para que os participantes estabelecessem

consenso em torno da necessidade de construção de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (ANDE/ANPED/CEDES, 1986).

A V Conferência Brasileira de Educação, realizada em Brasília de 2 a 5 de agosto de 1988:

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Firmou posição em relação a uma política nacional de educação que responda a

aspirações da sociedade brasileira. Em face da representatividade do evento, suas

conclusões tiveram ressonância junto ao Congresso Nacional quando da

elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

(ANDE/ANPED/CEDES, 1988, p. 4).

Ressalta-se que essa Conferência foi a que mais apresentou contribuições ao debate sobre o

princípio educativo do trabalho, em razão da participação efetiva da sociedade para a

construção de uma nova LDBEN, que sugeria possibilidades para uma reformulação da

proposta pedagógica do ensino médio.

Esses apontamentos foram sustentados pelas contribuições do Professor Dermeval Saviani

em seu texto “Contribuições à Nova Lei de Diretrizes e Base da Educação: Um início de

conversa”. O texto apresentava o trabalho como matriz orientadora do ensino médio.

A VI e última CBE, realizada em São Paulo de 03 a 6 de setembro de 1991, manteve as

mesmas animações e preocupações que moveram a primeira e seguintes conferências e

teve como tema principal “A Política Nacional de Educação”.

Nesse período apresentava-se uma especificidade característica de um novo cenário: a

abertura do mercado brasileiro à globalização, a busca pela competitividade e

produtividade e a introdução de novas tecnologias. Esse cenário foi marcado pela

incorporação de propostas neoliberais que produziram efeitos na política educacional

brasileira.

Nesse novo quadro político e econômico é o mercado quem passa a regular a sociedade e

mediar as relações sociais, trazendo impacto direto para o debate referente à articulação

entre o trabalho e a educação e, sobretudo, para os trabalhadores e seu níveis escolares.

Concordando com Santos (2006), este cenário imprime novas exigências ao perfil do

trabalhador para atender à demanda da reestruturação produtiva, entre elas uma exigência

do aumento do nível de sua escolaridade.

[...] há um crescimento da importância [...] dos processos de ensino e

aprendizagem e a questão das novas tecnologias que predominou muito na

década de 90. [...] nós ficamos muito envolvidos [...] em entender esses impactos

das inovações tecnológicas (MACHADO, 2013, depoimento).

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Para atender aos requisitos de formação qualificada do trabalhador e aumento do nível de

escolaridade em resposta à demanda do mercado, muitas mudanças advieram e foi em

torno delas que o debate da década de 1990 se centrou.

Se as conferências anteriores tiveram como público essencialmente os trabalhadores da

área da educação, que compartilhavam os mesmos anseios e frustrações, agora a VI CBE

contava com representantes de “muitas e conflituosas posições”.

A 6ª CEB é fruto das mesmas lutas em defesa da escola pública e expressa a

mesma urgência de soluções políticas, mas tem a característica necessária aos

momentos de crise: revela a paciência da investigação científica, sem a qual as

perguntas são mal formuladas e as respostas acabam sendo delegadas aos que,

em nome da pressa política, dispensam os rigores da pesquisa bem como

responde às exigências de adensamento aos diagnósticos e da revisão criteriosa

dos paradigmas teóricos (ANDE/ANPED/CEDES, 1991, p. 16).

As CEBs se constituíram em importante espaço de discussão, articulação e organização de

educadores e outros segmentos sociais em torno da educação. Em especial, elas

oportunizaram discussões que pautaram a relação entre trabalho e educação, no seio da

qual estava o princípio educativo do trabalho.

Como retratado brevemente em parágrafos anteriores, outro importante espaço de

socialização da produção de conhecimento, que organizava os pesquisadores da área do

trabalho e educação, foi a Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação

(ANPEd). Organizada em GTs, ela teve no GT Trabalho e Educação (GT9), que investiga

trabalho e educação, o principal esteio de sustentação do debate sobre o princípio

educativo do trabalho.

Esse GT9, além de espaço de discussão e socialização da produção do conhecimento, teve,

ainda, por intermédio de seus membros, atuação na política educacional por meio da

participação nas CBEs, no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública por ocasião da

Constituinte da construção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

O Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP) se constitui por meio

de diversas associações que participavam do movimento educacional em meados

dos anos 1980. Sua temática centrava sobre a democratização da educação e da

gestão democrática do ensino (BATISTA, 2002, p. 2).

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De acordo com a autora, o Fórum, que teve sua origem nas CBEs, contou com a

participação efetiva de intelectuais e de uma sociedade civil organizada, que objetivava

uma educação pública de qualidade e uma sociedade democrática, posição ética contra

uma política privatista almejada por um governo neoliberal.

Foi nos anos 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso, que ocorreu o I Congresso

Nacional de Educação (CONED)28

. “Esse evento reuniu setores organizados da sociedade

civil por meio de entidades científicas, acadêmicas, sindicais e estudantis e ainda uma

pequena parcela da sociedade política”, para discutir propostas que contribuíssem para uma

sociedade menos excludente, principalmente no que se refere à educação pública (II

CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO - CONED, 1997) e demonstrar seu

descontentamento em relação às modificações na política educacional brasileira

(GUIMARÃES; SILVA, 2010).

O II CONED aconteceu “após três anos de governo neoliberal de Fernando Henrique

Cardoso, em que a crise da educação atingiu níveis intoleráveis. [...] Seu objetivo maior foi

a construção do Plano Nacional de Educação - PNE29

[...] que atendeu ao compromisso

assumido pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública” (BELO HORIZONTE,

1997).

O II CONED é fruto de longo e cuidadoso debate que teve seu começo no início da década

de 1980, quando os primeiros sinais de democracia começavam a brotar.

De acordo com o Plano Nacional de Educação (BELO HORIZONTE, 1997) no tocante à

educação profissional, O CONED conduziu o debate na direção de uma reformulação do

28

Congresso Nacional de Educação (CONED) aconteceu em número de cinco, sendo o I e o II na cidade de

Belo Horizonte, em julho/agosto de 1996 e novembro de 1997, respectivamente. O III aconteceu em Porto

Alegre – dezembro de 1999, o IV em São Paulo – abril de 2002 e o último em Recife – maio de 2005. Para

este trabalho serão enfatizados os dois primeiros por terem influenciado diretamente o debate aqui retratado. 29

Esse Plano Nacional de Educação tem como ponto de partida um diagnóstico de possibilidades e

limitações, construído com base na realidade nacional e por meio de comparações com o que ocorre ou

ocorreu em diferentes países. Como consequência desse diagnóstico, são apresentadas propostas para a

organização da educação nacional, particularmente para a configuração do Sistema Nacional de Educação,

para a gestão democrática da educação brasileira e para o financiamento da educação. São analisados

aspectos significativos dos níveis e modalidades da educação, sendo apresentadas diretrizes e metas para a

Educação Básica, aí incluídos a Educação Infantil, o Ensino Fundamental, a Educação de Jovens e Adultos,

com vistas, sobretudo, à Erradicação do Analfabetismo, e o Ensino Médio e Educação profissional, e para a

educação superior. Finalmente, são analisados os problemas relativos à formação de profissionais da

educação, tanto para o magistério como para as áreas técnica e administrativa, nos diversos níveis e

modalidades de ensino, apresentando-se um conjunto de diretrizes e metas específicas. Disponível em:

http://www.adusp.org.br/files/PNE/pnebra.pdf. Acesso em: 18/11/2013.

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segmento que permitisse quebrar a dualidade da educação, criticando a formação voltada

para atender às demandas do mercado e defendendo uma formação de profissionais críticos

e participantes ativos do mundo do trabalho. A defesa de uma construção coletiva e

democrática da educação com elementos que fundamentassem a implantação de uma

política para a educação profissional foi alvo dos debates.

O PNE que resultou desse evento:

É um instrumento definido em função da política educacional a ser

implementada, da legislação que lhe dá suporte e das condições humanas,

materiais e financeiras à disposição da sociedade. Seu principal objetivo é

atender às necessidades educacionais da maioria da população - ele é, por

concepção, socialmente includente. Outrossim, tanto o método quanto o

conteúdo deste plano refletem o caráter coletivo e democrático de sua

elaboração, assim como deverá fazê-lo na sua implementação e avaliação (BELO

HORIZONTE, 1997).

De acordo com Bollman (2010), o Plano Nacional de Educação: proposta da sociedade,

uma construção de anos sustentada por posições democráticas e pautadas por direitos

garantidos na Constituinte de 1988, foi abnegada pelo governo de Fernando Henrique

Cardoso (FHC). O PNE que resultou da mobilização nacional na luta pela educação fez

com que o governo se movimentasse rapidamente para evitar a vitória que ele indicava.

Um artifício político foi utilizado, assim como foi feito na aprovação da LDBEN.

Essa estratégia, que se materializa na apresentação do PNE ao Congresso

Nacional, desencadeou a “obrigação” do governo federal de produzir de forma

rápida o PNE - Proposta do Executivo ao Congresso Nacional (PNE/MEC),

documento que revela as reais concepções e diretrizes da política educacional

dos setores hegemônicos representado pelo governo FHC (BOLLMAM, 2010, p.

613).

Essas foram às contribuições do CONED que, como interlocutora do debate junto à

sociedade civil, pleitearam uma sociedade justa e uma política educacional pública, de

qualidade e para todos, além de lutar contra um governo com posições conservadoras.

Ainda no início dos anos 1990, merece destaque a participação dos Centros Federais de

Educação Tecnológica (CEFETs)30

. Por meio do CONCEFET31

, que reúne os seus

30

“Docentes e servidores organizados politicamente e/ou qualificados em programa de pós-graduação em

educação levaram para seu interior o debate sobre a politecnia, cerne da difusão sobre o ensino médio

naquele momento” (RAMOS, 2006, p. 287).

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dirigentes, os CEFETs tiveram papel fundamental na conquista de espaços referentes à

educação profissional e tecnológica, no fortalecimento da luta em favor da escola pública

de qualidade e no enfrentamento da política neoliberal na educação. Esse enfrentamento

revelava uma disputa pela hegemonia em um cenário de conflito de concepções em que

esses representantes assumiam posição crítica referente às políticas voltadas para a

educação. Enquanto eles defendiam “formação humana, incluindo a construção

sistematizada do conhecimento articulada com o mundo do trabalho em suas múltiplas

dimensões”, outros “possuíam viés tecnicista e economicista na ótica do capital humano”

(RAMOS, 2006, p. 288). Do lado desse viés “tecnicista e economicista” estavam os

segmentos conservadores que defendem a privatização do ensino. Do outro lado, estavam

os progressistas, que levantaram sua bandeira contra reformas governamentais, como a

estadualização dos CEFETs, que colocava em risco a qualidade da escola pública, e

também contra a dualidade da educação.

2.4 Influências sobre as políticas educacionais de 1980

Como afirmado anteriormente, os anos 1980 marcam a transição da ditadura militar para

redemocratização do país e para a “busca de superação do ideário pedagógico do ciclo da

ditadura” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2006a, p. 75).

Apesar dos avanços do ponto de vista conceitual em torno da relação entre trabalho e

educação e do princípio educativo do trabalho, evidenciado pela produção descrita, seus

reflexos na legislação educacional são pífios.

O debate da educação politécnica, educação omnilateral e do princípio educativo

do trabalho não penetrou na sociedade, não penetrou nas universidades, não

penetrou na escola básica. [...] O campo das ideias está andando mais...

(FRIGOTTO, 2013, depoimento).

31

Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica, uma entidade de direito privado,

sem fins lucrativos, que congrega os Dirigentes dos CEFETS, foi criado em 21 de julho de 1982, por ocasião

da edição do Decreto nº 87.310, assinado pelo então Ministro da Educação Rubem Ludwig no governo de

João Figueiredo, como forma de dar força e voz às primeiras Escolas Técnicas transformadas em Centros

Federais de Educação Tecnológica (PEREIRA, 2010, p. 230).

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Na década de 1990, o percurso para a construção da nova LDBEN mobilizou educadores e

segmentos sociais que colocavam em circulação a ideia de um projeto societário em que a

educação nacional ganhou atenção central em uma nova relação entre Estado e sociedade.

Entre eles estava o professor Dermeval Saviani, que:

Entrou no debate sobre o tema, influenciado, quer dizer, pressionado por um

contexto que é a discussão da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional [...] ele elaborou documentos que foram apresentados ao Congresso

Nacional, à comissão que estava discutindo o assunto (MACHADO, 2013,

depoimento).

Para realizar uma interlocução com os debatedores do tema da LDBEN, Saviani produziu o

texto “Contribuição à Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação: um início de conversa

(1988)”, conforme visto anteriormente (RODRIGUES, 2008). Esse texto fazia referência à

educação politécnica e representava os anseios de professores, estudantes, funcionários e

pesquisadores da área da educação engajados na causa da defesa da escola pública.

O texto foi transformado, na íntegra, em uma proposta de projeto de lei apresentado pelo

então Deputado Federal Otcávio Elíseo. Apesar de não ser objetivo de Saviani ter o seu

texto transformado em projeto de lei, esse fato suscitou a mobilização da sociedade civil

por uma educação democrática que atendesse aos interesses da classe trabalhadora.

Segundo Otranto (1997), no decorrer do processo de construção e aprovação da nova

LDBEN, posições hegemônicas e conservadoras reagiram contra a perspectiva abraçada

pelo projeto de lei que utilizou o texto de Saviani. O projeto recebeu inúmeras emendas de

posições conservadoras e defensoras dos interesses privados. O projeto original foi

derrotado e em seu lugar foi aprovado o projeto Darci Ribeiro, que caminhava em oposição

à democratização e à defesa da escola pública, gratuita e de qualidade para todos.

A partir daí, as produções científicas da época foram se organizando em torno da defesa de

uma educação que objetivasse a emancipação do homem, considerando que por seu

intermédio os trabalhadores conseguiriam lutar e alcançar uma sociedade igualitária,

posições que se colocavam contra a LDBEN aprovada (TREIN; CIAVATTA, 2006).

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Silva (1998) salienta que se instalou uma luta a favor de uma educação contra-hegemônica

que objetivava produzir mudança efetiva na sociedade, com indivíduos que constituíam um

coletivo organizado e que contribuíam com o processo produtivo, do qual eles eram o

próprio condutor. Esse projeto contrapõe-se ao processo educativo concebido como mero

adestramento e conformação dos estudantes aos interesses do mercado.

A aprovação do projeto substitutivo foi fundamental para que, pouco depois, o então

presidente Fernando Henrique Cardoso pudesse colocar em cena a sua proposta de reforma

educacional: o Decreto nº 2.208/97, que restringiu a perspectiva democrática e deu força ao

capital e ao mercado. O decreto significou, assim, um retrocesso em relação aos avanços

no nível das ideias relacionadas à democratização da educação, à educação profissional e

ao ensino médio (MOURA, 2007).

Pacheco (2012) pontua que a partir do Decreto nº 2.208/97 a oferta do ensino médio voltou

a se dar em duas possibilidades: o ensino médio propedêutico e o ensino técnico na

modalidade concomitante e subsequente. Isso quer dizer que os alunos interessados na

educação profissional poderiam cursar o ensino técnico, concomitantemente, na mesma

instituição ou instituição diferente, com matrículas diferentes para cada curso, ou fazê-lo

na modalidade subsequente, em cursos técnicos oferecidos a alunos que já haviam

concluído o ensino médio.

A leitura feita por Frigotto e Ciavatta (2006b) sobre o Decreto 2.208/97 foi que este selou a

separação entre o ensino médio e a educação profissional, estratégia que se posicionava a

favor de uma lógica de mercado conduzindo a educação e revelava um conservadorismo

radical. Dado o seu caráter autoritário e conservador, o decreto não obteve respaldo da

sociedade civil, tampouco daqueles educadores que estavam engajados na luta por uma

educação profissional de qualidade e que envolvia a proposta da educação politécnica.

Ainda com base nesses autores, o decreto se contrapôs à luta democrática pela construção

de uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade e manteve ligação entre trabalho e

educação, que subverteu a proposta de formação humana integral na educação profissional

e instaurou uma outra relação em que a prática pedagógica foi reduzida à dimensão

econômica e atrelada aos interesses do mercado. A destituição do processo democrático de

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discussão em torno da educação profissional trouxe à tona um cenário conservador, isto é,

uma educação dualista, elitista e seletiva.

Para Frigotto e Ciavatta (2006a), o projeto político neoliberal em curso na década de 1990

trouxe consequências desastrosas não só para a educação, como também para o trabalho,

pois ambos tiveram o seu padrão de qualidade determinado pelo capital.

Quanto ao trabalho, as consequências vieram pela implantação de uma reestruturação

produtiva32

, cujo modelo de organizar e gerir o trabalho, o sistema integrado e flexível,

implicou novas exigências para o trabalhador se manter no mercado de trabalho e instaurou

o desemprego estrutural.

O projeto neoliberal reforçou o dualismo histórico que marcou a educação brasileira e

abriu as portas para que o mercado determinasse os rumos da educação com consequências

desastrosas para o campo educacional, como a terceirização e a privatização do

pensamento pedagógico. A educação se tornou, cada vez mais, uma política privada e a

formação passou a ter como referência um modelo de competências e a formação do

trabalhador polivalente33

.

A questão central do debate da década de 1990, de acordo com Handfas (2007), se voltou

para, de um lado, as consequências sofridas pelo trabalhador frente às transformações

ocorridas no sistema produtivo e, do outro lado, para a dualidade da educação.

Para Ney (2006), a reforma da educação ao final dos anos de 1990 exibiu um retrocesso na

concepção de educação: de um lado, uma formação destinada àqueles que controlam o

processo de trabalho, ou seja, a educação científica; e, do outro, uma voltada para aqueles

que executam, quer dizer, a educação profissional. Consolidava-se, desta forma, a

dualidade entre a educação geral, propedêutica e a educação específica e profissional.

32

Conf. SANTOS, Jailson dos. Início dos anos 1990: reestruturação produtiva, reforma do Estado e do

sistema educacional. p.187-199. In: Frigotto, Gaudêncio; Ciavatta, Maria (org.). A formação do cidadão

produtivo: a cultura de mercado no ensino médio técnico. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira, 2006. 33

Sobre a discussão referente à teoria das competências, polivalência e capital humano, ver: Educação

Profissional numa sociedade sem empregos, de Ferreti e Silva Júnior. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/cp/n109/n109a03.pdf. Acesso em: 27 de março de 2014.

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44

No entanto, a insatisfação frente às estratégias neoliberais deu mais força para que o debate

acerca do princípio educativo do trabalho e da politecnia continuasse em pauta:

“Chegamos a um consenso de que o caminho mais adequado para começar a levantar esta

dimensão da politecnia seria quebrar a ossatura da dualidade. Na teoria (esse) é o caminho

todo” (FRIGOTTO, 2013, depoimento).

A pauta do debate apresentava duas posições: de um lado, aqueles que defendiam a

superação da dualidade estrutural da educação; e, de outro lado, os defensores de uma

formação voltada exclusivamente para atender às necessidades do mercado de trabalho.

No primeiro grupo, pontua Ramos (2006), os esforços se voltavam para priorizar uma

formação capaz de articular conhecimentos gerais e conhecimentos específicos, o mundo

da educação e aquele do trabalho, na perspectiva de superação da dualidade.

Assim se apresentava o panorama do debate na década de 1990: a luta por reescrever a

história da sociedade brasileira, uma história que há séculos exclui a maioria da população

e privilegia uma minoria, pela participação política e social e pela oferta de uma educação

gratuita e de qualidade.

Pereira (2010) enfatiza que o período do governo de Fernando Henrique Cardoso foi o

mais crítico para a educação brasileira e identifica uma ruptura histórica do governo

federal com a educação profissional técnica. Isso demonstra a desqualificação a que foi

submetida a educação profissional em prol da qualificação da educação propedêutica e

elitista.

Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva no ano de 2003, nasceu uma nova perspectiva

em relação aos rumos da educação.

De acordo com Ramos (2010a), no campo educacional esse compromisso foi formalizado

com a promulgação do Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004, que revogou o Decreto nº

2.208/97.

Além do ensino técnico oferecido nas modalidades subsequente e concomitante, o decreto

introduz a modalidade integrada, na qual o ensino médio acontece de maneira integrada à

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educação profissional, cursado em uma mesma instituição com matrícula e diploma únicos.

(BRASIL, 2004a)

O Decreto nº 5.154/04 foi incorporado à LDB pela Lei nº 11.741, de 16 de julho

de 2008. O tema foi objeto de polêmica, ao introduzir o ensino médio integrado à

educação profissional, propondo articular conhecimento, cultura e trabalho.

Guardadas as diferenças históricas, sua origem remota está na educação

socialista, politécnica ou tecnológica, que pretendia ser omnilateral no sentido de

formar o ser humano na sua integralidade física, cultural, política e científico-

tecnológica. A origem recente da ideia de integração entre formação geral e a

educação profissional está nas lutas pela democracia em defesa da escola pública

nos anos de 1980, que buscavam assegurar uma formação básica que superasse a

dualidade entre cultura geral e cultura técnica, assumindo o conceito de

politecnia (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2011, p. 626).

O forte debate ocorrido nos períodos citados, sobretudo no que se refere à revogação do

Decreto nº 2.208/97, foi um dos grandes responsáveis pela construção de uma proposta de

ensino médio integrado.

O decreto não nega nem abole a dualidade da educação. É uma ingenuidade acreditar que a

promulgação de uma lei, cuja natureza de decreto já traz em si mesma problemas, fosse

capaz de abolir a dualidade estrutural da educação brasileira.

Segundo Ferretti (2011), a promulgação do Decreto nº 5.154/04 dividiu opiniões. As

críticas voltaram-se para a impossibilidade de mudanças por via do decreto. Esse grupo

considerava que as mudanças deveriam atingir toda a legislação, inclusive a LDBEN,

considerada uma legislação minimalista, que também não inseria avanços para a educação.

Para outros, que concordavam com as críticas à LDBEN, no entanto, a possibilidade, e não

obrigação, de integração do ensino médio com a educação profissional parecia abrir novas

possibilidades de instauração da formação integral e da incorporação do princípio

educativo do trabalho na perspectiva da educação politécnica.

Na opinião de Gaudêncio Frigotto: “foi sábio isso do Decreto nº 5.154 não obrigar (é

necessário) conquistar a sociedade [...]. Nós recebemos muitas críticas sobre isto (sobre

apoiar a não obrigatoriedade do Decreto)” (FRIGOTTO, 2013, depoimento).

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O próximo parecer demonstra que programas e políticas governamentais foram alvo de

críticas, principalmente pela falta de articulação entre si.

Eu acho que as políticas são, no Brasil, políticas que atacam por diferentes

frentes: políticas sociais, políticas educacionais, mas não existe um projeto

integrador. Então você tem para jovens e adultos: PROEJA, PROEJA FIC,

PROEJA TÉCNICO e você tem agora o [Programa Nacional de Acesso ao

Ensino Técnico e Emprego. Institucional] PRONATEC. Já teve escola da

fábrica, tem sistema S, escolas estaduais, o ensino médio inovador em Minas

Gerais, cada um com um programa diferente ou alguns pontos em comum, mas

não tem uma política global (MACHADO, 2013, depoimento).

Essa desarticulação se explica porque:

Nossas políticas são em ziguezague, depende muito do governo que está aí, nós

não temos uma política de estado, por exemplo, que tem uma continuidade [...] a

política é difícil porque é correlação de forças. E nesse sentido o campo das

ideias tem avançado mais (FRIGOTTO, 2013, depoimento).

Essas opiniões demonstram a dificuldade de programas e políticas governamentais

assimilarem os avanços alcançados no nível do debate: eles são projetados de acordo com

as prioridades de governos e não pelas prioridades sociais. Uma política pública assertiva

requer uma continuidade e um objetivo que atendam à sociedade e não a interesses

políticos partidários de um ou outro governo. Entretanto, esse avanço no campo das ideias

foi de significativa importância para a construção da legislação atual.

Após a revogação do Decreto nº 2.208/97 pelo Decreto nº 5.154/04, o governo de Luiz

Inácio Lula da Silva trouxe uma proposta de educação, sobretudo para o ensino médio e a

educação profissional. O governo ouviu os setores que se envolveram no debate da década

de 1980 e 1990, principalmente.

Em 2003, o Ministério da Educação/SEMTEC, organizou dois seminários que

foram o marco da discussão da integração. O primeiro Seminário Nacional

“Ensino Médio: construção Política34

”, que ocorreu em Brasília em maio de

2003, teve como objetivo discutir a realidade do ensino médio brasileiro e novas

34

Esse seminário resultou em uma coletânea estruturada em torno de quatro grandes tópicos. O livro traz

artigos que se reportam à concepção de ensino médio, aos sujeitos a quem se destina, às políticas curriculares

e do livro didático e, finalmente, à gestão da instituição escolar. Para aprofundamentos, ver FRIGOTTO,

Gudêncio; CIAVATTA, Maria (orgs). Ensino médio: ciência, cultura e trabalho. Brasília, MEC/SEMTEC,

2004.

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perspectivas na construção de uma política para esse nível de ensino, cujo

resultado foi sistematizado no livro: Ensino Médio: Ciência, Cultura e Trabalho.

O segundo foi o Seminário Nacional de Educação Profissional “Concepções,

experiências, problemas e propostas” específicos da educação profissional e

tecnológica e teve como base de discussão o documento intitulado: “Políticas

Públicas para Educação profissional e Tecnológica”. O resultado dessas

discussões foi sistematizado no documento publicado pelo MEC, em 2004,

“Proposta em discussão: Políticas Públicas para a Educação Profissional e

Tecnológica” (BRASIL, 2007, p. 6).

Para Lucília Machado (2013), depoimento:

As últimas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, que foram de

janeiro de 2012, se não me engano, e a outra da Educação Técnica de Nível

Médio, que é de agosto de 2013, fazem alguns avanços. Incorporam alguns

conceitos importantes.

A proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Profissional Técnica de

Nível Médio considera o “trabalho como princípio educativo a base para organização e

desenvolvimento curricular em seus objetivos conteúdos e métodos” (PACHECO, 2012, p.

67).

Para a construção dessa proposta foi criado um GT composto de:

Quatro secretarias do MEC; o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); o

Ministério da Saúde (MS), representado pela Escola Politécnica de Saúde

Joaquim Venâncio (EPSJV-FIOCRUZ); os gestores estaduais de educação

profissional, vinculados ao Conselho Nacional dos Secretários de Educação

(CONSED); o Fórum dos Conselhos Estaduais de Educação; o Conselho

Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

Tecnológica (CONIF); a Central Única dos Trabalhadores (CUT), representada

pela Escola dos Trabalhadores; o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da

Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEF); e a Associação

Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPED); contou-se, ainda,

com a colaboração de renomados pesquisadores da educação profissional e

tecnológica (PACHECO, 2012, p. 6).

O texto que contém essas contribuições retoma a história dos debates para a construção da

LDBEN, sobre os Decretos nº 2.208/97, nº 5.154/04, a Lei nº 11.741/08 e os conceitos de

formação humana integral, cidadania, trabalho, ciência, cultura e princípio educativo do

trabalho, que embasam a discussão. Traz também apontamentos de ações necessárias para

que a proposta de uma educação profissional técnica de nível médio, que atenda às

singularidades de seu público jovem, adulto e trabalhador, possa se concretizar.

Mesmo assim, apesar dos avanços relativos à incorporação de alguns conceitos na

legislação, problemas podem ser identificados.

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Nós queríamos fazer uma diretriz única, ou melhor, uma mesma fundamentação

teórica para integrar e ter indiscutivelmente algumas especificidades. Brigamos

três anos ali. Mas olha o retrocesso do aparelho do Estado: o presidente da Câmara

de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação [da época] apresentou

[outra] proposta [que continha] a noção de competências [...] (FRIGOTTO, 2013,

depoimento).

Primeiramente, pode-se observar nas entrelinhas do processo de construção das diretrizes

citadas que, ao mesmo tempo em que o debate critica a dualidade da educação brasileira e

reitera a necessidade de integração entre educação geral e profissional, são formuladas

duas diretrizes: uma para o ensino médio e outra para educação profissional. Essa realidade

continua apresentando grandes desafios no que se refere à integração do ensino médio com

a educação profissional. Isso quer dizer um projeto unitário de ensino médio sob os

princípios do trabalho, da ciência e da cultura.

Entretanto, ainda no mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, houve outra conquista, que se

refere à expansão da Rede Federal de Educação Profissional, com a criação de 38 Institutos

Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

A Lei nº11.892/08 instituiu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica

e Tecnológica no âmbito do sistema federal de ensino, vinculada ao Ministério

da Educação e constituída pelas seguintes instituições: Institutos Federais de

Educação, Ciência e Tecnologia – Institutos Federais; Universidade Tecnológica

Federal do Paraná (UTFPR); Centros Federais de Educação Tecnológica Celso

Suckow da Fonseca (CEFET-RJ) e de Minas Gerais (CEFET-MG); Escolas

Técnicas vinculadas às Universidades Federais (OTRANTO, 2010, p. 90).

A proposta de expansão dos Institutos Federais (IF) quer possibilitar novas oportunidades

para o público de jovens e adultos da classe trabalhadora. “Derrubar as barreiras entre o

ensino técnico e o científico, articulando trabalho, ciência e cultura na perspectiva da

emancipação humana, é um dos objetivos basilares dos Institutos Federais” (PACHECO,

2011, p. 15).

A proposta dos IFs enfatiza uma educação que propicie a participação política e efetiva da

sociedade articulada à realização de potencialidades humanas.

2.5 Conceito, noções e teorias que sustentam o debate

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O conceito de trabalho é a referência que articula todos os demais conceitos que

sustentaram o debate sobre a educação profissional e, em especial, sobre o princípio

educativo do trabalho, desde os anos 1980 até os dias atuais.

Inicialmente:

São três distinções em relação ao trabalho humano: por ele, diferenciamo-nos do

reino animal; é uma condição necessária ao ser humano em qualquer tempo

histórico; e o trabalho assume formas históricas específicas nos diferentes modos

de produção da existência humana (FRIGOTTO, 2008).

Para Frigotto (2008), essas distinções possibilitam superar o que o senso comum entende

por trabalho. De um lado, o trabalho assume as formas históricas das relações sociais que o

determinam e resulta em pura negatividade. É a terceira distinção indicada pelo autor, que

diz respeito ao caráter histórico do trabalho. Na sociedade capitalista, o trabalho é

determinado pelas relações sociais de produção capitalista. Assim o foi no modo de

produção escravocrata, bem como na sociedade servil.

Já o caráter ontológico do trabalho, expresso nas duas primeiras distinções, está na relação

entre o homem e a natureza. Nessa relação, o homem, que depende da natureza, a

transforma e nesse movimento produz a sua existência.

O caráter ontológico do trabalho está “na natureza transformada pelo trabalho, que propicia

as condições da vida dos membros da sociedade. Toda e qualquer sociedade humana tem

sua existência hipotecada à existência da natureza” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 35).

O caráter ontológico do trabalho diz respeito ao fato de que o homem é o único ser capaz

de propor finalidades para a sua vida. Por meio do trabalho ele encontra formas de se

construir como ser social; e mesmo que a história imponha limites, essas imposições são

apenas inibidoras e não impeditivas.

Portanto, o caráter ontológico diz respeito ao trabalho como categoria fundante do ser. O

trabalho humano é tomado em sua concepção ontocriativa.

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O trabalho compreendido em sua dupla dimensão – ontológica e histórica – dá sustentação

ao debate acerca do princípio educativo do trabalho. É a partir daí que a relação entre

trabalho e educação se apresenta.

Saviani (2007, p. 154) considera que “no ponto de partida a relação entre trabalho e

educação é uma relação de identidade”. Para o autor, essa relação possui um sentido

ontológico-histórico ao considerar a existência humana como algo que não é natural, mas

construída pelo homem por intermédio do trabalho; e essa construção se faz ao longo do

tempo, ou seja, é também um processo histórico. É esse fundamento que dá vida ao debate

em tela aqui.

É com Marx que essa relação entre trabalho e educação estreita seus laços. Marx, ao

articular trabalho e ensino, não tinha a intenção de construir alguma teoria específica

voltada para a educação, no entanto, foi a partir dessa articulação que ele deixou

contribuições fundamentais para se pensar o princípio educativo do trabalho.

Entretanto, torna-se importante fazer uma distinção entre os diversos sentidos atribuídos ao

trabalho no debate aqui apresentado. “O trabalho como princípio educativo, então, não é,

sobretudo, uma técnica didática ou metodológica no processo de aprendizagem, mas um

princípio ético-político” (FRIGOTTO, 2008, s.p.).

[...] a literatura foi construindo (por meio dos debates) a distinção do trabalho,

trabalho como direito, trabalho como dever, princípio educativo do trabalho e o

trabalho como princípio educativo ou pedagógico. Tem uma nuance aí [é

importante] marcar esta nuance.

Assim sendo, entre princípio educativo do trabalho e trabalho como princípio educativo:

[...] há uma diferenciação fundamental entre estas duas formulações, já que no

primeiro caso reporta imediatamente ao processo mais amplo de educação que se

dá por meio do trabalho na forma social em que assume um modo determinado

de produção da vida, enquanto no segundo, estamos nos referindo à utilização do

trabalho material socialmente útil como base para organização de um sistema de

ensino, com vistas à formação de quadros que permita realizar uma transição que

reunifique ensino e educação o que só é possível pela emancipação do trabalho

(PISTRAK, apud TITTON, 2008, p. 4).

O princípio educativo do trabalho diz respeito à formação humana que resulta da relação

do homem com a natureza, por meio da qual ele se constrói e se educa, ele a transforma e

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se transforma nesse processo. Trata-se de uma prática que “é portadora da liberdade pela

emancipação do homem” (TITTON, 2008, p. 2).

A concepção de trabalho como princípio educativo ou trabalho como princípio pedagógico,

como demarcado por Frigotto, está ligada ao uso do trabalho como recurso para promover

a educação nas instituições escolares. Nas palavras de Titton (2008, p. 6), essa seria uma

possibilidade de “articular o processo de transmissão do conhecimento acumulado ao

longo da história” [...] “significando a união necessária entre instrução intelectual e

trabalho produtivo” (TITTON, 2008, p. 7).

Há de se tomar cuidado para não reduzir este último conceito ao aprender-fazendo.

Requer-se nesse caso entender que se trata de uma proposta pedagógica para que as

instituições de ensino transmitam uma formação embasada no princípio educativo do

trabalho, que quer dizer uma formação humana integral e emancipadora.

Afirmar o princípio educativo do trabalho significa conceber o trabalho em sua dupla

dimensão: ontológica e histórica. O trabalho, ainda que sob relações sociais capitalistas, é

espaço de realização humana própria do ser, o que revela sua natureza formadora. Nesse

sentido, pode-se encontrar nele os fundamentos da educação e na educação, o seu princípio

educativo.

O trabalho, em seu sentido ontológico, diz respeito à prática de formação humana e a

omnilateralidade é essa formação concebida em todas as dimensões da vida: intelectual,

física e emocional. Ela não é uma especificidade de formação pedagógica, formação geral

ou formação profissional, mas formação humana para a vida.

A formação omnilateral objetiva a formação humana, não se importando se esta

se refere a uma formação geral ou profissionalizante, pois dela se espera a

formação para vida, em dimensões fundamentais para estruturar a prática social.

Essas dimensões são o trabalho, a ciência e a cultura. O trabalho é compreendido

em um duplo aspecto: como realização humana inerente ao ser (sentido

ontológico) e como prática econômica (sentido histórico associado ao respectivo

modo de produção); a ciência é compreendida como os conhecimentos

produzidos historicamente pela humanidade e possibilita o contraditório avanço

produtivo; e a cultura corresponde a valores éticos e estéticos que orientam as

normas de conduta de uma sociedade (RAMOS, 2004, p. 3).

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A omnilateralidade supõe uma formação humana integral que possibilite aos sujeitos se

apropriarem de conhecimentos produzidos pela sociedade, acesso à cultura, fazerem suas

escolhas e determinarem seus próprios caminhos. “Sujeitos que têm uma vida, uma história

e uma cultura. Que têm necessidades diferenciadas, mas lutam por direitos universais”

(RAMOS, 2004, p. 39).

Outro conceito que alimenta o debate é o de politecnia. A politecnia remete ao princípio

educativo do trabalho e à formação humana omnilateral. Este é também constituído a partir

das contribuições de Marx, como demonstram os autores a seguir.

Mostrando a contemporaneidade entre o texto das Instruções aos Delegados do

Primeiro Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores, escrito em

1866, e o Capital, Manacorda constata que em ambos os textos há uma

substancial identidade na definição do ensino que é adjetivado de “tecnológico”

tanto nas instruções como n’O Capital, aparecendo o termo “politécnico” apenas

nas instruções (MANACORDA apud SAVIANI, 2007, p. 144).

Assim, “Manacorda sugere que o termo politecnismo” se refere à

“disponibilidade para os diversos trabalhos e suas variações”, ao passo que

tecnologia, implicando a unidade entre teoria e prática, destacaria a

omnilateralidade que caracteriza o homem (SAVIANI, 2007, p. 145).

Apesar dessa discussão ter seu nascedouro em Marx, outros teóricos também a orientavam.

Lucília Machado, em seu livro Politecnia, Escola Unitária e Trabalho, ressalta as

importantes contribuições desses autores para a temática.

De acordo com a autora, Pistrak considera que “o elemento unificador deste intercâmbio, a

integrar escola e sociedade, é o trabalho” (MACHADO, 1989, p. 150).

Makarenko entende que o “trabalho que não é acompanhado do ensino, que não é

acompanhado da educação política e social, não proporciona proveito educativo,

resultando um processo neutro” (MAKARENKO apud MACHADO, 1989, p. 152).

Krupskaia define o ensino politécnico “como aquele destinado a desenvolver uma cultura

geral do trabalhado”, o que pressupõe a compreensão da produção em seu conjunto, o

conhecimento de que direção se desenvolve a técnica e a aquisição de informações

necessárias à adaptação do indivíduo às mudanças tecnológicas e de atividade

(KRUPSKAIA apud MACHADO, 1989, p. 156).

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Assim, edifica-se o conceito da politecnia. “A politecnia não almeja alcançar a formação

plena do homem livre, mas a formação técnica e política, prática e teórica dos

trabalhadores, no sentido de elevá-los na busca da sua autotransformação em classe-para-

si” (JUSTINO JÚNIOR, 2008).

A politecnia ancorada no pressuposto da omnilateralidade vislumbra uma formação

prática, teórica e política para formar o homem integralmente, que contemple em sua

formação todas as dimensões da vida.

Nesse sentido, a politecnia :

Representa a reunião de diversos aspectos que, uma vez associados, significaram

uma formação mais elevada dos filhos dos trabalhadores em relação às demais

classes sociais. Assim, a experiência do trabalho (em atividades diversas),

associada aos estudos dos fundamentos teóricos do trabalho e à formação

escolar, e ainda aos exercícios físicos e militares, representaria um salto na

formação dos trabalhadores, pois imporia um salto na formação decorrente das

condições de trabalho capitalistas (SOUZA JÚNIOR, 2009, s.p.).

Para o autor, politecnia e omnilateralidade são conceitos diferentes que se complementam.

Enquanto o primeiro é uma proposta para se desenvolver na sociedade capitalista, em que a

divisão social do trabalho marca as relações sociais antagônicas, o segundo, apesar de

também se aplicar a essa realidade é uma busca constante na superação dessas relações e

só logrará êxito quando houver a superação da sociedade capitalista.

Em síntese, os conceitos de politecnia e de omnilateralidade remetem ao trabalho humano

em seu caráter ontológico, já que o trabalho traz em si um princípio formativo, educativo:

educa e forma o homem para viver coletivamente sem explorar ou ser explorado.

2.6 Ensino médio integrado

O ensino médio é considerado pela LDBEN etapa final da educação básica. Muitos foram

os caminhos até o momento de se conseguir que esse nível de ensino fosse universalizado,

gratuito e de responsabilidade do Estado.

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Para a concepção de ensino médio integrado, também muitos foram os caminhos

percorridos. Sua construção se fez tanto na prática quanto no debate ocorrido a partir da

década de 1980, como explicitado anteriormente, e que evidencia a dicotomia entre

educação propedêutica e ensino técnico.

Não existe uma concepção [para o ensino médio integrado]. A legislação só fala

o seguinte: que é um curso com uma única matrícula. Não existe nas Diretrizes

Curriculares Nacionais para Educação Profissional e Técnica nada mais nada

menos do que dizer que o ensino médio integrado é um curso único, com

matrícula única, que o aluno recebe um certificado e um diploma ao mesmo

tempo, mais nada. Não tem uma concepção, a concepção ela é feita na prática,

pela construção. [É] através das experimentações que vai sendo construída a

concepção [de ensino médio integrado] (MACHADO, 2013, depoimento).

Para Ramos (2010), a proposta de ensino médio integrado é de que atenda ao público

jovem, propiciando uma formação de caráter emancipatório, em vez de se atender apenas a

uma formação minimalista voltada para interesses mercadológicos e respeitando as

especificidades de seu público. Essa proposta é, no entanto, uma construção que se dá em

um campo de embate contra a dicotomia histórica entre educação propedêutica e ensino

técnico e na luta para a construção de uma nova sociedade.

A realidade nos impõe sempre a pensar sobre o tipo de sociedade que visamos

quando educamos. Visamos a uma sociedade que exclui, que discrimina, que

fragmenta os sujeitos e que nega os direitos; ou visamos a uma sociedade que

inclui, que reconhece a diversidade, que valoriza os sujeitos e sua capacidade de

produção da vida, assegurando direitos sociais plenos? (RAMOS, 2009, p. 1).

A autora, nessa citação, realça o eixo de interesse quando se trata de formular uma

proposta de ensino médio que se assente na formação integral: qual concepção de mundo

se tem e qual projeto de sociedade se quer? A proposta de ensino integrado não pode se

furtar a esse questionamento.

[...] o ensino médio é uma proposição pedagógica que se compromete com a

utopia de uma formação inteira, que não se satisfaz com a socialização de

fragmentos da cultura sistematizada e que compreende como direito de todos o

acesso a um processo formativo, inclusive escolar, que promova o

desenvolvimento de suas amplas faculdades físicas e intelectuais (ARAÚJO,

2013, p. 1).

Sendo assim, a integração não é um simples “ajuntamento” de disciplinas. É uma educação

que incorpora o princípio educativo do trabalho e, portanto, a articulação entre trabalho,

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ciência e cultura. O princípio educativo do trabalho pode ser compreendido como

mediação para realizar o ensino integrado.

No entanto, essa proposta não tem a pretensão de resolver todos os problemas da educação

no nível do ensino médio. Mesmo porque ele apresenta lacunas acumuladas ao longo da

história da educação brasileira.

O ensino integrado é um projeto que traz um conteúdo político-pedagógico

engajado, comprometido com o desenvolvimento de ações formativas

integradoras (em oposição a práticas fragmentadas do saber), capazes de

promover a autonomia e ampliar os horizontes (a liberdade) dos sujeitos das

práticas pedagógicas (ARAÚJO, 2013, p. 1).

A educação integrada se quer produtora de cidadania no plano político, cultural e

econômico.

Cidadania política significa ter os instrumentos de leitura da realidade social que

permitam ao jovem e adulto reconhecerem os seus direitos básicos, sociais e

subjetivos e a capacidade de organização para poder fruí-los. No plano da

formação técnica profissional, a cidadania supõe o domínio das bases científicas

que superem o adestramento e permitam a cada jovem inserir-se no processo

produtivo dentro do atual patamar tecnológico. Trata-se de superar a dualidade

estrutural que separa a formação geral da específica, a formação técnica da

política, lógica dominante no Brasil, da colônia aos dias atuais. Uma concepção

que naturaliza a desigualdade social, postulando uma formação geral para os

filhos da classe dominante e de adestramento técnico profissional para os filhos

da classe trabalhadora (FRIGOTTO, 2013, p. 17).

2.7 Considerações finais

O debate referente ao princípio educativo do trabalho traz na sua gênese a crítica à

dualidade que estrutura o campo educacional. A reação a essa antiga estrutura traz seus

primeiros apontamentos no Manifesto dos Pioneiros, em 1932, que já denunciava a

oportunidade de acesso e qualidade de ensino como privilégio de uma pequena classe

dominante em detrimento de grande parte da parcela da população.

Mas foi na década de 1980, marcada por um período transitório da ditadura para a

democratização do país, que esse debate alcançou seu ápice e abriu espaço para uma

participação efetiva da sociedade civil. Nessa década, a aprovação da nova Constituição e

o debate referente à construção da nova LDBEN representaram importantes conquistas e

proporcionaram ganhos importantes para os direitos políticos e sociais. Esta última marcou

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56

um cenário de fortes disputas no campo da educação, sobretudo da educação profissional

de nível médio.

No interior dessa mobilização social para transformar a educação, o debate acerca do

princípio educativo do trabalho encontrou respaldo e envolveu sujeitos e espaços variados.

Dermeval Saviani, junto a seu grupo de orientandos, deu o pontapé inicial para essa

discussão e a partir daí outros pesquisadores e educadores se agregaram a esse debate e

contribuíram significantemente para sua expansão.

Unidos pelo mesmo interesse, vários desses pesquisadores deram vida à ANPED e ao seu

grupo de trabalho – GT9 – Trabalho e Educação –, espaço privilegiado do referencial

marxista no campo educacional brasileiro que embasa toda a discussão teórica da época.

Seis importantes CBEs foram organizadas e fomentaram discussões, articulações e

organização de entidades, educadores e outros segmentos em torno da educação.

Outros movimentos, como o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP),

deram continuidade ao debate iniciado na década de 1980 e também contribuíram como

interlocutores junto à sociedade civil, lutando por uma sociedade justa, uma educação

pública de qualidade para todos e nos anos 1990 contra um governo conservador.

Todas essas lutas não aconteceram em vão e trouxeram influências sobre as políticas

educacionais da época. E como toda luta se faz no contraponto de posições distintas, o

avanço no debate se deu em meio a uma forte disputa de poder, de exclusão e desigualdade

social, marcando o desenvolvimento capitalista.

Sendo assim, a LDBEN, promulgada em 1996, afirmava o conflito da dualidade, já que

manteve a separação obrigatória entre o ensino médio e a educação profissional: para o

ensino médio, uma escolarização clássica; e para o ensino técnico, a preparação para o

trabalho. Sua promulgação ignora todo um debate democraticamente construído pela

sociedade em defesa da concepção de um governo conservador.

A aprovação dessa LDBEN contribui de forma estratégica para que o então Presidente

Fernando Henrique Cardoso colocasse em cena a sua proposta de reforma educacional, o

Decreto no 2.208/97, que regulamentou a LDBEN/96 e estruturou o ensino médio,

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retomando legalmente seu sentido propedêutico; os cursos técnicos eram obrigatoriamente

separados do ensino médio e eram oferecidos de duas formas: concomitante ao ensino

médio e sequencial (BRASIL, 1997).

Em 2003, com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a sociedade teve de volta

a oportunidade de resgatar o debate em relação à proposta de uma educação profissional

técnica de nível médio. O Decreto nº 5.154/04 formalizou uma modalidade de ensino

médio integrado à educação profissional. Mais tarde, a educação profissional de nível

médio foi regulamentada pela Lei nº 11.747/08, que incorporou o Decreto nº 5.154

(BRASIL, 2004a). Ela manteve a oferta dos cursos concomitantes e sequenciais, mas

retomou a possibilidade de integrar o ensino médio à educação profissional técnica de

nível médio.

A proposta de ensino médio integrado compõe uma das modalidades de integração entre o

ensino médio e o ensino técnico e fundamenta-se em uma concepção de formação humana

em que todas as dimensões da vida se integram no processo educativo.

Ao se aproximar a metade da segunda década do século XXI, podem-se identificar

elementos que marcaram a história do debate, que foi o cenário desse texto, e também,

sobretudo, que constituem desafios ainda mobilizadores de novos debates.

De um lado, é possível registrar avanço político no movimento social que engloba o campo

educacional, em geral, e a educação profissional, em especial, embora se reconheça mais

fragilidade nesta última.

Em contrapartida, registra-se também o avanço das produções teóricas dos protagonistas

do debate que se iniciou na década de 1980. Encontram-se contribuições teóricas

relevantes sobre os conceitos que fundamentam o princípio educativo do trabalho e a

importância de sua incorporação para uma proposta educacional inovadora que questione a

dualidade da educação brasileira e seus pilares.

Identifica-se, ainda, uma legislação que, expressando a correlação de forças da sociedade

brasileira, é incapaz de incorporar os avanços citados. Mas não é conveniente ignorar a

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potencialidade que a proposta de ensino médio integrado que consta da legislação pode

significar nessa etapa da educação básica.

Finalmente, esses elementos de consideração final listados revelam uma realidade: os

desafios postos pelo pano de fundo da história desse debate aqui relatado – o princípio

educativo do trabalho como caminho privilegiado de estruturação de uma proposta e de

uma experiência de ensino médio integrado – são mais expressivos e atuais que o próprio

debate.

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59

3 A INCORPORAÇÃO DO PRINCÍPIO EDUCATIVO DO

TRABALHO PELOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO

INTEGRADO

3.1 Introdução

Este texto tem como objetivo apresentar resultados de uma pesquisa que objetivou analisar

a atualidade do debate em torno da incorporação do princípio educativo do trabalho entre

os professores das áreas de conhecimentos gerais e específicos nos cursos na área de

informática, na modalidade integrado, em três instituições públicas que ofertam educação

profissional.

O debate sobre o princípio educativo do trabalho traz na sua gênese a crítica à dualidade

que estrutura o campo educacional. Teve seu auge na década de 1980, mesma década em

que houve a aprovação da nova constituição brasileira e a mobilização de setores da

sociedade em torno da construção da nova LDBEN.

Esse cenário de mobilização social para a transformação da educação é representado por

variados espaços e sujeito. Dermeval Saviani, junto a seu grupo de orientandos, outros

pesquisadores e educadores, assim como entidades variadas, revela interesses comuns.

Nesse contexto, surgem produções que circunscrevem o debate referente ao princípio

educativo do trabalho, que:

Desenvolve ao máximo as potencialidades dos indivíduos (formação

omnilateral), conduzindo-os ao desabrochar pleno de suas faculdades espirituais-

intelectuais, estaria deixando o terreno da utopia e da mera aspiração ideológica,

moral ou romântica para se converter numa exigência posta pelo próprio

desenvolvimento do processo produtivo (SAVIANI, 1994, p. 13).

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Seis importantes CBEs foram organizadas e fomentaram discussões, articulações e

organização de entidades, educadores e outros segmentos em torno da educação.

Apesar de toda a mobilização em torno de uma transformação da educação, em 1996 foi

promulgada a LDBEN, que afirma o conflito da dualidade representada pela separação

obrigatória entre o ensino médio e a educação profissional.

No ano de 1997, a proposta de uma reforma educacional é apresentada pelo então

presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio do Decreto 2.208/97, que regulamenta a

LDBEN/96 e obrigatoriamente separa o ensino médio do ensino técnico, este último

ofertado nas formas concomitante ao ensino médio e sequencial.

Em 2003, com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entra em cena o Decreto

nº 5.154/04, que resgata a possibilidade de unir novamente o ensino médio com o ensino

técnico. O decreto formaliza uma modalidade de ensino médio integrado à educação

profissional, mantendo a oferta dos cursos concomitante e sequencial. Esse decreto é

regulamentado pela Lei nº 11.747/08.

A proposta de ensino médio integrado compõe uma das modalidades de integração entre o

ensino médio e o ensino técnico e fundamenta-se em uma concepção de formação humana

em que todas as dimensões da vida se integram no processo educativo.

Embora a proposta de ensino médio integrado tenha como pilar a incorporação do

princípio educativo do trabalho, essa realidade está longe de se concretizar nas

experiências concretas em vigor. A seguir relata-se como os professores de conhecimentos

gerais e específicos nos cursos na área de informática, na modalidade integrado, em três

instituições públicas, vivem a incorporação do princípio educativo do trabalho em suas

experiências docentes.

Dos procedimentos desta pesquisa constaram uma etapa bibliográfica e outra empírica. A

pesquisa bibliográfica buscou contextualizar o debate ocorrido na década de 1980 em torno

do princípio educativo do trabalho entre pesquisadores, educadores e instituições de

educação profissional, focalizando os principais autores, seus textos e conceitos

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trabalhados, bem como os desdobramentos após aquela década. A pesquisa empírica

voltou-se para os professores de três cursos de ensino médio integrado da área de

informática.

O cenário da pesquisa abrangeu três instituições que ofertam ensino médio integrado: duas

em Belo Horizonte e outra no interior de Minas Gerais. O perfil dos cursos do ensino

médio técnico oferecido por essas instituições possui diferenças: concomitante,

subsequente e integrado. A esta pesquisa interessaram os cursos de ensino médio

integrado.

Para inclusão nos critérios desta pesquisa foram definidos para a escolha das instituições

que participaram da pesquisa: oferecer cursos de ensino médio integrado; coincidência de

áreas de conhecimento dos cursos ofertados; instituição localizada na cidade de Belo

Horizonte ou próximo dela; cursos de instituições públicas de dependência administrativa

federal.

As técnicas de coleta de dados utilizadas foram entrevistas semiestruturadas com os

professores das áreas de conhecimentos gerais e específicos.

Para que sejam preservadas as identidades das instituições e de seus docentes, as primeiras

serão denominadas ao longo da dissertação pelas letras A, B e C e os professores serão

identificados pela letra P seguida por um número ordinal.

A instituição A nasceu no berço da industrialização com o objetivo de formar mão-de-obra

para atender às demandas do mercado de trabalho. Trata-se de uma instituição pública de

referência na educação profissional e tecnológica e atualmente oferta os cursos de ensino

médio integrado, em concomitância externa e subsequente, graduação e pós-graduação lato

e stricto sensu. Na década de 1980, período de grande mobilização por uma reforma

educacional e auge do debate sobre o princípio educativo do trabalho, educadores dessa

instituição tiveram envolvimento significativo nesta discussão.

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Nela, 100% dos professores entrevistados (seis) lecionam disciplinas de conhecimentos

gerais35

: Matemática (P1), Biologia (P6), Filosofia (P5), Sociologia (P4), Geografia (P2) e

Inglês (P3). Nenhum dos entrevistados possui título de doutor; 83% são mestres e 17%

possuem apenas graduação; 50% dos professores entrevistados trabalham em regime de

dedicação exclusiva e 50% são substitutos ou temporários.

No QUADRO 1 listam-se as disciplinas ministradas pelos professores entrevistados.

QUADRO 1 – Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na instituição A

Instituição

Disciplinas por área

Conhecimentos gerais Conhecimentos específicos

A

Matemática (P1)

Biologia (P6).

Filosofia (P5)

Sociologia (P4)

Geografia (P2)

Inglês (P3)

A instituição B foi inaugurada em 1969, no seio de uma importante universidade,

ofertando ensino técnico de nível médio. Também é referência no que concerne à educação

profissional de nível médio. A universidade que abriga a instituição B participou

efetivamente do debate da década de 1980 e foi palco da II Conferência Brasileira de

Educação, em 1982.

Na instituição B foram entrevistados oito professores: 62% das disciplinas de

conhecimentos gerais e 38% das disciplinas de conhecimentos específicos; 50% dos

entrevistados são doutores; 25% têm pós-doutorado; e 25% são mestres. Três dos

doutorados foram realizados na área de educação; 100% dos entrevistados se enquadram

no regime de dedicação exclusiva

No QUADRO 2 apresentam-se as disciplinas ministradas pelos professores entrevistados.

QUADRO 2 – Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados, da instituição B

35

Nessa instituição não foi possível a realização de entrevistas com os professores da área de conhecimentos

específicos devido a dificuldades postas pela coordenação do curso de informática e manutenção de redes em

favorecer o contato, bem como a ausência de retorno aos contatos feitos diretamente com os professores pela

pesquisadora via e-mail.

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Instituição

Disciplinas por área

Conhecimentos gerais Conhecimentos específicos

B

Geografia (P11) Introdução à programação

Matemática (P9) Aplicativos da web

Português (P10) Tecnologia da programação

Biologia (P7 e P8) Introdução aos sistemas básicos

Introdução a programação, organização e conectividade de

máquinas computacionais

Laboratório de introdução à programação, organização e

conectividade de máquinas computacionais

Algoritmo de estrutura de dados, organização

Máquinas computacionais II

Duas professoras entrevistadas ministram uma mesma disciplina com turmas diferentes,

sendo uma delas diretora de unidade de ensino36

. Ao longo de todo o curso todas as

disciplinas da área de conhecimentos específicos do curso de informática são divididas

entre três professores (P12, P13 e P14).

A instituição C possui especificidade entre as instituições que participaram da pesquisa. É

a mais recente entre elas e se localiza no interior da recente política de expansão da

educação profissional no país. Além do ensino médio nas modalidades integrado, integrado

PROEJA, subsequente e concomitante, disponibiliza também cursos de graduação, embora

os cursos profissionais de nível médio sejam sua prioridade.

Foram entrevistados seis professores: 83% deles ministram disciplinas de conhecimentos

gerais e 17% disciplinas de conhecimentos específicos; 16,5% de professores são pós-

doutores, 67% são mestres e 16,5% graduados; 83% possuem regime de dedicação

exclusiva e 17% são substitutos ou temporários.

No QUADRO 3 mostram-se as disciplinas ministradas pelos professores entrevistados.

QUADRO 3 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na instituição C

Instituição

Disciplinas por área

Conhecimentos gerais Conhecimentos específicos

C

Matemática (P16 e P18) Segurança e desempenho (P20)

Filosofia (P17) Manutenção em computadores (P20)

Geografia (P19) Introdução a ciência da computação (P20)

Química (P15)

36

Instância responsável pela supervisão dos programas de ensino, pesquisa e extensão, bem como pela

direção das atividades administrativas no âmbito da Unidade Especial. Disponível em:

http://www.coltec.ufmg.br/coltec/images/documentos/Normas_COLTEC_2014.pdf. Acesso em: 25 de julho

de 2014.

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64

Nesse caso, também foram entrevistados uma professora e um professor que lecionam a

mesma disciplina para turmas diferentes. Todas as disciplinas da área de conhecimentos

específicos que fizeram parte desta pesquisa são ministradas pela mesma professora

Considerado esse cenário, o próximo item tratará da concepção de princípio educativo do

trabalho e de ensino médio integrado do ponto de vista dos estudiosos do tema. Em

seguida, apresentar-se-ão os depoimentos dos professores que expressam a sua concepção

de princípio educativo do trabalho, bem como a sua experiência de integração entre

conhecimentos gerais e específicos.

3.2 A concepção de princípio educativo do trabalho e de ensino médio integrado do

ponto de vista dos estudiosos do tema

O trabalho na sua forma originária não é uma atividade natural do ser humano, ele é

aprendido e realizado no contato que o homem tem com a natureza e mediante as

necessidades que surgem para a sua sobrevivência.

[...] O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que

o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com

a natureza. [...] Não se trata aqui das primeiras formas instintivas animais de

trabalho. [...] Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence

exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do

tecelão e a abelha envergonha mais um arquiteto humano com a construção dos

favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da

melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em

cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início

deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não

apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo

tempo, na matéria natural, o seu objetivo. [...] Os elementos simples do processo

de trabalho são a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e

seus meios. [...] O processo de trabalho [...] é a atividade orientada a um fim para

produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer as necessidades

humanas, condição universal do metabolismo entre homem e a natureza,

condição eterna da vida humana e, portanto, [...] comum a todas as suas formas

sociais (MARX apud NETTO; BRAZ, 2008, p. 31).

É na relação entre homem e natureza para transformação do seu meio e em resposta às suas

carências que a categoria trabalho é concebida.

Para atender a essas necessidades, o homem transforma o seu meio natural. “Essa

transformação é realizada através da atividade a que denominamos trabalho” (NETTO;

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65

BRAZ, 2008, p. 30). É nessa relação estabelecida entre o homem e a natureza para a

transformação do meio em que vive que ele se diferencia do animal.

Assim se apresenta o trabalho na sua dimensão ontológica, “como práxis humana e, então,

como a forma pela qual o homem produz sua própria existência na relação com a natureza

e com os outros homens e, assim, produz conhecimentos” (PACHECO, 2012, p. 68).

O trabalho assim concebido é uma atividade exclusiva do homem, responsável pela relação

entre ele e a natureza e é “através do trabalho que a humanidade se constitui como tal”

(NETTO; BRAZ, 2008, p. 34). O homem, na tentativa de atender às suas necessidades

naturais, transforma o seu meio, se autotransforma e se humaniza.

No entanto, é também por meio dessa relação estabelecida entre o homem e a natureza que

as variações do trabalho no tempo e no espaço serão determinadas. Dessa maneira, o

trabalho se apresenta também numa perspectiva histórica. Ao longo da história da

humanidade ele assume formas diferentes, já que relações específicas se estabelecem entre

os próprios homens em cada momento histórico. Na sociedade capitalista:

[...] os produtos do trabalho e da imaginação humanos deixam de se mostrar

como objetivações que expressam a humanidade dos homens [...] caracterizando

o fenômeno histórico da alienação [...] a alienação é própria de sociedades onde

têm vigência a divisão social do trabalho e a propriedade privada dos meios de

produção fundamentais [...] sociedades nas quais existem formas determinadas

de exploração do homem pelo homem (NETTO; BRAZ, 2008, p. 44).

De acordo com Ciavatta (2008), considerar essa forma histórica que o trabalho assume no

sistema capitalista dá a ele uma característica ambígua. Aranha e Dias (2009, p. 116)

ressaltam essa ambiguidade: “há sempre a compreensão de que o trabalho forma e deforma

[...] é necessário considerar que o trabalho pode conter duas dimensões, dependendo das

condições reais de sua realização”.

Se na primeira perspectiva o trabalho é tomado como formador, na segunda ele assume a

posição de mercadoria, tornando-se deformador. O trabalho deformador percorre o

caminho contrário e contraditório da atividade criadora e emancipatória. Nesse caso, o

trabalho é alienante e opressor, volta-se para atender à demanda do capital e deixa de

buscar a realização e ressignificação do trabalhador.

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66

Portanto, em primeiro lugar, enfatiza-se a perspectiva ontológico-histórica do trabalho. Na

sociedade capitalista, ele preserva o seu caráter formador, mas também, e no mesmo

movimento, assume o seu caráter deformador.

É essa dimensão formadora do trabalho que fundamenta o debate em torno do princípio

educativo do trabalho no campo da educação e, no seu interior, o desenvolvimento da

proposta do ensino médio integrado.

O ensino médio compõe a etapa final da educação básica. Esse segmento ganhou

visibilidade quando a sociedade debatia um novo projeto de educação para um país recém-

democratizado.

A proposta de um ensino médio integrado é resultado desse debate, que se desenvolveu

desde a década de 1980 e que foi regulamentado pela Lei no 11.741, de 2008. Ela define o

seu formato como modalidade do ensino médio:

Oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o

curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de

nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para

cada aluno (BRASIL, 2008, s.p.).

A lei, por ela mesma, não expressa a riqueza de seu alcance, pois a concepção dessa

modalidade do ensino médio traz na sua gênese a luta pela superação da dualidade

histórica da educação brasileira “guiada pela necessidade de construção de uma educação

unitária, laica, gratuita de formação politécnica e ominilateral” (RAMOS, 2010b, p. 43).

Nesse sentido, a proposta desse novo modelo de educação é, de acordo com Ramos

(2010b), deslocar seu foco do mercado de trabalho para centrar na formação da pessoa

humana.

Essa formação se guia amparada pelas dimensões do trabalho, da ciência e da cultura e

tem como horizonte o rompimento da dualidade da educação, promovendo a integração

entre conhecimentos gerais e conhecimentos específicos. O princípio educativo do trabalho

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67

é tomado como alicerce da relação entre o trabalho e a educação e dá sustentação à crítica

da dualidade estrutural da educação.

A concepção do princípio educativo do trabalho funda-se na explicação

marxiana de que é o trabalho que humaniza o homem, mas que no modo de

produção capitalista, em que se encontra subsumido ao capital, é fonte de

alienação, que educa os trabalhadores no sentido de uma sociabilidade de

relações sociais estranhadas (TITTON, 2008, p. 6).

Esse princípio pressupõe uma formação que concebe o trabalho como possibilidade de o

homem transformar o seu meio e se autotransformar na prática de uma atividade criadora,

o que possibilita a sua emancipação. Pressupõe, portanto, uma formação na qual a relação

entre trabalho e educação assume a função libertadora das amarras mercantis. Nela, o

trabalho é tomado para além da ótica do capital, o que permite atravessar essas “relações

estranhadas” citadas anteriormente. Isso significa possibilitar aos sujeitos dos processos

educativos um conhecimento do sistema produtivo que lhes permita transformá-lo e recriá-

lo e, acima de tudo, transformar a si mesmo.

O princípio educativo do trabalho:

Proporciona a compreensão do processo histórico da produção científica e

tecnológica, como conhecimentos desenvolvidos e apropriados socialmente para

transformação das condições naturais da vida e a ampliação das capacidades, das

potencialidades e dos sentidos humanos (RAMOS, 2010a, p. 49).

O princípio educativo do trabalho tem o trabalho como criador da essência humana e em

conseguinte como fundador da sociedade e da cultura. Trata-se então de considerar o

trabalho como meio que produz a vida. Incorporar o trabalho nessa perspectiva nos

processos formativos é “fundamental para não formar pessoas que se comportem como

mamíferos de luxo, vale dizer pessoas que achem natural viver do trabalho dos outros,

explorando-os” (GRAMSCI apud FRIGOTTO; CIAVATTA, 2012, p. 751).

Frigotto complementa que o princípio educativo em Marx:

Não está ligado diretamente a método pedagógico nem à escola, mas a um

processo de socialização e de internalização de caráter e personalidade

solidários, fundamental no processo de superação do sistema do capital e da

ideologia das sociedades de classe que cindem o gênero humano. [...] se

fundamenta no fato de que todo ser humano, como ser da natureza, tem o

imperativo de, pelo trabalho, buscar os meios de sua reprodução – primeiramente

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biológica, e na base desse imperativo da necessidade criar e dilatar o mundo

efetivamente livre (FRIGOTTO apud TUMOLO, 2011, p. 447).

Assim, o princípio educativo do trabalho é gerador de vida em qualquer tempo histórico e

único caminho possível para a superação das formas sociais de dominação encontradas no

capitalismo. Visto dessa maneira, o princípio educativo do trabalho é formador e

libertador.

À ideia do princípio educativo do trabalho se correlaciona uma outra. Elas, no entanto,

devem ser diferenciadas: de um lado, o princípio educativo do trabalho e, de outro lado, o

trabalho como princípio educativo. Para Titton (2008), enquanto a primeira concepção – o

princípio educativo do trabalho – diz respeito a uma abordagem mais ampla entre trabalho

e educação, como explicitado, a segunda diz respeito à forma como se organiza o ensino e

“refere-se a uma proposta pedagógica para o ensino” (TITTON, 2008, p. 7).

É por esse motivo central que a concepção do trabalho como princípio educativo

toma por base o trabalho socialmente útil, pois o que irá diferenciar as

proposições pedagógicas da escola capitalista da proposta da educação

omnilateral é a organização do trabalho pedagógico, que se refere diretamente à

centralidade da categoria trabalho para essa proposta pedagógica (TITTON,

2008, p. 7).

Tomar o trabalho como princípio educativo na organização e desenvolvimento curricular

em seus objetivos, conteúdos e métodos é direcionar o ensino com vistas a promover uma

educação emancipatória e se “constitui como fundamento de propostas de educação que se

pretendem inovadoras e progressivas” (TUMOLO, 2005, p. 240).

Assim, tomar o trabalho como princípio educativo no ensino médio integrado se justifica

na medida em que “organiza a base unitária do ensino, fundamenta e justifica a formação

específica para o exercício de profissões entendidas como uma forma contratual

socialmente reconhecida, do processo de compra e venda da força de trabalho” (RAMOS,

2010a, p. 49).

Uma proposta pedagógica que incorpore o princípio educativo do trabalho pressupõe,

portanto, assumir o caráter formador do trabalho, contrapondo-o à sua dimensão

deformadora. Esse posicionamento pedagógico se traduz na incorporação do trabalho

como princípio educativo em que trabalho e educação, teoria e prática, conhecimentos

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gerais e conhecimentos específicos se articulem dialeticamente na formação de sujeitos

capazes de responder aos desafios interpostos por sua vida como trabalhador, como

cidadão e, em última instância, como ser humano transformador de sua própria existência.

3.3 A experiência dos professores sobre a incorporação do princípio educativo do

trabalho no ensino médio integrado

Passados 30 anos do início do debate referente ao princípio educativo do trabalho e à sua

incorporação nos processos educativos, apresenta-se, a partir de agora, como esse debate

chegou ao chão da escola. Isto é, como ele se dá na experiência de professores das áreas de

conhecimentos gerais37

e conhecimentos específicos38

de três cursos de Informática no

ensino médio integrado de três instituições públicas.

Verifica-se, nas falas da maioria desses docentes, que o princípio educativo do trabalho

está diretamente relacionado à inserção dos alunos no mercado de trabalho. Apresenta-se a

seguir o que testemunham professores de conhecimentos gerais nas três instituições.

Como se confirma na fala de P5 da instituição A, o princípio educativo do trabalho “é essa

tentativa [de] preparação para o mundo do trabalho”.

Do mesmo modo P7, da instituição B, afirma que é “[...] uma preocupação em inserir esses

meninos no mercado de trabalho [...]”

Para P8, da instituição B, “aquilo que está atendendo a um segmento industrial,

empresarial, tecnológico de uma época [...] forma uma massa de gente para atender a esse

mercado profissional”.

37

Em alguns momentos os professores utilizam os termos: disciplina básica, formação geral, disciplinas do

núcleo básico, cadeira de formação geral e núcleo geral ao se referirem aos conhecimentos gerais. 38

Em alguns momentos os professores utilizam os termos: disciplina técnica, formação técnica, disciplinas

do núcleo profissional, cadeira técnica e núcleo específico ao se referirem aos conhecimentos específicos.

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Para P15, da instituição C, incorporar o princípio educativo do trabalho propicia privilegiar

o saber-fazer em detrimento de outros saberes e esse saber-fazer determina o lugar do

aluno no mercado de trabalho.

Saber um pouco mais que um usuário (de eletrônicos) para ter um pouco mais de

espaço no mercado de trabalho. Pra ele pegar amanhã e ser um empreendedor,

abrir a própria empresa [...] O cara de informática tem que saber abrir uma

máquina muito mais que os outros conceitos que ele venha ter.

Para outra professora de conhecimentos gerais da instituição A, P239

, que também tem

experiência como professora da área de conhecimentos específicos, a dimensão técnica é

aquela que consegue abarcar o trabalho em seu princípio formador. Para ela, o princípio

educativo do trabalho é:

[...] ensinar como que aquilo ali [o conteúdo da disciplina] vai se aproximar do

dia-a-dia deles ou como eles vão conseguir usar aquilo ali. Então, se é uma

disciplina no técnico, como que aquilo ali vai fazer parte de uma prática de

trabalho deles, pensando mais no técnico, na prática e no mercado de trabalho.

Essa mesma professora continua:

Sendo a disciplina de Geografia no ensino médio, como que aquilo que pode ser

útil para a vida deles além do trabalho? Já entrando mais na formação humana do

que simplesmente no mercado de trabalho [...]. E [ensinar] um conteúdo [...] que

em algum momento pode ser necessário até para o entendimento de mundo.

Os professores da área de conhecimentos específicos, de maneira geral, também

relacionam a possibilidade de incorporação do princípio educativo do trabalho às

disciplinas de conhecimentos específicos, sempre relacionada à preparação para a entrada

no mercado de trabalho: “[...] esse princípio educativo ou princípio do trabalho, acho que

começa desde o primeiro ano. Ele vai tendo as disciplinas técnicas com conceitos e aplica

logo em seguida” P12, professor de conhecimentos específicos da instituição B”.

Reforçando a possibilidade de incorporação do princípio educativo do trabalho por meio

das disciplinas de conhecimentos específicos, P18 – professor de conhecimentos gerais da

instituição C – entende “que isso aconteça mais no curso subsequente, porque [...] eles têm

[...] matéria mais técnica. Aí é bem voltada pro trabalho”.

39

P2 ministra disciplina de Conhecimentos Gerais no curso de Informática e disciplina de conhecimentos

específicos em outros cursos. O seu primeiro depoimento expressa sua experiência como professora em

disciplina de conhecimentos específicos e o segundo como professora em disciplina de conhecimentos gerais.

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O curso subsequente é validado pelo Decreto no 5154/04 e oferecido às pessoas que já

tenham concluído o ensino médio. Dessa forma, seu currículo é composto apenas de

disciplinas de conhecimentos específicos do curso de formação a que se propõe.

Outra resposta aparece nos depoimentos dos professores das duas áreas - de conhecimentos

gerais e específicos - da instituição B e em um professor da área de conhecimentos gerais

da instituição C40

. Quando se lhes pergunta pela incorporação do princípio educativo do

trabalho no curso é o estágio que aparece como essa possibilidade. Segundo eles, o estágio

pressupõe o aprender a fazer e, como tal, ocupa lugar fundamental ao preparar o aluno para

a sua inserção no mercado de trabalho.

Segundo P9, da instituição B, incorporar o princípio educativo do trabalho é “[...] fazer o

estágio, que é obrigatório [...] [para] os alunos terem esta postura mais pro mercado de

trabalho [...]”.

Para P10, da área de conhecimentos gerais da instituição B, completa: “a gente tem que

fazer isto, aqui na escola mesmo tem estágios”.

E P13, professor da área de conhecimentos específicos da instituição B, “[...] o que a gente

tem tentado [é] fazer acordos com empresas para poder fazer estágios”.

Para P11, professor de conhecimentos gerais da instituição B, o princípio educativo do

trabalho refere-se à possibilidade de os sujeitos terem outras habilidades, além da técnica,

que lhes possibilitem adaptar-se às novas exigências do mercado e nele se manter: “[...]

não é formar para ter acesso ao mercado de trabalho, é formar para se tornar empregável.

Este profissional precisa da formação técnica, mas ele precisa desenvolver outras

habilidades para que ele se torne empregável”.

Apesar dos elementos que convergem nesses depoimentos, encontraram-se outros pontos

de vista que se diferenciam dos anteriores e merecem ser destacados.

40

Neste caso, refere-se ao depoimento de P19, que será citado mais à frente, pois, apesar de fazer referência

ao estágio como uma ação pedagógica comum na instituição ligada à prática do trabalho, o professor

vislumbra outras possibilidades para o princípio educativo do trabalho para além da oferta de estágios e da

dimensão técnica.

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Para alguns docentes, o princípio educativo do trabalho está relacionado à capacidade de

incorporar uma perspectiva humanista que direciona a formação no sentido de preparar os

alunos para exercerem a cidadania, a criticidade e para a vida em sociedade.

Conhecimentos humanísticos [...], [dar] aula para uma realidade de construção

do cidadão [...], [ser] questionador [...]. Na parte da disciplina básica é bem forte

mesmo este conceito: preparar o aluno para a vida, para o trabalho, para ser

cidadão, para questionar (P1, professora de conhecimentos gerais na instituição

A).

Dois professores da área de conhecimentos específicos opinam que apresentam

especificidades em relação aos anteriores. Um deles, P14, professor da instituição B,

entende que o princípio educativo do trabalho contempla uma “[...] formação completa

[...], a escola diferenciada [...], currículo diferenciado”.

E P20, professora da instituição C, que no momento da pesquisa tinha apenas duas

semanas de aula com os alunos e sua primeira experiência com o ensino médio integrado,

relata que, mesmo desconhecendo a proposta do ensino médio integrado, vê importância na

articulação entre conhecimentos gerais e específicos:

Eu não conheço a proposta do ensino médio integrado, mas eu acho que o ideal é

que o aluno tenha um leque para ir tanto para a área técnica quanto para a

acadêmica e seja um profissional com visão crítica, e não tenha uma visão

completamente mecânica.

Os três depoimentos a seguir chamam a atenção por apresentarem elementos diferentes dos

anteriores. Primeiramente, P19, professor da área de conhecimentos gerais na instituição

C, se posiciona frente à incorporação do princípio educativo do trabalho da seguinte

maneira:

Basicamente os meninos do ensino técnico eles têm, não sei se efetivamente, um

trabalho. Mas têm o desenvolvimento dos estágios, uma série de ações montadas

para isso. Eu particularmente acho muito salutar a questão do trabalho. Aí sejam

resguardadas as cargas horárias disto, sejam acertadas com a indústria, que

querendo ou não esta é a nossa meta: pegar os técnicos e colocar dentro das

indústrias, de uma maneira geral. Mas eu acredito que é de grande importância e

de grande valia a associação destas duas práticas: [...] um técnico melhor e talvez

um cidadão melhor, mais claro sobre a função do trabalho porque,

historicamente, a gente vem colocando o trabalho como um castigo e na verdade

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73

ele não é. O trabalho é extremamente importante para o desenvolvimento da

sociedade, de uma maneira geral.

Talvez se possa encontrar uma particularidade na posição desse professor. Ele não nega o

objetivo de inserir os alunos nas empresas, ou seja, no mercado de trabalho, mas, ao

mesmo tempo, sugere a importância de se oferecer uma formação que atenda às dimensões

técnica e cidadã, enfatizando a importância do trabalho, além de indicar a necessidade de

superar a dimensão negativa que se dá a ele.

Os depoimentos que se seguem também manifestam que o princípio educativo do trabalho

dá conta da dimensão positiva do trabalho. P4 salienta a produção de valores por meio da

atividade de trabalho e a importância deste na produção dos dois tipos de conhecimentos.

Para ele, o princípio educativo do trabalho é:

[...] [uma] questão entre conhecimento imaterial e o conhecimento dessa

materialidade prática, [em que] o trabalho é eixo central na realização disto tudo

[...]. Não há como desvincular a ciência da produção de valores, o trabalho é

ainda o caminho que se produz o valor (P4 – professor de conhecimento geral na

instituição A).

Para P17, professor de conhecimentos gerais na instituição C, o princípio educativo do

trabalho retrata a relação estabelecida entre o homem e a natureza. A transformação que

essa relação promove exige aprendizado constante, no qual se estabelece a dimensão

formativa do trabalho.

Olha... entender o trabalho como atividade que humaniza o homem e a natureza

ao redor dele. A natureza não tá aí pronta pro desfrute do homem. Ele precisa

trabalhar ela pra poder desfrutar dela e ele não faz isso sem ter algum

conhecimento disso. Quer dizer, ele vai adquirindo este conhecimento à medida

da necessidade que ele tem de trabalhar e transformar a natureza. Então a gente

percebe que a ciência ela tá ligada desde o que há de mais, digamos assim, desde

a gênese da cultura. Aliás, o que é a cultura se não isso, né? Uma articulação

entre a atividade de transformação da natureza com os demais indivíduos, porque

esta atividade nunca é isolada e que o tempo inteiro é dirigida de forma

teleológica. Quer dizer, você tem uma finalidade pra este trabalho, pra esta

atividade, pra esta transformação. E à medida que isso sofistica vai se tornando

mais mediada, quer dizer, você vai tendo um desenvolvimento na cultura, que

cria especializações no trabalho. Quer dizer, eu tô falando de divisão do trabalho,

e a ciência se torna um trabalho específico [...] Isso é um desenvolvimento

posterior....

Esse professor conclui: “trabalho [é] uma manifestação da atividade do sujeito frente à

natureza, e isto acontece o tempo inteiro, então a educação está o tempo todo ligada a isto”.

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Podem-se listar alguns traços marcantes nos depoimentos desses professores, que

demonstram seus posicionamentos em relação a como vivem a incorporação do princípio

educativo do trabalho na sua experiência no ensino médio integrado.

Com base no até aqui exposto, verifica-se que muitos depoimentos dos respondedores

indicam que incorporar o princípio educativo do trabalho significa formar o aluno para

inserir-se no mercado de trabalho. Dessa maneira, a formação deve desenvolver

conhecimentos e habilidades que respondam às exigências desse mercado. O princípio

educativo do trabalho é reduzido a uma dimensão utilitarista e imediatista. Ainda nessa

perspectiva, alguns observam que essa formação não precisa desvalorizar a formação geral

em proveito da formação técnica.

A incorporação do princípio educativo do trabalho se apresenta também por meio do

estágio que, segundo opiniões dos professores, ocupa lugar de ação formativa fundamental

na instituição B. Ele está relacionado mais claramente às disciplinas de conhecimentos

específicos, nas quais se acredita que o saber-fazer seja formalizado.

Contudo, alguns professores não mencionam uma incorporação direta do princípio

educativo do trabalho pela via da preparação para a inserção no mercado de trabalho ou

pela dimensão técnica da formação. Suas respostas revelam uma compreensão do princípio

educativo articulado a uma ampla formação, que engloba a cidadania e a preparação para a

vida, sendo necessários um currículo diferenciado e uma escola diferente.

Um parecer, de P17, da instituição C, se destaca no sentido de se aproximar da concepção

de princípio educativo do trabalho que fundamenta esta pesquisa. Ele ressalta a dimensão

formativa do trabalho que se dá na relação do homem com a natureza e com outros

homens.

A declaração a seguir também propõe uma concepção que foge ao comum entre os

professores. Ele pode indicar que mesmo os relatos tendo revelado que o debate

desenvolvido na década de 1980 não foi incorporado na experiência desses professores

entrevistados, pode indicar que aqueles que o não foram também podem exibir uma

reflexão diferenciada sobre o tema.

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Para P3, professora de conhecimentos gerais na instituição A, a incorporação do princípio

educativo do trabalho no ensino médio integrado indica: “[...] ponto de evolução humana

em todos os sentidos [...] Uma formação física, espiritual e intelectual [...] ajudar cada um

a realmente desenvolver ali [refere-se aos alunos dentro da sala de aula] e fazer um

trabalho cooperativo”.

A concepção expressa nos depoimentos desses professores não deixa de produzir efeitos

sobre a sua prática, sobretudo no que diz respeito ao processo de integração no ensino

médio integrado, como se apresentará a seguir.

3.4 A concepção de integração do ponto de vista dos estudiosos do tema

A educação profissional brasileira há muito está estruturada de forma a manter a dualidade

consoante ao modo capitalista de produção. O cenário é composto de uma formação

destinada àqueles que controlam o processo de trabalho, ou seja, a educação científica, e

também voltada para aqueles que executam, quer dizer, a educação profissional.

Consolida-se, dessa forma, a dualidade entre educação geral, propedêutica e a educação

específica e profissional.

A proposta de um ensino médio integrado se apresenta na defesa de superação da

dualidade estrutural da educação, priorizando uma formação capaz de articular

conhecimentos gerais e conhecimentos específicos, o mundo da educação e aquele do

trabalho, contra uma formação voltada exclusivamente para atender às necessidades do

mercado de trabalho.

Para tanto, o princípio educativo do trabalho ganha centralidade no caminho que se destina

a uma formação integral dos sujeitos trabalhadores. A proposta do ensino médio integrado

materializa-se por meio do Decreto no 5.154/04, que revoga o Decreto n

o 2208/97. Este

último formaliza a dualidade da educação ao regulamentar um ensino médio propedêutico

dissociado do ensino técnico, que passa a ser oferecido nas modalidades concomitante e

sequencial ou subsequente (BRASIL, 1997). A Lei no 11.741, de 2008, incorpora o

Decreto no 5154/04 e define a forma integrada de educação.

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A proposta de integração que se adéqua ao ensino médio integrado objetiva:

Uma educação que se constitua a partir do estudo dos fundamentos científicos –

tecnológicos e históricos –, sociais, tornando-se uma prática informada pela

teoria e pela história da ciência, pela travessia da humanidade na luta pelo

conhecimento que nos permite usufruir os bens que conhecemos hoje

(FRIGOTTO; CIAVATTA, 2004, p. 17).

No entanto, a prática pedagógica presente na maioria das instituições escolares, inclusive

as de educação profissional, aborda os saberes e conhecimentos em partes desarticuladas

da sua totalidade. Ultrapassá-la pressupõe a adoção de um currículo integrado que objetive:

A concepção e experimentação de hipóteses de trabalho e de propostas de ação

didática que tenham, como eixo, a abordagem relacional de conteúdos tipificados

estruturalmente como diferentes, considerando que essa diferenciação não pode,

a rigor, ser tomada como absoluta, ainda que haja especificidades que devem ser

reconhecidas (MACHADO, 2010, p. 81).

O currículo integrado articula teoria e prática promove o diálogo entre conceitos e práticas

vivenciadas pelos próprios alunos, possibilitando o envolvimento com atividades

socialmente úteis e a articulação entre a escola e o trabalho.

Para Machado (2010), adotar um currículo integrado requer a mudança de posturas tanto

do professorado quanto dos alunos, assim como exige o rompimento com o pensamento

dual, que confere menos importância aos conhecimentos advindos da atividade de trabalho,

ou seja, das atividades manuais. Requer, ainda, tomar o processo de educação na sua

totalidade e não como compartilhamento de saberes em disciplinas para que os alunos,

sobretudo alunos trabalhadores, recebam uma formação integral.

O processo de integração se torna, nesse sentido, fundamental para a operacionalização do

princípio educativo do trabalho. É com o intuito de compreender como os professores

entrevistados vivenciam a integração curricular na sua experiência nos cursos de

informática do ensino médio integrado que se transcrevem, a seguir, os seus pareceres.

3.5 A experiência dos professores sobre a integração no ensino médio integrado

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77

Em primeiro lugar, verifica-se no relato dos professores das três instituições uma

convergência quando eles se referem à vivência da integração: todos enfatizam a

dificuldade em articular os conhecimentos gerais com os conhecimentos específicos e em

realizar atividades integradas que propiciem a articulação desses conhecimentos. P641

realça que a articulação entre estes conhecimentos é:

Variado. Se pegar o curso de meio ambiente já tem uma ligação, no meu caso de

Biologia, mas no caso dos outros cursos, a gente só segue o que é padronizado

pelo [Exame Nacional do Ensino Médio] ENEM mesmo. Bem tradicional [...]

[atividade conjunta] não acontece comigo e nem com quem eu tenho acesso aqui.

Nem conheço os professores (P6, professor de conhecimentos gerais da

instituição A).

Para P8, professora de conhecimentos gerais da instituição B:

Ele [o curso] é integrado, mas com práticas e valores ainda muito de referência

ou de um modelo de escola técnica, profissionalizante ou de um modelo de

ensino de escola tradicional de ensino médio. E aí traz confusão [...] existe uma

segmentação desse processo [de integração] [...] porque os dois segmentos

[ensino médio e ensino técnico] pensam de forma distinta. Mesmo fazendo um

grande esforço para fazer novas propostas curriculares, para reorganizar o tempo

da escola, ainda existe uma segmentação enorme [...] está tendo [atualmente]

várias comissões na escola buscando fazer uma readequação [...] uma

reestruturação do currículo [...]. Quando há um encontro para um diálogo, a

linguagem de um não é compreendida pelo outro. Então, as pessoas que

trabalham com as disciplinas básicas, por exemplo, elas têm um distanciamento

do que significa o modelo de escola profissional, e vice-versa.

P18, professor de conhecimentos gerais da instituição C, expressa a dificuldade de

articulação da seguinte maneira:

Não tem muita articulação não. A escola sofre de um grande problema! Separou,

parece que é cadeira técnica e cadeira de formação geral, existe uma separação

imensa na escola [...] Tem uma grande separação na escola, não tem articulação

[...] Aí a gente da formação geral fica trabalhando o que está nos livros, o que tá

cobrando os vestibulares. Apesar que a escola técnica federal não é pra ter esta

visão, mas a gente indiretamente acaba acontecendo isto, e aí, articulação com o

integrado, não tem [...] (P18, professor de conhecimentos gerais da instituição

C).

Além dessa dificuldade expressa, relativa à articulação entre conhecimentos gerais e

conhecimentos específicos, é recorrente a menção a um conflito entre as posições dos

professores das duas áreas de conhecimentos. Valores e práticas diferenciadas dificultam o

diálogo entre eles. Essa experiência se traduz da seguinte maneira para P16:

41

P6 ministra disciplina de conhecimentos gerais no curso de Informática e em outros cursos e a disciplina de

conhecimentos específicos no curso técnico de Meio Ambiente.

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O que eu percebo aqui no campus é que parece que as pessoas têm uma

resistência à área técnica, uma resistência ao que se chama área propedêutica de

formação geral. O que a gente sente é como se fossem duas escolas, cada uma

querendo que sua disciplina, sua área seja mais importante que a outra [...] Uma

disputa assim: eu não posso perder aula porque eu sou da formação da parte

técnica! Ah, eu não posso diminuir aulas porque eu sou da formação geral! Então

eu sinto como se fossem duas escolas (P16, professora de conhecimentos gerais

da instituição C).

O conflito aparece também no depoimento de P10, professor de conhecimentos gerais na

instituição B:

A experiência com o integrado, para te falar a verdade, é uma experiência muito

complicada [...]. Porque a área técnica está engolindo as outras disciplinas que

são do médio [...]. A visão do integrado é altamente fictícia, não é integrado de

verdade [...). O integrado, ele sofre, o integrado é uma ideia fantástica, mas ele

sofre radicalmente os efeitos deste confronto que acabou se estabelecendo entre

as disciplinas específicas [ele se refere às disciplinas gerais], que são muito

enfraquecidas e as disciplinas técnicas, que comandam totalmente este campo.

Assim como esss professores, P11 manifesta predileção das disciplinas de conhecimentos

específicos contra o desfavorecimento das disciplinas de conhecimentos gerais, que faz a

proposta da integração ficar distante de sua concretização:

Na minha opinião, a gente está muito longe de ter, na prática, o ensino médio

integrado. Nós estamos passando neste momento por um processo de reforma

acadêmica, uma reforma curricular [...]. Por ser uma escola de ensino

profissional, há uma predominância das disciplinas do núcleo profissional ou

daquelas disciplinas do núcleo básico que têm uma relação muito direta com o

núcleo profissional [...]. Neste sentido, as áreas de ciências humanas são

preteridas [...]. No geral, o que eu ouço é uma reclamação generalizada: a

dificuldade de se estabelecer, de fato, uma prática integrada (P11 – professor de

conhecimentos gerais na instituição B).

Embora todos os entrevistados identifiquem dificuldades de articulação, de trabalho

conjunto e solidário que pudessem propiciar a integração curricular, encontram-se

tentativas de práticas conjuntas. No entanto, elas parecem ser, no geral, atitudes isoladas

entre eles. O próximo depoimento demonstra certo esforço das disciplinas de núcleo geral

(conhecimentos gerais) em atender às demandas impostas pelas disciplinas de núcleo

específico (conhecimentos específicos).

Os professores de área42

, de uma maneira geral [...], a gente não trabalha junto.

Eu acho que é muito isolado isto [...]. O que a gente trabalha na Matemática

42

A Diretoria de Educação Profissional e Tecnológica da instituição A é composta de setores: Coordenação

de Turno, Coordenação da Área de Ciências, Coordenação da Área de Ciências Humanas Sociais,

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muito aqui é, sabendo o que o ensino técnico precisa [...] fazemos uma

reformulação do programa de matemática do ensino médio [...]. É um trabalho

muito solitário [...]! Tem alguns professores da área técnica que trabalham

melhor com a gente [...]. Eu acho que não tem integração [...], eu não vejo

integração!”. P1 – professora de conhecimentos gerais na instituição A.

No entanto, apesar da unanimidade desses entendimentos, é possível identificar

especificidades nos limites impostos à concretização da integração em cada uma das

instituições separadamente.

Os professores da instituição A reconhecem que a organização escolar, a divisão das

disciplinas entre departamentos diferentes, dificulta o processo de integração, além da

interação entre eles.

Eu, no técnico de meio ambiente, às vezes eu preciso de recurso de Geografia do

médio. Às vezes, junto com colegas, ou do meu departamento ou de outro, a

gente consegue fazer trabalhos integrados [...]. É muito fragmentado! Até porque

as disciplinas estão espalhadas por departamentos diferentes e você não tem

contato com outro departamento ou com o professor. Então a gente tenta pelo

menos dentro do departamento ter, fazer estes trabalhos em conjunto (P2 –

professora de conhecimentos gerais).

A mesma dificuldade é relatada por P5:

Não há. Eu, pelo menos, não vejo que há integração. Não conheço os professores

das áreas específicas, nós quase nunca nos encontramos. [...]. Atividades dentro

de sala de aula, existem estas possibilidades, atividade interdisciplinar, mas na

prática, aqui eu nunca vivenciei [...] Eu acho que é assim, mais complexo! (P5 –

professora de conhecimentos gerais).

P3, no entanto, lembra um período em que houve uma integração, embora ela enfatize que

o foco se mantivesse na dimensão técnica. Ela afirma, ainda, que atualmente isso acontece

pouco.

A gente ensinava [...] tudo que [o aluno] precisasse para área técnica. Então

houve sempre uma articulação muito grande entre os departamentos para

trabalhar o foco, por exemplo, de mecânica: os manuais, os textos, os

maquinários, a realidade que eles iam ter dentro da visão de trabalho. [...]. Mas

não tem muitas atividades não [...], depende muito da área (P5 – professora de

conhecimentos gerais).

Coordenação da Área de Inglês, Coordenação da Área de Organização, Normas e Desenho, entre outros.

Disponível em: http://www.cefetmg.br/site/instituicao/aux/unidades/belo_horizonte/index.html. Acesso em:

19 de julho de 2014. A professora em questão é coordenadora do setor de Matemática.

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80

Outra consideração nessa instituição é o de P4 – professor de conhecimentos gerais. Ele

chama a atenção para a resistência tanto dos professores quanto de alunos e pais para que a

integração se efetive: “[...] aí que o entrave ocorre [...]: resistência, ela vem não só do

âmbito dos professores, mas também no âmbito dos pais [...]. Eles dizem assim [...]: o que

você tem que estudar para o vestibular é isto, isto e isto!”

Na instituição B também se exprimem as dificuldades da integração e outros limites

diferentes vão se revelando. Os docentes vivenciam um momento particular de discussão

sobre o processo de integração, com o objetivo de promover uma reforma curricular que

possibilite, de fato, uma prática integrada. Foram criadas quatro comissões compostas de

professores de conhecimentos gerais e conhecimentos específicos, com o objetivo de

propor alternativas para promover a integração. Essas quatro comissões reúnem-se

semanalmente apresentando suas propostas. Certamente seus depoimentos carregam a

especificidade do momento atual.

Para P12:

Eu acho ruim! Primeiro existe um problema institucional! O ideal, realmente,

seria se conseguíssemos integrar mais os conteúdos, mas é um trabalho difícil

[...]. O ensino médio, ele é engessado [...]. Então esse conhecimento horizontal,

de forma que não só o conteúdo do aluno, como o conhecimento e atuação do

professor, de forma que ele possa atuar em diversas áreas, é uma coisa bastante

complicada! Primeiro que não existe formação para isto (P12 – professor de

conhecimentos específicos).

Outro professor de conhecimentos específicos parece relacionar a proposta de integração

com exigências de reduzir a carga horária de um lado e manter a qualidade, de outro lado:

“diminuir a carga horária e manter a qualidade: é esta que é a ideia desta nova proposta de

integração da escola” (P13).

Esse professor ainda tem dúvidas quanto às possibilidades que podem advir do processo:

“esta integração que a gente está tentando fazer é algo mais complicado do que

simplesmente falar: ah, é integrado [...]! Qual é a real integração das disciplinas? São

poucas efetivamente” (P13).

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A inexistência de referências que possam auxiliar os intentos de uma reforma curricular

que efetive a integração potencializa as dificuldades para criar alternativas que envolvam

os professores:

Não existe uma política de integração, assim. Nunca vi gente fazendo também

não. Já reuni no MEC quando estava na direção [...e...] eles mesmo não sabiam

que integração era essa! Então estas interações entre disciplinas é feita

dependendo da boa vontade, do interesse de cada professor. Agora, exatamente

nesse ano, nós começamos a ter uma revisão das grades buscando a integração

(P14 – professor de conhecimentos específicos).

Mas fica clara a intenção de buscar os caminhos para que se avance numa proposta

pedagógica que enfrente as dificuldades da integração e há clareza quanto aos grandes

desafios pela frente:

Nós estamos passando por uma fase de pensar esta história da concepção

pedagógica do curso. Atualmente [...] os nossos cursos são muito pesados [...],

então a escola está se movimentando no sentido de enxugar um pouco as grades

curriculares [...]. É muito difícil! Esta construção é conflituosa e ela está difícil

de ser arrumada aqui na escola [...]. O curso integrado não é a soma dos dois e é

isso exatamente que a gente tem mais dificuldade de organizar. Não é comum

aqui na escola [a realização atividades conjuntas] e este é um dos motivos pelos

quais os alunos ficam com uma carga horária muito grande [...]. Eu acho que um

dos maiores desafios que a gente tenha atualmente é fazer esta integração (P7 –

professora de conhecimentos gerais).

Na instituição C, apesar da quase unanimidade dos depoimentos sobre a vivência de uma

prática desarticulada que impede a integração, inicia-se uma tentativa de mudanças na

prática pedagógica para a promoção de práticas integradoras. Os respondentes expressam

essas duas realidades.

Para P18 (professor de conhecimentos gerais): “articulação com o integrado não tem [...].

Deve acontecer este ano com a nova direção que assumiu [...]. Vai acontecer este ano

projeto de articular uma disciplina com outra”.

P19 (professor de conhecimentos gerais) complementa:

[...] a gente está [...] num processo de construção ainda. Mas, na verdade,

funcionaria mais ou menos desta maneira: a gente tem temas que teoricamente

são desconexos e na realidade a gente vai tentar juntar isto dentro de um grande

projeto [...]. Um grande desafio, mas é alguma coisa que a gente já consegue

visualizar como possível, a formação geral43

[...].

43

Na instituição C, a formação geral equivale ao ensino médio. Neste caso, são consideradas todas as

disciplinas de Conhecimentos Gerais.

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82

E P17 revela sua descrença: “Não. Na escola não existe [...]! Já tentei, mas não consegui”,

enquanto P19 mostra-se interessado, confiante e revela que há iniciativas na instituição:

Do ponto de vista da Geografia, pra mim, é ótimo esta integração com os outros

de outras áreas do conhecimento [...]. [...] a Geografia, eu acho que ela tem um

trânsito muito bom com estas áreas, e aqui no Instituto tem umas iniciativas de

integrar mais isto.

P20, professor de conhecimentos específicos, também acredita que em algumas disciplinas

a tarefa é mais fácil: “Essa articulação depende muito da disciplina, eu acho”.

Esses depoimentos revelam as dificuldades que os professores encontram, nas três

instituições, na sua experiência da integração no ensino médio.

Apesar de se apresentarem como sendo da modalidade integrada, essa integração não

ocorre em alguma das três instituições. Os conhecimentos gerais e específicos estão

distribuídos entre professores que não se encontram e até em departamentos diferentes. A

organização do trabalho escolar, a fragmentação, os diferentes estatutos dos saberes que

compõem a formação, bem como os conflitos e resistências daí advindos, são alguns dos

problemas detectados como dificultadores da integração.

Contudo, alguns pareceres mostram que há iniciativas individualizadas de algum nível de

integração. Alguns professores nas instituições A e B afirmam que constroem estratégias

de diálogo entre disciplinas de conhecimentos gerais e específicos no sentido de

conseguirem adequar o seu conteúdo às necessidades da formação profissional ou quando

disciplinas das duas áreas estabelecem afinidades de conteúdos. Na instituição C, mesmo

essas iniciativas individualizadas são menos expressivas.

Chama a atenção, finalmente, o fato de que nas instituições B e C os professores vivem um

momento de redefinir os contornos do ensino médio integrado na perspectiva de efetivar a

integração. Na instituição B eles relatam a organização de comissões e os debates sobre o

ensino médio integrado na perspectiva de uma reforma curricular que não só articule os

conhecimentos gerais e específicos, mas também, adéque o seu desenho a uma carga

horária mais compatível com a realidade dos alunos.

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83

Em ambas as instituições há também relatos que indicam interesse na construção de

estratégias coletivas para superar os desafios da integração, ainda que o trabalho coletivo

gere, potencialmente, conflitos e resistências.

No momento da pesquisa, transitava entre os professores da instituição C a proposta de um

projeto que daria início a uma nova experiência de articulação de várias disciplinas a partir

de uma única temática. No entanto, não foi possível entrevistar os professores que a

propuseram. Embora houvesse mobilização em torno dessa nova proposta, alguns

entrevistados afirmaram que havia dificuldades de adesão por parte de professores das

disciplinas de conhecimentos específicos.

3.6 Considerações finais

Conjecturou-se, no início desta pesquisa, que a incorporação ou não do debate referente ao

princípio educativo do trabalho desenvolvido a partir dos anos 1980 entre educadores

interessados na educação profissional pudesse produzir, no ensino médio integrado,

propostas afinadas com esse debate ou inibidoras de avanços em sua direção. Os dados

obtidos fizeram confirmar que os desafios postos pela experiência de ensino médio

integrado são mais expressivos e atuais que o próprio debate.

Os depoimentos mostram que a incorporação do princípio educativo do trabalho é

compreendida como preparação dos alunos para sua inserção no mercado de trabalho. Essa

conotação dada ao princípio educativo do trabalho produz efeitos diretos na prática dos

professores, principalmente no que se refere ao processo de integração.

Indicam, também, dificuldade generalizada em articular os conhecimentos gerais com os

conhecimentos específicos e em realizar atividades integradas e integradoras que

propiciem a articulação desses conhecimentos. Como consequência, o ensino médio

integrado se apresenta fragmentado tanto no currículo quanto na prática dos professores: de

um lado, uma escola técnica; de outro lado, outra propedêutica.

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84

Em contrapartida, mesmo diante das dificuldades constatadas, apresenta-se um movimento

dentro das instituições B e C, ainda que de maneira tímida, na tentativa de viabilizar essa

prática integrada, movimento que não se expressa na instituição A.

A instituição B tem se mobilizado coletivamente com o objetivo de discutir propostas

referentes a uma reforma curricular que possibilite efetiva integração. A instituição C tem

se mobilizado de maneira menos expressiva, mas já surgem no seu interior propostas de

um trabalho que avance na promoção da integração.

A pesquisa demonstrou, ainda, que mesmo diante dos desafios e limites da incorporação do

princípio educativo e da efetivação de uma proposta de ensino médio integrado há um

movimento, isolado ou na coletividade, no sentido de construir estratégias para se romper

esses limites e superar os desafios.

Infere-se, ainda, a importância de se direcionar a atenção para a formação desses

professores que, mesmo com elevado nível em sua formação, encontram-se despreparados

para atuarem na educação profissional, sobretudo no que se refere ao ensino médio

integrado.

Por fim, é relevante ressaltar a importância de continuidade de pesquisas sobre o processo

de integração. Além do movimento de mudança em duas instituições com possibilidade de

construção de alternativas inovadoras, existe a possibilidade de haver, nas três instituições,

professores que não fizeram parte da pesquisa e que tenham experiências e concepções que

sinalizem para uma direção diferente daquela hegemonicamente explicitada aqui.

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85

4 INFORME TÉCNICO

4.1 Introdução

O presente informe técnico atende à exigência relativa ao Mestrado em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local. Ele apresenta as contribuições da pesquisa que se

descreve adiante na forma de apontamentos que problematizam a incorporação referente ao

debate sobre o princípio educativo do trabalho entre os docentes dos cursos de ensino

médio integrado. Esse documento se manifesta na concepção e experiência que os docentes

têm da integração e será remetido aos gestores e docentes das três instituições envolvidas

na pesquisa

A pesquisa que permitiu sua confecção foi direcionada pelo seguinte questionamento:

como se manifesta o debate em torno da incorporação do princípio educativo do trabalho

entre os professores das áreas de conhecimentos gerais e específicos na modalidade

integrado?

Seu objetivo foi analisar a atualidade desse debate entre os professores das áreas de

conhecimentos gerais e específicos nos cursos na área de informática, na modalidade

integrado, em três instituições públicas que ofertam educação profissional, tendo em vista

o desenvolvimento de contribuição técnica na área de educação voltada para o

desenvolvimento local e com características de inovação social.

Os objetivos específicos foram assim definidos:

a) Contextualizar o debate que se desenvolveu nos anos 1980 entre pesquisadores,

educadores e instituições de educação profissional, em torno do princípio educativo

do trabalho.

b) Conhecer a assimilação desse debate pelos professores das áreas de conhecimentos

gerais e específicos do curso de Informática na modalidade integrado nas três

instituições.

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Para realizar os objetivos da pesquisa utilizou-se a abordagem qualitativa e optou-se pelo

tipo descritivo.

Dos procedimentos desta pesquisa constaram uma etapa bibliográfica e outra empírica. A

pesquisa bibliográfica buscou contextualizar o debate ocorrido na década de 1980 em torno

do princípio educativo do trabalho entre pesquisadores, educadores e instituições de

educação profissional, focalizando os principais autores e conceitos trabalhados, bem como

os desdobramentos após aquela década. A pesquisa empírica voltou-se para os professores

de três cursos de ensino médio integrado da área de informática.

O cenário da pesquisa abrangeu três instituições que ofertam ensino médio integrado: duas

em Belo Horizonte e outra no interior de Minas Gerais. O perfil dos cursos do ensino

médio técnico oferecido por essas instituições tem diferenças: concomitante, subsequente e

integrado. A esta pesquisa interessaram os cursos de ensino médio integrado.

Os critérios para a escolha das instituições que participaram da pesquisa foram: oferecer

cursos de ensino médio integrado; coincidirem áreas de conhecimento dos cursos

ofertados; instituição localizar-se na cidade de Belo Horizonte ou próximo dela; ter cursos

de instituições públicas de dependência administrativa federal.

As técnicas de coleta de dados utilizadas foram entrevistas semiestruturadas com os

professores das áreas de conhecimentos gerais e específicos. Os dados obtidos nas

entrevistas foram agrupados em dois tipos de categorias: a) a experiência dos professores

sobre a incorporação do princípio educativo do trabalho no ensino médio integrado;, b) a

experiência dos professores sobre a integração no ensino médio integrado.

Para que sejam preservadas as identidades das instituições e de seus docentes, as primeiras

serão denominadas ao longo deste informe, assim como foi em toda a dissertação, pelas

letras A, B e C. Os professores, por sua vez, foram identificados pela letra P seguida de um

número ordinal.

Com o objetivo de apresentar as informações que compõem este informe, os resultados

desta pesquisa foram condensados e organizados nos seguintes itens:

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a) Contextualização do debate.

b) O princípio educativo do trabalho em debate.

c) O trabalho como princípio educativo.

d) Ensino médio integrado.

e) A experiência dos professores e os desafios para a incorporação do princípio

educativo e para a integração no ensino médio integrado.

a) Contextualização do debate

A década de 1980 foi palco de importantes discussões e mobilizações de diversos setores

da sociedade, visto que o Brasil fazia importante travessia da ditadura para um sistema

democrático. Nessas discussões estava o enfrentamento de um dos mais complexos

problemas: sua política educacional; e no seu interior, a dualidade estrutural da educação.

O debate referente ao princípio educativo do trabalho traz na sua gênese a crítica à

dualidade que estrutura o campo educacional. A reação a essa antiga estrutura traz seus

primeiros apontamentos no Manifesto dos Pioneiros, em 1932, que já denunciava a

oportunidade de acesso e qualidade de ensino como privilégio de uma pequena classe

dominante em detrimento de grande parcela da população.

Mas foi na década de 1980, marcada por um período transitório da ditadura para a

democratização do país, que esse debate alcança seu ápice em meio à participação efetiva

da sociedade civil. Nessa década, a mobilização em torno das eleições diretas, a aprovação

da nova Constituição e o debate referente à construção da nova LDBEN representa

importantes conquistas e proporciona ganhos importantes para os direitos políticos e

sociais. Esta última marca um cenário de fortes disputas no campo da educação, sobretudo

da educação profissional de nível médio.

No interior de uma mobilização social para transformar a educação, o debate acerca do

princípio educativo do trabalho encontra respaldo e envolve sujeitos e espaços variados.

Dermeval Saviani, junto a seu grupo de orientandos, deu o pontapé inicial para essa

discussão e, a partir daí, outros pesquisadores e educadores se agregaram a esse debate e

contribuem significantemente para sua expansão.

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88

Unidos pelo mesmo interesse, vários destes pesquisadores dão vida à ANPED e ao seu

grupo de trabalho – GT9 - Trabalho e educação –, espaço privilegiado do referencial

marxista no campo educacional brasileiro, que embasa a discussão teórica da época. Seis

importantes CBEs foram organizadas e fomentaram discussões, articulações e organização

de entidades, educadores e outros segmentos em torno da educação.

Outros movimentos, como o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP),

deram continuidade ao debate iniciado na década de 1980 e também contribuíram como

interlocutores junto à sociedade civil, lutando por uma sociedade justa, educação pública

de qualidade para todos e, nos anos 1990, contra um governo conservador.

Estas lutas não aconteceram em vão e trouxeram influências sobre as políticas

educacionais da época. E como toda luta se faz no contraponto de posições distintas, o

avanço no debate se deu em meio a uma forte disputa de poder, de exclusão e desigualdade

social, marcando o desenvolvimento capitalista.

Sendo assim, a LDBEN, promulgada em 1996, afirma o conflito da dualidade, já que

mantém a separação obrigatória entre o ensino médio e a educação profissional: para o

ensino médio, uma escolarização clássica; e para o ensino técnico, a preparação para o

trabalho. Sua promulgação ignora o debate democraticamente construído pela sociedade

em defesa da posição de um governo conservador.

A aprovação dessa LDBEN contribuiu de forma estratégica para que o então presidente,

Fernando Henrique Cardoso, colocasse em cena a sua proposta de reforma educacional. O

Decreto no 2.208/97 regulamenta a LDBEN/96 e estrutura o ensino médio, retomando

legalmente seu sentido propedêutico; os cursos técnicos são obrigatoriamente separados do

ensino médio e são oferecidos de duas formas: concomitante ao ensino médio e sequencial

(BRASIL, 1997).

Em 2003, com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segmentos sociais

tiveram de volta a oportunidade de resgatar o debate em relação à proposta de uma

educação profissional técnica de nível médio. O Decreto nº 5.154/04 formaliza uma

modalidade de ensino médio integrado à educação profissional. Mais tarde, a educação

profissional de nível médio foi regulamentada pela Lei nº 11.747/08, que incorporou o

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Decreto nº 5.154 (BRASIL, 2004a). Ela mantém a oferta dos cursos concomitantes e

sequenciais, mas retoma a possibilidade de integrar o ensino médio à educação profissional

técnica de nível médio.

A proposta de ensino médio integrado compõe uma das modalidades de integração entre o

ensino médio e o ensino técnico e fundamenta-se em uma concepção de formação humana

em que todas as dimensões da vida se integram no processo educativo. Ela tem como pano

de fundo o princípio educativo do trabalho.

b) O princípio educativo do trabalho em debate

O debate referente ao princípio educativo do trabalho tem seu ápice na década de 1980, em

meio ao movimento da sociedade que reage contra uma velha estrutura do pensamento

pedagógico brasileiro: a dualidade da educação, que se apresenta mais visível no ensino

médio, em que se oferta educação geral para a elite e educação profissional para a classe

trabalhadora.

Essa luta se dá num panorama de transição de um longo e violento período de ditadura

militar para um processo de redemocratização do país, quando “a questão democrática

assume centralidade nos debates e nas lutas em todos os âmbitos da sociedade ao longo

desta década” (FRIGOTTO, 2006, p. 34). A mobilização social em torno das questões

democráticas vai tomando vida e, como pontua Frigotto (2006), a aprovação da nova

Constituição, em 1988, trouxe ganhos imensuráveis na questão de direitos da sociedade.

Mas foi em 1980 que a luta no campo educacional se sobressaiu, retratando a necessidade

de um rearranjo da sociedade em sua dimensão estrutural, que mantém privilégios para

poucos e exploração para muitos. Nesse contexto surge um interesse voltado para o tema

do princípio educativo do trabalho.

A discussão em torno de uma nova proposta educacional aborda a educação politécnica

como um horizonte que põe em cena o tema do princípio educativo do trabalho. Inicia-se

um debate que ganha visibilidade na produção de educadores, inicialmente, em torno de

Dermeval Saviani. Muitos de seus orientandos no Programa de Pós-graduação da PUC/SP

se dedicam ao tema e, mais tarde, outros educadores e pesquisadores vão se juntar a eles.

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Nessa década, estava em andamento a construção de uma nova LDBEN e para realizar

uma interlocução com os debatedores do tema dessa lei Saviani produziu o texto

“Contribuição à Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação: um início de conversa

(1988)” (RODRIGUES, 2008). Esse texto aludia-se à educação politécnica e, apesar de

não ser a intenção de Dermeval Saviani, foi transformado na íntegra em uma proposta de

lei apresentado pelo então Deputado Federal Octávio Elíseo.

No entanto, não era uma proposta que favorecia a classe hegemônica e o projeto original

recebeu várias modificações até se encontrar em conformidade com as posições

conservadoras. Aprovou-se, então, o Projeto de Lei Darci Ribeiro, que retrocedeu em

relação à luta em defesa da escola pública, gratuita e de qualidade para todos, bem como

em relação à crítica à dualidade da educação.

Assim, a LDBEN nº 9.394, de 1996 (BRASIL, 1996), afirmava o conflito da dualidade, já

que mantinha a separação obrigatória entre o ensino médio e a educação profissional: para

o ensino médio, uma escolarização clássica; e para o ensino técnico, a preparação para o

trabalho.

Em seguida, o Decreto nº 2.208, de 1997, que veio regulamentar a LDBEN/96, estruturou

o ensino médio, retomando legalmente seu sentido propedêutico; os cursos técnicos

passaram a ser obrigatoriamente separados do ensino médio e oferecidos de duas formas:

concomitante ao ensino médio e sequencial (BRASIL, 1997).

Somente a partir de 2003 foi concebida uma modalidade de ensino médio integrado à

educação profissional, por meio do Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004 (BRASIL,

2004a). A educação profissional de nível médio no Brasil, hoje, é regulada pela Lei nº

11.747/08, que incorporou o Decreto nº 5.154 (BRASIL, 2004a). Ela manteve a oferta dos

cursos concomitantes e sequenciais, mas retomou a possibilidade de integrar o ensino

médio à educação profissional técnica de nível médio. No entanto, a esse avanço na

legislação, do ponto de vista da possibilidade de diferentes arranjos para o ensino médio,

entre eles o ensino médio integrado, não correspondeu a incorporação dos fundamentos da

proposta de formação integral, fruto do debate em torno do princípio educativo do

trabalho.

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A proposta de ensino médio integrado compõe uma das modalidades de integração entre o

ensino médio e o ensino técnico e fundamenta-se em uma concepção de formação humana

em que todas as dimensões da vida se integram no processo educativo. Há um pressuposto

de que essa integração propicia uma formação que produz uma ruptura da limitação

imposta ao homem na sociedade capitalista, bem como o enfrentamento da dualidade da

educação. Para esse contexto, foi fundamental a participação de alguns personagens que

dão sustentação ao debate.

Dermeval Saviani44

, como citado anteriormente, é quem deu o pontapé inicial,

contribuindo com pesquisas e estudos fundamentados na relação entre trabalho e educação

junto a um grupo por ele orientado45

. O princípio educativo do trabalho encontra-se

presente na produção de cada um, com especificidades particulares.

Naquela mesma década, outros pesquisadores e educadores46

oriundos de outros programas

de pós-graduação contribuíram também com suas produções para o debate referente à

educação em geral, mas também no que tocante à educação profissional.

Para organização das ideias e propostas que surgiam, foram realizadas, “ao longo da

década de 1980, seis Conferências Brasileiras de Educação – CBEs” (FRIGOTTO, 2006,

p. 39). Essas conferências foram idealizadas e realizadas pelas entidades: CEDES, ANPED

ANDE e CEDEC e fomentaram discussões, articulações e organização de entidades,

educadores e outros segmentos em torno da educação.

Todos os conceitos estudados por esses autores e que sustentaram o debate em torno do

princípio educativo do trabalho estão amparados em Marx, que:

44

Coordenador do Programa de Pós-graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo – PUC/SP, programa que desempenhou papel fundamental no debate referente ao princípio educativo

do trabalho. 45

Esse grupo é composto, entre outros, pelos professores: Gaudêncio Frigotto, Lucília Machado, Acácia

Kuenzer e Paollo Nosella, que vão produzir contribuições importantes sobre o tema em suas trajetórias. 46

Miguel Arroyo, Carlos Roberto Jamil Cury, Oder José dos Santos, Eunice Trein e Iraçi Picanço, Maria

Ciavatta, Dante Henrique Moura, Marise Ramos, entre outros.

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Remete à relação entre trabalho e a educação como ação humanizadora por meio

do desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano. Seu campo

específico de discussão teórica é o materialismo histórico em que parte do

trabalho como produtor dos meios de vida, tanto nos aspectos materiais como

culturais, ou seja, de conhecimento, de criação material e simbólica, e de formas

de sociabilidade (MARX apud RAMOS, 2008a).

O trabalho é tomado em sua dimensão histórica e ontológica e é a referência que articula

todos os demais conceitos que sustentaram o debate sobre o princípio educativo do

trabalho, em especial sobre a educação profissional desde os anos 1980 até os dias atuais.

É por meio do trabalho que o homem em contato com a natureza a transforma. Essa ação

de transformar o diferencia do animal e permite adaptar a natureza para que atenda às

necessidades humanas. Dessa forma, produzem-se conhecimentos e habilidades que são

transmitidos e aperfeiçoados ao longo dos tempos, sempre por meio do trabalho.

O trabalho é criador da existência humana independentemente da época em que se

apresente. No entanto, ele surge de forma diferente em cada momento histórico. É também

por meio dessa relação estabelecida entre o homem e a natureza que as variações do

trabalho no tempo e no espaço serão determinadas. Dessa maneira, o trabalho se mostra

também numa perspectiva histórica. Ao longo da história da humanidade ele assume

formas diferentes, já que as relações específicas se estabelecem entre os próprios homens

em cada momento histórico. Essa dimensão histórica permite compreender que no modo

capitalista de produção ele se torna alienante e opressor, pois se estrutura segundo as

relações sociais capitalistas, impedindo a desalienação do trabalhador.

O trabalho constitui e é constituinte do ser humano. O homem modifica a natureza e é por

ela modificado. Visto dessa ótica, o trabalho é pura positividade. É nessa perspectiva que

se apresenta “a dimensão educativa do trabalho, mesmo quando o trabalho se dá sob a

negatividade das relações de classe existentes no capitalismo” (FRIGOTTO; CIAVATTA;

RAMOS, 2005, p. 65).

O princípio educativo do trabalho pressupõe uma formação que concebe o trabalho como

possibilidade de o homem transformar o seu meio e se autotransformar na prática de uma

atividade criadora, o que possibilita a sua emancipação. Pressupõe, portanto, uma

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formação na qual a relação entre trabalho e educação assume uma função libertadora das

amarras mercantis.

O princípio educativo do trabalho constitui alicerce da relação entre o trabalho e a

educação e dá sustentação à crítica da dualidade estrutural da educação.

No debate que se desenvolve, ao princípio educativo do trabalho agregam-se outros

conceitos como politecnia, escola unitária e omnilateralidade. Esses conceitos remetem ao

trabalho humano em seu caráter ontológico, já que o trabalho traz em si um princípio

formativo, educativo: educa e forma o homem para viver coletivamente sem explorar ou

ser explorado. Mas esse princípio precisa encontrar as formas mediadoras de se efetivar

nos processos educativos. Distinguir este último da ideia de trabalho como princípio

educativo é uma alternativa promissora, como será visto a seguir.

c) O trabalho como princípio educativo

O trabalho como princípio educativo chama para a cena a esfera pedagógica, já que “a

transmissão de conhecimentos produzidos pelo trabalho é intencionalmente organizado”

(TITTON, 2008, p. 6). É dessa maneira que se exibe a especificidade do trabalho como

princípio educativo, pois este está diretamente relacionado à educação na sua forma

institucionalizada, organizada por meio de currículos e ações pedagógicas.

O trabalho como princípio educativo propõe a organização didática de conteúdos

humanistas, filosóficos, artísticos e do trabalho, ou seja, conteúdos teóricos e práticos,

gerais e específicos em um mesmo currículo.

Nessa concepção:

O que está na base é como no processo de transmissão do conhecimento pelo

ensino, é possível a apreensão dos elementos e propriedades que materializam

um dado fenômeno, permitindo a construção de generalizações e da descoberta

das leis do seu desenvolvimento ou, dito de outra forma, a aquisição de uma

forma especial de conhecimento, o conhecimento científico (TITTON, 2008, p.

7).

Uma proposta pedagógica que incorpore o princípio educativo do trabalho presume,

portanto, assumir o caráter formador do trabalho contrapondo-o à sua dimensão

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deformadora. Nesse posicionamento pedagógico, trabalho e educação, teoria e prática,

conhecimentos gerais e conhecimentos específicos se articulam dialeticamente na

formação de sujeitos capazes de responder aos desafios interpostos por sua vida como

trabalhador, como cidadão e, em última instância, como ser humano transformador de sua

própria existência.

d) Ensino médio integrado

Desenvolve-se no interior desse debate a proposta de ensino médio integrado que retrata a

escola como espaço possível de integração da educação geral com a educação profissional.

O ensino médio compõe a etapa final da educação básica. Como exposto, esse segmento

ganhou visibilidade quando a sociedade debatia um novo projeto de educação para um país

recém-democratizado.

A proposta de um ensino médio integrado é resultado do debate que se desenvolveu desde

a década de 1980, em torno da educação em geral, da educação profissional em particular e

em torno do princípio educativo do trabalho. Ele está regulamentado pela Lei nº 11.741, de

2008, que define o seu formato como modalidade do ensino médio.

O ensino médio integrado procura:

Agregar à formação acadêmica a preparação para o trabalho (compreendendo-o

em seu sentido histórico, mas sem deixar de firmar o seu sentido ontológico) e

discutir os princípios das tecnologias a ele concernentes dão luz a elementos

essenciais para a definição de um propósito específico para a estrutura curricular

da educação profissional e tecnológica. O que se propõe é uma formação

contextualizada, banhada de conhecimentos, princípios e valores que

potencializam a ação humana na busca de caminhos mais dignos de vida

(PACHECO, 2010, p. 2).

A lei, por ela mesma, não expressa a riqueza do alcance da proposta de ensino médio

integrado, pois a concepção dessa modalidade do ensino médio traz na sua gênese a luta

pela superação da dualidade histórica da educação brasileira, “guiada pela necessidade de

construção de uma educação unitária, laica, gratuita de formação politécnica e

ominilateral” (RAMOS, 2010b, p. 43).

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Nesse sentido, a proposta desse novo modelo de educação é, de acordo com Ramos

(2010b), deslocar seu foco do mercado de trabalho para centrar na formação da pessoa

humana.

Essa formação se guia amparada pelas dimensões do trabalho, da ciência e da cultura e tem

como horizonte o rompimento da dualidade da educação, promovendo a integração entre

conhecimentos gerais e conhecimentos específicos, por meio de um currículo integrado

que objetive:

A concepção e experimentação de hipóteses de trabalho e de propostas de ação

didática que tenham, como eixo, a abordagem relacional de conteúdos tipificados

estruturalmente como diferentes, considerando que essa diferenciação não pode,

a rigor, ser tomada como absoluta, ainda que haja especificidades que devem ser

reconhecidas (MACHADO, 2010, p. 81).

e) A experiência dos professores e os desafios para a incorporação do princípio

educativo do trabalho e para a integração no ensino médio integrado

Este texto apresenta como os professores das áreas de conhecimentos gerais e

conhecimentos específicos de três cursos de ensino médio integrado, em três instituições

públicas diferentes, vivem a incorporação do princípio educativo do trabalho nas suas

experiências.

O perfil dos cursos do ensino técnico de nível médio ofertado por essas instituições possui

diferenças: concomitante, subsequente e integrado. A esta pesquisa interessaram os cursos

de ensino médio integrado47

. Os sujeitos foram 16 professores da área conhecimentos

gerais e quatro da área de conhecimentos específicos48

.

Como explicitado anteriormente, para que sejam preservadas as identidades das

instituições e de seus docentes, as primeiras serão denominadas pelas letras A, B e C bem

como os professores pela letra P seguida de um número ordinal.

47

Quando a pesquisadora foi a campo dar início à sua coleta de dados, constatou que o curso que havia sido

selecionado pelos critérios da pesquisa – manutenção e suporte de informática – só era ofertado na

modalidade integrado PROEJA. No site do SISTEC, de onde foram retiradas as informações, constavam as

duas modalidades – integrado e integrado PROEJA. 48

Na instituição A não foi possível a realização de entrevistas com os professores da área de conhecimentos

específicos, devido a dificuldades encontradas pela coordenação do curso de Informática e Manutenção de

Redes em favorecer o contato, bem como à ausência de retorno aos contatos feitos diretamente com os

professores pela pesquisadora via e-mail.

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A instituição A nasceu no berço da industrialização com o objetivo de formar mão-de-obra

para atender às demandas do mercado de trabalho. Trata-se de uma instituição pública de

referência na educação profissional e tecnológica e atualmente oferta os cursos de ensino

médio integrado, em concomitância externa e subsequente, graduação e pós-graduação lato

e stricto sensu. Na década de 1980, período de grande mobilização por uma reforma

educacional e auge do debate sobre o princípio educativo do trabalho, educadores dessa

instituição tiveram envolvimento significativo nessa discussão.

Nela, 100% dos professores entrevistados (seis) - lecionam disciplinas de conhecimentos

gerais49

: Matemática (P1), Biologia (P6), Filosofia (P5), Sociologia (P4), Geografia (P2) e

Inglês (P3). Nenhum dos entrevistados possui título de doutor; 83% são mestres e 17%

possuem apenas graduação; 50% trabalham em regime de dedicação exclusiva e 50% são

substitutos ou temporários.

No QUADRO 4 apresentam-se as disciplinas ministradas pelos professores entrevistados.

QUADRO 4 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na instituição a

Instituição

Disciplinas por área

Conhecimentos gerais Conhecimentos específicos

A

Matemática (P1)

Biologia (P6).

Filosofia (P5)

Sociologia (P4)

Geografia (P2)

Inglês (P3)

A instituição B foi inaugurada em 1969, no seio de uma importante universidade,

ofertando ensino técnico de nível médio. Também é referência no que concerne à educação

profissional de nível médio. A universidade que abriga a instituição B participou

efetivamente do debate da década de 1980 e foi palco da II Conferência Brasileira de

Educação, em 1982.

49

Nessa instituição não foi possível a realização de entrevistas com os professores da área de conhecimentos

específicos devido a dificuldades postas pela coordenação do curso de Informática e Manutenção de Redes

em favorecer o contato, bem como a ausência de retorno aos contatos feitos pela pesquisadora via e-mail.

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Na instituição B foram entrevistados oito professores: 62% das disciplinas de

conhecimentos gerais e 38% das disciplinas de conhecimentos específicos; 50% são

doutores, 25% têm pós-doutorado e 25% são mestres; três dos doutorados foram realizados

na área de educação; 100% dos entrevistados se enquadram no regime de dedicação

exclusiva

No QUADRO 5 apresentam-se as disciplinas ministradas pelos professores entrevistados.

QUADRO 5 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na instituição B

Instituição

Disciplinas por área

Conhecimentos gerais Conhecimentos específicos

B

Geografia (P11) Introdução à programação

Matemática (P9) Aplicativos da web

Português (P10) Tecnologia da programação

Biologia (P7 e P8) Introdução aos sistemas básicos

Introdução a programação, organização e conectividade de

máquinas computacionais

Laboratório de introdução a programação, organização e

conectividade de máquinas computacionais

Algoritmo de estrutura de dados, organização

Máquinas computacionais II

Duas professoras entrevistadas ministram uma mesma disciplina com turmas diferentes,

sendo uma delas diretora de unidade de ensino50

. Ao longo de todo o curso todas as

disciplinas da área de conhecimentos específicos do curso de Informática são divididas

entre três professores (P12, P13 e P14) .

A instituição C tem uma especificidade entre as instituições que participaram da pesquisa.

É a mais recente entre elas e se localiza no interior da recente política de expansão da

educação profissional no país. Além do ensino médio nas modalidades integrado, integrado

PROEJA, subsequente e concomitante, oferece também cursos de graduação, embora

apresente os cursos profissionais de nível médio como sua prioridade.

Foram entrevistados seis professores; 83% ministram disciplinas de conhecimentos gerais

e 17% disciplinas de conhecimentos específicos; 16,5% de professores são pós-doutores,

50

Instância responsável pela supervisão dos programas de ensino, pesquisa e extensão, bem como pela

direção das atividades administrativas no âmbito da Unidade Especial. Disponível em:

http://www.coltec.ufmg.br/coltec/images/documentos/Normas_COLTEC_2014.pdf. Acesso em: 25 de julho

de 2014.

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67% são mestres e 16,5% graduados; 83% dos professores entrevistados possuem regime

de dedicação exclusiva e 17% são substitutos ou temporários.

O QUADRO 6 contém as disciplinas ministradas pelos professores entrevistados.

QUADRO 6 - Disciplinas ministradas pelos professores entrevistados na instituição C

Instituição

Disciplinas por área

Conhecimentos gerais Conhecimentos específicos

C

Matemática (P16 e P18) Segurança e desempenho (P20)

Filosofia (P17) Manutenção em computadores (P20)

Geografia (P19) Introdução a ciência da computação (P20)

Química (P15)

Nesse caso, também foram entrevistados uma professora e um professor que lecionam a

mesma disciplina para turmas diferentes. Todas as disciplinas da área de conhecimentos

específicos que fizeram parte desta pesquisa são ministradas pela mesma professora.

Considerando esse cenário, o próximo item abordará apontamentos originários dos

resultados obtidos pela pesquisa no que diz respeito à incorporação do princípio educativo

do trabalho por esses professores, bem como a sua experiência de integração entre

conhecimentos gerais e específicos.

Na atualidade, a incorporação do princípio educativo do trabalho cada vez mais se impõe

como um grande desafio, não apenas para as políticas educacionais, mas também para os

profissionais que atuam na educação profissional, sobretudo no ensino médio integrado.

A legislação que efetiva a política educacional, expressando a correlação de forças da

sociedade brasileira, foi incapaz de incorporar os avanços das produções teóricas dos

protagonistas do debate que se iniciou na década de 1980. No entanto, não é conveniente

ignorar a potencialidade que a proposta de ensino médio integrado, que consta da

legislação, pode significar nessa etapa da educação básica.

Assim, decorreu dos resultados desta pesquisa a necessidade de chamar a atenção para a

realidade que se encontra na prática dos professores do ensino médio integrado quanto à

incorporação do princípio educativo do trabalho.

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É possível identificar nas três instituições uma coincidência em muitos depoimentos dos

professores no que diz respeito à incorporação do princípio educativo do trabalho.

Os depoimentos da maioria deles manifestam entendimento da incorporação do princípio

educativo do trabalho relacionado à preparação dos alunos para a inserção no mercado de

trabalho. A ela se relaciona um saber-fazer que assegura a permanência nesse mercado. Em

algumas falas a dimensão técnica é tomada como aquela que consegue abarcar o trabalho

em seu princípio formador. Essa ideia está relacionada mais claramente às disciplinas de

conhecimentos específicos, nas quais se acredita que o saber-fazer seja formalizado.

Ao atribuir ao curso na modalidade subsequente a possibilidade de incorporação do

princípio educativo do trabalho, o professor de disciplinas de conhecimentos gerais da

instituição C denota que a possibilidade de incorporação desse princípio está relacionada

às disciplinas de conhecimentos específicos. Isso porque o currículo nessa modalidade de

ensino é composto apenas de disciplinas específicas do curso a que se propõe, pois é

ofertado a quem já tenha concluído o ensino médio.

Há depoimentos na instituição B, tanto de professores de conhecimentos gerais quanto de

conhecimentos específicos, que reconhecem o estágio como o mecanismo responsável pela

incorporação do princípio educativo do trabalho no curso. Este pressupõe o aprender a

fazer e, como tal, ocupa lugar fundamental ao preparar o aluno para sua inserção no

mercado de trabalho.

Professor de disciplinas de conhecimentos gerais da instituição B afirma que a dimensão

formativa do trabalho refere-se à possibilidade de os sujeitos terem outras habilidades,

além da técnica, que lhes possibilitem adaptar-se às novas exigências do mercado e nele se

manter.

No entanto, apesar da convergência encontrada nos depoimentos, outros revelam pontos de

vista diferentes e merecem ser destacados.

Para uma professora de disciplinas de conhecimentos gerais na instituição A, o princípio

educativo do trabalho está relacionado à capacidade de incorporar uma perspectiva

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humanista que direciona a formação, no sentido de preparar os alunos para exercerem a

cidadania, a criticidade e a vida em sociedade.

Um professor e uma professora de disciplinas de conhecimentos específicos nas

instituições B e C, respectivamente, entendem que a incorporação do princípio educativo

do trabalho contempla uma formação completa, com currículo diferenciado que promova a

articulação entre conhecimentos gerais e específicos.

Contudo, especificidades se destacam entre três professores de disciplinas de

conhecimentos gerais das instituições A e C. Eles sugerem uma possibilidade de a

incorporação do princípio educativo do trabalho se dar pela via da dimensão positiva do

trabalho: valorizam a preparação para a inserção dos alunos nas empresas, mas, ao mesmo

tempo, detectam a importância de oferecer uma formação que atenda às dimensões técnica

e cidadã, enfatizando a importância da dimensão positiva do trabalho, além de indicar a

necessidade de superar o caráter negativo que se dá a ele.

Professor de disciplina de conhecimentos gerais da instituição A realça que o princípio

educativo do trabalho é responsável pela produção de valores que se dá na atividade de

trabalho e que ela é fundamental na produção dos dois tipos de conhecimentos - gerais e

específicos.

Outra opinião de professor de disciplina de conhecimentos gerais da instituição C acentua

que o princípio educativo do trabalho retrata a relação estabelecida entre o homem e a

natureza. A transformação que essa relação promove exige aprendizado constante, na qual

se estabelece a dimensão formativa do trabalho.

Por fim, o depoimento de uma professora de conhecimentos gerais na instituição A destaca

o princípio educativo do trabalho como uma formação que possibilite a evolução humana

nas suas dimensões física, espiritual e intelectual.

É bom sinalizar, ainda, que professores que não foram entrevistados por esta pesquisa

podem apresentar uma reflexão diferenciada sobre o tema.

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A concepção dos professores sobre o princípio educativo do trabalho, bem como sua

incorporação citada anteriormente, não deixa de produzir efeitos sobre a sua prática,

sobretudo no que diz respeito ao processo de integração no ensino médio integrado. Dessa

forma, a pesquisa também apurou o que segue adiante.

Identifica-se uma convergência de opiniões entre os professores das três instituições

quando eles se referem à vivência da integração. Todos ressaltam a dificuldade em

articular os conhecimentos gerais e específicos e em realizar atividades integradas e

solidárias que propiciem essa articulação.

Professor de disciplina de conhecimentos gerais da instituição A afirma que a possibilidade

de articulação entre conhecimentos gerais e específicos varia segundo o curso e a

disciplina. Em sua experiência, ele tem trabalhado com o que é proposto para o ENEM, o

que considera ser “bem tradicional”.

Professora de conhecimentos gerais na instituição B relata que a experiência do ensino

médio integrado é fragmentada. Para ela, ainda que os professores se esforcem para

promover a integração entre conhecimentos gerais e específicos, as concepções de cada um

a respeito são diferentes, o que dificulta a integração.

Um dos professores de conhecimentos gerais na instituição C afirma que não há

articulação entre conhecimentos gerais e específicos e acrescenta que os professores de

conhecimentos gerais trabalham com os conteúdos dos livros que serão cobrados para os

vestibulares. Acrescenta saber que essa não é a proposta do ensino médio integrado, mas

que os professores assim o fazem, o que acaba dificultando a integração.

Além da dificuldade de integração representada pela fragmentação entre os conhecimentos

e entre os professores expressa anteriormente, é recorrente a menção a um conflito entre as

posições dos professores das duas áreas de conhecimentos. Valores e práticas diferenciadas

dificultam o diálogo entre eles.

Professora de conhecimentos gerais na instituição A entende que há resistência a realizar a

integração entre professores das duas áreas de conhecimentos, o que colabora para que o

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curso funcione como se fossem duas escolas: uma de ensino médio e outra de ensino

técnico.

Em seus depoimentos, professores de disciplinas de conhecimentos gerais da instituição B

concordam que há predileção pelas disciplinas técnicas em desfavorecimento das de

conhecimentos gerais, o que faz a proposta de integração ficar distante da sua

concretização.

Embora todos esses depoimentos signifiquem que, em suas experiências, os professores

têm dificuldades de articular os conhecimentos de trabalho conjunto e solidário que

possam propiciar a integração curricular, entre eles encontram-se tentativas de práticas

conjuntas. No geral, são atitudes isoladas. Por exemplo, professores das disciplinas de

conhecimentos gerais na instituição A manifestam certo esforço em atender às demandas

impostas pelas disciplinas de conhecimentos específicos. E na instituição B essas

estratégias de diálogo acontecem quando disciplinas das duas áreas estabelecem afinidades

de conteúdos.

Apesar da unanimidade desses depoimentos, é possível identificar especificidades nos

limites impostos à concretização da integração em cada uma das instituições

separadamente.

Alguns depoimentos de professores de conhecimentos gerais da instituição A mostram que

a organização escolar e até a divisão das disciplinas entre departamentos diferentes

dificultam o processo de integração, além de desfavorecer a interação entre os próprios

professores.

Professor de disciplina de conhecimentos gerais da instituição A se lembra de um período

em que houve uma experiência de integração que teve como foco a dimensão técnica, mas,

segundo ele, essa prática atualmente tem acontecido pouco.

Outro professor de disciplina de conhecimentos gerais chama a atenção para a resistência,

tanto dos professores quanto de alunos e pais, para que a integração se efetive, o que

reforça uma prática centrada em conteúdos que objetivem os exames de vestibular ou,

atualmente, o ENEM.

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Na instituição B também se exprimem as dificuldades da integração e outros limites

diferentes vão se revelando. Entretanto, os docentes vivenciam um momento particular de

discussão sobre o processo de integração, com o objetivo de promover uma reforma

curricular que possibilite, de fato, a prática integrada. Foram criadas quatro comissões,

compostas de professores de conhecimentos gerais e conhecimentos específicos, com o

objetivo de propor alternativas para promover a integração. Essas quatro comissões

reúnem-se semanalmente, expondo suas propostas. Certamente seus depoimentos carregam

a especificidade do momento atual.

Professor de conhecimentos específicos da instituição B relaciona a atual proposta de

integração com exigências de reduzir a carga horária, de um lado, e de manter a qualidade,

de outro. Ao mesmo tempo ele manifesta dúvidas quanto às possibilidades que podem

advir do processo.

A inexistência de referências que possam auxiliar os intentos de uma reforma curricular

que efetive a integração potencializa as dificuldades para criar alternativas que envolvam

os professores. É o que expressa um professor de disciplina de conhecimentos específicos

em seu depoimento.

Nessa instituição, fica clara nos depoimentos tanto de professores de conhecimentos gerais

quanto de professores de conhecimentos específicos a intenção de buscar os caminhos para

que se avance numa proposta pedagógica que enfrente as dificuldades da integração, e há

clareza quanto aos grandes desafios pela frente.

Na instituição C, apesar da quase unanimidade dos depoimentos afirmar a vivência de uma

prática desarticulada que impede a integração, inicia-se uma tentativa de mudanças na

prática pedagógica para a promoção de práticas integradoras. Aqui se expressam duas

realidades: do mesmo modo que aparece em alguns depoimentos a descrença quanto à

possibilidade de uma integração, também se encontram interesse e confiança. Professor de

conhecimentos gerais afirma que há iniciativas na instituição; e professora de

conhecimentos específicos completa, afirmando que, em algumas disciplinas, a tarefa da

integração é mais fácil.

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4.2 Considerações finais

A realização da pesquisa dedicou-se a analisar a atualidade do debate em torno da

incorporação do princípio educativo do trabalho entre os professores das áreas de

conhecimentos gerais e específicos em três instituições públicas que ofertam educação

profissional.

A expressiva produção teórica deixada pelos protagonistas do debate na década de 1980,

sugerindo conceitos que se articulam ao princípio educativo do trabalho, assim como sua

importância para o enfrentamento da dualidade da educação brasileira, não logrou produzir

uma realidade correspondente na experiência dos docentes do ensino médio integrado nas

três instituições pesquisadas.

O que se observa é que as relações sociais determinadas pelas exigências do capital se

refletem no campo educacional, sobretudo na educação profissional, de modo que a

formação que aí se dá tem seus propósitos construídos a partir das exigências do mercado

de trabalho.

Os resultados da pesquisa revelam compreensão do princípio educativo do trabalho e de

sua incorporação, em grande parte dos professores, das duas áreas de conhecimento,

reduzidas à busca de uma formação de qualidade que se direciona para a inserção no

mercado de trabalho, que aliena o sujeito e o submete ao que o sistema capitalista exige.

Essa concepção impõe limites à prática docente e à criação de alternativas pedagógicas, no

sentido de dificultar a oferta de uma formação que consiga ultrapassar suas características

instrumental e imediatista.

Os conhecimentos específicos – a técnica, nos depoimentos de alguns dos professores –

ganham lugar de destaque como aqueles que conseguem abarcar a dimensão formativa do

trabalho, portanto, seu princípio educativo. Esse mesmo estatuto é atribuído aos estágios.

Esse comprometimento foi identificado tanto no que diz respeito à concepção e

incorporação do princípio educativo do trabalho, quanto na experiência de integração

vivida pelos professores.

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Se, por um lado, é possível identificar limites postos por uma formação de professores que

não responde às exigências da educação profissional, por outro os limites institucionais

também se mostram na organização do trabalho e dos saberes escolares e nos tempos que

lhes concernem. Os posicionamentos conservadores, os conflitos e as resistências que

impedem a criação de inovações nos vários âmbitos da prática pedagógica também

comparecem.

No entanto, na instituição B, de maneira mais expressiva, e na instituição C, de maneira

mais tímida, um movimento em favor da concretização da integração chama a atenção para

um horizonte de possibilidades.

Em síntese, o cenário apresentado pelos dados é de desconhecimento, por parte de

expressivo número de professores, do debate que compôs o objeto de estudo desta pesquisa

e dos fundamentos teóricos e conceituais que sustentam a proposta de integração curricular

no ensino médio integrado. A dificuldade em realizar a integração curricular nessa

modalidade de ensino sugere a necessidade de enfrentar os limites citados, não só no que

diz respeito à discussão e apreensão desses fundamentos, mas também, e principalmente,

no que se refere à invenção de práticas pedagógicas e relacionais, de arranjos curriculares

que viabilizem a proposta do ensino médio integrado.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo geral analisar a atualidade do debate em torno da

incorporação do princípio educativo do trabalho entre os professores das áreas de

conhecimentos gerais e específicos nos cursos na área de informática na modalidade

integrado em três instituições públicas que ofertam educação profissional. Baseou-se no

desenvolvimento de contribuição técnica na área de educação voltada para o

desenvolvimento local e com características de inovação social.

Seus objetivos específicos ficaram assim definidos:

a) Contextualizar o debate que se desenvolveu, nos anos 1980, entre pesquisadores,

educadores e instituições de educação profissional, em torno do princípio educativo

do trabalho.

b) Conhecer a assimilação desse debate pelos professores das áreas de conhecimentos

gerais e específicos do curso de Informática na modalidade integrado nas três

instituições.

No que se refere ao primeiro objetivo específico, obtiveram-se os seguintes resultados.

As produções advindas desse debate, que envolveu educadores brasileiros, exibiram um

contexto em que esteve em jogo a disputa de ideias e de hegemonia para a construção de

um novo projeto de sociedade, no interior do qual se realça um novo projeto educacional.

Neste, desenvolvem-se as ideias que sustentam o debate em torno do princípio educativo

do trabalho e a importância de sua incorporação para a proposta de integração do ensino

médio com o ensino técnico para enfrentar a dualidade histórica da educação brasileira.

Na década de 1980 esse cenário de mobilização social para transformação da educação foi

representado por variados espaços e sujeitos. Entre estes, Dermeval Saviani e seu grupo de

orientandos tiveram grande destaque junto a outros pesquisadores e educadores, assim

como entidades variadas.

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As seis CBEs foram palco de importantes discussões em torno da educação em geral. Em

especial, elas oportunizaram discussões que pautaram a relação entre trabalho e educação,

no seio da qual estava o princípio educativo do trabalho.

Outra entidade que ganha destaque como importante espaço de socialização da produção

de conhecimento, sobretudo sobre a investigação do trabalho e educação, o principal esteio

de sustentação do debate sobre o princípio educativo do trabalho, foi a ANPED.

A pesquisa constatou, ainda, que apesar de toda mobilização em torno de uma

transformação da educação e dos avanços do ponto de vista conceitual em torno da relação

trabalho e educação e do princípio educativo do trabalho, os reflexos na legislação

educacional não foram tão expressivos.

A promulgação da LDBEN, promulgada em 1996, afirmou o conflito da dualidade da

educação representada pela separação obrigatória entre o ensino médio e a educação

profissional.

No ano de 1997, a proposta de uma reforma educacional apresentada pelo então

Presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio do Decreto no 2.208/97, regulamenta a

LDBEN/96 e obrigatoriamente separa o ensino médio do ensino técnico.

Em 2003, com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi promulgado o Decreto

no 5.154/04 e resgatou-se a possibilidade de unir novamente o ensino médio ao ensino

técnico. Esse decreto foi regulamentado pela Lei nº 11.747/08 e formalizou a modalidade

de ensino médio integrado à educação profissional, mantendo a oferta dos cursos

concomitante e sequencial.

No entanto, embora a proposta de ensino médio integrado tenha como pilar a incorporação

do princípio educativo do trabalho, não foi essa a realidade obtida nas experiências

concretas em vigor.

No que concerne ao segundo objetivo específico, a pesquisa permitiu obter os seguintes

resultados.

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Foi possível identificar nas três instituições coincidência em muitos depoimentos dos

professores no que diz respeito à incorporação do princípio educativo do trabalho.

A maioria das respostas revelou entendimento da incorporação do princípio educativo do

trabalho relacionado à preparação dos alunos para a inserção no mercado de trabalho. A ela

se relaciona um saber-fazer que assegura a permanência nesse mercado. Em alguns

depoimentos a dimensão técnica é tomada como aquela que consegue abarcar o trabalho

em seu princípio formador. Essa ideia está relacionada mais claramente às disciplinas de

conhecimentos específicos, nas quais se acredita que o saber-fazer seja formalizado.

Essa conotação dada ao princípio educativo do trabalho produz efeitos diretos na prática

dos professores, principalmente no que se refere ao processo de integração.

Sendo assim, houve convergência de opiniões nos depoimentos dos professores das três

instituições quando eles se reportam à vivência da integração. Todos enfatizam a

dificuldade em articular os conhecimentos gerais e específicos e em realizar atividades

integradas e solidárias que propiciem essa articulação.

Por outro lado, revela-se que, mesmo diante das dificuldades apuradas, apresenta-se um

movimento nas instituições B e C, ainda que de maneira tímida, uma tentativa de viabilizar

essa prática integrada, movimento que não se expressa na instituição A.

A instituição B mostrou uma mobilização coletiva com o objetivo de discutir propostas

referentes a uma reforma curricular que possibilite uma integração efetiva. A instituição C

tem se mobilizado de maneira menos expressiva, mas já surge no seu interior proposta de

um trabalho que avance na promoção da integração.

A partir do exposto, pode-se dizer que a pesquisa cumpriu seu objetivo, uma vez que

permitiu contextualizar o debate que se desenvolveu nos anos 1980 entre pesquisadores,

educadores e instituições de educação profissional, em torno do princípio educativo do

trabalho. Resgatou-se a expressiva produção de conhecimentos no campo da educação que

ressalta avanços teóricos significativos acerca da proposta de formação integral para o

ensino médio integrado, assim como a expressiva mobilização dos setores da sociedade em

torno da proposta que revela avanços políticos expressivos.

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Permitiu, ainda, verificar que a expressiva produção teórica deixada pelos protagonistas

desse debate, formulando conceitos que se articulam ao princípio educativo do trabalho,

assim como sua importância para o enfrentamento da dualidade da educação brasileira, não

logrou produzir uma realidade correspondente na experiência dos docentes do ensino

médio integrado nas três instituições pesquisadas.

Esse resultado viabilizou a elaboração da proposta de intervenção que se configurou no

informe técnico. Ele apresenta as contribuições da pesquisa na forma de apontamentos que

problematizam a incorporação referente ao debate sobre o princípio educativo do trabalho

entre os docentes dos cursos de ensino médio integrado. Este documento se manifesta na

concepção e experiência que os docentes têm da integração e será remetido aos gestores e

docentes das três instituições envolvidas na pesquisa

A metodologia utilizada concorreu para que se obtivessem os resultados descritos. No

entanto, ocorreram problemas que exigiram mudança no que estava previsto inicialmente.

Após a aprovação do projeto, duas das três instituições a serem pesquisadas tiveram seu

calendário escolar modificado devido a período de greve; nesses casos, os períodos de

férias coincidiram com o início da coleta de dados programado. Esses contratempos

exigiram modificação na metodologia, com a exclusão de um dos instrumentos de coleta

de dados: o questionário, assim como alteração no cronograma da pesquisa. Essas

alterações, no entanto, não afetaram os princípios éticos da pesquisa, tampouco a produção

de resultados cientificamente significativos.

Do ponto de vista da pesquisadora, o processo de pesquisa, bem como de escrita,

permitiram capacitá-la, ampliando suas possibilidades de atuação profissional em uma área

de interesse que fez parte de sua trajetória acadêmica. No entanto, a pesquisadora

encontrou algumas dificuldades em relação aos fundamentos teóricos e conceituais que

sustentam esta temática, assim como algumas lacunas advindas do processo formativo da

pesquisadora dificultaram o processo de apropriação desses fundamentos que, por várias

vezes, aconteceram nos momentos de orientação de escrita e principalmente de análise de

dados.

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Finalmente, muitas outras questões surgiram no processo de pesquisa, porém não puderam

ser tratadas por extrapolarem seus objetivos. Entre elas, ressalta-se a necessidade de

melhor conhecer as dificuldades para a realização da integração curricular no dia-a-dia dos

professores, bem como suas experiências, ainda que fragmentadas e isoladas, dessa

integração.

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119

APÊNDICES E ANEXO

APÊNDICE A - Roteiro de entrevistas

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

Curso de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

Nome: ________________________________________________________________

Data: _________________________________________________________________

Instituição: ____________________________________________________________

Disciplina(s) que leciona: ________________________________________________

Carga horária da(s) disciplina(s): _________________________________________

Regime de contratação: __________________________________________________

1– Trajetória de formação acadêmica

2– Trajetória no ensino médio integrado

3– Experiência de construção coletiva de PPP e outros projetos de ensino, pesquisa e

extensão na escola

3– Experiência de articulação entre conhecimentos gerais e conhecimentos específicos

4– Experiência de realização de atividades conjuntas com professores das áreas de

conhecimentos gerais e de conhecimentos específicos

5– Experiência de incorporação do trabalho como princípio educativo nas atividades

docentes

6– Experiência de articulação entre ciência, cultura e trabalho

7– Limites e possibilidades de incorporação do trabalho como princípio educativo nas

atividades docentes

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120

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Para os professores)

Título da Pesquisa: ENSINO MÉDIO INTEGRADO: Atualidade do debate em torno do

princípio educativo do trabalho

Nós, Ana Paula Ribeiro Rodrigues e Eloísa Helena Santos, aluna e professora do

Centro Universitário UNA, convidamos o(a) Sr.(a) para participar de um trabalho que

estamos realizando e que tem como finalidade analisar a atualidade do debate em torno da

incorporação do princípio educativo do trabalho entre os professores das áreas de

conhecimentos gerais e específicos dos cursos da área de informática em três instituições

públicas que ofertam educação profissional, tendo em vista o desenvolvimento de

contribuição técnica na área de educação voltada ao desenvolvimento local e com

características de inovação social.

São sujeitos da pesquisa professores das áreas de conhecimentos gerais e

específicas desses cursos.

Ao participar deste estudo, o(a) Sr.(a) contribuirá para que a pesquisadora

identifique o nível de incorporação referente ao debate sobre o trabalho como princípio

educativo nos cursos de ensino médio integrado. O(A) sr.(a) tem a liberdade de se recusar

a participar e ainda a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer

prejuízo para o Sr.(a). Sempre que quiser, o(a) Sr.(a) poderá pedir mais informações sobre

este trabalho pelo telefone da aluna e da professora e, se necessário, por meio do telefone

do Comitê de Ética em Pesquisa da UNA.

Gostaria que o(a) Sr.(a) participasse de uma entrevista respondendo a perguntas que

serão gravadas, se assim o permitir. Seu nome não será mostrado em momento algum. Sua

participação neste trabalho não traz problemas legais e se sentir desconforto ou não quiser

continuar respondendo às perguntas, poderá parar um pouco ou interromper a participação

neste trabalho.

A participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os passos adotados

neste trabalho obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos,

conforme Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos

procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais.

Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados. O(A) Sr.(a) não

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121

terá qualquer tipo de despesa para participar deste trabalho, bem como nada será pago por

sua participação.

Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes sobre a

atualidade do debate sobre o trabalho como princípio educativo na prática docente nos

cursos de ensino médio integrado, de forma que o conhecimento que será construído a

partir desta pesquisa possa contribuir com a política educacional voltada para esse nível e

modalidade de educação profissional, permitindo subsidiar o enfrentamento dessa

dificuldade pelas escolas e contribuir para a formação de professores e gestores da

educação profissional. Os pesquisadores se comprometem a divulgar os resultados obtidos.

Após estas informações, pedimos o seu consentimento de forma livre para

participar deste trabalho.

Obs: Não assine este termo se ainda tiver dúvidas a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, deixo claro

que aceito participar deste trabalho. Declaro que recebi cópia deste termo de

consentimento e autorizo a realização da coleta e a divulgação dos dados obtidos neste

estudo.

Aluna: Ana Paula Ribeiro Rodrigues (31) 8415-6184

Professora: Drª. Eloisa Santos (31) 8717-9342

Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4o andar – Belo Horizonte/MG

Contato: email: [email protected]

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122

APÊNDICE C - Autorização para coleta de dados

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

Curso de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

Eu, _________________________________, ocupante do cargo de____________ do(a)

___________________, autorizo a coleta de dados do projeto “ENSINO MÉDIO

INTEGRADO: Atualidade do debate em torno princípio educativo do trabalho” dos

pesquisadores Ana Paula Ribeiro Rodrigues e Eloisa Helena Santos nas instalações físicas

do (local de realização da coleta) após a aprovação do referido projeto pelo CEP do

Centro Universitário UNA.

Belo Horizonte, ___ de_________ de 2013.

ASSINATURA:

CARIMBO:

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123

APÊNDICE D - Modelo de carta de solicitação de acesso a fontes de informação

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

Curso de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

Da Prof.ª Drª. Eloisa Helena Santos

Ao Sr.(a):

Prezado(a) Senhor(a),

A pesquisadora Ana Paula Ribeiro Rodrigues é nossa aluna regularmente

matriculada e está desenvolvendo, sob minha orientação, a pesquisa “ENSINO MÉDIO

INTEGRADO: Atualidade do debate em torno do princípio educativo do trabalho”,

requisito indispensável à conclusão de seu mestrado em Gestão social, educação e

desenvolvimento local.

Esta pesquisa tem a finalidade de analisar a atualidade do debate em torno da

incorporação do trabalho como princípio educativo entre os professores de áreas de

conhecimentos gerais e específicos dos cursos da área de informática em três instituições

públicas que ofertam educação profissional. Para o desenvolvimento desta investigação,

contamos com a preciosa colaboração de V.Sª no sentido de propiciar-lhe o acesso a:

Quanto à solicitação recebida:

(x) Autorizamos a coleta de informações na instituição;

( ) Não autorizamos a coleta de informações na instituição.

Quanto à divulgação:

(x) Autorizamos a menção do nome da instituição no relatório técnico-científico;

( ) Não autorizamos a menção do nome da instituição no relatório técnico-científico.

Quanto ao relatório escrito:

(x) Requeremos a apresentação dos resultados da pesquisa na instituição;

( ) Não requeremos a apresentação dos resultados da pesquisa na instituição.

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O acesso a essas fontes de informações é imprescindível à realização deste estudo.

Agradecemos antecipadamente a colaboração recebida de V.Sª, a qual engrandecerá

sobremaneira esta investigação.

Belo Horizonte, _______ de _______ de 2014.

Responsável pela instituição

Nome da Instituição

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ANEXO A – Parecer ético

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