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CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ BRUNA FEIJÓ TAVARES A PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR: CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS A UM AMBIENTE DE RENOVAÇÃO E APRENDIZAGEM São José 2011

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CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

BRUNA FEIJÓ TAVARES

A PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR: CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS A UM AMBIENTE DE RENOVAÇÃO E

APRENDIZAGEM

São José

2011

BRUNA FEIJÓ TAVARES

A PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR: CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS A UM AMBIENTE DE RENOVAÇÃO E

APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Municipal de São José – USJ como requisito para aprovação do Curso de Graduação em Pedagogia. Orientadora: Profª. Dra. Izabel Cristina Feijó de Andrade.

São José

2011

BRUNA FEIJÓ TAVARES

A PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR: CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS A UM AMBIENTE DE RENOVAÇÃO E

APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito final para

aprovação do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São

José – USJ

Avaliado em: 21 de Junho de 2011 por:

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________ Prof.ª Dra. Izabel Cristina Feijó de Andrade - Orientadora

USJ

_______________________________________________________________ Prof.ª MSc. Silvanira Lisboa Scheffler

_______________________________________________________________ Prof.ª MSc. Marli Lucia Lisboa

Dedico este trabalho a Deus que me deu forças nessa caminhada acadêmica, aos meus pais e meu noivo que sem dúvida são meus maiores incentivadores, e a todas as crianças que passaram ou passarão por um Hospital, crianças essas que não podem ser esquecidas pela sociedade e sim atendidas em todos os aspectos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, criatura onipotente que me

proporcionou surpresas diárias e fez minha vida se entrelaçar a pessoas

maravilhosas que contribuíram na construção da pessoa que sou e serei. A

cada momento vivido acredito mais no quanto sou abençoada.

Aos meus maravilhosos pais Batista e Cida, que souberam instruir em

minha caminhada, e se hoje cheguei até aqui, é porque foram eles que me

guiaram.

Agradeço as minhas irmãs, Tatiana e Karolina, fundamentais ao meu dia

a dia, me fazendo rir quando eu tinha vontade de chorar e ao me entender nos

momentos em que estava brava por passar a noite fazendo TCC.

Ao meu sobrinho Marco, coração inocente, anjo na minha vida, que

muitas vezes dormiu tarde da noite porque queria me ajudar e não me deixar

sozinha fazendo trabalho.

Agradeço ao Jhonas, meu presente de Deus, noivo amado, que me deu

forças e acalento quando tudo parecia difícil e sempre acreditou na minha

capacidade.

A minha Vó Bernardete que anseia ver seus netos crescerem na vida e

frisa sempre quanto o conhecimento é necessário e importante.

A minha orientadora Izabel, pessoa iluminada, professora pelo qual

pretendo me espelhar, que compartilhou comigo seus saberes e sempre esteve

disposta a me ajudar.

Agradeço as Pedagogas do HIJG, que me acolheram, compartilharam

experiências e me ajudaram muito na conclusão deste trabalho, minha paixão

pela Pedagogia Hospitalar só se intensificou e criou raízes profundas quando

estive com elas.

Aos professores que estiveram diretamente envolvidos com esta

pesquisa.

Por fim, agradeço as minhas amigas, Ana, Camila, Luana, Monique,

Juliana e Sabrini, pessoas inigualáveis, que só contribuíram para meu

crescimento e foram fundamentais nesta caminhada árdua.

Sou muito agraciada por ter todas estas pessoas em minha vida, espero

que se sintam tão homenageados quanto merecem.

Não é a toa que entendo os que buscam caminho, como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas, o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa; meu caminho não sou eu, é o outro, são os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro, estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.

(Clarice Lispector)

RESUMO

Considerando a Educação como um direito, e importante ao desenvolvimento de todas as crianças, independente das dificuldades que as mesmas possam enfrentar, esta pesquisa para o trabalho de conclusão de curso (TCC) objetiva analisar os processos que envolvem a Pedagogia Hospitalar no contexto das crianças/pacientes. Com respaldo de referências teóricas, o trabalho esclarece o percurso desta área educacional no Brasil, as Bases Legais que norteiam a temática, relações dos pedagogos hospitalares com as crianças, e os projetos pedagógicos existentes no Hospital infantil Joana de Gusmão (HIJG). A referente pesquisa denomina-se qualitativa, pois não se quantificou as contribuições educacionais no espaço hospitalar, mas sim, significaram-se os fatos apresentados. Para pesquisa de campo, foram realizadas entrevistas não-estruturadas com quatro pedagogas do HIJG, no qual se observou como fator emergente, a importância que a Pedagogia Hospitalar exerce nos hospitais, auxiliando muitas vezes no tratamento da criança/paciente. Palavras-Chave: Educação. Criança. Pedagogia Hospitalar.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8

1.1 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 9

1.2 OBJETIVOS ............................................................................................... 11

1.2.1 Geral ....................................................................................................... 11

1.2.2 Específicos ............................................................................................ 11

1.3 METODOLOGIA ......................................................................................... 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................ 14

2.1 O QUE É, E QUANDO SURGIU A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO BRASIL

......................................................................................................................... 14

2.2 BASES LEGAIS DA PEDAGOGIA HOSPITALAR ..................................... 15

2.3 O CONTEXTO DA CRIANÇA HOSPITALIZADA (Uma atenção especial do

pedagogo) ........................................................................................................ 19

2.4 A PEDAGOGIA E O PEDAGOGO HOSPITALAR ...................................... 22

2.5 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE

GUSMÃO - HIJG .............................................................................................. 25

3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS: A IMPORTÂNCIA DAS

CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS EM AMBIENTE HOSPITALAR ............. 29

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 40

REFERENCIAS ................................................................................................ 42

APÊNDICE ....................................................................................................... 45

APÊNDICE A – Apresentação do acadêmico em campo..................................47

APÊNDICE B – Entrevistas...............................................................................48

8

1 INTRODUÇÃO

Toda criança e adolescente tem o direito ao acesso à saúde e à uma

educação de qualidade, sendo que através de pesquisas como esta, se propõe

ao leitor uma análise sobre a Pedagogia Hospitalar para a criança debilitada

física, emocional ou cognitivamente.

A referente pesquisa sobre a questão Pedagógica no contexto da

criança/paciente aborda qualitativamente aspectos importantes desta área

educacional, apresenta um estudo bibliográfico juntamente com uma pesquisa

de campo no Hospital Infantil Joana de Gusmão - HIJG. Para as análises,

foram utilizadas entrevistas não estruturadas com as pedagogas responsáveis

pela Pedagogia Hospitalar no HIJG, observando como tema central, as

contribuições que a pedagogia traz ao ambiente hospitalar.

A indagação que surgiu como plano de fundo deste estudo foi: Como a

pedagogia em hospitais pode auxiliar no tratamento da criança/paciente?

Esta pesquisa apresenta fontes que comprovam a relevância de projetos

educacionais na área hospitalar e responde perguntas sobre a funcionalidade

da Pedagogia Hospitalar, instigando ao leitor à buscar novas informações e

conhecimentos nesta área que por mais que tenha se expandido, ainda é

pouco estudada.

O leitor encontra aqui, como um pequeno respaldo, leis que

regulamentam a Educação Especial, sendo a Classe Hospitalar uma categoria

desta área. Para a análise das leis, o autor Carneiro (2010) contribuiu muito,

com obras crítico-compreensivas.

Como autores estudados, se destacaram Matos e Mugiatti (2009), e

Fontes (2005), grandes estudiosos da classe, que organizaram livros contendo

artigos com autores de interesse da área.

Este trabalho está organizado da seguinte forma:

Apresenta-se o porquê pretendeu-se explorar o tema, após expõe-se os

objetivos a serem atingidos. O trabalho segue com uma pequena denominação

do que é Pedagogia Hospitalar, programas e bases legais que a

regulamentam, discorre sobre a relação da Pedagogia e o Pedagogo da Classe

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Hospitalar, e apresenta uma breve descrição do contexto das crianças que se

encontram internados ou desfrutam dos projetos ambulatoriais e educacionais.

O Hospital Infantil Joana de Gusmão, aparece nesta pesquisa como a

ligação da saúde com a educação, no qual se oportuniza a continuação dos

aprendizados escolares. Por fim, nas considerações finais aparecem pontos de

reflexão que podem auxiliar a todos os envolvidos com a Pedagogia Hospitalar

na busca pela excelência da área, tendo o aluno/paciente sempre como foco

principal.

1.1 JUSTIFICATIVA

Ainda quando criança, antes mesmo de saber que poderia usufruir de uma

oportunidade acadêmica dotada em pesquisas que fizessem sentido para

pessoa que sou, passava meus dias brincando de “escolinha”, mas não era

uma escola qualquer e nem de longe eu era uma professora qualquer, pois na

minha imaginaria escola misturavam-se aulas com momentos de cuidados com

a “saúde” de minhas bonequinhas, isto mesmo, o estoque de band-aid e

atadura que minha mãe insistia em comprar para uma possível eventualidade

era utilizado por mim para sarar minhas alunas que estavam doentes. Para

mim aquilo era um momento mágico e mal sabia eu que essa seria uma das

paixões que me motivaria pessoal e profissionalmente.

Quando perguntada pelas pessoas o que eu realmente seria quando fosse

adulta, sempre confusa afirmava que seria enfermeira e professora, pois o que

eu queria mesmo era auxiliar as crianças em todos os aspectos.

Já crescida minhas preferências ficaram cada vez mais evidentes e na hora

do vestibular, lá estava eu, batalhando pela Pedagogia e Enfermagem. Não

satisfeita em ter que esperar os resultados logo engatei em um curso técnico

de enfermagem, quando então recebi a notícia de que havia passado no

vestibular para Pedagogia.

Estagiei como Técnica de Enfermagem no Hospital Infantil Joana de

Gusmão, onde lá fui surpreendida quando pude conhecer a Pedagogia

Hospitalar. Era tudo que eu almejava, como se eu pudesse ligar minhas

paixões, ali estava à solução, é na Pedagogia Hospitalar que se atende a

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criança/adolescente em sua integridade. Equipes multiprofissionais, ligadas por

um único objetivo, o bem das crianças ou adolescentes debilitados.

Observando, passei a perceber a relevância desta classe que ao longo dos

tempos vem crescendo, porém as pesquisas sobre o tema ainda são escassas

comparadas à dimensão que exercem para a Educação Especial, e estuda-las,

criando novas pesquisas é fundamental para o crescimento qualitativo da

Educação Hospitalar.

A dificuldade em encontrar bibliografias sobre o tema foi um fator crucial

e de interesse para o estudo, faz com que novas pesquisas possuam uma

grande valoração e contribuam significativamente para análises que visem à

qualidade de vida da criança adoecida, e consecutivamente hospitalizada.

A infância tem como especificidade um momento de descobertas, pelo qual

as crianças querem se sentir livres para brincar, imaginar, enfim interagir com o

mundo e a relação com a educação é ligada a esta fase, porém uma

enfermidade abala significativamente não só suas rotinas diárias como também

aspectos de seu desenvolvimento. Apresentar ao leitor a Pedagogia Hospitalar,

bem como seus aspectos envolventes pode auxiliar não só a educadores,

como também a todos interessados na educação. É uma possibilidade de

material de pesquisa que poderá ser utilizado para futuros estudos ou apenas

como instrumento esclarecedor.

Aqui não se falará em morte; não por negar que ela possa acontecer, o que

certamente acontecerá com todo o mundo independente da época, e nem por

que é um assunto delicado. Não aparece nesta pesquisa questões envolvendo

possíveis falecimentos que possa ocorrer na trajetória dos envolvidos com a

Pedagogia Hospitalar, pois o grande motivo deste estudo é apresentar

questões que melhorem a qualidade da criança ou adolescente com a saúde

debilitada para auxiliar no desenvolvimento do processo cognitivo e emocional

do paciente.

É sempre possível o aumento na gravidade da enfermidade da criança,

assim o pedagogo deve estar preparado para continuar desenvolvendo seu

trabalho sendo maleável, empático e buscando contribuir para a melhora da

criança/paciente.

11

A Classe Hospitalar possibilita à continuidade dos estudos do aluno que se

ausentou da escola de origem por motivo de doença e insere a

criança/adolescente a um contexto escolar.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

Analisar os processos que envolvem a Pedagogia Hospitalar no contexto

das crianças/pacientes.

1.2.2 Específicos

• Apontar aspectos importantes da Pedagogia em Hospitais;

• Reconhecer a vivencia escolar que alunos/pacientes adquirem ao

estudar, interagir ou brincar em um âmbito hospitalar adaptado

pedagogicamente;

• Conhecer programas educacionais que contribuem com o tratamento

das enfermidades de crianças hospitalizadas no Hospital Infantil Joana

de Gusmão.

1.3 METODOLOGIA

A ideia inicial da referente pesquisa surgiu ainda em 2008 quando tive o

primeiro contato com a Pedagogia Hospitalar no HIJG, mesmo estando no

Hospital para estagiar como Técnica de Enfermagem fui apresentada

superficialmente as ações pedagógicas existentes. Na época estava na

primeira fase do curso de Pedagogia e decidi que pesquisaria sobre o tema.

Passei a me aprofundar à ideia, lendo entrevistas, textos, artigos

condizentes e observando melhor o funcionamento da Pedagogia em ambiente

hospitalar.

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Segundo Silva e Menezes (2005, p. 30) “[...] deverá levar em conta, para a

escolha do tema, sua atualidade e relevância, seu conhecimento a respeito,

sua preferencia e sua opinião pessoal para lidar com o tema escolhido.”

No começo tive uma grande dificuldade, pois encontrava pouco material

referente à Pedagogia Hospitalar, porém esta foi mais uma razão para realizar

uma pesquisa do tema tão pouco explorado.

Como autores fundamentais, destaco Matos e Mugiatti (2009) e Fontes

(2005), que contribuem significativamente com o tema.

No ano de 2010 comecei a fazer meu levantamento bibliográfico,

analisando e pesquisando as produções teóricas, como livros e artigos. Silva e

Menezes (2005 p. 20) esclarecem que “Pesquisa é um conjunto de ações

propostas para encontrar a solução para um problema, que tem por base

procedimentos racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem

um problema e não se tem informações para solucioná-lo.”

Nesta pesquisa socializa com o leitor, ideias, argumentos e referenciais que

expressam a grandiosa dimensão da Pedagogia Hospitalar no contexto da

criança que se encontra adoecida, com o corpo debilitado e muitas vezes

fechada a conversas e indagações.

Não se teve a pretensão de tomar como verdade absoluta os Referenciais

Teóricos aqui expostos, até mesmo porque a verdade é um ponto de vista que

depende de cada pessoa, mas sim de compartilhar um estudo feito acerca de

diferentes bibliografias que tiveram relação com este tema, colocando este

trabalho a disposição para futuros estudos ou ate mesmo para que tomem

conhecimento da Pedagogia Hospitalar e seus respectivos projetos.

Foi realizado um planejamento, buscando alcançar objetivos concretos

ao assunto proposto. Segundo P. Ramos e M. Ramos (2008, p. 11) “[...]

planejamento é compreendido como um instrumento de intervenção na

pesquisa. É preciso perceber que a pesquisa não ocorre espontaneamente,

mas o que transforma ela são as ações.”

A partir de então, optou-se por realizar uma pesquisa qualitativa

bibliográfica como procedimento técnico, no qual não se busca resultar os

estudos através de quantidades analisadas e sim significar os fatos.

Ramos P. e Ramos M. (2008, p. 38), descrevem a abordagem qualitativa

da seguinte forma:

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Qualitativa: há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, que não pode ser traduzido em números. A interpretação do sujeito e a atribuição de significados são basicamente na pesquisa qualitativa. O pesquisador tende a analisar os dados indutivamente.

Para dar maior veracidade a pesquisa, foram realizadas entrevistas não

estruturados com quatro pedagogas do Hospital Infantil Joana de Gusmão e

através das conversas indutivas se conheceu e se analisou os processos

envolvidos ao tema.

Para Silva e Menezes (2005, p. 33), entrevista não estruturada é “[...] a

obtenção de informações de um entrevistado, sobre determinado assunto ou

problema. [...] não existe rigidez de roteiro. Pode-se explorar mais

amplamente algumas questões.”

Quanto ao material utilizado, se analisou os materiais já publicados, ou

seja, uma pesquisa bibliográfica. Ramos P. e Ramos M (2008, p. 39)

entendem como pesquisa bibliográfica aquela que é “elaborada a partir de

material já publicado, tais como livros, artigos de periódicos e materiais

disponibilizados na internet”.

Quanto à natureza da pesquisa, descreve-se como básica pelo qual

objetiva-se trazer a analise dos dados como contribuição a novos estudos.

Silva e Menezes (2005, p. 20) descrevem como básica a pesquisa que

“objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem

aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais”.

Buscando preservar a identidade das Pedagogas entrevistadas seus

nomes foram modificados por flores. Esta escolha se deu por considerar o

Hospital como um jardim no qual ali florescem e renovam-se os botões

(crianças), e seriam as pedagogas responsáveis por criar raízes profundas que

auxiliam no desenvolvimento dos seres.

14

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo se encontra a fundamentação teórica que trata de

questões como o surgimento da Pedagogia Hospitalar no Brasil, as Bases

Legais da Educação em Hospitais, o contexto das crianças hospitalizadas, o

pedagogo que trabalha nesse ambiente e a Pedagogia Hospitalar no Hospital

Infantil Joana de Gusmão.

2.1 O QUE É, E QUANDO SURGIU A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO BRASIL

Através de pesquisas, Schilke (2008, p. 15) esclarece o surgimento da

Pedagogia Hospitalar, relatando que no Brasil as primeiras notícias que se

tinham sobre aulas para crianças internadas foram no ano de 1950, no Rio de

Janeiro, Hospital Municipal de Jesus, porém não tinha vinculação alguma com

a Secretaria de Educação. O que aconteceu é que profissionais na área da

saúde observaram a necessidade cognitiva que as crianças internadas por

longos tempos apresentavam e então começaram a realizar ações educativas

por conta própria.

Ainda segundo, Schike (2008, p. 16), no ano de 1960, o Hospital Barata

Ribeiro no Estado do Rio de Janeiro implementou as aulas para crianças

hospitalizadas, contando com uma professora específica. Foi também neste

ano que os profissionais que dirigiam os dois Hospitais buscaram junto a

Secretaria de Educação a regulamentação da Pedagogia Hospitalar, porém o

reconhecimento de modalidade educacional veio apenas em 2002.

Sobre a regulamentação da Pedagogia em âmbito Hospitalar, Schike

(2008, p. 16) afirma que:

Apenas em 2002 o Ministério da Educação, por meio da Secretaria da Educação Especial, regulamenta esse tipo de trabalho com a publicação do documento intitulado “Classe Hospitalar e Atendimentos pedagógicos domiciliar; estratégias e orientações.” Que tinha por objetivo estruturar ações políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes hospitalares e domiciliares.

A denominação Classe Hospitalar aparece como acompanhamento

didático ao ser hospitalizado, para que não ocorra uma defasagem no ensino

regular do educando e consecutivamente um atraso cognitivo por conta de sua

15

internação. Já a Pedagogia Hospitalar é o conjunto de ações pedagógicas que

beneficiam o aprendizado da aluno/paciente, ou seja, uma modalidade está

inserida na outra.

Colaborando para o significado da Pedagogia Hospitalar, bem como

suas especificidades, Schilke (2008 p. 17) explica que:

Este modelo educacional defende a ideia de que o conhecimento deve contribuir para o bem estar físico, psíquico e emocional da criança enferma, enfocando mais os aspectos emocionais que os cognitivos. Essa modalidade busca uma ação diferenciada do professor no hospital e apesar de trazer uma perspectiva transformadora intrínseca na sua atuação, é de difícil realização e pode ser banalizada.

.Um fator a ser levado em conta é que o termo Pedagogia Hospitalar não

esta explicito na Legislação Brasileira, o que normalmente se encontra é o

termo Classe Hospitalar, porém segundo autores como Fontes (2005, p. 121) e

Schilke (2008, p. 17) o termo Classe Hospitalar é muito delimitado para a

modalidade da Educação Especial, pois não abrange todos os projetos

existentes em um Hospital, o que então, se torna mais propício a Pedagogia

Hospitalar.

2.2 BASES LEGAIS DA PEDAGOGIA HOSPITALAR

A educação e a saúde são elementos fundamentais de transformações

sociais que visam o desenvolvimento do mundo em que se vive. A

preocupação do governo em aspectos que envolvem tanto a educação quanto

a saúde, diz respeito exatamente ao desenvolvimento social da população e

são as leis que dispõe sobre os direitos e deveres de cada pessoa,

fundamentando os projetos existentes.

Os educadores devem pesquisar constantemente sobre os direitos e

deveres dos cidadãos, para exercê-los e ensinarem aos seus alunos, fazendo

com que eles se tornem educandos críticos e conscientes.

Quanto ao envolvimento dos pedagogos no conhecimento das leis, Cruz

(2009, p. 4) relata que:

16

[...] todos os cidadãos são iguais e tem seus direitos e deveres assistidos nas leis dentro da nossa sociedade. Leis essa que são de suma importância para nós pedagogos, conhecermos, discutirmos e criticarmos (quando for o caso) com o intuito de que elas melhorem e de fato se façam valer, principalmente na educação, a qual queremos ao alcance de todos, e com a mais alta qualidade, visando o desenvolvimento de pessoas cada vez mais críticas e realizadas no mundo que as cerca.

Se tratando de crianças hospitalizadas, é necessário que se pense em

todos os aspectos que envolvem uma situação de hospitalização infantil.

Uma situação de enfermidade carrega junto de si circunstâncias

complexas que devem ser tratadas com destreza por todas as pessoas que

estão diretamente ligadas a esta condição.

É um momento na vida no qual o ser doente se encontra perdido em

dúvidas e fragilidades e por este motivo devem-se destinar ações integradas

que auxiliem e não excluam estas pessoas da sociedade e de suas próprias

vidas.

Beneficiar o cidadão adoentado através de bases legais é mais do que

tratar o corpo doente, é realizar um conjunto de ações que visem à melhora por

completo do ser humano, ou seja, não só o físico como também o psíquico e

todas as suas relações.

A criança ou adolescente que se encontra privada de seu ambiente

escolar por adoecer e consecutivamente estar hospitalizada, faz valer seus

direitos legais contidos na legislação vigente que assegura o direito à educação

e saúde, continuando a ter um acompanhamento escolar.

A Lei 8.069/90 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente, nos arts. 3º e 4º afirma que:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, ECA 1990, Art. 3º) Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, ECA 1990 Art. 4º)

17

O Estatuto da Criança e Adolescente vem para tornar legítimo o que

deve ser assegurado para crianças ou adolescentes, direitos essenciais como

a saúde e educação.

As leis são uma forma de garantir direitos, e tratando-se de

especificamente crianças e/ou adolescentes hospitalizados, o Poder Público

dispõe através destas leis, garantias que beneficiam direta ou indiretamente o

tratamento e o contexto integral dos pacientes.

Para Carneiro (2010, p. 414), o que se pretende com a respaldo das leis

que beneficiam a prática pedagógica em âmbito hospitalar é:

[...] propiciar rotas de humanização para alguém (o aluno) que, de repente, se sente descompensado em seu processo de desenvolvimento. E a descompensação permitida está na fronteira do desrespeito à dignidade da pessoa humana, fundamento constitucional irrenunciável.

Quando ocorre um afastamento da criança em seu cotidiano, por motivo

de hospitalização, costumes e rotinas como ir à sua escola de origem são

modificados, então elas são tomadas por um forte impacto e tendem a passar

por momentos de confusão com a nova rotina, o que pode prejudicar seu

estado físico e emocional e é no amparo das leis educacionais que poderá

resgatar um pouquinho de seu mundo.

A Lei n. 9.394/96 das Diretrizes e Bases da Educação – LDB é um

dispositivo legal que assegura o direito das crianças e jovens à Educação, e

compreende-la é fundamental aos educadores comprometidos. No capítulo V

da LDB, encontra-se à Educação Especial, que tem como uma das

modalidades a Classe Hospitalar, e é no Art. 59 o respaldo quanto aos direitos

educacionais desta classe:

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; [...] (BRASIL, LDB,1996 Art. 59)

18

As crianças ou adolescentes devem ser tratados dignamente e quando

adoentados a humanização torna-se palavra-chave, devendo ser exercida nos

processos que os envolvem.

Através do Art. 59 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o paciente

tem garantias quanto à continuação à educação, mesmo debilitado e

fragilizado.

Segundo a Secretaria do Estado da Educação de Santa Catarina -

SEESC, conforme o site <http://www.sed.sc.gov.br/educadores/programas-e-

projetos/539> (Acesso em: 09 de Setembro de 2010) o atendimento

pedagógico hospitalar que corresponde com Classes Hospitalares e

atendimentos específicos, efetivou-se em Santa Catarina no ano de 1999,

tendo como objetivos possibilitar e garantir o acesso ao desenvolvimento

escolar dos alunos que encontram-se hospitalizados, fincando um elo entre a

criança ou adolescente e sua vivencia educacional.

A SEESC (Disponível em:

<http://www.sed.sc.gov.br/educadores/programas-e-projetos/539> Acesso em

09 de Setembro de 2010) afirma sobre o Programa da Classe Hospitalar, com

atendimento pedagógico que:

É um programa de acolhimento diferenciado às crianças e jovens internados em hospitais que necessitam de acompanhamento educacional especial, para que os mesmos não percam a ligação com a escola, oferecendo-se atendimento sistemático e diferenciado.

E ressalta, quanto aos danos que uma hospitalização pode causar ao

desenvolvimento das crianças e adolescentes e a contribuição das leis para o

auxílio educacional do educando:

O período de hospitalização pode trazer muitos danos para o desenvolvimento das crianças e adolescentes e, além disso, é potencialmente traumático e os afasta dos espaços educativos formais. A educação nos hospitais é um direito que vem contribuir para a formação integral, para que mesmo debilitados não interrompam sua aprendizagem. Desta forma, esta modalidade de educação facilita na reinserção à escola regular do aluno pós-hospitalizado, através de um currículo flexibilizado e adaptado da ação docente. (SEESC, acesso em 09/09/10)

A carência de aprendizagem pode acarretar na exclusão da criança ou

adolescente a um de seus direitos fundamentais, e cabe ao governo fazer valer

19

estas respectivas leis para uma melhor qualidade de vida ao doente que vise

“reascender” seu desenvolvimento cognitivo.

Quando se fala em bases legais, encontra-se também a Resolução do

Conselho Nacional de Educação, CNE/CEB n. 2/01, instituindo as Diretrizes

Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Esta trata no art.13

de especificidades do atendimento educacional à criança hospitalizada,

esclarece o dever dos sistemas de ensino e da saúde para com o atendimento

especial aos alunos adoentados.

Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio. (BRASIL, 2001, p. 4)

A atenção Pedagógica em ambiente hospitalar legitima direitos e em

conjunto com profissionais da área da saúde, possibilita um efeito amenizador

no tratamento do paciente, ou seja, diminui o afastamento brusco do cotidiano

e das tarefas antes exercidas como de costume pela criança/adolescente. É

relevante que sejam realizados novos estudos e pesquisas em prol da

Pedagogia Hospitalar e consecutivamente a criança hospitalizada, pensando

em uma expansão do atendimento pedagógico hospitalar e almejando sempre

novas classes que auxiliem o aluno/paciente.

2.3 O CONTEXTO DA CRIANÇA HOSPITALIZADA (Uma atenção especial do pedagogo)

A hospitalização acontece quando ocorre uma enfermidade em que a

pessoa necessita de atenção integral, exigindo cuidados especiais como um

âmbito hospitalar adaptado para seu tratamento.

A internação faz com que o paciente seja retirado bruscamente de seu

ambiente natural, bem como sua rotina, podendo ocasionar insegurança,

estresse e momentos de ansiedade. Tratando-se de crianças se faz necessário

que a atenção seja redobrada, pois seu ritmo habitual é modificado

forçadamente e a mesma ainda não consegue ter uma noção clara de que a

hospitalização acontecerá para o beneficio de seu tratamento.

20

Amorin e Ferro (2007) esclarecem que:

O ser infantil pode perceber a doença, os procedimentos e a hospitalização como uma agressão externa; uma punição, podendo trazer sentimentos de culpa que repercutirão de forma desfavorável no processo de doença, internação e durante sua vida. Esse sentimento virá acompanhado de muito sofrimento que poderá ser aliviado quando entender o verdadeiro sentido do aparecimento de sua doença, da necessidade da hospitalização e dos procedimentos.

Tratar um ser humano doente envolve muito mais do que medica-lo ou

fazer curativos. Os cuidados devem suprir também outras necessidades como,

por exemplo, dar condições de realizar algumas tarefas que faziam antes da

situação apresentada. Ferreira e Moura contemplam (2008, p. 6) que ”Com

relação à pessoa hospitalizada, o tratamento de saúde não envolve apenas os

aspectos biológicos da tradicional assistência médica à enfermidade.”

Cabe ao Pedagogo ajudar à criança/paciente a entender o processo de

internação e buscar ferramentas educativas que auxiliem na compreensão do

mesmo. Não se trata de realizar um trabalho de psicólogo, mas reinserir a

criança/adolescente no meio educacional de modo que a mesma consiga suprir

a falta cognitiva que ela poderia apresentar por sua doença.

O ser infantil pode perceber a doença, os procedimentos e a hospitalização como uma agressão externa; uma punição, podendo trazer sentimentos de culpa que repercutirão de forma desfavorável no processo de doença, internação e durante sua vida. Esse sentimento virá acompanhado de muito sofrimento, que poderá será aliviado quando entender o verdadeiro sentido do aparecimento de sua doença, da necessidade da hospitalização e dos procedimentos. (AMORIN; FERRO, 2007)

Buscar uma melhor qualidade de vida a estas pessoas é importante para

amenizar o sofrimento dos pacientes e colaborar para a não exclusão delas em

seus contextos integrais.

Se tratando de crianças e adolescentes hospitalizados, eles por muitas

vezes se encontram mais confusos do que adultos, pois possuem a capacidade

de compreensão fragilizada pelo momento doloroso, e a classe educacional

hospitalar auxilia ao não isolamento do cotidiano social dos mesmos, inserindo

(mesmo que diferentemente) a criança/adolescente em seu antigo contexto.

Deve-se manter uma atenção especial aos pacientes, sem que olhem apenas a

enfermidade, e sem que os rotulem pelas patologias clínicas.

21

A assistência humanizada não é só condição técnica, mas primeiramente solidariedade, amor e respeito pelo ser humano, uma vez que a criança em sua condição “indefesa” busca nos adultos apoio, carinho e compreensão. (AMORIN; FERRO, 2007)

Os profissionais envolvidos com uma estrutura hospitalar, não devem

esquecer jamais que primeiramente ali se encontram pessoas, cidadãos de

direitos, pequenos cidadãos que encontram enormes desafios pela situação

vivente.

Dar assistência humanizada aos pacientes, tanto na área da saúde

como na área da educação, fortalece o vínculo que a criança/adolescente tem

com a sociedade em que vive e traz um pouco mais de segurança quanto à

continuidade de vida do ser adoentado.

Um organismo debilitado de saúde fragilizada afeta toda estrutura do

desenvolvimento de uma pessoa. Tratando-se de crianças e adolescentes, a

preocupação é ainda maior pela fragilidade que a situação acarreta no

desenvolvimento físico, psíquico e cognitivo e social da criança, o susto e a

surpresa são muito maiores quando falamos em crianças, pois a doença é algo

doloroso que caminha para trás na ordem natural das coisas.

A hospitalização pode tornar-se uma experiência aterrorizante para a criança por causa da constante exploração de seu corpo, pela realização de inúmeros procedimentos, pela submissão a restrições e pela forma como a equipe hospitalar maneja essa experiência. A maioria das crianças não são preparadas para a realização de exames, não recebem explicações sobre eles, havendo apenas instruções de como agir durante sua execução. Como consequência desse despreparo sentem medo do desconhecido, que resulta numa exacerbação de fantasias que através de seu pensamento mágico e simbolismo permitem-na acreditar que suas ideias e pensamentos são reais. (AMORIN; FERRO, 2007)

A criança que realiza um acompanhamento escolar em um Hospital

diminui seus medos e fantasias aterrorizadas quanto à sua internação. Faz

com que seu novo cotidiano que possivelmente será de caráter temporário seja

um pouco mais parecido com o anterior à sua doença, compreende melhor

esta passagem e neste momento delicado de sua vida não deixará uma lacuna

cognitiva no paciente.

22

2.4 A PEDAGOGIA E O PEDAGOGO HOSPITALAR

Pensa-se na educação contemporânea como estrutura norteadora do

desenvolvimento integral do ser. Mais do que apenas transmitir conhecimentos

científicos julgados como fundamentais pela sociedade, o papel da educação

tomou proporções significativas na construção do cidadão, caminhando por

diferentes áreas, físicas, psíquicas e cognitivas.

Ao pedagogo cabe uma tarefa transformadora que auxilie ao

aluno/paciente a passar por este momento angustiante e de plenas condições

a eles de devagar conseguir se reestabelecer em sua totalidade.

A criança e o adolescente hospitalizados enfrentam um período em que sua maneira de ser e estar encontram-se temporariamente modificada. Nesse processo, a intervenção pedagógica auxilia a criança e o adolescente a darem um significado diferente a esse momento de suas vidas. Esse novo significado é possível através de dinâmicas pedagógicas e interações com a família e a escola. (FONTANA; SALAMUNES, 2009, p. 58)

Ocorrem significativas mudanças na pedagogia enquanto classe

hospitalar, como a flexibilidade de horários, ritmo das atividades o que depende

das condições físicas do aluno, e questões emocionais mais explícitas, no qual

o pedagogo deve estar preparado pra estas situações. A pedagogia é

necessária para a educação de uma sociedade, porém quando falamos de

Pedagogia Hospitalar, sua dimensão se expande com força máxima

envolvendo grandes questões que sustentam com veemência o

desenvolvimento integral do ser, pois é nesta área que a visão do Pedagogo

deve não só abranger o paciente em sua totalidade, como também levar em

consideração as partes específicas do desenvolvimento da

criança/adolescente.

Sob a influência de nova mentalidade, novos enfoques, com abrangência no homem como ser total vem a Pedagogia Hospitalar despontando com enorme força de contribuição para o afastamento do enfoque conservador exclusivamente biológico, quando ignorada as múltiplas contradições presentes no processo saúde – doença. O aspecto biológico da doença/hospitalização por tanto não ocorre de forma isolada. Faz ele parte de um intricado complexo de sistemas, dentre os quais de natureza psicológica e social se associam num intimo e intenso entrelaçamento. (MATOS; MUGIATTI, 2009 p. 89)

23

Abrem-se literalmente os olhos para a criança/adolescente e suas totais

especificidades e deixa de lado o fato de tratar o paciente por sua doença sem

outras preocupações integrais ou sem levar em consideração que são pessoas

no auge de seus desenvolvimentos.

Na educação hospitalar os profissionais da área da saúde trabalham em

parcerias com os pedagogos, fazendo assim um constante trabalho de

reestabelecimento do paciente.

Sabe-se, também, da importância da comunicação e do diálogo entre os elementos das equipes no ambiente hospitalar. Reitera-se aqui a imperiosa necessidade de observação e ação integrada em todos os aspectos conflitantes que particularizam cada caso, como também da necessidade do encontro dos profissionais em linguagens comum, para as respectivas discussões, considerando o individuo em sua totalidade. (MATOS e MUGIATTI, 2009, p. 101)

A Pedagogia Hospitalar como área educacional busca primeiramente dar

continuidade a escolarização regular das crianças e adolescentes que estão

hospitalizadas, porém diversos fatores surgem nesta classe, os profissionais

envolvidos são preparados para atender as especificidades de cada um.

Os conteúdos realizados na Classe Hospitalar incluem diversas áreas do

conhecimento que dependem das necessidades apresentadas pelos

educandos para serem trabalhadas.

A área da educação em âmbito hospitalar realiza um trabalho amplo,

que diariamente analisa as situações físicas e emocionais dos alunos/pacientes

para então depois adaptar um trabalho que se adeque a cada

criança/adolescente.

A Pedagogia Hospitalar, destarte, com o devido respaldo cientifico, vem se constituir na exata e necessária resposta: vem contribuir, no âmbito da Ciência do Conhecimento, para uma inovadora forma de enfrentar os problemas clínicos, com elevado nível de discernimento. Trata-se, justamente, do desenvolvimento de ações educativas, em natural sintonia com as demais áreas, num trabalho integrado , de sentido complementar, coerente e cooperativo, numa fecunda aproximação de benefício do enfermo, em situação de fragilidade ocasionada pela doença.” (MATOS, MUGIATTI, 2009, p. 16)

Os educadores tem nas mãos um papel valioso de grande dimensão,

faz-se necessário que estejam preparados para tal, busquem sempre

diferentes formas de colocar em prática uma educação de qualidade para

24

contribuir ao desenvolvimento integral das crianças e adolescentes

hospitalizados.

Cabe ao educador estabelecer uma relação de confiança, estando

aberto ao diálogo para que consiga trabalhar a autoestima e promova

resultados visíveis ao tratamento do doente.

O ofício do professor no hospital apresenta diversas interfaces (política, pedagógica, psicológica, social, ideológica), mas nenhuma delas é tão constante quanto à da disponibilidade de estar com o outro e para o outro. Certamente, fica menos traumático enfrentar esse percurso quando não se está sozinho, podendo compartilhar com o outro a dor, por meio do diálogo e da escuta atenciosa. (FONTES, 2005, p. 123)

O pedagogo hospitalar trabalha para dar uma nova significação ao

momento vivido pela criança, lançando um olhar de empatia e fazendo o

educando sentir-se um pouco mais confortável a nova rotina.

O hospital, por si só torna-se um local tenso com pessoas muitas vezes

angustiadas pela situação vivida, sendo que não apenas o enfermo como

também sua família se envolvem neste momento, portanto o trabalho da

pedagogia é bem mais amplo do que as pessoas imaginam. O pedagogo deve

saber quando falar e quando se calar, ele faz uma ponte fundamental entre

escola e hospital, entre os sofrimentos vividos para os conhecimentos

adquiridos, é como um efeito amenizador das dores provocadas nestas

circunstancias.

A escuta pedagógica diferencia-se das demais escutas realizadas pelo serviço social ou pela psicologia no hospital, ao trazer a marca da construção do conhecimento sobre aquele espaço, aquela rotina, as informações médicas ou aquela doença, de forma lúdica e, ao mesmo tempo, didática. Na realidade, não é uma escuta sem eco. É uma escuta da qual brota o diálogo, que é à base de toda a educação. (FONTES, 2005, p. 123 a 124)

Todos que de alguma forma estão envolvidos com esta situação de

cuidados e atenção à criança/ adolescente, incluindo a Pedagogia Hospitalar,

devem buscar desenvolver projetos e ações que resignifiquem este momento

sem excluir a criança a sua total rotina e vontades de infância e adolescência.

Trata-se de restabelecer a criança em todos os aspectos para que

quando ocorrer uma possível alta a mesma não se sinta excluída.

25

2.5 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO - HIJG

Falar sobre Pedagogia Hospitalar sem um exemplo prático de

funcionamento desta área, bem como suas finalidades, é explorar um estudo

esquecendo sua essência, que por ventura, traz uma concordância maior a

pesquisa. Por este fato nada melhor do que apresentar ao leitor um exemplo de

sucesso na aplicabilidade desta área tão nobre inserida em um grande hospital

pediátrico.

Segundo o Ministério da Saúde (1977 apud FONTES, 2005, p. 121) um

hospital além de ser um ambiente que visa à cura do sistema biológico do ser

humano, também é um centro de educação:

Hospital é a parte integrante de uma organização médica e social, cuja função básica consiste em proporcionar à população assistência médica integral, curativa e preventiva, sob quaisquer regimes de atendimento, inclusive o domiciliar, constituindo-se também em centro de educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como de encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente.

Algumas informações sobre a Pedagogia Hospitalar do Hospital Infantil

Joana de Gusmão foram retiradas do site desta instituição de saúde (HIJG.

Disponível em: <http:// www.saude.sc.gov.br/hijg/pedagogia/historico/htm>

Acesso em: 25 de Setembro de 2010), sendo esta uma das fontes de estudo.

O Hospital Infantil Joana de Gusmão – HIJG, esta localizado na Rua Rui

Barbosa do bairro Agronômica em Florianópolis – SC, mantém como divisão

interna 6 unidades de internação, Berçário, Emergência Interna, Isolamento,

Oncologia, Ortopedia, Unidade de Queimados, UTI Geral e UTI Neonatal.

Está vinculado à Secretaria Estadual de Saúde, considerando-o pólo em

pediatria no estado, sendo que atende não apenas pacientes de Florianópolis

como também de outros municípios de Santa Catarina.

Para que o paciente seja acompanhado em sua integridade e não

apenas em sua doença, o HIJG dispõe de equipes multiprofissionais, uma área

interage com a outra, ajudando na melhor qualidade de vida para as crianças e

adolescentes que lá se encontram. É então onde se inclui a Pedagogia.

26

No atendimento Pedagógico a criança/adolescente vê a oportunidade de

continuar desenvolvendo-se cognitivamente como fazia em seu âmbito escolar

de origem.

O papel da educação no hospital, e com ela, o do professor, é propiciar à criança o conhecimento e a compreensão daquele espaço, resignificando não somente a ele, como a própria criança, sua doença e suas relações nessa nova situação de vida. A escuta pedagógica surge, assim, como uma metodologia educativa própria do que chamamos de pedagogia hospitalar. Seu objetivo é acolher a ansiedade e as dúvidas da criança hospitalizada, criar situações coletivas de reflexão sobre elas, construindo novos conhecimentos que contribuam para uma nova compreensão de sua existência, possibilitando a melhora de seu quadro clínico. (FONTES, 2005 apud CASTRO, 2010, p. 99 a 100)

Através de suas estruturas e especialidades o HIJG procura dar plenas

condições aos seus pacientes de se restabelecerem física, psíquica, e

cognitivamente para que possam voltar para suas rotinas diárias sem

quaisquer traumas que uma hospitalização possa causar.

Segundo Brazelton “É necessário tornar a hospitalização positiva para a

criança, ressaltando que esta pode aprender em situações de tensão e que a

maneira como se coloca o enfrentamento dessas situações fará com que ela

seja conduzida positivo para vida futura.” (1990 apud CASTRO, 2010, p. 97)

A história da pedagogia no HIJG começou quando ainda na década de

70, fechou-se um convenio entre o Hospital, a Secretaria de Estado da Saúde e

a Fundação Catarinense de Educação Especial, que em seu início contava

apenas com uma pedagoga, pois era apenas para um programa de

estimulação precoce que atendesse a crianças de 0 a 6 anos com dificuldades

no desenvolvimento psiconeuromotor.

Foi apenas na década de 80 que se iniciou um programa de atendimento

pedagógico e psicopedágogico, trazendo para o hospital, mais profissionais da

área.

A atuação deste profissional iniciou na década de 70 com a implantação do Programa de Recuperação Neuropsicomotora de Crianças Severamente Desnutridas, onde a equipe multiprofissional assistia a criança em suas especificidades afetivas, cognitivas e sociais. Atualmente, as ações da equipe pedagógica vêm sendo desenvolvidas através de programas educacionais, realizados por pedagogas, professoras, recreadoras e estagiários. (HIJG. Disponível

27

em: <http:// www.saude.sc.gov.br/hijg/pedagogia/historico/htm> Acesso em 25 de Setembro de 2010)

A partir do ano de 1999 foi implementado à Classe Hospitalar tendo

como parceria a Secretaria Estadual da Educação e a Secretaria Estadual da

Saúde, pelo qual recebeu uma sala de aula específica dentro do HIJG para a

Educação Infantil e Anos Iniciais.

Atualmente encontra-se no Hospital Infantil Joana de Gusmão 5

programas educacionais de apoio à criança hospitalizada, o Ambulatório de

Triagem, Atendimento Pedagógico em Equipe Multidisciplinar, Atendimento

Escolar Hospitalar, Recreação e Estimulação Essencial.

No Ambulatório de Dificuldades de Aprendizagem, que dependendo

da dificuldade apresentada pelo aluno, realiza um trabalho especializado com

Psicopedagogos.

O atendimento realizado pelo Ambulatório de Dificuldade de Aprendizagem do Hospital Infantil Joana de Gusmão tem nos demonstrado que a identificação das causas das dificuldades de aprendizagem, dependendo da gravidade do quadro, requer uma intervenção especializada (psicopedagógica), com profissionais capacitados na área. Estes profissionais vão exercer o papel de ensinante, solidificando aspectos relacionais, afetivos, e psicológicos junto à criança e ao adolescente, a sua família e principalmente junto a sua escola. As escolas e os pais devem ser orientados com informações práticas, que possam ser utilizadas como ferramentas para estes escolares levando-os a resgatar a vontade e o prazer de ensinar-aprender, “saber – sabor de aprender”. (HIJG. Disponível em: <http:// www.saude.sc.gov.br/hijg/pedagogia/historico/htm> Acesso em 25 de Setembro de 2010)

No ambulatório são realizadas avaliações e atendimentos

psicopedagógicos e um possível diagnóstico ao aluno/paciente que apresenta

dificuldade de aprendizagem ou atraso no desenvolvimento neuropsicomotor,

este diagnóstico é feito por uma equipe de profissionais especializados,

incluindo Pedagogo, Psicopedagogo, Médico Geneticista e Médico

Neurologista. Após o diagnóstico são realizadas pela Pedagoga e

Psicopedagoga orientações à escolar de origem da criança, para a adaptação

as suas necessidades. Dependendo das condições do paciente as consultas e

atividades serão individuais ou em grupos por faixa etária.

28

O Atendimento Pedagógico em Equipe Multidisciplinar, é o

atendimento educacional diretamente na unidades em que os pacientes não

tem condições de deambular, também é um programa educacional que visa a

interação dos profissionais do HIJG e o processo escolar.

O Atendimento Escolar Hospitalar são as aulas ministradas por

Pedagogas que estão vinculadas à Escola Estadual de Educação Básica

Padre. Anchieta, que se localiza também no bairro Agronômica, encontrando-

se inclusive perto do hospital. O HIJG mantém também parcerias com

Universidades o que possibilita ao estudante de pedagogia ou psicopedagogia

a oportunidade de estagiar nesta área.

Após o terceiro dia em que o educando freqüentar a classe hospitalar é

realizado um contato por telefone com a sua respectiva escola regular, no qual

são explicados os procedimentos e organizado as aulas enquanto a criança

encontra-se hospitalizada, e após alta hospitalar a escola de origem recebe

pelos correios um relatório descritivo contendo as atividades do aluno e seus

objetivos alcançados.

Na Recreação a criança tem acesso a brincadeiras, com ações que

estimulem o brincar e minimizam o processo dolorido que exerce uma

hospitalização.

A Estimulação Essencial é um programa realizado por uma equipe

com diferentes áreas como Médicos, Psicólogos e Pedagogos, para crianças

de 0 a 6 anos que apresentam algum atraso Neuropsicomotor e foi criando

para estimular este processo do desenvolvimento da criança.

29

3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS: A IMPORTÂNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS EM AMBIENTE HOSPITALAR

A pesquisa que norteou o referente trabalho teve como foco de análise

as práticas pedagógicas no Hospital Infantil Joana de Gusmão, no qual através

das entrevistas realizadas nos dias 30/03, 31/03, 04/04 e 05/04 de 2011 com

as pedagogas da instituição, pôde se observar as contribuições que a

pedagogia traz para as crianças que se encontram em tratamento no ambiente

hospitalar.

Ao realizar meu estágio em Técnico de Enfermagem no HIJG no ano de

2008, observava com indagação o fato de que as crianças aceitavam muito

melhor os cuidados de enfermagem depois que saiam da recreação ou das

aulas no hospital, elas ficavam felizes com sorrisos nos lábios, isto me

surpreendia e eu via o quanto a pedagogia contribuía para o tratamento dos

pacientes, porém faltava-me embasamento teórico que justificasse estas

contribuições, o que encontrei nesta pesquisa realizada.

O fator emergente sobre a Pedagogia Hospitalar que se observou em

muitos momentos nesta pesquisa, incluindo nas entrevistas realizadas foi à

importância que as práticas pedagógicas exercem nos hospitais, auxiliando

muitas vezes no tratamento da criança/paciente. A criança enquanto paciente

não pode ser tratada e vista apenas por sua doença ou deficiência, os

profissionais diretamente ligados a ela devem tratar todos seus aspectos,

incluindo o cognitivo e o emocional.

Matos e Mugiatti (2009) atentam para o fato de que não se pode olhar o

paciente apenas pelo seu caso físico, mas sim levar em consideração os

fatores psicossociais por trás da doença. “Trata-se do atendimento a uma

pessoa, em todas as suas dimensões, e não, simplesmente, da atenção a uma

determinada doença.” (p.20) As autoras esclarecem que o estado do paciente

muitas vezes é multifatorial, por isso é necessário compreende-lo em de outros

aspectos.

Geralmente o Hospital é visto pela sociedade como um local para se

tratar doenças, porém algumas pessoas desconhecem as relações presentes

dentro dele, os benefícios que ali são adquiridos, e não apenas benefícios

físicos.

30

A Pedagoga Margarida, em resposta a pergunta sobre a importância que

a Pedagogia Hospitalar tem, esclarece o fato de que um hospital vai além de

um ambiente com diferentes doenças. Segundo ela:

“As pessoas geralmente associam a imagem do Hospital apenas aos aspectos ruins, a doenças e sofrimento, o que de certa forma não deixa de ser, porém há um apoio, a Pedagogia Hospitalar, que não só auxilia ao tratamento do paciente como também serve para auxiliar em possíveis dificuldades de aprendizagens das crianças. É uma área da Educação Hospitalar que possibilita novos caminhos na educação.” (MARGARIDA, entrevista do dia 04 de Abril de2011)

O pedagogo hospitalar tem um trabalho amplo que vai além de

simplesmente ensinar conteúdos escolares para que os alunos não tenham

prejuízos cognitivos devido ao tratamento, esse profissional da educação

realiza uma escuta no sujeito, auxilia na relação que as crianças têm com suas

inseguranças e medos. Para Martins (2009, p. 100) “A escuta vai muito mais

além dos choros e das vozes, ela interpreta o desejo, o olhar, a dor da criança,

lê nas entrelinhas dos movimentos à sua volta, visualizando a esperança que a

criança tem em viver.” Cabe ao pedagogo ter sensibilidade para compreender e

buscar subsídios para trabalhar com as necessidades cognitivas e

possivelmente acopladas às necessidades emocionais apresentadas pela

criança.

As crianças hospitalizadas por diversas vezes se amedrontam com a

rotina de um hospital. É como observar com os olhos minguados, todo aquele

ar de dor, todas aquelas doenças pairando aos seus redores e não entenderem

porque fazem parte daquele sofrimento.

Angustiam-se na chegada daquelas pessoas de branco (médicos e

enfermeiros), pois já não sabem o que lhes esperam, se são notícias boas ou

mais um daqueles momentos em que terão que passar por algum

procedimento médico.

É uma rotina árdua que mexe com toda a estrutura do sujeito adoentado,

distanciando ele do seu cotidiano natural, as brincadeiras e conversas com

seus colegas, sua escola de origem e o aconchego do lar, isso pode deixa-lo

inseguro, com medo, muitas vezes se sentindo sozinho, deprimido e sendo

obrigado a se estabelecer em um local diferenciado.

31

Carneiro (2010, p. 412) aponta os aspectos apresentados pela criança

quanto a sua internação:

No caso de doenças graves e prolongadas a criança vai se deixando tomar por um quadro de progressivo silencio com repercussões agudas em sua autoestima. Pode-se dizer então que a ausência de escolarização decorrentes de estados patológicos é um fator de exclusão da criança da vida natural e espontânea à medida que há um comprometimento de todo o processo de escolarização.

A Pedagogia Hospitalar pode trazer para a criança a segurança de que

não será arrancada bruscamente de sua vida cotidiana, que mesmo em um

hospital, participará de momentos educacionais, resgatará sua confiança e

firmará sua capacidade de criação.

Para a pedagoga Rosa, responsável pelo setor de recreação do Hospital

Infantil Joana de Gusmão, a Pedagogia Hospitalar traz consigo um pedacinho

do cotidiano do paciente, em entrevista no dia 30 de Março de 2011, a mesma

relatou que: “Quando há a Pedagogia dentro de um Hospital a criança se sente

mais segura, pois tem um pedacinho de seu cotidiano dentro de um local que

muitas vezes é visto com tanto temor.” Observa-se que o trabalho pedagógico

em um hospital é amplo e não se resume às aulas para repor seu afastamento

à escola de origem.

O trabalho pedagógico realizado no HIJG busca atender a criança em

sua totalidade, respeita suas limitações e estimula suas potencialidades,

sempre com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento integral do ser. Não se

trata de apenas disponibilizar um local para que o paciente possa brincar, mas

de realizar um conjunto de ações que visam melhorar todos os aspectos da

criança.

“A Pedagogia Hospitalar é muito mais ampla do que as pessoas imaginam, quando falamos nela muitas pessoas pensam se tratar de algumas professoras que brincam com os pacientes e não sabem o quanto é ampla e quantos projetos existem dentro dela. No Hospital tem as aulas, as brincadeiras e a brinquedoteca que alguns Hospitais têm o ambulatório que auxilia na dificuldade de crianças que não necessariamente estejam internadas e a estimulação essencial para crianças que estimula o desenvolvimento neuromotor das crianças, é uma área da educação importante e necessária.” (MARGARIDA, entrevista do dia 30 de Março de 2011)

32

A partir da fala de Margarida, pôde-se perceber que o trabalho

educacional dentro de um Hospital Infantil não se resume em atividades

escolares para que não ocorra uma defasagem quanto ao seu aprendizado

regular, a educação neste ambiente é muito mais explorada, existem vários

projetos que juntos, criam uma teia de aprendizagem e objetivam sempre, o

desenvolvimento qualitativo das crianças em todos seus aspectos.

Fontes (2005, p. 21) entende que o trabalho especializado da pedagogia

em ambiente hospitalar, traz bens maiores do que simplesmente os benefícios

cognitivos. Na concepção da autora:

A Pedagogia Hospitalar é um trabalho especializado bastante amplo que não se reduz à escolarização da criança hospitalizada. Ela busca levar a criança a compreender seu cotidiano hospitalar, de forma que este conhecimento lhe traga um certo conforto emocional. Isso lhe pode ajudar a interagir com o meio de uma forma mais participativa.

O pedagogo pode também colaborar com outros profissionais ligados ao

tratamento do paciente, quando essa relação acontece, beneficia muito a

criança, por exemplo, quando o educador desenvolve atividades que levantam

a autoestima dela, esta passa não a se conformar, mas aceitar sua condição

temporária e perceber que a doença não a faz incapacitada, pelo contrário,

com orientação encontrará dentro do hospital, possibilidades para seu

desenvolvimento.

Quando perguntado sobre os benefícios da Pedagogia Hospitalar,

Amarílis (Entrevista no dia 31 de Março de 2011) respondeu que:

“Os benefícios no tratamento das crianças são muitos, pois mesmo com a saúde debilitada os pacientes estudam, brincam e interagem com outros pacientes, o que faz com que eles aceitem melhor o momento que estão passando, além de que quando trabalhando com seu cognitivo esquecem muitas vezes das dores que passam ou pelo menos diminui, pois estão com a mente ocupada.”

Nesta concepção, analisa-se que o profissional da educação, em

hospitais que tem um olhar atento aos pequeninos, saberá fazer dos momentos

de insegurança apresentados por eles, momentos únicos de aprendizado, e

consecutivamente, as crianças poderão se sentir mais confiantes.

Sobre os momentos educacionais presentes nas diversas atividades

pedagógicas de auxilio ao paciente, Oliveira (2010, p. 231) aponta que:

33

Aproveitar este momento para explorar o potencial criador da criança ou adolescente hospitalizado valendo-se das artes plásticas, da musicalização, da contação de histórias, da poesia e leitura, do brincar e tantos outros meios, é pode-se dizer, atender as necessidades sócio, afetivas, cognitivas da criança que se nos apresenta naquele momento, muitas vezes fragilizada física e/ ou emocionalmente.

Estas atividades melhoram o jeito em que o paciente olha para seu

tratamento passando a vê-lo como um estágio que tem que passar para sua

melhora e por consequência facilita os procedimentos dos médicos e

enfermeiros. As crianças precisam ser informadas dos que esta acontecendo,

de suas possibilidades, de suas limitações, precisam entender o porquê será

necessário tal procedimento, e é preciso que estes aspectos sejam trabalhados

com ele.

Ferreira e Moura (2008, p. 6) consideram importante à reorganização da

assistência hospitalar para assegurar as necessidades à pessoa hospitalizada:

A experiência de adoecimento e hospitalização implica mudar rotinas; separar-se de familiares, amigos e objetos significativos; sujeitar-se a procedimentos invasivos e dolorosos e ainda, sofrer com a solidão e o medo da morte – uma realidade constante nos hospitais. Reorganizar a assistência hospitalar, para que dê conta desse conjunto de experiências, significa assegurar, entre outros cuidados, o acesso ao lazer, ao convívio com o meio externo, às informações sobre seu processo de adoecimento, cuidados terapêuticos e ao exercício intelectual.

Como ponto relevante que contempla a importância das contribuições

pedagógicas no hospital, trabalhando, por exemplo, a autoestima do paciente,

a pedagoga Rosa destaca um fato que a marcou:

“Esses tempos foi realizado uma conferencia de Cardiologistas, e um médico me perguntou se tinha como eu fazer junto com os pacientes a lembrancinha do evento, suamos mais fizemos em uns três dias mais de 100 caixinhas decoradas, os adolescentes adoraram e faziam com a maior vontade, estavam se sentindo úteis e saber que as lembranças de uma conferencia de Médico foi feita por eles aumentou muito a autoestima de todos. Isso mostra como é importante esses trabalhos manuais, estes artesanatos e esta produção que realizam na recreação, é um momento de esquecer os problemas.” (ROSA, entrevista no dia 30 de Março de 2011)

Constata-se na fala de Rosa, que a educadora possui a capacidade de

fazer um momento recreativo mexer com a visão que as crianças estão tendo

34

de si mesmas dentro de um hospital, esta sensibilidade aguçada permite ao

profissional buscar sempre maneiras para fazer uma situação difícil,

transformar-se em exercícios cognitivos, sociais e emocionais.

A ação docente na especificidade hospitalar deve ser capaz de construir

uma ponte entre educação e saúde, desenvolvendo a evolução de ambos os

aspectos na criança/paciente.

Respaldando tais constatações, encontra-se na obra das autoras Matos

e Mugiatti (2009, p. 116) o esclarecimento de que a estrutura da Pedagogia

Hospitalar rompe as barreiras do simples trabalho de escolarização. Segundo

elas:

A estruturação de uma pedagogia hospitalar deve trazer uma ação docente que provoque o encontro entre a educação e a saúde. A sua respectiva atuação não pode visar, como ponto principal, o resgate da escolaridade, mas o atendimento da criança/adolescente que demanda atendimento pedagógico. Para tanto os educadores devem estar de posse de habilidades que o faça capaz de refletir sobre suas ações pedagógicas, bem como de poder ainda oferecer uma atuação sustentada pelas necessidades e peculiaridades de cada criança e adolescente hospitalizado.

Do decorrer de toda a pesquisa, pode se observar que a relação de

confiança entre criança e pedagogo é um fator fundamental para o

desenvolvimento de um trabalho significativo e eficaz ao paciente. A conexão

entre ambos deve ser estabelecida antes de qualquer processo, só assim a

criança se sentirá a vontade para expressar suas angustias e também

colaborará para que o trabalho do educador seja voltado para as

especificidades dela.

No dia 05 de Abril de 2011, a pedagoga Iris relatou que em seu trabalho

é necessário primeiro de tudo a confiança, em entrevista neste dia, ela relatou

que:

“Para um bom trabalho primeiramente estabeleço uma relação de confiança com a criança, faço com que ela sinta que pode confiar em mim, que respeito seu momento, que estou aqui para ajuda-la, então após nos conhecermos e ficarmos a vontade um com o outro começo meu trabalho. Na Pedagogia Hospitalar devemos sempre respeitar e apoiar as crianças, pois sempre quem esta no Hospital esta passando por um momento difícil, precisa de atenção e estabelecer uma conexão com o mundo real.”

35

Como já mencionado, observa-se o quanto é fundamental a relação que

o pedagogo estabelece com o paciente em sua passagem pelo hospital.

Autores que estudam a pedagogia hospitalar frisam exatamente esta conexão,

como é o caso de Fontes (2005, p. 123) ressaltando que:

O ofício do professor no hospital apresenta diversas interfaces (política, pedagógica, psicológica, social, ideológica), mas nenhuma delas é tão constante quanto a da disponibilidade de estar com o outro e para com o outro. Certamente, fica menos traumático enfrentar esse percurso quando não se está sozinho, podendo compartilhar com o outro a dor, por meio do diálogo e da escuta atenciosa.

O olhar pedagógico quanto às especificidades de cada criança é

fundamental, não basta ensinar algo, passar tarefas, ou entreter o paciente

com jogos e leituras, o pedagogo hospitalar faz muito mais do que isso, é um

ser empático que sabe o momento de falar e de calar, de escutar e de

contribuir. As atividades que estes profissionais destinam aos pacientes

sempre apresentam um objetivo que respalda no momento vivido, estas

atividades contribuem com o cognitivo dos alunos como também com o

psicológico e o físico.

A pedagoga Rosa traz um fato que exemplifica como se oportunizar,

através de uma atividade, momentos de aprendizagem significativa, de

entretenimento e de auxílio ao tratamento dos pacientes. Em entrevista, no dia

30 de Março de 2011 ela afirma que:

“Na sala de recreação trago opções de atividades para que escolham, por exemplo, a pascoa esta chegando, então conversei com eles sobre a pascoa e seus significados, o que este dia representa para cada um e juntos confeccionamos uma espécie de cestinha com EVA com tubo usado para enrolar linha. Adoraram a possibilidade, pois mesmo eles estando internados puderam fazer as cestas para dar de presente aos irmãos, pai, mãe e amigos, geralmente querem fazer mais de uma. Vê a importância, ao invés de ficarem deitados na cama do Hospital esperando a medicação ou só vendo televisão quando tem, estão produzindo, interagindo com os outros pacientes e até esquecendo mesmo que por um momento, de suas doenças.”

Através das falas das pedagogas responsáveis pelo setor da Pedagogia

Hospitalar do Hospital Infantil Joana de Gusmão, observa-se o fato de que

neste âmbito o trabalho pedagógico é entrelaçado por uma série de

36

significados e objetivos, é como se estas profissionais não se atentassem em

apenas desenvolver o lado cognitivo das crianças para que elas não se sintam

prejudicadas em suas escolas regulares, estas educadoras conseguem fazer

de seus exercícios e atividades uma espécie de ciclo, integrando a saúde e

bem estar do paciente com sua educação e desenvolvimento. Contribuindo

para tal, Matos e Mugiatti (2009, p. 29) afirmam que esta área da Pedagogia,

“[...] aponta, ainda, mais um recurso contributivo à cura. Favorece a associação

do resgate, de forma muiti/inter/transdisciplinar, da condição inata do

organismo, de saúde e bem-estar, ao resgate da humanização e da cidadania.”

Outro destaque na educação em âmbito hospitalar é a Classe

Hospitalar, na qual acontece um resgate de aprendizagem, ou seja, é nela que

o aluno/paciente poderá dar continuidade aos seus estudos escolares mesmo

estando em tratamento médico. O Pedagogo neste aspecto serve como uma

ponte que propicia ao aluno a ligação entre escola e hospital, físico e cognitivo.

Schilke (2008, p. 15) registra que a Classe Hospitalar “Tem por objetivo

propiciar o acompanhamento curricular do aluno, quando este estiver

hospitalizado, garantindo a manutenção do vínculo com as escolas por meio de

um currículo flexibilizado.”

A professora Amarílis, responsável pela Classe Hospitalar no HIJG, em

entrevista, faz um relato interessante sobre a relevância que esta classe tem

para o paciente:

“Quando a criança chega a um Hospital para tratamento, esta com medo, insegura não sabe como passar por esse momento difícil, pois sua rotina muda completamente. Muitas vezes as medicações são fortes e ela não intende o porquê precisou estar ali e quando descobre as possibilidades que existe em seu cotidiano e que também tem no Hospital Infantil, como as aulas ela passa a lidar melhor com sua doença e seu tratamento. Na classe a criança se sente importante, faz uma ligação entre a escola de origem e suas aulas no espaço hospitalar, se esforça para mostrar o que aprendia e quer aprender mais e mais para quando voltar para sua escola mostrar que sabe igual ou até mais que seus colegas.” (Amarílis, entrevistada no dia 31 de Março de 2011)

Vê-se em seu relato a consciência que a educadora tem da dimensão

que a pedagogia exerce em um hospital, a criança que usufrui dos projetos

educacionais existentes neste ambiente sentem-se menos agredidas pela vida,

37

passam a ver o hospital como um lugar de renovação, de aprendizado e muitas

vezes inconscientemente tornam-se mais fortes.

A clareza do que é, e para que serve a Pedagogia Hospitalar é outro

ponto de reflexão bastante emergente, um fato interessante é que muitas

pessoa não tem este esclarecimento, ou não tem a noção do quanto o trabalho

pedagógico é amplo. Os materiais, comparados a outros temas educacionais

ainda são poucos e seria importante um trabalho de esclarecimento sobre o

assunto, não só aos profissionais da área da educação, como também para a

sociedade em geral, pois ninguém esta livre de um dia talvez ter que passar

alguma situação delicada em um hospital.

Fontes (2005, p. 121) destaca as interfaces do trabalho pedagógico nos

ambientes hospitalares:

O trabalho pedagógico em hospitais apresenta diversas interfaces de atuação e esta na mira de diferentes olhares que o tentam compreender, explicar, e construir um modelo que o possa enquadrar. No entanto, é preciso deixar claro que tanto a educação não é elemento exclusivo da escola quanto a saúde não é elemento exclusivo do hospital.

O trabalho educacional no hospital atinge áreas extensas, acalma e

distrai nos momentos difíceis que o paciente pode estar passando, encontra

muitas vezes soluções que melhoram o ensino do aluno como é no caso do

ambulatório de aprendizagem e na estimulação essencial, propicia momentos

de alegria mediante a dor apresentada e faz com que as crianças possam

continuar a serem crianças, brincando, interagindo e se desenvolvendo de

forma significativa. Atingindo estes objetivos, consecutivamente a pedagogia

pode auxiliar para que o tratamento da criança apresente um quadro de

melhora, pois desenvolve a autoconfiança, ou pelo menos a Pedagogia

Hospitalar, auxiliar para que os momentos vividos dentro de um hospital não

sejam tão dolorosos e tristes.

Contribuindo com este ponto, Íris, pedagoga responsável pela

estimulação essencial do HIJG, em entrevista no dia 05 de Abril de 2011,

responde sobre a importância que a Pedagogia Hospitalar tem para ela:

“A criança é um ser em constante transformação e aprendizagem que algumas vezes apresenta necessidades específicas, a Pedagogia

38

Hospitalar vai até estas necessidades e tenta encontrar um caminho para auxilia-las. O Hospital por si só já é um ambiente relacionado à dor e sofrimento e a criança se amedronta com o fato de estar ali sendo arrancada involuntariamente de seu cotidiano e trazer um pouquinho da Pedagogia até ela a faz com que ela se sinta segura e mais perto de sua realidade de costume. Na Pedagogia Hospitalar a criança encontra apoio Pedagógico para um problema que esta enfrentando e aprende com o momento vivido. A criança sente segurança e acredita mais em seu potencial.”

Nas respostas das Pedagogas do HIJG, em vários momentos o que se

observa é o papel fundamental que a educação tem em um Hospital Pediátrico,

fazendo com que este ambiente que geralmente é carregado de significados

ruins se transforme em um ambiente de renovação e aprendizagem. O ser

essencial de foco nesta área da educação é a criança e suas especificidades,

sejam elas físicas, cognitivas, ou até mesmo emocionais, e o que se evidencia

nas pedagogas é a percepção que elas têm sobre as contribuições que a

Pedagogia Hospitalar propicia aos tratamentos de seus educandos/pacientes.

O que se coloca como fator reflexivo é o quão importante e bem

estruturado devem ser os projetos educacionais neste ambiente e como é

necessário que os educadores que fazem parte destes projetos tenham um

olhar empático e delicado a cada ser, que entendam a criança não como um

ser que esta adoecido e que por ventura possa falecer, mas sim como uma

criança que luta, que sonha que aprende e não deve ser esquecida pela

educação, como Castro (2010, p. 49) faz referência:

[...] no hospital se trabalha diariamente na luta entre a vida e a morte, o corpo, pode estar doente, no entanto, a mente é sã, portanto não se detém o olhar, o fantasiar e se planejar a vida que ficou do lado de fora. Pode-se até saber que amanhã não se encontrará aquela criança, mas isto não lhe dá o direito, como professor, de julgar ou escolher se vale a pena ou não compartilhar o conhecimento humano. Realizar-se! Este é o papel do professor.

O Pedagogo hospitalar é mais que um educador, é um ouvido amigo, um

olhar atento, uma possibilidade à criança que não consegue achar

possibilidades nesse ambiente carregado de dor e sofrimento, não cabe ao

pedagogo julgar, mas possibilitar, apresentar caminhos de aprendizagem, de

conhecimento.

39

Como momento mais bonito de reflexão e exemplificador da relevância

desta pesquisa, bem como da Pedagogia Hospitalar, a Professora Amarílis

relata um caso de uma menina internada no Hospital Infantil Joana de Gusmão:

“Há uma paciente a Girassol, ocorreu um acidente domestico quando ela tinha 4 anos e a menina sofreu queimadura em 80% do corpo. Fazem 4 anos que ela se interna com frequência no Hospital para cirurgias de reconstrução e outros tratamentos. Sua família mora no interior de Santa Catarina e por ser muito longe quando não esta internada fica de favor em uma casa lar que é apenas assistencial e para crianças bem pequenas, assim Girassol nunca pode ter contato com uma Escola regular e foi alfabetizada no HIJG, vê então a grande importância que tem esta área educacional. O espaço Pedagógico é a escola da menina e a Classe Hospitalar é sua sala de aula, aqui ela aprendeu a ler a escrever, aprendeu matemática e outras matérias, o que não tem oportunidade de usufruir fora do Hospital.” (Amarílis, entrevistada no dia 31 de Março de 2011)

Amarílis continua seu relato expondo a importância da Pedagogia

Hospitalar. Segundo a educadora:

“Acho este caso lindo, é maravilhoso saber que faço parte desta história, que contribuo de alguma forma para a educação desta criança, se não fosse pela Pedagogia Hospitalar esta menina ainda não teria contato com a escola.” (Amarílis, entrevistada no dia 31 de Março de 2011)

As ações pedagógicas exercem um papel fundamental na situação de

internação, realizando um trabalho de aprendizagem, estimulação e recreativo,

para que o aluno/paciente expresse sua capacidade criadora, cognitiva e

estabeleça uma relação consigo mesmo de autoconfiança. As autoras

Bortolozzi, Torres e Kowalski explicitam que é importante que se possibilite

para as crianças atendidas pela Pedagogia Hospitalar “[...] condições que

atendam as necessidades de aprendizado, além das atividades lúdicas e

motivadoras, de uma forma diferenciada, pois a realidade, neste caso, é

marcada pela falta de atendimento específico, nestes casos.” (2010, p. 205)

As crianças são seres em constante evolução e abertos à

aprendizagem, é fundamental que estes pequeninos sejam atendidos em todas

as suas necessidades e que seus direitos sejam assegurados, inclusive

estudar enquanto outro direito (a saúde) esteja sendo praticado.

40

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na referente pesquisa pode-se observar que apesar da relevância do

tema explorado, ainda há um longo percurso para os novos desafios que estão

surgindo na Educação Especial, especificamente à Pedagogia Hospitalar.

Constata-se que as visões dos estudiosos da área por vezes são bem

parecidas, pois o grande foco embasa-se sempre na melhor qualidade de vida

da criança ou adolescente hospitalizado, no qual se elaboram estratégias e

orientações que beneficiem o processo paciente/aluno e escola/hospital.

Em análise a aspectos importantes da Pedagogia em Hospitais, se

destaca o auxílio que esta área educacional proporciona ao desenvolvimento

cognitivo do ser, sem que uma hospitalização o afaste do ambiente

educacional. O aluno que se encontra internado pode dar continuidade ao seu

desenvolvimento escolar de modo que não se sinta prejudicado, nem excluído

ao acesso à educação.

Observa-se que um Hospital é um ambiente que muitas vezes é visto

como assustador, porém quando adaptado Pedagogicamente, ameniza este

conceito, fazendo com que a criança/adolescente vivencie o cotidiano escolar,

de continuidade a suas tarefas anteriores e exercite sua autoconfiança.

A Pedagogia Hospitalar exige uma prática pedagógica compreensiva e

extremamente maleável que firme uma ponte com a criança entre a sociedade

e a educação, enfim o pedagogo integra um pouquinho do aluno/paciente com

o “mundo lá fora”.

Quanto ao cumprimento das leis educacionais, surgem questões

bastante delicadas, pois muitas pessoas não conhecem seus reais direitos e

cabe a também aos educadores divulgar as mesmas, pois nós cidadãos somos

assegurados com direitos e deveres que devemos seguir.

Observou-se que o Hospital Infantil Joana de Gusmão – HIJG é

referencia quanto ao atendimento pedagógico, buscam-se sempre alternativas

para melhorar o processo educacional do aluno/paciente, o que torna então o

HIJG, referencia em seu atendimento.

No HIJG são realizados programas educacionais que possibilitam o

desenvolvimento cognitivo dos pacientes hospitalizados e oportunizam aos

pacientes momentos de vivencia escolar.

41

O multiprofissionalismo também é uma palavra chave quando se aborda

a qualidade de vida de uma pessoa adoecida, que nesta pesquisa trata-se de

crianças e adolescentes, pois um profissional deve contribuir com o outro para

um eficaz tratamento.

A estrutura hospitalar, mesmo com o olhar obscuro e amedrontado da

sociedade, passa então a fazer não só um papel curativo, mas humanizador

que abre suas possibilidades a favor da criança adoecida e discuta sempre que

o ser humano jamais será apenas uma doença, apenas por uma eventualidade

pode encontrar-se com o organismo biológico debilitado.

42

REFERENCIAS

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SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4. ed. rev. atual. – Florianópolis: UFSC, 2005.

45

APÊNDICE

46

APÊNDICE A – Apresentação do acadêmico para pesquisa

APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO NO CAMPO PARA PESQUISA DO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO - TCC

São José, 16 de março de 2011.

Ilmo Dr. Maurício Silva

Diretor do Hospital Infantil Joana de Gusmão.

O Curso de Pedagogia da Universidade Municipal de São José (USJ)

realiza visitas de campo, intervenções, observações participante nas

Instituições de Educação como, Escolas do Ensino Fundamental, Centros de

Educação Infantil das redes municipal, estadual e particular da Grande

Florianópolis/SC, inclusive nas 6ª, 7ª, e 8ª fases.

Nesse sentido, viemos apresentar a acadêmica Bruna Feijó Tavares,

regularmente matriculada no curso de Pedagogia da USJ para que possa

realizar a pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no Hospital

Infantil Joana de Gusmão, cuja temática de estudo é: Pedagogia Hospitalar.

Como proposta de ação, a acadêmica precisa observar programas

pedagógicos e aulas com crianças do Ensino Fundamental e Educação Infantil,

conforme agenda: 04 observações no período a escolher pela Instituição, entre

março ou abril.

A referida pesquisa é requisito obrigatório para a formação profissional,

conforme Art. 65 da lei 9.394/96.

Sendo o que tínhamos para o momento, agradecemos a compreensão.

____________________________________________

Izabel Cristina Feijó de Andrade

Orientadora e Coordenadora do Curso de Pedagogia

47

APÊNDICE B – Entrevistas

Centro Universitário Municipal de São José – USJ Entrevista semiestruturada realizada no dia: 30/03/2011 Local: Hospital Infantil Joana de Gusmão – HIJG Acadêmica: Bruna Feijó Tavares A PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR: CONTRIBUIÇÕES

PEDAGÓGICAS A UM AMBIENTE DE RENOVAÇÃO E APRENDIZAGEM

Recreação: Pedagoga Rosa

PERGUNTA: Como funciona o programa de recreação no Hospital Infantil

Joana de Gusmão?

RESPOSTA: É um programa que busca entreter o paciente em sua internação.

Além disso, na recreação são ensinados muitos trabalhos manuais, para que

além do paciente se distrair também aprenda algo novo que poderá ser

utilizado por ele. Nesse programa estimulamos quando possível, que a criança

ou adolescente explore outros espaços além de seu leito, temos uma sala

própria com diversos materiais e dois computadores conectados a internet.

A Recreação dentro da Pedagogia Hospitalar trata os assuntos com os

pacientes de maneira lúdica, traz à criança um pouquinho de alegria e conforto

mesmo no momento difícil que ela esta passando. Quando há a Pedagogia

dentro de um Hospital a criança se sente mais segura, pois tem um pedacinho

de seu cotidiano dentro de um local que muitas vezes é visto com tanto temor.

PERGUNTA: E como é o seu trabalho?

RESPOSTA: Passo nos leitos convidando os pacientes para participar da

recreação. Também divido o tempo com aquelas crianças e adolescentes que

não podem deambular ou que o tratamento não permita a saída do leito. Para

esses vou ao leito e destino uma atividade que possa ser realizada.

48

Na sala de recreação trago opções de atividades para que escolham,

por exemplo, a pascoa esta chegando, então conversei com eles sobre a

pascoa e seus significados, o que este dia representa para cada um e juntos

confeccionamos uma espécie de cestinha com EVA com tubo usado para

enrolar linha. Adoraram a possibilidade, pois mesmo eles estando internados,

puderam fazer as cestas para dar de presente aos irmãos, pai, mãe e amigos,

geralmente querem fazer mais de uma. Vê a importância, ao invés de ficarem

deitados na cama do Hospital esperando a medicação ou só vendo televisão

quando tem, estão produzindo, interagindo com os outros pacientes e até

esquecendo mesmo que por um momento, de suas doenças.

Geralmente tem um estagiário na recreação, pois assim conseguimos

dividir o trabalho e atender muitas crianças e adolescentes. Enquanto estou na

sala de recreação, ele vai nos leitos, e vice e versa, o legal é que com

estagiários, abrimos a oportunidade dos estudantes de Pedagogia conhecerem

esse trabalho e verem o quanto é importante, que a recreação no Hospital

pode ter um significado maior do que apenas brincar.

PERGUNTA: Você falou que é importante que o paciente quando pode,

interagir e explorar outros espaços no Hospital. Por que você considera

importante?

RESPOSTA: O paciente quando criança ou adolescente possui medos e

inseguranças da internação, maiores que um adulto, pois interrompe a fase das

brincadeiras, daquela liberdade, então, proporcionar para ele um local mais

lúdico, com jogos, brinquedos, livros e materiais diferentes, faz com que se

sinta mais seguro, aceite melhor seu tratamento e até esqueça um pouco das

dores. A interação com outros pacientes é também muito importante, juntos

eles conversam, brincam, fazem atividades, dividem o aprendizado e isso

aproxima eles um pouco do dia-a-dia fora do Hospital além de que assim

passam melhor pelo tratamento pois percebem que não são os únicos.

Esses tempos foi realizado uma conferencia de Cardiologistas, e um

médico me perguntou se tinha como eu fazer junto com os pacientes a

lembrancinha do evento, suamos mais fizemos em uns três dias mais de 100

caixinhas decoradas, os adolescentes adoraram e faziam com a maior vontade,

49

estavam se sentindo úteis e saber que as lembranças de uma conferencia de

Médico foi feita por eles aumentou muito a autoestima de todos. Isso mostra

como é importante esses trabalhos manuais, estes artesanatos e esta

produção que realizam na recreação, é um momento de esquecer os

problemas.

PERGUNTA: E como você faz quando eles têm que tomar medicação ou se

quiserem fazer um lanche?

RESPOSTA: Quando abro a sala de recreação, deixo os pacientes livres para

fazerem as atividades que quiserem se estiverem cansados de algo e quiserem

fazer outra coisa não tem problema, o mesmo acontece quando o horário de

medicação, ou quando querem ir fazer seus lanches. O acesso é livre e só

depende da liberação do médico se podem ou não sair do leito. Os pacientes

sempre vão e voltam para a sala enquanto estão fazendo as atividades, nada é

imposto, fazem até o momento que preferirem ir para o leito. A intenção da

recreação é entreter e possibilitar aprendizado aos pacientes, ali eles

encontrarão um lugar para conversar, brincar, se distraírem e expor seus

trabalhos. Isso significa muito para o tratamento deles.

PERGUNTA: Como você faz quando chega um paciente novo?

RESPOSTA: Primeiro leio o prontuário dele, converso com os enfermeiro e

médicos, para saber das condições dele, o que pode ser feito e o que não

pode. Se o médico liberar a saída dele do leito, vou até seu quarto, me

apresento, converso com o responsável e com o paciente, falo um pouquinho

das possibilidades que ele terá na recreação e o estimulo a participar, o levo

até a sala e apresento ele para as outras crianças ou adolescentes.

Se o paciente não puder sair de seu leito o procedimento é quase o

mesmo, porém ao invés de ir até a sala com ele, levo atividades em seu quarto

e faço a recreação ali mesmo, se ele desejar é claro. Quando um paciente

chega no Hospital para internação, esta ansioso, com medo do que pode

ocorrer e cabe também a nós Pedagogas dar um acolhimento, um conforto,

50

mostrar que mesmo em um Hospital a criança pode se divertir, brincar e

aprender.

PERGUNTA: E se a criança ou adolescente não aceitar?

RESPOSTA: Bom, a primeira coisa a ser levada em conta é a vontade da

criança ou adolescente. Nós Pedagogos que trabalhamos em Hospital temos

que sempre respeitar o momento do paciente. Deixo as portas abertas a eles,

convido, mostro o quanto é legal, se não quiserem tudo bem, não forço a barra,

mas eles sempre dão uma espiadinha na sala e acabam entrando timidamente,

depois eles se soltam.

PERGUNTA: E de que forma você acha que a Recreação contribui com o

tratamento do paciente?

RESPOSTA: O paciente se sente útil, não vê mais o Hospital como apenas

com um monte de gente doente que tem que fazer um tratamento. Ele interage

com outras crianças, se sente mais acolhido e produtivo. Sua autoestima

aumenta, pois ele produz e brinca mesmo doente. Isso auxilia muito, ele

consegue passar pelo tratamento com mais autoconfiança.

PERGUNTA: Se possível, gostaria que definisse o que para você, a Pedagogia

Hospitalar significa.

RESPOSTA: O serviço da Pedagogia Hospitalar, através dos programas:

Recreação, Classe Hospitalar, Estimulação Essencial e Dificuldade de

Aprendizagem, visam promover o desenvolvimento da criança e do

adolescente internado.

O atendimento pedagógico deve ser entendido como uma escuta

pedagógica às necessidades e interesses da criança e do adolescente

hospitalizado. As atividades pedagógicas, sejam elas lúdicas ou não,

contribuem muito para a recuperação dos pacientes internados.

51

As atividades pedagógicas dentro do hospital deixam as crianças menos

ansiosas. Proporcionando esses momentos, deixamos o hospital mais

acolhedor, contribuindo assim para uma recuperação mais rápida.

52

Centro Universitário Municipal de São José – USJ Entrevista semiestruturada realizada no dia: 31/03/2011 Local: Hospital Infantil Joana de Gusmão – HIJG Acadêmica: Bruna Feijó Tavares A PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR: CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS A UM AMBIENTE DE RENOVAÇÃO E APRENDIZAGEM

Classe Hospitalar: Pedagoga Amarílis

PERGUNTA: Como funciona a Classe Hospitalar, e como é o trabalho de uma

professora dentro de um hospital?

RESPOSTA: Geralmente meus alunos são as crianças que terão que ficar por

um tempinho maior no Hospital para fazer tratamento, porém quando posso

procuro entregar atividades àquelas crianças que ficarão internadas por pouco

tempo para que exercitem seu raciocínio.

A Classe Hospitalar serve para que a criança que está internada não

perca o aprendizado que estaria tendo em sua escola regular, temos sempre

um contato com a escola do paciente, nos inteiramos dos assuntos que estão

sendo ensinados e fazemos a aula no próprio Hospital, também abordamos

temas que surgem das conversas com os alunos, de um fato que esta

acontecendo ou de uma necessidade da criança observada pela professora. É

como uma aula na própria escola, porém adaptada ás condições da criança e

mais maleável devido ao tratamento que o paciente esta fazendo.

Com a Classe Hospitalar a criança tem a oportunidade de continuar seus

estudos e assim não se sentir prejudicada e arrancada bruscamente de seu

cotidiano.

Há uma sala de aula dentro do HIJG, onde são realizadas as aulas de

segunda a sexta. É uma sala mista, recebo alunos do 1º ao 5º ano, mas

consigo dividir bem os conteúdos. Para aqueles pacientes que não podem sair

do leito, vou pela parte da manhã e realizo a aula no próprio leito, assim a

criança que esta mais debilitada também não deixe de aprender e usufruir das

aulas.

53

PERGUNTA: E como é o contato do Hospital com a Escola?

RESPOSTA: Durante a internação da criança fazemos um contato semanal

com sua escola de origem, expomos sua evolução nas aulas, o que aprendeu,

o que tem dificuldade e o que precisa aprender. Acontece o mesmo da parte da

escola, eles nos dizem o que a criança aprendeu até se internar, dizem quais

as dificuldades que o aluno apresentava, o que pode ser explorado, quais os

conteúdos ele estaria aprendendo e que pode ser ensinado na aula do

Hospital. Este contato é muito importante, faz com que a criança não saia

prejudicada da escola por sua doença, que ocorra uma continuidade no

aprendizado do aluno e que quando ele tiver alta possa seguir nas aulas

normalmente.

PERGUNTA: Qual é a reação das crianças ao saberem que terão aulas no

Hospital? O que elas acham das aulas?

RESPOSTA: Quando a criança chega a um Hospital para tratamento, esta com

medo, insegura não sabe como passar por esse momento difícil, pois sua

rotina muda completamente. Muitas vezes as medicações são fortes e ela não

intende o porquê precisou estar ali e quando descobre as possibilidades que

existe em seu cotidiano e que também tem no Hospital Infantil, como as aulas

ela passa a lidar melhor com sua doença e seu tratamento. Na classe a criança

se sente importante, faz uma ligação entre a escola de origem e suas aulas no

espaço hospitalar, se esforça para mostrar o que aprendia e quer aprender

mais e mais para quando voltar para sua escola mostrar que sabe igual ou até

mais que seus colegas.

Por causa de suas privações as crianças se alegram com a mínima coisa que

podemos proporcionar, por exemplo, quando a aula acaba sempre procuro

passar uma atividade para fazerem nos leitos e isso deixa as crianças

empolgadas além de distrai-las quanto as suas medicações, seus medos e

inseguranças.

54

PERGUNTA: Para você como Pedagoga Hospitalar, quais os benefícios da

Pedagogia em âmbito Hospitalar para as crianças internadas?

RESPOSTA: A Pedagogia Hospitalar tem uma dimensão gigante para as

crianças. Todas as crianças têm direito ao estudo independente de suas

condições físicas ou emocionais, e a Pedagogia Hospitalar coloca em pratica

esse direito quando estão doentes e precisando de tratamento médico.

Os benefícios no tratamento das crianças são muitos, pois mesmo com

a saúde debilitada os pacientes estudam, brincam e interagem com outros

pacientes, o que faz com que eles aceitem melhor o momento que estão

passando, além de que quando trabalhando com seu cognitivo esquecem

muitas vezes das dores que passam ou pelo menos diminui, pois estão com a

mente ocupada.

PERGUNTA: Você lembra algum caso que exemplifica bem a importância da

Pedagogia Hospitalar?

RESPOSTA: Sim, aqui no Hospital temos um caso que mostra o quanto a

Pedagogia Hospitalar é importante e necessária. Há uma paciente a Girassol,

ocorreu um acidente domestico quando ela tinha 4 anos e a menina sofreu

queimadura em 80% do corpo. Fazem 4 anos que ela se interna com

frequência no Hospital para cirurgias de reconstrução e outros tratamentos.

Sua família mora no interior de Santa Catarina e por ser muito longe quando

não esta internada fica de favor em uma casa lar que é apenas assistencial e

para crianças bem pequenas, assim Girassol nunca pode ter contato com uma

Escola regular e foi alfabetizada no Hospital, vê então a grande importância

que tem esta área educacional. O espaço Pedagógico é a escola da menina e

Classe Hospitalar é sua sala de aula, aqui ela aprendeu a ler a escrever,

aprendeu matemática e outras matérias, o que não tem oportunidade de

usufruir fora do Hospital. Acho este caso lindo, é maravilhoso saber que faço

parte desta história, que contribuo de alguma forma para a educação desta

criança, se não fosse pela Pedagogia Hospitalar esta menina ainda não teria

contato com a escola.

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Centro Universitário Municipal de São José – USJ Entrevista semiestruturada realizada no dia: 04/04/2011 Local: Hospital Infantil Joana de Gusmão – HIJG Acadêmica: Bruna Feijó Tavares A PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR: CONTRIBUIÇÕES

PEDAGÓGICAS A UM AMBIENTE DE RENOVAÇÃO E APRENDIZAGEM

Ambulatório de Aprendizagem: Pedagoga Margarida

PERGUNTA: Como funciona o Ambulatório de Triagem e como é o seu

trabalho?

RESPOSTA: Neste setor são realizados atendimentos através da

Psicopedagoga e eu Pedagoga que visam diagnosticar e auxiliar juntamente

com uma equipe multiprofissional incluindo médicos, possíveis dificuldades de

aprendizagem apresentadas pelas crianças. Para chegar a um diagnóstico a

criança passa por diversas etapas como exames médicos, conversas,

avaliações e atividades que auxiliam aos profissionais.

A criança é encaminhada a este ambulatório pela escola de origem

devido a dificuldades e atrasos na aprendizagem. Logo após o diagnóstico

entramos em contato com a escola e passamos diversas orientações para que

ela se adeque a necessidade apresentada pela criança. Também quando

podemos e o caso exija vamos até a escola e damos palestra aos alunos e

profissionais da área da educação sobre as dificuldades de aprendizagem, a

necessidade de alguns alunos, sobre alunos especiais e suas especificidades.

Muitas vezes o que se tem notado é que algumas dificuldades de

aprendizado ocasionam baixa autoestima, dai a importância do trabalho com

esta criança, de conversar e mostrar que ela é capaz de aprender, que possui

potencialidades.

PERGUNTA: O Ambulatório de Aprendizagem é considerado uma área da

Pedagogia Hospitalar, apenas pelo fato de estar dentro de um Hospital?

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RESPOSTA: O Ambulatório de Aprendizagem aqui no HIJG é considerado

uma área da Pedagogia Hospitalar por diversos fatores, inclusive por estar

dentro de um Hospital.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases a Pedagogia Hospitalar é uma

modalidade da Educação Especial, e aqui de certa forma são considerados

casos especiais, com crianças especiais por apresentarem algum déficit

cognitivo.

A Pedagogia Hospitalar é muito mais ampla do que as pessoas

imaginam, quando falamos nela muitas pessoas pensam se tratar de algumas

professoras que brincam com os pacientes e não sabem o quanto é ampla e

quantos projetos existem dentro dela. No Hospital tem as aulas, as

brincadeiras e a brinquedoteca que alguns Hospitais têm o ambulatório que

auxilia na dificuldade de crianças que não necessariamente estejam internadas

e a estimulação essencial para crianças que estimula o desenvolvimento

neuromotor das crianças, é uma área da educação importante e necessária.

PERGUNTA: E para você qual é a importância da Pedagogia em âmbito

Hospitalar?

RESPOSTA: As pessoas geralmente associam a imagem do Hospital apenas

aos aspectos ruins a doenças e sofrimento, o que de certa forma não deixa de

ser, porém há um apoio, a Pedagogia Hospitalar, que não só auxilia ao

tratamento do paciente como também serve para auxiliar em possíveis

dificuldades de aprendizagens das crianças. É uma área da Educação

Hospitalar que possibilita novos caminhos na educação.

PERGUNTA: Como você vê a Pedagogia Hospitalar inserida na Educação

Especial?

RESPOSTA: A Educação Especial é uma área educacional que visa atender

necessidades especiais que alguns alunos possuem, podendo ser

necessidades físicas ou cognitivas e a Pedagogia Hospitalar caminha neste

mesmo sentido possuindo diversos campos como o atendimento no

ambulatório de aprendizagem, a classe hospitalar para alunos que estão em

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tratamento, à recreação que engloba todos os pacientes e a estimulação que

serve também para corrigir algum atraso que a criança apresenta.

Muitas vezes o profissional da educação que trabalha dentro do Hospital

consegue junto da criança achar um melhor caminho para sua aprendizagem e

esta criança melhora muito em seus estudos.

Toda criança tem direito de aprender, independente de suas

dificuldades, sua situação e suas limitações, cabe a nós educadores encontrar

meios para que as dificuldades, das crianças sejam transformadas em

potencialidades.

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Centro Universitário Municipal de São José – USJ Entrevista semiestruturada realizada no dia: 05/04/2011 Local: Hospital Infantil Joana de Gusmão – HIJG Acadêmica: Bruna Feijó Tavares A PEDAGOGIA NO ESPAÇO HOSPITALAR: CONTRIBUIÇÕES

PEDAGÓGICAS A UM AMBIENTE DE RENOVAÇÃO E APRENDIZAGEM

Estimulação Essencial: Pedagoga Íris

PERGUNTA: Como funciona o trabalho do Pedagogo na Estimulação

Essencial no HIJG?

RESPOSTA: A Estimulação Essencial é um programa que estimula crianças

de 0 a 6 anos com atraso neuropsicomotor, o Pedagogo primeiramente faz

uma entrevista com a família, depois um estudo de caso para então intervir

com atividades e exercícios direcionados a necessidade de cada criança. O

Pedagogo precisa conhecer as limitações da criança para desenvolver um

trabalho de qualidade respeitando sempre seu momento.

Geralmente este trabalho é desenvolvido com crianças com problema de

nutrição, fazemos exercícios e atividades que auxiliem a pessoa a estimular

este atraso, sendo que a família é orientada e auxilia muito nos exercícios.

PERGUNTA: Como é sua relação com a criança atendida na Estimulação

Essencial?

RESPOSTA: Para um bom trabalho primeiramente estabeleço uma relação de

confiança com a criança, faço com que ela sinta que pode confiar em mim, que

respeito seu momento, que estou aqui para ajuda-la, então após nos

conhecermos e ficarmos a vontade um com o outro começo meu trabalho. Na

Pedagogia Hospitalar devemos sempre respeitar e apoiar as crianças, pois

sempre quem esta no Hospital esta passando por um momento difícil, precisa

de atenção e estabelecer uma conexão com o mundo real.

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Aqui no Hospital um pouquinho que fazemos já é algo grandioso e de grande

beneficio para a criança, nosso trabalho significa muito, é um auxílio,

estabelece uma relação de aprendizagem e deixa a criança mais segura.

PERGUNTA: Como o Pedagogo faz para mediar com a criança o aprendizado

e o fato de estar em um Hospital?

RESPOSTA: A conversa é o melhor modo de mediação, mesmo com os

bebês, pois nossa voz acalma. Quando a criança estabelece uma relação de

confiança comigo tento mostrar que o Hospital é um local de renovação, um

local de auxílio para que a vida dela melhore.

Quando a criança é muito pequena ou um bebê ensino os exercícios

para a família para que quando tiverem em casa possam dar continuidade ao

tratamento, o trabalho Pedagógico vai além dos estímulos e exercícios, é um

trabalho de conversa, de esclarecimento das necessidades e de auxilio

também a família para o sucesso do tratamento.

PERGUNTA: Para você qual a importância da Pedagogia Hospitalar?

RESPOSTA: A criança é um ser em constante transformação e aprendizagem

que algumas vezes apresenta necessidades específicas, a Pedagogia

Hospitalar vai até estas necessidades e tenta encontrar um caminho para

auxilia-las. O Hospital por si só já é um ambiente relacionado à dor e

sofrimento e a criança se amedronta com o fato de estar ali sendo arrancada

involuntariamente de seu cotidiano e trazer um pouquinho da Pedagogia até

ela a faz com que ela se sinta segura e mais perto de sua realidade de

costume. Na Pedagogia Hospitalar a criança encontra apoio Pedagógico para

um problema que esta enfrentando e aprende com o momento vivido. A criança

sente segurança e acredita mais em seu potencial.