Centro expandido - Divirta-se Estadao

3
Capa Sem o glamour do centro histórico e com uma enorme concentração de centros culturais, os arredores do Minhocão reivindicam sua independência AGITAÇÃO MARGINAL São Paulo está se fechando: há cada vez mais leis restringindo as possibilidades – e, principalmente, os horários – de uso de seus espaços urbanos. Conven- cidos de que nós, cidadãos, podemos propor as melhores formas de utilizar as ruas, os produtores culturais por trás do ‘Baixo Centro’ acreditam que a cidade precisa ser reaberta, ‘hackeada’. E essa pegada tecnológica tem rela- ção com a origem do grupo, articulado em torno da Casa da Cultura Digital (CCD), um espaço de trabalho em que vários empreendimentos – como o coletivo Garapa, a Esfera (do Ônibus Hacker), e a Agência Pública (veículo que publica o Wikileaks no Brasil) – dividem quatro casas de uma vila ope- rária do início do séc. 20 na Barra Fun- da. Mas o CCD não é o comando do ‘Baixo Centro’. É apenas seu lugar de nascimento – e uma influência. Isso se soma a uma outra influência, mais antiga: a contracultura. Quando amadureciam a ideia do ‘Baixo Centro’, vários de seus organizadores estavam lendo um livro sobre o grupo holandês Provos (saiba mais no box da pág. 12). O resultado prático é um projeto para levar ao entorno do Elevado Costa e Silva 10 eventos, em um festival a ser realizado em março do ano que vem. E, seguindo a lógica da internet de unir em rede vários pontos dispersos, criar uma plataforma online para conectar os espa- ços culturais da região (confira o mapa na pág. 14). Mas a realização do festival ainda não está garantida. Enquanto buscam os recursos para viabilizá-lo, os criadores aceitam trabalho voluntário, doações e sugestões. A nossa? Nada de desobediên- cia civil. Vamos ocupar as ruas, mas com a prefeitura do nosso lado. Conheça alguns dos eventos sugeri- dos pelos organizadores. E não seja tími- do, apresente as suas (mais na pág. 17) 1) Apresentação de peças de teatro em uma tarde de domingo no Elevado Costa e Silva. 2) Passeio de coletivos de bike, organizado pelo movimento Bicicletada (http://bicicletada.org). 3) Roda de samba e choro em meio a um piquenique no Largo do Arouche, em uma tarde de sábado. 4) Uma exposição de fotos nas vigas do Elevado, do projeto ‘Que ima- gem você levaria para Marte?’, que tem curadoria da jornalista Gabriela Allegro. 5) Passeio pela região para visitar os locais com arte de rua já mapeadas pelo projeto Arte Fora do Museu (http://arteforadomuseu.com.br). 6) Cortejo do grupo Ilú Obá de Min, que promove a valorização de cultu- ras de matriz africana e afro-brasileira, com música e dança. 7) Construção do Carrinho Multi- mídia, com internet sem fio, som, luz, e equipamento de projeção, para funcio- nar como sede itinerante do movimento. O mote dos idealizadores do ‘Baixo Centroé que ‘as ruas são para dançar’. O lema foi em- prestado do movimento Provos, criado na Holanda em 1965, no despertar da contracultu- ra, e depois materializado em forma de revis- ta. Contrário ao tráfego de veículos motoriza- dos em Amsterdã, o grupo distribuiu pela cida- de 50 bicicletas, pintadas de branco, para uso público. A ação se tornou símbolo do movi- mento e inspirou o uso de cores na expressão de ideais da contracultura ao redor do mundo – como o verde dos hippies de São Francisco. A história do Provos virou livro, publicado no Brasil pela Conrad (R$ 31). FESTIVAL DOS FESTIVAIS DANÇARINOS DE RUA Andressa Vianna e Lucas Pretti, dois dos vários idealizadores do ‘Baixo Centro’ Capa HACKEAR O CENTRO?

description

Reportagem sobre o BaixoCentro publicada no dia 16/12/2011

Transcript of Centro expandido - Divirta-se Estadao

Page 1: Centro expandido - Divirta-se Estadao

CapaSem o glamour do centro histórico e com uma enorme

concentração de centros culturais, os arredores doMinhocão reivindicam sua independência

AGITAÇÃOMARGINAL

São Paulo está se fechando: há cada vezmais leis restringindo as possibilidades– e, principalmente, os horários – deuso de seus espaços urbanos. Conven-cidos de que nós, cidadãos, podemospropor as melhores formas de utilizaras ruas, os produtores culturais portrás do ‘Baixo Centro’ acreditam que acidade precisa ser reaberta, ‘hackeada’.

E essa pegada tecnológica tem rela-ção com a origem do grupo, articuladoem torno da Casa da Cultura Digital(CCD), um espaço de trabalho em quevários empreendimentos – como ocoletivo Garapa, a Esfera (do ÔnibusHacker), e a Agência Pública (veículoque publica o Wikileaks no Brasil) –dividem quatro casas de uma vila ope-rária do início do séc. 20 na Barra Fun-da. Mas o CCD não é o comando do‘Baixo Centro’. É apenas seu lugar denascimento – e uma influência.

Isso se soma a uma outra influência,mais antiga: a contracultura. Quandoamadureciam a ideia do ‘Baixo Centro’,vários de seus organizadores estavamlendo um livro sobre o grupo holandêsProvos (saiba mais no box da pág. 12).

O resultado prático é um projetopara levar ao entorno do Elevado Costae Silva 10 eventos, em um festival a serrealizado em março do ano que vem. E,seguindo a lógica da internet de unir emrede vários pontos dispersos, criar umaplataforma online para conectar os espa-ços culturais da região (confira o mapana pág. 14).

Mas a realização do festival ainda nãoestá garantida. Enquanto buscam osrecursos para viabilizá-lo, os criadoresaceitam trabalho voluntário, doações esugestões. A nossa? Nada de desobediên-cia civil. Vamos ocupar as ruas, mas coma prefeitura do nosso lado.

Conheça alguns dos eventos sugeri-dos pelos organizadores. E não seja tími-do, apresente as suas (mais na pág. 17)

1) Apresentação de peças de teatroem uma tarde de domingo no ElevadoCosta e Silva.

2) Passeio de coletivos de bike,organizado pelo movimento Bicicletada(http://bicicletada.org).

3) Roda de samba e choro em meio aum piquenique no Largo do Arouche,em uma tarde de sábado.

4) Uma exposição de fotos nasvigas do Elevado, do projeto ‘Que ima-

gem você levaria para Marte?’, que temcuradoria da jornalista Gabriela Allegro.

5) Passeio pela região para visitar oslocais com arte de rua já mapeadas peloprojeto Arte Fora do Museu(http://arteforadomuseu.com.br).

6) Cortejo do grupo Ilú Obá deMin, que promove a valorização de cultu-ras de matriz africana e afro-brasileira,com música e dança.

7) Construção do Carrinho Multi-mídia, com internet sem fio, som, luz, eequipamento de projeção, para funcio-nar como sede itinerante do movimento.

O mote dos idealizadores do ‘Baixo Centro’é que ‘as ruas são para dançar’. O lema foi em-prestado do movimento Provos, criado naHolanda em 1965, no despertar da contracultu-ra, e depois materializado em forma de revis-ta. Contrário ao tráfego de veículos motoriza-dos em Amsterdã, o grupo distribuiu pela cida-de 50 bicicletas, pintadas de branco, para usopúblico. A ação se tornou símbolo do movi-mento e inspirou o uso de cores na expressãode ideais da contracultura ao redor do mundo– como o verde dos hippies de São Francisco.A história do Provos virou livro, publicado noBrasil pela Conrad (R$ 31).

FESTIVAL DOS FESTIVAISDANÇARINOS DE RUA

Andressa Vianna eLucas Pretti, dois

dos váriosidealizadores do

‘Baixo Centro’

Cap

a

HACKEAR O CENTRO?

Page 2: Centro expandido - Divirta-se Estadao

Nada de esperar até março para incluir o‘Baixo Centro’ na sua programação. Conheça umdos 25 coletivos culturais que já existem por lá

1 – Ilú Oba de MimAl. Eduardo Prado, 342, Santa Cecília2 – Cia. São Jorge de Variedades - Casa de São JorgeR. Lopes de Oliveira, 342, Barra Funda3 – Casa da Cultura DigitalR. Vitorino Carmilo, 459, Barra Funda4 – Galeria Baró / Emma ThomasR. Barra Funda, 216, Santa Cecília5 – Theatro São PedroR. Barra Funda, 171, Santa Cecília6 – Teatro Escola MacunaímaR. Adolfo Gordo, 238, Santa Cecília7 – FunarteAl. Nothmann, 1.058, Campos Elísios8 – Instituto PensarteAl. Nothmann, 1.029, Santa Cecília9 – Folias da ArteR. Ana Cintra, 213, Santa Cecília10 – Filhos da SantaLargo Santa Cecília, Santa Cecília11 – Galeria PilarR. Barão de Tatuí, 389, Santa Cecília12 – Centro Cultural da EspanhaR. Dr. Martinico Prado, 474, Consolação13 – ONG Ação EducativaR. Gen. Jardim, 660, Consolação14 – Teatro PaiolR. Amaral Gurgel, 164, Consolação15 – Aliança FrancesaR. General Jardim, 182, República16 – Instituto PolisR. Araújo, 124, República17 – Escola da CidadeR. General Jardim, 65 - República18 – SESC ConsolaçãoR. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque19 – TUSP – Teatro da USPR. Maria Antônia, 294, Consolação20 – Matilha CulturalR. Rêgo Freitas, 542, República21 – Galeria da RuaR. Rêgo Freitas, 454, República22 – Cia do FeijãoR. Dr. Teodoro Baíma, 68, República23 – Teatro de Arena Eugênio KusnetR. Dr Teodoro Baima, 94, República24 – Centro Cultural ConsolaçãoR. da Consolação, 1.897, Consolação25 – Academia Internacional de CinemaR. Doutor Gabriel dos Santos, 142, Higienópolis

#OCCUPYMINHOCÃO

Capa

QUEM TÁ LÁ?

Cap

a

����������� �������������������

������������

������������

��������

��������

������

����

������

����

������ ��������!��

����"#���$�

����%�������&��'�

���� ���������

����()���� ��

����������*����

������$+��

������$+��

��� �����*��

����&����������

����&�$�����

��������

��

����

����

��

��

����

��

��

��

��

��� ��������������� �

CADÊ ‘BAIXO CENTRO’?

Page 3: Centro expandido - Divirta-se Estadao

Inaugurado em 1970, o Minhocão alterou a dinâmicados bairros do entorno. Hoje, em meio à decadência,oferece também uma possibilidade de integração social

As ruas são suas. E o festival ‘Baixo Centro’ também.Sugestões de eventos, braços para colar cartazes edoações (em dinheiro ou espécie) só dependem de você

A antropóloga e cineasta Maíra Buhlerlançou em 2007 o documentário Eleva-do 3,5 (foto). Codirigido por Maíra,João Sodré e Paulo Pastorelo, a produ-ção apresenta a história do Minhocão eo cotidiano de alguns dos cidadãos quemoram na vizinhança dos 3,5 km daconstrução. A ideia da produção veiodurante a época de faculdade, quandoela e seus colegas de direção tinhamum laboratório de fotografia na região eperceberam o potencial cinematográfi-co do local. Na opinião de Maíra, o Mi-nhocão é uma cicatriz no meio da cida-de: “Como obra é uma tragédia, massua construção desvalorizou os arredo-res e permitiu que pessoas que não te-riam como habitar o Centro mudassempara lá”. Defensora da integração socialconsequente da inauguração do Eleva-do Presidente Costa e Silva em 1970,ela ressalta a necessidade da melhoriada qualidade de vida dos habitantes doentorno. “É preciso cuidar da área, des-de que isso não seja sinônimo de exclu-são de moradores ‘desagradáveis’ parao Estado e sim fruto de um diálogo de-mocrático”, diz Maíra.

é o valor indicado para empresas, queprevê como contrapartida uma páginaexclusiva de patrocínio no site, 50 ca-misetas e uma performance do carri-nho multimídia. Para garantir a pulveri-zação das doações, apenas duas cotasneste valor estão disponíveis.

Pretéritoperfeito

O Teatro Paiol – um dos pontos de par-tida para a articulação que acabou viran-do o ‘Baixo Centro’ – foi aberto em no-vembro de 1969 pelo atores Perry Sallese Miriam Mehler (foto, em cena em 69).Na época, o Elevado ainda não foraconstruído e a região de Vila Buarque eSanta Cecília era mais segura e frequen-tada por um público em busca de cultu-ra. “O centro era ótimo naquela época.Era uma região de teatros”, afirma Mi-riam, que hoje tem 76 anos e ainda tra-balha como atriz. Na década de 80, ocomando do teatro passou para PauloGoulart, mas o espaço não resistiu àdegradação dos arredores, causada emgrande parte pela construção do Minho-cão. Fechou no começo dos anos 1990,virou cinema pornô e hoje está à venda.Um grupo de produtores culturais, mui-tos deles envolvidos no ‘Baixo Centro’,quer reformar e reabrir o Paiol, comuma administração coletiva. Miriamdiz que acha “fantástica” a iniciativa.“Eles são jovens, e corajosos”, afirma.Com o trabalho, o Paiol pode voltar aser um centro de cultura da região,como foi há 40 anos.

é o valor mínimo para participar dofinanciamento. Mas há recompensaspara quem doar mais: R$ 20 garante aodoador foto no site e no carrinho multi-mídia; R$ 50 dá direito a mais uma cami-seta e ao livro ‘CulturaDigital.BR’.

é o valor pedido no Catarse para fazer ofestival ‘Baixo Centro’. O orçamentototal é de R$ 96.280 e está detalhado nosite, para facilitar doações em espécie.Se um projetor for emprestado, o valordo aluguel é cortado do valor total.

Dinheiro não é aúnica forma de con-tribuição. Vocêpode doar mate-riais e até traba-lhar. Entre em con-tato no Facebook(on.fb.me/baixo_centro) ou no gru-po de emails (bit.ly/grupo_centro).

MUDANÇASNO CAMINHO

Quer saber maissobre o ‘Baixo Cen-tro’? Assista aosdois vídeos já divul-gados pelos organi-zadores do evento:um teaser do festi-val (bit.ly/baixo_vi-deo ) e ‘as ruas sãopara dançar’ (bit.ly/ruas_centro).

VEMDANÇAR

mil

Capa

mil

AR

QU

IVO

AE

O festival ‘BaixoCentro’ só sai do

papel se o públicoquiser - e topar

ajudar a financiar

‘ELE

VA

DO

3,5’

/DIV

ULG

ÃO

R$ 10

Saiba+

Cap

a

R$ 56

Para os organizadores do ‘Baixo Cen-tro’, o festival (e o próprio movimen-to) só faz sentido se você quiserque ele aconteça – e fizeralgo para torná-lo viável.Natural, portanto, queem vez de sair atrás depatrocínio junto a empre-sas ou de uma verba ofi-cial, eles tenham optadopelo financiamento colabora-tivo. A ferramenta escolhida foi oCatarse, site brasileiro criado no

começo do ano. Como o americanoKickstarter, o site mais conhecido do

gênero, o Catarse permite finan-ciar projetos bacanas com a

ajuda do próprio público-al-vo. Cada ideia tem 90 diaspara se viabilizar. Se100% do valor pedido não

for captado, os doadoresrecebem seu dinheiro de

volta. O Baixo Centro tem até18/1 para levantar R$ 54.747. Abra a

mão, vai: bit.ly/bcentro.

Faça+

R$ 15

Presentecomplexo