Centro de Referência Virtual
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Proposta Curricular - CBC Ciclo da Alfabetização - Fundamental - Ciclos
DIRETRIZES CURRICULARES DE MATEMÁTICA
Iracema Campos Cusati Wanda Maria de Castro Alves
APRESENTAÇÃO
O Ensino Fundamental na rede estadual de Minas Gerais foi ampliado para nove
anos em 2004, antecipando a SEE-MG, mais uma vez, em implantar medidas
visando uma melhor qualidade do ensino. Esse período foi dividido em dois ciclos:
o Inicial de Alfabetização, com duração de três anos destinado a crianças de seis,
sete e oito anos de idade e o ciclo Complementar de Alfabetização que faz o
atendimento a crianças na faixa etária de nove e dez anos tendo duração de dois
anos.
A ampliação do tempo de permanência da criança no espaço escolar lhe
permitirá fluir em consonância com seu ritmo de aprendizagem dando-lhe um prazo
maior para construir seus conhecimentos. Esse tempo dilatado e a organização do
fluxo escolar em ciclos são fatores de grande importância para que se possa ter:
-etapas mais flexíveis conjugadas com as unidades de progressão de
aprendizagem;
- planejamento mais dinâmico e flexível, com previsão para
correções de rota;
-continuidade e coerência na construção do conhecimento
matemático ao longo
dos cinco anos do primeiro segmento do ensino fundamental;
- objetivos de aprendizagem previstos para longo prazo, cuja
consecução é diluída
por até todo o período dos dois ciclos;
- maior possibilidade de realizar atendimento diferenciado aos
alunos.
Perrenoud (2004: 14) considera “os ciclos plurianuais como uma das condições
estruturais de uma pedagogia diferenciada eficaz”. No entanto, a organização
escolar por ciclos é apenas um meio, um canal que possibilita a realização de um
projeto pedagógico justo e mais coerente com a realidade social. De nada adianta
alterar a estrutura de um sistema de ensino implantando os ciclos sem mudar as
concepções dos professores, as propostas curriculares e o processo de avaliação.
É por esta razão que esta coleção sugerindo Diretrizes Curriculares para o
ensino de Matemática no Curso Fundamental foi pensada e produzida.
Como a coleção foi elaborada?
Esta coleção consta de dois volumes: o primeiro estabelece algumas diretrizes
para o ensino de matemática no ciclo Inicial de Alfabetização e o segundo sugere
orientações para o ensino de matemática no ciclo Complementar de Alfabetização.
Pretende-se com essas diretrizes dar suporte pedagógico à elaboração de
propostas curriculares para o ensino de matemática para os níveis a que são
destinadas e ao planejamento do ensino dessa disciplina; enfim, oferecer subsídios
para fundamentar a prática pedagógica no que se refere ao ensino de matemática
contribuindo com o professor no exercício de sua função.
Para viabilizar a produção dessas diretrizes, a SEE-MG indicou uma equipe de
especialistas no ensino de matemática que elaboraram um projeto visando a sua
execução que se deu em três momentos:
- Na primeira etapa, a equipe de “especialistas coordenadores” contou
com a participação e colaboração de seis especialistas em matemática
que foram denominados “especialistas assistentes”.O projeto previa,
nessa fase, o deslocamento das equipes para escolas estaduais a fim de
acompanhar, analisar e vivenciar a prática pedagógica em sala de aula
durante um determinado período; além de observar o que estava
acontecendo nas aulas de matemática, o especialista deveria intervir,
sugerindo atividades com enfoques didáticos diferentes dos que estavam
sendo usados, como alternativas para desenvolver o mesmo conteúdo.
Dessa forma, além de perceber a realidade escolar e, de modo
particular, o tratamento didático da disciplina, o especialista testava
estratégias conferindo a possibilidade de inseri-las nas orientações das
Diretrizes Curriculares. Essas vivências foram documentadas por meio
de relatórios e vídeos.
- Na segunda etapa, a equipe de especialistas teve a oportunidade de
discutir as situações vivenciadas por eles na etapa anterior com grupos
de professores, denominados “grupos operativos”, indicados pela SEE-
MG. Cada especialista, durante um certo período, contou com um grupo
de professores que atuam no nível da turma por ele observada e a
discussão girou em torno da prática pedagógica compartilhada pelo
especialista na escola em confronto com a prática dos participantes
dessa etapa, com o objetivo de validar estratégias e definir uma
metodologia de elaboração do documento das Diretrizes Curriculares.
- A terceira etapa constou da elaboração escrita das Diretrizes pelos
especialistas coordenadores, tendo como referência o que foi
compartilhado nas salas de aula, os pressupostos teóricos que
fundamentam o ensino de matemática e as novas tendências para o
ensino dessa disciplina.
Este material é o resultado desse trabalho, viabilizado pela interação dos
grupos que dele participaram e com base na experiência e no saber acumulado dos
professores, que enfrentam no dia-a-dia escolar os desafios de ensinar matemática.
Nele privilegiamos o papel do professor como sujeito da ação educativa e
defendemos a participação do aluno como sujeito de sua aprendizagem.
Com relação aos pressupostos teóricos, a equipe elaboradora consultou as
seguintes fontes:
- Os documentos oficiais produzidos no Brasil, nos últimos anos,
destacando-se os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), que
definem os objetivos, selecionam conteúdos para os diferentes blocos
de estudo e sugerem critérios de avaliação e o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil (1998), que estabelece diretrizes
para o ensino de matemática para crianças de até 6 anos.
- Relatórios sobre o desempenho em matemática de alunos do
ensino fundamental em avaliações sistêmicas como Simave e
Saeb, pesquisas e estudos nacionais e internacionais sobre a
aprendizagem matemática.
- Livros, publicações, sites na Internet, relacionados na bibliografia.
CARACTERIZANDO A MATEMÁTICA ESCOLAR . A CULTURA DE SALA DE AULA
Incorporar a cultura, a vida dos alunos nas práticas pedagógicas vem sendo analisado
em diversas teorizações como uma das possibilidades para construir um currículo que
busca a inclusão social. Um currículo que valoriza as vivências dos alunos e que coloca
em cena a cultura local de cada grupo social é uma possibilidade de questionar o que é
considerado válido como conhecimento e para quem este conhecimento é válido. Uma
educação que busca contribuir para a construção de uma sociedade mais humana, mais
solidária tem a possibilidade de incorporar os saberes locais e questionar a
universalidade dos conhecimentos escolares. Santomé (1995) argumenta que a sala de
aula precisa se tornar um espaço para a aquisição e análise crítica desses saberes:
“A educação obrigatória tem que recuperar uma de suas razões de ser: um
espaço onde as novas gerações se capacitem para adquirir e analisar
criticamente o legado cultural da sociedade. As salas de aula não podem
continuar sendo um lugar para a memorização de informações
descontextualizadas. É preciso que o alunado possa compreender bem quais são
as diferentes concepções de mundo que se ocultam sob cada uma delas e os
principais problemas da sociedade a que pertencem”. (ibidem, p.176).
Cabe ao professor lidar com as tradições, com as práticas sociais, enfim com a dimensão
cultural da comunidade de seus alunos e alunas, nas suas aulas de Matemática. O que é
incorporar a cultura na sala de aula? Em seu trabalho, analisando a organização do
trabalho pedagógico centrado nas atividades produtivas, Knijnik (1996) argumenta que,
na área da Educação Matemática, mesmo com o movimento de “abertura” pelo qual esta
área está passando, há ainda uma resistência em tornar a Matemática Escolar permeável
“ao mundo fora da escola”. Levar para as aulas “o mundo fora da escola” se restringe
quase que unicamente a “ilustrar” as “historinhas matemáticas” com dados ou
informações locais. Knijnik (1995) argumenta que:
“É preciso problematizar o que significa falar em um ensino de Matemática
contextualizado, vinculado “ao real”, mostrando a complexidade de um
empreendimento desse tipo. Ao apontar para tal complexidade, no entanto, é
evidente que meu argumento não tem por objetivo defender um ensino de
Matemática asséptico, neutro, onde as contas “secas” sejam a tônica, de modo
que não haja “qualquer risco” de ambigüidade. O ponto a ser destacado aqui é
que não podemos ser ingênuos em pensar que basta trazer estas “contas secas”
para um contexto que estaremos realizando um ensino de Matemática menos
tradicional, que produza outros efeitos sociais que não sejam os conectados com
a reprovação e o fracasso escolar”. (ibidem, p. 129).
Uma professora da 2ª série trabalhou com a profissão de um pai na sala de aula para
ensinar medidas. Ela considerou importante trazer situações da comunidade para a sala
de aula, incorporando trabalhos pedagógicos a vivência cultural dos alunos. Knijnik
(1995) problematiza o saber popular como “ponto de partida” para ensinar mais
Matemática, argumentando que ao partirmos das práticas e saberes do grupo, de sua
cultura, seus modos de viver e significar o mundo, estamos considerando que estes são
somente o ponto inicial de uma trajetória ascendente, que conduziria, à superação, ao
saber, à aprendizagem de outros modos de significar o mundo, modos que são
produzidos através de uma racionalidade originada e impregnada pelo conhecimento
matemático.
Os avanços teóricos têm comprovado que a aprendizagem não se dá pelo treino
mecânico descontextualizado, ou pela exposição exaustiva do professor. Pelo contrário,
a aprendizagem dos conceitos ocorre pela interação dos alunos com o conhecimento.
É importante observarmos que o processo de ensino é constituído por diversas
atividades que deverão ser organizadas pelo professor, visando à assimilação, por parte
dos alunos, de conhecimentos, habilidades e hábitos, do desenvolvimento de suas
capacidades intelectuais.
O fundamental dentro do processo ensino-aprendizagem é a alteração de "como
ensinar" para "como os alunos aprendem e o que podemos fazer para favorecer este
aprendizado". Para isso, devemos entender que os conteúdos direcionam o processo
ensino-aprendizagem e que devemos oportunizar situações em que os educandos
interagem com o objeto de conhecimento e estabelecem suas hipóteses para que estas
sejam, posteriormente, confirmadas ou reformuladas.
Além disso, é importante destacar que para um bom aprendizado de matemática é
fundamental que o aluno sinta interessado na resolução de um problema, qualquer que
seja ele, despertando, assim, a sua curiosidade e a sua criatividade ao resolvê-lo.
A resolução de problemas desde há muito constitui um quadro universal de
aprendizagem que deve estar sempre presente e integrado nos diversos tipos de
atividade. Quando os professores apóiam a sua prática pedagógica na resolução de
problemas, contextualizam a aprendizagem e propiciam a aquisição de conhecimentos
relevantes.
Desenvolver a capacidade de resolução de problemas nos alunos é considerada
uma das finalidades importantes do ensino da Matemática. A resolução de problemas é
considerada uma situação de aprendizagem, em que o aluno se confronta com questões
às quais não consegue responder de forma imediata, mas que o levam a refletir no como
e no porquê, sempre na procura da solução.
O trabalho de grupo também é importante para destacar o papel da aprendizagem
cooperativa no desenvolvimento da comunicação, da sociabilidade e de capacidades na
resolução de problemas.
Para uma melhor compreensão destes aspectos necessitamos compreender o
papel da resolução de problemas na aprendizagem da Matemática e, em especial, o seu
contributo para o desenvolvimento da comunicação matemática. Nesse sentido,
algumas questões norteadoras se apresentam:
1. O que é que os alunos aprendem de Matemática quando resolvem
problemas?
2. Qual é o papel do grupo nesse processo?
3. Que interações ocorrem na atividade de resolução de problemas capazes de
desenvolver nos alunos a capacidade de comunicar ?
O contexto da interação, a sala de aula, é assim, um ambiente muito rico, mas
também muito complexo, pois, professor e alunos, nele coexistem com papéis e
estatutos muito diferentes. Desse modo, a interações sociais na sala de aula
desempenham um papel fundamental na aprendizagem da matemática, uma vez que,
quer a interação professor-aluno, quer a interação aluno-aluno, influenciam a
matemática que é aprendida e como é aprendida na escola.
A comunicação é considerada um pilar essencial das aprendizagens matemáticas
pela sua função decisiva para a construção de significados. É por intermédio da
comunicação, através da troca de idéias, que os conhecimentos são partilhados por todos
e entendidos por cada um. Cabe ao professor criar condições para o estabelecimento de
regras de participação que permitam uma negociação bem sucedida, assim como
encorajar os alunos a tomar parte ativa no processo de negociação de significados. Na
sala de aula, o trabalho será tanto mais produtivo quanto melhor forem partilhados os
significados matemáticos.
A discussão, moderada pelo professor, tem como objetivo fomentar interações
entre todos os intervenientes da aula, de modo a definir-se a estratégia a seguir para a
realização de uma tarefa, a discutir o balanço do trabalho ou a avaliação de uma
solução. Com este modo de comunicação, espera-se que tanto professor como alunos
desenvolvam cooperativamente as idéias e o pensamento matemático em público e que
o envolvimento dos alunos na sua aprendizagem seja mais ativo. Para tal, o professor
deve explorar as sugestões dos alunos, ajudá-los a avaliar e a refletir sobre as sugestões
dos colegas, levantando dúvidas e implicações ou hipóteses. Deve encaminhar a
comunicação de forma a que os alunos ouçam, respondam, comentem e usem
argumentos matemáticos para determinar a validade de afirmações, convencendo e
convencendo-se.
As relações entre professor que ensina matemática, aluno e conteúdos
matemáticos são dinâmicas; por isso, a atividade de ensino deve ser um processo
coordenado de ações docentes, em que o professor deverá organizar, com o máximo de
cuidado possível, suas aulas, levando em conta sempre as reais necessidades dos seus
alunos nos diversos tipos de ambientes onde estão inseridos.
..FORMAÇÃO DOS CONCEITOS – UM SISTEMA DE CONHECIMENTOS
A necessidade de identificar a relação existente entre os diferentes conceitos
científicos evidencia que, no processo de sua formação, existem conceitos
correlacionados que propiciam a sua generalização. Para Vygotsky, “generalização
significa ao mesmo tempo tomada de consciência e sistematização de conceitos” (2000,
p. 292). Na perspectiva histórico-cultural, “nos conceitos científicos que a criança
adquire na escola, a relação com um objeto é mediada, desde o início, por algum outro
conceito” (Vygotsky, 1998, p. 116). Por exemplo, o conceito de unidade no sistema de
numeração decimal está relacionado ao conceito de número, assim como o conceito de
unidade está relacionado a cada um dos conceitos que formam o respectivo sistema. Da
mesma forma que o conceito de décimo está diretamente vinculado ao conceito de
unidade, os conceitos de centésimo e de milésimo estão relacionados tanto entre si como
com o conceito de unidade; o mesmo princípio relacional está subjacente aos múltiplos
da unidade, tanto entre si como quando relacionados com a própria unidade.
O estabelecimento de relações exige que se analise cada situação em particular,
fazendo sínteses, abstrações e generalizações que possibilitem identificar o princípio
geral (a sua lei matemática) que fundamenta o sistema de numeração decimal,
caracterizado como um sistema de conhecimentos. Nesse sentido, o exemplo ilustra a
concepção de Vygotsky quanto à idéia de generalização ao caracterizá-la como tomada
de consciência e sistematização de conceitos. Além disso, corrobora a afirmação de que
“o conceito científico pressupõe seu lugar definido no sistema de conceitos, lugar esse
que determina a sua relação com outros conceitos” (2000, p. 293).
Além da generalização do princípio que constitui o sistema de numeração decimal
como um sistema de conhecimentos, é preciso destacar as operações matemáticas que o
envolvem. No processo de apropriação do significado das operações com os respectivos
algoritmos, o que vai sendo aprofundado é o nível de consciência em relação aos
conceitos e em relação ao próprio sistema de conhecimentos.
No conjunto das figuras geométricas, por exemplo, pode-se distinguir entre
quadriláteros, triângulos, círculos, sendo que a palavra quadrilátero é um signo que
designa figuras formadas com quatro lados (quadrado, retângulo, losango,
paralelogramo, trapézios e quadriláteros quaisquer); a palavra trapézio, como um signo,
inclui quadrados, retângulos, losangos e paralelogramos, se considerarmos a existência
de um par de lados paralelos como única característica de classificação. A capacidade
para classificar agrupando objetos com um atributo comum pressupõe a abstração de
elementos, isolando-os da totalidade da experiência concreta, o que requer a
combinação da análise e da síntese.
Dessa forma, cuidar para que o processo de formação de conceitos na escola seja
caracterizado como um processo que possibilite a formação de sistemas de
conhecimento traz implicações educacionais que podem provocar mudanças qualitativas
para o processo ensino-aprendizagem e, por conseqüência, para o desenvolvimento
intelectual dos participantes desse processo.
...A APRENDIZAGEM E A INTERAÇÃO SOCIAL
Apropriar-se dos sistemas de conhecimento implica mediação do conhecimento,
o que se caracteriza como aprendizagem. Significa que o conhecimento como forma
culturalmente construída, passa a ser internalizado à medida que ocorrem interações
sociais, que podem se dar tanto entre as pessoas como entre as pessoas e os próprios
objetos de conhecimento.
A concepção de que a aprendizagem pode determinar o desenvolvimento mental,
ativando e desenvolvendo as funções psicológicas, remete-nos a uma questão que tem
feito parte das discussões relacionadas à educação, ou seja, o que é, de fato, a
aprendizagem? Como se dá esse processo? Como podemos verificar se houve
aprendizagem? E ainda, a partir disso, como podemos verificar se houve
desenvolvimento mental?
Essas questões teóricas provocam o educador no sentido de planejar situações
didáticas desafiadoras que proporcionem a interação entre os participantes do processo
ensino-aprendizagem. E quando, de fato, acontece um processo de ensino-
aprendizagem, novas formas de pensamento (mais evoluídas, mais avançadas) serão
geradas tanto por parte do aluno como por parte do professor.
As reflexões em torno daqueles questionamentos serão feitas à luz de autores
relacionados à psicologia histórico-cultural. Tomemos o exemplo do sistema de
numeração decimal. Para que haja a apropriação dos conhecimentos aí envolvidos como
um sistema de conhecimentos, várias funções serão colocadas em funcionamento inter-
relacionando-se e influenciando-se mutuamente. Por exemplo, será preciso analisar cada
situação proposta, comparar com outros sistemas de numeração, relacionar com o
conhecimento anterior, abstrair os traços fundamentais e isolá-los momentaneamente
dos secundários, fazer sínteses, fazer o movimento de ir do particular ao geral, do geral
ao particular, enfim, combinar todas essas operações mentais na busca da apropriação
dos significados compreendidos no sistema em questão. Esse processo será favorecido
pela interação social proporcionada em sala de aula, incluindo o discurso de cada aluno
na explicação ou defesa de suas idéias. Assim a mediação do conhecimento passa a se
dar na dinamicidade das relações que se fazem no processo ensino-aprendizagem, na
busca do professor e do aluno pelo entendimento, pela aprendizagem dos
conhecimentos que estão sendo veiculados.
O processo de aprendizagem ativando e desenvolvendo funções psicológicas, tais
como de análise, síntese, comparação, diferenciação, abstração e generalização, permite
que o aluno avance no seu desenvolvimento, atingindo novos níveis intelectuais.
....CONTEXTUALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO
Em educação, fala-se muito em contextualização como uma das preocupações dos
envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Na realidade, pode-se falar em
contextualização ou recontextualização (ressignificação). Uma das formas de
recontextualizar o conhecimento na escola pode ser através do estudo da história da
ciência, e aqui, especificamente, história da matemática. A contextualização, por sua
vez, pode dar-se, por exemplo, através de investigações feitas pelos participantes do
processo educativo - professor e aluno - que possam identificar e analisar os
conhecimentos que estão subjacentes às práticas sociais da comunidade escolar. Se, na
escola, tivermos consciência da dinâmica contextualização/descontextualização,
poderemos evidenciar outras formas alternativas de contextualizar/recontextualizar o
conhecimento na interação em sala de aula.
Miguel (1997) discute as potencialidades pedagógicas da história da matemática
mostrando que uma história da matemática pedagogicamente orientada, que se
caracteriza como uma história viva, humana, esclarecedora e dinâmica, pode constituir-
se como referência para uma prática pedagógica problematizadora. Também,
D’Ambrósio (1996, p. 10), ao discutir a história da matemática e educação, diz que uma
das finalidades principais da história da matemática, para alunos, professores, pais e
público em geral, é a de “situar a matemática como uma manifestação cultural de todos
os povos em todos os tempos, (...)”, além de “mostrar que a matemática que se estuda
nas escolas é uma das muitas formas de matemática desenvolvidas pela humanidade”.
Com essas concepções, os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam a história da
matemática como um “instrumento de resgate da própria identidade cultural”. Além
disso, pode constituir-se como fonte de esclarecimento de idéias matemáticas para o
aluno, respondendo os seus questionamentos contribuindo, assim, para uma análise mais
crítica do conhecimento (Brasil, 1997).
Outra forma de contextualização se refere à verificação do modo como o
conhecimento matemático está sendo utilizado em práticas sociais, principalmente nas
comunidades em que as escolas estão inseridas. Poder-se-ia, juntamente com os alunos,
fazer um estudo envolvendo algumas profissões nas quais os conceitos matemáticos são
utilizados, analisando para que e como são utilizados.
Na escola, juntamente com os professores, é importante que se discutam outras
formas de contextualização, que possam contribuir para a compreensão da dialética que
está subjacente ao conhecimento, ou seja, a matemática como objeto de conhecimento e
a matemática como ferramenta (Douady, 1996).
.....CLAREZA DE OBJETIVOS NAS ATIVIDADES PROPOSTAS
Levando em consideração o plano político pedagógico da escola, os professores
definem os objetivos das propostas de cada área. No caso específico da área de
educação matemática no ensino fundamental, a consciência que se tem das dificuldades
que os estudantes apresentam para apropriar-se dos sistemas de conhecimento exigem,
além da definição, a clareza de objetivos no processo ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, Perrenoud (2000) refere-se aos objetivos como um dos elementos
que intervêm no planejamento didático, na análise das situações e atividades
desenvolvidas e na avaliação da própria aprendizagem.
No processo ensino-aprendizagem, quando estamos tratando de um sistema
matemático, por exemplo, a primeira idéia que deveria estar clara para o professor para
que faça seu planejamento inicial se refere à compreensão do significado da palavra
sistema.
Quanto ao aluno, essa compreensão vai tomando forma à medida que ele vai
compreendendo as relações que existem entre os conceitos que formam o sistema.
Assim, por exemplo, a apropriação do significado do conceito de decímetro envolve a
compreensão da sua relação com o metro e com as demais unidades que compõem o
sistema de unidades de medida de comprimento. A compreensão de tais relações é que
permite ao aluno fazer uma síntese (Vygotsky, 1998), que envolve a compreensão da
própria base e faz com que o conjunto de ordens decimais forme o sistema. Por outro
lado, estabelecendo relação com o sistema de numeração decimal, tem-se o metro como
uma unidade particular. Dessa forma, o próprio sistema de unidades de medida de
comprimento pode ser considerado como um sistema particular do sistema de
numeração decimal, o que se caracteriza como uma nova síntese em termos de
conhecimento.
Nesse sentido, a compreensão das diferentes idéias que estão subjacentes a um
conceito e ao seu respectivo sistema é determinante para a apropriação do significado
dos conceitos científicos.
Finalizando, o ensino da matemática precisa estar apoiado em experiências agradáveis,
capazes de favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas, que, por sua vez,
conduzirão a uma melhor aprendizagem e ao gosto pela matemática.
Essa discussão teórica pode contribuir para o avanço da área de educação
matemática, tanto para a reflexão sobre os princípios que estão sendo levados em
consideração em cada escola como para propostas pedagógicas elaboradas com base na
definição ou redefinição de seus princípios.
INTRODUÇÃO AO CADERNO I
Este é o caderno 1 das Diretrizes Curriculares de Matemática. Ele se restringe ao
conteúdo do primeiro ciclo, ou seja, o Ciclo Inicial de Alfabetização que atende a
crianças de 6 a 8 anos.
Consultando o volume PCN/Matemática encontramos algumas observações sobre as
características dos alunos do 1o. ciclo, resumidas a seguir:
A participação das crianças nessa faixa etária tem um caráter bastante
individualista e isso as leva a não observar a produção dos colegas .
Cabe aos professores levá-las a socializar e compartilhar as experiências e com
isso reduzir o egocentrismo e a heteronomia.
As crianças, nas suas vivências e brincadeiras constroem estratégias para
resolver os problemas que enfrentam no seu cotidiano. Esses recursos criados
por elas serão considerados ponto de partida para a aprendizagem.
Utilizam representações próprias e estratégias particulares para comunicar; faz-
se necessário socializar e discutir com a turma essas representações mostrando
as suas diferenças e vantagens.
As ações são, no inicio, de ordem física e exigem, portanto, materiais
manipuláveis. Contudo, de forma progressiva, as crianças vão realizando-as
mentalmente e as ações são absorvidas e internalizadas.
Nessa fase, há uma forte relação entre a língua materna e a linguagem
matemática; se para a aprendizagem da linguagem escrita, o suporte é a fala,
na aprendizagem da matemática, a expressão oral desempenha um papel
fundamental.
Um outro aspecto a considerar e que é enfatizado nos Parâmetros Curriculares
refere-se à atuação do professor:
Ele deve considerar os conhecimentos das crianças, não classificados em
campos (numéricos, algébricos, métricos, etc), mas, sim interligados. A
classificação dos tópicos adotada nestas Diretrizes, em Número e Numeração,
Operações, Números Racionais, Grandezas e Medidas, Espaço e Forma, Tratamento da
Informação é, apenas para efeito didático, para que fiquem organizados facilitando a
leitura e a compreensão.
Esses conteúdos devem ser trabalhados pelo professor de uma forma articulada
e contextualizada para que se tornem significativos e facilitem a percepção de diferentes
relações entre si.
Os contextos usados pelo professor devem ser familiares às crianças, como por
exemplo, os relacionados na Matriz de Descritores do SAEB(2004) para avaliação dos
alunos em fase de conclusão do primeiro ciclo:
Contextos Exemplos
Contexto doméstico
Situações envolvendo:
Atividades de culinária, uso de instrumentos de medida, dados de
documentos pessoais, idades de familiares, contas, compras domésticas,
horários, jogos, ...
Contexto da vida em
sociedade
Localizações em mapas, utilização de meios de transporte, numeração de
casas , placas de carros, pesquisa de preços em supermercado, atividades
comerciais (compra, venda, preços), uso de instrumentos de medida,
lazer ( cinema, parques, passeios..) ...
Contexto da informação
Dados veiculados pela TV, jornais, revistas, cartazes, propaganda em geral,
rádio, horários da programação de TV.....
Contexto tecnológico
Uso de calculadora, banco, utilização de meios de transporte, telefonia, de
equipamentos de som e imagem, ...
Contexto ambiental
Contexto escolar
Economia de água e energia, preservação do meio ambiente, situações do
meio rural, problemas de saúde relacionados ao meio ambiente....
Horários de atividades, calendário escolar, cantina, dados relativos ao
espaço físico e ambiente escolar, número de alunos por turno, por nível, por
classes, material escolar, boletim, ...
Contexto da matemática
Conceituação, formalização, generalização, sistematização, estabelecimento
de relações, procedimentos e técnicas, ...
Os conteúdos aparecem neste caderno em blocos, assim organizados: 1. Número,
numeração; 2. Sistema de Numeração Decimal; 3. Operações com números
naturais; 4. Espaço e Forma; 5. Grandezas e Medidas; 6. Tratamento da Informação.
Cada tópico é aberto por “Inicio de conversa” em que é feita uma pequena
introdução ao assunto.
Aparecem no decorrer da exposição algumas janelas estrategicamente abertas, para
inserir momentos chamados de “Flash em sala de aula” vivenciados nas escolas,
durante a segunda etapa de elaboração deste documento.
Também são incluídas outras janelas para o “Dialogando com os PCNs”, onde há
inserções de textos desses Parâmetros e alguns comentários sobre eles.
Os conteúdos são considerados nessas Diretrizes, não como um fim em si
mesmo, mas um meio indispensável para o desenvolvimento das capacidades dos
alunos. Propostas curriculares que tem uma concepção “transmissiva” destacam o papel
da transmissão de conhecimentos e conferem uma importância considerável à
aprendizagem de determinados conteúdos específicos, destacando a influência educativa
do professor.
Neste caderno, a concepção cumulativa de aprendizagem é substituída por
outra, a concepção baseada na aprendizagem significativa.
O que importa, conforme afirma Coll, Pozo, Saraiba & Valls (2000: 14),
...“é que os alunos possam construir significados e atribuir
sentido àquilo que aprendem. Somente na medida em que se
produz este processo de construção de significados e de atribuição
de sentido se consegue que a aprendizagem de conteúdos
específicos cumpra a função que lhe é determinada e que justifica
a sua importância: contribuir para o crescimento pessoal dos
alunos, favorecendo e promovendo o seu desenvolvimento e
socialização.”
Portanto, os conteúdos aqui são tratados como canais através dos quais as crianças
desenvolvem suas capacidades e exercitam sua maneira de pensar, ser e sentir, de modo
a ampliar a sua percepção de mundo e constituir-se um instrumento para a compreensão
da realidade. Abrangem fatos, conceitos, princípios (conteúdos conceituais), e, também
vivências e experiências que propiciem a utilizar determinados procedimentos e
comportamentos (conteúdos procedimentais) , permeados a atitudes, valores e normas
(conteúdos atitudinais).
Os conteúdos conceituais referem-se à construção de idéias, imagens e
representações (capacidade de operar com símbolos).
Os procedimentais compreendem o “saber fazer” e estão relacionados à capacidade
da criança de construir estratégias e instrumentos e estabelecer direções que lhe
permitem executar suas ações.
Os conteúdos atitudinais envolvem as atitudes, valores e princípios e estão inseridos
no trabalho com os demais conteúdos.
, transcrevemos dos Parâmetros Curriculares/Matemática, o trecho:
DIALOGANDO COM OS PCNs
No 1o. ciclo é importante que o professor estimule os alunos a desenvolver
atitudes de organização, investigação, perseverança. Além disso, é fundamental que
eles adquiram uma postura diante de sua produção que os leve a justificar e validar
suas respostas e observem que situações de erro são comuns, e a partir delas também
se pode aprender. Nesse contexto, é que o interesse, a cooperação e o respeito para
com os colegas começa a se constituir.
Este ciclo tem, como característica geral o trabalho com atividades que
aproximem o aluno das operações, dos números, das medidas, das formas e espaço
e da organização de informações, pelo estabelecimento de vínculos com os
conhecimentos com que ele chega à escola. Nesse trabalho, é fundamental que o
aluno adquira confiança em sua própria capacidade para aprender matemática e
explore um bom repertório de problemas que lhe permitam avançar no processo de
formação de conceitos. ( p.69, 70)