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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE PEDAGOGIA
ROSA AMÉLIA ALVES DE ABREU
BULLYING: O PAPEL DO EDUCADOR E A REALIDADE NAS ESCOLAS –
UM ESTUDO INTRODUTÓRIO.
FORTALEZA/CE
2013
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ROSA AMÉLIA ALVES DE ABREU
BULLYING: O PAPEL DO EDUCADOR E A REALIDADE NAS ESCOLAS –
UM ESTUDO INTRODUTÓRIO.
Monografia submetida à aprovação da coordenação
do Curso de Pedagogia do Centro Superior do Ceará,
como requisito parcial para obtenção do grau de
Graduação, sob orientação do Professor Especialista
Carlos Alberto Ferreira Junior.
FORTALEZA/CE
2013
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
A162b Abreu, Rosa Amélia Alves de
Bullying: o papel do educador e a realidade nas escolas – um
estudo introdutório. / Rosa Amélia Alves de Abreu. Fortaleza -
2013
52f. Orientador: Prof.ª Esp. Carlos Alberto Ferreira Junior.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Pedagogia, 2013.
1. Bullying - fenômeno. 2. Ambiente escolar. 3. Violência
na escola. I. Ferreira Junior, Carlos Alberto. II. Título
CDU 374
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Ofereço este trabalho aos meus pais e a minha
família, por terem me ajudado a concluir mais esta
jornada na minha vida, e agradeço a Deus por ter me
concedido a oportunidade de lutar por um futuro
melhor.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço antes de tudo a Deus por esta oportunidade conquistada, e também por me
ajudar, me dar forças e me guiar ao longo da caminhada.
A todos da minha família, por acreditarem em minha capacidade e me incentivarem
sempre.
Às minhas amigas da Faculdade, que estiveram presente durante esta caminhada e que
contribuíram de alguma forma para concretização deste momento.
Aos professores de toda a minha trajetória escolar e universitária, que contribuíram para
que este momento se realizasse.
Ao meu orientador, Carlos Perdigão, pelas aprendizagens, profissionalismo e dedicação
destinada à realização desta monografia.
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“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da
sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se
podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a
amar”.
Nelson Mandela
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RESUMO
O bullying é um fenômeno que pode acontecer em diferentes ambientes, mas é um fato
que vem acontecendo em muitas escolas, entretanto não é dada real relevância à
temática, podendo-se inferir que seja por falta do dano causado por esta infração à
pessoa que recebe. Este fenômeno é caracterizado por danos morais, físicos e
psicológicos entre estudantes, sem qualquer motivo aparente, envolvendo agressão
verbal, física e psicológica. As pessoas envolvidas podem ser classificadas em vítima,
agressor ou testemunhas. Tratar do bullying no ambiente escolar implica adotar
estratégias preventivas que envolvam os alunos, pais e professores. Em tal contexto, o
objetivo desta pesquisa é compreender e levar uma visão diferenciada sobre o fenômeno
a ponto de conscientizar os leitores da gravidade do problema. Os dados coletados
foram realizados através de pesquisa bibliográfica, com a utilização de livros, artigos e
também com o auxílio da Internet. Com base nas pesquisas percebe-se a necessidade
dos profissionais estarem cientes sobre o assunto, reduzindo-se assim os possíveis casos
de violência na escola.
Palavras-chave: bullying, fenômeno, ambiente escolar, violência na escola.
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ABSTRACT
Bullying is a phenomenon that can occur in different environments, but is a problem
that has been happening in many schools, but few are aware of its existence and of the
serious consequences of cruel and intimidating acts that it can cause. This phenomenon
is characterized by the action of imposing no apparent reason among students, which
involves verbal, physical and psychological aggression. The people involved can be
classified into a victim, perpetrator or witness. Dealing with bullying in the school
environment implies adopt preventive strategies that involve students, parents and
teachers. The objective of this research is to understand and take a different view on the
phenomenon about to educate readers on the severity of the problem. The collected data
was performed through a literature review, with the use of books, articles and the
Internet. Based on research realizes the need for professionals to be aware on the subject
thus reducing incidents of violence at school.
Keywords: bullying, phenomenon, school environment, school violence.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABRAPIA Associação Brasileira de Multiprofissionais de Proteção à Criança e ao
Adolescente.
DCA Delegacia Municipal de Educação.
SME Secretaria Municipal de Educação.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 15
2.1 O que é o bullying? ............................................................................................... 15
2.2 O cenário do bullying ............................................................................................ 18
2.3 As razões do bullying ........................................................................................... 19
2.4 As consequências do bullying ............................................................................... 20
2.5 Os personagens do bullying: agressor, vítima e testemunhas ............................... 21
2.5.1 Agressor ............................................................................................................. 21
2.5.2 Vítima..................................................................................................................22
2.5.3 Testemunhas ...................................................................................................... 24
2.6 Como os professores devem lidar com o bullying ................................................ 26
3 CASOS REAIS DE BULLYING: UMA FORMA DE ESCLARECER
O FENÔMENO. ............................................................................................................. 29
4 CONSCIENTIZAÇÃO E PREVENÇÃO DIANTE DO FENÔMENO BULLYING NA
ESCOLA – PROGRAMAS ANTIBULLYING NO MUNDO E NO BRASIL ............... 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 51
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1 INTRODUÇÃO
Esta monografia foi formulada com o intuito de mostrar a realidade sobre o
bullying através de pesquisas bibliográficas. Os casos deste fenômeno ocorrem nas
escolas do mundo todo.
Sobre o tema, Chalita afirma:
A palavra bullying é verbo derivado do adjetivo inglês bully, que significa
valentão, tirano. É um termo que designa o hábito de usar a superioridade
física para intimidar, tiranizar, amedrontar e humilhar outra pessoa. A
terminologia é adotada por educadores, em vários países, para definir o uso
de apelidos maldosos e toda forma de atos desumanos empregados para
atemorizar, excluir, humilhar, despregar, ignorar e perseguir os outros.
(CHALITA, 2008, p. 81).
O bullying não deve ser exclusivo de uma escola, e é sabido que fatores
econômicos, sociais e culturais contribuem para sua manifestação, causando trauma no
desenvolvimento de crianças e adolescentes. (Lopes Neto, 2005).
Atualmente, as questões que envolvem o tema têm motivado numerosas
discussões e reflexões por parte dos educadores de várias partes do mundo. Há um
clima de espanto diante das atitudes cruéis que ferem direta e indiretamente o indivíduo,
e que refletem na sociedade.
O bullying não é algo recente, contudo, tem se intensificado nos últimos
tempos devido aos casos que são noticiados em jornais e revistas. Ele parte do
preconceito e, independentemente de sua denominação, leva as pessoas a julgarem as
outras com base em diversos fatores: sociais, econômicos, linguísticos, e igualmente
relacionados à aparência física, opção sexual, cor etc.
No espaço escolar é um fenômeno complicado de identificar, pois muitas
vezes é banalizado e confundido como indisciplina. Ele, portanto, exige por parte da
gestão presença constante, pois normalmente as vítimas são aterrorizadas em áreas da
escola com pouca ou nenhuma supervisão. Esta é uma estratégia utilizada pelo agressor
para desanimar a vítima em relatar o ocorrido, ou que passe muito tempo até que
alguém perceba, tempo suficiente para causar dor e vários danos físicos e psicológicos
na vítima, e um período mais que suficiente para virar notícia nos jornais.
Pensar em intervenção é muito mais que oferecer ajuda à vítima e punir o
agressor, até porque na maioria dos casos o agressor também é vítima em outros
contextos. Em tal perspectiva, uma questão se impõe: será que os educadores estão
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preparados para dar suporte às vítimas, prevenindo e oferecendo o apoio nos casos de
ocorrências de bullying?
Assim, motivada por tais inquietações, a autora desta monografia se propôs
a pesquisar acerca do bullying no âmbito escolar realizando uma pesquisa bibliográfica,
uma vez que é importante descobrir os conhecimentos que os docentes têm a respeito de
um tema tão presente no cotidiano das escolas, e tão distante das preocupações dos
profissionais em seu dia a dia escolar. Em tal contexto este estudo deseja chamar
atenção para este tipo de violência presente em diversas escolas, e envolvendo número
elevado de alunos.
Metodologicamente, esta monografia se caracteriza por ser uma pesquisa
bibliográfica. A principal vantagem desta modalidade de estudo diz ao fato de que,
como informa José Carlos Köche, em Fundamentos de Metodologia Científica:
A pesquisa bibliográfica é a que se desenvolve tentando explicar um
problema, utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias
publicadas em livros ou em obras congêneres. Na pesquisa bibliográfica o
pesquisador irá levantar o conhecimento disponível na área, identificando as
teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para auxiliar a
compreender o problema objeto da investigação. (1997, p.122).
O objetivo geral deste trabalho, por sua vez, é contribuir positivamente para
os envolvidos direta e indiretamente no problema no contexto escolar, podendo
despertar um olhar diferenciando diante dos casos de bullying. Assim, visa analisar a
compreensão do educador quanto ao tema; e para esta finalidade três objetivos
específicos foram traçados: investigar a opinião e entendimento dos educadores sobre o
bullying; comparar o processo de intervenção nas escolas; e, por fim, verificar as
estratégias que utilizam para lidar com o bullying.
Acrescente-se ainda que este estudo se faz necessário, e neste ponto reside a
sua importância, pois se trata de um fenômeno que vem crescendo ao longo do tempo.
Segundo Ramos Leão:
O bullying é considerado um fenômeno global, pois os índices da prática
desse fenômeno são crescentes. Através de pesquisas, houve a constatação
que, das crianças entre 6 (seis) e 10 (dez) anos de idade, 11% (onze por
cento) diziam ser vítimas e 13% (treze por cento) mencionavam casos de
bullying. (RAMOS LEÃO, 2010, P. 119).
Assim, por ser um tema de urgência social global é que se faz mister
desenvolver mais pesquisas, precisando-se, portanto, de mais análises sobre ele, como
este trabalho acadêmico. Afinal, a violência praticada nas escolas por estudantes vêm a
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cada dia deixando de ser brincadeiras inocentes e se transformando em um problema
grave e difícil de solucionar.
Em sua estrutura, o presente trabalho divide-se assim: o primeiro capítulo
apresenta o embasamento teórico em torno da origem, do cenário, das razões, das
consequências e dos personagens. O segundo capítulo, por sua vez, desenvolve e analisa
alguns casos reais de bullying como forma de esclarecer o fenômeno. Já o terceiro
aborda os programas antibullying realizados mundialmente, inclusive no Brasil, como
uma forma de intervir e solucionar casos deste fenômeno.
Este trabalho também faz um estudo comparativo com pessoas que já
sofreram o problema. Esta comparação realiza-se através de livros que nos relatam
casos reais de pessoas midiáticas como atletas, cantores, atores que sofreram esse tipo
de agressão quando crianças e hoje contam como fizeram para superar. O objetivo
central desta parte do estudo é mostrar o bullying como algo cruel, mas não impossível
de ser superado.
Como sustenta Chalita (2008), este fenômeno é uma violência que acontece
de forma verbal ou física, isso chega até à escola, um ambiente de construção de
conhecimento. Ele leva crianças e adolescentes a se afastarem dos estudos apresentando
as mais diversas desculpas. Além disso, o medo leva-as a constantes mudanças de
escola, e os pais muitas vezes não têm a sensibilidade de entender o que está
acontecendo. Assim, acabam agravando ainda mais o problema. Em todo o quadro, um
indivíduo que sofre o bullying pode tornar-se futuramente uma pessoa violenta,
potencializando assim as agressões que sofrera no passado.
Aprofundando o tema, faz se necessário conceituar tal fenômeno. Gabriel
Chalita (2008, p.14) diz que o bullying é a negação da amizade, do cuidado, do respeito.
Para Silva (2010, p. 21), por sua vez, é o comportamento agressivo no âmbito da escola.
Já Moreira (2010, p. 31) o conceitua como assédio moral.
As causas desse tipo de comportamento são inúmeras e variadas, desde a
carência afetiva, a ausência de limites aos maus-tratos e explosões emocionais violentas
desempenhadas pelos pais. (FANTE, 2005). Durante a existência do problema, o
agressor tem um comportamento provocador e de intimidação permanente, e
normalmente ele procura um alvo no qual tem pouca empatia. Assim, ele só resolve
seus problemas de forma agressiva, tendo dificuldade de se colocar no lugar do outro.
Além disso, o relacionamento com a família por parte de tal personagem é, na maioria
das vezes, pouco afetivo. (RAMIREZ, 2011).
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As vítimas servem de “bode expiatório” para o agressor ou grupo, não
dispondo de habilidades para reagir e sendo prejudicadas por ameaças e agressões.
Além disso, conforme pesquisas mostram, geralmente as pessoas que sofrem bullying
são pouco sociáveis e frágeis, e muitas vezes não revidam por vergonha ou por se
conformarem com aquele tipo de agressão. (RAMIREZ, 2011).
Também durante a ocorrência do fenômeno em foco, o expectador é aquele
que participa indiretamente, vê as agressões mas não toma nenhuma iniciativa, por
medo de ser a “próxima vítima”, tornando-se assim inseguro e temeroso. (RAMIRES,
2011).
Encarar a violência não é uma tarefa fácil, pois se trata de um fenômeno
social, e sozinha a escola não consegue reverter esta situação, precisando assim do
apoio e compromisso da família para que venha a oferecer oportunidades de mudanças
significativas relacionadas à prevenção e intervenção nos casos de ocorrência deste
problema. Em tal retrato situacional, entretanto, é preciso entender que não se deve
generalizar, e sim saber interpretar os casos de violências nas escolas, caso contrário
pode-se banalizar e legitimar as ocorrências de bullying.
Sobre isso: o estudo em foco tem como um dos objetivos esclarecer e
aprofundar pesquisas em torno do tema. Nessa perspectiva, esta monografia
compreende ser este percurso uma possível contribuição para o campo da ciência, haja
vista a crescente ocorrência do fenômeno nos espaços escolares e em diferentes
segmentos. Reforça este quadro a presença do fenômeno no entorno da violência
urbana, demandando atenção por parte da Academia.
Em torno do recorte, e objetivando esclarecimentos maiores, espera-se que
esta pesquisa possa contribuir explicando o fenômeno bullying nas escolas, além de
motivar e promover reflexões a respeito do tema.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O que é o bullying?
Na visão de Lopes Neto (2005), a agressividade é um problema geral, e
quando se trata de violência escolar o problema é universal. Nessa perspectiva o
bullying representa diferentes tipos de envolvimentos em situações de violência na
infância e adolescência.
Sobre isso, Lopes Neto (2005, p. 165) afirma:
O termo “violência escolar” diz respeito a todos os comportamentos
agressivos e antissociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao
patrimônio, atos criminosos etc. Muitas dessas situações dependem de fatores
externos, cujas intervenções podem estar além da competência e capacidade
das entidades de ensino e de seus funcionários. Porém, para um sem número
delas, a solução possível pode ser obtida no próprio ambiente escolar.
Ainda na visão do mesmo autor:
O bullying diz respeito a uma forma de afirmação de poder interpessoal
através da agressão. A vitimização ocorre quando uma pessoa é feita de
receptor do comportamento agressivo de outra mais poderosa. Tanto o
bullying como a vitimização têm consequências negativas imediatas e tardias
sobre os envolvidos: agressores, vítimas e observadores. (LOPES NETO,
2005, p.165).
Na visão de Nogueira (2003), pode-se diferenciar a violência “da” escola e a
violência “na” escola. No primeiro caso, são ações que nascem no ambiente
pedagógico. Já no segundo, decorre da situação de violência social que atinge a vida dos
estabelecimentos, ou vice-versa, mostrando-se no espaço escolar em formas de brigas,
agressões físicas, humilhações, discriminações etc.
Fante (2005) por sua vez, afirma que:
O fenômeno do bullying já está na escola há muito tempo, porém de forma
oculta e sutil, que passa despercebida ao professor, pois a maioria das
agressões acontece longe dos adultos, tornado-se desconhecido aos olhos dos
profissionais da escola. (p. 29).
Na concepção de Teixeira (2011), o bullying é um fenômeno antigo entre
estudantes, mas foi a partir das pesquisas de Dan Olweus, no início da década de 1970,
que o problema passou a ser estudado com maior relevância. Contudo, a atenção da
população sobre o assunto ocorreu uma década depois, em 1982, após um trágico
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acontecimento que repercutiu nos noticiários da Noruega, no qual três jovens entre 10 e
14 anos de idade cometeram suicídio após sofrerem bullying na escola que estudavam.
As investigações apontaram como principal motivo para a tragédia situações de maus
tratos na escola a que eles eram submetidos.
De acordo com Silva (2010), Dan Olwues, pesquisador da Universidade de
Berger, na Noruega, é pioneiro no estudo da violência no ambiente escolar.
Historicamente, é sabido que ele iniciou estudos com alunos, professores e pais com o
objetivo de avaliar as taxas de ocorrência pelas quais o bullying se manifestava na vida
escolar das crianças e adolescentes de seu país. Ao final de suas pesquisas, ele constatou
que um em cada sete alunos encontrava-se envolvido em casos de bullying, como vítima
ou como agressor.
Ainda, como relata Silva (2010, p. 112), os estudos de Dan Olwues deram
início a um programa de intervenção antibullying com os seguintes objetivos:
a) Aumentar a conscientização sobre o problema para desfazer mitos e ideias
erradas sobre o bullying;
b) Promover apoio e proteção às vítimas contra esse tipo de violência escolar.
De acordo com Chalita (2008), quem nunca foi “zoado” na escola, com
“risadinhas”, apelidos, “fofocas”? Todos passaram por isso em um determinado
momento de nossas vidas, sejam como testemunhas ou como autores ou vítimas desses
tipos de ocorrências. Contudo, essa rotina de comportamentos hostis geralmente é
considerada normal pelos pais, alunos e educadores, mas infelizmente está longe de ser
inocente.
Chalita sustenta:
O bullying é um comportamento ofensivo, aviltante, humilhante, que
desmoraliza de maneira repetida, com ataques violentos, cruéis e maliciosos,
sejam físicos, sejam psicológicos. É um problema universal, uma epidemia
invisível admitida com naturalidade em alguns casos, desvalorizada em
outros e, na maioria das vezes, ignorada. (CHALITA, 2008, p. 82).
Por sua vez, de acordo com Gomes e Sanzovo (2013, p. 18-19):
O termo bullying não se trata de uma violência qualquer; assim, ele é
entendido em torno de diversas formas de atitudes agressivas, intencionais e
repetidas que ocorrem sem motivos aparentes, conduzido por uma pessoa
contra outra, e causando angústia e sofrimento.
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Essa forma de violência, que segundo a literatura especializada,
normalmente envolve colegas da mesma sala, pode se classificar de maneira direta e
indireta.
De acordo com Chalita (2008), o bullying direto é o mais comum e o mais
praticado entre os meninos. As atitudes mais frequentes são os xingamentos, agressões
físicas e apelidos ofensivos e repetitivos.
Carlos, um menino de 13 anos, não era considerado muito bom no futebol.
Por ser obeso, não tinha velocidade nem fôlego para acompanhar as partidas
e passou a ser motivo de “chacota” dos considerados “craques”. Mesmo sob a
supervisão de um professor, Carlos levava tapinhas na cabeça toda vez que
perdia uma bola durante o jogo. Com o tempo, as agressões degradantes
tornaram-se frequentes e aconteciam mesmo sem o suposto motivo.
Decidido a não participar mais das partidas, começou a ser chamado de
“menininha” e de gay pelos colegas. De “gordo sujo”, apelido que ganhou
porque suava muito quando corria, passou a ser conhecido na escola por
“gordinha fedida”, que motivava risadas debochadas de meninos e meninas.
Por várias vezes, teve sua cueca puxada por trás, apertando sua genitália.
Essa desmoralização se estendeu até o dia em que o menino saiu da escola.
Dizem que a família saiu da cidade. Talvez Carlos nunca mais tenha jogado
futebol. Talvez tenha emagrecido. Mas, certamente, carrega consigo as
marcas desse período perverso de sua vida. (CHALITA, 2008, p. 82-83).
Ainda na visão de Chalita (2008), o bullying indireto é a forma mais comum
entre as meninas e as crianças menores. Destaca-se basicamente por ações que isolam a
vítima socialmente. O artifício utilizado são as difamações, “fofocas”, intrigas. Nesse
sentido, a Internet costuma ser eficaz na prática do bullying indireto, pois espalha com
rapidez comentários cruéis e maliciosos. Como sustenta o mesmo autor:
Bianca, aos 13 anos, foi perseguida por uma colega de classe. A novidade é
que ela e a tal colega costumavam andar juntas a ponto de frequentarem,
algumas vezes, uma a casa da outra. As agressões começam, quando Bianca
começou a namorar um garoto de quem, pelo que tudo indica, sua colega
gostava. Foi o princípio do pesadelo. Primeiro foram os rumores maliciosos,
espalhados pela menina, de que Bianca era uma “galinha”. Risadinhas de
canto e sussurros a mantiveram isolada da turma. Até ai eram ofensas
divulgadas somente na escola. Então começaram os blogs e os fotoblogs,
com montagens de cenas eróticas em que o rosto de Bianca aparecia a um
corpo nu e muitas vezes fazendo sexo. Em questão de uma semana, garotos e
garotas das escolas da região já conheciam a fama de Bianca. Desesperada,
sua mãe recorreu à escola, que disse não ter como impedir algo que
extrapolou os muras da instituição. A mãe, então, decidiu ir à casa da menina
difamadora e conversar com seus pais. Chocados com o que viram e ouviram,
acolheram toda a dor e angústia da família e prometeram tomar uma atitude,
mesmo diante da filha, que negava a autoria das agressões. Dias depois, a
menina foi à casa de Bianca se desculpar. Quanto ao namoro, não deu certo.
Já a suposta amizade, também foi rompida. Colocadas em classes distintas
nos anos seguintes, ambas passaram a se ignorar. Separadas pelo tempo,
nunca mais se viram ou se encontraram. E quanto ao trauma, só o tempo será
capaz de dizer. Certamente não foi agradável para Bianca ser destruída em
sua integridade moral. Mesmo que a amiga tenha pedido desculpas, isso não
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apaga o trauma. Pedidos de desculpas são importantes, mas às vezes tardios.
(CHALITA, 2008, p. 83-84).
2.2 O cenário do bullying
De acordo com Feitosa (2011), o cenário mais frequente é a escola, onde os
mais atingidos são os que não estão enquadrados nos padrões estabelecidos pelo grupo.
O que não pode ser esquecido é que a prática do fenômeno pode ocorrer em
qualquer ambiente onde haja relações entre pessoas, ou seja, no trabalho, na Internet,
em casa etc. O principal fator é saber diferenciar as ações praticadas como normais ou
repetitivas e direcionadas a uma mesma pessoa, deixando-a exposta a humilhações.
Na escola, o problema pode ser confundido como brincadeira de criança.
Chalita (2008) afirma que muitas vezes as ações podem estar camufladas como típicas
de indisciplina, exigindo-se assim uma maior atenção, pois muitas vezes as agressões
acontecem nas áreas externas, ou onde não há nenhuma supervisão.
Sobre tal contexto, afirma Teixeira (2011,p. 24):
O grande palco dessa tragédia é a própria sala de aula, seguido pelo pátio do
recreio escolar, além das imediações da escola, durante o período de chegada
e saída dos alunos.
Existe também o bullying na Internet, mais conhecido como cyberbullying,
que são agressões virtuais. O mais perigoso nestes casos, segundo ele, é o anonimato do
agressor, que cria perfil falso para atacar a vítima.
De acordo com Teixeira (2011), o cyberbullying é a versão multimídia da
violência escolar. Segundo ele, pode ser considerada a mais perigosa e traiçoeira da
violência na escola, pois tem características mais cruéis. Explica-se: as agressões são
anônimas, permitindo assim que um número maior de crianças e adolescentes se tornem
agressores ou vítimas. Existem vários tipos de cyberbullying: bullying direto, criação de
websites, impersonalização, fórum de discussão, postagem de vídeos e fotos.
Segundo Silva (2010), os praticantes do cyberbullying utilizam todos os
meios que a tecnologia oferece, como: MSN, Orkut, Facebook, Twiter, Blogs, E-mails...
Através desses recursos inventam mentiras, atos pejorativos, espalham boatos e
qualquer pessoa pode ser vítima, dentre alunos e até mesmos pais e os profissionais das
escolas. Os agressores criam perfis falsos, passando-se por outra pessoa, e chegam a
criar páginas nas redes sociais somente para atacar.
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2.3 As razões do bullying
De acordo com Fante (2005), as razões das atitudes agressivas são inúmeras.
Elas vão desde a carência afetiva até a violência desempenhada pelos pais. Porém, seus
estudos constataram que 80% dos identificados como agressores disseram sentir
necessidade de reproduzir contra maus-tratos sofridos.
Em tal retrato situacional, portanto, é de extrema importância que os
educadores saibam identificar e diferenciar o perfil do agressor, uma vez que podem
existir vários tipos de motivações para as agressões.
Ramirez (2011, p. 154) relata que as causas mais comuns são:
a) Modelos educativos a que foram submetidos;
b) Ausência de valores, limites e regras de convivência;
c) Punição através de violência (castigo físico e intimidação);
d) Exposição à violência (psicoadaptação);
e) Registro automático de memória.
É entendido que muitos agressores se comportam de tal forma por falta de
limites educacionais e familiares. E, muitas vezes, a própria vítima, por não suportar as
agressões, acaba reagindo com a mesma forma violenta da qual sofre. Portanto, o
comportamento violento em casa dos pais pode vir a ocasionar nos filhos traumas,
sendo assim reproduzido na rua, ou na escola.
Didaticamente, e de acordo com Teixeira (2011, p. 51-52) tal situação
familiar:
Trata-se de um modelo de aprendizagem por espelhamento. Se a criança
convive com pais pouco afetuosos e que demonstram um padrão de
comportamento que preza a violência e a agressividade como estratégias de
resolução de problemas, ela assumirá esse comportamento aprendido com os
pais.
Ainda sobre tal contexto, segundo Fante (2005), o grau de sofrimento da
vítima poderá conceber pensamentos de vingança e suicídio, ou manifestar tipos de
comportamentos agressivos, prejudicando a si mesmo e a sociedade.
De acordo com Gomes e Sanzovo (2013), as possíveis razões podem ser
classificadas como individuais - que partem de influências físicas, ou contextuais - que
partem das influências sociais. No primeiro caso, assim são denominadas por estar
internamente relacionada ao indivíduo, podendo fazer parte em um determinado período
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da vida ou não. Já os fatores contextuais dizem respeito a qualquer tipo de influência
social.
2.4 As consequências do bullying
Segundo Teixeira (2011), as consequências para os agressores e vítimas do
bullying são devastadoras. As violências sofridas podem ser irrecuperáveis e os danos
causados são em longo prazo. E para os agressores as chances de se envolverem com
drogas, com o álcool e na criminalidade são bem maiores.
Ramirez (2011, p. 155) relata que as consequências para as vítimas são:
a) Baixa autoestima;
b) Passividade;
c) Transtornos emocionais;
d) Problemas psicossomáticos;
e) Depressão;
f) Tentativa de suicídio.
De acordo com o mesmo autor as consequências para os agressores são:
a) Dificuldades de convivência;
b) Atitudes autoritárias;
c) Atitudes delinquentes ou criminosas.
Sobre a conjuntura em foco, Teixeira (2011, p. 57) relata a seguinte história:
Em 1999, dois jovens americanos Eric Harris e Dylan Klebold, vítimas de
bullying e cansados das humilhações recebidas na escola durante anos,
invadiram fortemente armados a Columbine High School, em Littleton,
Estado do Colorado, e, após matar 12 alunos, um professor e ferir dezenas de
outros estudantes, cometeram suicídio na cafeteria da escola.
Tal exemplo sinaliza que a realidade do problema está inserida no contexto
escolar e que suas consequências podem ser irrecuperáveis e fatais. E vale ressaltar que
o sofrimento acumulado pelos estudantes não se limitou somente aos seus agressores, e
sim a professores e alunos que, como testemunhas oculares, nada fizeram para
modificar tal realidade.
Chalita (2008) aprofunda o tema ao afirmar que as vítimas passam a ser
vilões por não suportarem mais os maus tratos sofridos, passando - assim - a ser
alimentadas pela raiva reprimida. A partir de então, passam a ter desejos de destruir a
21
escola, e de tornar-se lembrada de alguma forma. O resultado: todos se tornam vítimas
da violência.
Sobre o quadro, ainda relata Chalita a seguinte narrativa (2008, p. 143):
Em 1997, o estudante de 13 anos Vijay Singh escreveu em seu diário:
“Segunda-feira, lanche e dinheiro tomados a pauladas. Terça, bicha e chinês.
Quarta, uniforme retalhado à faca. Quinta, sangue a jorros do nariz. Sexta,
nada. Sábado, liberdade”. Sábado foi o dia em que o estudante se enforcara
em casa com um lençol de seda. A tragédia aconteceu na cidade de
Manchester, na Inglaterra.
Neste caso, o impulso da violência sofrida levou o jovem ao seu limite
extremo. A sinalização é de que ele perdeu o sentido da vida, achando como solução
acabar com ela. Objetivamente: as consequências do bullying podem vir ferir a todos,
desde quem sofre como quem convive com essa violência, como a família, amigos e
demais pessoas relacionadas à vítima.
2.5 Os personagens do bullying: agressor, vítima e testemunhas
São vários os personagens envolvidos no bullying, e identificá-los é
fundamental, algo que precisa de bastante cuidado para não rotular os estudantes,
condenando-os, o que acabaria também em violência.
Os protagonistas deste fenômeno podem diferenciar-se em quem maltrata,
quem sofre e quem assiste, e é necessário saber caracterizar os envolvidos nesta
realidade.
2.5.1 Agressor
De acordo com Silva (2010), o agressor ou bullies pode ser de qualquer
sexo, com características na personalidade como maldade e liderança, muitas vezes
obtida através da força física ou de assédio psicológico. Apresenta repugnância às
regras, não aceita ser contrariado e geralmente está envolvido em pequenos delitos,
como vandalismo e destruição ao patrimônio público ou privado.
Nomeiam-se os autores do bullying às pessoas que fazem as agressões e que
normalmente estão envolvidos em atos violentos e de delito.
Segundo Chalita (2008, p. 86):
22
Os agressores, normalmente, são alunos populares, que precisam de plateia
para agir. Reconhecidos como valentões, oprimem e ameaçam suas vítimas
por motivos banais, apenas para impor autoridade. Sentem-se realizados e
reconhecidos com o efeito.
Na visão de Lopes Neto (2005), por sua vez, o contexto familiar adverso
contribui para a agressividade nas crianças. Pode-se relacionar o excesso de tolerância
ou permissão e a prática de maus tratos entre os pais ou entre pais e filhos,
desencadeando, assim, um comportamento agressivo na escola.
Um levantamento realizado pela ABRAPIA (2002-2003) revelou em onze
escolas do Rio de Janeiro que 40,5% dos estudantes admitiram estar envolvidos em atos
de bullying, sendo que 12,7% eram autores desta violência.
Sobre tal contexto, Silva (2010, p. 44) relata:
Alberto sempre foi um menino difícil e diferente das outras crianças. Desde
muito cedo, seus pais perceberam que ele era muito mais levado do que uma
criança normal. Extremamente desafiador, bastava ser contrariado que partia
para travessuras perigosas. Certo dia, ao ser repreendido pela mãe, não
vacilou: enquanto ela estava distraída, chamou o irmão mais novo e, na frente
dele, ligou a torradeira e colocou a pata do cachorrinho da família ali dentro.
Enquanto o animalzinho gemia de dor e o irmão chorava diante da cena,
Alberto ria e caçoava: “Deixa de ser babaca, seu imbecil! Tá parecendo uma
menininha mimada!” Seus pais gritaram com Alberto e deixaram-no de
castigo no quarto pelo resto do dia. Calculadamente o garoto desmontou um
apontador de lápis e fez da lâmina uma navalha improvisada. Retalhou o
colchão do irmão mais novo, durante o período de castigo. Naquela época,
Alberto ainda não havia completado 11 anos, e essas atitudes tão requintadas
eram, no mínimo, preocupantes. Inteligente, sem dúvida, nos colégios
Alberto nunca apresentou problemas de repetência, mas era briguento,
irrequieto, indisciplinado e displicente. Sentava-se no fundo da sala e contava
com uma turminha que o admirava e fazia o que o “mestre” mandava: xingar,
bater e intimidar os mais frágeis, de forma sistemática, dentro da sala de aula,
no pátio ou nos corredores do colégio. Com 16 anos, o adolescente já fazia
arruaças nas ruas, em companhia de sua “gangue”, para se divertir:
aterrorizava as pessoas, chutava as portas das lojas, agredia os mendigos que
dormiam debaixo das marquises. Tudo isso, é claro, regado de doses de
bebidas e drogas. Suas notas na escola decaíram, as faltas eram constantes e
transtornos causados ali dentro eram de arrepiar qualquer um. Certo dia
virou-se para o pai e disse: “Cansei de “brincar” de estudar, não tô mais
afim”. Alberto tornara-se um delinquente e ninguém mais tinha controle
sobre seus atos.
Casos como estes são encontrados nas escolas através de crianças difíceis de
lidar, que “fazem hora” com os colegas, e sem limites nos seus atos. Mais tarde, quando
crescem, tornam-se adolescentes e adultos capazes de cometer diversas crueldades.
23
2.5.2 Vítima
Este trabalho começa analisando um caso descrito por Ana Beatriz Barbosa
Silva:
Fernanda, desde muito nova, apresentava problemas com relação a seu peso.
No colégio, ela sempre recebia apelidos pejorativos do tipo “baleia”,
“balofa”, “elefante”. Tanto os meninos quanto as meninas a discriminavam
por ser diferente do modelo “imposto” pelo grupo e evitavam em contato
mais estreito. Sua autoestima já se encontrava bastante abalada, em função
das constantes humilhações, o que fazia travar verdadeiras batalhas contra a
balança. Aos 14 anos, Fernanda não suportou a pressão e, para a sua própria
sobrevivência emocional, decidiu emagrecer a qualquer custo. Ela descobriu
na internet sites de relacionamentos que ensinavam fórmulas “mágicas” para
perder peso rapidamente e tornar-se um “modelo” de beleza feminina.
Grande cilada! Sem que seus pais percebessem, Fernanda passou a fazer
dietas rigorosas, com jejuns prolongados. Quanto mais emagrecia, mais
pensava em emagrecer de forma obsessiva. Aos 16 anos, a jovem se tornou
escrava da magreza “ideal”, inatingível e autodestrutiva. Ela sofria de
anorexia nervosa e estava sem condições mínimas necessárias para ser
considerada uma pessoa saudável. Seu estado físico e mental exigia um
tratamento clínico, com acompanhamento psiquiátrico, psicológico e
nutricional. (SILVA, 2010, p. 38).
Neste caso, podem-se perceber fatores que caracterizam o bullying como
apelidos ofensivos, que abalam e humilham a vítima. Outro fator que se pode observar é
o impacto causado na vida da adolescente e as consequências sofridas por ela durante
sua vida. Este exemplo mostra que algo vivido na escola pode mover ações pelo longo
da vida, tudo baseado no que se viveu.
Para Chalita (2008), as vítimas ou alvos de bullying são pessoas escolhidas
sem motivos aparentes para sofrer humilhações. A aparência física, a maneira como se
veste, a falta de habilidade em algum esporte pode ser motivo para a escolha da vítima.
Geralmente, são pessoas pouco sociáveis, inseguras, com autoestima baixa, e na maioria
das vezes não pedem ajuda, pois temem represália.
Na visão de Fante (2005), as vítimas sofrem as agressões repetidas vezes e
não resolvem o conflito, pois se acostumam com a situação e não conseguem se impor
diante das humilhações. Na maioria dos casos, a vítima é tímida e insegura, o que
impede de exercer uma reação contra a violência sofrida.
Mais uma vez aprofundando o tema: as vítimas são os alunos que recebem
as agressões dos bullies, permanecem a maior parte do tempo sozinhos ou têm poucos
amigos. E mais uma vez os efeitos do problema se fazem notar: o bullying gera nos
envolvidos transtornos emocionais, podendo prejudicar seu relacionamento com os
outros e o seu desempenho de aprendizagem.
24
Sobre tal perspectiva, Marchesi (2006, p. 82) afirma:
As dificuldades emocionais dos alunos podem alterar suas relações sociais
com professores e colegas e dificultar seriamente sua aprendizagem. Entre
elas se encontram a percepção da falta de afeto, isolamento social, a tristeza
prolongada, o sentir-se marginalizado e maltratado.
De acordo com uma pesquisa realizada pela ABRAPIA, em 2002-2003, as
crianças vítimas do bullying podem apresentar as seguintes características:
a) Demonstrar falta de vontade de ir à escola;
b) Sentir-se mal perto da hora de sair de casa;
c) Pedir para trocar de escola;
d) Revelar medo de ir ou voltar da escola;
e) Pedir sempre para ser levado ao ambiente escolar;
f) Mudar frequentemente o trajeto entre a casa e a escola;
g) Apresentar baixo rendimento escolar;
h) Voltar da escola, repetidamente, com roupas ou livros rasgados;
i) Chegar muitas vezes em casa com machucados inexplicáveis;
j) Tornar-se uma pessoa fechada, arredia;
k) Parecer angustiado, ansioso, deprimido;
l) Apresentar manifestações de baixa autoestima;
m) Ter pesadelos frequentes, chegando a gritar "socorro" ou "me deixa" durante o
sono;
n) "Perder", repetidas vezes, seus pertences, seu dinheiro;
o) Pedir sempre mais dinheiro ou começar a tirar dinheiro da família;
p) Evitar falar sobre o que está acontecendo, ou dar desculpas pouco convincentes
para tudo;
q) Tentar ou cometer suicídio.
2.5.3 Testemunhas
Segundo Teixeira (2011), as testemunhas são os alunos que presenciam
diariamente os atos de bullying, mas não se enquadram nem entre os autores, nem entre
as vítimas. Por medo de se tornarem as “próximas vítimas” se calam, e muitas vezes,
demonstram-se angustiados com o sofrimento delas.
Sobre o contexto, Teixeira (2011, p. 39) relata a seguinte história:
25
Vinícius é um paciente de 10 anos de idade que acompanhado no consultório
e que cursa o quinto ano do ensino fundamental. Sua mãe me procurou a
pedido da coordenação pedagógica devido a sua agressividade contra outro
aluno e ao comportamento desafiador com a professora. Vinícius é portador
do transtorno desafiador opositivo, um problema de comportamento
caracterizado por sintomas de oposições às regras, desafios às figuras de
autoridade, desobediência, baixo limiar de frustração e muita impulsividade.
Durante os últimos meses a professora de Vinícius percebeu um
comportamento perverso, sádico contra um colega de sala. O outro estudante
é Felipe, um aluno especial com síndrome de Asperger, um tipo de autismo
infantil caracterizado principalmente por dificuldade de interação social.
Felipe era agredido verbalmente por Vinícius com frequência, sendo
chamado de “retardado” e violentamente chutado quando descia para o pátio
durante o recreio. Vinícius se referia a Felipe como “aquele garoto esquisito”
e sempre que tinha oportunidade o agredia com socos, chutes e empurrões. A
coordenadora pedagógica me informou também que, apesar do
comportamento bullying de Vinícius ser direcionado especificamente a
Felipe, outras três crianças da turma choravam constantemente durante o
recreio e procuravam a companhia da professora, demonstrando muita
ansiedade e medo do comportamento perverso e hostil de Vinícius contra
Felipe.
De acordo com Chalita (2008), as testemunhas ou espectadores aprendem a
conviver com a situação do bullying, não interferem, não participam e não denunciam.
Sobre tal conjuntura, Silva (2010, p. 45) revela:
Os expectadores são aqueles alunos que testemunham as ações dos agressores
contra as vítimas, mas não tomam qualquer atitude em relação a isso: não
saem em defesa do agredido, tampouco se juntam aos agressores.
Ainda de acordo com Silva (2010), as testemunhas podem se classificar em
três grupos distintos, como: expectadores passivos, que agem desta maneira por medo
de se tornarem vítimas; expectadores ativos, que apesar de não estarem envolvidos
diretamente nas agressões, manifestam apoio com as atitudes inadequadas, como risadas
e palavras de incentivo; e por fim os espectadores neutros, que são os alunos que não
demonstram sensibilidade aos ataques que presenciam.
Sobre tal retrato situacional, Chalita (2008, p. 88) sustenta:
Os expectadores ou testemunhas são a grande maioria dos estudantes, que
assiste à dinâmica da violência e aprende a conviver com ela ou a,
simplesmente, escapar dela. São igualmente personagens deste pesadelo. Não
interferem, não participam, mas também não acolhem a dor do outro, não
defendem nem denunciam.
26
2.6 Como os professores devem lidar com o bullying
Quando se cita os problemas ocorridos na escola e principalmente dentro da
sala de aula, fica clara a importância do professor, ainda mais quando envolve os alunos
e a sua atuação escolar.
Segundo Gomes e Sanzovo (2013), o professor deve tomar bastante
cuidado, haja vista que algumas condutas omissivas acabam gerando e multiplicando o
bullying, ou seja, atitudes que desencorajem as vítimas a relatarem o que está
acontecendo, pois já obtiveram respostas anteriores dos profissionais, como: “Deixa de
bobagem” ou “Você precisa aprender a resolver essas situações sozinhas”. Essas
posturas são reprováveis e desfavoráveis às iniciativas de prevenção.
Além disso, muitas vezes o fenômeno acontece na presença do professor
que não está preparado e ignora tais ações, criticando seus alunos e comparando com
outros. Ele dificulta, assim, que as vítimas relatem o ocorrido.
Como afirma Lobo (1997, p. 91):
A crítica injusta é uma das formas de má comunicação que provoca
ressentimento, hostilidade e deteriorização de desempenho, seja em que idade
for.
A escola precisa de professores e alunos confiáveis e, de acordo com Chalita
(2008), o professor precisa comunicar-se de maneira adequada com os alunos, pois
assim aproxima as pessoas, criando identificação e cumplicidade. É através do diálogo
que as pessoas aprendem a respeitar e compreender uma às outras.
Em tal situação, de acordo com Ramirez (2011), a escola deve tomar
medidas preventivas, orientando e estimulando os estudantes em torno de pesquisas e
debates sobre o tema, deve ouvir o que os alunos pensam sobre o assunto, aceitando
suas sugestões. Nessa perspectiva, os professores devem estimular os alunos a criarem
regras de disciplinas para suas próprias classes, devem respeitar a individualidade e a
necessidade de serem respeitados.
Aprofundando a análise, esta monografia destaca que a comunicação entre a
escola e a família é de fundamental importância. De acordo com Moreira (2010, p. 204),
quanto antes for identificado o problema, mais eficaz é o controle dele; e para perceber
facilmente, os pais e professores deverão estar envolvidos e atentos na identificação dos
sintomas, como:
a) A criança chega em casa e fica quieta, o que não acontecia antes;
27
b) Brinca sozinha ou está constantemente sozinha na escola, e em casa evita brincar
com os irmãos;
c) Apresenta desmotivação pelos estudos e tarefas;
d) Tem queda no rendimento escolar;
e) Às vezes, chora quando retorna da escola ou quando está em casa;
f) Não quer ir ao ambiente escolar;
g) Baixa autoestima, recusa elogios ou sente-se constrangida diante deles.
h) Comportamento de teimosia, discute com os pais;
i) Irritabilidade;
j) Não tem cuidado com os brinquedos;
k) Apresenta isolamento.
Em tal retrato situacional, o professor deve estar preparado no momento que
identifica o bullying. Nessa perspectiva, tenta estabelecer o respeito e deixa claro que
esses tipos de comportamentos não são permitidos, conscientizando da gravidade que
tais atos possam causar no ambiente escolar e na vida dos colegas.
De acordo com Sousa (2007), os professores não devem culpar as crianças e
adolescentes pelos atos ocasionados, e sim conversar sobre o assunto, pois nestes casos
é necessário ajudar e não punir, além da necessidade de refletir juntamente com a
família.
E, mais uma vez, antecipando-se as considerações finais: é necessária a
participação dos professores e dos alunos para que os casos de bullying não aconteçam
no cotidiano escolar. O professor deve envolver seus alunos ao respeito recíproco
através do diálogo, e os alunos devem entender e colaborar com as ações do educador.
Em tal contexto, de acordo com Chalita (2008, p. 202):
O importante é saber que sempre há um caminho. Nada é definitivo ou
permanente, desde que a transformação seja um compromisso assumido por
todos. Esse é o grande diferencial da profissão do docente. Seu compromisso
não se resume ao conteúdo, como quem presta o serviço a um grupo,
oferecendo conhecimentos. Na ação pedagógica, o professor estabelece
profundas relações de confiança e respeito com seres humanos e se torna
responsável pelo destino de seus alunos. Daí a importância de se tomar
consciente do conflito que vem se tornando uma epidemia nas escolas e
desenvolver um olhar atento, reflexivo e observador, sinalizando caminhos
para transformar essa situação.
O professor deve deixar claro que todos são tratados da mesma forma,
independente do seu ritmo de aprendizagem, e que devem ser respeitados acima de
28
tudo. Apenas bons exemplos são necessários para educar e um grande incentivo para os
alunos seguirem.
A seguir, esta monografia destaca casos reais de bullying. O objetivo é
tentar aprofundar a análise, ao mesmo tempo em que deseja reforçar o esclarecimento
do fenômeno em estudo.
29
3 CASOS REAIS DE BULLYING: UMA FORMA DE ESCLARECER O
FENÔMENO.
O psicólogo e pedagogo italiano Alessandro Constantini esteve no Brasil
em 2006, e concedeu uma entrevista no dia 12 de setembro ao site Portal Aprendiz. Na
reportagem, ele - através de suas afirmações - ajuda a entender as motivações do
surgimento e crescimento do bullying, e revela que é necessário construir uma cultura
em torno do tema para tentar solucioná-lo.
De acordo com a entrevista, Constantini conta que é necessário conhecer o
bullying. Assim, segundo ele, “as pessoas percebem que não é uma coisa boa, mas não
conseguem entendê-lo completamente, é necessário estudar para depois interferir”.
Toda forma de sofrimento deve ser suspensa ou interrompida, assim como
os maus tratos ocasionados pelo bullying. E todos estão expostos a sofrer algum tipo de
agressão durante a vida. É em torno dessa realidade de violência que esta monografia
apresenta a seguir algumas celebridades que nos fascinam com suas músicas, filmes e
performances. Estas pessoas quando crianças foram vítimas do bullying, e felizmente de
alguma forma superaram os traumas sofridos.
Hoje é possível que não sintam mais o sabor amargo do passado nada
carinhoso, e sim algo que as faça sentirem-se orgulhosas da sua própria existência,
como vencedoras. Portanto, na sequência, este estudo destaca o bullying através de
relatos reais de pessoas que sofreram na pele a dor e amargura ocasionadas pelo
fenômeno.
O primeiro caso de destaque é de um nadador norte-americano conhecido
mundialmente pelos recordes batidos. Assim relata Silva (2010, p. 92) sobre algumas
experiências da vida de Michael Phelps:
De origem humilde, Phelps nasceu em 30 de junho de 1985, em Baltimore,
no estado de Maryland, Estados Unidos. Estudou na escola Rodgers Forge e
se formou na Towson Higt School, em 2003. Após o divórcio dos pais,
Michael e as irmãs foram criados apenas por Debbie, uma mãe obstinada e de
personalidade forte, que teve papel marcante em sua história de triunfos. A
ausência de seu pai, Fred, não foi o único obstáculo na vida do nadador.
Ainda na sétima série, Phelps foi diagnosticado com transtorno do déficit de
atenção com hiperatividade (TDAH) e precisou usar medicamentos por longo
tempo. As reclamações sobre o seu comportamento eram frequentes: ele não
prestava atenção nas aulas, não parava quieto e não fazia os deveres
escolares. Uma das professoras chegou a dizer que ele jamais seria bem-
sucedido porque não era capaz de se concentrar. Esses episódios fizeram com
que Phelps sofresse bullying por anos executivos. Ele também era humilhado
frequentemente por ser muito alto, magro, desengonçado e por suas orelhas
grandes. Certo dia, Michael entrou no ônibus escolar com seu boné de
beisebol. Crianças mais velhas se uniram para provocá-lo. O boné foi jogado
30
pela janela. Outra situação constrangedora ocorreu aos 11 anos. Durante uma
competição de natação, alguns meninos tentaram mergulhar sua cabeça na
privada. Ele conseguiu escapar e saiu do banheiro aos prantos. “A raiva
formou-se em meu interior e, embora não tivesse comentado nada sobre o
assunto com ninguém, usaria essa raiva como motivação, em especial, na
piscina”, descreve Phelps em Sem Limites, seu livro autobiográfico. Michael
encontrou na natação uma forma de se refugiar das constantes brigas entre
seus pais, além de poder direcionar seu foco. Debbie, a mãe do nadador,
declarou à revista US Magazine que o bullying e as adversidades fizeram com
ele se fortalecesse e batalhasse mais. “Michael pode não ter sido capaz de se
concentrar na escola, mas vi nele uma paixão em nadar desde muito cedo”,
complementa.
Fica claro neste caso o bullying direto, em que a pessoa é atacada com
agressões físicas e repetitivas. Apesar de uma vida familiar e escolar conturbada, o que
poderia ter o levado às outras dimensões, Phelps encontrou refúgio para o seu
sofrimento no esporte. O que mais chama atenção neste caso é o fato de uma professora
o ter reprovado por toda a vida. Uma educadora que em vez de acreditar e ajudar seu
aluno nas suas dificuldades teve uma postura repugnante.
Uma criança que era aterrorizada, “zoada” e agredida por outras crianças da
escola torna-se o maior fenômeno da natação mundial, e arrasta admiradores em todo o
mundo. Isto é um sinal de superação.
Esta monografia revela neste ponto, por sua vez, o caso da atriz que ficou
conhecida mundialmente por sua atuação no filme Titanic, Kate Winslet. De acordo
com Silva (2010, p. 94):
Kate Winsley nasceu na Grã-Bretanha, em outubro de 1975. Muito antes de
ser famosa, a atriz, que sempre enfrentou problemas com o seu peso, foi
vítima de bullying e recebeu o apelido de “gorducha” das crianças da escola.
“Outras meninas me provocavam terrivelmente. Eu simplesmente abaixava
minha cabeça e aceitava isso. Esse era o meu jeito de sobreviver”, declarou
Kate, em dezembro de 2006, à Parade Magazine. Seus colegas também
diziam que os garotos não se interessavam por ela. Aos 15 anos ela conheceu
um ator britânico Stephen Trede, que se tornou fundamental na reconstrução
de sua autoestima. Ele foi o seu primeiro amor, e passou a ser a pessoa mais
importante de sua vida, além de sua família: “Stephen me fez sentir segura e
abraçada”, complementou a atriz. (...) durante uma entrevista à revista Marie
Claire britânica, em 2009, no auge do sucesso, da beleza e em paz com sua
aparência, Kate falou novamente sobre as provocações que recebeu na escola:
“Sofri bullying por ser gordinha. Onde estão eles agora?”.
Kate foi uma vítima típica do bullying, e por não se enquadrar em um
padrão de beleza estabelecido era alvo fácil dos agressores. A atriz, que na época da
escola tinha sua autoestima abalada por outras crianças, conseguiu refúgio para o seu
sofrimento na adolescência, com o seu primeiro namorado. Apesar de não ter se
31
entregado ao bullying, ela demonstra ressentimento quando se lembra do passado, de
acordo com o seu discurso presente na última citação.
Sobre tal contexto, Moreira (2010, p. 138) revela:
Quem sofreu qualquer tipo de constrangimento, humilhação, injustiça,
agressão moral e acusações falsas traz no olhar e na expressão corporal o
reflexo da dor sentida na alma.
Agora este estudo relata o caso da cantora que, segundo o jornal “New York
Post”, se tornaria uma das mulheres mais ricas do mundo, e deixaria sua marca na
história da música a partir da década de 80: Madonna.
Segundo Silva (2010, p. 96-97):
Madonna Louise Veronica Ciccone nasceu em 16 de agosto de 1958, de
origem católica e de padrões rígidos, estudou em colégio de freiras e em sua
casa havia um altar, no qual ela e a família rezavam diariamente. Quando
Madonna tinha 5 anos, sua mãe faleceu vítima por um câncer de mama, aos
30 anos de idade. Essa perda precoce e traumática afetou-a de forma
significativa, e ela aprendeu a ser forte e independente no início da vida. A
lembrança da fragilidade da mãe em seus últimos dias de agonia, associada
ao novo casamento do pai com Joan Gustafson, ex-empregada da família,
determinaram uma relação de amor e ódio com a figura paterna e uma
adolescência rebelde. Madonna, então, se rebelou contra sua criação
tradicional, transformou suas roupas conservadoras em ousadas e rejeitou seu
histórico religioso. Em plena década de 70, quando o mundo passava por
mudanças expressivas em seus conceitos e o movimento Flower Power era
símbolo da não violência e de repúdio à Guerra do Vietnã, Madonna foi alvo
de bullying por ser considerada estranha e inadequada pelos seus coledas da
escola. Em entrevista à revista Vanity Fair, em 2008, Madonna declarou: “Eu
não era hippie ou fã dos Rolling Stones, então acabei me tornando esquisita.
Eu estava interessada em balé clássico e música. Se você fosse diferente, os
alunos eram bem perversos. As pessoas faziam questão de serem maldosas
comigo”. Madonna confessou também que não estava disposta a virar
capacho de ninguém; por isso, quando as agressões ocorriam, em vez de se
intimidar, enfatizava suas diferenças. Costumava revidar com seu estilo
insubordinado: não depilava pernas e axilas, recusava-se a usar maquiagem
ou se encaixar no modelo de garota convencional. Essas atitudes eram
combustíveis para seus intimidadores, que a torturavam cada vez mais. Na
escola, Madonna jamais se curvou ou deixou de expressar sua maneira
peculiar de ser. Foi ótima aluna, líder de torcida e uma dançarina disciplinada
e perfeccionista.
De acordo com a citação, apesar de ter ficado clara a existência do bullying,
a cantora nunca se entregou às agressões sofridas, sempre buscando fortalecimento com
tais comportamentos adversos.
A vitória e os comportamentos de Madonna, por um lado, se devem às
agressões sofridas durante o seu período escolar. Como relatado, a própria cantora
admitiu ter sofrido bullying por ser diferente dos padrões impostos da época, e essa
considerada “esquisitice” foi um dos motivos do seu sucesso, pois ela sempre buscou o
32
diferente. Afinal, como se pode observar em seus shows, seus temas de trabalho são
sempre polêmicos, expressivos e típicos da mercadologia do show-business.
Aprofundando a temática, este estudo analisa o caso do ex-presidente
americano Bill Clinton. Segundo Silva (2010, p. 103, 104, 105):
Bill Clinton, originalmente Willian Jefferson Blythe III, nasceu em Hope,
uma pequena cidade de Arkansas, Estados Unidos, em 19 de agosto de 1946.
Seu o pai biológico, morreu em um acidente num carro três meses antes de
Bill nascer. Até os 4 anos de idade, Clinton foi criado pelos avós maternos,
enquanto sua mãe cursava enfermagem, em Nova Orleans, Louisiania, para
garantir uma boa qualidade de vida ao filho. Sob os cuidados e educação dos
avós maternos, ele foi cercado de carinho, amor, parentes e fartas refeições,
uma vez que, pela sabedoria popular da época, um bebê gordo era sempre
sinal de criança saudável. (...) em 1950, sua mãe retornou de Nova Orleans e
se casou com Roger Clinton, um vendedor de automóveis, que gostava de
farras e bebidas. Em 1956, nasceu seu meio-irmão, Roger Clinton Jr., e, anos
depois, Bill oficializou seu nome para Willian Jefferson Clinton. Roger
Clinton, a quem seu ele se acostumou a chamar de “papai”, se tornou
alcoólatra e um jogador compulsivo, que agredia constantemente sua mãe e
seu irmão caçula, Por anos a fio, Bill Clinton teve que enfrentar dias difíceis,
em defesa das pessoas que ele amava. No início do ensino médio, Clinton
também conviveu com adversidades. Ele foi alvo de chacotas e hostilizado
por ser um menino gordo, desajeitado, que usava jeans fora de moda e era
impopular com as garotas da escola. Certa vez, quando retornava das aulas,
foi agredido por um aluno mais velho. O garoto estava fumando próximo à
sua casa e lhe deu um murro no nariz com o cigarro aceso na mão, quase lhe
queimando o olho. Ele nunca conseguiu entender tamanha covardia. Bill
também foi agredido por Clifton Byrant, um colega do colégio um ano mais
velho que ele. Neste dia, ele voltava a pé para a casa em companhia de alguns
amigos. Byrant os seguiu e passou a intimidar Clinton, batendo-lhe nas costas
e nos ombros, por várias vezes. Bill ignorou por um longo trecho do caminho,
até que não aguentou mais e acabou revidando com um soco no garoto. Era
para acertar de cheio, mas não conseguiu machucá-lo de verdade, e o menino
conseguiu fugir. Clinton estava lento e pesado demais para encarar uma boa
briga. (...) Bill já estava no nono ano e ainda era considerado um garoto
gordo, que usava roupas inadequadas e sem muitos atrativos para as meninas.
Nesta época, ele foi abordado por garotos mais velhos do ensino médio,
dentro do ginásio YMCA, que gostava de frequentar e onde costumava
danças. Henry Hill parou, examinou seus jeans de alto a baixo e desferiu-lhe
um soco no queixo. Embora Henry fosse muito maior, Clinton se pôs de pé e
o encarou também, sem agredi-lo ou fugir. Henry deu apenas uma risadinha,
bateu de leve em suas costas e disse que Bill era uma cara legal. Um dos
fatores que contribuíram para a autoestima e até mesmo para a vida política
de Bill Clinton foi o fato de começar a tocar saxofone na banda da escola.
Isso, além de lhe conferir um status diferente daquele dos garotos que
jogavam futebol, fez com que ele se tornasse mais popular com as garotas e
abriu-lhe as portas para novas interações sociais.
Este é outro caso de violência sofrida por conta da vítima não estar no
padrão imposto pela sociedade. Ao lado disso, Clinton vivenciou momentos
conturbados na família com o seu padrasto e as agressões sofridas na escola e na rua
nunca o deixaram abater. Por mais que soubesse que era frágil demais para revidar as
agressões, o ex-presidente americano sempre tentou superar tais comportamentos
demonstrando coragem e determinação para que isso não voltasse a se repetir.
33
Por sua vez, o relato a seguir é de uma celebridade americana muito popular
e bem sucedida em Hollywood, Tom Cruise. Na infância ele também foi vítima de
bullying. De acordo com Silva (2010, p. 94,95):
Tom Cruise nasceu em 3 de julho de 1962, em Syracuse, Nova York e
vivenciou uma infância difícil e traumática. (...) Em 12 anos, Tom Cruise
estudou em 15 escolas diferentes e, durante esse período, precisou enfrentar
muitos obstáculos. Aos 7 anos, por apresentar grandes dificuldades de leitura
e necessitar de muitas aulas de reforço, Cruise foi diagnosticado com dislexia
por uma psiquiatra da própria escola. Esse fato gerou diversos
constrangimentos e frustrações em sua vida escolar. Ele foi rotulado e
estigmatizado. Considerado baixo para a sua idade e disléxico, era um alvo
fácil de ataques de bullying. Por diversas vezes, na escola, foi intimidado e
empurrado por valentões bem maiores que ele. Isso fazia seu coração disparar
e tinha vontade de vomitar. Sentia-se excluído, sozinho, e ansiava em ser
aceito. “Eu não tinha um amigo mais próximo, alguém com quem eu pudesse
me abrir e em quem pudesse confiar. Eu era sempre uma criança recém-
chegada, com o sapato errado, com o sotaque errado”, declarou à revista
Parade, em setembro de 2006. Sem muita definição na vida, Tom Cruise
seguiu para Nova Orleans, onde iniciou os estudos de interpretação e
descobriu o seu grande talento para a arte dramática. Ser ator era a sua
vocação. (...) Sobre sua infância e os traumas sofridos no passado, Tom
Cruise diz: “Pessoas podem criar suas próprias vidas. Eu vi como minha mãe
lutou e possibilitou a nossa sobrevivência. Decidi que iria criar a pessoa que
eu seria não aquela que os outros gostariam que eu fosse”.
Pode-se comparar o caso do ator Tom Cruise com qualquer outro caso
mencionado anteriormente, mas o que chama atenção é a semelhança com o caso do
nadador Michael Phelps: ambos vêm de um transtorno e acabam sofrendo humilhações
por tal motivo, além de suportarem as agressões por conta da aparência física. Mas da
mesma forma de Phelps, o ator também superou os traumas sofridos no passado,
encontrando inspiração na interpretação.
Nos casos relatados, pode-se observar que os acontecimentos foram em
épocas distintas, mas o que se percebe é que as agressões de bullying são cruéis,
independente do tempo vivido.
Com relação aos casos já citados no capítulo anterior, fundamentam-se as
pesquisas realizadas, na qual qualquer um de nós está exposto ao bullying, que não
escolhe classe social, raça ou religião. De qualquer forma, é de extrema importância
saber lidar com essas agressões, não se deixando abalar por pessoas que, na verdade, de
acordo com autores pesquisados neste trabalho, são as que mais precisam de ajuda.
E de acordo com os relatos, fica claro que a predominância do bullying é no
ambiente escolar, por isso é essencial que os educadores saibam lidar com esses tipos de
ações. E sempre buscando seriedade e o diálogo com os alunos, haja vista que é de
forma aberta e clara que se pode pensar em intervenção nesses tipos de maus tratos.
34
De acordo com Gomes e Sanzovo (2013), o Brasil é um país que possui uma
grande gravidade de violência generalizada. E no que diz respeito ao bullying, seus
números não se afastam de maneira progressiva da média mundial, ou seja, o fenômeno
da violência escolar não tem como causa única o mundo exterior. Assim, sobre tal
quadro: no nosso país várias pessoas sofrem esses tipos de agressões. E pessoas que
estão na mídia também passaram por maus tratos na infância e adolescência.
Como se pode confirmar através de uma entrevista dada pelo autor Cauã
Reymond ao site UOL em janeiro de 2012, em que relatou que sua infância não foi
muito boa. Filhos de pais separados, Cauã faz análise desde os 14 anos de idade, pois
era vítima de bullying por conta da boca grande e do nome. O ator diz que por isso que
também se tornaria lutador, para colocar a raiva “para fora”.
Também no site, pode-se ver o relato da top model Gisele Bündchen, que foi
alvo do bullying quando mais nova. A modelo confirmou que sofria os maus tratos dos
seus colegas de escola por ser alta e magra. Gisele tinha três apelidos: “Saracura”,
“Olívia Palito” e “Somaliana”.
A atriz Alinne Morais também conta que já sofreu bullying. Em entrevista
ao site UOL, a artista diz que foi vítima de brincadeiras sem limites na época de escola
por causa dos seus lábios carnudos, chegando a ganhar o apelido “Bocão Royal”. Alinne
conta que sofreu muito e que ainda existe uma fragilidade em relação ao bullying, “é
preciso entender quando é só uma brincadeira e quando ultrapassa os limites”, revela a
atriz.
Por sua vez, a atriz Grazi Massafera também sofreu bullying na época de
escola. Como revela em abril de 2012 ao site Deficiente Ciente:
“As meninas da escola onde eu estudava lá em Jacarezinho viviam me
chamando de Olívia Palito, porque eu era muito magricela. Isso me chateava,
é claro. Os apelidos maldosos eram muitos, não paravam por aí. Chamavam-
me de lombriga também. Lembro que eu chorava tanto, me sentia diminuída
perante elas. Eu cheguei a usar três calças jeans para parecer mais
‘encorpadinha’. Aliás, fui uma das últimas das meninas da turma a ter
peitinho. Então, era o alvo das meninas para todos os tipos de implicâncias
nesse sentido. Eu nem sabia que, naquela época, isso já seria bullying”, relata
Grazi.
O mesmo site ainda revela que a atriz Fabiana Karla, do programa Zorra
Total, da Rede Globo de Televisão, foi vítima de bullying escolar. De acordo com a
atriz:
35
“Criança é bem cruel às vezes, não é? Quando pequena, em Recife, todos na
escola me chamavam de todos aqueles apelidos já previsíveis que dão aos
gordinhos. Eu já estava até acostumada e ficava magoada, é claro. Mas como
eu sempre fui muito bem humorada, eu tentava levar tudo na brincadeira e
fazia piada de mim mesma. Então, os colegas acabavam parando de implicar
comigo. As pessoas viam que não me atingiam, que eu não ligava mesmo. Eu
sempre me dava bem com a galera do fundão da classe. Lembro-me que eu
tocava na banda da escola e também fazia aulas de basquete, ou seja, era bem
enturmada”.
Sobre todo este contexto, Flávia Leão Fernandes - psicóloga clínica, mestre
em Psicologia pela Universidade de Londres e especialista em Psicologia Hospitalar
com enfoque em Obesidade - afirma (2013):
Tanto o agressor como a vítima, apresentam distúrbios psicológicos que
devem ser tratados. Bullying não é uma brincadeira inocente. É uma atitude
cruel que fere a dignidade e muitas vezes impede o desenvolvimento pleno da
personalidade. Por todas essas razões deve ser combatido!
De acordo com o site Veja.com, os profissionais reconhecem que a prática
do bullying é crescente nas escolas, porém ainda não recebeu atenção especial das
autoridades. Nem o Ministério da Educação nem as Secretarias de Educação de São
Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Ceará têm números a respeito.
Como as demais Secretarias ouvidas pela reportagem, a cearense não possui uma
estratégia específica contra o bullying. A questão é tratada a partir de ações de combate
à violência em geral ou pontualmente em atividades expositivas e debates.
Nesta perspectiva, ainda de acordo com o site, a funcionária da Secretaria de
Educação do Ceará, Rejane Quirino afirma:
“A gente não tem registros de casos de violência, seja de professor contra
aluno, aluno contra professor ou aluno contra aluno, mas isso não significa
que não haja ocorrências, especialmente em escolas de áreas de risco, onde
há muitas famílias desestruturadas e os índices de violência são altos.
Porém, o site “Portal Universidade” reportou em 22/06/2011 uma notícia
sobre a morte de uma jovem cearense morta em consequência do bullying:
Um caso de bullying terminou em tragédia na noite desta terça-feira no
Ceará. Uma estudante de 17 anos, com a inicial S, esfaqueou e matou uma
adolescente de sua classe, além de ferir sua irmã gêmea. O incidente
aconteceu dentro da sala de aula do Centro Integrado de Educação e Saúde
(Cies) Professora Terezinha Parente, bairro Curió, em Messejana. A
agressora abordou as duas irmãs que estavam dentro da sala de aula. As três
estudantes começaram uma discussão. Itamara Monteiro de Oliveira foi
atingida por uma facada no peito esquerdo e sua irmã foi ferida na cabeça,
quando tentava ajudar a irmã. As duas vítimas foram levadas para o Hospital
Distrital Edmilson Barros de Oliveira, mas Itamara não resistiu aos
36
ferimentos e morreu. Policiais militares apreenderam a acusada do
assassinato minutos depois, nas proximidades da escola. Ela foi levada ao
hospital e encaminhada para a Delegacia da Criança e do Adolescente
(DCA), onde foi lavrado um Auto de Apreensão em Flagrante por crime de
homicídio. O cabo da Polícia Militar, Clóvis Nunes informou que o crime foi
motivado por bullying. "Uma chamava a outra de lésbica e o caso foi se
agravando até que ontem, armada com uma faca de cozinha, uma das
adolescentes praticou o crime", explicou.
Segundo a reportagem do jornal “Diário do Nordeste” em 23/06/2011, um
dia após o ocorrido, a Secretaria Municipal de Educação (SME), informou que o triste
fato ocorrido na escola Terezinha Parente foi considerado isolado e que o bairro e a
escola são avaliados como calmos. A escola possui seguranças, além de reforços das
rondas preventivas da Guarda Municipal.
A seguir, aprofundando o recorte temático, esta monografia destaca as
formas de intervenções contra o bullying, buscando apresentar didática e
cientificamente possíveis soluções para as agressões.
37
4 CONSCIENTIZAÇÃO E PREVENÇÃO DIANTE DO FENÔMENO
BULLYING NA ESCOLA – PROGRAMAS ANTIBULLYING NO MUNDO E NO
BRASIL
Como revela Fante (2012), o bullying é um tema de preocupação e empenho
no meio educacional e social do mundo inteiro, motivo pelo qual inúmeros estudos e
publicações encontram-se ao alcance.
Diversas pesquisas e programas de intervenção antibullying vêm sendo
desenvolvidas, e ainda na visão de Fante (2012), objetivam principalmente conscientizar
a comunidade escolar e sensibilizar sobre a importância do apoio as vítimas.
Nessa perspectiva, Silva (2010) afirma que a escola ainda não está
preparada para enfrentar a violência entre seus alunos. Além disso, segundo ele, essa
situação deve-se à falta de conhecimento e muitas vezes omissão da existência do
fenômeno.
Para mudar essa realidade, primeiramente se deve reconhecer a existência
do bullying e tomar consciência dos prejuízos que ele pode trazer para o
desenvolvimento escolar e pessoal dos estudantes. Como segundo passo, a escola
precisa capacitar seus profissionais para a identificação, o diagnóstico e a intervenção
nos casos de ocorrências em suas dependências. E em terceiro lugar, deve-se conduzir o
tema a uma discussão ampla mobilizando a todos para que as estratégias utilizadas
tenham como propósito enfrentar e solucionar a situação.
O quarto capítulo deste estudo confere como o bullying deve ser tratado e
aborda quais estratégias devem ser adotadas para o controle e combate do fenômeno.
Sobre tal contexto, Gomes e Sanzovo (2013, p. 159) afirmam:
Ora, quando tratamos do fenômeno bullying, estamos, na verdade, tratando
de crianças e adolescentes (de acordo com a pesquisa Plan Brasil, a faixa
etária mais atingida corresponde a 11-15 anos), logo a solução para o
fenômeno, por si só, não deve ser criminal, e sim um conjunto de ações
preventivas, inibidoras da agressão.
Ainda na visão de Gomes e Sanzovo (2013), o tratamento do bullying busca,
prioritariamente, ações e programas preventivos, que são chamados de antibullying.
Esses programas deverão ser direcionados para cada estabelecimento de ensino,
atendendo às individualidades de cada comunidade escolar. Como exemplos, esta
monografia destaca o Programa ABC de Prevenção do Bullying, de origem irlandesa, o
38
Bully Free Program, projeto preventivo norte-americano, e o norueguês Olweus
Bullying Prevention Program.
Didática e historicamente, Gomes e Sanzovo (2013, p. 163, 164) revelam
sobre tais programas de combate ao bullying:
a) Programa ABC Prevenção do Bullying: teve início no condado de Donegal e foi
dirigido por O’Moore. Após espalhado nacionalmente, foi dividido em três
etapas: formação de uma rede de instrutores, formação dos docentes pelos
instrutores, aplicação do programa ABC nas escolas. As características centrais
do programa foram: investigação completa do problema em cada escola, não
identificação de quem delata o bullying, sintonia do programa com a política
disciplinar da escola, enfoque reintegrador do conflito, sem atribuição de culpa
ou castigo, induzindo o agressor a refletir às diferenças individuais, para
desenvolver sentimentos de empatia de assumir suas responsabilidades,
exploração do tema bullying na grade curricular, abordando a questão sempre
que possível, exposição do bullying também para pais e alunos, ou seja, às
famílias, os quais constituem o ponto forte do programa, procurando
conscientizá-los de que muitos são os fatores intrafamiliares que contribuem
para o fenômeno, tais com crueldade, falta de afeto e atenção, disciplina
contraditória, atitude permissiva ou agressividade, reações emocionais violentas
desencadeadas pelos adultos e, ainda, o castigo físico. Após a adoção deste
programa, a redução da vitimização nas escolas foi considerável: no primeiro
grau, de 30,6% das ocorrências passou-se para 13,1%; no segundo grau, de
17,0% para 9,2%. Foram produzidos também inúmeros vídeos sobre o tema, os
quais, em seguida, foram enviados para todas as escolas do país. O programa
proporcionou muitos conhecimentos e técnicas de compreensão para o assunto,
suficiente para prevenir ou reduzir a violência na escola.
b) Bully Free Program: de autoria do Ph.D Allan L. Beane, que compõe uma série
de estratégias administrativas e didáticas de enfrentamento do fenômeno. Dentre
elas, planos de aula para cada série escolar e reuniões de sala de aula, buscando,
assim, o envolvimento ativo dos alunos e, principalmente, dos espectadores do
bullying. O programa prevê o envolvimento dos pais e de toda a comunidade
escolar para que o projeto antibullying seja verdadeiramente eficaz. Os
principais objetivos são: esclarecer aos estudantes, funcionários, pais e membros
da comunidade escolar que o bullying não será tolerado; capacitar funcionários e
estudantes e manter pais informados sobre o plano de ação para prevenção e
39
interrupção do bullying; estabelecer e aplicar regras contra o bullying; reduzir as
ocorrências existentes de bullying por meio de estratégias administrativas,
definindo uma sequência de aula, de acordo com a idade e série dos alunos, que
abranja todo o plano do programa antibullying; desenvolver e promover
transportes escolares mais seguros e pacíficos; difundir uma sensação de
pertencimento e aceitação dos estudantes, criando um sentimento de conexão
com a escola; incluir a participação dos alunos expectadores na prevenção e
interrupção do bullying. Em 2010, o programa foi testado em 10 escolas
distritais e estratégias de avaliação foram usadas para testar a eficácia do
programa. De acordo com os alunos entrevistados, a percepção foi a de que
houve diminuição no número de estudantes agredidos, chutados, socados,
ignorados, caluniados, xingados, humilhados, criticados pela aparência ou como
se vestem, ou que tiveram seus pertences roubados ou danificados. Além da
percepção e sentimento de diminuição da violência pelos alunos, a eficácia do
programa também foi comprovada pelos números obtidos: aumento de 7% no
comparecimento em sala de aula; redução de 35,7% do número de estudantes
que relataram ter presenciado cenas do bullying em suas escolas; redução de
24,6% no número de estudantes que relataram ter sido vítimas do bullying;
aumento de 54% no número de estudantes que relataram atos de bullying;
melhora de 10% nas notas finais dos alunos; diminuição de 29% no número de
ocorrências de agressão; diminuição de 16% no número de suspensões causadas
por comportamentos agressivos.
Os mesmos autores (2013, p. 168-172) ainda destacam:
c) Olweus Bullying Program: foi o primeiro programa de intervenção e prevenção
ao bullying. O programa inicial contou com a participação de 540 professores,
com a aplicação em 20 escolas da Noruega. Para que o projeto de intervenção
seja colocado em prática, é primordial que haja conscientização de toda a
comunidade escolar de que o bullying deve ser eliminado do âmbito estudantil.
O projeto conta com intervenções realizadas em três esferas: na escola, em sala
de aula e com alunos diretamente envolvidos, vítimas e agressores. O primeiro
passo é a aplicação de um questionário, preenchido pelos alunos de forma
anônima, para mapear e identificar os casos de bullying numa determinada
escola. Após a colheita de dados, é realizada uma reunião entre funcionários da
escola, pais e alunos para apresentação de agressão e vitimização que foram
constatados. A reunião tem como fulcro um plano de ação, de comum acordo,
40
que será aplicado na escola. Assim, ações e estratégias serão tomadas com o
intuito de melhorar o ambiente da escola. Dentre elas, estabelecer uma maior
supervisão dos alunos durante os horários de recreio e intervalos de aula. Os
profissionais que estarão na supervisão deverão estar capacitados para identificar
e intervir nos momentos das agressões, esclarecendo aos alunos infratores que a
violência não será permitida. Uma das exigências do programa é a
disponibilização do atendimento via telefone para aqueles que quiserem tirar
suas dúvidas ou fazer denúncias anônimas. Na esfera da sala de aula, uma das
primeiras medidas a serem tomadas é o estabelecimento das regras contra o
bullying. De acordo com Olwues: “É importante que os alunos se envolvam na
discussão dessas regras. Dessa forma, estarão passando por uma experiência de
grande responsabilidade em obedecer às regras feitas por eles próprios e pelos
outros alunos”. Dentre as principais regras estabelecidas: é expressamente
proibido agredir alguém; deve-se ajudar alguém que tenha sido agredido; e deve-
se ajudar a integrar alunos que, normalmente, são excluídos do grupo. Para que
os alunos compreendam a dimensão e gravidade do bullying, é preciso
estabelecer debates em sala de aula, fazer uso de filmes, de encenação de
histórias, de literatura ou de discussão sobre os casos de bullying já conhecidos.
O programa de Dan Olwues trabalha com a ideia de gratificações e sanções, ou
seja, as gratificações são manifestadas diante de elogios para quem possuem
boas relações com os colegas e as sanções deverão ocorrer para os envolvidos
em qualquer caso de desvio do que foi acordado. As punições adotadas deverão
ser fáceis de serem administradas, que causem desconforto sem serem
agressivas. Por exemplo: uma conversa séria com o aluno, obrigá-lo a sentar-se
na sala do diretor durante os intervalos, privá-los de algum privilégio, ficar por
algumas horas em outra sala de aula com alunos mais jovens, ou recorrer aos
pais para que colaborem com a mudança de comportamento do aluno. As
medidas aplicadas individualmente: conversa séria é a primeira a ser adotada
entre o professor e alunos envolvidos no bullying. O ideal é que entrem em
consenso sobre o que fazer. Por exemplo, se há algum tipo de reparação a ser
feita, nos casos em que o agressor danificou algum objeto, a vítima poderá ser
ressarcida. A efetividade deste programa ficou comprovada pelos números
apresentados. De acordo com Olweus, após o segundo ano de aplicação do
programa, é possível verificar até 50% de redução dos casos de bullying. Além
disso, com a nítida mudança nos casos de vandalismo, brigas, roubos e furtos
41
foram constatadas uma melhora na convivência de toda a comunidade escolar. O
programa preventivo de Olweus, é utilizado em mais de 6.000 escolas em todos
os Estados Unidos, sendo 14 estados, incluindo Nova York e Nova Jersey, têm
parcerias estaduais com o programa. Portanto, com mais de 35 anos de pesquisas
e implementações de sucesso em todo o mundo, trata-se de um programa de
prevenção do bullying mais pesquisado e conhecido disponível na atualidade.
Como revela Fante (2012), diversas pesquisas e programas de intervenção
antibullying vêm desenvolvendo-se na Europa e na América do Norte, têm como
principal objetivo conscientizar e sensibilizar sobre a importância do apoio às vítimas,
buscando encaminhá-las para tratamentos clínicos, dando apoio para denunciarem e,
principalmente, fazer com que se sintam protegidas.
Vários países já aderiram a esses programas, como Espanha, Inglaterra,
Irlanda, Grécia, Portugal, Finlândia, Noruega, Holanda, Brasil. Sobre tal contexto, Fante
(2012, p. 82-90) sustenta e relata:
a) Espanha: algumas universidades espanholas, com o incentivo do Ministério de
Educação e Ciência, vêm desenvolvendo investigações e iniciativas de
prevenção ao bullying por meio de campanhas e programas, dentre quais
destacamos o Sevilha contra a Violência Escolar (SAVE), criado em 1996 pela
Universidade de Sevilha e coordenado pela catedrática Rosario Ortega Ruiz.
Tem como objetivo desenvolver a educação de sentimentos e valores e a
melhoria da convivência e das relações interpessoais;
b) Inglaterra: inúmeros projetos estão sendo desenvolvidos, entre eles, o mais
importante, inspirando na campanha de intervenção norueguesa realizada na
década de 1980. Intitulado como Projeto contra o Bullying, foi coordenado por
Peter Smith e sua equipe, no período de 1991 a 1993. O projeto contou com a
participação de 16 escolas de educação primária e 7 escolas de educação
secundária, cujos estudos e resultados obtidos se transformaram no material
informativo “Don’t Suffer in Silence” (Não sofra em silêncio);
c) Irlanda: em 1993, foi realizada a Primeira Conferência Nacional sobre o
Bullying, organizado por Vivette O’Donnell, quando foi lançado o Programa
Educativo da Companhia de Teatro Sticks and Stones, visando aumentar a
conscientização do fenômeno por meio de representações teatrais que encenam
as mais típicas formas de condutas bullying na sala de aula, no pátio ou no
caminho para a escola. A representação mostra cenas com movimentos, músicas
e danças, objetivando auxiliar a escola a enfrentar o problema de forma efetiva;
42
d) Grécia: uma das organizações educacionais mais importantes deste país é o
Colégio Moraitis. Coordenado por Maria Doanidou y Fofini Xenakis, o
Departamento de Orientação Psicopedagógica desenvolveu um programa
completo para fazer frente ao bullying após verificar que as condutas incidiam,
repetidamente, sobre os alunos durante os últimos trimestres, apresentando um
índice de 18,5% a 23% de envolvidos. As estratégias utilizadas no programa são:
conscientização, esforços para mudar as atitudes de todos os integrantes da
comunidade escolar, especialmente a dos agressores, por meio de debates em
classe; orientação psicopedagógica individual e coletiva, reforços e sanções,
quando necessário;
e) Portugal: vários projetos de intervenção estão sendo desenvolvidos nas escolas
portuguesas por meio do programa europeu Training and Mobility for Research
(TMR). Na cidade de Braga, os próprios alunos criaram a Liga dos Alunos
Amigos (LAA), um programa pioneiro objetivando evitar as agressões entre
colegas e combater os conflitos entre escolares. O programa de intervenção,
baseado na premissa de “agir no local do crime”, atua em três vertentes: na
formação de diretores de turma que recebem treinamento para ajudar a prevenir
situações de agressão, na criação de um grupo de medidores de conflitos e de
uma rede socioemocional, com envolvimento dos próprios alunos. Para fazerem
parte da LAA, os alunos são escolhidos pelos próprios colegas de acordo com
alguns critérios: precisam ser bons amigos, saber guardar segredos e escutar e
respeitar as ideias dos outros. Esse grupo, constituído pela maioria feminina,
recebe formação prática para melhorar competências de comunicação e de ajuda
aos colegas;
f) Finlândia: o Ministério da Educação adotou o bullying nas escolas como tema
prioritário do Projeto Uma Confiança Sadia em Si Mesmo. O projeto visa
fortalecer a imagem que os alunos têm de si mesmos, além de oferecer
seminários especializados em recursos pedagógicos na prevenção do bullying,
bem como na publicação de materiais educativos que tratem das relações
humanas;
g) Noruega: o Ministério da Educação da Noruega criou, em 1996, o Norwegian
Program of Preventing and Managing Bullying in Schools (Programa
Norueguês de Prevenção e Controle do Bullying nas escolas). Esse programa foi
comparado com o de 1983 de Dan Olweus, contava com a participação do
43
Conselho de Estudantes. Os representantes trabalham para impedir o bullying,
em cooperação com a direção escolar e com a associação dos pais;
h) Holanda: estudos desenvolvidos nas escolas holandesas, em 1992, indicaram que
um a cada quatro alunos da escola primária e um a cada 12 alunos da escola
secundária eram vítimas do fenômeno. Diante desses resultados, a Organização
Nacional de Pais desenvolveu uma campanha - em todo o país - estruturada
sobre algumas estratégias, visando garantir a segurança dos filhos nas escolas.
Este programa visa enfrentar o problema mediante um esforço cooperativo que
contribuísse para a felicidade e bem-estar e que estimulasse novas perspectivas
de futuro para as crianças;
i) Brasil: o tema “violência” tornou-se prioridade de todas as escolas, motivo pelo
qual inúmeros projetos e programas estão sendo desenvolvidos, visando a
diminuição da violência escolar, com ênfase específica na violência explícita.
Entretanto são escassas as notícias que incluam o combate e a prevenção do
fenômeno bullying em nossas escolas.
De acordo com Silva (2010), o Brasil teve um atraso enorme em enfrentar o
problema. O tema só passou a ser estudado junto com a sociedade a partir do ano 2000,
quando Cléo Fante e José Augusto Pedra realizaram uma pesquisa ampla sobre o
assunto. Esse primeiro estudo no país resultou em um programa de combate “Educar
para a Paz”, colocado em prática no interior paulista. Tragédias ocorridas em São Paulo
e na Bahia revelaram de forma dramática a necessidade de se colocar o bullying em
pauta no dia a dia das escolas brasileiras:
Em janeiro de 2003, a cidade de Taiuva, no interior do estado de São Paulo,
foi palco de grande tragédia. O jovem Edimar de Freitas, de 18 anos, entrou
armado na escola em que havia concluído o ensino médio. Abriu fogo contra
cinquenta pessoas que estavam no pátio, feriu oito e se matou em seguida.
Segundo as investigações, a barbárie foi motivada pelos constantes apelidos e
humilhações que Edimar recebia por ser obeso. Ex-colegas do rapaz disseram
que ele prometia vingança, afirmando que todos iriam se arrepender. Na
cidade de Remanso, norte da Bahia, a 650 quilômetros de Salvador, o ano de
2004 também foi marcado por um caso semelhante, envolvendo condutas de
bullying. Após muitas humilhações e depois de receber baldes de lama sobre
sua cabeça, um rapaz, de 17 anos, matou duas pessoas e feriu mais três. O
jovem também tentou suicídio, mas foi impedido e desarmado. SILVA
(2010, p. 118,119).
E sobre o programa “Educar para a Paz”, Fante (2005, p. 3) afirma:
O programa (...) é um conjunto de estratégias psicopedagógicas que se
fundamenta sobre princípios de solidariedade, tolerância e respeito às
diferenças. Recebeu esse nome por acreditarmos que a paz é o maior anseio
44
das crianças envolvidas no fenômeno, bem como toda a sociedade. Envolve
toda a comunidade escolar, inclusive os pais e a comunidade onde a escola
está inserida. As estratégias do programa vão deste o trabalho individualizado
com os envolvidos em bullying - visando à inclusão e o fortalecimento da
autoestima das “vítimas” e a canalização da agressividade em ações proativas
do “agressor” - até as estratégias gerais, envolvendo todos da escola,
inclusive os pais e a comunidade.
Ainda segundo Fante (2012, p. 94), os objetivos propostos pelo citado
programa são os seguintes:
a) Que os alunos sejam conscientizados do fenômeno e suas consequências, a partir
da análise das próprias experiências vivenciadas no cotidiano, a fim de que
percebam quais os pensamentos e as ações despertadas por ele, bem como
motivos norteadores desse tipo de conduta;
b) Que os alunos, por meio de interiorização de valores humanos, desenvolvam a
capacidade de empatia, a fim de que percebam as implicações e os sofrimentos
geradores por esse tipo de comportamento e desenvolvam habilidades para sua
erradicação;
c) Que os alunos se comprometam com o bem comum e se tornem agentes de
transformação da violência na construção de uma realidade de paz nas escolas.
Sobre tal contexto, o médico Gustavo Teixeira - natural de São José do Rio
Preto, graduado pela South High School em Denver, Colorado/EUA - desenvolve em
seu livro Manual Antibullying (2011) um programa baseado em pesquisas realizadas a
partir de projetos utilizados em diversos países. Obviamente, o objetivo do programa é
aumentar o conhecimento, capacitando pais, professores, coordenadores pedagógicos,
profissionais da educação e a sociedade em geral sobre o bullying e a violência escolar.
E como resultado final, o recorte acadêmico sobre o assunto por ele desenvolvido
objetiva também prevenir o surgimento de novos casos.
Portanto: o programa antibullying do doutor Teixeira foi dividido em 20
itens essenciais para a efetividade do combate. Em suas pesquisas, ele ainda afirma que
o programa deverá ser eficiente se for aplicado de forma continuada.
Seguem basicamente os itens a serem considerados no programa do médico
em foco (2010, p. 71-91):
a) Psicoeducação: este trabalho consiste em oferecer informação sobre
comportamentos humanos em torno do bullying aos pais, professores e demais
profissionais da escola. Tal processo informacional pode ser realizado através de
palestras, cursos, reuniões e debates;
45
b) Palestra inicial aos pais e professores: oferecimento de diálogos conversacionais
psicoeducativos, em que deverão ser explicadas todas as etapas e processo de
aplicação do projeto na escola;
c) Palestra inicial aos alunos: deixar os alunos cientes sobre o bullying e suas
consequências;
d) Projeto mentor: os alunos mais velhos são treinados pelos professores e em
seguida irão às salas de aula dos alunos novatos para ensiná-los sobre culturas de
paz na escola;
e) Reuniões de Professores e Coordenação: professores e coordenadores devem se
reunir periodicamente para discutir a evolução do programa antibullying;
f) Disciplina de “Ética e Problemas Sociais”: ao ser implantada, um dos objetivos
desta matéria é orientar sobre questões do cotidiano como drogas, sexo, gravidez
na adolescência, violência, criminalidade, ética e comportamentos humanos em
torno do bullying;
g) Caixa de Recados: funciona como um canal de comunicação entre estudantes e
educadores; através dela podem ser relatados incidentes, e também solicitações
de ajuda;
h) Supervisão do ambiente escolar: os locais dentro da escola como pátio, jardins,
quadras deverão ser supervisionados, e os profissionais deverão estar
capacitados para intervir quando presenciarem casos de violência ou até mesmo
de bullying;
i) Constituição Antibullying: debates sobre a importância de regras para proteger e
fortalecer a democracia e o desenvolvimento da amizade e de uma cultura
pacifista no mundo;
j) Elogios e punição: os professores devem elogiar comportamentos positivos dos
alunos quando identificarem situações em que as regras antibullying são
respeitadas. E as punições deverão ser feitas através de mensagens claras de que
o comportamento do estudante é inaceitável e não tolerado em hipótese alguma.
Possíveis punições: conversa individual após o horário de aula, perda de
privilégio, perda de parte do recreio, uma conversa com o diretor, comunicar aos
pais para uma conversa particular com a direção;
k) Role playing: consiste na criação de uma minipeça de teatro em que os alunos
encenam temas relacionados ao bullying: desrespeito, preconceito, intolerância,
agressividade e poder;
46
l) Trabalhos em grupo: os trabalhos de grupo podem ser uma excelente opção para
ensinar e estimular o estudo do bullying pelos alunos;
m) Atividades extracurriculares: passeios e visitas a museus ou a reservas
ambientais, por exemplo, podem ter um impacto positivo no relacionamento dos
estudantes;
n) Esporte: pode representar um grande fator de inclusão entre todos os alunos.
Neste caso, o papel do professor de educação física será de fundamental
importância;
o) Amigos facilitadores: é a chance do aluno pouco habilidoso e com poucos
amigos de ser incluído e fazer novas amizades;
p) Prevenção ao cyberbullying: trabalhar os conceitos de prevenção ao
cyberbullying;
q) Conversa com agressor e vítima: após a identificação será fundamental a
conversa com os personagens. A conversa deverá ser feita individualmente com
o autor e em seguida, com a vítima. Para o agressor a escola deverá deixar clara
que não será tolerado em hipótese alguma esse tipo de comportamento. É
importante avaliar a possibilidade de essa criança estar passando por problemas
psicológicos ou problemas familiares. No caso das vítimas, deverá ser oferecido
auxílio, informar que ele receberá toda a proteção e ajuda necessária para
superar o problema. Também deverão ser observados problemas emocionais;
r) Separação dos bullies: uma estratégia inteligente é separar o grupo de agressores
em diferentes turmas escolares, diminuindo o poder deles e protegendo as
vítimas das possíveis agressões;
s) Encaminhamento dos casos graves: todos os casos graves deverão ser
encaminhados para avaliação médica com especialistas em comportamentos
infantis, o médico psiquiatra da infância e adolescência;
t) Treinamento em habilidades sociais: crianças e adolescentes com um perfil
psicológico com risco de se tornarem alvos de bullying podem se beneficiar de
treinamentos em habilidades sociais ou de terapia comportamental.
A conclusão deste programa antibullying criado pelo médico Gustavo
Teixeira revelou redução de mais de cinquenta por cento dos casos, além da diminuição
de comportamentos de conduta, como vandalismo, brigas, furtos e violência em geral.
Ainda sobre a perspectiva de tentar encontrar soluções para o problema, e de
acordo com a pesquisa realizada pela ABRAPIA (2002-2003), a escola deverá agir
prematuramente contra o bullying: a intervenção deverá acontecer imediatamente após a
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descoberta da existência do fenômeno, e a maneira mais eficaz é cooperação de todos os
envolvidos.
A mesma pesquisa também revela as etapas que deverão ser cumpridas para
implementar o programa antibullying na escola: a primeira etapa é a pesquisa da
realidade, a segunda etapa é buscar parcerias, a terceira etapa, formar um grupo de
trabalho, na quarta etapa, ouvir opiniões, a quinta etapa deverá definir os compromissos.
Já a sexta etapa é divulgar o tema, e a sétima etapa, por sua vez, é passar as informações
aos pais.
Sobre tal quadro, o programa desenvolvido pela ABRAPIA tem como
objetivos específicos:
a) Reduzir o bullying nas escolas selecionadas;
b) Criar um programa modelar no combate ao bullying;
c) Monitorar, avaliar e analisar a evolução do problema nas escolas;
d) Criar referências para os alunos que precisam de apoio e proteção (agressores e
vítimas) e para que denunciem as violências sofridas ou testemunhadas;
e) Incentivar o protagonismo juvenil;
f) Fortalecer e organizar ações já existentes nas escolas.
Tudo aquilo que possa fortificar a convivência escolar deve ser uma
caminho percorrido por todas as instituições de ensino. Para isso é necessário o
comprometimento de todos. Os conflitos sempre irão acontecer, pois as pessoas são
diferentes, e é com a participação de todos que possivelmente serão solucionados.
A respeito do tal contexto, Constantini (2004, p. 82,83) revela que:
É importante de todo mundo, desenvolver com os estudantes uma cultura do
fazer juntos, por meio da qual no interior dos contextos relacionais
regulamentados lhe seja ensinada uma nova maneira de se relacionarem,
ressaltando o prazer de se estar junto, estimulando a expressão espontânea e
autêntica, a reflexão crítica e o respeito ao outro. Uma ação educativa assim
estabelecida sob os planos relacionados e emocionais podem agir como
reforço psicológico nos processos de crescimento pessoal, de aprendizado e
de socialização.
A educadora Fante (2012, p. 81), por sua vez, revela:
O fenômeno bullying passou a ser considerado como um problema de saúde
pública, devendo ser reconhecido pelos profissionais de saúde em razão dos
danos físico-emocionais sofridos por aqueles que estão envolvidos nele.
Assim, faz-se necessário que os alunos se sintam seguros no ambiente
escolar, pois é obrigação da escola promover um ambiente sólido, destacando o respeito
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mútuo entre as pessoas e caracterizando as diferenças existentes entre elas. Agindo
dessa forma a escola será capaz de promover um espaço possivelmente amistoso e
humanitário.
A seguir, em torno de toda esta temática, esta monografia apresenta as
considerações finais.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em qualquer circunstância os conflitos entre estudantes sempre existiram,
porém é necessário saber diferenciar essas ações, pois o bullying escolar pode vir
camuflado como brincadeiras de crianças, e é de extrema importância explanar às
comunidades escolares sobre os seus efeitos.
Na introdução desta etapa final, convém destacar que o fenômeno bullying
está concentrado em agressões intencionais e repetitivas infringidas a uma pessoa ou a
um grupo de pessoas consideradas mais vulneráveis. No entanto, muitos profissionais
da educação desconsideram esses atos agressivos simplesmente por acreditar que são
características comuns da vida escolar das crianças.
Entretanto, após a realização deste estudo, a autora compreende que o
bullying possui particularidades e efeitos diferentes de outras agressões, e saber
distinguir agressores, vítimas e testemunhas contribuem muito para investigar tal
fenômeno.
Além disso, as pesquisas referidas nesta monografia mostram que a
predominância do fenômeno é no ambiente escolar, e que as vítimas na maioria dos
casos sofrem caladas apenas quando não suportam mais tamanha crueldade. Assim,
acabam tentando resolver o problema, muitas vezes, de maneira drástica. Por isso,
torna-se necessário tornar o assunto em pauta cada vez mais público, para que se possa
intervir com mais propriedade, competência e sensibilidade na busca de soluções.
Uma grande maneira para contribuir positivamente para o não crescimento
deste fenômeno é conhecendo as razões e as consequências, tendo-se consciência de que
se precisa agir contra os maus tratos ocasionados por ele. Assim, se as pessoas ficarem
de braços cruzados, certamente estarão cooperando para o seu crescimento.
Acrescente-se ainda que o trabalho em foco procurou analisar diversas
questões sobre o tema, mas sabe que não o esgota, haja vista que tal assunto possui um
alto nível de complexidade social, reunindo atores e realidades múltiplas.
Tal diversidade humana dificulta o encontro de soluções definitivas. Mas
também aponta para a importância de estudos como este, que privilegia uma abordagem
didaticamente acadêmica e pluralizada.
A pertinência deste trabalho também pode ser medida no recorte priorizado,
que tematiza assuntos como a identificação dos agressores, vítimas e testemunhas. Além
disso, há presença de relatos de diversas pessoas que sofreram bullying, ilustrando -
portanto - a amplitude e a importância social do tema.
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Como aprofundamento dos estudos, esta monografia destaca as
possibilidades de conscientização para o reconhecimento e busca de soluções para o
problema. Tal aspecto é importante, haja vista que, para procurar solucionar os casos, a
sociedade precisa estar ciente das suas formas de intervenção, aqui destacadas em
programas utilizados como o do médico Gustavo Teixeira, e também de outros,
presentes em diversos países.
Indo além e destacando o ambiente escolar: os profissionais aí presentes,
quando bem orientados, podem se transformar em mediadores do bullying, orientando e
ensinado habilidades indispensáveis ao reconhecimento do fenômeno e à intervenção
adequada com os envolvidos.
Além disso, eleger na escola estudantes como propagadores dos programas
antibullying mostra-se possivelmente eficiente, haja vista que o relacionamento entre
aluno-aluno pode tornar-se mais rendoso que o de professor-aluno, obviamente pela
intimidade que esta relação - horizontalizada - permite. A escola também deve favorecer
debates sobre o bullying, bem como igualmente sobre a violência e o preconceito. Nessa
perspectiva: ela deve realizar sempre parcerias com a família, impulsionando atitudes de
respeito e de cuidado ao próximo.
Enfim, compreender este problema é papel de todos os educadores, porém,
infelizmente, ele ainda é ignorado por falta de informações ou até mesmo de clareza do
fenômeno. Afirme-se, nesta conclusão, que todos os profissionais da escola devem atuar
frente ao bullying. E para que isso ocorra, é preciso colocar em prática e priorizar o
tema como meta e compromisso.
Em todo o retrato situacional, espera-se que esta pesquisa possa servir para
outros profissionais da educação que, assim como a autora, acreditam que é possível
agir de maneira diferenciada diante do fenômeno a fim de anular a violência em geral
dentro da escola.
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