CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … SOCIAL E... · CAP – Caixa de Aposentadoria e...
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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
JAMILE SILVA DE OLIVEIRA CASTRO
SERVIÇO SOCIAL E O SUS: DESAFIOS NA PRÁTICA DO/A
ASSISTENTE SOCIAL
FORTALEZA
2013
JAMILE SILVA DE OLIVEIRA CASTRO
SERVIÇO SOCIAL E O SUS: DESAFIOS NA PRÁTICA DO/A
ASSISTENTE SOCIAL
Monografia submetida à coordenação do curso de Serviço Social como pré-requisito para obtenção do grau de graduação pela Faculdade Cearense, sob a orientação da Prof.ª Ms. Laurinete Sales de Andrade.
FORTALEZA
2013
JAMILE SILVA DE OLIVEIRA CASTRO
SERVIÇO SOCIAL E O SUS: DESAFIOS NA PRÁTIDA DO/A
ASSISTENTE SOCIAL
Monografia como pré-requisito para
obtenção do título de bacharelado em
Serviço Social, outorgado pela Faculdade
Cearense – FaC, sendo sido aprovada pela
banca examinadora composta pelos
professores.
Data de aprovação:___/___/___
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Professora Ms. Laurinete Sales de Andrade
____________________________________________________
Professora Ms. Elizângela Assunção Nunes
____________________________________________________
Professora Ms. Mariana Albuquerque Dias Aderaldo
Aos meus pais, por todo carinho, amor
e dedicação. Pela fé e confiança
demonstradas a mim. O meu amor é
imensurável.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que se mostrou presente em todo instante, me dando coragem para
seguir nos momentos de desânimo. Debruçar-me em sua sabedoria provocou em
mim o sentimento de superação.
À minha família, avó, avô, tios e tias, em especial meus pais e irmãs. À minha
mãe, pelo amor incondicional, a preocupação e suas orações rotineiras para que eu
passasse de forma firme por esta etapa. Ao meu pai, pelo amor incondicional, pela
dedicação, pelo apoio em todos os momentos, tornando o caminho mais simples e
regado de felicidade. Aos dois, meu muito obrigada, que na frente do que fazem por
mim, torna-se mínimo. Obrigada por nunca permitirem que eu desistisse e por
demonstrarem ter como objetivo de vida: a minha felicidade. Às minhas irmãs, Ingrid
e Isabela, por estarem sempre juntas a mim, por participarem deste momento único
e acreditarem na minha vitória. Eu amo todos e todas vocês!
Ao Daniel, meu namorado e pessoa com quem eu amo compartilhar a vida. A
quem admiro pela força e determinação, pelo carinho e amor com a família. Ele,
sempre pronto a ajudar, inspirou-me bondade e amor. Obrigada, meu amor, por
caminhar junto comigo em todos os momentos, por me motivar para um futuro
colhedor, e por fazer de nós o melhor que poderíamos ser. A vida ainda tem muito
para nos oferecer.
À Lauri, minha mestre, orientadora, supervisora de campo e grande amiga.
Agradeço pela credibilidade, pelo carinho e dedicação. Obrigada pelos
ensinamentos, pela amizade e por compartilhar sua sabedoria e experiência comigo
ao longo dessa caminhada. Afirmo que você foi e é a profissional que me inspira.
Trago para o papel, também, meus agradecimentos às/aos profissionais do
Hospital Nossa Senhora da Conceição, por me concederem o tempo necessário às
entrevistas e por fazerem parte da minha história enquanto assistente social em
formação. Obrigada pela contribuição de cada uma de vocês. Um agradecimento
especial à Nice, pelas boas risadas diárias, tornando o campo de estágio e pesquisa
mais tranquilo, feliz e leve.
Às minhas GRANDES e fiéis amigas de infância, Rebecca, Suellen, Lúcia e
Juliana, por estarem comigo não só nesta conquista, mas em todos os
acontecimentos em torno de mim. À Natália, a querida “Nati”, que entrou em nossa
vida há pouco, mas não é menos importante nesta caminhada, pois acreditou junto
comigo e se mostrou amiga desde o início. Agradeço pela compreensão nos
momentos de ausência, na falta de tempo, e por tantos outros que a escrita exige.
Obrigada, sempre, pelos conselhos, por me ouvirem quando nem eu aguentava
mais e por acreditarem em mim mesmo quando eu não acreditava. Admiro e amo
todas vocês!
Agradeço às minhas amigas de turma, em especial às amigas Nayana,
Glaucianne, Giovanna e Michelle, que contribuíram desde o primeiro período e hoje
fazem parte da minha vida. À Marisa, pela paciência e preocupação comigo, por
dividir comigo sua sabedoria nos momentos de aperreio. À Vanessa, pela amizade
construída e por me contagiar com seu bom humor. Obrigada, meninas, por estarem
dispostas a ouvirem minhas inquietações pessoais e acadêmicas. À todas/os, que
direta ou indiretamente contribuíam para este momento.
Finalmente e não menos importante, agradeço à banca examinadora, pela
prontidão com que aceitaram o meu convite e pelas contribuições no meu processo
de formação, que tanto possibilitaram os questionamentos no percurso do estudo.
Por fim, muito obrigada a todos/as que foram de algum modo responsáveis
por esta conquista ao longo desses anos!
É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder. Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.” (Martin Luther King)
RESUMO
O presente estudo investiga o exercício profissional do/a assistente social no
contexto do SUS, mais precisamente em uma unidade pública de saúde do
município de Fortaleza – CE. Tem, como objetivo, analisar os limites e possibilidades
do cotidiano profissional no tocante à operacionalização do Sistema Único de
Saúde. Desse modo, procuramos compreender a saúde na perspectiva de política
pública, buscando elementos que possibilitem fundamentar um entendimento no
sentido de apreende-la dentro do complexo contexto neoliberal, traçando um
paralelo com a trajetória da saúde desde o surgimento no país, sendo este trajeto de
suma relevância, considerando que caracteriza o avanço da saúde, hoje tida como
universal. O estudo partiu da hipótese de que o Serviço Social para legitimar a
política pública de saúde, vive em meio a intensos desafios correspondentes à
contradição existente no seio da sociedade contemporânea, destacando sua
atuação na mediação dos tensionamentos entre as classes sociais. Neste sentido, o
método dialético possibilitou o entendimento da realidade social como uma
totalidade constituída por determinantes, que implica em condições materiais na vida
dos sujeitos. Continuamos o estudo através de métodos bibliográficos e de campo.
Os sujeitos delimitados para investigação foram assistentes sociais devidamente
registrados no CRESS, lotados no Hospital Nossa Senhora da Conceição, com
experiência há, no mínimo, 01 (um) ano na saúde. Para coleta de dados, as
entrevistas semi-estruturadas, gravadas, possibilitaram uma máxima apreensão das
falas dos sujeitos implicados no processo de investigação. Diante dos resultados,
configurados através da técnica da análise de conteúdo, dialogamos com os autores
da área e verificamos que a necessidade de aprimoramento intelectual e a
articulação com os conselhos de saúde são grandes desafios à atuação profissional.
Isto, somado à dificuldade em construir um trabalho conjunto com as demais
equipes de saúde no fomento ao conceito ampliado de saúde prejudica a ação
profissional na perspectiva do acesso aos direitos e ampliação da cidadania.
Concluímos que a necessidade de uma política de saúde que funcione alargam os
limites operados no cotidiano profissional e dificultam o exercício profissional à luz
do projeto hegemônico da profissão, no sentido de contribuir para as mudanças de
ordem social em favor dos interesses da maioria.
Palavras-chave: Serviço Social, saúde pública, exercício profissional.
ABSTRACT
The present study investigates the exercise of professional / social worker in the context of the NHS, more precisely in a public health unit in Fortaleza - CE. Has the objective to analyze the limits and possibilities of everyday professional regarding the operationalization of the National Health System We sought to understand health in public policy perspective, seeking support elements enabling an understanding towards grasps it in the complex neoliberal context, drawing a parallel with the trajectory of health from the emergence in the country, and this path of utmost relevance, considering that characterizes the Advancement of Health, today regarded as universal. The study hypothesized that the Social Service to legitimate public health policy, living amid intense challenges corresponding to the contradiction that exists within contemporary society, highlighting its role in mediating the tensions between social classes. Accordingly, the dialectic method allowed the understanding of social reality as a whole consists of determining which involves physical conditions of the subjects in life. We continue the study through publications and field methods. The subjects were delimited to research social workers duly registered in CRESS, crowded at Hospital Nossa Senhora da Conceição, with no experience, at least one (01) years in health. To collect data, semi-structured interviews, recorded, allowed a maximum seizure of speech of subjects involved in the research process. Given the results, these configured through the technique of content analysis, dialogue with the authors of the area and found that the need for intellectual improvement and coordination with the health boards are great challenges to professional. This, added to the difficulty in building a joint work with other health staff in promoting the broader concept of health harms professional action from the perspective of access to and expansion of citizenship rights. We conclude that the need for health policy that works extend the limits operated in daily work and professional practice hinder the light of the hegemonic project of the profession, in order to contribute to the changes of social order in the interests of the majority.
Keywords: social work, public health, professional practice.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abrasco – Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
AIS – Ações Integradas de Saúde
CAP – Caixa de Aposentadoria e Pensões
CEAS – Centro de Estudos e Ação Social
Cebes – Centro Brasileiro de Estudos em Saúde
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social
Conclat – Congresso das Classes Trabalhadoras
CNS – Conselho Nacional de Saúde
CRESS – Conselho Regional de Serviço Social
CUT – Central Única dos Trabalhadores
DNERu – Departamento Nacional de Endemias Rurais
DST – Doença Sexualmente Transmissível
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
HNSC – Hospital Nossa Senhora da Conceição
IAP – Instituto de Aposentadoria e Pensões
IAPM – Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
LBA – Legião Brasileira de Assistência
MS – Ministério da Saúde
NOB – Norma Operacional Básica
OMS – Organização Mundial de Saúde
PIB – Produto Interno Bruto
PT – Partido dos Trabalhadores
PDT – Partido Democrático Trabalhista
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro
SAE – Serviço Ambulatorial Especializado
SESC – Serviço Social do Comércio
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SESI – Serviço Social da Indústria
SER – Secretaria Executiva Regional
SESP – Serviço Especial de Saúde Pública
SUS – Sistema Único de Saúde
UNE – União Nacional dos Estudantes
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL
1.1 Um panorama da saúde no Brasil: do Brasil colônia à década de 1970................1
1.2 O contexto da reforma sanitária no Brasil: a defesa do acesso universal à
saúde............................................................................................................................6
1.3 Conhecendo o Sistema Único de Saúde (SUS) – a saúde como direito social....11
1.3.1 Tendências à perda da compreensão de saúde como direito social.................13
2. SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE
2.1 O Serviço Social no Brasil: a trajetória sócio-histórica da profissão .................... 19
2.2 A categoria trabalho como contribuição para o debate do exercício profissional 25
2.2 A inserção do/a assistente social na política de saúde do Brasil ........................ 30
3. O PERCURSO METODOLÓGICO E OS RESULTADOS DA PESQUISA
3.1 Tipo de estudo ..................................................................................................... 36
3.2 Local do Estudo. .................................................................................................. 37
3.3 Sujeitos da pesquisa ........................................................................................... 38
3.4 Coleta de dados .................................................................................................. 38
3.5 Análise dos dados ............................................................................................... 39
3.6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA...................................................41
3.6.1 O perfil das assistentes sociais ........................................................................ 41
3.7 O papel do Serviço Social no SUS ...................................................................... 42
3.7.1 O trabalho na perspectiva da garantia de direitos ............................................ 43
3.7.2 Enfrentamento das contradições na viabilização do SUS ................................ 44
3.7.3 A importância do assistente social no processo saúde doença ....................... 46
3.8 Os limites na prática do/a assistente social na operacionalização do SUS ......... 47
3.8.1 Ações que fogem das atribuições privativas .................................................... 48
3.8.2 Ausência de articulação entre teoria e prática .................................................. 49
3.8.3 A precarização da política de saúde ................................................................ 50
3.8.4 A dinâmica do plantão ...................................................................................... 51
3.8.5 O trabalho individualizado ................................................................................ 53
3.9 Possibilidades na atuação do/a assistente social no HNSC................................ 54
3.9.1 O atendimento na perspectiva da integralidade ............................................... 54
3.9.2 O Serviço Social na gestão .............................................................................. 55
3.9.3 A dimensão educativa ...................................................................................... 56
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 63
APÊNDICES ............................................................................................................. 69
ANEXOS ................................................................................................................... 71
1
CAPÍTULO I - A POLITICA DE SAÚDE NO BRASIL
1.1 Um panorama da saúde no Brasil: do Brasil colônia à década de 1970
Segundo Edler (2010), no período colonial – que corresponde do séc. XVI ao
XIX – a compreensão de sociedade partia da concepção de enquadramento numa
ordem política autoritária da época. A materialização desta política pode ser
percebida através da escravidão, que além de servir como solução econômica,
servia como forma de moldar e enquadrar a população negra a certa ordem social
promovida pelas elites metropolitanas, dominantes na época.
Com índios e negros denominados de “pagãos”, “preguiçosos”, “polígamos”,
“animais”, “canibais”, e “imundos”, abria-se ações de saúde da Igreja Católica em
aliança com as elites metropolitanas, tendo o propósito de limpar a alma desta
população que ao olhar das elites propagavam as mazelas. O Projeto era
denominado de “medicina da alma”, deveria ser ministrado por padres ou integrantes
do clero e tinha o objetivo de “se dirigir à limpeza e expiação dos elementos nocivos
e diabólicos”. (Edler, 2010, p. 24) Aos clínicos, cirurgiões e boticários, cabia
empregar seus conhecimentos e habilidades para amenizar o sofrimento do corpo
dos indivíduos e melhorar as condições gerais de higiene.
Dessa forma, as condições de saúde da população no período colonial eram
deploráveis. Edler (2010) afirma, ainda, que as condições de trabalho da população
negra, escravizada – trabalho sem descanso, sempre acompanhados/as de
chicoteadas, além de mal alimentados -, permitiam o aumento dos riscos à saúde.
Com base nisto, a população branca não se distanciava das condições de saúde
das demais etnias. Ora, embora as condições e ritmo de vida da população em geral
fossem diferenciados, assim como suas posições sociais, no tocante à total falta de
incentivo à saúde, a população branca recorria às formas de cura advindas da
Europa, cuidados médicos particulares ou, finalmente, às formas de cura oriundas
de índios e negros.
2
Assim, Falleiros e Pires-Alves (2010) referem que em tempos de Brasil
colônia, a saúde no Brasil praticamente inexistiu, existindo apenas ações de cura
feitas por pajés com seus cantos e ervas, além de boticários, que viajavam pelo
país. Ainda de acordo com o autor, a necessidade de criação de escolas de
medicina só veio surgir com a chegada da família real portuguesa no país.
Ponte (2010) afirma que ao final do século XIX, o Brasil se encontrava em
meio a graves problemas de saúde, refletindo para as demais economias a imagem
de lugar insalubre. Por conta das condições sanitárias, o país era visto como um
grande centro de surtos epidêmicos, o que tornava impossível a sobrevivência da
população.
Chalhoub (2010, p. 49 apud Ponte) vem nos dizer que, no fim do século XIX,
o processo de industrialização em consonância com o crescimento populacional
agravou ainda mais os problemas de saúde. A classe operária ia se intensificando,
acarretando em longas jornadas de trabalho, portos lotados aliados à ausência de
saneamento básico facilitavam a transmissão de doenças, além da falta de recursos
para o tratamento da saúde da população.
País agroexportador, sua economia dependia quase que exclusivamente do comércio externo, o que acabava por agravar ainda mais as consequências do seu quadro sanitário, já que muitas companhias de navegação se recusavam a estabelecer rotas que passassem pelos portos brasileiros. Conhecido como túmulo dos estrangeiros, o país encontrava dificuldade para atrair migrantes para as fazendas de café, carentes de mão de obra desde o fim da escravidão. (PONTE, 2010, pág. 49)
Mendes apud Polignano (2008) diz que a sociedade brasileira no séc. XX
esteve dominada por uma economia agroexportadora, tendo ênfase a monocultura
de café, e exigia um sistema de saúde destinado à circulação de mercadorias
exportáveis, já que os navios estrangeiros não queriam adentrar o país por conta
das situações de saúde, caracterizadas por epidemias e diversas doenças graves.
Foram criados alguns mecanismos com objetivo de erradicar as epidemias da época
- varíola, febre amarela e a malária -, dentre estes mecanismos está a nomeação de
Oswaldo Cruz, feita pelo Presidente da época, Rodrigues Alves. Oswaldo Cruz seria
o diretor do Departamento Federal de Saúde Pública.
3
Oswaldo Cruz começa uma tentativa de erradicação da febre amarela e
varíola na cidade do Rio de Janeiro, e de forma abitrária e autoritária, impõe à
população medidas de combate, tendo como ação a desinfecção das doenças
através de vacinas e queima de colchões e roupas dos doentes, o que resulta em
grande revolta1.
Em 1920, Carlos Chagas, sucessor de Oswaldo Cruz, reestruturou o Departamento Nacional de Saúde, então ligado ao Ministério da Justiça e introduziu a propaganda e a educação sanitária na técnica rotineira de ação, inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz que era puramente fiscal e policial. Criaram-se orgãos especializados na luta contra a tuberculose, a lepra e as doenças venéreas. A assistência hospitalar, infantil e a higiene industrial se destacaram como problemas individualizados. Expandiram-se as atividades de saneamento para outros estados, além do Rio de Janeiro e criou-se a Escola de Enfermagem Anna Nery. (POLIGNANO, 2008, p. 5)
Em consonância ao que foi citado, na mesma época, Cohn et al., (2010) nos
diz que os trabalhadores não tinham nenhuma garantia trabalhista, se viam em
longas jornadas de trabalho sem acesso à saúde e previdência, além de não terem
direito à férias. Com o advento da industrialização e a mão-de-obra europeia –
considerando que os operários europeus já tinham larga experiência por conta do
cenário industrial já ter grande desenvolvido na Europa -, Polignano (2008) observa
uma grande influência da classe operária europeia no Brasil, visto que já tinham
lutado por seus direitos trabalhistas na Europa, o que resultou em uma
movimentação por conta dos operários com objetivo de melhores condições de
trabalho, marcando a criação da Lei Eloy Chaves, em 1923, instituindo as Caixas de
Aposentadorias e Pensões – CAP’s, dando início ao modelo de medicina
previdenciária, destinado aos trabalhadores ferroviários, portuários e marítimos,
mediante contribuição. A lei estabelecia a criação de uma CAP para cada
companhia ferroviária do país.
Segundo Bravo (2009), os benefícios eram proporcionais às contribuições
dos trabalhadores, sendo estes benefícios: assistência médica-curativa,
fornecimento de medicamentos, aposentadoria por tempo de serviço, velhice e
invalidez, pensão para os dependentes e auxílio-funeral, além de cobertura em
1 Esta revolta é denominada de “revolta da vacina” e aconteceu no ano de 1904. Segundo Ponte (2010), a
vacina tinha caráter obrigatório e seu objetivo era combater a varíola - doença epidêmica que assolava a população na época.
4
acidentes de trabalho. Paim (2009) destaca, então, que o Brasil adotou um sistema
de proteção social baseado no seguro social, inicialmente através das CAP’s e em
seguida através dos institutos.
É importante salientar, segundo observação de Nogueira e Mioto (2009), a
diferenciação entre rico e pobre estabelecida com esse sistema médico
previdenciário, em que um lado se caracteriza com a assistência médica às pessoas
carentes e consideradas indigentes, contando com a sorte em serem atendidos, a
mercê de casas filantrópicas e Santas Casas de Misericórdias (sem recursos
suficientes para atenção à saúde) e raros serviços mantidos pelos Ministérios e
Secretarias Estaduais de Saúde, e o outro lado a cobertura e o direito à assistência
médica a partir da inserção nos setores da economia.
E é a partir desse momento que tem origem uma característica crucial da saúde em nosso país: a concepção da assistência médica, muito mais restrita que saúde, como pertinente à esfera privada e não à pública. Não se constitui, portanto, saúde como um direito do cidadão e muito menos dever do Estado, mas sim a assistência médica como um serviço ao qual se tem acesso a partir da clivagem inicial da inserção no mercado de trabalho formal e para a qual se tem que contribuir com um percentual do salário sempre por meio de um contrato compulsório. (COHN et al., 2010, pág. 15)
Schechtman et al (s/d) refere que no final de 1932, o Brasil contava com 140
CAP’s sendo estas composta por quase 19 mil assegurados. Ainda nos decênios de
1930 no governo Vargas, de acordo com Reis (2010), substituindo as Caixas de
Aposentadorias e Pensões surge os IAP’s – Institutos de Aposentadorias e Pensões,
institucionalizando o modelo de seguro social e dando acesso à assistência médica
aos demais trabalhadores, seguindo a mesma lógica das CAP’s, ou seja, mediante
contribuição previdenciária.
A administração dos IAPs seguia o modelo colegiado da lei de 1923, a chamada Lei Eloy Chaves – que estabelecia a criação de uma CAP para cada companhia ferroviária do país, e é apontada como marco introdutório do sistema de previdência para o setor privado –, porém com o significativo acréscimo de representação direta do Estado” em cada um dos institutos. (REIS, 2010, pág. 122)
5
Para Bravo (2009), a medicina previdenciária na década de 30 possibilitou a
extensão da assistência médica a um número maior de assalariados urbanos, e isso,
de modo estratégico, se deu com objetivo de antecipar as reivindicações das
categorias de trabalho não estabelecendo uma cobertura mais ampla desta
assistência. Ou seja, diante do que foi exposto, percebe-se que uma maior
intervenção do Estado só se deu na década de 30, quando os trabalhadores
urbanos se caracterizavam enquanto sujeitos sociais considerando o cenário político
da época em que amplia-se o número de trabalhadores em meio à precárias
condições de trabalho, higiene, saúde e habitação. Era necessário que surgissem
políticas sociais que contemplassem de algum modo os assalariados urbanos.
Em consonância com o que mencionado, Renovato e Bagnato (2008) nos
dizem que na década de 40, mais precisamente em 1942, com o atendimento
médico previdenciário a partir dos IAP´s, cria-se o Serviço Especial de Saúde
Pública (SESP), em decorrência de um acordo firmado por Estados Unidos e Brasil.
O acordo foi assinado tendo como objetivo desenvolver ações de combate à malária
e varíola inicialmente às populações da Amazônia, local onde era extraída a
borracha necessária para a guerra. Paim (2009) vem nos falar que o acordo
estabelecido entre Brasil e Estados Unidos teve como objetivo a exploração da
borracha na Amazônia. Posteriormente, o SESP transformou-se em fundação, e
mais tarde criou-se o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu),
substituído na década de 1960 pela Superintendência de Campanhas (SUCAM)
Destaca-se que as campanhas de saúde pública conhecidas como “sanitarismo
campanhista” não tinha sequer ligação com a medicina previdenciária materializada
pelos IAP’s, era separada assistência médica pública de caráter curativo e
previdenciário de caráter preventivo.
Cohn (2010) evidencia bem a distinção feita entre medicina previdenciária e
saúde pública, em que deixava claro o enfoque curativo de um lado – tendo a saúde
pública voltada para a cura das endemias que assolavam a população, como o
combate à febre amarela e a varíola a partir das campanhas sanitárias – e o
preventivo do outro – os trabalhadores assalariados assegurados de seu
atendimento não apenas curativo, mas preventivo, através dos IAP’s.
6
Schechtman et al (s/d) salienta que a assistência médica era diferenciada
dependendo de cada IAP. Como exemplo se tinha o IAPM, Instituto dos Marítimos,
em que o período de internação se dava até no máximo 30 dias, no entanto não
eram cobradas taxas complementares. Já no Instituto dos Industriários, à assistência
médica poderia ser cobrada alguma taxa complementar. Diante disto, surgia a
necessidade de um sistema que unificasse a assistência médica de maneira mais
igualitária.
Em meio a isto e regulado pelo Estado, Cohn et al., (2010) afirma que na
década de 1960, mais precisamente em 1966 – período de regime militar no Brasil
na presidência de Castelo Branco -, a previdência social é unificada, surgindo o
INPS – Instituto Nacional da Previdência Social e posteriormente tendo seu
desmembramento dando início ao INAMPS no ano de 1977, encarregado da
assistência médica à parcela da população, ou seja, ainda mediante contribuição
previdenciária.
Segundo Paim (2009), ocorre que o sistema de saúde do Brasil acabava por
deixar grande parte da população sem atenção médica ou, quando recebiam, se
configurava como atenção de baixa qualidade. Desse modo, Merhy e Queiroz (1993)
afirmam que os gastos com a saúde foram invertidos, favorecendo a medicina
previdenciária em detrimento da saúde pública.
Assim, tendo como norte o modelo desenvolvimentista brasileiro da década
de 1950, quando foi concordado que para melhoria das condições de vida da
população - e que tem como pilar a saúde - , se fazia necessário o desenvolvimento
econômico do país, destacou-se o avanço da privatização em relação à política de
saúde pública, demonstrando ações do Estado incapazes de deter a miséria e as
condições de saúde do país.
1.2 O Contexto da Reforma Sanitária no Brasil: A defesa do acesso universal à
saúde
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de
saúde não se limita à ausência de doença, mas à perfeita harmonia entre o bem
estar físico, mental e social. Desta forma, podemos verificar um conceito ampliado
7
de saúde em que, embasado em Batistella (2007) tem grande importância no
sentido de procurar destacar as dimensões econômicas, sociais e políticas no que
diz respeito à produção de saúde, o que se contrapõe à concepção biomédica no
tratamento mecanicista do corpo, em que os olhares se centram na doença. Diante
disto, o cenário brasileiro que vai do período colonial até a década de 1970 marcou a
compreensão do significado da saúde a partir da concepção da cura, eliminando
aspectos sociais, econômicos e culturais. Além disto, configurando a conjuntura do
Brasil na década de 1960, nas palavras de Escorel (2008, pág. 1),
O primeiro governo do regime ditatorial, com Castelo Branco na presidência, estabeleceu a institucionalidade do novo regime, ou seja, as regras do jogo que perdurariam por quase vinte anos e que podem ser resumidas em: ampliação do poder executivo, praticamente a extinção de qualquer oposição política, eleições indiretas para presidência da República e dos estados, censura e forte repressão a qualquer discordância ao regime. [...] houve um grande crescimento na economia – o chamado ‘milagre econômico’ – baseado no arrocho salarial e na transnacionalização crescente da estrutura produtiva. Enquanto o crescimento econômico era usado para mascarar a falta de liberdade, crescia a desigualdade social. Esse modelo de modernização baseou‐se no incremento financeiro
governamental com a infra‐estrutura econômica e forte redução nas políticas sociais. As reformas realizadas nesse sentido, além de favorecerem a acumulação capitalista, submeteram o Estado às regras do capital privado.
O primeiro efeito do período de regime militar para com o Ministério da
Saúde foi o desfinanciamento da saúde pública. Ocorre que, a despreocupação com
a saúde pública do brasileiro e a praticamente extinção de um Estado de direitos
fortalecia o cenário de privatizações. Escorel (2008) vem falar que com os baixos
orçamentos à saúde – estabelecidos em 2% do PIB – fez com que a saúde pública
se tornasse ineficiente, cuja atuação se restringia a campanhas de saúde ineficazes.
Desse modo, Bertolli Filho (2001) vem nos dizer que o Brasil se via em crise
devido a falência do modelo de desenvolvimento econômico após o período de
regime militar, tendo como consequência maior o aumento da inflação. Faleiros et al
(2006) observa o crescimento considerável da desigualdade social promovida pelo
arrocho salarial sobre os trabalhadores, o que resultou na diminuição do poder
aquisitivo destes trabalhadores impossibilitando-os ao consumo, o que não é
favorável ao modelo econômico, considerando a quantidade de oferta promovida
8
pelo capital e a necessidade de demanda, além do aumento da concentração de
renda nos estados mais ricos. Destarte, Kinzo (s/d, p. 5) refere,
A ascensão do general Geisel na presidência da República, em 1974, e o anúncio de seu projeto de distensão “gradual e segura” marcaram o início de um novo período do governo militar-autoritário, uma fase que passaria a ser o ponto de partida do processo de democratização no Brasil.
A sociedade ia exigindo liberdade e democracia, conforme Bertolli Filho
(2001), e no governo de João Batista Figueiredo, eleito em 1979, houve a
aceleração do processo de redemocratização do país, que foi instituída de maneira
lenta e gradual por seu antecessor. Assim, abriu-se espaço para as manifestações
políticas da população em busca de melhores condições de vida e surge, neste
período – década de 1980 - diversos movimentos populares. Reis (2010) diz que
entre os movimentos, ganha maior destaque a manifestação popular a favor das
eleições diretas para presidente, que envolveu partidos como o PT, PMDB, PDT, a
Central Única de Trabalhadores (CUT), o Congresso das Classes Trabalhadoras
(Conclat), e a União Nacional dos Estudantes (UNE).
Em meio a este cenário de abertura política e democrática do país, segundo
Paim (2009), com objetivo de enfrentar os problemas existentes no contexto da
saúde e democratizar seu acesso, surgiu um movimento composto por profissionais
de saúde, populares, estudantes e partidos de oposição2. O movimento era
denominado de Reforma Sanitária do Brasil, e ampliou o debate acerca de uma
saúde pública universal de maneira democrática, assumindo, assim, uma dimensão
política de modo que permeasse a sociedade civil, marcando a década de 1980.
Para Bravo (2011), a saúde deixou de ser de interesse apenas dos técnicos para
assumir uma dimensão vinculada à democracia.
O retrato do Brasil era pintado com pinceladas fortes e mostrava um povo doente e analfabeto, abandonado pelo Estado e entregue à própria sorte. Era urgente integrar essas populações nos marcos da nacionalidade e da cidadania, conferindo-lhes condições de lutar pela melhoria da própria vida. A responsabilidade por tal estado de coisas cabia tão somente ao poder público, que só se lembrava da existência desses indivíduos no momento de cobrar-lhes impostos ou votos. Em seus esforços para incorporar essas
2 Netto (2011) nos diz que entre estes, encontravam-se profissionais de Serviço Social, estabelecendo resultados
do processo de intenção de ruptura, em que procuravam inserir-se nos movimentos sociais aproximando-se de teorias Marxistas. Buscava-se romper com práticas conservadoras e assistencialistas.
9
populações num projeto nacional, os sanitaristas iniciaram uma verdadeira redescoberta do país, cujo mérito foi promover o encontro do Brasil consigo mesmo. (LIMA e HOCHMAN, 2010, p. 76 apud PONTE)
Falleiros e Lima (2010) vem nos falar sobre a importância da criação do
Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), em 1976 e da Associação
Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), em 1979 como difusores
do modelo sanitário no país, destacando suas participações na luta pela
democratização da saúde no Brasil. O membros que compunham as associações
reproduziam a discussão sobre a questão saúde no seio da sociedade e no interior
das instituições, através de palestras, debates e produções científicas relacionadas
à saúde.
Bravo (2009) diz que as principais propostas do Movimento de Reforma
Sanitária eram, além da universalização do acesso à saúde, a concepção de saúde
como direito social e dever do Estado e a defesa dos conselhos de saúde,
promovendo a participação efetiva da população nas tomadas de decisões. Ponte
(2010) ressaltam que o movimento pelo saneamento do Brasil ajudou a legitimar as
ações do Estado na dinâmica da sociedade e na saúde pública. Portanto,
possibilitou colocar a reflexão sobre a saúde numa dimensão sociológica da doença,
considerando os aspectos econômicos, sociais e culturais como processo
saúde/doença.
Desse modo, nas palavras de Falleiros e Lima (2010, pág. 239),
A luta pelo fim da ditadura militar levou a área da saúde a organizar os simpósios de Política Nacional de Saúde da Câmara dos Deputados, tendo o primeiro deles ocorrido em 1979. Nesse período de reorganização da sociedade civil, forças políticas ligadas à saúde pública passaram a discutir questões amplas ligadas à redemocratização do país e ao acesso aos serviços de saúde junto ao Legislativo. Esse foi um período de “crise” da Previdência Social, e não apenas crise financeira, mas também crise ideológica acerca do modelo de saúde a ser adotado, que colocou em confronto privatistas e publicistas. O II Simpósio, ocorrido em 1982, já contaria com o movimento organizado da reforma sanitária, propondo um sistema nacional de saúde, com a integração das medidas preventivas e curativas.
Nesse sentido, foi extinto o INPS e o Estado passa a implementar as Ações
Integradas de Saúde (AIS), que segundo Escorel (2008) tinha como diretrizes a
universalização, a acessibilidade, a descentralização, a integralidade e a
participação comunitária. Para Falleiros e Lima (2010), com a implementação da
10
AIS, o movimento sanitário teve possibilidade de entrar nos campos institucionais e
mudar os rumos da política de saúde dando enfoque ao setor público.
Tendo como conjuntura o que foi supracitado, a realização da VIII
Conferência Nacional de Saúde (1986), segundo COHN et al. (2009) foi um fato
marcante pra conquista da saúde como política pública universal, contando com a
presença de milhares de pessoas que defendiam a universalidade do acesso à
saúde. Arouca (apud Falleiros e Lima 2010) nos chama atenção para a VIII
Conferência Nacional de Saúde como o momento mais significativo e importante que
aconteceu no país no que diz respeito ao debate da questão social.
Apesar dos interesses e preocupações muitas vezes conflitantes, as forças progressistas aprovaram o princípio de que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, a ser implementado com a unificação, a democratização e a descentralização do sistema de saúde, depois inscrita na Constituição Federal de 1988; ampliaram e politizaram o conceito de saúde, compreendido como resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, e acesso aos serviços de saúde; e aprovaram propostas relativas às bases financeiras do sistema, incorporadas posteriormente ao texto constitucional. (FALLEIROS E LIMA, 2010, pág. 242)
Nesse sentido, devido à luta em busca do acesso à saúde universal e
mudança da compreensão de saúde que vai para além dos aspectos biomédicos,
colocando esta saúde nos debates sociológicos, com objetivo fundamental de
promover a cidadania humana, nasce o Sistema Único de Saúde - SUS, em que foi
estabelecida esta relação da saúde enquanto direito social, sendo universal e de
dever do Estado, representando, em termos constitucionais, um maior compromisso
do Estado com as classes que vivem do trabalho. O direito à saúde universal fica
então disposto na Constituição Federal de 1988, nos artigos 196 a 200, tendo sido
regulamentado pelas leis 8080/90 e 8142/90, que exprimem os princípios e diretrizes
do sistema e as normas para seu funcionamento. Assim, destaca-se a relevância da
contextualização da saúde brasileira disposta neste capítulo no tocante à
compreensão da política de saúde no Brasil, que teve como bases de sustentamento
as forças marcadas pela opressão por parte do Estado e, por outro lado, a não
desistência da população em lutar e conquistar melhores condições de vida, tendo
como relação direta o processo saúde/doença, considerando os aspectos sociais,
econômicos e culturais que fazem parte da cotidianidade da população.
11
1.3 Conhecendo o Sistema Único de Saúde (SUS) – a saúde como direito social
Com a reformulação da Constituição Federal em 1988, a saúde passa a ser
reconhecida enquanto direito social – que corresponde à condição de cidadão,
cabendo ao Estado prover esforços para a operacionalização destes direitos com
objetivo de garanti-los. Tais direitos se definem enquanto habitação, saúde, lazer e
educação - através do SUS e colocada com maior destaque em meio a discussões
sobre a questão saúde não apenas curativa, mas preventiva.
Essa conquista política e social pode ser atribuída a diversas lutas e esforços empreendidos pelo movimento de Reforma Sanitária, entre 1976 e 1988. Pela primeira vez na história do Brasil, foi promulgada uma Constituição que reconhece a saúde como direito social, dispondo de uma seção específica e contando com cinco artigos destinados à saúde. (PAIM, 2009, p. 43)
Na efetivação do sistema de saúde no Brasil através do SUS, apontando a
eficácia da política de saúde em consonância com as condições de vida da
população, são implementadas ações que visem a promoção, prevenção e
recuperação da saúde. Desse modo, tendo como norte o pensamento de Paim
(2009), o artigo 196, previsto na Constituição Federal (1988), correspondendo a
saúde como direito de todos e dever do Estado, exprime que a garantia desta saúde
deve ser viabilizada através de políticas econômicas e sociais que visem a redução
dos riscos à doença, além do acesso igualitário e universal aos serviços que
promovam a promoção, prevenção e recuperação da saúde. Simões (2011) destaca
o artigo 198 como complemento ao artigo citado anteriormente, em que as ações de
saúde se focam não apenas ao atendimento de pessoas doentes, mas tendo como
principal estratégia a prevenção destas doenças.
Para melhor esclarecimento do processo saúde/doença agora compreendido
constitucionalmente, pode-se citar como exemplo o trabalho na dimensão da saúde.
Nesta perspectiva, o trabalhador necessita de boas condições de saúde no exercício
de suas funções laborais. Na ausência destas condições, se torna impossível a
efetivação de seu trabalho, o que se apresenta como estímulo ao desemprego. Este
processo de saúde, explicitado anteriormente no decorrer desta produção, interfere
diretamente nas condições de vida do indivíduo.
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Para Paim (2009), promover a saúde significa incentivar e submeter as
pessoas à qualidade de vida, ou seja, oferecer melhores condições de vida,
educação, lazer, paz, alimentação, cultura, ambiente, etc, o que interfere
diretamente na saúde do indivíduo. A proteção está intimamente relacionada às
ações específicas na redução e/ou eliminação de riscos prejudicias à saúde. Como
exemplo, cita-se campanhas de vacinação e o uso do preservativo no enfrentamento
às doenças sexualmente transmissíveis. No tocante à recuperação da saúde, leva-
se em consideração o tratamento mediante o diagnóstico do usuário, evitando o
agravo de sua doença, configurando a assistência médica ambulatorial, hospitalar e
domiciliar os principais métodos para recuperação da saúde, como afirma Paim
(2009).
Desse modo, vê-se que o SUS consolidou a mudança da estrutura do
sistema de saúde que se configurava a partir da previdência, privatização e saúde
pública, sendo esta última esquecida pelo Estado a partir do total desfinanciamento.
Falleiros et al (2010) diz que o SUS preconizou esta mudança de estrutura do
sistema de saúde tendo como direcionamento a universalização e a eficácia do
sistema e fez da atenção básica a porta de entrada para o atendimento às
necessidades da população.
De acordo com Matta (2010), as bases para o sustentamento e
funcionamento do SUS se constitui através de princípios e diretrizes, além de
documentos que legislam a execução do sistema. Os princípios estão relacionados à
conquista do SUS no Brasil, aos valores obtidos com esta conquista, à luta pela
saúde universal, a sua universalização e o acesso a esta saúde como direito social.
As diretrizes dizem respeito às formas objetivas para se chegar a eficácia do
sistema, tem relação direta com os princípios e se configuram como
complementares. Para Matta (2010), os documentos que legislam o Sistema Único
de Saúde são os pilares para a organização do sistema. Nas palavras do autor:
A Constituição Federal de 1988, na qual a saúde é um dos setores que estruturam a seguridade social, ao lado da previdência e da assistência social, em especial na seção II, artigos 196 a 200; a lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, também conhecida como Lei Orgânica da Saúde, que dispõe principalmente sobre a organização e regulação das ações e serviços de saúde em todo o território nacional; e a lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que estabelece o formato da participação popular no
13
SUS e dispõe sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. (MATTA, 2009, p. 247)
Assim, com base na Constituição Federal de 1988, dentre os princípios e
diretrizes norteadores do SUS, estão a democratização e universalização do acesso,
dando garantia de atenção à saúde a todo indivíduo; a integralidade com as demais
políticas, que diz respeito à visão do homem enquanto ser total, levando em
consideração o conceito ampliado de saúde, em que a saúde não se limita à
ausência de doença, mas depende de condições culturais, políticas e sociais,
necessitando a inclusão das políticas existentes, objetivando a recuperação e
promoção da saúde; a descentralização, colocando a responsabilidade dos serviços
em todas as esferas de governo, o que configura uma maior responsabilidade das
gestões para com os problemas de saúde da população; a equidade, garantindo
pelo SUS, a igualdade entre todos os cidadãos; a hierarquização e regionalização,
que diz respeito à identificação dos perfis populacionais no tocante às necessidades
da população específica; e por fim a participação da comunidade, que com a
aprovação da lei 8.142 no ano de 1990, foram instituídos os conselhos e
conferências de saúde que atuam como instâncias de participação social no SUS
em todas as esferas de governo – municipal, estadual e federal. (BRASIL, 1988)
Com base nisto, Matta (2010) refere que os conselhos tem um caráter
deliberativo na atenção a estratégias voltadas para a saúde do país e são
compostos em sua maioria por usuários da saúde, trabalhadores da saúde e
gestores.
Desse modo, a participação social se caracteriza como a possibilidade de
participação da sociedade civil nas tomadas de decisões da gestão pública, tendo
como norte a primazia dos interesses da população. Esta diretriz exprime
fundamentalmente a participação da população na vida política do país. Verifica-se,
então, um modelo de saúde voltado para as necessidades da população,
caracterizando um grande avanço na política de saúde brasileira, numa concepção
de direitos humanos.
1.3.1 Tendências à perda da compreensão de saúde como direito social
14
Apesar da vitória da mudança estrutural na política de saúde no Brasil,
sabemos que vivemos num país, cujo sistema é o capitalista, em que a
concentração de renda é predominante e com grande dimensão, nas mãos dos
detentores dos meios de produção. Isto configura uma parcela mínima da população
e produz a desigualdade social3 presente em nosso cotidiano, expressando
condições objetivas e subjetivas na vida da população. Dentre estas condições, há a
deficiência da saúde pública, o trabalho fragmentado e fragilizado, a precarização
das relações de trabalho, bem como o descaso dos profissionais de saúde com os
usuários da política. Nesse sentido,
No final da década de 1980, havia algumas incertezas com relação à implementação do projeto de Reforma Sanitária, cabendo destacar: a fragilidade das medidas reformadoras em curso, a ineficácia do setor público, as tensões dos profissionais de saúde e a redução do apoio popular face à ausência de resultados concretos na melhoria da atenção à saúde da população brasileira. (BRAVO, 2009, pág. 99)
Dá-se início a um modelo de projeto de saúde voltado para o mercado,
completamente embasado na Política de Ajuste Neoliberal4 caracterizando um
grande ataque, segundo Bravo (2009), do grande capital. O Estado passa a se
pautar no fenômeno que Iamamoto (2008) denomina de “Refilantropização Social”,
ou seja, passaram para a população a responsabilidade de suprir as próprias
necessidades básicas que antes eram de responsabilidade do Estado.
A globalização neoliberal se caracteriza pela violenta reconcentração de capital mediante a privatização do patrimônio público, barateamento da força de trabalho e subsídios ao capital, levando o financeiro a ocupar um lugar hegemônico no processo de acumulação. Do ponto de vista social, assiste-se à privatização do financiamento e da produção dos serviços, à precarização das políticas públicas, com o corte dos gastos sociais, à concentração dos investimentos nos grupos mais carentes e à descentralização para o nível local. Essas mudanças se fizeram paulatinamente e interferiram nos rumos do Sistema Único de Saúde. (LIMA, 2010, pág. 278, 279)
3Para Castells (2012), no contexto da crise financeira que abrange todo o mundo, estamos vivendo um período
em que a população vai perdendo aos poucos seus direitos sociais conquistados, ficando a mercê apenas do mercado econômico. Justifica-se a exclusão social para desenvolvimento econômico do país e perde-se a ideia de que o Estado é responsável pelo bem estar da população. Sugiro a leitura do texto de Manuel Castells: como elites estão rompendo o pacto social. 4 De acordo com Valla (1999), o projeto de reforma do Estado aplicou medidas de ajuste que naturalizaram e
ressaltaram o aumento da pobreza e desemprego, estando longe de oferecer soluções. Assim, ocorre o enxugamento do Estado sendo este caracterizado enquanto mínimo de direitos.
15
O Estado passa a intervir em aliança com o mercado no sentido de que o
capital lança as leis de mercado e o Estado regulamenta. Isto, de acordo com Bravo
(2009), reforça o modelo de desenvolvimento econômico do país pautado na
redução de custos e na produtividade, o que intefere diretamente na política de
saúde do país, pois, a falta de financiamento em um sistema que atenda a toda uma
população resulta no atendimento e procedimentos extremamente precários,
configurando longas filas de espera para a realização de exames e consultas
especializadas, caracterizando o que Bravo (2009) refere ao citar a ausência de
resultados concretos no olhar da população.
Seguindo o mesmo argumento, tendo como base o pensamento de
Vasconcelos (2011), a lógica do mercado faz referência a uma política que prioriza o
desenvolvimento econômico do país e entra na contramão da história, fazendo com
que haja a apropriação dos direitos sociais por parte do capital numa perspectiva de
privatização, concretizando a perda da dimensão dos direitos conquistados pela
classe trabalhadora.
Assim, como medida de contenção de despesas, Vasconcelos (2011)
informa:
No ano de 1999 foram anunciados que os cortes na área social somam 40, 51% dos R$ 8, 7 bilhões que o governo pretende eliminar dos gastos com o próximo orçamento. A saúde teve a maior perda em valores absolutos na área social, seguida do Ministério da Política Fundiária e Ministério da Educação. Os cortes na área de Planejamento atingem diretamente os programas de saneamento e habitação, prejudicando o andamento e o desenvolvimento de projetos no próximo ano destinados a esgotamento sanitário, infra-estrutura urbana e habitação populares, todos com repercussão direta na saúde da população. (VASCONCELLOS, 2001, p. 59)
Para Pontes et al (2010), a partir da política de redução dos custos por parte
do Estado, a atenção básica seria uma atenção de baixo custo, representando a
falta de recursos e a pouca qualificação da força de trabalho. No tocante à ineficácia
da atenção básica, os setores de atenção secundária e terciária acabam por se
transformarem em grandes centros de lotação urbana e rural, aglomerando
inúmeras pessoas em situações de vulnerabilidade e doentes, acarretando na
seleção do atendimento e por ventura na demora deste atendimento.
16
Diante desta precarização na política de saúde, afirma-se cada vez mais a
sua privatização de um modo que fortalece a concepção de que a saúde pública é
ineficaz e não atende às necessidades dos usuários. Vai-se perdendo, então, a
percepção de saúde como direito social e universal.
A partir do que foi exposto conclui-se que a descrença do povo brasileiro
num sistema de saúde para todos leva milhões de pessoas a procurar por serviços,
planos ou seguradoras de saúde privados, pagando valores abusivos,
especialmente para a população de faixa etária mais avançada que, em função do
aumento da expectativa de vida e dos agravos da terceira idade, é a que mais
necessita, ficando cada vez mais longe tornarem práticos os seus princípios de
universalidade, integralidade e equidade.
Em contrapartida, o SUS tem apresentado avanços no que diz respeito à
sua efetivação. A participação social, através da lei 8.142 se apresenta como grande
avanço no tocante à democratização do acesso e na configuração de resultados do
Movimento de Reforma Sanitária do Brasil. A criação da lei 8.080 (1990), que dispõe
sobre os mecanismos de promoção, proteção e recuperação da saúde e o
funcionamento destes serviços também está relacionada ao avanço da política de
saúde pública. A compreensão de saúde a partir do viés sociológico, em um
conceito ampliado de saúde, também é considerado outro avanço. Além disto, Paim
(2009) nos informa que o SUS está implantado em todos os estados e municípios do
Brasil, dispondo de conselhos e secretarias de saúde em todas as esferas de
governo, o que concretiza a descentralização do sistema em um país que se
apresenta com mais de 5.500 municípios.
Para Pontes et al. (2010), o crescente número de profissionais não médicos
no contexto do SUS se configura como outro avanço, já que demonstra a
preocupação no atendimento às diferentes demandas de saúde dos usuários.
Após sancionadas as leis orgânicas da saúde mencionadas no presente
trabalho, surgem as Normas Operacionais Básicas (NOBs) como elemento de
orientação à descentralização do sistema, bem como repasse do financiamento.
Conforme Scatena e Tanaka (2001), as NOBs surgiram desde 1991, sendo
reformuladas em 1992, 1993 e 1996. Esta iniciativa tem como objetivo a busca pela
17
consolidação do SUS no país e, embora as leis orgânicas da saúde estruturem o
SUS em seus objetivos, competências, atribuições, controle social e financiamento,
são as normas operacionais básicas que dão o impulso para a implantação deste
sistema de maneira concreta.
Há, dentro desse contexto, o surgimento, no ano de 1994, do Programa
Saúde da Família (PSF), que, conforme o pensamento de Pires-Alves (2010) se
configura como uma atenção à saúde integral, tendo como porta de entrada o
atendimento primário, mais humanizado. Além disso, diante das estratégias para
democratização da saúde no Brasil, foi implementata a Política Nacional de
Humanização (PNH), visando promover um SUS humanizado, envolvendo usuários,
profissionais e gestores. (PNH, 2007)
Diante do cenário de contradições que o SUS enfrenta, nota-se que o
sistema se encontra em construção, seus avanços deverão estar na esfera da
valorização para a legitimação do sistema, o que acarreta na junção de esforços da
população no tocante à reprodução do SUS de direito. Schneider et al. (2009) nos
fala que, atualmente, por iniciativa das três esferas do governo (municipal, estadual
e federal), criou-se o Pacto pela Saúde, objetivando discutir a organização e o
financiamento do SUS na obtenção de um sistema consolidado efetivamente numa
perspectiva universal. “Seu objetivo principal é avançar na implantação dos
princípios constitucionais referentes à saúde no Brasil e definir as responsabilidades
de gestão de cada ente federado.” (Schneider et al., 2009, p. 8) Assim, tem-se o
Pacto pela Saúde como mais uma busca, através de estratégias, de defesa e
preservação dos princípios e diretrizes do SUS.
Por isso, podemos afirmar que o SUS é luta, é conquista e, também, esperança. Para que ele fosse criado, uma multidão de mulheres e homens deram o melhor de suas vidas em termos de trabalho, afeto, mobilização, para conquistar corações e mentes de outros tantos. Essas pessoas militantes transformaram uma proposta nascida na sociedade em parte de um sistema de proteção social, por meio do processo constituinte. Posteriormente, tiveram a habilidade de estabelecer acordos e pactos para transformar o SUS em uma grande política pública de inclusão e de democratização da saúde. (PAIM, 2009, p. 122)
Nesse sentido, embora a saúde tenha caminhado desde um Estado
autoritário e paternalista à lógica neoliberal de um Estado mínimo de direitos, é
necessário reconhecer que, através do empenho político e das lutas sociais, o SUS
18
aparece como uma grande conquista e é necessário dispor de instrumentos e ações
para lutar por sua efetivação.
19
CAPÍTULO II - SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE
2.1 O Serviço Social no Brasil: a trajetória socio-histórica da profissão
Com base no pensamento de Martinelli et al. (2008), atualmente, o Serviço
Social caracteriza-se como profissão liberal, inserida na divisão social e técnica do
trabalho, amadurecida e consolidada em âmbito nacional. Isto é resultado de
inúmeras publicações, recorrentes de reflexões críticas que permeiam as
universidades e os encontros de debates, acompanhados de grandes mestres e
doutores renomados a nivel de América Latina e Europa. Contudo, para tanto, a
profissão passou por alguns marcos na trajetória profissional desde a sua gênese,
configurando seu desenvolvimento sociohistórico.
Desse modo, Netto (2011) vem nos dizer que o Serviço Social surgiu na
década de 1930, e sua prática estabelecia-se através da doutrina católica. Seu
surgimento coincindiu com o início do processo de industrialização e o aumento da
população urbana, em período de lutas e reivindicações sociais por parte da classe
trabalhadora.
Martinelli et al (2008), em consonância com Netto (2011), confirma a origem
do Serviço Social relacionada à emergência da sociedade urbano-insdustrial, nos
decênios de 1930, a partir do desenvolvimento do sistema capitalista, em que
crescia de forma latente as expressões da questão social e por consequência as
lutas contra a exploração do trabalho e a defesa dos direitos sociais. Assim, a
profissão surge da emergência da questão social e dos conflitos da relação capital x
trabalho.
Para Iamamoto e Carvalho (2011), as condições de vida dos proletariados
industriais - no período em que havia um aumento considerável de pessoas
advindas das zonas rurais para os centros urbanos - eram mínimas, configurando
casas insalubres, com ausência do que se torna básico para a sobrevivência digna
do ser humano: água, luz e esgoto. Além disto, o salário era ínfimo de tal forma, que
a renda total da família pouco colaborava para suprir sua subsistência.
Nesse sentido, o Serviço Social dá início a sua trajetória sociohistórica como
forma de intervenção do Estado, em aliança com a igreja católica, no enfrentamento
20
ao crescimento das expressões da questão social. No tocante à aliança com a igreja
católica, segundo Iamamoto e Carvalho (2011), em meio à intensificação da questão
social na década de 1930, a igreja promove o movimento católico leigo, contando
com o Serviço Social em um departamento especializado da ação social, o que
resultou nas práticas interventivas dos assistentes sociais baseadas na doutrina
social da igreja. A igreja, portanto, era reconhecida como instituição social de cunho
religioso. Yazbek (2009) sinaliza que os referenciais da prática do assistente social
tinham orientações a partir do ideário franco-belga de ação social e o pensamento
de São Tomás de Aquino, advindos do século XII, denominado de tomismo. Nos fins
do século XIX, esta concepção tomista foi apropriada e denominada de neotomismo,
aplicada às necessidades sociais que se expressavam na época.
É, pois, na relação com a Igreja Católica, que o Serviço Social brasileiro vai fundamentar a formulação de seus primeiros objetivos políticos-sociais, orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contrário aos ideários liberal e marxista na busca de recuperação da hegemonia do pensamento social da Igreja em face da “questão social”. [...] o conservadorismo católico que caracterizou os anos iniciais do Serviço Social brasileiro começa, especialmente a partir dos anos 1940, a avançar tecnicamente ao entrar em contato com o Serviço Social norte-americano e suas propostas de trabalho permeadas pelo caráter conservador da teoria social positivista. (YAZBEK, 2009, p. 131)
Com base nisso, Martinelli et al (2008) vem nos dizer que ainda na década de
1930, mais precisamente em 1932, é criado em São Paulo o primeiro Centro de
Estudos e Ação Social (CEAS). A grade curricular do curso incluía religião, filosofia
moral, direito constitucional e direito administrativo, além de higiene social. O Ceas
tinha como objetivo se basear no pensamento católico para influir na vida da
população por meio de ações sociais da igreja.
É importante ressaltar, que, de acordo com Iamamoto e Carvalho (2011), a
igreja partia da concepção de naturalização da pobreza, em que na sociedade havia
pobres e ricos e as ações estavam voltadas não para superação desta realidade,
mas para enquadramento à ordem vigente. Ora, o surgimento do Serviço Social
coincide com o momento de ascensão do capital, em que não seria mais a Igreja
definidora da ideologia na sociedade. A ideologia é difundida pelas próprias classes
dominantes detentoras dos meios de produção, as classes que mantém o
monopólio. Assim se dá a relação de naturalização da pobreza e as ações da igreja
caracterizadas como anticomunistas e antissocialistas, a favor do capital.
21
Nota-se que a igreja católica foi responsável pelo processo de formação dos
primeiros assistentes sociais brasileiros e orientadora de suas práticas interventivas,
a partir de um viés conservador5 e sem perspectiva de mudança do cenário
conjuntural da época. Esta aproximação do Serviço Social com os dogmas e a
doutrina da igreja católica revelou um profissional dotado de práticas conservadoras
e assistencialistas, além do caráter caritativo designado à profissão. “[...] o Serviço
Social emerge como uma atividade com bases mais doutrinárias que científicas, no
bojo de um movimento de cunho reformista-conservador.” (IAMAMOTO, 2008, p.
21).
Nesse sentido, segundo Martinelli et al (2008), ainda na década de 1930,
foram criadas duas escolas de Serviço Social, sendo uma na cidade do Rio de
Janeiro e, a outra, o próprio Ceas, pois obteve seu reconhecimento enquanto escola
no ano de 1939 em consonância com a primeira revista de Serviço Social do país
seguindo, ainda, a doutrina da igreja católica, além de informativa e técnica. No
Ceas, foi criada uma turma de Serviço Social masculina para suprir os serviços
autorizados pelos do órgão estadual, pois, para algumas ações - citando como
exemplo viagens ao interior – fazia necessário o trabalho de homens.
Diante do processo de expropriação a que estão submetidos os trabalhadores no movimento de expansão do capital, sua pauperização tende a aumentar em relação ao crescimento acelerado do capital. Diante desta lei de acumulação, o Estado, em seu papel de árbitro das relações de classe, assume tarefas cada vez mais ativas no sentido de zelar pela reprodução da força de trabalho, não só por meio de legislação específica – expressão muitas vezes de ganhos efetivos da classe operária – como pela prestação de serviços básicos de organismos estatais, paraestatais ou privados, regulados por intermédio de políticas sociais. (IAMAMOTO, 2011, p. 109)
Como mencionado neste item, o Serviço Social nasceu da demanda por parte
do Estado na tentativa de controle das classes que vivem do trabalho em relação às
suas reivindicações por melhores condições de trabalho e de vida. Algumas
ferramentas de controle destas classes se expressa na criação da legislação social
na década de 1920 - e intensificação na década de 1930 e 1940 -, com as Caixas de
5 Afirma Netto (2011) que o conservador direciona-se para a preservação e adequação da sociedade à ordem
capitalista. Não há, na prática do conservador, nenhuma ação voltada à mudança da ordem social. Pelo contrário, suas ações direcionam-se para a manutenção da ordem capitalista. Nas palavras de Iamamoto (2008), “[...] o conservador pensa a base do ‘nós’; o indivíduo não é uma partícula isolada e atomizada na sociedade, mas é parte de unidades mais amplas, dos grupos sociais básicos [...]” (p. 24)
22
Aposentadorias e Pensões que deixam claro a atenção aos trabalhadores de
determinados setores e o esquecimento de parcela da população. Esta lógica de
contribuição previdenciária durou até a década de 1980. Com base nisto,
percebemos a emergência da intervenção do assistente social como demanda do
Estado e empresariado e, assim, de acordo com Martinelli et al (2008), no tocante ao
atendimento à estas novas configurações societárias, dá-se início ao processo de
institucionalização do Serviço Social no Brasil.
Sendo assim, conforme Iamamoto e Carvalho (2011), em meados da década
de 1940, o Serviço Social adquire desenvolvimento a partir da influência do
conservadorismo europeu e franco-belga às influências da sociologia norte-
americana. Nesta época criou-se a Legião Brasileira de Assistência (LBA)6, na
década de 1940, com o comando de Darcy Vargas, primeira dama na época, e
foram fundadas as grandes empresas que hoje conhecemos como Sistema S (SESI,
SESC, SENAI). Como destaca Yazbek (2009), com a criação de instituições
assistenciais no âmbito estatal na década de 1940, o Estado confirma o seu papel
regulador na reprodução das relações sociais, tanto no que diz respeito à
viabilização de meios que consolidem o processo de acumulação capitalista, quanto
no atendimento – superficial - às necessidades sociais das classes que vivem do
trabalho. Este cenário colabora para a abertura do mercado de trabalho para o/a
assistente social, o que possibilita a mudança das ações profissionais que vão para
além de ações sociais da Igreja no campo privado e financiadas pelo bloco católico.
Nas palavras de Martinelli et al (2008),
[...] a profissão amplia suas áreas de ação, assume um lugar na execução das políticas sociais públicas e, a partir daí, tem seu desenvolvimento vinculado às requisições de um Estado que passa a intervir nas relações sociais pela mediação de políticas no campo social. Há então uma reorientação da profissão, que para atender às novas configurações do desenvolvimento capitalista avança na perspectiva de ampliar seus referencias técnicos e sistematizar seu espaço sócio-ocupacional. Assim seno, o próprio Estado vai impulsionando a profissionalização do assistente social, ampliando seu campo de trabalho e diversificando a população usuária das ações desse profissional, agora pela via das políticas públicas. (MARTINELLI et al., 2008, p. 14)
Verifica-se que o Serviço Social deixou de ser agente de caridade para
inserir-se na divisão social e técnica do trabalho, a partir do surgimento das políticas
6 Conforme Iamamoto e Carvalho (2011) a LBA foi criada com o objetivo de promover assistência às famílias
cujo chefes se encontravam em batalhas decorrentes do engajamento do país na Segunda Guerra Mundial.
23
sociais pelo Estado e por demandas dos setores privados. Contudo, suas
intervenções caracterizavam-se enquanto distantes da apreensão dos determinantes
que acometem a vida dos sujeitos envolvidos no processo de reprodução da vida
social, conforme sinalizam Iamamoto e Carvalho (2011). Os profissionais interviam
na realidade social não a partir de uma reflexão macro da estrutura societária, mas
percebiam a questão social como um conjunto de problemas morais que acometiam
a vida dos indivíduos, e de responsabilidade dos mesmos.
Isto posto, nota-se que o processo de institucionalização do Serviço Social
deu-se de maneira lenta, sua direção a partir da burguesia e seu surgimento como
uma das estratégias de disciplinamento, controle e reprodução da ideologia
dominante, o papel do profissional era o de conter a força das lutas sociais. Afirma
Yazbek (2009), que a década de 1940 marcou a tecnificação do conservadorismo
católico adquirido na gênese da profissão, no momento em que esta se aproxima do
Serviço Social norte-americano e seu agir profissional embasa-se na teoria social
positivista, de cunho conservador, considerando que esta matriz teórica trabalha a
realidade no aparente, na imediaticidade dos fatos. O fato é que a realidade social
brasileira tinha desenvolvimento diferente da norte-americana. Aplicar teorias e
técnicas a fim de dar respostas às necessidades sociais com a ausência do
conhecimento necessário não possibilitava respostas concretas.
Em condordância com Martinelli et al (2008), as décadas de 1950 e 1960
marcaram a trajetória da profissão: aumentou o número de escolas de Serviço
Social; profissionais de serviço social atenderam às demandas de cidades pequenas
e médias; houve abertura para o espaço industrial e foram incorporadas novas
funções como planejamento, coordenação e administração de programas sociais, o
que revelou a apreensão teórica e técnica de unidade.
A profissão passa, no decorrer de sua trajetória histórica, por algumas fases
que não atestam sua capacidade de criticidade diante do que é imposto pela
sociedade capitalista. Estas fases configuram-se como tentativas de dar respostas
concretas às necessidades sociais da população.
Destarte, na década de 1960, de acordo com Netto (2011), o Serviço Social
questiona-se sobre seu papel na reprodução das relações sociais, configurando o
24
perfil renovador da profissão. As formas de opressão e exclusão operadas pelo
sistema capitalista inquieta as ciências sociais e invade as universidades. Isto rebate
no interior do Serviço Social refletindo na busca da categoria por uma reflexão crítica
da realidade social, no entanto, ainda muito distante da compreensão de realidade
social que deveria existir na profissão.
O movimento de reconceituação impõe aos assistentes sociais a necessidade de construir um novo projeto profissional, comprometido com as demandas e interesses dos trabalhadores e das camadas populares usuárias das políticas públicas. É no bojo desse movimento e em seus desdobramentos históricos, que se definem e se confrontam diferentes tendências na profissão, que incidem nos seus fundamentos teóricos e metodológicos e na direção social de sua intervenção. (MARTINELLI et al., 2008, p. 16)
Conforme Netto (2011), foram intensos momentos de debates, encontros e
seminários teóricos em Araxá (1967) e Teresópolis (1970) marcando a perspectiva
modernizadora e a reatualização do conservadorismo na profissão7. Com a vertente
modernizadora, houve aproximação dos/as assistentes sociais em formação e
profissionais da corrente neopositivista, que configurou a manutenção do
conservadorismo nas ações profissionais pelo viés da adequação dos indivíduos. A
segunda vertente, embasada na fenomenologia, buscou mudanças com perspectiva
de transformação, mas a ausência de criticidade dos/as profissionais promoveram
ações voltadas para técnicas psicologizantes do individuo social.
Finalmente, nos decênios de 1980, a teoria social crítica de Marx configurou
a terceira dimensão do processo de renovação do Serviço Social: a intenção de
ruptura. Com base em Yazbek (2009), esta vertente, num primeiro momento, coloca
à profissão a concepção de sua inserção na sociedade de classes e, no Brasil,
configurou-se como uma aproximação do marxismo, mas deixando de lado a
apropriação do real pensamento de Marx, ao renegar a via institucional e
desconsiderar a trajetória sócio histórica da profissão.
Na primeira metade dos anos oitenta, é esta a perspectiva – intenção de ruptura – que dá o tom da polêmica profissional e fixa as características da retórica politizada (com nítidas tendências à partidarização) de vanguardas profissionais de maior incidência na categoria. Permeando o que há de mais ressonante na relação entre esta e a sociedade - e de forma tal que fornece a impressão de possuir uma inconteste hegemonia no universo profissional. (NETTO, 2011, p. 160)
7 Ver obra de José Paulo Netto: Ditadura e Serviço Social – uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64.
25
É, portanto, na segunda metade da década de 1980 que, de acordo com
Yazbek (2009), a teoria social crítica se insere como matriz teórico-metodológica do
Serviço Social passando a fazer uma interlocução significativa com a profissão, isto
é, as ações do/a assistente social caracterizam-se a partir de constantes mediações
do ser social e suas relações sociais, o que não é apreendido na imediaticidade,
mas partem de uma perspectiva macroestrutural.
O processo de intenção de ruptura8 na década de 1980 deixa claro ao
assistente social seu real papel enquanto profissão no tocante à aproximação da
vertente Marxista, desvelando a realidade antes inquestionável. Surge, então, um
novo Serviço Social: crítico e competente, com a reformulação do aparato que
norteava a profissão, como o Código de Ética de 1986.
Contudo, Miranda e Cavalcanti (2005) observa que embora o Código de
Ética de 1986 tenha sido um avanço, a ética na profissão foi tomada apenas na
dimensão política, e não prática, sendo esta concepção de ética alcançada apenas
com o Código de Ética de 1993, contendo dentre os seus princípios a defesa
intransigente dos direitos humanos, ampliação e consolidação da cidadania,
equidade e justiça social, respeito às diferenças e o posicionamento em favor de
uma nova ordem social. Houve aproximação de forma mais clara e legítima dos
profissionais de Serviço Social com a classe trabalhadora, não de maneira
desenvolvimentista, mas de busca pela superação da ordem social que estava/está
posta, contribuindo com a emancipação dos sujeitos e no que diz respeito às
desigualdades originárias da relação capital x trabalho, buscando conectar sua ação
política numa perspectiva coletiva.
2.2 A categoria trabalho como contribuição para o debate do exercício
profissional
Para Marx (2011) o trabalho apresenta-se como a essência do homem, a
interação deste com a natureza, sendo a forma como o indivíduo apropria-se da
8 Para Netto (2011), até os dias atuais, a vertente não concretizou a ruptura desejada com o conservadorismo,
isto é, o autor está dando significado ao termo no momento em que o denomina de “intenção”. Vasconcellos (2011) refere que o Serviço Social só romperá com suas práticas conservadoras à medida que este conservadorismo seja eliminado na sociedade atual.
26
natureza para satisfazer suas necessidades. Caracteriza-se como expressão da
vida humana e atividade criadora de valores de uso. Lukács (1981), filósofo de
grande importância no cenário social-intelectual, interpreta o trabalho na concepção
de Marx como a relação do homem (sendo este a sociedade) com a natureza, e
sinaliza a passagem do homem, puramente biológico, para ser social. O trabalho
seria, então, a capacidade que o homem tem de transformar a natureza, buscando
sua sobrevivência, modificando além da natureza, a si mesmo, sendo a atividade
essencial à reprodução social. Em sua relação com a natureza, o homem foi
desenvolvendo sua consciência e capacidade de relacionar-se socialmente. Neste
sentido, tem-se o trabalho como fundador da sociabilidade humana, à medida que
é através deste que são construídas as relações sociais.
Araújo (2002) exprime o pensamento de Marx ao reiterar que o trabalho
permite ao homem ir além de suas necessidades imediatas. É esta atividade que o
diferencia dos demais animais, o trabalho seria uma atividade criadora da vida
humana em sociedade. “[...] o resultado da ação humana materializa-se, torna-se
concreta e externa àquele que a criou, constitui-se como um novo elemento a fazer
parte das causalidades postas que serão incorporadas à atividade humana.”
(ARAÚJO, 2002, pág. 260)
Granemann (2009) refere que a compreensão do trabalho como fundador da
sociabilidade humana faz recorrência à concepção de que as formas de
sociabilidade sempre estiveram relacionadas ao trabalho como produtor das
relações sociais, de vida, desde as sociedades mais antigas, “[...] por meio de tal
atividade, produziram os bens socialmente necessários a cada período da história
humana.“ (GRANEMANN, 2009, pág. 225)
É importante evidenciar a questão do conhecimento pertinente ao ser
humano, haja vista que este conhecimento possibilita o agir do homem sobre o
mundo no surgimento de novas necessidades humanas. Dessa maneira, o homem
cria novas atividades como consequência de novas necessidades sociais,
transformando o trabalho natural e puramente social em uma atividade alienada – e
produtora de uma sociedade alienada - numa perspectiva mercadológica.
27
Nesta perspectiva, Iamamoto (2012, pág. 73) nos aponta a compreensão de
trabalho na conjuntura marcada pela economia. Nas palavras da autora:
O caráter social do trabalho, assim como as forças naturais e a ciência, forças produtivas gerais da sociedade, enfrentam o trabalhador coletivo submetido aos meios e às condições materiais de produção desenvolvidas em larga escala – material de trabalho, meios de trabalho e meios de vida -, como potências do capital, alheias ao trabalhador individual às quais se encontra subsumido. [...] essa relação é, na sua simplicidade, uma inversão: a personificação de coisas e a coisificação de pessoas. Aquela produtividade consiste, sobretudo, na coação para obter trabalho excedente – trabalhar mais do que é socialmente necessário, o que a produção capitalista compartilha com modos anteriores de produção, mas que nela se realiza de modo mais favorável.
Lessa (2012) sinaliza a distinção entre trabalho abstrato e trabalho concreto.
O autor afirma que o trabalho abstrato refere-se à atividade alienada, a submissão
dos homens à lógica do capital. Já o trabalho concreto, refere-se à atividade de
transformação da natureza, em que o homem se constrói junto com esta natureza.
“O trabalho é a categoria decisiva da autoconstrução humana, da elevação dos
homens a níveis cada vez mais desenvolvidos de sociabilidade”. (LESSA, 2012,
pág. 26)
Desse modo, entende-se o trabalho abstrato estritamente conectado ao
capitalismo, à medida que sua concepção parte do surgimento de novas
necessidades humanas, na atenção à primazia do lucro em detrimento de formas
saudáveis9 de sociabilidade. O trabalho na sociedade capitalista está longe da
compreensão ontológica do ser social inserido nos processos de trabalho
estabelecida pelo filósofo Karl Marx10.
A partir do que foi exposto, Antunes e Alves (2004) vem nos falar que a
classe trabalhadora, hoje, compreende todos os assalariados, são as classes-que-
vivem-do-trabalho11, destituídos dos meios de produção. Antunes (2009) nos traz
uma abordagem acerca das mutações no mundo do trabalho alargadas a partir do
modelo taylorista/fordista12, como consequência das crises econômicas na
9 a concepção ampliada de saúde, disposta no capítulo I deste trabalho.
10 Assume-se a concepção de trabalho em Marx, considerando a apropriação do Serviço social das teorias
marxianas no desvelamento da realidade, à medida que a teoria social crítica possibilita a compreensão das mediações relativas às formas de sociabiidade humana. 11
Cf. Antunes, 1995, 1999. 12
Nas palavras de Antunes (2009, pág. 38), “[...] o binômio taylorismo/fordismo, expressão dominante do sistema produtivo e de seu respectivo processo de trabalho, que vigorou na indústria, ao londo praticamente de todo século XX, sobretudo a partir da segunda década, baseava-se na produção em massa de mercadorias,
28
sociedade capitalista, refletindo diretamente na classe trabalhadora. Este fenômeno
é denominado de reestruturação produtiva13, e provoca a diminuição do número de
empregos formais, o aumento da quantidade de trabalhadores terceirizados e
explorados, condições de trabalho precarizados e desregulamentados, além de
longas jornadas de trabalho. Observa-se, então, que decorrente destes fatores, dá-
se ênfase à desigualdade social tão presente em nossa sociedade.
Ressalta-se, com ampla importância, as consequências da relação capital x
trabalho na discussão da questão social nesta sociedade, considerando que esta
se faz matéria-prima do exercício profissional do assistente social. Para Iamamoto
(2009), o Serviço Social enquanto especialização do trabalho tem nas suas bases
de atuação a questão social, esta entendida como:
[...] o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. (IAMAMOTO, 2009, pág. 176)
Completando, Iamamoto (2008), sinaliza que a riqueza socialmente
construída é direcionada, grande parte, às mãos do Estado e empresariado, o que
conduz pequena parte a ser redistribuída à população em forma de serviços
sociais, estes focalistas e seletivos, à medida que é exigido ao indivíduo a
comprovação de sua total miséria. Dentre inúmeras consequências refletidas na
questão social, se estabelece a relação de direito obtida como benefício. Isto são
expressões do aprofundamento do capitalismo na sociedade atual, no tocante à
primazia do lucro e em formas de exclusão social das classes populares.
Temos que o Serviço Social insere-se em meio a estas contradições, a
profissão é orientada pelo Projeto Ético-Político Profissional que tem principal
objetivo a transformação da sociedade. Nas palavras de Netto (2009),
[...] este projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor central – a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a
que se estruturava a partir de uma produção mais homogeneizada e enormemente verticalizada. [...] esse padrão estruturou-se com base no trabalho parcelar e fragmentado, na decomposição das tarefas que reduzia a ação operária a um conjunto repetitivo de atividades [...] 13
Para maior aprofundamento do fenômeno da reestruturação produtiva e as consequências disto ao homem, sugiro a leitura da obra de Richard Sennet - A Corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999 e a obra de Ricardo Antunes “Adeus ao Trabalho”, disponível nas referências bibliográicas deste trabalho e no seguinte sítio: http://www.labmundo.org/disciplinas/ANTUNES_cap%C3%ADtulos_8_9_10_11_e_12.pdf
29
plena expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, este projeto se voncula a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero. (NETTO, 2009, pág. 155)
A atividade é capaz de responder às expressões da sociedade capitalista,
em que a matéria-prima no tocante à intervenção profissional é a questão social,
sendo esta intervenção necessária no enfrentamento às desigualdades advindas
da relação capital x trabalho.
Iamamoto (2012) diz que o assistente social é desafiado constantemente no
enfrentamento às expressões da questão social já que, enquanto profissão, está
inserido na órbita do trabalho e luta pela ampliação e fortalecimento dos direitos
sociais minimizados pelo Estado. Desse modo, à medida que há um projeto
hegemônico no interior da categoria de fortalecimento das práticas democráticas e
que implica no reconhecimento de dimensões éticas, teórico-metodológicas,
políticas e técnicas, aliadas ao seu direcionamento social, esta função está
associada diretamente ao trabalho social.
Sob esta ótica, citamos a política de saúde pública como exemplo, fazendo
parte de um dos espaços sócio-ocupacionais do assistente social, em que com
base no pensamento de Guerra (2000), a partir das contradições estabelecidas na
sociedade, as demandas nos espaços de trabalho tornam-se cada vez mais
complexas, sendo de necessidade do profissional dar respostas concretas a estas
através da instrumentalidade - categoria bem fundamentada por Yolanda Guerra.
Torna-se necessário mencionar a instrumentalidade no Serviço Social ao falar na
defesa do Serviço Social enquanto trabalho:
A instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano. (GUERRA, 2000, pág. 2)
Considerando o que foi exposto, Guerra (2000) afirma que enquanto
profissão, a categoria se apropria de meios que legitimem sua intervenção
profissional, como um arsenal de instrumentais. Instrumentais estes que vão para
além de técnicas, mas que se referem à capacidade teórica que o profissional
adquire ao longo de sua trajetória sócio-histórica. A atividade profissional, portanto,
30
é socialmente determinada e seu norte se estabelece num direcionamento de
ordem social, de modo que impulsione a transformação da sociedade. Destarte,
ainda de acordo com Guerra (2000), a instrumentalidade é tanto condição
necessária de todo trabalho social, quanto categoria constituinte de qualquer
prática de trabalho.
Mioto e Nogueira (2009) ressaltam que em relação à saúde o assistente
social tem deve tratar a prática profissional a partir de sua categoria básica que
corresponde à ação profissional. Estas ações se fundamentam no conhecimento da
realidade social sob a ótica da totalidade que possibilitam a escolha de
instrumentos e abordagem adequados.
Na concepção de Guerra (2009), o trabalho do assistente social pode ter
como ponto de partida sua dimensão investigativa, à medida que é necessário
conhecer para intervir. A autora esclarece que faz-se necessária a produção
constante do Serviço Social em relação ao processo de produção e reprodução das
relações sociais, além de pesquisas sobre os espaços aos quais são executadas
as ações profissionais do assistente social, promovendo a capacidade de dar
respostas concretas às demandas dos sujeitos sociais. À vista disto, no cotidiano
profissional, é indispensável um trabalho caracterizado enquanto intelectual, um
movimento que configura a dimensão investigativa frente às ações interventivas do
assistente social à luz de conhecimentos mais amplos, no desvelamento das
questões que se configuram no imediato, no aparente.
2.3 A inserção do/a assistente social na política de saúde do Brasil
Concernente ao debate da prática do assistente social levantou-se que o
entendimento do significado da profissão na atualidade está centralizado na
compreensão da sociedade capitalista na produção das relações sociais,
considerando que a sociedade atual nos marcos da economia produz estas relações
em todas as esferas da vida humana. Além disto, possibilitou-se o entendimento do
trabalho do assistente social no enfrentamento destas questões.
Recorremos agora à compreensão do processo de institucionalização do
Serviço Social no Brasil, bem como a categoria trabalho disposta aqui neste capítulo
31
no entendimento à inserção dos/as assistentes sociais na política de saúde pública
no país.
Bernardo e Pinheiro (2011) nos dizem que o Serviço Social teve sua
inserção na saúde como profissão institucionalizada a partir da década de 1940, e
como vimos, o período se caracterizava pela intervenção do profissional voltada
para adequação da ordem na época. Sua ação voltava-se para o controle e combate
às reivindicações da classe trabalhadora, a partir da intervenção estatal. Nesta fase,
era dada ao profissional a responsabilidade pela vigilância da saúde do proletariado,
bem como de sua família. As visitas domiciliares para acompanhamento deste
operário aconteciam com frequência, garantindo a sua dedicação ao trabalho e o
controle do absenteísmo, o que dava enfoque à lógica de mercado e assegurava a
produtividade. Isto é, o enfoque do Serviço Social na saúde se dava através do
empresariado e as ações do profissional se estabeleciam em práticas educativas de
adequação. Via-se uma intervenção de cunho caritativo e o norte de sua prática
baseada na doutrina da Igreja Católica.
Refere Bravo (2009), na época de expansão do Serviço Social no país
(1940), devido às novas configurações societárias impostas pelo capitalismo
monopolista14, a ação do profissional no campo da saúde aumenta e transforma-se
no setor que mais absorve assistentes sociais. Isto se dá - além das condições de
mudança no cenário da profissão acerca da conjuntura na época, já mencionadas
neste trabalho -, em função do conceito elaborado no ano de 1948 a respeito dos
aspectos biopsicossociais, requisitando a atuação de outros profissionais na saúde,
dentre eles os assistentes sociais. “[...] este conceito surge de organismos
internacionais, vinculado ao agravamento das condições de saúde da população,
principalmente dos países periféricos, e teve diversos desdobramentos.” (BRAVO,
2009, p. 199)
A reprodução desta prática na saúde perpetuou por mais duas décadas,
quando, a partir do levantamento de questionamentos a respeito do projeto de
profissão que a categoria poderia seguir, inicia-se a tentativa de mudanças das
14
O capitalismo monopolista se apresenta como a fase do sistema pós crise de 1929 e pós capitalismo concorrencial, em que ocorre maior concentração e centralização do capital, como afirma Netto (1992). Esta fase se caracteriza pelo aprofundamento da exploração do trabalho, o alargamento da alienação, o crescimento dos preços das mercadorias que resulta no aumento da lucratividade nos setores monopolizados.
32
bases interventivas do Serviço Social. Assim, configurou-se mudanças no cenário
da saúde acerca do direcionamento que a prática do assistente social deveria
adotar. Contudo, diante das tentativas de mudanças relativas à intervenção, esta se
dava apenas a nível técnico e não se operacionalizavam efetivamente, suas bases
teóricas ainda se vinculavam ao conservadorismo herdado desde a gênese da
profissão. Nas palavras de Bravo (2011, pág. 125),
O Serviço Social nos órgãos de assistência médica da previdência foi regulamentado em 1967 e previa as seguintes ações: individual, de caráter preventivo e curativo; grupal, de caráter educativo-preventivo; comunitária, para mobilização de recursos e reintegração dos pacientes à família e ao trabalho. Foi ressaltada a contribuição do assistente social nas equipes interprofissionais com a finalidade de fornecer dados psicossociais significativos para o diagnóstico, tratamento e alta do paciente e participar em pesquisas médicos-sociais.
Em consonância com o Movimento de Reforma Sanitária do Brasil (1980), o
Serviço Social passa por mudanças na estruturação da profissão e no que diz
respeito às suas bases teóricas, como vimos no presente trabalho. A profissão se vê
vinculada à teoria marxiana e apropria-se desta para compreender a dinâmica das
relações sociais de maneira macroestrutural. Afirma Netto (2011) que esta mudança
se configura, neste momento, a nível teórico, sendo aplicada à prática profissional
na década de 1990.
Desse modo, estas mudanças se veem concretizadas no Código de Ética
profissional de 1993, de aproximação com a classe trabalhadora, de defesa
intransigente dos direitos humanos e postura a favor da equidade e justiça social,
que influenciaram diretamente na sua prática. Com a saúde não seria diferente.
Bernardo e Pinheiro (2011) observam que, com a implantação do SUS (1988), a
prática do profissional de Serviço Social se volta para a reorganização dos serviços
de saúde, nas ações de integralidade e intersorialidade e no controle social, em que
busca fortalecer e legitimar a concepção de saúde ampliada e de universalização do
acesso à saúde.
[...] não é possível compreender ou definir as necessidades de saúde sem levar em conta que elas são produtos das relações sociais e destas com o meio físico, social e cultural. Dentre os diversos fatores determinantes das condições de saúde incluem-se os condicionantes biológicos (idade, sexo e características herdadas pela herança genética), o meio físico (que inclui condições geográficas, características da ocupação humana, disponibilidade e qualidade de alimento, condições de habitação), assim como os meios socioeconômico e cultural, que expressam os níveis de
33
ocupação, renda, acesso à educação formal e ao lazer, os graus de liberdade, hábitos e formas de relacionamentos interpessoais, a possibilidade de acesso aos serviços voltados para a promoção e recuperação da saúde e a qualidade de atenção pelo sistema prestado. (NOGUEIRA e MIOTO, 2009, p. 229)
Como está disposto na Lei 8662/93, que regulamenta a profissão, se faz
competência do assistente social a elaboração, implementação, execução e
avaliação de políticas sociais junto a órgãos da administração pública, de maneira
direta ou indireta, com empresas, entidades e organizações populares. Com base
nisto, se dá a atuação do assistente social no cenário da saúde, intervindo
juntamente com estas políticas sociais de modo que possibilite o enfrentamento às
expressões da questão social que se configuram enquanto latentes e poderão
influenciar na saúde da população.
Nesse cenário de mudanças, em decorrência do crescimento de assistentes
sociais no campo da saúde e a demanda de dúvidas postas ao conjunto
CFESS/CRESS acerca da real intervenção do assistente social no campo da saúde,
a criação dos Parâmetros para Atuação do Assistente Social pelo CFESS15 em 2008
objetivou nortear as ações do profissional no âmbito da saúde, regulamentado pela
Lei de Regulamentação da Profissão 8662/93. Segundo o CFESS (2010), o
documento visa orientar a categoria no sentido de dar respostas pertinentes ao
cotidiano de trabalho e na identificação das demandas dos usuários. A entidade
representativa – CFESS – afirma que o documento procura expressar as ações que
são desenvolvidas pelos/as assistentes sociais na saúde numa perspectiva de
totalidade, considera-se as particularidades de cada espaço ocupacional,
compreendidos como atenção básica, média e alta complexidade.
Nogueira e Mioto, (2009) destacam que os princípios estabelecidos na
Constituição Federal de 1988 – integralidade, interdisciplinaridade e
intersetorialidade – possibilitam uma inserção diferenciada do assistente social no
contexto do SUS, superando a visão biomédica da saúde.
Além disto, a participação da comunidade, configurada como outro princípio
do SUS é um ponto a salientar no trato do assistente social com o SUS, haja vista
15
Conselho Federal de Serviço Social. Entidade representativa da categoria junto com os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), a Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO), bem como a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).
34
que o Projeto Ético-Político do Serviço Social tem, dentre suas bases, o
fortalecimento das práticas democráticas. Para Nogueira e Mioto (2009), a
participação da comunidade como um princípio importante no debate sobre a saúde
do Brasil expressa não somente o acesso universal a bens e serviços, mas a
participação nas tomadas de decisões.
Reforçando, Vasconcellos (2009) destaca que, diante do Projeto Ético-Político
profissional, bem como suas dimensões de intervenção, o Serviço Social deve
promover a reflexão crítica dos usuários nos processos de saúde no sentido de
politizar as ações, isso contribui para o fortalecimento do sistema de saúde público
na perspectiva de direito social. Para tanto, dá-se ênfase a este debate o processo
de qualificação do assistente social após sua formação, esta denominada de
qualificação continuada. Faz-se necessário o estudo continuado do profissional no
tocante ao questionamento da realidade posta e na elaboração de respostas
mediatizadas.
Outro fator importante para a discussão levantado por Vasconcellos (2009) é
a questão do trabalho do assistente social frente à saúde do trabalhador, na
colaboração da proteção do ambiente laborativo e do meio ambiente.
A saúde do trabalhador, juntamente com a Vigilância Sanitária e a Vigilância Epidemiológica e de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica, está incluída no campo de atuação do Sistema Único de Saúde, como direito, no Art. 200/II da Constituição Federal/1988 e regulamentada na Lei n. 8080/1990. (VASCONCELLOS, 2009, p. 262)
A autora ressalta a importância do profissional na assistência ao trabalhador
vítima de acidente de trabalho em relação a publicização de dados concernentes ao
número de acidentes de trabalho, mencionando a proteção, prevenção e
recuperação da saúde; na publicação de temas relativos à saúde do trabalhador,
além da participação em pesquisas e estudos de controle e avaliação de riscos que
possam existir e interferir na saúde do trabalhador no ambiente de trabalho.
Os fatores destacados aqui, neste item, contribuem para o papel dos
assistentes sociais no SUS frente à democratização do acesso e das informações.
Contribuem, também, para dar respostas concretas às necessidades dos usuários
frente às expressões da questão social que se encontram presentes no campo da
saúde. O profissional que tiver, no percurso de sua prática, orientação teórica, ética
35
e metodológica à luz do projeto de reforma sanitária e projeto profissional, bem
como o Código de Ética profissional, legitimará a concepção de saúde como direito
social e o enfrentamento da privatização da saúde, à medida que “resgata o
exercício de uma consciência social: consciência do direito do cidadão e do dever do
Estado [..]” (VASCONCELLOS, 2009. P. 269)
Como reiteram Nogueira e Mioto (2009), o discurso que parte da categoria
de assistentes sociais em favor da efetivação da saúde universal com base em um
projeto sanitarista, tendo como preceitos a cidadania social, ultrapassa a visão
acrítica da questão. Este discurso reforça, também, o reconhecimento da saúde
como direito social e a garantia deste pelo Estado, sendo inoperante a saúde como
um bem ou serviço passivo de valor de troca mediante o mercado.
Desse modo, grande acervo de publicações por autores e profissionais de
Serviço Social bem como o acompanhamento à prática do profissional no campo da
saúde pelas entidades representativas da categoria norteiam a profissão e
direcionam suas bases numa intervenção teórico-metodológica, técnico-operativa e
ético-política de unidade. Sua intervenção volta-se para a superação do quadro
sanitário da atualidade, no tocante às ações individualizadas com ausência de
concepções críticas. O caráter que liga o trabalho (trabalho concreto, produtivo) do
assistente social na saúde às ações com primazia das necessidades sociais que
interferem diretamente na vida dos usuários ganham visibilidade no interior da
categoria em relação à prática profissional na saúde. As entidades representativas
da profissão neste sentido buscam, cotidianamente, o enfrentamento das práticas
conservadoras no agir profissional.
36
CAPÍTULO III – O PERCURSO METODOLÓGICO E OS RESULTADOS DA
PESQUISA
3.1 Tipo de Estudo
O estudo teve como objetivo buscar compreender os limites e possibilidades
que se operam na prática do/a assistente social na execução do SUS. A realização
da pesquisa se deu a partir do método dialético, possibilitando a compreensão dos
desafios postos na cotidianidade da prática do assistente social no âmbito do SUS, o
que permitiu a visão macro dos determinantes que permeiam a prática profissional à
luz de conhecimentos mais amplos. Ou seja, buscou-se uma aproximação com o
método crítico dialético, considerando que este dará aporte no sentido de entender a
realidade social como uma totalidade constituída por determinantes, expressa
materialmente na vida dos seres.
Assim, a dialética permitiu compreender a subjetividade de cada sujeito
implicado na investigação, pois como afirma Yasbek (1996), a subjetividade do
homem é essencial para o desenvolvimento do mesmo enquanto ser social e,
considerando isto, para investigar a prática do assistente social na saúde pública,
faz-se necessário o entendimento do sujeito enquanto ser social e de suas relações
sociais numa perspectiva macro, estabelecendo, aí, suas relações de trabalho. Sob
esta lógica, desenvolveu-se o estudo através de métodos bibliográficos e de campo,
com objetivo de conhecer de forma total a realidade do objeto de estudado.
Para legitimação da presente pesquisa, como primeira etapa, recorremos ao
auxílio de estudos, textos e aparatos legais que contemplassem o desenvolvimento
da pesquisa bibliográfica, buscando ligar o tema escolhido para investigação com o
objetivo do estudo.
Adiante, a realização da investigação desenvolveu-se a partir do método
qualitativo, através do cotidiano e vivências dos profissionais, pois, conforme Minayo
(1994) a pesquisa qualitativa estuda questões particulares, preocupa-se com a
realidade que não pode ser quantificada, buscando a subjetividade, a profundidade,
sendo necessária na descoberta da realidade, em que possibilita a visão real do
objeto, à luz da dialética.
37
3.2 Local do Estudo
A pesquisa desenvolveu-se no hospital de média complexidade pertencente a
Secretaria Regional V, denominado de Hospital Nossa Senhora da Conceição,
localizado no Bairro do Conjunto Ceará, no Município de Fortaleza, capital do Estado
do Ceará. De acordo com a Cartilha da SER V (2011), num estudo sobre o perfil da
SER V, constatou-se que a região tem uma média 570 mil habitantes e compreende
18 bairros da cidade. Em 1997, Fortaleza passou por uma reforma administrativa,
sendo implementadas 6 (seis) Secretaria Executivas Regionais (SER). Estas são
encarregadas da execução dos serviços públicos de acordo com as diretrizes dos
planos municipais, dentro dos limites geográficos estabelecidos para cada uma.
(FORTALEZA, 1997)
O Hospital Nossa Senhora da Conceição era inicialmente chamado de
Hospital Distrital Nossa Senhora da Conceição, nome escolhido pela comunidade
em virtude de homenagem à padroeira do bairro. O hospital contava com 46 leitos
dos quais 31 era de pediatria e 15 de clínica-médica.
A instituição funciona sob a ótica do SUS e, primeiramente, no local,
funcionava uma escola, logo após passou a funcionar como Posto de Saúde e em
seguida, na década de 90, como Hospital. Atualmente o Hospital conta com 96
leitos, estes com serviços de clinica médica, clinica pediátrica, emergência para
adultos, crianças e uma maternidade, sendo esta última inaugurada no ano 2000. A
maternidade conta uma unidade neonatal de médio risco. O Hospital dispõe de
serviço de apoio diagnóstico composto por um laboratório clinico, um centro de
imagem com mamografia, raios-x simples e contrastados, ultrassom e
ecocardiograma. Em sua política geral, presta atendimento no nível secundário de
atenção, que corresponde a um porte de média complexidade, entre o atendimento
da Rede Básica – Primário - e o Terciário, encontrado nos hospitais com
resolutibilidade para demandas de alta complexidade.
A escolha pela delimitação da pesquisa em um hospital de média
complexidade da SER V deu-se em função de ser uma região bastante populosa,
com baixos indicadores sociais. E mais, o hospital tem em seu quadro funcional um
número de assistentes sociais satisfatório para realização da pesquisa. Além disto, a
38
instituição de saúde foi campo de estágio do/a pesquisador/a deste estudo, o que
facilitou o acesso aos sujeitos do estudo.
3.3 Sujeitos da Pesquisa
Os sujeitos da pesquisa são assistentes sociais, devidamente registrados no
Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) lotados na instituição pública de
saúde de média complexidade da Regional V Hospital Nossa Senhora da
Conceição, em Fortaleza, e que trabalham na saúde há no mínimo 1 (um) ano.
No tocante ao cuidado da identidade dos sujeitos entrevistados, para
segurança destas identidades, os sujeitos do estudo foram identificados enquanto:
entrevistado 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7. Isto equivale ao número de entrevistas realizadas no
percurso de coleta de dados da investigação.
Quanto à escolha da quantidade de entrevistados, Minayo (2004) afirma que
esta escolha não é numérica e leva-se em consideração a saturação de dados. Ou
seja, para a autora, o pesquisador saberá no percurso de seu estudo, o número
suficiente de entrevistados, quando não houver o acréscimo de informações e estas
se tornarão repetidas. Assim, referente ao número de entrevistados, a amostra
contava com um número de 15 assistentes sociais, o critério de entrevistas se deu
de maneira aleatória e, em observância às repetições nas falas dos sujeitos,
optamos por finalizar o processo de coleta de dados. Desse modo, tem-se que os
resultados deste estudo se dão a partir de 7 (sete) entrevistas e das reflexões por
estas (entrevistas) levantadas.
A pesquisa só foi realizada após apreciação e aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa na Saúde, obedecendo a resolução 196 de 10/10/1996 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS)/Ministério da Saúde (MS), que incorpora pesquisas
envolvendo seres humanos. (BRASIL, CNS: 1996)
3.4 Coleta de dados
Como instrumento para a coleta de dados, optou-se por entrevistas semi-
estruradas. Estas entrevistas foram gravadas e guiadas por um roteiro de perguntas
elaborado pelo pesquisador e tiveram o intuito de deixar o entrevistado livre, focando
39
as questões centrais para realização do estudo, objetivando clarificar os aspectos
mais importantes da pesquisa. Nesse sentido, considera-se o pensamento de
Goldenberg (2009, pág. 93) ao dizer que,
O informante é competente para exprimir-se com clareza sobre questões da sua experiência e comunicar representações e análises suas, prestar informações, fidedignas, manifestar em seus atos o significado que tem no contexto em que eles se realizam, revelando tanto a sua singularidade quanto a historicidade dos atos, concepções e ideias.
A entrevista configurou-se enquanto facilitadora da conversa, ampliando a
comunicação estabelecida entre entrevistador e entrevistado. Teve tempo de
duração em torno de 20 a 30 minutos, guiadas por um roteiro de perguntas abertas e
fechadas. As perguntas fechadas referiam-se a dados pessoais do sujeito, como ano
de formação, gênero, tempo de trabalho na instituição e se o profissional exercia sua
atividade em outra instituição, a fim de compreender o perfil do sujeito do estudo. Já
as perguntas abertas tinham por objetivo apreender informações que possibilitassem
a análise da prática deste profissional na instituição de saúde. As perguntas
especificavam questões como:
- Qual o papel do Serviço Social no SUS? - Quais as ações do/a assistente social no Hospital Nossa Senhora da Conceição? - Fale sobre o seu dia-a-dia na operacionalização do SUS, descrevendo dificuldades e
potencialidades.
Na abordagem ao participante, informamos o objetivo da pesquisa, colocando
a necessidade de diálogo com os profissionais de Serviço Social que vivenciam a
realidade do SUS para relevância do estudo científico. Após deferida a participação,
o entrevistado foi apresentado ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), assinado por entrevistador e entrevistado, resguardado o sigilo profissional
dos participantes.
3.5 Análise dos Dados
40
Tendo por base o pensamento de Gil (1999), o conhecimento adquirido com a
revisão de literatura bem como as categorias levantadas, servirão para análise do
objeto de estudo, categorias estas definidas como: Saúde, Serviço Social e
Trabalho.
A análise tem como objetivo, organizar e sumariar os dados de tal forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para a investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplos das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos.(GIL, 1999, pág. 168)
Assim, seguimos com a análise de conteúdo, que, segundo Moraes (1999) se
constitui em uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar a
realidade, possibilitando uma compreensão e apreensão do objeto estudado em um
nível que vai além da leitura comum.
Para Campos (2004), a fala humana é muito rica e valiosa, apresentando ao
pesquisador qualitativo uma variedade de interpretações. Com a técnica de análise
de conteúdo, as entrevistas foram transcritas, analisadas e categorizadas de modo
que possibilitaram a interpretação das falas dos sujeitos implicados na investigação,
ampliando o tema pesquisado e configurando os resultados apontados nesta
pesquisa.
41
3.6. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA
3.6.1 O perfil das assistentes sociais
Antes de socializarmos os resultados deste estudo, traçamos o perfil das
assistentes sociais entrevistadas a fim de conhecer os sujeitos implicados no
processo de investigação. Desse modo, o perfil das profissionais foram tabulados e
divididos em tempo de formação, tempo de trabalho na instituição e se esta
profissional exerce sua atividade em outra instituição. O grupo estudado foram as
assistentes sociais lotadas no Hospital e Nossa Senhora da Conceição (HNSC) e,
em sua totalidade, composto pelo gênero feminino.
Gráfico 1
43%
43%
14%
Distribuição das assistentes sociais segundo tempo de formação, HNSC, 2013.
Década 1990
Década 1980
Anos 2000
Três (03) das profissionais entrevistadas formaram-se na década de 1990,
que totalizou 43% das entrevistadas; três (3) na década de 1980, configurando a
porcentagem de 43%; e uma (1) nos anos 2000, referente à 14% dos sujeitos.
Assim, seis (6) são bacharéis em Serviço Social há, no mínimo, 16 anos, sendo 30
anos o número máximo de tempo de formação das entrevistadas.
Gráfico 2
29%
71%
Distribuição das assistentes sociais por tempo de trabalho na instituição, HNSC, 2013.
1 a 10 anos
10 a 20 anos
42
Diante do gráfico 2, verificamos o tempo de trabalho das profissionais na
instituição, em que, duas (2) exercem sua função com tempo entre 1 a 10 anos e
cinco (5) destas profissionais trabalham na unidade de saúde com tempo entre 10 a
20 anos. Percebemos que seis (6) das profissionais entrevistadas exerciam suas
atividades na instituição há bastante tempo, o que mostrou experiência e
conhecimento da dinâmica do hospital. O fato de exercerem suas atividades na
instituição há bastante tempo se dá em função dos cargos públicos assumidos pelas
profissionais. Isto é, em detrimento de serem concursadas.
Gráfico 3
43%
57%
Distribuição das assistentes sociais que desempenham a atividade em outra instituição, HNSC, 2013.
HNSC
Outra unidade de saúde
O gráfico 3 nos mostra que 57% das entrevistadas exercem sua atividade em
outra instituição, o que nos remete aos baixos salários pagos à categoria, fazendo
com que surja a necessidade de dupla jornada de trabalho, objeto de luta das
entidades representativas CFESS/CRESS, bem como dos/das profissionais de
Serviço Social pela conquista do piso salarial.
Através da técnica de análise de conteúdo, as entrevistas foram analisadas o
qual emergiram três categorias: 1. O papel do Serviço Social no SUS; 2. Os Limites
na prática do assistente social na operacionalização do SUS; 3. Possibilidades da
prática profissional na atenção à saúde.
3.7 O papel do Serviço Social no SUS
Esta foi a primeira categoria, a qual foi subdividida em três subcategorias: O
trabalho na perspectiva da garantia de direitos; Enfrentamento das contradições na
viabilização do SUS e A importância do profissional no processo saúde/doença.
43
De acordo com Vasconcellos et al (2012), o profissional de Serviço Social
possui em sua base de intervenção o comprometimento com os interesses históricos
da população diante das expressões da questão social na perspectiva da garantia
dos direitos civis, políticos e sociais. Nesse sentido, coloca-se em questão o
compromisso com a autonomia dos sujeitos no sentido de plena expansão dos
indivíduos sociais, no fomento à democracia e a construção de uma nova ordem
social sem exploração de classe, bem como na superação de qualquer configuração
preconceituosa no seio da sociedade.
Segundo o CFESS (2013), o profissional de Serviço Social atua,
fundamentalmente, na defesa dos direitos humanos, contra as ações que
demonstrem qualquer forma de exclusão e opressão da classe trabalhadora. No
enfoque à saúde, o profissional trabalha, à luz do Projeto Ético-Político e Código de
Ética profissional, em defesa do acesso à saúde e aos serviços de saúde, no
combate à apropriação dos direitos sociais como mercadoria. Diante disto, através
dos discursos coletados, buscamos apreender esta concepção nas falas das
assistentes sociais do HNSC.
3.7.1 O trabalho na perspectiva da garantia de direitos
Ao serem questionadas acerca do papel do Serviço Social no contexto do
SUS, observamos que as assistentes sociais buscam uma prática que tem como
finalidade a garantia de direitos. Através das falas dos sujeitos, percebemos o papel
do Serviço Social no SUS no sentido de promover a garantia de direitos à saúde e
aos serviços de saúde, à medida que procura materializar, na realidade do SUS, os
instrumentos legais que permeiam o sistema de saúde. Isto pode ser percebido nas
seguintes falas.
É fundamental para a tarefa de um assistente social em relação ao SUS efetivar esses direitos, porque você tem uma legislação que te diz que a saúde é um dever do Estado e um direito do cidadão. (Sujeito 1) Eu acho que o papel do Serviço Social no SUS ele deve ser realmente pautado nessas questões da garantia dos direitos, é tentar fazer com que essas coisas que são tão distantes da lei 8.080 e tudo, que elas realmente tenham uma materialidade, um plano real. [...] é esse chamamento do que deve ser feito de fato, do que deve ser construído. (Sujeito 6)
Enquanto profissional que tem em sua base de atuação a intervenção nas
facetas da questão social, ao desvelar a saúde como direito e promover condições
que possibilitem o acesso dos usuários, o/a assistente social contribui com o
44
processo de construção e sensibilização destes usuários enquanto sujeitos de
direitos, o que revela a atuação a partir de um direcionamento social que, além de
impulsionar a emancipação dos sujeitos sociais, estimula e fortalece a
universalização do acesso à saúde.
Em observância ao Código de Ética do/a Assistente Social, verificamos que a
busca em promover a garantia dos direitos dos usuários confirma o compromisso
dos/as profissionais com a classe trabalhadora, conforme potencializa, no
desenvolvimento do agir profissional, o posicionamento em favor da justiça social na
garantia da universalidade de acesso a bens e serviços, além da “defesa
intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo.” (BRASIL,
2012)
Como afirma Vasconcellos et al (2012), o posicionamento do Código de Ética
profissional ao referir o posicionamento em favor da equidade e justiça social no
acesso a bens e serviços, ressalta o avanço do sistema de saúde
constitucionalmente. Remete-nos, também, à conquista desta saúde de cunho
universal obtida através de lutas da classe trabalhadora – Movimento de Reforma
Sanitária do Brasil -. Isto é, a defesa da saúde como direito social e a promoção de
condições que garantam o acesso da população, destaca o compromisso deste
profissional com as lutas históricas e conquistas das classes que vivem do trabalho.
3.7.2 Enfrentamento das contradições na viabilização do SUS
Vivemos numa sociedade em que há dois projetos societários, antagônicos,
em disputa: um defende um Estado que tem por finalidade suprir as necessidades
de sobrevivência da população, no enfoque aos investimentos na área social, em
que suas ações devem estar voltadas para a superação da atual ordem social, na
perspectiva da emancipação dos sujeitos, e outro que defende um Estado mínimo
de direitos, a redução dos investimentos nas áreas sociais, além de promover o
alargamento da pobreza e exclusão social. Este segundo, de acordo com Bravo e
Matos (2012), decorre da consolidação, na década de 1990, do projeto político-
econômico denominado de neoliberal. Presenciamos, assim, como afirma Iamamoto
(2011), a privatização da coisa pública e a mercantilização dos serviços sociais.
45
Trazendo para a saúde, a política de ajuste neoliberal resulta no
desfinanciamento da saúde pública, promovendo o sucateamento com vistas ao
crescimento da saúde privada, e a visão do SUS não como direito, mas como favor.
Verificamos essa realidade na seguinte fala:
Muitas vezes a pessoa tem a visão de que não tá pagando então vamos oferecer um serviço medíocre, mas não tá pagando entre aspas e essa é a grande questão, o fato de as pessoas ‘não pagarem’ e ter um serviço medíocre, aquele serviço em que a população deve ter acesso dignamente, sentar, deitado, como se deve estar e não os pacientes no chão em uma área chamada ‘piscinão de gente’, onde as pessoas ficam deitadas na maca, no chão, é muito degradante, muito desrespeito com o ser humano, você vê um paciente que precisa de ajuda e não tem qualidade para o atendimento, é um serviço de péssima qualidade. É uma degradação tratar o ser humano doente no chão. (Sujeito 1)
Sob esta ótica, entra o trabalho do assistente social, na luta pela superação
de toda e qualquer forma de exclusão e opressão, à medida que sua ação
profissional interfere no fortalecimento do discurso pela garantia de direitos e
contribui na ampliação destes direitos sociais.
Desse modo, através das falas das assistentes sociais, observamos que o
Serviço Social na saúde tem o papel de atuar na perspectiva do enfrentamento das
contradições da sociedade capitalista na viabilização do SUS de direito e, além
disto, constatamos que esta compreensão acontece dentro da própria equipe do
Serviço Social no HNSC, o que denota a visão crítica das profissionais e reforça o
projeto da reforma sanitária.
O que você realmente vivencia na prática é a total, total não, mas pelo menos uma grande dificuldade para que essas pessoas tenham acesso ao SUS, o que você vê hoje é hospitais super lotados, pacientes nos corredores, no chão em leitos de hospitais, os postos de saúde sem atendimentos, porque hoje é um hospital secundário, eu trabalho em outro hospital, que é nível terciário, pra receber, ser referência para atendimento, e o que a gente vê é que as pessoas não conseguem nem ter um atendimento básico que é o posto de saúde. E os hospitais terciários super lotados, sem condições de efetivar esses direitos e eu acho que o papel do serviço social é pelo menos tentar garantir o direito básico de ter acesso à um serviço que é direito dele e tá preconizado pela constituição, que o SUS reforça [...] (Sujeito 1)
Neste sentido, o discurso do sujeito 1 nos revela um fazer profissional
conforme o projeto hegemônico que envolve a profissão - além do compromisso com
o Código de Ética Profissional já afirmado no item 4.1.1 -. Responder às
necessidades sociais na perspectiva da garantia de direitos colabora para a
ampliação e defesa da cidadania, que ganha força frente às contradições da
sociedade contemporânea. Assim, segundo Bravo e Matos (2012), efetivar o direito
46
à saúde tendo como direcionamento o projeto ético-político da profissão está
articulado à defesa do projeto da reforma sanitária.
3.7.3 A importância do/a assistente social no processo saúde/doença
De acordo com Silva (2006), o processo saúde/doença está ligado à
concepção ampliada de saúde, em que condições econômicas, sociais e culturais
interferem diretamente na saúde do indivíduo. Isto é, a saúde dos sujeitos não é
mais vista apenas como patologia, num procedimento biológico, mas resulta de
determinantes sociais que implicam diretamente no desenvolvimento da qualidade
de vida destes sujeitos, dentro do processo de reprodução da vida social.
Neste item, as falas das entrevistadas nos revelam que o Serviço Social tem
papel fundamental no processo saúde/doença, à medida que sua intervenção se
volta para a compreensão dos sujeitos não como seres isolados, mas articulados a
fenômenos sociais.
[...] eu acho que o nosso objeto é a questão social, então dentro do SUS você vai encontrar várias coisas que nós temos que intervir, como exemplo você trabalha a questão do idoso, aí os seus direitos que não são assegurados, temos que intervir. (Sujeito 4)
Então assim a gente trabalha justamente com esses reflexos da questão social, seja na área de saúde, na área sócio jurídica, na área da assistência. Especificamente na área da saúde e na área de hospital que é onde eu tenho mais larga experiência, a gente trabalha muito com a questão da demanda que é reprimida que chega ate o serviço social que vem desde o atendimento básico que a população o usuário não consegue no caso esse atendimento nas unidades de saúde, então eles acabam procurando um hospital, e ai quando eles procuram um hospital eles já estão meio desgastados por conta que já estão em busca há muito tempo desse atendimento básico, então aqui quando a gente atende esse usuário ele já traz varias demandas, desde a saúde dele e de questões essenciais de necessidades básicas que ele vivenciou numa situação bem precária de vida e por essa questões, essa vulnerabilidade social, ele acaba trazendo essa demanda pra saúde, que não é só da doença, é de outros aspectos que interferem na questão saúde nesse processo saúde/doença. (Sujeito 7)
[...] às vezes a gente sabe que o que tá provocando a doença naquele usuário é a ausência de algumas necessidades básicas como alimentação, de uma moradia digna, de uma assistência maior por parte da prefeitura, do Estado, então assim a saúde é muito mais ampla [...] então muitas famílias hoje em dia sobrevivem apenas com o bolsa família, que não é uma renda suficiente, então assim, o bolsa família não garante uma alimentação digna que dirá uma moradia.(Sujeito 5)
Pode-se perceber que, nas falas dos sujeitos, surge a contribuição do
profissional no processo saúde/doença ao enfatizar a saúde ampliada, na promoção
e prevenção da saúde, revelando o entendimento das condições sociais como parte
deste processo, viabilizando não somente o acesso aos serviços de saúde na
47
atenção à realização de consultas, mas à saúde numa perspectiva ampliada e o
fomento da integralidade, como preconiza os princípios do SUS.
“Você tem que conhecer cada paciente desse, identificá-los minimamente e
entender o que é que o trouxe para esse serviço, e dentro desse serviço que
demanda eles estão apresentando.” (Sujeito 5) A partir deste discurso, vê-se a visão
do profissional no sentido de compreender que, as demandas espontâneas, como
são chamadas a procura por atendimentos que chegam ao Serviço Social nas
emergências, se manifestam de várias formas, e possibilitam ao profissional a
capacidade em lançar um olhar ao usuário no sentido de mediar suas reais
necessidades, que vão para além do que está no aparente e representam os
determinantes que acometem a vida destes usuários. Completando, os discursos
demonstram a importância da concepção ampliada de saúde e dos impactos que a
vulnerabilidade social representa na saúde dos sujeitos.
3.8 Os Limites na prática do/a assistente social na operacionalização do SUS
Esta categoria surgiu mediante a fala dos sujeitos entrevistados, numa análise
das ações do/a assistente social do Hospital Nossa Senhora da Conceição em
observância aos limites que impedem seu fazer profissional na operacionalização do
SUS. Assim, foi dividida em subcategorias denominadas: ações que fogem das
atribuições privativas; ausência de articulação entre teoria e prática; a precarização
da política de saúde; a dinâmica do plantão e o trabalho individualizado.
Constatamos que o exercício profissional do/a assistente social no HNSC não
acontece de forma tão linear. A realidade contraditória que se opera no seio da
sociedade capitalista reflete no exercício profissional e desafia, uma vez que o
profissional está inserido na divisão social e técnica do trabalho. Embora
reconheçamos que o/a assistente social compreende seu papel profissional,
percebemos a dificuldade do Serviço Social em materializar o real papel profissional
na dinâmica do SUS, o que nos revela a necessidade de constante aprimoramento
intelectual. Para tais considerações, vejamos os resultados da pesquisa.
3.8.1 Ações que fogem das atribuições privativas
48
No cotidiano profissional do assistente social, percebemos na academia e
através de autores como Guerra (2000), Iamamoto (2011), Bravo (2009) e Netto
(2009), que a efetivação do Projeto Ético-Político em torno da profissão no
fortalecimento dos princípios e valores defendidos pela categoria, na saúde, está
intimamente ligada à defesa, também, do SUS enquanto direito social, bem como
fortalecimento da política de saúde pública, na sensibilização para a compreensão
como direito social.
Contudo, quando questionadas acerca das ações do/a assistente social na
instituição, verificamos intervenções em seu cotidiano profissional que rompem com
suas atribuições profissionais16 e dificultam o reconhecimento do sistema de saúde
pública enquanto direito social, uma vez que aparecem distantes do projeto
norteador da profissão.
Desse modo, tem-se que: “[...] é também a parte das emergências, essas
demandas espontâneas, e tem assim os óbitos, fazer os encaminhamentos
necessários, solicitar exames, declarações [...]” (Sujeitos 6) Vemos que o ato de
proferir declarações e solicitar exames configuram-se como ações urgentes,
imediatas. Burocratizam as ações e fazem parte do trabalho do/a assistente social a
ponto de tornarem suas práticas rotineiras, o que configura a ausência do trabalho
na perspectiva da emancipação dos sujeitos, envoltos num processo coletivo.
Embora a dinâmica dos processos de trabalho na instituição obscureça as
ações, é de suma importância a apreensão das reais atribuições profissionais, do
16
Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social: I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social;II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional. Disponível no seguinte sítio: http://www.cfess.org.br/arquivos/legislacao_lei_8662.pdf
49
aparato legal que envolve a profissão de modo que supere a acriticidade, isto
legitima a intervenção profissão.
De acordo com Costa (2009), estas ações funcionam como estratégias para
suavizar as contradições estabelecidas no acesso aos serviços de saúde. Assim,
para os usuários, podem ser entendidas como a porta de entrada para suprir a
necessidade imediata, já para a instituição configura-se como uma alusiva
preservação da imagem da gestão.
De acordo com o CFESS (2010), as atribuições e competências do/a
assistente social, independente do espaço de trabalho ocupado pelo profissional,
são orientadas por um aparato legal que se constitui de um Código de Ética
profissional e Lei de Regulamentação da profissão. Portanto, estas atribuições
devem ser respeitadas tanto pelos profissionais quanto pela instituição, no caso, de
saúde. Cabe ao profissional dialogar com as demais equipes de saúde e gestão
administrativa, a fim de socializar seu papel enquanto profissional de Serviço Social
no interior da unidade.
3.8.2 Ausência de articulação entre teoria e prática
Diante das ações dos/as assistentes sociais no HNSC, incluindo as que
fogem de suas atribuições privativas, somado a fragilidade teórico, configuramos
profissionais em meio a dificuldades de relacionar teoria e prática, o que constitui
ações emergentes à demandas que se constroem dentro de um serviço hospitalar
emergencial. Para Iamamoto (2012), a intervenção do Estado na perspectiva
neoliberal afeta todas as dimensões da vida social, a organização societária e os
direitos sociais. A falta de compreensão acerca das atribuições preconizadas pelo
Código de Ética profissional, já confirmadas na subcategoria anterior e a ausência
de articulação entre teoria e prática possibilitam um entendimento superficial das
contradições do sistema capitalista e do que isto representa na sociedade, o que
resulta na adequação dos indivíduos à ordem atual e em relações de
subalternização, tanto dos usuários da política de saúde quanto dos profissionais de
Serviço Social, colaborando para a sua desvalorização profissional. Isto se
estabelece enquanto limite do agir profissional, à medida que dificulta as ações a
50
partir do conhecimento da realidade. Desse modo, verificamos o distanciamento
entre teoria e prática na fala do sujeito 2.
[...] a gente lida com questões que batem o nosso trabalho. O acompanhante da criança que não se dispõe a ajudar, que não tem conhecimento de fazer com que aquele paciente infantil se recupere mais rápido, de mães que dormem no mesmo quarto da criança, que não lava a mão para manusear o paciente. [...] a mãe reclama porque a criança chegou aqui com pneumonia e tá com diarréia, e a gente sabe que pode ser pela medicação ou pela questão de higiene, aí a culpa é da própria mãe [...] (Sujeito 2)
Este discurso nos remete à práticas higienistas, herdadas na gênese da
profissão e marcadas na inserção do Serviço Social na saúde. Estas práticas
estavam voltadas para a higiene pessoal. Condições sociais, culturais e econômicas
não integravam o debate.
O contato com a teoria e a articulação com a prática no desenvolvimento do
exercício profissional do/a assistente social se faz fundamental na obtenção de
respostas às demandas dos usuários. Esta articulação, teórica e prática, configura-
se como o principal instrumento de intervenção do/a assistente social, haja vista que
por meio disto o profissional pode por em prática todo seu conhecimento adquirido
na academia, além de munir-se com armas (conhecimento) que ultrapassam o que
lhes é colocado no aparente, no imediato. A denominação para este fenômeno que
se dá no âmbito do exercício profissional do assistente social denomina-se
instrumentalidade, bem fundamentado por Guerra (2011). A partir da
instrumentalidade o profissional é capaz de responder às demandas de forma crítica,
compromissada e competente, pois, ao reconhecer as contradições que se operam
no movimento da sociedade, percebem que os fenômenos sociais são produtos
históricos e tanto impactam na reprodução das relações sociais.
3.8.3 A precarização da política de saúde
De acordo com as entrevistas, observamos a precarização do Sistema Único
de Saúde, que resulta na ausência de atendimento digno aos usuários e materializa
o mau funcionamento do sistema de saúde. Assim, dentro do processo de
fragilidade da saúde pública, as precárias condições de trabalho que acomete os/as
assistentes sociais formam barreiras e dificultam suas ações. Desse modo, através
da fala do sujeito, podemos enxergar essa realidade:
51
Somos um hospital de médio risco, secundário, e hoje muitas demandas chegam aqui e infelizmente não são nossas. A sua maioria ou é básica ou é nível terciário. [...] então essa demanda que o serviço social se depara e então essa classificação que é feita vem para o serviço social, para que o serviço social dê resposta. (Sujeito 2)
Constatamos que o mau funcionamento da rede de atenção básica manifesta
a super lotação na atenção secundária. Temos que: “hospitais secundários estão
super lotados, por problemas que deviam ser resolvidos na atenção básica” (Sujeito
1), o que possivelmente provoca a espera no atendimento dos usuários, já que, a
atenção básica é a porta de entrada no sistema de saúde, e hospitais de nível
secundário, de acordo com as diretrizes do SUS, oferecem serviços de média
complexidade, ou seja, atendimentos de urgência e emergência.
Para esclarecer a classificação referida na fala do sujeito 2, Paim (2009) nos
chama atenção ao destacar que o SUS dispõe de uma classificação de risco
baseada no estado clínico de saúde do paciente e apresenta-se em cores, que
delimitam a preferência para atendimento do usuário. Assim, as insatisfações dos
usuários referentes à falta de atendimento no hospital chegam para o Serviço Social,
fruto da incompreensão do papel profissional na unidade de saúde.
[...] o que é que um assistente social faz? Ele faz tanta coisa que na cabeça justamente das pessoas não tem essa compreensão e eles acham que a gente é chefia de médico, que manda e desmanda no hospital, na saúde, porque a gente tem essa responsabilidade. Eles até perguntam: “Mas vocês não são o serviço social?” [...] Se há uma quebra, um rompimento naquilo, na equipe médica em relação ao atendimento, onde é que isso cai? Cai diretamente no serviço social. (Sujeito 6)
Através da fala anterior, vimos que a demanda para o serviço social em volta
das insatisfações dos usuários – decorrentes do mau funcionamento da rede de
saúde, como a atenção básica - provém da incompreensão dos usuários em torno
da função que o profissional exerce na instituição, ainda percebida como o
profissional da ajuda, herdada na gênese da profissão. Assim, ao destacar que o
profissional de Serviço Social faz tantas atividades no hospital, as ações
profissionais voltam-se para o imediatismo, haja vista que estabelecem-se em torno
das demandas dos usuários referentes insatisfações que perpassam o interior da
unidade de saúde, fruto da precarização da política de saúde.
3.8.4 A dinâmica do plantão
52
De acordo com Amador (2009), o Serviço Social se insere numa realidade
complexa e contraditória, encontrando limites que desafiam seu cotidiano
profissional. O plantão, neste contexto, é visto como forma de burocratizar a ação
profissional, à medida que não permite o aprofundamento das questões subjetivas e
objetivas em torno dos sujeitos.
Neste sentido, as ações do/a assistente social no HNSC se estabelecem
através de plantões. A fala da assistente social entrevistada possibilitou a
compreensão do plantão como forma de limitar a ação profissional, tem-se que: “A
gente tá muito acostumada com a demanda imediata, você em um plantão tem que
dar o encaminhamento, então você tem que fazer a sua parte naquele plantão [...]”
(Sujeito 5)
Nós que trabalhamos em plantão, no meu caso, eu sou plantonista no final de semana, é aquela atividade mesmo, rotineira, o Serviço Social que a gente chama de tarefeiro, a gente tem muita dificuldade, principalmente quem trabalha nas emergências, por conta da super lotação, e assim o profissional que trabalha no final de semana, nos plantões de atendimento do Serviço Social, ele sente essas dificuldades, porque a gente atende por demanda. (Sujeito 1)
A partir dos discursos acima, percebemos que o plantão, somado com o
costume à demandas imediatas, possibilita a realização de atividades mecanizadas,
à medida que o/a profissional realiza suas ações em que, por estar no seu plantão,
necessita dar respostas imediatas a fim de concluir o trabalho pontualmente. Sodré
(2010) nos chama atenção para o cuidado que os profissionais de Serviço Social
precisam ter nos atendimentos em plantão, uma vez que precisam buscar
estratégias de superação às práticas conservadoras e fragmentadas. Isto nos
remete à Iamamoto (2012) quando a autora sinaliza que um dos maiores desafios do
Serviço Social, atualmente, centraliza-se na dificuldade em elaborar propostas
criativas no seu agir profissional, que ultrapassem as demandas emergentes do
cotidiano.
“A área da saúde tem muitas limitações [...] você não sabe ao final se aquela
criança continua sendo assistida pelo conselho tutelar, se ela realmente teve o
direito garantido, as suas necessidades garantidas [...]“ (Sujeto 7) Ou seja, tomando
por base as leituras de Vasconcellos (2011), o plantão não proporciona ao
profissional o trabalho na perspectiva de ações planejadas, sistematizadas e
refletidas, em que estas ações não estão articuladas a programas e projetos que
53
possibilitem um acompanhamento, de forma continuada, dos profissionais àquele
usuário.
A bibliografia abordada e as falas das profissionais nos permite compreender
o plantão como auxílio no encadeamento das relações de poder e dominação diante
da conjuntura atual, à medida que não viabiliza meios para execução do trabalho
concreto do/a assistente social, desqualifica seu trabalho no tocante à artifícios que
forneçam subsídios para a compreensão dos significados que os direitos sociais tem
na reprodução da vida social, não proporcionando alternativas para uma mudança
de ordem social.
3.8.5 O trabalho individualizado
Uma questão fundamental, levantada nas análises das entrevistas na
construção das subcategorias diz respeito à dificuldade do trabalho em equipe
interdisciplinar. Isto pode ser evidenciado através do seguinte discurso:
Eu acho que a gente trabalhar de forma interdisciplinar é um grande desafio na saúde, porque nós não trabalhamos a multidisciplinaridade, eu faço a minha parte, o outro profissional faz a dele, e não tem esse trabalho de estar conversando, de sentar em um canto e discutir as questões, os casos, então eu tenho o meu olhar e faço o meu atendimento, o outro profissional tem o dele e faz o dele. (Sujeito 4)
Para Sodré (2010), a estrutura administrativa do hospital na atualidade criou o
modelo saúde-fábrica, uma vez que estrutura os atendimentos semelhantes à
grande fábrica: “atendimentos em massa, cirurgias em massa, leitos em série e
atendimentos sequenciais sem tempo de parada e divididos por especialidades.” (p.
457) A especialidade técnica, na saúde pública, construiu o trabalho
compartimentalizado, entre equipes que não interagem e veem os indivíduos como
partes do corpo, ressaltando que a vida não é apenas isso.
O trabalho interdisciplinar na saúde possibilita aos profissionais e usuários
irem além do que lhes apresenta, a fim de promover um trabalho conjunto. É uma
forma de concretizar o que preconiza o SUS, nas ações de integralidade,
ultrapassando a demanda dos usuários numa articulação contínua entre o
físico/biológico e as condições de vida daquele paciente/usuário, o que afirma,
também, as ações na perspectiva da promoção, prevenção e recuperação da saúde.
54
Além disso, de acordo com Iamamoto (2009) a interdisciplinaridade qualifica o
exercício profissional, à medida que potencializa o trabalho do/a assistente social na
perspectiva do trabalho concreto, o que caracteriza sua função social diante da
reprodução das relações sociais.
O trabalho interdisciplinar provoca o alargamento do olhar ao sujeito,
compartilha conhecimentos e constrói práticas integradoras. A ausência desta
prática como ponto de destaque que limita o trabalho profissional se dá, pois,
quando não realizada, considerando o trabalho do assistente social na
sensibilização dos sujeitos para o SUS de direitos, este profissional se vê em meio a
dificuldade de dar respostas concretas aos usuários, o que caracteriza uma carência
nas ações.
3.9 Possibilidades na atuação do/a assistente social no HNSC
Diante das dificuldades que limitam a intervenção do/a assistente social no
Hospital Nossa Senhora da Conceição e, dificuldades essas, que limitam, também, o
acesso aos serviços de saúde de caráter universal, os resultados desta pesquisa
nos mostraram as possibilidades do fazer profissional na instituição. As observações
contidas nesta categoria contribuem, também, para a compreensão do SUS como
uma conquista, à medida que reconhece, nas ações profissionais, o avanço do
sistema de saúde e o que isto representa na sociedade.
As subcategorias que complementam a analise da 3ª e última categoria desta
pesquisa foram definidas como: o atendimento na perspectiva da integralidade; o
Serviço Social na gestão e a prática educativa.
3.9.1 O atendimento na perspectiva da integralidade
Em seguimento às análises, identificamos que a instituição desenvolve
programas para acompanhamento contínuo de pacientes com DST/HIV e o
programa planejamento familiar. “A gente faz um trabalho mais educativo, a gente
atua nos programas de DST/HIV, eu especificamente trabalho com o programa de
planejamento familiar” (Sujeito 7)
De acordo com Borges (2010), nas unidades de saúde o programa
DST/HIV/Aids ocorre dentro dos ambulatórios através dos SAE’s (Serviço de
55
Atenção Especializada). Este serviço presta atendimento clínico e psicossocial e é
composto por assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros e médicos, configurando
uma equipe interdisciplinar no processo de trabalho. Além disto, oferece atividades
para o tratamento da DST e do HIV, fomentando a adesão ao tratamento, controle e
prevenção, o que caracteriza a amplitude do cuidado e das ações assistenciais.
Em relação ao programa de Planejamento Familiar, Pierre (2009) nos chama
atenção para o entendimento do direito reprodutivo preconizado
constitucionalmente. As ações caracterizam-se no acesso à informações que
demonstrem o direito de reprodução e o acesso a métodos contraceptivos,
configurando o processo de saúde integral da mulher.
Desse modo, verificamos na fala do sujeito 7 que atualmente, o programa de
DST/HIV e Planejamento Familiar no HNSC é composto por assistentes sociais.
Com isso, vemos que, através do programa, o Serviço Social promove um trabalho
que vai para além da demanda espontânea, e que permite ao profissional
acompanhar o usuário em seu tratamento, promovendo a promoção, prevenção e
recuperação da saúde.
3.9.2 O Serviço Social na gestão
Diante das falas dos sujeitos, percebeu-se que um assistente social,
atualmente, integra a gestão administrativa do Hospital Nossa Senhora da
Conceição enquanto diretor técnico da referida unidade.
É um passo muito grande [...] hoje o papel que o diretor técnico tem aqui dentro é muito importante, porque tem uma visão social, tem uma visão diferenciada. [...] hoje a gente já consegue dar uma possibilidade tendo o diretor técnico de assistente social. (Sujeito 1)
O discurso do sujeito 1, quando destaca a visão diferenciada do assistente
social das demais profissões e a importância deste na gestão como possibilidade do
agir profissional, nos remete à postura, dentro do processo de trabalho, do
assistente social na instituição, uma vez que, de acordo com sua formação
acadêmica, seu entendimento da questão social e das expressões desta
potencializa uma gestão comprometida com os sujeitos sociais.
Além disto, tem-se que: “Nós procuramos sempre conversar, nos ajudar pra
dar respostas à demanda que chega.” (Sujeito 7) A referência à união dos/das
56
profissionais no setor de Serviço Social da instituição caracteriza um ponto
importante na discussão. Mostra a sistematização de uma equipe dedicada a
contribuir com a qualidade de vida dos sujeitos.
Desse modo, a aproximação do Serviço Social enquanto equipe de saúde e a
inserção na gestão do hospital, possibilita uma gestão empenhada em dar respostas
às questões que perpassam o interior do Serviço Social.
Para Borgato et al (2008), a gestão caracteriza-ze pelo ato de gerir,
administrar, e para isto constitui-se necessário a interpretação de objetivos que
delimitem as necessidades necessárias para uma boa gestão, comprometida com a
população. Nas palavras da autora, é necessário: “agrupar as atividades em uma
estrutura lógica, designar atividades as pessoas especificas e organizar para a
interdisciplinaridade.” (BORGATO et al., 2008, pág. 5)
Nesse sentido, o profissional de Serviço Social inserido na gestão da unidade
de saúde reforça a legitimação do SUS real e o processo de saúde ampliada, uma
vez que pode promover uma gestão democrática e ações interdisciplinares,
conforme vivencia a troca de experiências e socializa saberes mútuos com outros
profissionais. Cabe aos profissionais a junção de esforços, já que o trabalho
intelectual do/a assistente social possibilita a formulação de estratégias que
busquem superar os desafios no desenvolvimento de seu exercício profissional.
3.9.3 A dimensão educativa
Dentre as ações do Serviço Social no HNSC, constatamos que o/a assistente
social realiza intervenções nos programas de acompanhamento contínuo dos
pacientes, numa perspectiva integral- identificados na subcategoria 4.3.1 desta
pesquisa -; nas emergências; enfermarias e maternidade. Quando questionadas a
respeito de suas ações profissionais, as assistentes sociais destacaram o trabalho
nas enfermarias e emergências referentes à orientação previdenciária, direitos
trabalhistas e encaminhamentos para a rede de ampla saúde e socioassistencial. Na
maternidade, além do que foi mencionado, as ações do profissional estão voltadas
para o aleitamento materno e o fortalecimento de vínculos entre mãe e filho,
orientação sobre o registro civil dos recém-nascidos, orientação sobre prevenção
primária e acompanhamento da criança na atenção básica e planejamento familiar.
57
A gente trabalha muito com a rede de proteção, a rede e o sistema de saúde [...] Então nós trabalhamos com a rede socioassistencial, nós trabalhamos muito com essa rede de proteção. Quando o paciente está internado, nós fazemos a visita, trabalhamos a orientação dos direitos previdenciários, como acionar o SUS, encaminhar, referenciar, orientar mesmo. (Sujeito 4)
Questão da orientação dos direitos trabalhistas, a gente faz uma visita diária e a gente faz orientação sobre os direitos trabalhistas, a questão da importância do registro civil, que hoje é uma questão forte, a maioria dessas mães hoje em dia nem elas mesmo possuem o registro civil então a gente enfatiza a necessidade do registro, de garantir a existência dessa criança, ela realmente é de suma importância, uma forma de dimensionar a política de saúde, de assistência, saber da condição. Então é outra ação da gente, a prática do aleitamento materno, a questão da formação do vinculo entre a mãe e o filho. [...] direitos trabalhistas do pai, a questão da própria necessidade de registrar em forma de garantia, 5 dias de licença, orientação sobre a prevenção primaria, a questão dessas crianças serem acompanhadas em postos de saúde [...] falamos da medicina curativa e tentar sensibiliza-los da necessidade de fazer essa prevenção primaria, com o acompanhamento no posto. (Sujeito 1)
Assim, observamos ações do Serviço Social em consonância com o que
preconiza os Parâmetros para Atuação do/a Assistente Social na Saúde, que
configura a dimensão educativa do fazer profissional. À medida que o profissional
identifica as demandas do usuário, pode objetivar dar respostas legítimas de modo
que possibilite o enfrentamento da questão social, na perspectiva de mudanças.
Estas ações estão articuladas aos parâmetros conforme revelam a “apreensão
crítica dos processos sociais de produção e reprodução das relações sociais numa
perspectiva de totalidade”. (CFESS/CRESS, 2010) A orientação social na
perspectiva dos direitos revela o compromisso com os interesses das classes
populares, uma vez que socializa e troca informações, buscando a legitimação dos
direitos socialmente.
No momento em que colocam-se os encaminhamentos para a rede de
proteção e assistencial, além de referenciar estes usuários ao sistema mais amplo
de saúde, pode ser relacionado com os parâmetros conforme “encaminhar
providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população”
(CFESS/CRESS, 2010, p. 35). Sem que o encaminhamento seja compreendido
como a transferência de responsabilidade, denota-se uma articulação com a rede
sócioassistencial no enfrentamento à violência, negligência e qualquer forma de
exclusão social. Além de fomentar a promoção da saúde.
[...] quando eu penso nas possibilidades eu não tenho com não associar que depende também do empenho do profissional, do compromisso de não cruzar os braços [...] depende do seu empenho, da conduta de como você conduz aquele caso. (Sujeito 7)
58
Verificamos na fala acima que a assistente social reconhece uma
possibilidade para o agir profissional, à luz da formulação de estratégias, que podem
superar os trâmites institucionais, as contradições que se operam na sociedade e
por consequência disto materializam-se na vida dos sujeitos. A dimensão educativa
no agir profissional está diretamente ligada à forma como o/a profissional conduz
sua intervenção profissional, objetivando, através do acesso aos serviços na esfera
dos direitos, a reflexão dos sujeitos. Proporciona o acesso às informações e o olhar
dos usuários por eles próprios, sensibilizando para o reconhecimento dos direitos
sociais, provocando o protagonismo dos sujeitos mediante sua história em
sociedade, o que visa promover transformações na reprodução das relações sociais.
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que a categoria dos profissionais de Serviço Social obteve
avanços significantes no decorrer de sua trajetória sócio histórica. Esses avanços
estão materializados no aparato legal que envolve a profissão denominados de
Código de Ética Profissional e Lei de Regulamentação da Profissão. O projeto
hegemônico que envolve a profissão norteia a atuação profissional - junto com a
estrutura legal -, num direcionamento social emancipatório.
O trabalho do/assistente social, portanto, pauta-se na defesa intransigente
dos direitos humanos, rebatendo na saúde como a contribuição na sensibilização
dos sujeitos para questões político-econômicas em torno da sociedade e que
interferem diretamente na reprodução da vida social, como condições de saúde da
população no acesso à serviços e à saúde numa perspectiva ampliada. Insere-se
neste cenário, a importância do profissional no processo saúde/doença dos sujeitos,
possibilitando um diálogo entre o biológico e as condições sociais, econômicas e
culturais, que interferem diretamente na saúde dos indivíduos.
Contudo, encontramos limites do agir profissional que impossibilitam a
efetivação do que mencionamos anteriormente. Colocamos em discussão que a
conquista do SUS, disposta constitucionalmente no ano de 1988, aconteceu
concomitantemente com a mudança na estrutura político-econômica do Brasil, que
resultou no processo de ajuste neoliberal do Estado, intensificado na década de
1990 e rebatendo ferozmente na saúde pública, promovendo o sucateamento desta
saúde. Assim, o SUS distancia-se da concretização de uma saúde pública de
qualidade, comprometida com a população.
Desse modo, concluímos que a precarização da atenção básica interfere no
atendimento secundário, ocasionando a super lotação e a deficiência na atenção à
saúde. Isto causa a insatisfação dos usuários diante do sistema de saúde e
aparecem como demandas para o Serviço Social, o que configura a percepção do/a
assistente social como o profissional da ajuda, quem resolverá os conflitos
existentes no interior da instituição.
O fato de ser uma instituição hospitalar, emergencial, superlotada e
demandando uma grande rotatividade de paciente/usuários, dificulta o trabalho do/a
60
assistente social que se estabelece através de plantões. O plantão compromete o
exercício profissional com atuações rotineiras, burocráticas e mecanizadas. O
trabalho na perspectiva do plantão dificulta uma ação planejada, refletida e
continuada. Os/as assistentes sociais do Hospital Nossa Senhora da Conceição se
veem presos à rotina do plantão e algumas vezes não articulam suas ações às
atribuições privativas colocadas à categoria, isto colabora para a ausência do
conhecimento sobre o exercício profissional do/a assistente social, tanto dos
usuários quanto das demais equipes de saúde, revelando profissionais em meio à
realização de ações que não lhe são atribuídas legalmente, o que dificulta o trabalho
social num fazer educativo. Além disto, a falta de uma articulação com as demais
equipes de saúde promovem o trabalho individualizado e impossibilitam o trabalho
na perspectiva de práticas integradoras, superando o modelo médico-hegemônico.
Percebemos que não houve aproximação do Serviço Social do Hospital
Nossa Senhora da Conceição dos Conselhos de Saúde. Essa ausência de
articulação com os conselhos intensifica os limites da prática profissional no hospital,
haja vista que, de acordo com Correia (2009), os conselhos de saúde são espaços
de luta e possibilitam aos segmentos organizados da sociedade civil, que
representam a classe trabalhadora, a defesa de seus direitos sociais, e neste caso,
do seu direito ao acesso à saúde. Assim, a aproximação do/a assistente social dos
conselhos de saúde reflete um dos princípios éticos da categoria e implica no
fortalecimento de práticas democráticas na saúde fomentando o processo de
ampliação da cidadania.
Contudo, registramos profissionais que, embora suas ações processem-se na
dinâmica do plantão e formem barreiras institucionais para uma ação planejada,
encontram possibilidades no agir profissional que impulsionam o processo de
legitimação do SUS e o reconhecimento deste enquanto direito social. Verificamos
assistentes sociais comprometidas com o projeto hegemônico em torno da profissão,
com os parâmetros para atuação na saúde, bem como a estrutura jurídica que
orienta o/a profissional. Estas possibilidades podem ser identificadas através dos
encaminhamentos, orientação social e os programas desenvolvidos na instituição,
que constroem pontes para o atendimento numa perspectiva contínua dos usuários
no acesso aos direitos da população destituída de cidadania.
61
Estas ações são observadas pelas profissionais, como práticas educativas
que visam o atendimento integral dos sujeitos, não como mera transferência de
responsabilidade para outros setores sociais. Mas como a socialização de
informações, da existência de serviços socioassistenciais, da viabilização no acesso
aos direitos sociais e o fortalecimento da prevenção, promoção e recuperação da
saúde.
Constatamos possibilidades que podem contribuir no processo de legitimação
do SUS, na compreensão de direito social e o enfrentamento da saúde privada, além
de contribuir para a apreensão das demais equipes de saúde acerca do papel do/a
assistente social na instituição. Embora haja carência do trabalho interdisciplinar no
interior da unidade, a aproximação do Serviço Social da gestão do hospital pode
ganhar forças e ampliar as discussões no interior da unidade, a partir de debates e a
partilha de saberes que tem como finalidade unida a qualidade no atendimento
prestado à população.
Não há aqui um posicionamento que culpabilize as assistentes sociais em
função das limitações no agir profissional. Entende-se que essas limitações são
frutos das contradições operadas na sociedade capitalista e refletem diretamente na
vida dos sujeitos, neste caso, nos processos de trabalho, considerando o Serviço
Social inserido na divisão social e técnica do trabalho. Mas, constatamos que a
maioria das profissionais entrevistadas exercem sua profissão há aproximadamente
30 anos, o que revela a necessidade de enfatizarmos o aprimoramento intelectual
frente à ausência de domínio teórico identificado nas falas de algumas profissionais,
uma vez que é um dos princípios do Código de Ética Profissional. Além disto, a
carência do aprimoramento intelectual agrava os limites no cotidiano profissional,
pois impossibilita a relação teórico-prática.
A ausência de articulação entre teoria e prática de alguns profissionais
constata a fragmentação das ações num viés coletivo. É preciso qualificar os
estudos, investir na dimensão investigativa através de pesquisas, textos e livros,
documentos que possibilitem o aprofundamento da realidade concreta, das
competências e atribuições profissionais, na superação da dicotomia existente entre
teoria e prática, que muito contribui na formulação de estratégias que superem a
acriticidade, tanto dos profissionais quanto dos sujeitos sociais.
62
Através deste estudo, verificamos que muitos são os desafios do Serviço
Social no Hospital Nossa Senhora da Conceição e, embora haja a busca por um
atendimento digno e o trabalho na esfera dos direitos, a dificuldade de concretização
do SUS em função dos interesses contraditórios contestam a deficiência da política
de saúde, compromete o exercício profissional e agrava os limites no cotidiano de
trabalho, em face das precárias condições que se inserem os usuários da política e
o profissional de Serviço Social. A necessidade de uma política de saúde de
qualidade contesta o mau funcionamento do sistema tão bem construído em sua
dimensão legal. Em meio a isto, a atuação do/a assistente social caracteriza-se
como um intenso desafio, pois, ao mesmo tempo em que o assistente social legitima
a política de saúde como direito, vivencia as contradições operadas pela lógica
neoliberal, que afetam diretamente o cotidiano profissional.
No tocante à importância deste estudo, consideramos as reflexões levantadas
no desenvolvimento da pesquisa fundamentais para o processo de aprendizagem
do/a pesquisador/a enquanto futuro/a profissional de Serviço Social. A pesquisa
contribuirá para o aprofundamento da temática na área estudada e proporcionará
aos sujeitos implicados no processo de investigação lançar o olhar para as
dificuldades que perpassam o seu cotidiano profissional, superando os desafios do
exercício profissional e que são postos cotidianamente.
63
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69
APÊNDICES
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevistas
Identificação Profissional
Iniciais: __________ Gênero: _______________ Idade: ___________ Ano de Formação: _______ Trabalha em alguma outra instituição? _______________________________ Tempo de trabalho na instituição: ________ Participou de algum movimento social? ( ) sim ( ) não Se sim, qual? ___________________________________________________
Perguntas Norteadoras
- Para você, qual o papel do Serviço Social no SUS? - Quais as ações do assistente social no HNSC? - Fale sobre o seu dia-a-dia na operacionalização do SUS, descrevendo dificuldades e/ou potencialidades.
70
APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Eu, Jamile Silva de Oliveira Castro, responsável pela pesquisa “Serviço
Social e o SUS: Desafios na prática do Assistente social” convido você a participar
como voluntário do meu estudo. Esta pesquisa pretende compreender a prática do
assistente social no contexto do SUS. Acredito na importância da pesquisa
considerando o aprofundamento teórico da política de saúde pública. Este
aprofundamento juntamente com os resultados da pesquisa permitirá ampliar as
discussões temáticas em torno da profissão inserida no campo da saúde.
Se você concordar em participar da presente pesquisa, será utilizado um
gravador para registrar as suas falas. As fitas ficarão sob minha responsabilidade, e
às suas falas será garantido sigilo, resguardando sua privacidade. No percurso da
pesquisa, você tem direito de esclarecer qualquer dúvida e/ou pedir qualquer outro
esclarecimento bastando para isto, entrar em contato com o pesquisador. Os custos
para sua participação será de responsabilidade do pesquisador. Sua participação
tem grande importância para o desenvolvimento da pesquisa, de modo que
possibilitará um melhor entendimento do trabalho do assistente social no SUS em
uma instituição de saúde no município de Fortaleza.
Consentimento Livre e Esclarecido.
Eu __________________________________________________, após leitura deste
documento e conversa com o pesquisador responsável pela pesquisa para
esclarecimento de minhas dúvidas, autorizo minha participação e acredito estar
informado, estando claro a minha participação voluntária e o fato de que posso me
retirar da pesquisa a qualquer momento, sem penalidadades.
___________________________________
Assinatura do participante
___________________________________
Assinatura do Responsável Data: __/__/__
71
ANEXOS
ANEXO A – Documento à coordenação do comitê de Ética em Pesquisa na
Saúde
À coordenação do Comitê de Ética em Pesquisa
Fortaleza, 01 de Abril de 2013.
Senhor (a) Coordenador (a),
Encaminhamos a V. Sa. O Projeto de pesquisa intitulado O Serviço
Social e o SUS: Desafios na Prática do Assistente Social para avaliação. O
projeto segue anexo, aguardamos parecer deste comitê.
Atenciosamente,
_______________________ _______________________
JamileSilva de Oliveira Castro Laurinete Sales de
Andrade
72
ANEXO B - DECLARAÇÃO DE CIÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO EM PROJETO DE
PESQUISA
Nós, Jamile Silva de Oliveira Castro e Laurinete Sales de Andrade, declaramos estar
cientes e de acordo com a participação no projeto de pesquisa denominado O
Serviço Social e o SUS: Desafios na Prática do Assistente Social. Estamos
cientes de que a referida pesquisa somente poderá ser iniciada após aprovação pelo
Comitê de Ética em Pesquisa.
Fortaleza-CE, _______/ ________/ ________.
_________________________ ___________________________
Jamile Silva de Oliveira Castro Laurinete Sales de
Andrade
73
ANEXO C – DECLARAÇÃO REFERENTE AOS CUSTOS DA PESQUISA
Eu, Jamile Silva de Oliveira Castro, declaro que todos os custos referentes à
pesquisa serão de minha responsabilidade, não havendo ônus para o hospital.
Fortaleza, _____/____/____
__________________________
Jamile Silva de Oliveira Castro
Fortaleza, _____de ___________ de 2013.
74
ANEXO D – Documento à Coordenação do Comitê de Ética em Pesquisa
Estamos encaminhando o projeto intitulado O Serviço Social e o SUS: Desafios na
Prática do Assistente Social para ser submetido à avaliação junto ao Comitê de
Ética e Pesquisa. Esse trabalho é pré-requisito para obtenção da graduação em
Serviço Social pela Faculdade Cearense. Assumimos o compromisso em realizar a
pesquisa de acordo com as normas que regulamentam a pesquisa em seres
humanos do Conselho Nacional de Saúde - Ministério da Saúde, Resolução Nº196
de outubro de 1996.
Atenciosamente,
_________________________________
Laurinete Sales de Andrade
Orientadora
________________________________
Jamile Silva de Oliveira Castro
Acadêmica
Fortaleza, _____de ___________ de 2013.