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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL REBECA MARQUES DE MELO AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE. Fortaleza 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

REBECA MARQUES DE MELO

AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE

CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE.

Fortaleza 2014

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REBECA MARQUES DE MELO

AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE

CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE.

Monografia apresentada ao curso de

graduação em Serviço Social da Faculdade

Cearense – FAC, como requisito para

obtenção do título de bacharelado.

Orientadora: Ms. Priscila Nottingham de

Lima

FORTALEZA

2014

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REBECA MARQUES DE MELO

AS INFLUÊNCIAS SOCIAIS DO ESPORTE PARA A JUVENTUDE: REFLEXÕES ACERCA DA CIDADANIA E DA INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO URBANO DE

CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE.

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de Aprovação:___/___/_____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Ms. Priscila Nottingham de Lima

Faculdade Cearense

_____________________________________________ Ms. Silvana Maria Pereira Cavalcante

Faculdade Cearense ____________________________________________

Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos Universidade Federal do Ceará

FORTALEZA 2014

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À minha família pelo amor e pelo exemplo, À minha mãe em especial pela dedicação,

A Junior Luz pelo conforto e pela compreensão, À Priscila Nottingham pela paciência e pelo companheirismo.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho só foi possível devido à participação direta e indireta de diversos sujeitos que colaboraram com sua construção: família, professores e amigos. Só tenho a agradecer pela força que me foi dada nesse momento tão importante de minha vida. À minha família, em especial, minha mãe Roselene Marques, meu exemplo de mulher, por me fazer acreditar nos meus sonhos e me apoiar em minha escolha profissional, por me transmitir sua experiência de vida, que me fez ser quem sou hoje. Agradeço também à pessoa, que escolhi para passar o resto da vida comigo, Junior Luz, foi você que me compreendeu por inúmeras vezes, mesmo quando não mais suportava, viu-me sofrer e comemorar. Teve a imensa paciência de reler comigo os incansáveis trabalhos realizados, inclusive a monografia, capítulo por capítulo e, mesmo quando eu não aguentava mais, você estava ao meu lado para me levantar e dizer que eu era capaz e que concluiria com êxito. Pois bem, aqui estou, contando a história e fazendo dessas pessoas tão especiais participantes de minha conquista. Às minhas meninas queridas: à Angélica Monte e todas as suas faces extraordinárias, à Larissa Sousa e a sua criatividade incessante, à Marcela Ramos e sua multiplicidade de sentimentos, à Priscila Ribeiro com suas maquiagens e sentimentos à flor da pele. Todas vocês fizeram parte de inúmeros momentos maravilhosos dessa longa caminhada, tornamo-nos amigas, confidentes, irmãs. Aprendemos muito umas com as outras, choramos, sorrimos, brincamos e, hoje, posso dizer que todos esses momentos foram extremamente importantes para que eu concluísse minha jornada. Em especial, agradeço à Mayara Duarte e Samara Leite, juntas formamos um trio quase perfeito, com direito à foto exclusiva por semestre e muito mais. Pois bem, estamos juntas desde o primeiro semestre e só tenho a dizer que amo essas meninas e que elas têm um lugar guardado no meu coração hoje e sempre. Nós nos entendemos até no olhar, nem sempre, mas na maioria das vezes. E isso, para mim, é extremamente essencial. Não posso me esquecer de agradecer às amizades feitas no início dessa jornada, Marjorie Grazielle e Mayara Castro, vocês fizeram parte da nossa turma por um período, porém tiveram que alçar voos mais distantes, nossa amizade permanece até os dias de hoje e é com muito orgulho, que as incluo neste texto. Segundo minha amiga Mayara Castro, conhecemo-nos durante as leituras do texto “O mito da caverna” de Platão, e assim podemos citar o seguinte trecho da obra: “Há pois, o mundo das ideias e o mundo das aparências. Quem não percebe isto, vive como que numa caverna, onde o conhecimento se faz por meio de sombras...” Pois bem, acredito que o Serviço social nos fez enxergar além das sombras, o mundo é cheio de ideias, pensamentos, opiniões e faces. Não somos os mesmos que éramos antes de iniciar essa graduação, aprendemos muito, e estamos fadados a posicionamentos críticos e questionadores por toda nossa vida.

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Agradeço aos conselhos e ao exemplo de mulher de minha amiga Juaniza Abreu, que muito contribuiu para a minha formação pessoal e acadêmica, a alegria de Nádia Maria, que, por vezes, fez-me esquecer de momentos tensos em sala de aula com suas gargalhadas contagiantes. Agradeço também à Danielle Figueiredo e todos os momentos de descontração, à Tânia Rocha e sua experiência de vida implacável. Aos professores, em específico, agradeço à Priscilla Nottingham, que me orientou neste trabalho, nunca me esquecerei de sua didática fantástica e de suas aulas super esclarecedoras, das leituras dinâmicas de Verbena Sandy, das músicas de Rúbia Martins, dos incessantes risos durante as aulas de Hamilton Teixeira e dos ensinamentos dos demais que me fizeram conhecer o Serviço Social da melhor forma. À Silvana Cavalcante e Emannuelle Alves, as pessoas mais centradas e focadas que conheço, agradeço por tê-las conhecido e por terem aceitado participar da minha banca. À professora Jane Meyre, por acompanhar-nos na disciplina de TCC e fazer-nos sorrir quando queríamos chorar. Por fim, agradeço a todos e todas, que contribuíram, dizendo que nada será esquecido, cada rosto, cada palavra, cada seminário, cada confraternização, amigo-secreto, chás de fralda (tivemos muitos), aniversários, trabalhos em trio de oito pessoas, enfim, tudo valeu super a pena. A todos e todas que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação, о mеu muito obrigado.

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O nosso maior medo não é sermos inadequados.

O nosso maior medo é sermos infinitamente poderosos.

É a nossa própria luz, não a nossa escuridão, que nos amedronta.

Sermos pequenos não engrandece o mundo.

Não há nada de transcendente em sermos pequenos,

pois assim os outros não se sentirão inseguros ao nosso lado. Todos estão destinados a brilhar,

como as crianças. Não apenas alguns de nós,

mas todos. E, enquanto irradiamos

a nossa admirável luz interior, inconscientemente estamos a permitir

aos outros fazer o mesmo. E, quando nos libertarmos

dos nossos próprios medos, a nossa presença automaticamente

libertará os medos dos outros.

(Trecho do Film Coach Carter - Treinando para a vida, 2005).

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RESUMO

Esta pesquisa tem como principal proposta compreender a função social do esporte

como agente de inclusão social e construção da cidadania para os jovens atendidos

pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA). Sendo esta uma

pesquisa de natureza qualitativa. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica e de

campo. A entrevista semiestruturada foi utilizada para coletar a percepção dos

jovens e dos profissionais da instituição. A escolha do local se deu devido ao fato do

mesmo propor-se oficialmente em trabalhar o esporte em suas três dimensões

sociais: educacional, participação e rendimento. Assim, durante a pesquisa, o

esporte pôde ser entendido a partir de uma ideia mais ampliada, para além do

estímulo às atividades físicas. O estudo também abordará os possíveis aspectos

negativos decorrentes do esporte moderno. A pesquisadora teve o contentamento de

observar no lócus deste, o modo como os jovens se observam posterior às práticas

esportivas, da mesma maneira que o modo como os profissionais lidam com os

fatores desfavoráveis em seu fazer profissional no CUCA.

Palavras-chave: Esporte. Cidadania. Inclusão social. Juventude.

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ABSTRATC

This search has like main proposal to understand the social function of sport, as

agent of social inclusion and construction of citizenship for the young attended by the

Urban Center of Culture, Art, Science and Sport (CUCA). Being this a search of

qualitative nature. For both, was held bibliographic e field search. The semi-

structured interview was used to collect the perception of the young people and

professionals of the institution. The choice of the place occurred of the fact that the

one was proposed officially to work sport in its three social dimensions (educational,

participation and yield). So, during the search, the sport could be understood from a

broader idea, in addition to the incentive to the physical activities. The study will

approach the possible negative aspects arising of modern sport. The searcher had

the contentment of watch in this locus the way young people see themselves rear the

sportive practices, the same way as professionals deal with unfavorable factor in

their professional doing in the CUCA.

Keywords: Sport. Citizenship. Social Inclusion. Youth.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CUCA – Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte

EDISCA – Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente

CNTA - Centro Nacional de Treinamento de Atletismo

UNIFOR – Universidade de Fortaleza

COB – Comitê Olímpico Brasileiro

CPB – Comitê Paraolímpico Brasileiro

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

SECEL – Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Fortaleza

MH2O – Movimento Hip Hop Organizado do Brasil

FUNCI – Fundação da Criança e da Família Cidadã

ONGs – Organizações Não Governamentais

PROJOVEM – Programa Nacional de Inclusão de Jovens

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO .......................................................... 15

2.1. Lócus da pesquisa: Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA) .... 21

2.2. Sujeitos da pesquisa ....................................................................................... 25

3 ESPORTE: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL E CIDADANIA ................. 29

3.1. Categorias da pesquisa ................................................................................... 29

3.2. Esporte: um breve histórico, suas influências e dimensões sociais ................ 38

3.3. Esporte e seus marcos legais ......................................................................... 44

4 PROFISSIONAIS E USUÁRIOS DO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE,

CIÊNCIA E ESPORTE(CUCA).................................................................................. 51

4.1. Profissionais do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) . 51

4.2. Usuários do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) ....... 61

4.3. Os aspectos sociais negativos do esporte moderno ....................................... 66

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 78

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82

APÊNDICES ............................................................................................................. 88

ANEXOS ................................................................................................................... 92

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como proposta compreender a função social do esporte

como agente de inclusão social e construção da cidadania para os jovens atendidos

pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA), analisando as

possibilidades de utilização do esporte como instrumento de desenvolvimento social,

trabalho este que pode ser realizado não apenas na instituição em questão neste

estudo, mas também em Organizações Não Governamentais (ONGs), Instituições

de ensino públicas, privadas ou mesmo em clubes desportivos.

O interesse da pesquisadora no tema está em investigar como ocorre a

prática da interação e inclusão social dos jovens, bem como a construção da

cidadania, em uma reflexão sobre as atividades propostas pela equipe

multidisciplinar, que trabalha em função da concretização dessas práticas, utilizando

como ferramenta o esporte.

Através deste estudo, a pesquisadora buscou assimilar as interfaces

sociais do fenômeno esportivo, pois já foi participante de projetos sociais, que

utilizavam o esporte como instrumento de transformação social. Sendo esta uma

indagação recorrente deste a época que era apenas aluna.

O profissional de Serviço Social atua nas diversas expressões da questão

social1, buscando sempre viabilizar os direitos dos usuários. Sendo sua atuação

neste campo de grande importância, trabalhando de modo crítico e investigativo,

interagindo com toda equipe multidisciplinar encontrada na área que remete a esta

temática. Segundo Sousa (2005, p.03): “O assistente social pode e deve trabalhar

em um conjunto de áreas: educação, saúde, família, formação em cidadania, e

promoção da cultura e lazer, tudo relacionado com a prática esportiva.”.

A área de atividades esportivas é um tema ainda pouco difundido no

Serviço Social, por isso a pesquisa busca conhecer melhor como se dá a interação

dessas áreas. A contribuição do profissional de Serviço Social poderá acarretar em

diversos benefícios para estes jovens. Segundo Sousa (2005, p.03): “Na prática

profissional do Assistente Social, uma questão a ser mencionada é a preocupação

referente à formação em primeiro lugar, não do atleta, e sim, do cidadão o qual é

detentor de direitos e deveres na sociedade.”.

1 A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas

na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado.

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Assim, este novo campo de atuação deve ser mais explorado e seus

resultados mais divulgados para que, dessa forma, possam ser aplicados e assim os

jovens possam ter a oportunidade de terem seus direitos garantidos, conforme

aquilo que se exige da atuação profissional, pela Lei de nº 8662/1993, que dispõe

sobre a profissão de Assistente Social e dar outras providências.

Dessa maneira, este estudo pretende mostrar ao leitor a perspectiva

social do esporte, podendo ele ser trabalhado por outras vertentes profissionais e

não somente pela área da Educação Física, englobando os seus mais diversos

aspectos em um trabalho social em comum.

O primeiro capítulo deste estudo abordará o percurso teórico-

metodológico da pesquisa. O presente trabalho apresenta de forma qualitativa os

dados coletados a partir da pesquisa bibliográfica, visita exploratória, pesquisa

exploratória e de campo. Ainda, neste capítulo, a pesquisa apresenta o seu lócus,

explorando o cenário escolhido para este trabalho com uma perspectiva investigativa

e crítica. Esse capítulo ainda apresentará os sujeitos em foco para o estudo, bem

como o modo que este é compreendido, perante a legislação e suas conjunturas

sociais, proporcionando ao leitor deste trabalho o contato inicial com os atores

principais desta pesquisa.

O segundo capítulo da presente pesquisa abordará o esporte como

instrumento de inclusão social e cidadania. Ele apresentará uma análise através de

uma leitura das categorias principais em questão, sendo elas: o esporte, a inclusão

social, a cidadania e o jovem. Sempre as relacionando de modo a facilitar a

apreensão do leitor.

Para compreender melhor o significado social do esporte, ainda, no mesmo

capítulo, a pesquisadora apresentará um breve histórico do esporte, expondo os

diversos papeis que ele possui na sociedade, seus aspectos, influências e

dimensões de relevância social.

Dessa maneira, este capítulo demonstrará as concepções do esporte como

direito, e os marcos legais desse fenômeno, percorrendo, inicialmente, a

Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Juventude (2013), as Normas Gerais do

Desporto (2011), as leis de incentivo ao esporte e as que regulamentam seus

recursos, até a Carta Internacional da Educação Física e do Desporto da UNESCO e

a Política Nacional do Esporte.

Tendo em vista a proposta de atividades do Centro Urbano de Cultura,

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Arte, Ciência e Esporte (CUCA), pode-se destacar suas áreas de atuação que têm

como objeto chave o esporte, não sendo só um instrumento que se reporta ao bem-

estar e à prática de exercícios, mas também proporciona uma sociabilidade, que é

de fundamental importância para crianças e adolescentes, principalmente para

aqueles de classes menos favorecidas, intervindo diretamente para reverter a

exclusão e a invisibilidade social de certos grupos.

Por fim, o terceiro capítulo deste trabalho apresentará a análise das

entrevistas, a perspectiva dos profissionais e dos usuários da instituição, e, para

finalizar, descreverá os efeitos negativos do esporte moderno, evidenciando não

somente o seu lado social e inclusivo, mas a título de informação e conhecimento, o

presente trabalho elencará fatores contrários à função social do mesmo.

O estudo apresentará, de modo geral, os exemplos de outras instituições

que trabalham o esporte além do viés de rendimento, aplicando mecanismo de

articulação entre as Organizações Não Governamentais (ONGs), das quais se pode

citar o Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA) que será a

instituição a qual a pesquisadora remeterá sua pesquisa, e outras como: a Escola de

Dança e Integração Social para Criança e Adolescente (EDISCA) e o Centro

Nacional de Treinamento de Atletismo da Universidade de Fortaleza (CNTA-

UNIFOR), que, há algum tempo, possuem trajetória nesta área, promovendo

educação, esporte, cidadania e cultura com perspectivas de inclusão social,

buscando contribuir para o desenvolvimento humano.

Tomando o esporte como exemplo, pode-se observar o fato de ele ir muito

além de competições e ginásios, ele também constrói valores necessários para um

fazer social e humano pouco presente nesta sociedade marcada de desigualdades.

Dessa forma, os objetivos deste estudo foram: compreender a função

social do esporte, naquilo que tange a construção da cidadania e a inclusão social

dos jovens, atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte

(CUCA), analisando as perspectivas dos profissionais e dos jovens da instituição

supracitada. Por meio deste, identificar a relevância do esporte como agente de

transformação social, explorando-o através dos relatos e das experiências dos

entrevistados.

Compreendendo que além do lado social, o esporte também possui o

seus aspectos negativos e suas consequências desfavoráveis aos “possíveis

beneficiários” do fenômeno esportivo. Em análise das entrevistas e do campo, a

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pesquisadora teve a oportunidade de perceber todos esses aspectos, cujo leitor

poderá se aprofundar e entender melhor a sua gênese durante a apreciação do

presente estudo.

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2 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO

A natureza deste estudo é realizada em uma perspectiva de cunho

qualitativo, com a tradução de dados disponibilizados ao longo de entrevistas,

procurando analisar o objeto em questão, descrevendo, além da objetividade

material, as subjetividades intrínsecas às relações da conjuntura em questão,

encontradas durante todos os processos da pesquisa. Dessa maneira, conforme

expressa Minayo (2007):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2007, pp.21-22)

Tendo em vista que a pesquisa qualitativa responde às particularidades

das questões enfrentadas pela pesquisa social, sendo ela um instrumento que

compreende o objeto estudado, empregando valor às subjetividades e às

peculiaridades do objeto pesquisado. Observando que o propósito da pesquisa é

conhecer o objeto de modo a apresentá-lo de forma clara e sucinta. Dessa maneira,

conforme expressa Minayo (2007):

[…] podemos observar que o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes, pois o objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos. (MINAYO, 2007, p.23)

Os sujeitos desta pesquisa não poderiam ser melhor analisados em outro

método, visto que quando se pesquisa nas ciências sociais, a interpretação dos

dados do material teórico e dos sujeitos, não seriam tão bem compreendidos se não

fosse permitido considerar suas subjetividades, muitas vezes invisíveis a “olho nu”.

O objeto deve ser explorado de modo que sua análise seja realizada de maneira

aprofundada, conforme expressa Minayo (2007):

[…] compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a vivência, com a experiência, com a cotidianeidade[sic] e também com a compreensão das estruturas e instituições como resultados da ação humana objetivada.Ou seja, desse ponto de vista, a linguagem, as práticas e as coisas são inseparáveis. (MINAYO, 2007, p.24)

Todo o processo de investigação que viabilizou o resultado desse estudo

qualitativo esteve respaldado pela pesquisa bibliográfica. Iniciada a partir da coleta

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de dados, como primórdio para conhecermos, satisfatoriamente, o assunto pelo qual

a pesquisadora tem interesse, procurando identificar, particularizar e demarcar

assuntos com a mesma problemática, tendo como origem livros, artigos científicos

ou páginas na internet. Dessa maneira, pode-se familiarizar com os mecanismos em

que buscamos informações, sendo cautelosa para simplesmente não acumular

materiais e sim analisar detalhadamente, conforme expressa Gil (2002):

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas. (GIL, 2002, p.44)

Para a construção do acervo bibliográfico, a pesquisadora procurou por

autores que dimensionam o esporte como um agente social, relacionando-o com

outras vertentes como: cidadania e inclusão social, voltadas para seu público-alvo,

que são os jovens. No Serviço Social, são poucos os autores que produzem a

respeito, e os que fazem, geralmente trabalham em alguma instituição, que reporta o

esporte ao lado social, porém institucionalizado.

À vista disso, foi realizada uma pesquisa na área da educação física, que

produz muito a respeito e, assim, foram encontrados alguns autores que foram de

extrema relevância para a construção do trabalho e que deram base para

fundamentar as categorias abordadas no estudo, Manoel Tubino (2011) foi um dos

autores principais, e que proporcionou a aproximação com a área pesquisada, em

específico, este é um dos autores que se refere ao esporte em seus mais variados

âmbitos. A partir das leituras do mesmo, o objeto desta pesquisa foi sendo

aperfeiçoado.

O interesse pela dimensão social do esporte surgiu da leitura do livro de

Tubino (2011), que trata a historicidade do esporte e o modo como surgiu, não só

para satisfazer as finalidades físicas e corporais, mas para plantar ideais de bem-

estar social pelo Estado. Voltando para o lado da sociologia, encontra-se algo

bastante novo, que é a sociologia do esporte, pautada por Lovisolo (2011), no que

diz respeito ao esporte, esclarecendo a importância de entendê-lo além da

perspectiva biológica, enfatizando seus valores sociais. Ainda falando sobre esporte,

também se traz como base, Barbanti (2011), que descreve o esporte como um fator

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fundamental para a formação, principalmente da juventude.

Dando continuidade à abordagem dos autores utilizados durante todo o

trabalho, naquilo que tange a inclusão social através do esporte, situei minha

definição em Cunha (2007), que traz o esporte como fator de desenvolvimento

primordial. A referida autora compreende a inclusão como um fator social e não

institucional. Já para discutir cidadania, me apropriei dos conhecimentos de

Saadallah (2006), que trazem a cidadania como uma responsabilidade individual e

coletiva, atuando em parceria com outros fatores, por exemplo: a arte, a cultura, a

educação e o esporte.

Por fim, a juventude foi sistematizada tendo por base Novaes (2008),

autora que define juventude como um ser produzido historicamente em uma

sociedade dinâmica. Defendendo a luta pela efetivação e reconhecimento dos

direitos dos mesmos.

Como instrumento das ciências sociais, a pesquisa social estuda o objeto,

dentro de um processo de construção histórica. Observando as relações de

identidade existentes entre sujeito e objeto, com base em outros estudiosos, Minayo

(2007), apresenta alguns desafios enfrentados quando se resolve pesquisar. Para

Strauss (apud Minayo, 2007): “Numa ciência, onde o observador é da mesma

natureza que o objeto, e o observador é, ele próprio, uma parte de sua observação”

(p. 215).

Portanto, quando se faz parte da situação pesquisada, torna-se um

desafio investigar, porém, para que a pesquisa seja realizada é necessário um

desprendimento das opiniões de cunho pessoal, e fazendo parte do espaço

pesquisado, é necessário que o mostre além dos conceitos formados

antecipadamente. Como parte da juventude e por ter participado de projetos que

tivessem como foco o esporte, sendo por meio dele fomentado a ser participante da

sociedade, como pesquisadora, pode-se dizer que foi observada e observadora.

Conforme expressa Minayo (2007):

[…] nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. São frutos de determinada inserção na vida real, nela encontrando suas razões e seus objetivos. (MINAYO, 2007, p.16)

Tanto a historicidade do objeto como as particularidades do mesmo ou as

afinidades que o pesquisador possui com o tema, fazem com que a pesquisa se

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torne mais instigante, pois, de fato, os indivíduos interessam-se bem mais em

pesquisar aquilo que se tem curiosidade; objetos, que prendem a atenção em

leituras fazendo refletir; objetos pelos quais já se teve experiências práticas ou não;

objetos, que se fazem questionar, tornando, a partir desses fatos, a pesquisa

dinâmica e rica. Pois, a pesquisa só se realiza através de um percurso

metodológico, que envolve uma trajetória anterior a ela, bem como, métodos,

técnicas e teorias. Conforme expressa Minayo (2007):

Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). (MINAYO, 2007, p.14)

O trabalho de campo teve início com a pesquisa exploratória, que visa

compreender o objeto no seu lócus, tornando-o mais familiar, e aproximando o

objeto da pesquisa à pesquisadora. Levando em consideração a área um pouco

incomum em pesquisas do Serviço Social, essa fase é umas das mais importantes,

pois traz o contato direto com a ideia antes formulada apenas no papel. Desse

modo, podem-se conhecer os sujeitos e o local escolhido para a presente pesquisa,

visando deixar claros os conceitos tanto para a pesquisadora como para os futuros

leitores deste trabalho. Conforme expressa Gil (2002):

Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se [sic] difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. (GIL, 2002, p.27)

Em busca de uma investigação mais ampla, o referido estudo teve por

base a visita exploratória realizada no Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte –

CUCA da Barra do Ceará (Regional I), equipamento este que atende a juventude e

faz parte da rede CUCA, atendendo também no Jangurussu (Regional IV) e no

Mondubim (Regional V). Localizados em territórios estratégicos da grande Fortaleza

e com altos índices de vulnerabilidade social. Cada CUCA atende, por mês, mais de

mil jovens em cursos de formação e esportes, e, aproximadamente, quatro mil

pessoas nas atividades de difusão cultural, abertas ao público de todas as idades.

Isso sem falar das comunidades localizadas no entorno dos CUCAs, que se

beneficiam direta e/ou indiretamente da vivência plena da condição juvenil.2

Assim como toda investigação se inicia por uma dúvida, a pesquisadora

2 Prefeitura de Fortaleza (2014)

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teve o interesse de conhecer melhor esta área e compreender o modo de trabalho

dentro da instituição, e, assim, o modo como a mesma utiliza o esporte para

construção da cidadania e inclusão social, conforme expressa Minayo (2007):

Toda investigação se inicia por uma questão, por um problema, por uma pergunta, por uma dúvida. A resposta a esse movimento do pensamento geralmente se vincula a conhecimentos anteriores ou demanda a criação de novos referenciais. (MINAYO, 2007, p.16)

Visando obter respostas daquele cotidiano até então desconhecido pela

pesquisadora, buscou-se adquirir o máximo de informações possíveis anteriormente

à visita de campo para que fosse possível embasar teoricamente essa experiência,

com o objetivo de construir primeiramente o projeto de pesquisa e posteriormente o

Trabalho de Conclusão de Curso. Conforme expressa Gil (2008):

Sugere-se que após essa formulação provisória do problema sejam feitas leituras e entrevistas exploratórias tanto com especialistas na área quanto com pessoas que integram a população a que o estudo se refere. (GIL, 2008, p.37)

Dessa forma, com o intuito de investigar o campo de pesquisa, foi

desenvolvida uma visita exploratória e, através dela, entrevistas com alguns

profissionais da instituição para atingir os objetivos do estudo na expectativa de

analisar, identificar, estudar e observar a relevância do esporte como instrumento de

transformação social para os jovens atendidos pelo Centro, junto ao trabalho da

equipe multidisciplinar do CUCA, estabelecendo paralelos entre as atividades

desenvolvidas no Centro e suas propostas de enfrentamento em relação à exclusão

social de jovens e aos progressos observados na vida dos mesmos.

Em relação à técnica da entrevista, destaca-se que esta técnica pode ter

o caráter exploratório ou apenas o objetivo de coletar dados. Sendo esta de caráter

exploratório, serão permitidas eventuais indagações, desse modo, a pesquisadora

utilizou a técnica contemplando aquilo que de mais relevante havia nos relatos.

Conforme expressa Kaurtak (2010):

A entrevista é uma das técnicas utilizadas na coleta de dados primários. Para que a entrevista se efetive com sucesso é necessário ter um plano para a entrevista, de forma que as informações necessárias não deixem de ser colhidas. As entrevistas podem ter caráter exploratório ou serem de coleta de informações. Se forem de caráter exploratório, serão permitidas eventuais indagações ou levantamento de dados e informações que não estejam contempladas no formulário; as de coleta de informações são altamente estruturadas, devendo seguir um roteiro previamente estabelecido e darem conta de respostas-núcleo do objeto de investigação, preferencialmente elaboradas com itens e questões fechadas, com múltiplas escolhas. (KAURTAK, 2010, p.64)

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Haja vista a importância da pesquisa de campo e a natureza interventiva

do Serviço Social, as entrevistas foram ferramentas relevantes para a construção

desta pesquisa, a partir delas pode-se aproximar do objeto e dos sujeitos propostos

por este trabalho. Com base nos conhecimentos adquiridos durante a pesquisa

bibliográfica e exploratória, definiu-se a entrada em campo de acordo com os

ensinamentos de Minayo (2007), conforme expressa trecho a seguir:

O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre o qual formulou uma pergunta, mas também estabelece uma interação com os “atores” que conformam a realidade e assim, constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social. (MINAYO, 2007, p.61)

O trabalho de campo é indispensável quando se escolhe uma instituição

como base para pesquisa, pois só a partir desse processo investigativo,

considerando as fases bibliográfica e exploratória, a entrada em campo se torna

mais compreensível. Uma pesquisa exploratória bem elaborada, seguida de uma

visita exploratória proveitosa, trazem resultados favoráveis para a pesquisa de

campo. Assim, expressa Minayo (2007).

[…] a riqueza desta etapa vai depender da qualidade da fase exploratória. Ou seja, depende da clareza da questão colocada, do levantamento bibliográfico bem feito que permita ao pesquisador partir do conhecimento já existente e não repetir o nível primário […] dos conceitos bem trabalhados que viabilizem sua operacionalização no campo e das hipóteses formuladas. (MINAYO, 2007, p.61)

Com a soma de diversos fatores, a pesquisa assumiu forma, e as

escolhas parecem mais claras com o tempo, para isso, é necessário formular a

metodologia, de maneira substancial, às nossas possibilidades. O pesquisador deve

estar pronto para as adversidades, que poderão surgir no caminho, ele deve levar

em consideração sempre as suas possibilidades e os seus limites. Conforme

expressa Minayo (2007):

[…] o pesquisador precisa não ficar preso às surpresas que encontrar e nem tenso por não obter respostas imediatas a suas indagações. [...] Mas é possível recomendar que sempre exercitemos um olhar dinâmico e atento que passe da confrontação da proposta cientificamente formulada para as descobertas empíricas e vice-versa. (MINAYO, 2007, p.62)

Em fase de análise dos dados coletados, pode-se observar a relevância

de cada aspecto analisado durante a pesquisa na vida dos jovens assistidos pelo

CUCA, através de entrevistas com alguns jovens, que fizeram ou fazem o uso das

práticas esportivas oferecidas pela instituição, bem como, através de entrevistas

voltadas para os profissionais do CUCA, considerando assim os limites e as

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possibilidades, que obtiveram desde que iniciaram sua participação nestas

atividades. Os jovens selecionados estavam na faixa etária de 15 a 29 anos, que

compreende a faixa etária prevista para juventude conforme o Capítulo I dos

princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude, o parágrafo 1º, do Estatuto

da Juventude.

Para este fim utilizou-se, como instrumental, entrevistas não estruturadas,

que permitem ao entrevistado mais liberdade em uma conversa inicial, bem como,

possibilita ao pesquisador uma série de desdobramentos, pois a entrevista fluirá de

acordo com as respostas dadas. Durante sua realização, novos questionamentos

podem surgir, da mesma maneira que, as indagações iniciais podem parecer pouco

relevantes. Dessa maneira, conforme expressa Gil (2008, p.117): “Nas entrevistas

estruturadas, a formulação das perguntas assume um caráter metódico. Já nas

entrevistas não estruturadas o desenvolvimento das perguntas depende do contexto

da conversação.”.

Considerando-se os meios utilizados e a forma como essa dinâmica da

pesquisa pôde ser aplicada em campo, compreender essas questões dentro do meio

e buscar elucidar os objetivos através dos instrumentais foram os desafios propostos

no item seguinte, que apresentará o lócus da pesquisa e os sujeitos propostos por

ela.

2.1 Lócus da pesquisa: Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA).

Para um melhor esclarecimento sobre o cenário escolhido para a

pesquisa, compartilham-se as informações sobre este espaço, projetadas e

desenvolvidas para a juventude. Localizado na Barra do Ceará, o equipamento visa

fomentar atividades voltadas para formação, cultura, arte, lazer e esporte. O espaço

procura proporcionar aos jovens a vivência plena da condição juvenil, da mesma

maneira que oportunizar benefícios diretos e indiretos às comunidades localizadas

no entorno do local. (PREFEITURA DE FORTALEZA, 2014).

O CUCA atua desde 2009, é localizado em um território estratégico3 e

é considerado um dos maiores espaços culturais da América Latina. O CUCA dispõe

de estrutura da seguinte forma: cine teatro, ginásio de esportes, campo de futebol,

3 O princípio da territorialização significa o reconhecimento da presença de múltiplos fatores sociais e

econômicos, que levam o indivíduo e a família a uma situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social.

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piscina olímpica, rádio- escola, dentre outros espaços que atendem às demandas da

juventude e da comunidade, que praticam alguma atividade no centro.4

O CUCA também conta com os núcleos (diretorias) de formação,

difusão e programação, atividades especiais e protagonismo juvenil, que trabalham

as áreas específicas de cada atividade oferecida. A Diretoria de Formação tem por

finalidade elaborar, propor, realizar, articular e avaliar projetos de educação

profissional e formação nas áreas de cultura, arte e esportes, voltadas,

preferencialmente, para jovens. A Diretoria de Difusão e Programação é responsável

por conceber propostas de atividades que envolvam arte, cultura e esporte,

promovendo experiências de fruição coletivas, de reconhecimentos, formação do

olhar e de plateias em atividades de entretenimento, lazer e difusão. A Diretoria de

Núcleos e Atividades Especiais, que atua conhecendo os interesses e articulando

projetos existentes na comunidade. A Diretoria do Protagonismo Juvenil, responsável

por articular o contato com os jovens, entendendo suas demandas e promovendo

ações que possibilitem às juventudes a construção do seu caminho de forma

autônoma e crítica.5.

Apresentado o campo de pesquisa, numa perspectiva metodológica, vale

indicar o posicionamento de Minayo (2007) quando trata da entrada da pesquisadora

nesse espaço. De acordo com a autora citada, a fase exploratória de campo6, as

etapas do trabalho de campo e os procedimentos para análise são fundamentais

para que seja possível a efetivação da mesma. Seguindo esses princípios, valorizou-

se bastante essa fase. Conforme expressa Minayo (2007):

[…] há uma série de fenômenos de grande importância que não podem ser registrados por meio de perguntas ou de documentos quantitativos, mas devem ser observados in loco, na situação concreta em que acontecem. Entre eles se incluem [...] o tom das conversas e da vida social, ao redor das casas (ou em outros espaços que são objeto da pesquisa), a existência de hostilidades, de simpatias e antipatias entre as pessoas; a maneira sutil, mas inquestionável em que as vaidades e ambições pessoais se refletem nas reações emocionais dos indivíduos. (MINAYO, 2007, p.76)

A fase exploratória trouxe à pesquisadora, uma percepção mais realista

do campo, bem como a possibilidade de fundamentar a prática a partir das

discussões realizadas, pois é, no campo, onde se observa, onde se promove a

4 Matéria do Blog Fortaleza em Fatos (2011)

5 Prefeitura de Fortaleza (2014)

6 Escolha do espaço da pesquisa, critérios e estratégias para escolha do grupo/sujeitos de pesquisa,

a definição de métodos, técnicas e instrumentos para a construção de dados e os mecanismos para entrada em campo. (2007)

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aproximação com o objeto, com os sujeitos; é o local que permite o contato direto

entre os atores participantes da mesma e o sujeito que os analisa. Conforme

expressa Minayo (2007):

O trabalho de campo é, portanto, uma porta de entrada para o novo, sem, contudo, apresentar-nos essa novidade claramente. São as perguntas que fazemos para a realidade, a partir da teoria que apresentamos e dos conceitos transformados em tópicos de pesquisa que nos fornecerão a grade ou a perspectiva de observação e de compreensão. Por tudo isso, o trabalho de campo, além de ser uma etapa importantíssima da pesquisa, é o contraponto dialético da teoria social. (MINAYO, 2007, p.76)

O primeiro contato que se teve ao pesquisar o campo foi com a área de

esportes do local, a entrevista exploratória foi realizada com o coordenador de

esportes no ano de 2012. Durante suas falas, ele fez um panorama sobre a

implantação do CUCA e sobre a atuação do esporte como uma das atividades

principais do Centro.

Segundo o entrevistado, as atividades esportivas são o carro-chefe do

local, e acabam sendo as mais procuradas por possuir bastante diversidade e

atender a todos os públicos. As atividades oferecem desde os esportes mais

populares como futebol, futsal, basquete, vôlei, natação e handebol, como artes

marciais, polo aquático, pilates, triathlon e rugby. De acordo com as informações

coletadas, a maioria dos jovens manifesta vontade de participar de tais atividades,

mas sua escola, seu bairro ou sua comunidade não os asseguravam em relação a

esse acesso.

O CUCA foi implantado no território com uma nova roupagem, porém a

adesão da juventude às atividades da instituição não foi tão fácil, a maioria das

pessoas da comunidade tinha receio em frequentar o espaço, e, na fase inicial, a

comunidade se mostrou um pouco resistente. Entretanto, com o tempo e

mobilização feita pela equipe de profissionais do CUCA, as atividades acabaram

ganhando muitos adeptos, principalmente com a divulgação do “boca a boca”.7

Gradativamente, as pessoas participavam, gostavam e convidavam os amigos, os

vizinhos, e, assim, o público teve um aumento considerável. Outros assuntos foram

abordados durante a entrevista e outras pessoas também participaram direta e

indiretamente dela, entretanto esses assuntos somente serão discutidos mais a

frente.

No processo de construção da pesquisa, consideramos todo o acervo

7 Dados coletados durante entrevista

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colhido, tanto anterior à entrada em campo, como nos aspectos constatados durante

as falas dos entrevistados. Todos esses dados foram de suma importância para que

a pesquisadora desse a continuidade à pesquisa. Conforme citado, tanto a visita

como a entrevista exploratórias oferece um desenvolvimento gradativo ao conteúdo

da pesquisa. Conforme expressa Gil (2007):

As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias [sic], tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. [...] Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas. (GIL, 2007, p.27)

Para desenvolver a pesquisa de campo, o pesquisador deve também

trabalhar com o uso de outras técnicas para que a pesquisa seja realizada com

êxito. Para Minayo (2007), embora haja muitas formas e técnicas de realizar o

trabalho de campo, dois são os instrumentos principais desse tipo de trabalho: a

observação e a entrevista. Enquanto a observação é feita sobre tudo aquilo que não

é dito, mas pode ser visto e captado por um observador atento e persistente, a

entrevista tem como matéria-prima a fala de alguns interlocutores.

Segundo Minayo (2007), os instrumentais utilizados para desenvolver a

pesquisa de campo são essenciais. A ida ao campo nos revela aspectos antes

pouco observados. O trabalho de campo pode ser definido como um divisor de

águas da pesquisa, pois a partir dele vários enfoques surgem e a pesquisa se torna

cada vez mais clara e objetiva.

Para a pesquisa de campo, tomamos por base os ensinamentos de

Minayo (2007), que expressa, muito bem, as ações que o pesquisador deve realizar

em campo, quando afirma que:

Todo pesquisador precisa ser curioso, um perguntador. E essa qualidade deve ser exercida o tempo todo no trabalho de campo, pois este será tanto melhor e mais frutuoso quanto mais o pesquisador for capaz de confrontar suas teorias e suas hipóteses com a realidade empírica. (MINAYO, 2007, p.77).

A entrevista é uma das etapas mais esperadas da pesquisa, visto que é,

nesta fase, que se tem a ciência de que se chegou ao objeto, pois é o momento de

escutar os sujeitos para analisar os objetivos propostos e construir outros

fundamentos para desenvolver a pesquisa. Conforme expressa Gil (2008):

Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção

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dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. (GIL, 2008, p.109)

As informações adquiridas, durante as entrevistas, se tornam parte de um

processo de elaboração, e é, neste período, que precisamos sistematizar os dados e

as ideias, observando aquilo que realmente interessa para o tema. Os elementos

mais relevantes devem ter prioridade nesta fase, pois, a partir deles, podem-se

formular mais adequadamente as categorias da pesquisa. A entrevista focalizada foi

uma das técnicas utilizadas para a coleta de dados, visando obter o maior número

de elementos possíveis para construção do objeto. Conforme expressa Gil (2008):

A entrevista focalizada é tão livre [...]; todavia, enfoca um tema bem específico. O entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para a sua retomada. (GIL, 2008, p. 112)

Considerando-se, assim, as indagações que surgem ao longo dela, uma

vez que, não se pode estar fechados a novas referências, principalmente, quando se

referem a dados subjetivos, que, muitas vezes, só podem ser adquiridos através do

depoimento dos sujeitos. Conforme expressa Minayo (2007):

A entrevista como fonte de informações pode nos fornecer dados [...] que são objetos principais da investigação qualitativa refere-se a informações diretamente construídas no diálogo com o indivíduo entrevistado e tratam da reflexão do próprio sujeito sobre a realidade que vivencia. Os cientistas sociais costumam denominar esses últimos de dados “subjetivos”, pois só podem ser conseguidos com a contribuição da pessoa. (MINAYO, 2007, p.112)

De modo a dar continuidade à pesquisa e expor as ideias da mesma, o

tópico seguinte retratará os sujeitos da pesquisa como objetos fundamentais deste

trabalho, sendo estes sujeitos participantes de todo processo de construção deste

estudo.

2.2 Sujeitos da Pesquisa

Esta pesquisa tem o jovem como interlocutor principal. Segundo o

Estatuto da Juventude (Lei de nº 12.852, De 5 de Agosto de 2013), no parágrafo 1º,

são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove)

anos de idade. Este público foi pensado pelo CUCA por ser um dos mais vulneráveis

e estar em uma fase nova da vida, no mundo das escolhas, do trabalho, dos estudos

e etc. É, geralmente nesta idade, que se passa por um período de transição,

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deixando de ser criança e passando a ter mais responsabilidades e cobranças da

família e da sociedade em geral. É também, neste momento, que é imposto ao

jovem escolher uma profissão, uma área de formação, ou a velha opção dos mais

necessitados, um trabalho. Conforme expressa Novaes (2004):

[…] a juventude é compreendida como um tempo de construção de identidades e de definição de projetos de futuro. É vista como tempo de “moratória social”, “etapa de transição”, em que os indivíduos processam sua inserção nas diversas dimensões da vida social: responsabilidade com família própria, inserção no mundo do trabalho, exercício de direitos e deveres de cidadania. (NOVAES, 2004, p.4)

Segundo Novaes (2004), a juventude é uma das faixas etárias mais

marginalizadas perante a sociedade, pois esta fase é vista como negativa pela

maioria, principalmente em relação àqueles em situação vulnerável, com ausência

de renda e vínculos fragilizados. Nesta idade, é atribuída a impressão de que os

jovens estão prontos para a vida, para o trabalho, para assumir, muitas vezes,

diversas responsabilidades e sanar problemas estruturais, financeiros, entre outros.

Para a sociedade, a juventude é vista por dois aspectos: o aspecto

privilegiado, que lhe oferece jovialidade, mobilidade, tempo e etc. Porém o aspecto

negativo é bem mais pautado, pois a visão, que se tem, é de que o jovem é

irresponsável e que vive no ócio, sem muitas perspectivas e afazeres. Conforme

expressa Novaes (2004):

[...] a “juventude” também é vista como o lugar privilegiado para a expressão de todo mal-estar social. Provoca inquietações e evoca “problemas sociais” tais como violência, ócio, desperdício e irresponsabilidade. No âmbito profissional ou no tocante à participação nos processos de tomada de decisão – inclusive nas esferas políticas – ser jovem é residir em um incômodo estado de devir, justificado socialmente como estágio de imaturidade, impulsividade e rebeldia exacerbada. (NOVAES, 2004, p.6)

O jovem da periferia, muitas vezes, é privado de realizações pelos fatores

do cotidiano, principalmente, o de classe baixa, e, muitas vezes, não tem escolha,

pois, desde muito cedo, não se tem acesso a inúmeras questões como: educação

de qualidade, saúde, moradia digna, segurança. A imagem de jovem ideal quase

sempre está ligada ao trabalho, e, com isso, pode-se observar que nem sempre

essa relação funciona para todos. Conforme expressa Novaes (2004):

No presente momento histórico, a tensão local-global se manifesta no mundo de maneira contundente: nunca houve tanta integração globalizada e, ao mesmo tempo, nunca foram tão profundos os sentimentos de desconexão e agudos os processos de exclusão. Sem qualquer paralelo em relação a outras gerações, em um mundo sem fortes ideologias, os jovens de hoje se deparam com múltiplas evidencias da degradação sócio- ambiental e com o aumento dos abismos sociais. Como projetar o futuro tendo à frente a um

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elevado grau de incerteza sobre os caminhos para a inserção no mundo do trabalho? (NOVAES, 2004, p.10)

Esse não é um problema só dos jovens, é um problema social que afeta

a todos, principalmente aqueles desprovidos financeiramente. Entretanto, podemos

afirmar que o jovem é um dos mais afetados por todas as questões sociais desse

sistema8, que acabam, muitas vezes, por selecionar os participantes, a sociedade

sofre com a carência em diversas áreas, mas a falta de estímulos e a falta de

incentivo dentro e fora de casa é um dos principais fatores para que a maioria das

pessoas continue a permanecer na situação em que se encontram, sem

perspectivas de mudanças. Tornam-se reféns de um processo de construção

desigual. Dessa maneira, expressa Correa (2008, p.12): “quase a metade dos jovens

no Brasil se situa em uma zona cinza, de riscos, de vulnerabilidade.”.

Trabalhar toda uma estrutura é sempre desafiador, visto que, o jovem

não é somente classificado por uma faixa etária, essa estrutura compreende além do

corpo, uma série de questões que abordam desde suas relações sociais, bem como,

profissionais e familiares, até o sonho de se tornar um atleta ou mesmo um

professor. Essa tarefa é desafiadora, mas não impossível, tornar o jovem produto de

um meio organizado, que o proporciona possibilidades futuras é um exercício árduo,

porém compensador. Dessa maneira, expressa Brenner (2008):

[…] é preciso considerar o lazer como tempo sociológico, no qual a liberdade de escolha é elemento preponderante e se constitui, na fase da juventude, como campo potencial de construção de identidades, descobertas de potencialidades humanas e exercício de inserção efetiva nas relações sociais. Assim, considerando o lazer pode ser espaço de aprendizagem das relações sociais em contexto de liberdade de experimentação. (BRENNER, 2008, p.30)

Dentre outros, este foi um dos fatos pelo qual a pesquisadora decidiu

trabalhar a categoria esporte e compreender como se dá esse incentivo, não

levando em consideração apenas o corpo e os benefícios para a saúde, mas o lado

social que este possuiu, o esporte é uma ferramenta que trabalha dimensões sociais

como, a inclusão social e a cidadania, podendo esse lado ser bem mais difundido e

encarado como um espaço sócio ocupacional para os alunos e profissionais de

Serviço Social.

8 A “questão social” relaciona-se estritamente à sociedade capitalista, notadamente em sua fase

monopolista, aglutinado o conjunto de desigualdades sociais, políticas e culturais das classes sociais e que têm diferentes expressões no cotidiano da vida social.

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3 ESPORTE: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOCIAL E CIDADANIA

3.1 Categorias da pesquisa: Cidadania e Inclusão Social

Para melhor esclarecer os objetivos desta pesquisa, cabe considerar a

análise de categorias como: esporte, juventude, inclusão social e cidadania.

Particularizando, os conceitos do esporte no processo de inclusão social, construção

da cidadania, compreendendo a importância do esporte no cotidiano da juventude e

as estratégias utilizadas para promover o protagonismo juvenil. Dessa maneira, para

definir categorias de uma forma geral, apresentamos a concepção de Minayo (2007):

As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa. (MINAYO, 2007, p. 70)

Para a proposta desta pesquisa, considera-se o esporte o foco central da

discussão, estabelecendo a relação entre ele e as demais categorias, tendo em vista

que não se pode conhecer a realidade sem considerar a totalidade relacional

existente nesse processo. A fase exploratória traz à pesquisa um olhar mais

profundo naquela realidade, que se insere. Os dados coletados a partir dela

formulam de modo mais claro as ideias da pesquisa. Conforme expressa Minayo

(2007):

As categorias podem ser estabelecidas antes do trabalho de campo, na fase exploratória da pesquisa, ou a partir da coleta de dados. Aquelas estabelecidas antes são conceitos mais gerais e mais abstratos. Esse tipo requer uma fundamentação teórica sólida por parte do pesquisador. Já as que são formuladas a partir da coleta de dados são mais específicas e mais concretas. (MINAYO, 2007, p. 70)

A pesquisadora buscou relacionar todas as categorias envolvidas na

pesquisa com o esporte, pois foi a partir dele que se construiu essa investigação.

Tendo esse como categoria principal, definir-se-ão, ao longo das mesmas, suas

peculiaridades, inicialmente diferenciando brevemente o esporte educacional, o

esporte de participação e o esporte de rendimento.

Conforme expressa Teixeira (2006, p.01), “o esporte educacional refere-se

àquele que é praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de

educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes,

com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua

formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer.”.

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Conforme ainda o mesmo autor, em relação ao esporte de participação,

refere-se “àquele que é praticado de modo voluntário, compreendendo as

modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração

dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e da educação e

na preservação do meio ambiente.”.

Teixeira (2006, p.01), por fim, define o esporte de rendimento, que se

refere “àquele praticado com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e

comunidades do País, e estas com as de outras nações.”.

O Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte, trabalha o esporte nas

três modalidades citadas acima.9 Com isso, pode-se compreender a dimensão da

relação social do esporte com a juventude. Como eixo fundamental, exerce

influência no desenvolvimento social dos atores principais desta pesquisa. Dessa

maneira, expressa Cunha (2007):

Através da prática esportiva, pode-se sistematizar situações de ensino e aprendizagem que garantem às crianças e jovens o acesso a conhecimentos práticos e conceituais. Dando oportunidade a todos que desenvolvam suas potencialidades, de forma harmoniosa e não seletiva, visando o aprimoramento do ser humano. (CUNHA, 2007, p. 15)

Considerando ainda a categoria principal desse estudo, vimos que o

esporte também é estudado por outras vertentes, sendo uma delas a sociologia do

esporte. Segundo Lovisolo (2011, p. 80), “busca aliar os conhecimentos da educação

física com as ciências sociais, discutindo a importância de se articular esses

saberes, a primeira área trata do lado biológico, físico e corporal, a segunda traz a

questão crítica, indagadora e o indivíduo como matéria social.”.

Os enfoques distintos destas áreas são complementares, quando se

trabalha associando o esporte e o social, em meio às atribuições profissionais.

Dessa maneira, expressa Lovisolo (2011):

Para a sociologia, os esportes podem ser classificados a partir das interações específicas entre seus atores e o meio ambiente. Esportes individuais são diferentes dos grupais ou coletivos, esportes em ambiente natural podem ser distinguidos de esportes praticados em ambientes padronizados e que eliminam as incidências da natureza. Um esporte organizado em torno de clubes, como o futebol, tem significados sociológicos diferentes daquele esporte no qual o clube desempenha papel reduzido, como no tênis. Não temos o fenômeno da torcida organizada neste esporte. Os princípios que organizam os esportes são objeto do trabalho sociológico tanto quanto as formas de organização dos torcedores e os motivos das práticas e do gosto pelo espetáculo esportivo. (LOVISOLO, 2011, p.84)

9 Prefeitura de Fortaleza (2014)

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Como se vê, os enfoques do esporte perpassam por inúmeras dinâmicas,

sejam elas realizadas em clubes, em escolas, nas comunidades, ou mesmo ao ar

livre. Porém, considera-se que o mais importante nesse sentido é a participação e a

interação entre os constituintes das atividades. Conforme expressa Brenner (2008):

[…] A convivência em grupos possibilita a criação de relações de confiança;

desse modo, a aprendizagem das relações sociais serve também de espelho para construção de identidades coletivas e individuais. Em suma, as diferentes práticas de cultura e lazer em espaços sociais públicos podem ser consideradas como verdadeiros laboratórios, onde se processam experiências e se produzem subjetividades. (BRENNER, 2008, p.30)

A sociabilidade está ligada ao esporte, este pode ser considerado em três

das suas dimensões; educação, participação e rendimento. No que tange à

construção da cidadania e à inclusão social. Conforme expressa Lovisolo (2011):

Uma das coisas que a sociologia do esporte pretende entender é como chegamos a valorizar o esporte e o lazer, a atividade física para a saúde, a modelagem corporal segundo padrões específicos. Quais foram as influências? Procura também entender como, a partir de interações situadas em relação a valores e normas, os indivíduos se tornam atletas, como aderem ou não à atividade física para a saúde, como chegam ou não a gostar ou se interessar pelos esportes. (LOVISOLO, 2011, p.86)

O esporte não deve ser tratado superficialmente, limitado apenas ao fator

esporte de rendimento, pois ele está para além dessa prática. Contudo não podemos

ignorar sua importância, pois através do esporte de rendimento muitos jovens

conseguem construir suas carreiras e enxergam o esporte como fator decisivo para

ascensão financeira. Dessa maneira, expressa Marques (2009):

O sonho de tornar-se um jogador de futebol profissional, adquirir “status” social e melhores condições financeiras para si mesmo e, muitas vezes, para toda sua família está presente em todas as “peladas” (práticas informais organizadas pelos próprios participantes sem necessariamente seguir as regras e regulamentos determinados pela federação ou órgão regulador do esporte) nas ruas e escolas do Brasil. (MARQUES, 2009, p.01)

Visto isso, é nesse momento que se pode considerar a entrada da

intervenção profissional, pois todo e qualquer profissional, que esteja envolvido

nessa área, é capaz de exercer o seu melhor papel, orientando, esclarecendo os

jovens e suas famílias, conforme expressa Trindade (2010):

O profissional envolvido em um clube de futebol precisa ter consciência muito clara do seu papel enquanto desafiador do crescimento dos sujeitos ali inseridos. Muitos são os desafios deste profissional, pois cabe a ele a proposição do convívio com as regras, a promoção da informação, a busca da superação, da alienação, o estabelecimento do diálogo, o aproveitamento de eventos diversos relacionados à cultura e tantos outros. (TRINDADE, 2010, p.01)

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O esporte de rendimento traz em si muito fascínio, e aos profissionais que

atuam junto aos jovens, dentro desses espaços, o esporte traz grandes desafios. O

mundo esportivo muitas vezes é deslumbrante, mas nem sempre todos conseguiram

ascensão. Conforme expressa Trindade (2010):

O mundo que esses jovens atletas de futebol vivem é por diversas vezes deslumbrante, pois muitos vêm de origem humilde e de uma hora para outra podem desfrutar do bom e do melhor em todos os sentidos, podem escolher a roupa, a marca do tênis e da chuteira, o restaurante que poderão frequentar. Isso tudo é um choque de realidade e alguns não conseguem se manter tão profissionais com a facilidade que o mundo esportivo pode dar a eles. Neste sentido, o trabalho do assistente social entra em cena, pois cabe a ele trazer o sujeito de volta à sua realidade, fazendo com que perceba as coisas que realmente são importantes para a sua vida e para o seu futuro. (TRINDADE, 2010, p. 02)

O esporte de rendimento também trabalha o seu lado inclusivo, existindo

até programas de âmbito federal que apoiam essa ideia, porém para que um jovem

alcance esse patamar não é fácil, e a seletividade desse percurso se mostra

dominante. Para se tornar um atleta, dedicação, tempo, talento, incentivo e

patrocínio são necessários, uma vez que sem o último, provavelmente, o jovem

sonhador não chegará a lugar algum, tendo em vista que o aspirante à atleta

necessita se manter e arcar com os custos desse treino. Conforme Oliveira (2007)

aponta:

O esporte de rendimento tem como duas de suas características a seletividade e a exclusão. Obedece a regras estabelecidas universalmente e apresenta uma tendência a ser praticado pelos talentos esportivos, dessa forma está a serviço do mercado através da compra e venda de produtos esportivos e da indústria do entretenimento. (OLIVEIRA, 2007, p.20)

Um fator importante para possibilitar mais sucesso aos jovens, que

enveredam ou pretendem enveredar pelo esporte de rendimento, é que ele deve ser

trabalhado em seus mais diversos âmbitos, ou seja, os treinadores não devem ser

os únicos a desempenhar o trabalho de formação, profissionais de outras áreas

devem participar desse processo e adentrar nesses espaços sócio-ocupacionais,

aliando assim os conhecimentos de cada área em um processo inclusivo e

transformador. Conforme Oliveira (2007):

De modo geral, o professor de esportes que assume o posicionamento tradicional enaltece o individualismo em detrimento do coletivismo; a seletividade em detrimento da participação coletiva; a competição exacerbada em detrimento da cooperação; a vitória a qualquer custo em detrimento da integração dos alunos; a iniciação precoce em detrimento do lúdico; o autoritarismo em detrimento do diálogo; desconsiderando totalmente as necessidades do aluno e seu contexto social. (OLIVEIRA, 2007, p. 25-26)

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Com relação ao esporte no processo de inclusão social, podem-se citar

trabalhos, como: A Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente

(EDISCA); segundo publicação no site da instituição, a escola forma bailarinos

profissionais e professores, promovendo uma transformação notória, com ênfase na

formação dos mesmos. O Centro Nacional de Treinamento de Atletismo (CNTA), que

funciona em parceria entre a Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e Caixa

Econômica Federal, enfatiza a importância do esporte no desenvolvimento da

socialização dos jovens, com indicadores concretos. Muitos atletas se tornaram

campeões em suas categorias e também se tornaram professores. Pensando nisso,

segundo publicação no site da Universidade de Fortaleza, o centro de treinamento

através da adesão às práticas esportivas, sejam elas com o interesse ou não de se

tornarem atletas profissionais, busca promover os futuros atletas e proporcionar a

inclusão social através dessas práticas.

Toda construção e o reconhecimento se dão a partir desta gênese, assim

pode-se perceber o crescente número de instituições que abordam a temática e se

interessam em particularizar a formação desses jovens. As políticas públicas têm

dado importância ao fenômeno esportivo, reconhecendo-o como ferramenta de

inclusão social. Conforme expressam Vianna e Lovisolo (2005):

O reconhecimento do esporte como canal de socialização positiva ou inclusão social, é revelado pelo crescente número de projetos esportivos destinados aos jovens das classes populares, financiados por instituições governamentais e privadas. […] As campanhas recentes para a adoção de estilos de vida ativa e saudável e o crescente investimento em instalações e projetos de esportes, destinados à população, indicam que, sob o ponto de vista da política pública, a crença sobre os benefícios psico-fisiológicos se materializa em ações facilitadoras da prática. (VIANNA e LOVISOLO, 2005, p.01)

Segundo Cunha (2007), fica claro, no teor do mesmo, o princípio da

inclusão, não havendo qualquer tipo de discriminação, garantindo a igualdade na

prática esportiva. Para isso, a maneira com que o esporte é abordado deve ser

estudada a fundo não permitindo nas atividades esportivas nenhuma forma de

exclusão.

Devido ao reconhecimento dessa necessidade, é importante investigar de

que forma se dá o processo de inclusão dentro dos projetos sociais, que

desenvolvem a proposta de educação pelo esporte. Dessa maneira, expressa Cunha

(2007):

Através de pesquisas realizadas entre [...] jovens de baixa renda, pode-se verificar que em sua grande maioria, não possuem recursos financeiros para

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o desenvolvimento de habilidades em entidades desportivas particulares, que facilitem sua inclusão social. Devido a essa carência financeira, foram pensadas e estudadas possibilidades para o desenvolvimento humano nessas áreas de baixa renda. E uma das formas que vem se mostrando eficaz são os Projetos Sociais. (CUNHA, 2007, p. 13)

Como foi tratado anteriormente, o esporte faz parte de um processo,

sendo considerado como um dos canais de inclusão social, contudo para que haja

inclusão é necessário que os jovens tenham acesso a essas atividades, muitas delas

praticadas apenas em clubes particulares, nos quais estes jovens provavelmente

não teriam como custear, conforme expressa Brenner (2008):

O lazer é uma atividade social historicamente condicionada pelas condições de vida material e pelo capital cultural, que constitui sujeitos e coletividades. A base material da existência é um dos mais fortes limites da inserção diferenciada no mundo do lazer. […] O tempo livre do trabalho, muitas vezes, pode significar o espaço de penúria, da opressão, da falta de oportunidades. Esse é o caso dramático do desemprego e da desocupação, situação vivida por uma expressiva parcela de jovens brasileiros (BRENNER, 2008, p. 31)

Nesse momento, entra o trabalho de instituições como o CUCA, que

oferece a estes jovens o acesso pleno às mais variadas atividades esportivas, e que

além da formação, também oferece a oportunidade da prática do esporte de

rendimento, podendo este jovem vir a se tornar um atleta profissional e representar

seu Estado ou até mesmo seu país. (PREFEITURA DE FORTALEZA, 2014)

Essa possibilidade só é possível, pois, dentro do referido Centro, esses

jovens são sensibilizados, devido a uma formação diversificada. Conforme a

entrevista realizada com o Coordenador de esportes, foi deixado bem claro que

mesmo fomentando a prática do esporte de rendimento, a prática esportiva

ultrapassa esse viés, pois dentro da instituição os jovens têm a oportunidade de

realizar diversas atividades, não se atendo somente aos esportes.

O jovem poderá participar de aulas de teatro, fotografia, dança, entre

muitas outras, e, assim, ele acaba se fixando naquilo que mais lhe causa fascínio,

inclusive quando deixam de ser alunos, parte deles se tornam monitores e repassam

seus conhecimentos e experiências para os demais.

O CUCA é um dos poucos projetos dessa área, que não exige frequência

escolar, o jovem é convidado a participar das atividades desde que tenha interesse,

porém são cobrados a assiduidade e o respeito com os demais alunos e professores

e outros funcionários. Porém, uma das mudanças que pode ser observada é

justamente a reinserção escolar de muitos.

Durante a entrevista, o coordenador relatou que nota nos jovens uma

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grande diferença depois do ingresso nas atividades do CUCA, os jovens começam

inclusive a se cuidar mais esteticamente e em relação à saúde do corpo, também

foram observados pelo entrevistado que os jovens chegam, inicialmente, ao projeto,

cansados e desanimados, mas, com o decorrer do tempo acabam por se entrosar e

participar das atividades, estabelecendo novas amizades e melhorando a

autoestima10.

A cidadania foi uma das categorias propostas pela pesquisadora, com o

objetivo de relacioná-la com o esporte, ser cidadão é ir além da ideia de possuir

direitos e deveres, é compreender que existe a necessidade de conhecê-los, para

reivindicá-los quando negligenciados. A inclusão social está ligada diretamente à

cidadania, quando é relacionada com o processo de divisão presente em nossa

sociedade. Conforme expressa Saadallah (2006):

[…] somos até hoje um país dividido em cidadãos e subcidadãos,“subnutrição, subemprego, submoradia, subeducação, subdesenvolvimento, subcultura, enfim, tudo o que começa com subdesigna o conjunto de características dos que subsistem do outro lado da linha que separa os incluídos na cidadania dos excluídos dessa condição” (COSTA apud SAADALLAH, 2006, p. 04)

O esporte trata-se de um desses direitos e, atrelando esses conceitos,

pode-se dizer que, para ser cidadão, nada melhor do que praticar seus direitos.

Dessa maneira, expressa Saadallah (2006, p.04): “podemos pensar na cidadania

como uma responsabilidade individual e coletiva com o social e o bem comum,

buscando cooperação e complementaridade na ação coletiva, em trabalho

democrático e plural.”.

A dimensão da construção da cidadania dos jovens, através do esporte,

está ligada à ação formadora, prática esta que está em constante aprimoramento,

trabalhado constantemente em todas as etapas, a partir desse fazer que o jovem se

torna mais observador e adquire conhecimentos que só tendem a acrescentar em

sua bagagem, e se fazem como formação integral dos mesmos.

Ter consciência de seus atos já é um exercício de cidadania e é também

considerado um grande avanço, pois muitos jovens entram no Centro sem conseguir

trocar poucas palavras e com os diálogos propostos pelos profissionais acaba por se

extinguir. O esporte traz em sua prática a necessidade do diálogo, da interação, o

que acarreta em mudanças na formação do indivíduo que faz uso delas. Dessa

10

Dados coletados durante a entrevista

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maneira, expressa Barbanti (2011):

A realidade do nosso esporte e o conhecimento cada vez mais fundamentado sobre a atividade deixam transparecer a necessidade de se criar uma outra filosofia relativa a este tipo de prática, que sustente a procura de caminhos mais apropriados. Nesta visão, impõe-se antes de mais nada que se tenha uma ideia clara do que representa e o que significa a formação do indivíduo. (BARBANTI, 2011, p.01)

Conforme expressa, Barbanti (2011), “deveríamos ser mais sensíveis à

importância do movimento e do alcance educativo da formação esportiva dos jovens.

Nossos esforços deveriam ir à direção da formação integral de nossa juventude,

sendo a formação esportiva um componente dessa formação.”.

Sendo o esporte um componente da formação integral, todos os

profissionais envolvidos na temática devem estar mais sensíveis do papel por ele

representado, pois, em conjunto com as demais áreas e atividades, ele poderá se

tornar uma ferramenta de desenvolvimento social.

Sendo o esporte um espetáculo, isso repercute em seus praticantes,

brincadeiras e jogos fizeram parte de uma fase de formação na vida desses jovens,

hoje não mais, muitos jovens se encontram presos a perspectivas individuais e não

mais coletivas. As relações sociais foram banidas pelo entretenimento

individualizado. Dessa maneira, expressa Barbanti (2011):

Nossa sociedade assiste atônita a uma surpreendente patologia comportamental: o desaparecimento da infância como fase natural da vida humana. Já não vemos crianças entretidas em brincadeiras e jogos que faziam parte da paisagem urbana das nossas cidades. Com apoio dos próprios pais, entusiasmados com a perspectiva econômica, muitas crianças estão sendo prematuramente condenadas a uma vida adulta e sórdida. Privadas da infância, elas estão se comportando, vestindo, consumindo, falando e trabalhando como adultos. A inocência infantil está sendo impiedosamente banida pela indústria do entretenimento. (BARBANTI, 2011, p.02)

Segundo Saadallah (2006), a cidadania sempre esteve ligada à noção

dos direitos, sejam eles civis, políticos e sociais, referindo-se às liberdades

individuais de cada um. Esses conceitos afirmam a ideia de que ser cidadão é ter

direitos e deveres, mas esse processo vai muito além disso. Se não tiver

conhecimento de nossos direitos, provavelmente, nunca se recorrerá a eles, sejam

eles em relação a uma fila de hospital, de um banco ou mesmo em qualquer outro

equipamento, que forneça serviços à população, sejam eles públicos ou privados.

Muitas vezes costuma-se parecer atônitos, quando na realidade dever-se-ia

reivindicar o acesso a serviços garantidos universalmente assegurados pela

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Constituição de 1988. O esporte pode trazer esta prática, desde que seja trabalhado

da maneira correta. Conforme expressa Oliveira (2007):

O Esporte Educacional difundido dentro e fora da escola tem por finalidade democratizar e gerar cultura, configurando-se como uma prática social de exercício crítico da cidadania, privilegiando a inclusão social, a troca de saberes e conhecimentos, o respeito às diferenças, a diversidade, a valorização das culturas e a experiência significativa. (OLIVEIRA, 2007, p.20)

Relacionando o esporte à cidadania, pode-se observar que o direito a seu

acesso também está garantido por lei, porém poucos têm conhecimento dessas

informações, a cidadania envolve uma postura a ser construída em parceria, e o

esporte é um desses parceiros na formação dos jovens, desenvolvendo saberes de

modo individual e coletivo. O esporte traz o lado inclusivo e competitivo, por isso

deve ser discutido e avaliado, principalmente, quando se trabalha com jovens em

período de formação. Assim expressa Saadallah (2006):

[...] as grandes transformações pelas quais vem passando a humanidade, especialmente a partir da década de 1990, reconhecidas como o processo de globalização mundial, traz novos desafios para se pensar a relação da pessoa com o seu contexto social e com o coletivo. Neste contexto, em que o individualismo, a exclusão, o preconceito, a competição exacerbada e o consumismo tomam conta de nossa vida, constatamos uma reprodução de ideias entre as pessoas, e um grande conformismo com a situação de opressão e exclusão em que vivem. (SAADALLAH, 2006, p.04)

Em fase de análise dos dados colhidos para a pesquisa, pode-se observar

a relevância de cada aspecto analisado durante a mesma, na formação dos jovens

assistidos pelo CUCA, através de entrevistas realizadas com alguns profissionais do

centro e com alguns jovens, que fizeram ou fazem o uso das práticas esportivas

oferecidas pela instituição, conceituando assim, os limites e as possibilidades que

obtiveram desde que iniciaram sua participação nestas atividades.

Para essa pesquisa, considera-se como jovem aquele que se encontra na

faixa etária de 15 a 29 anos, de acordo com o Capítulo I dos princípios e diretrizes

das políticas públicas de juventude, o parágrafo 1º, do Estatuto da Juventude.

A juventude também define um período diferente da vida, como explicitado

anteriormente, é, nessa fase, que se passa por uma brusca mudança entre ser

criança ou se tornar adulto, não se tem escolha com relação a essa mudança, mas

se sabe que ela pode ser trabalhada da melhor forma possível para que não haja

maiores consequências. Conforme expressa Aquino (2009):

[…] a juventude também foi tradicionalmente tematizada como fase transitória para a vida adulta, o que exigiria um esforço coletivo, principalmente da família e da escola, no sentido de “preparar o jovem” para ser um adulto socialmente ajustado e produtivo. (AQUINO, 2009, p.01)

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Em geral, não se é preparado para essa mudança e as instituições, das

quais os jovens fazem parte, tendem a fragmentar cada etapa, como se o ritual de

passagem fosse feito por um simples soar de sinos. Conforme expressa Aquino

(2009):

Tendo como referência central o conceito de socialização, esta abordagem sugere que a transição é demarcada por etapas sucessivamente organizadas que garantem a incorporação pelo jovem dos elementos socioculturais que caracterizam os papeis típicos do mundo adulto. […] Ao fim deste processo, o jovem-adulto adentraria uma nova fase do ciclo da vida [...]. (AQUINO, 2009, p.01)

Normalmente, os indivíduos se esquecem de que são produtos de um

meio que está em constante mudança, em que nada é previsível, inclusive o

conceito de juventude, de cidadania, de inclusão ou mesmo de esporte, daqui a um

tempo estes podem estar totalmente ultrapassados, pois são produtos históricos, e a

história é dinâmica e transitória. Conforme expressa Novaes (2008):

Olhada como fase natural da vida, a “juventude” é tratada como um segmento populacional bem definido, suposto como universal. No entanto, os limites etários e as características de cada uma das “idades da vida” são produtos históricos, resultados de dinâmicas sociais mutantes e de constantes (re) invenções culturais. (NOVAES, 2008, p.03)

Utilizando os meios e as categorias acima citadas, realiza-se uma

pesquisa de maneira clara e objetiva, com a finalidade de produzir um material com

informações imprescindíveis no que se refere à temática do esporte para a

construção da cidadania como meio de inclusão e interação social.

O esporte aborda diversas dimensões, dessa forma, as categorias citadas

acima permitem articular com os demais assuntos que serão abordados no decorrer

desta pesquisa. Para refletir sobre esses questionamentos, faz-se necessário,

discutir os marcos legais do esporte, apontando as perspectivas das propostas

implementadas por lei, como também, um breve histórico do esporte e sua gênese

naquilo que tange a promoção social.

3.2 Esporte: Um breve histórico, suas influências e dimensões sociais

O esporte surgiu como um dos maiores fenômenos do século XX,

consolidando-se através de sua abrangência na forma mais prática do esporte. O

esporte-educação e o esporte de rendimento são os mais difundidos, porém o

esporte também possui seu lado social e todo um significado por traz dessa relação.

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Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

[…] o esporte situou-se, na segunda metade do século XX, como um dos mais relevantes fenômenos sociais do mundo, pela abrangência de seu envolvimento e de suas relações, é possível explicar esta interpretação, principalmente pela mudança conceitual ocorrida nas últimas décadas, quando deixou de perspectivar-se apenas no rendimento, e conseguiu também incorporar os sentidos educativos e o bem-estar social. Hoje, sabe-se que o fato esportivo possui uma abrangência muito maior, o que lhe permite encontrar significados sociais mais efetivos. (TUBINO, 2011, p. 09)

O esporte também possui um grande papel ideológico, sendo utilizado

como uma ferramenta política desde a criação das olimpíadas na antiga Grécia.

Naquele período, governantes usaram-no para fomentar a participação alienada da

sociedade. Inclusive, é muito comum ver-se políticos apoiando times de várzea11 em

época de campanha, bem como, promovendo campeonatos de futebol em

comunidades com maior quantitativo eleitoral. As influências do esporte são as mais

diversas possíveis, desde a economia até mesmo a política. Conforme expressa

Lovisolo (2011):

As influências do esporte na economia e na política, por exemplo, e as influências do esporte na formação de valores e hábitos formam parte do discurso da sociologia e da história. Houve marxistas e seguidores que analisaram as influências negativas do esporte sobre a classe trabalhadora. Outras teorias destacam a influência positiva do esporte na formação de hábitos e valores, na educação e integração social. Assim, as teorias sociológicas do esporte não podem escapar ao tratamento das influências nem àquilo que promotores e críticos disseram no passado e dizem no presente. (LOVISOLO, 2011, p.86)

Além das influências políticas, o esporte também exerce suas influências

na formação do indivíduo, através das práticas coletivas de participação, que fazem

parte da interação social. Segundo, Weller (2005), a prática esportiva está mais a

serviço dos grupos dominantes do que dos jovens em precária situação de inserção

social. Dessa maneira, expressa Weller (2005):

[…] os jovens se deparam constantemente com a precariedade no atendimento aos seus direitos básicos como alimentação, habitação, educação e saúde. O lazer desses jovens geralmente acontece nas ruas do bairro com suas poucas opções de divertimento e os seus sonhos se realizam na vida dos protagonistas das telenovelas, de seus ídolos esportivos ou do entretenimento da mídia de massa. (WELLER, 2005, p. 01)

Considerando os fatores ideológicos, políticos e de lazer, pode-se

perceber que o esporte abrange as mais diversas áreas de atuação e influência,

sendo de fundamental importância a garantia a seu acesso, independente de raça,

11

Segundo publicação do Blog André Soares, time de várzea: são clubes de prática amadora, que funcionam informalmente, com o intuito de reunir amigos nos fins de semana, 2014.

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gênero, classe social, religião ou limitação. Dessa maneira, expressa Weller (2005):

[…] percebe-se uma grande aderência à atividade esportiva, tanto em quantidade de instituições que as utilizam quanto pela diversidade dos praticantes. Nelas se valem dessas práticas, tanto portadores de deficiências diversas, idosos, crianças e adolescentes de baixa renda, como pessoas em processos diversos de reabilitação e outros. (WELLER, 2005, p.04)

Conforme ainda o mesmo autor, observa-se que muitas entidades presas

a uma visão assistencialista, acabam realizando trabalhos de caráter reformador,

procurando “melhorar” o comportamento do jovem, valorizando pouco a bagagem

cultural da sua clientela e não os estimulando a desenvolverem maior consciência

dos deveres, direitos, interesses e responsabilidades, que os levem a atuar como

membro consciente e ativo da sociedade.

Para Weller (2005), entretanto, essa aderência parece ocorrer por motivos

diversos, pois existem muitos discursos explicativos, aceitos sem questionamentos

como, por exemplo, de que o esporte “ajuda a pessoa a ficar mais tranquila, mais

disciplinada, mais motivada”, e assim por diante, parecendo existir muitas

expectativas a respeito dos benefícios da prática esportiva. Entretanto, estes

discursos nem sempre são fundamentados nas suas reais possibilidades e nem

sempre respondem aos anseios dos praticantes. (Weller, p.04)

As altas expectativas, criadas com relação ao esporte de rendimento,

fornecem tanto ao jovem quanto à sociedade um imaginário idealizado de ações

voltadas a partir dele. Inúmeras pessoas pensam no esporte como um meio de vida,

ascensão e estrelato, o que muitas vezes não é possível para todos. Os ganhos

através do esporte podem percorrer vários caminhos e assim oferecer ou não o

alcance de resultados satisfatórios.

Com isso, o esporte de rendimento não pode ser considerado o vilão da

história, ele deve ser trabalhado de maneira crítica e centrada por todos os

profissionais que perpassam sua trajetória. Proporcionar investimentos nos meios

estruturais e profissionais para a efetivação do esporte com qualidade já é uma das

alternativas para torná-lo mais acessível. Conforme expressa Weller (2005):

[...] por um lado expectativas altas em relação aos benefícios da prática esportiva, por outro lado, porém, verificou que muito pouco está sendo investido para alcançar estes resultados. Frequentemente o ensino de esporte é de responsabilidade de monitores e/ou voluntários sem o menor preparo, além de existirem carências em materiais e espaços adequados. Dessa forma, mais uma vez os jovens em situação de risco, se vêem deparados com a falta de acesso a um ensino de qualidade e a impossibilidade de sair do seu meio, o que poderia ser propiciado, por exemplo, pela participação em campeonatos. (WELLER, 2005, p.04)

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Desvelando o esporte, percebe-se que este possui seu viés mercantilista,

quando se fala em rendimento, entretanto possui seu lado educacional e

participativo. O “movimento esporte para todos” surge com uma vertente social, indo

de encontro com aquilo que se espera do esporte competitivo e lucrativo

financeiramente. Sua abrangência vai além do espetáculo e se torna palco de

desenvolvimento e formação. Conforme expressa Tubino (2011):

[…] o movimento esporte para todos, nascido no sentido contestatório do esporte de alto nível, possibilitou grandes campanhas de valorização das práticas esportivas, reforçando muito o aumento da abrangência do renovado conceito de esporte. (TUBINO, 2011, p.15).

Conforme ainda o mesmo autor, vê-se que após a ampliação da

abrangência do conceito do esporte, este passou a oferecer um elenco maior de

aspectos socialmente relevantes, os quais passaram a se constituir em objetos de

inúmeros estudos sociológicos. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

Por outro lado, o exame diário do esporte pela mídia prova de forma inequívoca o interesse da população mundial por este fenômeno. Também o aumento considerável do número de praticantes de esporte no mundo e o surgimento ininterrupto de novas modalidades esportivas, sob diferentes perspectivas, evidenciam que o esporte, pela sua crescente relevância social, tornou-se um dos mais importantes fenômenos do final do século XX. (TUBINO, 2011, p.17)

Dito isto, Tubino (2011) define o esporte em oito aspectos de abordagem,

justificando sua relevância social: o associacionismo é uma espécie de organização,

que visa reunir esforços coletivos em prol de angariar os materiais necessários para

a prática esportiva, o esporte como instituição social, que visa promover valores para

ser reconhecido como tal, o envolvimento social do esporte e o aparecimento do

homo sportivus, que incorpora a atividade física em seu cotidiano de forma

abrangente, a interdependência do bem-estar social com a relação estado-

sociedade-esporte, que traz o estado de dependência a ações governamentais, que

visa oferecer o esporte popular, mas acabam por fracassar, esporte como meio de

democratização visa proporcionar o esporte livre como um direito de todos,

compromisso do homem com a natureza que fomenta a criação de associações

próprias do ramo, por fim, a relevância sociocultural da relação jogo-esporte é

retomada de valores sociais, culturais e de bem-estar, esquecidos pela força

mercadológica do fenômeno esportivo.

O primeiro deles é o associacionismo no esporte: em que a necessidade

de associação no esporte pressupõe um esforço no sentido de reunir as condições

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materiais necessárias para que seja apresentado um sentido de democracia interna

na organização esportiva. Infelizmente, em alguns casos se delimitou ao se vincular

aos esquemas de poder, assim os clubes foram substituídos por empresas.

(TUBINO, p. 19)

Segundo Tubino (2011), outro aspecto é o esporte como instituição social:

para ser considerada uma instituição socialmente, representar uma forma de

atividade social, promover identificações sociais, e, ao mesmo tempo, ao constituir-

se num problema social e num problema humano, deve-se promover valores.

(TUBINO, p. 19-20)

Conforme ainda o mesmo autor, têm-se, como terceiro aspecto, o

envolvimento social do esporte e o aparecimento do homo sportivus: a quantidade

de envolvidos, socialmente no esporte, é crescente em todo o mundo, desde os

usuários praticantes até os usuários passivos desse fenômeno. O homo esportivos

é aquele que, de alguma forma, incorpora a atividade física às suas culturas

individuais. (TUBINO, p. 20-21)

De acordo com Tubino (2011), o quarto aspecto é a interdependência do

bem-estar social com a relação estado-sociedade-esporte: os esforços para

uniformizar os serviços sociais, na maioria das vezes, têm provocado sérios

conflitos, derivados das agressões nas realidades regionais culturais e étnicas. No

caso específico do esporte, constata-se que muitos programas de esporte popular,

ligados a ações governamentais, têm fracassado devido às indisposições causadas

pelas contradições internas. (TUBINO, 2011, p. 22-23)

Prosseguindo com os demais aspectos, Tubino (2011) faz referência ao

esporte como meio de democratização: a democratização pelo esporte implicará

sempre em uma prática esportiva livre, em que a liberdade estará sempre implícita.

Esta é uma das razões mais efetivas para que o esporte não seja considerado um

fim em si mesmo, mas que possa permanentemente servir de meio indiscutível de

formação e libertação dos seus praticantes. (IDEM, 2011, p. 25-26)

Conforme ainda o mesmo autor o sexto aspecto traz o esporte e o

compromisso do homem com a natureza: o número de praticantes de esportes ao ar

livre é crescente, sem se vincular aos tradicionais sistemas esportivos, criando

organizações próprias e atípicas. (IBIDEM, 2011 p. 28-29)

Tubino (2011) revela o sétimo aspecto, a relevância sociocultural da

relação jogo-esporte: enquanto perdurou a perspectiva única do rendimento, tornou-

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o muito mais competição do que jogo, perdendo parte do seu significado

sociocultural inicial. No entanto, a aceitação de um conceito mais amplo do esporte,

envolvendo também compromissos com os preceitos de bem-estar social e de

educação, levou este fenômeno à retomada destes valores e significados que

estavam em processo de redução. (TUBINO, p. 29- 30)

Assim, pode-se concluir com o último aspecto, o direito à prática esportiva

é um fator de novas dimensões sociais para o esporte, quando o fenômeno esportivo

já era discutido na exaustão social do esporte de alta competição, surgiu, como

síntese de uma reação da intelectualidade mundial do esporte, a vinculação da

prática esportiva ao conjunto de direitos sociais do homem contemporâneo, de modo

que o esporte, agora mais ampliado e abrangente no seu conceito, pudesse atender

às necessidades das três dimensões sociais (educação, participação e performance)

do renovado conceito de esporte. (IDEM, 2011, p. 32)

Conforme ainda Tubino (2011), as três dimensões sociais do esporte

acontecem a partir do pressuposto do direito de todos à prática esportiva, passou a

ser compreendido através das três manifestações esportivas, que, na verdade, são

as formas de exercício deste direito, e constituem-se nas efetivas dimensões do

esporte. Dessa forma, expressa Tubino (2011): “[…] o esporte, como instituição

social, não deve ser analisado fora de suas dimensões sociais, porque esta seria

uma via reducionista, que levaria a uma visão e perspectiva anacrônica deste

fenômeno.” (IBIDEM, 2011, p.35).

Para Tubino (2011), o esporte-educação tem um fim eminentemente

social, ao compreender o esporte como manifestação educacional, tem que exigir do

chamado esporte-educação um conteúdo fundamentalmente educativo. Porém, nem

sempre a prática ocorre dessa maneira, os conceitos do esporte-educação são

confundidos com as demais dimensões. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

Nesta perspectiva equivocada, as competições escolares, que deveriam ter um sentido educativo, em vez disto, simplesmente reproduzem as competições de alto nível, com todas as suas características, inclusive com seus vícios, deformando qualquer conceito de educação. (TUBINO, 2011, p.36)

A próxima dimensão a ser abordada é o esporte de participação,

referenciado com o princípio do prazer lúdico, e que tem como finalidade o bem-

estar social dos seus participantes. Também oferece oportunidades de liberdade a

cada praticante, a qual se inicia na própria participação voluntária. Além das

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condições hedonísticas, que o envolvem, tem o seu valor social evidenciado na

participação e nas alianças ou parcerias desenvolvidas. Conforme expressa Tubino

(2011):

O esporte participação, como a própria denominação sugere, ao promover a participação e ao obter sucesso neste seu objetivo principal, pode-se afirmar, equilibra o quadro de desigualdades de oportunidades esportivas encontrado na dimensão do esporte performance. Enquanto o esporte-performance só permite sucesso aos talentos ou aqueles que tiveram condições, o esporte participação, ao contrário, favorece o prazer a todos que dele desejarem tomar parte. (TUBINO, 2011, p. 40)

Por fim, pode-se descrever o esporte-performance ou de rendimento

como um esporte socialmente importante pelos efeitos que exerce sobre a

sociedade. Há uma tendência que ele seja praticado, principalmente, pelos

chamados talentos esportivos, o que o impede de ser considerado uma

manifestação comprometida com os preceitos democráticos. É também a dimensão

social que propicia os espetáculos esportivos, em que uma série de possibilidades

sociais positivas e negativas pode acontecer. Assim expressa Tubino (2011):

[...] é no esporte de rendimento que a literatura de crítica aguda ao esporte se encontra, principalmente pelos autores que combatem o capitalismo, que consideram o esporte de competição e suas vinculações com negócios financeiros sintomas evidentes de um capitalismo exacerbado. (TUBINO, 2011, p.41)

O esporte deve ser de fácil e livre acesso a todos aqueles que têm

curiosidade de aprender e de se aprimorar, seja qual for a modalidade escolhida.

Diante disso, o tópico seguinte abordará os marcos legais desse fenômeno,

esclarecendo sua importância e suas dimensões na perspectiva social.

3.3 Esporte e seus marcos legais

Como constituintes dos marcos legais do esporte, tem-se como ponto de

partida desse tópico a Constituição Federal de 1988, tomando por base o Art.217, do

Capítulo III da Educação, da Cultura e do Desporto, que apresentam o dever do

Estado enquanto ao ato de fomentar práticas esportivas. Percebe-se que o esporte é

tratado não só como atividade recreativa ou mesmo atividade que relacione o

esporte apenas ao rendimento, mas em provocar a autonomia dos indivíduos como

forma de promoção social. Conforme expressa Lacocca (2003):

É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observando: a autonomia das entidades, a destinação de recursos públicos, o desporto educacional e o incentivo às manifestações de criação nacional. Tendo como finalidade ofertar o lazer como forma de

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promoção social. (LACOCCA, 2003, p.55)

Reforçando o que foi dito acima, pode-se destacar o dever do Estado em

garantir as práticas desportivas formais e não formais, bem como o fator autonomia

das entidades desportivas e a diferença entre o financiamento das práticas

educacionais e de alto rendimento.

As práticas desportivas também são dever do Estado e direito de cada

um. O Estado deve promover a autonomia das entidades e associações desportivas,

destinando recursos para promoção do desporto educacional em tom de prioridade e

para o desporto de alto rendimento em casos específicos, com proteção e incentivo

às manifestações desportivas de criação nacional, diferenciando o desporto

profissional e o não profissional, conforme descrito na Constituição Federal (1988):

Art.217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados: I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional; IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional. §1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. §2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final. §3º O poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social. (BRASIL, 1988)

É garantido por lei ao jovem o usufruto da prática esportiva. Em vista

disso, observamos o conteúdo do Art. 3 das diretrizes gerais do Estatuto da

Juventude, atribuindo especial destaque para o inciso V, que trata de garantir meios

e equipamentos públicos que promovam o acesso à produção cultural, à prática

esportiva, à mobilidade territorial e à fruição do tempo livre. Os agentes públicos ou

privados envolvidos com políticas públicas devem garantir o acesso do jovem a

essas práticas.

Nos parâmetros legais que dizem respeito à temática do esporte, tem-se:

O Estatuto da Juventude como base nos Art.28 da Seção VIII do direito ao desporto

e ao Lazer, em que o jovem tem direito à prática desportiva destinada a seu pleno

desenvolvimento com prioridade para o desporto de participação. Dessa maneira, a

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prática esportiva vem apresentada como direito do jovem, com aspecto de primazia

ao aprimoramento do mesmo.

O esporte e o jovem estão ligados legalmente, o estatuto da juventude

aborda o direito do jovem às práticas esportivas. Assim, podem-se destacar o Art. 3

e o Art. 28, mencionados acima. O lócus desta pesquisa foi criado especificamente

para trabalhar o que rege a lei, o que representa um grande avanço naquilo que se

refere a equipamentos para usufruto dessas práticas, principalmente com

direcionamento específico para determinado público.

Ainda falando sobre os marcos legais, também se pode citar a lei 12.395

de 16 de Março de 2011, que institui normas gerais sobre o desporto, o bolsa atleta

e os programas atleta pódio e cidade esportiva. Atribuindo grande expressividade ao

esporte de alto rendimento.

A lei 10.264 de 16 de Julho de 2001, que acrescenta inciso e parágrafos

ao art.56 da lei 9.615 de 24 de Março de 1998, que reúne informações sobre o

percentual de recursos financeiros destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB)

e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), da mesma maneira que relata de onde

estes provêm.

O esporte de alto rendimento é o mais valorizado, por possuir resultados,

por atrair patrocínios, por exportar atletas, por trazer visibilidade, seja ela, regional,

nacional ou internacional. Porém, todo atleta profissional precisou antes passar por

categorias de base e, para isso, é necessário investimento.

Tendo em vista que é dever do Estado prover esse financiamento, podem-

se citar os percentuais previstos em lei para cada modalidade: O Art.56 da lei 9.615

de 1998 trata das normas gerais sobre o desporto. O Capítulo VIII trata dos recursos

para o desporto, tendo por base os parágrafos 1º e 2º, no total de recursos

destinados ao desporto, 85% são destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro e 15%

são destinados ao Comitê Paraolímpico Brasileiro. Sendo destes, 10% destinados

ao desporto escolar e 5% ao desporto universitário.

Diante do exposto, o que chama atenção é que, na prática, esse

investimento parece ser bem inferior, principalmente quando se trata de prover esses

recursos em bairros de classe baixa, pouco se vê investimento ou mesmo a

preocupação em manter os já existentes, conforme expressa Brenner (2008):

Chamam a atenção a pouca abrangência dessas ações [...] e o que é mais sério: o detalhamento dos dados aponta que os jovens das camadas populares, que deveriam ser os sujeitos privilegiados […]. são exatamente

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aqueles que têm menos acesso a tais projetos. Essa evidência deve servir para que, na oferta de atividades, instalações e equipamentos [...] para os jovens, sejam consideradas as especificidades das situações de vida dos setores mais empobrecidos da população, que, mesmo diante da oferta, encontram maiores dificuldades para participar. (BRENNER, 2008, p.33)

O mesmo ocorre com o esporte, que sofre com a falta de investimento, os

jovens, por sua vez, são os maiores prejudicados, pois isso promove obstáculos

para tais atividades, conforme expressa Brenner (2008):

Em relação ao acesso a atividades esportivas, o índice de participação é ainda menor [...]: 72% dos jovens brasileiros nunca participaram de alguma atividade esportiva promovida pelo poder público. Esse alto índice indica o pouco investimento feito em ações que democratizem as práticas esportivas. (BRENNER, 2008, p. 33-34)

O jovem ainda é pouco beneficiado com o acesso às práticas esportivas,

as políticas são seletivas e muitos desses jovens nunca tiveram ou terão a

possibilidade de ingressar em alguma delas de modo institucionalizado. As

desigualdades com relação às oportunidades ainda são gritantes, e os serviços

prestados até o presente momento são oportunizados de maneira precária e sem

continuidade. Conforme expressa Brenner (2008):

Os contrastes socioeconômicos da sociedade brasileira se manifestam eloquentemente na desigualdade da qualidade do tempo livre juvenil e no precário acesso a bens, serviços e espaços públicos de cultura e lazer da maioria da população juvenil. (BRENNER, 2008, p.41)

Considerando todo esse contexto legal, percebe-se que o esporte está

atrelado a múltiplos fatores, sendo os principais deles os financeiros e de garantia de

direitos, que incluem o emprego da cidadania e a promoção da inclusão social.

Sendo o jovem objeto de análise dessa pesquisa, analisando as leis pôde-se

perceber que o investimento nas práticas esportivas de base ainda é insuficiente

para que o mesmo seja difundido e assim muitos continuam sem ter acesso a ele.

Dessa maneira, expressa Brenner (2008):

Num quadro de profundas restrições orçamentárias, tanto das famílias quanto do Estado, a cultura e o lazer são frequentemente vistos como algo supérfluo ou mesmo privilégio de uns poucos. Políticas públicas de juventude devem ser capazes de atuar sobre essas condições desiguais, favorecendo a criação de condições materiais que ampliem as possibilidades dos jovens de fruição do seu tempo livre, ao mesmo tempo em que ampliem esferas públicas democráticas de cultura e lazer. (BRENNER, 2008, p.41)

Em pesquisa publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

(IBGE) no ano de 2001, levantando dados do perfil da juventude Brasileira,

observou-se que mais da metade dos jovens brasileiros declarou na pesquisa que

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gostaria de fazer parte de algum clube ou associação esportiva. Ou seja, mesmo

diante dos marcos legais, vê-se que as leis não garantem esse acesso, no que tange

as vias de fato, muito menos, garantem o fator participação na prática esportiva, o

que condiciona o jovem, assim como a qualquer outro, a custear esses serviços, ou

a se contentar em jogar apenas nos campos de várzea de seu bairro, ou

proximidades. O investimento existe, mas não de maneira satisfatória, pois não

atende a todos como é previsto em lei. (BRASIL, 2008, p. 34).

A Carta Internacional da Educação e do Esporte da UNESCO, do ano de

1978, já apontava o esporte com um direito humano efetivo, consistindo em deixar

as pessoas livres para desenvolver e preservar suas aptidões físicas, intelectuais e

morais, e que, consequentemente, o acesso a ele possa ser garantido a todos.

Conforme expressa o Art. 1 deste documento:

1.1. Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso à educação física e ao esporte, que são essenciais para o pleno desenvolvimento da sua personalidade. A liberdade de desenvolver aptidões físicas, intelectuais e morais, por meio da educação física e do esporte, deve ser garantida dentro do sistema educacional, assim como em outros aspectos da vida social. 1.3. Oportunidades especiais devem ser disponibilizadas aos jovens, incluindo crianças em idade pré-escolar, idosos e pessoas portadoras de deficiências, a fim de possibilitar o desenvolvimento pleno de sua personalidade, por meio de programas de educação física e de esportes adequados às suas necessidades. (UNESCO, 1978, p. 03)

Continuando a citar o mesmo documento, e ressaltando o direito junto à

efetivação, a carta acredita que o esporte deve contribuir de forma mais efetiva para

inculcar os valores humanos fundamentais subjacentes ao pleno desenvolvimento

dos povos. Promovendo comunhão, competição, solidariedade, respeito mútuo,

integridade e dignidade aos seres humanos. O que não o limita somente ao bem-

estar físico e à saúde, mas contribui para o pleno equilíbrio e desenvolvimento.

Conforme expressa o Art. 9 deste documento:

9.1. É fundamental que autoridades públicas de todos os níveis, bem como órgãos não governamentais especializados, incentivem as atividades esportivas e de educação física que tenham valor educacional mais evidente. Suas ações devem consistir no fortalecimento da legislação e da regulamentação, de modo a fornecer assistência material e a adoção de todas as outras medidas que visem a incentivar, estimular e controlar. As autoridades públicas também devem assegurar que sejam adotadas medidas fiscais que incentivem tais atividades. (UNESCO, 1978, p. 05)

Seguindo com essa proposta, a carta visa o esporte como um fenômeno

de desenvolvimento social, tornando-o direito real e priorizando os grupos sociais

mais desfavorecidos. Para isso, é necessário investimento em equipamentos e

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instalações adequadas para a prática esportiva. Diante dessas ideias, conforme

expressa o Art. 3 e o Art. 5 deste documento:

3.1. Os programas de educação física e de esporte devem ser elaborados de forma a satisfazerem as necessidades e as características pessoais de seus praticantes, assim como as condições institucionais, culturais, socioeconômicas e climáticas de cada país. Deve ser dada prioridade às necessidades de grupos sociais desfavorecidos. 5.1. Devem ser disponibilizados equipamentos e instalações suficientes e adequados, para possibilitar a participação intensiva e segura, dentro e fora da escola, em programas de educação física e de esporte. 5.2. Governos, autoridades públicas, escolas e agências privadas pertinentes, em todos os âmbitos, são responsáveis por unirem forças e planejarem, em conjunto, a disponibilização e o melhor uso das instalações, locais e equipamentos para a educação física e o esporte. (UNESCO, 1978, pp. 03 e 04)

Voltando um pouco mais no tempo, destaca-se a Lei 6.251 de 1975, que

preconizava apenas o esporte de rendimento. Conforme a Política Nacional do

Esporte (2005), o esporte era entendido somente como rendimento, isto é, existia

unicamente nos documentos legais do país o esporte institucionalizado e as práticas

não formais esportivas eram entendidas como recreação.

Seria necessária, assim, a construção da figura do esporte como uma

política de Estado. Dessa maneira, a Política Nacional do Esporte buscou abordar o

esporte com um novo viés, pois o esporte, ao deixar de ser entendido unicamente na

perspectiva do rendimento, passa a ser percebido também na perspectiva do social

(Esporte Educacional, Esporte para Portadores de Deficiências, Esporte para a

Terceira Idade, Esporte para as Pessoas Comuns etc.), passou a intervir

efetivamente na Saúde, na Educação e no Lazer das pessoas. É evidente que esta

abrangência ampliada do alcance do Esporte no país, fez com que o mesmo fosse

gradualmente se tornando uma prioridade do Estado.

Finalmente, ao identificar as dimensões sociais do esporte, suas

influências e os seus papeis na sociedade, compreende-se sua relevância social e a

forma como as categorias desta pesquisa trabalham de modo articulado e em

conjunto.

Dito isso, o terceiro capítulo do presente estudo fará uma análise das

entrevistas realizadas com os profissionais do CUCA e com os usuários, mais

precisamente, com os jovens atendidos pelo mesmo. Apresentará ainda os efeitos

negativos do esporte moderno e suas novas implicações.

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4 PROFISSIONAIS E USUÁRIOS DO CENTRO URBANO DE CULTURA, ARTE, CIÊNCIA E ESPORTE (CUCA). 4.1 Profissionais do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte

Com base na proposta metodológica apresentada no primeiro capítulo

desta investigação, foi entrevistado para essa pesquisa o total de duas pessoas, que

atuam ou atuaram como profissionais do CUCA. Um deles é educador social. O

outro é profissional de Educação Física, visando esclarecer as inquietações desta

pesquisa, a escolha por estes profissionais foi feita devido à aproximação destes

com o tema proposto no estudo e pelo fato destes trabalharem diretamente com a

juventude. O número de entrevistados escolhidos para a pesquisa se deu a partir do

interesse dos mesmos em responder aos questionamentos do presente estudo, por

isso o número reduzido de entrevistados.

No decorrer desta análise, a pesquisadora buscou a aproximação com o

objetivo da pesquisa, identificando na fala dos entrevistados a perspectiva real da

situação vivenciada dentro da instituição.

Atribui-se, com o objetivo de preservar a identidade e o sigilo dos sujeitos

que contribuíram para o estudo, identificações fictícias aleatórias intituladas de

Lucas e Natan. Essa nomenclatura não possui relação com a ordem em que as

entrevistas foram realizadas nem com a ordem dos perfis acima indicados.

O primeiro entrevistado atribui o nome fictício de Lucas, com o objetivo de

preservar-lhe a identidade e resguardando os aspectos éticos deste estudo. Em

especial, essa entrevista foi concedida no ano de 2012, quando a pesquisadora deu

início ao projeto de pesquisa. Por conta de reestruturações no local e mudança de

gestão, o profissional não faz mais parte do quadro de funcionários do Centro. Este

permaneceu em atividade profissional no local até o ano de 2014, a vaga encontra-

se ociosa até o presente momento e, por este fato, não foi possível realizar a

entrevista no ano de 2014 com outro profissional da área. O mesmo trabalhou no

Centro por aproximadamente 04 (quatro) anos, desde a criação do CUCA, sendo ele

o precursor no trabalho com o esporte do local.

Lucas é graduado em Educação Física e tem uma longa experiência no

esporte nas vertentes de participação e alto rendimento. Possui ainda experiência

em projetos, que visam o lado social da prática esportiva, este foi membro da

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Coordenação do Programa Esporte na Comunidade12, programa este executado

pela Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Fortaleza (SECEL).

Outro profissional que contribuiu para esta pesquisa atribui o nome fictício

de Natan, que atuou no CUCA desde sua implementação até o ano de 2014, e que

também não faz mais parte do quadro de funcionários da instituição, cujos serviços

foram dispensados dois dias após esta entrevista.

O Natan tem uma longa caminhada em trabalhos com a juventude, o

mesmo é militante do Movimento Hip Hop Organizado do Brasil (MH2O) há cerca de

dez anos, sendo um de seus fundadores no Estado do Ceará. Segundo Natan, o

MH2O é um movimento que trouxe para as comunidades oficinas de grafite, rap e

break, atendendo nos locais mais esquecidos, excluídos e marginalizados pela

sociedade e pelos seus governantes.

O mesmo também foi integrante de uma das gangues mais conhecidas

da grande fortaleza: A CDM (Criaturas da Maldição), responsável por organizar

bailes funk, no antigo gigantão da Av. José Bastos. Na referida localidade, eles

incitavam a violência, propondo o “lado a” e o “lado b”, prática corriqueira nos bailes

funk dos anos 2000. Estes também frequentavam estádios de futebol e faziam parte

de torcidas organizadas.

Natan intitula-se “pesquisador da juventude”, atuando na ponta dos

movimentos sociais há mais de dez anos, com experiências na Fundação da

Criança e da Família Cidadã (FUNCI) e no Programa Nacional de Inclusão de

Jovens (PROJOVEM) adolescentes.

Tendo como objetivo desta pesquisa, compreender como o esporte

poderia contribuir para a inclusão social e para a construção da cidadania. As

perguntas feitas durante as entrevistas foram pautadas com o cuidado de analisar a

perspectiva do profissional, enquanto agente de transformação social, nessas

categorias.

Naquilo que tange a inclusão social, Lucas, expôs que “a inclusão através

do esporte não ocorre somente dentro da instituição, o esporte proporciona aos

jovens voos mais altos, pois por intermédio dele, os jovens têm acesso a bolsas de

estudo, e podem trabalhar a sua autonomia.” De acordo com o entrevistado, muitos

12

O Programa Esporte na Comunidade (Atleta Cidadão), ao todo, possui 50 núcleos espalhados pelas sete Secretarias Regionais de Fortaleza, que irão levar esporte às comunidades, tratando a prática como ferramenta pedagógica, 2014.

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deles sequer saíam do bairro, ou frequentavam outros lugares, a não ser nos

arredores de suas comunidades, hoje isso é diferente. A inclusão acontece quando

se conhece o novo, e não quando se tem contato com os pares, participar de novas

experiências e oportunizar a eles novos conhecimentos. Dessa maneira, conforme

expressa Cunha (2007):

Fica claro no teor do mesmo o princípio da inclusão, não havendo qualquer tipo de discriminação, garantindo a igualdade na prática esportiva. Para isso, a maneira com que o esporte é abordado deve ser estudada a fundo não permitindo nas atividades esportivas nenhuma forma de exclusão. (CUNHA, 2007, p.13)

Segundo Lucas, “essa prática tem como objetivo construir uma nova

visão para os jovens, mostrando que eles são capazes.” Levando em consideração,

que a maioria deles adentra a carreira esportiva muito cedo e não consegue conciliar

a escola com os treinamentos. Segundo Marques (2009, p.107), “jovens atletas

envolvidos no esporte de competição têm dificuldade de conciliar estudos e vida

esportiva. Mais da metade dos atletas estão defasados em relação à série

correspondente à sua faixa etária.”.

Com o exposto, pode-se analisar que, para trabalhar-se a cidadania, a

inclusão social, a participação juvenil, a profissionalização e a consciência dos

jovens é necessário um esforço coletivo. O esporte é apenas uma das ferramentas

para a concretização desses propósitos. E jamais conseguiria alcançá-los sozinho.

Através dele novas oportunidades podem surgir, a bolsa de estudo é apenas uma

dessas oportunidades.

Um fato que chamou muito a atenção foi que para ingressar no CUCA

não é necessário que o aluno esteja matriculado em qualquer instituição de

educação. Segundo Lucas, “não existe nenhuma restrição do acesso do jovem ao

equipamento, pelo contrário, nós recebemos e queremos aqueles que não estão

matriculados em escolas, existem regras e frequências.” Conforme expressa Correa

(2008, p.22): “As chances são poucas quando os jovens não têm meios para se

constituir autores de suas biografias.”.

A perspectiva do entrevistado vai de encontro à concepção de Trindade

(2010, p.03), quando afirma a certa falta de preocupação com a situação escolar dos

jovens. “A prática esportiva poderá se relacionar com as demais áreas, só assim a

formação se tornará completa. Algumas instituições utilizam essa ferramenta como

ação formadora.”

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As atividades lúdicas não são as únicas formadoras de um indivíduo, o

jovem precisa de educação, formação, disciplina e lazer. Na fala do entrevistado, a

pesquisadora pôde observar certa falta de regras, pois o único modo de controlar a

entrada e a saída dos jovens de cada atividade é a frequência. Caso o mesmo não

cumpra, poderá se matricular normalmente e esperar vaga, o que não lhe ocasiona

ônus algum. Essa liberdade não pode ser praticada de forma abusiva, percebe-se a

falta de limites, é como se não existisse um parâmetro. Caso atinja o limite de faltas,

o jovem poderá perder a vaga ou não, ou seja, é-lhe dada uma nova oportunidade

sem qualquer questionamento. Sendo que muitos não conseguem sequer ter o

acesso inicial a estes serviços.

Como se pode perceber, a inclusão social poderá ser efetivada a partir

das demais ações conjuntas ao esporte, mas as dificuldades de como o profissional

lida com o público e como esse público responde ao programa que é proposto.

Com relação às dificuldades que os profissionais enfrentam, o

entrevistado conta que não encontra nenhuma e que os jovens têm o direito de ir e

vir livremente. Conforme expressa Lucas (2012):

Os profissionais não enfrentam nenhuma dificuldade, pois estes não tentam mudar a cabeça dos jovens. O acesso inicial ao espaço acontece de forma espontânea, obviamente, que existem alguns casos de jovens com o histórico de violência social, consumo de drogas, com histórico de problemas em casa, com a família, questões de justiça, mas isso não é considerado uma dificuldade. (LUCAS, 2012)

Os históricos de problemas sociais, como a violência física e social, o

consumo de drogas e questão de justiça não são considerados por Lucas como

dificuldades, pois segundo o mesmo, os profissionais não tentam mudar a cabeça

dos jovens, pois estes aprendem por si só a lidar com tais barreiras, sendo eles

vitimas da reprodução do submundo da modernidade capitalista. Dessa maneira,

expressa Correa (2008):

Diante da desigualdade social no Brasil, os jovens são, geralmente, situados socialmente nos dois extremos. Os jovens abastados seriam mais os atores socialmente responsáveis para assumir o encargo da reprodução de uma sociedade moderna, enquanto os jovens desfavorecidos seriam os responsáveis e as vítimas da reprodução de um tipo de submundo da modernidade. (CORREA, 2008, p.22)

Dessa maneira, segundo Weller (2005, p. 07): O educador precisa ter

clareza destas dificuldades para poder lidar melhor com o comportamento dos seus

alunos e planejar as atividades de tal forma que eles aprendam a lidar com as

exigências sem que percam a motivação para continuar a prática esportiva.

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Os ensinamentos não são pautados na repressão e sim no

compartilhamento de ideias e pensamentos. O entrevistado também ressalta que, a

comunicação inicial é uma das dificuldades enfrentadas, mas que com o passar das

atividades esse problema é sanado. Muitos têm o seu primeiro contato com regras

nesse espaço e de início não entendem essa relação. Conforme expressa Brenner

(2008):

Os jovens revelam com nitidez situações de vida e processos sociais que reafirmam os traços de diversidade, ao mesmo tempo em que denunciam que esta se processa sobre bases socioeconômicas desiguais, que incidem sobre as possibilidades de acesso. (BRENNER, 2008, p.30)

O jovem participa de toda e qualquer atividade, desde que os horários

permitam isso, não se limitando apenas à prática esportiva, pois o centro possui

diversos cursos profissionalizantes, de áreas bastante diferentes, que proporcionam

aos jovens o acesso a conteúdos pouco difundidos para as classes menos

favorecidas, como curso de fotografia, rádio, artes gráficas, audiovisual,

fotojornalismo e etc. Muitos se descobrem nas mais diversas áreas.

No entanto, a participação ainda é maior por parte de pessoas do sexo

masculino, Lucas relata a disparidade de gênero, que ainda ocorre nas práticas

esportivas, a procura ainda é maior por jovens do sexo masculino.” Conforme

expressa Brenner (2008):

Há participação desigual quando se considera a variável “gênero”: 33% de homens e 22% de mulheres praticam algum esporte. Os dados evidenciam a tradicional divisão socioespacial brasileira, na qual os homens possuem maior mobilidade sócio-comunitária no espaço público, enquanto as mulheres estão mais circunscritas ao espaço doméstico e têm menor mobilidade para praticar de atividades extrafamiliares. (IDEM, p.34)

O esporte não é o único elemento de inclusão social e construção da

cidadania abordado neste estudo, o trabalho multidisciplinar do CUCA é

extremamente importante para os jovens. Segundo Brenner (2008, p.30): “Na prática

do lazer, os indivíduos buscam realizar atividades, que proporcionem formas

agradáveis de excitação, expressão e realização individual. As atividades de lazer

criam certa consciência de liberdade ao permitir uma fuga temporária à rotina

cotidiana de trabalho e obrigações sociais.”.

Na área dos esportes, existe a profissionalização através dos cursos de

monitoria, os jovens aprendem na prática, que aquela atividade pode se tornar

profissão, não, necessariamente, sendo um atleta, mas atuando em seu esporte

favorito como treinador, árbitro, auxiliar, preparador e etc. O esporte possibilita um

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universo de ramificações que podem ser seguidas por eles. A experiência na

monitoria poderá trazer ao jovem a vivência para o mercado de trabalho, como se

fosse um passo inicial para o fazer profissional. Conforme expressa Weller (2005):

[...] exigências fazem parte da nossa sociedade, especialmente no momento de entrar no mercado de trabalho. […] a participação em competições pode ajudar em muito nesta aprendizagem, pois, neste momento, os praticantes precisam adquirir um compromisso maior com o treino, além de facilitar uma maior motivação para tal, pela maior identificação com o esporte que praticam. (WELLER, 2005, p. 07)

Com o passar do tempo, os profissionais percebem mudanças em

diversos aspectos destes jovens, a educação e o convívio com as outras pessoas, a

tolerância, os aspectos físicos e de saúde, a consciência de seus direitos e deveres,

bem como de seu papel na sociedade, melhora sua autoestima, afirma a sua

personalidade, o jovem se modifica de dentro para fora. Conforme expressa Weller

(2005):

Além de oferecer a possibilidade de trabalhar estas dificuldades é consenso na literatura que o esporte pode ajudar também a aumentar a autoestima, contribuir positivamente no desenvolvimento da personalidade e se tornar um espaço no qual o jovem pode experimentar comportamentos diferentes. (IDEM, p.07)

Natan trouxe para a pesquisa uma perspectiva mais aproximada da

realidade dos jovens, bem como uma vivência real do cotidiano enfrentado por eles

e pelos profissionais do local. Também falou abertamente das dificuldades

enfrentadas por ele e pelos demais, em seu local de trabalho.

Por ter vivenciado, pessoalmente, os aspectos negativos da juventude

pobre, marginalizada e discriminada, o entrevistado se viu como arquiteto desta

temática e passou a trabalhar com esse público, em locais que ninguém mais queria

frequentar, pessoas com que muitos não tinham paciência de lidar, como ele mesmo

salientou na entrevista: “os jovens são a solução e não o problema.” Dessa maneira,

expressa Brenner (2008, p.29): “o erro de se compreender a juventude como uma

realidade homogênea aparece com expressiva frequência no senso comum em

relação ao tempo livre e ao lazer.”.

Os jovens apresentam comportamentos que são reflexos do mundo

mercantilista e consumista em que vivemos, o desejo pelo consumo está estampado

na maioria, sendo estes estimulados pela grande mídia diariamente, o que pode

acarretar em incidências à criminalidade. Dessa maneira, Brenner (2008) afirma que:

A distância entre sonho de consumação e o poder de compra pode suscitar um aumento da criminalidade entre os jovens, pois os valores mudam

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também. Eis aqui um dos problemas da individualização num quadro de socialização precária. Assim, o aumento da criminalidade não tem ligação direta com a pobreza, mas com a socialização precária e a inculcação do espírito de consumação entre os jovens, especialmente entre aqueles com baixa renda ou mesmo sem renda. (BRENNER, 2008, p. 19)

Logo no início da entrevista, Natan fala que o CUCA é um “espaço

político” e, por isso, os trabalhos nem sempre se concretizam ou chegam a dar

continuidade. O entrevistado afirma que, para ele, a instituição é um espaço único,

localizado em um ambiente com alto índice de vulnerabilidade, exclusão e ausência

de perspectivas ou apoio governamental.

Ele relata que o papel principal do educador social é dialogar, interagir

com os jovens, adquirindo a confiança deles. Para que, depois, possa realizar seu

trabalho, de maneira mais integral. A maioria dos jovens assistidos não está

acostumada a regras e, por isso, sente-se insegura, ou mesmo, tende a ser ríspida

em determinadas situações, por isso, o educador está na ponta, visando o trabalho

de interação e negociação. Conforme expressa Brenner (2008):

Ainda que as amizades sejam relações de natureza privada entre sujeitos particulares em contextos de ações coletivas ou não, os espaços de convivência pública são indispensáveis para a criação de condições sociais favoráveis ao estabelecimento de redes de amizades. Sobre isso, é importante dizer que a amizade não é somente uma questão da eleição livre nem da seleção por atração pessoal: a disponibilidade de amigos está fortemente referida à localização física e à inserção dos indivíduos na estrutura social. (BRENNER, 2008, p. 40)

Falando em negociação, Natan relatou que ao chegar à instituição, o

clima era totalmente diferente, os arredores eram bastante violentos, e a própria

comunidade tinha medo de frequentar o espaço, praticamente, todo dia tinha

assalto. Então, sua primeira tarefa, foi articular com as gangues locais uma espécie

de “trégua”. O entrevistado relata que se dirigiu até o morro e explicou o que o CUCA

tinha a oferecer à comunidade, muitos jovens já conheciam o MH2O, passando para

eles o direito de frequentar e utilizar o Centro. Conforme relata Natan, “havia uma

divisão territorial e o CUCA se localiza na fronteira.” Devido à tal iniciativa, que

ocorreu em meados dos anos 2010, hoje, todos têm a liberdade de ir e vir nas

redondezas.

O entrevistado salienta que o público atendido pelo CUCA é “especial”, e

precisa de atenção, pois estes são considerados muitas vezes como o “resto” da

sociedade, são extremamente excluídos e privados de oportunidades e recursos. As

políticas públicas não chegam efetivamente ao local, e talvez, por isso, muitos

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enveredem por outros caminhos, pois não há um trabalho inicial, que gere as

oportunidades. Os direitos só chegam lá, quando são totalmente violados. Dessa

maneira, expressa Borba (2011):

A inclusão social é o processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão social acedam às oportunidades e aos recursos necessários para participarem plenamente nas esferas econômica, social e cultural e beneficiem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na sociedade em que vivem. (BORBA, 2011, p. 221)

Dentre as estratégias utilizadas para fomentar a participação do jovem,

surgiu o programa “Comunidade em Pauta”, que foi criado no ano de 2010 e que

tinha como objetivo organizar horários e programação. Porém, o programa passou

nas mãos de diversos profissionais e, mesmo com o empenho destes profissionais,

o programa não evoluiu. Como relata Natan, “a galera ameaçava os profissionais”,

fazendo com que os mesmos ficassem com receio, e desistissem de trabalhar com o

programa.

O problema estava na sistematização e na metodologia do programa, os

jovens não entendiam o que os profissionais queriam, conforme Natan, “o que os

jovens simplesmente queriam era um horário para jogar”, consequentemente, não

escutavam, não tinham paciência. Então, Natan resolveu moldar o diálogo do

programa, para que o mesmo fosse trabalhado de maneira efetiva, lúdica e clara.

Iniciou-se, assim, o trabalho de diálogo direto com os jovens. Se o espaço

era deles, eles deveriam participar e apontar o que queriam. Desse modo, o

programa se reestruturou e, atrelados a ele, os educadores sociais conseguiram

inserir diversas atividades, antes, pouco realizadas pelos jovens, como, por

exemplo, as regras de convivência do CUCA, dentre elas, a importância de não

andar sem camisa, portar sempre algum documento de identificação, pois como é de

costume, na localidade, a maioria já foi abordada diversas vezes por agentes de

segurança pública e o porte de documentos pode evitar certas situações.

Devido ao sucesso dessas orientações, a instituição faz empréstimo de

material esportivo. Para realizar o empréstimo do referido material, os jovens

apresentam a identidade e podem usufruir dos materiais. Natan frisou que isso tem

um ponto interessante, pois “os jovens acreditam que o documento é para garantir o

retorno do material, mas, na realidade, é para incentivar que eles portem o

documento.”.

No presente ano (2014), pode-se afirmar que os próprios jovens fazem o

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trabalho de sensibilização, repassando as regras para os novatos e reforçando com

os veteranos. Do mesmo modo, são eles que se organizam, não existindo mais

brigas por conta de horário no ginásio ou nas salas de ensaio de dança e teatro.

Dessa maneira, expressa Weller (2005):

Esporte pode ser um meio para treinar a consideração para com o outro, o jogo limpo e franco e a capacidade de guiar as suas emoções por canais saudáveis. Oferece recursos também para desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo e aprender a integrar-se socialmente. (WELLER, 2005, p. 07)

Como observado nas falas dos profissionais, o grande instrumento é o

diálogo, tanto para tornar as atividades atrativas, como para fomentar a sua

participação e sua continuidade. A participação de todos é fundamental, tanto dos

profissionais como dos jovens, que são incentivados a essa prática. Tornando os

jovens mais participantes e incentivando-os a propor e a organizar atividades na

instituição.

O Centro também oferece a Copa “Comunidade em Pauta”, que reúne

todos os times inscritos no programa, que utilizam o ginásio, campo de futebol ou

areia, nas mais diversas modalidades. Sendo realizado campeonato em período

mensal, promovido e organizado pelos próprios participantes.

Com ele, surgiu o Programa “Quarta Cultural”, que abrange modalidades

para além das práticas esportivas, tais como: os grupos de artes cênicas, de dança

(pop coreana, swingueira), entre outros. O referido programa passou a ser o

segundo mais procurado, e acontecia inicialmente uma vez por mês, o que

ocasionava brigas constantes entre os grupos interessados em participar. Segundo

Correa (2008, p.23): “A integração dos jovens depende de sua socialização.

Portanto, a individualização se faz mais rápida do que a reparação de uma

socialização precária.”.

Porém, esclarece o entrevistado que, no momento, o programa “Quarta

Cultural” não está em funcionamento devido a problemas internos da instituição. Não

problemas estruturais ou de organização, mas problemas de ego, pois para ele um

dos maiores problemas no local são as vaidades internas de alguns profissionais, e

isso acaba prejudicando o mais interessado, que é o jovem. O evento chegou a

reunir 500 pessoas em uma única apresentação, sendo o local de realização

transferido do teatro para o anfiteatro e, assim, o público pudesse acompanhar o

espetáculo.

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Quando indagado sobre as dificuldades enfrentadas no local, o mesmo

ressalta que o maior problema não é o trato com os jovens, mas sim o jogo de

vaidades e a disputa por visibilidade de alguns profissionais, que visam só o

individual e nunca o trabalho coletivo da instituição.

Para o entrevistado, outro fator problema é o “espaço político” do local,

que perpassa a dimensão política pública e acaba caminhando para o espaço da

“politicagem”, todos os profissionais querem crescer, alguns se esforçam para isso,

outros não, porém o reconhecimento não existe e muitos, como ele, nunca

conseguem uma promoção profissional. Não se pode ir de encontro com algumas

ideias impostas e isso faz com que o profissional se sinta prejudicado e

desmotivado.

O entrevistado comenta que já pediu demissão por duas vezes no local,

pois já lhe informaram que o problema naquilo que tange a ascensão, é um caso

individual e particular, se ele não consegue progredir algum motivo existe, já o

tacharam de analfabeto e desorganizado, o mesmo está como educador social há 5

anos e nunca cogitaram alguma mudança de função.

Natan relata que os projetos que se sobressaem sempre contam com

diversos profissionais que queiram participar, porém quando começam o trabalho de

lidar com os jovens e ouvir reclamações, logo, solicitam dispensa e o serviço acaba

“sobrando” para outros. A “guerra de vaidades” é a maior disputa encontrada no

local.

Segundo o entrevistado, o jovem não é problema, trabalhar com eles é

maravilhoso, o problema é convencer os profissionais a trabalhar de maneira

conjunta. Muitos profissionais não têm experiência nem formação específica

adequada e não aceitam auxílio dos profissionais mais experientes, muito menos,

aceitam os jovens.

Conforme o que foi coletado nas entrevistas, parece que os jovens

precisam ser ouvidos, pois muitos apresentam um histórico de violência, de algum

ato infracional, de problemas familiares, e uso de drogas. Esses aspectos precisam

ser trabalhados e compreendidos, principalmente, pelos profissionais, que

necessitam ter dedicação e preparo no trato com o público-alvo da instituição. Pois,

muitos apresentam receio em trabalhar com esse público, demonstrando medo e

insegurança. Conforme expressa Brenner (2008):

Há uma tendência da sociedade em enxergar nessas culturas traços de

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marginalidade, um tempo social potencialmente negativo e, em geral pensado em oposição ao trabalho, este entendido como tempo de positividade, naquilo que se refere à formação humana. (BRENNER, 2008, p.30)

A relação do educador social com o jovem é fazer a defesa dos direitos

dos mesmos, dialogar, discutir, promover e criar junto com eles e para eles. O

trabalho é feito em conjunto, a relação profissional e jovem no CUCA deve ser

realizada em caráter multiprofissional, incentivando-os a interagir e propor novas

ideias.

Segundo Natan, as principais mudanças percebidas foram, “o ar que se

respira no local, a violência que existia, inclusive na porta da instituição, quase não

existe mais, as pessoas andam mais tranquilas, o jovem têm o direito de ir e vir, o

meu objetivo eu consegui realizar. Os jovens reivindicam, querem o local bem

cuidado e pronto para o uso, e assim é o trabalho do Comunidade em Pauta”.

Como se vê, a mudança acontece depois de muito trabalho, os

programas, assim como o CUCA, atuam há aproximadamente cinco anos, uma

longa estrada foi percorrida e ainda há muito a se trabalhar, pois tudo se renova, a

sociedade é muito dinâmica e necessita de um trabalho árduo e concreto. Nada de

políticas fantasiosas, ou medidas paliativas, precisa-se de espaços com ações

permanentes, que visem sempre o crescimento das partes a quem se direciona e

não programas que causem dependência social ou financeira da população.

Portanto, pode-se concluir que, analisando o real papel do esporte, este

poderá proporcionar benefícios aos jovens, mas quando trabalhado de maneira que

possa ir além do aspecto do lazer. O tempo livre deste jovem poderá ser melhor

trabalhado, em uma perspectiva formadora, inclusiva e não apenas ilustrativa, tendo

como consequência apenas a distração.

O próximo tópico abordará, a percepção dos jovens atendidos pelo

Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte, apresentando de modo detalhado

o que foi exposto durante as entrevistas.

4.2 Jovem do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte

A entrevista com o jovem foi realizada em sua residência, local este

solicitado pelo próprio. O entrevistado possui 26 anos, pratica natação e dança no

local, este possui um grupo de swingueira13 que também utiliza o espaço para seus

13

A swingueira foi criada na Bahia, mais precisamente, nos subúrbios de Salvador. Ela surgiu entre

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ensaios, quando está com tempo livre ainda pratica vôlei no local.

A entrevista foi realizada com apenas um jovem devido à falta de

interesse dos mesmos em responder aos questionamentos propostos, outros jovens

participaram indiretamente da entrevista, o irmão do entrevistado foi um deles, que

também pratica atividades esportivas no local, os demais responderam a algumas

indagações no período em que se realizava o trabalho de campo.

O jovem entrevistado relata que o ingresso no Centro Urbano de Cultura,

Ciência e Esporte (CUCA) foi extremamente fácil. Conta que fez sua inscrição, e

tudo foi bem acessível. O mesmo relata que tinha bastante interesse em ocupar seu

tempo, que considerava ocioso, e, com a chegada do CUCA nas proximidades do

seu bairro, isso foi possível.

Pode-se destacar que além do CUCA se localizar em um espaço bem

estratégico, este absorveu vários jovens da comunidade que não tinham acesso a

essas atividades anteriormente.

Questionado sobre o que lhe motiva a participar destas atividades, o jovem

responde que, “o amor pelo esporte o levou a essas práticas” (sic), desde muito

cedo sempre participou de diversas atividades, jogava vôlei no colégio, nas ruas do

bairro, e se descobriu na dança, montou seu grupo, com aproximadamente

40(quarenta) pessoas e hoje participa de campeonatos na cidade, inclusive já foi

campeão em alguns deles. O espaço físico do CUCA também é importante para que

eles possam ensaiar, pois antes a situação era complicada, eles improvisavam um

espaço e agora têm acesso a uma sala feita para este fim.

Questionado a avaliar o CUCA com relação àquilo que o espaço lhe

oferece, o jovem responde que, “daria nota 8 (oito) ao CUCA, pois o espaço é muito

bom, mas o interesse dos professores é mínimo, com isso, a nossa evolução nas

práticas esportivas fica comprometida.” (Jovem, 26)

Dito isto, pode-se observar que a estrutura física existe, mas que o trato

com os jovens ainda precisa ser mais bem trabalhado. O jovem necessita de uma

preparação, de um acompanhamento, o que não parece existir diante da fala do

entrevistado. Dessa maneira, expressa Marques (2009):

Muitas vezes não é dada a devida atenção a esta preparação, o que pode resultar em aproveitamento inadequado do potencial atlético, falta de apoio social e institucional, desorganização da vida não esportiva, dificuldade de

1998 e 2000 na Bahia a partir de manifestações musicais de Margareth Menezes e Daniela Mercury cantoras famosas de Axé Music.

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adaptação a novas fases da carreira e até mesmo desistência da prática esportiva. (MARQUES, 2009. pp. 104-105)

Indagado sobre as mudanças que o mesmo faria na instituição, o jovem

responde que, “Com certeza mudaria os professores, pois como disse antes, eles

têm pouco interesse e isso prejudica os alunos, principalmente os que se dedicam,

pois muitos têm futuro como atletas.” (Jovem, 26). A preparação deve ser feita em

conjunto, com os profissionais, com a família, com os jovens, com todos os

envolvidos direta e indiretamente. Dessa maneira, expressa Marques (2009):

Os conhecimentos produzidos a partir do estudo deste tema poderão ser bastante relevantes no que diz respeito à intervenção e ao aconselhamento junto a atletas, pais de atletas, empresários, treinadores e dirigentes esportivos, pois possibilitam um maior entendimento dos processos organizacionais, sociais e psicológicos que permeiam a trajetória esportiva de atletas desde a iniciação até o término e após o término de sua carreira esportiva. (MARQUES, 2009, p. 104)

Questionado sobre as atividades que mais lhe chamam a atenção, o jovem

responde que, “O que mais me chama atenção são os cursos e os esportes, eu

gostaria de ter mais tempo para praticar handebol e fazer o curso de inglês, mas

como trabalho e estudo à noite, os horários ficam complicados.” (Jovem, 26).

Segundo Correa (2008, p.13): “para quase 40% dos jovens o trabalho é uma

necessidade. Sendo estes frequentemente subempregados, e o tempo de trabalho

demonstra também a desigualdade social.”.

Relacionando a fala do jovem e o trecho da fala de Correa (2008), pode-se

observar que assim, como o entrevistado, parte dos jovens terem como

responsabilidade conciliar estudos e trabalho, ficando com o tempo escasso para

atividades de lazer e esportes. Como o próprio jovem relata, ele gostaria de possuir

mais tempo para praticar outras atividades, porém devido à falta dele, este prefere

participar daquelas que se encaixam em seu tempo livre.

Questionado com relação ao interesse em ingressar na instituição como

monitor, na área dos esportes, o jovem responde que “possui interesse e que

trabalha para isso, se esforça, tenta ajudar o professor, participa, mas como disse

anteriormente, os professores pouco se importam, e como ele já faz esse trabalho

com seu grupo de dança, já se sente realizado.” (Jovem, 26)

Questionado sobre os seus objetivos com a prática esportiva, o

entrevistado responde que, “para melhorar seu condicionamento físico, movimentar

o corpo, ocupar seu tempo ocioso, tudo isso me levou à prática esportiva, além da

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interação com os meus colegas e os demais que conhecemos no CUCA.” (Jovem,

26)

A partir de sua fala, pode-se observar o alcance do esporte de participação

nas atividades do CUCA. Articulando com as atribuições do mesmo, este

proporciona ao jovem a interação com os demais e, assim, a inclusão social, bem

como outros aspectos mencionados pelo mesmo.

Indagado sobre a representatividade do esporte em sua vida, o

entrevistado responde que, este representa qualidade de vida, deixando-o mais

disposto, além de ser uma atividade gratuita que ele sempre teve vontade de praticar

e antes não podia devido aos custos. Segundo jovem (2014):

O esporte representa, bem-estar e melhoria na qualidade de vida, me deixa mais disposto para outras atividades do dia a dia. Proporciona-me um lazer pelo qual sairia caro se tivesse que pagar. Me traz novas amizades, outro olhar sobre o talento dos meus colegas, vejo o talento de cada um, através do esporte ou da dança. (Jovem, 26)

Segundo Brenner (2008, p. 34): “Mais da metade dos jovens brasileiros

declarou que gostaria de fazer parte de algum clube ou associação esportiva”.

Sendo esse um fato alarmante naquilo que tange a investimentos e oportunidades

oferecidas ao jovem, principalmente para aqueles oriundos de classes menos

abastadas.

Questionado sobre uma autoavaliação com relação à prática do esporte, o

entrevistado responde que, “antes minha vida era cansativa, o meu dia-a-dia parecia

ser mais pesado, hoje, minha vida funcional melhorou bastante, posso interagir com

outras pessoas, meu grupo de amigos está maior, posso praticar as atividades que

tinha vontade anteriormente.” (Jovem, 26)

Pode-se perceber que o esporte proporcionou ao jovem uma maior

interação com os demais e, segundo ele, uma “vida funcional”, porém para o jovem o

esporte não passa de uma atividade física que lhe oferece o bem-estar, os demais

valores: participação, desenvolvimento social, protagonismo, criticidade e cidadania,

que, segundo os profissionais entrevistados, são trabalhados, parecem não surtir

tanto efeito quanto ao seu aspecto físico.

Questionado sobre os ensinamentos a partir da prática do esporte, o

jovem responde que, “para se ter uma vida melhor e com saúde, temos que

trabalhar nosso corpo e mente, assim nosso futuro será melhor e saudável.” (Jovem,

26)

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Como observamos na fala anterior, o jovem expressa além da noção

física, outros valores adquiridos através da prática do esporte, o seu aspecto físico

ainda é o mais valorizado. Porém outra área também é trabalhada como a mente. O

seu aspecto social parece ser pouco trabalhado, ou mal compreendido, as atividades

da instituição e os objetivos delas precisam ser claramente expostos, só assim os

jovens atendidos pela instituição poderão alcançar o desenvolvimento proposto por

ela.

Questionado sobre a relação dos jovens com os profissionais do CUCA, o

jovem responde que, “nós temos voz, podemos dar opinião nas atividades, isso é

interessante. Porém, nem todos os professores, aplicam essa técnica no seu

trabalho.”.

As ações dos profissionais poderão repercutir na compreensão dos

alunos, naquilo que tange aos objetivos das atividades propostas pelo Centro. Como

o jovem relata que a maioria dos professores não os escuta, portanto o trabalho de

fomentar a participação se torna perdido.

Indagado sobre a construção da cidadania através dos ensinamentos do

esporte, o jovem responde que, “ser cidadão é agir com o todo para melhoria de sua

região.” Como cidadania é uma das categorias desta pesquisa, a pesquisadora ficou

surpresa com a definição dada pelo jovem, pois estes conceitos não são trabalhados

de maneira explícita pela instituição, este é um conceito formulado pelo próprio

jovem, com base em suas experiências. A construção da cidadania através do

esporte pode ser entendida justamente dessa forma, em que se trabalha o coletivo

em prol dos demais.

A partir das falas do entrevistado, pode-se destacar seu interesse nos

esportes, tanto como praticante, como monitor/professor, o mesmo se sente

prejudicado por não ter a devida atenção dos professores, não só como um

sentimento individual, mas pensando no coletivo.

O jovem também relata que sente a liberdade no CUCA. Lá, ele pode

ensaiar com seus amigos, sem precisar se preocupar com o volume da música,

literalmente, eles podem fazer barulho sem incomodar. O CUCA proporciona a eles,

um espaço de interação, lógico que também existem as regras, horários, mas isso

tudo é relevante quando se pode expressar aquilo que se mais gosta de fazer.

Quando indagado a respeito da nota que este daria ao CUCA, o mesmo

respondeu que daria nota 8 (oito), pois o espaço é maravilhoso, mas que os

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professores deixam um pouco a desejar, no quesito atenção. São poucos os que

sabem lidar diretamente com o jovem.

Pôde-se notar que o esporte surgiu na vida do entrevistado, tanto como

paixão, como estética. O esporte lhe proporcionou o bem-estar e um melhor

condicionamento físico, bem como, proporciona-lhe a vontade de se tornar um

profissional da área e poder repassar aquilo que se aprendeu para os outros.

O esporte lhe proporciona a interação com os demais, faz-lhe perceber o

que é ser cidadão, pois, como disse o mesmo, ser cidadão é agir com o todo para a

melhoria da sua região. Ou seja, o esporte oferece valores que vão além do âmbito

físico, adentram ao campo do social, e mistura-se com as mais diversas práticas

oferecidas pela instituição.

O esporte representa para estes jovens, uma melhoria, uma liberdade, um

conhecimento, uma oportunidade. O esporte expressa bem mais do que se pode

ver, ele representa desejos e anseios. A partir dele, vários jovens conseguem

ascensão social, tornam-se profissionais, porém, além do seu lado otimizado,

também existem os aspectos negativos, que podem estar atrelados ao mau uso das

práticas esportivas.

No tópico seguinte, a presente pesquisa abordará os efeitos negativos do

esporte moderno e os meios que o fazem. Tendo como base o livro de Manoel

Tubino (2011), Dimensões Sociais do Esporte.

4.3 Os aspectos sociais negativos do esporte moderno

O esporte tanto possui o seu viés social e humanista, como possui o seu

lado duro e desumano. Este tópico pretende trazer aos leitores os aspectos

negativos do esporte moderno, através de exemplos do cotidiano. Fatos estes que

ocorrem principalmente associados ao esporte de rendimento.

Eventualmente, depara-se com notícias tristes associadas ao esporte,

sejam elas em jornais, telejornais, programas de televisão, ou mesmo nas redes

sociais. Segundo notícia do portal G1, ainda no ano de 2014, pode-se destacar, o

caso dos meninos do Estado do Ceará, que caíram no conto do “olheiro”14 e foram

14

Segundo matéria do site Olheiro digital, o olheiro tem como função: Captar, revelar e realocar talentos novos e já existentes no mercado esportivo de forma prática e rentável. Visão: Tornar-se referência na captação e prospecção de atletas no mercado nacional. Valores: Transparência na forma de trabalho. Preocupação com o bem estar do atleta. Foco e agilidade em soluções ao afiliado.

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levados para outro Estado com promessas de se tornarem grandes jogadores

profissionais.

Depois dos familiares desembolsarem o que não tinham para esse feito, ao

chegarem ao local, os meninos se depararam com situações precárias de higiene,

alimentação e moradia, até a cidade de destino era diferente daquela prometida pelo

olheiro, eles sofreram maus-tratos, abuso sexual, ficaram sem comer e muitos eram

crianças sem a menor oportunidade de defesa. Esse é apenas um dos exemplos.

Pode-se citar um fato ocorrido no interior da cidade de Natal. Segundo

notícia do blog Esporte no Ar, divulgada no ano de 2013, um “falso olheiro” realizava

peneiras15 em vários Estados do Brasil, cobrando dinheiro e se passando por

observador técnico de um time da mesma cidade. Enganava as famílias e fazia com

que os jovens atletas gastassem muito dinheiro para se deslocarem de sua cidade

até a cidade de Natal. O falso olheiro utilizava as redes sociais para atrair as vítimas.

Com isso, pode-se perceber que algumas pessoas utilizam o esporte e os sonhos

que são construídos a partir dele apenas para explorar, enganar e lucrar.

Segundo Tubino (2011, p.44), “o esporte é caracterizado pela maneira que

é usado, a partir disso, o seu lado positivo ou negativo aflorará, ou seja, é o seu mau

uso que lhe coloca em uma posição desconfortável.”

Por possuir suas particularidades, o esporte proporciona grandes

fantasias, na verdade, grande alucinação como bem se observa anteriormente. Por

meio dessa prática negativa, famílias fazem de tudo, abrem mão até do que não

podem para tornar um filho atleta, assim continuam a ocorrer os casos de “falsos

olheiros” e “falsas peneiras”, que prometem o céu, mas, na verdade, proporcionam o

inferno para diversas famílias. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

[…] O esporte, pelas suas particularidades e pelo fascínio que envolve e provoca, permite muitas vezes um mal (SIC) uso de suas possibilidades de conteúdo, paradoxalmente, com as finalidades e até dos discursos de sua promoção como um dos melhores meios de convivência humana. Isto explica que os efeitos sociais negativos do esporte são, na verdade utilizações tendenciosas do fenômeno esportivo. (TUBINO, 2011, p.44)

Diante disso, o referido autor lista 5 (cinco) efeitos sociais negativos do

esporte moderno: a reprodução compulsória do esporte-performance na educação;

15

Segundo matéria do site do São Paulo Esporte Clube, as peneiras são conhecidas no mundo inteiro por descobridor e formar talentos. É com essa finalidade que existe o setor de Avaliações Técnicas das Categorias de Base, que vem sendo referência no que diz respeito à avaliação e captação de novo atletas. O setor tem como principal objetivo avaliar jovens dos 14 aos 17 anos, no que diz respeito às suas capacidades gerais, buscando, dessa forma, encontrar jovens com grande potencial a ser desenvolvido.

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as violências do esporte-performance; a discriminação contra a mulher no esporte; o

uso ideológico político do esporte e a preponderância da lógica do mercantilismo no

esporte. A articulação com as ideias desse autor foi escolhida para discutir os

aspectos negativos do esporte, pois ele elucida o esporte em suas três áreas de

atuação: educacional, rendimento e participação, do mesmo modo que analisa, de

maneira precisa, esses aspectos no esporte moderno.

Efeitos estes, que adentram o campo social como um todo, na educação,

na segurança, na discriminação de gênero, no uso ideológico e político, no

mercantilismo. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

a) a reprodução compulsória do esporte – performance na educação: o apelo do esporte-performance ou de rendimento, através dos meios de comunicação de massa, principalmente da televisão, levam os dirigentes educacionais de um modo geral a desconhecer a magnitude da utilidade pedagógica do esporte como meio de educação. (TUBINO, 2011, p.45)

Outra questão bastante recorrente é a violência no esporte-performance,

pois é a manifestação negativa mais conhecida do esporte.16 Na mídia em geral, é

recorrente deparar-se com notícias sobre esse tipo de violência. A demanda é tão

crescente que o Jornal Estadão online possui um tópico específico, que contém

apenas matérias sobre violência no esporte.17 Seja ela dentro ou fora dos estádios

ou ginásios, violências que perpassam as agressões físicas. Recentemente, tiveram

vários casos de racismo18 nos campos de futebol, tanto por parte da torcida, como

por parte de alguns jogadores.

Analisando os fatos e os exemplos, percebe-se que essa violência não

ocorre de maneira velada, ela acontece de maneira bastante evidente, sendo essa

prática considerada, na maioria das vezes, normal por torcidas organizadas19, que

associam a violência ao amor pelo time. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

[...] as violências são tão numerosas no esporte-performance, que se pode afirmar que é nesta dimensão social do esporte que ocorreu o maior número de distorções. Comportamentos coletivos, como a moda, os pânicos, as

16

O mesmo Esporte que ajuda a propagar valores como amizade, companheirismo, cooperação, pode ser usado para difundir comportamentos violentos e eventos de erupção social. Segundo Prof. Angelo Vargas (CREF 000007-G/RJ), que comanda o Laboratório de Estudos do Comportamento Urbano (LECSU). “Nossos estudos trabalham com o desporto não só dentro do estádio, dentro do ginásio, como trabalha no entorno, sobretudo no comportamento social urbano”, explica o pesquisador, 2011. 17

Violência no Esporte, Jornal Estadão, São Paulo, 2014. 18

Blog Racismo no Esporte apresenta os casos emblemáticos de manifestações de racismo no esporte em todo Brasil, 2013. 19

Segundo matéria de Rodrigo Vessoni ao site Lance Net, a violência das torcidas organizadas já matou mais de 234 pessoas, sendo 30 delas só no ano de 2013. Sendo estas nomeadas pelo jornalista como facções uniformizadas, 2013.

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massas, a opinião pública, e os outros, são ingredientes utilizados nas ações negativas de aproveitamento do esporte. (TUBINO, 2011, p. 46)

Essas práticas de violência ocorrem constantemente, as violências não se

detêm apenas a agressões físicas, elas abrangem outras áreas como: a

discriminação, os crimes contra o patrimônio público, seja ele material ou financeiro.

Porém, nenhuma medida preventiva ou mesmo punitiva é tomada para sanar essas

práticas. As organizações, os dirigentes ou o Estado pouco parecem se importar

com esse fenômeno. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

A violência nos espetáculos esportivos entre os espectadores [...] além das violências físicas, constatáveis pelas tragédias e conflitos consequentes, também existem as violências simbólicas e verbais, presentes com muita frequência, e que, entretanto, não chegam a emocionar os dirigentes, a ponto de propor medidas. (TUBINO, 2011, p.46-47)

Os casos de suborno e doping também são pautados como forma de

violência e se tornaram tão costumeiros, que são equivalentes a práticas normais do

esporte. Conforme expressa Tubino (2011):

Interessante dizer que o esporte de rendimento ou performance, quando politicamente vai deixando de se constituir num uso político-ideológico, em vez de recrudescer a utilização de meios ilícitos para a obtenção das vitórias, continua no mesmo nível de busca destes meios nefastos de sucesso, e em alguns casos cresce quantitativamente e até “qualitativamente”. O doping é considerado, no mundo esportivo de hoje, a forma mais grave de violência existente. Ele inverte o resultado esportivo eminente, e atinge biologicamente o pseudovencedor, isto é, o seu usuário direto. (TUBINO, 2011, p.48)

As forças de trabalho escravizadas nas propriedades esportivas se

tornaram hábito no esporte moderno, os atletas trabalham em verdadeiros feudos

esportivos para garantir seu sustento. Conforme expressa Tubino (2011):

[…] esta situação no esporte profissional foi agravada, historicamente pela desorganização das categorias profissionais, o que conjunturou um quadro em que os atletas são explorados pelas imposições regulamentares e pela dependência escravagista a instituições (clubes e entidades dirigentes) e até pessoas (empresários). (TUBINO, 2011, p.49)

Outra questão atrelada à força esportiva escravizada e ao limite biológico

dos atletas é que eles não estão aptos a serem atletas pela eternidade, uma hora os

corpos não respondem mais aos estímulos do cérebro, e ser primeiro lugar requer

um esforço tão grande, que, muitas vezes, o corpo chega a sucumbir. Fato este

bastante complicado, pois a maioria tem o esporte como ofício, e quando se

deparam com essa situação, tudo fica mais complicado. Dessa maneira, expressa

Tubino (2011):

O encerramento prematuro da carreira esportiva atlética e a grande solicitação de horas de treino durante o período de práticas, impedindo quase

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sempre que os atletas possam frequentar outras formações ou ter outras experiências profissionais, impede frequentemente uma mobilidade social, e, muitas vezes, até agravam a situação socioeconômica dessas pessoas. (TUBINO, 2011, p.49)

A discriminação contra a mulher no esporte, ainda é um fator

preponderante, e também se configura como uma forma de violência,

ontologicamente falando. Desde os jogos da Grécia antiga, as mulheres eram

excluídas de qualquer competição até mesmo como espectadoras. Conforme

expressa Tubino (2011):

Desde os jogos Gregos, na antiguidade, a mulher é socialmente discriminada no esporte. Nos jogos olímpicos da antiga Grécia, a mulher não podia nem assistir às competições. Isso gerou uma reação, fazendo com que existam modalidades esportivas somente para prática feminina, discriminando o sexo masculino, é o caso da ginástica rítmica desportiva e da natação sincronizada. (TUBINO, 2011, p.49)

O uso político-ideológico do esporte também é um fator extremamente

relevante, presente na história desde os jogos olímpicos. Manifestações já ocorriam

em 1936, ano que Berlim capital da Alemanha sediaria os jogos, época do clamor da

segunda Guerra Mundial. Vinte anos antes, os jogos seriam sediados nessa mesma

capital, mas foram cancelados devido à Primeira Guerra Mundial. Conforme

expressa Tubino (2011):

[...] a primeira grande manifestação de utilização do esporte como meio ideológico-político foi a de Hitler durante os jogos olímpicos de 1936. Foi construída toda uma estrutura que permitisse a demonstração para o mundo da supremacia dos alemães arianos sobre os demais povos e raças. (TUBINO, 2011, p. 51)

Entretanto as manifestações de violência e discriminação não poderiam

ficar de fora desse grande espetáculo, vários atletas negros foram hostilizados pelas

torcidas e pelo próprio ditador Adolf Hitler. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

No entanto, as vitórias do negro norte-americano Jesse Owens, e a valorização destas conquistas derrotaram o ditador alemão nas suas intenções e ações torpes de uso do esporte. É interessante observar que os alemães (arianos) tiveram grandes vitórias, as quais permaneceram apagadas em virtude do sucesso de Owens. (TUBINO, 2011, p. 51)

A luta por poder continuou ainda mais forte e, com a Guerra Fria, a

disputa entre União Soviética, que entrou nos jogos apenas em 1952, e Estados

Unidos tomou mais força. Segundo Tubino (2011), “os Estados Unidos cresceram

geometricamente os seus orçamentos nas preparações esportivas das equipes

norte-americanas para competições internacionais, principalmente para as

Olimpíadas.”.

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Os Jogos Olímpicos foram utilizados como palcos de reprodução da

Guerra Fria, em uma luta entre os regimes capitalista e socialista. Esse palco trocou

a glória por medalhas pela honra, pelo poder. Dessa maneira, expressa Tubino

(2011, p.52): “Os jogos olímpicos passaram a constituir-se em mais um palco de

guerra fria, e o número de medalhas passou a ser entendido como um indicador de

supremacia do regime, na disputa entre capitalismo e socialismo.”.

Segundo publicação da Enciclopédia do Holocausto (2014): Enquanto

aconteciam os Jogos Olímpicos de Verão, a ditadura de Adolf Hitler camuflou seu

caráter racista e militarista. Ocultando sua agenda antissemita e seus planos de

expansão territorial, o regime explorou os Jogos para impressionar os espectadores

e jornalistas estrangeiros com a imagem de uma Alemanha pacífica e tolerante.

Como se pode observar, o esporte foi e ainda é utilizado como ferramenta

ideológica. Porém, muitos atrelam sua maior utilidade ao lucro. Segundo Tubino

(2011, p.52): “o esporte foi uma ferramenta ideológica durante muito tempo, [...]. Por

outro lado, os esportistas socialistas pertencentes à intelectualidade mundial do

esporte acusam o capitalismo pelo uso do fenômeno como apenas uma fonte de

lucro.”.

Com o aumento de seu alcance o esporte passou a ser mais valorizado e

difundido de maneira mais popular, o que consequentemente proporciona o aumento

do lucro dos investidores e, por conseguinte a alienação ideológica causada por este

fenômeno. Segundo Tubino (2011, p.52), “Quando o esporte, […] aumentou sua

abrangência, [...] a prática esportiva por massas populares e por escolares, em

perspectivas diferentes, continuaram a permitir as intoxicações ideológicas.”.

O direito à prática esportiva envolveu diversos atores e grupos sociais,

esse direito traz para sociedade uma conquista, que poderá ofertar atividades

inclusivas, que envolvam a construção da cidadania e as práticas de lazer. Levando

a caminhos mais democráticos em defesa aos usos ideológicos e políticos.

Conforme expressa Tubino (2011):

Entretanto, a conquista ao direito à prática esportiva pelos grupos sociais populares, no esporte-participação, e das crianças, de utilizarem a riqueza cultural do conteúdo do esporte para a formação da cidadania, passaram a conduzir os envolvidos nos fatos esportivos a caminhos democráticos, aumentando as defesas contra os seus usos políticos. (TUBINO, 2011. P. 52)

Com o aumento das defesas ao uso ideológico e político do fenômeno

esportivo, o esporte de rendimento foi notado pelo lado mercantilista, passando a ser

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visto como um negócio e respondendo de maneira bastante lucrativa ao

empresariado. Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.53): “No esporte de

rendimento, a chegada de forma inequívoca dos interesses mercantis ao esporte,

praticamente, inauguram um novo processo, agora voltado para o negócio, anulando

pouco a pouco as influências ideológico-políticas.”.

Chega-se ao quinto efeito social negativo do esporte moderno listado por

Tubino (2011), a preponderância da lógica do mercantilismo no esporte: a chegada

definitiva da televisão, encurtando as distâncias no mundo e modificando

radicalmente o elenco de hábitos dos habitantes do planeta também provocou

profundas mudanças no processo esportivo. Uma das mudanças mais visíveis foi a

substituição gradual do uso ideológico-político do esporte pela utilização comercial.

Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

[…] o número de medalhas esportivas olímpicas e os sucessos esportivos eram contados como provas de superioridade ideológica ou de regime político. Agora o uso político-ideológico do fenômeno esportivo está sendo substituído por um novo paradigma, o do esporte como negócio, surge um novo conflito social, de difícil tratamento, que é confronto direto entre a lógica do mercantilismo e os valores do esporte. (TUBINO, 2011, p.53-54)

Tendo em vista o esporte como fenômeno, podem-se destacar os grandes

espetáculos e tudo aquilo que está relacionado a estas práticas, como consequência

disso, Tubino (2011) destaca um fator. Definham modalidades clássicas, que não

provocam espetáculos para a televisão, ou que não prometem lucros em suas

disputas. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

Por outro lado, cresce o número de modalidades relacionadas com mais risco de morte (ralis, automobilismo, motociclismo, bicicross etc.), e, consequentemente, despertam mais interesse com o espetáculo de televisão. Também cresce a quantidade de novas modalidades desportivas de relação com a natureza e que exigem aparelhos de fabricação industrial (voo livre, surfe, esqueite[SIC] etc... (TUBINO, 2011, p.54)

Além da indústria esportiva existente relacionada diretamente aos

equipamentos esportivos, também se pode perceber o grande aumento de

competições com o formato de circuito, estratégia esta que permite aos

patrocinadores a divulgação maior de suas marcas, pois as competições ocorrem

em cidades, ou até países distintos, englobando uma gama de possíveis clientes.

Dessa maneira, conforme expressa Tubino (2011):

Nas formas de competição, passam a dominar os circuitos, para que os produtos de patrocínio possam parecer mais vezes. Já existem até aqueles críticos e estudiosos do fenômeno esportivo que afirmam que o esporte virou grande espetáculo de televisão. É evidente ainda que exista todo um

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processo de imitação deste esporte-espetáculo, de alto nível e de grandes espetáculos, para a prática popular. (TUBINO, 2011, pp.54-55)

Todos os dias, assiste-se a este fenômeno sem ao menos perceber o

quanto ele é pertencente ao nosso cotidiano, vários programas de rádio e televisão,

disponibilizam dias e horários específicos dedicados a notícias do esporte. A

sociedade é engolida por essa ideologia, novas modalidades e novos modismos

surgem a cada momento, hoje, ter-se-á o espetáculo da ginástica localizada,

amanhã o espetáculo da ginástica funcional, depois de amanhã, ter-se-á o crossfit.

Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.55): “Deve-se também dizer que esta

lógica do mercantilismo introduzida efetivamente no esporte, principalmente pelo

maior chamamento do espetáculo esportivo, é também uma manifestação do mundo

atual de sociedades de massas.”.

O esporte envolve muito mais do que uma simples prática de bem-estar, o

esporte envolve o lado econômico-material, envolve a mão de obra dos atletas,

treinadores, e outros profissionais que fazem parte desse fenômeno. O esporte

envolve todos em um negócio bastante lucrativo, que pode tornar-se uma ferramenta

de alienação da sociedade. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

Nesta perspectiva, este esporte-negócio envolve uma pedagogia da superação para seus praticantes, levando no seu conteúdo um fenômeno reconhecido como agressividade esportiva. Os estudiosos marxistas do assunto reconhecem o esporte moderno, por tudo isso, como uma diversão alienante, por atuar como sucedâneo das massas que não têm acesso às práticas esportivas. (TUBINO, 2011, p. 55)

Por outro lado, tendem as surgir opiniões diversas, segundo Tubino

(2011), estudiosos capitalistas se contrapõem, dizendo que a todos os assistentes

de um determinado espetáculo esportivo está aberta a possibilidade de prática

esportiva, apenas em nível diferenciado. Dessa maneira, expressa Tubino (2011):

Existem ainda aqueles que acusam o espetáculo esportivo de catalizar frustrações inconscientes e alienantes. É muito difícil a aceitação deste posicionamento, pois seria o equivalente a aceitar a mesma premissa para qualquer espetáculo que promova talentos em qualquer manifestação humana, o que de fato, torna este tipo de análise de certa forma preconceituosa e tendenciosa. (TUBINO, 2011, p. 55)

Pode-se analisar que a partir desses conceitos, o esporte sendo um

processo social, passa por limites e possibilidades como todo e qualquer outro na

sociedade. Segundo Tubino (2011), em qualquer processo social, o esporte é um

processo social, é exigida uma visão mais profunda de sociedade, bem como dos

seus mecanismos de controle social. Dessa maneira, expressa Tubino (2011, p.58):

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“A prática esportiva, como prática social, precisa ser entendida com a percepção de

que cabe à sociedade, como processo social articulador de várias atividades sociais,

desenvolver-se numa estrutura social articulada.”.

Para isso, surge o famoso espírito esportivo, segundo Tubino (2011), a

aproximação e o equilíbrio entre a atitude ética e a atitude esportiva teriam como

resultante a formação do chamado espírito esportivo.

Espírito este que não se consolida somente através do jogo limpo e do

respeito, mas através da afirmação de alguns fatores, como: a consolidação do

conceito de homo sportivus, que, segundo Tubino (2011), há a aceitação, nas

nações, de que a prática esportiva constitui-se num direito inalienável do ser

humano e a revisão do papel do Estado na questão social do esporte.

Outra questão, segundo Tubino (2011), é a relativização do esporte com a

natureza e o lazer, que começa a surgir uma discussão sobre o ponto de saturação

dos locais naturais de competição. O excesso de competições esportivas, de uma

mesma modalidade ou de diversas, somando à afluência de espectadores, têm

provocado ações poluidoras paralelas de várias formas, criando um constrangimento

social naqueles que têm consciência do problema.

A aproximação do fenômeno esportivo com as práticas corporais de

expressão, segundo Tubino (2011), a busca de situações esportivas, a

impossibilidade da maioria das pessoas em apresentar talento para modalidades

esportivas de solicitação física complexa, a influência da mídia, a plasticidade, os

espetáculos e outros fatores levaram a práticas com a dança (ginástica) aeróbica,

dança, ginástica de jazz, e outras a serem utilizadas como modalidades esportivas.

Conforme expressa Tubino (2011):

Isto quer dizer, em outras palavras, que o início dos gostos esportivos ocorre a partir da acomodação das estruturas das práticas esportivas, que compreendem uma diferença sexual no interior da diferença social. Finalmente, estes autores ainda reconhecem que a demanda social na prática do esporte depende dos fatores sociológicos, econômicos, técnicos e individuais. (TUBINO, 2011, p. 68)

Surge o novo papel do Estado diante do esporte, segundo Tubino (2011),

pois até os anos de 1930, o esporte era autogovernado pelo Estado, através de

inferências, financiamentos e legislações. No que tange à relação Estado-Esporte-

Sociedade, podemos destacar, conforme expressa Tubino (2011):

a) a responsabilidade social do Estado de fomentar as manifestações esporte-eduação e esporte-participação; b) a responsabilidade social do Estado de normatizar a manifestação esporte-

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performance; c) a responsabilidade social do Estado de estimular o interesse de iniciativa privada para as questões do esporte, levando-a a uma corresponsabilidade; f) a responsabilidade social do Estado de desenvolver meios para intercâmbio internacional na área do esporte; g) a responsabilidade social do Estado diante do problema da violência nos palcos esportivos. (TUBINO, 2011, p. 70)

Os pontos destacados pelo autor são necessários para que se possa

entender o papel do Estado no esporte, sendo ele responsável por fomentar as

manifestações no esporte-educação e no esporte-participação, bem como

normatizando o esporte de rendimento, através de campeonatos, podendo ser estas

competições de alto rendimento ou não, existindo inclusive os jogos e as olimpíadas

escolares, os jogos universitários que fomentam o esporte-educação, o dia D20, as

ações globais, que fomentam o esporte-participação.

A responsabilidade do Estado de estimular o interesse de iniciativa

privada, gerando a corresponsabilidade. Pode ser observada através das

legislações, como exemplo, a lei de incentivo ao esporte (Lei nº 11.472, de 2 de maio

de 2007), que possibilita pessoas físicas e jurídicas a contribuir com o esporte,

sendo este valor deduzido em seu imposto de renda.

O problema da violência nos palcos esportivos é um fenômeno, que não

precisa de grandes esforços para ser notado, as arenas de esportes se tornaram

palco de grandes guerras, de torcidas organizadas, fenômeno este que não ocorre

somente no Brasil, alguns países possuem leis específicas que punem esses

“torcedores”, sendo eles banidos do espetáculo, a fim de assegurar a integridade de

outras pessoas e do local.

O Estado também tem a responsabilidade social de desenvolver meios

para intercâmbio internacional nesta área, podendo citar como exemplo; as

escolinhas de futebol do exterior que montam centros de treinamentos no país para

revelar novos atletas, os treinadores especialistas de outras nacionalidades que são

lotados em determinadas modalidades a fim de aprimorar o treinamento dos atletas.

Por meio destes, pode-se perceber que o esporte não é apenas uma

atividade física, este perpassa por várias dimensões sociais, fazendo-se necessário

analisá-lo como um processo social. O papel do Estado sempre foi de fundamental

20

É uma campanha mundial de incentivo à prática regular de atividades físicas em benefício da saúde e do bem-estar, realizada por meio de ações das comunidades. Os vencedores são os cidadãos que, além do corpo, exercitam a integração, a criatividade, a liderança e o espírito comunitário.

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importância para este processo, portanto interessante seria se este regulamentasse,

fomentasse e oferecesse de maneira mais ampla o acesso a tal serviço. Sendo ele

disponibilizado de forma mais igualitária, com maior qualidade, tanto para os atletas,

como para os demais profissionais que estão ligados a esta área.

As dimensões abordadas durante a pesquisa proporcionaram a

pesquisadora a entender de fato o esporte em sua gênese e as suas mais diversas

variações, o esporte educacional, de participação e de rendimento atuam de maneira

articulada e se complementam.

O local escolhido para a pesquisa aborda o esporte nessas três

dimensões, o que possibilitou à pesquisadora uma vivência rica durante a

construção deste trabalho. A pesquisa bibliográfica também proporcionou um

aprofundamento no tema escolhido junto às entrevistas que ofereceram o real

alcance das indagações, que existiam anteriormente à pesquisa.

Como se vê, o esporte possui o seu lado negativo, a partir dele

fenômenos de proporção mundial surgiram, e, na maioria das vezes, estes parecem

incontroláveis, praticar um esporte por, muitas vezes, não é apenas diversão, muitos

o tem como profissão e são obrigados a se submeter a tratamentos degradantes por

conta dele. Porém, o seu lado social e inclusivo ainda prevalece, e é por ele que

esta pesquisa foi realizada.

Entretanto, a pesquisadora afirma que as indagações anteriores a este

trabalho foram todas sanadas, porém um novo leque de informações e perguntas

veio à mente, podendo dizer que há uma melhor compreensão da função social do

esporte, mas que muito ainda precisa ser feito para que essa função seja realmente

concretizada, os projetos, os programas e as instituições existentes trabalham de

modo superficial, sem aprofundamento na temática, o que acarreta em diversos

erros.

Durante as falas do jovem entrevistado, a pesquisadora pôde perceber o

descontentamento e a superficialidade daquilo que é aprendido na instituição, os

meios existem, porém eles são utilizados de maneira equivocada. Os profissionais

trabalham em modo de competição, alguns tentam mudar a situação, outros poucos

se importam. O mais prejudicado em toda essa história é o jovem.

Portanto, conclui-se que este capítulo registra toda a pesquisa de modo a

difundir mais a área, que também é um espaço sócio ocupacional de nossa

profissão, pretendendo também, com este trabalho, dar continuidade a essa linha de

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pesquisa e, assim, poder enriquecer ainda mais os conhecimentos sobre a área,

pois, a partir do campo, a pesquisadora teve o prazer de analisar os olhares de

dentro para fora, de jovens e profissionais que estão inseridos em um ambiente

repleto de experiências.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude da análise realizada, durante a pesquisa, pôde-se perceber

que tornar o jovem escritor de sua história é um dos trabalhos mais importantes a se

fazer. Os saberes desenvolvidos de modo individual e coletivo contribuem bastante

para a construção da cidadania, pois todos devem se apropriar dos seus direitos e

deveres. A inclusão social também pode ser observada nas atividades propostas

pelo CUCA, porém ambas ainda apresentam valores confusos e às vezes

desnorteadores.

A relação com o jovem requer exemplificações e um acompanhamento

mais eficaz, o que, para a pesquisadora, ainda está em falta nas atividades na

instituição. Com a falta de compromisso dos profissionais com os alunos e com o

seu fazer profissional, com a falta de normas e objetivos claros das atividades, com

as rivalidades por promoção, com a negligência em atividades que estão em

execução e acabam por se perder no meio do caminho por conta de vaidades

profissionais.

Entretanto, ficou-se ciente de que o esporte não resolverá todas as

questões conflituosas que envolvem a juventude, contudo, ele poderá proporcionar

ao jovem uma nova visão, quando é trabalhado nessa perspectiva. Porém, a partir

das falas, a pesquisadora não percebeu de maneira tão eficiente esse trabalho, a

instituição ainda trabalha na perspectiva do lazer, de apenas preencher as horas

ociosas dos jovens, a monitoria é o único projeto que poderá trazer ao jovem uma

continuidade dentro da instituição e o mesmo parece não ser amplamente aplicado.

As dimensões do esporte trabalhadas com o jovem fazem parte de um

processo de formação, podendo este se tornar ou não um atleta, a pesquisadora

acredita que essas dimensões poderiam ser aplicadas de maneira mais integral,

reforçando as ideias de afinidade, desempenho e vocação. Cada jovem deveria ser

melhor acompanhado e orientado naquilo que poderá ser sua perspectiva de futuro.

Em relação àquilo que é válido indicar, percebe-se que o esporte, na

experiência do CUCA, parece trabalhar os dois lados, tanto na dimensão individual,

como as particularidades, as afinidades e o desempenho de cada atleta, bem como,

a dimensão coletiva, junto ao trabalho em equipe, o companheirismo, o

compartilhamento, a participação, pois quando se fala em esporte de grupo, sabe-se

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que um time composto apenas por um único jogador, dificilmente, conseguirá o

êxito.

Nessa perspectiva, pode-se perceber que as categorias abordadas nesta

pesquisa se complementam e traduzem o objetivo principal da pesquisa, que é de

compreender a relevância social do esporte, pois, quando se trabalha de modo

articulado com o coletivo, os resultados se tornam mais palpáveis.

Destacando o trabalho de inclusão social e cidadania realizados pelo

Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA), fazendo relação com as

áreas profissionais atuantes no Centro e a profissão de Serviço Social, pode-se

relatar que o esporte pode ser trabalhado em conjunto com as demais áreas

profissionais do CUCA e, para isso, a nossa profissão também poderá se apropriar

desta área.

Como se vê nesta análise, o esporte é uma ferramenta de inclusão social,

construção da cidadania, de protagonismo e de participação. O jovem necessita

desse incentivo, a sociedade como um todo pode e deve ser transformada através

de pequenas ações comunitárias. O jovem deve se sentir participante, deve

compreender o ambiente como uma oportunidade de desenvolvimento social, para

isso, precisa de acompanhamento e orientações objetivas.

Durante as entrevistas e a vivência no campo, os entrevistados

demonstraram a real importância do esporte e do modo como este pode ser utilizado

para além dos aspectos físicos. As indagações desta pesquisa foram totalmente

esclarecidas, a pesquisadora percebeu que o esporte não é apenas o esporte

isoladamente, ele envolve uma trama de fatores, que se interligam e perpassam os

estigmas da competitividade, podendo até dizer que isso é o que menos importa. Na

verdade, o que ele proporciona é uma visão de futuro, é um sentimento de

autonomia, de poder alcançar os objetivos, de se superar, não porque se deseje o

melhor, embora isso também seja levado em consideração numa competição

profissional, mas porque simplesmente se abre um campo de possibilidades para

relacionar-se com outras pessoas, respeitar e ser respeitado, desde que se esforce

o bastante.

Porém, podem-se destacar também os aspectos negativos encontrados

na instituição abordada pela pesquisa, tomando por base a fala do jovem

entrevistado, percebe-se a falta de interesse dos profissionais do Centro para com

os jovens, pois o entrevistado relata que a relação professor e aluno seria um ponto

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importante a melhorar no local.

Analisando as falas dos profissionais entrevistados, também se pode

perceber a falta de regras e limites para com os jovens, a única maneira de

organizar as atividades seria a frequência, que para a pesquisadora não proporciona

um contato direto e especifico com as normas que deveriam ser trabalhadas pela

instituição como, por exemplo: a instituição poderia fazer uma atividade de iniciação

para todos aqueles que ingressem no CUCA, apresentando, de maneira bem

ilustrativa e lúdica, as regras e as normas gerais da instituição, abrindo espaço para

o jovem propor idéias novas, já que sua proposta seria de promover no jovem sua

autonomia, fazendo com que se sensibilize para a realidade em que vive e as regras

existentes na instituição de uma maneira não repressiva.

Outro fator importante é os limites de organização das atividades da

instituição, sendo a frequência a única maneira de estruturar as atividades, os jovens

possuem uma falsa noção de liberdade, que, para um dos entrevistados, seria um

ponto positivo. Para a pesquisadora, essa noção de liberdade empregada pela

instituição exibe falhas em partes, uma delas seria o fato desse controle se tornar

ineficaz, pois o jovem possui livre acesso às atividades, sem lhe ser exigido nada,

apenas que cumpra a frequência, caso o mesmo atinja ao limite de três faltas

injustificadas, ele perderá a vaga, porém poderá se matricular logo em seguida, o

que para a pesquisadora gera certa falta de compromisso com os demais alunos e

profissionais.

Outra ação, que para a pesquisadora vai totalmente de encontro com o

conceito de formação proposto pela instituição, é o fato de não haver pré-requisitos

para se matricular nas atividades, o único existente seria o interessado se enquadrar

na idade entre 15 e 29 anos, que compreende a faixa etária da juventude. Em

alguns casos é aberta a exceção para alunos que não se enquadram nessa faixa

etária participarem das atividades, esse ponto pode parecer positivo, mas a falta de

requisitos para além da idade para a pesquisadora é um erro que compromete as

atividades, pois o equipamento foi criado para a juventude e visa manter essa

proposta, se a instituição começa a abrir exceções o serviço perde a sua principal

característica.

Diante disto, com base nos fatos exposto anteriormente, de acordo com

as entrevistas, os profissionais relatam que buscam relacionar o esporte ou outras

atividades e, como consequência, as regras da instituição seriam apresentadas por

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outros alunos no decorrer dessas atividades, porém, na maioria das vezes, este

seria o primeiro contato com normas e regras que estes jovens teriam. Sendo esta

uma dificuldade inicial, esse campo deveria ser melhor trabalhado e as atividades

elaboradas de maneira mais eficiente.

Durante as entrevistas, deparou-se com a maneira de organização das

atividades que, segundo um dos profissionais entrevistados, traz ao jovem uma

“noção de liberdade” que seria um ponto positivo, pois não restringe sua entrada ou

sua saída. O que diverge da ideia da noção de liberdade empregada pela maneira

de organizar as ações do local. Ou seja, se o CUCA pretende realizar um trabalho

de formação, as normas propostas por ele devem ser mais claras e objetivas, assim

o jovem poderá compreender melhor as relações presentes na instituição.

Outro ponto relevante, destacando a falta de normas claras e a falta de

proximidade professor-aluno, é a fala do jovem entrevistado, que enxerga o esporte

apenas como uma atividade de lazer, bem-estar e melhoramento físico. Ou seja, a

“formação” proposta pela instituição ficou totalmente em segundo plano. O jovem vê

o esporte unicamente como uma atividade lúdica, não demonstrando, pelo menos

durante a entrevista, que esteja apreendendo através dele qualquer outro valor.

Para a pesquisadora, o sentimento de missão cumprida surge com a

construção dessa pesquisa, com a ida ao campo, com a escuta dos protagonistas

dessa história. Este trabalho é dedicado a essas pessoas, que estão todos os dias

na ponta, se empenhando ao máximo para mudar a vida de pelo menos um destes

jovens, para torná-los confiantes, para fazê-los acreditar em si.

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APÊNDICE I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE Caro (a) participante,

Sou Rebeca Marques de Melo, aluna da Faculdade Cearense (FAC).

Estou desenvolvendo um estudo, que tem cujo objetivo compreender a dimensão

social do esporte para construção da cidadania e inclusão social dos jovens

atendidos pelo Centro Urbano de Cultura, Ciência e Esporte (CUCA).

Esclareço que entrevistaremos__________________________________

Neste sentido, estou solicitando sua contribuição nesse estudo.

Gostaria de deixar claro que essas informações são sigilosas, e

principalmente seu nome não será em nenhum momento divulgado. Caso se sinta

constrangido, envergonhado, durante essa nossa entrevista, você tem o direito de

pedir para interrompê-la, sem causar prejuízo.

Mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer motivo, durante o

andamento da pesquisa, resolver desistir, tem toda liberdade para retirar o seu

consentimento.

Dessa forma, gostaríamos de contar com a sua participação, permitindo

que realizemos entrevista e que possamos gravá-las para que nenhuma informação

seja perdida. Garantimos resguardar o seu anonimato, bem como o nome de

pessoas citadas na entrevista.

A pesquisa não trará risco a sua pessoa e você poderá desistir de

participar da mesma no momento em que decidir, sem que isso lhe acarrete

qualquer penalidade.

Diante disso, gostaria muito de poder contar com sua colaboração.

Atenciosamente,

_________________________________________________

Pesquisador

_________________________________________________

Entrevistado

Fortaleza, _____ de ___________________ de 2014.

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APÊNDICE II

Questionário/Profissional I Pesquisa de campo – Cuca Barra

Dados do entrevistado Nome: Formação: Cargo/Função: e-mail:

1. Há quanto tempo trabalha no CUCA? 2. Como é realizada a inclusão do jovem nas práticas esportivas? 3. Como é feito o trabalho de inclusão social através do esporte? 4. Qual esporte é o mais procurado? 5. Quais as modalidades oferecidas no CUCA? 6. Já tinha trabalhado com projetos sociais, se sim onde e como foi sua

experiência? 7. Quais são as mudanças que você como profissional observa nas crianças e

nos jovens quando iniciam a prática esportiva? 8. Quais são os principais problemas que esses jovens apresentam ao ingressar

no CUCA? 9. Quais as maiores dificuldades que o profissional enfrentam em orientar esses

jovens? 10. O índice de abandono ou desistência é considerável? 11. Desde que ano surgiu a necessidade de se inserir o esporte nos projetos do

CUCA e com qual finalidade ele se apresenta para o jovem? 12. Existem alguma formação para que esses jovens se tornem monitores? 13. O que é ensinado para este jovem através do esporte? Que lição se pode tirar

das práticas esportivas? 14. Quais comunidades são atendidas pelo CUCA? 15. Quantos jovens são atendidos pelo CUCA e qual faixa etária? 16. Existe algum pré-requisito para participar das atividades oferecidas pelo

CUCA, se sim quais são? 17. Existe alguma preocupação com a situação escolar do aluno do CUCA? 18. Os jovens participam de outras atividades, além do esporte?

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APÊNDICE III

Questionário/Profissional II Pesquisa de campo – Cuca Barra

Dados do entrevistado Nome: Função/Cargo: Formação: Email/Contato: 1. Há quanto tempo trabalha no CUCA?

2. Já tinha trabalhado com projetos/programas sociais, se sim onde, e como foi sua experiência?

3. Fale-me um pouco sobre o CUCA? 4. Na sua percepção, qual é o papel do educador social? 5. Quais diferenças você percebe no fazer profissional? 6. E o trabalho do educador o que você faz exatamente? 7. E o seu trabalho como educador dentro do comunidade? 8. O que o comunidade em pauta representa no CUCA? 9. O que mudou a partir do Comunidade em Pauta? 10. Como e quando se iniciou o comunidade em pauta, como ele funciona? 11. Quais as maiores dificuldades enfrentadas no espaço de trabalho? 12. Como se dá a relação educador/jovem no CUCA? 13. Como se dá o trabalho do educador social com os demais profissionais e

setores? 14. Como educador social, quais mudanças são percebidas nos jovens em curto,

médio e longo prazo? 15. Onde os jovens têm mais participação? 16. Quais foram as principais mudanças no decorrer desses cinco anos de

CUCA?

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APENDICE IV

Questionário/Jovem JOVEM Nome: Idade: Atividades que pratica: Tempo que participa das atividades do CUCA:

1. Como foi seu ingresso e acesso ao CUCA? 2. O que lhe motiva a participar das atividades do CUCA? 3. O que mudou em seu cotiano quando começou a participar das atividades do

CUCA? 4. Que nota você daria para o CUCA? Justifique a nota. 5. O que você mudaria ou melhoraria no CUCA? 6. Na sua opinião, quais atividades do CUCA lhe chamam mais atenção? 7. Você gostaria de praticar mais atividades no CUCA? Quais? 8. Antes de conhecer o CUCA, você já tinha participado de algo parecido? 9. Pra você o que é cidadania(ser cidadão)? 10. Você gostaria de se tornar um monitor na área dos esportes no CUCA, ou em

outra área? 11. Quais seus objetivos com a prática do esporte, ou de outras atividades? 12. O que o esporte representa na sua vida? 13. Como você se avalia antes e depois da pratica do esporte? 14. A partir da pratica do esporte, quais ensinamentos você pôde trazer para sua

vida? 15. Como é o relacionamento dos jovens com os profissionais do CUCA? Os

jovens têm voz, podem dar sua opinião nas atividades?

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ANEXO I Figura 1 - Artes Marciais (MMA)

Fonte: Prefeitura de Fortaleza

Figura 2 – Artes Marciais (Jiu-Jitsu)

Fonte: Prefeitura de Fortaleza

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ANEXO II

Figura 3 – Esportes de Quadra (Futsal)

Fonte: Prefeitura de Fortaleza

Figura 4 – Esportes de Quadra (Vôlei)

Fonte: Prefeitura de Fortaleza

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ANEXO III – DESTAQUE NO ESPORTE

Figura 5 – Atleta José Edson Vitorino de Souza

Fonte: Prefeitura de Fortaleza

José Edson Vitorino de Souza, 25 anos: Em 2011 venceu a competição

no duathlon (natação e corrida). Em 2012 deu inicio aos treinos de triathlon (natação,

corrida e pedalada). No ano de 2014, o jovem venceu a I Etapa do Campeonato

Cearense de Triathlon Olímpico.

Morador do bairro Vila Velha, Dudé envolveu-se com o crime organizado

na adolescência. Mas, em 2011, foi levado por um amigo ao Cuca Barra, onde

começou a praticar natação. “O Cuca Barra mudou a minha vida. Se eu não tivesse

entrado lá, certamente, já estaria morto. Só tenho a agradecer, aprendi tudo lá, até a

ser uma pessoa melhor, mais calma”, conta o jovem em entrevista.