CenÆrios para o leite no Brasil em 2020 - GitLab...Editores tØcnicos Marcelo Pereira de Carvalho...

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Editores tØcnicos Marcelo Pereira de Carvalho Paulo do Carmo Martins James Terence Coulter Wright Renata Giovinazzo Spers Juiz de Fora, MG 2007 CenÆrios para o leite no Brasil em 2020 CenÆrios para o leite no Brasil em 2020 CenÆrios para o leite no Brasil em 2020 CenÆrios para o leite no Brasil em 2020 CenÆrios para o leite no Brasil em 2020

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Editores técnicosMarcelo Pereira de Carvalho

Paulo do Carmo MartinsJames Terence Coulter Wright

Renata Giovinazzo Spers

Juiz de Fora, MG2007

Cenários para o leite no Brasil em 2020Cenários para o leite no Brasil em 2020Cenários para o leite no Brasil em 2020Cenários para o leite no Brasil em 2020Cenários para o leite no Brasil em 2020

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1a edição1a impressão (2007): 700 exemplares

© Embrapa 2007

Cenários para o leite no Brasil em 2020. / editores, Marcelo Pereira deCarvalho... [et al.]. � Juiz de Fora : Embrapa Gado de Leite, 2007.190 p.

Inclui bibliografia.ISBN 978-85-85748-96-8

1. Leite. 2. Economia. 3. Produção. 4. Cenários. I. Carvalho,Marcelo Pereira de. II. Martins, Paulo do Carmo. III. Wright, JamesTerence Coulter. IV. Spers, Renata Giovinazzo.

CDD 338.1

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Autores

Paulo do Carmo Martins, Economista, doutor em Economia Aplicada pela Esalq/USP, pesquisador da Embrapa Gado de Leite e Professor de Economia da FEA/UFJF. Foi Secretário de Agropecuária e Abastecimento da Prefeitura de Juiz deFora, de 1993 a 1996. Desde 2004, é Chefe-geral da Embrapa Gado de Leite. Étambém Secretário Executivo da Câmara Setorial de Lácteos do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento. É um dos formuladores do SimLeite,sistema que monitora preços de leite e derivados do produtor ao atacado.

Marcelo Pereira de Carvalho, Engenheiro Agrônomo, formado pela Esalq/USP,com mestrado em Ciência Animal e Pastagens. MBA Executivo Internacional pelaFundação Instituto de Administração � FIA, com participação em cursos degestão de empresas na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, na Escola deAdministração de Lyon, na França, e na Lingnan University, na China. É membrodo Comitê Assessor Externo (CAE) da Embrapa Gado de Leite. É sócio-diretor daAgriPoint, que opera os sites MilkPoint, BeefPoint, FarmPoint e CaféPoint, sendocoordenador do MilkPoint.

James Terence Coulter Wright, Engenheiro Civil formado pela UniversidadeMackenzie de São Paulo, em 1975, obteve o título de Mestre na VanderbiltUniversity, nos Estados Unidos, em 1982. É docente da FEA/USP e Vice-presiden-te da Comissão de Pós-Graduação do curso interunidades de PlanejamentoEnergético do Instituto de Eletrotécnica e Energia � IEE. É coordenador do MBAExecutivo Internacional e especialista na técnica Delphi de análise de cenários,tendo trabalhado com o governo brasileiro e empresas como Petrobras e Johnson& Johnson.

Renata Giovinazzo Spers, Coordenadora Adjunta da Fundação Instituto de Admi-nistração � FIA, com atuação em projetos de consultoria e pesquisas do Programade Estudos do Futuro. Doutora em Administração pela FEA-USP e aluna de douto-rado visitante da Universidade de Cambridge (2006), mestre em Administração eeconomista pela FEA/USP. Bolsista do Sylff � Sasakawa Young LeadersFellowship Fund (2006) e co-organizer do Comitê Organizador do Brazilian SylffAssociation. Professora Assistente do Programa MBA Executivo Internacional -FIA e professora de administração da Fundação Escola de Comércio ÁlvaresPenteado (2003 a 2005).

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Thereza Christina Pippa Rochelle, Engenheira Agrônoma, formada pela Esalq/USP, doutora em Economia Aplicada pelo Departamento de Economia, Adminis-tração e Sociologia (Deas) da Esalq/USP. Desenvolveu pesquisas/análises de mer-cado para a área de trading (cana-de-açúcar e suco de laranja), elaboração edocência de cursos à distância na área de mercados futuros e consultoria emdiversos projetos relacionados ao agronegócio, especialmente na área debiocombustíveis.

Aline Barrozo Ferro, Engenheira Agrônoma, formada pela Esalq/USP em 2005, éanalista de mercado de leite do site MilkPoint.

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O Projeto �Cenários para o Leite em 2020� procurou elaborar, através daparticipação de mais de uma centena de especialistas nas várias regiões do país eáreas de atuação dentro do segmento lácteo, possíveis cenários para o setornesta data, construídos a partir de uma extensa pesquisa realizada pela internet,utilizando a metodologia Delphi.

Esta pesquisa foi formulada com o intuito de captar, junto aos especialistas,suas percepções a respeito do futuro, em aspectos quantitativos e, fundamental-mente, qualitativos, que permitiram compreender e organizar o conhecimentocoletivo existente.

As perguntas, abertas ou fechadas, foram precedidas de um textocontextualizador, de forma a embasá-las e permitir situar a questão dentro de umcenário mais amplo de informações. Foram realizadas duas rodadas, sendo que,após a primeira rodada, os resultados foram compilados, tratados estatisticamen-te e reapresentados aos participantes, de forma a permitir a reflexão a respeitoda posição de cada um, que poderia ser alterada à luz dessas informações.

De posse do material decorrente da pesquisa, a equipe responsável pelo proje-to, envolvendo especialistas na metodologia de construção de cenários, além depessoas com grande conhecimento do setor leiteiro, formulou quatro cenáriospossíveis. É importante ressaltar que o objetivo do trabalho não é prever umcenário para a cadeia leiteira, mas sim formular possíveis alternativas futurasque, uma vez conhecidas, podem ser influenciadas desde o presente. Com isso, omaterial em questão oferece uma maneira eficiente de se refletir acerca dosdesdobramentos futuros em cada cenário e suas implicações, aperfeiçoando atomada de decisões dos agentes envolvidos com o setor no presente. Além disso,é oportuno esclarecer que, embora os cenários sejam factíveis, é evidentementepouco provável que qualquer um deles ocorra da forma exata como foram descri-tos. Na realidade, o mais provável é que haja, no desfecho real, elementos de umou de mais cenários aqui apresentados, o que não invalida o exercício e a contri-buição que o trabalho oferece para empresas, produtores, entidades setoriais,pesquisadores e formuladores de políticas públicas.

O primeiro cenário, �Crescimento continuado, mas heterogêneo�, pode serconsiderado o cenário tendencial, isto é, aquele que, no seu conjunto, o setorentende como mais provável, sendo resultado das forças atuantes e já conheci-

Sumário executivo

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das. Nele, o país aumenta a produção de acordo com taxas históricas e superioresao aumento do consumo, resultando em um superávit estrutural destinado aomercado externo. Permanece a tendência de concentração na produção e seintensifica a concentração na indústria. O setor mantém um nível de inovaçãosuficiente para desenvolver o mercado de forma competitiva e logra algum suces-so em iniciativas envolvendo sustentabilidade de longo prazo, como o marketinginstitucional. A qualidade da matéria-prima evolui, embora permaneça ainda algu-ma quantidade de leite sendo comercializada sob canais não oficiais, especialmen-te em regiões de fronteira. Neste cenário, o setor avança, mas vários desafiosatuais continuarão por ser resolvidos.

O segundo cenário foi denominado �Leite, a Nova Estrela do Agronegócio�.Respondendo às boas perspectivas para o setor no Brasil e no mundo, são realiza-dos fortes investimentos em novas plantas industriais, o que estimula o aumentoda produção de leite a taxas acima da média histórica. Mesmo com um significa-tivo aumento do consumo interno, calcado na combinação favorável entre renda/qualidade/marketing/inovação, os excedentes para exportação serão considerá-veis e o Brasil se inserirá definitivamente no mercado internacional. A concentra-ção na produção será significativa e o mercado operará com um mínimo deinterferência governamental. A região Sudeste continuará sendo a principalregião produtora, seguida da região Sul, que diminuirá a diferença em relação aopresente. Neste cenário, o leite adquire contornos mais próximos dos verificadosem outros países como Nova Zelândia e Estados Unidos, com produção ancoradana escala e na eficiência de custos.

Nem tudo pode dar certo. É disso que trata o terceiro cenário, �O FuturoDesperdiçado�, formulado a partir da percepção de uma parcela dos especialistasde que o setor não conseguirá superar como deveria os atuais desafios. Nestecenário, o conflito entre os elos se mantém ou aumenta, inviabilizando iniciativasconsideradas importantes para o crescimento sustentável da atividade. A produçãocrescerá notadamente nas áreas de fronteira, muito mais por falta de opção deagricultores sem assistência e alternativas econômicas do que por atratividadecomo negócio. Fraudes e sonegação se tornam comuns, afastando empresas inova-doras e multinacionais, que optarão por investir em outros segmentos. O setor nãose articulará em entidades de representação e pouco influenciará a regulamentaçãotécnica relativa aos alimentos e as políticas públicas. A produção crescerá a níveismenores do que a média histórica e o superávit exportável será relativamentepequeno, pouco alterando o status brasileiro no mercado internacional.

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O quarto cenário, intitulado �Agricultura Familiar e Competitiva�, apresenta apujança do setor, que crescerá mais do que na média histórica, ancorado naagricultura familiar, principalmente na região Sul, que quase se equiparará àregião Sudeste em quantidade produzida. O enfoque na agricultura familiar é aprincipal diferença deste e do segundo cenário, podendo este ser considerado ocenário normativo, ou desejado, pela maioria dos participantes. As cooperativascrescem em importância, o relacionamento entre os elos se harmoniza e o setorconsegue, através de ações setoriais, como o marketing institucional e a inova-ção, inclusive em ações pré-competitivas, aproveitar as oportunidades de merca-do existentes. As crescentes exigências ambientais e sanitárias serão bem assimi-ladas pelo setor, permitindo ampla inserção internacional. Existirão oportunidadesbem aproveitadas, como a produção de leite orgânico e a produçãoambientalmente sustentável. O governo terá um papel importante nareestruturação do sistema oficial de extensão e na disponibilização de créditopara a agricultura familiar. Haverá, no entanto, espaço para produtores de grandeporte, que encontrarão nas grandes processadoras um mercado crescente, esti-mulando o investimento em escala e qualidade.

Os cenários apresentados acima de forma resumida indicam que, no geral, apercepção dos participantes é favorável ao desenvolvimento do setor. Apesar deser importante apontar que a pesquisa foi realizada em meados do primeirosemestre de 2007, em meio a um dos melhores momentos vivenciados pelo setornos últimos anos, decorrente dos elevados preços externos e recuperação dospreços internos, é sensato argumentar que as pessoas participantes conhecem,em maior ou menor grau, o contexto mais amplo em que o setor está inserido, nãose deixando levar em demasia por situações pontuais. Assim, pode-se concluir quea percepção dos participantes é, em geral, de que o Brasil manterá a trajetóriaatual de evolução, com boa probabilidade de se desenvolver de modo ainda maisintenso, como descrito nos cenários 2 e 4.

A exceção corre por conta do terceiro cenário, que representa a frustraçãodos esforços atualmente feitos e um crescimento menor e de pior qualidade(menos sustentável) do que o verificado nos três outros cenários. Todavia, oselementos que podem levar a este cenário estão hoje presentes, o que torna essecenário uma possibilidade, ainda que indesejável: informalidade, dificuldade dearticulação setorial, problemas de qualidade da matéria-prima, baixaprevisibilidade de preços e de oferta e ausência de marketing institucional, entreoutros.

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De posse desse material, é possível antecipar as ameaças, como aquelas quecompõem o terceiro cenário, de forma a executar ações preventivas. Também - emais importante ainda - é possível identificar as oportunidades apresentadas nosoutros cenários, de forma a criar as condições para que sejam efetivamenteexploradas.

A mensagem que fica a partir deste trabalho inédito é que o setor leiteiro queencontraremos em 2020 pode adquirir contornos muito distintos dependendo docontexto analisado. E, dentro dessa constatação, os agentes envolvidos têm umpapel preponderante na construção do futuro. Serão necessárias ações efetivas,conseguidas através da mobilização setorial, para que a cadeia láctea se mante-nha dinâmica e competitiva. Estas ações, significando uma participação maisativa do setor, podem se constituir na diferença entre os cenários extremos aquiconstruídos. Afinal, como disse Peter Drucker, �a melhor maneira de prever ofuturo é criá-lo�.

Os editores

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Em virtude das transformações recentes que tem impactado o setor leiteiro eda importância dessa cadeia produtiva para centenas de milhares de agricultoresfamiliares, o Ministério do Desenvolvimento Agrário � MDA, por meio da Secreta-ria de Agricultura Familiar � SAF apoiou o estudo de Cenários para o SetorLeiteiro em 2020. Projetando diversos cenários possíveis, dos quais se têm desdeo crescimento e desenvolvimento do setor em ritmo acelerado com grande parti-cipação do cooperativismo, incluindo a agricultura familiar no processo produtivo,a uma situação em que as grandes empresas praticam oportunismo e aproveitamda racionalidade limitada dos atores para se viabilizar com baixa qualidade doleite. Cenários onde as exportações crescem de forma modesta, mantendo-seocasionais e pouco expressivas, a uma situação onde o país se torna um importan-te player no comércio internacional. Os resultados desse estudo complementamos trabalhos que o MDA faz em prol do setor leiteiro da agricultura familiar pormeio da Política Setorial do Leite - PSL.

Estudos realizados pela Fundação Instituto de Pesquisa � Fipe, 2003, trata doProduto Interno Bruto � PIB do agronegócio da agricultura familiar representando32% do PIB do agronegócio como um todo. Ao se analisar o Valor Bruto daProdução Agropecuária � VBP do leite produzido pela agricultura familiar, conclui-se que representa 52% do VBP do Leite brasileiro (FAO/INCRA, 2003). Diversosfatores impactaram o caminho trilhado pelo setor leiteiro nos últimos anos, ressal-tando o período compreendido entro o rigoroso controle governamental exercidoaté a abertura comercial no início dos anos de 1990 ao primeiro saldo positivo nabalança comercial de produtos lácteos em 2004. Nesse período ocorreram: oPlano Estabilização da Moeda (Plano Real) em 1994, a implantação do MercadoComum do Sul (Mercosul) em 1995, a aplicação dos direitos antidumping e ocompromisso de preços em 2001. Essas transformações recentes aliadas aoaumento expressivo do preço do leite em pó no mercado internacional em 2006 e2007 demonstram a importância desse estudo para corroborar as ações que oMDA faz em prol do setor leiteiro da agricultura familiar.

Prefácio

Expectativas do Ministério do Desenvolvimento Agrário � MDA acercaExpectativas do Ministério do Desenvolvimento Agrário � MDA acercaExpectativas do Ministério do Desenvolvimento Agrário � MDA acercaExpectativas do Ministério do Desenvolvimento Agrário � MDA acercaExpectativas do Ministério do Desenvolvimento Agrário � MDA acercado Estudo de Cenários para o Setor Leiteiro em 2020do Estudo de Cenários para o Setor Leiteiro em 2020do Estudo de Cenários para o Setor Leiteiro em 2020do Estudo de Cenários para o Setor Leiteiro em 2020do Estudo de Cenários para o Setor Leiteiro em 2020

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Ao avaliar a boa expectativa apresentada nos resultados, percebe-se que aagricultura familiar possui participação expressiva juntamente com ocooperativismo sendo aliados no processo de crescimento e desenvolvimento dosetor leiteiro. A taxa de crescimento da população e da economia brasileira sãopeças fundamentais para que o setor se desenvolva, pois reflete diretamente noconsumo e na produção.

A PSL da agricultura familiar é um trabalho que o MDA iniciou em 2006, ondeforam realizadas diversas reuniões regionais para definir qual a demanda do setorleiteiro da agricultura familiar brasileira. Diante das demandas apresentadas pelosrepresentantes da agricultura familiar, no âmbito do processo produtivo, industri-al, comercial e associativo/cooperativo, foram geradas as ações necessárias aesse ministério para concretizar essas demandas. Os cenários apresentados noestudo refletem diretamente o impacto dessas ações no setor. Trocando emmiúdos, as visões otimistas apresentadas nesse estudo estão associadas à partici-pação do cooperativismo e da pequena produção e para a visão pessimista nem ocooperativismo nem a pequena produção contribuem no processo.

Diante do exposto acima, a execução das ações demandadas pelos represen-tantes da agricultura familiar na construção da PSL vem ao encontro do bomdesempenho do setor leiteiro apresentada nos cenários contrastados do estudo,onde a participação da pequena produção dentro do cooperativismo fortalece aprodução de leite brasileira, inclusive com maior qualidade na produção, aumentode produtividade e maior participação no comércio internacional.

Adoniram Sanches PeraciSecretário de Agricultura Familiar

Ministério do Desenvolvimento Agrário

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Prefácio

Muita gente imagina o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empre-sas como uma instituição genuinamente urbana � isto é, que atua quase exclusi-vamente nas capitais e cidades de médio porte.

Ledo engano.

O Sebrae atua fortemente também no meio rural, com a principal missão detransformar a pequena produção em um negócio competitivo e rentável, que gerarenda e ocupação e fixa o homem no campo.

Para se ter uma idéia da participação da agricultura de pequeno porte naatuação do Sebrae, é bastante dizer que operamos no setor, com muitas evariadas parcerias, quase 780 projetos, do Rio Grande do Sul ao Amapá.

Quase tudo o que se imaginar, na atividade agrícola, tem Sebrae:caprinovinocultura, apicultura, floricultura, biodiesel, agricultura orgânica,horticultura, fruticultura, vitivinicultura, difusão de tecnologias eficientes e debaixo custo.

Oferecemos acesso ao conhecimento e à inovação, capacitação, estímulo aoassociativismo. Patrocinamos pesquisas que ampliem o mercado.

É dentro desta ótica abrangente que o Sebrae fez questão de participar, juntocom outras instituições de peso, do projeto Cenários para o Leite 2020. É umtrabalho útil para quem labuta na difícil pecuária leiteira, na qual predomina apequena produção, nossa clientela.

Não há dúvida de que as diversas projeções para o segmento, positivas enegativas, ajudarão a corrigir rumos e a cristalizar os rápidos e grandes avançospelos quais vem passando.

Luiz Carlos BarbozaDiretor Técnico do Sebrae

Sebrae � Em CampoSebrae � Em CampoSebrae � Em CampoSebrae � Em CampoSebrae � Em Campo

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A atividade leiteira no Brasil passou por profundas mudanças, com reflexosdiretos sobre o rumo do cooperativismo de leite. A desregulamentação do setorleiteiro implicou no fim do tabelamento de preços e na liberalização das importa-ções, no início da década de noventa. A economia leiteira interna foi exposta àconcorrência direta dos vizinhos Argentina e Uruguai � que estão entre os paísesmais competitivos do planeta. O Mercosul tornou-se uma dura realidade para oleite brasileiro. Imperou uma disputa ferrenha pelo mercado doméstico nacional.Nesse cenário, o cooperativismo de leite encolheu. A participação na captaçãocaiu de mais de 60% para 40%.

Vale ressaltar que muitas cooperativas sobreviveram e cresceram nesse novoambiente competitivo. Essas empresas entenderam o processo de globalizaçãodos mercados. Perceberam que não bastava ser competitiva dentro das frontei-ras. Para permanecerem no mercado foi imprescindível antecipar tendências,incorporar avanços tecnológicos, buscar eficiência na operação e na gestão eguiar-se por um planejamento estratégico. As cooperativas que alcançaram su-cesso nesse período entenderam o novo cenário que se apresentava, adequaram-se a ele e, por isso, conseguiram crescer.

Depois da liberalização do mercado de leite, em 1991, destacam-se dois im-portantes acontecimentos que mudaram a face do setor. Em 2001, a aplicação dedireitos antidumping nas importações de leite em pó provenientes da União Euro-péia, Nova Zelândia, Argentina e Uruguai, oxigenou a atividade leiteira. A impos-sibilidade de substituir o leite brasileiro por produtos lácteos carregados de subsí-dios e/ou dumping possibilitou maior crescimento da produção e da industrializa-ção. Como resultado, em 2004, pela primeira vez, o Brasil alcançou superávit nabalança comercial de lácteos.

Desde então, ano após ano, o superávit comercial tem se ampliado. Em 2007,todos os recordes foram superados. As exportações atingiram cerca de USD 300milhões e o saldo da balança aproximou-se de USD 150 milhões. Nesse novo

Prefácio

Cenários para o leite no Brasil em 2020 � Expectativa da OCB/CBCLCenários para o leite no Brasil em 2020 � Expectativa da OCB/CBCLCenários para o leite no Brasil em 2020 � Expectativa da OCB/CBCLCenários para o leite no Brasil em 2020 � Expectativa da OCB/CBCLCenários para o leite no Brasil em 2020 � Expectativa da OCB/CBCL

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cenário, em que a produção supera o consumo interno, as estratégias das coope-rativas sofrerão profundas transformações. Isso porque quaisquer incrementos daprodução devem estar necessariamente amparados pelo crescimento do mercadodoméstico e das exportações.

Ao mesmo tempo em que o Brasil torna-se exportador de leite e derivados, aeconomia internacional passa por relevantes câmbios que afetam a agropecuáriabrasileira: o alto preço do petróleo; o advento da agroenergia; a corrida parasubstituir combustíveis fósseis por renováveis; o aquecimento global afetando ossistemas de produção; o incremento da demanda por proteína animal nos paísesem desenvolvimento; o enfraquecimento do dólar e o risco de recessão na econo-mia americana. Todas essas variáveis, e a combinação delas, definirão o cenárioque as cooperativas enfrentarão na busca incessante pelo crescimento.

Para lançar luz sobre a visão de longo prazo que as cooperativas terão queconstruir para permanecer no mercado, a Organização das Cooperativas Brasilei-ras (OCB) e a Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL), emparceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas(Sebrae) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), patrocinaram e apoi-aram o projeto de elaboração de cenários para o leite em 2020, desenvolvido pelaAgriPoint, em parceria com a Embrapa Gado de Leite e o Instituto Ouro Verde.Cabe destacar que o estudo não tem a pretensão de prever um cenário futuro.Mas, sim, ampliar e melhorar a base de informações para  decisões a seremtomadas em tempo real. Dessa forma, as cooperativas que utilizarem as informa-ções desse trabalho estarão  à frente na corrida cotidiana da competitividade.

José Pereira Campos FilhoConfederação Brasileira de

Cooperativas de Laticínios (CBCL)Presidente

Márcio Lopes de Freitas de FreitasOrganização das Cooperativas

Brasileiras (OCB)Presidente

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Agradecimentos

Este estudo visa, sobremaneira, à obtenção de ganhos públicos.Nesse contexto, para que sua realização fosse viabilizada, era fundamental

contar com entidades públicas � governamentais e de representação � que perce-bessem a importância de se buscar um olhar mais à frente, mirando horizontesmais amplos, antevendo as diferentes tendências do futuro com o propósito deentendê-las e traçar, no presente, novos rumos ou corrigir os atuais.

O futuro é incerto. Entretanto, maior será a incerteza quanto menor for acapacidade de vislumbrá-lo.

A realização deste estudo de Cenários demandou pouco mais de um ano, entresua concepção, planejamento, execução, análise e conclusão. E somente seviabilizou pelo suporte oferecido pelas seguintes entidades públicas: Serviço Brasi-leiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Secretaria de AgriculturaFamiliar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Confederação Brasilei-ra das Cooperativas de Laticínios (CBCL) e Organização das Cooperativas doBrasil (OCB). Estas entidades demonstraram visão de longo prazo ao investir emum projeto deste porte.

A realização do presente estudo de cenários, que é inédito na cadeia produtivado leite brasileira, também contou com o estímulo e o efetivo apoio de pessoas,que souberam compreender a relevância do que era proposto.

Priscilla Magalhães Gomes Lins foi entusiasta do projeto e agiu no intuito decriar canais facilitadores junto ao Sebrae Nacional. Fátima da Costa Lamar acre-ditou que sua realização seria de ampla relevância para as pequenas e médias

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empresas do setor lácteo: propriedades rurais, laticínios, fornecedoras de insumose prestadoras de serviço. E agiu no intuito de demonstrar suas convicções àsinstâncias de decisões internas do Sebrae Nacional.

Jacques Gontijo Álvares, Paulo Roberto Bernardes e Vicente Nogueira Netto,sempre receptivos a qualquer ação que leve ao fortalecimento do setor lácteo,vislumbraram a oportunidade de se olhar mais à frente, fugindo da tradicionalanálise de conjuntura, que é necessária, porém insuficiente. Foram facilitadorespermanentes.

Adoniram Peraci, Herlon de Almeida, Gustavo Valone e Valter Bianchini temsido responsáveis, em suas áreas de competência, por criar condições para quesejam concebidas políticas públicas na esfera do Governo Federal apropriadas aoleite e aos que se dedicam a esta atividade. E entenderam a importância de apoiara realização deste estudo.

Mais de cem especialistas do setor lácteo concordaram em compartilhar suavisão de futuro, seu conhecimento e seu tempo para que fosse possível construirdistintas visões a respeito do futuro do setor lácteo no Brasil. Seus nomes estãolistados a seguir, em ordem alfabética.

Esse livro é, portanto, resultante de um esforço coletivo, de entidades epessoas. A todos, o nosso reconhecimento e o nosso sincero agradecimento.

Os editores

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Participantes do projetoParticipantes do projetoParticipantes do projetoParticipantes do projetoParticipantes do projeto

Ademir de LucasAgamenon Leite CoutinhoAirton José PredigerAlziro V. CarneiroAndré Luiz Massote MonteiroAndré Luiz Monteiro NovoAntônio Carlos de Souza Lima JúniorAntônio José XavierAntonio Julião Bezerra DamasioAntônio PerozinAntônio Vilela CandalArtur Queiroz de SousaJosé CarnielliCélio de FreitasCésar HelouChristiano NascifCícero de Alencar HeggCláudio Napolis CostaCláudio SantosDaniel Robson SilvaEdilson José VieiraEdson Félix CostaEdson Reis do NascimentoEduardo Cano CarmonaElder Marcelo DuarteElias José ZydekElmer Luiz AlmeidaErnesto Enio KrugEstevalves NascimentoFábio Ribas ChaddadFábio Homero DinizFernando Cerêsa NetoFernando Enrique MadalenaFernando José Ribeiro KachanGermano MusskopfGerson OcchiGilmar MachadoGlauco SchützGustavo de Vincenzo Valone

Gustavo Francisco CarvalhoHans Henrik KnudsenHumberto Marcos Souza DiasJacques Gontijo ÁlvaresJair da Silva MelloJean Marie MonteilJoão Maroca RussoJoão Ricardo Alves PereiraJoão Vitor SassetJoão Walter DürrJorge Pires Coelho de RezendeJorge RubezJosé Antônio BernardesJosé Cláudio Campos CarvalhoJosé Ferreira NoronhaJosé Ultímio Junqueira JuniorJoseph H. KramerLaércio BarbosaLeonardo de Almeida BragaLorildo Aldo StockLuciano Castro Dutra de MoraesLuís Fernando Laranja da FonsecaLuiz Augusto PfauLuiz Carlos Takao YamaguchiLuiz Fernando Bonin FreitasMarcello de Moura Campos FilhoMarcelo Costa MartinsMarcelo Pereira de CarvalhoMarcos Veiga SantosMaria Lúcia Andrade GarciaMário Sérgio Ferreira ZoniMarius Cornélis BronkhorstMatozalém CamiloMaurício Silveira CoelhoNilson MunizOsmar RedinOtaliz de Vargas MontardoOtávio Augusto Cerqueira de FariasPaulo do Carmo Martins

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Paulo Fernando MachadoPaulo HirokiPaulo MoreiraPedro JoséPedro Simão FilhoRaimundo José Couto dos Reis FilhoRegis KamimuraRenato BelezeRenato Dias de SouzaRoberto Jank JúniorRodrigo Sant�Anna AlvimRodrigo de Almeida

Rodrigo Gregório da SilvaRogério MinellaRonei VolpiRosangela ZoccalRubens MoreiraSamuel Alves de OliveiraSebastião Teixeira GomesVicente Nogueira NettoVidal Pedroso de FariaWanderlei Ferreira de SáWilson Teixeira de Andrade LeiteWilson Zanatta

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

Capítulo 1Contextualização da cadeia produtiva do leite no Brasil ................ 21Aline Barrozo Ferro, Marcelo Pereira de Carvalho, Paulo do Carmo Martins, RenataGiovinazzo Spers e Thereza Christina Pippa Rochelle

Capítulo 2A construção de cenários .................................................................. 73James Terence Coulter Wright e Renata Giovinazzo Spers

Capítulo 3Crescimento continuado, mas heterogêneo � Cenário 1 ................. 85Marcelo Pereira de Carvalho, Paulo do Carmo Martins, James Terence Coulter Wright eRenata Giovinazzo Spers

Capítulo 4O leite é a nova estrela do agronegócio � Cenário 2 ................ 95Marcelo Pereira de Carvalho, Paulo do Carmo Martins, James Terence Coulter Wright eRenata Giovinazzo Spers

Capítulo 5O futuro desperdiçado � Cenário 3 .................................................. 105Marcelo Pereira de Carvalho, Paulo do Carmo Martins, James Terence Coulter Wright eRenata Giovinazzo Spers

Capítulo 6Agricultura familiar e competitiva � Cenário 4 ..................................... 113Marcelo Pereira de Carvalho, Paulo do Carmo Martins, James Terence Coulter Wright eRenata Giovinazzo Spers

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Capítulo 7Matriz dos cenários para o leite em 2020........................................ 121Marcelo Pereira de Carvalho, Paulo do Carmo Martins, James Terence Coulter Wright eRenata Giovinazzo Spers

Capítulo 8Implicações para o setor ..................................................................131Marcelo Pereira de Carvalho e Paulo do Carmo Martins

AnexoResumo dos resultados da Primeira Rodada ...................................... 141

Referências bibliográficas................................................................ 183

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O setor leiteiro vem apresentando profundas transformações nos últimosanos, muitas das quais estão ainda em andamento ou cujas informações não estãototalmente disponíveis à cadeia do leite, a ponto de permitir um pleno conheci-mento dos seus cursos. Essa realidade dificulta o conhecimento pleno do momen-to atual e, por conseqüência, a elaboração de previsões seguras. Este fato revestede relevância exercícios desta natureza.

Entre as transformações pelas quais o setor passou nas últimas duas décadas,pode-se citar a mudança considerável no mix de produtos, caracterizada pelocrescimento do share do leite longa vida, passando de 9,6% em 1992 para cerca de76% do mercado formal de leite fluido em 2006, segundo dados da AssociaçãoBrasileira do Leite Longa Vida (ABLV). Nesse período, os gastos com alimentaçãotambém vêm sendo rapidamente modificados, perfazendo cerca da metade daqueleverificado há 15 anos, de acordo com a Pesquisa do Orçamento Familiar maisrecente, de 2002-2003, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-ca (IBGE). A alimentação fora de casa cresce, a preocupação com saúde e qualida-de de vida aumenta, a mídia se faz cada vez mais presente. Nesse ambiente, novoshábitos de consumo se estabelecem, hábitos tradicionais podem ser descontinuadose, fundamentalmente, surgem produtos concorrentes, como sucos prontos, águassaborizadas e bebidas de soja, que podem ocupar o espaço destinado aos lácteos.

Capítulo 1

Contextualização da cadeia produtiva doContextualização da cadeia produtiva doContextualização da cadeia produtiva doContextualização da cadeia produtiva doContextualização da cadeia produtiva doleite no Brasilleite no Brasilleite no Brasilleite no Brasilleite no Brasil

Aline Barrozo FerroMarcelo Pereira de CarvalhoPaulo do Carmo MartinsRenata Giovinazzo SpersThereza Christina Pippa Rochelle

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Cenários para o leite no Brasil em 202022

Nesse contexto, o incremento da renda da população nos últimos anos pode não sersuficiente para garantir o crescimento de consumo esperado pelo setor.

Outro exemplo de mudança drástica foi o intenso processo de resfriamento doleite na propriedade e granelização, inicialmente fomentado pelos grandeslaticínios, culminando com a implantação da nova legislação. O processo detransformação em curso tem sido importante para que o País mude da históricacondição de grande importador para uma condição de auto-suficiência, havendoexpectativas de que o Brasil aumente significativamente a sua produção, a pontode se tornar um exportador de peso no mercado exterior.

Entre os grandes laticínios, notou-se uma brusca redução no número de produ-tores de leite e aumento do módulo de produção de leite por produtor. Todavia,muitos especialistas acreditam que a redução não pode ser generalizada e é bemmenor do que se imagina, ou até inexistente; seja porque esse número é mascara-do pelos tanques comunitários, ou porque os produtores de menor porte acabamficando concentrados nas cooperativas e laticínios menores, tornando válida adiscussão sobre se realmente há redução no número de produtores de leite, comoocorreu em outros países, ou se nosso modelo de produção se manterá baseadona pequena produção, notadamente oriunda da agricultura familiar, como ocorreem países igualmente importantes, como é o caso da Índia.

Em função de todas essas mudanças, o grau de incerteza a respeito dasvariáveis que compõem o cenário futuro do setor é elevado e gera a oportunidadee mesmo a necessidade de se estruturar, a partir de painéis com especialistas,uma visão conjunta e mais embasada do que se espera que possa ocorrer nos anosvindouros. A seguir, as principais variáveis discutidas no presente estudo sãoapresentadas e contextualizadas.

A produção de leite no BrasilA produção de leite no BrasilA produção de leite no BrasilA produção de leite no BrasilA produção de leite no Brasil

Em 2005, ano do mais recente dado oficial disponível, do IBGE, o Brasilproduziu 24,6 bilhões de litros de leite1. Comparando-se ao ano anterior, houvecrescimento em todas as regiões do País. Em termos nacionais, foram produzidos23,5 bilhões de litros, e o crescimento foi de 4,7%. Conforme mostra a Fig. 1, amaior região produtora de leite é a Sudeste, que respondeu por 39% da produçãonacional em 2005. Em seguida aparecem as regiões: Sul, com 27%, Centro-Oeste, com 15%, Nordeste, com 12%, e Norte, cuja participação de 7% daprodução nacional é bem menos expressiva.

1 O IBGE divulgou os dados da produção de leite de 2006 em dezembro de 2007, mas como a pesquisa se orientou pelodados até 2005, optou-se por não alterar o texto e manter 2005 como última referência oficial disponível.

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23Cenários para o leite no Brasil em 2020

Na Fig. 2, pode-se observar a produção de leite por estado no ano de 2005. NaRegião Norte, destacam-se Rondônia e Pará como maiores produtores, com 692 e697 milhões de litros produzidos, respectivamente. Na Região Nordeste, os maio-res produtores são os Estados da Bahia e de Pernambuco, com produções de 890e 527 milhões de litros de leite. O Estado de Minas Gerais configurara-se comomaior produtor de leite da Região Sudeste e também do Brasil, tendo sido respon-sável por 6,9 bilhões de litros de leite. O segundo maior produtor da RegiãoSudeste é o Estado de São Paulo, cuja produção alcançou 1,75 bilhão de litros. NaRegião Sul, os principais Estados produtores são Paraná e Rio Grande do Sul, com2,52 e 2,47 bilhões de litros produzidos. Já na Região Centro-Oeste, destaca-se oEstado de Goiás, que produziu 2,65 milhões de litros de leite em 2005.

Considerando-se os últimos dez anos, a produção de leite no Brasil tem cresci-do continuamente, e aumentou de 18,5 bilhões de litros em 1996 para 24,5bilhões em 2005, ou seja, um acréscimo de 33%, de acordo com os dados doIBGE. Nesse período, a taxa de crescimento anual da produção de leite foi 3,3%

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Fig. 2. Produção de leite no Brasil em 2005, por estado, em milhões de litros.

Fonte: IBGE (2005).

Sul 27%

Centro-

Oeste15%

Nordeste 12%Norte 7% Sudeste

39%

Fig. 1. Participação das regiões

na produção de leite no Brasil,

em porcentagem.

Fonte: IBGE (2005).

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Cenários para o leite no Brasil em 202024

a.a.; considerando-se o período mais recente, de 2000 a 2005, a taxa de cresci-mento foi ainda maior, de 4,3% a.a. A produção de leite no Brasil no período 1996a 2005 pode ser observada na Fig. 3.

O aumento consecutivo da produção levou o Brasil à auto-suficiência na produ-ção de lácteos, embora ainda haja importações de produtos específicos paraatender à demanda interna, especialmente soro desidratado de queijo, ou para osdemais produtos, em momentos em que os preços externos ficam mais baixos doque os praticados no País.

Para procurar entender o crescimento da produção de leite no período, éimportante compreender o perfil produtivo da atividade leiteira no Brasil e analisaro comportamento de algumas variáveis, como distribuição espacial da produção,preço, área de pastagens, número de vacas ordenhadas e produtividade(tecnologia), as quais estão diretamente relacionadas à produção de leite.

Perfil da produção de leite no Brasil

A produção de leite está dispersa por todo o território nacional e é caracterizadapela grande heterogeneidade no que diz respeito ao tamanho das propriedades, aotipo de produtor, rebanho e às tecnologias de produção adotadas, ou seja, aoprocesso produtivo. Existem produtores especializados, que investem emtecnologia, obtêm ganhos de escala e produzem com melhor qualidade, recebendomelhor remuneração pelo produto. Esse perfil de produtores concentra-se principal-mente (mas não exclusivamente) nas bacias leiteiras como as dos Estados de MinasGerais, São Paulo, Goiás e do Paraná. Nestes estados a especialização tem sido

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Fig. 3. Produção de leite no Brasil entre 1996 e 2005, em milhões de litros.

Fonte: IBGE (2005).

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25Cenários para o leite no Brasil em 2020

estimulada por políticas de pagamento por volume de leite, granelização e, maisrecentemente, por qualidade, além da elevação do custo da terra.

De acordo com a pesquisa Top 100 do MilkPoint de 2006, entre os cemmaiores produtores de leite do País, cerca de 45% pertence ao Estado de MinasGerais, 27% ao Estado do Paraná e 13% ao de São Paulo.

Há, em outro extremo, produtores de pequeno porte, que muitas vezes perma-necem à margem desse processo mas que representam, tanto em número comoem quantidade da produção, volume significativo a ponto de serem priorizados empolíticas públicas, especialmente após 2003. Esses produtores vivem da rendagerada na atividade leiteira, em grande parte compondo o que se denominaagricultura familiar (Carvalho, G., Hott & Oliveira, 2006).

Pode-se afirmar, portanto, que a produção de leite no Brasil é marcadamenteassimétrica, fazendo-se a ressalva de que há carência de informações atualizadasa respeito da tendência dessa assimetria, visto que o último Censo foi realizadoem 1995/96, não captando as transformações verificadas nos últimos dez anos2.

Em relação à presença da produção familiar, Carvalho, M. (2006a) afirma que�o leite é uma boa alternativa quando se pensa em um agricultor familiar, uma vezque pode ser explorado em pequenas áreas, apresenta baixo risco comercial (sem-pre haverá por perto alguma linha de leite), o risco tecnológico nos sistemas a pastoé reduzido (compare com horticultura ou fruticultura intensivas), o fluxo de caixamensal é atraente, com características de assalariamento, e há emprego de mão-de-obra familiar, representando uma forma interessante de ocupação e renda paraa população rural. Isso ocorre nas regiões oeste do Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul, assim como no norte do Mato Grosso e outras fronteiras.�

Dadas essas características, a atividade leiteira torna-se uma opção viável(muitas vezes a única) para pequenos produtores, que utilizam, na maioria dasvezes, quase que exclusivamente mão-de-obra familiar. Há, porém,questionamentos a respeito da sustentabilidade dessa produção. A quase totalida-de desses produtores não computa essa mão-de-obra como custo de produção (oudesembolso) e nem os custos que não envolvem desembolsos diretos, como, porexemplo, depreciação de máquinas (quando existem) e instalações e custo deoportunidade da terra (Gomes, 2006). Dessa forma, existe uma distorção nocálculo da receita líquida obtida na atividade. Caso todos os custos fossem com-

2 Em dezembro de 2007, o IBGE divulgou os dados preliminares do Censo 2005/06, mas como a pesquisa seorientou pelo dados do Censo anterior, optou-se por não alterar o texto e manter 1995/96 como última referên-cia oficial disponível.

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Cenários para o leite no Brasil em 202026

putados, em muitos momentos, o valor recebido não seria suficiente para cobriros custos totais, desestimulando a produção (Gomes, 2006). Entretanto, muitasvezes pela falta de opção, esses produtores vão se mantendo na atividade, au-mentando a oferta de leite e propiciando o crescimento da produção ainda que sobuma remuneração não-compatível com a realidade e acarretando no empobreci-mento gradual do produtor.

De acordo com Fonseca (2005), outro ponto relevante que estimula a produ-ção familiar refere-se à política fundiária dos últimos governos. Segundo ele, sãoabundantes os relatos que mostram uma marcante presença da pecuária leiteiraem praticamente todos os assentamentos rurais da reforma agrária. Tanto emRondônia como para outros estados que tiveram maciços assentamentos ruraisnas últimas décadas, existe forte correlação entre o número de novas famíliasassentadas e o incremento na produção leiteira.

Segundo o autor, a pecuária de leite parece ser uma alternativa viável, se nãoa única hoje, para fixar colonos dos assentamentos de reforma agrária nessasáreas e evitar que novas áreas sejam desmatadas. O raciocínio é que a intensifica-ção da produção de leite por área poderia aumentar a receita por hectare, deforma que o produtor poderia se sustentar em uma área relativamente pequena,evitando assim a abertura de novas áreas de floresta e amenizando o avanço dedesmatamento da Amazônia (Fonseca, 2005).

Assim, o autor conclui que o reordenamento da estrutura fundiária brasileiracertamente tem um impacto muito grande sobre a cadeia do leite. Isso considera-do, o Brasil viveria um movimento inverso em termos de estrutura de produção deleite quando comparado a outros países de expressão nessa atividade, ou seja, aredução do número de produtores de leite, fenômeno evidente nas últimas déca-das nos EUA, na Europa e mesmo na Argentina.

É possível, pois, que o próprio crescimento vigoroso da produção de leite nosúltimos 15 ou 20 anos tenha sido alicerçado nessa produção familiar, muitasvezes motivada pela falta de opção. Esse processo pode estar na raiz de parte docrescimento da produção, especialmente em regiões não-tradicionais, onde aatividade é marcadamente familiar. Entretanto, esse crescimento pode não sesustentar no longo prazo. Em função disso, torna-se não só importante conhecersuas características, mas criar condições para que esses agricultores tenhamsustentabilidade econômica e se mantenham na atividade.

Deve-se levantar também a hipótese de que o crescimento na atividade sedeu, em parte, pelo comportamento dos produtores de maior porte. Dada a

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27Cenários para o leite no Brasil em 2020

granelização assim como o aumento da busca pela qualidade do leite, tem havidoum aumento da disparidade de preços entre produtores, gerando oportunidadespara aqueles que produzem maior volume de leite e de qualidade superior. Assim,à medida que os produtores se diferenciam no mercado, o preço médio do leitefica mais distante da moda estatística. Os que recebem mais pelo leite de melhorqualidade vislumbram melhores perspectivas dentro da atividade. Dentro dessalinha de raciocínio, percebe-se cada vez mais uma preocupação dos laticínios emfidelizar seus fornecedores, em especial os que apresentam volume, constância,qualidade, baixo risco de contaminantes (há, inclusive, processos de certificaçãode boas práticas de produção) e que sejam mais responsivos às demandas domercado.

Essa explicação pode ser evidenciada pelo levantamento Top 100 MilkPoint,cujos dados indicam que, desde 2001, quando começou a ser realizado, temhavido um aumento considerável da produção média de leite e a intenção relati-vamente constante de cerca de 70% dos produtores em elevar a produção noano seguinte. Esses dados indicam que a atividade leiteira apresenta potencialde retorno econômico, caso contrário tais produtores não investiriam nessesetor, visto que não carecem de falta de opção de investimento (Carvalho, M.,2006a).

Assim, pode-se inferir que o leite tem sido uma atividade interessante paradistintos perfis de produtores, por razões igualmente distintas e demandandoações também distintas por parte de políticas públicas. De um lado, o produtorque tem acesso à informação, ao crédito e que tem verificado junto a seusclientes (laticínios) uma melhoria no relacionamento e no ambiente de negócios.De outro lado, cresce a produção familiar, que encontra na atividade uma alterna-tiva para obtenção de renda e permanência no campo.

As explicações apontadas acima parecem indicar para o Brasil, ao menos nomédio prazo, um caminho diferente daquele trilhado por alguns dos principaisprodutores mundiais de leite, em que o aumento na escala de produção, por meiode ganhos de produtividade, foi condição fundamental para a permanência naatividade. Nesse contexto, é relevante lembrar-se da Índia e do Paquistão, gran-des produtores de leite e que lastreiam a produção na agricultura familiar. A Índia,maior produtor de leite do mundo (ao se considerar leite de búfala), com quase100 bilhões de litros anuais, tem cerca de 70 milhões de produtores de leite(Milkpoint, 2004a) e vem sendo apontada por especialistas como um possívelplayer mundial no futuro.

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Cenários para o leite no Brasil em 202028

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ O número de produtores de leite no País pode estar aumentando, aocontrário de uma expectativa quase unânime do setor. O Brasil vive ummovimento contracíclico em termos de estrutura de produção de leitequando comparado a outros países de expressão nessa atividade, ondehouve concentração do número de produtores de leite?

♦ O crescimento da produção de leite tem sido realmente baseado naagricultura familiar, sendo essa a tendência futura?

♦ No caso dos pequenos produtores que não fazem a contabilidade doscustos ou a fazem de forma incorreta, a oferta não dependeria do preço,já que produzem por falta de opção. Nesse caso, o aumento na oferta deleite deverá se sustentar no longo prazo, ainda que os preços médios nãosejam atrativos?

♦ Considerando que a atividade leiteira tem grande importância econômicae social na geração de renda e emprego para a agricultura familiar,qual(is) a(s) condição(ões) para que o crescimento da atividade leiteiraseja sustentável no longo prazo?

♦ Por ser caracterizada como uma atividade na qual não há barreiras àentrada e saída, existe grande variabilidade na produção, qualidade e nospreços do leite. Essa situação tende a mudar com as crescentes exigên-cias de qualidade do leite?

Distribuição espacial da produção

As respostas às indagações acima podem ter implicações na distribuição deleite nas várias regiões. De fato, o crescimento da produção de leite ao longodos últimos dez anos não ocorreu de forma homogênea em todas as regiões.As Figs. 4 e 5 mostram a participação das regiões na produção brasileira deleite nos anos de 1996 e 2005. Nota-se que, enquanto as Regiões Centro-Oeste, Norte e Sul aumentaram sua participação na produção nacional de15,2% para 15,4%, 4,2% para 7,1% e de 22,9% para 26,6% respectiva-mente, nas Regiões Sudeste e Nordeste, essa participação foi decrescenteentre os anos de 1996 e 2005. A Região Sudeste, a mais importante do País,reduziu sua participação na produção nacional de 45% para 38,8%, ao passoque na Região Nordeste a redução foi mais modesta, de 12,7% para 12,1% noperíodo.

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29Cenários para o leite no Brasil em 2020

Analisando-se o comportamento da produção de leite entre 1996 e 2005 emâmbito estadual, dentro de uma mesma região, alguns estados aumentaram suaparticipação na produção nacional, enquanto outros reduziram. A Tabela 1 mostraa participação dos estados na produção nacional de leite nos anos de 1996 e2005.

Pode-se observar na Tabela 1 que os estados marcados em azul aumentaramsignificativamente sua participação na produção nacional, enquanto os demaistiveram sua participação reduzida ou praticamente inalterada, o que não significa,entretanto, que não houve aumento na produção.

Dentre os estados que aumentaram sua participação na produção nacionalentre 1990 e 2005, destacam-se Rondônia e Pará na Região Norte, Maranhão eRio Grande do Norte na Região Nordeste, Paraná e Santa Catarina na Região Sul eMato Grosso e Goiás na Região Centro-Oeste. Na Região Sudeste, todos osestados reduziram sua participação na produção nacional.

Fig. 4. Participação das regiões

na produção de leite no Brasil

em 1996, em porcentagem.

Fonte: IBGE (2005).

Sul22,9%

Centro-Oeste15,2%

Nordeste12,7%

Norte4,2%

Sudeste45,0%

Fig. 5. Participação das regiões

na produção de leite no Brasil

em 2005, em porcentagem.

Fonte: IBGE (2005).

Sul26,6%

Centro-Oeste

15,4%

Nordeste12,1%

Norte7,1% Sudeste

38,8%

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Cenários para o leite no Brasil em 202030

Em relação ao aumento na produção, nota-se pela Tabela 1 que a Região Nortefoi a que mais cresceu em termos percentuais, seguida pelas Regiões Sul e Centro-Oeste. Na Região Sul, a produção de leite aumentou 54,2% entre 1996 e 2005, o

Tabela 1. Participação dos estados na produção nacional de leite – 1996 e 2005.

Fonte: IBGE (2005).

Regiões 1996 Participação % 2005 Participação %Aumento

2005/1996

Norte 771 4,2% 1.743 7,1% 126,1%

RO 317 1,7% 692 2,8% 118,3%

AC 31 0,2% 80 0,3% 158,1%

AM 27 0,1% 44 0,2% 63,0%

RR 11 6 0,02% 100,0%

PA 238 1,3% 697 2,8% 192,9%

AP 2 0,0% 4 0,0% 100,0%

TO 144 0,8% 220 0,9% 52,8%

Nordeste 2.355 12,7% 2.972 12,1% 26,2%

MA 139 0,8% 321 1,3% 130,9%

PI 75 0,4% 79 0,3% 5,3%

CE 390 2,1% 368 1,5% –5,6%

RN 160 0,9% 212 0,9% 32,5%

PB 150 0,8% 149 0,6% –0,7%

PE 422 2,3% 527 2,1% 24,9%

AL 223 1,2% 236 1,0% 5,8%

SE 135 0,7% 191 0,8% 41,5%

BA 660 3,6% 890 3,6% 34,8%

Sudeste 8.338 45,0% 9.535 38,8% 14,4%

MG 5.601 30,3% 6.909 28,1% 23,4%

ES 320 1,7% 418 1,7% 30,6%

RJ 432 2,3% 465 1,9% 7,6%

SP 1.985 10,7% 1.744 7,1% –12,1%

Sul 4.242 22,9% 6.542 26,6% 54,2%

PR 1.514 8,2% 2.519 10,3% 66,4%

SC 866 4,7% 1.556 6,3% 79,7%

RS 1.861 10,1% 2.468 10,0% 32,6%

Centro-Oeste 2.810 15,2% 3.778 15,4% 34,4%

MS 407 2,2% 499 2,0% 22,6%

MT 375 2,0% 596 2,4% 58,9%

GO 1.999 10,8% 2.649 10,8% 32,5%

DF 28 0,2% 35 0,1% 25,0%

Brasil 18.515 100,0% 24.572 100,0% 32,7%

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31Cenários para o leite no Brasil em 2020

3 Apresentação de Torsten Hemme, do IFCN, no World Dairy Summit 2007, em Dublin, Irlanda. Setembro de 2007.

que representa um aumento significativo, dado que é a segunda maior regiãoprodutora de leite do Brasil. Nas regiões Nordeste e Sudeste, o aumento da produ-ção foi menos expressivo, 26,2% e 14,4%, respectivamente. Entretanto, há que selevar em conta que a Região Sudeste teve o segundo maior aumento em quantidadeproduzida, atrás apenas da Região Sul. Considerando-se a totalidade dos estados,apenas São Paulo e Paraíba reduziram suas produções de leite entre 1996 e 2005.

Analisando-se as taxas de crescimento em âmbito regional, tem-se que aprodução de leite nas regiões onde houve maior aumento da produção, Norte, Sule Centro-Oeste, verificou taxas de crescimento de 9,9% a.a., 5,08% a.a. e 3,9%a.a., respectivamente, no período 1996 a 2005. Nas Regiões Sudeste e Nordeste,as taxas de crescimento da produção foram 1,3% e 2,7%, respectivamente.

Atualmente, 66% da produção de leite concentra-se nas Regiões Sul e Sudes-te do País (Tabela 1). Entretanto, conforme demonstra o estudo de Carvalho, G.,Hott & Oliveira (2006), entre 1990 e 2004, houve uma modificação na distribui-ção espacial do rebanho bovino, deslocando-se para a Região Norte, principalmen-te para os Estados do Pará e Rondônia. Essa mudança pode ser explicada, de umlado, pelo menor custo de oportunidade da terra e do trabalho em comparação àsregiões tradicionais, mais sujeitas à competição com outras atividades rurais eurbanas. De outro, pelo crescimento do leite longa vida e queijos, que permitem aprodução distante do local de consumo. Além desses fatores, há que se conside-rar a política fundiária já comentada no item anterior.

Há, porém, incertezas a respeito da continuidade desse crescimento, especial-mente na questão ambiental. Há cada vez maior pressão no sentido de reduzir odesmatamento e o crescimento da produção de leite na Amazônia já vem sendodiscutido em fóruns internacionais3.

Com relação às Regiões Sul e Sudeste, onde se localizam as tradicionais baciasleiteiras, Fonseca (2005) afirma que a dinâmica das bacias leiteiras desses esta-dos, em que se percebe a migração para o Oeste do Brasil, está associada aointenso desbravamento de novas fronteiras agrícolas nos últimos 30 anos e àocupação mais efetiva do cerrado brasileiro. Essa ocupação, desencadeada tantopelos projetos de reforma agrária como por projetos de colonização ou por ocupa-ção privada, tem provocado uma impressionante transformação fundiária do País.No caso do leite, o Estado de Minas Gerais tem sofrido forte mudança no mapa deprodução, com crescimento nas regiões típicas de cerrado.

Esse processo pode estar resultando em aumento do número de produtores deleite. Em Santa Catarina, o interesse crescente pela produção de leite por parte

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Cenários para o leite no Brasil em 202032

dos pequenos produtores de suínos e aves, que vêm perdendo competitividade emrelação ao cerrado, motivou a cooperativa Aurora a investir no setor lácteo(MilkPoint, 2006a).

Outro ponto que merece destaque é a competição das áreas de produção deleite com atividades de maior rentabilidade, o que pode levar a pecuária leiteirapara áreas menos produtivas dentro dos estados, ou mesmo para outros estados eregiões. No Estado de São Paulo, essa pode ser uma das explicações para aredução da produção de leite no período observado (1990 a 2005).

A expansão da área plantada com cana-de-açúcar tem ocorrido de formasignificativa desde a safra 1999/2000, mas nas últimas duas safras ela intensifi-cou-se ainda mais.

Certamente, a competição por área pode ter levado à redução da produçãoleiteira no Estado de São Paulo, visto que o arrendamento de um hectare para oplantio de cana-de-açúcar chegou a R$ 800,00 � R$ 1.000,00 (Carvalho, M.,2007a). Esse valor é bastante atrativo para produtores menos eficientes queobtêm margens de lucro bastante apertadas (quando lucram) com a atividadeleiteira. A expansão da cana-de-açúcar tem ocorrido predominantemente nasregiões Central e Oeste do estado, nas áreas de laranja e pecuária de corteextensiva, respectivamente.

As perspectivas para a produção de álcool são extremamente favoráveis. Nomercado interno, há crescente demanda por álcool devido ao sucesso comercialdos carros bicombustível e pelo incentivo à produção de energia ambientalmentelimpa e renovável. No mercado externo, a demanda mundial por álcool é crescen-te, dada a preocupação ambiental e o desejo de substituição de combustíveisfósseis por fontes renováveis de energia. O mercado internacional de açúcarapresenta boas perspectivas devido à elevada competitividade brasileira e à redu-ção dos subsídios da União Européia. Em razão disso, 89 novas unidades estão emconstrução e deverão entrar em operação nos próximos anos, segundo estimati-vas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Apesar das novas unidadesse concentrarem em São Paulo, os Estados de Minas Gerais e Goiás tambémreceberão um número significativo de novas instalações canavieiras, como podeser visto na Tabela 2.

Assim, a produção de leite poderá se reduzir devido à competição com a cana-de-açúcar, mas não necessariamente. Primeiro porque o aumento de área comcana deverá ser limitado pela possibilidade de mecanização da colheita, o queexige áreas planas. A partir de 2020, a queima da cana para colheita deverá ser

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33Cenários para o leite no Brasil em 2020

abolida no Estado de São Paulo. Segundo porque a possibilidade de exploração dacana-de-açúcar pode levar à diversificação, com o arrendamento de uma áreapara cana-de-açúcar, mantendo-se área destinada à produção de leite para redu-ção dos riscos. Nesse caso, a melhor capitalização do produtor pode levá-lo ainvestir na intensificação da produção de leite, aumentando a produtividade desua propriedade. Terceiro, pode haver sinergias entre as atividades e, quarto, acana poderá estimular a profissionalização da atividade nas regiões mais suscetí-veis à competição.

Além da cana-de-açúcar, outras culturas também têm apresentado rentabili-dades e/ou perspectivas atraentes, como o plantio de seringueira e eucalipto noEstado de São Paulo. Essas culturas têm se apresentado como opções parapequenas áreas, devido ao retorno que proporcionam. Entretanto, a entrada nes-sas atividades exige investimentos significativos, principalmente comparando-seao arrendamento de áreas para cana-de-açúcar, o qual não exige investimentoinicial nem gerenciamento da atividade.

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ A expansão da produção de leite nas Regiões Norte e Centro-Oeste estárelacionada à dinâmica de colonização dos assentamentos de reforma agrária?

♦ A questão ambiental pode se constituir em um entrave à expansão daatividade na região Amazônica?

♦ O crescimento da produção de leite na Região Sul, especialmente nooeste, é sustentável no longo prazo?

Tabela 2. Novos projetos de unidades canavieiras na Região Centro-Sul.

Estado Safra 2006/07 Safra 2012/13 Projetos novos

São Paulo 147 182 35

Minas Gerais 25 43 18

Goiás 15 25 10

Paraná 27 31 4

Mato Grosso do Sul 9 18 9

Mato Grosso 10 10 0

Rio de Janeiro 8 9 1

Espírito Santo 6 6 0

Rio Grande do Sul 1 1 0

Total 248 325 77

Fonte: Unica. Extraído do Jornal da Cana (2006).

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Cenários para o leite no Brasil em 202034

♦ Qual será o efeito da cana-de-açúcar e atividades concorrentes nasregiões mais tradicionais?

♦ A Região Nordeste apresenta condições de crescimento sustentável daprodução?

♦ Que condições são necessárias para o crescimento continuado da produ-ção nas regiões tradicionais?

Aspectos relacionados ao processo de produção de leite

Produtividade

O aumento da produção de leite pode ser explicado pela expansão da área depastagem ou do número de vacas ordenhadas, caso a justificativa seja o aumentodo uso de fatores de produção. Também pode ter ocorrido o aumento da produti-vidade dos fatores de produção, em função da adoção de novas tecnologias.

Com relação à área de pastagens, os dados do último levantamento são docenso agropecuário de 1996 do IBGE. Assim, não é possível obter informaçõesatualizadas a partir das quais se possa inferir sobre a variação da área de pasta-gem destinada à produção da pecuária leiteira.

Quanto ao número de vacas ordenhadas, pode-se observar na Fig. 6 que, entre1996 e 2005, o número de vacas ordenhadas aumentou de 16,2 para 20,6milhões de cabeças, ou seja, um crescimento de 26,8% em dez anos, que ocorreuà taxa de 2,5% a.a.

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1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fig. 6. Número de vacas ordenhadas no Brasil entre 1996 e 2005.

Fonte: IBGE (2005).

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35Cenários para o leite no Brasil em 2020

Com relação à distribuição espacial, o número de vacas ordenhadas aumentouem todas as regiões em 2005, comparativamente a 1996 (Fig. 7). O maioraumento no número de vacas ordenhadas entre 1996 e 2005 ocorreu na RegiãoNorte, onde o número mais do que dobrou, reforçando as hipóteses de crescimen-to horizontal da produção nessa região.

Considerando-se o período de 1996 a 2005, o número de vacas ordenhadascresceu em todas as regiões, embora a taxas distintas. Enquanto no Nordeste onúmero de vacas ordenhadas aumentou 9,5% a.a. no referido período, nas Regi-ões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, as taxas de crescimento foram maismodestas, respectivamente de 1,3% a.a., 0,6% a.a., 2,6% a.a. e 3,4% a.a.

A Tabela 3 mostra o número de vacas ordenhadas por estado e região nosanos de 1996 e 2005. Na Região Norte, o número de vacas ordenhadas aumentouem todos os estados, com exceção de Roraima. Os estados que tiveram maioraumento foram Acre, Rondônia e Pará. No Nordeste, houve redução no númerode vacas ordenhadas nos Estados de Ceará, Paraíba e Sergipe. Já nos demaisestados esse número aumentou, com destaque para o Maranhão.

Na Região Sudeste, os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santotiveram aumento no número de vacas ordenhadas. Somente o Estado de São

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1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fig. 7. Número de vacas ordenhadas por região brasileira entre 1996 e

2005.

Fonte: IBGE (2005).

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Cenários para o leite no Brasil em 202036

Paulo mostrou redução de 15,8% no período. Na Região Sul, assim como noCentro-Oeste (exceto o Distrito Federal), todos os estados tiveram crescimentodo número de vacas ordenhadas entre 1996 e 2005.

Tabela 3. Número de vacas ordenhadas por estado e região – 1996 e 2005.

No de vacas ordenhadas 1996 2005 Variação (%)

Brasil 16.273.667 20.631.530 26,80%

Norte 1.236.312 2.916.106 135,90%

Rondônia 340.023 1.017.127 199,10%

Acre 53.653 151.493 182,40%

Amazonas 52.603 77.583 47,50%

Roraima 19.616 18.438 –6,00%

Pará 485.240 1.174.536 142,10%

Amapá 4.740 6.591 39,10%

Tocantins 280.437 470.338 67,70%

Nordeste 3.556.179 3.976.512 11,80%

Maranhão 291.578 504.772 73,10%

Piauí 186.454 200.431 7,50%

Ceará 471.763 463.106 –1,80%

Rio Grande do Norte 198.830 236.523 19,00%

Paraíba 247.931 192.962 –22,20%

Pernambuco 370.777 406.315 9,60%

Alagoas 183.530 158.130 –13,80%

Sergipe 142.048 176.603 24,30%

Bahia 1.463.268 1.637.670 11,90%

Sudeste 6.356.414 7.059.218 11,10%

Minas Gerais 3.767.929 4.659.245 23,70%

Espírito Santo 277.020 371.106 34,00%

Rio de Janeiro 367.929 391.938 6,50%

São Paulo 1.943.536 1.636.929 –15,80%

Sul 2.588.617 3.293.192 27,20%

Paraná 1.044.123 1.367.361 31,00%

Santa Catarina 513.668 722.230 40,60%

Rio Grande do Sul 1.030.826 1.203.601 16,80%

Centro-Oeste 2.536.145 3.386.502 33,50%

Mato Grosso do Sul 425.112 502.287 18,20%

Mato Grosso 353.240 524.982 48,60%

Goiás 1.726.793 2.334.558 35,20%

Distrito Federal 31.000 24.675 –20,40%

Fonte: IBGE (2005).

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37Cenários para o leite no Brasil em 2020

O aumento no número de vacas ordenhadas pode explicar parte do crescimen-to da produção de leite no País durante o período de 1996 a 2005. Entretanto, oaumento na quantidade de leite produzida no período não ocorreu somente peloaumento no número de vacas ordenhadas e/ou pela expansão da área ocupadacom a atividade leiteira, sendo o aumento da produtividade decorrente da adoçãode novas tecnologias uma questão a ser investigada.

Conforme salientado oportunamente, a produção de leite no Brasil é marcadapela heterogeneidade dos sistemas de produção. A título de exemplo, existemprodutores que adotam tecnologias avançadas e obtêm produção superior a 15mil litros/hectare/ano, enquanto há outros que utilizam técnicas rudimentares naprodução e produzem menos de 700 litros/hectare/ano. A diversidade encontradanos sistemas de exploração da pecuária de leite reflete-se nos extremos encontra-dos quando se analisam os índices zootécnicos da atividade. Um importante índicede desempenho da pecuária leiteira nacional é a produtividade por vaca, ou seja,litros/vaca/ano (Zoccal, 2007).

Utilizando-se os dados de produção de leite e número de vacas ordenhadas doIBGE, foi possível calcular a produtividade/vaca/ano e verificar sua evolução noperíodo 1996-2005, conforme mostra a Fig. 8. Nota-se que a produtividade deleite pouco aumentou no Brasil, passando de 1.138 litros/vaca/ano em 1996 para1.191 litros/vaca/ano em 2005. Nesse período, a produtividade de leite cresceuapenas 4,7%. Assim, pode-se inferir que o aumento no número de vacas ordenha-das não foi o único fator responsável pelo crescimento da produção de leite noBrasil entre 1996 e 2005, mas também o aumento da produtividade contribuiupara isso. No entanto, deve-se reconhecer que, à luz das informações oficiais,esse crescimento foi até então muito pequeno.

Conforme pode ser observado na Fig. 8, o aumento na produtividade ocorreuem todas as regiões, exceto na Região Norte, onde a produtividade reduziu 4,2%em 2005 comparativamente a 1996. O aumento de produtividade entre as de-mais regiões foi heterogêneo, sendo as Regiões Sul e Nordeste as que apresenta-ram maior elevação na produtividade (21,2% e 12,9%, respectivamente), en-quanto a Sudeste e a Centro-Oeste tiveram aumentos bem mais modestos, de3% e 0,7%, respectivamente.

Os ganhos de produtividade por animal derivam da adoção de tecnologias quemelhoram a eficiência e o uso dos fatores de produção. O aprimoramento dasraças, bem como das técnicas de manejo relacionadas à alimentação e à sanidadedo rebanho exercem papel fundamental no aumento da produtividade do leite.

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Cenários para o leite no Brasil em 202038

No que tange à genética, o aumento da produtividade passa necessariamentepela busca de animais de valor genético superior para a produção de leite. Contu-do, a maior parte do rebanho brasileiro não é especializada e uma parte significa-tiva dos produtores ainda cruza suas vacas com bois de corte, resultando emanimais de menor produtividade.

Em menor grau de importância, ao menos nesse momento, a utilização deraças especializadas na produção exerce influência, entre outros fatores, naquantidade de sólidos do leite. À medida que tal parâmetro se tornar valorizado nomercado interno, assim como ocorre no mercado internacional, pode haver altera-ções na escolha das raças e na composição dos rebanhos, contribuindo paraaumentar a produtividade do leite no País.

Quanto à alimentação animal, a adoção de técnicas de produção intensiva, taiscomo manejo rotacionado de pastagem, recuperação da fertilidade do solo, utili-zação da cana-de-açúcar e uréia no período da seca e irrigação de pastagempossibilitam a obtenção de resultados significativos na produtividade do leite.Entretanto, não há consenso no meio técnico quanto ao tipo de sistema deprodução mais adequado às condições brasileiras, não só em função das diferen-ças regionais, mas também dentro de uma mesma região, com condições seme-lhantes.

Fig. 8. Produtividade de leite por região brasileira entre 1996 e 2005,

em litros/vaca/ano.

: IBGE (2005).Fonte

Litr

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Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

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39Cenários para o leite no Brasil em 2020

Pode-se supor que os pequenos produtores geralmente têm menos acesso àstecnologias que levam ao aumento da produtividade de leite. Além disso, muitospequenos produtores não têm condições de aumentar rapidamente o capital en-volvido na atividade, dadas as limitações de crédito. Assim, em geral, as pequenaspropriedades tendem a apresentar menor produtividade quando comparadas àspropriedades de maior porte, as quais tendem a adotar tecnologias que permitemmaior eficiência na produção.

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ Em que estrato de produção estão ocorrendo os maiores ganhos deprodutividade?

♦ A �assimetria tecnológica� entre agricultores familiares e grandes pro-dutores, que tende a continuar, e, nesse caso, pode fazer com que ospequenos participem cada vez menos, e os grandes cada vez mais daprodução no médio/longo prazo?

♦ A produtividade por animal ou por área aumentará a taxas mais elevadasnos próximos anos, resultante das pressões competitivas mais presentes?

♦ Quais serão os sistemas de produção mais viáveis em cada região?♦ À medida que os sólidos do leite forem valorizados no mercado interno,

poderá haver alterações na escolha das raças e na composição dosrebanhos no País?

Questões socioambientais

Outro aspecto relacionado ao processo de produção de leite diz respeito àsquestões socioambientais, cada vez mais importantes.

Percebe-se no cenário mundial uma forte tendência de mudanças significati-vas na forma de uso da terra, com a utilização de sistemas produtivos sustentá-veis que considerem, além da produtividade, os aspectos sócio-econômicos eambientais na atividade (Ribaski, Montoya & Rodigheri, 2002).

Nesse aspecto, há que se considerar o tratamento de dejetos orgânicos einorgânicos e o uso da água de forma sustentável. De acordo com o relatórioelaborado pelo International Water Managment Institute (IWMI) em 2006, exis-tem dois tipos de escassez de água: a escassez econômica, que ocorre devido àfalta de investimento e é caracterizada por pouca infra-estrutura e distribuiçãodesigual da água, e a escassez física, que ocorre quando os recursos hídricos nãoconseguem atender à demanda da população. Ainda segundo o relatório, a agri-

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Cenários para o leite no Brasil em 202040

cultura usa 70 vezes mais água para produzir alimentos do que as residências. Opesquisador David Molden, do IWMI, que liderou a avaliação, afirmou: �É possívelreduzir a escassez de água, alimentar as pessoas e cuidar da questão da pobreza,mas a questão mais importante é a ambiental. O povo e seus governos terão quetomar decisões sobre como gerenciar a água�. Essa é uma questão pertinente nãosó à produção de leite, mas também a todas as atividades agropecuárias quedemandam quantidades significativas de água em suas produções (BBC Brasil,2006).

A questão ambiental vem se tornando um tema central nos debates mundiaisa respeito da produção de alimentos. Nesse aspecto, a relação entre o aqueci-mento global e a produção de leite é um tema de importância crescente. AlfonsoRafin afirmou que a agricultura é responsável por 14% das emissões de C02

para a atmosfera e que a produção de leite tem participação relevante nessemontante4 .

Tudo indica que aspectos ambientais terão conseqüências crescentes noâmbito comercial. Na Europa, em especial no Reino Unido, vem se desenvolven-do o conceito de Food Miles (quilometragem dos alimentos, ou distância percor-rida por eles entre seu local de produção e o de consumo), que procura relacio-nar a quantidade de carbono emitido pela produção, industrialização e transpor-te de determinado alimento até o consumidor final, sendo este argumento inclu-sive utilizado comercialmente para promover determinadas origens e condenaroutras. Um exemplo mais recente é a campanha contra a manteiga da NovaZelândia, vendida na Inglaterra, que sofreu ataques na mídia em função daquantidade de petróleo utilizada (e conseqüentes emissões de carbono) paratransportar o produto (Milkpoint, 2007b).

A preocupação ambiental, portanto, em suas várias vertentes, seja na pre-servação dos recursos naturais, seja na utilização dessa bandeira para finscomerciais, está entrando definitivamente na agenda do setor e fazendo comque produtores e indústrias se adaptem, antecipando possíveis restrições não-tarifárias. A Fonterra, principal exportadora de leite do mundo, vem conduzindoum projeto de adequação ambiental para seus fornecedores de leite, de forma aevitar que esse aspecto se torne uma fragilidade comercial do País (Milkpoint,2007c).

4 Palestra apresentada no 8o Simpósio sobre Produção Intensiva de Leite, Interleite, 2-4 de agosto de 2007.

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41Cenários para o leite no Brasil em 2020

No Brasil, existe ainda a questão das áreas protegidas, visto que todas aspropriedades privadas devem manter uma área de Reserva Legal e preservar asÁreas de Preservação Permanente. A Reserva Legal é a área de cada propriedadeparticular onde não é permitido o desmatamento (corte raso), mas que pode serutilizada em forma de manejo sustentado. Nas Regiões Sul, Sudeste e Nordeste,onde há a Mata Atlântica, a Reserva Legal é de 20% de cada propriedade; naAmazônia é de 80% para as áreas onde ocorre floresta e de 35% onde ocorre ocerrado. As Áreas de Preservação Permanente (APP) são áreas de grande impor-tância ecológica e social, que têm a função de preservar os recursos hídricos, apaisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da fauna eflora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Além das questões ambientais em geral, pode-se apontar outras duas questõesrelacionadas especificamente à pecuária leiteira: a primeira diz respeito ao au-mento da pecuária leiteira na Amazônia e a segunda é o manejo dos resíduos dalavagem do tanque de expansão e das ordenhadeiras, que possuem elevado poderpoluidor devido ao alto teor de DBO.

Quanto à primeira questão, pode-se observar que o modelo tradicional daocupação da Amazônia tem levado a um aumento significativo do desmatamentona Amazônia legal, sendo este um fenômeno de natureza bastante complexa, quenão pode ser atribuído a um único fator (Alencar et al., 2004 apud Ferreira,Venticinque & Almeida, 2005).

As questões mais urgentes em termos da conservação e uso dos recursosnaturais da Amazônia estão ligadas às políticas de desenvolvimento na região, taiscomo especulação de terra ao longo das estradas, crescimento das cidades,aumento dramático da pecuária bovina (principalmente de corte), exploraçãomadeireira e agricultura familiar (mais recentemente a agricultura mecanizada),principalmente ligada ao cultivo da soja e algodão (Fearnside, 2003, Alencar etal., 2004 e Laurance et al., 2004 apud Ferreira, Venticinque & Almeida, 2005).

O aumento das atividades econômicas em larga escala sobre os recursos daAmazônia legal brasileira tem aumentado drasticamente a taxa de desmatamentoque, no período de 2002 a 2003, foi de 23.750 km2, a segunda maior taxa járegistrada nessa região, superada somente pela marca histórica de 29.059 km2

desmatados em 1995 (Inpe, 2004 apud Ferreira, Venticinque & Almeida, 2005).

Esse cenário comum na Amazônia tem preocupado a sociedade em relação àsquestões ambientais e à sustentabilidade da atividade de pecuária na região. Aexpansão da pecuária na Amazônia tem se beneficiado da disponibilidade de

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Cenários para o leite no Brasil em 202042

terras baratas e, em diversos casos, pela falta de cumprimento da legislaçãoambiental. Essa expansão tem ocasionado mudança na paisagem devido à retira-da de florestas e abertura de extensas áreas para a atividade, além de fortesimpactos ambientais e sociais. A queima utilizada na atividade exerce forte im-pacto sobre o ecossistema da região (Ribeiro et al., 2005).

É importante salientar que a produção de gado de corte é a primeira que vemà cabeça quando se fala em pecuária na Amazônia, principalmente por serfreqüente a associação da destruição ambiental a propriedades extensivas epouco produtivas. Entretanto, nas regiões de fronteira, onde existe uma grandepopulação de pequenos produtores, a pecuária leiteira está quase sempre presen-te, conforme salientado oportunamente neste estudo. De acordo com o estudo deMachado, Muchagata & Silva (1998) para a região de Marabá (PA), �à medidaque a região de fronteira vai ficando mais estabilizada, começam a existir mudan-ças na atividade pecuária, entre elas, um maior número de produtores se dedica àprodução de leite, e há maior intensificação da produção�.

De acordo com Costa, N. (2003), o desenvolvimento da atividade pecuária naRegião Amazônica tem provocado posições polêmicas sobre a sustentabilidade doecossistema. No entanto, de acordo com o pesquisador, diversos estudos indicamque a pecuária constitui uma das escassas atividades economicamente sustentá-veis na Amazônia, que pode continuar a se desenvolver nas áreas já desmatadas.O principal desafio, segundo o pesquisador, é instaurar melhores índices de produ-tividade nas diversas fases da cadeia produtiva, evitando novos desmatamentos.Até o momento, a sustentabilidade econômica baseia-se em seu caráter extensi-vo, sendo previsto que a competitividade global determinará a necessária adoçãode modelos intensivos de produção.

Um dos problemas da não-sustentabilidade da atividade pecuária está relacio-nado à degradação das pastagens. Esse processo decorre de um pastejo não-homogêneo, associado a práticas não-adequadas de manejo do fogo, que resultamno surgimento de áreas com elevada infestação de invasoras.

A principal questão que se coloca em relação às preocupações ambientais e àprodução leiteira no Brasil é se há conhecimento/conscientização/preocupação,por parte dos produtores, com os aspectos socioambientais da atividade. Essaquestão torna-se especialmente relevante à medida que o Brasil aumenta suaparticipação no mercado internacional de lácteos, pelo aumento das exportações.

Além do impacto junto aos produtores, é necessário frisar que as exigênciasambientais têm sido e serão cada vez maiores para empresas processadoras de

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43Cenários para o leite no Brasil em 2020

leite, acarretando na necessidade de adequação ambiental e maiores custos deprodução.

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ Há conhecimento/conscientização/preocupação por parte dos produto-res com os aspectos socioambientais da atividade?

♦ Os laticínios estão cientes dessa tendência e têm condições de se ade-quar de forma sustentável?

♦ Os laticínios têm elaborado e executado programas efetivos de adequa-ção ambiental em seus fornecedores?

♦ Qual o impacto nos custos de produção e industrialização de leite?♦ A fragilidade ambiental se constituirá em entrave comercial? Quando e

em que grau?

Qualidade do leite

A crescente preocupação dos consumidores em relação à qualidade dos produ-tos em geral tem levado a indústria alimentícia a buscar adequações que atendamàs exigências do mercado. No caso do leite, a relação entre qualidade percebidapelos consumidores e qualidade efetiva do produto não é tão evidente quanto emoutros produtos, mas a urbanização crescente, a busca por melhor qualidade devida e do grau de informação das pessoas certamente mudará esse conceito.Além disso, são inegáveis as exigências de qualidade para exportação de deriva-dos lácteos.

Do ponto de vista de controle e qualidade, o leite e os derivados lácteos estãoentre os alimentos mais testados e avaliados, principalmente devido à sua impor-tância na alimentação humana e também à sua natureza perecível. Os testesutilizados para avaliar a qualidade do leite fluido constituem normas regulamenta-res em todos os países, havendo pequena variação entre os critérios avaliados etipos de testes empregados. De forma geral, são avaliadas características físico-químicas e são definidos limites de contagem de bactérias e contagem de célulassomáticas, assim como requerimentos de ausência de microorganismospatogênicos, ausência de conservantes, químicos e de resíduos de antibióticos,pesticidas ou outras drogas (Figueiredo & Paulillo, 2005).

No que tange à qualidade do leite, dois aspectos merecem ser destacados: oprimeiro diz respeito ao cumprimento legal de padrões mínimos e o segundorefere-se às exigências de qualidade por parte da empresa compradora e da

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Cenários para o leite no Brasil em 202044

percepção pelo consumidor. Quanto à legislação, a Instrução Normativa nº. 51dispõe sobre os Regulamentos Técnicos de produção, identidade e qualidade doLeite tipo A, do Leite tipo B, do Leite tipo C, do Leite Pasteurizado e do Leite CruRefrigerado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seuTransporte a Granel. A aplicação desse regulamento é obrigatória para todo leiteproduzido e comercializado no mercado interno. A normativa é, portanto, o marcolegal e dita os padrões mínimos de qualidade.

Desta forma, um questionamento a ser levantado em relação às exigências dalegislação é se a sua entrada em vigor poderá elevar o padrão de qualidade nosetor como um todo. Os produtores mais tecnificados tendem a produzir dentrodos padrões de qualidade estabelecidos pela legislação. Entretanto, coloca-se aquestão da necessidade de capital e treinamento para adequação aos padrõesdeterminados pela legislação, principalmente por parte dos agricultores familia-res, que têm normalmente mais dificuldade de acesso à informação e crédito.

Outros dois aspectos que tangenciam essa questão são a disponibilidade deinfra-estrutura (eletricidade, estradas), em especial das regiões de fronteira, ondea produção mais cresce; e a inspeção oficial. A estrutura de inspeção não temsido suficiente para coibir fraudes em determinados produtos e a própriainformalidade, que por vezes vai muito além do problema social envolvendo produ-tores à margem, passando por pequenas indústrias que operam na informalidade eque competem com os produtos oficiais, que passaram pelos procedimentos dequalidade e de tributação existentes.

Além do marco legal, a melhoria da qualidade do leite depende essencialmenteda política de aquisição da matéria-prima por parte das indústrias. E, nesse aspec-to, o que importa é a qualidade desejada/percebida pela indústria compradora, ouseja, a melhor qualidade do leite é algo particular a cada empresa, não estabeleci-do pela legislação. Por exemplo, um laticínio que prioriza o teor de sólidos poderáremunerar melhor o leite com maior teor de gordura e proteína enquanto outroque trabalhe com leite pasteurizado pode valorizar a qualidade microbiológica. Poressa razão, o sistema de pagamento por qualidade é algo que faz parte daestratégia de cada empresa, que poderá ou não adotá-lo.

A principal implicação em relação à qualidade do leite é que, com ou semlegislação, considerando um cenário de boa disponibilidade de leite, deve ocorrervia mecanismos de mercado um aumento da valorização da qualidade, e produto-res que não priorizarem esse quesito terão maiores dificuldades decompetitividade e permanência na atividade formal (Carvalho, M., 2005a).

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45Cenários para o leite no Brasil em 2020

Existe ainda a questão da qualidade de leite percebida pelo consumidor. Assim,pode-se encarar a melhoria da qualidade como um processo natural de mercado,em um ambiente competitivo e com consumidores que tendem a ser cada vezmais exigentes, inclusive tendo à sua disposição uma gama cada vez maior deprodutos não-lácteos de qualidade e saudáveis.

Essa questão torna-se ainda mais relevante à medida que as exportaçõesbrasileiras de lácteos ocupam espaço no mercado internacional. Em muitos paísescom exigências mais rígidas, podem surgir barreiras às exportações, caso a quali-dade do leite brasileiro não esteja adequada àquele mercado. Além disso, ésensato pensar em aumento gradual das exigências de qualidade, como um todo.O fato de empresas como Nestlé, Fonterra, Parmalat e Danone teremposicionamento global é mais um fator que impulsiona a melhoria da qualidade,visto que cada vez será mais evidente o fluxo de lácteos entre empresas domesmo grupo, entre diferentes países (Carvalho, M., 2005b).

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ A IN/51 tende a elevar a qualidade do leite produzido no País ou serão asexigências do mercado que irão levar a esse aumento na qualidade doproduto do setor leiteiro?

♦ Existe a tendência de as empresas adotarem cada vez mais o pagamentopor qualidade? O que pode ocorrer com essa estratégia em momentos deescassez de leite?

♦ O sistema de inspeção oficial será aprimorado a ponto de evitar compe-tição desleal e o ambiente competitivo desfavorável?

♦ Coexistirão os sistemas de inspeção municipal, estadual e federal?♦ De onde virá o capital para aquisição de equipamentos e treinamento dos

produtores aos padrões determinados pela legislação (IN/51), principal-mente por parte dos produtores menos tecnificados. O que acontecerácom aqueles que não conseguirem se adequar?

Leite sob inspeção

Os dados do IBGE indicam que o leite sob inspeção federal não abrange atotalidade da produção, sendo a quantidade não-contabilizada erroneamente con-siderada como a quantidade de leite informal ou clandestino no País. Esse errodecorre do fato de que, nos 34% de produção sem inspeção federal, está incluídauma parcela de leite que é efetivamente inspecionada pelos serviços estaduais emunicipais. Além disso, este montante inclui autoconsumo nas propriedades,

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Cenários para o leite no Brasil em 202046

fazendo com que a porcentagem de leite sem inspeção de fato colocada nomercado seja bastante inferior.

De qualquer forma, a informalidade existe no setor lácteo, assim como existeem diversos outros setores da economia brasileira. O mercado informal é aquelesem inspeção oficial e inclui leite sem tratamento térmico, queijo e outros deriva-dos lácteos que são consumidos nas propriedades e/ou vendidos na região deorigem. A Fig. 9 mostra a aquisição de leite cru ou resfriado pelos laticínios e adiferença entre a produção total de leite e essa aquisição, que pode ser considera-da uma proxy (ressalvando-se o erro explicado acima) da produção de leite infor-mal. Nota-se que de 1997 a 1999, a produção de leite sem inspeção oficialsuperou 40% do total. A partir de 2000, houve pequena redução neste índice,cuja participação média foi de 38% até 2004. No ano de 2005, houve novaredução para 33,7%.

A informalidade tem origem em diversos aspectos, como a proximidade e orelacionamento entre produtor de leite e consumidor, conveniência (muitas vezeshá pagamentos mensais e entrega porta-a-porta), percepção equivocada de maiorqualidade por parte do consumidor (informação), preço e mesmo a falta de alter-nativa comercial por parte de produtores que, normalmente, estão à margem doprocesso de desenvolvimento. Em muitas regiões, a informalidade passa ao largo

Fig. 9. Quantidade de leite cru ou resfriado adquirido e produção sem

inspeção federal entre 1997 e 2005.

Fonte: IBGE (2005 e 2006).

7.978 8.006 7.931 7.659 7.297 8.422 8.627 8.980 8.288

10.688 10.688 11.139 12.108 13.213 13.221 13.627 14.495 16.284

0

20

40

60

80

100

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Por

cent

agem

dapr

oduç

ão

Produção informal Quantidade de leite cru ou resfriado adquirido

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47Cenários para o leite no Brasil em 2020

do poder executivo, uma vez que envolve o trabalho de inúmeras famílias e todoum tecido social e econômico que, se rompido, será difícil de ser repostosatisfatoriamente e, de forma mais pragmática, resultará em perda de prestígiode políticos, tornando difícil o enfrentamento dessa questão.

As tendências a respeito da informalidade sofrem pressão de forças opostas.De um lado, as maiores exigências de resfriamento e transporte de leite e aspolíticas de pagamento diferenciadas tendem a empurrar para a informalidadeprodutores que não conseguem se adequar. De outro lado, a tendência de preçosmelhores para o leite, o maior grau de informação do consumidor, a melhoria nadistribuição de alimentos e infra-estrutura e a crescente urbanização, entre ou-tros fatores, tendem a estimular a produção formal, levando à redução dainformalidade na produção total de leite.

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ A informalidade tende a crescer no setor ou a tendência de reduçãoobservada no período 1997 a 2005 deverá continuar?

♦ Serão conduzidos projetos de impacto para formalização da produção,visando oferecer uma alternativa sustentável para produtores que hojenão têm condições de participar dos canais formais?

♦ A elaboração de campanhas de esclarecimento é uma alternativa válidaa ser utilizada pelo setor?

Aspectos relacionados à comercialização de leite no BrasilAspectos relacionados à comercialização de leite no BrasilAspectos relacionados à comercialização de leite no BrasilAspectos relacionados à comercialização de leite no BrasilAspectos relacionados à comercialização de leite no Brasil

A captação de leite

O processo de coleta a granel de leite refrigerado foi implantado por todas asgrandes empresas industriais, a partir da segunda metade da década de noventa.Nesse processo, o leite é resfriado imediatamente após a ordenha, em tanquesapropriados, onde permanece até a retirada pelo caminhão, a cada dois dias. Aadoção da coleta de leite a granel permitiu a redução dos custos de transporte emelhoria da qualidade da matéria-prima. Anteriormente, o sistema vigente envol-via o acondicionamento em latões, sendo o leite transportado até as unidades debeneficiamento em caminhões comuns; a matéria-prima ficava exposta à tempe-ratura ambiente e como a coleta era realizada diariamente, gerava maior custo do

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Cenários para o leite no Brasil em 202048

frete, além de maiores gastos com limpeza de latões e maior demanda de mão-de-obra na recepção. Esse processo de coleta refrigerada, porém, ainda não estátotalmente generalizado no País, sendo prevalente em especial � mas não exclusi-vamente � nas regiões de fronteira.

A adoção da coleta de leite a granel e também o conceito de logística integra-da levou ao fechamento de postos de resfriamento, redução nas rotas de coleta,demissão de pessoal e aumento da carga transportada por caminhão (Conejero,Cônsoli & Neves, 2006). Além disso, a granelização também provocou profundasmudanças nas relações entre produtores e indústrias.

A implantação da granelização teve conseqüências na seleção de produtoresentre empresas e regiões leiteiras. Sendo assim, a refrigeração e granelizaçãorepresentaram, a médio prazo, um forte impacto sobre o produtor não-especi-alizado de leite. A granelização força a homogeneização do leite na linha decoleta. Os produtores que não se adaptarem tendem a ter cada vez menos opçõesde comercialização do produto, o que deverá levar a preços menores e piorar suacondição de competitividade.

Entretanto, a granelização gera um ônus mais complicado de ser transpostopara produtores de pequeno porte, que geralmente não têm condições de adquiriro menor tanque de expansão disponível no mercado (200 litros), sem contar asinevitáveis reduções do custo do tanque por litro de leite que podem ser obtidas naaquisição de tanques maiores (Schiavi, 2006). Há a opção de tanques comunitári-os, que permitem a colocação do leite de diversos produtores pequenos. Essaopção tem sido bastante usada e inclusive mascara a redução do número defornecedores, embora existam dificuldades associadas à rastreabilidade do leitedepositado no tanque.

De qualquer forma, ainda que os tanques comunitários sejam uma realidade, éinegável que a granelização tem levado à redução do número de fornecedoresentre as principais indústrias, notadamente as que não são cooperativas. A Tabela4 mostra os 14 maiores laticínios do Brasil, os quais estão implantando essapolítica (Martins & Faria, 2006).

A Tabela 5 mostra que, embora tenha havido redução do número de fornece-dores de matéria-prima entre 1996 e 2005, o volume de leite recebido porprodutor diariamente aumentou.

Com relação à cadeia produtiva, a instabilidade do mercado dificulta suacoordenação por parte da indústria, tanto a montante como a jusante. De acordo

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49Cenários para o leite no Brasil em 2020

1 2Ordem com base na quantidade de leite recebida em 2005; CCL/SP – Cooperativa

Central deLaticíniosdoEstadodeSãoPaulo.

: Leite Brasil, CNA/Decon, OCB/CBCL e Embrapa Gado de Leite.Fonte

Tabela 4. Número de propriedades fornecedoras para os principais laticínios

do Brasil – 1996, 2000 e 2006 (em mil unidades).

Ordem1 Empresa 1996 2000 2006

1 DPA/Nestlé 39,2 14,1 6,0

2 Itambé 19,9 8,4 9,7

3 Eleva 44,0 32,2 19,6

4 Parmalat 35,8 15,6 4,6

5 CCL/SP2 25,4 8,9 2,8

6 Embaré n.d. n.d. 1,9

7 Morrinhos n.d. 7,3 4,1

8 Centroleite n.d. 4,2 4,8

9 Sudcoop n.d. n.d. 5,4

10 Confepar n.d. n.d. 5,7

11 Batavia 11,8 7,5 4,1

12 Leite Líder n.d. 8,8 5,3

13 Danone 2,1 1,4 0,5

14 Grupo Vigor 8,4 3,7 1,3

Média 23,3 10,2 5,4

1 2Ordem com base na quantidade de leite recebida em 2005; CCL/SP – Cooperativa

Central de Laticínios do Estado de São Paulo.

: LeiteBrasil, CNA/Decon, OCB/CBCL e Embrapa Gado de Leite.Fonte

Tabela 5. Volume diário de leite recebido por produtor em 14 dos principais

laticínios do Brasil – 1996, 2000 e 2006 (em litros por dia).

Ordem1 Empresa 1996 2000 2006

1 DPA/Nestlé 100 270 569

2 Itambé 98 252 274

3 Eleva 35 65 105

4 Parmalat 91 1.662 247

5 CCL/SP2 72 157 211

6 Embaré n.d. n.d. 360

7 Morrinhos n.d. 55 207

8 Centroleite n.d. 114 148

9 Sudcoop n.d. n.d. 110

10 Confepar n.d. n.d. 114

11 Batávia 62 100 161

12 Leite Líder 225 64 108

13 Danone 99 251 909

14 Grupo Vigor 8 170 296

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Cenários para o leite no Brasil em 202050

com Carvalho, M., (2005c), algumas iniciativas visando à melhoria da relaçãoentre produtores e indústrias, em parte encabeçadas pelos laticínios, originam-seda necessidade de gerenciar melhor as redes de suprimento de matéria-prima.

Nas redes, normalmente, há elos mais fortes e elos mais fracos. Na relaçãotradicional, existe o chamado �ganha/perde�, ou seja, há um elo que costumaganhar (evidentemente o elo mais forte) e um elo que costuma �perder� (entreaspas porque não se trata necessariamente de perder, mas sim de ficar proporci-onalmente com a parte menor do valor gerado na cadeia). Em geral, as iniciativasde mudança na gestão de redes de suprimentos, transformando uma relação�ganha/perde� em uma relação �ganha/ganha�, têm origem nos elos mais fortes.Como justificar que os elos mais fortes, que normalmente ficam com uma partemaior do valor gerado na cadeia, tenham a predisposição de alterar essa situa-ção? Em geral, o que faz mudar esse posicionamento é uma externalidade, ou umfator externo à rede, que coloca em risco a competitividade do elo mais forte e daprópria rede (Carvalho, M., 2005c).

Ainda de acordo com Carvalho, M. (2005c), é possível que um processo dessanatureza esteja iniciando na cadeia do leite. O autor destaca que a própriagranelização já representou um passo importante nessa direção, ao reconhecer aexistência de importantes ganhos de eficiência e qualidade embutidos na gestãodos fornecedores, em especial na concepção do processo de captação de leite. Acrescente valorização da qualidade por meio de programas de pagamento diferen-ciado e a proposição de programas de fidelização por parte dos principais laticíniossão exemplos de que, cada vez mais, haverá valor a ser captado na gestão da redede suprimentos (Carvalho, M., 2005c).

O exemplo mais recente dessa percepção está no anúncio, por parte do fundoLaep, que controla a Parmalat, do lançamento de ações para captação de recur-sos visando a investimentos para a implantação de um sistema de integração, àsemelhança do existente na avicultura e suinocultura (Milkpoint, 2007d).

A tendência de melhoria na gestão da rede de suprimentos pode levar à maiortransparência por parte de alguns laticínios em relação à formação/divulgação dospreços. Hoje, os maiores produtores, com escala, qualidade, constância, estãorecebendo preços melhores e alguma sinalização de continuidade no fornecimen-to, ainda que sem contratos formais de fornecimento.

O autor conclui que os indícios de melhoria da gestão da rede de suprimentospoderão contribuir para a evolução do relacionamento entre os elos da cadeia delaticínios e para o crescimento e geração de valor na cadeia no longo prazo.

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51Cenários para o leite no Brasil em 2020

Tais indícios, no entanto, são recentes e, como tal, podem não se firmar emcenários de mercado desfavorável. Isso porque o relacionamento desses agentesé marcado por algum grau de desconfiança e assimetria de informação. Emmomentos de incerteza ou transição, tem-se a impressão de que a relação volta ase balizar pelo curto prazo e não mais pela visão de longo prazo.

No que tange ao relacionamento a jusante da cadeia produtiva, Martins &Faria (2006) destacam dois pontos que inibem o exercício da coordenação: 1) arelação da indústria com os supermercados e 2) o fato de a demanda de lácteosser influenciada pelo poder aquisitivo do consumidor e pela facilidade/dificuldadede se importar leite. O crescimento do consumo de leite longa vida acaboulevando os supermercados a substituírem as padarias como o principal canal dedistribuição. Apesar de ter reduzido os custos de distribuição, esse processocoloca os laticínios numa posição de terem que negociar com um agente commaior poder de barganha. Isso pode levar os laticínios de pequeno e médio porte aterem dificuldade na colocação de seus produtos.

A concentração do varejo (Fig. 10), aliás, é uma característica crescente eque contribui não só para estimular relacionamentos de mais longo prazo entreprodutores e indústrias, mas também coloca em jogo a rentabilidade do setorindustrial, que repassará ao produtor, na medida do possível, as condições impos-tas pelo varejo.

Fig. 10. Evolução da concentração do setor supermercadista.

Fonte: Associação Brasileira de Supermercados. Extraído de Carvalho,

G. & Martins (2007).

37%40%

60% 59%62%

47% 49%

69% 69% 71%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

1994 1997 1999 2002 2006

Cinco maiores 10 maiores

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Cenários para o leite no Brasil em 202052

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ O que acontecerá com os produtores que não se adaptarem às exigênciasde qualidade e volume? Tendem a comercializar a sua produção paralaticínios regionais, muitas vezes sem o mesmo controle de qualidade, ouentão comercializar o produto por canais não-oficiais?

♦ Com relação à redução no número de fornecedores e aumento no volu-me captado por produtor, há tendência de continuidade no médio/longoprazo? A que taxas?

♦ A relação entre produtor e indústria está de fato mudando, isto é, existeinteresse real da indústria em melhorar o gerenciamento da cadeia desuprimentos no médio/longo prazo? Existe a tendência, por parte daindústria, em preservar e aumentar um �pool� de fornecedores que têmprodução com constância e qualidade?

♦ Aspectos como diretrizes globais de algumas empresas e uma possívelestratégia para fazer frente a um papel que historicamente semprecoube às cooperativas podem levar as empresas a adotarem esse com-portamento?

♦ Se isso ocorrer, qual o impacto na competitividade das cooperativas nacaptação de leite, uma vez que seria de se esperar, na hipótese derelação mais profissionalizada entre indústrias e produtores mais eficien-tes, que as cooperativas tenham mais dificuldade de se justificar?

♦ Aspectos como responsabilidade social, além da melhoria da qualidadedo leite, podem contribuir para que o relacionamento indústria/produtor(e varejo/produtor) melhore5 ?

As cooperativas

As cooperativas de leite de todo o mundo passaram por grandes transforma-ções nos últimos anos. Houve mudanças nas estruturas de governançacorporativa, foram ágeis no reposicionamento diante de um mercado global eaumentaram sua participação no mercado. Entretanto, o mesmo não ocorreu noBrasil (Martins & Faria, 2006).

Durante o período de regulamentação do mercado do leite, que durou atémeados da década de noventa, as cooperativas eram estruturadas em Singularese Central. As cooperativas Singulares viabilizavam o processamento e

5 No Reino Unido, as principais redes de varejo estão contratando leite de produtores selecionados, pagando umdiferencial de até 30%. A necessidade de garantia de suprimento de leite de qualidade e a imagem das grandesredes estariam na origem desse fato (Jim Begg, em palestra realizada no World Dairy Summit 2007, em Dublin,Irlanda).

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53Cenários para o leite no Brasil em 2020

comercialização da produção nos mercados regionais, nos quais as marcas goza-vam de credibilidade. O excedente de produção era repassado à CooperativaCentral, a qual tinha a função de abastecer os grandes centros consumidores.Esse modelo era justificável na época e encontrava dois grandes estímulos: oapoio financeiro do governo, que visava garantir o abastecimento de leite nosgrande centros, e a falta de opção do consumidor, o qual tinha que pagar pelocusto de toda a operação (Martins & Faria, 2006).

A desregulamentação pelo governo e a abertura de novos mercados no inícioda década de noventa levaram a mudanças significativas em todo o setor. Apressão competitiva, somada ao aumento do poder aquisitivo dos consumidores,decorrente da implantação do Plano Real, levou muitas empresas multinacionais aaumentarem a captação de leite e introduzirem novos produtos no mercado.Dentre eles, o leite UHT, que teve um crescimento expressivo e substituiu aparticipação do leite pasteurizado no mercado, que era o principal produto demuitas cooperativas. Além disso, a introdução da granelização fez com que mui-tas cooperativas perdessem a vantagem comparativa que tinham na captação deleite, colocando em xeque a estrutura Singulares-Central que predominava atéentão. Devido à crise desse modelo, muitas centrais foram forçadas a se desfaze-rem de seus ativos fixos e marcas. Entretanto, a captação de leite por parte dascooperativas ainda é bastante significativa atualmente (Bialoskorski Neto, Souza& Garcia, 2006).

Da produção total do Brasil em 2003 (22,3 bilhões de litros de leite), cercade 40%, ou seja, 8,9 bilhões de litros de leite, são captados por cooperativas.Esse número é, porém, inferior a outros países relevantes na produção de leite,que possuem mais de 80% do leite captado pelas cooperativas. Conformemostra a Tabela 5, cinco das dez maiores empresas captadoras de leite eramcooperativas, as quais responderam, em 2005, por 36% do total captado pelasdez maiores.

As cooperativas processam apenas dois terços do leite captado e vendem cercade 40,6% para outras empresas, no que se denomina mercado spot (Netto et al.,2004). Em maior ou menor grau, a comercialização de leite no mercado spot podeapresentar se não uma relação contratual de mais longo prazo, ao menos umasinalização de relacionamento entre cooperativas e laticínios com indústrias (inclusi-ve cooperativas). No entanto, a negociação quinzenal e a existência de relativamen-te poucos compradores para o leite spot fazem com que esse mercado seja marca-do pelo curto prazo e, portanto, sensível às flutuações de oferta e demanda que

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Cenários para o leite no Brasil em 202054

venham a ocorrer. Além disso, o quase inexistente processamento do leite, aausência de marcas, a ausência de barreiras de entrada e os volumes ainda relativa-mente baixos comercializados por essas cooperativas de negociação (chamadas de�barganha�, nos Estados Unidos) podem tender à baixa agregação de valor, quandoanalisado em uma série histórica suficientemente longa.

É interessante notar que algumas empresas têm, em sua estratégia global,diminuído sua atuação na aquisição de leite diretamente de produtores, sendoexemplo a Kraft e a própria Nestlé, que criou, junto à Fonterra, a empresa DairyPartners Americas, que é responsável pelo seu suprimento de leite. Esse fatopode levar a uma divisão mais clara de papéis na cadeia do leite, ficando ascooperativas cada vez mais próximas da captação, com relacionamento mais oumenos estável com indústrias que investirão em processamento, pesquisa e de-senvolvimento, marketing e distribuição de lácteos. Essa estratégia pode ser umaalternativa à seleção de fornecedores por parte de laticínios, conforme discutidono item anterior.

Para que as cooperativas possam competir de igual para igual com as grandesmultinacionais, há alguns obstáculos, entre eles a dificuldade de capitalização(Martins et al., 2006). Outro importante ponto a ser considerado é aprofissionalização da gestão, um tabu para a maior parte delas. Em função disso,a dinâmica das modificações nas cooperativas brasileiras é bem menos intensa doque das empresas concorrentes e mesmo de cooperativas no resto do mundo. Umexemplo são os processos de fusões, que encontram grande dificuldade de com-preensão e efetivação, como é o caso das cooperativas de leite do Sudeste doBrasil (Bialoskorski Neto, Souza & Garcia, 2006).

As fusões e alianças entre cooperativas surgem como uma importante estra-tégia competitiva que pode levar a ganhos logísticos, redução de custos fixosdas instalações fabris e elevar a oferta de produtos com maior valor agregado.Entretanto, dadas as características da cultura do produtor de leite e da organi-zação das cooperativas de leite no Brasil, é pouco provável que ocorra no Paísuma estratégia de fusão das cooperativas de leite como ocorreu na Dinamarcaou a montagem do sistema Dairy Farmers of America nos Estados Unidos. Ascaracterísticas culturais dos cooperados no Brasil fazem com que eles tenhamum envolvimento emocional com a cooperativa, muitas vezes impedindo assimples relações contratuais ou mesmo estratégias de fusões e incorporações.Dessa forma, o associado acaba por não aceitar estratégias de negócios queimpliquem no desaparecimento de sua cooperativa. Adicionalmente, o quadro

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55Cenários para o leite no Brasil em 2020

gerencial das cooperativas, incluindo conselheiros e o próprio presidente, muitasvezes, também resiste a essas estratégias (Bialoskorski Neto, Souza & Garcia,2006).

Contudo, uma cooperativa está sujeita às mesmas forças de mercado que asempresas com outra estrutura de capital. Por essa razão, necessitam sergerenciadas de forma profissional, inovar em produtos e processos e ter umaestrutura de custos compatível com o mercado. Aquelas que não acompanharem asmudanças no mercado perderão, fatalmente, seu espaço (Carvalho, M., 2006c).

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ Até que ponto a atual legislação cooperativista dificulta a capitalização emesmo a criação de figuras jurídicas que acomodem a cooperativa comoacionista?

♦ Até que ponto as questões culturais serão um impedimento àprofissionalização das cooperativas?

♦ Qual o papel que caberá às cooperativas na cadeia de leite: cada vezmais comercializar o leite dos cooperados para outras empresas, ouverticalizar, investindo na industrialização, em pesquisa, marketing edistribuição? Nesse aspecto, será uma tendência grandes empresas bus-carem em cooperativas seu suprimento de leite, abdicando ou reduzindoas compras diretas de produtores de leite?

♦ As cooperativas terão agilidade para acompanhar o aumento dacompetitividade e do dinamismo no setor, ou perderão cada vez maisespaço se tentarem competir com os laticínios?

Características da indústria de laticínios no Brasil

No total, em 2005, o Brasil possuía 1.973 laticínios localizados principalmentenos Estados de Minas Gerais (34,4%), São Paulo (13%) e Goiás (10,4%). A maiorparte desses laticínios é de pequeno porte. De acordo com a Tabela 6, cerca de55% deles têm capacidade instalada entre 5 e 10 mil litros de leite por dia.Somente 5,3% dos laticínios têm capacidade instalada superior a 100 mil litros/dia. Desses, 28,8% estão localizados em São Paulo e 20,2% em Minas Gerais. Demaneira geral, os centros de coleta de leite fluido estão localizados próximos àsplantas industriais, numa tentativa de minimizar os custos de frete (Conejero,Cônsoli & Neves, 2006).

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Cenários para o leite no Brasil em 202056

Os maiores laticínios do País e suas respectivas recepções de leite estãolistados na Tabela 7. Com base na recepção anual de leite em 2006, os trêsmaiores laticínios do País são DPA (Dairy Partners Americas, uma jointventure da Nestlé com a Fonterra), a cooperativa nacional Itambé e a empresaEleva, anteriormente Avipal. Nota-se ainda pela Tabela 7 que a indústria delaticínios do País é pouco concentrada, uma vez que a recepção anual dascinco maiores empresas representou 27,5% do total de leite adquirido formal-mente em 2005 (16,7 bilhões de litros), enquanto das 14 maiores empresasrepresentou 41%. No entanto, há que se considerar a existência de concentra-ção regional.

Quanto à utilização do leite pela indústria, destaca-se que o queijo é oproduto que mais consome leite, conforme mostra a Tabela 8. O leite UHT e oleite em pó respondem por 18,7% e 18,6% da utilização do leite enquanto6,8% da produção é destinada ao leite fluido A, B e C. Os demais produtosparticipam com percentuais bem menores de utilização, mas apresentam po-tencial de crescimento no mercado.

Número de estabelecimentos por estadoCapacidade instalada

(mil litros) GO MG MS MT PR RJ RS SC SP

Mais de 500 4 7 – – 1 – 1 – 7

300 a 500 2 8 – – 2 1 2 – 4

100 a 300 9 15 – – 8 7 6 1 10

50 a 100 5 26 5 1 5 7 8 3 8

20 a 50 45 119 7 11 24 17 30 16 42

10 a 20 32 112 19 6 33 14 31 12 35

5 a 10 40 120 14 16 34 11 20 21 59

Até 5 69 273 12 35 54 13 19 32 93

Total 206 680 57 69 161 70 117 85 258

Tabela 6. Capacidade instalada da indústria de laticínios com SIF nos

principais estados produtores de leite.

Nota

Fonte

: Não estão incluídos os entrepostos de laticínios (EL-1) e outras instalações que

produzem leite (L).

: Indi (2003). Extraído de Conejero, Cônsoli e Neves (2006).

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57Cenários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 7. Maiores empresas de laticínio no Brasil – 2005 e 2006.

Recepção anual de leite

(em mil litros) – 2005

Recepção anual de leite

(em mil litros) – 2006

Número de

produtores

Produção

média diária

(L/produtor/dia)Classe1 Empresa/Marcas

Produtores Terceiros Total Produtores Terceiros Total 2005 2006 2005 2006

1 DPA 1.246.000 462.000 1.708.000 1.247.000 455.000 1.702.000 6.110 6.000 557 569

2 Itambé 982.000 23.000 1.005.000 970.000 69.000 1.039.000 7.325 9.700 366 274

3 Elegê 737.782 103.767 841.549 756.002 141.963 897.965 25.001 19.641 81 105

4 Parmalat 388.117 203.730 591.847 418.800 193.270 612.070 4.400 4.640 241 247

5 CCL 254.057 106.067 360.124 219.507 96.538 316.045 4.388 2.846 158 211

6 Embaré 250.867 55.382 306.249 262.052 47.401 309.453 2.380 1.992 288 360

7 Laticínios Morrinhos 233.310 66.134 299.444 309.661 28.437 338.098 3.200 4.100 199 207

8 Centroleite 258.195 10.073 268.268 262.652 476 263.128 5.049 4.850 140 148

9 Sudcoop 234.876 31.385 266.261 217.915 8.080 225.995 5.998 5.434 107 110

10 Confepar 210.543 51.690 262.233 238.495 49.987 288.482 6.152 5.740 94 114

11 Batávia 224.561 0 224.561 241.601 0 241.601 4.019 4.104 153 161

12 Líder Alimentos 184.240 18.439 202.679 209.876 16.659 226.535 5.243 5.320 96 108

13 Danone 134.575 61.824 196.399 164.662 57.283 221.905 605 496 608 909

14 Grupo Vigor 171.009 20.913 191.922 136.814 41.007 177.821 996 1.266 469 296

Total 5.510.132 1.214.404 6.724.536 5.655.037 1.205.101 6.860.098 80.866 76.129 187 273

1

2

3

Classificação base recepção (produtores mais terceiros) no ano de 2005.

Posição em 31 de dezembro.

Números referentes à compra de leite realizada pela DPA Manufacturing Brasil em

nome da Nestlé, Fonterra, DPA Brasil e Itasa.

: Leite Brasil (2006), CNA/Decon (2006), OCB/CBCL (2006) e Embrapa Gado de

Leite (2006).

Fonte

Tabela 8. Utilização do leite pela indústria de laticínios.

Destino Quantidade UnidadeValor da produção

(mil R$)

Consumo de leite

(mil litros)Porcentagem

Queijos 808.112 mil kg 5.543.650 7.919.500 33,7

Leite UHT 4.403.000 mil litros 5.873.602 4.403.000 18,7

Leite em pó 420.000 mil kg 3.654.000 4.379.130 18,6

Leite fluido A, B, C 1.590.000 mil litros 1.431.000 1.590.000 6,8

Produtos lácteos frescos 545.897 mil kg 2.548.880 419.904 1,8

Manteiga 75.000 mil kg 441.000 308.918 1,3

Outros1 1.138.549 4,8

Autoconsumo 3.341.000 mil litros 3.341.000 14,2

Total 19.492.132 23.500.001 100,0

Fonte: Conejero, Cônsoli e Neves (2006).

Envolve a produção destinada a derivados, como creme de leite, leite condensado,

sorvetes, doce de leite, exportações e outros derivados.

1

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Cenários para o leite no Brasil em 202058

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ Dado o atual perfil da indústria de laticínios no Brasil, onde a maior partedos laticínios é de pequeno porte, existe a tendência de que essa situa-ção se modifique, ou seja, de aumento na capacidade de produção porunidade industrial?

♦ A busca por economias de escala, visando melhorar a eficiência e acompetitividade nos mercados, pode levar as indústrias de laticínios àmaior concentração de mercado, ou seja, existe uma tendência de asgrandes empresas do setor aumentarem sua participação no mercadoem detrimento das pequenas e médias?

Consumo de leite e derivados no mercado internoConsumo de leite e derivados no mercado internoConsumo de leite e derivados no mercado internoConsumo de leite e derivados no mercado internoConsumo de leite e derivados no mercado interno

O consumo de leite e derivados pode ser alterado por diversas variáveis,dentre as quais o aumento da renda, o crescimento da população, a redução nospreços relativos de produtos concorrentes ou substitutos e mudanças nos hábitosde consumo, entre outras. Na realidade, diversas dessas variáveis atuam simulta-neamente, afetando a demanda por lácteos. Algumas são passíveis de seremgerenciadas pela cadeia produtiva, enquanto outras não.

Nesse contexto, as informações de mercado são imprescindíveis para o desen-volvimento das estratégias empresariais, relações entre agentes nas cadeiasprodutivas e elaboração de políticas públicas. A identificação do perfil dos consu-midores e das tendências de consumo dos bens ajuda a definir investimentos paraa produção e inovação em lácteos e para o marketing das empresas (Oliveira &Carvalho, 2006).

Renda, crescimento e perfil etário da população

Existem algumas variáveis que interferem diretamente no consumo de leite enão são passíveis de controle pela cadeia produtiva. Entre essas variáveis estãorenda, crescimento da população e perfil populacional.

Renda6

O consumo per capita de leite no Brasil tem variado de 130 a 140 litros/habitante/ano e é considerado abaixo daquele recomendado pela Organização

6 Esta seção baseia-se em Oliveira & Carvalho (2006).

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59Cenários para o leite no Brasil em 2020

Mundial da Saúde (OMS) de 180 litros/habitante/ano. Entretanto, é importantesalientar que houve um aumento significativo no consumo de produtos lácteos nosprimeiros anos que se seguiram à implantação do Plano Real, devido ao aumentoreal na renda das famílias, principalmente nas classes mais pobres. A Fig. 11mostra que nos anos anteriores e posteriores à estabilização de preços no País,quando não houve alterações significativas na renda real, o consumo aparente deprodutos lácteos permaneceu relativamente estagnado.

O aumento no consumo devido à elevação da renda real indica que o consumode lácteos apresenta o chamado efeito renda, ou seja, quanto maior o crescimen-to da renda per capita, principalmente nas faixas de população mais pobres, maiortende a ser a elevação no consumo. Assim, a estagnação no consumo de lácteosnos períodos que precedem e antecedem a implantação do Plano Real (Fig. 11)pode ter sido ocasionada pela estagnação da renda.

Porém, dados recentes têm mostrado que talvez a renda tenha um papelmenos relevante do que se supunha. Os dados da Pesquisa do Orçamento Familiar(POF), conduzida pelo IBGE, mostram que tem havido redução relativa dos gastoscom alimentação, inclusive entre os mais pobres. Em 1987/88, cerca de 45% doorçamento dos 10% mais pobres era gasto com alimentação. Na POF de 2002/03, essa porcentagem caiu para 25%, indicando que, gradativamente, o custodos alimentos fica menos importante mesmo para os menos favorecidos, o quepode contribuir para a redução da elasticidade-renda.

Fig. 11. Consumo per capita aparente de produtos lácteos no Brasil,

em litros.

Fonte: CNA, OCB/CBCL, Leite Brasil e Embrapa Gado de Leite (2005).

Extraído de Oliveira & Carvalho (2006).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

1.9

80

1.9

82

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84

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86

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88

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90

1.9

92

1.9

94

1.9

96

1.9

98

2.0

00

2.0

02

2.0

04

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Cenários para o leite no Brasil em 202060

O estudo de Oliveira & Carvalho (2006) avaliou, a partir dos dados da POF2002/2003, do IBGE, a variação de consumo de leite e derivados a partir deincrementos de renda, em diversas faixas de renda familiar mensal e nas váriasregiões do País. É importante ressaltar que a propensão ao consumo apresentavariações por faixa de renda, daí a necessidade de segmentação da análise.Produtos que têm alta elasticidade-renda em determinada faixa podem se mostrarinelásticos em outra. Diferenças regionais, em grande parte, também podemrefletir diferenças de renda, conforme discutido e analisado pelos autores.

Sinteticamente, os resultados obtidos pelos pesquisadores indicam que aselasticidades-renda para o agregado de leite e derivados no Brasil mostraram-seinelásticas, sendo necessário um salto significativo na renda, como o verificadodepois do Plano Real, para que haja uma evolução expressiva no consumo delácteos no País.

O ponto relevante do estudo é que, apesar de a renda ser um componenteessencial para o crescimento do consumo, ela talvez não seja suficiente parapromover a evolução esperada, especialmente nas faixas de renda mais eleva-das7 . Mudanças em hábitos de consumo e percepções do consumidor, como aquestão da preocupação com a saúde, podem estar na raiz dessa conclusão,aliadas à existência de um número cada vez maior de produtos substitutos, comosucos prontos e bebidas à base de soja.

Além de investimentos em inovação, estratégias institucionais de longa dura-ção, que promovam a imagem do leite perante a população, podem incrementar apresença dos lácteos no hábito de consumo dos brasileiros.

Crescimento populacional

Além da renda, é importante considerar que, historicamente, uma porçãosignificativa do aumento no consumo de lácteos tem sido explicada pelo simplescrescimento populacional, ainda que as taxas de crescimento populacional te-nham sido decrescentes.

As taxas médias de crescimento da população brasileira durante o século XXeram de 2,91% ao ano nas duas primeiras décadas e caíram para 1,49% nas duasdécadas seguintes. A partir da década de 1940, o ritmo de crescimento dapopulação voltou a se intensificar e atingiu um pico histórico de 2,99% ao ano

7 Os autores salientam que melhorias de renda nas classes mais baixas e desoneração tributária dos produtospoderão contribuir mais para a expansão do consumo de lácteos.

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61Cenários para o leite no Brasil em 2020

entre 1950 e 1960. Na década de 70, a taxa de crescimento populacional foi de2,49%, caindo para 1,89% na década de 80, antes de declinar para 1,63%, nadécada de 1990. Tudo indica que a trajetória descendente deverá permanecer nofuturo, e a taxa de crescimento populacional projetada para 2020 é de 0,71%,em média, ao ano (IBGE, 2003).

De 1996 até 2004, a produção brasileira de leite cresceu 23,7%, de 16,5bilhões de litros para 23,5 bilhões e, no mesmo período, a população aumentou14,2%, de 161 milhões para 181 milhões de habitantes, de acordo com estimati-vas do IBGE. Dadas as diferenças na magnitude dos aumentos no período, aprodução per capita e o consumo per capita foram se aproximando, conformemostra a Fig. 12.

O aumento da produção durante a década de noventa levou à substituição dasimportações e à auto-suficiência do País. Contudo, nota-se pela Fig. 12 que em2004 a produção per capita supera o consumo per capita. Considerando-se atrajetória decrescente da taxa de crescimento populacional para os próximosanos e a taxa de crescimento da produção de leite no período 1996 a 2004(3,07% a.a.), a produção deverá tender a superar o consumo interno no futuro.Nesse cenário, o mercado externo torna-se uma importante alternativa paradirecionamento do excedente da produção, além das estratégias para aumentar oconsumo no mercado interno.

100

105

110

115

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130

135

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Consumo per capita Produção per capita

Fig. 12. Consumo e produção de leite – 1996 a 2004.per capita

Fontes: IBGE, 2005; SECEX (Secretaria de Comércio Exterior – MDIC).

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Cenários para o leite no Brasil em 202062

Perfil etário da população

A tendência decrescente da taxa de crescimento populacional tem implica-ções sobre o perfil etário da população, ou seja, à medida que essa taxa diminui, apopulação envelhece. Esse envelhecimento deve-se tanto à redução na taxa denatalidade como na taxa de mortalidade estimadas para os próximos anos.

De acordo com estimativas do IBGE, há tendência de redução na taxa denatalidade e manutenção da taxa de mortalidade para a próxima década. De 1991a 2000, a taxa de natalidade média estimada é de 21,99 por mil habitantes. De2001 a 2010, o valor estimado caiu para 20,09 por mil habitantes, enquanto de2011 a 2020, projeta-se uma redução para 16,86. Já com relação à taxa médiade mortalidade, o IBGE estima que entre 1991 e 2000, ela seja 6,55, ao passoque entre 2001 e 2010 o valor reduziu-se para 6,3 por mil habitantes. A taxa demortalidade projetada entre 2011 e 2020 é 6,31 por mil habitantes.

De acordo com esses valores, o IBGE estima que, em 1990, 45,3% da popula-ção brasileira tinha menos de 19 anos, 6,8% mais de 60 anos, dos quais 0,6%tinha mais de 80 anos. Já em 2000, 40,2% da população brasileira tinha menosde 19 anos, enquanto o percentual de pessoas com mais de 60 anos aumentoupara 8,1% e 0,9% tinha mais de 80 anos. De acordo com as projeções do IBGE,em 2010, 35,3% da população terá menos de 19 anos, 9,8% mais de 60 e 1,3%mais de 80 anos. Considerando-se um horizonte mais longo, projeta-se para 2020que o percentual da população com menos de 19 anos seja 32,2%, com mais de60 anos 12,9% e com mais de 80 anos, 1,8%. Assim, a idade média da popula-ção, estimada em 27,3 anos em 2007 deverá aumentar para 31,8 anos em 2020.A Fig. 13 mostra as estimativas e projeções da população de 80 anos ou mais de1980 até 2050.

Esse envelhecimento da população tende a exercer impactos negativos noconsumo de leite fluido por duas razões principais: 1) o jovem tem maior propen-são a consumir leite fluido comparativamente às demais faixas etárias; 2) nacultura brasileira, o leite é considerado um alimento de pessoas de primeira idade,ou seja, é um produto associado muito mais à visão de saúde e nutrição do que ade um produto saboroso e de prazer (Martins, 2007).

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Pensa (2006), as pessoas têmuma percepção geral de que o leite é um alimento saudável, mas esse atributodeve ser melhor esclarecido, uma vez que poucas pessoas se consideram informa-das. Outro resultado importante da pesquisa sugere que a imagem do leite estábastante ligada a crianças (Thomé e Castro, Teixeira & Caldeira, 2006).

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63Cenários para o leite no Brasil em 2020

De acordo com Thomazini (2004) apud Thomé e Castro, Teixeira & Caldeira(2006), os consumidores brasileiros em parte levam em conta a crença8 de que oadulto não pode beber muito leite porque não absorve todas as substâncias nelecontidas. Esse entrave cultural contribui para que a maior porção do consumoconcentre-se nas faixas etárias mais baixas e também para o baixo consumo delácteos no País. Maiores informações ao consumidor sobre o leite e seus derivadospodem amenizar a situação e levar ao incremento no consumo desses produtos.

Estratégias para o aumento da demanda

Conforme abordado, variáveis como renda, taxa de crescimento e perfil dapopulação não podem ser alteradas pelo setor de lácteos. Entretanto, o conheci-mento de suas tendências pode ser utilizado como importante instrumento paraações estratégicas e planejamento de longo prazo pelos agentes do setor, visandoaumentar a demanda de lácteos.

O relativo baixo consumo per capita de leite e derivados no Brasil indica queexiste potencial de consumo no mercado interno e que essa oportunidade deve seraproveitada para aumentar a demanda desses produtos, principalmente conside-rando-se a tendência de aumento da produção nacional.

8 Logicamente existem restrições como alergia e intolerância à lactose para determinados indivíduos, mas não deforma generalizada entre a população.

População

Fig. 13. População brasileira de 80 anos ou mais – 1980 a 2050.

Fonte: IBGE.

9.000.000 1.000.0007.000.000 3.000.0005.000.000 5.000.0003.000.000 7.000.0001.000.000

1980

1990

2000

2005

2010

2020

2030

2040

2050

9.000.000

MulheresHomens

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Cenários para o leite no Brasil em 202064

Diversas ações podem ser implementadas nesse sentido, como lançamento denovos produtos, tanto para atender aos desejos do consumidor como para concor-rer com bebidas substitutas, busca por novos mercados, com ações de marketinginstitucional e relacionamento com o governo para desenvolvimento de açõessociais. Tais ações, que podem traduzir-se em aumento do consumo de produtoslácteos, são abordadas nos subitens a seguir.

Inovações no mercado de lácteos: produtos

De acordo com Carvalho, M. (2007b), o lançamento de produtos lácteos nomundo, no período de 2000 a 2004, mais do que dobrou em relação ao período decinco anos anterior. Mais ainda: os lácteos têm crescido sua participação emrelação ao lançamento de produtos alimentícios, o que prova o dinamismo dosegmento. Esse dinamismo do setor tem origem em múltiplos aspectos, dentre osquais o referido autor cita quatro.

♦ Primeiro, o aumento do fluxo internacional de capitais e do comércio, somadoà perspectiva de redução do suporte governamental, que criava � e ainda cria� um ambiente artificial e seguro de mercado para produtores e indústrias emdeterminados países, faz com que haja a necessidade de movimentação porparte das empresas, no intuito de incrementar a inovação.

♦ Segundo, o crescimento de grandes grupos globais de varejo exerce pressãosobre as empresas lácteas, incluindo a ampliação de produtos de marcaspróprias, que conferem às indústrias um espaço exclusivo de mercado cadavez menor. Assim, novos lançamentos são uma resposta natural a um novocenário nos negócios que envolvem maior competição e integração para tráspor parte do varejo.

♦ Terceiro, as mudanças na exigência do consumidor, demandando cada vezmais atributos como conveniência, segurança alimentar e benefícios à saú-de, abrem, simultaneamente, oportunidades para as empresas que seguiremas novas tendências de mercado e ameaças significativas aos que ficarempresos a uma realidade passada. Os produtos lácteos talvez tenham percebi-do tardiamente essas tendências, abrindo espaço para produtos substitutos.Agora, as empresas parecem procurar reverter esse quadro, sendo umexemplo a criação da Global Dairy Platform, uma plataforma mundial decolaboração entre empresas lácteas, visando trocar informações sobre pes-quisas em estágio pré-comercial, no intuito de acelerar os ganhos em pesqui-sa e desenvolvimento de produtos no setor (Carvalho, M., 2007c).

♦ O quarto fator que explica (e viabiliza) o dinamismo refletido nos lançamentosde novos produtos é o surgimento de novas tecnologias que ampliam aspossibilidades de atuação no setor lácteo. Novas técnicas de processamento,

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transporte e acondicionamento têm o poder de mudar o mercado, como, porexemplo, a substituição do leite pasteurizado pelo UHT no mercado brasileiro.A disponibilização de leite pasteurizado com maior vida de prateleira é umapossível tecnologia que poderá se massificar no futuro.

Assim, a adoção de estratégias de segmentação de mercado e diferenciaçãode produtos pode levar as indústrias lácteas a atingirem novos mercados, pelodesenvolvimento de novos produtos para segmentos não-atendidos. Produtos en-riquecidos com determinados nutrientes podem suprir necessidades especiais decrianças e idosos, que os necessitam em maior quantidade; produtos orgânicos,diet, light e funcionais também podem atender a segmentos específicos e ampliaro mercado para as empresas. Além disso, o desenvolvimento de embalagensespecíficas para atingir determinados segmentos, como as embalagens menorespara pessoas solteiras e casais sem filhos e as maiores para atender ao segmentode food service constituem-se em importantes inovações no setor (Conejero,Cônsoli & Neves, 2006).

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ Até que ponto a renda realmente direcionará o consumo de lácteos nofuturo, em um cenário em que uma parcela cada vez menor do orçamen-to será comprometida com a renda e em que o consumidor levará emconta outros valores além do preço?

♦ O setor conseguirá reunir fundos para investimentos em promoção genéri-ca de lácteos e relacionamento e informação de formadores de opinião?

♦ Como as empresas nacionais podem se posicionar nessa conjuntura emque inovação (pesquisa & desenvolvimento) tendem a ser cada vez maisimportantes?

♦ Como pode ser avaliada a estrutura atual de pesquisa para suportaresses lançamentos, que envolvem nutrição e saúde?

♦ No ambiente institucional e legal, o governo tem favorecido o desenvolvi-mento de produtos que estejam alinhados a essas tendências, seja comincentivos para investimentos, seja com um arcabouço legal adequado?

Inovação no mercado de lácteos: canais de distribuição � exemplos

As classes C, D e EA necessidade de crescimento tem levado diversas empresas, antes focadas

unicamente nas classes A e B, a �descobrirem� o mercado de baixa renda,

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Cenários para o leite no Brasil em 202066

representado pelas classes C, D e E. De acordo com Carvalho, M. (2006b), essadescoberta é alavancada por dois fatores principais: 1) a elevada concorrêncianas classes A e B tem forçado as empresas a buscar novos mercados para mantersua rentabilidade e crescimento; 2) as classes C, D e E vêm apresentando ganhosde renda superiores às demais nos últimos anos, incorporando grande contingentede novos consumidores. Os programas de transferência de renda do governofederal e, principalmente, o aumento do salário mínimo, têm contribuído significa-tivamente para isso (Carvalho, M., 2006b).

Além da importância econômica incontestável, as classes C, D e E vêm apre-sentando um padrão de consumo muito dinâmico. Adicionalmente, as informa-ções disponíveis mostram que, nessas classes, o padrão de consumo apresentanuances parecidos com o que se verifica nas classes mais altas. Essas classespreferem, por exemplo, as mesmas marcas e produtos consumidos pelas classesmais favorecidas, ainda que em embalagens mais baratas e porções menores.Esses consumidores estão aumentando significativamente o número de categori-as consumidas, ou seja, a noção de que alguns itens são essenciais e outros caemna categoria do supérfluo talvez precise ser reconsiderada para uma parte dessepúblico (Carvalho, M., 2007b).

O mercado de food serviceO segmento de food service envolve todo o processo de preparação de refei-

ções fora de casa, independentemente de os alimentos serem consumidos emcasa ou não. No Brasil, esse mercado cresceu 151,7% entre 1995 e 2003 e umdos fatores que mais contribuíram para esse aumento foi o ingresso das mulheresno mercado de trabalho, cuja participação saltou de 23% da população economi-camente ativa em 1971, para 42% em 2001. Os segmentos tradicionais do foodservice como restaurantes, bares, padarias, lanchonetes e cozinhas industriaismantêm a sua importância no setor, mas novos setores estão dando impulso comoredes de fast food, hotéis e lojas de conveniência (Donna, 2005).

Esse setor complexo, crescente e dinâmico apresenta inúmeras oportunidadespara empresas que nele souberem operar. Há, no entanto, desafios, como aprópria mudança de concepção estratégica dos negócios de alimentação dasempresas atuantes nesse segmento. Muitas empresas que fornecem alimentospara o food service caracterizam-se mais como empresas de serviços do queindústrias. Em alguns casos, são responsáveis por encontrar soluções adequadaspara os clientes e mesmo formular os cardápios por intermédio de seusnutricionistas (Carvalho, 2006e).

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Além disso, de acordo com Donna (2005), a margem gerada pelo food servicepara indústria é duas vezes superior à gerada pelo varejo.

Em função da rentabilidade potencial superior e do crescimento previsto, aimportância estratégica desse segmento fica evidente. Várias grandes empresasde laticínios têm criado estruturas próprias para atender ao food service. Todasessas empresas, pesos pesados mundiais do setor de laticínios, criaram serviçospara atender clientes que servirão ou venderão refeições prontas ao cliente final.Entretanto, grande parte das empresas desconhece esse enorme mercado exis-tente, que está em crescimento e oferece grandes oportunidades. Em geral, asempresas de alimentação se portam mais como indústrias tradicionais, vendendoao varejo, que representa 75% das vendas do setor. Ao não conhecer a fundoesse importante canal, elas deixam de criar alternativas de mercado que podemrepresentar excelentes oportunidades de negócio, melhorando a atratividade dosetor como um todo (Carvalho, M. 2006d).

Marketing institucional

A importância de investimento em marketing institucional no setor de lácteosaumenta à medida que o consumidor tem mais acesso à informação, seja viatelevisão, internet ou outro canal, e à medida que surgem cada vez mais produtossubstitutos.

Dessa forma, essa estratégia é importante para ampliar a demanda dos atuaisconsumidores e converter os não-consumidores de lácteos em consumidores des-ses produtos. Adicionalmente, é importante para proteger o market share dosprodutos lácteos de produtos concorrentes/substitutos, como bebidas à base desoja, refrigerantes e outros.

A atuação em marketing de lácteos pode ir muito além da promoção pura esimples, como é mais conhecido. Pode envolver relacionamento com formadoresde opinião, relacionamento com o governo e até investimentos conjuntos empesquisa e desenvolvimento, caracterizando a interface do marketinginstitucional com a inovação.

A questão da regulamentação governamental, fruto do interesse dos governosem reduzir os gastos com problemas de saúde e melhorar as condições de vida dapopulação, tende a ser algo cada vez mais relevante.

Como exemplo recente envolvendo (negativamente) o setor, pode-se citar aLei 11.265 de 3 de janeiro de 2006, que regulamenta a comercialização dealimentos para lactentes e crianças de primeira infância e também a de produtos

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de puericultura correlatos. Entre outras medidas, tal lei estabelece em seu Art. 13§ 1º que os leites desnatado e semidesnatado, com ou sem adição de nutrientesessenciais, devem exibir no painel principal, de forma legível e de fácilvisualização: �O Ministério da Saúde adverte: Este produto não deve ser usadopara alimentar crianças, a não ser por indicação expressa de médico ounutricionista. O aleitamento materno evita infecções e alergias e é recomendadoaté os 2 (dois) anos de idade ou mais�.

Outro exemplo potencialmente negativo refere-se à consulta pública 71 daAnvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que trata do regulamento quese aplica à oferta, propaganda, publicidade, informação e a outras práticascorrelatas, cujo objeto seja a divulgação ou promoção de alimentos com quantida-des elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio e debebidas com baixo teor nutricional. Esse regulamento afeta significativamente ascampanhas de marketing de diversos produtos alimentícios, dentre os quais osqueijos, podendo causar sérios prejuízos ao setor no longo prazo.

Programas sociais do governo

Outra ação que pode ser interessante na busca pelo aumento da demanda deleite no mercado interno é a promoção da expansão das compras do produto pelosprogramas sociais do governo nas esferas federal, estadual e municipal.

Um desses programas é o Viva Leite, do governo do Estado de São Paulo. Nosmunicípios do interior e litoral do Estado de São Paulo, a distribuição é feita pelasprefeituras municipais mediante convênio firmado entre a Secretaria de Agricul-tura e Abastecimento e a municipalidade. O programa distribui 130 milhões delitros de leite por ano e atende a 722 mil crianças e 40 mil idosos no Estado de SãoPaulo (Governo do Estado de São Paulo, 2007).

Outro programa social que tem por objetivo o combate à desnutrição infantil éo Leve Leite, da prefeitura de São Paulo. Esse programa foi instituído em 1995,pelo Decreto Municipal nº 35.458 de 31/08/95, e alterado em 1996, pelo Decre-to Municipal nº 36.531 de 06/11/96, �com o objetivo de combater a desnutriçãoda população pré-escolar e escolar atendida pelos Programas de AlimentaçãoMunicipais�, em que a competência pela aquisição e distribuição do leite em póintegral de que trata o decreto foi delegada à Secretaria Municipal de Abasteci-mento (Prefeitura da Cidade de São Paulo, 2007).

O Programa Leve Leite é uma medida profilática preventiva, de caráternutricional para garantir o bom desenvolvimento físico e neurológico das crianças.

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Esse programa atende, no Município de São Paulo, 870.000 crianças e sãodistribuídos, mensalmente, 1.600.000 quilos de leite em pó. Cada criança com90% de freqüência recebe mensalmente nas Escolas Municipais de Ensino Funda-mental uma lata de dois quilos de leite em pó, e, nas Escolas Municipais deEducação infantil e Creches uma lata de um quilo de leite em pó (Prefeitura daCidade de São Paulo, 2007).

Os estados nordestinos, em especial, também têm verificado o desenvolvi-mento recente desses programas, por intermédio do PAA � Programa de Aquisi-ção de Alimentos � como parte integrante do Fome Zero, conduzido pelo Ministé-rio do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Somente o Programa doLeite, exclusivo para o Semi-Árido, beneficia diariamente, segundo o MDS, 800mil famílias e 25 mil produtores da região. Os programas também tendem apermitir uma distribuição mais igualitária da renda ao longo da cadeia, dandopreferência a pequenas e médias unidades industriais (Carvalho, M., 2007d).

Segundo o autor, os programas sociais têm grande importância em regiõesmais carentes e com menor infra-estrutura, não só fomentando o crescimento,como também estimulando a melhoria do ambiente institucional. Pela exigênciado programa, os agricultores familiares foram inseridos no mercado formal, pormeio do estabelecimento de novas rotas pelos laticínios. Outro benefício dosprogramas sociais é a criação de uma infra-estrutura de apoio ao produtor e àindústria que, em um cenário de estagnação, dificilmente ocorre. Empresas deração, medicamentos, ordenha, inseminação e consultores passam a olhar para aregião com mais atenção, o que melhora a qualidade e a oferta dos serviços eprodutos prestados (Carvalho, M., 2007d).

As oportunidades para o leite brasileiro no mercadoAs oportunidades para o leite brasileiro no mercadoAs oportunidades para o leite brasileiro no mercadoAs oportunidades para o leite brasileiro no mercadoAs oportunidades para o leite brasileiro no mercadoexternoexternoexternoexternoexterno

O mercado internacional de lácteos vem passando por alterações estruturaiscujos efeitos se fizeram mais presentes a partir do segundo semestre de 2006.Entre essas alterações, estão a Política Agrícola Comum da União Européia,historicamente o maior exportador mundial, que vem reduzindo os subsídios aexportação, desacoplando os subsídios internos à produção e direcionandogradativamente sua atuação externa para a comercialização de produtos demaior valor agregado, principalmente destinados ao leste europeu (MilkPoint,2006b).

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Cenários para o leite no Brasil em 202070

Outra mudança estrutural refere-se às alterações climáticas, que vêmafetando alguns dos principais exportadores de leite, notadamente a Austrália,que tem apresentado secas com certa regularidade, ainda que pairem dúvidas setais alterações são conjunturais ou de fato estruturais.

Também, aponta-se a crescente destinação de áreas originalmente utilizadaspara produção de alimentos para a produção de energia, sendo exemplos a cana-de-açúcar no Brasil, o milho para etanol nos EUA e a canola para produção debiodiesel na Europa, aumentando o custo da terra e encarecendo o preço dascommodities agrícolas, resultando na elevação estrutural do custo de produção deleite e dos seus derivados transacionados mundialmente.

Por fim, o descompasso entre oferta e demanda fecha esse quadro em que oleite chega até a ser comparado ao petróleo, como pode ser lido recentementeem artigo � International Herald Tribune (Arnold, 2007). Segundo o referidoartigo, devido ao crescimento das economias emergentes, notadamente naÁsia, a urbanização crescente e a incorporação de hábitos ocidentais, a previ-são para os próximos anos é de uma escassez na oferta de leite, resultando empreços elevados no mercado internacional. A Fonterra publicou um artigo dizen-do que a previsão entre 2007 e 2016 é de crescimento da demanda de 2,7% aoano, contra um aumento de oferta de 2,2%, criando um déficit crônico nosuprimento de leite no mundo, o que levaria ao aumento dos preços e, talvez, deuma nova dinâmica na produção e no comércio internacional de lácteos(Milkpoint, 2007e).

Há, ainda, dúvidas a respeito da real velocidade de abertura dos mercadosinternacionais e da efetividade das reduções dos subsídios à exportação. Apesarde compromissos de eliminação completa dos subsídios à exportação pela UniãoEuropéia em 2013, alguns analistas argumentam que tal medida ocorreria somen-te em 2020. (Milkpoint, 2005)

Em função dessa realidade, os principais analistas internacionais mostram queo mercado de lácteos está diante de um novo patamar de preços, ainda que não sesaiba com exatidão qual seria esse novo patamar9.

Apesar de não se saber ainda os possíveis efeitos dos aumentos de preços emfatores como o estímulo à produção em países onde a atividade não se desenvol-

9 Os preços de leite em pó subiram mais de 100% em um ano, mas é consenso de que esse valor reflete fatoresconjunturais e certa dose de especulação.

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via satisfatoriamente, a reação dos consumidores perante os preços mais altos ea capacidade de resposta e o custo marginal de produção em cada sistema deprodução, há a percepção de que o Brasil possa vir a captar uma parcela significa-tiva do mercado internacional de lácteos, uma vez que possui área disponível,insumos relativamente baratos, ausência de restrições climáticas ou ambientais evocação para o agronegócio.

Porém, há desafios relevantes além da competitividade em função do custo deprodução de leite e da taxa de câmbio, entre eles (Mesquita, 2005):

♦ teor de sólidos do leite: o leite produzido em países como a Nova Zelândiapossui cerca de 15% a mais de sólidos em comparação ao leite brasileiro, oque representa desvantagens comparativas, uma vez que os produtostransacionados têm, nos sólidos do leite, seu rendimento industrial;

♦ logística de exportação e coleta: a qualidade das estradas, o custo detransporte e as taxas e o funcionamento portuário estão entre as variáveisque afetam a competitividade do País;

♦ acordos comerciais internacionais: segundo Mesquita (2005), o Brasil, pornunca ter sido um exportador de lácteos, nunca se preocupou em incluiressa categoria de produtos em acordos comerciais, o que não favorece asvendas externas;

♦ acordos sanitários e legislação interna: o Brasil tem trabalhado em acordossanitários com países importadores, mas pode-se dizer que há ainda muitoa se fazer para que se tenha acesso a esses mercados, bem como aintegração entre as normas externas, de países importadores, com asnormas internas. Há que se considerar, também, o risco de problemassanitários como a febre aftosa que, independentemente dos riscos detransmissão, podem interromper a atividade exportadora, com grande pre-juízo;

♦ desenvolvimento comercial internacional e estabilidade de oferta: o Brasilnão é ainda conhecido como país exportador de lácteos e têm pouca tradi-ção no setor. Além disso, como o mercado interno é e durante muito temposerá o principal canal de comercialização, o mercado externo tende a serencarado como válvula de escoamento de excedentes, postura que, deforma geral, inibe o estabelecimento de canais consistentes no mercadointernacional.

Além dessas questões, há sem dúvida os desafios relativos à qualidade dematéria-prima e outras barreiras não-tarifárias que devem fazer parte da agendado setor.

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Cenários para o leite no Brasil em 202072

Indagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantesIndagações relevantes

♦ O Brasil terá de fato excedentes estruturais que o farão um exportadorlíquido de lácteos, ou sua produção será quase que exclusivamente des-tinada ao mercado interno, cujo crescimento necessitará do aumento daoferta de leite?

♦ O comércio internacional de lácteos tende a operar sob uma estruturamenos distorcida, com menos subsídios, dentro do horizonte estabeleci-do?

♦ Qual será o novo patamar de preços dos lácteos no mercado internacio-nal e que mudanças esse novo patamar, se realmente existente, estimu-lará?

♦ Ainda que tenha potencialmente um superávit, o Brasil conseguirá desti-nar parte crescente de sua produção para os mercados externos? Emque quantidade? Existem barreiras não-tarifárias às quais o Brasil precisaficar atento? Questões ambientais, de qualidade de matéria-prima etrabalhistas podem representar barreiras para o País?

♦ Quais serão os países mais competitivos na exportação de lácteos?Como será a distribuição do mercado internacional de lácteos em 2020?

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No mundo de hoje, cada vez mais dinâmico e interligado econômica,tecnológica e politicamente, pensar o futuro dos setores tornou-se um exercíciocomplexo e desafiador. Apesar da dificuldade, navegar rumo ao futuro é preciso,a fim de escolher uma boa rota, aproveitar oportunidades e precaver-se de esco-lhas erradas.

Segundo Wright & Giovinazzo (2006), elaborar cenários não é um exercício depredição, mas sim um esforço de fazer descrições plausíveis e consistentes desituações futuras possíveis, apresentando as condicionantes do caminho entre asituação atual e cada cenário futuro, destacando os fatores relevantes às deci-sões que precisam ser tomadas.

Assim, mesmo sendo uma representação parcial e imperfeita do futuro, ocenário, entendido como instrumento de apoio à decisão, precisa abranger asprincipais dimensões relevantes do problema, e seus autores devem livrar-se dasamarras e preconceitos do passado, ao mesmo tempo em que devem manter-sedentro dos limites do conhecimento científico e propor transformações viáveis nohorizonte de tempo considerado. Ademais, imaginar cenários desejáveis para umsetor exige estruturar otimística e realisticamente visões de um futuro melhor,envolvendo um juízo de valores na sua análise.

Capítulo 2

A construção dos cenáriosA construção dos cenáriosA construção dos cenáriosA construção dos cenáriosA construção dos cenários

James Terence Coulter WrightRenata Giovinazzo Spers

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Cenários para o leite no Brasil em 202074

Conceitos e experiências sobre elaboração de cenários

Pensar o futuro em toda sua complexidade é a princípio um desafiometodológico expressivo, mas desde a década de 1970 acumulou-se muita reflexãoe experiências positivas sobre o tema no exterior, e, em menor grau, no Brasil.

Amara (1988) & Coates (1994) relatam a aprendizagem obtida internacional-mente com os estudos prospectivos no mundo nas décadas de setenta e oitenta,e posteriormente nos anos noventa, destacando a natureza exploratória dos estu-dos prospectivos e a importância de uma abordagem interdisciplinar na pesquisasobre os rumos e possibilidades do futuro.

No Brasil, Johnson, Wright e Guimarães (1986) relatam casos de estudosprospectivos sobre produção de petróleo em águas profundas; Johnson &Marcovitch (2001) apresentam a experiência em planejamento tecnológicosetorial, e Wright & Giovinazzo (2004) apresentam a aplicação da metodologiaaplicada pelo Programa de Estudos do Futuro da USP em temas diversos, como depolítica industrial.

Adotando como conceito básico uma visão internacionalmente aceita como ade Porter (1986), um cenário é uma visão internamente consistente do que ofuturo poderá vir a ser, e tem como principais funções a avaliação explícita depremissas de planejamento, o apoio à formulação de objetivos e estratégias, aavaliação de alternativas, o estímulo à criatividade, a homogeneização de lingua-gens e a preparação para enfrentar descontinuidades.

De acordo com Porter et al. (1991), cenários são esboços parciais de algunsaspectos do mundo futuro, e a estruturação de um cenário pode variar desdeformas puramente narrativas até modelos detalhados com dados quantitativos.Os aspectos enfatizados devem ser essencialmente aqueles que possuem relevân-cia para o prognóstico desejado, enquanto para Godet (1993), um dos principaisestudiosos franceses de técnicas de prospecção, cenário é um conjunto formadopela descrição detalhada de uma situação futura, incluindo a ação dos principaisatores e a probabilidade estimada de eventos incertos, articulados de tal forma adescrever a passagem da situação de origem para uma situação em um momentofuturo de forma coerente.

Para Mason (1994), o planejamento baseado em cenários é um olhar parafrente de forma criativa e aberta, em busca de padrões que podem emergir e quedevem levar a um processo de aprendizagem sobre o futuro. SegundoSchoemaker (1995), a metodologia de elaboração de cenários consiste de um

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75Cenários para o leite no Brasil em 2020

processo estruturado de se imaginar futuros possíveis, que pode ser aplicado a umamplo leque de assuntos nas mais diversas áreas. Por meio da identificação detendências básicas conhecidas e grandes incertezas, é possível construir diferen-tes cenários que ajudem a definir os rumos de uma nação, como ele exemplificaem trabalho que trata da aplicação de cenários ao caso da África do Sul. Estesdois estudiosos afirmam que o planejamento com cenários contribui para evitardois erros comuns: subestimar ou superestimar o ritmo e o impacto de mudanças.Há uma tendência de muitos indivíduos e organizações subestimarem a taxa demudanças, apesar de vivermos uma época de mudanças aceleradas, e, por outrolado, há casos de grupos de �futurólogos� e entusiastas tecnológicos que tendema superestimar a velocidade e abrangência de mudanças em assuntos tais comomedicina, inteligência artificial, energia e viagens espaciais. Assim, os cenáriosalternativos permitem mapear caminhos distintos, considerando aquilo que acre-ditamos saber sobre o futuro (tendências pesadas) e os acontecimentos queconsideramos incertos ou quase inatingíveis no horizonte de tempo especificado(eventos incertos).

Complementando estes conceitos fundamentais, Ringland (1998), ao estudaro uso de cenários por empresas, afirma que o planejamento por cenários melhoraa qualidade das decisões e a compreensão de suas implicações para a estratégiacompetitiva das organizações.

Com relação à utilização dos cenários, Schoemaker (1995) afirma que suautilização beneficia especialmente situações que envolvem as seguintes condições:

♦ Há alto grau de incerteza com relação à capacidade de predizer o futuro oucorrigir rumos;

♦ Viveu-se um histórico marcado por surpresas desagradáveis e onerosas;♦ O pensamento estratégico tem sido de baixa qualidade;♦ Mudanças significativas no contexto foram vivenciadas ou estão prestes a

ocorrer;♦ Há necessidade de uma nova perspectiva e linguagem comuns, sem perder

de vista a diversidade;♦ Coexistem fortes diferenças de opinião, e muitas delas têm mérito.

Como se vê, a maioria destas condições podem ser entendidas como presentesno setor de leite no Brasil de hoje, donde se infere que o uso de cenários poderátrazer uma importante contribuição, seja como instrumento de suporte à troca deidéias, aprendizagem ou estímulo à criatividade, tendo ainda um papel fundamen-tal como instrumento de apoio à decisão, servindo para se obter uma melhor visãoestratégica e testar políticas alternativas para o desenvolvimento do setor.

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Cenários para o leite no Brasil em 202076

Elaboração de cenários da cadeia produtiva do leite

No trabalho de suporte à elaboração de cenários para a cadeia produtiva doleite, foi utilizada a metodologia desenvolvida e utilizada pelo Profuturo para aelaboração de cenários, que segue em sete etapas detalhadas a seguir.

Etapa 1 � Definição do escopo e objetivos dos cenários

Nesta etapa é feita uma caracterização do escopo dos cenários e das decisõesa apoiar, os atores centrais e grupos de interesse (stakeholders), a abrangênciageográfica dos cenários e o horizonte temporal.

Quanto ao horizonte de tempo, foi considerado um horizonte até 2020, demodo a viabilizar a projeção de alternativas estratégicas de médio e longo prazos,pelos diversos atores envolvidos e orientar suas ações imediatas de curto prazo.

Com relação ao público principal a quem se destinam os cenários, destacam-seos seguintes grupos:

♦ Indústrias em geral♦ Produtores de leite♦ Cooperativas♦ Laticínios de pequeno porte♦ Governos♦ Entidades de classe♦ Empresas de insumos e prestadores de serviço

Quanto aos competidores, há grandes empresas neste mercado, tais como aDPA, Itambé, Eleva/Perdigão, Parmalat, tendo as 15 maiores empresas aproxima-damente 42% do mercado sob inspeção federal. No caso do mercado de queijos,a pulverização é muito maior.

Os principais produtos, em volume de leite, são (nesta ordem): queijos, leitelonga vida, leite em pó, leite pasteurizado e outros (iogurte, leite condensado,manteiga, chocolates).

O Brasil foi um grande importador de leite, mas em 2004 chegou à auto-suficiência. A participação no mercado externo é ainda muito restrita, principal-mente devido a questões cambiais, subsídios em diversos países, acordos sanitári-os e a própria falta de tradição no País. Além disso, o Brasil possui grandemercado interno em desenvolvimento, com oportunidades em produtos comoqueijos e iogurtes. Países da Europa e Nova Zelândia são grandes exportadoresmundiais, ao passo que Oriente Médio, Norte da África, México, Venezuela e

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77Cenários para o leite no Brasil em 2020

Sudeste Asiático são grandes importadores. O consumo do Sudeste Asiáticoainda é relativamente baixo, mas tende a aumentar, representando um grandepotencial de mercado. A África também tem enorme potencial, com mais de 1bilhão de habitantes e consumo per capita bastante modesto.

Com relação à estrutura de produção e sistemas produtivos, de acordo comum levantamento realizado em Minas Gerais, em 1995, os produtores que produ-ziam até 50 litros/dia eram 55% do total e respondiam por 19% da produção; em2005, os produtores até 50 litros/dia eram 44% do total e respondiam por 8% daprodução. Nos últimos dez anos, de acordo com este trabalho, os pequenosreduziram suas participações no número de produtores e, principalmente, naprodução de leite. Em 1995, os produtores de mais de 500 litros/dia eram apenas1,8% do total e respondiam por 10,6% da produção; em 2005, os produtores demais de 500 litros/dia eram 6,6% do total e respondiam por 44,4% da produção.

Há uma diversidade de sistemas de produção, não havendo uma padronizaçãonem mesmo regional. Falta informação consolidada sobre a rentabilidade destessistemas nas mais diversas situações de preços e custos e as políticas de aquisi-ção de matéria-prima no que se refere à qualidade também variam, permitindo aexpressão de diversos sistemas em uma mesma região. Em relação à qualidade,cerca de 66% do leite é comercializado sob o sistema federal de inspeção,ficando o restante sob os sistemas estaduais e municipais, ou direcionado aoautoconsumo ou ainda comercializado em canais informais.

Desta forma, considerando o contexto do setor, os grupos de interesse e asdecisões a apoiar, os cenários deverão tratar das seguintes questões:

♦ Competitividade internacional e inserção dos produtores brasileiros no mer-cado global: possíveis oportunidades para o Brasil como exportador de leite;

♦ Demanda interna: hábitos de consumo, renda, concorrência, novos produtospara o mercado interno, marketing institucional, oportunidades de cresci-mento no mercado interno e o impacto da informalidade no mercado;

♦ Estrutura de produção e sistemas produtivos: concentração e característi-cas dos produtores, a tecnologia utilizada na produção, os processos produ-tivos, a qualidade dos produtos;

♦ Aspectos institucionais e legais: subsídios, informalidade, restrições ao con-sumo (Lei 11.265), Consulta Pública 71, da Anvisa.

O objetivo dos cenários é o de fornecer um panorama geral da cadeia de leiteno Brasil, de forma a integrar e projetar situações futuras das variáveis a seremidentificadas a partir da definição do escopo e das grandes questões dos cenários,

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Cenários para o leite no Brasil em 202078

e será papel das empresas interpretar e identificar as implicações dos cenáriospara seus negócios.

Etapa 2 � Identificação das variáveis, tendências e eventos fundamentais

Uma vez definido o escopo e os objetivos dos cenários da cadeia de leite noBrasil, e fazendo uma análise do panorama atual do setor, foi possível identificaruma lista das principais variáveis dos cenários:

♦ Produção de leite no Brasil♦ Perfil da produção de leite (pequenos e grandes produtores)♦ Distribuição espacial da produção♦ Fatores socioambientais da produção♦ Produtividade da produção e tecnologias adotadas♦ Qualidade do leite produzido no Brasil♦ Mercado informal na produção de leite♦ Estrutura da indústria do leite♦ Competitividade das cooperativas de leite♦ Coordenação da cadeia produtiva do leite♦ Consumo de lácteos no Brasil♦ Inovações nos produtos para mercado de lácteos♦ Comercialização mundial de lácteos e oportunidades para o leite brasileiro♦ Preços de lácteos no mercado internacional♦ Competitividade da cadeia de leite brasileira no mercado internacional♦ Ambiente institucional: legislação sanitária, ambiental e condições

macroeconômicas

Etapa 3 � Estruturação das variáveis dos cenários

Nesta etapa são identificadas as tendências pesadas e fatores invariantes doscenários e as relações de causa e efeito entre as variáveis, identificando variáveiscausais, intermediárias, e resultantes.

Neste sentido foi possível identificar fatores invariantes relevantes para acadeia do leite no Brasil, como o crescimento e perfil populacional (envelhecimen-to da população), assim como a distribuição de renda, que deverá melhorar emtodos os cenários analisados, sendo considerada uma tendência pesada.

Estas variáveis foram organizadas utilizando o Modelo das Cinco Forças Com-petitivas, proposto por Michael Porter (Porter, 1986), de tal forma a garantir queos cenários contemplem todos os elementos relevantes para o setor de leite noBrasil, conforme Fig. 1.

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79Cenários para o leite no Brasil em 2020

As relações entre as variáveis foram identificadas com o apoio da técnica deAnálise e Estruturação de Modelos (Wright, 1991), sendo possível identificar asvariáveis resultantes, intermediárias e causais que irão determinar os cenários,conforme segue:

♦ Variáveis resultantes: produção do leite no Brasil e perfil da produção.♦ Variáveis intermediárias: número de laticínios, relação entre indústria e

produtores, leite captado por cooperativas, fornecedores de matéria-prima,qualidade do leite, produtividade de produção, produção regional e impactoda cana-de-açúcar e outras culturas.

FornecedoresProdutores de leite

Substitutos ao leite

no Brasil

Entrantes potenciais

Ambiente Institucional

Legislação sanitária

Legislação ambiental

Condições macroeconômicas

4 Importação de outros países

(comercialização mundial de lácteos e

oportunidades do leite brasileiro em

mercados externos)

4

4

4

4

4

4

4

Evolução da produção

Distribuição espacial

Perfil da produção

Produtividade e adoção de tecnologia

Fatores sócio-ambientais

Qualidade do leite produzido

Mercado informal

Concorrência na indústria

de leite

4

4

4

Estrutura da indústria

Coordenação da cadeia de

leite

C o m p e t i t i v i d a d e d a s

cooperativas

4

4

4

4

4

Consumo de lácteos no Brasil (e ações

de marketing para promover o con-

sumo interno de leite)

Inovações nos produtos

Comercialização mundial de lácteos e

oportunidades para o leite brasileiro

Preços internacionais dos lácteos

Competitividade da cadeia do leite no

mercado internacional

4

4

4

4

Sucos prontos

Bebidas à base de soja

Smoothies

Refrigerantes e águas

gaseificadas

Fig. 1. Modelo das cinco forças competitivas para a cadeia do

leite no Brasil.

Fonte: Adaptado de Porter (1986).

Clientes internos eMercado externo

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Cenários para o leite no Brasil em 202080

♦ Variáveis causais: fatores socioambientais, legislação sanitária e economia,consumo do leite no mercado interno e mercado informal, preços internaci-onais do leite e importação e exportação.

A relação entre as variáveis, combinada aos resultados das projeções dosestados futuros das variáveis, permitiu a elaboração da matriz de variáveis doscenários.

Etapa 4 � Projeção dos estados futuros das variáveis

Nesta etapa são feitas projeções qualitativas de dois a quatro estados futurospor variável, com base nas opiniões dos especialistas consultados. A técnicausualmente utilizada nesta etapa é o Delphi. Neste trabalho foram realizadas duasrodadas da pesquisa WebDelphi.

A metodologia Delphi utilizada neste estudo vem sendo adotada pelo Programade Estudos do Futuro desde início dos anos 80, para ajudar a identificar detendências e eventos futuros, com a participação de um grupo de especialistassobre o tema. O Profuturo realizou a primeira pesquisa Delphi conduzida por meioda Internet (WebDelphi), que se tem conhecimento, e vem utilizando com muitosucesso este meio para a aplicação de pesquisas Delphi sobre os mais diversosassuntos.

O WebDelphi incorpora todas as premissas de um Delphi tradicional, ou seja, émantido o anonimato dos respondentes, pelo preenchimento do questionário emum formulário no site da Internet; a representação estatística da distribuição dosresultados também é realizada pela tabulação e tratamento estatístico dos resul-tados; e o feedback de respostas do grupo para reavaliação nas rodadassubseqüentes também é realizada, sendo os resultados da primeira rodada divul-gados na Internet, para que possam ser considerados pelo grupo no preenchimen-to da segunda rodada.

A técnica Delphi passou a ser disseminada no começo dos anos 60, com baseem trabalhos desenvolvidos por Olaf Helmer e Norman Dalker, pesquisadores daRand Corporation (Estes & Kuespert, 1976). O objetivo original era desenvolveruma técnica para aprimorar o uso da opinião de especialistas na previsãotecnológica.

Segundo Turoff & Linstone (1975), genericamente, o Delphi pode ser defi-nido como um método para estruturar um processo de comunicação grupal demaneira que o processo é efetivo em permitir a um grupo de indivíduos, como

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81Cenários para o leite no Brasil em 2020

um todo, lidar com um problema complexo. Detalhando-se essa definiçãoampla, segundo Martino (1993), pode-se dizer que, na metodologia desenvolvi-da originalmente, isto é feito estabelecendo-se três condições básicas: o ano-nimato dos respondentes, a representação estatística da distribuição dos re-sultados, e o feedback de respostas do grupo para reavaliação nas rodadassubseqüentes.

A evolução em direção a um consenso obtida no processo representa umaconsolidação do julgamento intuitivo de um grupo de peritos sobre eventos futurose tendências. A técnica baseia-se no uso estruturado do conhecimento, da expe-riência, e da criatividade de um painel de especialistas, no pressuposto que ojulgamento coletivo, quando organizado adequadamente, é melhor do que a opi-nião de um só indivíduo, ou mesmo de alguns indivíduos desprovidos de uma amplavariedade de conhecimentos especializados.

Em função das características expostas, o método Delphi é especialmenterecomendável quando não se dispõem de dados quantitativos ou estes não podemser projetados para o futuro com segurança, em face de expectativa de mudan-ças estruturais nos fatores determinantes das tendências futuras.

A técnica é executada por meio de um questionário interativo, que circula porum grupo de peritos, preservando-se o anonimato das respostas individuais. Se-gundo Wright & Giovinazzo (2000), as questões devem ser cuidadosamente ela-boradas e diferentes tipos de questões podem ser utilizadas. Nesta fase, é impor-tante a interação entre os coordenadores do estudo e especialistas do setor, paraassegurar a correção técnica das questões formuladas.

A qualidade do resultado de uma pesquisa Delphi depende essencialmente dosparticipantes do estudo. Segundo Turoff & Linstone (1975) e Martino (1993), umnúmero de 15 a 30 painelistas é considerado um bom número, o suficiente paragerar informações relevantes, embora grupos maiores venham sendo utilizadoscom sucesso. O Profuturo tem trabalhado com um número mais elevado departicipantes, com o intuito de enriquecer os resultados. No caso desta pesquisahouve um excelente envolvimento de especialistas, totalizando 119 painelistas narodada 1 e 43 painelistas na rodada 2, que participaram da consulta pela Internet.

Esta técnica permitiu a participação efetiva de um grande número de especia-listas envolvidos, de uma maneira estruturada e produtiva, com uma grandequantidade de respostas e um excelente conteúdo. Destacamos ainda que partici-pou da pesquisa um grupo extremamente qualificado, conforme detalhado noperfil de respondentes.

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Cenários para o leite no Brasil em 202082

A Rodada 1 contou com oito questões detalhadas, a partir das quais foipossível caracterizar os estados futuros das variáveis que compõem os cenários.Nesta primeira rodada houve uma participação de 119 especialistas, conformeperfil apresentado nas Figs. 2 e 3.

Perfil dos Respondentes da Rodada 1Perfil dos Respondentes da Rodada 1Perfil dos Respondentes da Rodada 1Perfil dos Respondentes da Rodada 1Perfil dos Respondentes da Rodada 1

A partir dos resultados da Rodada 1 foi possível identificar um cenário maisprovável e dois cenários contrastados para a cadeia de leite no Brasil, até 2020,utilizando os futuros estados das variáveis. Estes cenários foram apresentados naRodada 2, com o objetivo de refinar as opiniões da Rodada 1 e gerar dados para aelaboração de um cenário desejado, para completar a matriz de cenários.

21%

17%

15%12%

11%

10%

3%

2%

2%

1%

6%Produção

Laticínios

Consultoria TécnicaUniversidades e

Instituições de ensino

Cooperativa

Estudo do setor

Exportação e Importação

Varejo

Governo

Associação

Outros

Fig. 2. Participação

dos respondentes

p o r á r e a d e

atuação.

Sudeste 59%

Sul 28%

Centro-Oeste9%

Nordeste 3%

Norte 1%

Fig. 3. Respondentes

por região.

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83Cenários para o leite no Brasil em 2020

Na Rodada 2 participaram 43 especialistas que puderam contrastar as opiniõesapresentadas na Rodada 1.

Perfil dos Participantes da Rodada 2Perfil dos Participantes da Rodada 2Perfil dos Participantes da Rodada 2Perfil dos Participantes da Rodada 2Perfil dos Participantes da Rodada 2

A partir dos resultados da Rodada 2 foi possível montar uma estrutura dasvariáveis do cenário e uma matriz de cenários completa, com um cenário maisprovável, um desejado e dois cenários contrastados ou exploratórios, e a partirdesta matriz os textos sobre os cenários são desenvolvidos.

Etapa 5 � Identificação de temas motrizes dos cenários

Nesta etapa configuram-se temas distintos para os cenários, que usualmenteapresentam o seguinte conteúdo:

♦ Um cenário mais provável, que considera as forças históricas continuando aagir como no passado.

♦ Dois cenários exploratórios, que consideram o desenvolvimento de temas oueventos marcantes, direcionadores do ambiente futuro.

♦ Um cenário normativo, ou desejado. De caráter prescritivo, apresenta umasituação desejada, em função dos valores e crenças dos especialistas con-sultados.

A partir da primeira rodada do Delphi, utilizando os dados de medianas e quartis,assim como as justificativas das respostas e os dados qualitativos, foram definidos:

Produção 29%

Laticínios 15%ConsultoriaTécnica 18%

Universidades eInstituições de

ensino 9%

Cooperativa 9%

Estudo do setor4%

Exportação eImportação 4%

Varejo 4%

Governo 3%

Associação 1%

Outros 6%

Fig. 4. Participação

dos respondentes por

área de atuação.

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Cenários para o leite no Brasil em 202084

♦ Cenário mais provável: �Crescimento continuado, mas heterogêneo�♦ Cenário contrastado 1: �Leite: a nova estrela do agronegócio�♦ Cenário contrastado 2: �O futuro desperdiçado�

A partir da primeira rodada não foi possível delinear completamente todas asvariáveis do cenário desejado. Desta forma foi conduzida uma segunda rodadaque permitiu uma consolidação dos dados dos outros cenários e a definição de umcenário desejável, denominado �Agricultura familiar e competitiva�.

Etapa 6 � Montagem da matriz morfológica dos cenários

A matriz morfológica é utilizada para combinar de maneira consistente osestados futuros previstos para cada variável dos cenários, com base na estruturadas mesmas e nas previsões realizadas.

Foi feita uma análise, com combinação consistente entre todas as variáveisdos cenários, gerando uma matriz dos cenários, que é apresentada neste relatórioe serviu de base para a redação dos cenários para a cadeia do leite em 2020.

Cabe ressaltar que foram ajustados alguns números obtidos a partir doWebDelphi, de tal forma a garantir a consistência entre a produtividade do setor,quantidade de leite produzido, importações, exportações, consumo interno e mer-cado informal, em 2020.

Etapa 7 � Redação dos cenários 2020

Nesta etapa foi feito o detalhamento dos cenários, com a descrição de suaevolução e a explicitação das relações entre as variáveis. Foi feita uma análise daconsistência interna, plausibilidade de cada cenário, além da relevância das variá-veis dos cenários para as decisões no setor de leite. Também é importanteanalisar as implicações de cada cenário, de tal forma a antecipar ameaças,antever oportunidades e estruturar ações visando criar condições favoráveis parao setor, até 2020.

A metodologia apresentada neste estudo possibilitou a participaçãoestruturada de mais de cem especialistas que atuam ao longo de toda a cadeia deleite no Brasil, promovendo uma reflexão sobre o futuro do setor, que deverámelhorar a qualidade do planejamento, a tomada de decisões e a compreensãodas implicações dos cenários para a estratégia das organizações e entidadesligadas ao setor de leite no Brasil.

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SínteseSínteseSínteseSínteseSíntese

Esse cenário resulta da continuidade da ação das forças atuais, a partir dasperspectivas favoráveis para o setor leiteiro no Brasil e no mundo. A produçãocrescerá a taxas compatíveis com a média dos últimos anos, o setor aumentará asua inserção no mercado internacional, haverá redução da informalidade e conso-lidação na indústria e na produção. No entanto, alguns dos problemas verificadosno setor e que caracterizam hoje a atividade não terão desaparecido por comple-to; alguns, de fato, ainda terão importância significativa. Esse cenário reconheceos esforços que vêm sendo feitos, as boas possibilidades futuras mas, por outrolado, as dificuldades, que implicam em soluções mais lentas, graduais e, em algumgrau, incompletas.

VisãoVisãoVisãoVisãoVisão

A atividade continuará crescendo a taxas acima da média mundial, em conso-nância com as médias históricas brasileiras (Fig. 3 � Capítulo 1), por volta de

Capítulo 3

Crescimento continuado, masCrescimento continuado, masCrescimento continuado, masCrescimento continuado, masCrescimento continuado, masheterogêneo � Cenário 1heterogêneo � Cenário 1heterogêneo � Cenário 1heterogêneo � Cenário 1heterogêneo � Cenário 1

Marcelo Pereira de CarvalhoPaulo do Carmo MartinsJames Terence Coulter WrightRenata Giovinazzo Spers

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Cenários para o leite no Brasil em 202086

3,4% ao ano, atingindo 40,25 bilhões de litros em 20201 . Assim como vemocorrendo nos últimos 15 anos, a expansão da produção será superior à expansãodo consumo. Em função disso, a produção será destinada de forma crescente àexportação, que responderá por 12% da produção brasileira, comparado aoscerca de 2 ou 3% atuais.

A expansão de culturas destinadas à produção de bioenergia, notadamente acana-de-açúcar, estimulará a incorporação de tecnologia nas áreas que tradicio-nalmente produzem leite e promoverá, em algum grau, o deslocamento da produ-ção do leite para áreas com menor custo de oportunidade, especialmente nasáreas de fronteira agrícola ou marginais.

A concorrência com a produção de bioenergia e de outras culturas comoseringueira e eucalipto contribuirá para que haja aumento moderado da produtivi-dade por animal, que atingirá 1.750 kg de leite por vaca/ano em 2020, represen-tando evolução de 2,5% ao ano. Serão cerca de 23 milhões de vacas � incremen-to de 11,6% em relação às 20,6 milhões de vacas estimadas pelo IBGE para2005 � produzindo pouco mais de 40 bilhões de litros anuais. Haverá incorpora-ção de tecnologias, especialmente as que envolvem melhoria da matriz genética eavanços na intensificação das pastagens e suplementação alimentar. No Sudeste,Centro-Oeste e Nordeste, a irrigação de pastagens crescerá, apesar dos custoscrescentes de utilização da água.

Esse cenário implica contínua alteração do perfil da produção de leite, comaumento da proporção do leite produzido por grandes produtores, refletindo naconcentração na produção, em especial nas regiões tradicionais, mais sujeitas àcompetição com outras culturas, à presença de empresas exportadoras, à compe-tição com a urbanização, aos programas de bonificação por volume e às restri-ções ambientais e sanitárias. Nesse sentido, o número médio de fornecedores dosmaiores laticínios sofrerá redução de 26% em relação ao dado de 2006 (Tabela 4� Capítulo 1). Se em 2006 o número médio de fornecedores para os 14 maioreslaticínios era de 5.400 (há de se reconhecer a existência de tanques comunitáriospossivelmente subestimando esse dado), em 2020 serão 4.000 fornecedores,mostrando que a maior parte do processo de redução do número de fornecedores

1 A produção foi ajustada a partir do WebDelphi, considerando os dados da produtividade, exportações, importa-ções e consumo de leite previstos, dando consistência aos cenários.

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87Cenários para o leite no Brasil em 2020

dos grandes laticínios ocorreu antes de 2006. Para efeito de comparação, em1996, eram cerca de 23.300 produtores.

De qualquer forma, a redução do número de fornecedores para os maioreslaticínios e o crescimento da produção farão com que o módulo de produção porprodutor se eleve consideravelmente. Em uma estimativa arbitrária, considerandoque a taxa de crescimento da produção dos 14 maiores laticínios será igual à taxade crescimento da produção de leite do País, e que os 14 maiores laticínioscaptaram no total 5,67 bilhões de litros em 2006, tem-se que o módulo deprodução se elevará de 204 litros/produtor/dia para 443 litros/produtor/dia, umaumento de 117%.

Apesar da redução no número de produtores para os maiores laticínios, onúmero total de produtores pouco se alterará, ou seja, embora haja aumento daconcentração da produção (maior porcentagem do leite sendo produzido por umnúmero menor de produtores), não haverá redução do número de produtores.

A razão disso está parcialmente nas áreas de fronteira, em que permanecerá ocrescimento da produção baseada em agricultores com dificuldade de inserção nomercado, fruto da falta de opções de inserção econômica em outras atividadesrurais ou urbanas. A dicotomia tecnológica, portanto, se manterá, com as regiõestradicionais partindo cada vez mais para um modelo competitivo de produção,com ênfase em escala e qualidade, ao passo que áreas menos sujeitas às forçascompetitivas e ao crescimento econômico se manterão, em maior ou menor grau,estagnadas. A dicotomia se reforçará, com uma produção tecnificada, eficiente ecompetitiva globalmente, caminhando lado a lado com uma produção de subsis-tência e de baixa qualificação. O governo continuará atuando de forma a mitigaressa situação, mantendo programas assistenciais de extensão e crédito, entreoutros, com resultados nem sempre consistentes, fruto de descontinuidades e deespecificidades regionais.

A manutenção do número de produtores, em grande parte representandotendência contrária ao verificado em outros países, também tem importanteexplicação nas características da produção de leite na Região Sul, em que predo-mina a agricultura familiar, fruto do módulo de produção, da estrutura fundiária,de aspectos culturais e de forte base cooperativista. Em função dessa realidade,crescerá a proporção do leite brasileiro oriundo da Região Sul, rivalizando inclusiveem volume com o total produzido na Região Sudeste, que sempre foi a líderabsoluta em produção de leite.

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Cenários para o leite no Brasil em 202088

Observação: Agricultura familiar e pequenaObservação: Agricultura familiar e pequenaObservação: Agricultura familiar e pequenaObservação: Agricultura familiar e pequenaObservação: Agricultura familiar e pequenaproduçãoproduçãoproduçãoproduçãoprodução

A discussão dos conceitos de agricultura patronal e agricultura familiar1

está relacionada a algumas características do produtor. Agricultura patro-nal está relacionada ao produtor que utiliza a relação patrão/funcionário emseu sistema. O termo agricultura familiar não está relacionado ao produtorde subsistência, mas sim a um produtor competitivo com algumas caracte-rísticas específicas em seu sistema de produção. Para ser considerado umagricultor familiar, o produtor deve ser um assentado de reforma agrária ouatender aos seguintes critérios:

1. Lei 11.326 de 24 de julho de 2006, estabelecendo diretrizes para aformulação da política nacional da agricultura familiar e empreendimentosfamiliares rurais:

♦ não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulosfiscais;

♦ utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas ativida-des econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

♦ tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econô-micas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;

♦ dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

2. Classificação da renda bruta anual para o enquadramento dos novosbeneficiários no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fami-liar � Pronaf:

♦ Grupo �B�: até R$ 4.000,00♦ Grupo �C�: de R$ 4.000,00 e até R$ 18.000,00♦ Grupo �D�: de R$ 18.000,00 e até R$ 50.000,00♦ Grupo �E�: de R$ 50.000,00 e até R$ 110.000,00

3. Para efeito de enquadramento dos agricultores familiares nos Grupos�B�, �C�, �D� ou �E�, a renda bruta anual deve ser rebatida nas seguintescondições:

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89Cenários para o leite no Brasil em 2020

a) 50% (cinqüenta por cento), quando for proveniente das seguintes ativida-des intensivas em capital: avicultura não-integrada, ovinocaprinocultura,pecuária leiteira, piscicultura, sericicultura, fruticultura e suinoculturanão-integrada;

b) 70% (setenta por cento), quando for proveniente das atividades deturismo rural, agroindústrias familiares, olericultura e floricultura;

c) 90% (noventa por cento), quando for proveniente das atividades avicul-tura e suinocultura integrada ou em parceria com a agroindústria.

O questionário apresentado aos especialistas trabalhou com o conceitode pequena produção considerando para essa definição um produtor commenos de 500 litros por dia. Há que se distinguir este conceito utilizado notrabalho daquilo que se considera, oficialmente, agricultura familiar, con-forme citado acima. Ao se avaliar qual seria a produção diária máxima deum agricultor familiar, estabelecendo um preço de R$ 0,60 por litro, chega-se a uma produção de até 850 litros por dia, isso se o agricultor produzirsomente leite e a receita bruta anual oriunda da venda de animais represen-tar 15% do total da atividade leiteira (venda de leite e venda de animais).Percebe-se que toda a avaliação de enquadramento de renda vai dependerdo preço praticado ao produtor. Portanto, neste estudo, o termo agricultu-ra familiar está relacionado à produção de até 500 litros por dia.

1 Diante da amplitude do conceito, seria mais correta a utilização dos termos �agropecuária patronal�e �agropecuária familiar�, porém os termos �agricultura patronal� ou �agricultura familiar� estão rela-cionados tanto a atividade de agricultura como a de pecuária.

Em função desta dinâ-mica, haverá alguma alte-ração na proporção de lei-te produzido em cada re-gião. A Tabela 1 traz es-tes dados em 1990,2005, e a projeção para2020.

Tabela 1. Distribuição da produção de leite nas

várias regiões em 1990 e 2005, e a previsão para

2020, em porcentagem, conforme Cenário 1.

Fonte: IBGE (dados de 1990 e 2005) e projeção do

cenário para 2020.

Região 1990 2005 2020

Sudeste 47,8% 38,8% 33,0%

Norte 3,8% 7,1% 10,0%

Nordeste 14,1% 12,1% 12,0%

Sul 22,5% 26,6% 29,0%

Centro-Oeste 11,7% 15,4% 16,0%

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Cenários para o leite no Brasil em 202090

É importante notar que, apesar de algumas regiões perderem participaçãopercentual, em todas a previsão é de aumento da produção absoluta de leite. ATabela 2 traz o aumento, em bilhões de litros, nos últimos 15 anos (de 1990 para2005) e o aumento previsto nesse cenário para os próximos 15 anos, até 2020.

A expansão das exportações, os melhores preços para o leite, a maior urbani-zação e a preocupação crescente por parte do consumidor em relação à seguran-ça dos alimentos e a qualidade, aliado à maior fiscalização por parte dos órgãoscompetentes farão com que a produção de leite inspecionado no âmbito federalcontinue subindo, passando de 66% (dado do IBGE de 2005) para 80%. Deve-setambém considerar o autoconsumo (bezerros e consumo nas propriedades), e osleites sob inspeção municipal e estadual, de forma que a quantidade de leite seminspeção efetivamente colocada no mercado será muito menor.

A melhoria da qualidade do leite e a necessidade de melhor previsão (e garan-tia) de oferta por parte dos laticínios farão com que o relacionamento entreprodutores indústrias melhore, adquirindo contornos mais cooperativos e menoscompetitivos. Entre os aspectos apontados, destacam-se maior transparência,contratos de longo prazo, diferenciação de preços em função de volume, qualida-de, constância, boas práticas de produção e outros fatores.

As cooperativas manterão a participação de cerca de 40% na captação deleite. Porém, muitas cooperativas não terão agilidade suficiente para alterar suasestruturas de gestão e governança corporativa, tendo também problemas em secapitalizar para competir no mercado, sendo obrigadas a encerrar as atividadesou ser incorporadas por empresas ou outras cooperativas, acompanhando umprocesso de concentração na captação e na indústria. Mudanças na legislaçãocooperativista levadas a cabo pelo setor serão uma importante ferramenta paramelhorar a competitividade do segmento. Com isso, diversas cooperativas conse-guirão modernizar sua gestão, encontrar novas formas de capitalização e

Tabela 2. Aumento da produção de leite nas várias regiões de 1990 a 2005 e a

previsão para 2020, em bilhões de litros, conforme Cenário 1.

Fonte: IBGE (dados de 1990 e 2005) e projeção do cenário para 2020.

Região Aumento 1990-2005 Aumento previsto 2005-2020

Sudeste 2,612 3,738

Norte 1,188 2,278

Nordeste 0,927 1,853

Sul 3,280 5,129

Centro-Oeste 2,080 2,652

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91Cenários para o leite no Brasil em 2020

fidelização do cooperado e lançar mão de estratégias associativas para se mantercompetitivas no mercado.

Mesmo assim, a porcentagem do leite destinado ao mercado �spot�, o leitevendido sem processamento para outras empresas, embora menor do que os 30%estimados para o início da década, permanecerá significativa, na casa dos 20%,implicando dois aspectos de origem distinta: de um lado, uma inabilidade dascooperativas em agregar valor e, de outro, uma distribuição de papéis mais clarana cadeia produtiva, com relacionamentos mais profissionais e cooperativos entreas cooperativas e as demais indústrias, reduzindo os custos de transação e indi-cando amadurecimento da cadeia.

A maior competição no setor de laticínios, a necessidade de escala global paraexportação, o aumento das exigências ambientais e sanitárias e a consolidação dovarejo farão com que haja redução no número de laticínios, porém com espaçopara empresas atuarem em nichos de mercado. Os supermercados continuarãosendo o principal canal de vendas, com pouco espaço para outros canais. Lojasmenores cada vez mais se reunirão em associações de compra, obtendo, com ovolume conjunto, poder de barganha semelhante ao verificado pelos grandesvarejistas, o que reforçará a necessidade de aumento de escala e consolidaçãodas firmas que atuam no setor.

O consumo per capita manterá o aumento anual de 1,5%, em consonânciacom o ocorrido de 1989 a 2006, atingindo 167 kg por pessoa por ano. Porém,esse aumento está longe de ser linear como se pode supor, sendo resultado dediversas forças com efeitos distintos no consumo. Como estímulo, está o aumentoda renda per capita, como previu em 2005 o banco Goldman Sachs, que indicouque, de 2005 a 2015, o Brasil dobraria o número de pessoas com renda anualacima de US$ 3.000, elevando o consumo de proteínas animais. O aumento darenda média estimulará o surgimento de uma série de produtos lácteos paraclasses emergentes, com inovação em embalagens e canais de distribuição.

A maior renda média, aliada ao envelhecimento da população e ao crescimen-to do food service, elevará principalmente o consumo de queijos, puxando oconsumo per capita de leite. O setor também conseguirá, ainda que tardiamenteem comparação a segmentos concorrentes, se adequar às demandas crescentesde saúde e boa alimentação, ampliando o número de lácteos com probióticos eprebióticos e, mais ainda, conseguirá desenvolver novos e rentáveis usos para oslácteos, como os nutracêuticos, especialmente pela utilização dos componentesdo leite e do soro, que não serão mais desperdiçados. Também, no campo das

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Cenários para o leite no Brasil em 202092

forças favoráveis, está o marketing institucional, que será constituído de formaduradoura pelo setor, criando uma base sustentável de comunicação, transparên-cia e inovação.

Do lado negativo, embora a renda aumente e a distribuição melhore, aindahaverá parcela significativa da população com renda limitada para permitir oamplo consumo de lácteos, especialmente os de maior valor agregado. Alémdisso, a existência de produtos concorrentes, muitas vezes melhor posicionadosem relação aos benefícios à saúde e às demandas de qualidade de vida e nutriçãodo que os lácteos, bem como a crescente regulamentação governamental, procu-rando reduzir o consumo de alimentos ricos em gorduras, gordura saturada egordura trans, açúcar e sódio, como ocorreu em boa parte do mundo, são aspec-tos relevantes que contribuirão para impedir maiores aumentos, ainda que o setorconsiga lidar, em algum grau, com estas questões.

A combinação dos fatores positivos e negativos resulta, assim, no crescimentode 1,5% ao ano no consumo per capita, de forma que o Brasil terá, em 2020, umconsumo ainda bastante abaixo do verificado em países desenvolvidos e mesmoem países de renda semelhante, como Argentina e Uruguai, e abaixo do que seriarecomendável para uma dieta equilibrada e saudável. Neste aspecto, os esforçosno sentido de tentar educar a população a se nutrir melhor, em vez de regulamen-tar a propaganda e o consumo de alimentos individuais, ainda não terão sidosuficientemente bem-sucedidos, a despeito do marketing institucional.

Haverá maiores e crescentes restrições sanitárias e ambientais para indústrias eprodutores de leite, o que implicará em maiores custos de produção e, portanto,pressão para melhoria da eficiência de produção. No entanto, em linhas gerais, osetor conseguirá se adequar a padrões internacionais e, com isso, ganharcompetitividade externa, necessária para que se consiga escoar 12% da produção,ou cerca de 4,8 bilhões de litros de leite por ano. Dentro disso, as característicasnaturais do País e a possibilidade da produção a pasto de forma ambientalmentesustentável e, em menor grau, sob sistemas de produção orgânica, serão umimportante aliado para a penetração do País no mercado internacional.

No âmbito do comércio internacional, o Brasil definitivamente se inserirá comoparticipante relevante, importando apenas 3% de sua necessidade, em produtosespecíficos e, principalmente, exportando quantidade significativa de leite. Consi-derando o crescimento anual de 3,5%2 no volume comercializado entre países, e

2 Estimativa não-submetida ao Delphi, mas extrapolada a partir de previsões da OCDE, até 2016.

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93Cenários para o leite no Brasil em 2020

um volume de 42,5 milhões de toneladas comercializadas em 2005, o Brasil seráresponsável por 6,8% do total do leite comercializado entre países em 2020,contra cerca de 1% em 2005.

Lições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenário

♦ A produção crescerá 64% e as exportações mais de 800% em relaçãoaos valores atuais. Qualidade, infra-estrutura de escoamento da produ-ção e acesso a mercados serão aspectos-chave para tornar esses núme-ros realidade.

♦ A fiscalização por parte do governo será importante para que se atinja osobjetivos de mercado em um contexto em que as exigências são cres-centes, embora seja oportuno discutir outras formas de estímulo àmelhoria da qualidade, como a implantação de selos de qualidade ecódigos de conduta no âmbito do setor privado.

♦ A dicotomia tecnológica permanecerá se não houver ações consistentese duradouras no sentido de viabilizar a evolução em regiões hoje caren-tes, especialmente onde há predominância da agricultura familiar.

♦ Os efeitos de atividades competitivas e da bioenergia são incertos. Cabeao setor (principalmente indústrias e entidades de representação deprodutores) capacitar os produtores de forma a competir favoravelmen-te.

♦ O marketing institucional surge como ação fundamental para que o setordesenvolva o mercado, o que implica em ampla coordenação setorial.

♦ Maior regulamentação governamental e preocupação com saúde se cho-cam com o aumento do consumo per capita principalmente provenientede queijos.

♦ As exigências ambientais e sanitárias serão crescentes, sendo necessá-rio avaliar desde já o que vem sendo feito para preparar o setor para essarealidade.

♦ Manter participação de 40% do total do leite captado pelas cooperati-vas significa a interrupção de uma tendência de queda verificada nosúltimos 15 anos, certamente um desafio em um ambiente cada vez maiscomplexo e dinâmico.

♦ O cenário tendencial leva o Brasil a ter um papel de mediano destaque naprodução leiteira global, mas inferior ao que foi obtido em produtos comosoja, etanol e a própria carne bovina. O cenário mostra, portanto, queimportantes transformações precisam ser operadas para alcançarmosuma posição de destaque no setor leiteiro.

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Cenários para o leite no Brasil em 202094

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Capítulo 4

O leite é a nova estrela doO leite é a nova estrela doO leite é a nova estrela doO leite é a nova estrela doO leite é a nova estrela doagronegócio � Cenário 2agronegócio � Cenário 2agronegócio � Cenário 2agronegócio � Cenário 2agronegócio � Cenário 2

Marcelo Pereira de CarvalhoPaulo do Carmo MartinsJames Terence Coulter WrightRenata Giovinazzo Spers

SínteseSínteseSínteseSínteseSíntese

Nesse cenário, a atividade leiteira ganha contornos verificados em outrascadeias do agronegócio nacional. O crescimento da produção será de quase 5%ao ano, atingindo 50 bilhões de litros, alicerçada em uma produção principalmenteconcentrada em grandes produtores e laticínios eficientes, embora com participa-ção importante da agricultura familiar restrita a determinadas regiões do País, emespecial na Região Sul. As boas perspectivas de crescimento do consumo mundialde lácteos, aliadas ao potencial de crescimento da atividade no País e à superaçãode diversos obstáculos presentes no início da década levarão ao forte crescimentoe profissionalização da atividade.

VisãoVisãoVisãoVisãoVisão

Haverá significativas oportunidades de crescimento tanto na venda de lácteospara o mercado interno como para o mercado externo. O País intensificará seuintercâmbio comercial, exportando e importando (apenas 4% de sua necessidade)lácteos. O Brasil destinará 20% de sua produção para o mercado externo, ou 10

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Cenários para o leite no Brasil em 202096

bilhões de litros anuais, representando cerca de 12,5% do mercado internacionaltotal, considerando uma estimativa1 de 80 bilhões de litros comercializados entrepaíses em 2020, incrementada pelo maior fluxo comercial entre países e pelaabertura de mercados. Com estes valores, o Brasil será provavelmente o quartomaior exportador mundial, atrás da Nova Zelândia, Estados Unidos e União Euro-péia, superando países tradicionais como Austrália e Argentina. Mesmo com amaior liberalização econômica e do crescimento do comércio intrapaíses, o leitecontinuará sendo um produto majoritariamente de consumo local, uma vez que aprodução está crescendo justamente nos países que possuem maior potencial deaumento de consumo.

A melhoria da eficiência e a competitividade interna encontrarão, no ambienteinternacional, um campo fértil para a colocação de produtos brasileiros. Os preçosinternacionais dos lácteos se manterão elevados, maiores do que a média no períodopré-2006, fruto das mudanças estruturais verificadas desde 2003 (Tabela 1).

Essas mudanças estruturais gerarão um déficit crescente na oferta de lácteos,conforme previsto pela Fonterra (Fig. 1), estimulando os países competitivos aincrementar sua produção.

1 Estimativa não-submetida ao Delphi.

Tabela 1. Mudanças estruturais afetando o mercado de lácteos.

Principais mudanças estruturais no mercado entre 2003 e 2020

Redução dos subsídios na União Européia e mudança do foco de mercado, da venda desubsidiadas para a venda de produtos de valor agregado, principalmente para o leste europeu e países maispróximos

commodities

Aumento da área destinada para a produção de biodiesel e etanol, encarecendo o preço da terra e dosinsumos para alimentação, resultando em uma pressão para o aumento do preço do leite

Mudanças climáticas afetando a produção e o custo em países outrora importantes, como é o caso daAustrália

Crescimento continuado da renda mundial, especialmente em países da África, AméricaLatina e Ásia, que possuem consumo reprimido por questões econômicas

per capita

Globalização de empresas e hábitos de consumo, sendo exemplo mais evidente a ocidentalização depaíses do Oriente e altamente populosos, como China, Índia, Paquistão e Indonésia, entre outros

Aumento dos preços dos fertilizantes, elevando o custo das rações e contribuindo para oestabelecimento de novos patamares de preços

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97Cenários para o leite no Brasil em 2020

Nesse aspecto, os preços mais elevados para o leite, mudando radicalmente ospadrões com os quais o setor estruturou suas exportações ao longo do século XX,terão efeitos significativos nos conceitos de competitividade. Os altos custos desuplementação em países exportadores outrora majoritários, como a Austrália e aNova Zelândia, resultarão em custo marginal elevado, abrindo espaço para regi-ões com maior disponibilidade de subprodutos ou grãos mais baratos, resultandoem custos marginais menores. Nesse aspecto, ganharão terreno os Estados Uni-dos (com uso significativo de resíduos de destilaria da produção de etanol), oBrasil, a Argentina, o Uruguai, o Canadá e alguns países do norte e leste Europeu,como Dinamarca, Polônia e Ucrânia.

O cenário externo favorável repercute também no ambiente interno. A econo-mia crescerá e a renda continuará melhorando, com distribuição mais igualitária,estimulando o consumo.

As oportunidades de aumento do consumo serão bem aproveitadas pelo setor,que conseguirá se articular e colocar em prática selos de qualidade com auditoriaprivada e códigos de conduta, que serão cada vez mais valorizados pelo mercado.Com isso, criará as bases para a bem-sucedida implantação do marketinginstitucional, que consistirá não só de propaganda, mas também do relacionamen-to com o governo, mídia e formadores de opinião, como médicos, nutricionistas eeducadores.

Fig. 1. Descompasso entre a produção e a demanda de leite no mundo,

em bilhões de litros.

Fonte: Dados projetados a partir da análise da Fonterra (MilkPoint, 2007e).

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Cenários para o leite no Brasil em 202098

Essa articulação favorecerá um melhor posicionamento e um maior poder debarganha junto ao legislativo e também junto à sociedade civil, em que Organiza-ções não-Governamentais ganham cada vez mais força, representando um desa-fio para empresas e para governos. A partir desse posicionamento, o peso negati-vo da regulamentação governamental restringindo a propaganda e procurandoreduzir o consumo de determinados produtos que têm base láctea será sensivel-mente menor.

O setor conseguirá emplacar, junto com outras entidades representativasde outras cadeias do agronegócio e com a participação do governo, um ambi-cioso programa de educação alimentar junto à população, que terá comoefeito benéfico adicional o aumento da proporção de leite inspecionado pelosistema de inspeção federal para 82% do total produzido, o que será favoreci-do também pela melhoria do próprio sistema de inspeção e maior fiscalizaçãogovernamental.

No âmbito empresarial, o setor conseguirá acompanhar as demandas cres-centes em nutrição e qualidade de vida e, fundamentalmente, inovar, levandoem conta não só novos produtos, mas novos canais de distribuição, novosmercados (segmentação crescente) e novas abordagens. O ritmo de lança-mento do setor de laticínios continuará elevado, como ocorria no início doséculo, superando o ritmo de inovação da indústria de alimentos como um todo(Fig. 2). Esse fator implica em fortes investimentos em pesquisa e desenvolvi-mento de produtos, obtidos pela parceria com instituições públicas de pesqui-sa, por meio de investimentos diretos multinacionais e de parcerias de desen-volvimento conjunto de produtos ou licenciamento de tecnologias com empre-sas globais. Duas importantes contribuições serão a filiação do País à Federa-ção Internacional de Laticínios e, principalmente, a participação de empresase instituições de pesquisa brasileiras na Global Dairy Platform, que permitirá atroca de experiências em pesquisas pré-comerciais e desenvolvimento de pro-dutos inovadores.

Todos esses fatores combinados farão com que o consumo per capita cresça auma taxa de 2,35% ao ano, muito superior à média histórica. Nesse cenário, cadabrasileiro consumirá, em equivalente-leite, um total de 190 kg por ano, aproxi-mando-se de economias mais desenvolvidas, que possuem consumo entre 200 e270 kg por pessoa/ano.

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99Cenários para o leite no Brasil em 2020

Esse contexto terá efeitos importantes na estrutura industrial e na produção.A maior globalização, a consolidação do varejo e o surgimento de uma massa deconsumidores de baixa e média renda tornarão o ganho de escala fundamental,forçando a concentração na indústria, que terá como estratégia trabalharprioritariamente com grandes produtores e com cooperativas focadas na capta-ção de leite. Esse ambiente dinâmico levará a maior sofisticação da atuação doslaticínios, pressionados pela consolidação no varejo e pela competição global.Além da maior escala, buscarão novas formas de ganhos financeiros, como acriação de bancos próprios, com o propósito triplo de financiar a evolução de suabase de fornecedores, fidelizá-la e se apropriar de ganhos que até então ficavamno sistema financeiro.

O ambiente favorável de mercado estimulará a entrada de fundos de investi-mento e de empresas globais de alimentação no setor de laticínios, tornando umdivisor de águas a aquisição, em 2006, da Batávia pela Perdigão, fato que acele-rou a movimentação de outras empresas em direção ao setor de laticínios.

Em relação aos canais de distribuição, apesar de os supermercados continua-rem a manter sua supremacia, haverá oportunidades crescentes em outros mer-cados, como o Food Service, que representará quase metade dos gastos totaiscom alimentos no País, bem como lojas especializadas, pequenos e médios vare-jos, e mesmo venda direta ao consumidor.

Fig. 2. Ritmo de lançamento de novos produtos lácteos é maior do que

de outros alimentos.

Fonte: USDA, Economic Research Service – Datamonitor Productscan.

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Novos produtos lácteos% de novos produtos lácteos em relação aos demais produtos lançados

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Cenários para o leite no Brasil em 2020100

Os produtores não ficarão imunes a essa realidade. Haverá concentração daprodução nos grandes produtores, fruto de programas de bonificação por volume,custos crescentes, maiores restrições sanitárias e ambientais e concorrência comoutras atividades, estimulando a eficiência e a escala. Como conseqüência, have-rá redução de 48,3% no número de fornecedores dos 14 maiores laticínios (ou39.433 fornecedores no total). Esse dado, aliado ao aumento da produção total,fará com que o módulo médio salte de 204 litros/produtor/dia para 770 litros/produtor/dia, um aumento de 277% em 14 anos.

No entanto, apesar da concentração crescente da produção em grandes pro-dutores, os produtores de pequeno porte que se desenvolverem terãocompetitividade e sustentabilidade, notadamente na Região Sul, fortemente anco-rados no cooperativismo. Haverá aumento do módulo médio do produtor de pe-queno porte; na realidade, a definição de pequena produção mudará nestes 13anos. Esse crescimento terá, porém, pouco amparo governamental, sendo muitomais resultado da organização cooperativista do que da intervenção pública, quese limitará a situações específicas como o fomento à formalização de agricultoresfamiliares que apresentarem interesse e potencial de permanecer na atividade.Os programas de aquisição de leite para fins sociais serão minimizados oudescontinuados e o forte empenho em viabilizar a agricultura familiar existenteoutrora será muito reduzido, seja pela menor necessidade, em função das oportu-nidades de inserção desse agricultor em outras atividades econômicas, seja pelaconstatação de que a produção em maior escala resulta em custos mais baixos e,portanto, em melhor posicionamento competitivo no mercado.

Culturas concorrentes e as crescentes exigências relativas ao uso da água edeposição de dejetos, bem como o rigor das exigências sanitárias terão, em últimaanálise, efeitos favoráveis no desenvolvimento do setor. As culturas concorrentesforçarão o aumento da produtividade por unidade produtiva e, ainda, gerarãosubprodutos e oportunidades de integração. Nas bacias tradicionais das regiõesSudeste, Centro-Oeste e no Paraná, diversas destilarias constituirão parcerias einvestirão em produção integrada de carne e leite, utilizando áreas ociosas esubprodutos da indústria de agroenergia. As exigências ambientais trarão tam-bém oportunidades de renda, como as verificadas pela instalação de biodigestorespara geração de energia e comercialização de créditos de carbono, transforman-do um obstáculo em fonte de receita para os mais eficientes. As restrições dequalidade do leite, além das restrições sanitárias, como as exigências de controlee erradicação de tuberculose e brucelose, implicarão em custos, mas, por outro

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101Cenários para o leite no Brasil em 2020

lado, permitirão a melhoria da gestão das propriedades, incluindo componentes derastreabilidade, o que ampliará as opções de mercado e melhorará a imagem dosetor perante o mercado interno e externo, cada vez mais atentos a como e ondeos alimentos são produzidos.

O ambiente dinâmico forçará o aumento da produtividade a taxas superio-res à média histórica. Apesar de ser o resultado da heterogeneidade que aindapersistirá, a produtividade animal crescerá a uma taxa significativa de 5% aoano, alcançando 2.500 kg/vaca/ano, representando aumento de mais de100% em comparação ao dado de 2005. Convém ressaltar que essa produtivi-dade engloba o período seco, o que significará uma média diária de 8 kg porvaca/dia, considerando 305 dias de lactação, em sistemas com uso intensivode pastagens rotacionadas, com algum grau de suplementação. Haverá tam-bém maior homogeneização dos sistemas de produção de leite por região, combolsões de produção muito intensificada em regiões do Paraná, São Paulo,Minas Gerais e Sul de Goiás, inclusive com sistemas confinados. A incorpora-ção de tecnologia se fará presente principalmente em relação à genética e àinseminação artificial. O número de vacas pouco se alterará em relação aoatual, com 20 milhões de animais, em comparação aos 20,6 milhões indicadospelo IBGE em 2005.

Esse contexto manterá a produção concentrada nas bacias mais tradici-onais, em especial Minas Gerais, que continuará liderando com folga oranking de produção. A Região Sudeste, apesar de perder parte da partici-pação relativa em relação a 2005 (Tabela 2), terá o maior aumento absolu-to (Tabela 3).

Tabela 2. Distribuição da produção de leite nas

várias regiões em 1990 e 2005, e a previsão para

2020, em porcentagem, conforme Cenário 2.

Fonte: IBGE (dados de 1990 e 2005) e projeção do

cenário para 2020.

Regiões 1990 2005 2020

Sudeste 47,8% 38,8% 35,0%Norte 3,8% 7,1% 8,0%Nordeste 14,1% 12,1% 12,0%Sul 22,5% 26,6% 28,0%Centro-Oeste 11,7% 15,4% 17,0%

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Cenários para o leite no Brasil em 2020102

Crescentes restrições ambientais e pressões internacionais limitarão o desen-volvimento da produção na Região Norte, que terá o menor incremento absolutono período.

O profissionalismo e a transparência irão se tornar cada vez mais necessáriosnas relações comerciais. Afinal, o setor terá muito em jogo: ampla e crescenteinserção internacional e um papel relevante a defender no mercado interno, cadavez mais competitivo. Aspectos como maior previsibilidade de preços, estratégiasde longo prazo de fidelização e programas de integração, como o iniciado pelaIntegralat, serão cada vez mais disseminados. Nesse sentido, o ambiente seráfavorável ao investimento por parte dos produtores e indústrias, garantindo osuprimento de leite necessário. O sucesso do marketing institucional, por sua vez,é ao mesmo tempo causa e conseqüência do amadurecimento da relação entreprodução e indústria.

Assim como vem ocorrendo há décadas em outros países com produção deleite significativa, as cooperativas serão um forte sustentáculo da atividade,contribuindo para a divisão mais equânime dos ganhos com a atividade, sejadiretamente, pela própria missão da cooperativa, seja indiretamente, por contri-buir para que laticínios trabalhem de forma mais cooperativa a sua rede defornecedores. Nesse sentido, as cooperativas aumentarão a sua participação para45% do total captado, alicerçando sua atuação em duas frentes importantes:melhoria do relacionamento com indústrias processadoras de alimentos, forne-cendo leite em contratos de longo prazo, muitas vezes tendo participação

2 Maior cooperativa de leite do mundo, formada em 1998 pela fusão de quatro cooperativas localizadas no meio-oeste dos EUA. A DFA coleta 28 bilhões de litros de leite por ano, de 19.514 associados. Em 2006, tevereceitas de US$ 7,9 bilhões. A DFA opera plantas de processamento produzindo uma variedade de produtoslácteos, vendidos sob marcas da empresa e marcas privadas de terceiros. A empresa participa de várias alian-ças estratégicas com outras empresas, a maioria envolvida com a comercialização de leite pasteurizado.

Tabela 3. Aumento da produção de leite nas várias regiões de 1990 a 2005 e a

previsão para 2020, em bilhões de litros, conforme Cenário 2.

Fonte: IBGE (dados de 1990 e 2005) e projeção do cenário para 2020.

Região Aumento 1990-2005 Aumento previsto 2005-2020

Sudeste 2,612 7,955Norte 1,188 2,253Nordeste 0,927 3,023Sul 3,280 7,456Centro-Oeste 2,080 4,712

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103Cenários para o leite no Brasil em 2020

acionária nas indústrias, nos moldes da Dairy Farmers of America (DFA)2 ; emelhor posicionamento estratégico, seja via alianças e consolidação, seja pelabusca de um posicionamento único de mercado.

Lições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenário

♦ O crescimento significativo no consumo per capita é fruto de diversosaspectos, envolvendo ações setoriais de longo prazo, como o marketinginstitucional, mas também dinamismo empresarial, como fortes investi-mentos em P&D.

♦ Esse cenário altamente competitivo coloca em dificuldade empresas demédio e pequeno portes, restritas a nichos de mercado e atuação regional.

♦ O aumento da produtividade implica em adoção de tecnologia em umritmo bem maior do que o até então verificado, ainda que baseada emtécnicas em grande parte já existentes.

♦ O crescimento sustentável em larga escala, como o previsto nesse cená-rio, sugere melhor relacionamento e coordenação na cadeia de produção.

♦ A produção crescerá 103% e as exportações 1900% em relação aosvalores atuais. Qualidade, infra-estrutura de escoamento da produção eacesso a mercados serão aspectos-chave para tornar esses númerosrealidade.

♦ A concentração nos grandes produtores nesse cenário é bastante evi-dente. O custo social de saída de produtores precisa ser avaliado e açõesno sentido de mitigar esse processo podem ser estudadas.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020104

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Capítulo 5

O futuro desperdiçado � Cenário 3O futuro desperdiçado � Cenário 3O futuro desperdiçado � Cenário 3O futuro desperdiçado � Cenário 3O futuro desperdiçado � Cenário 3

Marcelo Pereira de CarvalhoPaulo do Carmo MartinsJames Terence Coulter WrightRenata Giovinazzo Spers

SínteseSínteseSínteseSínteseSíntese

Esse cenário representa a frustração das expectativas de crescimento e evolu-ção do setor leiteiro. Itens apontados pelos especialistas como importantes para odesenvolvimento do setor, como crescimento da renda interna, inserção internacio-nal, marketing institucional, consolidação na indústria e investimentos industriais nosetor, fortalecimento do cooperativismo e relacionamento cooperativo entre os elosserão, em maior ou menor grau, insuficientes para promover crescimento compatí-vel com o possível. As questões sanitárias e ambientais se converterão em barreiraspara o crescimento das exportações e mesmo para o desenvolvimento da atividadeno País. O setor desperdiçará as oportunidades de crescimento e conviverá com osmesmos problemas do início do século, que não serão eliminados.

VisãoVisãoVisãoVisãoVisão

O ponto central será a inabilidade do setor em promover uma melhor coorde-nação da cadeia produtiva, resultando em diversos aspectos desestimulantes aoseu desenvolvimento.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020106

Primeiro, o relacionamento entre os elos da cadeia produtiva será marcado poriniciativas de curto prazo, fruto da diferença de poder de barganha entre produ-ção e indústria, impedindo maior previsibilidade de preços e de oferta, o quedificultará a execução do planejamento estratégico das indústrias, incluindo asmultinacionais, que encontrarão em outros países ambientes mais propícios paraobterem acréscimos no suprimento de leite. As cooperativas seguirão perdendoespaço na captação total. Nesse cenário, em 2020 apenas 30% do leite passarápelas cooperativas, com 30% desse montante sendo ainda comercializado comoleite �spot�, sem maior agregação de valor. As cooperativas não terão consegui-do, com raras exceções, efetuar os ajustes necessários à competição em umambiente instável e cujo crescimento se mostrará aquém do previsto, acirrandoainda mais a concorrência.

A dificuldade de articulação setorial refletirá na impossibilidade de se colocarem prática o marketing institucional, com diversas conseqüências negativas:representatividade setorial pulverizada e pouco eficaz junto ao legislativo e aoexecutivo, resultando em derrotas importantes no que se refere à regulamenta-ção governamental e à própria melhoria da fiscalização, que não será suficientepara elevar substancialmente o leite sob inspeção federal (que será de 75%) ecoibir fraudes, que terão um papel freqüente e negativo na imagem dos lácteosjunto à população; incapacidade de fazer frente às crescentes manifestaçõescontrárias aos lácteos na mídia, articuladas por grupos de interesse cada vez maiseficientes em passar suas mensagens à população; ausência de programas delongo prazo envolvendo comunicação com formadores de opinião e propagandainstitucional de lácteos; inexistência de programas de esclarecimento à popula-ção, que continuará em parte consumindo produtos sem inspeção, mas que majo-ritariamente migrará para produtos concorrentes, fruto da preocupação com asegurança, a qualidade dos alimentos e com a consolidação de valores como asaúde e a qualidade de vida.

A baixa coordenação setorial, gerando imprevisibilidade de oferta, gera mo-mentos de sobra de leite seguidos por outros de escassez, em que as preocupa-ções com qualidade são afrouxadas, contribuindo ainda mais para a pequenamelhoria da qualidade do leite, tornando a Instrução Normativa 51 praticamenteinócua.

Nesse ambiente, caracterizado ainda por um crescimento da renda per capitainferior ao esperado, devido à incapacidade do País em realizar as reformasnecessárias e criar as condições para um crescimento compatível com outros

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107Cenários para o leite no Brasil em 2020

países em desenvolvimento, o consumo per capita crescerá pouco, atingindoapenas 150 kg/habitante/ano, com taxa de 0,75% ao ano, a metade da verificadaentre 1989 e 2006.

A mudança no perfil demográfico da população (Figs. 1 e 2), com cada vezmenos crianças (que consomem mais leite fluido per capita) e mais adultos eidosos, aliada ao baixo dinamismo setorial, dificultando o lançamento de produtosadequados ao novo público, contribuirá para que os lácteos percam espaço noorçamento das famílias e se transformem em mercados menos interessantes.Com isso, o investimento de empresas no setor será diminuído; a disponibilidadede crédito, escassa. Empresas do setor de laticínios cada vez mais migrarão paraáreas de maior rentabilidade e crescimento, o que alimentará a perda de participa-ção dos lácteos no mercado. O ritmo de inovação intra-setorial será baixo e asações envolvendo compartilhamento de informações e pesquisas visando trazersustentabilidade ao setor, praticamente inexistirão.

Fig. 1. Pirâmide etária brasileira em 2000.

Fonte: IBGE.

05

10152025

30

354045505560657075

Homens Mulheres

2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000

População

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Cenários para o leite no Brasil em 2020108

Se no ambiente interno o Brasil terá dificuldades para desenvolver o seumercado, no âmbito externo a situação não será diferente. Os preços internacio-nais de lácteos cairão, seguindo a tendência histórica de redução dos preços dascommodities, especialmente depois do barateamento da tecnologia para produ-ção de etanol celulósico, fazendo com que as áreas destinadas à produção debioenergia sejam novamente revertidas para a produção de alimentos, resultandoem oferta estruturalmente elevada no mundo, reduzindo os preços dascommodities agrícolas.

Além disso, o setor não terá sucesso em contornar as exigências ambientais esanitárias, impedindo o acesso a mercados importantes como o México e paísesasiáticos. Também, terá problemas constantes envolvendo o descumprimento denormas trabalhistas, que consistirão em mais um entrave não-tarifário para asexportações. Com isso, a inserção brasileira no mercado internacional se dará deforma muito mais tímida do que o esperado. O País exportará para mercadosmarginais e de forma oportunista, atingindo não mais do que 1,7 bilhão de litros,ou cerca de 5% da produção total prevista, o que representará menos de 2,5% dototal transacionado entre países. O reduzido dinamismo comercial também serárefletido nas importações, que representarão apenas 2% do total consumido,porém centralizada em produtos de alto valor agregado, cuja tecnologia não serádominada pela indústria local.

05

10152025

30

354045505560657075

2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000População

Homens Mulheres

Fig. 2. Pirâmide etária brasileira estimada para 2050.

Fonte: IBGE.

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109Cenários para o leite no Brasil em 2020

O baixo peso das exportações nas receitas do setor contribuirá para que aarticulação envolvendo melhorias na fiscalização e mesmo iniciativas privadascomo selos de qualidade e códigos de conduta não sejam realizadas. Com isso, oambiente competitivo para as empresas se tornará incerto e empresas de pontareduzirão seus investimentos no setor. O número de laticínios aumentará ou semanterá próximo ao atual, tendo muitos laticínios de pequeno porte localizadosem regiões de fronteira ou de atuação regional, em geral com baixo valor agrega-do e qualidade, não raro lançando mão de procedimentos industriais irregulares esonegando impostos.

Essa situação refletirá na produção, que crescerá a taxas mais baixas doque as históricas, atingindo 34 bilhões de litros em 2020, com crescimentoanual de 2,2%. Com um ambiente de mercado instável e com baixo cresci-mento, aliado à perda de espaço das cooperativas e gradual desinteresse dasempresas de ponta, muitos produtores de leite mais tecnificados e com maisalternativas migrarão para outras atividades mais rentáveis, restando ape-nas alguns bolsões de grandes produtores com acordos para fornecimento deleite a determinados laticínios ou verticalizados para a produção destinada anichos. Os efeitos da cana-de-açúcar e outras atividades se tornarão pronun-ciados. As áreas mais atrativas para a cana-de-açúcar verificarão perdassignificativas na produção de leite, que ficará concentrada em áreas margi-nais, com dificuldades de aumento da escala e com custos elevados. Osdados de rentabilidade média apresentados pelo Diagnóstico da PecuáriaLeiteira de Minas Gerais, de 2005 (Tabela 1), em larga escala continuarãopresentes, tornando o leite uma alternativa pouco interessante sob a óticaeconômica.

Tabela 1. Rentabilidade da atividade em 2005.

Excluindo capital em terra Incluindo capital em terraEstratos de produção

(litros/dia) Porcentagem ao ano

Até 50 Negativo Negativo

De 50 a 200 2,92 0,58

De 200 a 500 7,25 1,77

De 500 a 1.000 10,8 3,72

Acima de 1.000 13,75 5,99

Média MG 6,53 1,92

Fonte: Gomes (2006).

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Cenários para o leite no Brasil em 2020110

Com isso, o módulo médio de produção pouco crescerá. Considerando onúmero médio de fornecedores para os 14 maiores laticínios como indicador,este passará de 5.400 em 2006 para 5.000 em 2020, redução de apenas7,4%. A produção por produtor, nesse grupo, crescerá de 204 litros/produtor/dia para cerca de 301 litros/produtor/dia, um aumento de 48%, insuficientepara cobrir o custo inflacionário no período1.

O crescimento da produção será ancorado na agricultura familiar, com aRegião Sul apresentando a maior parte do crescimento. Porém, nesta e princi-palmente em outras regiões, o crescimento será pouco coordenado e emgrande parte desassistido. Essa situação crítica para milhares de produtoresserá amplificada pela inoperância dos programas de assistência técnica ofici-ais, cujos esforços para revitalização no início do século não terão sido bem-sucedidos. Sem crédito e sem apoio, a incorporação de tecnologia será reduzi-da e, com isso, a produtividade de leite por vaca crescerá apenas para 1.545kg/vaca/ano, a uma taxa de 1,8% ao ano. Haverá acentuação da dicotomiatécnica; enquanto uma parcela pequena dos produtores manterá alta produti-vidade, a maior parte, inclusive novos entrantes, se mostrará incapaz deelevar a produtividade e a eficiência técnica, ficando restritos a áreas margi-nais.

Como vem ocorrendo há muito tempo neste tipo de situação, esse leiteserá produzido sem que todos os custos sejam cobertos, apenas os variáveis,caracterizando sistemas extensivos, com baixa aplicação de tecnologia, altautilização de mão-de-obra familiar mal remunerada e baixos preços recebidospelo leite, como descrito em trabalho realizado em Gurupi, Tocantins, em2006 (Tabela 2).

Essa situação refletirá na caracterização espacial da produção de leite. OSudeste perderá participação, o Sul não crescerá tanto e as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste terão aumento da participação proporcional, confor-me a Tabela 3.

1 Considerando uma inflação anual de 3,5%, a inflação acumulada de 2005 a 2020 seria de 68%.

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111Cenários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 2. Análise financeira da atividade leiteira.

Especificação Unidade Gurupi

Indicadores unitários

Preço do leite R$/L 0,46

Custo operacional efetivo R$/L 0,28

Custo operacional total R$/L 0,50

Custo total R$/L 0,64

Indicadores totais

Renda bruta R$/ano 36.038,70

Custo operacional efetivo R$/ano 25.701,20

Custo operacional total R$/ano 41.347,61

Custo total R$/ano 51.568,17

Indicadores de resultados

Margem bruta (RB – COE) R$/ano 10.307,07

Margem bruta unitária R$/L 0,17

Margem líquida total (RB – COT) R$/ano –5.308,91

Margem líquida unitária R$/L –0,17

Lucro (RB – CT) R$/ano –15.529,47

Lucro unitário R$/L –0,38

Margem bruta anual/área R$/ha 87,40

Margem bruta anual/vaca lactação R$/cabeças 374,26

Margem bruta anual/total de vacas R$/cabeças 203,25

Remuneração capital excluindo terra % a.a –2,97

Remuneração capital incluindo terra % a.a –1,89

Fonte: Costa, P. (2006).

Tabela 3. Distribuição da produção de leite nas várias regiões em

1990 e 2005, e a previsão para 2020, em porcentagem, conforme

Cenário 3.

Fonte: IBGE (dados de 1990 e 2005) e projeção do cenário para 2020.

Região 1990 2005 2020

Sudeste 47,8% 38,8% 32,0%

Norte 3,8% 7,1% 11,0%

Nordeste 14,1% 12,1% 13,0%

Sul 22,5% 26,6% 28,0%

Centro-Oeste 11,7% 15,4% 16,0%

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Cenários para o leite no Brasil em 2020112

Lições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenário

♦ Questões-chave como a adequação a legislação sanitária e ambiental, omarketing institucional e o dinamismo em P&D serão, nesse cenário,insuficientes para promover o crescimento esperado, ainda mais em umambiente de negócios na esfera interna e externa que se mostra menosatrativo do que nos cenários anteriores.

♦ Esse cenário certamente não é o desejado pelo setor leiteiro; porém,assim como para os demais cenários, suas bases estão hoje presentes econvivem lado a lado com aspectos que poderão levar o setor ao desen-volvimento esperado. O ponto em questão é que, por pior que seja, essecenário ou algo próximo a ele é possível de ocorrer, caso várias daspremissas abordadas nele coincidam.

♦ Posto isso, uma lição relevante desse cenário é que cabe ao setor evitá-lo, sendo a questão central a articulação setorial e política que, depen-dendo da forma como for conduzida (ou mesmo se não for conduzida),poderá resultar em mercados totalmente distintos do ponto de vista deatratividade.

♦ Várias premissas desse cenário já estão sendo definidas hoje, ou seja, ofuturo já pode começar a estar sendo desperdiçado ou construído. Cabeao setor analisar as premissas identificadas e evitar que esse cenário setorne realidade.

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Capítulo 6

AgriculturaAgriculturaAgriculturaAgriculturaAgricultura familiarfamiliarfamiliarfamiliarfamiliar eeeee competitivacompetitivacompetitivacompetitivacompetitiva ����� Cenário 4Cenário 4Cenário 4Cenário 4Cenário 4

Marcelo Pereira de CarvalhoPaulo do Carmo MartinsJames Terence Coulter WrightRenata Giovinazzo Spers

SínteseSínteseSínteseSínteseSíntese

O ponto de partida desse cenário é a estruturação da indústria láctea a partirda agricultura familiar, seja pelas condições favoráveis ao desenvolvimento daatividade no Sul do Brasil, predominando pequenas propriedades familiares ecooperativas, seja pelo envolvimento do governo, oferecendo estrutura para odesenvolvimento da atividade, especialmente nas regiões de fronteira agrícola(Centro-Oeste, Norte e Nordeste).

O maior envolvimento do governo se dará pelo reconhecimento da importânciaestratégica da pecuária de leite como atividade geradora de renda e empregos nocampo, o que levará ao forte aumento na disponibilidade de financiamentos ajuros acessíveis, assistência técnica, informação e uma gama de instrumentos deproteção ao produtor familiar. Nele, os esforços para readequação e moderniza-ção do sistema de extensão rural oficial terão sido bem-sucedidos. O crescimentosustentável do setor se dará, portanto, a partir da agricultura familiar, criandouma dinâmica competitiva a ponto de permitir ampliação da produção, coordena-ção entre os elos e desenvolvimento dos mercados interno e externo.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020114

VisãoVisãoVisãoVisãoVisão

O crescimento da produção baseado na agricultura familiar se dará fundamen-talmente pela forte e crescente presença da atividade na Região Sul, consolidadaa partir de agricultores familiares e uma bem-sucedida rede de cooperativas que,por meio de parcerias e de alianças mais complexas, serão capazes de acompa-nhar as demandas do mercado e ganhar participação na captação de leite. Nessecenário, as cooperativas serão um player cada vez mais relevante e responderãopor metade da captação de leite do País, com apenas 20% dessa quantidadesendo comercializada no mercado spot.

Com o desenvolvimento acelerado da produção de leite na Região Sul, estaquase se equipará com o Sudeste, sendo a região com o maior incremento deprodução para os próximos 15 anos (Tabelas 1 e 2).

A produção total do País crescerá quase 5% ao ano, atingindo 50 bilhões delitros anuais em 2020, destinados ao mercado interno e, de forma crescente, aomercado exterior. A importância da agricultura familiar será cada vez mais reco-nhecida e estimulada pelo governo que, além do apoio via crédito e extensão,

Tabela 1. Distribuição da produção de leite nas várias regiões em

1990 e 2005, e a previsão para 2020, em porcentagem, conforme

Cenário 4.

Fonte: IBGE (dados de 1990 e 2005) e projeção do cenário para 2020.

Região 1990 2005 2020

Sudeste 47,8% 38,8% 32,0%Norte 3,8% 7,1% 10,0%Nordeste 14,1% 12,1% 12,0%Sul 22,5% 26,6% 30,0%Centro-Oeste 11,7% 15,4% 16,0%

Tabela 2. Aumento da produção de leite nas várias regiões de 1990 a 2005 e a

previsão para 2020, em bilhões de litros, conforme Cenário 4.

Fonte: IBGE (dados de 1990 e 2005) e projeção do cenário para 2020.

Região Aumento 1990-2005 Aumento previsto 2005-2020

Sudeste 2,612 6,455Norte 1,188 3,253Nordeste 0,927 3,023Sul 3,280 8,456Centro-Oeste 2,080 4,212

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115Cenários para o leite no Brasil em 2020

manterá e ampliará programas de aquisição para fins sociais, especialmente naRegião Nordeste, dando continuidade às ações que estão sendo alavancadas hojee que têm sido responsáveis pela maior formalização do leite e pela estruturaçãoda cadeia produtiva em diversos estados (Tabela 3).

Por fim, o crescimento da atividade com base na agricultura familiar terátambém origem nos assentamentos de reforma agrária, que vêem na atividadeleiteira uma opção econômica viável, ainda mais ao se considerar que o apoiogovernamental crescerá. Assim, por ter tecnologia acessível, empregar a mão-de-obra familiar, poder ser explorado em pequenas áreas, ter baixo risco de mercadoe técnico e ter características de assalariamento, ao permitir receitas regulares emensais, o leite crescerá de forma significativa não só nos Estados com maiornúmero de assentamentos (como mostra a Tabela 4, que relaciona o crescimentoda produção de leite com o ranking dos assentamentos), mas também em assen-tamentos localizados em regiões tradicionais.

Essa produção de leite majoritariamente familiar encontrará oportunidades inte-ressantes no mercado. Áreas de nicho ou incipientes no início do século terãodesenvolvimento considerável, como a produção orgânica de leite, cujo alinhamen-to com a agricultura familiar criará um círculo virtuoso que estimulará seu desen-volvimento. O maior interesse do consumidor a respeito da origem dos alimentos

Tabela 3. Importância dos programas sociais de aquisição de leite noNordeste.

Fonte:

Elaboração: Extraídode

IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), Pesquisa Trimestral do Leite, MDS e

Coordenações Estaduais do PAA Leite.

ReisFilho–LeiteeNegóciosConsultoria. : Carvalho, M. (2007d).

Região/Estado

Produção

de leite

(mil litros)

Leite

inspecionado

(mil litros)

% do leite

produzido/

captado

Leite em

Programas

Sociais

(mil litros)

% do leite

produzido/

Programa

Social

% do leite

PAA/

leite captado

Nordeste 2.972.000 946.180 31,8 197.242 6,6 20,8Alagoas 236.109 121.565 51,5 18.799 8,0 15,5Bahia 890.187 325.306 36,5 15.322 1,7 4,7Ceará 367.975 119.517 32,5 17.280 4,7 14,5Maranhão 321.180 46.520 14,5 4.533 1,4 9,7Paraíba 148.599 41.943 28,2 45.133 30,4 107,6Pernambuco 526.525 132.911 25,2 24.230 4,6 18,2Piauí 78.713 17.974 22,8 6.467 8,2 36,0Rio Grande do Norte 211.545 77.315 36,5 53.268 25,2 68,9Sergipe 191.306 637.129 33,0 12.211 6,4 19,3

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Cenários para o leite no Brasil em 2020116

consumidos e das práticas associadas à produção estimularão a maior consciênciaambiental, proliferando sistemas de produção silvo-pastoris e ambientalmente sus-tentáveis, muitas vezes com o suporte financeiro de Organizações não-Governa-mentais de alcance global, interessadas no desenvolvimento sustentável.

Desta forma, os agricultores familiares não apenas terão competitividade naprodução, mas também encontrarão canais de comercialização atrativos econo-micamente. A atuação de entidades e serviços de apoio como o Sebrae seráfundamental para promover arranjos produtivos locais e o estímulo ao comérciolocal, alimentados pela importância crescente de conceitos como sustentabilidadee comércio justo.

Haverá incorporação de tecnologia tanto nos agricultores familiares como nosgrandes produtores, que terão espaço junto a laticínios, com contratos de longoprazo e transparência no relacionamento. O módulo de produção destes fornece-dores aumentará, respondendo às bonificações por volume e à necessidade deescala. Utilizando como indicador os fornecedores dos 14 maiores laticínios, omódulo subirá de 204 litros/ produtor/dia para 541 kg/dia, com 4.000 fornecedo-res por empresa, em média, um aumento de 165%.

Nesse ambiente em que há fortalecimento das cooperativas e melhoria dorelacionamento entre os elos, reduzindo os custos de transação, o setor consegui-rá se articular e colocar em prática o programa de marketing institucional, comamplos benefícios na representatividade do setor junto ao governo e também naelevação do consumo per capita, que atingirá significativos 190 kg/habitante/ano,fazendo com que os ganhos de renda da população sejam satisfatoriamentecaptados pelo setor. A importância estratégica da agricultura familiar naatividade, reconhecida pelo governo, e a importância econômica do leite, aliadas àforte articulação setorial, farão com que o setor desfrute uma posição favorávelem negociações internas e externas, inclusive com repercussão positiva junto àopinião pública. Neste contexto, a responsabilidade social, incluindo a maneira

Tabela4.Assentamentosdereformaagráriaecrescimento da produção de leite.

EstadoRanking de assentamentos

1979/2001

Taxa de crescimento da produção de leite

1990/2005

10 0

0 0

0 0

0 03

2 13 5

ParáRondôniaMaranhãoMato Grosso 4 4

Fonte: Fonseca & Santos (2007).

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117Cenários para o leite no Brasil em 2020

como os agentes mais fortes se relacionam comercialmente com os mais fracos,terá um papel importante na consolidação de uma visão mais cooperativa e menoscompetitiva entre os agentes da cadeia produtiva.

A produtividade por animal crescerá à taxa de 5% ao ano, atingindo 2.500 kg/vaca/ano, com incorporação de tecnologia sustentável, com melhoria genética,de alimentação e com melhor gestão. Haverá maior homogeneidade dos sistemasde produção, consideradas as variações regionais, tornando mais fácil a definiçãode linhas de pesquisa e se conhecendo mais a fundo o comportamento dos siste-mas de produção em relação às variações de preços de insumos, preços e clima.

A qualidade melhorará, embasada no tripé fiscalização, exigências do mercadointerno e inserção internacional do País, que será responsável pelo consumo de20% da produção nacional, ou 10 bilhões de litros, baseado em commoditieslácteas produzidas pelos grandes laticínios e cooperativas.

O ambiente será, no entanto, bastante competitivo, estimulando a consolida-ção setorial e a redução no número de laticínios, que concentrarão investimentosem pesquisa, desenvolvimento e marketing e serão bem-sucedidos em inovação eescala global. Fundos de investimento e novos grupos entrarão na atividade, aomesmo tempo aproveitando o dinamismo existente e trazendo novo dinamismo aomercado. Mesmo assim, haverá espaço para mercados de nicho, estimulandodiversas iniciativas nesse sentido e fazendo com que haja opções sustentáveis quenão apenas baseada na escala e na disponibilidade de grande capital. Nesse item,a colaboração entre laticínios locais e produtores de leite, marcadamente oscaracterizados como agricultores familiares, será fundamental para que essaspossibilidades de mercado sejam aproveitadas pelo setor.

A ampla participação do governo junto à agricultura familiar, aliada ao cresci-mento consolidado nas cooperativas, fará com que milhares de produtores quehoje não participam do mercado formal possam se inserir, com aumento da rendae da qualidade do leite. Nesse cenário, o leite sob inspeção federal subirá para82%, representando grande evolução e praticamente eliminação do leitecomercializado sem inspeção, uma vez que nos 18% restantes estão incluídos oautoconsumo e o leite sob as inspeções estadual e municipal.

A conjuntura internacional e as mudanças estruturais existentes no setor lácteomundial serão também propulsoras do crescimento, com o fato relevante de queÁfrica, e não somente Ásia, passará a consumir lácteos em maior quantidade,estando o Brasil em situação favorável para o suprimento de commodities lácteas apaíses que até então eram pouco expressivos nas compras internacionais.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020118

A legislação ambiental e sanitária será sem dúvida mais rigorosa, mas o setorcomo um todo conseguirá se adequar. Com uma produção baseada em respeito aomeio ambiente, baixa emissão de poluentes e qualidade da matéria-prima, o Brasilconseguirá se tornar exemplo em gestão ambiental e ocupar um espaço perma-nente no comércio internacional de lácteos.

Lições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenárioLições desse cenário

♦ Esse cenário representa uma situação distinta do segundo cenário, umavez que, além da implantação/adequação de aspectos relevantes já dis-cutidos, envolve o fortalecimento das cooperativas e, principalmente, daagricultura familiar que, em última análise, caracterizará o setor aosolhos de um observador em 2020.

♦ Nesse sentido, a formulação de políticas públicas eficientes ganha impor-tância, e conseqüentemente a importância estratégica que o setor ve-nha a ter junto aos próximos governos fica muito relevante.

♦ Esse cenário é o mais intervencionista, partindo do pressuposto de que opapel do poder público para o desenvolvimento do setor é necessário,sendo necessário como tem sido em diversos países de produção leiteirasignificativa.

♦ Esse cenário leva em conta oportunidades em nichos de mercado quepodem se tornar mais generalizados, como a produção de leite orgânicaou ambientalmente sustentável, ainda que a maior parte do leite sejadestinada às commodities lácteas e produtos tradicionais. A atuação deentidades que auxiliem produtores, cooperativas e pequenas indústrias aconquistar esses mercados poderá ser importante.

♦ Também, a busca por produtos naturais, com pouco processamento ecom origem conhecida abre oportunidades interessantes para inovaçõesenvolvendo o leite pasteurizado com elevada qualidade, seja na forma dedistribuição, seja na embalagem, na vida maior de prateleira (incluindotécnicas de aumento desta característica) ou no marketing.

♦ Grandes empresas podem verificar, na agricultura familiar apoiada pelogoverno, uma maneira competitiva de garantir a compra do leite, inclusi-ve com valorização desta prática pelo consumidor, que cada vez maislevará em conta argumentos além do preço e da qualidade. Assim, essecenário levanta o questionamento se realmente a busca por fornecedo-res de grande porte, otimizando os custos de coleta, é a melhor alterna-tiva ou a única estratégia de captação a ser adotada.

♦ Apesar das diferenças na estrutura de captação de leite e na percepçãodo consumidor quanto à maneira de se produzir leite, os princípios bási-cos de adequação ambiental e sanitária, qualidade do leite e cumprimen-to de normas trabalhistas terão de ser trabalhados pelo setor para permi-tir o crescimento desejado.

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119Cenários para o leite no Brasil em 2020

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Entendendo o comportamento do consumidorEntendendo o comportamento do consumidorEntendendo o comportamento do consumidorEntendendo o comportamento do consumidorEntendendo o comportamento do consumidor

A Irish Food Board, entidade responsável pelos produtos alimentícios daIrlanda, realizou um amplo trabalho abordando catorze setores, por inter-médio de uma pesquisa quantitativa conduzida em quarenta metrópoles doscinco continentes, em países que representam 80% do PIB mundial. Otrabalho identificou claramente, apesar de algumas variações regionaisreportadas pelo autor, seis estilos de vida que estão por trás do comporta-mento de consumidor moderno. São eles:

¨ Viver a vida plenamente: �quero experiências que irão me proporcio-nar o máximo da minha vida�

¨ A vida portátil: �Quero conseguir lidar com as demandas do meu diacheio de atribuições�

¨ Fazer a diferença: �Quero me sentir bem com as escolhas que faço efazer a minha parte sempre que puder�

¨ Valorizar a saúde e o bem-estar: �Quero gerenciar e melhorar minhasaúde e meu bem-estar�

¨ Comprar com inteligência: �Quero fazer escolhas espertas e sentirque estou fazendo um bom negócio�

¨ Comprar o verdadeiro: �Estou procurando o verdadeiro. Me preocupode onde vem e como é feito�

Cada uma destas tendências está ancorada em drivers, oudirecionadores, e carrega subtendências que podem ser exploradas pelasempresas que atuam nos mais diversos mercados. Entender essas tendên-cias e identificar possíveis ameaças e oportunidades será fundamental parao setor e para que as empresas nele envolvidas possam se posicionaradequadamente, criando valor de forma contínua.

A Tabela 5 sintetiza os drivers (direcionadores) e subtendências de cadauma das tendências acima.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020120

Fonte: Cotter (2007).

Tabela 5. Tendências, sub-tendências e direcionadores do consumo.

Tendência Direcionadores Subtendências

Viver a vidaplenamente

s Aumento do papel ativo do consumir(influência)

s Mudanças demográficas (envelhecimento)s Mudanças nos padrões de trabalho

(independência, flexibilidade)s Aumento do conhecimento a respeito das

oportunidades globais (via internet, porexemplo)

s Tempo para o lazer (consumo comdiversão)

s Novas fronteiras (produtos exóticos,misturas)

s Co-criaçãos Aspirantes a especialistass Estímulo aos sentidos

A vida portátil

s Urbanizaçãos Mudanças nos padrões de trabalhos Mobilidades Crescimento de novas mídias e formas de

comunicação

s Soluções simpless Ao alcance da mãos Linguagem diretas Controle da energias Tempo fora de casa

Fazer a diferença

s Aumento da globalizaçãos Aumento da consciência em relação a

questões ambientais e sociaiss Declínio da confiança nos governos e nas

grandes empresass Aumento da influência do consumidor

s Consumo sustentávels Comércio justos Boas causass Ética e bem-estar animal

Valorizar a saúde e obem-estar

s Mudanças no estilo de vida e demografias Foco em imagem e saúdes Avanços científicoss Declínio da confianças Disponibilidade de informação

s Desenvolver o corpos Encontrar equilíbrios Controle da imagems Puro e frescos Estratégias para enfrentar a realidade

Comprar cominteligência

s Aumento da concorrência e do número deopções Maior acesso a informação

s Aumento das aspirações, influenciadaspela mídia

s Valorização crescente do tempo e daenergia como recursos diários

s Sem excessos (melhor custo-benefício)s Luxúria acessívels Aprovado pelo consumidors Novas formas de valor

Comprar overdadeiro

s Perda de confiança nas multinacionaiss Resistência à globalizaçãos Resistência ao aculturamento acelerados Aumento da curiosidade do consumidor

s Volta ao básicos Feito manualmentes Transparências Origem conhecidas Valorização da tradição e herança

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A posição dos especialistas quanto ao futuro do leite brasileiro, tendo porreferência o ano de 2020, demonstra uma grande variedade de visões. A produ-ção naquele ano será maior que a atual e deverá estar entre 34 e 50 bilhões delitros. A Região Sudeste continuará a perder peso relativo na produção nacional,mas continuará mantendo-se em primeira posição e a produtividade média porvaca crescerá, mas se manterá baixa, se comparada com os principais paísesprodutores e o que obtido por produtores mais especializados.

Quanto à qualidade, em três dos quatro cenários a aposta é que haverámelhoria. A mesma posição foi encontrada no que se refere ao relacionamentoentre produtor e indústria e o número de laticínios existentes deverá reduzir, emtrês dos quatro cenários. Em todos eles, o que se vislumbra é redução do númerode fornecedores de leite. As cooperativas serão responsáveis por 30 a 50 porcento do leite captado e os supermercados continuarão a ser o principal canal dedistribuição da cadeia produtiva e as exportações serão a destinação de 5 a 20%da produção nacional.

Nas páginas que se seguem os quatro cenários construídos são apresentadosde forma a permitir uma comparação entre eles. O leitor, por seu turno, éconvidado a refletir sobre cada um e sobre o conjunto de cenários.

Capítulo 7

Matriz dos cenários para o leite em 2020Matriz dos cenários para o leite em 2020Matriz dos cenários para o leite em 2020Matriz dos cenários para o leite em 2020Matriz dos cenários para o leite em 2020

Marcelo Pereira de CarvalhoPaulo do Carmo MartinsJames Terence Coulter WrightRenata Giovinazzo Spers

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Cenários para o leite no Brasil em

2020122Tabela 1. Matriz dos cenários para o leite em 2020

Continua...

40,25 bilhões de litros em 2020 –Mudanças tecnológicas no setor,com aumento da produtividade dosfatores de produção em função daadoção de novas tecnologias.Aumento de escala na produção,fruto das políticas de estímulo aoaumento de volume por parte delaticínios e menores margens,estimulando aumento do volume,com qualidade.

Prod

ução

dole

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Bras

il

50 bilhões de litros em 2020 –Aumento na escala de produção,muito baseada nos grandesprodutores. Produção voltada paraatender o crescimento da demandamundial e do consumo interno, queserão acentuados.

34 bilhões de litros em 2020 –Dificuldade em aumentar o consumoper capita, e desestímulo à produção.Também haverá baixa competitividadedo leite brasileiro no mercado externo,de forma a não estimular aumentossignificativos da produção.

50 bilhões de litros em 2020 –Aumento acentuado da produçãoimpulsionado pelo aumento doconsumo interno e das exportações,combinado ao aumento de escala daprodução dos grandes produtores edesenvolvimento de pequenosprodutores, com uso de tecnologia ecom produção sustentável.

Aumento da proporção do leiteproduzido pelos grandes produtores.Pequenos produtores produzindoestimulados por significativo apoiodo governo. Permanece ocrescimento do leite em áreas defronteira, em grande parte por faltade opção (principalmente N, NE eCO). Aumento da produtividadeprincipalmente nas áreastradicionais. A produtividade dosgrandes produtores também deveráaumentar, promovendo um aumento

Concentração e aumento daprodutividade dos grandesprodutores, com maiorprofissionalismo nos sistemas deprodução, maior competitividade,qualidade e escala na produção.Agricultores familiares participamrelativamente em menor grau, masde forma sustentável e com aumentona produtividade.

Não haverá aumento significativo daprodutividade dos agricultoresfamiliares, que não conseguem fazeros investimentos suficientes parapromover a melhoria dacompetitividade, com dificuldade deacesso a crédito e ao mercado.Aumento do número de agricultoresfamiliares por falta de outras opçõeseconômicas.Muitos grandes produtores deixarão aatividade, atraídos por atividadesmais rentáveis e dinâmicas.

Concentração moderada dos grandesprodutores, com participação dosagricultores familiares de formasustentável, com aumento daprodutividade e elevação da escala.Maior homogeneidade nos sistemaspor região, principalmente em termosde produção por região, com aumentoda produtividade também deagricultores familiares que absorvemtecnologia. Políticas públicas têmpapel importante, contribuindo para amelhoria da produção desses

Perf

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odut

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ão)

VariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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123C

enários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 1. Continuação.

Continua...

ou manutenção da heterogeneidadedos sistemas, qualidade e preços(diferenças regionais).

agricultores familiares eestabelecimento de regras iguais paratoda a cadeia.Pe

rfil

...de

prod

ução

)

Não haverá fortes impactosnegativos da produção de cana-de-açúcar e outras culturas sobre aprodução de leite.

Expansão da produção no Sul, em função da estrutura fundiária, cooperativismo, identidade cultural e condições edafoclimáticas e em novas áreas (Norte eCentro-Oeste). Redução da participação do Sudeste, competição com cana, outras culturas (seringueira e eucalipto) e atividades urbanas. Alguma limitaçãode crescimento na Região Norte em função de questões ambientais, que terão força cada vez maior.

Medianas: Norte (10% da produção), Nordeste (12%), Sudeste (32%), Sul (30%) e Centro-Oeste (16%)

A produção da cana deve provocarum efeito positivo nas regiõesimpactadas, com maiorprofissionalização e deslocamentodos produtores menos eficientes.

As regiões mais propícias à cana-de-açúcar sofrerão impactos negativos,havendo necessidade dedeslocamento das áreas de produção,com uma redução ou estagnação daprodução nessas áreas.

A produção de cana-de-açúcar eoutras culturas aumentará, mas o leiteirá competir na base da eficiênciaeconômica.Adicionalmente haverá apoio àagricultura familiar por parte dogoverno, incluindo crédito, capacitaçãoe treinamento, estimulando a atividade.

Cana

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açúc

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s

Sudeste – 33%Norte – 10%Nordeste – 12%Sul – 29%Centro-Oeste – 16%

Sudeste – 35%Norte – 8%Nordeste – 12%Sul – 28%Centro-Oeste – 17%

Sudeste – 32%Norte – 11%Nordeste – 13%Sul – 28%Centro-Oeste – 16%

Sudeste – 32%Norte – 10%Nordeste – 12%Sul – 30%Centro-Oeste – 16%

Prod

ução

regi

onal

VariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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Cenários para o leite no Brasil em

2020124Tabela 1. Continuação.

Continua...

Milhões de vacas ordenhadas = 23– Produtividade = 1.750 L/vaca/ano

Haverá um aumento no número devacas, pois somente o ganho deprodutividade não será suficiente paraelevar a produção. Haverá maiorprodutividade com aplicação detecnologias que já existem, mas quedevem ser implementadas. Busca deanimais com valor genético superior emelhoria na gestão e eficácia técnica,por exigência de melhor qualidade.

Milhões de vacas ordenhadas = 20– Produtividade = 2.500 L/vaca/ano

Intensificação da produção, comnovas tecnologias e pagamento porqualidade estimulando a melhoria daprodutividade. Expansão de pastejorotacionado nas diversas regiões.Melhoria genética.

Milhões de vacas ordenhadas = 22 –Produtividade = 1.545 L/vaca/ano

Aumento da produtividadeconcentrada nos grandes produtorescom acesso à informação. Pequenosnão terão o mesmo acesso àstecnologias e terão pouco avanço. Namédia, haverá baixa evolução.

Milhões de vacas ordenhadas = 20 –Produtividade = 2.500 L/vaca/ano

Novas tecnologias, pagamento porqualidade, melhoria genética e boaspráticas adotadas pelos grandesprodutores, assim como pelosagricultores familiares, levam a umaumento da produtividade como umtodo.

Melhoria da qualidade pela via demercado, por meio do pagamentopor qualidade e pela via legal,mediante o cumprimento dalegislação relativa à qualidade doleite. Nas fronteiras, exigênciasserão menores, com novosentrantes.

Melhoria da qualidade pela via demercado, tanto mercado externo,como mercado interno, que ficarámais exigente, além do cumprimentoda legislação relativa à qualidade doleite.

Somente a legislação não irá melhorara qualidade do leite, por falhas na fis-calização. Entretanto, o consumidornão se importará muito com a qualida-de, desestimulando o investimentomais amplo da indústria e do produtor.A pouca previsibilidade de oferta edemanda gera momentos de sobra deleite seguidos por escassez, em que aspreocupações com qualidade sãoafrouxadas.

A melhoria da qualidade ocorreráprincipalmente pela via do mercadointerno (que tende a crescer e exigirmaior qualidade) e maior participaçãono mercado externo, fornecendo leiterastreado, com qualidade paramercados internacionais. A melhoria daqualidade será estimulada pelarecompensa, mais do que as imposiçõesda legislação e da fiscalização.

Prod

utiv

idad

epo

rvac

aQu

alid

ade

dole

iteVariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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125C

enários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 1. Continuação.

Continua...

4.000 fornecedores – diminuiçãodevido à necessidade de maiorprodução em escala e demandapor produtores competitivos emelhor localizados. Poucaalteração no número total deprodutores, devido à dinâmica queocorre nas áreas de fronteira, comnovos entrantes.

3.000 fornecedores – concentraçãobuscando escala, qualidade ecompetitividade para atender aosprincipais laticínios. Número globalde produtores diminui.

5.000 fornecedores – menor reduçãodo número de fornecedores, commaior número de produtores nasáreas de fronteiras. Número total deprodutores se mantém ou aumenta.

4.000 fornecedores – háconcentração em busca de escala,qualidade e competitividade, mascom agricultores familiaresparticipando do mercado de formacompetitiva e sustentável. Tanquescomunitários se revelam alternativainteressante para viabilizaragricultores familiares.

Núm

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ínio

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Irá melhorar o relacionamento entreindústrias e produtores de leite para2020, no sentido de maiortransparência, contratos de longoprazo, diferenciação de preços ebusca de relação ganha-ganha.Estratégias de fidelização cada vezmais presentes.

O profissionalismo e transparênciatornam-se cada vez maisnecessários nas relaçõescomerciais e o relacionamentodeverá aumentar, com maiorprevisibilidade de preços, contratosde mais longo prazo e ambientefavorável ao investimento.Marketing institucional de lácteoscontribui para a melhoria dorelacionamento entre os elos.

O relacionamento entre indústria nãoirá melhorar, pois a cadeia temdistribuição de forças e elos muitodiferentes. Relacionamento de curtoprazo, puramente competitivo eoportunista. Muitas entidadessetoriais, com poucarepresentatividade e sem condiçõesde unificação.

Melhoria do relacionamento entreindústrias e produtores, compagamento por qualidade,fortalecimento da classe produtora,contratos de longo prazo e tambémparcerias que favorecem a relaçãoganha-ganha e que irão beneficiartodo o setor. Marketinginstitucional de lácteos contribuipara a melhoria do relacionamentoentre os elos.

Rela

cion

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VariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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Cenários para o leite no Brasil em

2020126Tabela 1. Continuação.

Continua...

O número de laticínios irá diminuir,devido à forte competitividade,exigências sanitárias, ambientais, desegurança alimentar e maiorfiscalização. Haverá espaço paraatuação em nichos de mercado.

O número de laticínios diminuirásignificativamente, comconcentração nas grandes indústriase aumento na escala e na qualidadede produção. Empresas com baixaqualidade e informalidade tendem adeixar a atividade. Haveráinvestimentos internacionais, comgrandes grupos que não estãopresentes passando a participar domercado.

Aumentar ou manter próximo ao que éhoje. Sonegação e fraudes ocorrerão,gerando pouca atratividade paragrandes empresas. Baixo dinamismorelativo a fusões e aquisições.Aumento do número de laticíniosregionais ou nas regiões de fronteiras,assim como produtos de nicho para omercado interno.

Redução do número de laticínios, comtendência de concentração, aumentona escala, novas tecnologias, quedana informalidade e exigênciasambientais e sanitárias. Intensifica-se,porém, a relação comercial entreempresas e cooperativas, queacabarão por aumentar suaparticipação no mercado, trazendomais estabilidade e melhoria narelação entre os elos.

Núm

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Quarenta por cento do leite captadopor cooperativas, com a moderniza-ção de algumas cooperativas, que semanterão competitivas. Entretanto,o aumento da captação do leitepelas cooperativas sofrerá entravescomo a pouca agilidade para ganharespaço diante do mercado global epoucas mudanças nas estruturas degovernança corporativa. Vinte porcento de leite comercializado nomercado Spot.

Quarenta e cinco por cento do leitecaptado por cooperativas, fusões ealianças entre cooperativas comoestratégia para ganhos logísticos,redução de custos fixos e maioroferta de produtos com valoragregado, tornando as cooperativasmais competitivas. Maior integraçãoentre cooperativas e outrasempresas. Vinte e cinco por cento doleite comercializado no mercado Spot.

Trinta por cento do leite será captadopor cooperativas, que perdem espaçodevido à falta de profissionalização ebaixa competitividade no mercadoante as demais empresas. Poucasconseguem se profissionalizar e ascooperativas acabam sendotomadoras de preço. Trinta por centodo leite comercializado no mercadospot.

Cinqüenta por cento do leite captadopor cooperativas, que se tornarão umplayer mais importante do que hoje,com concentração e foco nasatividades e profissionalização dagestão, comaumento de competitividade.Vinte por cento de leite dascooperativas será comercializado nosistema “spot”, reduzindo a proporçãode leite comercializado sem agregaçãode valor.

Leite

capt

ado

por

coop

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ivas

VariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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127C

enários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 1. Continuação.

Continua...

Os supermercados continuarãosendo o principal canal de vendasdos produtos, deixando poucoespaço para outros canais

Supermercados serão o principalcanal de distribuição, mas comparticipação crescente de outroscanais competitivos: food service,pequenos e médios varejos, vendadireta ao consumidor e lojasespecializadas.

Os supermercados continuarão comoo principal canal de vendas dosprodutos e tenderão a obter uma fatiacrescente do valor gerado pelo setor.

Os supermercados serão o principalcanal de distribuição de lácteos, mascom a participação de outros canaiscompetitivos: food service, pequenos emédios varejos, venda direta aoconsumidor e lojas especializadas.

Os supermercados continuarão sendo o principal canal de distribuição de lácteos.

Cana

isde

vend

a

167 kg será o consumoem 2020, aumento da renda percapita (classes C, D e E),crescimento do consumo de queijose de novos produtos, tais comofuncionais e nutracêuticos, bebidaslácteas e leite utilizado em outrasbebidas - maior exigência doconsumidor, novas tecnologias eagregação de valor. Haverá aumentoda competitividade das empresas dosetor, ofertando mais opções deprodutos ao consumidor.

per capita Consumo de 190 kg em2020, com investimentos emmarketing institucional, aumento dapercepção da qualidade peloconsumidor, maior oferta deprodutos no mercado, comestratégia de segmentação demercado para atender as exigênciasdo consumidor e grandesinvestimentos em P&D e tecnologiapara lançamento de novos produtosseguindo a tendência de consumo

per capita Consumo de 150 kg em2020, com menor articulação do setore ausência de investimentos emmarketing institucional, resultandotambém em baixa representatividadejunto ao legislativo. Alguns lácteosnão são vistos como produtos quedevam participar de dietas saudáveis.Baixo índice de inovação entre asempresas do setor. Perda de espaçopara produtos substitutos.

per capita Consumo de 190 kg em2020, com aumento da renda, fortesinvestimentos em marketinginstitucional e oferta de novosprodutos atendendo ao aumento dapercepção da qualidade dos produtose da variedade de produtos oferecidos,com inovações tecnológicas. Oslácteos conseguem um espaçorelevante em dietas saudáveis.

per capita

Cons

umo

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cado

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VariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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Cenários para o leite no Brasil em

2020128Tabela 1. Continuação.

Continua...

Oitenta por cento do total do leiteproduzido será inspecionado pelo SIFem 2020. Haverá maioresclarecimento do consumidor quantoà qualidade, melhoria do sistema deinspeção oficial e melhores preçospara o leite. Ações mais prováveispara aumentar o leite inspecionadopelo SIF são a maior fiscalização econscientização dos consumidores viamarketing institucional e programasde formalização da produção eindustrialização.

Oitenta e dois por cento do total doleite produzido será inspecionadopelo SIF em 2020 e adicionalmenteao maior esclarecimento doconsumidor e melhoria da inspeção,também haverá apoio governamentale institucional a produtores daagricultura familiar e melhorias noscanais de distribuição ediversificação dos produtos lácteos,facilitando a inserção dos produtoresno mercado inspecionado.

Setenta e cinco por cento do total doleite produzido será inspecionado peloSIF em 2020, continuando a haveralgum grau de desconhecimento daqualidade por parte do consumidor edificuldades de fiscalização por meioda estrutura oficial de inspeção.

Oitenta e dois por cento do total doleite produzido será inspecionado peloSIF em 2020 devido à maiorfiscalização, conscientização dosconsumidores e principalmente ofortalecimento do marketinginstitucional, que irá mostrar aoconsumidor os riscos associados aoleite sem inspeção. O apoio dogoverno à agricultura familiarcontribuirá para a inserção dosprodutores no mercado inspecionado

Leite

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Doze por cento da produção de leiteserá exportada, devido ao aumentoda produção em taxa maior do que oconsumo, aliado a maiorliberalização do comérciointernacional que deve reforçar atendência da exportação, em umambiente de preços externosfavoráveis. Importação do leite seráde 3% do total consumido, em

Vinte por cento da produção seráexportada, devido ao aumento dademanda global de lácteos, preçosatrativos e escoamento da produçãonacional, com qualidade e de formaarticulada no setor. O Brasil irá setornar mais competitivo com relaçãoa outras regiões exportadoras, comoOceania e União Européia, Argentinae EUA, inclusive para atender os

Cinco por cento do leite produzidoserá exportado e as principaislimitações serão a falta de qualidade,questões sanitárias e baixaarticulação da cadeia de produção.Importação do leite será de 2% dototal consumido, em 2020. Asexportações brasileiras serãomodestas e o Brasil participará compouca expressão no longo prazo,

Vinte por cento da produção seráexportada, com um aumento dacompetitividade do produto brasileirono âmbito internacional, cominserção dos produtos lácteos doBrasil no mercado externo,especialmente na África. Importaçãodo leite será de 4% do totalconsumido, em 2020.

Expo

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ãoe

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prod

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VariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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129C

enários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 1. Continuação.

Continua...

2020. As exportações brasileirasirão crescer de forma sustentável nolongo prazo.

mercados emergentes. Aporcentagem de leite importado seráde 4% do total consumido, commaior dinamismo comercial. O Brasilserá importante player, escoandoboa parte do excedente de produção.

aproveitando somente algumasoportunidades momentâneas epontuais, sem sustentabilidade.

Expo

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Manutenção dos preçosinternacionais.

Aumento dos preços internacionaisdevido ao aumento da demandamundial, aumento dos preços dealimentos em geral e problemas comos principais países exportadores,assim como deslocamento daprodução de cereais para produçãode energia.

Redução dos preços internacionais,com preços atuais acima da médiahistórica e que deverão se estabilizarem patamares mais baixos.

Aumento nos preços dos lácteos, peloaumento da demanda mundial,especialmente na Ásia, redução desubsídios e redução da produçãoexcedente na Europa, além deaumento nos preços dos alimentos, demaneira geral.

Também haverá maior rigor quantoao consumo de água. O setordeverá se adequar a padrõesinternacionais para preservar omeio ambiente e se tornar maiscompetitivo. Os produtores eindústrias devem aumentar otratamento de dejetos/efluentes,

Apesar de aumento nos custos deprodução e dificuldades crescentesde produção devido à legislação maisrigorosa, grandes empresascompetitivas irão se fortalecer nomercado, adotando padrõesinternacionais quanto ao meio-ambiente e promovendo, além de

Dificuldades para o setor em lidar comlegislação ambiental mais rigorosa,dificultando o acesso a mercadosinternacionais.

Legislação mais rigorosa, comadequação do setor aos padrõesinternacionais do meio-ambiente,inclusive para tratamento de dejetos eafluentes da produção. Educação dosagricultores familiares e da mão-de-obrautilizada pelos grandes produtores, commaior competitividade.

Legislação ambiental será mais rigorosa; restrições ao crescimentoda produção na Região Norte.

Fato

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VariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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Cenários para o leite no Brasil em

2020130Tabela 1. Continuação.

gestão racional da água erecuperação de áreas depreservação permanente.

ações diretamente ligadas ao meioambiente e água, a educação doprodutor e da mão-de-obra, de formaa obter competitividade no setor.

O soro do queijo será reaproveitadopara fabricação de produtos lácteosde valor agregado.

Fato

res

sóci

o-am

bien

tais

Haverá maior rigor e exigênciassanitárias, com controle eerradicação de tuberculose ebrucelose, com maior fiscalização e,em virtude disto, haverá melhoria daqualidade do produto, adequação apadrões internacionais,profissionalização e redução nasfraudes e informalidade. Comrelação à economia, espera-se umareforma fiscal, política cambialajustada e um aumento da renda,promovendo um aumento dademanda interna e estímulo àsexportações.

Maior rigor nas exigências sanitáriase fiscalização trarão impactosprodutivos, inclusive ajudando apromover as exportações. Aumentoda demanda interna e externa, comaumento da competitividade do setore crescimento da produção.

Aumento das exigências sanitárias,mas dificuldade em fazê-las cumprir.A falta de cumprimento da legislaçãotornará a atividade desinteressantepara o produtor que produz emconformidade e perdecompetitividade. Fraudes emindústrias serão comuns.Aumento das exigências da Anvisa,regulamentando o consumo e apropaganda dos alimentos, afetandoos lácteos.

Maior rigor e exigências sanitárias,com controle e erradicação detuberculose e brucelose e tambémmaior fiscalização, que levarão a umamelhoria da qualidade do produto,adequação a padrões internacionais,profissionalização e redução dasfraudes e informalidade. Espera-setambém uma política cambial ajustadae um aumento da renda, quepromoverão um aumento da demandainterna e das exportações.Le

gisl

ação

sani

tária

eec

onôm

ica

VariáveisVariáveis

Cenário 1

– Mais provável –

(Medianas da Rodada 1)Crescimento e evolução continuam,

com heterogeneidade

Cenário 2

– Contrastado 1 –

Alta competitividade do setor einserção internacional, com

concentração em grandes produtores

Cenário 3

– Contrastado 2 –

Baixo dinamismo do setor, comatendimento ao mercado interno e

pouca competitividade internacional

Cenário 4

– Desejável –

Competitividade e inserçãointernacional, com grandes e pequenos

produtores e sustentabilidade

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�Meu interesse está no futuro, pois é láque vou passar o resto de minha vida.�

Charles Kettering

A realização desta pesquisa não objetivou prever um cenário específico para acadeia do leite em 2020 uma vez que o futuro é, por definição, imprevisível.Tampouco, é improvável que qualquer um dos quatro cenários representados ocor-ra ipsis literis; o mais provável é que a realidade reúna componentes de mais de umdos cenários, ainda que o resultado final se aproxime de um deles. Não se trata,portanto, de um exercício de futurologia. O estudo procurou reunir e organizar oconhecimento existente no setor a respeito das possibilidades futuras de algumasvariáveis relevantes e, a partir disto, explorar possíveis alternativas de futuro.

A justificativa para se explorar o futuro decorre da constatação de que, normal-mente, o foco das organizações está exageradamente no presente, nas obrigações,ameaças e oportunidades de curto prazo. Além disso, ao se pensar em futuro,normalmente se trabalha com os paradigmas do passado, levando em consideraçãoque o futuro nada mais será do que uma repetição (evoluída) dos fenômenos atuais.

Capítulo 8

Implicações para o setorImplicações para o setorImplicações para o setorImplicações para o setorImplicações para o setor

Marcelo Pereira de CarvalhoPaulo do Carmo Martins

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Cenários para o leite no Brasil em 2020132

Robert Hutchings é membro do National Intelligence Council, órgão vinculado àAgência Central de Inteligência do Governo Americano (CIA). No estudo Mappingthe Global Future ele afirma que: �A avaliação linear resultará em um casulobastante modificado lá na frente, mas nunca resultará em uma borboleta�. Essa é adiferença de avaliações relacionadas a cenários futuros pois é possível visualizarantecipadamente as borboletas, ainda que nem todas sejam belas.

No planejamento das organizações, raramente são avaliadas ou discutidasalternativas que estão um pouco além dos compromissos de curto prazo, o queresulta em uma miopia que torna o risco de descontinuidades e rupturas muitomais significativo e impede que as organizações identifiquem e aproveitem opor-tunidades que, hoje, ainda não estão claras. Em ambos os casos, ao não analisarsistematicamente os vários cenários futuros passíveis de existência, as organiza-ções enfraquecem seu pensamento estratégico de longo prazo.

Desta forma, a exploração de possibilidades futuras que nem sempre sãoconsideradas permite, em última análise, aperfeiçoar o processo de tomada dedecisão dos agentes envolvidos, contribuindo para que a geração de valor perma-neça no tempo.

Ao contemplar o futuro, é interessante considerar três tipos de conhecimento(Schoemaker, 1995):

♦ aquilo que sabemos que sabemos;♦ aquilo que sabemos que não sabemos;♦ aquilo que não sabemos que não sabemos.

As imparcialidades � excesso de confiança, sub e super-estimativa, tendênciade procurar evidências que confirmem nossas crenças � afetam os três tipos deconhecimento. Mas é no terceiro que estão os maiores perigos. E é justamente noterceiro tipo � aquilo que não sabemos que não sabemos � que reside a principalvantagem de se construir cenários. Afinal, como afirmou Schoemaker (1995), aavaliação de cenários nada mais é do que �o estudo de nossa ignorância coletiva�,institucionalizando a caça de sinais ainda fracos e que podem definir o campofuturo da competição.

Segundo ele, a avaliação de cenários se mostra especialmente relevante nasseguintes situações:

♦ A incerteza é elevada em relação à capacidade dos gestores em se ajustarou em predizer o comportamento futuro;

♦ Muitas surpresas desagradáveis (para as organizações) ocorreram no passado;

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133Cenários para o leite no Brasil em 2020

♦ A organização não capta ou gera novas oportunidades;♦ A qualidade do pensamento estratégico é, em geral, baixa;♦ Há relativamente poucos dados estatísticos confiáveis;♦ O setor tem passado por grandes mudanças ou está prestes a passar por uma;♦ A organização quer desenvolver uma visão e linguagem únicas, mas sem

abrir mão da diversidade de pensamento;♦ Há fortes divergências de opinião, muitas delas com mérito;♦ Os concorrentes estão utilizando planejamento de cenários.

Várias destas características são plenamente aplicáveis ao setor lácteo. Háincerteza em relação a muitas variáveis, como a melhoria da qualidade do leite, ainserção internacional do Brasil, a redução do número de produtores, a concentra-ção na indústria, e outros. Há relativamente poucos dados confiáveis em termosestatísticos, o que coloca um peso maior nas avaliações qualitativas e na percep-ção dos especialistas envolvidos. Há, neste contexto, muitas opiniões contraditó-rias, por vezes embasadas em pontos de vista opostos que, no entanto, têm suarazão de ser, dificultando a convergência de opiniões acerca do que o futuropoderá ser. Muitas surpresas de alto custo ocorreram no passado, principalmentepara as cooperativas, que perderam parcela significativa da captação de leite enão conseguiram, como segmento, antever as novas tendências e sereposicionarem. O fim do tabelamento, os crescentes investimentos demultinacionais em novas plantas industriais, aquisição de empresas e lançamentode novos produtos e a abertura do mercado brasileiro são exemplos de mudançasocorridas e não plenamente acompanhadas. No âmbito da busca e aproveitamen-to de novas oportunidades, o setor de um modo geral mostra-se pouco agressivo eextremamente dependente de commodities que, por vezes, apresentam baixarentabilidade. A capacidade de inovação é pequena e, com isso, muitas oportuni-dades não são exploradas, nem sequer percebidas.

Neste contexto, a avaliação de cenários futuros é altamente oportuna e permi-te às organizações e agentes do setor leiteiro testar previamente suas forças efraquezas diante de cada alternativa. Cada cenário coloca desafios estratégicospróprios, necessitando de competências essenciais igualmente específicas.

Porém, todo o esforço de realização do presente estudo � que é inédito noBrasil, que reuniu a quase totalidade das opiniões da inteligência láctea nacional, eque demandou um ano de trabalho � será de pequena utilidade caso as reflexõesfeitas por cada agente não sejam transformadas em um plano próprio de açõesem condições de ser executado e corretamente implantado, tanto por empresasprivadas quanto por órgãos de representação.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020134

Como utilizar este trabalhoComo utilizar este trabalhoComo utilizar este trabalhoComo utilizar este trabalhoComo utilizar este trabalho

Um ponto de partida válido nesta discussão é a constatação de que, no geral,as perspectivas são favoráveis ao setor. Mesmo o cenário 3, certamente indese-jável, embute crescimento na produção, aumento do leite sob inspeção federal,maior consumo per capita e elevação das exportações. Isso mesmo se conside-rando que, neste cenário, predominam os obstáculos, de forma que o setor nãoterá conseguido superar os desafios e se colocar na trilha do crescimento espera-do. Os cenários contrastados 2 e 4 são muito positivos e implicam em desenvolvi-mento até mesmo bastante superior ao verificado nos últimos anos. Ainda que omomento do ano em que o levantamento foi conduzido possa ter influenciado(elevação de preços no mercado internacional, alta de preços no mercado inter-no), é relevante colocar que o setor vê o seu futuro como promissor.

Isso posto, a forma de utilização deste trabalho dependerá da área de atuaçãoe das possibilidades de cada agente envolvido, embora esteja sempre atrelada aopensamento estratégico futuro. No plano setorial, por exemplo, é oportuno identi-ficar quais ameaças e oportunidades podem afetar o crescimento e asustentabilidade do setor. Pode-se ir além: levando em conta o cenário normativoou desejado, o que é preciso fazer para que ele se torne realidade?

Um exemplo claro é a coordenação setorial, que surge como variável-chavepara que uma série de eventos aconteça. A coordenação setorial, reflexo de ummelhor relacionamento entre os elos e da percepção de que é necessário crescero bolo para que possa ser distribuído, envolve também a criação de entidadesúnicas de representação setorial e/ou uma unificação de propósitos ao longo dacadeia, nos aspectos pré-competitivos, que dizem respeito ao crescimento domercado. Nesse sentido, a coordenação setorial surgiu como um aspecto funda-mental para que o setor consiga se articular em torno do marketing institucional;consiga obter representatividade junto ao legislativo e executivo; consiga aperfei-çoar o ambiente competitivo, coibindo fraudes e práticas desleais de comércio epermita melhor planejamento de longo prazo dos agentes envolvidos, resultandoem melhoria da capacidade de predição da oferta ao longo do ano, entre outrasconseqüências favoráveis.

Outro exemplo são as novas demandas do consumidor, conforme apresentadoem texto extra resumindo o trabalho realizado pela Irish Food Board. Como setor,de que forma e em que grau estamos alinhados a estas tendências? Há setorescujas propostas de valor estejam mais adequadas às tendências futuras de consu-mo? O que é preciso fazer para, coletivamente, melhorarmos nosso

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135Cenários para o leite no Brasil em 2020

posicionamento? Uma resposta recente e ainda incipiente a esta questão foi acriação da Global Dairy Platform, que permite compartilhar pesquisas em estágiopré-competitivo entre empresas concorrentes, sob a crença de que, desta forma,a capacidade de inovação do setor � necessária para manter o bolo crescendo �se amplie.

Outra variável muito forte é o aumento das exigências ambientais e sanitárias,que podem se constituir em custos mais elevados e, mais preocupante, em barrei-ras ao comércio internacional. Nesse sentido, é oportuno refletir, como cadeiaprodutiva, em que grau estamos nos capacitando para evitar possíveis ameaçasdecorrentes destes aspectos e se, considerando nossas aptidões e característicasnaturais, temos condições de transformar essas ameaças em oportunidades,atuando de maneira mais ativa.

Além da avaliação setorial, a análise de cenários permite que os diversosatores do segmento lácteo reflitam criticamente sobre seu papel e chances futu-ras. Uma maneira de efetuar este exercício se dá pela reflexão estruturada pelasseguintes questões:

♦ Como cada agente envolvido (governo, laticínio, produtor, técnico, empresade insumos, entidade, setor, investidores) está preparado para cada um doscenários?

♦ Que oportunidades podem existir em cada um deles? O que é necessáriofazer ou no que é necessário investir para que elas sejam aproveitadas?

♦ Quais as ameaças existentes em cada um deles? O que é necessário fazerou no que é necessário investir para que elas sejam evitadas?

♦ O que é preciso fazer para que o cenário menos desejado não ocorra?♦ O que é preciso fazer para que o cenário desejado ocorra?♦ Como cada agente está posicionado em relação ao cenário tendencial, mais

provável?♦ Há variáveis relevantes apontadas no trabalho e que não estão sendo con-

templadas em seu planejamento estratégico?

O trabalho pode se constituir, desta forma, em importante ferramenta deplanejamento para atores específicos. Para governos e entidades de apoio priva-do, trata-se de um instrumento de orientação a políticas públicas cujos efeitos sefarão presentes nos anos futuros. No caso do Ministério do DesenvolvimentoAgrário, por exemplo, pode-se discutir políticas públicas no sentido de evitar oterceiro cenário, minimizar os danos sociais no segundo cenário e, principalmente,buscar ativamente o quarto cenário, em que a produção de leite seja majoritaria-mente ancorada na produção familiar e no cooperativismo.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020136

Quase todos os cenários � inclusive o tendencial � apontam a concentração naindústria, antecipando um forte período de consolidação no setor. Para o Sebrae,que tem como missão apoiar e promover o empreendedorismo com base naspequenas e microempresas, isso representa um desafio significativo ao cliente-alvo da entidade. Ademais, há inúmeras oportunidades em nichos de mercado,ancorados em valores cada vez mais procurados pelo consumidor, além do desen-volvimento do cooperativismo. A habilidade em entender estes valores eposicionar as pequenas e médias empresas de forma a captar as oportunidadesescondidas nesta nova realidade que se forma será cada vez mais crucial, bemcomo a preparação e a capacitação gerencial destas empresas.

Para segmentos específicos, como o cooperativista, o trabalho permiteantecipar ameaças, identificar oportunidades e, principalmente, sinalizar umcaminho.

Os cenários indicam, em sua maioria, dois caminhos possíveis para as coope-rativas. O primeiro é o fornecimento de leite cru para outras indústrias, em umarelação que pode ser de mais longo prazo (cenários 1, 2 e 4) ou focada no curtoprazo e no comportamento oportunista (cenário 3). Assim como ocorre emdiversos países, as cooperativas se concentram cada vez mais no suprimento deleite, na qualidade da matéria-prima e na gestão do produtor, ficando a indústriaresponsável pelo processamento da matéria-prima, transformação ecomercialização (e, provavelmente, com a maior fatia da agregação de valor). Ooutro caminho é a verticalização, que implica em desafios consideráveis paraeste segmento.

Neste caso, a crescente concentração na indústria, gerando grandes conglo-merados, o elevado dinamismo, a entrada de novos grupos no setor, a necessida-de de escala para produção de commodities (no caso da escolha estratégicafocada em excelência operacional) ou a necessidade de investimentos em P&D emarketing (no caso de excelência de produtos) colocam um significativo desafiopara as cooperativas. Alianças estratégicas, visando à criação de blocos decooperativas com maior fôlego e saúde financeira, parecem um caminho necessá-rio para que elas consigam competir nesse mercado e manter os estimados 40%de captação de leite. A profissionalização da gestão e a identificação de novasformas de capitalização também surgem como variáveis fundamentais.

É bom ressaltar que o cenário desejado pelos participantes do projeto, comoum todo, é o aumento da importância do cooperativismo. No entanto, a percepçãodos participantes, captada pelo cenário tendencial, é que este aumento não

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137Cenários para o leite no Brasil em 2020

ocorrerá. Portanto, fica o desafio: que as cooperativas e entidades de apoio aosetor, privadas ou públicas, busquem, de maneira mais ativa, o cenário desejado,ou trabalhem com metas mais ousadas de captação, atingindo, por exemplo, os60% verificados antes da década de 90. A meta mais ousada poderia até sejustificar ao se considerar que mais pessoas ligadas à indústria participaram dotrabalho em comparação aos participantes oriundos do cooperativismo, podendoter resultado em algum viés reduzindo a participação total das cooperativas nacaptação total.

Para as empresas do setor, o instrumento é de grande valia para detectar asameaças e oportunidades a tempo de serem tratadas favoravelmente. Também,cria as condições para que as forças e fraquezas da organização sejamdimensionadas em cada um dos cenários.

Empresas podem analisar como sua proposta de valor atual e seu mix deprodutos se combinam com as grandes tendências demográficas e de consumo.Seu atual mix de produtos está bem posicionado, ao se considerar o desenvolvi-mento das principais variáveis? Há riscos embutidos no futuro? É possívelcontorná-los com ações imediatas? A sua localização geográfica apresenta riscosou oportunidades? Ou, ainda, quais as suas possibilidades de crescimento em umambiente dinâmico e que provavelmente será marcado pela consolidação? Háformas de competir, utilizando as competências atuais da empresa? Que compe-tências podem ser desenvolvidas? Estas são algumas questões que as empresaspodem explorar, de forma a melhorar sua capacidade de tomada de decisõesvisando à competição futura.

Produtores de leite também têm muito a se beneficiar deste estudo. Haverá,de fato, melhoria do relacionamento com as empresas? Isto será para todos osprodutores, ou somente para aqueles que atenderem critérios cada vez maisexigentes? Neste caso, como se credenciar a preencher estes critérios? O fomen-to ao cooperativismo é uma maneira eficaz de obter um ganho mais eqüânimeentre os elos? Há outras maneiras de melhorar o ganho dos produtores, como, porexemplo, por intermédio de nichos como a produção orgânica e a exploração detendências como a busca pela aproximação com o campo e com o natural? De queforma os produtores se farão representar em cenários onde a coordenaçãosetorial assume importância maior? Estas são algumas questões que podem serlevantadas.

Pretende-se, com este documento, oferecer um valioso instrumento para queo setor pense o seu futuro. As expectativas acerca do papel do setor lácteo

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Cenários para o leite no Brasil em 2020138

brasileiro na geração de valor, tanto no mercado interno como no que se refere àinserção internacional, são elevadas; porém, o trabalho mostra que o caminho nãoé linear e, mais do que isso, depende da participação ativa de cada agente.

Comentários adicionais sobre o trabalhoComentários adicionais sobre o trabalhoComentários adicionais sobre o trabalhoComentários adicionais sobre o trabalhoComentários adicionais sobre o trabalho

Por intermédio da rede de contatos da AgriPoint Consultoria, que possui o siteMilkPoint, o trabalho reuniu de forma estruturada a opinião de um grupoabrangente de especialistas nas mais diversas áreas da cadeia produtiva, contem-plando todas as regiões do Brasil. Embora este objetivo tenha sido plenamenteatingido, como se pode verificar no capítulo sobre a metodologia e arepresentatividade, é oportuno dizer que, em alguns aspectos, o grau de conheci-mento coletivo do grupo foi inferior ao de outros itens.

O papel desempenhado pela Região Nordeste, por exemplo, é um deles. Com3% de participantes desta região, admite-se que o conhecimento sobre o quepode ocorrer com a região nos próximos anos pode ser explorado de forma maisdetalhada em estudos adicionais. A despeito dos investimentos atualmente feitosna região por empresas, do empenho do MDA e Sebrae em estruturar a produçãode leite nesta região e do crescimento de renda em uma taxa duas vezes maior doque nas demais regiões, o Nordeste apenas mantém sua participação percentualatual. Desta forma, como sugestão para estudos futuros nesta linha, vale a penaexplorar as potencialidades e limitações das regiões de fronteira, especialmente oNordeste e o Norte do País.

Também, o conhecimento coletivo acerca do mix de produtos e das tendênciasde comercialização e consumo merece um maior detalhamento, uma vez que pormeio deste trabalho foi possível obter resultados mais aprofundados sobre asvariáveis relativas às tendências de produção em comparação ao marketing eindustrialização.

Também convém ressaltar que neste trabalho não se utilizaram estimativasquantitativas a respeito do número de produtores de leite no país nos cenáriosabordados, porque as informações disponíveis estavam defasadas, já que oúltimo censo realizado pelo IBGE foi feito em 1995/96. Além disso, a expectati-va é que em 2008 haja dados atualizados oficialmente, de maneira que aavaliação desta variável de forma quantitativa poderia trazer inconsistência aoscenários. Desta maneira, optou-se por trabalhar com aspectos qualitativos nes-ta questão, indicando, em cada cenário, se haverá redução ou não no número de

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139Cenários para o leite no Brasil em 2020

produtores e se haverá concentração ou não na produção, sem especificaçãonumérica. Tão logo os dados estejam disponíveis, será possível fazer estimativasnuméricas complementares, considerando as tendências qualitativas, tornandoos dados mais precisos.

Estes aspectos, porém, não alteram o mérito e a validade do trabalho comoinstrumento para o planejamento estratégico dos agentes envolvidos no setor,indicando pontos de análises complementares para as implicações dos cenários.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020140

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IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

A seguir é apresentada a maneira pela qual a pesquisa foi estruturada na primeirarodada, além de trazer, de forma resumida, os resultados estatísticos obtidos. Apósavaliação, os especialistas foram novamente convidados a analisar os resultadosconsolidados, com a inclusão ou aprofundamento de pontos considerados necessáriospara um melhor entendimento do pensamento daqueles que participaram da pesquisa.

Produção de leite no BrasilProdução de leite no BrasilProdução de leite no BrasilProdução de leite no BrasilProdução de leite no Brasil

Em 2005, o Brasil produziu 24,6 bilhões de litros de leite. Comparando-se aoano anterior, houve um aumento de 4,7% na produção nacional. Considerando-seos últimos dez anos, a produção de leite no Brasil tem crescido continuamente,tendo aumentado de 18,5 bilhões de litros em 1996 para 24,5 bilhões em 2005,ou seja, um acréscimo de 33% na quantidade produzida, com uma taxa decrescimento anual da produção de 3,3% a.a. Considerando-se o período maisrecente, de 2000 a 2005, a taxa de crescimento foi ainda maior, de 4,3% a.a.

Esse aumento consecutivo da produção nesses anos levou o Brasil à auto-suficiência na produção de lácteos, embora ainda haja importações desses

Anexo

Resumo dos resultados da Primeira RodadaResumo dos resultados da Primeira RodadaResumo dos resultados da Primeira RodadaResumo dos resultados da Primeira RodadaResumo dos resultados da Primeira Rodada

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Cenários para o leite no Brasil em 2020142

Rodada 1 – Produção de leite no Brasil

em 2020 (bilhões de litros).

Primeiro Quartil 35,6Mediana 40,0Terceiro Quartil 42,5

produtos em determinados momentos, seja para atender à demanda internaem produtos específicos, seja porque os preços externos podem estar ocasio-nalmente mais baixos.

Tendo por base a evolução daprodução do leite no Brasil e os di-versos fatores que deverãoinfluenciá-la nos próximos anos, em2020 a produção será de:

18.5

15

18.6

66

18.6

94

19.0

70

19.7

67

20.5

10

21.6

43

22.2

54

23.4

75

24.5

72

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Milh

ões

delit

ros

Fig. 1.

Fonte:

Produção de leite no Brasil – 1996 a 2005.

IBGE.

Tabela 1. Produção estimada para 2020 para diferentes taxas anuais de

crescimento (simulação).

Taxa anual Produção estimada PopulaçãoProdução per capita

(kg/hab/ano)

1,0% 28.525.007.233 219.077.729 130,201,5% 30.718.201.878 219.077.729 140,222,0% 33.067.985.073 219.077.729 150,942,5% 35.584.685.951 219.077.729 162,433,0% 38.279.259.426 219.077.729 174,733,5% 41.163.320.772 219.077.729 187,894,0% 44.249.181.930 219.077.729 201,984,5% 47.549.889.627 219.077.729 217,055,0% 51.079.265.368 219.077.729 233,165,5% 54.851.947.414 219.077.729 250,386,0% 58.883.434.804 219.077.729 268,786,5% 63.190.133.531 219.077.729 288,44

Fonte: O dado da população prevista em 2020 foi obtido junto ao IBGE.

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143Cenários para o leite no Brasil em 2020

Os principais fatores que justificam as respostas dos participantes foram:

(70%) Mudanças tecnológicas no setor, com aumento da produtividade dosfatores de produção em função da adoção de novas tecnologias.

(51%) Aumento no número de produtores de grande porte que aproveitamoportunidades de demanda para quem produz maior volume de leite,com qualidade superior.

(45%) Redução no número de produtores, com uma concentração em produ-tores de grande porte.

(35%) Expansão de culturas concorrentes, como cana-de-açúcar, nas regiõesonde atualmente a pecuária de leite tem grande produção.

(26%) Aumento no número de produtores de pequeno porte (menos de 500litros/dia), que utilizam mão-de-obra familiar e de forma extensiva.

(25%) Dificuldade de aumentar o consumo per capita de leite, resultando emquedas de preço e desestímulo caso a produção mantenha o cresci-mento atual.

(18%) Expansão da área de pastagem e número de vacas ordenhadas.(9%) Aumento das exportações.(8%) Baixa competitividade do leite brasileiro no mercado externo, de forma

a não estimular aumentos significativos da produção.(5%) Crescimento da demanda mundial (alternativa que não havia sido

listada e que, portanto, surgiu das sugestões dos participantes)(3%) Crescimento do consumo per capita (alternativa que não havia sido

listada e que, portanto, surgiu das sugestões dos participantes).(2%) Aumento do comércio internacional (alternativa que não havia sido

listada e que, portanto, surgiu das sugestões dos participantes).(1%) Aumento/melhoria dos pequenos produtores (alternativa que não havia

sido listada e que, portanto, surgiu das sugestões dos participantes).

Alguns comentários dos participantes♦ Agricultura familiar pode crescer por falta de alternativas, mas deve-se

levantar a possibilidade de intensificação, com alta produção por área.♦ Nas regiões tradicionais, sujeitas a competição com cana, eucalipto, borracha e

citrus, deve haver aumento de escala e concentração em grandes produtores.♦ Nas Regiões N, NE e CO deve haver expansão ainda horizontal, com produti-

vidade menor, dependendo ainda de políticas públicas e das questõesambientais.

♦ Muitos apontam o Sul do Brasil como região de forte crescimento, dada aestrutura fundiária, topografia e alternativas menos atraentes de produção.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020144

Perfil da produção de leitePerfil da produção de leitePerfil da produção de leitePerfil da produção de leitePerfil da produção de leite

Quanto ao perfil da produção de leite no Brasil, considerando a situação atualem que há uma grande variabilidade na produção, com produtores heterogêneosde diferentes perfis (pequenos produtores e grandes produtores), aponte a situa-ção mais provável e mais desejável para 2020, no que se refere à participaçãodos pequenos e grandes produtores, a sustentabilidade dos pequenos produtores ea variabilidade da produção e dos preços do leite.

Comportamento da proporção de leite produzido porgrandes produtores no setor em 2020

Situação mais provávelSituação mais provávelSituação mais provávelSituação mais provávelSituação mais provável

Para 80% dos respondentes aumentará a proporção produzida pelos grandesprodutores (foi considerado um pequeno produtor o que produz menos de 500litros por dia).

É importante salientar que deve haver aumento de escala em todos os tipos deprodutores e que, segundo sugerido por alguns participantes, o pequeno de hojetende a ser o médio de amanhã.

Situação desejável

Aqui a incidência de �desejável� foi menor do que em �provável�, para a maiorparticipação dos grandes produtores, indicando certa preferência por mantermaior contingente de pequenos produtores, provavelmente por questões sociais.

Os pequenos produtores apresentarão produção susten-tável sob a ótica econômica, social e ambiental até 2020?

Situação mais provável

Para 59% dos especialistas a resposta é sim. A maior parte acredita nacompetitividade da produção familiar, porém em duas vertentes distintas: a) faltade opção, b) apoio do governo, nichos de mercado, comércio justo (fair trade).

Situação futura desejável Porcentagem de indicações

Aumentar (participação dos grandes) 65%Aumentar moderadamente 4%Manter 9%Diminuir 5%Outras respostas 18%

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145Cenários para o leite no Brasil em 2020

Alguns comentários sugerem que será viável, caso se trabalhe com tecnologia(leite a pasto intensificado); outros vão na linha oposta � se não trabalhar comtecnologia, viabilizam-se, caso contrário se agregariam custos. Outros ainda fa-lam que o pequeno será viável se aumentar a escala de produção.

Para 24% dos respondentes não haverá esta competitividade, pelas seguintesjustificativas possíveis:

♦ não serão sustentáveis economicamente, pois há uma necessidade de inves-timento maior para que os pequenos produtores se mantenham na atividade;

♦ não, devido à inevitável migração dos jovens para os centros urbanos. Orápido acesso a informações e oportunidades de padrão de vida mais confor-tável levarão ao êxodo rural.

Para 7% dos respondentes a melhoria da competitividade dos pequenos produ-tores depende da oferta de recursos públicos e da política de planejamento dosetor leiteiro.

Situação desejável

Sessenta por cento dos respondentes afirmam ser desejável uma produçãosustentável por parte dos pequenos produtores, desde que se adaptem àstecnologias utilizadas e acreditem em apoio do governo para a produção familiardo leite.

A produção de leite é caracterizada pela grandeA produção de leite é caracterizada pela grandeA produção de leite é caracterizada pela grandeA produção de leite é caracterizada pela grandeA produção de leite é caracterizada pela grandeheterogeneidade de sistemas de produção, qualidadeheterogeneidade de sistemas de produção, qualidadeheterogeneidade de sistemas de produção, qualidadeheterogeneidade de sistemas de produção, qualidadeheterogeneidade de sistemas de produção, qualidadedo produto e, mais recentemente, de preços recebidos.do produto e, mais recentemente, de preços recebidos.do produto e, mais recentemente, de preços recebidos.do produto e, mais recentemente, de preços recebidos.do produto e, mais recentemente, de preços recebidos.Qual é a perspectiva dessa variável para 2020?Qual é a perspectiva dessa variável para 2020?Qual é a perspectiva dessa variável para 2020?Qual é a perspectiva dessa variável para 2020?Qual é a perspectiva dessa variável para 2020?

Situação mais provável

Essa questão teve grande diversidade nas respostas dos especialistas, comquase o mesmo número de pessoas apontando aumento da homogeneidade, daheterogeneidade ou outros.

Vinte e três por cento dos respondentes indicam que a situação mais provávelserá maior homogeneidade e uniformidade dos sistemas de produção, principal-mente pelos modelos de produção de leite que serão adotados e a questão daqualidade como fatores direcionadores.

Já 35% apontam para um aumento ou manutenção da heterogeneidade, o que

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Cenários para o leite no Brasil em 2020146

poderia ocorrer principalmente pelas dimensões continentais do País e distintascondições climáticas e topográficas de produção, além de preços variáveis.

Situação desejável

Para 27% dos respondentes, o ideal seria maior homogeneidade dos sistemasde produção, principalmente em termos de sistemas de produção de leite porregião. Para 11% dos respondentes, a heterogeneidade deveria idealmente sermantida ou aumentada, para viabilizar a produção de leite com maior qualidade.

Comportamento da produtividade nos grandes produto-Comportamento da produtividade nos grandes produto-Comportamento da produtividade nos grandes produto-Comportamento da produtividade nos grandes produto-Comportamento da produtividade nos grandes produto-res até 2020res até 2020res até 2020res até 2020res até 2020

Situação mais provável

Com relação aos grandes produtores, 76% dos participantes acreditam que aprodutividade irá aumentar, sendo a tecnologia um dos fatores que impulsionaráesse aumento; e para 18% haverá um pequeno aumento ou manutenção, uma vezque os grandes produtores já utilizam tecnologias avançadas e não terão muito oque aprimorar até 2020. Apenas 2% dos respondentes acreditam que a produtivi-dade deverá diminuir.

Situação desejável

Para 73% dos respondentes, é desejável que a produtividade média do grandeprodutor aumente, com sistemas mais intensivos, profissionalismo, boastecnologias, adequação às condições tropicais e produção com qualidade. Para17% dos respondentes, é preciso considerar alguns pontos para se ter umasituação ideal, como:

♦ A assimetria tecnológica será reduzida. Entretanto, não é só a tecnologiaque fará a diferença, embora seja fundamental. A estruturação do meiorural proporciona aos produtores acesso a bens de consumo, conforto equalidade de vida.

♦ Muita pesquisa para se desenvolver genética voltada para as condiçõesregionais brasileiras.

♦ Exploração tecnificada e ecologicamente equilibrada em sistema de pasta-gem de qualidade.

♦ Devido aos altos custos de produção, o desejável neste setor é encontrar umponto de equilíbrio com relação à máxima eficiência econômica, e nãosomente técnica.

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147Cenários para o leite no Brasil em 2020

Comportamento da produtividade nos pequenos produ-tores até 2020

Situação mais provável

Para 83% dos respondentes, é provável que aumente a produtividade dospequenos produtores, até 2020, devido à adoção de algumas práticas simples demanejo, de alimentação e sanitárias, além de adoção de tecnologias e melhoriasgenéticas. Para 9% dos respondentes, a produtividade deverá se manter oudiminuir, devido às dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores para teracesso às melhorias, além da falta de recursos.

Situação desejável

Para 77% dos respondentes, é desejável que aumente a produtividade dospequenos produtores. Vinte e um por cento dos respondentes apontam algumascondições para que isto ocorra:

♦ A maioria aponta como condição desenvolver e atingir produção compatívelcom os fatores de produção disponíveis.

♦ Alternativas de produção tecnificada de baixo custo e linhas de créditoviáveis de pagamento a longo prazo.

♦ Busca de aumento da renda familiar.♦ Que os ganhos de produtividade sejam reconhecidos e recompensados pela

cadeia produtiva.♦ Melhoria da educação propiciando aplicação de tecnologia.♦ Atuação mais decidida dos órgãos de extensão e pesquisa do governo na

transferência da genética leiteira de qualidade, desenvolvida pelos grandesprodutores, para os pequenos produtores, pela identificação e certificaçãode rebanhos que desenvolvam trabalho de mestiçagem e sejam controladospor associações das raças leiteiras.

♦ Que o pequeno produtor também tenha incentivo para melhorar produtividade.♦ Que a produtividade esteja em patamar próximo à dos grandes produtores.

Cana-de-açúcar e outras culturasCana-de-açúcar e outras culturasCana-de-açúcar e outras culturasCana-de-açúcar e outras culturasCana-de-açúcar e outras culturas

Situação mais provável

É interessante notar que há otimismo com o efeito cana. Das alternativasapontadas, 27% dos respondentes indicam que haverá pouco ou nenhum impactoda cana-de-açúcar sobre a produção de leite ou esse impacto será no geralpositivo, com maior profissionalização da produção.

Para 12% apenas, a produção cairá, e para 14% haverá deslocamento daprodução para outras áreas, em virtude do crescimento da cana-de-açúcar.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020148

Já 43,5% dos especialistas apontam efeitos diferentes do impacto da cana-de-açúcar sobre o setor de leite:

♦ Para 12%, os efeitos serão regionais: regiões mais propícias à cana sofre-rão, mas a produção será compensada pelo crescimento em outras regiões.

♦ Para 13%, os efeitos serão positivos, com maior profissionalização e saídade produtores ineficientes, ou por maior disponibilidade de subprodutos.

♦ Para 6,5%, serão necessários ajustes, mas não haverá efeitos significativose para 4% os efeitos serão mínimos.

♦ Somando essas duas opções aos 27% acima e aos 13% que apontam efeitopositivo, cerca de 51% consideram que o impacto é pequeno ou favorável.

♦ Para 5,4%, os efeitos serão negativos. Somando estes com os 12% queconsideram que a produção cairá, são apenas 17% que apontam cenárioruim por causa da cana.

♦ Para 2%, os efeitos serão negativos no primeiro momento, depois positivos.

Situação desejávelSituação desejávelSituação desejávelSituação desejávelSituação desejável

A maior parte entende que se deve evitar a monocultura da cana, mas que oleite deve competir na base da eficiência econômica. Alguns falam em zoneamentopara manter a diversidade ambiental e social.

Produção regionalProdução regionalProdução regionalProdução regionalProdução regional

O crescimento da produção de leite ao longo dos últimos dez anos não ocorreude forma homogênea em todas as regiões. Enquanto as Regiões Centro-Oeste,Norte e Sul aumentaram sua participação na produção nacional, nas Regiões Sudes-te e Nordeste, essa participação foi decrescente entre os anos de 1996 e 2005.

Fig. 2.

Fonte:

Participação das

regiões na produção

brasileira de leite – 1996.

IBGE.

Sul 22,9%

Centro-Oeste15,2%

Nordeste12,7%

Norte4,2%

Sudeste45,0%

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149Cenários para o leite no Brasil em 2020

Fig. 3.

Fonte

Participação das

regiões na produção

brasileira de leite – 2005.

: IBGE.

Sul26,6%

Centro-Oeste15,4%

Nordeste12,1%

Norte7,1% Sudeste

38,8%

Evolução da produção regional de leite no BrasilEvolução da produção regional de leite no BrasilEvolução da produção regional de leite no BrasilEvolução da produção regional de leite no BrasilEvolução da produção regional de leite no Brasil

No que concerne ao aumento na produção, a Região Norte foi a que maiscresceu em termos percentuais, seguida pelas Regiões Sul e Centro-Oeste. NaRegião Sul, a produção de leite aumentou 54,2% entre 1996 e 2005, o querepresenta um incremento significativo, dado que é a segunda maior região produ-tora de leite do Brasil. Nas Regiões Nordeste e Sudeste, o aumento da produçãofoi menos expressivo, 26,2% e 14,4%, respectivamente. Entretanto, há que selevar em conta que a Região Sudeste teve o segundo maior aumento em quantida-de produzida, atrás apenas da Região Sul. Considerando-se a totalidade dos esta-dos, apenas São Paulo e Paraíba reduziram suas produções de leite entre 1996 e2005.

Analisando-se as taxas de crescimento em âmbito regional, tem-se que a produ-ção de leite nas regiões onde houve maior aumento da produção, Norte, Sul eCentro-Oeste, as taxas de crescimento foram de 9,9% a.a., 5,08% a.a. e 3,9%a.a., respectivamente, no período de 1996 a 2005. Nas Regiões Sudeste e Nordes-te, as taxas de crescimento da produção foram 1,3% e 2,7%, respectivamente.

Atualmente, 66% da produção concentra-se nas Regiões Sul e Sudeste doPaís. Entretanto, entre 1990 e 2004, houve uma modificação na distribuiçãoespacial da produção leiteira, deslocando-se para a Região Norte, principalmentepara os Estados do Pará e Rondônia, conforme mostra a Tabela 2.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020150

Tabela 2. Participação dos estados na produção nacional de leite – 1996 e

2005.

Regiões 1996 Participação % 2005 Participação %Aumento

2005/1996

Norte 771 4,2% 1.743 7,1% 126,1%

RO 317 1,7% 692 2,8% 118,3%AC 31 0,2% 80 0,3% 158,1%AM 27 0,1% 44 0,2% 63,0%RR 11 6 0,02% 100,0%PA 238 1,3% 697 2,8% 192,9%AP 2 0,0% 4 0,0% 100,0%TO 144 0,8% 220 0,9% 52,8%

Nordeste 2.355 12,7% 2.972 12,1% 26,2%

MA 139 0,8% 321 1,3% 130,9%PI 75 0,4% 79 0,3% 5,3%CE 390 2,1% 368 1,5% –5,6%RN 160 0,9% 212 0,9% 32,5%PB 150 0,8% 149 0,6% –0,7%PE 422 2,3% 527 2,1% 24,9%AL 223 1,2% 236 1,0% 5,8%SE 135 0,7% 191 0,8% 41,5%BA 660 3,6% 890 3,6% 34,8%

Sudeste 8.338 45,0% 9.535 38,8% 14,4%

MG 5.601 30,3% 6.909 28,1% 23,4%ES 320 1,7% 418 1,7% 30,6%RJ 432 2,3% 465 1,9% 7,6%SP 1.985 10,7% 1.744 7,1% –12,1%Sul 4.242 22,9% 6.542 26,6% 54,2%

PR 1.514 8,2% 2.519 10,3% 66,4%SC 866 4,7% 1.556 6,3% 79,7%RS 1.861 10,1% 2.468 10,0% 32,6%

Centro-Oeste 2.810 15,2% 3.778 15,4% 34,4%

MS 407 2,2% 499 2,0% 22,6%MT 375 2,0% 596 2,4% 58,9%GO 1.999 10,8% 2.649 10,8% 32,5%DF 28 0,2% 35 0,1% 25,0%

Brasil 18.515 100,0% 24.572 100,0% 32,7%

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151Cenários para o leite no Brasil em 2020

Tendo por base estas informações, a participação das regiões brasileiras naprodução total de leite, em 2020 (em porcentagem), será de:

Os principais fatores que justificam as respostas:

(71%) Expansão da produção no Sul do País em função da estrutura fundiária,cooperativismo e questões culturais.

(56%) Competição das áreas de produção de leite com atividades de maiorrentabilidade, como o avanço da cana-de-açúcar em áreas de pasta-gens, além de outras culturas, como seringueira e eucalipto.

(55%) Expansão para novas áreas no Norte e Centro-Oeste.(39%) Investimentos do produtor na intensificação da produção de leite, au-

mentando a produtividade da propriedade em regiões tradicionais, emáreas já destinadas à criação de gado leiteiro.

(29%) Profissionalização e crescimento da produção nas áreas mais suscetí-veis à competição com outras atividades.

(26%) Crescimento da produção na Região Nordeste.(16%) Expansão da avicultura e suinocultura e aumento da área cultivada

com grãos em Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, com reduçãoda produção de leite.

Regiões

Produção

1996

(milhões

de kg)

Participação

1996 (%)

Produção

2005

(milhões

de kg)

Aumento

2005/ 1996

Participação

2005 (%)

Respostas Rodada 1

Participação 2020

(%)

Norte(aumentar)

771 4 1.743 126,1 71º quartil – 8Mediana – 103º quartil – 12

Nordeste(manter)

2.355 13 2.972 26,2 121º quartil – 10Mediana – 123º quartil – 15

Sudeste(cair)

8.338 45 9.535 14,4 391º quartil – 28Mediana – 303º quartil – 35

Sul(aumentar)

4.242 23 6.542 54,2 271º quartil – 28Mediana – 303º quartil – 32

Centro-Oeste(manter)

2.810 15 3.778 34,4 151º quartil – 15Mediana – 163º quartil – 19

Brasil 18.515 100 24.572 32,7 100

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Cenários para o leite no Brasil em 2020152

(15%) Ocupação mais efetiva do cerrado brasileiro, promovida não só pelosprojetos de reforma agrária, como por projetos de ocupação privada.

(14%) Aumento do número de assentamentos de reforma agrária em áreasafastadas, com desenvolvimento da pecuária de leite como alternativaviável para fixar colonos e evitar que áreas sejam desmatadas.

(5% ) Expansão da pecuária na Amazônia, que se beneficiará da disponibilida-de de terras baratas.

(5%) Outro: Proximidade do centro de consumo, possibilitando melhor remu-neração da matéria-prima pela indústria/Investimento no Centro-Oestee Sul do País na ampliação do parque industrial laticinista/Intensifica-ção da cana-de-açúcar e, em alguma parcela, suinocultura e aviculturano Sudeste/Baixo custo de oportunidade em área de fronteira, no Nor-te, Nordeste e algumas áreas do Centro-Oeste.

Fatores Fatores Fatores Fatores Fatores socioambientaissocioambientaissocioambientaissocioambientaissocioambientais

Legislação ambiental

Principais mudanças até 2020.

Principais mudanças na legislação ambiental Porcentagem de indicações

Legislação será mais rigorosa 24%Maior rigor no consumo de água 18%Adequação a lei 13%Tratamento de dejetos 9%Maior no uso de resíduos 7%Licença ambiental 6%Fiscalização 6%Dificuldade de abertura de pastagens 3%Legislação compatível 3%Reflorestamento de parte da área 1,5%Rastreabilidade 1,5%Boas Práticas de Produção e APPCC 1,5%Menor gasto de energia 1,5%Zoneamento agrícola 1,5%Influência das ONGs européias 1,5%Proteção de solo 1,5%Outros 1,5%

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153Cenários para o leite no Brasil em 2020

Impactos no setor de lácteos em 2020.

Principais impactos no setor de lácteos Porcentagem de indicações

Efeitos positivos (adequação a padrões internacionais, preservaçãodo meio ambiente, maior competitividade) 35%

Aumento de custos de produção 21%Dificuldades crescentes de produção, legislação mais rigorosa 11%Saída da atividade (pequenas indústrias, produtores) 7%Redução da área de produção, dificuldade de abertura de novas

áreas 5%Racionalização do uso da água 5%Aumento do capital investido 3,5%Estímulo ao leite a pasto 2%Estímulo ao leite orgânico e produção agroecológica 2%Mudanças no modelo de produção 2%Aumento da dicotomia formal/informal 2%

Até 2020, a questão da preocupação com os aspectos socioambientais naprodução do leite deverá tornar-se cada vez mais relevante, especialmente namedida em que o Brasil aumentar sua participação no mercado internacional delácteos, por meio do aumento de exportações. Considerando esta realidade, asações que deverão ser adotadas pelos produtores de leite, até 2020, com relaçãoaos aspectos de preservação socioambiental envolvidos com a atividade são:

Ações Porcentagem de indicações

Tratamento de dejetos/efluentes 15%Gestão racional da água/preservação de nascentes 13%Recuperação das áreas de Preservação Permanente, reposição de

matas ciliares, averbação de áreas para reserva legal 11%Educação do produtor/Mão-de-obra 6%Uso racional de medicamentos e defensivos 5%Cumprir legislação ambiental 5%Produção de leite a pasto/intensificação (uso de menos áreas de

produção) 5%Conservação do solo 5%Cumprimento das normas trabalhistas 4%Geração de energia a partir do esterco 4%Uso racional do esterco 4%Leite orgânico 3%Integração silvo-pastoril 3%Bem estar animal e conforto 3%Integração lavoura-pecuária 2%Melhorar a qualidade do leite 1%

continua

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Cenários para o leite no Brasil em 2020154

Produtividade da produçãoProdutividade da produçãoProdutividade da produçãoProdutividade da produçãoProdutividade da produção

O aumento da produção de leite pode encontrar explicações na expansão daárea de pastagem (ou número de propriedades) e número de vacas ordenhadas, ouentão no aumento da produtividade, em função da adoção de novas tecnologias.

♦ Quanto ao número de vacas ordenhadas, entre 1996 e 2005, houve umaumento de 16,2 para 20,6 milhões de cabeças, ou seja, um crescimento de27,2% em 10 anos, que ocorreu à taxa de 2,7% a.a.

15.000.000

16.000.000

17.000.000

18.000.000

19.000.000

20.000.000

21.000.000

Núm

ero

deva

cas

orde

nhad

as

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fig. 4.

Fonte

Número de vacas ordenhadas – 1996 a 2005.

: IBGE.

continuação

Investir na qualidade de vida dos funcionários 1%Seguir o que o mercado manda 1%Preservar a Amazônia 1%Ter legislação ambiental inteligente 1%Desenvolver o comércio justo 1%Incluir os pronafianos na questão ambiental 1%Crédito barato do governo para adequar as propriedades 1%Disseminação de boas práticas de produção 1%Royalties para preservação de nascentes 1%Lobby 1%Agroecologia 1%Controle de pragas e roedores 1%Reduzir emissão de metano através da nutrição adequada 1%Gestão 1%Uso racional do soro de queijo 1%

Ações Porcentagem de indicações

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155Cenários para o leite no Brasil em 2020

Tendo por base estes dados, o número de vacas ordenhadas em 2020 deveráser de:

Justificativa:

Apenas 16% das respostas sugerem que haverá um menor número de vacasordenhadas em 2020. A maioria dos especialistas acredita que haverá aumento donúmero de vacas, pois somente o ganho de produtividade não seria suficiente paraelevar a produção até 2020. Porém, os ganhos de produtividade serão responsáveispela maior parte do aumento de produção, segundo a percepção dos especialistas.

Alguns respondentes acreditam que no Norte, Nordeste, Centro-Oeste (eeventualmente Sul) haverá aumento de rebanhos. Parece haver uma indicação deque no Sudeste e, em algum grau, no Sul, haverá redução ou menor aumento donúmero de vacas.

♦ O aumento no número de vacas ordenhadas explica a maior parte do cresci-mento da produção de leite no País durante o período de 1996 a 2005.Embora tenha havido aumento na produtividade nesse período, o valor foimuito modesto. Apenas 4,7% nesses dez anos, passando de 1.138 litros/vaca/ano (1996) para 1.191 litros/vaca/ano (2005), com destaque para aRegião Sul. Pode-se dizer que, na média do País, a produtividade tem cresci-do pouco.

Primeiro Quartil 22,0Mediana 25,0Terceiro Quartil 27,7

Resultados Rodada 1 – Milhões de

vacas em 2020.

Tabela 3. Simulação – quantidade de vacas ordenhadas

para diferentes taxas de variação anual.

Taxa anual Número de vacas ordenhadas

–4,0% 11.166.979.425–3,0% 13.044.974.496–2,0% 15.214.523.514–1,0% 17.717.202.106

0,0% 20.600.000.0001,0% 23.915.960.4812,0% 27.724.887.7693,0% 32.094.128.7824,0% 37.099.436.213

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Cenários para o leite no Brasil em 2020156

Fig. 5.

Fonte

Produtividade de leite no período 1996-2005.

: IBGE.

Litr

os/v

aca/

ano

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Porém, há trabalhos mostrando que houve aumento da produtividade nosúltimos anos. O Diagnóstico da Pecuária Leiteira de Minas Gerais, por exemplo,publicado em 2005, é um exemplo. Em 1995, a produção/vaca em lactação/diaera de 4,9 litros, passando a 8,10 litros/dia, um incremento de 65%. A produçãototal, incluindo as vacas secas, passou de 3,05 litros/dia para 5,38 litros, aumentode 76%. Embora os valores sejam ainda bastante baixos, os dados mostram quehouve aumento de produtividade por animal. Claramente, os produtores de maiorporte apresentam maior produtividade animal, assim como já havia ocorrido coma produtividade por área.

Tabela 4. Produtividade das vacas por estrato de produção.

Estratos de produção

(litros/dia)Unidade Produção/vaca em lactação Produção/total de vacas

Até 50 L/dia 4,31 2,66De 50 a 200 L/dia 6,09 3,91De 200 a 500 L/dia 8,23 5,39De 500 a 1.000 L/dia 10,48 7,28Acima de 1.000 L/dia 12,86 9,67Média MG L/dia 8,1 5,38

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157Cenários para o leite no Brasil em 2020

Considerando estes dados, a produtividade do leite em 2020 será de:

Primeiro Quartil 1.750Mediana 2.000Terceiro Quartil 2.854

Resultados Rodada 1 – Kg/vaca/ano

em 2020.

Tabela 5. Simulação – produtividade

kg/vaca/ano para diferentes taxas de

variação anual.

Taxa anualProdutividade

(kg/vaca/ano)

0,0% 1.1911,0% 1.3832,0% 1.6033,0% 1.8564,0% 2.1455,0% 2.4766,0% 2.8547,0% 3.2868,0% 3.7789,0% 4.338

10,0% 4.975

Os principais fatores que justificam as respostas são (em porcentagem derespondentes que indicaram cada item):

(62%) Melhorias na alimentação animal, com adoção de técnicas de produçãointensiva, tais como manejo rotacionado de pastagem, recuperação dafertilidade do solo, utilização da cana-de-açúcar e uréia no período daseca e irrigação de pastagem.

Neste caso, os sistemas de produção mais adequados à produção brasileira,até 2020, serão (em porcentagem de indicações pelos especialistas):

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Cenários para o leite no Brasil em 2020158

Porcentagem Sistema Regiões

Sudeste 5Rio Grande do Sul 1Norte do Paraná 1Centro Oeste 5Sul 3

29 A pasto

Nordeste 2Sul 7Centro Oeste 321 A pasto com suplementaçãoSudeste 11Sul – Paraná 1Sul 218 ConfinamentoVale do Paraíba e Sul de Minas Gerais 1Sul 1Sudeste 318 Semi-confinamentoSudoeste Paulista 1Nordeste 1

7 Pastejo IrrigadoSudeste 2Sudeste 1

7 Semi intensivoZona da Mata mineira 1

(52%) Busca de animais de valor genético superior para a produção de leite,com rebanho especializado para produção de leite.

(48%) Maior exigência em relação à qualidade do leite e segurança alimentar,levando os produtores a melhorar a gestão e a eficiência técnica.

(30%) Necessidade de intensificação da produção em função da concorrênciacom outras atividades, especialmente nas áreas mais tradicionais,onde a cana, por exemplo, avança.

(26%) Ampliação do pagamento por volume de leite, estimulando o aumentoda escala de produção, que pode ter na produção por vaca uma dasalternativas.

(12%) Aumento no número de pequenos produtores, que passarão a ter aces-so e utilizarão tecnologia mais avançada. As principais tecnologiasutilizadas serão melhoramento genético, manejo reprodutivo,inseminação artificial, produção de pasto e suplementação alimentar(silagem), pastejo rotacionado, ordenha mecânica e resfriamento doleite.

(4%) Uso de tecnologia avançada por parte dos grandes produtores. Nestecaso, as principais tecnologias utilizadas para aumentar a produtivida-de do rebanho são os cruzamentos mais racionais (melhoramento gené-tico), produção de pasto, manejo reprodutivo e alimentação.

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159Cenários para o leite no Brasil em 2020

Comentários

♦ A produtividade é muito baixa e não é preciso muito para aumentá-la. Sendoassim, as novas tecnologias são, na verdade, tecnologias que existem hádécadas e que deverão ser implementadas até 2020.

♦ Há a expectativa predominante de sistemas a pasto com suplementação emtodas as regiões.

♦ Deve-se considerar o ótimo econômico e não apenas a produtividade. Ges-tão da propriedade deverá ser uma ferramenta importante. Há, no geral,expectativa de um significativo salto de produtividade.

As novas tecnologias que poderão ser utilizadas até 2020 visando aumentar aprodutividade do leite no Brasil são:

Qualidade do leiteQualidade do leiteQualidade do leiteQualidade do leiteQualidade do leite

A crescente preocupação dos consumidores em relação à qualidade dos produ-tos tem levado diversos setores da indústria alimentícia a adequações que aten-dam às exigências. No caso do leite e lácteos, nem sempre a percepção dosconsumidores em relação à qualidade coincide com o que o setor entende porqualidade. Há, por exemplo, consumidores que preferem produtos sem pasteuriza-ção, por vezes tidos como mais puros ou saudáveis. Porém, com a crescentepreocupação com a saúde, com ênfase cada vez maior por parte dos governos eda mídia em geral, é provável que cada vez mais o consumidor esteja atento aosaspectos nutritivos e de higiene relativos aos lácteos. Nesse contexto, torna-serelevante a melhoria na qualidade do leite, não só para o mercado interno, mastambém para o mercado internacional.

Até 2020, os principais fatores que deverão promover uma melhoria da quali-dade do leite são:

Tecnologias Indicações

Genética 60Produção de forragens 63Alimentação 39Gestão 19Integração lavoura e pecuária 3Conforto/stress 7Controle zootécnico 5Ordenha mecânica 3Informação 2

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Cenários para o leite no Brasil em 2020160

(69%) Sistemas de pagamento por qualidade do leite, como estratégia dasempresas compradoras.

(47%) Cumprimento da legislação relativa à qualidade do leite, que levará àmelhoria da qualidade do leite no setor como um todo.

(32%) Investimentos em capital e treinamento para adequação dos produto-res menos tecnificados aos padrões de qualidade exigidos.

(24%) As exportações brasileiras de lácteos ocuparão espaço no mercadointernacional, vendendo o produto para países com exigências maisrígidas, como os do Sudeste Asiático.

(17%) Ambiente competitivo e com consumidores cada vez mais exigentes,tendo à sua disposição uma gama maior de produtos não-lácteos dequalidade e saudáveis.

(17%) Compra do leite por multinacionais com posicionamento global e fluxode lácteos entre empresas do mesmo grupo, em diferentes países, mascom qualidade semelhante.

(7%) Outros.

Comentários

♦ Existe a indicação da melhoria da qualidade pela via de mercado (69% dosrespondentes indicaram pagamento por qualidade) ou pela via legal (47%dos respondentes indicaram o cumprimento da legislação relativa à qualida-de do leite).

♦ Entre os que apontam o mercado, os respondentes argumentam que opagamento por qualidade é direcionado pelos menores custos da indústriaem manipular leite de melhor qualidade.

♦ Em relação ao consumidor forçando a melhoria da qualidade, 24% dosrespondentes apontam o mercado externo como fator principal. Outros 17%dizem que o consumidor interno ficará mais exigente e demandará maiorqualidade. No entanto, um outro grupo acha que o movimento virá do próprioprodutor, que deverá produzir com qualidade inerentemente ao mercado.

Relacionamento entre indústria e produtoresRelacionamento entre indústria e produtoresRelacionamento entre indústria e produtoresRelacionamento entre indústria e produtoresRelacionamento entre indústria e produtores

O aumento das exigências de qualidade, seja pela pressão crescente do consu-midor interno, seja por eventuais barreiras à exportação decorrentes da falta dequalidade, tende a melhorar o relacionamento entre indústrias e produtores deleite para 2020, no sentido de maior transparência, contratos de mais longoprazo, diferenciação de preços e a busca de uma relação ganha-ganha?

(90%) Sim(10%) Não

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161Cenários para o leite no Brasil em 2020

Mercado não-inspecionadoMercado não-inspecionadoMercado não-inspecionadoMercado não-inspecionadoMercado não-inspecionado

A informalidade no setor leiteiro atinge ainda uma parcela significativa daprodução. O mercado informal fornece leite sem tratamento térmico, queijo eoutros derivados lácteos que são consumidos nas propriedades e/ou vendidos nomercado.

De 1997 a 1999, a produção de leite sob inspeção federal chegou a ficarabaixo de 60% do total. A partir de 2000, houve melhoria desse índice, com umamédia de 38% de leite que não passa pela inspeção federal até 2004. No ano de2005, essa taxa caiu para 34%.

Tendo por base estes dados, a produção de leite informal, em relação ao totalde leite produzido, até 202, será de (em porcentagem do total produzido):

Fig. 6.

Fonte

Quantidade de leite cru ou resfriado adquirido e produção

informal de leite – 1997 e 2005.

: IBGE.

7.978 8.006 7.931 7.659 7.297 8.422 8.627 8.980 8.288

10.688 10.688 11.139 12.108 13.213 13.221 13.627 14.495 16.284

0

20

40

60

80

100

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Porc

enta

gem

dapr

oduç

ão

Produção informal Quantidade de leite cru ou resfriado adquirido

Resultados Rodada 1 – Porcentagem

do total de leite produzido que será

informal, até 2020.

Primeiro Quartil 18Mediana 20Terceiro Quartil 25

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Cenários para o leite no Brasil em 2020162

Os principais motivos para justificar as respostas são:

(65%) Maior esclarecimento do consumidor em relação à qualidade.(60%) Melhoria do sistema de inspeção oficial.(54%) Apoio governamental e institucional a produtores da agricultura famili-

ar, facilitando a transição para a formalidade.(52%) Melhores preços para o leite, desestimulando a informalidade.(43%) Melhoria dos canais de distribuição e da diversificação dos produtos

lácteos, facilitando a inserção dos produtores na formalidade.(27%) Indústrias mais exigentes quanto a padrões de qualidade, constância e

volume de entrega, fazendo com que os produtores que não se adap-tam passem à informalidade.

(24%) Desconhecimento da qualidade do leite por parte do consumidor.(24%) As dificuldades de fiscalização por meio da estrutura oficial de

inspeção.(17%) Conveniência (pagamento mensal) e relações sociais determinando a

compra de produtos informais.(15%) Falta de um avanço na especialização da produção primária e no ama-

durecimento das relações comerciais entre produtor e indústria.(14%) O sistema de produção necessário para a obtenção de leite in natura,

sem melhoria na qualidade, favorece a manutenção da informalidadena produção leiteira.

(14%) Elevada carga tributária promoverá maior informalidade.(13%) Questões políticas: reduzir a informalidade é medida politicamente difí-

cil, pois vários produtores e famílias perdem sua fonte de renda.(4%) Pecuaristas de rebanhos de corte poderão extrair leite durante alguns

períodos, de maneira informal e sem esforços de melhoria da qualidadedo leite.

(3%) Altos custos de processamento e embalagem de produtos lácteosinspecionados.

(20%) Outro: ______________________________________________

As ações que serão adotadas pelos elementos da cadeia de leite (produtores,indústria e compradores), até 2020, para reduzir a informalidade e melhorar osresultados do setor:

Ações mais prováveis em 2020 (em porcentagem de indicações pelosrespondentes)

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163Cenários para o leite no Brasil em 2020

Ações mais prováveis Porcentagem

Maior fiscalização 40Conscientização dos consumidores/marketing institucional 38Estímulo devido ao pagamento por qualidade 22Conscientização dos produtores (maior profissionalização) 13Maior exigência dos consumidores finais 11Desburocratização, diminuição das cargas tributárias, fornecimento de linhas de crédito 11Maior pressão junto aos órgãos de fiscalização 6Não haverá muitas ações contra a informalidade 6Maior competitividade e concentração de empresas formais 5Melhora da estrutura e custos de logística 5Estímulo devido ao aumento da participação no mercado internacional 3Desenvolvimento tecnológico 2Redução do número de produtores 2Melhora da relação indústria/produtor 2

Ações mais desejáveis em 2020 (em porcentagem de indicações pelosrespondentes)

Ações mais desejáveis Porcentagem

Conscientização do consumidor/marketing institucional 47Maior fiscalização 47Maior profissionalismo dos produtores 15Estímulo devido ao pagamento por qualidade 13Redução de carga tributária 11Ações das empresas contra a compra de produto sem inspeção 8Maior associativismo por parte dos produtores 5Incentivo das indústrias para maior participação dos produtores na margem de lucro do

produto 5Pressão do Governo sobre a venda desses produtos 5Desenvolvimento da produção/tecnologia 3Fornecimento de linhas de crédito 3Maior exigência dos consumidores finais 2Melhor relação entre produtor/indústria/varejo 2Melhoria da renda 2Apoio à comercialização 2Reforçar a IN/51, tornando-a mais rígida 2Melhoria da estrutura (energia elétrica, água potável etc.) em regiões mais carentes 2Certificação de derivados do leite, como queijos artesanais 2Subsidiar consumo de leite pasteurizado à população carente 2Apoio governamental aos pequenos produtores 2

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Cenários para o leite no Brasil em 2020164

Número de laticíniosNúmero de laticíniosNúmero de laticíniosNúmero de laticíniosNúmero de laticínios

No total, o Brasil possuía, em 2003, 1.973 laticínios localizados principalmentenos Estados de Minas Gerais (34,4%), São Paulo (13%) e Goiás (10,4%). A maiorparte desses laticínios é de pequeno porte: 55% deles tem capacidade instaladaentre 5 e 10 mil litros de leite por dia e 5,3% têm capacidade instalada superior a100 mil litros/dia.

A indústria de laticínios do país é pouco concentrada, uma vez que a recepçãoanual das cinco maiores empresas representou 27,7% do total de leite adquirido em2005 (16,3 bilhões de litros), enquanto das 14 maiores empresas representou41,3%. Quanto à utilização do leite pela indústria, considerando agora a produçãototal, destaca-se que o queijo é o produto que mais consome leite (33,7%). O leiteUHT e o leite em pó respondem por 18,7% e 18,6% da utilização do leite enquanto6,8% da produção é destinada ao leite fluido A, B e C. Os demais produtosparticipam com percentuais bem menores de utilização, mas apresentam potencialde crescimento no mercado.

Dado o atual perfil da indústria de laticínios no Brasil, onde a maior parte dasempresas é de pequeno porte, o que irá ocorrer no número de laticínios, até 2020:

Tabela 6. Capacidade instalada da indústria de laticínios nos principais estados

produtores de leite.

Fonte Extraído de

Nota

: INDI (2003). : Conejero, Cônsoli e Neves (2006).

: Não estão incluídos os entrepostos de laticínios (EL-1) e outras instalações que

produzem leite (L).

Número de estabelecimentos por estadoCapacidade instalada

(mil litros) GO MG MS MT PR RJ RS SC SP

Mais de 500 4 7 1 1 7300 a 500 2 8 2 1 2 4100 a 300 9 15 8 7 6 1 1050 a 100 5 26 5 1 5 7 8 3 820 a 50 45 119 7 11 24 17 30 16 4210 a 20 32 112 19 6 33 14 31 12 355 a 10 40 120 14 16 34 11 20 21 59Até 5 69 273 12 35 54 13 19 32 93Total 206 680 57 69 161 70 117 85 258

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165Cenários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 7. Utilização do leite pela indústria de laticínios (dados de 2004).

Destino Quantidade UnidadeValor da produção

(mil R$)

Consumo de leite

(mil litros)Porcentagem

Queijos 808.112 mil kg 5.543.650 7.919.500 33,7Leite UHT 4.403.000 mil litros 5.873.602 4.403.000 18,7Leite em pó 420.000 mil kg 3.654.000 4.379.130 18,6Leite fluido A, B, C 1.590.000 mil litros 1.431.000 1.590.000 6,8Produtos lácteos frescos 545.897 mil kg 2.548.880 419.904 1,8Manteiga 75.000 mil kg 441.000 308.918 1,3Outros1 1.138.549 4,8Autoconsumo 3.341.000 mil litros 3.341.000 14,2Total 19.492.132 23.500.001 100,0

Fonte: Extraído de Conejero, Cônsoli e Neves (2006).

Envolve a produção destinada a derivados como creme de leite, leite condensado,

sorvetes, doce de leite, exportações e outros derivados.

1

Resultados Rodada 1 � Número de laticínios em 2020

(65%) Diminuir(18%) Aumentar(17%) Manter próximo ao que é hoje

Justificativ:

¨ Diminuição: a principal causa é a concentração das indústrias, por diversosfatores, tais como forte competitividade no mercado, falta de acompanha-mento das exigências sanitárias, ambientais, segurança alimentar, alta neces-sidade de escala para competir no mercado (principal fator apontado), neces-sidade de altos investimentos e estreitamento da margem de lucro. Mencio-nou-se que as grandes empresas darão pouco espaço às pequenas, o que astiraria do mercado, e para alguns respondentes a redução na informalidade/sonegação seria uma condição importante para que isto ocorra.

¨ Aumento: principal fator apontado é a demanda crescente por produtoslácteos e a crescente produção de leite no País, o que demandaria umamaior quantidade de indústrias. Também argumenta-se que regionalmente,ou nas regiões de fronteira, haveria aumento do número de laticínios, bemcomo o fato de haver produtos destinados a mercado de nicho.

¨ Manutenção: Poucas empresas aparecerão ou haverá pouca concentração,mantendo próximo o número de indústrias de hoje e a informalidade nuncadesaparecerá.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020166

Leite captado por cooperativasLeite captado por cooperativasLeite captado por cooperativasLeite captado por cooperativasLeite captado por cooperativas

Da produção inspecionada do Brasil em 2003, 13,6 bilhões de litros de leite,cerca de 40%, ou seja, 5,45 bilhões de litros de leite, foram captados por coopera-tivas. Em 2005, cinco das dez maiores empresas captadoras de leite eram coopera-tivas, mas comparativamente, há países cuja destinação do leite para cooperativasé muito maior do que a brasileira. A Nova Zelândia, por exemplo, tem cerca de 99%do leite destinado a cooperativas; os Estados Unidos, 83%.

A porcentagem do leite que será captado por intermédio das cooperativas, em2020 (em porcentagem do total produzido):

Principais fatores que justificam a resposta:

(63%) Pouca agilidade das cooperativas no reposicionamento ante um merca-do global, com poucas mudanças nas suas estruturas de governançacorporativa.

(44%) Aumento da competitividade das empresas do setor, com um maiornúmero de opções de produtos para o consumidor.

(31%) Concentração no foco das atividades e profissionalização da gestãodas cooperativas.

(20%) Fusões e alianças entre cooperativas como estratégia competitiva paraganhos logísticos, redução de custos fixos e maior oferta de produtoscom maior valor agregado.

(17%) Aumento da importância da responsabilidade social, forçando empre-sas, principalmente as de grande porte, a rever as formas de relaciona-mento com cooperativas e produtores, para maior sustentabilidadesocial.

(12%) Mudança no portifólio de produtos oferecidos pelas cooperativas, comuma agregação de valor e ganho de competitividade.

(16%) Outro: O processo de profissionalização das cooperativas estádeslanchado, faltando legislação mais rigorosa para seuenquadramento dentro de padrões empresariais que lhes dêemsustentabilidade e estimulem sua integração em sistemas mais raciona-

Resultados Rodada 1 – Porcentagem

do leite captado pelas cooperativas,

em 2020.

Primeiro Quartil 30,0Mediana 40,0Terceiro Quartil 50,0

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167Cenários para o leite no Brasil em 2020

lizados quanto a custos, pessoal, mercados e logística./ Entrada denovas multinacionais no setor./ Falta de profissionalização das direçõesda cooperativa, onde vicejam interesses próprios ou de grupos emdetrimento dos cooperados. / As empresas familiares dão mais lucro,com isto poderão investir mais e crescerão mais.

Número de fornecedores de matérias-primas para osNúmero de fornecedores de matérias-primas para osNúmero de fornecedores de matérias-primas para osNúmero de fornecedores de matérias-primas para osNúmero de fornecedores de matérias-primas para osmaiores laticíniosmaiores laticíniosmaiores laticíniosmaiores laticíniosmaiores laticínios

Existe uma tendência de racionalização dos custos pelas empresas, o que temlevado os principais laticínios do País a reduzir o número de fornecedores dematéria-prima, sem que haja redução no volume de leite captado. Pelo contrário,o volume de leite recebido por produtor diariamente aumentou entre 1996 e2006. Em 1996 o número médio de propriedades fornecedoras para os principaislaticínios do Brasil era de 23,3 mil, e este número diminuiu para 10,2 mil em 2000e 5,4 mil em 2006.

Tabela 8. Número de propriedades fornecedoras para os

principais laticínios do Brasil – 1996, 2000 e 2006 (em

mil unidades).

1

2

Ordem com base na quantidade de leite recebida em 2005.

CCL/SP – Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São

Paulo.

: Leite Brasil, CNA/Decon, OCB/CBCL e Embrapa Gado de

Leite.

Fonte

Ordem1 Empresa 1996 2000 2006

1 DPA/Nestlé 39,2 14,1 6,02 Itambé 19,9 8,4 9,73 Eleva 44,0 32,2 19,64 Parmalat 35,8 15,6 4,65 CCL/SP2 25,4 8,9 2,86 Embaré n.d. n.d. 1,97 Morrinhos n.d. 7,3 4,18 Centroleite n.d. 4,2 4,89 Sudcoop n.d. n.d. 5,4

10 Confepar n.d. n.d. 5,711 Batavia 11,8 7,5 4,112 Leite Líder n.d. 8,8 5,313 Danone 2,1 1,4 0,514 Grupo Vigor 8,4 3,7 1,3

Média 23,3 10,2 5,4

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Cenários para o leite no Brasil em 2020168

Tabela 9. Volume diário de leite recebido por produtor em

14 dos principais laticínios do Brasil – 1996, 2000 e 2006

(em litros).

Ordem1 Empresa 1996 2000 2006

1 DPA/Nestlé 100 270 5692 Itambé 98 252 2743 Eleva 35 65 1054 Parmalat 91 1662 2475 CCL/SP2 72 157 2116 Embaré n.d. n.d. 3607 Morrinhos n.d. 55 2078 Centroleite n.d. 114 1489 Sudcoop n.d. n.d. 110

10 Confepar n.d. n.d. 11411 Batávia 62 100 16112 Leite Líder 225 64 10813 Danone 99 251 90914 Grupo Vigor 8 170 296

1

2

Ordem com base na quantidade de leite recebida em 2005.

CCL/SP – Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São

Paulo.

: Leite Brasil, CNA/Decon, OCB/CBCL e Embrapa Gado de

Leite.

: os tanques comunitários estão nessa estatística, ou seja,

um produtor pode comercializar o leite de dez ou vinte produtores

em seu nome.

Fonte

Nota

Na média, considerando esses 14 maiores laticínios, localizados em sua maio-ria nas regiões mais tradicionais de produção de leite, o número de fornecedoresabastecendo cada laticínio, em média, até 2020, será:

Justificativa

A maioria dos respondentes acredita numa redução no número de fornecedo-res das indústrias, tendo como exemplo o grupo que fornece para os 14 maiores

Resultados Rodada 1 – Número de

fornecedores abastecendo cada

laticínio, em 2020.

Primeiro Quartil 3.000Mediana 4.000Terceiro Quartil 5.000

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169Cenários para o leite no Brasil em 2020

laticínios. Entre os principais motivos apontados, estão a necessidade de umamaior produção em escala, e, portanto, uma demanda por parte das indústrias porprodutores que produzem mais. Além disso, maiores custos e exigência de quali-dade fazem com que as empresas procurem produtores melhor localizados.

Há quem diga que o surgimento de ajuntamentos de produtores que resfriam oleite em tanques comunitários mascara o número real de fornecedores, de formaque pode não ter havido redução tão significativa assim.

Há um comentário sobre aumento do número de fornecedores em função deacesso a financiamento de baixo custo (Pronaf) e apoio governamental. Não sepode ignorar que o governo atual apóia significativamente a agricultura familiar.

Em áreas de fronteira, o comportamento poderia ser diferente, com aumentodo número de produtores.

Canais de vendaCanais de vendaCanais de vendaCanais de vendaCanais de venda

No que tange ao relacionamento da cadeia produtiva quanto à colocação dosprodutos no mercado, dois pontos inibem a coordenação: a relação da indústriacom os supermercados e o fato da demanda de lácteos ser influenciada pelo poderaquisitivo do consumidor. O crescimento do consumo de leite longa vida acaboulevando os supermercados a substituírem as padarias como o principal canal dedistribuição. Apesar de ter reduzido os custos de distribuição, esse processocoloca os laticínios numa posição de terem que negociar com um agente commaior poder de barganha. Isso pode levar os laticínios de pequeno e médio porte aterem dificuldade na colocação de seus produtos no mercado.

Com relação à colocação dos produtos no mercado, os principais canais dedistribuição dos laticínios, em 2020, serão:

(60%) Os supermercados continuarão sendo o principal canal de vendas dosprodutos, deixando pouco espaço para outros canais.

(38%) Os supermercados serão o principal canal de distribuição dos produtos,mas com participação de outros canais de distribuição competitivos.Quais canais?

(2%) Os outros canais de distribuição se tornarão mais importantes do que ossupermercados. Quais canais? Venda pulverizada a pequenas mercearias,mercadinhos, padarias e venda direta ao consumidor, de porta em porta,com entrega programada ou em um sistema de tele-entrega ou similar.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020170

Comentários♦ Os supermercados continuarão tendo maior espaço no mercado varejista.

Os motivos apontados: tendência de concentração das grandes redes, leitelonga vida, questão de hábito (compras em geral), e comodidade. Há quemdiga que essa concentração é irreversível.

♦ Quem acredita em crescimento de pequenas redes alega a tendência já obser-vada desse fato em outros países. Além disso, os pools de compra entrepequenos varejistas reduzindo os preços e a menor distância de padarias oupequenos mercados de bairro são apontados como fatores relevantes.

Consumo do leite no mercado internoConsumo do leite no mercado internoConsumo do leite no mercado internoConsumo do leite no mercado internoConsumo do leite no mercado interno

O consumo per capita de leite e derivados no Brasil ainda é baixo (130 litrospor habitante/ano em 2004), se comparado àquele recomendado pela Organiza-ção Mundial da Saúde (OMS), de 180 litros/habitante/ano, ou mesmo pelaextrapolação das informações do Guia Alimentar Oficial, que recomenda cerca de200 kg/habitante/ano. Tal fato indica que existe potencial de consumo no merca-do interno e que essa oportunidade deve ser aproveitada para aumentar a deman-da desses produtos, principalmente considerando-se a tendência de aumento daprodução nacional.

Porém, no período de 1989 a 2006, o consumo per capita tem crescidorelativamente pouco: 1,34% ao ano, valor que seria significativamente pior nãofossem os ganhos de renda decorrentes do Plano Real. No período mais recente,de 2000 a 2006, a taxa de crescimento anual do consumo per capita foi deapenas 1,02%.

Outros canais de distribuição competitivos Porcentagem de indicações

Pequenos ou médios varejos e padarias de bairro 76Entrega direto nas residências 17Lojas especializadas 14Food service 7Lojas de venda direta pela Internet 7Lojas de distribuição direta dos pequenos laticínios 7Fast food 3Padarias sofisticadas 3Mercado institucional; Rede de cooperação 3Atacado e distribuidores 3Máquinas de venda 3Restaurantes e pizzaria 3Lojas de até cinco checkouts e padarias 3

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171Cenários para o leite no Brasil em 2020

Fig. 7.

Fonte Extraído

Consumo de leite (litros/habitante/ano).

: IBGE, Mapa, MF, MDIC/SECEX. de Alvim (2005).

per capita

1980

1981

Recomendação mínima

Promoçãodos Lácteos

Cons

umo

apar

ente

(litr

os/h

ab.)

per

capi

ta

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

80

100

120

140

160

180

92,1

133,5130,5

A tabela simula diferentes taxas de variação anual do consumo per capita e seusefeitos até 2020 (segunda coluna). A terceira coluna traz uma estimativa domercado total, em toneladas (multiplicação do consumo per capita previsto pelaexpectativa populacional para 2020). A quarta coluna mostra a diferençaporcentual entre o mercado total atual e o previsto para 2020, para cada situação.

Considerando estas informações, oconsumo per capita de leite no Brasil,em 2020 será:

Tabela 10. Simulação – taxas de variação anual do consumo e seus

efeitos até 2020.

per capita

Variação de consumo

per capita/ano

Consumo per capita

em 2020 (kg)

Mercado total em 2020

(toneladas)

Porcentagem sobre o

mercado atual

–2% 99,0 21.688.695 87,9–1% 115,2 25.237.754 102,30% 134,0 29.356.416 118,91% 155,6 34.088.495 138,12% 180,3 39.499.715 160,03% 208,8 45.743.430 185,3

Resultados Rodada 1 – Consumo

de leite no Brasil, em 2020.

per

capita

Primeiro Quartil 150,0Mediana 156,5Terceiro Quartil 170,0

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Cenários para o leite no Brasil em 2020172

Os principais fatores que justificam as respostas:

(82%) Aumento da renda per capita, principalmente nas faixas de populaçãodas classes C, D e E, irão promover um aumento no consumo de lácteos.

(50%) Crescimento do consumo de queijos, cujo valor per capita atualmente ébastante baixo, na casa dos 4 kg/habitante/ano, contra cerca de 13 kgem países como a Argentina e mais de 25 kg em determinados paísesda Europa.

(46%) Fortes investimentos no marketing institucional no setor de lácteos, princi-palmente para informar o consumidor e incentivar a demanda dos produtos.

(45%) Lançamento de novos produtos lácteos, mais segmentados e de maiorvalor agregado.

(37%) Expansão das compras dos produtos lácteos pelos programas sociais dogoverno nas esferas federal, estadual e municipal, tal como o programaLeve Leite em São Paulo.

(32%) Uma parte do aumento no consumo de lácteos é explicada pelo crescimen-to populacional, e no Brasil essas taxas têm sido decrescentes ao longodas últimas décadas, devendo ser de 0,71% em média ao ano, em 2020.

(20%) Lançamento de uma série de produtos substitutos dos lácteos, comosucos prontos e bebidas à base de soja.

(20%) Crescimento dos segmentos de comida pronta, tais como restaurantes,bares, padarias e cozinhas industriais.

(19%) A desoneração tributária dos produtos lácteos promoverá um aumentono consumo.

(12%) O envelhecimento da população tende a exercer impactos negativos noconsumo de leite fluido, devido aos hábitos de consumo dos brasileiros.

(10%) Regulamentações do governo em relação à publicidade, embalagens eprodutos.

(9%) Outro.

Exportação e importação do leiteExportação e importação do leiteExportação e importação do leiteExportação e importação do leiteExportação e importação do leite

Entre 1985 e 2005 a produção e o consumo cresceram à taxa média anual de3,5% ao ano. Entre 1990 e 2005, a taxa média anual da produção cresceu acimada taxa média anual do consumo. Mas, entre 2000 e 2005, a taxa média daprodução no Brasil cresceu significativamente mais do que a do consumo.

Nesse sentido, as exportações se apresentam como uma importante alternativapara manter o equilíbrio entre oferta e demanda no mercado interno, contribuindopara a redução na oscilação de preços que provocam danos recorrentes no setor.

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173Cenários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 11. Taxas médias anuais de crescimento de produção e consumo de

leite no Brasil para períodos selecionados.

Fonte: Banco de Dados da Embrapa Gado de Leite. Tabela extraída de Martins (2007).

Período Variação percentual Média do período

Produção 3,5% ao anoEntre 1980 e 2005

Consumo 3,5% ao anoProdução 3,8% ao ano

Entre 1990 e 2005Consumo 3,2% ao anoProdução 4,6% ao ano

Entre 2000 e 2005Consumo 2,6% ao ano

Tabela 12. Produção de leite de vaca em países selecionados (em mil

toneladas) – 2002 a 2006.

Fonte: USDA (2007).

Produção de leite de vaca 2002 2003 2004 2005 2006

EU-25 131.040 131.847 130.620 131.652 130.500Estados Unidos 77.140 77.290 77.535 80.286 82.508Índia 36.200 36.500 37.500 37.520 38.750China 12.998 17.463 22.606 27.534 32.800Rússia 33.500 33.000 32.000 32.000 32.200Brasil 22.635 22.860 23.317 24.025 24.745Nova Zelândia 13.925 14.346 15.000 14.500 15.200Ucrânia 13.860 13.400 13.787 13.423 12.890Austrália 11.608 10.636 10.377 10.429 10.395Argentina 8.500 7.950 9.250 9.500 10.300México 9.560 9.784 9.874 9.855 9.998Japão 8.385 8.400 8.329 8.285 8.170Canadá 7.964 7.734 7.905 7.806 7.773Romênia 5.150 5.400 5.723 4.977 4.900Coréia do Sul 2.537 2.367 2.255 2.229 2.184Egito 1.600 1.680 1.688 1.625 1.462Taiwan 350 354 334 305 314Filipinas 10 11 12 13 14Outros 5.304 5.356 4.225 2.220Total Mundial 402.266 406.378 412.337 418.184 425.103

A produção internacional de leite de vaca foi crescente no período 2002 a2006, aumentando de 402,2 milhões de toneladas em 2002 para 425,1 milhõesem 2006, ou seja, aumentou 5,7%. Os maiores produtores mundiais de leite devaca são União Européia, Estados Unidos, Índia, China, Rússia e Brasil. Juntos,esses países responderam por cerca de 80% do total mundial em 2006.

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Cenários para o leite no Brasil em 2020174

O comércio internacional de lácteos gira em torno de 41,6 milhões de tonela-das, 7% da produção total mundial (incluindo leite de búfala). As exportaçõesmundiais de lácteos são dominadas por dois grandes blocos: Oceania, que detémcerca de 47% do mercado e União Européia, com 28,8%. Os Estados Unidosparticipam com 8% das exportações mundiais, enquanto os demais países15,6%.

Tabela 13. Exportações mundiais de lácteos em países selecionados (em mil

toneladas) – 2002-2006.

Fonte

Nota

: USDA (2007).

: inclui manteiga, queijo, leite desnatado e leite em pó.

Exportação total de lácteos 2002 2003 2004 2005 2006

Nova Zelândia 1.359 1.638 1.663 1.387 1.502EU-25 1.525 1.662 1.670 1.523 1.295Austrália 787 652 647 599 631Estados Unidos 183 203 301 353 373Argentina 184 137 226 230 263Ucrânia 101 138 217 217 153Índia 13 25 12 47 65Filipinas 27 39 44 44 47Brasil 29 9 25 42 37Canadá 83 59 44 35 37China 28 21 27 34 35Rússia 36 46 41 35 35Chile 10 10 8 6 10Indonésia 15 18 12 10 10Egito 5 5 5 6 5México 0 0 2 2 2Romênia 0 3 4 2 2Outros 49 30 26 28 0Total 4.434 4.695 4.974 4.600 4.502

Quanto às importações, ressalta-se que estas são mais pulverizadas, compara-tivamente às exportações. Contudo, os países asiáticos concentram grande partedas importações do mercado mundial. Utilizando estimativas de 2006, o Brasiltem importado e exportado cerca de 1,5 a 2,5% de seu consumo ou da produçãode leite.

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175Cenários para o leite no Brasil em 2020

Tabela 14. Importações mundiais de lácteos em países selecionados (em mil

toneladas).

Importação total de lácteos 2002 2003 2004 2005 2006

Rússia 316 415 450 460 430México 279 292 310 337 282Japão 252 250 263 252 240Argélia 230 204 251 250 232Estados Unidos 240 235 241 234 218EU-25 245 280 228 184 178Indonésia 143 140 146 161 167China 112 142 152 108 150Filipinas 150 158 171 127 141Egito 77 83 61 76 85Austrália 58 69 72 75 81Taiwan 81 76 75 73 74Canadá 48 46 54 53 52Coréia do Sul 35 41 45 50 51Brasil 133 50 30 38 40Chile 7 25 7 14 17Ucrânia 2 2 3 6 8Romênia 2 5 6 6 7Nova Zelândia 1 4 5 5 6Índia 2 1 10 1 5Argentina 1 1 0 2 2Outros 422 408 400 405 39Total 2.414 2.519 2.580 2.512 2.466

Fonte

Nota

: USDA (2007).

: inclui manteiga, queijo, leite desnatado e leite em pó.

Considerando as informações acima, a porcentagem de leite exportado emrelação à produção total do país, em 2020 será:

Resultados Rodada 1 – Porcentagem

do leite exportado em 2020.

Primeiro Quartil 5,0Mediana 10,0Terceiro Quartil 15,0

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Cenários para o leite no Brasil em 2020176

E a porcentagem de leite importado em relação ao consumo total do País em2020, será:

Os principais fatores que justificam a resposta:

(80%) Maior liberação do comércio internacional de lácteos, ainda que deforma gradativa.

(67%) Aquisições, fusões, alianças estratégicas e joint-ventures que têm au-mentado e devem continuar ditando a tendência.

(32%) Dificuldade de acesso aos diversos mercados somada à dificuldade decrescimento das empresas nas regiões tradicionais, tem levado diver-sas empresas multinacionais a fazer investimentos diretos em váriospaíses.

(29%) Prevalência de barreiras não-tarifárias no comércio internacional comrestrições à entrada de mercadorias importadas (requisitos técnicos,sanitários, ambientais, laborais, quotas e contingenciamento de impor-tação, valoração aduaneira).

(27%) Depressão dos preços internacionais e o deslocamento da produçãoeficiente dos países que não subsidiam suas produções, inclusive aque-les em desenvolvimento.

(22%) Altas tarifas de importação, ajudas governamentais internas e subsídi-os às exportações crescentes.

(8%) A prevalência de preços internacionais artificialmente baixos pode in-centivar as importações de lácteos pelo país, deprimindo os preços nomercado interno e prejudicando a produção nacional.

(19% ) Outros: Aumento da demanda global de lácteos e dificuldade crônicade suprir essa oferta, resultando em preços mais elevados e abrindoespaço para o Brasil exportar mais./ A produção vai crescer e o consu-mo também, conforme citado nas outras perguntas, porém a produçãovai crescer proporcionalmente mais do que o consumo, e vai ocorreruma maior oferta de leite no mercado, que será direcionado para omercado internacional.

Resultados Rodada 1 – Porcentagem

do leite importado em relação ao

consumo total em 2020.

Primeiro Quartil 2,0Mediana 3,0Terceiro Quartil 5,0

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177Cenários para o leite no Brasil em 2020

Comentários

♦ Acredita-se que haverá aumento das exportações porque haverá maiorliberalização do comércio internacional.

♦ Outros pontos não indicados e que poderiam ser considerados são: o aumen-to da demanda de lácteos e preços elevados, além da demanda em paísesemergentes e também a questão de vazão do excedente da produção nacio-nal. Outro aspecto é a seca/perda de competitividade de regiões exportado-ras, como a Austrália e a EU, que deverá focar mais o mercado intra-EU.Limitações de qualidade, incluindo a questão sanitária, como possível entra-ve, também podem vir a ser considerados.

Preços internacionais dos lácteosPreços internacionais dos lácteosPreços internacionais dos lácteosPreços internacionais dos lácteosPreços internacionais dos lácteos

De acordo com o último relatório do USDA (2007), durante o último trimestrede 2006, os preços internacionais dos produtos lácteos subiram significativamen-te para a maioria das commodities, particularmente para o leite em pó desnatado.

Fig. 8.

Fonte:

Preços internacionais do leite em pó desnatado nos USA e

Austrália – 2003 a 2006.

FAS e AMS.

2.900

2.700

2.500

2.300

2.100

1.900

1.700

1.500

S/M

T

Jan.

03 Apr.

Jul.

Oct.

Jan.

04

Apr.0

4

Jul.

Oct.

Jan.

05

Apr.0

5

Jul.

Oct.

Jan.

06 Apr.

Jul.

Oct.

Oceania FOB

U.S FOB West

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Cenários para o leite no Brasil em 2020178

As perspectivas para 2007 são positivas e os preços internacionais de lácteossuperarão as médias de 2006. Os fatores por trás dessa rápida recuperação nospreços dos produtos lácteos são a forte demanda na Ásia e Oriente Médio e aoferta limitada de exportações. Enquanto a Austrália é freqüentemente citadacomo uma variável chave, é evidente que a drástica redução nas exportações daEU 25 tiveram um forte impacto sobre os preços. Para 2007, é improvável que asituação seja remediada, pois as exportações da EU 25 de manteiga e leite em pódeverão continuar a declinar, enquanto a nova estação de produção na Oceanianão iniciará até o final do primeiro semestre do ano.

Com relação ao aumento dos preços no mercado internacional e a expectativade que se mantenham em patamares elevados, os EUA são competitivos mundial-mente sem a necessidade de subsídios de exportação. A Austrália apresentapouca chance de crescimento devido a problemas climáticos que limitam a produ-ção. A Nova Zelândia pode crescer, mas aumentando os custos, por meio dasuplementação. Nesse contexto, a Argentina é tida como o país de maior potenci-al de crescimento, embora tenha sido afetado por condições climáticas e por umapolítica econômica que desestimula investimentos e exportações.

Uma vez que os preços em US$ no mercado internacional atualmente estãoem níveis recordes, o que acontecerá com os preços dos lácteos no mercadointernacional, até 2020:

(35%) Aumentarão(32%) Diminuirão(33%) Devem manter-se no mesmo patamar

Observações

♦ Não há uma tendência clara do que as pessoas esperam.♦ Um dos fatores que podem levar a isso é o fato de estarmos em momentos

inéditos de preços de leite, tornando difícil qualquer previsão.♦ O efeito do direcionamento dos grãos para produção de energia é um fator

novo que não foi considerado no questionário.♦ Quanto às características de competitividade do setor lácteo brasileiro,

pode-se apontar como pontos fortes a grande produção (e crescente) acustos competitivos, o grande potencial de expansão da produção e a boaqualidade do leite em pó e do leite condensado, importante produto da pautade exportação nos últimos anos. Os pontos fracos estão relacionados à faltade tradição na exportação de lácteos e o fato de ser um importador recor-

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179Cenários para o leite no Brasil em 2020

rente, a forte concorrência com a Argentina e Uruguai e a lentidão naeliminação de barreiras sanitárias e tributárias. Considerando este contexto,o papel do Brasil no mercado internacional de lácteos, até 2020, será:

(81%) As exportações brasileiras irão crescer de forma sustentável no longoprazo, com o País tornando-se um importante player do setor.

(10%) As exportações serão modestas e o Brasil participará do mercadointernacional com pouca expressão no longo prazo.

(10%) O Brasil irá aproveitar algumas oportunidades momentâneas e pontu-ais, dependendo do preço dos produtos, mas não conseguirá umacompetitividade sustentável no longo prazo.

Comentários♦ A maioria dos especialistas acredita no potencial de crescimento das expor-

tações do País. Os principais fatores que justificam são o crescimento daprodução, e, portanto, as exportações são a melhor forma para o escoamen-to do excedente. No entanto, há quem diga que um crescimento do mercadointerno (consumo) absorverá o aumento da oferta brasileira.

♦ A qualidade foi bastante citada como fator limitante ao crescimento dasexportações, mas no geral a maioria dos comentários mostra uma visãootimista quanto ao crescimento desse segmento.

Legislação e economiaLegislação e economiaLegislação e economiaLegislação e economiaLegislação e economia

Legislação sanitária

Principais mudanças até 2020.

Principais mudanças na legislação sanitária Porcentagem de indicações

Maior rigor e exigências sanitárias (incluindo padrões internacionais) 20Controle/erradicação de tuberculose e brucelose 18Maior fiscalização 17Implantação efetiva da Instrução Normativa 51 10Monitoramento de resíduos do leite/pesticidas 10Controle de febre aftosa 7Maior ação da Anvisa 4Rastreabilidade 4Combate a fraudes 3Controle biológico 1Unificação de sistemas de inspeção federal, estadual e municipal 1Outros 6

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Cenários para o leite no Brasil em 2020180

Impactos no setor de lácteos em 2020.

Principais impactos no setor de lácteos Porcentagem de indicações

Aspectos positivos (melhoria da qualidade, adequação a padrõesinternacionais, profissionalização, redução de fraudes einformalidade) 63

Aumento de custos 10Aumento das barreiras e exigências a exportação 8Inviabilização da atividade/redução do número de indústrias e

produtores 8Maior pressão em relação a qualidade do leite 3Ajustes – perdas para quem não se adequar 3Dificuldade dos pequenos produtores em se adequar 3

As mudanças macroeconômicas devem trazer impactos ao setor de leite, até2020 são:

Principais mudanças macroeconômicas Porcentagem de indicações

Redução de tributos/reforma fiscal/fim da guerra fiscal 17Política cambial adequada/melhor relação cambial 15Aumento da renda, especialmente da população mais pobre 12Redução dos juros e maior acesso a crédito 11Melhoria da economia (brasileira e/ou global) 8Estabilidade da economia 5Aumento do comércio internacional de lácteos 4Políticas de apoio ao setor mais dinâmicas/mais presentes 2Mais programas governamentais de aquisição de leite 1Aumento do preço da terra 1Marketing institucional de lácteos 1Aumento dos conflitos no campo 1Menos subsídios 1Inflação mais baixa 1Interiorização do desenvolvimento 1Maior articulação da cadeia produtiva 1Maior tecnificação e profissionalização 1Queda do preço das commodities 1Controle do monopólio nas embalagens 1Controle da força do varejo 1Aumento da globalização 1Aumento dos preços internacionais de lácteos 1Maior fiscalização de tributos 1

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181Cenários para o leite no Brasil em 2020

Principais impactos no setor de lácteos Porcentagem de indicações

Aumento da demanda interna e consumo 19Estímulo às exportações/aumento das exportações 16Aumento da competitividade do setor 15Desenvolvimento da produção/crescimento 15Efeitos positivos em geral 5Aumento da renda do produtor 3Organização da cadeia produtiva 2Redução de tributos à exportação 2Profissionalização do setor 2Melhor relação com o varejo 2Aumento dos preços do leite 2Melhoria da qualidade dos produtos 2Aumento da capacidade de investimento 2Aumento dos custos 2Efeitos negativos 2Maior concentração do varejo e indústria 2Aumento do crédito 2

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Cenários para o leite no Brasil em 2020182

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Referências bibliográficas

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Cenários para o leite no Brasil em 2020184

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