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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PROJETO A VEZ DO MESTRE ARTE NA APRENDIZAGEM: UM CAMINHO PARA TOTALIDADE DO HOMEM CÉLIA LOPES TEIXEIRA Rio de Janeiro, outubro de 2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESDIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICASPROJETO A VEZ DO MESTRE

ARTE NA APRENDIZAGEM:UM CAMINHO PARA TOTALIDADE DO HOMEM

CÉLIA LOPES TEIXEIRA

Rio de Janeiro, outubro de 2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESDIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICASPROJETO A VEZ DO MESTRE

ARTE NA APRENDIZAGEM:UM CAMINHO PARA TOTALIDADE DO HOMEM

CÉLIA LOPES TEIXEIRA

Trabalho monográfico apresentadoà UCAM como requisito parcial para obtenção

do Grau de Especialista em Psicopedagogia

Rio de Janeiro, outubro de 2001

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Agradeço aos amigos que estimularama realização deste trabalho,

emprestando livros, trocando idéias emostrando-me a importância da perseverança.

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“... Abrir o ângulo, fechar o foco sobre a vidaTranscender, pela lente do amor

Sair do cético, encontrar um beco sem saídaTranscender, pela lente do amor

Do amor...

Pela lente do amorSou capaz de entender

Os detalhes da alma de alguémPela lente do amor

Vejo a flor me dizerQue ainda posso enxergar mais além...”

Gilberto GilLente do amor 1980

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é evidenciar a

importância da arte no processo de aprendizagem, e assim, contribuir para

o desenvolvimento do Ser Humano, em na sua totalidade. Através de

pesquisa bibliográfica, são descritas as características que tornam o

Homem, Ser Humano: sua capacidade de simbolizar e imaginar. Buscando

na literatura recente, as novas abordagens sobre o Homem que surgiram

nesta virada de século. Descobrindo-se que a subjetividade é uma

característica singular no homem. E que esta, pode ser expressa através

da arte. Seja para entrar em contato com conteúdos internos da psique,

seja para expressa-los para o mundo e assim entrar no dialogo com o meio

social. Desse processo ocorre um significar e resignificar de vivências,

possibilitando uma reflexão e contribuindo para ampliação da consciência,

no caso individual, para depois ocorrer o contado com a alteridade. Num

processo de contínuo aprendizado o homem transforma-se e transforma o

mundo em que vive.

SUMÁRIO

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RESUMO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

1. A CULTURA, A ARTE E A EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO

DA NATUREZA HUMANA 2

1.1. Cultura e Humanização 2

1.2. A Imaginação e a Consciência Humana 6

1.3. Imagem, Imaginação e Imaginário 9

2. ARTE: UMA FORMA DE COMUNICAÇÃO HUMANA 13

2.1. Arte como Linguagem 13

2.2. Arte como Forma de Acesso ao Inconsciente 17

2.3. A Arte como Diálogo Social 19

3. A ARTE E A EDUCAÇÃO 20

3.1. Relacionamento da Arte com a Aprendizagem 20

3.2. Novos Paradigmas para a Arte e a Educação 23

3.3. Uso da Arte em Psicopedagogia 25

CONCLUSÃO 28

BIBLIOGRAFIA 29

ANEXOS 31

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INTRODUÇÃO

Comenta-se, com freqüência, a respeito dos

avanços tecnológicos e o progresso humano, enfatizando-se a rapidez e a

eficiência existentes no mundo atual. A tecnologia é a intermediária nas relações,

paradoxalmente ela encurta o espaço/tempo e distância o homem de seu

semelhante e de si mesmo. A receptividade para estabelecer uma relação de

troca, que possibilita entender a lógica do outro, e perceber o mundo por vários

ângulos, está abalada. Num mundo de oferta maciça de imagens, as pessoas

passaram a ser consumidoras passivas, ao invés de refletir sobre elas.

Assim, o movimento crescente do uso de

imagens nos meios de comunicação relega a imagem a função de diversão,

não como exercício da capacidade humana de simbolizar e refletir.

Este presente trabalho tem a intenção de

recolher informações sobre essa forma de comunicação humana, que é a

arte. Buscará reunir conceitos que explicam a capacidade de expressão

enquanto definidora do homem enquanto ser humano. Com essas

informações, buscara-se verificar sua relação com a arte e a educação. E

se estas teorias podem ser utilizadas no processo de aprendizagem,

principalmente como forma de desenvolver a totalidade do homem.

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1. A ARTE, A CULTURA E A EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DA NATUREZAHUMANA

Este primeiro capítulo reúne informações no campo

da antropologia e filosofia sobre o que há de mais singular no ser humano, ou

seja, sua capacidade de produzir cultura, de imaginar. E ao se examinarem as

pesquisas, verifica-se que o homem representa mentalmente, analisa, imagina,

cria a partir da experiência, o que fez ontem, é modificado hoje e se elabora no

futuro. Assim surge a cultura, e a experiência da geração anterior (passado) serve

de base (presente) para novas formulações (futuro).

A capacidade de imaginar, é importante para

construção de sua consciência, para que possa refletir sobre sua atuação no

mundo. O homem torna-se mais homem, na medida em que se expressa,

vivencia suas idéias, refletindo sobre as mesmas. Como será visto a seguir.

1.1. Cultura e Humanização

Desde o final do século XIX, os antropólogos

elaboram conceitos sobre cultura, sem no entanto chegarem a um

consenso. Interessantemente, o conceito de cultura varia no tempo, no

espaço e em sua essência. Laraia(1989) relata esse caminho percorrido

pelos antropólogos. As diversas teorias que apareceram ao longo do

tempo, evidenciando o seu caráter dinâmica, demonstrando como a cultura

condiciona a visão de mundo do homem, e como os indivíduos participam

de formas diferentes dentro da sua própria cultura.

Marconi(1992:43) mostra que as “...colocações

divergentes, ao longo do tempo permitem apreender a cultura como um todo, sob

vários enfoques”, que são:

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“idéias (conhecimento e filosofia); crenças (religião esuperstição); valores (ideologia e moral); normas(costumes e leis); atitudes (preconceito e respeito aopróximo); padrões de conduta (monogamia, tabu);abstração do comportamento (símbolos ecompromissos); instituições (família e sistemaseconômicos); técnicas (artes e habilidades) eartefatos (machado de pedra, telefone).” (ibidem:44)

Das diversas teorias que surgiram, e entre o

material consultado, pode-se usar a palavra cultura conforme Aranha,

“No sentido amplo, antropológico, cultura é tudo oque o Homem faz, seja material ou espiritual, sejapensamento ou ação”. E no sentido restrito podemosconsiderar “como produção intelectual de um povo,expressa nas produções filosóficas, científicas,artísticas, literárias, religiosas (...) Nesse sentidopessoas ou grupos se ocupam com diferentesformas de expressão cultural ( o artista , o escritor, ofilósofo, o cientista e assim por diante)”.(ARANHA,1996:14)

É nesse sentido restrito que evidencia-se que

por meio de valores e conhecimento o Homem faz a representação

simbólica da realidade. Esta construção de símbolos é a forma do Homem

representar o mundo, relacionar-se com ele. Nesse ponto observa-se a

escala zoológica, nos níveis mais baixos, onde as atividades dos animais

são determinadas por suas condições biológicas.

Conforme Chauí(2000:3), sua ação caracteriza-se

por reflexos e instintos e “esses atos não tem história, não se renovam(...)E

mesmo quando há tais modificações, elas continuam valendo para todos os

indivíduos da espécie(...) passando a ser transmitida hereditariamente”.

Diferenciando-se com isso o Homem do animal.

Em contrapartida, ao observar-se os níveis

crescentes na escala zoológica, estes instintos diminuem sua influência,

como por exemplo nos animais domésticos e principalmente nos macacos.

Algumas pesquisas experimentais, demonstraram que certo atos não são

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instintivos (reflexo), mas um ato de inteligência. Neste caso, de inteligência

concreta, eles dependem da experiência vivida, mas o ato esgota-se no

seu movimento. Já o ato humano, é voluntário, pois é consciente de

finalidade. Chauí prossegue colocando que:

“...o ato existente antes como pensamento, comopossibilidade, e a execução é o resultado da escolhados meios necessários para atingir os fins propostos.Quando há interferências externas no processo, osplano também são modificados para se adequaremàs novas situações” (CHAUÍ,2000:3)

Portanto o animal não adquire experiência, seu

ato não tem significado devido a sua percepção de tempo ser sempre no

presente. Já o Homem, capaz de simbolizar, utiliza-se da linguagem para

distanciar-se da experiência vivida, reorganizá-la e dar-lhe sentido,

ampliando sua percepção de tempo. A linguagem, ou seja a simbolização,

possibilita esta distância, mas também o seu retorno, através da expressão

ocorrendo a transformação do mundo. Neste ponto Chauí coloca uma

questão muito importante:

“se não tem [Homem] oportunidade de desenvolver eenriquecer a linguagem, o Homem torna-se incapazde compreender e agir sobre o mundo que o cerca”,e depois acrescenta ”se a palavra que distingue oHomem de todos os seres vivos, se encontraenfraquecida na possibilidade de expressão é opróprio Homem que se desumaniza”.(ibidem:5)

Deve-se salientar novamente a diferença entre

os outros animais e o ser humano. É justamente essa capacidade do ser

humano de simbolizar, utilizando-se do símbolo para expressar-se,

questionar seus próprios hábitos e os modificar através da experiência, que

torna o homem ser humano. Assim, observa-se a importância dessa

capacidade humana, e o quanto a sociedade deve estar atenta para

garantir e desenvolver o exercício dessa capacidade. Ressalta-se a

importância da educação e do papel da arte nesse processo.

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Se a cultura for considerada como algo a ser

somente transmitido, como lembra Aranha(1996:39) “o Homem culto seria aquele

que tem posse de conhecimento, não se levando em conta o dinamismo da

cultura a sua dupla dimensão de construção e ruptura”. A autora prossegue que

ao observar-se a sociedade notara-se a divisão entre trabalhadores intelectuais e

manuais, separando assim os “cultos dos incultos”. Só que se “O Homem se

define na medida que é capaz de produzir cultura, não existe Homem inculto”.

(ibidem:39). Até porque o conceito de cultura coloca esta capacidade definidora

do ser humano.

Segundo Aranha(1996:16) “A cultura é

,portanto, o resultado do trabalho humano” , ou seja, o homem é capaz de agir

sobre o mundo como uma finalidade consciente. Ele cria o mundo e si mesmo.

Nesse processo o homem “...produz sua própria existência, desenvolve condutas

sociais, a fim de atender necessidades do grupo”.(ibidem:16). Isso nos conduz a

conclusão de que o homem cria significado, estes se estabelecem na sociedade e

que vão sendo passados para novas gerações. Esse mundo cultural é bem

diversificado, cada grupo estabelece seus códigos, que influencia cada integrante

e ao mesmo tempo possibilita uma transformação por parte dele.

Pode-se concluir este capítulo, salientando-

se o aspecto dinâmico da natureza humana através das palavras de

Aranha, (ibidem:18):

“A educação é , portanto, fundamental para asocialização do homem e sua humanização. Trata-se de um processo que dura a vida toda e não serestringe à mera continuidade da tradição, poissupões a possibilidade de rupturas, pelas quais acultura se renova e o homem faz a história”.

1.2. A Imagem e a Consciência Humana

Conforme já mencionado anteriormente, o homem

utiliza-se de símbolos, para construção de si mesmo e do mundo. De acordo com

Stort(1993:30), baseando-se em Morin, no seu livro “O enigma do Homem”, o

imaginário surge na consciência da morte e para superar esta crise, ele a elabora

no funeral, “...revelando que a presença da morte passa a afetar a vida humana,

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mobilizando-a, e o homem não apenas a recusa, mas a soluciona e vence, no

mito e na magia”.

Seguindo-se a descrição de Morin, por Stort,

observa-se que a consciência da morte, faz com que coexistam duas dimensões

de acesso ao mundo, consciência objetiva e outra subjetiva, que na verdade

mostram a dualidade do indivíduo e do objeto. Assim, “... os objetos adquirem

uma segunda existência, a existência em imagem mental fora da percepção

empírica imediata e a ela semelhante”, estabelecendo a ligação, imaginária com o

mundo”. (ibidem:31)

No que confere a arte, Stort(ibidem:31) coloca

que para o homem Neanderthal, a arte associava-se ao real e a atividades

práticas. Nos progresso evolutivos o homem Sapiens emerge ao tomar a

consciência da morte, onde o corpo morto oferece uma presença de vida. A

arte surge integrada a rituais e mágicas. Como Andrés mostra sobre este

fato:

”...Sua necessidade criadora era dirigida para aconquista das forças da natureza ou para a tentativade desvendar o mistério da vida. De olhos voltadospara as estrelas, indagava. Sua arte revestia-se deum caráter místico, concentrando no sentimentouniversal e eterno”. (ANDRÉS,2000:16).

Assim percebe-se que a imaginação é uma

qualidade intrínseca do ser humano. E esse processo, como já mencionado

através de Chauí, ocorre devido ao ato humano ser voluntário, e

compreendido na experiência. Ao simbolizar, afastar-se da realidade, o

homem adquire subjetividade, um outro espaço, onde procura entender

esse paradoxo, suas questões existenciais. E nesse processo ele amplia

seu conhecimento de si e do mundo, ou seja sua consciência. Segundo

Stort (1993:35):

“O progresso da consciência estão ligados àcomplificação social e, a partir de certos limites, osprogressos sociais dependerão também, cada vezmais, do desenvolvimento das consciênciasindividuais”.

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O desenvolvimento da consciência, necessita da

existência do paradoxo da ausência presente. Conforme Stort(1993:34) “O

fenômeno da consciência supõe uma aptidão reflexiva, que só aparece

quando as idéias e as noções objetivaram-se em símbolos, ou seja, quando

foi possível constituir sistemas cognitivos”.

Conforme Stort(1993:34) a consciência surge no

processo de desenvolvimento humano, e essa ambigüidade, a

individualidade do ser se revela, tornando-o sujeito. E para que este possa

entende-la, ou seja, separar real e imaginado. O homem necessita

experimentar e, nesse processo imaginar, por em prática, a consciência se

amplia e vai se constituindo.

Nesse ponto, deve-se procurar esclarecer sobre

outro enfoque o que se entende por consciência. Segundo Chauí(2000:117)

“A capacidade humana para conhecer, para saberque conhece e para saber o que sabe que conhece.A consciência é um conhecimento (das coisas em si)e um conhecimento desse conhecimento (reflexão)”

A autora relata outros tipos de vista, como oda psicologia em que,

“... a consciência é o sentimento de nossa própriaidentidade: é o EU, um fluxo temporal de estadoscorporais e mentais, que retém o passado namemória, percebe o presente pela atenção e esperao futuro pela imaginação e pelo pensamento”.(ibidem:117)

A psicologia enfatiza o que o ser vivencia, na

sua individualidade, formando sua consciência na sua forma de opinar, agir,

sentir e compreender o que ocorre interna e externamente.

Por outro ponto de vista, o da ética e moral,

Chauí(ibidem:117) fala que consciência, “É a pessoa dotada de vontade livre e de

responsabilidade”, sendo assim “...a capacidade para compreender e interpretar

sua situação e sua condição”. Com isso a pessoa é capaz de viver em sociedade,

observando o que seja mais adequado à liberdade e à responsabilidade nas usas

ações individuais na convivência com os outros, respeitando as normas e

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contestando-as também se necessário para manter a liberdade e a

responsabilidade sua e dos outros.

No ponto de vista político, Chauí(ibidem:118)

mostra que “...a consciência é o cidadão”, é tanto o indivíduo social quanto o

membro de uma classe social relacionando-se com a “esfera pública do poder e

da leis”, no que cabe seus direitos e defesa dos interesses do grupo.

Os indivíduos relacionam-se pelos códigos morais e

políticos, e na vivência deles o eu , a consciência se forma seja da pessoa (moral)

seja a do cidadão (política) e constitui-se agente na transformação e da

organização social.

Pelo ponto de vista do conhecimento,

Chauí(ibidem:118) fala que “... a consciência é uma atividade sensível e

intelectual dotada do poder de análise, síntese e representação. (...) É o

entendimento propriamente dito”. Não importando em que modalidade for,

observa-se que a consciência é subjetiva, e cada uma dessas modalidades a

constitui, e de forma ativa.

Segundo Chauí(2000:119), a consciência nem

sempre está alerta e atenta, e apresenta graus, que distinguem-se em

consciência passiva, a consciência vivida, mas não reflexiva e a consciência ativa

e reflexiva. Na primeira, “...tem-se uma vaga e confusa percepção de nós

mesmos”. Na segunda, é uma consciência que parte da própria pessoa, sem

separar-se o seu eu do outro ou das coisas. Refere-se a afetividade, portanto

percebe-se a partir dos próprios sentimentos, como isso “...o mundo só existe a

partir dos seus sentimentos de amor, ódio, cólera, alegria, tristeza, etc.” Na

terceira, a consciência neste grau consegue perceber a diferença entre o externo

e o interno, entre o eu e as pessoas ou coisas. E “Esse grau de consciência é o

que permite a existência da consciência em suas quatro modalidades, isto é, eu

pessoa, cidadão e sujeito.”

Sobre o último grau Chauí acrescenta que para

fenomelologia, consciência é consciência de alguma coisa. E que:

“.. A consciência realiza atos (perceber, lembrar,imaginar, falar, refletir, o pensar) e visa a conteúdosou significações (o percebido, o lembrado, o

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imaginado, o falado , o refletido, o pensado) Osujeito do conhecimento é aquele que reflete sobreas relações entre atos e significações e conhece aestrutura formada por ele (a percepção, aimaginação, a memória, a linguagem, opensamento)”.(CHAUÍ 2000:119)

Assim, observa-se através destes conceitos,

que a imaginação e consciência são processo psicológicos em todos os homens,

e que a arte e a educação são meio para estimular e desenvolve-las. Ao favorecer

as contradições, a consciência será estimulada. Cada indivíduo ao vivenciar suas

atividades, poderá refletir seu papel na experiência. Com isso, perceber-se como

sujeito na sua vida e na sociedade em que vive.

1.3. A Imagem, a Imaginação e o Imaginário

Conforme relatado anteriormente, a antropologia

nos informa que o homem é um ser simbólico, portanto utiliza-se de

símbolos. É através dele que o homem cria seu mundo, afastando-se da

presença concreta do objeto, reconhecendo-o num plano significativo. E

quando fala, o recoloca no mundo concreto, mas agora na dimensão

cultural.

Nesse processo o homem está utilizando de

imagens. Segundo Chauí(2000:134) a imagem é um análogo do ausente, e

portanto diferente do percebido. A autora demonstra a diferença de

perceber e imaginar, Estes que são “dois estados de consciência

simultâneos e diferentes”. (ibidem:134). Ao perceber, capto o que chega

pelos sentidos, o que observo, por exemplo, ao observar-se um carro,

percebe-se seus aspectos constitutivos, mas imagina-se a alegria da

família ao viajar para um determinado lugar. Está-se dando sentidos que

não correspondem ao percebido, cria-se “...sentidos inexistentes ou

presentifica-se o ausente”. Então se é inexistente a imagem é criação, só

existe enquanto imagem.

Raramente a imagem corresponde materialmente à

coisa imaginada, elas são irreais, como Chauí(2000:133) exemplifica “um quadro

é real enquanto quadro percebido mas é irreal quando comparado a paisagem da

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qual é imagem”. Portanto, a imagem pode ser testemunha irreal, ou seja, algo que

existe mas não está presente, e pode ser também imagem criadora, ela apresenta

algo que não existe, ou melhor que só existe enquanto imagem. Nestes dois

casos, o objeto-em-imagem é imaginário, seja por não estar presente, seja por

não existir. Percebendo-se que “...pela imaginação relacionamo-nos com o

ausente e com o inexistente”, como já relatado anteriormente (capítulo1.2). A

imaginação surge exatamente no paradoxo da consciência da morte, da ausência

presente.

Segundo Chauí(2000:135), distingue-se várias

modalidades de imaginação: A imaginação quando “...toma suas imagens da

percepção e da memória, ela é reprodutora” ; A imaginação é evocadora, quando

“...presentifica o ausente por meio de imagens com forte tonalidade afetiva”. Ela é

irrealizadora, tendo forte tonalidade mágica, quando “...torna ausente o presente e

nos coloca vivendo numa outra realidade que é só nossa, como no sonho, no

devaneio e no brinquedo”; A imaginação é fabuladora, nessa modalidade procura

se explicar situações da vida humana, é a imaginação religiosa, que cria os mitos

e as lendas, tem caráter social ou coletivo; E a última modalidade é a criadora,

que combina “elementos afetivos, intelectuais e culturais que preparam as

condições para que algo novo seja criado e que só exista primeiro, como imagem

prospectiva ou como uma possibilidade aberta”. Assim, para que ocorra ela

necessita da percepção, da memória, de idéias existentes, da imaginação

reprodutora e evocadora.

Através desse enfoque filosófico tratado por

Chauí, observa-se o conceito sobre imagem e imaginação. Como tam’bem

a possibilidade de entender um pouco sobre o processo artístico. O artista

que nos mostra algo que não havíamos percebido e nos faz conhece-la, e a

realidade ganha sentido. E como nossa vida está permeada pela

imaginação, uma capacidade humana que deve ser estimulada para que o

homem possa desenvolver-se, buscando sua totalidade.

Chauí(2000:136) destaca a diferença

importante, sobre o imaginário reprodutor e a imaginação criadora e utópica, pois

ao reproduzir-se imagens, apresenta-se tudo pronto, que quando é social é a

ideologia. Essa imagem oculta a verdade, opera-se por ilusões, ídolos e

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preconceitos. Quando opera-se na invenção buscando mudança, está-se

criticando o presente, usando se da imagem para confrontar a realidade. Tendo

uma função importante para o conhecimento da realidade e sua transformação.

Investigando-se sobre conceitos de imagem,

imaginação e imaginário, Novaes(1985:29) em seu artigo esclarece de

forma sucinta estas diferenças:

“...a primeira está ligada à representação mental deum objeto, manifestação sensível do abstrato ou doinvisível ou à representação exata, analógica do ser,sendo aquilo que evoca determinada coisa, por tercom ele semelhança ou relação simbólica, podendoser gráfica, plástica, fotográfica, cinematográfica outelevisionada e relacionada a pessoas, objetos,eventos ou cenas. Já imaginação relaciona-se àcapacidade de evocar imagens ou objetospercebidos ou não anteriormente, combinando einventando idéias, personagens ou cenas; já oimaginário diz respeito ao ilusório e ao fantástico,englobando conceitos, símbolos e práxis”

Verifica-se que estes conceitos referem-se a

experiência humana, e que ao perceber a diferença entre observado na natureza

e o que é imaginado o homem transforma a natureza e cria a cultura.

Acrescentando comentário de Stort(1993:55) a imaginação é um “elemento de

adaptação” e que através dela “o homem afirma ser ele próprio”. É através dela

que ele expressa sua alma e de certo modo algo de universal no homem. Stort

prossegue:

“A imaginação proclama que o mundo tem e que seruma expressão dos valores humanos. O homem vivenum universo significativo quando existe harmoniaentre seus valores e o mundo. Se esta harmoniaencontra-se ameaçada e o homem sente seusvalores sendo destruídos pela realidade, suapersonalidade desintegra-se”.(STORT,1993:55)

Deve-se salientar a importância da imaginação na

vida humana, do homem enquanto criador, sujeito da ação, não como reprodutor

ou ser criado pela imaginação. Stort(1996:49-50) descreve as funções da

imaginação (vide anexo 1), e sobre isso ao relacionarmos com a arte e a

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educação observa-se a importância do desenvolvimento contínuo da abstração,

contribuindo para o pensar produtivo e ao incentivar-se a interpretação das

imagens, estimula-se o indivíduo a expressar-se, a ser curioso ser crítico a sua

cultura. Afinal, ao imaginar o homem está construindo o mundo em que vive, e ao

reproduzir e criar ele está desenvolvendo seu potencial humano. É exercendo

esse pensar imaginativo que ele encontra soluções inovadoras, aprende sobre o

mundo, o inventa e torna-se cada vez mais completo.

A partir da investigação realizada, observa-se que o

ser humano ao imaginar expressa sua singularidade, pois a imagem, não é o

objeto em si, mas a sua interpretação. Ao interpretar o ser humano combina o

meio interno e externo, integra sua consciência subjetiva e objetiva. Nesse ponto

pode-se buscar encontrar o papel da educação e especialmente da arte nesse

processo, como será visto nos próximos capítulos.

2. ARTE: UMA FORMA DE COMUNICAÇÃO HUMANA

conforme já descrito no capítulo anterior , o

homem é capaz de representar a realidade, ele cria símbolos, e com ele se

comunica, se expressa e se relaciona com o mundo.

Esta comunicação não se dá somente por

palavras, um símbolo lingüistico. Existem outras linguagens além da oral,

como a de gestos, a tátil, a auditiva. Dentro delas encontra-se a arte.

A arte como forma de comunicação permite

que entendamos as diversas culturas presentes no mundo e o nosso “eu”.

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Ela tem a capacidade de atravessar fronteiras, ela nos toca no que é

essencial no ser humano. Possibilita perceber a multiculturalidade, os

diversos modos de ver o mundo. Como Confúncio, sabiamente já disse ”A

natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm

separados” (in Laraia,1989:10)

2.1. A arte como Linguagem

Ao se examinar a pré-história depara-se com a

pintura nas cavernas . Ela mostra a capacidade de representação do

homem. A forma como observava o mundo à sua volta, e se apropriando

simbolicamente deste mundo o representava visualmente. Seus desenhos

tinham um significado, sua mensagem, que era compartilhada pelo artista e

pelo seu grupo.

Observando-se o desenvolvimento da arte através

da história, verifica-se variações nesta expressão. Variações no espaço e no

tempo, pois a arte também reflete a cultura na qual está inserida. De acordo com

Stort(1993: 49):

“A imaginação, portanto, é função, ao mesmo tempodos conhecimentos e das solicitações de certo tipode sociedade. Por isso, ela é histórica, vivendo etransformando-se segundo a vida dos homens, desuas descobertas e preocupações que traduz ereflete” (STORT,1993: 49),

Como a traduz e reflete? Já foi exposto no

capitulo anterior como o homem representa o mundo que o cerca. A arte é

uma dessas formas, através dela observa-se o imaginário de cada época,

os sentimentos individuais dos artistas, bem como os que permeavam a

sociedade em que vivia. O artista representava o que já fazia parte da

cultura, e acrescentava o que era sua vivencia de necessidade, de busca

de soluções. Assim verifica-se a dinâmica da cultura, as transformações no

desenvolvimento humano.

Consegue-se realizar esta observação porque a

arte é uma linguagem, e por ser um sistema simbólico ela é um sistema de

signos. Segundo as autoras do livro “Didática do ensino da arte”, Guerra,

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Martins e Picosque(1998:36), o homem utiliza-se de várias linguagens. Nas

artes tem-se a linguagem musical, cênica, a visual entre outras. E todas

utilizam-se de signos. Para explicar sobre isso, as autoras descrevem a

teoria do filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914),

que foi o criador da semiótica.(ibidem:38).

Segundo este filósofo, signo é aquilo que representa

algo, é o que fica no lugar do objeto sob algum aspecto ou qualidade deste, e que

para isto precisa ser compartilhado pelo receptor e emissor, nas suas referências

pessoais e culturais. E que ao observar-se um signo, este produz em nossa

mente um outro signo, que nos diz o que é o primeiro. O correndo uma relação

entre o objeto, o signo e a imagem mental.

As autoras Guerra, Martins e Picosque(1998:40)

refletem sobre um ponto interessante na idéia de Pierce, que ocorre nesse

processo : “...dá abrigo a uma diversidade cultural”. A realidade é interpretada

através de signos, e com isso não existe uma verdade única. Ela acrescenta que

“não é atoa que ensinar na sua origem etimológica, é apontar signos”. De acordo

com as autoras percebe-se um caráter libertador no processo de ensinar, elas

mesmas apontam o signo, a idéia, deixando-se para o leitor a liberdade de

interpretá-lo, de criar novos signos a partir dele.

Este interpretar, é claro, está ligado as vivências e

com a cultura na qual o indivíduo está inserido. Uma pessoa ao interpretar a

realidade, utiliza-se de signos e os escolhe de acordo com isso, selecionará

certos detalhes, ficando outros de fora. O indivíduo fará uma escolha, mesmo que

esta esteja de alguma forma influenciada pela cultura em que vive. Com isso,

está-se estabelecendo “...analogias a partir das nossas memórias pessoais e

culturais” (ibidem:44), nos relacionando com a realidade, integrando nossa

subjetividade com o coletivo.

O interessante da obra de arte , como as

autoras descrevem, “...é que ela é em si uma metáfora”(ibidem:44), ou

seja, permite-se compara-la com a coisa que substitui, e ao mesmo tempo

permite-se múltiplas interpretações. Evidencia-se que a arte não é uma

reprodução de algo que é visto pelo artista, mas na verdade ela revela

conteúdos. A arte refere-se a condição humana, aos questionamentos

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sobre a vida, revelando visões de mundo e a procura por respostas que o

homem persegue através dos tempos.

Neste ponto, levanta-se a questão da

imortalidade da obra de arte. Apesar de revelar a cultura, os modos de

observar uma época, ela nos trás esta época e os eu conteúdo se faz atual.

As autoras, ao analisarem estas questões, observam que ao contextualizar

a obra de arte, o ser humano pode entender o recorte de tempo/espaço

histórico, compreender o significado dela naquele momento. Ao mesmo

tempo, perceber que ao olhar a obra de arte, está-se olhando para uma

parte do ser humano, a singularidade do artista e o caráter universal e

atemporal da obra.

Ao observar a obra, ao interpretá-la, exerce-se a

capacidade simbólica humana. Só que esta capacidade está ligada ao

momento de vida, a subjetividade e a cultura de cada indivíduo. Assim, em

função disso ocorre uma significação desta obra. Esta significação varia de

pessoa para pessoa, cada um tem sua forma de olhar/perceber o mundo.

Evidenciando o caráter multidimensional da arte. Ao olhar-se uma obra de

arte, o indivíduo a trás para si, e reflete sobre ela, usando suas emoções

combinada com a sua razão. Nas palavras das autoras Guerra, Martins e

Picosque:

“A recepção que você faz do mundo através de seussentidos, percepção, imaginação , intuição, intelectonão é passiva, você não é um mero receptáculo deinformações, influências, conhecimentos etc. Naverdade, você seleciona o que toca você. Por issofaz um recorte da realidade, através do seu modo dever o mundo, do seu jeito de viver a vida e deemocionar-se ou não frente aso fatos, de pensarsobre eles, de chorar, rir, amar, sofrer, agir,interpretar, expressar. Dessa forma, o resultado dequalquer produção artística que você faça terá,inevitavelmente, a sua marca, a de sua história, desua ótica, fruto do ser único que você é”.(ibidem:80)

Neste parágrafo as autoras conseguem

sintetizar a idéia deste capítulo, e ao mesmo tempo direcionar a atenção

para o fato, que observa-se atualmente em algumas escolas, o

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desinteresse pelas atividades artísticas. São poucos os trabalhos que

valorizam e incentivam a descoberta e exercício da singularidade do ser

humano. No capítulo anterior, descreve-se a importância da consciência,

da capacidade crítica do ser humano. E a importância de desenvolve-la e

amplia-la.

A arte pode ser utilizada como um meio de

desenvolver-se a consciência. No seu processo pode-se fazer como que emoção

e razão caminhem juntas em colaboração. Já que pode-se através da arte,

demostrar um modo de ver o mundo, cada indivíduo pode construir um significado

de mundo para si mesmo. Através do exercício da expressão artística pode-se

significar e ressiginificar o que cada indivíduo percebe e vivencia em função

disso. Assim, surgir a possibilidade de cada indivíduo perceber-se como sujeito

único e ao mesmo tempo inserido numa sociedade, desenvolvendo as

consciências descritas por Chauí.

Estes pontos, ainda serão desenvolvidos ao

longos dos capítulos se seguem. A princípio, durante a pesquisa, observou-

se que os primeiros a conseguirem ampliar pesquisas sobre esta

característica humana foram os psicólogos.

2.2. Arte como Forma de Contato com o Inconsciente

Nos capítulos anteriores, observa-se como o

homem representa a realidade do mundo em que vive, a importância disso,

e em especial como ele expressa-se. No caso utilizando-se a linguagem

artística. Ao pesquisar especificamente sobre a imagem da arte, verifica-se

que o Ocidente valoriza a razão, a cognição, como acesso a verdade.

Enfatiza o uso da linguagem oral e verbal. Durand, no seu livro “o

Imaginário”(1998) coloca o percurso histórico da imagem, mostrando desde

a época iconoclasta, com o repúdio ao uso das imagens até o uso maciço

das imagens nos dias atuais.

De acordo com o autor, a imagem e a arte

nunca foram usadas como base para um conhecimento válido, a lógica

sempre foi valorizada. Especialmente no Ocidente, que direcionou-se para

um olhar utilitário e funcional do mundo. A imagem foi relegada a estatuto

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de diversão. O resultado observamos nas tecnologias de produção e

reprodução da imagem.

Duran(1998:30) argumenta que a imagem recuperou

seu prestígio com estudo da sociologia, antropologia e principalmente com a

psicologia. Foram os estudos de Freud, na sua descoberta em que teorizou a

existência do inconsciente, na qual a imagem representa um “sintoma”, e remete

ao significado desconhecido da situação do paciente. Para Duran(1998:36) “...a

imagem perde sua desvalorização clássica e deixa de ser uma simples “louca da

casa” para transformar-se na chave que dá acesso ao aposento mais secreto e

mais recalcado do psiquismo”. Assim a imagem passa a ser vista como

intermediária entre o consciente e o inconsciente humano.

Após os estudos de Freud, seguiram-se muitos

outras dentro da psicologia. No caso um dos discípulos de Freud, continuou neste

caminho. E de acordo com Duran(1998:37). “...para Jung, a imagem, por sua

própria construção é um modelo da autoconstrução ou individuação da psique”

Ele prossegue explicando alguns pontos da teoria de Jung, e coloca o novo papel

da arte atribuído por Jung, não mais como sintoma, mas como agente terapêutico.

E a partir disso vários estudos se seguiram.

Na psicologia, a imagem está presente em

testes, como a do psiquiatra suíço Hermann Roschacha, entre vários

outros. A imagem, passa a ser aceita pela maioria dos pesquisadores como

método diagnostico, mas muitos ainda desconfiam do uso da expressão

artística no processo terapêutico. A imagem ainda não conseguiu alcançar

respeito entre os pesquisadores. Mesmo assim, alguns seguiram as teorias

deixadas por Jung. Aqui no Brasil a pioneira foi a Dra. Nise da Silveira. Ela

percebeu nos trabalhos de terapia ocupacional, o processo inconsciente

dos seus paciente registrados em suas produções.(ibidem:37).

De acordo com a própria Nise da Silveira, em

seu livro “Jung: vida e obra”(1994:167) deve-se ressaltar que nesta prática,

não está-se questionando o que é arte ou não, discussões encontradas

hoje com freqüência até mesmo entre os artistas consagrados. A intenção

é de pesquisa, de observar uma linguagem que vem das profundezas da

psique. Há pouco tempo, este tópico foi debatido entre críticos de arte,

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sobre a exposição “Imagens do Inconsciente” apresentação de trabalhos

dos internos do hospitais psiquiátricos: Pedro II, Juqueri e Colônia Juliano

Moreira, realizada no Paço imperial no Rio de Janeiro em outubro de 2000.

O importante a salientar é a possibilidade que a expressão artística permite

acessar o inconsciente, e permitir uma reflexão sobre si mesmo.

Muito tem-se pesquisado sobre a vida dos

artistas através de suas obras. A possibilidade de conhecer as aflições

internas do mesmos, ficam registradas em suas obras. Pode-se analisar

obras de arte nesta perspectiva, somente não esquecendo que para o

artista enquanto profissional, outros conhecimento são acionados durante a

confecção de suas obras, diferentemente ocorre com os pacientes

psiquiátricos, como observa a Dr.a Nise da Silveira em seu livro “Imagens

do inconsciente”(1981:42), de que “o artista tem a possibilidade de partir

para pesquisa de novas dimensões imaginárias, graças ao seu ego intacto

traz consigo a passagem de volta ao espaço comum, onde cumpre como

todo mundo as rotinas da vida diária”.

Assim percebe-se porque o senso comum

costuma associar imaginação com a loucura. Na verdade, imaginar é uma

necessidade humana, mas quando fatores psicológicos a perturbam, ela

altera-se. Ainda serão necessárias muitas pesquisas nesta área para

compreensão desta capacidade humana.

2.3. A Arte como Diálogo Social

Faz-se necessário comentar sucintamente o

papel da arte como ação cultural. A arte na comunicação entre a

diversidade cultural, ou seja, seu papel de apontar as diferenças culturais e

estimular a crítica social. Por exemplo as caricaturas em jornais. Estas

imagens referem sobre situações do cotidiano. E arte adquire um caráter

social, pois o artista expressa o que observa no mundo e convida à

reflexão aos que observam sua obra. Ele procura quebrar a mecanização e

alienação do mundo, que induz a reprodução de imagens devido a rapidez

que exige-se atualmente.

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Conforme já apontado anteriormente neste

capítulo, o homem utiliza-se de imagens para dar significados aos objetos.

Essa interpretação é de acordo com a singularidade de cada um,

influenciada é claro, pela cultura a que pertença. A cultura tem um caráter

dinâmico e diversificado. Nesse aspecto verificasse a arte na sociedade.

Ao permitir-se a expressão individual, verifica-se o exercício da liberdade e

a diversidade social. Nisso deve-se incentivar a valorização e o juízo

critico, para assim estimular-se o respeito ao semelhante e ao convívio em

sociedade.

Segundo Coelho (1989:21-22): “cultura é o que

move o indivíduo, o grupo, para longe da indiferença, da indistinção; é uma

construção, que só pode proceder pela diferenciação. Seu oposto é a diluição”.

No seu comentário, verifica-se a necessidade de coexistência da diversidade

cultural, das manifestações artísticas, e o problemas da massificação demasiada

da cultura nos nossos dias, incentivada pelo consumo.

A arte no contexto social, tem o papel

transformador, ela incentiva a imaginação a expressão das características

individuais e de grupos. Favorece o aprendizado de observar o mundo por

diversos ângulos, a o desenvolver-se a consciência da diversidade e da

alteridade.

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3. A ARTE NA EDUCAÇÃO

O homem através dos tempos desenvolveu e

exerceu ser poder criador, expressando sua identidade, transformando o

mundo ao seu redor. Isto foi possível a sua capacidade de simbolizar, de

olhar o mundo de vários ângulos. Assim podemos considerar uma ligação

da arte com a educação.

No processo educacional busca-se desenvolver

o ser humano, apontando o conhecimento existente e favorecendo que este

possa olhá-lo de forma criativa, ou seja, dialógica. Hoje, mais do que nunca

faz se necessário fornecer meios para que os alunos tronem-se

autônomos, seres críticos, que pensem e não reproduzam informações

existentes. Conscientes de serem sujeitos construtores de conhecimento.

Lembrando Paulo Freire no seu livro a pedagogia da esperança ”A

educação nada mais é do que o processo de busca da conclusão de si

mesmo”.

Neste início de século, nos deparamos com

novos paradigmas que apontam este caminho, que talvez não seja novo,

mas como disse uma vez o poeta Thiago de Mello ”Não tenho um caminho

novo, o que tenho é uma nova maneira de caminhar” (in Weil,2000:45).

3.1. Relacionamento da Arte com a Aprendizagem

A partir deste título pode-se pensar em

educação artística, ou na moderna arte-educação. Sendo que o objetivo é

ir além disso, investigar como a arte pode proporcionar meios de estimular

a subjetividade em tempos de crescente tecnologia. Quando a rapidez e

eficiência nos levam a permanecer passivos e repetidores de informações.

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Quando exalta-se a razão em detrimento da emoção, a negação da

singularidade humana pela massificação de gostos pela industria.

Sobre nisso, é importante refletir-se no que é

aprender. Observa-se que é algo necessário a sobrevivência de todas as

espécies, e seu nível de importância altera-se conforme ela também. Para

o Homem a aprendizagem inicia-se no seu nascimento e o acompanha até

a sua morte. De acordo com Campos(1971:15):

“Através dos séculos, por meio da aprendizagem,cada geração foi capaz de aproveitar-se dasexperiências e descobertas das gerações anteriorescomo também por sua vez, oferecer sua contribuiçãopara o crescente patrimônio do conhecimento e dastécnicas humanas. Os costumes, as leis, asreligiões, a linguagem e as instituições sociais tem-se desenvolvido e perpetuado, como um resultadoda capacidade do homem para aprender”

Nestas palavras, percebe-se a dinâmica cultural

e do próprio processo de aprendizado. O homem criou a cultura pela

capacidade de simbolizar, junto com sua capacidade de aprender.

Deparando-se com situações que o fizeram refletir e buscar soluções.

Deve-se acrescentar com isso que quando fala-se de aprendizagem, não

restringe-se no adquirir conhecimento da alfabetização, mas numa visão

ampla de tomar posse de valores culturais, de reconhecer-se como sujeito

com características próprias. Com sentimentos, desejos e poder exercer

sua cidadania.(ibidem:20).

Em seu livro Campos mostra vários aspectos e as

várias teorias sobre a aprendizagem, mas consegue resumir numa definição geral

o que é aprendizagem: “A aprendizagem é uma modificação do comportamento

ou da conduta, pelo exercício ou repetição” (ibidem:24).

Nesta definição, o uso da palavra “comportamento”,

pela autora, conduz à necessidade de realizar-se algo, que ocorra uma mudança,

e para isso é necessário uma situação que provoque isso. A autora comenta

sobre isso, utilizando-se da teoria de Cannon, o equilíbrio homeostásico. Nessa

teoria, que aplica-se também na motivação, o ser humano busca estar sempre no

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estado de equilíbrio, enquanto consegue responder as situações de forma que

domina, ele sente-se bem. No momento que não consegue, perde o equilíbrio e

busca formas de solucionar o problema para voltar ao estado de equilíbrio e

buscar formas de solucionar o problema para voltar ao estado de equilíbrio.

Nesse processo ele adquire novos comportamentos o que pode se chamar

aprendizagem.

A partir disso pode-se refletir na importância do

aluno no seu processo de aprendizagem. Da importância de colocar-se

problemas que o faça procurar soluções. E novamente, como já

argumentado por Stort, (vide cap.1) a importância do desenvolvimento das

consciências individuais, de cada ser humano perceber-se sujeito

construtor do processo de vida.

Stort(1993:125) também ressalta a importância

da educação como ”...transmissão e transformação da cultura”. É através

do aprendizado seja formal ou não, que o homem constitui-se como ser

humano. Essa característica deve ser estimulada, e não reprimida como

observa-se em alguns meios de comunicação, e nas escolas que se

pautam por um sistema educacional repetitivo. Neste ponto a arte te um

papel importante: o de inovação e difusão de idéias. De acordo com

Barbosa(1991:4):

“A arte não é apenas básico, mas fundamentalna educação de um país que se desenvolve.Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão,é uma forma diferente da palavra parainterpretar o mundo, a realidade, o imaginário, eé conteúdo. Como conteúdo, arte representa omelhor trabalho humano. Arte é qualidade queexercita nossa habilidade de julgar e de formularsignificados que excedem nossa capacidade dedizer em palavras”

A autora neste seu livro ”A imagem e o uso da

arte”

Ressalta a arte não tem um papel só na alfabetização, mas também um

papel humanizador, desenvolvendo a percepção e a imaginação.(ibidem:5).

Papel já comentado no capítulo anterior, como fundamental para o homem

captar a realidade do seu mundo, e com isso ser capaz de modificá-lo.

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Então, pode-se observar a importância de fazer-

se com que o homem desperte sua sensibilidade, não deixando-se

absorver pela mecanização e a fragmentação. E sim que desenvolva sua

totalidade, que tenha o sentido da sua ação , vinculando-se afetivamente

nela, para não deixar de criar. Nas palavras de Andrés(2000:148) “...A arte

é o caminho direto para esta redescoberta do eu, porque o ato criador

representa o próprio encontro com a vida”. Assim, a arte oferece-se como

caminho para que razão e emoção, possam estar juntas, e não mais

dissociadas no fazer humano.

3.2. Um Novo Paradigma para Arte e a Educação

Verificam-se em estudos atuais, falar-se muito

sobre mudança de paradigmas. Presenciamos uma época de mudanças.

Várias pesquisas realizam-se apontando para novos horizontes. Como por

exemplo, na psicologia cognitiva, as descobertas de Gardener, em que

diferentes áreas que são ativadas no cérebro, de acordo com a inteligência

usada. Contribui para reflexão da diversidade. De observar-se e valoriza-se

as diversas qualidades, potencialidade encontradas no homem, e mais

ainda, provocando um respeito por estas diferenças já que graus em que

ocorrem são diferentes em cada pessoa, sem a torná-la melhor ou pior que

outra.

As descobertas no campos da física, como a

física quântica, repercutiram nas ciências humanas, contribuindo para

estas mudanças. Para o surgimento de novos paradigmas. A princípio seria

importante falar sobre paradigma. Conforme Guimarães(2001), este termo

foi adotado pela primeira vez pelo físico Thomas S. Khun, no seu livro, A

estrutura das revoluções científicas. Então, segundo ele são certas teorias

e aplicações científicas, universalmente reconhecidas que, durante um

tempo fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de

praticantes de uma ciência, sendo legitimado por esta comunidade em

questão. Como por exemplo os paradigmas que a ciência já passou ou

passa, o geocêntrico, o heliocêntrico e o carteziano-newtoniano.

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Atualmente a civilização está em crise, a visão

carteziana-newtoniana esta sendo contestada por alguns cientistas, que

procuram novos paradigmas para a solução das questões humanas.

Verifica-se várias contribuições, como a física moderna, a ecologia, a

psicologia transpessoal e holística. Duas grandes organizações

internacionais a ONU e a UNESCO, conforme citado por Guimarães(2001)

buscam maneiras de solucionar os problemas humanos através de novos

paradigmas. Que possam trazer uma visão menos separatista, como

caracteriza-se a visão carteziana-newtoniana, uma visão de conjunto, do

homem integrado a natureza e a ele mesmo, esta nova visão chama-se

holismo.

Um estudioso nesse assunto, com muitos livros

publicados, é o reitor da Universidade Holística Internacional de Brasília

UNIPAZ, Pierre Weil. Em seu livro “A mudança de sentido e o sentido da

mudança”(2000), o autor explica que atualmente estamos numa era de

fragmentação devido ao paradigma carteziana-newtoniana. Weil propõe o

paradigma holista, e estabelece uma comparação entre o antigo paradigma

carteziana-newtoniana e o holismo em diversas áreas, entre as quais a arte

e a educação.

A característica desta mudança, encontram-se

num quadro (vide anexo 2). Observando-se estes dados, torna-se

importante investigar sua aplicação. Várias áreas já se articulam para isso,

e encontram-se vários profissionais, que pautam sua atuação neste

paradigma, procurando integrar várias áreas do saber, várias teorias de

forma a tratar e compreender o homem na sua totalidade.

Quanto a educação e a arte, pode-se de certo

modo comparar o ato de aprender é um ato de adquirir novos paradigmas.

No momento que adquire um novo comportamento, obtenho uma nova

forma de ver o mundo. E no momento que expresso-se através de meios

artísticos, e reflito sobre a obra, dando-lhe novo significado, está-se

adquirindo um novo paradigma, uma nova forma de olhar o mundo e a si

mesmo. O último capítulo apresentará exemplos de profissionais na área

da Psicopedagogia que buscam olhar o homem na sua totalidade.

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3.3. Uso da Arte em Psicopedagogia

Formam-se novos paradigmas nas ciências, em

que descobertas científicas apontam novos caminhos, e influenciam todas

as áreas do conhecimento. Investigando-se esses novos paradigmas,

encontra-se a importância da arte na educação. Não a arte restrita ao

âmbito escolar como disciplina de conhecimento. Mas, como possibilidade

de instrumento terapêutico. No caso contribuindo para auxiliar o processo

de aprendizagem. Alguns profissionais utilizam-se do fazer artístico como

forma de transformar a relação do homem com o ato de aprender.

Um trabalho que vem sendo realizado é o de

Cristina Allessandrini, descrito no livro em que é a organizadora “Tramas

criadoras na construção de ser si mesmo”(1999:19-20) informa que junto

com outros profissionais criou em São Paulo, em 1994, o “Alquimy art: um

espaço terapêutico e educacional”. A proposta, é trabalhar com recursos

artísticos e expressivos, dentro de oficinas criativas que possibilitem uma

aprendizagem significativa. Nesse espaço recebem crianças, adolescentes

e adultos. Como também oferecem aprimoramento para os profissionais

nesta área. Sempre com o objetivo de desenvolver uma visão holística e de

futuro. Pautam-se nos novos paradigmas, buscando novos caminhos para a

arte e a educação:

“Discutimos a partir de diversas abordagens teóricassobre os casos e as situações que se apresentam.Procuramos refletir tendo como elemento norteadoro Ser Humano em processo de evolução internaconsciente. Trabalhamos a construção de umaecologia profunda em que o homem dimensiona suaação em relação com todas as formas de vida noplaneta. Uma ecologia interior se constitui alicerçadaem valores humano, evocando assim uma presençahumana diferenciada no dia-a-dia, porque vivida deforma qualitativamente melhor” (ibdem:23)

Verifica-se nesse trabalho um olhar

transdiciplinar, a busca de romper barreiras, ignorar limites. O encontro de

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soluções focalizando-se o olhar no Ser Humano. Desse modo, as várias

teorias e descobertas científicas contribuem para a solução de problemas,

complementando e não excluindo. Percebe-se um trabalho baseado no

diálogo, priorizando-se as relações de troca e o olhar para o homem como

um ser total, não como algo fragmentado.

Allessandrini, em seu livro “Oficina Criativa e

psicopedagogia”(1996) se denomina uma terapeuta da aprendizagem, descreve

sua proposta e suas pesquisas, em que se propõe a “...desencadear um trabalho

que lhe acrescente uma qualidade de ser e viver. E fundamentalmente, de

aprender”(ibdem:17). Nesse livro a autora, descreve sua trajetória profissional,

seu interesse de utilizar arte nos problemas de aprendizagem. E conforme já

comentado, um trabalho norteado pela perspectiva holística, buscando o papel

da arte na aprendizagem. Como a autora diz:

“Meu objeto de pesquisa durante esses últimos anostem sido redescobrir na arte a própria essência doaprender para a vida, apontando no homemenquanto alguém com força interna para crescer econstruir o seu mundo de palavras, pensamentos eações”(ibdem:18)

A autora(ibdem:18-19) conjuga várias teorias, a

psicologia profunda Junguiana, o construtivismo de Piaget, a arte-terapia, a

teoria da Gestalt, a Cinesiologia psicológica - que percebe a relação da

consciência corporal e os problemas de aprendizagem- e os estudos

recentes na área da neuropsicologia, compreendendo o processo cognitivo,

ou seja a representação mental. Nesse olhar amplo da autora, observa-se

a singularidade do trabalho do psicopedagogo, que ao estudar os processo

de aprendizagem depara-se com um campo de estudos multidisciplinar.

Segundo a autora(ibdem:23), num primeiro

momento o psicopedagogo busca compreender como a criança relaciona-

se com sua aprendizagem. Detectando os fatores facilitadores e os

bloqueadores. Assim, refletindo nesses aspectos, o psicopedagogo

intervém para redimensionar essa relação. Para tal verifica-se a

necessidade de informação das várias ciências, como já mencionado.

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A autora propõe intervenções que utilizem a

arte, num trabalho expressivo e criativo. Como explica:

“...O trabalho artístico permite o desbloqueio daexpressão verbal, pois no momento em que sãoestimuladas as relações analógicas, agilizam-se asrelações de ordem lógica, tão importantes para obom desempenho em aprendizagem (...)Meuobjetivo é o indivíduo que experiência um processode oficina criativa, restabeleça sua conexão com aaquisição do conhecimento” (ibdem:45)

Alessandini, no seu texto “Alquimia criativa” no

livro “Criatividade e novas metodologias”(1998) explica sucintamente as

etapas que compõem o trabalho da oficina criativa (vide anexo 3). Suas

práticas explicitam as informações levantadas pela pesquisa bibliográfica

efetuada até este ponto. Verifica-se a existência de profissionais que

buscam através da arte, um novo caminho para o ser humano. Pautando-se

pela pesquisa constante, objetivando um trabalho cada vez mais efetivo e

comprometido com o desenvolvimento humano.

Outros profissionais também usam arte no seu

trabalho, pois a arte é capaz de despertar a sensibilidade do ser humano, e

ajuda-lo a transformar suas dificuldades, e sua vida. Como nas palavras de

Allessandrini(1999:41): “...a mudança no sentir para absorver a

aprendizagem, quando contactamos primeiro a dimensão afetiva para

depois suscitar mudanças no plano cognitivo”. A arte pode ser usada de

diversas formas, esta é sua característica primordial, a liberdade de

interpretações. Demonstrando ser um caminho rico para o desenvolvimento

do ser humano.

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CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho foi, através de uma

pesquisa bibliográfica, um investigar sobre as características mais singulares do

Homem, as que fazem dele um Ser Humano. Características estas

importantíssimas de serem cultivadas se objetiva-se uma sociedade com maior

qualidade de vida para todos.

A capacidade humana de imaginar, utilizar-se de

símbolos para manipular a realidade em que vive, precisa ser estimulada no

processo educacional. Neste caso arte possibilita diversas formas de trabalho.

Como no exemplo citado de Allessandrini. A arte está presente em todos os

momentos da vida. O ato de imaginar deve ser estimulado e respeitado.

A imaginação humana não tem limites, faz-se

necessário que seja usada, e de forma saudável. O Ser Humano necessita

expressar-se, exercer essa sua capacidade. Atualmente, os meio de comunicação

oferecem muitas informações, mas pouco tempo para elabora-las. Necessita-se

estimular cada indivíduo a criar as suas próprias imagens. Este fato é

importantíssimo. Expressando-se o homem pode significar e resignificar sua vida,

e com isso as situações se transformam. A dinâmica da vida flui com liberdade,

algo que a arte é um grande representante.

A liberdade de expressão individual é importante

para uma sociedade democrática, onde cada indivíduo é considerado uma parte

do todo, sem estar diluído neste todo. Muito de acordo com os novos paradigmas

que incentivam esse processo pelo qual a sociedade inicia seu caminhar. A arte

tem muito a contribuir nessa trajetória, incentivando o diálogo entre os seres

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humanos que se percebem semelhantes e ao mesmo tempo distintos como

indivíduos, buscando uma nova forma de reflexão sobre a realidade que vivem.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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ALESSANDRINI, Cristina Dias. Tramas criadoras na construção do ‘ser si mesmo’ – SãoPaulo: Casa do psicólogo, 1999.

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ANDRÉS. Maria Helena. Os caminhos da arte. – 2ª edição. Belo Horizonte: C/arte,2000.

ARANHA, Maria Lúcia Arruda. Filosofia da educação - 2ª edição. São Paulo: Moderna, 1996

BARBOSA. Ana Mae. A imagem no ensino da arte. Porto Alegre: Fundação IOCHPE,1991.

CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da aprendizagem. Rio de Janeiro: Vozes,1971.

CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite a Filosofia – 12ª São Paulo: Ática, 2000

COELHO, Teixeira. O que é educação cultural. Coleção primeiros passos, 216. São Paulo:Brasiliense: 1989.

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GUERRA, M. Terezinha Telles; MARTINS, Miriam Celeste; PICOSQUE, Gisa. Didática doensino de arte: a língua do mundo: potizar, fruir e conhecer arte. São Paulo:FDT, 1998.

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SILVEIRA, Nise da Silveira. Jung: vida e obra – 14a edição. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1994.

SILVEIRA, Nise da Silveira. Imagens do Inconsciente – 4a edição. Brasília:Alhambra,1981.

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STORT, Eliana V. R. Cultura, imaginação e conhecimento: a educação e aformalização da experiência. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1993.

WEIL, Pierre. A mudança de sentido e o sentido da mudança. Rio de Janeiro:Record: Rosa dos Tempos, 2000.

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ANEXO 1

Segundo Stort(1993:49-50) as funções da imaginação são:

1. Função objetivadora e libertadora A imaginação possibilita a libertação afetiva por compensação por compensação

simbólica, pois:a) supre ausências afetivasb) Desvela anseios reprimidos; ec) possibilita o domínio mental dos objetos que produzem angústia. Pela

invenção criadora, angústia, alucinação e idéia fixa são objetivadas,exteriorizadas, permitindo ao criador transcendê-las, libertar-se delas.

2. Função comunicativa, de autoconhecimento e de conhecimento do mundo.Debruçando-se sobre o imaginário, o homem comunica-se consigo mesmo,conhece as suas carências, seus desejos, suas necessiadades e possibilidades.Da mesma forma, em contato com o imaginário de outrem, obtém informaçõessobre seus sentimentos, conehcimentos e sobre sua situação no mundo. Oimaginário tam’bem informa sobre o coração humano em épocas e culturasdiferentes.

3. Função críticaColocando a realidade à distância, deixando-a a descoberto, a imaginaçãopermite que a percebamos melhor. Ela cria uma distância entre o mundoobjetivo e o mundo idealizado, afianando noddo espírito crítico e fazendo-nodrefletir. O autêntico imaginário não nos afasta da realidade, mas a restitui anós, ajudando-nos a vencer a mecanização da rotina, do esquecimento e dohábito.

4. Função de apoio ao desenvolvimento racionalQuando bem educada, a imaginação favorece a racionalidade, pois se aprendea manipulá-la cada vez com maior habilidade e distância. Ela auxilia a distinguiro real do fictício, pois proporciona ocasiões de reflexão e de discussão quepermitem ao indivíduo tornar-se mais lúcido, e flexível em sua própriamanipulação do real e do imaginário, do possível e doimpossível. Permite ainda a reutilização de modelos, podendo ser ponto departida para novas e enriquecedoras experiências. Como bem lembra Held,razão e imaginação constroem-se uma pela outra e não uma contra a outra.

5. Função criadoraDiante de problemas, a imaginação propõe elementos, pontos de partidacapazes de auxiliar a refletir, dialogar e elaborar, pouco a pouco, as respostas.Ela permite ultrapassar o dado, o agora, o imediato, originando o que não eravisível e nem existente, mas em que se reconhece, em maior ou menos prazo,o que deveria ser revelado.

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ANEXO 2

Segundo Weil(2000:82), a mudança de paradigma na ciência leva aum desafio na educação. O autor, extraindo de seu livro “A arte de viver em paz”resume num quadro sinóptico, reproduzido abaixo, as características destamudança.

O antigo e o Novo paradigma em educação

ANTIGO PARADIGMA NOVO PARADIGMA

Conceito deeducação

• informação• ensino limitado ao intelecto• Instrução se dirigindo à

memória e à razão

• Formação. Educação dapessoa. Processo deharmonização e de plenodesenvolvimento dasensação, do sentimento, darazão e da intuição

Conceito deestudante

• Aluno considerado como“objeto” de ensino, comomecanismo automático deregistro

• Aluno considerado comosujeito estudando, comoparticipante ativo de processoeducativo

Sistemanervoso

• Lado esquerdo do cérebro• Aquisição de

conhecimentos; ênfasesobre o conteúdo. Troca deopiniões

• Lado esquerdo e direito• todo o sistema nervoso

cérebro-espinhal• Transformação da

personalidade em seuconjunto

• Troca de opiniões, de atitudee de comportamento efetivo

Agenteeducativo

• A escola como agente daeducação intelectual, afamília como auxiliar daescola. O professor comocorpo “docente”

• A família, a escola e asociedade em um esforçoconcentrado. O educadorcomo animador, facilitador,focalizador, ou mesmocatalisador de evolução.

Conceito deevolução

• A evolução pára naadolescência. Maturidadelimitada ao intelecto, àcapacidade de procriar e detrabalhar. Esta evolução épessoal.,

• A evolução continua noadulto

• Maturidade vista como umestado de consciênciaampliado, harmonia,plenitude e paz, de naturezapessoa; e transpessoal

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Tipo deformaçãoOrientaçãode valores

• Predominância daespecialização. Valorespragmáticos.

• Consumismo, competição,poder, possibilidadecelebridade

• Formação geral precede àespecialização. Valorespragmáticos e éticos

• Simplicidade voluntária,cooperação, generosidade,igualdade, equanimidade

Métodos deeducação

• Exposição verbal, oral,complementada por livros emanuais.

• Método passivo• Recompensas e puniçòes

em um sistema seletivo ecompetitivo.

• Professor ensina, o alunoescuta.

• Escola separada dacomunidade. O professor“induz” opiniões, atitudes emudanças decomportamentos

• Pesquisa e trabalho individuale de grupo. Exposiçõesverbais e orais para osestudantes e o professor.Método ativo. Métodosaudiovisuais. Exposições,excursões, visitas

• O estudante é ativo, pesquisae ensina aos outros. Oprofessor como conselheiro,consulente, orientador.

• Escola integrada àcomunidade

• O educador é um exemplo daintegração de princípios ecomportamento querecomenda

Weil(2000:87) também relata mudanças de paradigmas em várias

disciplinas, no caso do interesse desta monografia, reproduz-se abaixo o quadrosinóptico relativo a arte de forma genérica. Antigo e novo paradigma na arte

ARTE

Arte como profissão Antigo paradigma

Arte como vocação Novo paradigma

• Artes a serviço de sensaçõespuramente estéticas, da distração ourecreio, ou como expressãoproblemática de cada época.

• Artes simbólicas ou como meio deexpressão da perfeição do ser, deexpressão do processo de desvelarda consciência, ou de estímulo aexperiências comunicantes

• Arte a serviço de qualquer objetivo • Arte a serviço do sagrado• Arte a serviço da vaidade do artista • Arte como expressão da alma

sagrada do artista

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• Perda de sentido • Sentido de elevação espiritual• Fragmentação em teatro, música,

artes plásticas, poética, arquitetura.• Tendência a experiências de

sínteses de várias disciplinasseparadas

• Cada umas das principais artesusadas separadamente a serviço dacura ou da terapia

• Sínteses da várias disciplinas emArte-terapia

• Ensino de cada disciplina visando aoseu exercício profissional

• Arte-educação integrada emmétodos de educação, além deensino separado de técnicas

• Arte separada da ciência, filosofia etradições culturais

• Integração transdisciplinar

• Comercialização da arte • Ressacralização da arte

ANEXO 3

Allessandrini, no texto “A alquimia criativa” descreve

um pouco do que ocorre no seu trabalho(1998:24):

“Oficina Criativa é como designamos o trabalho que pressupõealgumas etapas, de maneira que o sujeito possa expressar uma imagem internaatravés de uma experiência artística e, também, organizar o conhecimentointrínseco a esse “fazer” expressivo.

O processo se inicia com uma sensibilização, em que o sujeitoestabelece uma relação com o mundo, apoiando-se na sensibilidade e percepçãode seu eu e dos objetos que o cercam. Esse ”perceber” implica o uso dos canaissensoriais integrados aos sentimentos, proporcionando a organização dasimpressões no nível de imagens. As estratégias usadas no decorrer dasensibilização podem se apoiar em exercícios lúdicos, em observação dirigida ousugerida, em construção no imaginário, etc. De uma sensibilização mais amplachega-se a uma sensibilização específica relacionada ao conteúdo a sertrabalhado.

Em seguida o indivíduo expressa a experiência vivida através de umalinguagem não-verbal. Chamamos essa etapa de expressão livre. Consideramosimportante possibilitar a livre expressão do sentimento e pensamento utilizandodiversas técnicas e materiais artísticos: plástica, cênica e musical.

No decorrer da etapa seguinte, há a elaboração da expressão:quando ocorre o aprimoramento da linguagem escolhida pelo sujeito, em umretrabalhar, ainda no nível da arte e da representação não-verbal, o conteúdoemergente.

Através da transposição para linguagem verbal, há o re-significar doprocesso: a imagem interna sugere a criação de mensagens e textos. É omomento em que se pode trabalhar de forma mais diretiva e estruturada os

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recursos técnicos necessários ao aperfeiçoamento da linguagem oral e escrita,associados aos processos de raciocínio e de operacionalização.

Na avaliação, a retomada do processo permite a conscientização epercepção crítica do indivíduo na aquisição de novos conhecimentos. Ao mesmotempo, a avaliação envolve o conjunto de informações que permitem identificar osprocessos que foram significativos.

As pessoas que vivem um trabalho de oficina criativa em umadinâmica de aprendizagem conseguem estabelecer uma relação saudável com aaprendizagem e com o mundo. Arte e a Expressão são facilitadores para que oindivíduo crie, estabelecendo uma relação positiva com o aprender, construaassim seu conhecimento, concretizando através de diferentes recursos artísticos aexpressão de suas idéias e sentimentos, descubra e invente através da artepintando, modelando, criando histórias e textos, dramatizando, construindomaquetes, etc... Essas são as finalidades da oficina criativa.”(ALLESSANDRINI,1998:25-26)