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CONCEIÇÃO DE MARIA DE AURAUJO RAMOS

JOSÉ DE RIBAMAR MENDES BEZERRA

MARIA DE FÁTIMA SOPAS ROCHA

(organizadores)

I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIALETOLOGIA E SOCIOLINGUÍSTICA:

Homenagem a Maria do Socorro Silva de Aragão

ANAIS

SÃO LUÍS

2011

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PROMOÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁUNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

COMISSÃO ORGANIZADORAJosé de Ribamar Mendes Bezerra – UFMA

CoordenadorAbdelhak Razky – UFPA

Conceição de Maria de Araujo Ramos – UFMAMaria de Fátima Sopas Rocha – UFMA

Maria Elias Soares – UFC Marilúcia Barros de Oliveira – UFPA Mônica Magalhães Cavalcante – UFC

COMISSÃO CIENTÍFICAAntonio Luciano Pontes – UFC

Ilza Maria de Oliveira Ribeiro – UFBA Maria Denilda Moura – UFAL

Marilúcia Barros de Oliveira – UFPA Márluce Coan – UFC

Mônica da Silva Cruz – UFMA Suzana Alice Marcelino da Silva Cardoso – UFBA

SECRETARIAArthur Pereira Santana

Cibelle Corrêa Béliche AlvesEdson Lemos Pereira

Georgiana Márcia Oliveira SantosGizelly Fernandes Maia dos Reis

Heloísa Reis CurveloJulianne Maria Cutrim SantosLarissa Régia Ramos da Silva

Luís Henrique SerraMaria do Socorro Pereira da Costa

Priscila Ramos DiasRenata Gleicy Pinto Silva

Rosete Rodrigues Pires NetaRosimeri Teixeira Barros

Sandra Nívea Dutra de MoraesWendel Silva dos SantosZuleica de Sousa Barros

AluNOS ORGANIZADORES DOS ANAISAlana Brito Barbosa, Arthur Pereira Santana, Edson Lemos Pereira, Ludmilla Gratz Melo,

Luís Henrique Serra, Mírian Rodrigues Reis, Paulo Gabriel Calvet Ribeiro, Theciana Silva Silveira, Wendel Silva Dos Santos

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Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística (1.;2011, São Luís)

Anais do I Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística: homenagem a Maria do Socorro Silva de Aragão/ Conceição de Maria de Araujo Ramos; José de Ribamar Mendes Bezerra; Maria de Fátima Sopas Rocha, São Luís, 2011. 1. 890 pp. 1 CDROM.

ISBN 978-85-7862-210-7 CD-ROM

1. Dialetologia 2. Sociolinguística 3. Geografia Linguística

I. Título

CDU 81’28

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Estes Anais reúnem os trabalhos apre-sentados no I Congresso Internacio-nal de Dialetologia e Sociolinguística (CIDS), em homenagem a Maria do Socorro Silva de Aragão, realizado em São Luís, Maranhão, no período de 17 a 21 de outubro de 2010.

Resultado do desejo de um grupo de professores-pesquisadores de in-centivar a discussão e o intercâmbio de conhecimentos entre os centros de pesquisa na área dos estudos dialetais e sociolinguísticos, e da parceria de três universidades fede-rais – Maranhão, Pará e Ceará – o Congresso, nesta sua primeira edi-ção, presta uma justa homenagem à professora Maria do Socorro Silva de Aragão que, acreditamos, materia-liza a ideia de que a construção do conhecimento é o resultado de uma ação solidária, do diálogo, da acu-mulação de experiências e do desejo de fazer acontecer.

Com o tema A contribuição dos estudos dialetais e sociolinguísticos para uma política de línguas, o CIDS reuniu 682 pesquisadores que se distribuíram entre as atividades desenvolvidas – 10 conferências, 13 mesas-redondas, 164 comunicações individuais que integraram 28 sessões, 16 pôsteres e 14 minicursos, além do lançamento de livros e da reunião das equipes de dois grandes projetos da área em que se insere o Congresso, o Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) e o Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português, aos quais estão vinculadas várias universidades brasileiras, dentre elas as instituições promotoras do Evento.Com a publicação destes Anais, as instituições promotoras do CIDS dão continuidade a seu compromisso de estimular a pesquisa e o ensino e promover o intercâmbio e a divulgação do conhecimento.

APRESENTAÇÃO

Os organizadores

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CONfERêNCIAS>> REFLExõES SOBRE ESTA HOMENAGEM POR MARIA DO SOCORRO SILVA DE ARAGÃO

>> A CONTRIBUIÇÃO DE MARIA DO SOCORRO SILVA DE ARAGÃO PARA AOS ESTUDOS LExICOLóGICOS, LExICOGRÁFICOS, E TERMINOLóGICOS, NO BRASILPOR MARIA APARECIDA BARBOSA

>> GEOLINGUISTIqUE ET SOCIOLINGUISTIqUE: UNE RENCONTRE OU UNE HISTOIRE COMMUNE? POR MICHEL CONTINI

>> LA SOCIOTERMINOLOGIE, ENTRE SOCIOLINGUISTIqUE ET SÉMANTIqUE POR FRANÇOIS GAUDIN

>> ESCREVENDO GRAMÁTICAS DO PORTUGUêS BRASILEIRO NO SÉC. xxI POR ATALIBA T. DE CASTILHO

>> MAURICE LACHâTRE, UN LExICOGRAPHE ENGAGÉPOR FRANÇOIS GAUDIN

>>VARIAÇõES E VARIEDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA POR MARIA HELENA MIRA MATEUS

>> A GEOLINGUÍSTICA EM PORTUGAL. PASSADO, PRESENTE E FUTUROPOR JOÃO SARAMAGO

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REfLEXÕES SOBRE ESTA HOMENAGEM1

quero iniciar minha fala com um texto de Paulo Freire, quando ele diz:

Não nasci marcado para ser professor assim (como sou).Vim me tornando dessa forma no corpo das tramas,

na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas,

na leitura persistente e crítica.Ninguém nasce feito,

vamos nos fazendo aos poucos, na prática social de que tomamos parte.

PAULO FREIRE

INTRODUÇÃO

que deveria eu dizer para vocês, queridos amigos, neste I Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística em que sou homenageada?

Falar do meu passado? Destacar fatos, acontecimentos e dificuldades que marcaram minha carreira docente, como uma forma de estímulo a vocês, principalmente aos jovens graduandos e pós-graduandos?

Relembrar rostos e atitudes de pessoas queridas que se encontram em outra dimensão?

Tornar presentes fisionomias e gestos de outras, com as quais convivo, que me são caras, muitas delas que me amparam e me confortam em minhas angústias, me compreendem e me toleram nos meus rompantes de impaciência, e que fazem parte de minha biografia como esposo, pai, filhos, familiares outros, colegas de magistério, alunos, dirigentes ou participantes de sociedades e instituições profissionais, artísticas, culturais e religiosas de que participo?

Tenho setenta anos de idade. Sou, portanto, uma mulher madura. Mas qual o critério de maturidade? O físico, o emocional, o mental? Para Houaiss, seria um “estágio adulto; condição de plenitude em arte, saber ou habilidade adquirida, a exemplo, a maturidade intelectual, emocional ou de comportamento”. Ou, como ainda ele acrescenta, maturidade fala de “experiência ou ponderação própria da idade madura”. Considerando estes critérios, me considero uma mulher madura, plenamente realizada. Assim, posso começar com um texto de Affonso Romano de Sant’Anna que julgo apropriado para retratar o que eu penso de mim mesma, como me vejo nesta fase de minha vida e na presente ocasião.

O Rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos. [...]

Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas,

1 Discurso de agradecimento proferido por Maria do Socorro Silva de Aragão, no dia 17 de outubro de 2010, em São Luiz, na Universidade Federal do Maranhão, por ocasião da homenagem que lhe foi prestada no I Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguistica.

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braços e bocas, ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo de repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto.

[...] O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade.

[...] Cada idade tem seu esplendor [...] Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um desenvolva o fulgor do próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo [...] Por isso, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.

Aprendi algumas lições de vida. Uma delas é que é difícil, para não dizer quase impossível, viver apenas no presente. Sempre vivemos em três tempos: no passado, no presente e, principalmente, no futuro.

No passado, evocando experiências e momentos felizes. Também recordando ocorrências traumáticas, como lições a aprender, para que nos sirvam de exemplo e nos guiem no enfrentamento de situações.

Vivemos no presente porque este é o momento criador, o “Faça-se” do Gênesis, o instante ou o início da realização de uma aspiração.

Vivemos no futuro, porque em termos de futuro é que essencialmente usamos a imaginação criadora procurando transformar nossas idéias em coisas factíveis, em algo concreto em nosso universo material. É ter aspirações e fazer planos porque se assim não procedermos estaremos esterilizando e secando a fonte interior que nos impulsiona a agir, procurando materializar sonhos e realizar coisas que às vezes se nos afiguram como impossíveis. É isto que faz a civilização avançar. É isto que dignifica a vida. É isto que justifica o dom maravilhoso de viver. Viver criando nos seis dias de que falou o Senhor, para descansar, finalmente, no sétimo dia o que, para todos nós, mortais, é uma determinação irrecorrível.

Olho para este auditório e vejo rostos, adultos e jovens, homens e mulheres, alguns já realizados profissionalmente, e com uma longa e rica história de vida. Outros, com muito pouco passado e muito futuro pela frente. que dizer para todos?

Rui Barbosa, numa de suas mais belas páginas − Regresso à Terra Natal − começa com uma frase que tenho como bem apropriada a esta homenagem e a este meu intróito:

Depois disto... diante disto... não sei como principie...

Contudo, tenho de começar. Para isto, dividirei este agradecimento em dois momentos. O primeiro, oferecendo a minha própria versão de minha experiência acadêmica e de profissional em funções outras, que não o ensino e a pesquisa. No segundo momento, face à minha própria responsabilidade como educadora diante de educadores, citarei alguns dados sobre a educação no Brasil em relação a outros países, não em termos de advertência aos que aqui se encontram, a grande maioria ligada a uma instituição educacional, de nível superior ou não, em caráter transitório ou permanente. Julgo ser esta a minha contribuição pela bondade com a qual me cercais, neste momento.

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VIDA ESCOLAR e CURSOS REALIZADOS

Portanto, permiti que eu comece com a minha visão de mim mesma.

Nasci na então pequena vila de São José, município de Brejo do Cruz, Paraíba, cujo povo me conferiu uma homenagem inesquecível: a aposição do meu retrato na humilde biblioteca pública local.

Para realizar o Curso Primário tive de deixar a família e ir morar com parentes, em Catolé do Rocha, para estudar no Colégio Francisca Mendes, dirigido por religiosas alemães, da Ordem de São Francisco de Assis. Esta foi a primeira separação dos meus pais e dos meus nove irmãos.

Para continuar os estudos tive de vir para Campina Grande e matricular-me no Colégio Estadual da Prata talvez o melhor da cidade, à época, para cursar o segundo grau. Outra separação.

Minha participação como soprano no coral do colégio, foi minha primeira oportunidade de viajar e conhecer pessoas. Numa missa solene encontrei um jovem professor universitário e promotor público, com quem, desde então, divido a vida, sonhos, alegrias e dores, até hoje, fundando um lar abençoado com três filhos que são minhas jóias nestes cinqüenta e um anos de casamento.

Já casada e mãe de dois filhos fiz vestibular para o Curso de Graduação em Letras Anglo-Germânicas na Faculdade de Filosofia de Campina Grande, da então Universidade Regional do Nordeste, concluído em 1969.

Foi em 1970 que eu e minha família, agora acrescida de mais um filho em espera, tomamos uma dura e necessária decisão. Partir para São Paulo, objetivando realizar Cursos de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado na Universidade de São Paulo, eu, e meu marido na Fundação Getúlio Vargas. Conclui meu Doutorado em 1974. Pela confiança de meus professores fui admitida como professora colaboradora da USP.

Como era difícil, à época, realizar cursos de pós-graduação. Somente para enfatizar estas dificuldades, quando cheguei a São Paulo para efetivar a matrícula no Mestrado e apresentei minha documentação com título de graduação obtido em uma faculdade do interior paraibano, houve resistência à minha aceitação. A matrícula somente foi aceita quando concordei em assistir as aulas do último semestre da Graduação em Letras da USP − e ser aprovada − ao tempo em que frequentava as disciplinas do Mestrado. Somente, então, meus créditos de Mestrado seriam referendados. Essa era a condição, tácita, informal, mas válida e terminal. Imaginem vocês tudo isso, grávida, morando em bairro situado do outro lado daquela imensa cidade, saindo de casa diariamente às cinco ou seis horas da manhã e voltando às oito horas da noite, de ônibus, num trânsito infernal. Mas passei e realizei meu primeiro sonho em termos acadêmicos.

Mas tinha de aproveitar o tempo e também à época, ainda em São Paulo, realizei outro Curso, de Especialização em Linguística, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1973) ao mesmo tempo em que eu e meu marido procurávamos sobreviver ministrado aulas em faculdades paulistas. Foi simplesmente uma loucura.

Ainda em São Paulo, também fiz muitos outros cursos, especialmente com professores visitantes estrangeiros.

Uma referência, que me é muito cara, é a de ter sido orientada no Mestrado e Doutorado da Universidade de São Paulo pelo Professor Doutor Cidmar Teodoro Paes, que realizara toda a sua formação acadêmica, inclusive seu Doutorado de Estado, na Sorbonne. Ele incentivou-me a ir estudar em Paris. Abriu meus olhos e meus horizontes para a importância desses estudos, razão pela qual, em toda a minha vida como professora sempre o considerei como o meu Orientador. A ele, devo grande parte de minha qualificação acadêmica. A ele, minha eterna gratidão por ter me possibilitado evoluir em minha carreira como pós-graduada.

Preparei-me, então, para outra etapa de minha qualificação, agora investindo pesadamente em pós-doutorados nas áreas a que me dedicara como pesquisadora. Outra decisão dolorosa e traumática. Mas parti, de início para a França. A família ficou no Brasil. Quase morri de saudades. Não havia, ainda, telefone celular e as ligações internacionais eram dificílimas. Então, apenas eram cartas e mais cartas, indo e voltando, cruzando o Atlântico. E isso ocorreu durante os dois meus primeiros pós-doutorados, o segundo na Espanha.

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Foi assim que consegui realizar os cursos com os quais sonhava:

• 1976-1977. Realizei Pós-Doutorado com bolsa do Governo Francês na Université de Paris III - Sorbonne Nouvelle, em Fonética Experimental, sob a orientação do Prof. Dr. René Gsell. Nesta oportunidade também consegui fazer cursos com renomados professores franceses como Patrick Charaudeau, Marie-Rose-Simoni Aurembol, Bernard quemada, Raymond Cantel, e Bernard Pottier, o mais venerado e respeitado professor da Sorbonne, na área.

• 1978. quando preparava o projeto do Atlas Linguístico da Paraíba consegui Bolsa do CNPq para um segundo Pós-Doutorado, em Dialetologia e Geolinguística, na Universidade Complutense de Madrid, sob a orientação do Prof. Dr. Manoel Alvar, um dos mais reputados professores da Europa em pesquisas para a realização de Atlas Linguísticos.

• 1989-1990. Resolvi realizar outro Pós-Doutorado, para suprir conhecimentos em Linguistica. Escolhi, então, a área de Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas, com Bolsa do CNPq, na Central Connecticut State University, nos Estados Unidos.

Na oportunidade foi admitida como Professora Visitante da mesma Central Connecticut State University.

CARREIRA DOCENTE

Comecei minha vida docente como professora do Ginásio Alfredo Dantas, de Campina Grande, em 1965. Depois, do Colégio Diocesano Pio xI. De 1971 a 1973 fui Professora Colaboradora do Departamento de Lingüística e Línguas Orientais, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Fui, por concurso, Professora Titular de Língua Portuguesa na Universidade Regional do Nordeste. Por Concurso, Professora Adjunto IV do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPB.

Hoje, sou Professora Titular, colaboradora, dos cursos de Mestrado e Doutorado em Letras da UFPB e Professora Titular, visitante, da Universidade Federal do Ceará.

Em 1974 fiz concurso para a Universidade Federal da Paraíba, e no mesmo ano ministrei o primeiro Curso de Especialização em Linguística para professores da UFPB, em preparação para o Mestrado. Em 1975 criei o Curso de Mestrado em Letras da UFPB, o primeiro do Norte e Nordeste brasileiro, do qual fui Coordenadora durante oito anos.

Na minha gestão à frente do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPB, mantive contatos e criei parcerias com Universidades brasileiras e estrangeiras a fim de fortalecer o nosso Programa, ainda engatinhando . Para ministrar aulas em nosso Mestrado da UFPB trouxe como Professores Visitantes mestres renomados.

Do Brasil, foram nossos visitantes, o Prof. Dr. Cidmar Teodoro Paes, o Prof. Dr. Celso Ferreira da Cunha, o prof. Dr. Silvio Edmundo Elia, o Prof. Dr. Evanildo Bechara, o Prof. Dr. Carlos Felipe Moises, a Profa. Dra. Mônica Rector, o Prof. Dr. Hugen Heie, o Prof. Dr. Duilio Colombino, o Prof. Dr. José Carlos Garbuglio, o Prof. Dr. Zenir Campos Reis, o Prof. Dr. Luís Tavares Júnior, o Prof. Dr. Leodegário de Azevedo.

Da França o Prof. Dr. Raymond Cantel, o Prof. Dr. Bernard Pottier, o Prof. Dr. Patrick Charaudeau; a Profa. Dra. Marie-Rose-Simoni Aurembol, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico da França.

De Portugal a Profa. Dra. Maria Helena Mira Matheus, o Prof. Dr. Mário Vilela e o Prof. Dr. Arnaldo Saraiva.

Da Alemanha o Prof. Dr. Wolfgang Roth, o Prof. Dr Eugênio Coseriu, e o Prof. Dr. Harald Thum, entre tantos professores estrangeiros e brasileiros que atenderam ao nosso apelo e vieram juntar-se a nós na formação pós-graduada de nossos professores.

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Receber esses professores para fazer conferências e ministrar cursos seria convite fácil de ser aceito se fosse para um curso na USP ou na Unicamp. Mas na Paraíba...! qualquer insucesso com o primeiro desses cursos entre nós e o “filme estaria queimado”. Ninguém mais aceitaria vir à Paraíba.

ATIVIDADES DOCENTES e ADMINISTRATIVAS

Na Universidade Federal da Paraíba além de Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras, fui Coordenadora Geral de Pesquisa, Membro efetivo do Conselho Universitário, Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pró-Reitora de Graduação.

Fundei o Grupo de Estudos Linguísticos do Nordeste - GELNE, hoje uma das maiores instituições brasileiras na área.

Ministrei cursos ou fiz conferências na quase totalidade das Universidades Federais brasileiras.

Fui Consultora para a Avaliação de Cursos e Treinamentos para trabalhos com Crianças e Adolescentes, do Ministério da Educação. Consultora do Ministério da Educação e do Desporto e Banco Mundial para o Programa de Formação de Professores à Distância - PROFORMAÇÃO - na área de Língua Portuguesa. Também membro da Comissão encarregada da analisar a criação da Universidade Federal de Campina Grande (Portaria 03 de 05/02/92 - SENESU/MEC. DO 18/02/92), além de participar, há vários anos, como ainda participo, da Comissão de Avaliação de Cursos de Pós-Gradação da CAPES, na área de Letras e Lingüística.

Fui do Programa Kellog Foundation / Partners of the Americas como Adviser do Grupo Fellows x do International Fellowship in Community Development, Washington-DC., ou seja, Coordenadora do Programa de Treinamento de Líderes dos Partners, trabalhando com líderes de todos os países das Américas.

Fui Vice-Presidente do Board dos Companheiros das Américas, único sul-americano, homem ou mulher, a ocupar essa importantíssima posição. Enviei dezenas de brasileiros, médicos, engenheiros, professores, para cursos de extensão nos Estados Unidos.

Fui Presidente da Fundação Casa de José Américo, instituição de cultura do Estado da Paraíba.

Hoje sou Presidente da Academia de letras e Artes do Nordeste - núcleo da Paraíba.

Muitas foram as homenagens a mim prestadas, entre elas, destaco:

Em 1991 fui escolhida a Profissional do Ano pelo International Womens’s Club of Paraíba.

Em 2004 recebi a Comenda Augusto dos Anjos, concedida pela Câmara de Vereadores da cidade de Sapé, Paraíba.

Em 2009 recebi o título de Profissional do Ano, concedido pelo Rotary Club de João Pessoa.

Em 2008 recebi o Diploma de Sócia Emérita concedido pela Associação de Professores de Espanhol.

Em 2007 recebi o Diploma do Mérito Cultural, concedido pela Fundação Casa de José Américo.

Em 2007 tornei-me Membro da união Brasileira de Escritores - Núcleo da Paraíba.

Em 2004 tornei-me Membro fundador da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba.

Em 2006 tornei-me Membro da Academia de letras e Artes do Nordeste - Núcleo da Paraíba.

Em 2006 recebi a Comenda Mulher Forte - concedida pela Organização Mulheres em Ação - Paraíba.

Em 2006 recebi o título de Mulher Espetacular - concedido pelo Rotary Internacional - Distrito 4500.

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Em 1994 recebi a Comenda do Mérito de Serviço Cultural - concedida pela Academia Paraibana de Letras.

Em 1985 recebi o Prêmio 4º Centenário da Paraíba - concedido pelo Governo do Estado da Paraíba.

Em 1971 recebi o Prêmio Mario de Andrade - da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Sou Membro de corpo editorial da Revista Brasileira de linguística, da Revista Acta Semiotica et linguistica e da Revista de letras (Fortaleza).

PRODUÇÃO CIENTÍfICA

Como parte de minha produção científica tenho 11 livros publicados individualmente. Tenho 19 livros publicados em co-autoria. Tenho 31 capítulos de livros publicados. Tenho 20 livros organizados. Tenho 32 artigos publicados em revistas nacionais e internacionais. Tenho 23 trabalhos completos publicados em Anais de Congressos. Tenho 52 participações em Congressos nacionais e internacionais. Tenho cinquenta dissertações (Mestrado) orientadas. Tenho sete teses (Doutorado) orientadas. Presidi ou participei de 166 Bancas de Mestrado e de Doutorado.

Toda minha vida foi dedicada à família, aos amigos, ao estudo, à pesquisa e, principalmente, ao ensino.

Sou, portanto, uma velha guerreira.

Mas não me limitei apenas à vida universitária. Participei e ainda participo ativamente de Associações e trabalhos outros.

E não me descuido de minhas atividades extra-sala de aula, porque, então, entraria num processo de “fossilização”.

AVALIAÇÃO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

Tenho atualmente uma preocupação como educadora que desejo agora dividir com vocês. Entendo que esta é uma boa ocasião para isso. Alguns poderão discordar do meu pensamento, por ser esta uma ocasião festiva. Mas nunca é demais falar sobre educação no Brasil. Educação Superior. Educação Primária.

É que duas notícias dos jornais e revistas das últimas semanas devem preocupar todos os que fazem educação em nosso país, penso eu.

A primeira notícia é o Ranking das melhores universidades do mundo, publicado pelo Jornal Folha de S. Paulo2. Este índice exige uma reflexão e seu comentário é apropriado ao momento presente, repito. Segundo o ranking, entre as 200 (duzentas) melhores universidade do mundo nenhuma da América Latina foi incluída. Alguns podem discordar dos resultados do ranking ou da metodologia empregada. Contudo, ele é aceito pela comunidade científica internacional.

Entre as duzentas melhores universidades do mundo há instituições da América do Norte, da Europa, da Ásia, da África, da Oceania. Mas nenhuma da América do Sul. Sem absolutamente desmerecê-las, há duas universidades da Turquia, uma do Egito, uma da África do Sul e uma da Nova Zelândia. Mas, insisto, nenhuma da América do Sul.

Neste ranking a melhor universidade da América do Sul, a Universidade de São Paulo - USP ficou em 232 (ducentésimo trigésimo segundo) lugar e a Unicamp a segunda melhor da América do Sul, em 248 (ducentésimo quadragésimo oitavo) lugar. Nossa Universidade de São Paulo, que já foi classificada entre as 100 melhores do mundo no passado, foi a cada ano perdendo lugar nessa classificação até chegar à situação

2 Jornal Folha de S. Paulo, edição de quinta-feira, 16 de setembro de 2010, caderno C - COTIDIANO - folhas 6 e 7.

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atual. A exemplo, já foi classificada como a 53ª (qüinquagésima terceira) melhor universidade do mundo, segundo o Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha, ou como a 78ª (septuagésima oitava) melhor universidade, de acordo com o Higher Education Evaluation & Accreditation Council of Taiwan.

A revista VEJA3 trouxe comentário sobre as três fórmulas da excelência, ou seja, os rankings que classificam as melhores universidades do mundo. A minha Universidade de São Paulo, digo minha porque é minha casa, onde fiz Mestrado e Doutorado, e onde lecionei, não se apresenta bem em nenhuma das três modalidades de classificação.

Pelo primeiro ranking da VEJA, o do Instituto de Educação Superior de xangai, que dá maior peso à produção científica − o que diferencia os países do primeiro mundo dos países em desenvolvimento − nossa melhor Instituição, a USP, ficou entre a 101 (centésima primeira) e a 150 (centésima qüinquagésima) posição. A Universidade Estadual de Campinas, a UNICAMP, entre o 201º (ducentésimo primeiro) e o 300º (tricentésimo) lugar. As Universidades Federais de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e a Universidade Estadual Paulista entre o 301º (tricentésimo primeiro) e o 400º (quadrucentésimo) a Universidade Federal do Rio Grande do Sul entre os 401º (quadrucentésimo primeiro) e o 500º(quingentésimo) lugar.

Pelo segundo ranking da VEJA, o da empresa inglesa QS, − o QS World University Rankings − da quacquarelli Symonds, que examina principalmente o mercado e a academia, a Universidade de São Paulo ficou em 253º (ducentésimo qüinquagésimo terceiro) lugar, a UNICAMP entre 292º (ducentésimo nonagésimo segundo) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro em 381º (tricentésimo, octogésimo primeiro) lugar.

Pelo terceiro ranking da VEJA, o da revista Times Higher Education, o único que considera verbas destinadas à pesquisa e à inovação, nenhuma universidade brasileira aparece na lista.

Mas isso para nós não deve ser motivo de desânimo. Quem leu os dois livros de Laurentino Gomes, o primeiro, intitulado 1808 − como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil4 e o segundo, 1822 − como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil − um país que tinha tudo para dar errado5 − podem verificar quanto progredimos, mas, acrescento com base dos rankings acima, quanto falta progredirmos.

PROBLEMAS COM A EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL

No que diz respeito à educação básica, em termos internacionais nossa posição não é melhor. O Brasil ocupa o 88º (octagésimo lugar) do ranking da educação.6

O alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que o Brasil conquistou há dois anos não chegou à educação. O relatório Educação para Todos, divulgado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), mostra que a baixa qualidade do ensino nas escolas deixa as crianças para trás. É diretamente responsável por colocar o País na 88ª (octagésima) posição no Índice de Desenvolvimento Educacional (IDE).

O país obteve o resultado 0,883 (a nota varia de 0 a 1, sendo 1 a mais alta). O Brasil está atrás do Paraguai, Equador e Bolívia. Dos quatro dados utilizados pela Unesco, o Brasil vai bem em três e tem resultados acima de 0,900 – o mínimo para ser considerado de alto desenvolvimento educacional. São bons os números de atendimento universal, analfabetismo e igualdade de acesso à escola entre meninos e meninas. Já quando se analisa quantas crianças entram na 1ª série do ensino fundamental e concluem a 5ª série, o País cai para 0,756, um baixo IDE.

Mais do que isso, a situação piorou. No estudo anterior, com dados de 2005, o índice brasileiro ficou em 0,901. O recente relatório utiliza informações de 2007, ano em que há números comparáveis para os 128

3 A revista VEJA, edição 2183, ano 43, nº 38, de 22 do setembro de 2010 em suas páginas 100 e 101.4 Editora Planeta do Brasil Ltda. São Paulo: 2007.5 Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro: 2010026 Segundo o jornal TRIBUNA DO NORTE, edição de 11 de janeiro do corrente ano,

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países. Segundo Nicole Bella, analista de políticas da Unesco e uma das responsáveis pelo relatório, o Brasil perdeu pontos porque a matrícula caiu de 95,6% em 2005 para 93,5% em 2007 e a taxa de sobrevivência na 5ª série de 80,5% para 75,6% no mesmo período. “A reprovação e a retenção escolar, assim como a qualidade da educação, atrapalham o progresso do país”, disse.

O gargalo da 5ª série do ensino fundamental é conhecido. O relatório aponta três fatores que influenciam o resultado das crianças e a permanência na escola: a necessidade de identificar, nos primeiros anos de escolaridade, o quanto a criança está aprendendo e tomar medidas para sanar as dificuldades; ter escolas com um mínimo de infraestrutura física e um bom ambiente escolar; um número consistente de horas em sala de aula, garantindo que pelo menos 80% delas sejam de aprendizagem efetiva. Em nenhum deles o Brasil pode servir de exemplo.

Na rede pública, a média de horas de aula por dia é de 4,5 no ensino fundamental e 4,3 no médio, quando seriam necessárias ao menos 6. Mais de 17,8 mil escolas não têm energia elétrica e só 37% possuem bibliotecas.

Para o presidente executivo do Movimento Todos pela Educação, Mozart Ramos, os dados reforçam que o maior desafio do País é a aprendizagem na educação básica. “Melhorar a qualidade é mais caro do que colocar a criança na escola.” Para a educadora ângela Soligo, da Unicamp, o País “investe demais em avaliação e de menos na melhoria da qualidade”. O Ministério da Educação informou que ainda vai analisar o relatório, mas, inicialmente, considerou os números “estranhos” porque houve a ampliação do ensino fundamental para nove anos e queda na evasão.

Mas devo terminar.

Dizendo para vocês como me sinto neste momento. Como mulher madura tenho o direito de falar francamente, dizendo o que vem do coração. Para isso vou fazer minhas as palavras de Rubem Alves quando fala do tempo e as jabuticabas.

Vejamos:

O tempo e as jabuticabas

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viverdaqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquelamenina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela

chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir

quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixospara reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem

para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutirestatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniõesde “confrontação”, onde “tiramos fatos a limpo”.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelomajestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “as pessoasnão debatem conteúdos, apenas os rótulos”.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a

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essência, minha alma tem pressa...Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente

humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encantacom triunfos, não se considera eleita antes da hora, não

foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desseamor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.Rubem Alves

Mas tenho que terminar e quero usar um texto da pensadora Maria Rita Avelar, do qual destaquei um trecho que, a meu ver, traduz, de modo preciso, muitas das coisas que gostaria de dizer aos meus amigos:

Hoje eu quero agradecer a todas as pessoas que passaram pela minha vida até agora.

Quero agradecer àquelas que me deram amor, que sorriram para mim quando eu precisava; que afagaram meus cabelos enquanto eu chorava; que me indicaram os caminhos; que seguraram a minha mão e disseram: “Vai em frente” quando eu dizia não consigo. [...]

[...] Agradecer a todos os sonhadores, que mesmo falhando me convenceram que valia a pena tentar.

Um agradecimento especial às Universidades do Ceará, do Pará e do Maranhão, que em parceria tornaram possível este evento e aos meus amigos maranhenses Prof. Dr. José de Ribamar Mendes Bezerra, Profa. Dra. Conceição de Maria Ramos e Maria de Fátima Sopas Rocha, pela competência, dedicação e, sobretudo, carinho, com que organizaram este momento que me trouxe tantas alegrias e emoções e que fará parte de minhas boas lembranças.

Muito obrigado e que Deus esteja com vocês.

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A CONTRIBUIÇÃO DE MARIA DO SOCORRO SILVA DE ARAGÃO PARA AOS ESTUDOS LEXICOLÓGICOS, LEXICOGRÁ-

fICOS, E TERMINOLÓGICOS, NO BRASIL

Maria Aparecida BARBOSA

(universidade de São Paulo)

“Este é o 1º Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística - Homenagem à professora Socorro Aragão que está sendo realizado na Universidade Federal do Maranhão, em São Luis, Maranhão, organizado com a parceria das Universidades Federais do Maranhão - UFMA, do Ceará - UFC e do Pará - UFPA. Sua sede administrativa, nesta 1ª edição, está instalada no Projeto Atlas Lingüístico do Maranhão - Projeto ALiMA/UFMA e conta com uma Comissão Organizadora composta por professores pesquisadores das 3 instituições parceiras.

O objetivo primordial do Congresso é promover, nos âmbitos nacional e internacional, a discussão e o intercâmbio de experiências entre grupos de pesquisadores, professores e estudantes na área da linguagem, mais especificamente na área dos estudos dialetológicos e sociolinguísticos, visando à melhoria da educação continuada dos professores do ensino superior, médio e fundamental.

Seguindo a trilha da Dialetologia moderna e da Sociolinguística, o Congresso busca, ainda, no âmbito nacional, resgatar o percurso dos estudos dialetológicos, com a elaboração dos Atlas Estaduais e do Atlas do Brasil, vertente em que se insere a homenageada do Congresso, Professora Maria do Socorro Silva de Aragão, autora do 3º Atlas elaborado no Brasil e, que, atualmente, continua contribuindo para a formação de novos pesquisadores atuando, principalmente, como Diretora Científica do Atlas Lingüística do Brasil. (cf. Folder do Congresso).

A COLEGA DE TURMA

Em 1969, Maria do Socorro concluiu o curso de graduação em Letras, na Universidade Regional do Nordeste, em Campina Grande, Paraíba. Em 1973, tornou-se mestre em Lingüística pela USP e, dois anos depois, no mesmo curso concluiu seu Doutorado.

Nesse período, nosso convívio foi intenso, pois cursamos as mesmas disciplinas obrigatórias e facultativas do curso de pós-graduação em Lingüística da FFLCH/ USP. É preciso que se diga que, naquela época, tínhamos de cursar todas as disciplinas e não apenas algumas para totalizar os créditos necessários. Graças a esse pequeno grande detalhe, quando terminamos os créditos em disciplina, estávamos aptas a direcionar nossos estudos e pesquisas para não importa que área da Lingüística. Isso explica também que, mesmo tendo centrado seu Mestrado e Doutorado em Fonética e Fonologia, tornou-se grande pesquisadora nas áreas de Lexicologia, Lexicografia e Terminologia, dentre outras.

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Foram tempos difíceis, tanto no âmbito acadêmico, quanto no âmbito pessoal. Não tínhamos bolsa de estudos, o que exigia, longe do estado de origem, longe de casa, um esforço dobrado nos quesitos moradia, alimentação, e questões do dia-a-dia, principalmente, no que concernia à saúde e ao transporte.

Foi neste contexto que o casal Aragão criou, neste período, seus 3 filhos. Passaram-se os anos e, atualmente, um é médico, outro é administrador de empresas e outro engenheiro. Em outras palavras, superadas as dificuldades desse período, Socorro sai vitoriosa como esposa, como mãe, como pesquisadora. Uma característica saltava aos olhos de todos: a excelente qualidade que conseguia imprimir aos papéis que a vida lhe confiou, incluindo o de grande colega e amiga que sempre foi.

A GRANDE PESQUISADORA, A DOCENTE COMPETENTE, A ADMINISTRADORA INCANSÁVEL

Foi professora colaboradora na Universidade de São Paulo, de 1971 a 1973. Já no Nordeste, nos anos de 1974 a 1975, exerceu o cargo de Professora Titular de Língua Portuguesa na Universidade Regional do Nordeste, em Campina Grande, de 1974 a 1994 foi Professora Adjunta na Universidade Federal da Paraíba e Professora Visitante da Central Connecticut State University.

No período de 1976 a 1978 fez o Pós-Doutorado em Fonética Experimental na Sorbonne, em Paris; em Paris; em 1978 concluiu Dialetologia e Geografia Lingüística na Universidade de Madrid; de 1989 a 1990 estudou Lingüística Aplicada ao Ensino da Língua, na citada Universidade dos Estados Unidos.

A partir de 1995 passou a exercer o cargo de Professora Visitante na Universidade Federal do Ceará, em 2007 passou a ser Professora Adjunta da Universidade Federal da Paraíba.

Em reconhecimento aos seus indiscutíveis méritos participou de Comissões Julgadoras de Concursos para o magistério Superior e de Bancas Examinadoras de Teses e Dissertações no Brasil, nos Estados Unidos da América do Norte e na França. Integrou o Conselho Universitário da Universidade Federal da Paraíba, nos exercícios de 1974 a 1975; fundadora e coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba, no período de 1975/1980; coordenadora geral de Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba, de 1980 a 1982; pró-reitora adjunta de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba, no período de 1980/1982: presidente da Fundação Casa de José Américo, de 1984/1987; pró-reitora de Graduação da Universidade Federal da Paraíba, de 1991 a 1992; e membro do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal da Paraíba, nos anos de 1991 a 1992.

Concomitantemente, se fez presente a diversos simpósios ocorridos no Brasil e no exterior e coordenou 22 (vinte e dois) projetos de pesquisas financiados pelo CNPq, CAPES, FINEP, PRONASEC RURAL e FNDE.

É autora de distintos trabalhos destacando-se os seguintes: “Análise Fonético - Fonologia do Falar Paraibano”, “ Lingüística Aplicada aos Falares Regionais”, “Biblioteca da Vida Rural: Uma Opção em Educação Comunitária”, “Glossário Comentado e Aumentado de A Bagaceira”, “Atlas Lingüístico da Paraíba: Cartas Léxicas e Fonéticas” – volume I, “Atlas Lingüístico da Paraíba: Análise das Formas e Estruturas Lingüísticas Encontradas” – volume II, “A Linguagem dos Cultos Afro-Indígenas na Grande João Pessoa”, “Cartilha Literária: José Américo de Almeida”, “O Significante Lingüístico. As Formas de Expressão na Língua Portuguesa”, “Bibliografia Dialetal Brasileira”, “A Linguagem Regional Popular na Obra de José Lins do Rego”, “Ao querido Malungo... Dedicatórias a José Lins do Rego”, “Cartilha Literária José Lins do Rego”, “ José Lins do Rego – Roteiro Bibliográfico”,

“O Conto Popular na Paraíba: Um Estudo Lingüístico-Gramatical”, “A Linguagem Falada em Fortaleza – Diálogos entre Informantes e Documentadores – Matérias para Estudo”, “Fonética e Fonologia – Bibliografia Brasileiro”, “A Situação: a Geografia Lingüística no Brasil”, “Técnicos de Transcrição Fonética”, “Atlas Lingüística da Paraíba”, “Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte”, “As Variantes de Natureza Palatal no Português” e “Os Estudos Geolinguísticos no Brasil”.

Por outro lado, é Sócia Fundadora da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba e da Academia de Letras e Artes do Nordeste – Núcleo da Paraíba e faz parte das seguintes entidades: Sociedade Brasileira de Professores de Lingüística, Associação Brasileira de Lingüística, Grupo de Estudos Lingüísticos do

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Nordeste, Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, Societé Linguistique Romane, International Society of Phonetic Sciences, International Community Education Association, International Reading Association, Associação Brasileira de Tecnologia Educacional, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística, Sociedade Brasileira de Fonética e Fonologia, American Dialect Society, International Society for Dialectology and Geolinguistics e Associação Brasileira dos Companheiros das Américas.

A GRANDE EMPREENDEDORA

O sorriso lindo que enfeitava seu rosto em sua posse na Academia de Letras e Artes do Nordeste – Alane – PB, ou ao receber a Comenda Augusto dos Anjos, outorgada pela Câmara Municipal de Sapé – PB, é a sua marca para superar as adversidades que a vida lhe oferece. Soube, até agora, vencê-las e ir além.

É impressionante sua capacidade de criar coisas: do Laboratório de Fonética, nos idos de 1978, passando pela fundação e coordenação do Curso de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal da Paraíba, até o presente momento, são incontáveis os seus projetos de pesquisa, concluídos ou em fase de conclusão.

Listo agora, de maneira sucinta, a grande colaboração que oferece à área de lexicologia, lexicografia e terminologia.

Publicações:

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. A linguagem regional popular na obra de José Lins do Rego. João Pessoa: FUNESC, 1990.

_________________; et al. Glossário aumentado e comentado de a Bagaceira. João Pessoa: A União, 1984.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. Do baianês ao piauiês: a onda de dicionários regionais nordestinos. Revista do Gelne, Fortaleza – CE, v. 2, p. 53-59, 2000.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. Aspectos léxicos do Atlas Lingüístico da Paraíba. Estudos Lingüísticos Literários, Salvador – BA, v.05, p. 129-150, 1986.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. A variação Fonético-Lexical: dialetal ou Sociolinguística. Organizado por AGUILERA, Vanderci de Andrade. Português do Brasil: estudos fonéticos e fonológicos. Londrina – PR, 1999, p.73-92.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. Aspectos léxico-semânticos do conto popular.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. Léxico e cultura no falar do Maranhão: relações diatópicas e diastráticas.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. O Léxico da região do Norte do Brasil.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. O Léxico regional-popular do Ceará.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. O popular e o erudito no dicionário tucano: o bestiário tucanês.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. Variação lexical no falar do Maranhão.

Dissertações e teses defendidas e orientadas

Título: Diversidade Lingüístico-Cultural da Língua de Sinais do Ceará: um estudo lexicológico das

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variações da língua de Sinais Brasileira na comunidade de surdos do sítio Caiçara

Autora: Janice Gonçalves Temóteo

Título: Aspectos léxico-semânticos da linguagem de João Cabral de Melo Neto

Autora: Maria das Graças Pereira

Título: A influência da língua falada no léxico de Menino de Engenho, de José Lins do Rego

Autora: Maria das Neves Alcântara de Pontes

Título: Aspectos Lingüísticos do léxico do ceramista em Sergipe

Autora: Geralda de Oliveira Santos Lima

Título: A linguagem da casa de farinha

Autora: Yara Macedo Lyra

Título: A terminologia das Forças de Paz da ONU

Autora: Ana Virgínia Passos Theóphilo

Título: Socioterminologia da indústria madeireira

Autora: Alcides Fernandes de Lima

Título: Uma palmeira em muitos termos: a terminologia da cultura agroextrativista, industrial e comercial do coco babaçu

Autora: Josete Marinho de Lucena

Título: Glossário do reggae ludovicense: uma abordagem socioterminológica

Autora: Georgiana Márcia de Oliveira Santos

Título: Léxico do tambor de minas: uma proposta de glossário da linguagem afro-religiosa em São Luís

Autora: Anairam Jerônimo da Silva

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Título: A festa do Divino Espírito Santo no Maranhão: uma proposta de glossário

Autora: Maria de Fátima Sopas Rocha

Título: A terminologia do sal no RN: uma abordagem socioterminológica

Autora: Moisés Batista da Silva

Título: O léxico do vestuário na década de 80

Autora: Alcioneida de Menezes Costa

Título: A mulher na literatura de cordel: uma abordagem léxico-semântica

Autora: Rita de Cássia de Oliveira

Título: Para um vocabulário semi-sistemático da cultura e da indústria da rede de dormir e um estudo dos movimentos sígnicos constituídos de sua linguagem

Autora: Raimundo Ruberval Ferreira

Título: O léxico do canto do mangue

Autora: Wellington Lopes dos Santos

CONSIDERAÇÕES fINAIS

Teríamos muito mais a relatar, entretanto, os dados apresentados falam por si mesmos. Por tudo isso, Profa.Dra. Maria do Socorro Silva do Aragão, agradeço-lhe por ter-me oferecido a oportunidade de ter sido sua colega, sua amiga, sua irmã.

Meus cumprimentos aos idealizadores deste grande evento e desta não menos importante e justa homenagem.

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GéOLINGUISTIQUE ET SOCIOLINGUISTIQUE:UNE RENCONTRE OU UNE HISTOIRE COMMUNE?

Michel Contini

(université de Grenoble)

Il y a 100 ans s’achevait la publication de l’Atlas Linguistique de la France de Gilliéron et Edmont (1902-1910) qui marque le point de départ de la géolinguistique moderne7 à laquelle sont associées les notions fondamentales d’ «aire linguistique» et d’ «espace». Avec l’ALF l’intérêt de la dialectologie se porte prioritairement sur la représentation et l’analyse de la variabilité, dans la dimension diatopique. Gilliéron se proposait de réaliser «une photographie instantanée» du paysage dialectal du domaine gallo-roman, et de la France en particulier8, dans la période à cheval entre le xIx et le xxe siècle, de 1897 à 1901 exactement, au cours de laquelle furent réalisées les enquêtes9. A cette époque, la France est un pays où le monde rural tient encore une place dominante: dans la majorité des milliers de communes que compte le Pays le patois, ou dialecte local, est encore la langue maternelle de la plupart des habitants. Le choix de l’ALF de privilégier les parlers ruraux, considérés comme conservateurs par excellence, répondait à l’intérêt de Gilliéron pour l’histoire des mots10 et, de fait, l’ouvrage se révéla un outil précieux pour aborder une étude diachronique, à partir de la situation synchronique des variétés dialectales vivantes. Il permit, pour la première fois, d’avoir une vision d’un domaine linguistique dans sa globalité, de sauver de l’oubli un patrimoine lexical immense. L’entreprise suscita une admiration quasi générale chez les dialectologues: ne manquèrent pas, cependant, certaines critiques dont firent aussi l’objet nombre de chantiers qu’elle inspira dans les décennies qui suivirent. On reprocha à Gilliéron d’avoir utilisé un seul informateur par localité, de ne pas avoir adopté des critères strictes et homogènes pour leur choix et, notamment, de ne pas avoir tenu compte du sexe (102 femmes contre 633 hommes), ni de l’âge (il peut varier entre l’enfance et 60 ans), ni du niveau d’instruction ou de l’activité professionnelle, voire même, dans quelques cas, de l’origine géographique11; d’avoir adopté, exclusivement, une approche ‘impressionniste’ pour les relevés des enquêtes et, enfin, de ne pas s’être intéressé aux centres urbains où, déjà à l’époque, le français gagnait du terrain. Les options de Gilliéron se justifiaient cependant pour raisons objectives. D’abord, par le choix de prendre en compte la seule variation diatopique, sur un réseau d’enquêtes relativement dense (639 points), entreprise déjà immense en soi, compte tenu des difficultés des communications de l’époque que devait affronter l’unique enquêteur, E. Edmont. Deuxièmement, par l’exigence de réaliser les enquêtes dans un laps de temps relativement bref. Enfin, par la nature même de l’enquête, nécessitant la transcription manuelle, sur place, des réponses relatives à un questionnaire dont le nombre d’entrées devait varier entre 1400 au début de la campagne et autour de 2000 à la fin de cette dernière (BRUN-TRIGAUD et al., 2005). L’ALF sera ainsi le premier Atlas monodimensionnel. Nous pensons cependant que les critiques adressées à Gilliéron et, plus tard, à d’autres entreprises atlantographiques, notamment de la part sociolinguiste, ne peuvent pas être étendues aux recherches dialectales dans leur ensemble. On a tendance à oublier que des 7 On rappellera cependant que les travaux de Gilliéron ont été précédés par l’enquête de Wenker sur les dialectes allemands, réalisée par correspondance (WENKER, 1881). Dans notre exposé nous nous référons essentiellement aux travaux consacrés au domaine roman.8 Mais aussi de Belgique, du Luxembourg, de Suisse, d’Italie et d’Espagne. L’ALF prend en compte aussi des aires non gallo-romanes de France comme le Roussillon (catalan) et la Corse, italo-romane.9 Seule la partie de l’Atlas consacrée aux parlers de la Corse fut publiée quelques années plus tard (GILLIERON, 1914-1915).10 Cela apparaît dans les nombreuses publications inspirées par cet atlas, parmi lesquelles nous rappellerons l’étude consacrée aux désignations de l’abeille (GILLIERON, 1918).11 Voir les remarques de F. Brunot à ce propos (cité par DAUZAT, 1922, p. 12, n. 2).

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dialectologues ont relevé, depuis longtemps, l’existence de variations phonétiques, chez un même locuteur, entre différentes générations ou à l’intérieur de la communauté de patoisants d’un point donné. Des travaux ont mis en évidence les causes les plus fréquentes de leur apparition: influence de l’entourage phonétique de telle voyelle ou de telle consonne, contraintes prosodiques (position d’un segment par rapport à l’accent ou au schéma intonatif), position par rapport à la structure syntaxique, sans compter la faculté du locuteur à adapter son langage à la situation de communication langagière, pouvant favoriser l’interférence linguistique avec d’autres variétés dialectales ou avec la langue nationale. N’ont pas manqué, par ailleurs, les réflexions sur les conséquences de ces variations sur l’identité du système linguistique local.

En 1905, le dialectologue suisse Louis Gauchat, constatant toutes les nuances phonétiques qu’il avait relevées dans le parler de Charmey, village de la Gruyère (Suisse), objet de son étude (GAUCHAT, 1905)12, affirmait qu’il ne présentait aucune unité linguistique et avouait qu’il avait fini par étudier «d’une façon sommaire» environ 50 ‘langues individuelles’ (p. 57). Il précisait cependant que les variations n’avaient pas la moindre importance dans l’esprit des patoisants. Ajoutons, par ailleurs, qu’une variation, y compris interindividuelle, reste liée à son acceptation ou à son rejet dans le cadre d’une norme locale relativement observée. Il n’en demeure pas moins, pour revenir aux Atlas, que la réalisation relevée chez l’informateur unique a des chances de ne pas être la plus représentative de la prononciation locale. Preuve en est que les mêmes données, pour un même point, peuvent varier d’une enquête à l’autre, comme le signale Gauchat, ce qui peut s’expliquer soit par une perception différente des enquêteurs, soit par le fait que les informateurs interrogés ne sont pas les mêmes. Ajoutons que si le choix de l’informateur unique ne rend pas compte de la variation interne à chaque point, dans le cas de l’ALF cela était aggravé par le questionnement de ce dernier au cours de l’enquête, consistant à relever et à transcrire, uniquement, la première réponse donnée, considérée comme la plus intéressante par son caractère spontané (‘relevé impressionniste’). Concernant le lexique, cette approche – qui fut abandonnée par les successeurs de Gilliéron - masquait le fait bien connu que dans toute langue il existe une relative synonymie, plusieurs termes pouvant être employés pour désigner un même référent13. Dans l’étude déjà citée (p. 17), Gauchat avait déjà observé cette réalité: «La principale source de diversité réside dans la synonymie grâce à laquelle le patois est soumis à des fluctuations continuelles. Tel mot se perd, se remplace, tel autre mot voit tout à coup surgir un rival. Le patois de Charmey est encore assez robuste pour faire voir tout le jeu des forces destructives et créatrices… ». Et, plus loin (p. 19) « (dans les Atlas) …. la présence d’un mot n’implique pas l’absence d’un autre. Les sujets n’ont pas toujours répondu par le mot qui correspondait à l’idée de l’interrogateur. » Lorsqu’il y a plusieurs mots pour un même référent – continuait Gauchat - « … les parents, la camaraderie font préférer l’une à l’autre des expressions rivales… ». L’idéal serait donc qu’une enquête dialectale prenne en considération, sinon l’ensemble des sujets de chaque localité, du moins un nombre très élevé d’entre eux: ce qui, bien entendu, apparaît irréalisable, dans une entreprise de géolinguistique privilégiant la variation diatopique et nécessitant un grand nombre d’enquêtes sur de vastes réseaux. Faut-il pour autant remettre en question l’intérêt scientifique des atlas dits ‘classiques’, monodimensionnels, déjà réalisés? Ce n’est pas notre avis. Nous pensons, malgré tout, que l’utilisation d’un informateur unique peut être acceptable à condition que son choix respecte des exigences minimales et, en particulier: s’il est considéré, par des dialectophones du village, comme ‘l’un des leurs’, comme représentatif de leur communauté linguistique; s’il a toujours vécu et travaillé dans le village (sauf dans des périodes de courte durée); s’il est originaire de la même localité, tout comme sa famille et son conjoint. Exigences auxquelles, il faut bien le dire, les informateurs de l’ALF ne répondaient pas mais qui furent davantage observées pour les Atlas qui suivirent, y compris dans des ‘chantiers’ récents. Nous savons aussi que lorsque l’enquête se déroule en présence d’autres dialectophones - comme c’est souvent le cas - les réactions de ces derniers peuvent être un révélateur de la validité de la réponse donnée par l’informateur, et contribuer à faire connaître d’autres désignations présentes dans le parler étudié, pour le même référent. A ce propos, il est connu que dans des projets comme l’AIS et l’ALI et dans d’autres d’Atlas, les cartes peuvent contenir, dans les marges, un grand nombre d’informations complémentaires, ce qui constitue une innovation par rapport à l’Atlas de Gilliéron. Sont indiquées, par exemple, pour un même point et pour un référent donné, des réponses autres que celle qui ont été cartographiées ou des précisions fournies par les informateurs, ou par d’autres témoins, des élargissements sémantiques, ou encore des renseignements à caractère ethnographique14. C’est le cas, entre autres, des Atlas régionaux de la France ou de l’Atles Lingüístic del Domini Català (VENY, PONS i GRIERA, 2001). L’adoption de cartes à symboles, a permis d’indiquer des réponses multiples pour une 12 Gauchat, géolinguiste, fut le coauteur des Tableaux phonétiques des patois suisses romands, qui peut être défini comme un Atlas sans cartes (GAUCHAT et al., 1925).13 On sait cependant que Edmont notait, dans ses carnets d’enquête, l’existence de variantes et cela malgré les consignes d’un relevé impressionniste. A ce propos, comme le disait Dauzat (1922, p. 10, n. 1) «on ne peut que regretter que l’exception ne soit pas la règle.14 Mérite d’être mentionné l’Atlas Linguistique de la Wallonie, qui constitue, à notre avis, l’un des exemples les plus remarquables de l’analyse géolinguistique. Chaque carte (à symboles) est accompagnée d’un commentaire présentant la liste de toutes les variantes relevées, une analyse étymologique des formes avec des références bibliographiques ainsi que des informations d’intérêt ethnographique, accompagnées souvent de documents iconographiques.

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même localité, chose plus difficile à réaliser avec la transcription phonétique de différentes formes à côté de chaque point d’enquête, adoptée par certains Atlas, qui rendait la carte difficilement lisible. C’est la présentation que choisissent aujourd’hui la plupart des Atlas, parmi lesquels on pourrait mentionner l’Atlas Lingüístico Galego ou encore, au Brésil, l’Atlas Lingüístico da Paraíba (SILVA DE ARAGÃO, BEZERRA DE MENEZES, 1984) indiquant jusqu’à 7 réponses pour un seul point (carte 1).

Si l’emploi de plusieurs informateurs pour chaque point d’enquête n’est pas fréquent dans beaucoup de réalisations atlantographiques, la prise en compte de la variation intergénérationnelle est encore plus rare: nous savons pourtant que l’analyse de cette dernière, qui constitue l’un des objectifs privilégiés de la sociolinguistique, a eu toute sa place, depuis longtemps, dans les recherches dialectales. Dès la fin du XIX siècle, l’Abbé Rousselot, le père de la Phonétique expérimentale et dont Gilliéron fut l’un des disciples, avait consacré sa Thèse principale de Doctorat à l’étude des modifications phonétiques chez les membres d’une même famille d’un village de la Charente (France) (ROUSSELOT, 1891). L’objectif poursuivi était précisé dans la deuxième partie de l’ouvrage: « je tâche de rendre compte des transformations phonétiques qui se font jour dans les différents parlers des membres de ma famille établis à Cellefrouin; c’est à dire dans cinq groupes de générations successives qui embrassent une période d’environ cent ans… » (p. 69). Plus tard, Gauchat, se penche à son tour sur les écarts linguistiques intergénérationnels qu’il observe à Charmay: « …Une vieille personne ne fournit pas le langage à l’étape la plus avancée, qui est celle qui nous intéresse surtout… Les sujets trop jeunes offrent souvent un patois mitigé, contaminé par le français…. Les conditions de descendance sont très importantes. Si la mère du sujet n’est pas née dans le village dont on étudie l’accent, on est en danger d’entendre un patois mélangé… (GAUCHAT, 1905, p. 9-10). Il relève ainsi des mots employés par les personnes âgées et d’autres par les jeunes pour un même référent: dans la concurrence qui se manifeste entre différentes formes, il note que pour certaines d’entre elles «la lutte se termine », pour d’autres «la lutte continue» et pour d’autres encore «la lutte commence ». Il souligne l’influence de la langue nationale sur le patois, qui se fait sentir dans la morphologie, la syntaxe et surtout dans le lexique et que, dans ce cas aussi, les emprunts au français séparent les générations. Les recherches de Gauchat laissent apparaître, par ailleurs, l’existence d’une relative stabilité dans les générations des plus vieux et des plus jeunes et une plus grande hésitation dans la génération intermédiaire, situation encore plus évidente chez les femmes. Elles montrent, en même temps, que la variation intergénérationnelle est le fait le plus remarquable alors qu’aucune variation n’apparaît entre les différents hameaux de la commune, même très éloignés les uns des autres, constat qui peut être fait aussi pour les parlers des villages voisins, comme celui de Cerniat. Et Gauchat de conclure que le langage de deux vieillards habitant dans deux villages différents, est plus ressemblant que celui de deux individus appartenant à deux générations, choisis dans le même village (pp. 52, 53). Concernant la possibilité de définir l’identité du patois de Charmey il pense par conséquent qu’il est difficile d’en donner une définition standard: «Il n’est permis de parler du patois de Charmey comme type qu’en établissant une moyenne entre les diverses générations, en choisissant par exemple les gens de 30 à 60 ans. Cette génération ne représente qu’imparfaitement, aux yeux de la science très exacte, le vrai parler du village » (pp. 52-53). Cette conclusion laisse entrevoir des situations mises en relief par la géolinguistique multidimensionnelle dans lesquelles les divisions dialectales apparaissent plus socioculturelles que géographiques: une situation qui, d’après Teyssier (1980) (cité par Silva de Aragão (2010, p. 27), caractériserait aujourd’hui le domaine linguistique brésilien. Toujours sur le même sujet, nous rappellerons les travaux d’un linguiste italien, B. Terracini15, réalisés quelques années plus tard et dont on peut regretter qu’ils soient si peux mentionnés dans les ouvrages de géolinguistique. Nous pensons, entre autres, à son étude consacrée au parler francoprovençal d’Usseglio (1910-1922), dans le Val Soana (Piémont, Italie) et à la région environnante (32 communes), avec une trentaine d’informateurs des deux sexes, appartenant à différentes tranches d’âge. Pour la première fois dans un travail de géolinguistique, Terracini apporte un soin particulier à la description des informateurs, à leurs caractéristiques personnelles (informateur intelligent, précis et rapide dans les réponses), linguistiques (emploi de conservatismes, position vis à vis des innovations), à leur passé (séjours prolongés hors de la région et à l’étranger) et à leurs occupations professionnelles. Terracini met en évidence les variations intergénérationnelles et en explique les causes. L’un des principaux intérêts de cette étude découle de la situation linguistique particulière de la localité dont chaque habitant parle encore un italien quasiment comme une langue étrangère, ‘intende invece alla meglio il francese’ mais utilise surtout le patois, fortement influencé par le piémontais parlé dans les régions de plaine, vers lesquelles nombre d’entre eux émigrent pendant l’hiver pour y chercher du travail. Ce phénomène de migration interne est à l’origine des innovations qui pénètrent, en le ‘contaminant’, dans le parler local. L’analyse du processus de diffusion des innovations et les réactions que ces dernières suscitent, est l’un des objectifs de la deuxième partie de l’étude, particulièrement intéressante intitulée «La varietà nel parlare di Usseglio». L’auteur présente les principaux objectifs « …Cercheremo… di cogliere…. attraverso la mobilità del

15 Terracini fut l’un des directeurs de l’Atlas Linguistique Italien (TERRACINI, Franceschi, 1964; BARTOLI et al., 1995).

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parlare, la varia natura dei suoi mutamenti . Ma soprattutto cercheremo di impostare queste ricerche sotto un punto di vista geografico, indagando in qual misura siano accolte le innovazioni provenienti dai paesi vicini e attraverso quali vicende esse vadano adattandosi alle nuove condizioni». Sont étudiées aussi les innovations qui naissent dans le village lui-même, les éléments qui expliquent leur origine locale, et la façon dont elles se diffusent à travers les différents hameaux du village (TERRACINI, 1914-1922, AppendiceI, 106-107). Mérite aussi d’être rappelé un autre dialectologue: A. Duraffour. Nous lui devons l’une des plus remarquables études du domaine francoprovençal, consacrée principalement au parler de Vaux-en-Bugey (1932) mais prenant en compte aussi une vaste région environnante, dans laquelle il analyse, en particulier, la situation linguistique de deux familles du village, appartenant à trois générations successives et représentant, comme le souligne l’auteur lui-même «un siècle d’histoire» du parler local. Duraffour innove dans la méthodologie de l’enquête en privilégiant la ‘conversation dirigée’ plutôt que l’emploi d’un questionnaire mis au point préalablement, préconisé par Gilliéron: cette approche répondait à sa volonté de saisir la langue dans son emploi le plus spontané et naturel, en réduisant au maximum l’influence de l’enquêteur.

Le choix exclusif des localités rurales a été un autre reproche que les sociolinguistes ont adressé à la géolinguistique. Il est vrai que l’ALF et d’autres Atlas réalisés ultérieurement, y compris à des dates récentes (je pense aux Atlas régionaux de la France), ont exclu de leurs réseaux les milieux urbains, et cela malgré l’avis de Dauzat qui préconisait l’étude des parlers des grandes villes, en tant que centres d’où partent les innovations (DAUZAT, 1922, p. 170 et s.). Sur ce point aussi, il faut rappeler que les exceptions ne manquent pas. que l’on pense à l’Atlas Lingüístic de Catalunya (GRIERA, 1923 et s.) qui inclut des villes dans son réseau, ou encore à l’AIS qui consacra des enquêtes spécifiques à des villes aussi importantes que Florence, Turin, Milan, Bologne ou Venise. Dans ces dernières, deux enquêtes ont été réalisées avec le concours d’informateurs appartenant à différentes générations et à différentes catégories socioculturelles. C’est le cas de Florence, par exemple, avec trois sujets: deux, représentatifs de la classe moyenne (un étudiant et un employé à la bibliothèque) et un troisième, du monde artisanal du quartier de San Frediano. Les relevés laissent apparaître des différences entre ce dernier et les deux précédents; elles montrent aussi des variations entre le parler du centre urbain et celui du monde rural tout proche. On peut dire que le principe et l’exigence d’une enquête de type sociolinguistique tenant compte de la variation à l’intérieur d’un point donné, est ici en germe. Dans l’ALI, l’orientation dominante avait été celle de M. Bartoli et de sa ‘linguistica spaziale’ (BARTOLI, 1945), une théorie de l’espace linguistique global prenant en compte des critères de densité démographique, avec une opposition entre petites localités conservatrices par excellence, rurales (centri minimi), localités urbaines plus grandes, novatrices, par excellence (centri massimi), et localités présentant une situation intermédiaire (centri medi), traduisant une image de progression dans l’innovation entre le rural et l’urbain. Sans doute, dans cet Atlas l’analyse de la variation interne aux points reste assez marginale. On doit mentionner, malgré tout, que le principal et quasi unique enquêteur, U. Pellis, signale souvent dans ses enquêtes la coexistence, dans diverses localités, de plusieurs désignations pour un même référent, y comprises celles fournies par d’autres informateurs: ces informations complémentaires, lorsqu’elles divergent de la réponse cartographiée, figurent sur les marges. Dans plusieurs cas, est mentionné aussi l’emploi de termes différents entre les diverses générations (jeunes/vieux) ; d’autres informations peuvent se retrouver sur les fiches que l’enquêteur réalisait sur chacune des enquêtes et qui ont été publiées parallèlement à l’édition de l’Atlas (MASSOBRIO et al., 1995). Pour conclure sur cette ‘rétrospective’, on peut dire que, dans le passé, des dialectologues se sont intéressés à la variation diastratique mais que l’intérêt pour cette dernière a été par la suite mis en sourdine par le lancement des grands projets de géolinguistique privilégiant, d’une façon quasi exclusive, l’étude de la variation diatopique, monodimensionnelle.

Sous l’influence indiscutable de la sociolinguistique la situation a cependant évolué. La géolinguistique a pris conscience, notamment, de l’évolution du paysage dialectal dans tous les pays et a adapté son approche méthodologique aux changements socioculturels intervenus surtout dans les dernières décennies du xx siècle. On sait aujourd’hui qu’on ne peut plus se consacrer exclusivement à une dialectologie rurale, et que l’image du village isolé, linguistiquement conservateur, ne correspond plus à la réalité. Dans un monde où la séparation entre réalité rurale et réalité urbaine devient de plus en plus difficile à établir, la frontière entre une dialectologie urbaine et une dialectologie rurale est de plus en plus floue, et cela pour plusieurs raisons. D’une part, la plus grande mobilité des personnes, facilitée par le développement des moyens de communication, a multiplié les contacts interdialectaux. D’autre part, des impératifs socio-professionnels ont entraîné la désertification des campagnes par le déplacement de populations vers les centres urbains, suivie par des phénomènes de reflux avec l’abandon de ces derniers pour des banlieues de plus en plus éloignées, entrainant des déplacements quotidiens des populations des campagnes vers la ville et vice-versa. Dans ce contexte, les enquêtes les plus récentes réalisées dans plusieurs pays (par exemple,

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en Italie, en Sardaigne et en Vallée d’Aoste) laissent apparaître une influence grandissante des langues nationales, accentuée par la progression générale du niveau d’instruction et, surtout chez les nouvelles générations, un affaiblissement parallèle de l’usage du dialecte. On peut se consoler en constatant que le substract dialectal a marqué profondément les variétés régionales des langues nationales, sur les plans lexical, phonétique et morphosyntaxique, variétés que T. Telmon définissait déjà comme de nouveaux dialectes (TELMON, 1989). L’objectif prioritaire des entreprises de géolinguistique n’est plus, comme dans le passé, la recherche des éléments les plus purs ou le moins ‘contaminés’ par les contacts interlinguaux, la mise en évidence de l’archaïsme plutôt que l’innovation ou les phénomènes d’interférence linguistique, ce qui justifiait l’attention particulière portée au milieu rural. De nombreux dialectologues ont encouragé le développement des études sur la situation linguistique de la ville, en tant que lieu où se manifeste la plus grande mobilité (ALVAR, 1972, p. 17-20). Au cours d’une Table Ronde qui se tenait à Palerme au début des années 90, G. Ruffino, directeur de l’Atlas Linguistique de la Sicile, déclarait que « .. in geolinguistica - lo si voglia o non lo si voglia – i conti con le città bisognerà ancora una volta farli, arricchendo le motivazioni che già avevano dato Jaberg, Bartoli e Terracini, con le nuove riflessioni teoriche e con le più recenti esperienze di ricerca sulle dinamiche del punto (= interne al punto) e dell’area (dei rapporti del punto con l’area» (RUFFINO, 1992a, p. 630). Il mettait l’accent sur la nécessité de concilier les stratégies des enquêtes diastratiques internes, relatives aux grands centres urbains, avec celles des entreprises ‘mastodontiche’ de la géolinguistique. Le fait nouveau, aujourd’hui, c’est justement la convergence de la géolinguistique et de la sociolinguistique - nous dirions plutôt leurs retrouvailles – avec le dépassement de positions conflictuelles des ces dernières décennies, les sociolinguistes considérant la première comme une filiation de la seconde, les dialectologues, au contraire, tendant à considérer la sociolinguistique comme une branche de leur discipline.

S’il est vrai, comme nous l’avons rappelé, que la sociolinguistique est en germe depuis longtemps dans les travaux dialectologiques, il n’est pas moins vrai que leurs objectifs et leurs approches méthodologiques ont divergé par la suite pour les raisons déjà évoquées. Les orientations actuelles montrent que les deux disciplines ont tendance à se rencontrer, à faire un pas l’une vers l’autre, qu’elles trouvent un terrain d’entente, se croisent, interfèrent et apparaissent comme deux branches complémentaires (D’AGOSTINO, 1997). La géolinguistique des deux dernières décennies a fait un grand effort d’innovation en ouvrant à la sociolinguistique (GRASSI et al., 1997), dont elle a intégré les orientations vers les recherches variationnelles et aux approches quantitatives: nous rappellerons, cependant, que certaines entreprises atlantographiques, depuis les années 70, n’ont pas tout à fait négligé ces dernières. que l’on songe, à ce propos, aux approches dialectométriques développées, en particulier, par H. Goebl (1976, 1981, 1983, 2002; voir aussi Inoue, 1996) appliquées à plusieurs domaines linguistiques ou à l’analyse instrumentale de la variation en géophonétique dialectale, approche que l’on retrouve dans l’Atlas Multimédia Prosodique de l’Espace Roman dont l’objectif est l’étude et la comparaison des structures intonatives des parlers romans d’Europe et d’Amérique Latine et l’évaluation de la distance prosodique intervariétés (CONTINI, 1983-1987; 2007)16.

La prise en compte de la dimension diastratique de la variation (informateurs multiples, différentes classes d’âge ou de niveaux d’instruction, entre autres), caractérise désormais les Atlas les plus récents même si la variation diatopique demeure le trait dominant comme le souhaitait déjà D’Agostino (1992): « Ci sembra naturale …. che fra gli aspetti della variazione venga privilegiata la sua dimensione geografica, spaziale ». De son côté, la sociolinguistique tend à se rapprocher de la géolinguistique en prenant en considération l’espace, qu’elle avait eu tendance à négliger en abordant, en priorité, les problèmes de la variation ‘verticale’.

Au cours des trois dernières décennies l’intégration de la dimension diastratique tend à s’imposer dans les nouveaux chantiers géolinguistiques. Nous mentionnerons d’abord deux Atlas, consacrés à deux domaines linguistiques de la Romania Nova, qui adoptent cette approche novatrice: il s’agit de l’Atlas Lingüístico de México (LOPE BLANCH, 1975, 1990-1998, 2002) et de l’Atlas Lingüístico Diatópico y Diastrático del Uruguay (THUN, 1998, 2002; THUN et ELIZAINCIN 2000).

Le premier est chronologiquement le plus ancien: commencées dans les années 60, les enquêtes se sont poursuivies jusqu’à la fin des années 70. La cartographie est réalisée dans la première moitié des année 80 et l’édition des six volumes s’échelonne entre 1990 et 1998. L’Atlas privilégie l’analyse phonétique (volumes 1 à 3); la morphologie et la syntaxe font l’objet du volume 4 et le lexique des volumes 5 et 6. Lope Blanch sait que tous les dialectes sont polysémiques et qu’aucun informateur, pris isolément, ne peut traduire

16 Nous signalerons aussi des recherches visant à mettre en évidence, à l’aide de tests de perception, le rôle des paramètres prosodiques pour l’identification de variétés régionales ou de différentes variétés à l’intérieur d’une même localité (Romano 1997 ; Interlandi 2004)

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cette polysémie, qu’il n’y a pas d’informateur idéal, ni d’informateur qui soit un représentant ‘moyen’, constat déjà exprimé par un précurseur comme Gauchat et réaffirmé, entre autres, par Alvar (1972: 204) ou, au Brésil, par Nelson Rossi et al. (1963: 35). Par conséquent, dans chaque localité, ont été réalisés des enregistrements libres et des enregistrements avec un questionnaire auprès d’un minimum de 7 informateurs représentatifs des deux sexes, appartenant à 3 générations successives (jeunes, âge mûr, personnes âgées) et à 5 niveaux d’instruction (analphabètes, semi analphabètes, niveau scolaire moyen, semi cultivés, culture supérieure). Le champs d’analyse est donc très vaste «… aunque sea pálido e impreciso de la enorme complejidad de hâbla», pour reprendre les mots de Lope Blanch (1990-1998, I, 15) conscient du fait que «No podria un atlas regoger toda la variedad sociolingüística de ningún sistema, dado el elevadíssimo número de informadores que habria que intrevistar, para ello, en cada localidad; pero sí puede dejar entrever las principales distinctiones sociolingüísticas, revelando differencias sintomáticas entre una y otra clase de hablantes». Lope Blanch est conscient aussi du problème de l’organisation de l’énorme masse des données collectée, de son analyse quantitative et de sa représentation cartographique, problème que Ruffino (1992a, p. 630), se référant à l’exploitation des données des enquêtes de type variationnel, définissait déjà comme ‘estremamente arduo’. La présentation cartographique pluridimensionnelle de l’ALMex fournit une information d’une grande richesse et montre une réelle convergence de la géolinguistique et de la sociolinguistique. Malheureusement, dans la perspective d’une sémiologie graphique, la lisibilité des cartes (les cartes phonétiques et morphosyntaxiques en particulier) est rendue difficile par la multiplication des variables affichées, pour chaque localité, et dont la distribution aréale ne peut pas être facilement appréhendée. Sur les cartes phonétiques, par exemple peuvent apparaître jusqu’à 8 variantes pour un seul point, avec leur transcription: à côté de chacune d’entre elles, figurent aussi des indications concernant la fréquence moyenne d’emploi ainsi que les fréquences d’emploi chez chacun des trois ou quatre informateurs (chiffres de 1 à 4), représentatifs des catégories indiquées ci-dessus (Cartes 2 et 3)17. Moins complexes, les cartes lexicales, à symboles, présentent la liste des formes relevées et l’utilisation de l’une ou de plusieurs d’entre elles par les différents informateurs comme le montrent les cartes 4 et 5 consacrées aux désignations du ‘colibri’. L’ALMex montre ainsi les difficultés d’un Atlas pluridimensionnel à concilier, sur une même carte, la grande richesse des données avec la visibilité de la variation, problème qu’identifiaient aussi D’Agostino et Pennisi (1995, p. 34) pour qui «un modello cartografico sintetico deve innanzi tutto agevolare la rappresentazione di confronti multipli, dal minimo di una coppia di dati ad un massimo il cui limite è dato solamente dalla possibilità di agevolare il ‘colpo d’occhio’ cioè la leggibilità finale della carta».

Le deuxième Atlas est celui de l’Uruguay. Comme le précédent, il montre une ouverture de la ‘dialectologie diatopique’ - pour reprendre les termes de Thun – qui «complète l’aréalité par des dimensions cultivées surtout, jusqu’à nos jours, par la sociolinguistique» (THUN, 2002). Cela confirme le rôle primordial attribué à la dimension spatiale et explique le fait que les auteurs de cet Atlas aient préféré l’expression ‘dialectologie pluridimensionnelle’ à l’expression ‘sociolinguistique spatiale’, utilisée pour l’Atlas de la Sicile. L’adoption de l’analyse pluridimensionnelle de la variation s’impose, par ailleurs, par la situation particulière de l’Uruguay (3 million d’habitants, concentrés dans la capitale (1,3 millions) et dans une quinzaine de villes, capitales départementales), qui correspond mieux à cette société des villes, caractérisée par la mobilité démographique, par des différences sociales « au moins aussi importantes que celles identifiées parmi des personnes du même milieu (rural) vivant dans des régions différentes» (THUN, ibid.), par la présence de langues standard enseignées à tout le monde et par des contacts avec d’autres langues. Le réseau comprend au moins deux points par département (un point urbain et un autre rural), un nombre de points plus élevé dans le sud du Pays, à plus grande densité de population ou dans le nord, qui présente un plus grand intérêt linguistique. Le réseau hispanophone compte 75 points (dont 2 en Argentine) ; le réseau lusophone (ADDU – Norte) 35 points (23 en Uruguay et 11 points au Brésil). Montevideo est représenté par six points correspondant à des quartiers linguistiquement identifiés. Dans chaque localité ont été interrogés au moins 4 groupes d’informateurs et, dans les localités bilingues, jusqu’à 6 groupes. Deux questionnaires, très proches l’un de l’autre, ont été employés: ils tiennent compte des caractéristiques spécifiques de chacune des deux langues mais s’inspirent directement du questionnaire de l’ Atlas Lingüístico de Hispano-América (qUILIS, 2001-2002), pour permettre plus tard une étude comparative avec les domaines hispanophones et lusophones d’Amérique. Ils portent essentiellement sur la phonétique, le lexique et la grammaire. La façon de poser les questions est la même utilisée par tous les nombreux enquêteurs : ces derniers étaient deux, pour chaque enquête (un hispanophone et un Allemand ou un lusophone et un Allemand). Il y a des questionnements indirects et des questionnements suggérés, selon le modèle de Ravier (1965). Sont prises en considération les réponses spontanées (disponibilité active) et 17 La réduction d’une carte entière de l’ALMex au format de notre article la rendrait illisible. Nous présentons, à titre d’exemple, la partie méridionale de la carte 33, consacrée aux réalisations de -d- intervocalique, avec un zoom sur la péninsule du Youcatan. Les lettres majuscules indiquent la fréquence d’emploi des différentes réalisations: G (100% généralisé); F (80%); M (50%); P (20%); E (5%). Le signe (+) ou (–) indique une fréquence un peu plus élevée ou un peu moins élevée. Ex. F+ (90%); M+ (60%); P+ (30 %); E+ (7,5 %).

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les réponses obtenues à des formes suggérées, et acceptées (disponibilité passive) d’un référent. Cela est riche d’informations sur la dimension diaréférentielle, les réponses suggérées renvoyant à l’autre langue, leur acceptation et les commentaires des informateurs nous renseignant sur l’influence d’une langue sur l’autre et par là sur le phénomène du contact linguistique (ELIZAINCIN, 2009). Il va de soi que la réponse spontanée obtenue par le questionnement indirect demeure la plus importante. Les données relevées concernent huit dimensions variationnelles définies comme des relations oppositionnelles de variables (le plus souvent de type binaire), à savoir: 1. dialinguale (espagnol/portugais: repose sur le contraste entre les deux questionnaires); 2. diatopique - topostatique (groupes relativement stables dans un point d’enquête); 3. diatopique - cynétique topodynamique (oppose des groupes stables à des groupes mobiles): concerne les informateurs de Montevideo établis dans la ville de Rivera et aux informateurs de Rivera qui vivent à Montevideo); 4. Diastratique : deux niveaux de scolarité: classe socioculturellement supérieure/classe socioculturellement inférieure; 5. diagénérationnelle (deux tranches d’âge); 6. diasexuelle (femmes/hommes); 7. Diaphasique (trois référents: styles de lecture / réponses à un questionnaire / conversation libre; 8. diaréférencielle (langue ‘objet’/métalangue). Pour la cartographie, étant donné le nombre extrêmement élevé de données qui caractérise une analyse multidimensionnelle, ont été adoptées des règles strictes. Pas de transcriptions phonétiques sur les cartes mais utilisation de symboles qui tiennent compte : a. de la présence du trait étudié ; b. de son absence ; c. de 3 valeurs graduelles (de présence). Les symboles sont inscrits dans quatre secteurs, délimités par une croix, prenant en compte les paramètres socio culturels et générationnels:

cult. inf. - gén. II (vieux) // cult. inf. - gén. I (jeunes) cult. sup. - gén. II (vieux) // cult. sup. - gén. I (jeunes)

Pour les cartes diaphasiques les réponses sont classées en trois dimensions, correspondant à trois styles, inscrites dans trois espaces délimités par une étoile à trois branches :

style de la lecture (L) // style des réponses au questionnaire (R) style de la conversation (C)

A titre d’exemple, nous présentons une carte phonétique avec les réalisations de < ll > et < y > en posi-tion initiale (carte 6) et une carte lexicale avec la diffusion d’un italianisme (carte 7). L’approche mé-thodologique et la réalisation cartographique de l’Atlas de l’Uruguay se retrouvent dans l’Atlas Lingüístico Guaraní-Romànico (THUN, 2002a) dont le réseau couvre un espace linguistique centré sur le Paraguay mais s’étendant aussi sur le nord-est de l’Argentine (avec, en plus, la ville de Buenos Aires où vit une forte communauté d’émigrés paraguayens) et le Brésil méridional. Dans cet espace sont parlés le guaraní, langue indigène, la plus répandue au Paraguay où elle a un statut de langue officielle, mais aussi l’espagnol et le portugais, qui exercent une influence grandissante. L’analyse linguistique de cet espace, vue du point de vue du guaraní, s’intéresse plus à ses relations avec les deux autres langues qu’à sa variabilité interne, pluridimensionnelle; elle a aussi comme objectif d’évaluer son extension en tant que langue maternelle. Avant le début de la phase éditoriale avec la publication du premier volume, consacré au lexique (THUN et al., 2009), a été publié un Atlas à orientation sociolinguistique, l’ALGR-S (THUN et al., 2002b), qui constitue une section complémentaire du projet d’ensemble. Le domaine se limite au Paraguay oriental: sont utilisées les enquêtes de l’ALGR pour ce pays (44 points) et des enquêtes spécifiques conduites dans 20 localités particulièrement représentatives dans chacune desquelles ont été interrogées 32 personnes des deux sexes (16 hommes et 16 femmes), réparties en groupes de 4 appartenant à différentes classes d’âge et d’instruction. Son questionnaire, avec 73 entrées, est une version élargie de la section sociolinguistique du questionnaire général. L’Atlas analyse, entre autres, le degré d’utilisation des langues parlées dans le pays, l’attitude des informateurs vis à vis de chacune d’entre elles, l’emploi du guaraní dans les différents sujets de communication (carte 8), les échanges interlocuteur, leur point de vue concernant l’enseignement bilingue guaraní-espagnol. Des traitements statistiques des données quantifient les variations intergroupes, en pourcentages et en valeurs absolues. Par l’intérêt porté au guaraní, l’ALGR-S peut être considéré comme le premier Atlas sociolinguistique consacré à une langue amérindienne.

Toujours dans la Romania Nova, nous n’oublierons pas de mentionner, surtout dans le cadre de ce Con-grès, l’orientation pluridimensionnelle qui s’est affirmée dans la plupart des projets de géolinguistique du Brésil. On pourrait citer l’Atlas Linguístico do Paraná (ANDRADE, 1994) (carte 9), l’Atlas Linguístico de Sergipe - II (CARDOSO, 2005) analysant la variation dans la dimension diasexuelle (carte 10); l’Atlas Linguístico Sonoro do Estado do Pará (RAZKY, 2004); l’Atlas semântico-lexical do Grande ABC (CRIS-TIANINI, 2007) (carte 11) ou l’Atlas Linguístico do Mato Grosso do Sul (OLIVEIRA, 2007) (carte12) indi-

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quant les variations diasexuelle et diagénérationnelle que nous retrouverons aussi dans le projet ALiB, avec 4 informateurs pour les localités mineures et 8 pour les villes (ANDRADE MOTA, CARDOSO, 2006).

Dans le domaine roman européen, l’approche tendant à une sociolinguistisation de la dialectologie par l’analyse pluridimensionnelle se retrouve en particulier, en Espagne, dans l’ Atlas Lingüístico Etnográfico de Castilla-La Mancha (GARCIA MOUTON, MORENO FERNANDEZ 1988a; 2003-2007) et, en Italie, dans l’Atlante Lessicale Toscano (GIACOMELLI 1994; MONTEMAGNI, PAOLI, 1990, AGOSTINIANI et al. 1992, MONTEMAGNI 2006, 2007) et dans l’Atlante Linguistico della Sicilia, en cours de réalisation (RUFFINO 1988, 1992b; RUFFINO, D’AGOSTINO 1994; D’AGOSTINO 1992, 1997; D’AGOSTINO, PENNISI 1995).

Lancé en 1987, le premier devait utiliser, à l’origine, une approche semblable à celle des Atlas régionaux de l’Espagne qui l’avaient précédé, tous dirigés par M. Alvar. Son réseau (161 points) a été choisi en tenant compte de critères socioculturels et de la densité de population des différentes provinces. Un questionnaire, avec plus de 3000 questions, divisé en deux parties (GARCIA MOUTON, MORENO FERNÁNDEZ, 1988b) a été utilisé dans chaque localité, avec deux informateurs (un homme et une femme). Un questionnaire réduit permet de comparer le lexique des aires urbaines avec celui des aires rurales. L’ALeCMan se différencie cependant des autres Atlas régionaux par l’introduction de la dimension diastratique dans l’analyse de la variation, pour laquelle les auteurs s’inspirent plus particulièrement de Lope Blanch (1973) et de la sociolinguistique nord-américaine. Cette approche sociolinguistique a été appliquée à sept aires urbaines et présentée par les deux auteurs dès 1988 (GARCIA MOUTON, MORENO FERNÁNDEZ, 1988a). Sont prises en considération quatre variables: sexe, âge, niveau d’instruction, et quartier de résidence. Les informateurs, des deux sexes, sont représentatifs des quatre générations en présence et de trois niveaux d’instruction (élémentaire, secondaire et supérieur). Pour l’analyse de la variation phonétique, morpho-syntaxique et discursive, les enquêtes prennent la forme d’interview permettant de recueillir des données relatives à 3 niveaux de langue (haut, moyen et bas) mis en évidence par trois enquêtes de nature différente réalisées dans trois lieux différents, avec chaque informateur: dans une première enquête le magnétophone était visible, dans une seconde il était plus ‘discret’, et dans la troisième, caché18. L’analyse de la variation diaphasique renvoie au matériel issu du langage oral ou des conversations, la lecture étant exclue. Pour la présentation des matériaux d’intérêt sociolinguistique, sont utilisés deux critères différents: les données recueillies avec l’emploi d’un questionnaire sont cartographiées. Le nombre réduit de points d’enquête (7 localités) permet d’introduire de nombreuses données sur la carte avec, éventuellement, des compléments d’information insérés dans les marges. L’ALeCMan apporte aussi des informations d’intérêt sociolinguistique concernant la phonétique et la morphosyntaxe, limitées cependant aux traits d’intérêt majeur. Des analyses quantitatives des données, figurant sur des tableaux annexes, permettent d’observer la distribution de chaque trait relevé en fonction du contexte et de la situation sociolinguistique. Entièrement informatisé, l’Atlas est conçu pour être consulté en ligne. Le programme utilisé permet la réalisation d’une cartographie automatique des données. Nous signalerons aussi un autre projet en cours de réalisation, qui étudie, avec une approche semblable, la situation linguistique des parlers ruraux de la Communauté de Madrid. Il s’agit d’une aire négligée par les recherches géolinguistiques en Espagne car, par leur proximité avec la Capitale, ces parlers étaient considérés comme proches de la norme espagnole et, par là, présentant peu d’intérêt (GARCIA MOUTON, MOLINA MARTOS 2009).

Dans le domaine italo-roman, le projet qui fait figure de précurseur dans cette nouvelle orientation des deux disciplines est l’Atlante Lessicale Toscano dirigé par G. Giacomelli, une réalisation injustement passée sous silence dans les publications spécialisées. Pourtant, dans ce projet, lancé au début des années 70, s’expriment déjà les exigences d’une approche sociolinguistique qui, plus tard, en Italie, seront à la base d’une entreprise comme l’Atlante Linguistico della Sicilia. La Toscane, berceau de la langue italienne, présentait une situation linguistique particulière: il fallait séparer d’une part le niveau dialectal de l’italien régional, ayant intégré de nombreux éléments lexicaux d’origine dialectale et, d’autre part, définir ce qui revient aux différents niveaux de l’italien (italien populaire, italien familial, italien standard et italien littéraire). On sait, par ailleurs, que de nombreux toscanismes sont utilisés au niveau le plus haut de l’italien. L’objectif de l’ALT était l’étude de la variation du lexique, à la fois dans les petits centres et sur l’ensemble de la région ; la mise en évidence de la dynamique de la variation à la suite des influences ‘horizontales’ (entre les centres plus petits et les centres plus importants, socio culturellement dominants), et verticales (par la langue nationale à travers les grands moyens de communication, l’école, etc.) et des processus de diversification, entre groupes de centres, entre différentes catégories de parlants, entre ville et campagne, 18 Chaque conversation dure trente minutes: pour chaque informateur on dispose ainsi d’une heure et demie d’enregistrement. Ces derniers sont transcrits en forme orthographique et numérisés sous trois formes: a. transcription intégrale de l’enregistrement comprenant aussi la participation de l’enquêteur; b. la transcription des seuls informateurs; c. les concordances du discours de chaque informateur. Les documents sont disponibles sur CD ROM.

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dans le processus de replacement de termes dialectaux par des termes de la langue nationale standard. Le réseau de 224 points comprenait de petites localités rurales et des localités situées dans l’espace environnant des centres majeurs. Dans chacune d’entre elles, les enquêtes étaient enregistrées auprès de six informateurs au minimum, représentatifs des différentes générations, des différents niveaux d’instruction et de différentes activités professionnelles. Les résultats laissent apparaître des situations diverses d’une localité à l’autre et des ‘sensibilités’ linguistiques différentes concernant la perception du niveau dialectal et du niveau langue nationale. L’énorme masse lexicale recueillie - les informateurs fournissant le plus souvent plus d’une réponse aux questions - à dissuadé les responsables du projet à réaliser un atlas de type traditionnel: l’ALT est donc aujourd’hui un Atlas, entièrement informatisé, disponible en ligne.

Le projet où la convergence entre géolinguistique et sociolinguistique se manifeste le plus clairement est, sans doute, celui de l’Atlas Linguistique de la Sicile présenté par son directeur G. Ruffino, dès 1989, dans le cadre du xIx Congrès International de Philologie et Linguistique Romanes (RUFFINO 1989; voir aussi RUFFINO 1992 a, b; D’AGOSTINO 1992, 1997; D’AGOSTINO, PENNISI 1995). L’objectif de l’Atlas est l’étude du fonctionnement des dialectes actuels, où les éléments anciens et nouveaux se superposent et s’opposent, avec les tendances conservatrices et les dynamiques de la variation sociale et régionale. L’ALS s’articule sur plusieurs réseaux d’enquête à savoir : a. un réseau de base (+/- 150 points); b. un réseau d’intérêt ethnographique (+/- 50 points); c. un réseau avec des caractéristiques variationnelles (+/- 50 points); d. un réseau à caractère socio culturel spécialisé (15 localités côtières : lexique de la pêche surtout). Il utilise un questionnaire de base pour l’ensemble des points et des questionnaires complémentaires pour les réseaux b, c, et d. La partie variationnelle, qui constitue l’innovation majeure de l’Atlas, tient compte des intéractions entre facteurs de variabilité individuelle (âge, sexe, niveau d’instruction, lieu de résidence, etc.), facteurs internes à chaque point pouvant varier d’une localité à l’autre (pourcentage du nombre d’analphabètes, de personnes à faible scolarisation, des tranches d’âge, etc) ou en relation avec le territoire (mobilité interne, urbanisation-désurbanisation) ou facteurs historiques, socio économiques ou socio culturels. L’analyse variationnelle repose sur un ensemble de textes oraux spontanés, moitié en dialecte et moitié en italien, enregistrés avec quatre informateurs par localité appartenant à deux classes d’âge (âgés/jeunes) et à deux niveaux d’instruction (bas/élevé). Pour le choix des informateurs sont adoptés des critères traditionnels: sont pris en compte aussi des critères indiqués précédemment et notamment les relations des informateurs (études, professionnelles, etc.) avec les localités voisines ou avec le centre urbain le plus proche. L’Atlas, qui prévoit une informatisation globale des données, « est conçu comme une station d’informations hautement organisées et articulées et comme une centrale de représentation qui sonde toutes les possibilités ouvertes par la communication multimédia, symbolique, iconique et du signe » (D’AGOSTINO, 1997). La Base de Données informatique, articulée sur un modèle relationnel, ouvre la possibilité d’une consultation de la base sonore, sur le modèle des Atlas parlants. La publication de l’Atlas devrait commencer en 2011. En vue de l’édition finale, plusieurs procédés de représentation de la variabilité ont déjà été expérimentés, avec la réalisation: de cartes polarisantes; de cartes de rayonnement, mettant en évidence les points qui irradient des variations linguistiques; des cartes synthétiques avec la superposition de plusieurs traits, ou encore de représentations, avec des graphiques (histogrammes ou autres), permettant l’évaluation statistique des rapports entre les phénomènes observés (D’AGOSTINO, PENNISI 1995; D’AGOSTINO 1997). Au premier de ces deux derniers ouvrages, nous empruntons deux cartes qui montrent la variation de la prononciation rétroflexe du groupement consonantique /tr/, caractéristique des dialectes siciliens, par les jeunes et les vieux, lorsqu’ils s’expriment en dialecte ou en italien, avec les pourcentages d’utilisation (cartes 10, 11)

EN GUISE DE CONCLUSION

Dans un article déjà signalé, Mari D’Agostino (1992) avait soulevé deux questions fondamentales: «… ha senso oggi un atlante linguistico? Non si rischia di lavorare attorno a uno strumento datato e di farsi schiacciare, e forse travolgere, dai dati bruti»? A la première, nous répondrons fermement «oui» : oui, la réalisation d’Atlas linguistiques est plus que jamais d’actualité. Nous vivons dans un monde où les tendances normalisatrices et unificatrices visent à imposer des schémas socioculturels standardisés, où la pression des langues nationales menace plus que jamais la survie des variétés dialectales. Sans doute par une saine réaction, les recherches sur la diversité de ces dernières, sur leur classement typologique, sur les contacts interdialectaux et les relations entre dialectes et langues nationales, connaissent un intérêt croissant. Plus que jamais, le débat sur les notions d’espace, de territoire, d’identité culturelle ou de conscience linguistique, que l’on retrouvait déjà dans les travaux de Terracini (voir aussi : TERRACINI, 1957), est aujourd’hui d’actualité. Preuve en est la multiplication des chantiers atlantographiques dans le monde et dans les pays romans en particulier, en Europe et en Amérique Latine, où de vastes aires

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dialectales restent encore à explorer. Comment ne pas penser, à ce propos, à votre grand projet d’Atlas du Brésil? De nouvelles générations de dialectologues ont pris le relais de leurs aînés en poursuivant leur travail fécond auquel nous devons la richissime moisson de données collectées constituant, à elle seule, un patrimoine linguistique et culturel incomparable. quant à la deuxième question de D’Agostino nous sommes convaincu que les Atlas sont loin d’être «uno strumento datato», c’est à dire dépassé et donc à ranger dans un musée des recherches linguistiques. L’image du géolinguiste dont l’activité essentielle se limiterait à collecter des données brutes pour les transposer sur des cartes, apparaît plus que jamais réductrice. Il n’est plus à démontrer que la réalisation d’un Atlas, même traditionnel, ne peut être considérée que comme la première étape de la recherche, l’équivalent d’une Base de Données, support incontournable de tout travail d’analyse ultérieur: c’est ce qui avait déjà montré Gilliéron avec sa remarquable étude sur les désignations de l’abeille. La géolinguistique actuelle est une discipline de synthèse comme le montre sa volonté de rapprochement avec sociolinguistique, par un intérêt accru pour la dimension diastratique, pour l’analyse variationnelle et l’emploi systématique de méthodes d’analyse quantitative. Une discipline capable aussi d’innovations comme la mise en chantier d’une nouvelle génération d’Atlas, celle des Atlas interprétatifs19, avec l’Atlas Linguarum Europae ou l’Atlas Linguistique Roman, qui constituent, à notre avis, l’une des avancées majeures de la géolinguistique des deux dernières décennies du xx siècle. Dans ces nouveaux chantiers, les dialectologues ont su créer des réseaux de collaboration internationale ouvrant l’analyse géolinguistique à des espaces supranationaux et multi linguaux rendant possibles des travaux de synthèse à partir des millions de formes collectées par les Atlas publiés ou en cours de réalisation, dans l’espace roman ou dans l’ensemble du Continent européen. Ces projets ont fourni la matière à l’élaboration, par M. Alinei, d’une approche novatrice d’analyse du lexique, présentée dans un grand nombre de publications (ALINEI 1984, 1995, 1996, 2000, 2009). Cette approche repose sur la théorie de l’autodatation lexicale, axée sur la motivation étymologique ou iconyme, en relation avec les structures socioculturelles des sociétés humaines et à leur évolution dans le temps, avec la mise en évidence d’une chronologie relative des motivations, ouvrant des perspectives nouvelles à la linguistique historique. Elle est à la base de nombreux travaux et de cartes motivationnelles, publiées par les deux Atlas mentionnés ci-dessus (entre autres : ALINEI, 1983, 1986; BARROS FERREIRA, ALINEI, 1990, CAPRINI, ALINEI, 2008; CONTINI, 1996, 2007b, 2010; CARPITELLI, 2009)20. Les nouvelles générations d’Atlas s’orientent de plus en plus vers des Bases de Données, informatisées, multimédia, consultables en ligne et accessibles donc à un vaste public, et pouvant constituer aussi un outil pédagogique, bénéficiant dans certains cas de la possibilité d’un accès à la base audio (Atlas parlants) et vidéo21, contribuant à la connaissance du patrimoine linguistique d’un pays où coexistent variétés dialectales et langue nationale peuvent et à la mise en place de politiques de bilinguisme : objectifs visés, entre autres, par l’ADDU, l’ALGR ou l’ALIB. Les nouveaux moyens de traitement des données peuvent faciliter par ailleurs l’observation et la représentation de réalités multiparamétrique ou multidimensionnelles que les Atlas classiques, sur support papier ont, comme nous l’avons souligné, des difficultés à réaliser; faciliter aussi toutes les approches quantitatives avec lesquelles les nouvelles générations de dialectologues se sont aussi familiarisées. Alors: finie la géolinguistique ? Surtout pas. En tout cas pas la nouvelle géolinguistique, visant l’analyse de la variation diastratique et diatopique, du point et de l’espace, aux contraintes et aux influences socio-culturelles, aux contacts linguistiques et ouverte plus que jamais à la collaboration avec d’autres disciplines des Sciences Humaines.

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19 Dans cette catégorie d’Atlas, le Saggio di un Atlante linguistico della Sardegna (TERRACINI et FRANCESCHI, 1964) fait figure de précurseur.20 Chaque volume de l’ALE et de l’ALiR comporte deux tomes: l’un regroupe les cartes et l’autre les commentaires linguistiques relatif à chacune d’entre elles.21 Plusieurs Atlas de ce type ont été consacrés aux domaines francoprovençal, occitan, ladin (Contini, 2009) et, tout récemment, aux parlers de l’Etat du Parà (RAZKY, 2004). Ce sera aussi le cas de l’Atlas Linguistique Multimédia de la Sardaigne (ALiMuS), mis en chantier en 2010.

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LA SOCIOTERMINOLOGIE, ENTRE SOCIOLINGUISTIQUE ET SéMANTIQUE22

François GAuDIN

(université Rouen & uMR 7187)

Tout d’abord, je souhaiterais remercier les organisateurs de m’avoir invité et de m’avoir donné l’occasion de découvrir le Brésil pour venir parler de socioterminologie, alors que des chercheurs comme Enilde Faulstich auraient pu parler avec toute leur compétence et beaucoup plus de pertinence que moi.

Mon propos comportera deux parties. Dans un premier temps, je montrerai pourquoi la terminologie a évolué et s’est enrichie de nombreux apports et comment a émergé une socioterminologie dont on m’a demandé de parler aujourd’hui. Je présenterai le modèle glottopolitique qui a été utile dans les réflexions sur l’aménagement terminologique.

Dans un second temps, je voudrais développer l’idée selon laquelle la problématique de la référence, importante en sémantique et centrale en terminologie, gagne à être abordée dans une orientation sociolinguistique.

1. LES NOUVELLES VOIES DE LA TERMINOLOGIE

Comme vous le savez, l’autrichien Eugen Wüster (1898-1977) a fondé la terminologie comme discipline dans la première moitié du xxe siècle. La théorie qu’il a construite a possédé un rayonnement international important. Ce n’est que depuis une vingtaine d’années qu’elle est remise en cause.

En 2010, la théorie autrichienne a perdu de son actualité. Il faut le constater et l’on peut le regretter, dans la mesure où cela témoigne que l’horizon de la terminologie ne s’inscrit plus dans le paysage des initiatives généreuses du début du xxe siècle. Car l’ingénieur autrichien croyait à la terminologie comme à l’espéranto, dans la perspective d’une amélioration de la communication née d’une volonté délibérée et concertée. La foi dans les langues internationales auxiliaires a vécu; nos connaissances ont progressé; la terminologie n’est plus tout à fait wüstérienne.

Depuis une vingtaine d’années, la discipline dénommée terminologie a connu des évolutions doctrinales importantes. On parle aujourd’hui, au moins dans le domaine francophone, d’ontoterminologie, de pragmaterminologie, de socioterminologie, de terminologie culturelle, de terminologie textuelle, de théories des portes... La multiplicité de ces étiquettes qui cherchent toutes à dépasser la terminologie dite «classique» témoigne de la nécessité d’un changement – changement dans l’approche théorique comme dans les méthodes.

L’ontoterminologie a été lancée par Christophe Roche, la pragmaterminologie promue par Dardo de Vecchi, la terminologie culturelle défendue par Marcel Diki-Kidiri, la terminologie sociocognitive élaborée par Rita Temmermann, la terminologie textuelle proposée par Didier Bourigault et Monique Slodzian, la

22 Le présent article se situe dans le prolongement de travaux menés depuis une quinzaine d’années, les idées qu’il contient sont développées dans un ouvrage récent (Gaudin, 2003) auquel le lecteur attentif pourra se reporter.

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théorie des portes étant due à Maria-Teresa Cabré.

Les orientations que je viens de lister sont, pourrait-on dire, de la seconde génération et ont été élaborées après l’émergence de la socioterminologie, qui présente plus un caractère de courant, dans la mesure où, si l’université de Rouen a joué un rôle, nous n’avons fait que chercher à établir une synthèse et à travailler les fondements théoriques sur lesquels pouvaient reposer l’argumentation d’une terminologie enrichie par la sociolinguistique. Les travaux menés au Québec, les réflexions d’Alain Rey et de Louis Guilbert eurent une grande influence sur notre travail collectif. De plus, il faut dire que notre groupe de recherche en terminologie était animé par Louis Guespin, décédé trop tôt, qui avait été l’élève de Louis Guilbert, pionnier de la terminologie dans les années 1970.

2. LES SCIENCES DU LANGAGE ET AUTRES INfLUENCES

Dans le mouvement qui a conduit à réviser les théories et les pratiques, on peut distinguer quatre sources principales: la sociolinguistique théorique, la sociolinguistique de terrain, la linguistique générale, la linguistique de corpus.

1. L’intérêt de la sociolinguistique théorique est apparu avec l’étude de vocabulaires chargés d’enjeux sociaux et mêlant les disciplines, comme les pluies acides (Gambier, 1987), le nucléaire ou les biotechnologies (Assal, 1992; Bouveret, 1995; Delavigne, 1993), dans des travaux qui étaient nourris d’une linguistique de l’interaction verbale, de la sociolinguistique variationniste et de la praxématique. Ces apports ont permis de questionner les habitudes de pensée en terminologie sous plusieurs angles. Les travaux dans le domaine de la glottopolitique enrichiront les réflexions dans les études sur la politique linguistique et l’aménagement terminologique (Depecker et Mamavi, 1993; Auger, 1999).

2. La sociolinguistique de terrain n’est pas du tout une sociolinguistique sans théorie! Il s’agit ici de souligner l’importance des grandes expériences de référence comme les initiatives québécoises ou catalanes. Si l’on regarde en arrière, en 1988 paraissaient les actes d’un colloque intitulé L’ère nouvelle en terminologie (OLF-STq, 1988) dans lequel on sent que se lève un vent nouveau. Le renouvellement attesté résultait du fait que l’on ne pouvait se contenter d’une administration de la terminologie. Il fallait que les termes proposés pour la francisation soient adaptés aux besoins, aux habitudes et aux systèmes de valeur des locuteurs. Cela imposait des méthodes nouvelles et donc des idées neuves.

3. La linguistique générale a tardé à se préoccuper de terminologie qui avait été réduite à une marge étiquetée «vocabulaires scientifiques et techniques». Peu de linguistes s’y sont intéressés dans les années 1970 (Louis Guilbert et Alain Rey); puis Rostislav Kocourek donne un ouvrage de référence, en 1982 (Kocourek, 1991 [1982]). L’apport de la philosophie du langage chez Guilbert et Rey, celle de l’analyse de discours et de la grammaire transformationnelle, de la sémantique relationnelle chez Lerat vont donner une assise universitaire que confirmeront, dans les années 1990, les premières thèses spécifiquement consacrées en France à des problématiques terminologiques et proposant des analyses détaillées et des propositions théoriques (Gaudin, 1990; Depecker, 1994; Van Campenhout, 1994; Bourigault, 1994; Daille, 1995; Otman, 1995...).

4. Les acquis de l’intégration de la terminologie dans la linguistique profiteront aux débuts de la linguistique de corpus dont le développement accompagne un mouvement sociétal qui inscrit le langage au cœur des préoccupations économiques et industrielles. La documentation, la traduction, la rédaction ouvrent de nouveaux territoires aux chercheurs (Bourigault, 1994; Daille, 1995; Otman, 1995.). Cela s’est traduit par des programmes de recherche, des appels d’offres qui sont consacrés à l’accumulation des données et à l’informatisation des communications. Ces programmes, notamment européens, répondaient à des besoins industriels inédits et ont permis des innovations technologiques. Ils ont suscité des travaux linguistiques d’un type nouveau (Condamines, 2003) en sémantique des textes (Rastier, 1995; 2004), en recherche d’informations (Holzem, 1999) ou en analyse des données textuelles (Valette et Slodzian, 2008).

Ces quatre tendances ont contribué à renouveler le champ des études terminologiques, et le fait frappant réside dans leur convergence. Au plan historique, cette rencontre est faite de hasards: il se trouve, par exemple, que l’essor de la micro-informatique a coïncidé avec le lancement des politiques d’aménagement terminologique au québec puis en Catalogne, ces expériences succédant de peu à la mise en route d’une politique terminologique dans les institutions européennes. Ces coïncidences ont rencontré à la fois des

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évolutions durables – comme le fait que la linguistique a eu tendance à s’approprier des discours jadis marginaux - et des efforts personnels; en effet, la terminologie fut prise en charge, dans les années 1970, par des personnalités telles que Guy Rondeau, le québécois, Louis Guilbert, le Français, tous deux trop tôt disparus, mais encore, durant ces années pionnières, par Pierre Auger, André Clas, Jean-Claude Corbeil, Rostislav Kocourek, Bernard quemada, Alain Rey… Les accidents de l’histoire ont rencontré des curiosités et des compétences individuelles.

3. L’EMERGENCE DE LA SOCIOTERMINOLOGIE

Dans cet ensemble, les travaux que l’on peut associer à la notion de socioterminologie ont été menés principalement dans deux perspectives. La France a plutôt privilégié une approche théorique tandis que le québec réglait des problèmes pratiques et adoptait une approche de terrain. Le terme de socioterminologie utilisé de façon ponctuelle d’abord, a été construit comme concept dans les années 1985-1990 puis a essaimé dans les langues latines.

Le terme socioterminologie a été utilisé pour signifier que l’on remettait en cause les postulats de la bi-univocité du terme, d’une monosémie liée à l’appartenance à un domaine, et le principe d’une démarche conceptuelle couplée à une méthode onomasiologique.

Par exemple, en dehors de la normalisation, l’idéal de la monosémie ne peut constituer un objectif tenable que dans un cadre idiolectal, propre à un groupe. Dès que la circulation des termes concernés s’élargit, leur signification est sujette à des négociations nouvelles. Expliquons-nous. On convient aisément aujourd’hui, lorsqu’on a fait un peu de sémantique, que le terme se caractérise par le fait que sa signification est socialement normée. Il s’agit d’un contrôle social du sens, qui s’exerce de façon concertée, plus ou moins spontanée, ou de façon planifiée ou réglementaire. C’est dans cet esprit que l’on peut définir utilement la notion de concept, centrale en terminologie, comme un signifié normé, en suivant François Rastier23. Mais une telle définition, qui présente l’avantage scientifique de rapatrier la notion dans le giron de la linguistique, oblige à poser de façon encore plus centrale la notion de norme, notion éminemment sociolinguistique s’il en est.

Dans le même temps que l’on remettait en cause les présupposés traditionnels, une approche interactionnelle et sociolinguistique de la terminologie a permis de reconsidérer les discours institutionnels, techniques et scientifiques. On a vu notamment apparaître des études sur les discours de vulgarisation, qui sont exemplaires des difficultés que pose la diffusion sociale des terminologies (Jacobi, 1984).

Le développement des réflexions a été marqué au début des années 1990 par quelques publications collectives. Sur le versant théorique, trois numéros de revues ont été publiés en France24, en Belgique 25 et au québec26. Du côté de la politique linguistique, les années 1990 ont vu se tenir des colloques consacrés à la «Problématique de l’aménagement linguistique (enjeux théoriques et pratiques)»27 et à l’ «Implantation des termes officiels»�. A cette période, les responsables et les membres d’institutions terminologiques, comme les chercheurs, tant québécois, que français ou francophones, commencèrent à marquer leur intérêt pour les démarches inspirées de la sociolinguistique.

Cette convergence s’expliquait notamment par le fait que la pratique des chercheurs québécois, confrontés aux réalités du terrain et aux impératifs de la politique linguistique qu’ils servaient, leur avait permis de se rendre compte des réalités de l’usage qui ne se laisse pas modifier par de simples décisions. Ce qui permettait à Jean-Claude Boulanger de dire très justement que, dans la Belle Province, «la socioterminologie vit depuis longtemps en filigrane» (Boulanger, 1995: 15). En effet, les enquêtes terminologiques qui y avaient été menées à partir du début des années 1970 avaient permis aux spécialistes de l’aménagement terminologique de capitaliser une somme d’expériences, d’observations et de réflexions qui allaient les éloigner progressivement de la méthodologie est-européenne.

L’apport de la sociolinguistique était apparu très nettement, dès les années 1980, avec des travaux 23 «Un concept est un sémème construit, dont la définition est stabilisée par des normes d’une discipline, de telle façon que ses occurrences soient identiques à son type.» (Rastier, 1991: 126).24 En 1991, Terminologie et sociolinguistique, Cahiers de linguistique sociale, nº 18, URA CNRS 1164-Université de Rouen, 213 p.25 En 1993, numéro spécial Socioterminologie, Le langage et l’homme, vol. xxVIII, n°4, éd. DeBoeck Université.26 En 1995, Usages sociaux des termes: théories et terrains, Meta, vol. 40, n° 2, juin 1995, éd. Presses de l’Université de Montréal.27 collectif, 1994.

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pionniers, et aujourd’hui encore exemplaires, comme ceux de Monica Heller et alii (1982). La mise en évidence des réseaux de communication dans un milieu de travail, l’analyse des facteurs de résistance et de leur importance pour la modification des pratiques lexicales ouvraient la voie pour des travaux novateurs. Il faudrait également citer les chercheurs, tels Denise Daoust (1987) et Jacques Maurais (1984), qui, dès les années 1980, introduisirent dans leurs recherches la dimension diachronique et insistèrent sur l’étude du changement dans les terminologies, souvent réputées intangibles. La notion de changement est importante car la variation diachronique est solidaire de la variation sociale. Prendre l’une en compte conduit à intégrer l’autre.

Ensuite, la perspective sociolinguistique a attiré des chercheurs attachés à décrire et équiper des langues africaines28 utilisées dans des situations linguistiques complexes29. Les travaux menés sur les langues africaines minoritaires, confrontées à d’importants besoins d’équipement terminologique obligent à penser toute action terminologique en intégrant la diversité culturelle et le multilinguisme30. Et l’avenir devrait voir se développer, à travers le monde, les initiatives d’aménagement linguistique pour assurer un accès démocratique aux savoirs contemporains.

Et dans ces contextes, les chercheurs et les responsables doivent prendre en compte non seulement les aspects cognitifs, mais aussi les aspects identitaires des terminologies. J’ai parlé d’Afrique, mais c’est vrai aussi en Asie pour des pays comme le Laos ou le Vietnam (Tran, 1999), où des travaux ont été menés.

En fait, toute approche conceptuelle court le risque, en cherchant à rationaliser les contacts translinguistiques, de construire un référentiel notionnel qui ne soit que l’instrument d’une hégémonie linguistique et culturelle particulière, et c’est pourquoi ces problèmes doivent être traités en tenant compte de leur dimension éthique31. Les linguistes et les terminologues n’ont pas fait le lit d’une lingua franca anglosaxonne.

Retenons de ces éléments que l’approche adoptée dans ces travaux, soutenus par la volonté collective de tout un peuple, était de facto sociolinguistique. On comprend alors la convergence entre les terminologues québécois et les travaux menés sous le nom de socioterminologie.

Ces changements de doctrine peuvent laisser penser que la dimension sociolinguistique s’est banalisée au point d’influencer la terminologie dans son ensemble. Il est vrai que la prise en compte des usages sociaux des termes, l’étude de leur apparition, de leur circulation et de leur implantation sont des dimensions largement acceptées aujourd’hui. L’organisme de normalisation français l’Afnor a même édicté une norme en socioterminologie, reconnaissance quasi paradoxale…

Mais si la variation est mieux intégrée, il reste que certaines des orientations esquissées n’ont guère été suivies. On manque encore de grandes études longitudinales incluant l’oral et contrastant les pratiques langagières dans différentes sphères d’activité. Les études diachroniques sont rares. La variation internationale au sein d’une francophonie n’est pas analysée. Je ne sais pas si tel est le cas pour la lusophonie. Car faire de la socioterminologie, ce n’est pas seulement fonder une «analyse critique du discours de la terminologie», comme le disent Charaudeau et Maingueneau (2000: 568), ou développer une autre façon de faire de la terminologie, mais il s’agit d’élargir le champ de la terminologie, de dépasser son idéalisme, son volontarisme et son logicisme32, dans une perspective qui tienne compte des acquis divers, depuis le repérage automatique et ses implications au plan de la description linguistique33 jusqu’aux avancées de l’histoire des sciences et de l’épistémologie34.

Du chemin reste donc à parcourir pour que l’on puisse tenir la dimension sociolinguistique comme intégrée aux approches contemporaines. Et au plan international, l’influence de la terminologie d’inspiration normalisatrice, fondée sur les théories d’inspiration est-européenne, demeure importante(Felber, 1987).

28 comme le sängo, pour Marcel Diki-Kidiri (2000), ou le wolof, pour Chérif Mbodj (1994).29 Telles que celles décrites par Amigou Maïga (1991) ou Issoufi Alzouma Oumarou (1994).30 cf., par exemple, Aito, 2000.31 cf., par exemple, Morgenroth (dir), 2000.32 Sur les liens entre terminogie et positivisme logique, on consultera utilement Slodzian, 1993.33 cf. Bourigault et Jacquemin (2000).34 voir, par exemple, dans Lévy-Leblond (1996).

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4. LE MODÈLE GLOTTOPOLITIQUE

Il demeure aussi des explorations à mener dans le domaine de la glottopolitique, pour reprendre le concept développé dans les années 198035 (Guespin, 1985; Guespin et Marcellesi, 1986), et qui a enrichi les réflexions sur la circulation sociale des termes et l’aménagement linguistique (Depecker, 2000).

On parle de glottopolitique pour neutraliser les oppositions entre langue et parole. En effet, lorsque l’on parle de politique linguistique, on ne prend en compte que les actions les plus visibles. Or, dans le circuit qui relie la parole et la langue, des décisions diverses interviennent: il peut s’agir du bannissement d’une langue d’immigration à la maison, de la de l’anglicisation par une entreprise de sa communication, de l’enregistrement par un lexicographe de formes nouvelles, du choix de s’assurer ou non le concours d’interprètes lors d’un congrès36 etc.

Et cela n’exclut pas les décisions politiques, ou de leur absence37. En parlant de glottopolitique, on insiste donc sur la pluralité des niveaux de décisions qui, de celui de l’individu à celui de l’État, participent à la gestion, à l’évolution et à la genèse continue des langues. Il s’agit d’un modèle dynamique, sinon dialectique, qui permet de penser la langue et la parole comme deux pôles, la langue étant ce qui permet les interactions langagières, dans lesquelles elle se recrée et se renouvelle. Pas de langue sans pratiques langagières; pas de pratiques langagières sans langue.

Ce modèle dynamique permet aussi d’intégrer la dimension du changement dans une présentation statique et d’inclure cette notion centrale : le temps.

On distingue quatre temps dans ce circuit.

Le temps 1 est celui de la langue en incessante formation, c’est une abstraction mais une abstraction qui permet une individualité collective;

Le temps 2 est celui de l’influence des pratiques langagières par le modèle qu’est la langue, abstraction et référence, consigné dans les outils que sont notamment les grammaires et les dictionnaires;

Le temps 3 est celui de la parole, pour Saussure, de l’existence concrète des langues

Le temps 4 est celui de la perpétuelle genèse des langues, faite de tri et sélection à partir des événements, des interactions, de toutes ces petites réussites qui modifient peu ou prou la langue.

Or si l’on s’interroge sur les connaissances en matière de gestion des terminologies, on a travaillé sur les temps 1, celui de l’élaboration des terminologies officielles et 2, celui de leur réception, mais on sait peu 35 Les publications collectives les plus marquantes sont les Actes d’un colloque (Winther A. (éd.), 1985) et un numéro de la revue Langages (Marcellesi (dir), 1986) consacrés à ce concept.36 Par exemple, le Forum social européen de novembre 2003 affichait un nombre de 1 000 interprètes dont la présence devait assurer à de nombreuses minorités la possibilité de s’exprimer dans leur propre langue.37 Par exemple, la décision de l’Université de Montréal de se doter d’une politique linguistique est une décision glottopolitique significative.

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de choses sur la création des termes dans l’usage (temps 3) et leur sélection par le jeu collectif des usages (temps 4).

On a étudié maintes fois le rôle des agents, des institutions, des académies, des médias, des organes de normalisation, des services linguistiques, de l’école, etc. Mais on connaît encore mal les agents, les vecteurs, les différents relais qui assurent le succès - ou l’échec - des décisions prises en matière de terminologie. Pas plus que l’on ne sait prévoir l’échec ou le succès de termes lancés dans l’usage. Or une approche glottopolitique doit s’efforcer de penser et d’analyser les différents niveaux qui vont de la décision à l’usage, tout comme elle doit rechercher les outils méthodologiques permettant une description pertinente de cet usage.

Evidemment, il importe de distinguer les termes qui possèdent un rôle réglementaire pour lequels une norme doit être imposée : incident nucléaire, neuroleptique, mise en examen, pistolet d’alarme ne doivent pas être ambigus, par mesure de sécurité. Mais aussi on peut avoir besoin de rendre non-ambigu des noms comme crabe à pinces rouges, grenouille arboricole ou ver tubicole qui correspondent à plusieurs taxons. Il existe tout un secteur de dénominations réglementaires qui ne peuvent connaître de variations : en matière de sécurité, de droit, de protection des consommateurs ou des citoyens, etc. L’espace qu’occupe la norme technique est vaste; on a vu qu’il incluait même la socioterminologie! Mais en règle générale, ce dont ont besoin les locuteurs, c’est que l’on minimise le désordre terminologique, en favorisant certains termes et cela dans le respect d’une certaine variabilité linguistique. Une telle souplesse est nécessaire pour assurer dans une langue les tâches de production, de transmission et d’appropriation des connaissances.

Or si l’on néglige le désordre terminologique, cela facilite la domination linguistique, le recours à l’emprunt et la perte de domaine. Des langues sont comme frappées d’aphasie dès que le propos devient technique ou scientifique. Ainsi, l’apprentissage de la médecine en Suède, pays riche et développé, se fait massivement en anglais, langue dans laquelle sont rédigées toutes les thèses de doctorat. L’allemand connait des problèmes analogues38. Faudra-t-il demain être bilingue pour se soigner ou faire réparer son ordinateur? Le bilinguisme est une belle chose, mais la question posée est celle de la langue comme facteur de cohésion sociale39.

On le voit, la dimension sociale de la socioterminologie s’illustre dans les préoccupations de politique linguistique, mais l’étude de la circulation sociale des termes implique aussi une meilleure connaissance de l’évolution des pratiques langagières et de la socio-genèse des termes. L’élargissement des réflexions vers ces dimensions est encore trop souvent absent.

On l’aura compris, la socioterminologie se fixe comme objet l’étude de la circulation des termes en synchronie et en diachronie, ce qui inclut l’analyse et la modélisation des significations et des conceptualisations. Elle possède une dimension sociocritique, comme toute sémantique du discours, dans la mesure où elle relie la production de sens avec les conditions de son apparition. La circulation des termes est envisagée sous l’angle de la diversité de leurs usages sociaux, ce qui englobe à la fois l’étude des conditions de circulation et d’appropriation des termes, envisagés comme des signes linguistiques, et non comme des étiquettes de concepts.

Les termes sont utilisés par des locuteurs collectifs auxquels ils servent de dénominations normées et de marqueurs identitaires; ils circulent dans des secteurs de l’expérience humaine, au sein de sphères d’activité rarement limitées à des domaines d’emploi circonscrits. Ce sont les multiples facettes de ces discours réels et méconnus, liés à la production des connaissances, des règles et des objets manufacturés, sur lesquelles se penchent les nouvelles générations de chercheurs en continuant les avancées de la socioterminologie .

5. SOCIOLINGUISTIQUE ET RéféRENCIATION

Mais ces termes qui circulent servent avant tout à construire un monde de langage, un monde en langage, qui soit le plus précis possible. Et il me semble que la sociolinguistique peut constituer un apport pour la terminologie sur un point encore peu travaillé, c’est la réflexion sur la référence.

En effet, le plus souvent, la référence est appréhendée en terminologie comme inhérente au signe. Pour la terminologie, c’est une propriété sémiotique et non extra-sémiotique comme chez Saussure. Cet état 38 Bacquelaine Françoise, 2008, La terminologie bluetooth en anglais, en français et en portugais. Etude de néonymie comparée, mémoire, Université de Porto, p. 61.39 Voir «Les Suédois redoutent de se voir imposer de parler anglais», http://plurilinguisme.europe-avenir.com/

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de chose se comprend dans la mesure où ce qui prime, c’est l’efficace du signe, sa force de renvoi vers le monde et non l’infinie virtualité de sa puissance signifiante.

quand Saussure dénonce la vision qui réduit le nom à une étiquette, il stigmatise précisément l’effort auquel se consacre la normalisation ou la standardisation terminologique.

Or il me semble que la référence peut utilement être considérée comme un phénomène sociolinguistique. Cette idée n’est pas de moi, elle vient d’Hilary Putnam, fameux philosophe analytique40.

6. RéféRENCIATION ET DéféRENCE

La référence fait partie du fonctionnement du langage, c’est pourquoi il est utile de parler de référenciation, d’insister sur le caractère d’action de la mise en rapport entre des signes et des classes de référents.

La référenciation a lieu dans le milieu du langage donc dans l’interaction. Ordinairement, l’usage des noms se passe dans l’accord, grâce à la convention, et, si besoin est, la négociation; la référenciation est alors mutuellement consentie ou construite.

Pour utiliser avec d’autres des noms sur lesquels nous soyons d’accord, nous utilisons la déférence. Par déférence, on entend que le contenu sémantique d’un énoncé est déterminé en fonction de connaissances, de croyances attribuées à d’autres personnes.

Ce phénomène s’explique par une réalité mise en lumière par Hilary Putnam, c’est la division du travail linguistique.

Nous pouvons admettre qu’une partie de la signification est dans nos têtes mais l’exactitude du renvoi dans le monde que nous opérons est garanti socialement. C’est grâce à mon fleuriste que je sais si j’ai bien acheté une azalée ou un rhododendron.

C’est ainsi que les locuteurs non spécialistes peuvent acquérir de nouveaux mots sans se trouver devant la nécessité d’acquérir les connaissances qui permettent d’identifier les référents de façon assurée. Il m’est arrivé de résumer cette opposition de façon rapide en opposant le signifié, qui permet d’utiliser les signes, au concept qui permet de communiquer des connaissances structurées.

Disons que les locuteurs ordinaires peuvent employer à bon escient des mots dont ils ne maîtrisent pas le contenu conceptuel et, en cas de doute, ou de désaccord, il leur est toujours possible – au moins théoriquement - de s’en remettre aux experts 41.

Cette idée a été avancée pour souligner que le contenu sémantique ne dépendait pas uniquement des individus, mais, assez largement, des ressources cognitives présentes dans un environnement tant physique que social. Tous les locuteurs n’occupent pas des places équivalentes car les connaissances sont distribuées dans la société et dans la communauté de parole.

7. LA DIVISION DU TRAVAIL LINGUISTIQUE

Notre rapport sémiotique aux objets conceptuels construits dans le langage n’est, dans la plupart des cas, pas direct. Nous croyons aux quarks, des physiciens, aux trous noirs des astronomes parce que des experts nous en certifient l’existence. Nous n’avons pas à savoir exactement ce que signifient neuroleptique, hadron ou uranium car en cas de doute, il y a des experts qui garantissent le lien entre le nom et la chose. Si un litige nait entre mon interlocuteur et moi, je me tourne vers un expert.

Je ne chercherai pas à prouver l’utilité pratique de cette réflexion. Pour en comprendre l’utilité théorique, je prendrai l’exemple de ce qui se passe si un doute ou un désaccord survient sur le lien entre un signe et l’expérience du monde. Supposons que, dans un dialogue, survienne une question du type: «Tu es sûr que

40 Putnam Hilary, 1990, Représentation et réalité, Éditions Gallimard, 226 p.41 Voir «Les usages déférentiels», Philippe De Brabanter, David Nicolas, Isidora Stojanovic, Neftali Villanueva, L’épistémologie sociale. Une théorie sociale de la connaissance, Editions de l’Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, collection Raisons pratiques 17 (Ed.) (2007) pp. 139-162.

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ça s’appelle un cross-over42, une carambole43, une épaufrure44?».Dans ces cas, il nous faut recourir à une personne ressource qui soit garante, dans notre communauté

linguistique, de la validité du lien entre le nom et la classe référentielle. Le lien peut être direct ; je demande à un scénariste le sens de cross-over; je vais demander à un pharmacien le sens de neuroleptique. Mais souvent, il y a médiation par des personnes ressources, des enseignants, des vulgarisateurs.

Pour savoir vraiment ce qu’est une carambole, un cross-over, une épaufrure, une protéine, une psychose, je m’adresse à des personnes ressources. Ou, comme c’est le plus souvent le cas, je me tourne vers des écrits, c’est ce que les philosophes du langage appellent la déférence.

Pour examiner ce phénomène, la vulgarisation constitue un bon obervatoire, car on y construit de la référence uniquement grâce à des outils sémiotiques: langages et images. Les auteurs de vulgarisation font partie des personnes ressources qui effectuent le lien entre experts et non-experts. Les lecteurs sont de l’autre côté; ils n’ont pas légitimité pour décider si ce que l’on voit à la télévision est un cross-over, si le détail d’un mur est une épaufrure, si le métal de la bague est bien de l’or blanc, si les chaînes d’acides aminés sont bien des protéines. La vulgarisation est donc un bon exemple d’entreprise qui met en communication des experts et des non-experts. Nous sommes dans le coeur de ce que le philosophe Hilary Putnam appelle la division du travail linguistique. Il n’y a qu’à regarder l’importance des définitions et, plus largement, du discours définitoire dans la vulgarisation.

Et d’ailleurs, lorsque les références deviennent instables pour les experts eux-mêmes, par exemple, dans le cas des exoplanètes actuellement (Nicolae et Delavigne, 2009), cela questionne le rôle social des experts. De nos jours, les experts ne sont pas d’accord pour dire ce qu’est précisément une planète : aucun critère ne tient. Le terme est utilisé mais ses limites conceptuelles sont en débat.

Ceci est un cas marginal, qui correspond à un changement de paradigme scientifique au sens de Kuhn.

La règle générale, c’est que «l’usage du langage est intrinsèquement déférentiel : je n’ai pas besoin d’être un expert chimiste pour utiliser le mot « aluminium »: en tant que locutrice compétente de ma langue, je peux l’utiliser même si je ne suis pas capable de distinguer l’aluminium de l’acier, parce que la ‘division du travail linguistique’ lie chaque usage du terme au savoir pertinent partagé par les experts en métaux dans ma communauté linguistique.» (Origgi, 2005).

8. LA RéféRENCIATION, UN PHéNOMÈNE SOCIOLINGUISTIQUE

Or ce que nous voudrions faire ici, c’est insister sur le fait qu’il s’agit d’un phénomène sociolinguistique, car comme le souligne Putnam lui-même, ce phénomène repose en partie sur la division du travail, donc sur un fait social. La division du travail impose, pour les termes, le phénomène de la déférence. Or si la référence fait l’objet d’une compétence socialement répartie, cela met en cause l’homogénéité du fonctionnement des signes. On ne peut plus concevoir de façon homogène le rapport à la référenciation.

Certes, ce phénomène ne concerne pas tous les noms; même s’il existe des menuisiers et des ébénistes, utiliser des noms tels que table pose peu de problème. On peut se demander quelles sont les limites de la catégorie : une table sans pied et penchée est-elle encore une table ? Mais nous savons tous ce qu’est une table. En revanche, à quoi référons-nous quand nous parlons de protéines, de biohacker, de déchets ultimes, de rétrolien? Si ces signes sont pourvus d’une référence socialement distribuée, cette référence peut-elle être considérée comme une propriété de ces termes? Et ne doit-on envisager une approche sociolinguistique de la référence si celle-ci cesse d’être une propriété sémiotique du terme?

L’approche de Putnam permet de replacer dans le circuit des interactions verbales, donc de la communication réelle, des notions souvent abordées de manière idéaliste. Nous avons tous fait l’expérience que, pour certains noms, nous sommes en relation avec la référence de certains des termes de notre lexique, non individuellement, mais via la distribution des connaissances dans notre communauté linguistique. Les autres savent pour moi ce que sont exactement une chaîne de distribution, une chanterelle, un cromorne, ou un écoulement diphasique… Je peux employer les termes mais j’éviterai de les expliquer.42 Dans les séries télévisées, un cross-over est un épisode exceptionnel dans lequel les personnages de deux séries différentes se retrouvent au sein d’une même intrigue.43 Une baie exotique comestible.44 Une brisure sur une arête d’une brique, d’une pierre taillée, etc.

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Ordinairement, notre contenu intentionnel, notre intention de référer, suffit; mais si nous avons un doute sur le nom d’un champignon, nous allons voir le pharmacien par un mouvement de déférence. Les deux relèvent deux ordres différents: l’intention de référer relève de la représentation et le savoir du pharmacien relève du contenu épistémique. Il est évident que les problèmes d’expertise, de spécialisation relèvent de cette division du travail linguistique.

Le plus souvent, dans l’écrit c’est le dispositif éditorial qui garantit la scientificité de l’auteur et donc de ses propos. Cette garantie passe par le truchement de conseils scientifiques, de comités éditoriaux, qui cautionnent l’appartenance des auteurs au côté autorisé de la division du travail linguistique. On voit que cette division est constituée de deux pôles, mais il existe un continuum – heureusement! Entre les deux, le langage joue un rôle unificateur. Et la vulgarisation scientifique s’inscrit au sein de ce continuum qu’elle contribue à construire.

Cette opposition entre, d’une part, significations ordinaires et, d’autre part, significations savantes peut être reliée à l’opposition entre représentations et concepts, entre ce qui relève, d’un côte, de la psychologie individuelle et, de l’autre côté, de la logique. Mais entre les deux, existe un dialogue, un continuum, et chacun d’entre nous manipule à la fois des représentations et des concepts. Si l’on est très préoccupé par l’exactitude, on dira avec Bachelard que cela peut constituer un obstacle pour la connaissance, car c’est une des sources possibles d’erreur, mais, pour la communication humaine, cela constitue un heureux avantage.

Ce voyage au pays de la déférence et de la construction sociale de la référence aura peut-être surpris, venant après une présentation de la socioterminoogie et de la glottopolitique. Mais il s’agit de montrer que la dimension profondément sociolinguistique de la terminologie est présente au coeur même du fonctionnement sémiotique intime du terme.

Le lien entre les termes et ds catégories du réel passe par une médiation, une répartition sociolinguistique des tâches. Le lien dénominatif est garanti socialement, et la plus souvent une confiance mutuelle suffit.

Mais nous savons que le sens référentiel que nous utilisons n’est pas exact. Il est juste adapté à nos interactions, modelé au sein de nos échanges. Et quand nous avons besoin de nous assurer de la vérité de cette référence, nous avons recours à des experts.

Cette position est celle de l’externalisme. Elle présente l’intérêt de rompre avec le mentalisme très présent en terminologie. Les représentations mentales ne sont pas dans la tête ou du moins pas seulement. Elles résultent d’une construction sociale; elles sont dépendantes de notre environnement à la fois physique et social.

Les termes sont utiles et précis au sein d’un pacte social qui assure une référence partagée, rejouée et toujours négociable. Je ne pense pas que cette vision de la référence soit utile directement en terminologie. Je crois juste que ce détour par une notion fondamentale en terminologie donne un argument supplémentaire de poids à une approche sociolinguistique de la terminologie.

RéféRENCES

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ESCREVENDO GRAMÁTICAS DO PORTUGUêS BRASILEIRO NO SéC. XXI

Ataliba T. de CASTIlHO

(uSP, unicamp, CNPq)

APRESENTAÇÃO

Agradeço inicialmente ao Prof. José Ribamar Mendes pelo convite para participar desta justa homenagem à colega Maria do Socorro Aragão. Ela é uma ilustre dialetóloga, eu um aprendiz de gramático. Espero que este trabalho seja uma real homenagem à nossa batalhadora colega.

Nesta palestra, (1) menciono brevemente os projetos coletivos de pesquisa sobre o português brasileiro lançados a partir dos anos 70, (2) mostro que a abordagem multissistêmica da língua em que venho trabalhando resultou da interpretação dos achados desses projetos, e (3) apresento minha Nova Gramática do Português Brasileiro, em que essa abordagem foi testada mais amplamente.

Nas conclusões, insisto em que é chegada a hora de os linguistas brasileiros produzirem generalizações sobre os achados de seus projetos coletivos, conduzindo a ciência brasileira a um patamar mais alto.

A LINGUÍSTICA BRASILEIRA E A CONDUÇÃO DE PROjETOS COLETIVOS

No ano passado, comemoramos os 40 anos da Associação Brasileira de Linguística e do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo. É hora de celebrarmos também um produto genuinamente brasileiro da Linguística que fazemos: a condução de projetos coletivos, para o enfrentamento dos grandes temas nacionais. Ficamos tão acostumados a isso, que não percebemos quão escassa é essa forma de fazer ciência nos países em que nos abastecemos de teorias!

Não pretendo historiar aqui os projetos desenvolvidos nos últimos 30 anos. Mas vou referir três deles, dos quais participei: (i) o Projeto da Norma Urbana Linguística Culta, iniciado em 1969, (ii) o Projeto de Gramática do Português Falado, iniciado em 1988 e agora em processo de finalização, (iii) o Projeto para a História do Português Brasileiro, iniciado em 1998, e agora em processo de grande expansão.

O Projeto NURC, como todos sabem, introduziu a pesquisa sobre a oralidade na Linguística brasileira, formulando perguntas muito instigantes sobre um objeto que parecia tão banal, a conversação, dotando ademais a comunidade de um extenso corpus, que esse projeto explorou em seus aspectos maiormente pragmáticos.

Os instrumentos previstos pelo NURC para a descrição gramatical se mostraram insuficientes: Castilho (1990). Surgiu assim, a partir de outras perguntas, o Projeto de Gramática do Português Falado (PGPF), que atuou por vinte anos e produziu oito volumes de ensaios, muitas dissertações e teses. Estamos agora na fase da consolidação dos resultados, para a qual está prevista outra série, em cinco volumes. Saiu em 2006 vol. 1, organizado por Clélia Jubran e Ingedore Koch, dedicado à construção do texto falado, com 557 páginas. O vol. 2 saiu em 2009, organizado por Rodolfo Ilari e Maria Helena Moura Neves, dedicado às classes de

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palavras e processos de construção, com 1167 páginas. Em 2009 saiu o vol. 3, organizado por Mary Kato e Mílton do Nascimento, sobre a construção da sentença, com 340 páginas. A série será finalizada com os volumes 4 e 5, dedicados respectivamente à construção morfológica e fonológica da palavra.

Será que a enorme produção deste e de outros projetos coletivos está sendo lida criticamente pela comunidade brasileira? Pergunto isso porque a Gramática do Português Culto Falado no Brasil traz em suas introduções e nas entrelinhas de seus capítulos importantes reflexões teóricas para serem identificadas e trabalhadas.

Graças a essa gramática, o Português Brasileiro passou a ser a primeira língua românica, e por enquanto a única, a ter sua modalidade falada culta amplamente descrita. Ultrapassamos os hispano-americanos que nos precederam, e os americanos, franceses e italianos que estudaram a oralidade ao mesmo tempo que nós, sem terem ainda chegado a um trabalho de conjunto.

Mas há outro tema enorme nos esperando, pois precisamos conhecer a história linguística do Português Brasileiro. Para responder a esse desafio, certamente muito mais complexo que o anterior, foi organizado em 1998 o Projeto para a História do Português Brasileiro (PHPB), que se desenvolve hoje em onze regiões do país: São Paulo, onde tudo começou, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.

quase duas centenas de pesquisadores trabalham atualmente em cinco áreas: (i) Linguística de corpus, (ii) História social, (iii) Mudança gramatical, (iv) Léxico histórico e (v) Diacronia do texto e das tradições discursivas. Seus resultados saem regularmente na série Para a História do Português Brasileiro, atualmente com 8 volumes, nos quais vieram à luz 34 textos de e sobre o corpus diacrônico, 38 estudos sobre a história social, 7 sobre mudança fonológica, 45 sobre a mudança gramatical na perspectiva gerativista, 94 sobre a mudança gramatical na perspectiva variacionista e funcionalista, 43 na nova área da diacronia do texto e das tradições discursivas, e 20 sobre a diacronia do Léxico.

As equipes regionais publicam igualmente seus livros, em número de 25, entre eles os volumes I e II História do Português Paulista, série Estudos.

De novo, muito conhecimento está sendo acumulado, à espera da reflexão crítica e teórica dos linguistas brasileiros. Gostaria de lembrar que de algum tempo a esta parte resolvi me lançar o desafio de contribuir para essa reflexão teórica, mesmo não sendo o mais preparado para isso. Isto nos leva ao segundo ponto desta palestra.

A ABORDAGEM MULTISSISTêMICA DA LÍNGUA E OS ACHADOS DO PGPf E O PHPB

A abordagem multissistêmica do Português Brasileiro é um dos encaminhamentos para essa teorização. Ela procura responder a uma pergunta crucial: qual é o trabalho que os brasileiros vêm desenvolvendo sobre a Língua Portuguesa?

O pontapé inicial para o desenvolvimento dessa abordagem veio das análises que os pesquisadores do Projeto de gramática tinham encomendado ao Milton do Nascimento, por ocasião do IV Seminário desse projeto, realizado em Belo Horizonte, em 1990. O que se pediu ao Milton foi que no final de cada seminário ele deveria identificar os rumos que a pesquisa vinha tomando. Durante dez anos ele foi nosso guru no campo das generalizações de que precisávamos.

Como sabem, o grupo da gramática não atuava numa única linha teórica, o que representou um desafio a uma de nossas crenças mais arraigadas, a de que sem uma articulação teórica compartilhada não se avança na análise linguística. Pois esse arrojo se revelou afinal o grande trunfo do grupo. O que parecia uma grossa besteira, juntar pessoas que pensam diferente à volta de um objetivo comum e de um corpus comum, se transformou num sucesso evidente, até prova em contrário.

Pois o Milton nos foi mostrando que a gramática que se estava escrevendo focalizava fortemente os processos linguísticos, não se limitando à esperada apresentação de uma lista de produtos, devidamente empalhados e catalogados: Nascimento (1993/2005). Afinal, classificar produtos sempre foi o prato forte das gramáticas descritivas. Mas nós brasileiros estávamos caminhando para outra direção.

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Ouvindo o Milton, descobri que as velhas afirmações de Humboldt faziam, de repente, um tremendo sentido, quando este linguista dizia que “la lengua misma no es una obra (érgon) sino una actividad (enérgeia)”: Humboldt (1836 / 1990: 65).

Comecei então a imaginei um modo de estudar a língua que pusesse em relevo os processos, valendo-se dos produtos como um ponto de entrada para seu estudo. Era o caso, também, de tornar claro que a descrição da oralidade estava alterando nossa percepção sobre a linguagem, moldando novos hábitos científicos. Escrevi, assim, o livrinho Língua falada e ensino do português, em 1998: Castilho (1998 a/2004).

Já na vigência do Projeto para a História do Português Brasileiro, frequentei alguns cursos sobre gramaticalização num dos Institutos de Verão da Sociedade Americana de Linguística. A gramaticalização retrata as palavras e as construções em sua interminável construção e reconstrução, demonstrando que a língua é, de fato, uma tremenda enérgeia! É por isso que a gramaticalização se tornou a pièce de résistence do Funcionalismo.

Mas enquanto lia a bibliografia, fui achando que certas coisas não batiam bem. Em primeiro lugar, ficou claro para mim que a abordagem funcionalista abriga uma crise derivada de seu hesitante ponto de vista sobre a língua, em que se combinam duas perspectivas epistemológicas diferentes: a ciência clássica, que focaliza os produtos, e a ciência dos domínios complexos, também conhecida como teoria do caos, que focaliza os processos. Os gramaticalizadores lidam o tempo todo com um processo linguístico, mas estavam usando as lentes erradas para focalizar esse fenômeno.

Como uma possível saída para a crise, seria preciso tentar a formulação de uma teoria que entendesse a língua como um sistema complexo e dinâmico, suficiente para enquadrar adequadamente os processos da linguagem, para além da gramaticalização.

Cheguei assim à “abordagem multissistêmica da língua”, que implicará numa nova agenda de pesquisas, necessariamente interdisciplinares, pois qualquer fenômeno será estudado a partir de quatro perspectivas: (i) Léxico e lexicalização, (ii) Semântica e semanticização, (iii) Discurso e discursivização, (iv) Gramática e gramaticalização.

Um conjunto articulado de categorias caracteriza cada um desses sistemas. Nenhum deles pode ser postulado como o centro da língua. Nenhum deles determina os outros.

Antes de elaborar essa abordagem, notei que tanto formalistas quanto funcionalistas costumam eleger um sistema central para a língua, o qual, por estipulação teórica, determina os demais sistemas. Na história da Linguística, ocuparam esse trono a Fonética (para os neogramáticos), a Fonologia (para os estruturalistas), a Sintaxe (para os gerativistas) e o Discurso e/ou a Semântica (para os funcionalistas).

Mas por que se tem afirmado que as línguas dispõem de um sistema central? Que percepção epistemológica está por trás dessa postulação? Comecei a pensar que de nada adiantará ficar mudando de cadeira, se continuarmos a dançar conforme a mesma música. E me diverti ao constatar que tanto funcionalistas quanto formalistas frequentam esse mesmo baile! Logo eles, que se acham tão diferentes! Pois não é que as duas tendências compartilham a mesma percepção linearizada da língua, passível de ser acomodada em camadas?

Ora, as descrições sobre a oralidade tinham desmentido fortemente a percepção da língua como uma linha. É verdade que, quando falamos ou escrevemos, o produto é linear. Mas os processos de criação linguística que volta e meia se revelam nas entrevistas aconselham a que abandonemos a ideia da língua-linha. Não podemos aceitar que nossa mente funcione pobremente através de impulsos sequenciais, lineares, uns depois dos outros, ou uns em cima dos outros, como bois no matadouro.

Esses impulsos são, ao contrário, multilineares, simultâneos. A língua falada documenta a emergência fugaz desses caminhos múltiplos, basta ter olhos que queiram ver. Infelizmente, as propriedades mais legitimamente constitutivas da língua falada têm sido dadas à conta de certa desordem mental, talvez mesmo casos de afasia. Ao etiquetar a língua falada como uma desordem descontrolada, estamos é pondo vendas em nossos olhos.

Muito bem, temos então quatro sistemas, e nenhum deles manda no vizinho. Mas esses sistemas precisam, decerto, de alguma forma de articulação, para que possamos movimentá-los na formulação do pensamento, na expressão dos sentimentos, na busca da ação sobre o outro.

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Postulei então um dispositivo sociocognitivo como princípio gestor dos sistemas. Ele é social porque se fundamenta nos princípios da interação conversacional que foram identificados pela Análise da conversação. E é cognitivo porque opera com a representação linguística das categorias cognitivas, que vêm sendo identificadas pela Linguística homônima.

Três estratégias movimentam a conversação: (i) a projeção dos turnos, (ii) a repetição do que foi dito, (iii) o abandono do que estava sendo dito, a que se segue a imediata retomada do turno. Todas essas estratégias derivam do monitoramento contínuo a que submetemos nossas conversações. Em consequência, a postulação do princípio sociocognitivo deveria ser efetivada a partir de três movimentos mentais simultâneos, a ativação, a reativação e a desativação das categorias lexicais, semânticas, discursivas e gramaticais. Quem diria! A conversação, um exercício tão banal, mas suficientemente forte para hospedar os princípios reitores da língua!

Para a percepção da língua como um multissistema, inspirei-me em autores tais como Humboldt (1836 / 1990), Morris (1938), Franchi (1976), Halliday (1985), Nascimento (1993/2005), buscando sempre interpretar dessa perspectivas os achados do Projeto NURC, do PGPF, e do PHPB: Castilho (1998 b,d, 2002, 2003 a,b, 2004 a,b,c,d, 2005, 2007, 2009 a). Versões anteriores da proposta se beneficiaram do criticismo construtivo de colegas como Margarida Basílio, Jânia Ramos, Sônia Bastos Borba Costa, Augusto Soares da Silva, e de orientandos de mestrado e doutorado. Algumas aplicações da proposta aparecem em Castilho (1997b-c, 1998 a-c, 2000b, 2003 a-b, 2004 a-c, 2007, 2009 a-b), Barreto (2004), Módolo (2004, 2006), Kewitz (2007, 2009), Simões (2007), Braga (2008), Defendi / Lopomo / Cacciaguerra (2009), Santos / Bernardo / Terra / Barroso (2009), Sartin (2009). A concepção do portal www.museudalinguaportuguesa.org tomou igualmente em conta esta proposta. O mesmo ocorreu na montagem da exposição temporária “Menas”, inaugurada semanas atrás.

Mas seria preciso testar a teoria mais amplamente. Enfiei na cabeça que o jeito era interpretar desse ponto de vista os últimos 30 anos da produção linguística brasileira, numa forma estruturada. Escrevi então a Nova Gramática do Português Brasileiro, publicada em abril deste ano pela Editora Contexto, com o apoio da Fapesp. Vejamos como é essa gramática.

APRESENTAÇÃO DA NOVA GRAMÁTICA DO PORTUGUêS BRASILEIRO

A Nova Gramática do Português brasileiro tem a seguinte estrutura:

• Prefácio de Rodolfo Ilari• Apresentação geral do texto• Cap. 1 – O que se entende por língua e por gramática• Cap. 2 – Os sistemas linguísticos• Cap. 3 – História do Português Brasileiro• Cap. 4 – Diversidade do Português Brasileiro• Cap. 5 – A conversação e o texto• Cap. 6 – Primeira abordagem da sentença• Cap. 7 – Estrutura funcional da sentença• Cap. 8 – Minissentença e sentença simples: tipologias• Cap. 9 – A sentença complexa e sua tipologia• Cap. 10 – O sintagma verbal• Cap. 11 – O sintagma nominal• Cap. 12 – O sintagma adjetival• Cap. 13 – O sintagma adverbial• Cap. 14 – O sintagma preposicional• Cap. 15 – Algumas generalizações sobre a gramática do português brasileiro. A reflexão gramatical.

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Adotei o seguinte ritmo na escritura dessa gramática: (i) primeiramente, apresento exemplos colhidos na língua falada e na língua escrita corrente; (ii) depois, identifico aí um fenômeno e apresento a interpretação que lhe vem sendo dada; (iii) promovo então sua análise multissistêmica, identificando suas propriedades lexicais, semânticas, discursivas e gramaticais.

Para uma verticalização da análise, indico leituras, sequenciadas cronologicamente, formulo novas perguntas, convidando o leitor a continuar a análise.

No geral, os capítulos têm um estilo dialógico, informal, bem humorado, em que debato alternativas de análise e escolho uma, nos termos da teoria adotada. Vou insistindo em que não há uma única forma de entender os fatos da linguagem.

Invertendo o ritmo habitualmente observado em nossas gramáticas, esforcei-me o tempo todo para que se veja em meu livro primeiramente a língua, e depois a gramática. Combato, dessa forma, uma das consequências da excessiva escolarização dessa antiga disciplina. Evitei uma exposição acrítica dos fatos, dando-os como verdades únicas que não admitem contestação. Provoco continuadamente o leitor, simulando com ele uma conversa, em que argumentos contrários são lançados à mesa, até que se escolha uma opção de análise. Estou convencido de que a análise gramatical deve ser um exercício crítico, um exercício de cidadania – e não o lugar das verdades acabadas.

As gramáticas não mencionam habitualmente sua orientação epistemológica, que em geral é o das ciências clássicas, nem o ponto de vista que animará as descrições, que representa em geral uma mistura de perspectivas. Como já disse, dei a esta gramática uma orientação teórica própria. Deixei de lado o entendimento da língua como um elenco de signos organizados em unidades hierárquicas, e favoreci o entendimento da língua como um conjunto de operações cognitivas.

Por outro lado, as gramáticas se fundamentam exclusivamente na língua escrita, preferentemente em sua modalidade literária. Incorporei nesta gramática a língua falada, utilizando, no caso da língua escrita, os textos jornalísticos a que qualquer cidadão está exposto. Continuo achando um desaforo fundamentar a descrição gramatical na língua literária. Essa modalidade tem um projeto estético, que a afasta deliberadamente do modo comum de dizer as coisas. A língua literária não é o lugar da linguagem corrente de que se ocupam as gramáticas. Ainda bem!

Ao longo do texto, e sobretudo no capítulo 15, procuro desenvolver nos leitores o gosto pela reflexão e pela pesquisa, libertando-os da dependência da “voz de gramáticos e linguistas”. Esse aqui é um lance meio calvinista, no qual insisto em que entre o leitor e a língua, não é preciso interpor um despachante para a solução das dúvidas e das curiosidades levantadas por ela, seja um despachante-gramático, seja um despachante-linguista. Para atingir esse objetivo, apresento na segunda parte do Cap. 15 a metodologia da pesquisa linguística, listando projetinhos que poderão ser desenvolvidos pelos leitores. O subtítulo desse capítulo é “no dia em que virei linguista-gramático”. Afinal, não é verdade que carregamos a língua em nossa mente?

Nesse capítulo 15, faço igualmente uma leitura onomasiológica dos fenômenos estudados nos capítulos anteriores, demonstrando que eles representam, em sua diversidade enorme e aparentemente caótica, algumas poucas categorias cognitivas, tais como PESSOA, COISA, ESPAÇO e TEMPO, MOVIMENTO, qUALIDADE, qUANTIDADE.

Para que o leitor obtenha maior aproveitamento da obra, providenciei um glossário terminológico, um índice de matéria, e organizei tematicamente as referências bibliográficas.

Sei que produzi uma gramática um tanto paradoxal, dado o que temos entendido habitualmente por essa disciplina. Espero a crítica dos presentes e dos ausentes também.

CONCLUSÕES

Nesta parte final do texto, não vou me segurar nos tamancos sem confiar aqui aos colegas e aos alunos desta universidade uma forte preocupação sobre a qual tenho falado ultimamente. É o seguinte.

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quando a Linguística foi implantada no Brasil, tivemos de nos preparar numa ciência então nova para o país e nova para nós mesmos. Em apenas três universidades os alunos de Letras podiam estudar Linguística, ali pelos anos cinquenta: Estruturalismo no Rio de Janeiro, com Joaquim Mattoso Câmara Jr., Linguística Histórica românica e indoeuropéia com Theodoro Henrique Maurer Jr. em São Paulo, e Linguística ameríndia com Mansur Guérios em Curitiba.

De um jeito ou de outro, cada um precisou formar sua cultura linguística por conta própria, lendo manuais de introdução e sistematizando suas leituras. Os primeiros seminários de nossas associações científicas refletem isso claramente.

Mas também era necessário desenvolver pesquisas próprias. A receita encontrada para isso foi agarrar algum linguista americano ou europeu pouco conhecido, ler sua obra, traduzi-la para o português, fazer pesquisas a partir das idéias ali colhidas, orientar alunos, e apresentar-se nos congressos como uma espécie de representante tropical da figura. Foi divertido constatar, em alguns casos, a perda de identidade por parte desses representantes. Eles recheavam seus textos de termos técnicos não traduzidos, seja para não trair o divino mestre, seja por esnobismo mesmo. Por exemplo, quando falavam em sistema, botavam system, système, entre parênteses...

Dava até para entender esse tipo de caçada, afinal, precisávamos produzir conhecimento linguístico sobre o Brasil. País multilíngue, pouco sabíamos sobre as línguas indígenas e sobre o português brasileiro – para o qual ainda não tinha sido cunhada a sigla PB. O caminho era esse. Tudo bem, estávamos engatinhando mesmo.

Acontece que, muitos esforços e seminários depois, dispomos hoje de um conhecimento notável sobre esses campos, mesmo havendo ainda muito o que fazer. Chegou a hora de elaborar teorias com base nessa empiria toda. Ninguém ignora que as generalizações de que as teorias são feitas dependem crucialmente de um bom repertório, ou seja, das descrições e da história das línguas naturais.

Penso que a atual geração deveria conduzir a Linguística brasileira à sua maioridade, desenvolvendo reflexões teóricas, mantendo a interação com os centros mundiais, mas estabelecendo com eles duas mãos de direção.

Infelizmente, esse é um objetivo ainda timidamente tentado em nossa academia. Basta acompanhar as comunicações em nossos congressos e ler o que vem saindo nas revistas especializadas. Singularmente, o antigo movimento agarre seu linguista estrangeiro continua à toda. Pior, uma enorme desconfiança cerca os que ousam pensar por conta própria. Somos dimenor, não podemos.

Continuamos com isso aferrados a uma prática de que não podíamos escapar quarenta anos atrás, mas que não mais se justifica nos dias de hoje. Notei claramente essa dependência, hoje extemporânea, ao relacionar cronologicamente em minha gramática a bibliografia gerada pelos fenômenos sob análise. Primeiro, vem um americano ou europeu. Depois, os brasileiros. Raramente se lança por aqui uma ideia nova, suficientemente forte para articular projetos e motivar novas pesquisas. E quando isso acontece, silêncio!

A consequência perversa desse comportamento é que a enorme produção científica brasileira não tem sido lida, não tem sido avaliada, não tem sido criticada. Basta passar os olhos pela seção das resenhas, em nossas revistas, para ver o que está rolando. Continuamos importando...

Deixo claro que fiquei velho, mas não xenófobo. Passei dez por cento de minha vida profissional estudando no exterior. Aprendi que nosso patrão, o Sr. Universitas, fez de nós uma raça desterritorializada. Não há lugar para nacionalismos no comportamento científico.

Reconheço que a convivência com mestres norte-americanos e europeus foi de grande valia em meus trabalhos. Mas nunca achei que seria necessário virar apóstolo de quem quer que fosse. Nunca achei que espírito de gente colonizada tivesse interesse para a construção da ciência brasileira. Intercâmbio, sim. Subserviência, não.

Quando chegarmos lá, todo o enorme esforço das diretorias e dos membros de nossas associações científicas terão feito sentido. Espero que essas associações encontrem os meios para estimular os associados à busca de miradas teóricas próprias.

Muito obrigado!

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REfERêNCIAS

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MAURICE LACHâTRE, UN LEXICOGRAPHE ENGAGé

François GAuDIN

(université Rouen & uMR 7187)

PRéAMBULE

Tout d’abord, je souhaiterais remercier les organisateurs de leur invitation. Non seulement pour m’avoir donné l’occasion de découvrir le Brésil pour venir parler de socioterminologie, mais également pour m’avoir permis de venir parler de mes recherches historiques sur un inconnu. En tout cas, un auteur inconnu en France... Pour le Brésil nous verrons ce qu’il en est...

L’inconnu dont je vais vous parler aujourd’hui possède plusieurs facettes et l’on ne peut réduire son activité à celle d’un lexicographe. Il a dirigé plusieurs dictionnaires, certes. Mais il a fait tant d’autres choses.

Pour fixer les idées, je présenterai sa biographie en proposant des repères de l’histoire de France, ensuite je retracerai sa carrière d’éditeur, puis présenterai son activité de lexicographe militant.

Sommaire

1. la biographie2. l’éditeur3. un lexicographe militant

1 BIOGRAPHIE

1.1. La jeunesse et la formation (1814-1839)

Quand la révolution française éclate et gagne la France tout entière le père de Maurice Lachâtre sert l’armée révolutionnaire. Sa famille est installée là depuis plusieurs générations et fait partie de la petite noblesse : il s’agit d’une lignée de seigneurs qui possèdent des terres et occupent des fonctions importantes. Ils ont de la fortune. Au service de la Révolution, le père va gagner ses galons puis entrera dans l’armée napoléonienne. Il participe à plusieurs campagnes et, à la fin de sa carrière, il sert auprès de l’empereur. Il est décoré de la légion d’honneur et devient baron d’empire. C’est un petit noble.

En 1814, son fils Claude Maurice de la Chastre naît le 14 octobre. Cette année-là, Napoléon 1er a abdiqué et Louis xVIII, le frère du roi qu’on a guillotiné, Louis xVI, monte sur le trône. C’est le début de la Restauration. Napoléon revient, mais la défaite de Waterloo a lieu en 1815.

Né dans une petite ville du centre de la France, Issoudun, le jeune Maurice grandit dans le mythe de Napoléon. Lorsque son père décède, en 1820, Maurice n’a alors que 6 ans. Il est fils de baron et héritera du titre de baron à la mort de son frère aîné. Il est destiné à une carrière de militaire : il entre à l’école militaire

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de Saint-Cyr juste après la Révolution de juillet 1830. Cette révolution qui confisque le pouvoir au profit d’une bourgeoisie conservatrice : le roi des Français Louis-Philippe succède à Charles x.

quelques mois plus tard, le 4 mars 1831, Maurice est renvoyé de l’École Saint-Cyr, avec un groupe d’autres jeunes gens, sans doute pour avoir participé à une manifestation anti-royaliste et anti-cléricale, la mise à sac de l’Église Saint-Germain l’Auxerrois, à Paris. Un an après son renvoi, il rejoint l’armée française en Algérie. Il découvre l’Afrique du nord, les réalités militaires du colonialisme et participe aux combats contre l’armée d’Abd-el-Kader. Il y reste jusqu’à ses 18 ans. A ses 18 ans, il quitte l’armée, qu’il connaît bien, possédant une éducation intellectuelle et physique solide et une expérience de la guerre qui a conforté son courage physique.

Il rentre à Paris chez sa mère. Fréquente sans doute des amis de son père, des fidèles de Napoléon. Il épouse les idées de Saint-Simon, l’un des premiers socialistes utopistes. Saint-Simon est mort en 1825, mais ses disciples sont actifs. Maurice Lachâtre est un disciple marginal. Il n’est pas sur les listes des affiliés connus, mais il part prêcher la parole du maître sur les routes de France, en ayant comme objectif l’Orient. En raison d’une épidémie de choléra, la frontière est fermée et Lachâtre s’installe dans le sud de la France. Dans la petite ville du Muy, il travaille chez un menuisier et donne des cours le soir. Cela lui vaut, le 11 avril 1835, une première condamnation, à Draguignan, pour ouverture d’école sans brevet ni autorisation45.

Ensuite, il demeure dans la région et travaille pour un éditeur parisien, Robert Arnault. Il apprend les métiers de la librairie et les secrets du colportage. Il ne sera pas long avant de s’installer.

1. 2. Un éditeur s’installe (1839-1848)

Il commence sa carrière de libraire–éditeur en 1839, sous le nom de l’Administration de librairie, durant une période d’expansion de la librairie française. Cette carrière durera plus de soixante ans et nous ne pouvons citer ici tous les auteurs qu’il éditera, même si, comparé à ceux de grands éditeurs, son catalogue peut apparaître mince. Il choisit le quartier des affaires, près de la Bourse et de l’Opéra, quartier auquel il demeurera fidèle pendant 50 ans.

A vingt-cinq ans, le jeune éditeur choisit de publier Alexandre Dumas. Il fréquente les milieux napoléoniens et a déjà rencontré le futur Napoléon III, qui s’appelle encore Louis-Napoléon Bonaparte dont le prestige est grand . Ses idées sociales sont généreuses et peuvent entrer en résonance avec celles du jeune saint-simonien.

C’est un commerçant habile, reconnu, un homme de progrès, rallié aux idées socialistes et anticlérical, ce qui est fréquent dans les milieux fidèles aux idéaux de la Révolution, les fidèles de Napoléon 1er – qui avait été excommunié par le Pape – et chez les Saint-Simoniens46.

L’homme est parvenu à s’enrichir de façon rapide et massive. Il a le sens du commerce à une époque où les librairies de premier niveau, celles où l’on ne vend que des livres, sont rares. Le 31 mars 1845, il n’a pas encore 30 ans lorsqu’il fait l’acquisition des Jardies, propriété située près de Paris qu’Honoré de Balzac, le grand écrivain, est contraint de vendre. L’année suivante, il achète en plus un domaine de plus de 100 hectares, planté en vignes, dans le Bordelais. Il a trente-deux ans, possède deux propriétés et une librairie; il est l’ami de Louis Blanc, de Louis-Napoléon Bonaparte, de Félix Pyat, d’Eugène Sue, qui joue jeu égal avec Victor Hugo; tout lui sourit.

1.3. Un libraire occultiste Delachâtre et Cie (1839-1842)Nous détaillerons l’histoire du jeune libraire-éditeur rapidement enrichi. Mais l’édition n’est pas tout.

Si les débuts de l’éditeur sont connus, ceux du banquier le sont moins. En effet, en 1839, l’année où il débute comme éditeur, Lachâtre fait aussi ses débuts de banquier, comme en témoignent les annuaires du

45 AGULHON Maurice, 1970, Une ville ouvrière au temps du socialisme utopique. Toulon de 1815 à 1851, Mouton et École Pratique des Hautes Études, Paris, Mouton, La Haye, 365 p.46 Pierre Guiral, «Notes sur l’anticléricalisme des Saint-Simoniens», Archives des sciences sociales des religions, 1960, vol. 10, pp. 31-40.

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commerce des années 1840 à 184347. Il crée aussi une société avec Hippolyte, Léon, Denizard Rivail, né à Lyon, en 180448, qui sera connu, quinze ans plus tard, sous le pseudonyme d’Allan Kardec. La «Société Delachâtre et Rivail» est enregistrée le 18 mars 1839. Gagnèrent-ils de l’argent ensemble ? En tout cas, la fortune de Lachâtre est faite quand survient la Révolution de 1848, qui va marquer, pour lui comme pour toute sa génération, un tournant capital.

1. 4. Du printemps de la fraternité à l’exil (1848-1858)

Nous ne savons pas s’il a vraiment participé aux événements, mais l’éditeur est favorable à la révolution de février 1848. Il fréquente les clubs et côtoie les principaux leaders socialistes. Il a des amis dans le gouvernement provisoire qui proclame le droit au travail, la liberté d’expression, le suffrage universel et supprime la peine de mort et l’esclavage. Mais au bout d’un trimestre, la fête tourne court. Les tensions s’exacerbent et les conflits débouchent, en juin, sur une insurrection qui finit par une répression brutale: plus de 5 000 morts. Et à la fin de l’année 1848, la France élira Louis-Napoléon Bonaparte président de la République.

A la fin du printemps, l’éditeur tourne la page, vend sa propriété des Jardies et part en province. Il se marie en juillet 1848 et, pendant plusieurs années, une part importante de son activité va se dérouler dans le sud-ouest. Ainsi, il dispose d’une succursale pour sa librairie parisienne et crée à Bordeaux, en 1848 et 1849, deux journaux : La Tribune de la Gironde et Le Peuple souverain qui seront supprimés rapidement par l’effet des lois contrôlant la presse. Dès juillet 1848, l’assemblée a imposé aux journaux une taxe, sous forme de timbre, et un cautionnement qui nécessite la mobilisation de capitaux pour paraître. L’année suivante, de nouveaux délits de presse sont créés, tandis que le colportage est soumis à autorisation.

Maurice Lachâtre est l’ami des socialistes, notamment les écrivains Félix Pyat et Eugène Sue. L’éditeur signe deux ouvrages, publiés en 1849. Le premier, resté anonyme, L’ armée, son organisation, ses droits, ses devoirs, est une critique de l’institution militaire et une proposition de réforme; le second, La république démocratique et sociale. Exposition des principes socialistes et de leur application immédiate en France, est constitué par une synthèse de la plupart des courants socialistes du milieu du xIxe sècle.

L’année 1850 voit la naissance de sa première fille, Amélie, dont Eugène Sue est le parrain. L’activité de Lachâtre ne faiblit guère mais les jours de la seconde république sont comptés. Le 2 décembre 1851 a lieu le coup d’État de Louis-Napoléon Bonaparte, qui se proclame prince-président. La répression fait plus d’un millier de morts, on procède à plus de 26.000 arrestations et emprisonnements et à des milliers de déportations. Victor Hugo et de nombreux intellectuels s’exilent.

Lachâtre devient l’ami de Proudhon, l’un des pères de l’anarchie et du mutuellisme et d’Emile de Girardin, inventeur de la presse moderne française, homme aux convictions changeantes, mais qui s’oppose fermement à Napoléon III. Car en 1852, le prince-président se fait sacrer empereur sous le nom de Napoléon III. Victor Hugo l’a déjà surnommé Napoléon le petit. Commence alors un trop long empire qui va durer jusqu’en 1870.

Durant cette période, malgré un régime autoritaire, Lachâtre décide de mettre en pratique ses idées utopistes ou réformatrices, selon le point de vue que l’on adopte.

En 1852, il divise son domaine bordelais et le vend en parcelles à des conditions accessibles à tous. Au total, 102 personnes achètent des terrains, bénéficiant d’un crédit à une époque où le système bancaire n’existe pas encore et où il est très difficile pour les ouvriers d’emprunter car ils ne possèdent aucune garantie à offrir au prêteur. C’est pour rendre ce service que Lachâtre crée à Arbanats une banque d’échange.

Mais le projet de l’éditeur est global : il veut fonder dans le village une «commune-modèle». On y trouve deux écoles, un dispensaire homéopathique, une banque, une caisse de retraite, etc. Il rédige un projet de laiterie pour Bordeaux, etc. Il conçoit également un projet d’immeubles collectifs à Paris; celui-ci ne verra pas le jour mais sera repris à la fin de l’empire.

J’allais oublier. Sur ses terres du sud-ouest, Lachâtre ne cherche pas seulement les voies de la réforme sociale. Il produit du vin, du rouge et du blanc. Il en envoie à ses auteurs et en vend dans son magasin.

47 Archives de la ville de Paris, 2 MI 3/4.48 Archives de la ville de . Paris, D 32 U3/ 20

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Homme de plume et homme d’action, il s’attire les bonnes grâces d’une partie du clergé et exerce sur la population une influence que la police redoute. Une telle activité surprend à une époque où la vie intellectuelle est paralysée et où l’opposition est baillonnée par l’empire autoritaire qui combat la liberté à l’intérieur et multiplie les conflits à l’extérieur: en 1854, l’armée française se bat en Crimée, au Sahara et au Sénégal…

Il faut dire que Lachâtre a su cultiver ses relations avec Louis-Napoléon Bonaparte et son entourage et cela continue même lorsqu’il est devenu un opposant à l’empereur. Ainsi, il demeure lié avec Mocquard, le chef de cabinet de Napoléon III, dont il a édité les Causes célèbres. La correspondance qui nous est parvenue montre qu’il sut cultiver des relations très diverses : socialistes, mutuellistes, membres du clergé, anticléricaux, fidèles de Napoléon, écrivains en vue, etc. Seule la vie intime demeure vraiment dans l’ombre.

Son engagement envers les forces de progrès touche de multiples aspects : il est féministe, anti-raciste, il défend le mutuellisme, l’homéopathie, il est anticlérical, républicain et socialiste, dans un sens très large. Sa pensée agrège tous les courants progressistes: Cabet, Fourier, Owen, Proudhon, Saint-Simon, etc.

Tant d’actions agacent le pouvoir et les protections ne peuvent le garantir trop longtemps: les procès le conduisent à s’exiler à Barcelone de 1858 à 1864.

1.5. Un spirite à Barcelone (1858-1864)

La période d’exil vaut aujourd’hui à Lachâtre d’être connu hors de France et, notamment, au Brésil où existe une maison d’édition qui porte son nom : Editora Lachâtre - Caixa Postal 401 - CEP 12914-970 – Bragança Paulista – SP. Mais pourquoi une telle popularité dans le sous-continent?

En novembre 1858, Maurice Lachâtre se réfugie à Barcelone. Il va y rester six ans. Là, il fonde une librairie et dirige un journal, L’Indépendance espagnole. Il fait paraître une traduction en castillan des Mystères du peuple. Durant ses six années d’exil, il ira en France, avec ou sans autorisation, et verra naître sa seconde fille, illégitime, en 1861.

Pour son exil, l’éditeur condamné a choisi une ville proche de la frontière et dans laquelle vit une colonie française nombreuse. Les amitiés spirites constituent l’un des réseaux dans lesquels Maurice Lachâtre s’insère durant son séjour catalan. En effet, la circulation en Espagne des écrits spirites commença peu après la formation d’un noyau composé de José María de Fernández Colavida, Maurice Lachâtre et Ramon Lagier Pomares. Les trois hommes introduisirent illégalement, par la mer, de la littérature spirite.

En Espagne, Lachâtre est encore une fois dans l’avant-garde du milieu qu’il côtoie. Il ne rejoint pas un groupe par conformisme, il se situe aux avant-postes. Et il faut préciser qu’en Espagne les débuts du spiritisme sont liés à la naissance de l’anarchie.

Pour répondre à une demande croissante, les trois complices, Fernández Colavida, Lachâtre et Lagier Pomares, décidèrent d’importer légalement 300 livres, brochures et revues qu’ils déclarent à la douane, en 1861. Mais l’archevêque de Barcelone, Antoni Palau i Térmens, fait saisir l’ensemble, déclarant que «ces livres sont contraires à la foi catholique» et qu’ils peuvent «pervertir la morale et la religion des autres pays.»49

La sentence est prononcée et, le jeudi 9 octobre 1861, à dix heures et demie du matin, un autodafé a lieu à Barcelone. La cérémonie est suivie par une foule nombreuse. Huit personnes l’animent: «un prêtre revêtu des habits sacerdotaux, portant la croix d’une main et une torche de l’autre main; un notaire chargé de rédiger le procès-verbal de l’auto-da-fé; le clerc du notaire; un employé supérieur de l’administration des douanes; trois mozos (garçons) de la douane, chargés d’entretenir le feu; un agent de la douane représentant le propriétaire des ouvrages condamnés par l’évêque.»50

49 «La Iglesia católica es universal, y siendo estos libros contrarios a la fe católica, el gobierno no puede consentir que vaya a pervertir la moral y la religión de otros países» cité par Gerard Horta, Cos i révolucio, Edicions de 1984, Barcelona, p. 136 (notre traduction).50 «La queue du moyen âge. Auto-da-fé des ouvrages Spirites à Barcelone», Revue spirite. Journal d’études psychologiques, 4e année, n°11, novembre 1861, pp. 321-325.

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La foule hostile manifesta son mécontentement et le prêtre et ses aides se retirèrent «couverts par les huées et les malédictions des nombreux assistants qui criaient: A bas l’inquisition!». Ensuite, une fois le bûcher sur le point de s’éteindre, une partie de l’assistance ramassa des restes calcinés, les conserva et en expédia une partie à Kardec. Renseignements pris, ces restes – devenus reliques – sont toujours conservés par les animateurs parisiens du mouvement spirite. Ce détail ne fait que renforcer le caractère emblématique de l’événement et de Maurice Lachâtre pour la communauté spirite.

La Revue spirite cita des extraits d’articles parus en Espagne dans Las Novedades, grand journal madrilène; le Diario de Barcelone, journal ultramontain; La Corona, journal de Barcelone51. Leur lecture atteste l’écho qu’eut l’événement en Espagne.

Las Novedades insiste sur le fait que le «répugnant spectacle» de l’autodafé constitue «une insulte barbare» faite à la «population essentiellement libérale» de Barcelone, tandis que Diario se réjouit d’une mesure qui montre que l’Église se fait respecter et s’élève contre «les pays qui jouissent de la terrible plaie de la liberté des cultes». La Corona, publication catalane, parle d’un acte «incroyable au temps où nous vivons» et souligne le fait que «les amis du gouvernement en éprouvent plus de peine que ceux qui lui font de l’opposition.» Le journal discute le fondement juridique de l’action de l’évêque et conteste qu’il ait disposé «d’une faculté que, d’après notre jugement, le gouvernement lui-même n’a pas». Il est précisé, à la fin du récit de l’événement, que, parmi les spectateurs, certains «recueillirent une partie des cendres pour les conserver».

Les dernières flammes de l’ultime autodafé de l’Eglise catholique dans l’Etat espagnol auront donc été allumées par Maurice Lachâtre et ses complices. Cet ultime témoignage d’intolérance religieuse a fait de l‘éditeur un héros de la cause spirite. Et une figure connue au Brésil...

1.6. Retour d’exil (1864-1870)

Rentré fin 1864 à Paris, Maurice Lachâtre reprend ses activités de libraire-éditeur multi-actif sous le nom des Docks de la librairie. Il refait son dictionnaire et lance, en 1867, une revue intitulée Le Monde invisible. La même année, il devient père d’une troisième fille, légitime cette fois, Marie-Victoire. Mais sa femme reste dans le Bordelais et il s’installe à Paris avec sa maîtresse.

Sa librairie est très active et utilise un réseau de commissionnaires et de colporteurs dans toute la France. Le poids de la censure est moins fort et le régime se libéralise un peu. La librairie regroupe des partisans de Blanqui, le révolutionnaire qui fut surnommé «L’enfermé». Lachâtre lui-même se tient à l’écart de la vie publique. En 1870, il entre en franc-maçonnerie avec des membres ou des proches de la Première Internationale.

Durant l’été 1870, la guerre contre la Prusse est déclarée et l’éditeur prend part à la défense de Paris assiégé. La défaite arrive. Napoléon III est fait prisonnier et le régime s’écroule. La Troisième République est proclamée le 4 septembre. Les Allemands encerclent Paris et Lachâtre participe à la défense de la capitale. Avec son vieil ami Félix Pyat, Lachâtre va animer deux journaux, Le Combat, puis Le Vengeur. Il prend part à la rédaction et donne une demi-douzaine d’articles retentissants.

1.7. La Commune, Le Capital et l’exil (1871-1879)

Ensuite, alors que le gouvernement veut signer l’armistice, Paris refuse la défaite et tient tête aux Prussiens. La Commune de Paris est proclamée le 18 mars 1871. Le conservateur Adolphe Thiers qui dirige la France depuis Versailles, dans la banlieue de Paris, provoque une guerre civile. L’hécatombe, décidée fin mai 1871, est effroyable chez les Parisiens: 20 000 communards sont tués, 36 000 sont faits prisonniers. Ce souvenir hantera des générations.

Maurice Lachâtre est proche des hommes de la Commune. Il reçoit Blanqui chez lui à Arbanats. A Paris,

51 Revue spirite, décembre. 1861, pp. 387-390.

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lors de la Semaine sanglante (21 au 28 mai 1871), il échappe de peu aux soldats qui le cherchent. On exécute son caissier à sa place. Il se cache pendant plus de 80 jours. Ensuite, il s’enfuit en Espagne, s’installe à Saint Sébastien. Là, il rencontre Paul Lafargue et, à l’automne, il accepte de publier une traduction française du Capital, de Karl Marx, encore méconnu.

L’Espagne n’est pas sûre. En 1872 débute la troisième guerre carliste, guerre de succession mené par Charles VII contre Amédée 1er puis, en 1873, contre la Première république. Les religieux qui se battent autour de San Sebastian cherchent à capturer Lachâtre, connu comme anticlérical influent. L’éditeur fuit et gagne la Belgique.

Ayant dû se réfugier à Bruxelles, Maurice Lachâtre ouvre une librairie et prend la responsabilité, durant quelques semaines, d’un journal: La rénovation religieuse, publié par des prêtres français dissidents et spirites : le chanoine Mouls et l’abbé Junqua. On veut l’expulser pour cette raison. Il obtient un délai et publie Le Manuel des confesseurs, ouvrage anticlérical et érotique qui lui vaut un nouveau procès (un an de prison et 500 francs d’amende).

Il part en 1875 pour la Suisse où il finit l’édition du Capital. Il est en relations avec de nombreux Communards exilés. Sa santé laissant à désirer, il finit son exil en Italie, à San Remo. L’amnistie des Communards n’est décidée qu’en 1879, année de son retour à Paris.

1.8. Anarchiste, pour finir (1880-1900)

Il reprend ses activités et, en 1880, fonde le journal La Commune, avec Félix Pyat. Et en 1888, une première reconnaissance lui vient de la ville du Muy, qui l’accueillit dans sa jeunesse: le nom de Maurice Lachâtre figure parmi d’autres républicains de renom auxquels on donne un nom de rue.

Dans les années 1890, le lexicographe se rapproche de façon étroite des anarchistes et engage André Girard. Ce dernier, qui travaille pour le journal Les Temps nouveaux de Jean Grave, journal anarchiste de référence.

Il meurt, le vendredi 9 mars 1900, et son corps est incinéré, conformément à ses vœux. D’après la notice qui lui est consacrée dans son dernier dictionnaire, il n’aurait abandonné qu’à la toute fin de sa vie sa croyance dans le spiritisme. En tout cas, en 1898, il réalise un projet qu’Eugène Sue n’avait pu mener à bien, Les Mystères du Monde, suite et fin des Mystères du Peuple, dont il confie la rédaction à Hector France. Dans une lettre qu’il lui adresse et qui figure en préface, il dit qu’Eugène Sue «avait posé les bases du travail qu’il commençait d’entreprendre lorsque la mort vint le rappeler dans le monde des Esprits.» Ce qui laisse penser qu’il resta au moins spiritualiste, très tard dans son existence.

quelques semaines après son décès, Issoudun, sa ville de naissance, lui consacre une rue.

2. L’éDITEUR

2.1. L’Administration de librairie

A 25 ans, lorsqu’il s’installe comme éditeur, Maurice Lachâtre possède déjà une expérience et sait ce que sont les lecteurs de province, leurs goûts, leurs curiosités. Il s’installe à l’enseigne de l’Administration de librairie, terme volontairement ambigu et qui sonne étrangement à une époque où les jeunes entrepreneurs – Michel Lévy ou Louis Hachette, Pierre-Jules Hetzel ou Gervais Charpentier – mettent toute leur fierté à populariser leur nom de famille.

L’année 1839 n’est pas bonne mais l’expansion de la librairie reprend jusque vers 1845-1846. La période bénéficie des premières lois sur l’enseignement et de l’apparition du roman-feuilleton. En 1836, Émile de Girardin a eu deux idées décisives : insérer de la publicité dans la presse et y donner des romans-feuilletons. En librairie, la vente des œuvres les plus populaires en fascicules – on dit «livraisons» ― à bon marché permet de toucher un lectorat de plus en plus populaire.

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Dès ses premiers pas dans le métier, Maurice Lachâtre, dont la carrière professionnelle va durer soixante années, s’attache à ouvrir son catalogue aux auteurs préférés du grand public. En 1839, il commence par publier Alexandre Dumas, qui donne, seul puis aidé de son équipe d’auteurs, la série des Crimes célèbres. Il éditera huit volumes accompagnés de fines gravures sur acier. La série aura un tel succès qu’elle sera réimprimée quelques années plus tard.

La même année, paraît un court texte, une Lettre sur les fortifications de Paris, du docteur N.-N. Frapart. Une seconde édition a lieu l’année suivante, durant laquelle paraissent également Les papillons noirs du bibliophile Jacob, publication périodique mondaine vaguement satirique, qui fait écho aux Guêpes d’Alphonse Karr, un des chroniqueurs les plus réputés. Cette même année 1840, une nouvelle collaboration a lieu avec Alexandre Dumas qui offre une «Introduction sur le génie de Shakespeare» à l’édition des Œuvres dramatiques de William Shakespeare publiée par l’Administration de Librairie et le libraire Marchant.

Parmi les publications de cette période, plusieurs sont publiées en association avec Marchant ou les frères Pourrat. Mais il est aussi aidé par Barba, Charlieu ou Huillery. Ce réseau lui sera utile quand, n’ayant pas de brevet d’éditeur, il aura besoin de prête-noms.

Pour l’instant, il n’a pas de problème. S’il a professé les idées de Saint-Simon, Lachâtre n’est pas l’homme d’un courant. Il s’applique aussi à diffuser les idées de Charles Fourier, autre socialiste utopiste, inventeur du phalanstère. Ainsi, dès 1840, il réédite Fourier et son système, ouvrage de Zoé Gatti de Gamond, fouriériste dissidente, féministe et pédagogue. Le catalogue de l’éditeur fait se côtoyer des figures bien dissemblables, mais c’est probablement ce qui en constitue l’intérêt majeur. Ainsi, la même année, en 1841, il publie les Fragmens historiques, de Louis-Napoléon Bonaparte, et l’Organisation du travail, de Louis Blanc, œuvre dans laquelle l’auteur expose sa conception pratique du socialisme, et qui aura une grande influence en 1848, au moment de l’ouverture des Ateliers nationaux. En 1842 et 1843, il fait paraître, en tant qu’auteur et éditeur, une Histoire des papes. Crimes, meurtres, empoisonnements, parricides, adultères, incestes. Cette somme en dix volumes, illustrés de 101 gravures, deviendra un classique de l’anticléricalisme et connaîtra plusieurs éditions et traductions, en italien, en espagnol et en portugais, la dernière connue étant argentine et datée de 2005.

Avec la crise qui commence en 1846, les publications nouvelles se font plus rares. Mais après la Révolution de 1848, Lachâtre commence, en novembre 1849, la publication des Mystères du peuple, d’Eugène Sue. Le grand feuilletoniste, dont Les Mystères de Paris ont connu un succès impressionnant quelques années auparavant, s’est converti au socialisme. Il est devenu ami de Lachâtre et en a fait son légataire littéraire. L’ouvrage sera vendu par livraisons, ce qui permet de toucher un public peu fortuné, tout en contournant les lois limitant la liberté de la presse et de l’édition. En effet, sous un régime autoritaire, les livraisons bénéficient du régime du courrier privé et permettent de contourner la censure.

Dès juillet 1848, l’Assemblée nationale a imposé aux journaux une taxe, sous forme de timbre, et un cautionnement qui nécessite la mobilisation de capitaux pour paraître. L’année suivante, de nouveaux délits de presse sont créés, tandis que le colportage est soumis à autorisation. Lachâtre lui-même n’obtiendra jamais de brevet d’éditeur, et travaillera toujours sous le couvert de prête-noms. Il n’est pas directement inquiété, mais ses entreprises vont être combattues. Dès 1850, les ennuis commencent et ses presses sont saisies.

En ce début des années 1850, alors que la République agonise, Maurice Lachâtre continue son combat par le livre. En 1850, il édite de son ami Emile de Girardin L’abolition de la misère par l’élévation des salaires, puis en 1851 Le médecin du peuple du docteur Benoît Mure, pionnier de l’homéopathie. Il ouvre son catalogue à des auteurs engagés pour des ouvrages comme L’Histoire de la Révolution de février de Sarrans ou L’Histoire des votes de nos représentants par Raginel. Il commence à préparer ce qui s’appelle encore le Dictionnaire du peuple et qui va commencer à paraître, en 1852, sous le nom de Dictionnaire universel. Nous en reparlerons.

Les Mystères du peuple sont interrompus plusieurs fois. En 1857, l’année où la justice poursuit Baudelaire, pour quelques poèmes des Fleurs du Mal, et Flaubert, pour Madame Bovary, on saisit 60 000 exemplaires et un procès est décidé. Eugène Sue, affaibli, est choqué par l’annonce des poursuites et meurt en exil en Savoie. Le procès se tient quand même et Lachâtre est condamné comme éditeur à un an de prison. Tous les exemplaires du roman doivent être détruits. L’année suivante, le 14 juillet 1858, Maurice Lachâtre est de nouveau condamné comme auteur du Dictionnaire universel à 6000 francs d’amende et cinq ans de

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prison52. La peine est maximale. Encore une fois, l’ouvrage est saisi et condamné à être détruit. Il s’agit en fait du seul dictionnaire de langue générale ayant connu une telle condamnation au xIxe siècle. En attendant la prescription de sa peine, l’auteur s’exile à Barcelone, où il vivra de 1858 à 1864. La justice ne l’oublie pas et, le 6 avril 1859, elle le condamne une nouvelle fois comme auteur du Dictionnaire français illustré, ce qui semble relever de l’acharnement contre lui ou ce qu’il représente.

Pendant son premier exil, ses activités d’éditeur sont suspendues mais il lance d’autres entreprises. A Barcelone, il vend à la fois des livres, du charbon, des bijoux. En 1862, il est à la tête de la Sociedad de la Relojeria y Plateria Barcelonesa, association commerciale regroupant des partenaires genevois, parisiens et londoniens. Il monte un réseau européen de distribution et, raconte-t-on, s’occupe du télégraphe de Barcelone. Il lance un journal en français et une caisse de secours mutuels. Nous avons déjà parlé de son engagement pour le spiritisme.

2.2. Les Docks de la librairie

De retour à Paris, il reprend son activité de libraire-éditeur avec les Docks de la librairie. Il a perdu beaucoup d’argent lors de la destruction de ses livres et de leurs clichés. Mais durant son exil, Lachâtre a rétabli son état de fortune. De retour à Paris, il continue les activités qu’il avait développées en Espagne et fonde, aux côtés de sa librairie, les Docks de la bijouterie, de l’orfévrerie et de l’horlogerie. Les articles qu’il vend lui servent d’ailleurs de primes de fidélité pour ses lecteurs abonnés. Les formules de vente lui ont assuré le succès puisque le capital de garantie de fondation de ses Docks est d’un million de francs, l’équivalent de 4 millions et demi d’euros…

La clé de la réussite de Lachâtre, pas de connaître le public, Michel Lévy ou Emile de Girardin sont plus avisés ; ce n’est pas d’étaler le paiement, Abel Pilon, l’inventeur du «Crédit littéraire pour l’acquisition de la musique et des livres»53 avait déjà eu l’idée. Non, son coup de génie, c’est d’associer le vendeur ou courtier – et ses assistants, les facteurs ou encaisseurs – à l’entrepreneur et à répartir les bénéfices entre les uns et les autres. Il y a une forme d’intéressement au placement des articles. C’est une méthode de vente tout à fait moderne.

Tous les échelons et corps de métier sont associés à la prospérité des Docks de la librairie. On vend des livres à crédit, si le lecteur achète plusieurs livres, on lui offre un autre livre, une médaille, un miroir, une pendule, et si le vendeur place beaucoup d’abonnements, sa marge augmente.

Durant cette période, l’éditeur exploite à nouveau son ancien catalogue et publie les Drames de la mort, de Paul Féval, L’Histoire de la Révolution française, de Louis Blanc, il s’associe quelque temps avec le journal Le Figaro. Il publie, en 1867, une revue intitulée Le Monde invisible, consacrée au spiritisme et à l’occultisme. Il déploie sans cesse une activité étonnante. Il fait des propositions à Michelet, à Victor Hugo, comme il en a fait à Georges Sand. Pou ne parler que des plus connus.

Mais en 1868, Lachâtre décide d’arrêter et de vendre son stock aux lecteurs en promettant de détruire les originaux afin que les livres prennent de la valeur. Il choisit de se concentrer sur son Nouveau dictionnaire universel. Cet ouvrage a rallié plus de 20 000 souscripteurs. Et c’est une entreprise ambitieuse. Terminé en 1870, il fut accompagné la même année d’une Nouvelle encyclopédie nationale, censée le compléter et l’actualiser. Sa publication fut interrompue par la guerre de 1870.

Ensuite, la République revenue, Lachâtre aide son ami Félix Pyat à fonder Combat, journal qui dénonce la tiédeur des républicains au pouvoir. Il donne plusieurs articles qui s’en prennent au gouvernement allemand, et dans lesquels il exhorte la République à faire preuve de courage et de résolution dans la lutte contre Prussiens «Le prix du sang», «La monarchie, le pire des fléaux»54.

Puis Paris se met en Commune et Lachâtre soutient cette Révolution qui ne dit pas son nom. La guerre civile éclate entre Paris et Versailles. Mais, avant le massacre final, une Ligue d’Union Républicaine pour les Droits de Paris tente de jouer les conciliateurs. Non seulement Lachâtre en fait partie, mais l’adresse de sa librairie est celle de la Ligue. Il joue donc un rôle central. Mais toujours discret.

52 Jugement du Tribunal Correctionnel de la Seine, 6e chambre, cf. Moniteur du 18 sept. 1858.53 J.-Y. Mollier, L’Argent et les lettres. Histoire du capitalisme d’édition. 1830-1920, Paris, Fayard, pp. 270-272.54 Le Combat, n° 85 et n°91 décembre 1870.

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2.3. La Librairie du progrès

Après l’écrasement de la Commune et l’exil, Lachâtre redevient éditeur. Il se lance dans la publication du Capital dans des circonstances difficles. Lachâtre est en Espagne; Marx est à Londres; le traducteur vit à Bordeaux et l’entreprise de Lachâtre est toujours à Paris où le gouvernement n’a de républicain que le nom.

En même temps, il remet sur pied à Paris une agence d’abonnements pour les livres et d’une organisation de courtiers et de facteurs. Il continue son Histoire des papes, lancée en 1842 et la prolonge par une Histoire du XIXe siècle qui’l continue en Belgique. A Bruxelles, Maurice Lachâtre ouvre et prend la responsabilité d’un journal : : La rénovation religieuse, publié par des prêtres français dissidents et spirites : le chanoine Mouls et l’abbé Junqua. On veut l’expulser pour cette raison au bout de quelques mois, mais il obtient un délai qu’il met à profit pour proposer une édition commentée – anticléricale – du Manuel des confesseurs, de Mgr Bouvier, ce qui lui vaut de nouvelles poursuites.

Il continue la publication discrète du Capital en Suisse, où il est en contact avec de nombreux exilés. Là, il lance une publication intitulée Le Mémorial de la Commune, dont ont paru quelques numéros mais qui est aujourd’hui totalement inconnue.

Il finit son exil en Italie et revient en 1879 en France. Il a 65 ans. Il reprend le travail d’éditeur sous le nom de Librairie du progrès et édite des ouvrages dont les titres parlent: Le triomphe du socialisme55, Capital et travail56, Les grandes dates du socialisme: 184857, etc. Il ouvre aussi son catalogue à la littérature avec Léon Cladel mais il va spécialiser dans la littérature anticléricale : La péché de soeur Cunégonde, Les cent curés paillards, Marie-Queue-de-vache58, etc.

En 1883, il commence une Grammaire magistrale et un Cours de littérature, avec le jeune Michel Morphy. C’est une curiosité car les exemples sont tirés de la littérature internationale et font une place aux auteurs poliltiques. Ainsi, la conjonction de coordination ni est illustrée par une citation de Blanqui «Ni dieu ni maitre». Pour la documentation, Jules Guesde, grand leader socialiste français, envoie des articles depuis sa prison.

Ce projet tourne court et Lachâtre confie quelque temps sa librairie à son gendre, Henri Oriol, qui crée la première collection française de livres socialistes. Mais le beau-père doit reprendre la direction en 1885 pour éviter la faillite. Et il entreprend, en 1887, une nouvelle édition des Mystères du peuple, d’Eugène Sue, au souvenir duquel il reste fidèle.

En 1888, à 74 ans, il lance un Dictionnaire-journal destiné à compléter son Nouveau dictionnaire universel toujours commercialisé. Il est entouré de quelques collaborateurs et, en premier lieu, d’André Girard, l’anarchiste. L’ouvrage sera, suspendu, repris jusqu’en 1899.

Ensuite, en 1898, il réalise un projet qu’Eugène Sue n’avait pu mener à bien, Les Mystères du Monde, suite et fin des Mystères du Peuple, dont il confie la rédaction à Hector France.

Et, enfin, il met en route la dernière version de son dictionnaire qui prend le titre de Dictionnaire La Chatre. La publication par livraisons commence en 1898. Il est alors âgé de 84 ans! Il sait qu’il n’en verra pas la fin. Lachâtre meurt en 1900. Ce dictionnaire sera terminé de façon posthume en 1907, grâce aux soins de sa fille, Marie-Ange, et de l’équipe qu’elle a réuni. Un supplément paraissant en 1910.

3. UN LEXICOGRAPHE MILITANT

La publication des dictionnaires de Maurice Lachâtre s’incrit donc dans un itinéraire dont la direction centrale demeure toujours la cause de la démocratie et l’émancipation par le livre.

Au total, sa production compte cinq dictionnaires, une encyclopédie et un dictionnaire-journal. Cette production, à peu près passée sous silence durant tout le xxe siècle, n’est pas négligeable. Sa diffusion a

55 De Louis Bologne, 188056 De Ferdinand Lassalle, 1880.57 De Victor Marouck, 1880.58 Tous trois d’Hector France, 1883.

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été conséquente et son écho social ne fut pas faible. Pourtant, la mémoire n’en a pas du tout été conservée ni entretenue.

Les cinq dictionnaires se répartissent comme suit: le Dictionnaire universel, en deux volumes, qui fut terminé en 1856. Il fut condamné, saisi et détruit, fut refait sous la forme du Nouveau Dictionnaire universel, et fut terminé en 1870 puis vingt-cinq ans plus tard donna naissance au Dictionnaire La Chatre, dont le dernier volume parut en 1907.

A côté, le Dictionnaire français illustré est une réduction en deux petits volumes du Dictionnaire universel. Il fut terminé en 1857. Le Dictionnaire des écoles eut un sort mystérieux. Il fut terminé en 1858 mais est introuvable, déposé dans une bibliothèque, la BNF. Je n’en connais que deux exemplaires.

Les ouvrages annexes sont donc la Nouvelle enncyclopédie nationale, parue en 1870 et assez facile à trouver de nos jours et le Dictionnaire-journal, publié de 1895 et 1899. Celui-ci est également introuvable. La BNF ne possède qu’un volume sur trois. Je n’en connais que trois exemplaires.

Je ne ferai pas ici une description technique ni une évaluation de ces dictionnaires, qui ne sont pas sans défauts. La plupart ont fait l’objet de monographies dans des articles disponibles. J’essaierai plutôt de montrer quel intérêt peuvent présenter ces ouvrages à part un intérêt de pure curiosité.

3.1. Un lexicographe sous l’empire

Tout d’abord, ces ouvrages présentent une particularité, celle d’avoir été conçus non comme des moyens de diffusion du savoir mais comme des outils d’émancipation.

Le propos de la préface du Nouveau dictionnaire universel est très clair:

«C’est pour le peuple que nous écrivons. Convaincus que l’instruction est le plus redoutable adversaire du despotisme, notre but a été d’aider à l’affranchissement du peuple en lui offrant un résumé de l’ensemble des connaissances humaines.»

Ecrit au début du Second empire, le premier Dictionnaire universel développe plusieurs thèmes marquants. Tout d’abord, l’anticléricalisme anime quelques articles incisifs tels que confessionnal, Ignace (Loyola) ou jésuite. Le premier de ces articles, confessionnal, annonce les turpitudes sexuelles du clergé; le second offre un portrait mordant de Loyola, appuyé sur Voltaire et signé par Eugène Süe; le troisième rend hommage à Michelet et Edgar quinet qui cosignèrent Les jésuites et rassemblèrent autour d’eux les anticléricaux.

Ensuite, la défense du socialisme parcourt tout l’ouvrage. Les articles socialisme et communisme sont développés et rendent hommage à tous les grands penseurs de progrès: Louis Blanc, Etienne Cabet, J.G. Colins, Charles Fourier, Pierre Leroux, Robert Owen, Pierre-Joseph Proudhon et Henri de Saint-Simon. La définition du nom socialisme entraîne l’auteur assez loin:

«ce mot tout nouveau exprime merveilleusement une chose éternelle comme l’homme, l’incessante protestation du bien contre le mal; il exprime l’être, l’ordre, l’harmonie, Dieu fait société, comme il s’est fait homme.»

On voit ici que déisme, socialisme et anticléricalisme se combinent sans problème.

La place accordée aux métiers excède beaucop celle accordée dans les autres recueils car on trouve des renseignements encyclopédiques, sur les salaires, les conditions de travail, les périodes de chômage. On rencontre des positions favorables aux thèmes communistes:

«Restituez aux prolétaires les instruments de travail, surtout la terre, et vous aurez rendu l’économie publique telle que le gain, les fruits, la richesse ne s’accumulera que justement et en raison du travail fait.» (art. droit)

Enfin, pour compléter le tableau des thèmes, ajoutons ceux de l’antiesclavagisme et du féminisme. Les

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femmes doivent avoir les mêmes droits civiques que les hommes et «toute nation qui maintient l’esclavage est déshonorée et doit être au ban des autres peuples.» (art. esclavage).

Cette singularité que l’on retrouve dans un ouvrage beaucoup plus développé comme le Grand dictionnaire universel de Pierre Larousse montre tout l’intérêt d’étudier la lexicographie militante. On pourrait d’ailleurs montrer le rôle que jouent également le choix des noms propres inscrits à la nomenclature et la sélection des citations.

La variété des thèmes est à l’image de la diversité des intérêts de Lachâtre. L’époque est complexe, elle résonne d’explorations et de débats ; on élabore des projets généreux et divergents et c’est l’oppression d’un empire autoritaire qui les rend solidaires. Il existe ici une solidarité des marges, comme si les innovations étaient a priori bonnes à explorer. Le lecteur d’aujourd’hui est, par exemple, surpris de la place accordée à l’homéopathie ou par le nombre de mentions faites à l’économie solidaire, concrétisée par les expériences des banques d’échange et théorisée par Proudhon.

Ce militantisme conduit aussi Lachâtre à être le premier à enregistrer le terme ésotérisme. Et il traite en détail tout le vocabulaire ésotérique. De la même façon, son recueil traite de façon très complète le vocabulaire propre à Charles Fourier, inventeur du phalanstère et de tout un vocabulaire particulier.

Pour compléter le tableau, il est à noter que le Dictionnaire universel présente la liste de toutes les personnes ayant participé au livre, depuis les imprimeurs et les graveurs jusqu’aux courtiers et aux libraires, à l’image d’un générique de film.

Enfin, il faudrait s’y arrêter plus longuement mais le projet de dictionnaire se combine avec celui d’une réforme de l’orthographe. Cette réforme de l’orthographe est présentée dans un traité. Et en annexe figurent une Grammaire française et une Gramère fransèze d’après la réforme ortografique.

3.2. Une lexicographie d’émancipation

La conception lexicographique de Lachâtre est plus orientée vers l’émancipation que vers l’instruction. Cette conception est précisée dans le Dictionnaire français illustré, qui commence à sortir en 1855 par une «Instruction aux mères de famille». L’influence principale est celle du pédagogue Jacotot. L’objectif est d’offrir aux Français un outil d’émancipation tourné contre l’Empire, son autoritarisme et son cléricalisme. Il faut souligner le fait que, sous l’Empire, l’enseignement était prodigué par les prêtres ou par des enseignants qui devaient prêter serment à l’empereur. Donc les familles avaient besoin d’outils pour instruire leurs propres enfants en toute indépendance.

Le souci pratique et l’innovation éditoriale se combinent chez Lachâtre dont l’ouvrage est le premier de ce type à proposer des illustrations. Il montre ce souci même dans les petits ouvrages. Ainsi, même s’il n’est qu’une réduction, le Dictionnaire français illustré offre 2000 gravures sur bois. De son côté, Pierre Larousse qui lance en même temps son Nouveau dictionnaire de la langue française, était opposé aux illustrations.

Mais cette visée émancipatrice n’était pas limitée aux enfants. C’est d’ailleurs par son large impact social que Lachâtre fut considéré comme dangereux par les autorités.

En effet, ce militantisme pour l’émancipation ne resta pas lettre morte car s’il est oublié, de nos jours, on sait que le Dictionnaire universel eut un impact social. Tout d’abord, on sait par la police que ses livraisons circulaient sous le manteau dans les milieux ouvriers, tout comme les pamphlets de Victor Hugo. D’autre part, on sait que les exilés s’y intéressaient. Le même Victor Hugo, alors en exil, écrit à Lachâtre pour se procurer le dictionnaire. De même, le révolutionnaire Barbès le commande pour l’introduire dans la bibliothèque de la prison où il est enfermé, ce qui est savoureux. Cette audience constitue un argument supplémentaire contre Lachâtre, du point de vue de la police.

Et d’ailleurs, dernière preuve de son audience, on entreprit contre lui des poursuites et on condamna ses deux premiers dictionnaires , pour «outrage à la morale publique religieuse et aux bonnes moeurs, à la religion catholique, excitation à la haine et au mépris des citoyens les uns contre les autres, d’apologie de faits qualifiés de crimes ou délits».

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Le petit Dictionnaire des écoles présente un intérêt anecdotique étant donné qu’il existe à peine, tellement il est rare59. On peut souligner que, placé sur le créneau du petit dictionnaire de Pierre Larousse il est moins bon mais plus libéral du point de vue de la nomenclature, qui n’est pas expurgée pour satisfaire le clergé. On y trouve par exemple clitoris, vagin, et vulve que Larousse a écartés. On peut aussi signaler que les rédacteurs adoptent un alphabet phonétique qu’ils utilisent de façon systématique, même pour les noms propres. Ce qui est très rare. Cette notation est originale car elle se rapproche plus du système proposé par Adrien Féline, précurseur qui proposa en 1851 un Dictionnaire de la prononciation, que des autres lexicographes animés d’un souci comparable: Gattel, Napoléon Landaisou Charles Nodier, continuateurs de Pierre Richelet.

3.4. Le Nouveau Dictionnaire universel

Pour rédiger le premier Dictionnaire universel, Lachâtre avait recruté des partisans de Fourier, des socialistes, des hommes jeunes ayant participé à la révolution de 1848, des amis de Baudelaire, de Nerval. Des hommes dont les noms sont donnés dans le dictionnaire et qui forment un milieu attachant60. Pour le Nouveau Dictionnaire universel61, on ne sait rien, à part le rôle joué par Casimir Henricy, partisan de la réforme de l’orthographe.

Revenu d’exil plus prudent, Lachâtre fait passer son intention militante par des biais parfois détournés, ou dans des rubriques discrètes. On peut s’en faire une idée en lisant des phrases-exemples qui concluent certains articles et apparaissent nettement comme des ajouts dans lesquels l’auteur se fait plaisir:

«Crions haro sur le despotisme.»; «Le despote est hypocondriaque.»; «Les jésuites impugnent les libres penseurs.»; «L’incohérence des religions est un sujet d’étude pour le libre penseur.»; «La peur est l’infirmité du pape.»; «Le despotisme, c’est l’ivraie qu’il faut extirper.»; «Les lilliputiens de la presse monarchique»; «Prenez garde à cet homme, c’est un loyoliste.»; «La lubricité de Louis xV effrayait ses maîtresses.»; «Le républicanisme lutte avec le napoléonisme.»; «Les despotes veulent des peuples soumis.»

Les attaques visent le despotisme, l’empire, les jésuites, le pape : l’homme n’est pas changé, même s’il est plus discret.

Il a également conservé ses convictions spirites. Il s’est assuré la collaboration d’Allan Kardec et ce dernier fait de la publicité dans les milieux de l’occultisme.

3.5. Les dictionnaires de fin de siècle

Passons maintenant aux ouvrages édités dans la fin de la vie, après 70 ans. Le premier volume du Dictionnaire-journal paraît en 1895 mais la diffusion principale doit être par livraisons. Et comme son écriture a été suspendue, la vente dut en souffrir. La tonalité du propos montre que le socialisme de Lachâtre s’est radicalisé après la Commune. Cet ouvrage est l’une des publications où l’engagement personnel de l’auteur-éditeur apparaît le plus clairement. Il signe notamment l’article Chicago, dans lequel il prend la défense des anarchistes condamnés à tort pour l’attentat du Haymarket Square, Chicago.

On rencontre dans des textes à teneur encyclopédique des professions de foi, ainsi la conclusion du long article France:

«Le peuple saura réduire au silence les classes dirigeantes, bourgeoisie, noblesse et clergé, qui prétendent étouffer sa voix et méconnaître sa volonté: Commune et Fédération avec la rouge bannière. Ni Dieu, ni maître. Ni soldats ni prêtres.»

Pour ce recueil annexe, Lachatre compte parmi ses collaborateurs deux socialistes Victor Marouck, Gustave Rouanet, un écrivain polygraphe Edouard-Auguste Spoll, mais surtout il va utiliser les services 59 Voir aussi François Gaudin, 2006, «Le monde perdu des dictionnaires de Maurice Lachâtre (3). Le mystère du60 François Gaudin, 2006, Les collaborateurs de Maurice Lachâtre : du Dictionnaire universel au Dictionnaire La Châtre, dans Le monde perdu de Maurice Lachâtre (1814-1900), Champion, F. Gaudin (dir), pp. 161-168.61 Voir aussi François Gaudin, 2002, Lettres à André Clas à propos du Nouveau dictionnaire universel de Maurice Lachâtre », Cahiers de lexicologie, n°80, éd. Champion, p. 43-54.

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d’André Girard, qui, attaché au journal anarchiste Les temps nouveaux, va travailler une dizaine d’années pour Lachâtre. Dans le Dictionnaire-journal, il va donner plusieurs dizaines d’articles qui forment un ensemble d’un grand intérêt pour la connaissance des idées de l’époque. Il faut noter que les livraisons comportaient en alternance des parties du Dictionnaire de la langue verte d’Hector France, qui sera vendu en volume à partir de 1907.

Le Dictionnaire La Chatre paraît donc de 1898 à 1907, 1910 si l’on tient compte du supplément. Le rédacteur en chef en est André Girard. D’autres jeunes socialistes libertaires rejoignent l’équipe : Henri Fabre et Victor Méric, Almeyreda, Henri Dagan, Fernand Després, etc. 62 A cette époque, la publicité du Dictionnaire se fait contre Larousse dont les ouvrages sont contrôlés par l’Eglise. L’argument de vente fait donc du La Chatre le seul dictionnaire des libres penseurs. Il est aussi un bréviaire de la pensée libertaire.

Je citerai juste le début de l’article autorité:

«AUTORITÉ, s. f.; Prétendu droit que s’arrogent certains hommes d’imposer leur volonté à autrui. Dans les premiers âges de l’humanité, alors que la ligne de démarcation n’était pas encore bien définie entre l’homme et l’anthropopithèque, nos ancêtres devaient vraisemblablement vivre sur le pied d’une parfaite égalité. Point de chefs avéré; la force brutale tranchait les conflits, mais d’une façon tout à fait incidente et transitoire; l’homme fort ne songeait probablement pas à tirer parti de sa force pour exploiter son semblable d’une manière permanente. […]».

Repris des précédents, le texte comporte des éléments qui demeurent inchangés depuis 1856, mais le texte manifeste également, dans ses derniers volumes, l’influence de courants proches de l’anarchisme, mais qui doivent être distingués. Ainsi trouve-t-on écho du néo-malthusianisme, les néo-malthusiens promouvant le libre contrôle des naissances. Son promoteur, Paul Robin, fait l’objet d’un article signé par son gendre et continuateur, Gabriel Giroud. On rencontre également des échos du développement des coopératives ouvrières, l’utopiste et industriel Godin est bien traité. Au plan international, des articles sont consacrés aux langues internationales auxiliaires : l’espéranto, le volapük, la langue bleue et le solrésol. Cette langue fondée sur la notation musicale est due à François Sudre, auquel une notice est consacrée d’une demi-colonne.

Au total, cette lexicographie tournée vers l’utopie et la transformation sociale est d’une grande singularité. Elle n’a presque pas laissé de traces, et Lachâtre n’aura guère de successeurs. On peut toutefois le rapprocher, par son génie de la vente et son goût de l’autodidactie, d’Aristide Quillet dont les dictionnaires seront novateurs et qui sera aussi l’éditeur de l’Encyclopédie socialiste, syndicale et coopérative de l’Internationale ouvrière (1912-1921).

L’ oeuvre de Lachâtre : une oeuvre isolée, une oeuvre oubliée. Mais au temps de la communication planétaire et de la langue de bois, ne faudrait-il pas imaginer des dictionnaires subversifs ?

62 François Gaudin, 2006, «Le monde perdu des dictionnaires de Maurice Lachâtre (2). Le Dictionnaire La Châtre (1898-1907) », dans Aspects diachroniques du vocabulaire, Rouen, PURH, pp. 241-267.

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VARIAÇÕES E VARIEDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA

Maria Helena Mira MATEuS

(IlTEC e Flul)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.

Luis de Camões, Soneto 92

INTRODUÇÃO

Como qualquer língua, o português apresenta variações que merecem o nosso carinho e atenção. O nome que damos a esse conjunto de variações, “língua portuguesa”, é uma convenção que abarca todas as formas que, no decorrer da história, foram convivendo e se foram inter-relacionando, permitindo a comunicação entre os seus falantes. Como uma língua é uma forma de comportamento preferencial, ela palpita e cresce, torna-se flexível e colorida, expande-se, enfim, vive. E isso só acontece porque usamos a língua para comunicar com os outros e connosco mesmos. O mais admirável é que, com poucas dezenas de sons, todas as pessoas podem construir, em qualquer língua do mundo, uma infinidade de expressões que revelam aos outros o que pensam, o que imaginam e o que sentem. Neste aspecto, todas as variações de uma língua têm o mesmo estatuto e a mesma grandeza.

No decorrer do tempo, a língua muda. O português que falamos hoje difere do que se falava nos séculos xVI ou xVII ou, mesmo, do que falavam os nossos pais ou avós. Essa evolução temporal, essa mudança no tempo (diacrónica ou histórica) é um dos aspectos mais evidentes da variação inerente a qualquer língua e está intimamente ligada à mudança dos conceitos de vida de uma sociedade, à mudança nos hábitos do quotidiano, na filosofia e na ciência e, até, à mudança da própria natureza. A mudança que se observa numa língua no decorrer da história tem paralelo na sua variação no espaço, em adaptação a particularidades socioculturais, a diferenças nas artes, na educação, na economia, em tudo o que constitui a vivência de uma sociedade. quando as variações correspondem à forma de falar uma língua em diferentes comunidades nacionais, dizemos que estamos perante uma variedade nacional. O português apresenta variedades nacionais nos diversos países em que é falado. Nesses países, a língua portuguesa tem diferentes estatutos: em Portugal e no Brasil é língua nacional e oficial; em Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe e Timor, é língua oficial e de escolarização e convive com línguas nacionais que são línguas maternas da maioria da populaçao.

AS VARIEDADES NACIONAIS

quando falamos de variedades nacionais do português tomamos, habitualmente, como base o português europeu (PE) para caracterizar as especificidades dessas variedades. As diferenças entre o PE e o português brasileiro (PB) têm sido estudadas mais extensamente e mais aprofundadamente do que as especificidades

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do português falado nos outros países.

Vejamos algumas características mais salientes na exemplificação que escolhi ao comparar o Português Brasileiro e o Português Europeu. Como cada variedade também tem variação interna (dialetal), os exemplos que apresento podem não se verificar em todos os dialetos, embora cubram uma parte significativa do território e dos grupos de falantes.

Português Brasileiro (PB) e Português Europeu (PE): algumas diferenças

Nível fonético: vogais e consoantes

(a) As vogais átonas do PB são muito menos reduzidas que em PE, tal como sucede no Português falado em África. No nordeste e norte do Brasil, as vogais átonas pretónicas são abertas. Seguem-se alguns exemplos.

PB PE

partir p[a]rtir partir p[ɐ]rtir

levar l[e]var levar l[ɨ]var,

morar m[o]rar morar m[u]rar

leve lev[i] leve lev[ɨ],

more mor[i] more mor[ɨ]

(b) Antes de /i/ tónico e átono, e antes de /e/ pós-tónico, o /t/ e o /d/ palatalizam e realizam-se como africadas em várias regiões do Brasil, pronunciando-se respectivamente como [tS] e [dʃ], enquanto em PE se mantêm como oclusivas.

PB PE

tio [tS]io tio [t]io

director [dZ]irector director [d]irector

bate ba[tS]i bate ba[t]e

pede pe[dZ]i pede pe[d]e

(c) As sibilantes em final de sílaba e de palavra mantêm-se como [s] e [z] em muitas regiões do Brasil e pronunciam-se como palatais na maioria dos dialectos europeus – [ʃ] e [ʒ], em PE.

PB PE

mesmo me[z]mo mesmo me[ʒ]mo

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peste pe[s]te peste pe[ʃ]te

casas casa[s] casas casa[ʃ]

(d) Em final de sílaba e de palavra, o /l/ pronuncia-se como a semivogal [w] no PB, e velariza-se em PE (esta velarização representa-se por [ɫ]).

PB PE

animal anima[w] animal anima[ɫ]

Brasil Brasi[w] Brasil Brasi[ɫ]

saltar sa[w]tar saltar sa[ɫ]tar

(e) O <r> final de palavra é muitas vezes suprimido em PB, enquanto em PE ocorre sempre como vibrante tap (embora também possa ser suprimido antes de um infinitivo).

PB PE

senhor senh [ó] senhor senho[ɾ]

amar am[á] amar ama[ɾ]

Sequências de consoantes

No PB há a introdução de uma vogal entre duas consoantes seguidas. No PE mantém-se a sequência de duas consoantes que não formam grupo.

PB PE

captura cap[i]tura captura ca[pt]ura

abdomen ab[i]domen abdomen a[bd]omen

admirar ad[i]mirar admirar a[dm]irar

Níveis morfológico e sintático

utilização dos pronomes clíticos de terceira pessoa.

O português brasileiro perdeu os pronomes clíticos de terceira pessoa (acusativo) (v. (i)), substituídos pelo dativo lhe ou pelo nominativo com os pronomes ele / ela (v. (ii)):

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PB PE

(i) As frases, ele leu (-) nos livros As frases, leu-as nos livros

(ii) Eu vi ele na rua Eu vi-o na rua

Eu lhe vi na rua Eu vi-o/a na rua

Compra ela para mim Compra-a para mim

Eu ensino ela na escola Eu ensino-a na escola.

quero lhe conhecer quero conhecê-lo/la

Colocação dos pronomes clíticos

Em PB estes clíticos são habitualmente colocados em posição proclítica enquanto, nas frases correspondentes do PE, são colocados em posição enclítica.

PB PE

Me diga uma coisa Diga-me uma coisa

Te adoro Adoro-te

A menina se lavou; A menina lavou-se

Ele pode se aborrecer; Ele pode aborrecer-se

Tu te zangas sem razão Tu zangas-te sem razão

uso dos verbos fazer, ter e haver

utilização de fazer e ter em PB e haver em PE

PB – Ele está em Paris faz anos. Ele se licenciou tem dois meses.

PE – Ele está em Paris há anos. Ele licenciou-se há dois meses.

ter e haver com o significado de existir

PB – Tem gente lá fora

PE – Há gente lá fora

PB – No baile tinha muitos homens bonitos

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PE – No baile havia muitos homens bonitos

A presença ou ausência de artigo antes de possessivo

Em PB é habitual, antes de possessivo pré-nominal, a ausência de artigo, enquanto em PE está sempre presente.

PB PE

Vou buscar meu correio Vou buscar o meu correio

Eu não conheço tua mulher Eu não conheço a tua mulher

Construções com gerúndio

Gerúndio progressivo:

PB PE

Estava brincando Estava a brincar

Vinha suando Vinha a suar

Estava namorando Estava a namorar

Gerúndio como predicado secundário:

PB PE

Passou um ano estudando Passou um ano a estudar

Vejo as crianças brincando Vejo as crianças a brincar

Distribuição do modo verbal em PB e PE

Certas construções com predicados como é pena, é bom, é natural implicam a utilização do modo indicativo em PB e conjuntivo em PE (ver (iii)). Pelo contrário, em construções com verbos como supor, imaginar, o PB pode usar o conjuntivo e o PE o indicativo (ver (iv)).

PB PE

(iii)

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Pena que ele não chegou a tempo É pena que ele não chegasse a tempo

Bom que já está durando há dois anos É bom que já dure há dois anos

(iv)

Suponho que ele queira vir Suponho que ele quer vir

Formas de tratamento

No Português brasileiro, a utilização de você substitui, na maioria dos dialectos, o tu e o você (familiar) do Português Europeu. Enquanto em PE o tratamento deferente usa o nome próprio, o cargo, o título ou o grau de parentesco, no PB utiliza-se o senhor, a senhora e, no interior dos grupos profissionais, o cargo ou o título.

PB Já te disse que você não vai

PE Já te disse que tu não vais / Já lhe disse que você não vai

PB O senhor / a senhora quer jantar?

PE A Antónia / o Sr. Dr. / o Sr. Director / o tio / o meu amigo quer jantar?

léxico

Na norma brasileira existem numerosos vocábulos de origem tupi (exs.: guri rapaz‟; capim “erva”; pipoca “grão de milho”; mingau papa”) e de origem africana (exs.: caçula “filho mais novo”; moleque “miúdo”; senzala “habitação de escravos”) que não fazem parte da norma do Português Europeu.

Por outro lado, as duas variedades distinguem-se no campo lexical nos seguintes aspectos:

>> Palavras idênticas com significado diferente (‘falsos amigos’):

PB PE

apelido alcunha Sobrenome

banheiro casa de banho salva-vidas

camisola camisa de dormir blusa, t-shirt

>> Palavras diferentes com o mesmo significado:

PB PE

pistolão cunha

esparadrapo adesivo

concreto betão

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>> Palavras derivadas com a mesma base e diferentes sufixos mas com idêntico significado:

PB PE

fumante fumador

prestativo prestável

Apesar das diferenças apresentadas, e de elas se situarem nos diversos níveis da gramática, devemos concluir que a deriva das duas variedades utiliza processos gramaticais comuns, não podendo afirmar-se, portanto, que as variedades possuem diferentes gramáticas.

Alguns exemplos de variedades africanas

No nível fonético, as variedades africanas estão próximo do Português Brasileiro no que respeita à maior audibilidade das vogais átonas.

Português Moçambicano (PM) e Português Europeu (PE)

Com base em Perpétua Gonçalves e Feliciano Chimbutane http://abecs.dominiotemporario. com/ojs/index.php/papia/article/viewFile/2/pdf

Morfologia e sintaxe:

Frases passivas

Os complementos verbais indiretos que se referem a humanos, nas frases passivas, não têm a preposição a. Em consequência, o complemento indireto passa ao lugar de sujeito:

PM – Os soldados foram dados armas pelo Governo.

PE – Aos soldados foram dadas armas pelo Governo.

PM – Os jovens são dados responsabilidades de família

Dequeísmo

Tal como em outras variedades, ocorre o dequeísmo (utilização indevida da preposição de)

PM – Toda a gente sabe de que...

PE – Toda a gente sabe que...

utilização dos modos verbais

Modo infinitivo

PM – Com talvez, embora: indicativo

Talvez eu tenho vocação. Vou trabalhar embora que sou muito novo

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PE – Nos mesmos contextos, conjuntivo em PE

Talvez eu tenha vocação. Vou trabalhar embora seja muito novo.

PM –Infinitivo flexionado

em frases completivas: Os professores preferem não darem as aulas.

e com verbos auxiliares: Os chefes deviam criarem condições...

PE – Infinitivo não flexionado nestes contextos

Os professores preferem não dar as aulas.

Os chefes deviam criar condições.

Orações relativas

PM – Resumptivas: Foi um amigo que conheci-o logo.

PE – Não resumptivas: Foi um amigo que conheci logo.

utilização da preposição a com certos verbos:

Eles elogiam a uma pessoa

PM – Transitivização de verbos com complemento

Ninguém protestou a iniciativa

PE – Explicitação da preposição que introduz o complemento

Ninguém protestou contra a iniciativa.

Ausência da preposição com certos sintagmas nominais

É feio isso de dar dinheiro criança ( ...dar dinheiro às crianças)

locativos e direccionais

O uso da preposição em com sintagmas nominais referentes a lugar por associação a sujeito e objeto direto.

PM – em casa dele é aqui em frente

PE – a casa dele é aqui em frente

PM – na nossa zona era fértil

PE – a nossa zona era fértil

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Uso da preposição em com verbos de movimento indicando destino ou origem

PM – Conheci em casa dela (PE …a casa dela)

PM – Gostava de visitar aqui mesmo na cidade (PE …a cidade)

(Pode aproximar-se o comportamento sintático de constituintes locativos e direcionais nas línguas bantu)

Co-ocorrência da preposição em com a preposição até

PM – fomos até [em Dar-es-Salem]…

andou até [no destino]…

voltou até [no Maputo].

léxico (exemplos)

PM – desconseguir (não conseguir)

bichar (fazer bicha)

Neologismos de origem bantu:

milando (‘confusão’); lobolo (‘tributo pago pelo noivo aos pais da noiva’); mulungo (‘branco’)

Português falado em Angola (PVA): alguns exemplos

léxico - palavras com origem nas línguas nacionais

Do Kimbundu:

camba, cota, caçula provêm di-kamba (amigo), dikota (mais velho), kasule (o filho mais novo)

De outras origens:

batuque, bobó, bunda, cambolar, capanga, cará, catinga, curinga, dendê, gingar, jimbolamento, jimbolo, jingo, jinguba, machimbombo, maxim, minhoca, missanga, mocambo, mocotó, moleque, munda, xingar e muitos outros.

Marcação de número

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A marcação de número (singular ou plural) tende a recair apenas sobre os elementos mais à esquerda do sintagma nominal.

PVA PE

Vigia as criança Vigia as crianças

Ele marca muitos golo Ele marca muitos golos

Marcação de género

Na linguagem não escolarizada, raramente ocorre a concordância de género entre os determinantes e o núcleo do sintagma nominal.

PVA PE

Os palavra As palavras

Esses visita Essas visitas

Primeira filho já tem 38 ano O primeiro filho já tem 38 anos

Marcação de posse com a preposição de:

PVA

Condições que não temos da escola nossa…

PE

Condições que não temos na nossa escola

Pronomes pessoais

Marcação de caso e ordem de colocação dos pronomes pessoais (o, a, os, as)

PVA

Deixa ele falar!

É uma sigla porque lemos-lhe letra por letra

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PE

Deixa-o falar!

É uma sigla porque a lemos letra por letra

léxico

Muitas palavras africanas foram incorporadas ao Português Angolano.

Angola Portugal Brasil

anhara, chana savana savana (ou cerrado)

bazar (ir embora) ir embora, bazar e vazar (socioletos juvenis)

ir embora (em socioletos juvenis)

cacimbo ou cacimba cacimbo ou cacimba cacimba (poço)

chuinga (do inglês chewing-gum) pastilha elástica, chiclete, chiclete, chiclé

garina rapariga moça, guria (na região sul)

geleira frigorífico geladeira

imbamba tralha tralha

jinguba amendoim amendoim

machimbombo autocarro, camioneta ônibus

mata-bicho, pequeno-almoço pequeno-almoço café da manhã

musseque bairro de lata favela

VARIAÇÃO INTERNA DE UMA VARIEDADE

As grandes divisões dialetais do português europeu.

Dialectos setentrionais

Dialectos centro–meridionais

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Dialectos açorianos (sobretudo o micaelense, de S. Miguel)

Dialectos madeirenses (da ilha da Madeira)

Nota: Os dialetos setentrionais caracterizam duas regiões: Trás os Montes e Alto Douro com seis fricativas ([ʐ], [ʂ], [z], [s], [ʃ], [ʒ]) e uma africada ([ʧ]) e o Minho, Douro Litoral e Beira Alta só com 4 fricativas ([z], [s], [ʃ], [ʒ]).

Caracterização dos dialetos setentrionais

• Desaparecimento da oposição entre [b] e [v] e sua fusão numa única consoante, realizada quer como [b] ou [v] ( vaca [b]aca e boi [v]oi).

• Manutenção da fricativa ápico-alveolar [ʂ] e (graficamente <s> e <ss>, como em saber, passo).

• Conservação do ditongo [ow] (graficamente <ou>, como em pouco, soube).

• Manutenção da oposição entre a africada [ʧ] (graficamente <ch>, como em chave, chama) e a fricativa palatal [ʃ], (graficamente <x>, como em xaile, paxá).

Caracterização dos dialetos centro meridionais

• Substituição das consoantes ápico-alveolares [ʂ] e [ʐ] pelas dentais [s] e [z] (a mesma pronúncia em saber, passo, céu, caça) .

• Redução do ditongo [ow] a [o] (pouco p[o]co, soube s[o]be).

• Perda do segundo elemento do ditongo [ej] reduzido a [e] (como em leite l[e]te, feira f[e]ra) embora na

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região de Lisboa o ditongo se conserve com a pronúncia [ɐj] (leite l[ɐj]te, feira f[ɐj]ra).

Dialecto açoriano (micaelense, de S. Miguel)

• Vogais palatais [ü] a [ö] que correspondem, respectivamente, a [u] e [o] em Lisboa (como em uva, [ü]va; pouco, p[ö]co; boi, b[ö]i; piolho, pi[ö]lho).

• Elevação do [o] tónico para [u], como em: doze, d[u]ze; amor, am[u]r.

Dialecto madeirense

• Velarização do [a] tónico, aproximando-se a sua pronúncia por vezes do [ɔ] (ex:casa, c[ɔ]sa,), a substituição do [i] tónico por [ɐj] (exs: ilha [ɐj]lha, jardim, jard[ɐj]) e a palatalização do [l] quando precedido de [i] (ex: filetes, fi[λ]etes,).

As grandes divisões dialetais do Português Brasileiro• Caipira • Dialeto nordestino do norte • Dialeto nordestino do sul • Fluminense • Gaúcho - Rio Grande do Sul • Mineiro - Minas Gerais • Dialeto nordestino do centro • Nortista • Paulistano • Sertanejo • Sulista • Brasiliense

Os dialetos de Angola• Benguelense - província de Benguela • Luandense - provincía de Luanda • Sulista - Sul de Angola • Huambense - Centro de Angola

VARIAÇÃO SÓCIO-LINGUÍSTICA E SITUACIONAL: SOCIOLETOS E REGISTOS

Além das variedades nacionais e da variação dialetal, as línguas também apresentam variantes decorrentes dos diferentes grupos sociais a que pertencem os falantes (etários, sócio-culturais, sócio-profissionais) e que são denominadas socioletos. Nos anos 60, quando se iniciou o estudo da variação sociolinguística, havia a convicção de que as variantes utilizadas por classes não escolarizadas eram linguisticamente mais pobres, insuficientes para servir a expressão e comunicação de conceitos abstractos e sentimentos elaborados. Sabemos hoje que não há insuficiências linguísticas nesses socioletos que impeçam a explicitação verbal de conceitos científicos ou filosóficos. Existem, sim, necessidades e interesses dos falantes que exigem da língua usada determinada especialização e que podem estar relacionados com aspectos sócio-culturais. Trata-se portanto de uma questão social e cultural ao serviço da qual está a língua que falamos.

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Um dos aspectos mais evidentes da diferença entre socioletos reside no vocabulário. quando se trata de um léxico específico, a sua apresentação como linguagem de especialidade denomina-se uma terminologia. A terminologia da linguística, por exemplo, inclui as palavras vogal, consoante, morfologia, semântica etc. Mas também os socioletos se diferenciam na pronúncia (há uma pronúncia snob, uma pronúncia popular como em pobrema, menopalza, arvem etc.), ou na morfologia e na sintaxe (faltas de concordância entre o sujeito e o predicado como em os guris gosta ou a falta da marca do plural como em os menino podem concorrer para caracterizar um falante não escolarizado).

Diferentes dos socioletos são os registos linguísticos que decorrem das circunstâncias em que se produz a fala. Na fala coloquial ou familiar em português europeu e brasileiro, suprimimos as vogais, as consoantes, e por vezes toda uma sílaba (sabe, pronunciado [sáb], está pronunciado [tá] ou as terminações do plural em os menino etc.).

Mas a variação decorrente de diferentes registos vai muito para além destes exemplos. Um diálogo ao telefone exige determinada informação que substitui as indicações dadas pelos interlocutores quando estão em presença. As formas de tratamento também variam. As formas de tratamento de uma pessoa hierarquicamente superior são diversas das que usamos para falar com aqueles que nos são familiares. Um locutor de televisão ou um empregado num call center utiliza expressões que não empregaria no seu dia a dia (aguarde, uma recordatória – para recordar, etc.), e que são diferentes, até, das que usa um locutor de rádio. O uso oral de uma língua distingue-se do seu uso escrito. Uma conversa através da Internet tem, por seu lado, características particulares em consequência da adaptação a este recentíssimo meio de comunicação.

Perante tantas formas de variação linguística deve pôr-se em relevo que a língua que a todas cobre é, evidentemente, uma abstracção necessária à sua descrição como língua particular que, nessa perspectiva, se distingue e contrasta com as restantes línguas naturais. Mas em todas essas modalidades, a língua com que comunicamos exibe a sua vitalidade e mostra que é um organismo vivo, uma forma indissociável das restantes manifestações do comportamento humano.

CAUSAS DA VARIAÇÃO

Por que variam as línguas? que causas desencadeiam a mudança no decorrer dos tempos e a variação que, em cada momento, elas exibem?

Contacto com outras línguas e com outras realidades sociais, culturais e políticas (contexto multilingue e multicultural).

As palavras estendem ou restringem o seu significado (a palavra estremecida, que outrora significava tremida e muito amada, mantém somente o primeiro significado; meter é usado hoje, muitas vezes, em lugar de pôr por influência do francês mettre; capturar substitui, em certas circunstâncias, captar, do inglês to capture; por vezes são traduções literais desnecessárias mas que se mantêm na língua: deletar, clicar etc.). As frases alteram a sua construção (‘posso ter um copo de água?’ é inspirado no inglês ‘may I have a glass of water?’). O léxico acolhe novas entradas e esquece outras (chapéu entrou em português no século xIII, importado do francês antigo chapel; antanho, isto é, antigamente é desconhecido das novas gerações).

As causas da mudança não são apenas exteriores. A mudança interna, endógena, também se dá. Os fenómenos fonéticos de supressão de consoantes e vogais, ou mesmo de palavras inteiras com menor corpo fonético (como, em português, as formas do acusativo dos pronomes pessoais, o, a, os, as, que são substituídas em alguns dialetos do português brasileiro, como vimos, por formas do nominativo ele, ela, você, etc.) desenvolvem-se muitas vezes pelo mero facto de a língua ser falada, usada. A simplificação de um dos sistemas da língua pode constituir-se em factor de modificação e levar, por exemplo, à redução de várias formas verbais a uma única, o que sucede no português do Brasil com formas como tu fala, ele fala, nós fala, ou no inglês com as conjugações verbais.

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VARIAÇÃO E NORMA

Uma das mais velhas ilusões do homem é a de que uma língua deve ser exactamente igual para todos os que a falam.

Ivo Castro (2001). Diversidade Linguística, in Maria Helena Mira Mateus (coord.). Mais Línguas, Mais Europa: celebrar a diversidade linguística e cultural da Europa. Lisboa. Ed: Colibri

Se não há língua sem variação, a verdade é que também não existe comunidade falante que não tenha consciência de que há ‘certo’ e ‘errado’ na língua que fala: os falantes reconhecem que determinadas características não fazem parte do ‘bom uso linguístico’. Ou, dito de outro modo: os falantes reconhecem a existência de uma prática padronizada, uma norma. É esse padrão que a escola nos transmite. E este problema ocupa e preocupa não só os linguistas mas também os profissionais de várias áreas, os que pretendem mostrar o seu grau de escolarização e muitos mais.

Ao considerar a variação da língua, afirmei que todas as formas decorrentes de diferentes variedades nacionais ou variações dialetais têm o mesmo valor linguístico. qual será então a variante ‘correta’? Se entendêssemos como norma a forma mais conservadora, então teríamos de considerar, por exemplo, que a diferença dialetal de pronúncia das sibilantes no português europeu seria a norma por ser a que mais se aproxima das formas primordiais do português. Isso significava que a maioria dos portugueses teria que aproximar a sua pronúncia à de um dialeto que apenas se usa em certas áreas nacionais. O critério do maior número de falantes não é o único que determina a norma, embora não possamos taxar de erradas as variantes menos utilizadas.

Então existem várias normas? Como podemos escolher a mais correta? E se cada dialeto tem uma norma, como determinar a norma da língua? Indo mais longe, se cada variedade nacional tem uma norma, como escolher a norma da língua e da variedade?

Desde já se pode acrescentar que a norma se concretiza, em todas essas variedades, em duas vertentes, a escrita e a oral. Na vertente escrita as regras são mais rígidas e determinadas, em grande parte, pela escrita e pela tradição literária sancionada pela gramática tradicional considerada como a guardiã do ‘bom uso da língua’. Daqui decorre que a vertente linguística mais valorizada é tradicionalmente, a escrita. A própria origem da palavra gramática (do Grego gramatiké, que significava ‘arte ou ciência de utilizar bem os caracteres’) revela claramente a valorização da escrita que caracteriza os primeiros estudos sobre a língua. Mas a norma não se confunde com o texto literário que é apenas uma das utilizações da língua. Aliás, a literatura parece pesar cada vez menos na elaboração da norma do português, cedendo lugar a meios de comuicação mais imediatos e acessíveis.

Falando agora da norma da língua oral, mais uma vez nos perguntamos: se todas as formas que a língua assume na sua variação têm o mesmo estatuto linguístico, poderemos falar de uma escolha entre variantes que se aceite como modelo e seja utilizada no ensino da língua materna e estrangeira ou nos meios de comunicação? E se discutimos a norma, devemos separar as variantes aceites como corretas de um sistema ideal a que chamamos norma- padrão? Podemos – e temos – que aceitar a existência de uma norma-padrão pois, tal como a cultura de uma sociedade impõe padrões de comportamento, também impõe padrões linguísticos. A norma-padrão é um complexo de elementos sociais e linguísticos. Como referência supra-dialectal, ela é fator de identidade, unidade e estabilidade sociais.

Todas as variedades nacionais da língua portuguesa possuem, portanto, a sua norma-padrão de que a escola é especial depositária. Como em qualquer campo da actuação humana, a norma tem justificações sócio-políticas e históricas, de carácter pedagógico e comunicativo. É, em certas circunstâncias, uma forma de identificação linguística e cultural e de solidariedade social.

Vários factores concorrem para a definição e aceitação da norma que não pode, hoje, tomar o seu modelo exclusivamente das gramáticas normativas ou dos autores consagrados. A sua função de estabilização da sociedade está em relação estreita com um dos objetivos da instituição escolar – que, por sua vez,

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é estabilizadora da língua. E é por isso que a utilização de um registo linguístico diferente da norma é elemento de discriminação por tornar evidente a não escolarização. Daqui decorre a importância da escola como fator que proporciona as condições básicas de acesso de todos os membros da sociedade às estruturas do poder.

Um segundo interveniente na identificação da norma e na explicação da variação é o linguista, a quem compete estudar e analisar, conhecer e compreender o funcionamento da língua. O linguista é o profissional que sabe determinar a variação dialectal radicada na diferença, a excepção que ainda perdura e a forma que decorre do desconhecimento e da ignorância. Esse é o seu saber especializado que lhe permite reconhecer, entre outros aspetos, as formas linguísticas estabilizadas e as mudanças que se encontram em curso.

Mas os falantes estão expostos a muitos outros meios de influência linguística, nomeadamente os meios de comunicação social. Podemos até aceitar a afirmação de que “a norma portuguesa dotada de maior vitalidade e capacidade de fazer adeptos é a que transmitem os jornais, a rádio e a televisão”.

Este conceito de caracterização da norma – vitalidade e capacidade de fazer adeptos – pode ser discutível mas é aliciante. Parece evidente que o discurso dos meios de comunicação é o que apresenta mais vitalidade: rodeia-nos, entra na nossa casa, é inovador, exibe uma constante mudança. É passível das nossas críticas mas influencia o nosso falar quotidiano. Não podemos aceitá-lo sem critério e não podemos, igualmente, desconhecê-lo.

Em conclusão: perante as inúmeras variações linguísticas que encerram histórias secretas das palavras, regras que foram desactivadas, interacções, e a necessidade de corresponder aos modelos linguísticos que a escola nos impõe, tomamos consciência de que a língua, como organismo vivo, manifesta simultaneamente uma constante mudança e uma necessária estabilidade. E essa estabilidade é a sua contribuição para identificarmos o lugar que nos cabe na sociedade em que estamos integrados.

REfERêNCIAS

CASTRO, Ivo (2003) O Linguista e a Fixação da Norma. In MENDES e FREITAS (orgs,). Actas do XVIII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Lisboa: APL., 11-24

CINTRA, Luís Filipe Lindley (1971a) Nova proposta de classificação dos dialectos galego-portugueses. Boletim de Filologia, xxII, 81-116. Republicado em Estudos de dialectologia portuguesa, 1983. Lisboa: Sá da Costa Editora, 117-164

FARIA, I. H., GOUVEIA, C., PEDRO, E. e DUARTE, I. (orgs.) (1996) Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho. Caps. 10 e 11.

GONÇALVES, Perpétua & CHIMBUTANE, Feliciano (2004). O papel das línguas bantu na génese do português de Moçambique: o comportamento sintático de constituintes locativos e direcionais http://abecs.dominiotemporario.com /ojs/index.php/papia/article/viewFile/2/pdf

GONÇALVES, P. & SITOE, B. (1998). Mudança linguística em situação de contacto de línguas: o caso do Changana e do Português.

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MATEUS, Maria Helena Mira & BACELAR DO NASCIMENTO, MARIA FERNANDA (2004). (ORG.) (2002) A Língua Portuguesa em Mudança. LISBOA: Editorial Caminho.

MATEUS, Maria Helena Mira e CARDEIRA, Esperança (2007) Norma e Variação. Col. O essencial sobre a língua portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho.

MATEUS, M. H. M., BRITO, A. M., DUARTE, I., FARIA, I. H., FROTA, S., OLIVEIRA, F., MATOS, G., VIGÁRIO, M. E VILLALVA, A. (2004). Gramática da Língua Portuguesa. 6ª Edição Revista e Aumentada. Lisboa: Editorial Caminho.

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MOTA, Maria Antónia Coelho da (1996) Línguas em Contacto. In FARIA, I. H., GOUVEIA, C., PEDRO, E. e DUARTE, I. (Orgs.) (1996): 505-534

SEGURA, Luísa e SARAMAGO, João (2001) Variedades Dialectais Portuguesas. In MATEUS, Maria Helena Mira (ORG.) (2001) Catálogo da exposição caminhos do Português. Lisboa: Biblioteca Nacional, 221-240.

SCHERRE, Maria Marta Pereira e NARO, Anthony Julius (2001) Passado e Presente na Concordância de Número em Português: Evidências do Português Europeu Moderno. II Encontro de Estudos Diacrônicos do Português (II EDIP) UNESP – Faculdade de Ciências e Letras – Campus de Araraquara.

SILVA, Giselle M. de Oliveira e SCHERRE, Marta M. (ORGS.) (1996) Padrões Sociolinguísticos. Rio De Janeiro: Tempo Brasileiro.

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A GEOLINGUÍSTICA EM PORTUGAL. PASSADO, PRESENTE E fUTURO

João SARAMAGO(Centro de linguística da universidade de lisboa)

[email protected]

1. Antes de abordar as propostas de divisão dialectal para Portugal e dos projectos de Geolinguística, achei pertinente dar conta, em primeiro lugar, das primeiras tomadas de consciência linguística e respectivas reflexões que se podem encontrar nos gramáticos, ortografistas e lexicógrafos dos séculos XVI, XVII e xVIII.

1.2 Em 1536, Fernão de Oliveira publica a Gramática da lingoagem portuguesa63. Nesta obra podem constatar-se as seguintes reflexões:

a) sobre a evolução da língua:

... nós diremos que de nós aos Latinos há aí muita diferença nas letras, porque também as temos nas vozes, e não é muito, pois somos bem apartados em tempos e terras, e não somente isto, mas uma mesma nação e gente de um tempo a outro muda as vozes e também as letras (p. 46).

b) sobre as diferenças regionais, sociais e etárias, sobre o carácter arcaizante das variedades da província em relação à corte:

1) E, porém, de todas elas [palavras], ou são gerais a todos, como Deus, pão, vinho, céu e terra, ou são particulares e esta particularidade ou se faz entre ofícios e tratos, como os cavaleiros que têm uns vocábulos e os lavradores outros, e os cortesãos outros e os mercadores outros. ou também se faz em terras esta particularidade, porque os da Beira têm umas falas e os do Alentejo, e os homens da Estremadura são diferentes dos de Entre Douro e Minho, porque, assim como os tempos, assim também as terras criam diversas condições e conceitos. E o velho, como tem o entender mais firme, com o que mais sabe, também suas falas são de peso, e as do mancebo mais leves (pp. 97-98).

2) ... e assim os outros, porque os homens falam do que fazem, e portanto os aldeãos não sabem as falas da corte, e os sapateiros não são entendidos na arte de marear, nem os lavradores de Entre Douro e Minho entendem as novas vozes que este ano vieram de Tunes com suas gorras. (p. 87)

3) ... porque muitas vezes algumas dicções que há pouco são passadas são já agora muito aborrecidas, como abem, ajuso, acajuso e asuso, e ogano, algorrém e muitas outras. E, porém, se estas e quaisquer outras semelhantes as metermos em mão de um homem velho da Beira ou aldeão, não lhe parecerão mal. (p.95)

4) “e outro tanto podemos afirmar dos que fazem o plural em -ães, como pães, cães, dos quais antigamente era o seu singular pam e cam cujo testemunho ainda agora dá Entre Douro e Minho.” (p. 117)

63 BUESCU, Maria Leonor C. (1975) A Gramática da linguagem portuguesa de Fernão de Oliveira (introdução, leitura actualizada e notas), Lisboa, INCM.

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5) “... e mais o verbo substantivo, o qual uns pronunciam em om, como som, e outros em ou, como sou, e também outros, que eu mais favoreço, em o pequeno, como so. No parecer da primeira pronunciação com o e m, que diz som, é o mui nobre João de Barros, e a razão que dá por si é esta: que de som mais perto vem a formação do seu plural, o qual diz somos. Contudo, sendo eu moço pequeno, fui criado em S. Domingos de Évora, onde faziam zombaria de mim os da terra, porque o eu assim pronunciava, segundo o que aprendera na Beira.” (p. 121)

6) “E também se este verbo nego servia em lugar de conjunção e valia entre os velhos tanto como senão, e ainda agora assim vale na Beira.” (p. 124)

1.3 Em 1540 é publicada a Grammatica da língua portuguesa de João de Barros64. Nesta obra existe um capítulo intitulado “Diálogo em louvor da nossa linguagem”. Nele, o autor, para além de pretender elevar a língua portuguesa acima de todas as outras línguas românicas, mostra a sua preferência pelos vocábulos de origem latina. Deste facto, e também das diferenças linguísticas existentes no território, em que o Norte é considerado como mais arcaico em relação ao Sul, dá-nos conta o seguinte passo:

A mim, muito me contentam os termos que conformam com o latim, dado que sejam antigos, cá destes nos devemos muito prezar quando não acharmos serem tão corruptos [na leitura: correctos], que este labéu lhe[s] faça perder sua autoridade. Não somente os que achamos por escrituras antigas, mas muitos que se usam Entre Douro e Minho, conservador da semente portuguesa, os quais alguns indoutos desprezam, por não saberem a raíz donde nascem (p. 402).

1.4 Duarte Nunes de leão publica a sua Orthographia da Lingoa Portuguesa65 em 1576. Na obra encontram-se:

a) referência específica a fenómenos fonéticos e de hipercorrecção, sendo alguns deles apontados como elementos diferenciadores de uma região:

O que muito mais se vê nos Galegos, e em alguns Portugueses de Entre Douro e Minho, que por vós, e vosso, dizem bós e bosso, e por vida dizem bida. E quase todos os nomes em que há u consoante mudam em b. E como se o fizessem às avessas, o que nós pronunciamos por b pronunciam eles por v. (p.54);

b) referência à manutenção da antiga terminação -om em oposição ao actual -ão:

... sempre onde a Castelhana diz, an ou on que é a sua particular terminação, responde a Portuguesa com aquela pronunciação de ão que sucede em lugar da antiga terminação dos Portugueses de -om que punham em lugar de an ou on dos Castelhanos. A qual ainda agora guardam alguns homens de Entre Douro e Minho, e os Galegos que dizem, fizerom, amarom, capitom, cidadom, tabaliom, apelaçom.” (p.90);

c) referência à confusão que começava a existir entre c, s e z etimológicos:

que tenhamos grande tento nos vocábulos, em que entra c, s e z. Porque a mais da gente, e não só a vulgar, se engana na escritura, confundindo estas letras, e pondo umas por outras, sem distinção, sendo elas diferentes, e distantes na pronunciação e natureza, assim como o são na figura.” (p. 142).

64 BARROS, João de (1971) Gramática da Língua Portuguesa, reprodução facsimilada, leitura, introdução e anotações por Maria Leonor Carvalhão Buescu, Lisboa, Publicações da Faculdade de Letras de Lisboa.65 LEÃO, Duarte Nunes (1983) Ortografia e Origem da Língua Portuguesa, introdução, notas e leitura de Maria Leonor Carvalhão Buescu, Lisboa, INCM.

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O mesmo autor, no seu livro Origem da lingua portuguesa66, (1606), faz alusão à separação que se processou entre o português e o galego e, também, à influência linguística da corte:

... das [línguas] da Galiza e Portugal, as quais ambas eram antigamente quase uma mesma, nas palavras, e nos ditongos e pronunciação que as outras partes da Espanha não têm.

Da qual língua galega a portuguesa se avantajou tanto, quanto na cópia como na elegância dela vemos. O que se causou por em Portugal haver Reis e corte que é a oficina onde os vocábulos se forjam e pulem, e donde manam para os outros homens, o que nunca houve em Galiza.” (pp. 219-220).

1.5 Um pouco mais tarde, em 1631, Álvaro Ferreira de Vera na sua Orthographia ou Modo para escrever certo na língua Portuguesa, dá-nos conta da troca do v por b. Está ele a falar da letra B:

Tem esta letra muita semelhança e afinidade com a letra consoante v; com que faz errar a muitos Portugueses de Entre Douro, e Minho, e os mais dos Castelhanos, que não advertindo o que vai de uma à outra, as trocam na pronunciação, dizendo: brabo e bravo; avano e abano; (...) barrer e varrer; e pior, dizendo bosso e buestro por vosso e vuestro. (p.6).

1.6 Sobre o mesmo assunto e respectiva hipercorrecção, João Franco Barreto, na obra Ortografia da Língua Portuguesa (1671), observa o seguinte:

[B] tem muita afinidade com u consoante, a que os nossos ortógrafos chamam ve, e os Italianos u Francês. E assim muitos Portugueses de Entre Douro e Minho, não advertindo o que vai de uma à outra, as trocam em pronunciação; especialmente os que ficam mais chegados à Galiza, de tal maneira, que a vento chamam bento, e em lugar de Bento dizem vento; por vos, vosso; bos, bosso; por vida, bida; e quase todos os nomes, em que há u consoante, mudam o u em b e como se o fizessem, por o fazer às avessas, o que nós pronunciamos por b pronunciam eles por v (...).” (pp.113-114).

Na mesma obra podem encontrar-se várias referências às diferenças regionais:

Os verbos da primeira conjugação todos fazem o pretérito em -ei, como amei, falei, jantei, etc. sem nenhuma excepção. Ainda que por este Ribatejo todos os mudam em -i agudo, dizendo ami, fali, janti, etc., que é uma notável barbárie, e maior por ser aqui tão vizinho da Corte” (p. 54);

É esta letra a fatal para os de entre Douro e Minho, e Beirões, seguindo-se-lhe outro a porque não os podem pronunciar ambos um detrás do outro sem lhes meter de permeio um i, e assim havendo de dizer a água, a alma, infalivelmente hão-de dizer ai água, ai alma.” (p. 73);

... e assim diremos calções, tostões porquanto eles dizem calçones , tostones, e não calçães, tostães, como o vulgo circunvizinho de Lisboa costuma, e o que hão-de acabar em -ães acabam em -ões, como Capitões, Alemões, em vez de Capitães, Alemães, e semelhantes. (pág.105).

Relativamente à variedade de prestígio e à variedade popular, ele observa o seguinte:

Em cada nação, e em cada língua há uns, que falam melhor que outros; e parece que acerca do vulgo, e gente popular, plebeia, e servil, há uma linguagem, e acerca dos nobres, cortesãos, e pessoas de juízo, e letras, outra. (p.31).

66 Ver nota 3.

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Neste autor encontra-se a primeira referência à confusão que começava a existir entre a pronúncia e a grafia de ch e x:

... muitos por a língoa os não ajudar, ou por mau costume, pronunciam barbaramente, dizendo (e ainda escrevendo) pachã, cacha, enchada, cochim, enchurrada. De modo que convertem o x em ch (...) sendo que outros [vocábulos], que se devem pronunciar e escrever por ch, como chave, chapeo, chafariz, fechadura, etc. escrevem e pronunciam, xave, xapeo, xafariz, fexadura. (p. 172).

1.7 Sobre a língua padrão, que sempre tinha sido considerada como aquela que se falava na Corte, D. Francisco Manuel de Melo, nos Apólogos Dialogais (1721), exprime a sua opinião, dizendo o seguinte:

... se cá entre nós disséssemos se falava mais elegante em Coimbra, que em outra parte, não mentiríamos, sendo ali o coração e a alma das ciências que se ensinam e aprendem. (pp.261-262).

Esta é, pois, a primeira vez em que se estabelece uma relação directa entre língua padrão e classe culta.

1.8 quatro anos depois (1725) temos o primeiro quadro geral dos dialectos portugueses, que inclui também os dialectos das colónias. Ele está descrito no capítulo “Dialectos da língua portuguesa” da obra Regras da língua portuguesa, de D. Jerónimo Contador d’Argote67. Nele, para além da definição de dialecto e de uma divisão dialectal do território continental, encontram-se referidas todas as particularidades que já anteriormente tinham sido descritas pelos vários autores (confusão do v / b, om por ão, diferenças lexicais e morfológicas, eliminação do hiato) e ainda se faz referência a outras que, até à altura, não tinham sido indicadas: os diferentes estádios da língua portuguesa; a classificação dos dialectos segundo a distinção da gramática grega; os fenómenos fonéticos: oi por ou, dezer por dizer, a variante contextual de /s/, em posição final, seguida de outra palavra iniciada por vogal, como [Z] e não [z], a realização de [z] como a retroflexa [s°]; formas arcaicas: trouve por trouxe.

Pela sua importância, transcreve-se na íntegra este capítulo:

MESTRE: que quer dizer Dialecto?D. quer dizer modo de falar.M. que cousa é Dialecto?D. É o modo diverso de falar a mesma língua.M. Dizei exemplo.D. O modo, com que se fala a língua Portuguesa nas terras, p. ex. da Beira, é diverso do com

que se fala a mesma língua Portuguesa em Lisboa porque em uma parte se usa de umas palavras, e pronúncia, e em outra parte se usa de outras palavras, e outras pronúncias, não em todas as palavras mas em algumas. Esta diversidade pois de falar, que observa a gente da mesma língua, é que se chama Dialecto.

M. E quantas castas há de Dialectos?D. Muitas, mas as principais são três.M. quais são?D. Dialectos locais, e Dialectos de tempo e Dialectos de profissão.M. que cousa é Dialecto local?D. Dialecto local é a diferença, com que se fala a mesma língua em diversas terras da mesma

nação.M. Dizei exemplo.D. A diversidade, com que se fala a língua Portuguesa nas terras da Beira, e da Estremadura, é

Dialecto local.

67 O capítulo encontra-se transcrito em NETO, Serafim da Silva (1979) História da Língua Portuguesa, 3ª ed., Rio de Janeiro, Presença – MEC.

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M. E quantos Dialectos locais tem a Língua Portuguesa?D. Muitos, mas os principais são cinco.M. quais são?D. O Dialecto da Província da Estremadura, o da Província de Entre Douro, e Minho, o da Beira,

o do Algarve, e o de Trás os Montes.M. E que cousa é o Dialecto da Província da Estremadura?D. É a pronúncia, palavras, e modo de falar a língua Portuguesa usado nas terras da Província

da Estremadura.M. E que cousa é o Dialecto da Província de Entre Douro, e Minho?D. É a pronúncia, palavras, e modo de falar a língua Portuguesa usado nas terras da Província do

Minho, o mesmo se deve dizer competentemente dos demais.M. Em que difere o Dialecto de Entre Douro, e Minho do da Estremadura? D. Difere na pronúncia, porque a letra v, consoante pronuncia como b, ao vinho dizem binho; a

letra b, pronunciam como v consoante, ao vento dizem bento. As letras ão pronunciam om, ao não dizem nom, ao pão pom. Difere nas palavras, porque à viração chamam maré, à alameda chamam deveja. Diferem no modo de falar, porque fazem a alguns nomes masculinos femininos, e aos femininos masculinos. O fim dizem a fim. A febre dizem o febre, e também mudam em alguns Verbos as terminações das pessoas, eu estive dizem eu esteve. Eu fiz dizem eu fez.

M. E em que difere o Dialecto da Beira do da Estremadura?D. Difere na pronúncia porque ao ditongo ou sempre pronunciam oi, a ouvir dizem oivir, a

couves dizem coives. Esta pronúncia se reteve no Dialecto da Estremadura em muitas palavras, porque ao couro dizemos coiro, ao mouro moiro, ao touro toiro, etc.

Difere outrossim o Dialecto da Beira da Esremadura, porque às palavras que começam por a, acrescentam muitas vezes a letra i. Água dizem ai água. A alma dizem ai alma. Diferem nas palavras, porque aos canteiros de flores, ou hortaliça chamam leiras, aos vagados oiras, aos rapazes cachopos, às raparigas cachopas.

M. Em que difere o dialecto de Trás os Montes do da Estremadura?D. Difere na pronúncia, e nas palavras, que condizem muito com as da Beira, e Entre Douro, e

Minho.M. E em que difere o Dialecto do Algarve do da Estremadura?D. Difere na pronúncia, porque ao e fechado pronunciam como i, e ao i como e fechado, assim

como dizer pronunciam dezer, e em outras cousas. Meu dizem mei, seis horas dizem seis joras .M. E porque não pondes o Dialecto da Província do Alentejo entre os demais?D. Porque difere pouco do da Estremadura, ao concertar chama amanhar, aos casais chama

montes, etc. e dizem tem alguns defeitos da pronúncia do Algarve.M. E há mais alguns Dialectos locais?D. Há alguns de alguns lugares de Trás os Montes, e Minho, nas raias de Portugal, que são

muito bárbaros, e quase que não se podem chamar Português, mas só os usa a gente rústica daqueles lugares.

M. E que cousa é Dialecto de tempo?D. É a diferença do falar da mesma língua em diversos tempos.M. E quantos Dialectos de tempo há na língua Portuguesa?D. Podemos dizer que três.M. quais são?D. Antiquíssimo, e é o que se usou até o tempo de El Rei Dom Dinis o Sexto de Portugal. Antigo,

e é o que se usou quase até à perda de El Rei Dom Sebastião, e Moderno, e é o que actualmente se usa da perda de El Rei Dom Sebastião para cá.

M. E em que difere o Dialecto antigo, e antiquíssimo do moderno?D. Em muitas cousas, principalmente o antiquíssimo, o que se vê nos livros, e doações antigas.

Basta saber que tinham muita parte do Dialecto actual do Minho, Beira, e Trás os Montes.M. E esses dialectos é necessário sabê-los?D. Para as pessoas curiosas, e doutas é necessário saber muita parte deles, mas isso prende-se

com mais vagar.

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M. E que coisa é Dialecto de profissão?D. quem fala ou escreve um sucesso em verso, conta-o com muita diferença, do que o conta em

prosa, e a esta diferença chamo Dialecto de profissão sem entrar na disputa se esta divisão é própria, ou imprópria.

(...)M. Há mais algum Dialecto, de que trateis?D. Há um modo de falar a língua portuguesa mau, e viciado, ao qual podemos chamar Dialecto

rústico, dele usa a gente ignorante, rústica, e incivil, e dela é necessário desviar aos meninos bem criados.

M. E em que difere esse mau Dialecto do Dialecto verdadeiro?D. Difere na pronúncia, nas palavras, e no modo de falar a língua Portuguesa.M. Dizei exemplos.D. Para dizerem os rústicos por certo, dizem bofé. Aos tostões dizem tostães, aos grãos grães, etc.

A letra z muitas vezes pronunciam como g, ao visitar dizem vigitar, à visita vigita. Eu fizera dizem eu figera. Eu trouxe dizem eu trouve, a ouvido dizem ouvisto, atrever-se dizem estrever-se. Flores dizem froles, etc.

M. Há mais algum Dialecto?D. Há os Dialectos ultramarinos, e conquistas de Portugal, como Índia, Brasil, etc. os quais têm

muitos termos das línguas bárbaras, e muitos vocábulos do Português antigo.Também em Lisboa entre os homens, a que chamam de ganhar, há um género de Dialecto, a que

chamam gíria, de que os tais usam algumas vezes entre si. E assim também os ciganos tem outra espécie de gíria porque se entendem uns com os outros.

M. Tendes mais que dizer dos dialectos da língua Portuguesa?D. Mais há que dizer, mas isto basta.” (pp.561-564)

1.9 João de Morais Madureira Feijó, na obra Ortografhia ou Arte de escrever e pronunciar com acerto a língua Portuguesa (1734), fala-nos da dos fonemas [s] e [s°] e da confusão fonética e gráfica de [S] e [tS]:

Já dissemos que o C como C se pronuncia com a extremidade anterior da língua, tocando nos dentes quase fechados, enquanto sai o seu som, que é suavemente brando. O S pronuncia-se com a ponta da língua moderadamente aplicada ao paladar, junto aos dentes de cima com os beiços abertos, enquanto sai um som quase assobiando do meio da boca, como se percebe nestas palavras Sancto, Sá, Sé, etc.. Pois se esta é a rigorosa, e própria pronunciação do S, como se equivoca com a do C, que é tão diversa? Se os sons são diversos, como pode ser a consonância a mesma? Demos a cada uma destas letras a diversidade da sua pronunciação, e logo se perceberá a diversidade de Sá, ou Çá, Se, ou Ce, Si, ou Ci, So, ou Ço, Su ou Çu. Pronuncie-se Çapato, e Sapato, Maça, e Massa; e diga quem não é surdo a diferença que percebe entre um e outro som. (p.45)

... [CH] nas [pronunciações] dos Portugueses nunca soa nem com C nem como q, mas faz um terceiro som em que não se percebe como soa, ferindo as vogais seguintes deste modo: Cha, Che, Chi, Cho, Chu: v.g. Chave, Chaminé, Chino, Chove, Chuva, cuja pronunciação não tem semelhança com outras letras, e só os oriundos de Lisboa a equivocam tanto com o x, que a cada palavra trocam uma por outra; porque não só pronunciam mas também escrevem xave, xaminé, xino, xove. E a alguns que lhes era tão dificultosa a pronunciação do Ch, que achando-o escrito, o pronunciam como x, e pelo contrário onde acham x, o pronunciam como Ch. (p.53)

1.10 Como contraponto a D. Francisco Manuel de Melo, que indicava Coimbra como o verdadeiro centro da língua-padrão, o padre António Verney (Verdadeiro methodo d`estudar, vol. I, p.30, 1746) defende que “sempre se devem preferir os que são mais cultos e falam bem na Estremadura”.

1.11 A mesma opinião tem Frei luis do Monte Carmelo (1767) que, no prefácio da obra Compendio de Ortographia, afirma: Devemos falar, e escrever, como pratica o maior número, não de ignorantes ou

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plebeus, que corrompem os Idiomas, mas dos doutos, e peritos da Corte.

1.12 Finaliza-se esta referência sobre aquilo que os gramáticos, ortografistas e lexicógrafos dos Séculos XVI, XVII e XVIII afirmaram em relação à língua portuguesa, com a apresentação de uma opinião muito lúcida, em tudo idêntica à da dialectologia actual, sobre as diferenças, que se verificam no português e o que elas, na realidade representam.

O seu autor é António das Neves Pereira que no seu artigo “Ensaio crítico, sobre qual seja o uso prudente das palavras de que se serviram os nossos bons Escritores do Século xV e xVI; e deixaram esquecer os que depois se seguiram até ao presente”, publicado nas Memórias da Literatura da Academia de Ciências, vol. IV, de 1793 diz o seguinte:

O que regularmente é bom, e incorrupto é o que se lê nos Autores, e o que se escreve conforme os Autores de boa nota: ora esta linguagem dos bons escritos não nasceu toda na Corte, nasceu onde os Autores escreveram, e com as obras passou a diferentes países do Reino: do que se segue o que a mesma experiência me ensinou, e é, que os que na Corte escrevem, e falam bem a língua, escrevem, e falam como os polidos das Províncias, e estes como os da Corte: nos barbarismos há a mesma correlação, reposta a diferença específica de tais, ou tais.

Alguns mais presumidos, que inteligentes, sei eu, que fazem suas investidas contra os termos usados nas Províncias, devendo advertir, que só os termos bons da Língua, que nelas o vulgo desfigura, é que fazem a linguagem corrupta, e dialecto disforme, mas não os termos bons, e sãos, que são do uso peculiar do país, e tem o mesmo privilégio, que os termos técnicos para a linguagem científica. Que em Lisboa se chama viga, o que no Minho, ou na Beira se denomina caibro, ou barrote: que numa parte se diga Bilha, o que nas outras se chama Cântaro, não prova, que uns tenham melhor ou pior língua. Os nossos Portugueses na Índia dizem em bom Português Veniaga, como nós cá dizemos Mercadoria: tudo vale o mesmo. (pp. 259-360).

1. Portugal é, entre os países românicos, aquele que apresenta uma maior unidade linguística. Na realidade, se exceptuarmos as aldeias de Riodonor, Guadramil, e a zona de Miranda do Douro, linguisticamente pertencentes aos dialectos asturo-leoneses, no restante espaço político português existe a mesma língua68.

O facto de existir apenas uma língua não significa que não existam diferenciações nítidas entre as diferentes variedades linguísticas que se encontram ao longo do território português continental. Dessas diferenças já nos davam conta os autores atrás citados. Actualmente, é sem dificuldade que um falante do Norte reconhece outro falante como sendo do Sul e vice-versa.

Como até ao momento ainda não existe, para o território português, um atlas linguístico que permita avançar com uma classificação dialectal mais rigorosa, far-se-á uma apresentação das várias propostas até agora surgidas. De notar que estas propostas não seguem uma terminologia uniformizada

2.1 O primeiro estudioso que apresentou uma classificação dialectal mais detalhada da totalidade do território foi leite de Vasconcelos, em 1897, no seu Mapa Dialectológico do Continente Português69. Este trabalho propõe uma hierarquização das diferentes variedades dialectais em dialectos, subdialectos e variedades, de acordo com a abrangência de cada uma delas. Os dialectos considerados são quatro: o interamnense, o trasmontano, o beirão e o meridional. Para além desta classificação, surge um outro termo, co-dialecto, que designa idiomas próximos do português mas não tão próximos como os dialectos, é este o caso do mirandês, do riodonorês, do guadramilês e do galego. (ver Mapa 1)

Em 1901, Leite de Vasconcelos publica a obra Esquisse d’une dialecologie portugaise, em que a proposta feita para a divisão dialectal de Portugal é mais desenvolvida de que a anterior, fazendo referência aos dialectos insulares, ultramarinos e ao português dos judeus. De notar que esta segunda classificação não vem acompanhada de mapa.

68 Apesar de em Barrancos (Alentejo) ocorrer um número significativo de características fonéticas semelhantes aos dialectos andaluzes vizinhos, não pode afirmar-se que o Barranquenho não seja um dialecto do português.69 A primeira data de publicação deste mapa é de 1893, tendo aparecido na Corografia de Portugal de Ferreira Deusdado, com o título “Carta Dialectológica do Continente Português”.

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Em 1929, ao reeditar trabalhos anteriores, Leite Vasconcelos publica novamente o mapa de 1893-1897, introduzindo-lhe uma série de alterações com o intuito de contribuir para uma maior exactidão na definição das fronteiras dos quatro dialectos principais: interamnense, trasmontano, beirão e meriodional. No entanto, a divisão operada continua a ter por base as divisões administrativas do país. Nesta última proposta, uma reflexão do autor coloca já o galego numa posição de igualdade face ao português, ou seja, a um mesmo nível. (ver Mapa 2)

2.2 Manuel de Paiva Boléo, com a colaboração de Maria Helena dos Santos Silva, apresenta, em 1959, o Mapa dos Dialectos e Falares de Portugal. Esta nova classificação representa um passo em frente na investigação científica das variedades linguísticas em Portugal, já que, pela primeira vez, é utilizado um método de recolha sistemática de materiais, baseado nas respostas do ILB (Inquérito Linguístico Boléo), inquérito por correspondência que era enviado, a nível nacional, a professores primários e a párocos de todas as freguesias.

Esta proposta, para além das diferenças naturais em termos de rigor, apresenta, relativamente às de Leite Vasconcelos, uma outra nomenclatura. Assim, os dialectos de Leite Vasconcelos são designados por falares e a designação dialecto é reservada para o mirandês, o riodonorês, o guadramilês, variedades de origem asturo-leonesa, e para o barranquenho, dialecto de origem portuguesa. De notar a ausência de referência ao galego. Esta divisão considera os seguintes falares: o minhoto, o trasmontano, o beirão, o do Baixo Vouga e Mondego, o de Castelo Branco e Portalegre e o meridional. O principal problema desta proposta reside na escolha dos traços fonéticos que sustentam esta divisão e na sua hierarquização. Por exemplo, um mesmo traço fonético caracteriza falares diferentes. (ver Mapa 3)

2.3 No capítulo “Estado actual del Portugués en la Península Ibérica”, incluído na Gramática Portuguesa, de 196170 (versão corrigida e aumentada da edição de 1949), Pilar Vázquez Cuesta e Maria Albertina Mendes da luz propõem uma nova divisão dialectal do território português. O seu trabalho divide-se em duas partes, a primeira para a língua popular portuguesa e a segunda para as linguagens fronteiriças, onde são incluídas, sem critérios, todas as variedades que se distinguem linguística ou politicamente do português, tal como acontecia com os co-dialectos de Leite Vasconcelos. Na primeira parte são considerados uma série de falares ou variedades que são distribuídos por três zonas dialectais: o Norte (Minho, Douro e Trás-os-Montes), o Centro (Beiras, definida como zona de transição) e o Sul (Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve). Não se regista qualquer tentativa de delimitação de subzonas no interior de cada uma das atrás referidas, nem tão pouco são definidas em termos de traços linguísticos. Na segunda parte são referidas as seguintes localidades ou regiões (de norte para sul): o galego, Hermisende,o riodonorês, Guadramil, o mirandês, o sendinês, Alamedilha, S. Martín de Trevejo, Eljas e Valverde del Fresno, Olivença e Barrancos

2.4 Seguidamente, à semelhança do que foi feito para as outras propostas far-se-á a apresentação, se bem que de modo mais pormenorizado, da Nova proposta de classificação dos dialectos galego-portugueses de Cintra71, de 1971. Esta proposta baseia-se fundamentalmente em dados recolhidos, em 77 localidades de Portugal continental, para o Atlas Lingüístico de la Peninsula Ibérica (ALPI), completados por observações feitas aquando de visitas efectuadas com alunos da Faculdade de Letras de Lisboa a vários pontos do país e por informações recolhidas em estudos sobre o galego, realizados por Alonso Zamora Vicente.

É de salientar, nesta classificação, a inclusão do galego em pé de igualdade com o português, considerando-os como dois ramos distintos de uma mesma variedade linguística: o galego-português. Outra inovação desta proposta é o facto de nela não se encontrarem incluídas as variedades leonesas existentes em território político português.

A metodologia seguida para esta proposta previu, ao contrário das anteriores, a escolha e hierarquização de um limitado número de traços fonéticos, para estabelecer a oposição entre o galego e o português e entre os vários dialectos do português. Esta escolha deveria recair sobre traços fonéticos diferenciadores que fossem aqueles que são mais facilmente perceptíveis para qualquer falante. Neste sentido, foram desde logo distinguidas três grandes áreas, representativas de outros tantos grupos de dialectos:

a) os dialectos galegos;

b) os dialectos portugueses setentrionais;

70 Em 1980, foi publicada a tradução portuguesa desta obra: Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Edições 70, 1980.71 CINTRA, Luís F. Lindley (1983): pp. 119-163.

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c) os dialectos portugueses centro-meridionais.

A individualização do primeiro grupo de dialectos, ou seja, a sua oposição relativamente a falantes dos grupos do Norte e Sul de Portugal, é operada por intermédio de dois traços:

. a inexistência da constritiva alveolar sonora [z] e da pós-alveolar sonora [Z];

. a realização das vogais átonas com um “menor fechamento e grau de redução”.

A fronteira entre este grupo e o dos dialectos portugueses setentrionais é traçada pela isófona do primeiro traço fonético. De notar que neste caso particular a fronteira entre diferentes unidades linguísticas é coincidente com a fronteira política que separa os dois países.

Os dialectos portugueses setentrionais apresentam quatro traços característicos:

. o desaparecimento da oposição fonológica entre /b/ e /v/;

. a realização retroflexa (“ápico-alveolar”) das constritivas /s/ e /z/;

. a manutenção da oposição fonológica entre [S] e [tS];

. a conservação do ditongo /ou/.

Os falantes do grupo de dialectos centro-meridionais distinguem-se por um único traço:

. a monotongação do ditongo /ei/. (ver Mapa 4)

As isófonas, traçadas com base em cada um dos aspectos fonéticos apontados, que separam estes dois grandes grupos não permitem, devido à sua não coincidência, o estabelecimento de uma fronteira única que separe o grupo de dialectos do Norte do grupo de dialectos do Sul, isto apesar do primeiro grupo poder ser com segurança situado entre o rio Douro, a Norte e o rio Tejo, a Sul. O método seguido para a viabilização de uma fronteira clara entre estes dois grupos foi a eleição de um traço suficientemente significativo, reservando os restantes para o estabelecimento de subgrupos dentro destes dois domínios. O traço escolhido por Cintra para operar esta separação entre dialectos setentrionais e dialectos centro-meridionais foi o da realização ápico-alveolar das constritivas /s/ e /z/, característica das variedades do Norte. Esta escolha teve como argumentos a possibilidade de, com este traço, determinar uma fronteira que “não ultrapassa em qualquer das suas extremidades nem o curso do rio Douro nem o do rio Tejo”; ser exactamente este mesmo sistema de constritivas alveolares, tradicionalmente sibilantes, que permite separar os dialectos portugueses dos galegos; serem as diferentes realizações dessas constritivas determinantes em todo o contexto linguístico peninsular.

Delimitadas as fronteiras, deparamos com um único espaço linguístico dividido por duas isoglossas que delimitam cada um dos grupos de dialectos do domínio galego-português. A primeira, que separa os dialectos galegos dos portugueses, é basicamente coincidente com a fronteira política que separa Portugal e Espanha. A segunda, que traça a fronteira entre os dialectos portugueses setentrionais e os centro-meridionais, parte de perto de Aveiro e atravessa o país, em diagonal, para acabar na fronteira política, mais ou menos a meio do distrito de Castelo Branco.

Concluída a divisão do domínio em três grupos de dialectos, foi necessária a análise e organização interna de cada um destes grandes grupos. A metodologia seguida foi a escolha de traços que fossem passíveis de

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opor vários dialectos dentro de um mesmo grupo, independentemente das diferenças menores entre cada um deles. Nesta subdivisão serão apenas considerados os grupos que serão alvo de trabalho posterior: o setentrional e o centro-meridional.

Subdivisão do grupo dos dialectos portugueses setentrionais

A distinção, no seio deste grupo, de dois núcleos distintos baseia-se no sistema das sibilantes de cada um destes.

a) Os dialectos de Alto-Minho e de Trás-os-Montes, transmontano-alto-minhoto, apresentam um sistema de quatro sibilantes, duas ápico-alveolares [s°] e [z° ] características dos dialectos setentrionais e duas alveolares (predorsodentais) [s] e [z]. Este sistema, com a manutenção das quatro sibilantes em distribuição complementar, isto é, em contextos sistemáticos, é um arcaísmo caracterizador da zona, já que corresponde ao sistema primitivo do qual deverão ter partido todos os outros grupos de dialectos, que posteriormente encontraram soluções diversas. Assim, enquanto às ápico-alveolares correspondem as formas gráficas s e ss, as predorsodentais têm origem nos grafemas ce, ci, ç e z.

b) Os dialectos do Baixo-Minho, do Douro e Beira Alta, baixo-minhoto-duriense-beirão, apresentam um sistema em que se verifica a redução do conjunto das quatro sibilantes caracterizado anteriormente. Neste subgrupo de dialectos, verifica-se a redução a um sistema de duas sibilantes ápico-alveolares.

c) A variedade da região do Baixo-Minho e Douro Litoral, que tem como principal ponto de referência a cidade do Porto, distingue-se no contexto do baixo-minhoto-duriense-beirão por alguns traços distintivos, nomeadamente pela ditongação das vogais tónicas fechadas: [e] > [je], [o] > [wo] ou [wŒ].

Subdivisão do grupo dos dialectos portugueses centro-meridionais

Neste grupo de dialectos, a diferenciação interna, relativamente ao conjunto dos traços descritos por Cintra, é menos acentuada. O autor subdivide, de igual modo, este grupo em outros dois. O traço fonético escolhido para operar a divisão dentro deste grupo de dialectos foi o da realização do ditongo [ej].

a) Os dialectos do centro-litoral (estremenho-beirões) em que se verifica a manutenção de [ej].

b) Os dialectos do centro-interior e sul (ribatejano-baixo-beirão-alentejano-algarvio) em que [ej] > [e].

c) A variedade da Beira-Baixa e Alto-Alentejo, que tem como principais centros as cidades de Castelo Branco e Portalegre, encontra-se integrada na zona dos dialectos do centro-interior e sul. As modificações, que esta variedade apresenta, no seu sistema vocálico, em especial tónico, levam a que esta seja considerada uma ilha relativamente à zona em que se enquadra. As fronteiras desta região estão traçadas por uma isófona elaborada com base na realização de [u], em [y] ou [°]. Para além deste traço que permite demarcar os limites da variedade, registam-se ainda outros, particularmente notórios no centro da região e progressivamente atenuados até aos seus limites: alterações de timbre no [a] acentuado, realizado como [E] por influência de contextos em que, na sílaba anterior, surja uma vogal ou semivogal palatais ou uma consoante pré-palatal; labialização do [e] > [Œ]; palatalização do [o] proveniente do ditongo ou: [O].

d) A variedade do Barlavento do Algarve encontra-se igualmente inserida na zona de monotongação do ditongo [ej] e apresenta algumas semelhanças com a zona descrita anteriormente, podendo as suas fronteiras ser marcadas com base na isófona da realização de [y]. Também nesta variedade as alterações não se cingem a uma vogal mas a todo o sistema vocálico, verificando-se neste caso particular um fenómeno de reacção em cadeia. Assim, [a] > [ ] ou [ ]; [ ] > [o]; [o] > [u]; [u] > [y]; [e] > [E]; [E] > [Œ].(ver Mapa 5)

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3. PROjECTOS DE GEOLINGUÍSTICA

3.1 Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG)

3.1.1 Historial

O ALEPG foi referido, pela primeira vez, no decorrer do III Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros que se realizou em Lisboa em 1957.72

Na apresentação, era salientada a sua importância “para o progresso da Filologia Portuguesa”, e apresentadas as suas linhas gerais:

• espaço geográfico – o domínio linguístico galego-português. Para além do território galego, eram igualmente incluídas outras áreas politicamente não portuguesas.73

• metodologia – a) a densidade da rede deveria situar-se entre os 300 – 350 pontos de inquérito;74 b) a existência de apenas um inquiridor que, mais tarde, deveria colaborar na elaboração dos mapas linguísticos;75 c) a transcrição fonética, sem ser demasiadamente “estreita”, deveria permitir uma minuciosa descrição, fonética e fonológica, dos diferentes falares em estudo;76 d) a estrutura e conteúdo do questionário linguístico teria, como modelo, o do AIS e o do ILB. Complementarmente, seriam consultados também os questionários linguísticos de outros atlas.77

O início dos trabalhos de campo estava previsto para 1959. No entanto, apenas foi possível arrancar com o projecto ALEPG em 1970, altura em que Luís F. Lindley Cintra e a sua equipa iniciaram a elaboração do respectivo questionário linguístico.78

3.1.2 Questionário

O questionário é essencialmente lexical de base onomasiológica. Os conceitos encontram-se reunidos em campos semânticos que seguem o agrupamento ideológico proposto por Hallig e von Wartburg para o francês.79

O léxico a recolher está agrupado em duas categorias e encontra-se graficamente diferenciado: o léxico considerado comum (graficamente a tipo fino) e o léxico considerado especializado, sobretudo relacionado com as actividades tradicionais (graficamente a tipo médio). Existem, igualmente, outros símbolos gráficos que antecedem o número da pergunta: (i) o círculo preto indica o interesse fonético ou fonológico da pergunta. quando a palavra do questionário se encontra também sublinhada, é indicador de que ela é um dos elementos de par mínimo fonológico; (ii) o quadrado preto refere o interesse morfofonológico da pergunta; (iii) o triângulo preto marca o interesse etnográfico de uma pergunta. Em alguma das perguntas existe o sinal = seguido de um número romano. Esse número remete para o número do desenho existente no

72 (Boléo/Carvalho/Cintra, 1960: 413-417). Já antes tinha havido duas tentativas para o lançamento de um projecto de atlas linguístico nacional. A primeira, em 1932, pela Direcção do Centro de Estudos Filológicos que anunciava, como um dos principais objectivos a concretizar, o Atlas Linguístico de Portugal e Ilhas (Centro de Estudos Filológicos, 1932). A segunda, em 1942, por Manuel de Paiva Boléo que lançou o projecto de um inquérito por correspondência, o Inquérito Linguístico Boléo (ILB) com a finalidade de ajudar “o trabalho preparatório para o futuro Atlas linguístico” (BOLÉO (1942), 1974: 8).73 As restantes áreas eram as zonas galegas de Oviedo, Leão e Zamora, a faixa do domínio asturo-leonês contígua a Portugal e uma série de pontos ao longo da fronteira leste que incluiriam Almedilha e povoações da Serra da Gata onde sobreviviam ainda falares galego-portugueses.74 A sua distribuição estaria de acordo com a “maior ou menor variedade linguística de cada uma das regiões” e com a respectiva densidade populacional.75 Os autores, apesar de defenderem a existência de apenas um inquiridor, não punham de lado a hipótese de poder haver outros. Neste caso, a cada um dos inquiridores caberia uma área rigorosamente delimitada.76 O alfabeto fonético teria como base o que era utilizado nas publicações do Centro de Estudos Filológicos, com as adaptações julgadas necessárias.77 Os autores referem os questionários do Atlas Lingüístico de la Península Ibérica, do Atlas Lingüístico y Etnográfico de Andalucía e do Atlas Linguistique de la France par régions e o recurso a diferentes vocabulários dialectais, publicados ou inéditos, e aos materiais lexicais já recolhidos para o ILB.78 Os três volumes do questionário foram publicados em 1974. Questionário Linguístico, Lisboa: Instituto de Alta Cultura / Instituto de Linguística.79 Hallig/Wartburg, 1952: 1-94.

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álbum utilizado pelos inquiridores. No Figura 1 apresenta-se uma folha exemplificativa do questionário.80

3.1.3 Rede de pontos

O número de localidades da rede do ALEPG é de 212. A sua repartição geográfica é a seguinte: território continental português, 176 pontos; território insular português, 24 pontos (7 no arquipélago da Madeira e 17 no arquipélago dos Açores) e zona fronteiriça, 12 pontos.81 (Ver Mapas 6 e 7).

A escolha das localidades e a respectiva distribuição obedeceram aos seguintes critérios: o maior ou menor grau de variação linguística de cada uma das regiões82 e o da sua densidade populacional.83

3.1.4 Informantes

Regra geral, os informantes pertencem a uma camada etária acima dos 50 anos; não tendo, no máximo, mais do que a escolaridade primária; com o mínimo de ausências da localidade e por curtos espaços de tempo; com pais e cônjuge oriundos da localidade ou, então, de localidades próximas. Devem igualmente possuir uma pronta capacidade de resposta e apresentarem boas características articulatórias.

Em cada inquérito, existe um informante principal, para os capítulos mais genéricos do questionário e vários informantes secundários, em número variável, para os capítulos mais especializados (moagem, tecelagem, carpintaria, olaria, cestaria...).

3.1.5 Inquiridores

Os investigadores formavam equipas de dois elementos que trabalhavam, salvo raras excepções, em estreita colaboração. Como os inquéritos eram gravados na íntegra, havia a necessidade de um deles estar igualmente atento a todos os aspectos técnicos das recolhas.

3.1.6 Realização dos inquéritos

Os inquéritos foram iniciados em finais de 1973 e tiveram a sua conclusão em 2004 ( ver Figura 2).84

Em 1990, foi decidido reduzir as perguntas do questionário para cerca de metade. Com esta decisão pretendeu-se apressar o ritmo das recolhas de modo a possibilitar a cobertura da totalidade do território o mais rapidamente possível. Assim, foram conservados os capítulos cujo léxico mostrava tendência a desaparecer, tais como as tecnologias tradicionais, a agricultura, a agro-pecuária…, num total de cerca de 1500 perguntas.

80 No início do primeiro volume existem fichas para serem preenchidas com dados referentes à localidade do inquérito e aos informantes.81 Devido à lentidão com que os inquéritos foram realizados, a problemas de ordem financeira e ao aparecimento do Atlas Lingüístico da Galiza (ALGA), a equipa decidiu não alargar a rede do ALEPG à totalidade do território galego. Está, no entanto, nos seus projectos um possível aproveitamento de algum material linguístico do ALGA.82 Também foi tido em conta factores de ordem geográfica – cobertura de certo modo uniforme do território estudado – e de ordem histórica – áreas cujo povoamento inicial poderá ter influenciado a actual realidade linguística, por exemplo a zona de Miranda, a zona que abrange o sul da Beira Baixa e norte do Alto Alentejo, a zona do Barlavento algarvio.83 O Algarve, em relação às restantes regiões, apresenta uma densidade de pontos um pouco mais elevada. Tal deve-se ao facto de, na época em que os inquéritos foram aí efectuados, estar ainda prevista, para o continente, uma rede de cerca de 300 localidades em vez das 176 actuais. 84 No ano de 1975 não se realizaram inquéritos para o ALEPG. Nesse ano foram realizados 53 inquéritos para o projecto Atlas Linguarum Europae. Entre 1985 –1988 as recolhas foram suspensas afim de os investigadores prepararem as suas teses de progressão na Carreira de Investigação.

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3.1.7 Estado actual dos trabalhos

Nestes últimos anos, o material gravado foi copiado para suporte digital, de modo a garantir uma melhor e mais satisfatória conservação.

Presentemente, a equipa procede à audição e respectiva transcrição dos materiais recolhidos em cada um dos inquéritos. Esses materiais são introduzidos numa base de dados de tipo relacional. Esta base de dados foi construida de modo a facilitar quer a consulta dos dados quer a respectiva cartografagem automática.

3.2 Outros projectos de atlas linguísticos

Por absoluta falta de espaço e como, de certo modo, os restantes projectos de atlas linguísticos e de geolinguística estão directa ou indirectamente relacionados com o ALEPG, farei apenas uma pequena referência a cada um deles. Complementarmente, indico o respectivo endereço electrónico na página web do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, onde poderá ser encontrada informação mais detalhada.

3.2.1 Atlas Linguístico do Litoral Português (ALLP)

Trata-se de um atlas temático que pretende estudar a nomenclatura da actividade piscatória ao longo da costa portuguesa (continente e ilhas).

Endereço electrónico: http://www.clul.ul.pt/pt/investigacao/207-project-linguistic-atlas-of-the-portuguese-coast-allp

3.2.2 Atlas Linguístico-Etnográfico dos Açores (ALEAç)

O ALEAç insere-se no projecto ALEPG.. A descontinuidade geográfica do arquipélago em relação ao Continente e a sua especificidade linguística levaram a perspectivar a publicação, de modo independente, dos materiais recolhidos para o ALEPG em 17 localidades das nove ilhas dos Açores.

Endereço electrónico: http://www.clul.ul.pt/pt/investigacao/206-project-linguistic-and-ethnographic-atlas-of-azores-aleac

3.2.3 Atlas Linguarum Europae (ALE)

O ALE é um atlas plurilingue do conjunto das diferentes famílias de línguas do continente europeu. É um atlas interpretativo com cartografagem simbólica, sendo cada um dos mapas acompanhado do respectivo comentário linguístico.

Endereço electrónico: http://www.clul.ul.pt/pt/investigacao/209-atlas-of-the-european-languages-ale

3.2.4 Atlas Linguistique Roman

O ALiR é um projecto emergente do ALE. É igualmente um atlas plurilingue, só que de uma mesma família de línguas: a família das línguas românicas. A sua forma de publicação segue de muito perto a do ALE.

Endereço electrónico: http://www.clul.ul.pt/pt/investigacao/208-linguistic-atlas-of-the-romance-domain-alir

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3.2.5 Tesouro Dialectal Português (TEDIPOR)

Subsidiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o TEDIPOR é um projecto, em parceria com a Universidadede Coimbra, que, numa primeira fase, pretende disponibilizar em rede os conteúdos dos glossários dialectais existentes nas antigas teses de licenciatura. Este corpus será posteriormente completado com outro tipo de obras de léxico dialectal. Numa fase mais adiantada este material fará parte de um corpus mais vasto que reunirá idêntico material dos domínios brasileiro e galego: Tesouro do léxico patrimonial galego e português.

Endereço electrónico: http://www.clul.ul.pt/pt/investigacao/330-tedipor-thesaurus-of-dialectal-portuguese

3.2.6 Corpus Dialectal para o Estudo da Sintaxe (CORDIAL-SIN) e Duplos e Expletivos na Sintaxe Dialectal do Português Europeu (DUPLEX)

O CORDIAL-SIN) visa estudar a variação sintáctica dialectal do Português Europeu a partir de um corpus anotado de 500.000 palavras, retirado de gravações do ALEPG. O DUPLEx é uma extensão e uma expansão do projecto anterior dando um enfoque especial às construções expletivas e de duplicação. Estes projectos obtiveram financiamento da FCT.

Endereço electrónico: http://www.clul.ul.pt/pt/investigacao/212-cordial-sin-syntax-oriented-corpus-of-portuguese-dialects e http://www.clul.ul.pt/pt/investigacao/213-duplex-doubles-and-expletives-in-european-portuguese-dialect-syntax

4. CONCLUSÃO

Ao longo desta notícia, pretendi fazer o historial da geolinguística em Portugal. Para um melhor enquadramento quer das propostas de divisão dialectal quer dos actuais projectos de geolinguística, optei por fazer uma apresentação, um pouco mais desenvolvida, sobre os gramáticos, ortografistas e lexicógrafos entre os séculos xVI e xVIII.

Quanto ao seu futuro, acho não estar muito desfasado da realidade ao afirmar que o seu desenvolvimento estará directamente relacionado com a elaboração do atlas linguístico nacional, bem como com o aparecimento de novos projectos, mais específicos e concretos, a partir dos materiais linguísticos dialectais recolhidos para o ALEPG., como já ocorreu com o CORDIAL-SIN e o DUPLEx.

Bibliografia:

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