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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

MacDonald, William, 1917-2007

Comentário bíblico popular — Novo testamento / William MacDonald; editado com introduções de ArtFarstad — São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

Título original: Believer’s Bible CommentaryISBN 978-85-7325-538-6

1. Bíblia N. T. — Comentários I. Farstad, Arthur L. II. Título.

08-03392 CDD —225.7

Índice para catálogo sistemático:1. Bíblia: Novo Testamento: Comentários 225.7Categoria: Referência

Publicado no Brasil com todos os direitos reservados por:Editora Mundo CristãoRua Antônio Carlos Tacconi, 79, São Paulo, SP, Brasil, CEP 04810-020Telefone: (11) 2127-4147Home page: www.mundocristao.com.br

1ª edição: setembro de 2008

Copyright © 1995, 1992, 1990, 1989 por William MacDonald

Editora responsável: Silvia JustinoSupervisão editorial: Ester TarroneAssistente editorial: Miriam de AssisTradução: Alfred Poland, Clifford Beggs, Elaine Sato, Elizabeth Davis, Margareth Crawford, Sharon Galbraith, Susana Klassen, Vanderlei Ortigoza, Wendy HairPreparação: Aldo Menezes, Andrea Filatro, Judson Canto, Marcos Granconato, Miguel Facchini, Valtair MirandaRevisão: Andrea Filatro, Gibson James, Gustavo Nagel, Josemar de Souza PintoCoordenação de produção: Lilian MeloColaboração: Pâmela MouraCapa: Souto Design

Este comentário baseia-se na tradução de João Ferreira de Almeida, edição Revista eAtualizada (RA), 2a edição, copyright © 1993 por Sociedade Bíblica do Brasil (SBB)

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/02/1998. É expressamenteproibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos,mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem prévia autorização, por escrito, da editora.

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Prefácio do autor viiIntrodução do editor ixAbreviações xiTransliteração do grego para caracteres latinos xii

Introdução ao Novo Testamento 1

Introdução aos evangelhos 5Mateus 9

ExcursosO reino dos céus 15O evangelho 20A relação do cristão com a lei 23Divórcio e novo casamento 26Jejum 29O sábado 49

Marcos 107

Lucas 151

João 233

Atos 329ExcursosA oração em Atos 334A igreja nos lares e as organizações

“paraeclesiásticas” 342O cristão e o governo 351O batismo do cristão 359O ministério “leigo” 360Estratégia missionária 375A autonomia da igreja local 379Orientação divina 381Milagres 382Púlpitos incomuns 386A mensagem de Atos 409

Romanos 413ExcursosO pagão não alcançado pelo evangelho 419O pecado 425A soberania divina e a responsabilidade

humana 449

1Coríntios 475

2Coríntios 535

Gálatas 583ExcursoO legalismo 605

Efésios 607ExcursoA eleição divina 611

Filipenses 655

Colossenses 679ExcursosA reconciliação 688O lar cristão 704

1Tessalonicenses 711ExcursosA vinda do Senhor 718Os sinais dos últimos tempos 727A santificação 732

2Tessalonicenses 735ExcursosO arrebatamento e a segunda vinda 737O arrebatamento da Igreja 745

Introdução às epístolas pastorais 7531Timóteo 757

2Timóteo 785

Tito 805ExcursosO presbítero 807O cristão e este mundo 814

Filemom 819

Hebreus 825ExcursosA apostasia 841A mensagem de Hebreus para hoje 874

Tiago 877ExcursosOs Dez Mandamentos 886A cura divina 899

1Pedro 905ExcursosO vestuário cristão 922O batismo 928

2Pedro 937

1João 955ExcursoO pecado para morte 970

2João 973

3João 977

Judas 981

Apocalipse 991

Bibliografia geral 1021Suplementos 1025

SUMÁRIO

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O objetivo do Comentário Bíblico Popular (CBP) é ofe-recer aos leitores cristãos em geral conhecimentobásico do teor da Bíblia Sagrada.

O CBP também visa a desenvolver amor e gostopela Bíblia de modo a levar o leitor a investigar emmaior profundidade seus tesouros inesgotáveis. Ape-sar de desejarmos que os estudiosos encontrem ali-mento para a alma nas páginas deste comentário,devemos lembrar que ele não é voltado para o pú-blico acadêmico.

Neste volume, são comentados todos os livros doNovo Testamento, versículo por versículo. Cada livroé acompanhado ainda de introduções, notas e refe-rências bibliográficas.

PREFÁCIO DO AUTOR

Procuramos lidar com os textos problemáticos e,sempre que possível, sugerir explicações alternati-vas. Várias passagens continuam sendo uma pedrano sapato dos comentaristas e devemos confessarque, nesses casos, ainda “vemos como em espelho,obscuramente”.

Por fim, devemos lembrar que a Palavra de Deusem si, iluminada pelo Espírito Santo de Deus, é maisimportante do que qualquer comentário. Sem ela,não há vida, crescimento, santidade ou serviço acei-tável. Devemos lê-la, estudá-la, memorizá-la, meditarnela e, acima de tudo, obedecer-lhe. Como alguémdisse: “A obediência é o órgão do conhecimento es-piritual”.

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IntroduçãoQuanto à grandeza de concepção e ao poder desubordinar uma porção de material a grandesidéias, nenhum escrito, em ambos os Testamen-tos, que trate de algum tema histórico poderáser comparado a Mateus.

Theodor Zahn

I. Posição singular no cânonO evangelho de Mateus é a ponte perfeita entre oAntigo e o Novo Testamento. Suas primeiras palavrasnos levam de volta a Abraão, o patriarca do povo deDeus do AT, e a Davi, o primeiro grande rei de Is-rael. Devido à sua ênfase, ao acentuado teor judai-co, às inúmeras citações das Escrituras hebraicas e porser o livro que encabeça o NT, Mateus está na posi-ção lógica para a apresentação da mensagem cristãao mundo.

Mateus tem mantido essa primeira posição na se-qüência dos quatro evangelhos por muito tempo. Issose deve ao seguinte fato: até os tempos modernos,aceitava-se universalmente que Mateus havia sido oprimeiro evangelho a ser escrito. O estilo organiza-do e claro de Mateus também fez dele o mais apro-priado para a leitura em público. Portanto, era oevangelho mais popular, às vezes até disputandoesse lugar com o evangelho de João.

Para sermos ortodoxos não é necessário acreditarque Mateus foi o primeiro evangelho a ser escrito.Porém, os cristãos mais antigos eram quase na tota-lidade de procedência judaica, e havia milhares emilhares deles. Ir ao encontro das necessidades des-ses primeiros cristãos se torna bem lógico.

II. Autoria† †

A evidência externa é tão antiga quanto universal deque foi Mateus, o cobrador de impostos, tambémchamado Levi, quem escreveu o primeiro evangelho.Considerando que ele não era um membro proemi-nente da turma apostólica, seria estranho atribuir oprimeiro evangelho a ele, se realmente ele não tives-se nada a ver com isso.

Além do documento antigo conhecido comoDidaquê ou O ensinamento dos doze apóstolos, JustinoMártir, Dionísio de Corinto, Teófilo de Antioquia eAtenágoras de Atenas citam o evangelho como au-têntico. Eusébio, o historiador da igreja, cita Papiasdizendo que “Mateus compôs a Logia no idioma he-braico, e todos as interpretavam à medida que eramcapazes”. Ireneu, Panteno e Orígenes basicamente

MATEUS†

concordam com tudo isso. Por “hebraico” julga-seque se trata do dialeto aramaico usado pelos he-breus no tempo de Jesus, e é nesse sentido que essapalavra é usada no NT. Mas o que é a Logia? Geral-mente essa palavra grega significa “oráculo”, comoo AT contém os oráculos de Deus. Não pode signifi-car isso na declaração de Papias. Há três pontos devista principais sobre sua declaração: 1) Refere-se aoevangelho de Mateus. Isto é, Mateus escreveu umaedição do seu evangelho em aramaico especificamen-te para ganhar os judeus para Cristo e para edificaros cristãos hebreus. A edição grega teria aparecidosomente algum tempo depois. 2) Refere-se unica-mente às declarações de Jesus, que posteriormenteforam incorporadas ao seu evangelho. 3) Refere-se atestimonia, isto é, citações das Escrituras do AT paramostrar que Jesus é o Messias. Os pontos de vista 1e 2 são mais prováveis que o 3.

O grego de Mateus não parece uma mera tradu-ção, mas tal tradição tão difundida (sem discor-dâncias no início) precisa ter algumas bases reais. Atradição nos diz que Mateus pregou quinze anos naPalestina, e só então é que saiu a fim de evangelizaros lugares longínquos. É bem possível que, por vol-ta de 45 d.C., ele tenha deixado para os judeus quetinham aceitado Jesus como Messias um primeiro es-boço do seu evangelho em aramaico (ou apenas osdiscursos de Cristo), e somente mais tarde uma edi-ção grega para uso universal. Algo similar foi feito porJosefo, contemporâneo de Mateus. Esse historiadorjudaico fez primeiramente um esboço de Guerras ju-daicas em aramaico, e depois, finalmente, em formade livro, em grego.

A evidência interna do primeiro evangelho se ajus-ta bem a um judeu piedoso que amou o AT e eratalentoso como escritor e editor. Como funcionáriocivil de Roma, Mateus teria de ser fluente em ambosos idiomas, o do seu povo (aramaico) e o das autori-dades governamentais (os romanos usavam o grego,e não o latim, no Oriente). Os detalhes numéricos, asparábolas relacionadas a dinheiro e os termos mone-tários se enquadram a um cobrador de impostos. Omesmo se aplica ao estilo preciso e organizado.Goodspeed, um especialista não conservador, aceitoua autoria desse evangelho por Mateus, parcialmen-te confirmando essa evidência interna.

† Veja “Suplementos” > “Harmonia dos evangelhos”.†† Veja “Suplementos” > “Autores do Novo Testamento”.

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Apesar de tanta evidência externa universal, e tan-tas evidências internas favoráveis, a maioria dos es-tudiosos não conservadores rejeita o ponto de vistatradicional de que Mateus, o cobrador de impostos,escreveu esse livro. Eles agem assim baseados emdois pontos principais. Em primeiro lugar, supondoque Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito (vis-to como o “evangelho genuíno” em muitos meioshoje), como é que um apóstolo e testemunha ocularpoderia usar tanto do material de Marcos (93% doevangelho de Marcos aparece também nos outrosevangelhos)? Primeiramente, para responder a essapergunta, não foi provado que Marcos foi o primeiroevangelho escrito. As testemunhas antigas alegamque Mateus foi escrito primeiro, e, desde que os pri-meiros cristãos eram na maioria judeus, isso faz muitosentido. Mas, mesmo se aceitarmos a tão propaladaprimazia de Marcos (e muitos conservadores assim ofazem), Mateus poderia ter reconhecido que o tra-balho de Marcos era, na maior parte, lembranças dodinâmico Simão Pedro, companheiro apostólico deMateus, como as tradições da igreja primitiva con-firmam (cf. a introdução a Marcos).

O segundo argumento em oposição à autoria deMateus (ou de qualquer testemunha ocular) é quefaltam detalhes nítidos. Marcos, que ninguém afirmater testemunhado o ministério de Cristo, tem deta-lhes nítidos que sugerem que ele esteve lá. Comouma testemunha ocular poderia escrever de modotão prosaico? Talvez a personalidade de um cobra-dor de impostos explique isso bem. A fim de darmais espaço para os discursos de Jesus, Levi poderiater condensado detalhes desnecessários. Isso seriaespecialmente o caso se Marcos tivesse escrito pri-meiro e Mateus visse de primeira mão que as remi-niscências de Pedro foram bem representadas.

III. DataSe for procedente a convicção difundida de que Ma-teus fez uma edição do seu evangelho (ou pelo me-nos das declarações de Jesus) primeiramente emaramaico, a data desse evangelho seria por volta de45 d.C., quinze anos após a ascensão de Jesus, oque concordaria com a antiga tradição. Ele poderiater editado o evangelho canônico mais completo,em grego, no ano 50 ou 55, ou até mesmo maistarde.

O ponto de vista de que o evangelho tinha de serescrito após a destruição de Jerusalém (70 d.C.) ba-seia-se fundamentalmente no fato de não se acredi-tar na habilidade de Cristo em prever aquele eventofuturo detalhadamente, e em outras teorias raciona-listas que ignoram ou negam a inspiração divina.

IV. Contexto e temaMateus era jovem quando Jesus o chamou. Judeu denascença, sua profissão era a de cobrador de impos-tos, e ele abandonou tudo para seguir a Cristo. Umade suas muitas recompensas foi que ele se tornou umdos doze apóstolos. Outra é que ele foi escolhidocomo o escritor do que conhecemos como o primei-ro evangelho. É aceito de forma geral que Mateustambém era conhecido como Levi (Mc 2:14; Lc 5:27).

No seu evangelho, Mateus dispõe-se a mostrar queJesus é o Messias de Israel que o povo tanto aguar-dava, o único que poderia reivindicar legalmente otrono de Davi.

O livro não professa ser uma narrativa completa davida de Cristo. Começa com sua genealogia e seusprimeiros anos, e então passa para o início do seuministério público quando ele tinha aproximada-mente trinta anos. Guiado pelo Espírito Santo, Ma-teus seleciona esses aspectos da vida e do ministériodo Salvador que comprovam sua condição de Ungi-do de Deus (é justamente isso o que significa Messiase Cristo). O livro vai até o ponto mais alto: o julga-mento, a morte, o sepultamento, a ressurreição e aascensão do Senhor Jesus. E nesse ápice, é óbvio, foiassentado o fundamento da salvação do homem. Épor essa razão que o livro é chamado de evangelho— não tanto porque ele mostra o caminho pelo qualpessoas pecaminosas podem receber a salvação,mas, pelo contrário, porque descreve a obra sacrifi-cial de Cristo pela qual a salvação se tornou possível.

Não é a intenção do CBP ser exaustivo nem técni-co; pelo contrário, é estimular o estudo e a meditaçãoindividual. Acima de tudo, o alvo é criar no coraçãodos leitores um desejo intenso pela volta do Rei.

Portanto, até eu, com um coração mais ardente,Portanto, até eu, com uma esperança mais

doce,Suspiro, ó Cristo, por tua vinda,Desfaleço pelo ardor do advento de teus pés.

St. Paul, F. W. H. Myers

EsboçoI. A genealogia e o nascimento do Messias-Rei (1).II. Os primeiros anos do Messias-Rei (2).III. Os preparativos para o início do ministério do

Messias e sua inauguração (3—4).IV. A constituição do reino (5—7).V. Os milagres do poder e da graça do Messias e

as várias reações a eles (8:1—9:34).VI. Os apóstolos do Messias-Rei são enviados a

Israel (9:35—10:42).VII. Aumentam a oposição e a rejeição (11—12).

Mateus (Introdução)

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VIII. O Rei anuncia uma nova forma de intervalo noreino devido à rejeição de Israel (13).

IX. A graça incansável do Messias depara comcrescente hostilidade (14:1—16:12).

X. O Rei prepara seus discípulos (16:13—17:27).XI. O Rei instrui seus discípulos (18—20).XII. A apresentação e rejeição do Rei (21—23).XIII. O discurso do Rei no monte das Oliveiras

(24—25).XIV. O sofrimento e a morte do Rei (26—27).XV. O triunfo do Rei (28).

COMENTÁRIO†

I. A genealogia e o nascimento doMessias-Rei (1)

A. A genealogia de Jesus Cristo (1:1-17)Uma leitura casual do NT poderá levar algumaspessoas a imaginar por que ele se inicia com algoaparentemente desinteressante como uma árvoregenealógica. Elas podem concluir que há pouco pro-veito a ser extraído dessa relação de nomes e, porisso, pulam essa parte para onde começa a ação.

Contudo, a genealogia é indispensável, pois prepa-ra o alicerce para o que se seguirá. A não ser que pos-sa ser mostrado que Jesus é um descendente legítimode Davi, pela linhagem real, seria impossível provarque ele é o Messias-Rei de Israel. Mateus começa orelato onde é necessário: com o documentário pro-vando que Jesus herdou o direito legítimo ao trono deDavi, através do padrasto José.

A genealogia de Mateus traça a descendência legí-tima de Jesus como Rei de Israel; a do evangelho deLucas traça a descendência linear de Jesus como filhode Davi. Mateus segue a linhagem nobre de Davi, porseu filho Salomão, o próximo rei; Lucas segue a li-nhagem sangüínea de Davi, através de outro filho,Natã. A genealogia de Mateus se encerra com José,de quem Jesus era filho adotivo; a de Lucas (cap. 3)provavelmente rastreia os ancestrais de Maria, dequem Jesus era o verdadeiro filho.

Um milênio antes, Deus tinha feito um acordoincondicional com Davi, prometendo-lhe um reinoque duraria para sempre e uma linhagem perpétua(Sl 89:4,36-37). Esse acordo agora é cumprido emCristo: ele é o herdeiro legítimo do trono de Davi pormeio de José e a semente nobre de Davi por inter-médio de Maria. Pelo fato de ele viver para sempre,seu reino não terá fim, e ele reinará pela eternidadecomo o maior filho de Davi. Jesus uniu em sua pes-soa as duas únicas bases para reivindicar o trono de

Israel: a legal e a linear (já que ele ainda vive, nãopode existir outro para reivindicá-lo).

1:1-15†† A fórmula Livro da genealogia de JesusCristo, filho de Davi, filho de Abraão é similar àexpressão em Gênesis 5:1: “Este é o livro da genealo-gia de Adão”. Gênesis nos apresenta o primeiroAdão; Mateus, o último. O primeiro Adão foi o cabe-ça da primeira criação, ou da criação física. Cristo, oúltimo Adão, é o cabeça da nova criação, ou da cria-ção espiritual.

O tema desse evangelho é Jesus Cristo. O nomeJesus o apresenta como o Salvador Jeová;1 o títuloCristo (“ungido”), como o tão esperado Messias deIsrael. O título filho de Davi está associado com asfunções de ambos, Messias e Rei no AT. O título filhode Abraão apresenta o Salvador como o cumprimentomáximo das promessas feitas ao progenitor do povohebreu.†††

A genealogia está dividida em três seções históri-cas: de Abraão a Jessé, de Davi a Josias e de Jeconiasa José. A primeira divisão nos leva até Davi; a segun-da cobre o período dos reis; a terceira preserva o re-gistro da descendência nobre durante o exílio (apartir de 586 a.C.).

Há muitos fatores interessantes nesse registro. Porexemplo, quatro mulheres são mencionadas: Tamar,Raabe, Rute e Bate-seba (que fora mulher deUrias). Já que as mulheres são raramente menciona-das nas árvores genealógicas orientais, a inclusãodessas mulheres é mais surpreendente, pois duas de-las foram meretrizes (Tamar e Raabe), uma comete-ra adultério (Bate-seba) e duas eram gentias (Raabee Rute). A inclusão de seus nomes na introdução aMateus é talvez uma sutil sugestão de que a vinda deCristo traria salvação aos perdidos, graça aos gen-tios, e que nele todas as barreiras de raça e sexoseriam banidas.

É interessante notar também a menção ao nomedo rei Jeconias. Em Jeremias 22:30, Deus pronunciouuma maldição sobre esse homem: Assim diz o SE-NHOR: Registrai este como se não tivera filhos; ho-mem que não prosperará nos seus dias, e nenhum dosseus filhos prosperará, para se assentar no trono deDavi e ainda reinar em Judá.

Mateus 1:1-15

† Veja “Suplementos” > “A vida de Cristo e seu ministério público”.†† Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em JesusCristo”.1 (1:1) Jeová (ou Javé) é a forma portuguesa do nome hebraico Yahweh,tradicionalmente traduzido por “SENHOR”. Compare a situação seme-lhante com Jesus, a forma portuguesa do hebraico Yeshua.††† Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em JesusCristo”.

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Se Jesus fosse o verdadeiro filho de José, estariasob essa maldição. Mas ele tinha de ser o filho legalde José a fim de herdar os direitos do trono de Davi.O problema foi resolvido pelo milagre do nascimentovirginal: Jesus era o herdeiro legal do trono atravésde José. Ele era o filho real de Davi através de Maria.A maldição de Jeconias não caiu sobre Maria ou sobreseus filhos, já que ela não era da descendência deJeconias.

1:16 Da qual. No original grego, qual é singular egênero feminino, indicando portanto que Jesus nas-ceu de Maria, mas não de José. Além desses fatosinteressantes da genealogia, é necessário fazer men-ção também às dificuldades apresentadas.

1:17 Mateus dá atenção especial ao fato de que hátrês divisões de catorze gerações cada. No entanto,sabemos do AT que há certos nomes faltando na lista.Por exemplo: entre Jorão e Uzias (v. 8), reinaramHazael, Joás e Amazias (cf. 2Rs 8—14 e 2Cr 21—25).

As genealogias de Mateus e Lucas parecem coinci-dir na menção de dois nomes: Sealtiel e Zorobabel(Mt 1:12-13 e Lc 3:27). É estranho que os ancestraisde José e Maria se unam nesses dois nomes e depoisde separem novamente. A dificuldade aumenta quan-do reparamos que ambos os evangelhos seguemEsdras 3:2, citando Zorobabel como filho de Sealtiel,enquanto em 1Crônicas 3:19, ele é citado como filhode Pedaías.

A terceira dificuldade é que Mateus relata 27 gera-ções de Davi a Jesus, enquanto Lucas relata 42. Ape-sar de os evangelistas estarem esboçando árvoresgenealógicas familiares diferentes, ainda parece estra-nho que haja tanta diferença no número de gerações.

Qual atitude o estudioso da Bíblia deve tomar dian-te dessas dificuldades e até aparentes discrepâncias?Em primeiro lugar, nossa premissa fundamental é ade que a Bíblia é a Palavra inspirada por Deus. Por-tanto, não pode conter erros. Em segundo lugar, éinfinita, pois reflete a infinidade da divindade. Pode-mos entender as verdades fundamentais da Palavra,mas nunca poderemos compreender totalmente tudoo que está contido nela.

Portanto, o contato com essas dificuldades nos levaa concluir que o problema está em nossa falta de conhe-cimento, e não na falibilidade da Bíblia. As dificulda-des bíblicas deveriam desafiar-nos a estudar e procuraras respostas. “A glória de Deus é encobrir as coisas,mas a glória dos reis é esquadrinhá-las” (Pv 25:2).

Pesquisas cuidadosas feitas por historiadores eescavações feitas por arqueólogos não foram suficien-temente capazes de mostrar que as afirmações daBíblia são falsas. O que aparentemente parecem difi-culdades e contradições têm explicações razoáveis, e

essas explicações estão repletas de proveito e signi-ficado espiritual.

B. Jesus Cristo nasce de Maria (1:18-25)1:18 Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi diferen-te de qualquer outro dos nascimentos mencionadosna genealogia. Lá encontramos a repetida fórmula:“A gerou B”. Mas agora temos o registro de um nas-cimento sem pai humano. Os fatos que rodeiam essaconcepção miraculosa estão declarados com simplici-dade e dignidade. Maria tinha sido prometida em ca-samento a José. Mas o casamento ainda não haviaacontecido. Nos tempos do NT, o noivado era umaforma de compromisso (mas bem mais sério que osnoivados de hoje) e somente podia ser desmanchadopelo divórcio. Apesar de o casal de noivos não morarjunto até que ocorresse a cerimônia matrimonial, ainfidelidade por parte de um dos desposados era tra-tada como adultério e passível de morte.

Durante o seu noivado, a virgem Maria achou-segrávida por um milagre do Espírito Santo. Um anjopreviamente anunciara esse acontecimento miste-rioso a ela: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o po-der do Altíssimo te envolverá com a sua sombra”(Lc 1:35). Uma nuvem de suspeita e escândalo paira-va sobre Maria. Em toda a história humana, nuncaocorrera antes um nascimento virginal. Quando aspessoas viam uma mulher solteira grávida, haviauma única explicação possível.

1:19 Até José não sabia ainda a verdadeira expli-cação sobre a condição de Maria. Ele poderia ter fica-do indignado com sua noiva em dois aspectos.Primeiro, sua aparente infidelidade a ele; em segun-do lugar, apesar de inocente, seria quase inevitávelque ele fosse acusado de cumplicidade. Seu amor porMaria e o desejo de justiça fizeram que ele decidisseromper o noivado mediante um divórcio discreto. Eledesejou evitar a desgraça pública, que normalmenteacompanhava essa ação.

1:20 Enquanto esse homem gentil e pensativo pre-parava sua estratégia para proteger Maria, eis que lheapareceu, em sonho, um anjo do Senhor. A saudação“José, filho de Davi” teve, sem dúvida, o propósitode despertar sua consciência para sua ascendênciareal e prepará-lo para o acontecimento fora do normaldo Messias-Rei de Israel. Ele não deveria ter nenhumreceio em se casar com Maria. Qualquer suspeita re-ferente à sua pureza era sem fundamento. Sua gravi-dez era um milagre do Espírito Santo.

1:21 O anjo então revelou o sexo do bebê, seunome e sua missão antes de ele nascer. Maria teria umfilho. Seu nome seria Jesus (que significa “Jeová ésalvação” ou “Jeová, o Salvador”). Em concordânciacom esse nome, ele salvará o seu povo dos peca-

Mateus 1:16-21

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dos deles. Essa criança era o próprio Jeová, visitan-do a terra a fim de salvar o povo da penalidade dopecado, do poder do pecado e, por fim, da própriapresença do pecado.

1:22 À medida que Mateus narra esses eventos,ele percebeu que uma nova época começara na histó-ria de Deus quanto ao trato com a raça humana. Aspalavras de uma profecia messiânica, adormecidashavia muito tempo, agora saltavam para a vida. Aprofecia oculta de Isaías agora era cumprida no filhode Maria: Ora, tudo isto aconteceu para que se cum-prisse o que fora dito pelo Senhor por intermédiodo profeta. Mateus confirma a inspiração divina daspalavras de Isaías — o Senhor havia falado pelo pro-feta pelo menos setecentos anos antes de Cristo.

1:23 A profecia de Isaías 7:14 incluía o anúncioprévio de um nascimento singular (“Eis que uma vir-gem conceberá”); o sexo do bebê (“e dará à luz umfilho”); o nome do bebê: (“e ele será chamado pelonome de Emanuel”). Mateus acrescenta uma explica-ção de que Emanuel significa Deus conosco. Nãotemos registro de que Cristo alguma vez fora chama-do de “Emanuel” enquanto esteve na terra; ele sem-pre fora chamado de “Jesus”. Porém, o significado donome Jesus (cf. a explicação do v. 21) implica a presen-ça de Deus conosco. Emanuel poderia também seruma nomeação para Cristo, que será usado primor-dialmente na sua segunda vinda.

1:24 Como resultado da intervenção do anjo, Joséabandonou o plano de divorciar-se de Maria. Ele con-tinuou a reconhecer o noivado até o nascimento deJesus, após o qual se casaram.

1:25 O ensino de que Maria permaneceu virgempelo resto da vida é descartado pela consumação doseu casamento mencionado nesse versículo. Outrasreferências indicam que Maria teve outros filhos comJosé (cf. Mt 12:46; 13:55-56; Mc 6:3; Jo 7:3,5; At 1:14;1Co 9:5; e Gl 1:19).

Ao receber Maria como esposa, José também rece-beu o bebê como filho adotivo. É devido a essa ado-ção que Jesus se tornou o herdeiro legal ao trono deDavi. Em obediência à visita angelical, ele pôs-lhe onome de Jesus.

Foi assim que o Messias-Rei nasceu. O Eterno en-trou no tempo. O Onipotente tornou-se um bebezinho.O Senhor da Glória encobriu aquela glória num corpohumano, “porquanto, nele, habita, corporalmente,toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9).

II. Os primeiros anos do Messias-Rei (2)

A. Os magos vêm adorar o Rei (2:1-12)2:1-2 É fácil ser confundido com os eventos cronoló-gicos que acompanham o nascimento de Cristo. En-

quanto o versículo 1 pode indicar que Herodes tentoumatar Jesus durante a estada de José e Maria naestrebaria em Belém,† há duas evidências que, combi-nadas, apontam um período de um ou dois anos apósseu nascimento. Mateus diz no versículo 11 que osmagos viram Jesus numa casa. A ordem de Herodespara matar todos os meninos de dois anos para baixo(v. 16) também é uma indicação da passagem de umperíodo de tempo não especificado desde o régio nas-cimento.

Herodes, o Grande, era descendente de Esaú e,portanto, um inimigo tradicional dos judeus. Ele foraconvertido ao judaísmo, mas talvez essa conversãose devesse a interesses políticos. Foi caminhandopara o término do seu reinado que vieram uns magosdo Oriente à procura do Rei dos judeus. Esses ho-mens bem poderiam ser sacerdotes pagãos, cujos ri-tuais eram centrados nos elementos da natureza. Porcausa do seu conhecimento e poder de predição, eleseram freqüentemente escolhidos como conselheirosdos reis. Nós não sabemos onde eles moravam noOriente, nem quantos eram, nem quanto tempo durousua viagem.

Foi a estrela no Oriente que os colocou a par donascimento do Rei, e vieram adorá-lo. Possivelmenteestavam familiarizados com as profecias do AT con-cernentes à chegada do Messias. Talvez conheces-sem a profecia de Balaão de que uma estrelaprocederia de Jacó (Nm 24:17) e associaram isto coma profecia das setenta semanas que havia predito otempo da primeira vinda de Cristo (Dn 9:24-25). Masé bem mais provável que a notícia fora comunicada aeles de forma sobrenatural.

Várias explicações científicas foram oferecidaspara explicar a estrela. Por exemplo, alguns dizem quefoi uma junção de planetas. Mas o curso dessa estrelaera totalmente irregular; a estrela ia adiante deles,guiando-os de Jerusalém até a casa onde Jesus esta-va morando (v. 9). Então a estrela parou. Sem dúvida,era tão fora do comum, que só podia ser consideradoum milagre.

2:3 Tendo ouvido que o bebê recém-nascido erapara ser o rei dos judeus, Herodes alarmou-se. Qual-quer recém-nascido em tais condições era uma amea-ça ao seu tumultuado governo. Toda a Jerusalém sealarmou juntamente com ele. A cidade que deveriater recebido as notícias com alegria estava transtor-nada por algo que poderia perturbar o estado em quese encontrava ou que pudesse atrair o descontenta-mento dos odiados governadores romanos.

† Veja “Suplementos” > “A vida de Cristo e seu ministério público” >“Belém”.

Mateus 1:22—2:3

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2:4-6 Herodes convocou os líderes religiosos ju-deus para descobrir onde o Cristo deveria nascer. Osprincipais sacerdotes eram os sacerdotes e seus fi-lhos (e talvez outros membros da família). Os escri-bas do povo eram leigos conhecedores da lei deMoisés. Eles preservavam e ensinavam a lei e ser-viam como juízes no Sinédrio. Esses sacerdotes e es-cribas prontamente citaram Miquéias 5:2 queidentificava Belém da Judéia como a localidade ide-al do nascimento do Rei. O conteúdo da profecia emMiquéias chama a cidade de “Belém-Efrata”. Já quehavia mais de uma cidade chamada Belém na Pales-tina, isso a identifica como a cidade no distrito deEfrata, dentro dos limites da tribo de Judá.

2:7-8 Herodes chamou secretamente os magospara determinar com precisão quanto ao tempo emque a estrela aparecera. Esse ato secreto traiu seumotivo sádico, pois necessitaria dessa informaçãocaso fosse incapaz de localizar o bebê correto. Paraencobrir sua verdadeira intenção, ele enviou os ma-gos à procura do bebê e exigiu que mandassem notí-cias ao encontrá-lo.

2:9 Assim que os magos partiram, a estrela queviram no Oriente reapareceu. Isso indica que a estre-la não os havia guiado por todo o caminho. Mas ago-ra ela os guiou até onde estava o menino.

2:10 Menção especial é feita ao fato de que, ven-do os magos a estrela, alegraram-se com grande eintenso júbilo. Esses gentios diligentemente busca-vam a Cristo; Herodes planejava matá-lo; os sacerdo-tes e escribas (ainda) estavam indiferentes; o povo deJerusalém estava perturbado. Essas atitudes eramaugúrios da forma pela qual o Messias seria recebido.

2:11 Entrando na casa, os magos viram o meninocom Maria, sua mãe. Prostrando-se o adoraram,oferecendo caros presentes de ouro, incenso e mir-ra. Observe que eles viram Jesus com sua mãe. Nor-malmente a menção seria feita primeiramente à mãee, então, ao bebê, mas esse bebê é singular e precisareceber preeminência (cf. tb. v. 13-14, 20-21). Osmagos adoraram a Jesus, não Maria, nem José. (Noteque o nome de José nem é mencionado na narrativa;logo ele desaparecerá completamente dos registrosdo evangelho.) É Jesus que merece o louvor e a ado-ração, não Maria, nem José.

Os tesouros que trouxeram são bem significativos.Ouro é o símbolo da divindade e da glória, e retrata aperfeição esplendorosa da pessoa divina de Jesus.Incenso é um ungüento ou perfume, e sugere a fra-grância da vida perfeita sem pecado. Mirra é uma

erva amargosa, que expressa os sofrimentos que elesuportaria, carregando os pecados do mundo. O atode trazer presentes dos gentios é uma recordação dosdizeres de Isaías 60:6. O profeta predisse que os gen-tios viriam ao Messias com presentes, mas mencionouapenas o ouro e o incenso: “... trarão ouro e incenso epublicarão os louvores do SENHOR”. Por que a mirrafoi excluída? Porque Isaías está relatando a segun-da vinda de Cristo — sua vinda em poder e grandeglória. Não haverá mirra nesse evento, pois nessaocasião ele não sofrerá. Mas em Mateus, a mirra é in-cluída, pois está em pauta a primeira vinda de Jesus.Em Mateus, temos os sofrimentos de Cristo; nessetrecho de Isaías, as glórias que seguirão.

2:12 Os magos foram por divina advertência pre-venidos em sonho para não voltarem à presença deHerodes. Obedientemente, retornaram aos seus larespor outro caminho. Ninguém que encontra Cristo comum coração sincero volta pelo mesmo caminho. Umencontro verdadeiro com ele transforma toda a vida.

B. José, Maria e Jesus fogem para o Egito(2:13-15)

2:13-14† Desde sua infância, a ameaça de morte pai-rava sobre Jesus. Aparentemente, ele nasceu paramorrer, mas somente na hora designada. Todo aqueleque anda na vontade de Deus é imortal até que seutrabalho esteja completo. Um anjo do Senhor avisoua José, em sonho, para fugir para o Egito com suafamília. Herodes estava preparado para embarcar nasua missão de “procura e destruição”. A família se tor-nou refugiada da ira de Herodes. Não sabemos quan-to tempo ficaram lá, mas com a morte de Herodes ocaminho estava livre para o reaparecimento de Jesus.

2:15 Assim, outra profecia do AT se revestiu denovo significado. Deus disse por intermédio do pro-feta Oséias: Do Egito chamei o meu Filho (Os 11:1).No sentido original, essa passagem referia-se à liber-tação de Israel do Egito no tempo do êxodo. Mas adeclaração pode ter um sentido duplo: a história doMessias faria um paralelo bem próximo à história deIsrael. A profecia foi cumprida no retorno de Cristodo Egito a Israel.

Quando o Senhor voltar a reinar em retidão, o Egi-to será um dos países que compartilharão das bênçãosdo milênio (Is 19:21-25; Sf 3:9-10; Sl 68:31). Por queaquela nação, tradicional inimiga de Israel, seria tãofavorecida? Poderia ser uma prova da gratidão divinapelo refúgio gratuito ao Senhor Jesus?

C. Herodes massacra os bebês de Belém(2:16-18)

2:16 Ao perceber que os magos não retornaram, He-rodes reconheceu que tinha sido iludido no seu plano

Mateus 2:4-16

† Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em JesusCristo”.

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de localizar o pequeno Rei. Em fúria insensata, man-dou matar todos os meninos de Belém e de todosos seus arredores, de dois anos para baixo. Estimati-vas variam quanto ao número de mortos; um escritorsugere mais ou menos vinte e seis. Não é provávelque centenas de crianças tenham sido envolvidas.

2:17-18 O clamor que seguiu a matança dos meni-nos era um cumprimento das palavras do profeta Je-remias : “Assim diz o SENHOR: Ouviu-se um clamorem Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel cho-rando por seus filhos e inconsolável por causa deles,porque já não existem” (Jr 31:15).

Na profecia, Raquel representa a nação de Israel.A tristeza da nação é atribuída à Raquel, que foi en-terrada em Ramá (perto de Belém, onde o massacreaconteceu). À medida que os pais enlutados passa-vam pelo túmulo dela, ela é descrita como clamandocom eles. No seu empenho de eliminar o pequeno ri-val, Herodes ganhou nada além de uma mençãodesonrosa nas crônicas históricas da infâmia.

D. José, Maria e Jesus se estabelecem emNazaré (2:19-23)

Após a morte de Herodes, um anjo do Senhor garan-tiu a José que agora já era seguro retornar. Quando elechegou à terra de Israel, descobriu, porém, que Ar-quelau, o filho de Herodes, reinava em lugar de seu paicomo rei da Judéia. José temeu aventurar-se nessaregião. Assim, após seus temores serem confirmadospor divina advertência mediante um sonho, ele via-jou rumo ao norte para as regiões da Galiléia e seestabeleceu em Nazaré.

Pela quarta vez nesse capítulo, Mateus alerta deque essa profecia fora cumprida. Ele não menciona onome de nenhum dos profetas, mas diz que os profe-tas haviam predito que Jesus seria chamadoNazareno. Nenhum versículo do AT diz isso direta-mente. Muitos estudiosos sugerem que Mateus estáfazendo referência a Isaías 11:1: “Do tronco de Jessésairá um rebento, e das suas raízes, um renovo”. Apalavra hebraica traduzida “tronco” é netzer, mas acomparação parece remota. Uma explicação mais pro-vável é que “nazareno” é usado para descrever qual-quer pessoa que morou em Nazaré, cidade vista comdesprezo pelo resto do povo. Natanael expressa issocom sua pergunta proverbial: “De Nazaré pode sairalguma coisa boa?” (Jo 1:46). O desprezo amontoadosobre essa cidade “sem importância” recaiu tambémsobre seus habitantes. Assim, quando o versículo 23diz que Ele será chamado Nazareno, significa queseria tratado com desprezo. Embora não achemosnenhuma profecia de que Jesus seria chamadonazareno, podemos achar uma que diz que ele seria“desprezado e o mais rejeitado entre os homens”

(Is 53:3). Outro diz que ele seria um verme e não umhomem, e seria opróbrio dos homens e desprezado dopovo (Sl 22:6). Portanto, enquanto os profetas nãousaram as palavras exatas, esse era incontestavel-mente o espírito de várias profecias.

É surpreendente que quando o Deus poderoso veioà terra, a ele foi dado um apelido de vitupério. Os queseguem a Cristo são privilegiados por compartilhar oseu vitupério (Hb 13:13).

III. Os preparativos para o início doministério do Messias e suainauguração (3—4)

A. João Batista prepara o caminho (3:1-12)Entre os capítulos 2—3, temos um intervalo de 28 ou29 anos que Mateus não narra. Nesse tempo, Jesusestava em Nazaré, preparando-se para o serviço queestava por vir. Foram anos em que ele não executounenhum milagre; no entanto, ele foi achado em per-feito deleite aos olhos de Deus (Mt 3:17). Com essecapítulo, chegamos ao começo do seu ministério pú-blico.

3:1-2 João Batista era seis meses mais velho queseu primo Jesus (cf. Lc 1:26,36). Ele entrou no palcoda história para servir como precursor do Rei de Is-rael. Sua região pouco promissora era o deserto daJudéia, uma área árida que se estende de Jerusalémao Jordão. A mensagem de João era: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus!”. O reiapareceria logo, mas ele não podia e nem reinariasobre um povo que se apegasse a pecados. Eles têmque mudar de direção e precisam confessar e aban-donar seus pecados. Deus estava chamando-os doreino das trevas para o reino dos céus.

O reino dos céus

No versículo 2 aparece o primeiro registro da expres-são “reino dos céus”, usada 32 vezes nesse evange-lho. Já que ninguém pode entender Mateus semcompreender esse conceito, é oportuno definir e des-crever aqui esse termo.

O reino dos céus é a esfera na qual o controle deDeus é reconhecido. A palavra “céu” é usada paradenotar Deus. Esse aspecto é mostrado em Daniel4:25, em que Daniel diz que “o Altíssimo” dominano reino dos homens. No próximo versículo ele dizque o “céu” domina. Onde quer que haja pessoasque se submetem ao domínio de Deus, existe o rei-no dos céus.

Há dois aspectos do reino dos céus. No aspectomais amplo, estão incluídas as pessoas que professamreconhecer Deus como Soberano. No mais restrito,

Mateus 2:17—3:2

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estão incluídos apenas os que foram genuinamenteconvertidos. Podemos descrever isso através de doiscírculos:

O círculo maior é a esfera dos que professam; in-clui todos os que estão genuinamente sujeitos ao Reie também os que apenas professam submissão a ele.Isso é notado nas parábolas do semeador (Mt 13:3-9),da semente de mostarda (Mt 13:31-32) e do fermen-to (Mt 13:33). O círculo menor inclui apenas os quenasceram de novo pela fé no Senhor Jesus Cristo. Noreino dos céus, no seu aspecto interno, só entra osconvertidos (Mt 18:3).

Juntando todas as referências ao reino na Bíblia,podemos traçar seu desenvolvimento histórico emcinco fases distintas:

Em primeiro lugar, o reino foi profetizado no AT.Daniel predisse que Deus suscitaria um reino quenunca seria destruído e que nem passaria para ou-tro povo (Dn 2:44). Ele também previu a vinda deCristo para exercer um domínio universal e eterno(Dn 7:13-14; cf. tb. Jr 23:5-6).

Em segundo lugar, o reino era descrito por JoãoBatista, Jesus e os doze apóstolos como estando pró-ximo (Mt 3:2; 4:17; 10:7). Em Mateus 12:28, Jesus dis-se: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espíritode Deus, certamente é chegado o reino de Deus so-bre vós”. Em Lucas 17:21, ele disse: “... o reino deDeus está dentro de vós” ou no vosso meio. O reinoestava presente na pessoa do Rei. Como mostraremosposteriormente, as expressões “reino de Deus” e“reino dos céus” são intercambiáveis.

Em terceiro lugar, o reino é descrito numa formainterina. Após ser rejeitado pela nação de Israel, o Reiretornou ao céu. Mesmo com a ausência do Rei, o rei-no existe hoje no coração de todos os que reconhe-cem o reinado de Jesus e seus princípios morais eéticos, incluindo o Sermão do Monte, que são apli-cáveis a nós hoje. Essa fase interina do reino está des-crita nas parábolas de Mateus 13.

A quarta fase do reino é o que poderíamos chamarde manifestação. Esse é o reinado de mil anos na terraque foi descrito na transfiguração de Cristo quandoele foi visto na glória do seu reino que estava por vir(Mt 17:1-8). Jesus se referiu a essa fase em Mateus8:11 quando disse: “... muitos virão do Oriente e do

Ocidente e tomarão lugar à mesa com Abraão, Isa-que e Jacó no reino dos céus”.

A forma final será o reino eterno. É descrito em2Pedro 1:11 como o “reino eterno de nosso Senhore Salvador Jesus Cristo”.

A expressão “reino dos céus” somente encontramosno evangelho de Mateus, mas a expressão “reino deDeus” é encontrada em todos os quatro evangelhos.Para todo propósito prático não há nenhuma diferen-ça — as mesmas coisas são ditas a respeito de am-bos. Por exemplo, em Mateus 19:23, Jesus disse queseria difícil a um homem rico entrar no reino doscéus. Tanto Marcos (10:23) como Lucas (18:24) regis-tram o que Jesus disse a respeito do reino de Deus(cf. tb. Mt 19:24, que registra um aforismo semelhan-te usando “o reino de Deus”).

Mencionamos que o reino dos céus tem um as-pecto externo com uma realidade interna. O fatode o mesmo se aplicar ao reino de Deus é mais umaprova de que as duas expressões indicam a mes-ma coisa. O reino de Deus também inclui o falso e overdadeiro. Isso é visto na parábola do semeador(Lc 8:4-10), na semente de mostarda (Lc 3:18-19) edo fermento (Lc 13:20-21). Para provar que é umarealidade interna, no reino de Deus somente podementrar os que já nasceram de novo (Jo 3:3,5).

Um comentário final: o reino não é semelhante àIgreja. O reino começou quando Cristo embarcou noseu ministério público; a Igreja começou no dia dePentecostes (At 2). O reino continuará na terra atéesta ser destruída; a Igreja continua na terra até oarrebatamento (a retirada da Igreja da terra quan-do Cristo descer dos céus para levar os crentes paracasa com ele — 1Ts 4:13-18). A Igreja retornará comCristo na segunda vinda para reinar com ele comosua noiva. Na atualidade, as pessoas que estão noreino, numa realidade verdadeira e interna, tambémestão na Igreja.

3:3 A fim de voltarmos à exposição de Mateus 3,notem que o ministério preparatório de João tinhasido profetizado por Isaías, mais de setecentos anosantes do seu tempo: “Voz do que clama no deserto:Preparai o caminho do SENHOR; endireitai no ermovereda a nosso Deus” (40:3). João era a voz. A naçãode Israel, espiritualmente falando, era o deserto —seco e árido. João pregou ao povo para preparar ocaminho do Senhor pelo arrependimento e abandonodos pecados e para endireitar as suas veredas remo-vendo da vida das pessoas qualquer coisa que fosseempecilho para o domínio completo de Deus.

3:4 As vestes do batizador eram feitas de pêlos decamelo — não o pêlo luxuoso e macio dos camelos

Mateus 3:3-4

ASPECTO

ASPECTOINTERNO

EXTERNO