Cateto Fórum Meio Ambiente 2006

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    IV FRUM NACIONAL DO MEIO AMBIENTEXIII SEMANA DE EDUCA O AMBIENTALIX ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAO

    IV SIMPSIO DE POLTICAS SOCIAISI SEMINRIO DE GESTO AMBIENTAL E

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL2006

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    ESTUDO DA ECOLOGIA E DAS INTERAES SOCIAIS ENTRE OS

    CATETOS (Tayassu pecari) E QUEIXADA (Tayassu tajacu) NO ESPAO SEMI

    FECHADO DO HORTO NA SECRETRIA MUNICIPAL DE GUARAPUAVA

    SOUZA, Daniele Cristina de1* ;NASCIMENTO JNIOR, Antnio Fernandes1;

    BIANCHI, Vanria Teixeira Lysyk1

    1- GEA Grupo de Estudos em Ecologia, Etologia e Educao Ambiental / Cursode Cincias Biolgicas Universidade Paranaense campus Toledo-PR; Av.

    Parigot de Souza 3636. * [email protected]

    RESUMO

    Ainda so poucos os estudos sobre a ecologia comportamental dos mamferos sociais noBrasil, assim como das espcies Tayassu tajacu e Tayassu pecari, principalmentequanto descrio de conceitos identificados nos seus comportamentos ecolgicos. Porisso, os objetivos do presente trabalho so compreender a forma da distribuioterritorial do cateto e queixada atravs do levantamento de habitat e estudar ecompreender suas interaes sociais em situaes de semi-confinamento, visandofornecer informaes quem possa interessar no manejo deste animal. A rea estudadafoi o espao interno do Parque da Secretaria Municipal de Meio Ambiente deGuarapuava - Paran, com cerca de 100 hectares onde os animais so separados porespcies e agrupados em populaes de aproximadamente 20 indivduos em cativeiro, ametodologia utilizada descrita por Tinberger (1980).Realizaram-se visitas mensais de

    junho a outubro de 2005. Verificaram-se os aspectos gerais dos dois piquetes, quanto avegetao, solo, umidade. A alimentao fornecida aos animais. A distribuioterritorial e de defesa. Pode-se inferir que os queixadas interferem na cobertura vegetalda regio em que habita em virtude dos processos de deslocamento e forrageamento,causando grande impacto sobre a mesma. Embora semelhantes em alguns aspectos eapesar de conviverem em um mesmo hbitat essas espcies so divergentes em nveiscomportamentais o que reflete na ocupao de nichos diferenciados. A nvel decativeiro o manejo de catetos e queixadas deve ser diferenciado, sendo sugerido o usode piquetes maiores para os queixadas em relao aos catetos, havendo necessidade de

    transmigrao peridica entre piquete para os queixadas.Palavras-chave: Ecologia comportamental; Tayassu tajacu; Tayassu pecari

    rgo financiador: Universidade Paranaense

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    1 INTRODUO

    Os estudos de ecologia social em mamferos sul-americanos se encontram hoje em

    fase de expanso. Vrios autores se concentram no estudo de mamferos sociais, tais

    como Roelo Jnior , (1986 apud NASCIMENTO JNIOR,1993) em cetceos,Rodrigues (1996) em veado-campeiro Mattge et al.(2002) em quati, Byk et al. (2002)

    em rato-do-banhado e Nascimento Jnior e Colognese (2001) em capivaras e outros.

    O estudo dos pecaris espcies extremamente sociais tambm vem sendo feito. Para

    Wilson (1975) os pecaris raramente so encontrados como indivduos isolados.

    Assinalou-se s vezes a existncia de manadas que reuniam mais de uma centena de

    exemplares. Para Carvalho (1979) os pecaris desempenham na selva e estepes da

    Amrica o mesmo papel ecolgico que os javalis no Paleorticos, embora nunca atingir

    o tamanho destes. A maior das duas espcies existentes, o queixada, mal ultrapassamum metro e vinte do focinho a calda e o cateto no chega a atingir um meto de

    comprimento com o peso mximo de 23 quilos.

    Para Santos, (1984) os catetos e queixadas, Tayassuideos encontrados no Brasil,

    possuem semelhanas morfolgicas, entretanto, cada um apresenta aspectos

    comportamentais distintos. Neste campo de pesquisa, observaes com o objetivo de

    identificar as diferenas comportamentais entre catetos e queixadas em regime semi-

    fechado, voltados a verificar principalmente o forrageamento, a defesa e o

    territorialismo, foram realizadas por Byk et al. (2002). Entretanto, ainda so poucos os

    dados concretos, pois a literatura rica em informaes sobre a ecologia

    comportamental dos animais, porm so poucos os relatos que visam demonstrar

    conceitos identificados nos comportamentos ecolgicos de catetos e queixadas. Alguns

    trabalhos realizados no Paran mostraram ser possvel identificar diversos

    comportamentos em catetos e queixadas, sendo at mesmo possvel observar diferenas

    entre estes dois grupos tal como o trabalho de Teixeira et al. (2002).

    Para tanto o objetivo do presente trabalho compreender a forma da distribuio

    territorial do cateto e queixada atravs do levantamento de habitat, estudar e

    compreender suas interaes sociais em situaes de semi-confinamento, visando

    fornecer informaes quem possa interessar no manejo deste animal;

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    2 METODOLOGIA

    A rea de estudo se concentrou no espao interno do Parque da Secretaria

    Municipal de Meio Ambiente de Guarapuava - Paran, cujas medidas perfazem cerca de

    100 hectares onde os animais so separados por espcies e agrupados em populaes deaproximadamente 20 indivduos em cativeiro. Utilizou-se de observao direta e

    indireta, a descrio dos eventos atravs da utilizao de gravador e documentao

    fotogrfica conforme procedimentos clssicos descritos por TINBERGER (1980). As

    visitas ao local de estudo realizou-se mensalmente de Junho a outubro de 2005.

    Para o desenvolvimento claro do estudo do comportamento destes animais

    utilizou-se de algumas tcnicas seguindo as etapas: a identificao (comportamento

    pode ser identificado com relao a quatro parmetros: a frequncia de ocorrncia,

    durao total, extenso mdia do turno e a razo), a descrio (o comportamento serdescrito por meio de registros simples de todos os padres apresentados pelo animal nas

    condies e pelo tempo em que este foi observado), a coleta de dados (para obteno de

    dados, o meio mais utilizado ser um gravador e uma lista de eventos comportamentais)

    e a organizao dos dados obtidos (a organizao ser feita por meio da classificao

    em termos de causa imediata,classificao funcional e classificao histrica).

    3 RESULTADOS

    Os catetos e queixadas encontram-se distribuidos em piquetes vizinhos, entretanto

    cada qual formam microecossistemas distintos. O piquete do cateto constitui-se apenas

    de vegetao (distribuida por todo a rea) formada por gramneas e algumas outras

    espcies de plantas daninhas, havendo um local onde se fornece a alimentao e a gua,

    caracterizando-se apenas por terra firme.

    O piquete do queixada consideravelmente bem maior que do cateto e neste hformao de subsistemas havendo na parte mais alta do piquete uma regio com

    pequenos arbustos e pouca vegetao rasteira, trs pequenos abrigos fornecendo

    sombra artificial formados por estrutura de madeira e telha cobrindo uma rea de 1m x

    2m cada um. J na parte mais declinada h uma regio que possui pequenos corredores

    e poas de gua que os queixadas utilizam no s como fonte de gua mais tambm

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    realizam constantemente a termorregulao na lama formada em uma regio similar a

    um brejo. (figura 1 e 2)

    fig.1 - Poas que servem como fonte de gua aos queixadas

    fig. 2 Comportamento estereotipado de termorregulao

    Quanto a alimentao, a dieta bsica dos grupos consiste em pastagem de capim

    elefante, milho, rao a base de clcio fornecidas de dois em dois dias pelo tratador

    responsvel, alm disso observou-se que os catetos predavam alguns rpteis, alm

    da rao.

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    3.1 GRUPO DE CATETOS

    3.1.2 DISTRIBUIO TERRITORIAL E DEFESA

    Os catetos no exploravam todo seu territtirio. Foram observados locais demaior utilizao territorial onde eles se deslocavam em fila indiana mantendo um

    certo padro durante o deslocamento. A vegetao permanece intacta em algumas

    partes do piquete originando trilhas. (figura 3)

    As trilhas so de dificil identificao uma vez que seu percurso s pode ser

    verificado quando olhadas por cima, em uma viso horizontal inicialmente a

    vegetao parece ser continua So contrudas em formato bifurcado e cuja direo

    parece estar associada a pontos estratgicos tais como o local de alimentao a

    obteno de gua e abrigo. Um aspecto curioso que pode se observar foi a forma com

    que as trilhas se dispunham, elas circudavam todo o piquete se ramificando de forma

    com que os catetos nunca atravessavam pelo centro do piquete.

    Durante o periodo observado a espcie demonstrou-se com certa docilidade,

    entretanto quando se sentiam ameaados os individuos que estavam organizados em

    grupos rapidamente fugiam correndo pelas trilhas e quando encontravam suas

    bifurcaes separavam-se um para cada lado. (figura 4 e 5). Notou-se que os catetos

    percebiam o observador, mesmo que estes estivessem camuflado, pelo olfato, umavez que dependendo da direo do vento o comportamento de defesa do grupo se

    caracterizava presente.

    Outro comportamento de defesa observado que em seu territrio o grupo

    mantinha em uma regio do piquete com um fragmento de vegetao intocada,

    formando uma rea com grandes touceiras de capim, esta que era utilizada como

    ponto de fuga, uma vez que os animais no podiam ser avistados quando se

    encontravam entre a vegetao.

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    fig. 3 Fragmento da trilha onde se pode observar as bifurcaes

    fig.4 grupo em momento de repouso,em seguida em estado de alerta

    Fig. 5 Momento em que o grupo de catetos est se dividindo em fuga

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    3.2 GRUPO DE QUEIXADAS

    3.2.1 DISTRUBUIO TERRITORIAL E DEFESA

    Com relao aos queixadas outro padro de deslocamento foi observado, essesse locomovem em todas as direes do piquete destruindo toda a vegetao rasteira,

    processo que se agrava devido ao hbito que esse animais tm de fucinhar o cho

    volvendo o solo. Quanto ao comportamento de defesa os queixadas diferem

    significativamente dos catetos, pois ao contrrio da fuga eles assumem uma postura

    de agresso, encaram a ameaa potencial estalando os dentes. Observou-se tambm

    um alto grau de hierarquizao de dominncia social principalmente durante o

    processo de defesa, sendo que um macho adulto demonstrou-se dominante no grupo

    sendo o primeiro a se manifestar simulando uma postura de ataque, eriando os plose estalando os dentes, (figura 6) seguido pela fmea adulta, machos jovens .

    Um fato curioso observado foi o hbito que esses animais tm de arrancar os

    plos da regio dorsal posterior uns dos outros, cuja finalidade ainda desconhecida,

    sendo sugerido a hiptese de hbito relacionado ao comportamento

    reprodutivo.(conforme idicao na figura 6)

    fig. 6 Macho dominante em postura de alerta, com tufos de plos arrancados

    na regio dorsal posterior conforme indicao

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    No deslocamento os queixadas possuem uma distribuio diferenciada, onde

    inicialmente o macho dominante vai na frente fazendo uma sondagem na rea, aps

    tal procedimento os demais individuos do grupo seguem o macho dominante de

    forma ordenada, onde o macho dominante vai a frente, as fmeas e os jovens vo no

    centro e os outros machos grandes assumem pontos estratgicos para ajudar na

    proteo do grupo, conforme demonstrado na figura 5.

    fig. 7 Os machos demonstrados pela seta encontra-se protegendo o grupo o

    macho dominante encontra-se na dianteira

    4 DISCUSSO

    Os dados observados acerca da ecologia social do comportamento defensivo

    tanto dos catetos quanto dos queixadas quando identificados em suas generalidades

    esto de acordo com os relatos de Nascimento Jnior (1993). No entanto, alguns

    detalhes observados parecer associar o comportamento territorial dessas espcies

    com diferenciao de habitats. A preferncia dos queixadas por ambientes mais

    midos conforme demonstrado nas figuras 1 e 2 concorda com as observaes de

    Bodmer (1990; 1991a e b).

    Referente distribuio territorial, a diferena entre os caminhos organizados

    dos catetos (fig.3) e a desorganizao apresentada pelos queixadas no parece ter

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    correspondncia na literatura, o nico relato conhecido a cerca dos hbitos territorias

    desses animais descrito por Solwls (1997) apenas no tocante a maior definio

    territorial do cateto com relao o queixada.

    Tambm com escassos relatos na literatura se encontra a diferente distribuio

    defensiva destes animais. Apenas no trabalho de Teixeira et al. (2001) relata

    parcialmente observaes parecidas.

    Com respeito a questo alimentar Olmos (1993) observou diferenas entre as

    duas espcies, leve diferenas foram tambm observadas quando catetos predavam

    repteis e queixadas.

    O comportamento observado em queixadas de arrancar os pelos da regio

    posterior dorsal tambm n foi observado nestes animais em outros trabalhos na

    literatura. No entanto, comportamento similar foram encontrados em roedores e avespara fins de nidificao. (NASCIMENTO JNIOR, 1987).

    5 CONCLUSO

    Atravs da realizao desse trabalho foi possvel a obteno de dados

    significativos sobre os Taiassudeos relacionados, havendo uma contribuio dessa

    maneira para um maior conhecimento da ecologia social desses animais. Com base

    nos dados obtidos pode-se inferir que os queixadas interferem na cobertura vegetalda regio em que habita em virtude dos processos de deslocamento e forrageamento,

    causando grande impacto sobre a mesma. Embora semelhantes em alguns aspectos e

    apesar de conviverem em um mesmo hbitat essas espcies so divergentes em

    nveis comportamentais o que reflete na ocupao de nichos diferenciados. A nvel

    de cativeiro o manejo de catetos e queixadas deve ser diferenciado, sendo sugerido o

    uso de piquetes maiores para os queixadas em relao aos catetos, havendo

    necessidade de transmigrao peridica entre piquete para os queixadas.

    6 REFERNCIAS

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