Categorias Rentáveis, Revista Super Hiper, Agosto

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Capa 32 Agosto 2012 Os tesouros que existem Quais são as categorias mais rentáveis para o seu negócio? Como identificar o potencial mercadológico de um produto e de que forma trabalhá-lo? As respostas para essas questões abrem diversas possibilidades para o varejista maximizar os seus resultados. Esclarecê-las, no entanto, demanda muita organização, controle e conhecimento em cada gôndola O atual nível de competitividade do setor supermercadista brasileiro exige que o varejista conheça cada vez mais a dinâmica de suas vendas e o potencial existente em suas gôndolas. Esse passo é fundamental para for- talecer ou, até mesmo, garantir a sua saúde fi- nanceira. Dentro de cada cesta existem diversas categorias consideradas rentáveis que merecem uma atenção especial. Estas possuem um bom valor agregado e, se bem trabalhadas, permitem a obtenção de margens mais expressivas. Categorias que geram vendas por impulso e que oferecem benefícios ou experiências dife- renciadas tendem a ser mais rentáveis. De acor- do com diretora da consultoria Mind Shopper, Alessandra Lima, tais categorias precisam ser muito bem promovidas nos pontos de venda, já que a tendência do shopper, de uma forma geral, é sempre se direcionar aos produtos de alto giro, que tradicionalmente registram preços mais baixos. “É muito importante criar atratividades e gerar interação para despertar o interesse dos clientes por estes itens. Não adianta ter valor “Há vários fatores que podem ofuscar o potencial de um produto, como exposição ruim, ruptura, preço inadequado, problemas operacionais e excesso no sortimento” Por Roberto Nunes Filho

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Matéria de capa da Revista Super-Hiper, veículo oficial da ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados), por Roberto Nunes Filho. Nesse artigo, a Super-Hiper entrevistou profissionais de destaque em Gerenciamento por Categorias e em Inteligência de Mercado. Feras como Alessandra Lima da Mind Shopper, Wagner Picoli da Nielsen, Marcelo Aranha GC do Unidos, José Milton do desenvolvimento comercial da Coop, entre outros especialistas no assunto dão dicas e comentam o tema, que é bastante complexo. Boa leitura!

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Os tesouros que existem

Quais são as categorias mais rentáveis para o seu negócio? Como identificar o potencial mercadológico de um produto e de que forma trabalhá-lo? As respostas para essas questões abrem diversas possibilidades para o varejista maximizar os seus resultados. Esclarecê-las, no entanto, demanda muita organização, controle e conhecimento

em cada gôndola

O atual nível de competitividade do setor supermercadista brasileiro exige que o

varejista conheça cada vez mais a dinâmica de suas vendas e o potencial existente em suas gôndolas. Esse passo é fundamental para for-talecer ou, até mesmo, garantir a sua saúde fi-nanceira. Dentro de cada cesta existem diversas categorias consideradas rentáveis que merecem uma atenção especial. Estas possuem um bom valor agregado e, se bem trabalhadas, permitem a obtenção de margens mais expressivas.

Categorias que geram vendas por impulso e que oferecem benefícios ou experiências dife-renciadas tendem a ser mais rentáveis. De acor-do com diretora da consultoria Mind Shopper, Alessandra Lima, tais categorias precisam ser muito bem promovidas nos pontos de venda, já que a tendência do shopper, de uma forma geral, é sempre se direcionar aos produtos de alto giro, que tradicionalmente registram preços mais baixos. “É muito importante criar atratividades e gerar interação para despertar o interesse dos clientes por estes itens. Não adianta ter valor

“Há vários fatores que podem ofuscar o potencial de um produto, como exposição

ruim, ruptura, preço inadequado, problemas operacionais e excesso no sortimento”

Por Roberto Nunes Filho

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em cada gôndola

agregado se não houver giro e boa penetração nos lares”, observa.

O tema é complexo e SuperHiper foi buscar com especialistas exemplos de categorias ren-táveis e os motivos que elas geram boa mar-gem ao varejo, bem como formas de detectá-las com mais facilidade e de promovê-las nos pontos de venda.

A começar pela cesta de bebidas, Alessan-dra Lima destaca o vinho e o suco pronto para beber como duas categorias que proporcionam uma boa margem de rentabilidade. Em relação ao primeiro item, é possível verificar que o seu consumo continua em ascensão. Dados da Niel-sen mostram que o volume de vendas de vinho no primeiro quadrimestre cresceu quase 37% em relação ao mesmo período do ano passado. Em termos de faturamento, este crescimento beira os 19%.

De olho no potencial deste produto, a rede Super Muffato reserva um ambiente privilegiado na maioria de suas filiais para promover o seu

“Em uma visão comercial, se o comprador negocia vantagens, descontos e prazos melhores, tem a opção de rentabilizar

ainda mais as categorias comercializadas”

“É preciso saber com exatidão todos os custos fixos e variáveis para estabelecer o lucro desejado com base no que o cliente

está disposto a pagar”

Bebidas: bebida à base de soja, cerveja, suco pronto, vinho, whisky

Alimentos: azeite, carnes, biscoito, chocolate, iogurte, massa fresca, prato pronto

Higiene e Beleza: antisséptico bucal, cremes e loções, deo colônia, lâmina para barbear, protetor solar, sabonete líquido, xampu, tintura para cabelo

Limpeza: amaciante de roupas, detergente líquido para roupas, purificadores de ambiente

Bazar: calçados, chinelo, louças, pet shop, pilha seca

l Oferecem boa margeml Possuem bom valor agregadol Apresentam giro satisfatóriol Geram vendas por impulsol Oferecem benefícios diferenciadosl São dinâmicas e contam com inovações constantesl Forte atuação da indústria em ações de marketingl Possuem apelo de praticidade, saudabilidade e sustentabilidade

Exemplos de categorias rentáveis

O que são categorias rentáveis?

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portfólio de vinhos, batizado de Adega Selection Super Muffato. Segundo o gerenciador de Cate-gorias, Oseias Santana, dentre as ações promo-vidas pela rede para fomentar as vendas deste item, destaca-se o festival de queijos e vinhos realizado durante o inverno com a presença de sommeliers e enólogos.

Na visão da especialista Juliana Nappo, sócia-diretora da Agência Shopper, a ambientação é uma importante iniciativa para trabalhar a categoria de vinhos. “Além disso, o varejista também pode criar ações que ofereçam dicas de harmonização de pratos e vinhos, por exemplo, e que tragam para a loja uma decoração festiva”, sugere.

O suco pronto para beber é outro item apon-tado por especialistas e varejistas como econo-micamente rentável. Segundo dados da Kantar Worldpanel, a penetração desta categoria nos lares brasileiros é de 62,2% e o seu tíquete mé-dio no ano passado cresceu 8,3%, alcançando o patamar de R$ 4,82. Quanto aos desempenhos mercadológicos, a categoria registrou aumen-to de 10% no volume de vendas nos primeiros quatro meses do ano e um crescimento de 11,5% em seu faturamento, de acordo com a Nielsen.

O suco à base de soja também foi apontado pelos especialistas como uma categoria ren-tável. Na rede Super Muffato, onde o produto oferece alta margem, há um trabalho focado nas embalagens de 200 ml, vista como prática pelos

consumidores. “Alocamos um módulo vertical destas versões no centro da gôndola, atraindo todo o tráfego para este segmento e destacando as principais marcas, como Ades e Dell Vale”, esclarece Oseias Santana.

Alimentos rentáveis

Quando o assunto é alimentação, a opinião dos consultores e varejistas ouvidos por Su-perHiper coincidiram em relação a algumas categorias apontadas como rentáveis. No caso da mercearia seca, os itens mais mencionados foram o biscoito, o azeite e o chocolate. Já na seção de refrigerados, dentre os preferidos, destacam-se o iogurte, os pratos prontos e a massa refrigerada.

Ambientação especial é uma boa estratégia para trabalhar os vinhos

Outro item que chama a atenção no segmento de bebidas é a cerveja. Com um tíquete médio de R$ 16,80, a categoria alcançou no ano passado a margem de 13,3 bilhões de litros produzidos, segundo o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) da Receita Federal. Deste total, estima-se que 2% referem-se aos rótulos espe-ciais, segmento que vem se destacando no Grupo Pão de Açúcar, cujo crescimento médio em vendas é de 90% ao ano. A bandeira Pão de Açúcar está realizando treinamentos para seus colaboradores das praças de Fortaleza, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. O objetivo é deixá-los capacitados para bem orientar os clientes das lojas, a exemplo do que a empresa já faz com vinhos e queijos nobres.

O valor da cerveja

Categorias, como a de chocolate, com constantes inovações por parte da indústria costumam ser muito rentáveis

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Para o coordenador de Desenvolvimento Comercial da Coop, José Milton, tais categorias são rentáveis por oferecer boa margem e por terem giro. “No caso de biscoitos, chocolates e iogurtes, estes são itens com boa penetração nos lares e que são trabalhados por grandes players. Isso resulta em grande quantidade de inovações, lançamentos e ações de merchandi-sing”, ressalta. “Os pratos prontos e as massas refrigeradas pegam carona no aumento de renda da população e num momento em que as pessoas buscam cada vez mais comodidade e praticidade”, completa.

Segundo o coordenador da Coop, o azeite, diante do apelo de saudabilidade, também está trazendo boa rentabilidade para a rede. Os números justificam este resultado. De acordo com a Kantar Worldpanel, a penetração desta categoria subiu 16,6% e o tíquete médio fechou o ano de 2011 em R$ 9,32.

Da parte da indústria, a Bunge obteve recorde nas vendas do azeite Cardeal no mês de julho e a importadora La Pastina, que atende 50 redes, re-gistrou aumento de 30% nas vendas de azeite no primeiro semestre deste ano, conforme informou a gerente de Produtos, Liliane Rosa. “Já as catego-rias de prato pronto e biscoito tiveram crescimento de 40% e 30%, respectivamente”, revela.

Presente em 99,6% dos lares brasileiros, a categoria de biscoitos é praticamente uma unanimidade quando o assunto é rentabilidade, uma vez que registra bons índices de frequên-cia de compra e tíquete médio. A mobilização por parte da indústria, que frequentemente investe em marketing, pesquisas de shopper e novas embalagens e produtos, também é uma importante aliada do varejista nas busca por melhores margens.

Um bom exemplo é a empreitada da Nestlé, que lançou em agosto a linha de biscoitos Nesfit, utilizando-se do apelo de vida saudável presente em sua tradicional marca de cere-ais. De olho neste nicho, a Triunfo, do Grupo Arcor, também colocou em maio no mercado a linha Cereal Mix. Os novos biscoitos prome-tem despertar a atenção dos shoppers nos pontos de venda.

No caso dos pratos prontos, que registram um tíquete médio de R$ 10,60 e estão pre-sentes em quase 35% dos lares brasileiros, a consultora Juliana Nappo, da Agência Sho-pper, sugere que os varejistas ofereçam aos clientes dicas de cardápios semanais. “Vale também trabalhar a mensagem de praticidade e custo-benefício, que é o que o shopper busca quando compra esta categoria”.

Para promover as categorias mais rentáveis, a especialista Alessandra Lima sugere focar no sortimento e na exposição. “Em resumo, é fazer o básico bem feito. No caso dessas categorias, é

Apelo por praticidade alavancou o desempenho dos pratos prontos

Iogurte: constantes lançamentos e apelo à saudabilidade

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indicado trabalhar com menos marcas e que as selecionadas sejam relevantes para o consumi-dor”, recomenda Alessandra. “O maior erro do sortimento é a quantidade exagerada de SKUs, que acaba ofuscando produtos que trazem maior margem à loja.”

Higiene e beleza

A cesta de higiene e beleza também está repleta de categorias que trazem boas oportunidades. Ao varejista, cabe identificar o que é mais ren-tável e proceder com os devidos ajustes em seu mix e exposição. A tônica deste segmento é a presença de empresas bastante sólidas e capi-talizadas, que empregam grandes investimentos em pesquisas, desenvolvimento de novos pro-dutos e comunicação. Esse dinamismo, aliado ao aumento do poder de compra do brasileiro, tem alavancado o desempenho deste mercado nos últimos anos.

Segundo o diretor do supermercado Rio Ja-guaribe, Walker Mourão, rede que possui sete lojas no Ceará, as categorias mais rentáveis por ele comercializadas são o xampu, em função do alto giro e das diversas ações de marketing por parte da indústria, e também itens para barbear. “Os homens estão ficando mais vaidosos e dis-postos a investir em produtos que antes eram vistos como dispensáveis”, afirma Mourão.

Para a gerente de Marketing da Kantar World-

panel, Patrícia Menezes, algumas das categorias mais rentáveis pertencem à cesta de higiene e beleza. Assim acontece com a deo colônia, que possui um tíquete médio de R$ 38,11 e está presente em 63,8% dos domicílios brasileiros, e com os protetores solar, que no ano passado demandaram uma média de R$ 25,48 por com-pra. As categorias de cremes e de tinturas para cabelos, que, respectivamente, possuem um tíquete de R$ 14,96 e R$ 11,53, também registram bons índices de presença nos lares, ilustrando a perfeita combinação entre bom valor agregado e giro frequente.

A principal arma da indústria para ganhar es-

Exibição e sortimento são fundamentais para estimular as vendas de itens de higiene

Categoria de tintura para cabelos, que possui tíquete médio de R$ 11,53, está entre as mais rentáveis

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cia de compras subiu 16,6%, segundo a Kantar Worldpanel, conjuntura que resulta em aumento de rentabilidade para o varejo.

Os purificadores de ambiente também des-pontam na lista das categorias mais rentáveis dentro da cesta de limpeza. E o seu consumo está em ascensão. A presença deste item nos lares teve um expressivo aumento de 52,2% e o tíquete médio também cresceu 8,6% no ano passado, alcançando a margem de R$ 7,22.

O tradicional amaciante de roupas, presente na maioria dos domicílios, também rende uma boa margem ao varejista, conforme observa o gerente de Merchandising da Nielsen, Wagner Picolli. Dados da empresa mostram que esta categoria apresentou avanços nos principais índices de desempenho entre janeiro e abril de 2012. O volume de vendas cresceu 4% e, em re-lação ao faturamento, o crescimento foi de 2,6%.

Para Picolli, a missão de promover as ca-tegorias consideradas rentáveis passa pela identificação das áreas quentes e frias da loja. “Com isso, o varejista tem a possibilidade de expor os produtos que oferece maior margem em locais estratégicos e de maior trânsito”, aconselha o gerente da Nielsen. “Outras ini-ciativas, como conhecer o comportamento do shopper, atentar-se ao preço e prevenir ruptu-ras também são fundamentais.”

Já para Fátima Merlin uma prática bastante eficiente é o cross-merchadising, que desperta a

atenção do cliente, permite transmitir o conceito de solução e, além disso, possibilita colocar cate-gorias rentáveis ao lado de categorias de alto giro.

Atenção ao bazar

A seção de bazar, se bem trabalhada, pode gerar ótimos resultados para a loja, já que nela constam produtos de alto valor agregado e com validade extensa. Na visão da consultora Alessandra Lima esta é uma área bastante rentável, mas que muitas vezes é marginalizada. “Tudo o que é voltado à uti-lidade doméstica, como louças, traz rentabilidade”, aponta a especialista. “São produtos que o consu-midor não tem referência de preço e que permite ao varejista trabalhar uma margem maior”.

No caso de utensílios para a cozinha, uma exposição organizada e criativa é fundamental para chamar a atenção do shopper e estimular as vendas. Atenta a isso, a Nadir Figueiredo, que em novembro de 2011 comprou da Saint Gobain, a tradicional divisão Santa Marina, conta com uma grande equipe de promotores para garan-tir que os produtos estejam sempre muito bem posicionados nos pontos de venda.

“Em pesquisas realizadas, detectamos que os shoppers, na maioria das vezes, compra uti-lidade doméstica por impulso”, revela a gerente de Marketing da empresa, Suzi Guida. “O que motiva a venda é uma boa exposição na gôndola, o design do produto e a embalagem”. Segundo

Reinvenções na cesta de limpeza oferecem soluções completas aos consumidores

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dados da Nielsen, a divisão cozinha é uma das mais rentáveis dentro da seção de bazar. No ano passado, o faturamento deste nicho cresceu 10,3% na comparação com o período anterior.

Na edição de maio de 2011, SuperHiper, inclu-sive, publicou ações interessantes da Santa Ma-rina na busca por praticar uma exposição mais atraente. Na ocasião, a empresa havia mudado o conceito de exposição na M. Dragonetti, loja voltada à utilidade doméstica, em São Paulo, onde foi retrabalhado o planograma, ambienta-ção, cores e displays unitários. A loja, que antes vendia mensalmente entre R$ 20 mil e R$ 30 mil em itens da linha Marinex, passou a vender R$ 80 mil mensais. Naquele mesmo ano a marca também colocou no mercado um diferenciado display de ferro, com rodas e gancheiras, que atende tanto o pequeno como o médio varejista e permite a realização de cross-merchandising.

A seção de pet shop, que cresceu 8,9% em 2011, também reserva boas oportunidades e, em muitas

lojas, acaba sendo pouco destacada, fato que direciona o shopper para as lojas especializadas. Vale o varejista atentar-se a este segmento, uma vez que a população de animais domésticos está crescendo. Os números ilustram esse potencial.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estima-ção (Abinpet), o País possui atualmente 101,1 milhões dos chamados animais de companhia. Destes, 35,7 milhões são cães e 19,8 milhões são gatos. Os peixes somam 25 milhões e as aves totalizam 18,5 milhões. Segundo projeções da entidade, a população de cães e gatos deve crescer a respectivas taxas de 4% e 8% neste e no próximo ano.

O setor pet nacional faturou no ano passado R$ 18,2 bilhões, o que posiciona o Brasil como o segundo mercado em faturamento no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos. Para 2012, a Abinpet estima que este valor alcance a margem de R$ 21 bilhões.

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Além disso, dados do Sindicato Nacional da Indús-tria de Alimentação Animal (Sindirações), mostram que a produção de alimentos para cães e gatos avançou 5% em 2011 e alcançou quase 2,2 milhões de tone-ladas. Segundo a entidade, o varejo faturou cerca de R$ 10 bilhões com alimentos para cães, gatos, pássaros exóticos e peixes ornamen-tais. Para o Sindirações, a contínua ascensão das classes sociais e a ampliação do exercício da posse res-ponsável contribuirão para o aumento dessas margens.

A Mars Brasil, que detém marcas como Pedigree, Whiskas, Frolic e Champ, mapeou quem é o comprador, como ele organiza a ca-tegoria e como faz suas escolhas nos pontos de venda, de modo a promover uma exposição eficiente. Tal levantamento colaborou para a empresa se tornar uma das líderes de vendas no autosserviço. De acordo com o coordenador de Gerenciamento de Categoria para Petcare, Fernando Colussi, neste canal o crescimento em valor é 12% para cães e 10% para gatos, sendo que o segmento de alimentos úmidos cresce 58% e 25%, respectivamente.

“Conforme dados da Nielsen, sabemos que o comprador é predominantemente feminino, sendo as mulheres responsáveis por 72% e 93% das compras de produtos para cães e gatos, respectivamente”, revela Colussi. “A faixa etária variante do shopper está entre 30 e 44 e, em relação à classe social, o público A/B responde por 44% das vendas de itens para cães e 37% para gatos.”

A rede Muffato, que na categoria pet foca em embalagens acima de 8kg, realiza em seu calen-dário promocional um evento com a presença de veterinários e outros profissionais da área que trazem animais para serem expostos. “Esse tipo de ação tem atraído muitos consumidores, prin-

cipalmente as crianças, que se encantam com as espécies”, revela Oseias Santana, gerenciador de categorias.

Potenciais escondidos

Como identificar uma categoria rentável que es-teja sendo mal trabalhada? A resposta para esta questão abre diversas possibilidades de ações que impactam positivamente no faturamento da loja.

Para a especialista Fátima Merlin, da Con-nect Shopper, o varejista precisa primeiramente controlar o desempenho das categorias comer-cializadas por meio de indicadores e variáveis que apontarão a performance de vendas. “Essa mensuração pode ser pelo volume, valor bruto, tíquete médio, margem, frequência de compra, índice de recompra, dentre outros critérios”, sugere a consultora. “O grande desafio do vare-jista é implementar esses processos de controle. Nem todos fazem isso. Há quem nem saiba o seu tíquete médio”.

Conforme explica a consultora, após detectar as categorias que não estão tendo um bom de-sempenho, o varejista precisa buscar as razões deste cenário. “Há vários fatores que podem ofuscar o potencial de um produto, como exposi-ção ruim, ruptura, preço inadequado, problemas

Itens de bazar são muito rentáveis, mas exposição deve incentivar venda por impulso

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operacionais e excesso no sortimento”, aponta Fátima. “Essa análise auxilia na correção de rotas e demais ajustes internos. Há produtos que, realmente, não são interessantes, mas, em muitos casos, a mercadoria tem potencial, mas está sendo mal trabalhada”, completa.

A especialista também sugere a observação do mercado como uma importante ferramenta para identificar o potencial de um produto. “Vale o varejista conferir como a concorrência trabalha uma determinada categoria que na loja dele não está tendo um bom desempenho. Esse trabalho de benchmarking ajuda bastante. Também é muito importante estar atento aos índices do mercado. Se, por exemplo, uma certa categoria tem uma média mercadológica inte-ressante e o cenário na minha loja é totalmente contrário, este é um indi-cativo de que esta cate-goria pode ser rentável e precisa ser retrabalha-da”, afirma Fátima Merlin.

O especialista em in-teligência de mercado, Marcelo Aranha, observa que também é possível identificar o potencial de um produto comparando-se o histórico da cate-goria, com o histórico de produtos similares e com tendências e pro-jeções da indústria para a categoria analisada. “Reunindo todos esses ingredientes com o histó-rico da própria loja ou rede, o gestor é capaz de obter informações confiáveis em relação ao potencial de um produto e de como anda o seu desempenho”, ressalta Aranha.

Ao identificar uma categoria rentável mal tra-balhada, o varejista, em parceria com a indústria, pode proceder com uma série de iniciativas, tais como: melhorar o sortimento, exposição, mate-rial de PDV, melhorar a sinalização, rever preço, fazer promoções e ações de merchandising e, até

mesmo, proceder com questões simples, como ajustar a iluminação, por exemplo.

A consultora Alessandra Lima, da Mind Sho-pper, também sugere outras iniciativas, como cross merchandising, pontos extras, rever a ambientação da loja e das seções, atentar-se aos serviços e atendimento, promover exposi-ções diferenciadas e degustações e apostar no conceito de venda por solução, que aproxima as categorias correlatas e estimula as chamadas vendas casadas.

Para Juliana Nappo, da Agência Shopper, para conseguir definir as melhores estratégias para cada categoria, o varejista deve ter claras as barreiras de compra dos shoppers e quais são os motivadores de compra. “Cruzando estes

dados com a missão de compra, o varejista tem em mãos os argumentos necessários para poten-cializar a capacidade de conversão de sua loja.”

“Muitas vezes, o va-rejo não está preparado para desenvolver sozinho as melhores ações, es-pecialmente por falta de informações completas sobre o comportamento de compra de seus sho-ppers”, observa Juliana. “Uma boa alternativa, bastante comum no Brasil atualmente, é a parceria estruturada entre varejo e indústria no desenvol-vimento de Shopper Pro-

grams, que são ações de longo prazo, desen-volvidas a quatro mãos entre a indústria e seus clientes, com o objetivo de ampliar a capacidade de conversão das marcas e o crescimento das categorias”.

Foi com base nesse tipo de análise que a Coop conseguiu promover ajustes na categoria de café, que recentemente não vinha tendo o desempenho esperado. Nesse processo, a rede descobriu que não havia uma marca voltada

l Exposição atraente e agradávell Sortimento adequadol Prevenir rupturasl Ações de merchandisingl Ações de cross-merchandingl Degustaçõesl Festivais sazonaisl Eventos com especialistasl Ambientação agradávell Informações em gôndolal Bom atendimentol Ponto extral Gôndolas personalizadasl Preço condizente com o mercadol Posicioná-las nas áreas quentes da lojal Promoçõesl Comunicação e sinalização eficientel Ajustar layout

Ações que ajudam a promover as categorias rentáveis

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a um público com menor poder aquisitivo. A solução resumiu-se à inserção de apenas dois SKUs mais acessíveis no mix. Em seis meses, o faturamento da categoria cresceu quase 200%, segundo a empresa.

O mapa da rentabilidade

A busca pela rentabilidade passa pela esfera operacional, que envolve a prevenção de rup-turas, controle de estoque, ajustes no layout, revisão de sortimento, cadastro organizado e outras práticas, e também pela esfera comercial. Neste quesito, o especialista Marcelo Aranha observa que quanto melhor for a negociação de compra, melhor será a rentabilidade. “Em uma visão comercial, se o comprador negocia vantagens, descontos e prazos melhores, tem a opção de rentabilizar ainda mais as categorias comercializadas”, afirma o consultor.

Aos pequenos, uma possibilidade de obter mais vantagens nas negociações é recorrer às centrais de compra. Um exemplo é a Super Vizi-nho, que atende 11 lojas de São Paulo. Segundo o gerente de Produtos da central, Marcelo Camar-go, o desconto médio conquistado nas compras em maior escala gira em torno de 8%. No caso da central Super Show (RN), que atende 20 lojas da Grande Natal, em algumas categorias, como os congelados, essa redução chega a 10%.

O processo de definição de preço também é um fator vital na busca pela rentabilidade, conforme aponta Laecio Barreiros, da L&Barreiros Controla-doria. “Chegar a uma margem favorável é uma ta-refa complexa. O varejista precisa conhecer muito claramente todos os itens intrínsecos ao valor da mercadoria”, observa. “Ou seja, é necessário saber com exatidão todos os custos fixos, os variáveis, como os impostos e as comissões, e estabelecer o lucro desejado com base no que o cliente está disposto a pagar”, orienta Barreiros.

l Entender os pilares do preço: custos fixos, custos variáveis e margem de lucrol Definir uma margem condizente com a percepção do shopperl Conhecer o detalhamento fiscal das categoriasl Negociação com fornecedores l Controle das categorias por meio de indicadoresl Gestão eficientel Bom controle de estoquel Análise da concorrência e do mercadol Análise do histórico da categoria na lojal Gerenciamento por categoriasl Conhecer o perfil do shopperl Produção verticalizadal Posicionamento de imagem (moderno, prático, saudável, sustentável)

Fatores que contribuem para a rentabilidade

O Gerenciamento por Categorias (GC) é uma prática relativamente conhecida no varejo brasileiro, mas, no entanto, ainda não é largamente realizada. De acordo com o ECR Brasil, o GC é um processo de parceria entre varejista e fornecedor que consiste em agrupar as categorias sob o conceito de solução e gerenciá-las como se fossem unidades estratégicas de negócios. Tem como objetivo aumentar as vendas e a lucratividade por meio de esforços para agregar maior valor ao consumidor final. No total, o GC é composto por oito passos.

Segundo o especialista Marcelo Aranha, os prin-cípios que existem por trás do processo de GC são, basicamente, atender com mais eficiência a demanda do shopper e garantir a saudabilidade do sortimento do varejista (tendo em vista a grande variedade e

Os benefícios do Gerenciamento por Categoriasprofundidade do sortimento das indústrias). “Além disso, há também a missão de prover a indústria de informações que confiram maior assertividade, tanto ao lançar, quanto ao comercializar produtos, reduzindo assim de forma considerável os custos e as possibilidades de insucesso”.

Para a consultora Alessandra Lima, o GC é uma boa ferramenta para trabalhar com mais profundi-dade as categorias, mas, no entanto, a maioria dos varejistas ainda não está preparada para este pro-cesso. “Dessa forma, existe também a possibilidade do gerenciamento por espaço, que condensa as etapas do GC, sem perder a sua essência. Com isso é possível identificar os produtos com maior giro e os mais rentáveis e organizá-los de maneira racional e eficiente”, completa.

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No que diz respeito à definição da margem de lucro, o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), Juracy Parente, sugere que o varejista observe os elementos que des-pertam emoção nos clientes. “Uma forma de gerar rentabilidade é oferecer uma experiência de compra mais prazerosa, que leve o cliente a tomar uma decisão de pagar mais. Alguns fato-

res ajudam nesse processo, como atendimento, ambientação, inovação, aconchego, o apelo das marcas, a qualidade e a sustentabilidade por trás dos fornecedores e da própria loja”.

Para o professor Parente, algumas dimen-sões para mensurar a rentabilidade são a mar-gem bruta proporcionada pela categoria e o giro do estoque. Ele também indica o conceito de GMROI (Gross Margin - Return on Investment), que é o retorno sobre o estoque. “Este conceito tem semelhanças com o giro de estoque, mas, neste caso, divide-se o valor do estoque pelo lucro líquido da categoria. Isso ajuda a prever em quanto tempo uma categoria deve ser vendida para pagar o estoque”, esclarece.

Segundo o professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Nelson Beltrame, a ren-

Patês especiais em embalagens de louça importadas da China

tabilidade no varejo está intimamente ligada ao conhecimento do escopo fiscal das mercadorias e do próprio enquadramento fiscal da loja, mis-são que exige o respaldo de uma equipe atenta ou de consultores especializados. “É o que cha-mamos de inteligência tributária e financeira. O sistema tributário brasileiro é muito complexo e cheio de variáveis, com normas que variam de um estado para outro. Se essa questão está

bem dominada, fica mais fácil identificar oportunidades de gerar rentabilidade.”

Na visão do tam-bém sócio-diretor da Agência Shopper, Ra-fael D’Andrea, quanto mais verticalizada for a produção de um pro-duto, especialmente em setores como pa-daria, peixaria e açou-gue, mais valores po-derão ser agregados a ele. “Hoje vemos o Pão de Açúcar pro-duzindo, embalando e vendendo patês espe-ciais em embalagens de louça importadas

por eles mesmos da China, que são vendidos a preços competitivos e com alta margem de lucro percentual, graças ao efeito duplo da verticalização da produção e da escala de importação”, comenta.

Já para Wagner Picolli, da Nielsen, um fator imprescindível é conhecer o shopper. “Tem que saber o que o cliente almeja. Muitas vezes o varejista, querendo muita margem, coloca nas gôndolas produtos que não têm apelo junto ao seu público”, alerta. “Além disso, como forma de incentivar a venda das categorias mais ren-táveis, também acho muito importante avaliar os geradores de tráfego nas lojas, que possuem alto giro e margens menores, e colocar ao lado deles produtos com maior valor agregado”, recomenda Picolli.

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