Catarina Alexandra Fernandes Vieira
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO MÓDULO NUT DO PROGRAMA
MULTIMÉDIA “ALIMENTAÇÃO, MODELO ESTÉTICO FEMININO E
MEIOS DE COMUNICAÇÃO”, NAS VARIÁVEIS COMPORTAMENTO
ALIMENTAR E CONHECIMENTO NUTRICIONAL
-
Estudo integrado no projeto “Avaliação da eficácia do programa Alimentação,
modelo estético feminino e meios de comunicação”, na população portuguesa
Catarina Alexandra Fernandes Vieira
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença)
2012
ii
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO MÓDULO NUT DO PROGRAMA
MULTIMÉDIA “ALIMENTAÇÃO, MODELO ESTÉTICO FEMININO E
MEIOS DE COMUNICAÇÃO”, NAS VARIÁVEIS COMPORTAMENTO
ALIMENTAR E CONHECIMENTO NUTRICIONAL
-
Estudo integrado no projeto “Avaliação da eficácia do programa Alimentação,
modelo estético feminino e meios de comunicação”, na população portuguesa
Catarina Alexandra Fernandes Vieira
Dissertação orientada pela
Profª Doutora Margarida C. Santos
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença)
2012
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RESUMO
Este estudo integra-se num projeto que pretendeu avaliar, numa amostra de
adolescentes portugueses, o impacto de um programa multimédia, intitulado Alimentação,
modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no
ensino secundário, composto por módulos: Modelo estético feminino (MEF), O modelo
estético feminino nos media (ML) e Alimentação e Nutrição (NUT) (Francisco, Custódio,
Jesus, Martins, Vieira, & Barros, 2012). Especificamente neste estudo, fez-se a aplicação do
módulo NUT, e avaliou-se o seu impacto em comparação com a aplicação conjunta dos
módulos MEF+ML, em relação a variáveis relacionadas com comportamento alimentar e
conhecimento nutricional.
A amostra total foi constituída por 40 alunos do 8º ano de escolaridade, distribuídos
por duas condições experimentais: MEF+ML e NUT. Em cada condição experimental
existiram 3 momentos de recolha de informação, nos quais foi preenchido um conjunto de
questionários. O impacto do módulo NUT, em destaque neste trabalho, foi avaliado através
de: Questionário sobre saúde física e alimentação, Eating Attitudes Test-26 (EAT-26) e
Questionário de Nutrição (NUT-Q).
Os resultados mais relevantes confirmam a utilidade do programa, apontando para
alterações no conhecimento nutricional na condição experimental NUT , bem como mudanças
na conduta alimentar, mais propriamente no consumo semanal de alguns alimentos. Refira-se
ainda a identificação de correlações importantes entre variáveis relativas à forma como os
adolescentes se alimentam.
Palavras-chave: Programas escolares de promoção de saúde; Prevenção primária;
Adolescência; Nutrição; Perturbações do comportamento alimentar
ii
ABSTRACT
The present study is part of a project that aimed to evaluate the impact, on a portuguese
adolescents’ sample, of a multimedia program, named Alimentação, modelo estético feminino
e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário,
consisting of three units: Aesthetic Beauty Model (MEF), Media Literacy (ML) and Food and
Nutrition (NUT) (Francisco, Custódio, Jesus, Martins, Vieira, & Barros, 2012). This particular
study was directed to the unit NUT , and its impact when compared with the two other units
(MEF+ML), in respect to eating behavior and nutritional knowledge variables.
A total of 40 8th grade students participated in the study, across two different
experimental conditions: MEF+ML and NUT.
In each experimental condition, the impact was assessed by a protocol of several
questionnaires, completed in three different moments. The impact of unit NUT, the main
purpose of this work, was assessed by Physical Health and Feeding Questionnaire, Eating
Attitudes Test-26 (EAT-26) and Nutrition Questionnaire (NUT-Q).
The most relevant results confirm the program utility, pointing changes in the
nutritional knowledge among the subjects of condition NUT, as well as changes on eating
behavior, namely the weekly consumption of certain food. Besides, there were found
important correlations between the variables related with adolescents’ eating conduct.
Keywords: School-based health programs; Primary prevention; Adolescence; Nutrition;
Eating disorders
iii
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO .......................................................... 3
1.1 Adolescência e o conceito de saúde ..................................................................... 3
1.2 Adolescência e alimentação ................................................................................. 5
1.3 Obesidade e Perturbações do Comportamento Alimentar na adolescência ......... 8
1.4 Programas escolares de promoção de saúde na adolescência ............................ 15
CAPÍTULO 2: OBJETIVOS ......................................................................................... 23
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA .................................................................................. 25
3.1 Caracterização sociodemográfica da amostra .................................................... 25
3.2 Estruturação do Programa e Instrumentos de Avaliação .................................... 27
3.2.1 Estruturação do Programa ............................................................................... 27
3.2.2 Instrumentos de Avaliação ............................................................................ 278
3.2.2.1 Questionário geral de dados pessoais e sociodemográficos ....................... 278
3.2.2.2 Questionário sobre saúde física e alimentação ........................................... 279
3.2.2.3 Eating Attitudes Test-26 ............................................................................. 279
3.2.2.4 Questionário de Nutrição .............................................................................. 30
3.3 Procedimento Experimental ............................................................................... 31
3.4 Procedimento de análise de dados .................................................................... 313
CAPÍTULO 4: RESULTADOS ..................................................................................... 35
iv
4.1 Caracterização da amostra quanto aos Hábitos alimentares e conhecimento
nutricional .......................................................................................................................... 35
4.2 Avaliação do impacto do programa ................................................................... 39
4.3 Correlação entre variáveis ................................................................................. 43
CAPÍTULO 5: DISCUSSÃO ......................................................................................... 56
CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................... 62
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 64
v
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Valores de Índice de Massa Corporal (IMC) ................................................. 9
Tabela 2 - Caracterização da amostra por Género ......................................................... 25
Tabela 3 - Caracterização da amostra por Idade ........................................................... 26
Tabela 4 - Caracterização da amostra por Situação Familiar ........................................ 26
Tabela 5 - Caracterização da amostra por Nível Socioeconómico ................................ 27
Tabela 6 – Estatística Descritiva – Comparação de médias e desvios-padrão das
variáveis em estudo nos 3 momentos, por género e condição experimental .................. 36
Tabela 7 – Estatística Descritiva – Comparação de medianas das variáveis em estudo
nos 3 momentos, por género e condição experimental ................................................... 37
Tabela 8 – Teste de ANOVA de Friedman ................................................................... 39
Tabela 9 – Teste de Wilcoxon – Comparação entre Pré-teste e Pós-teste ..................... 40
Tabela 10 – Teste de Wilcoxon – Comparação entre Pós-teste e Follow-up ................ 40
Tabela 11 – Teste de Wilcoxon – Comparação entre Pré-teste e Follow-up ................ 41
Tabela 12 – Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais, nos
3 momentos ............................................................................................................................. 42
Tabela 13 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Pré-teste (Feminino) ............. 44
Tabela 14 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Pré-teste (Masculino) ............ 46
Tabela 15 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Pós-teste (Feminino) ............. 48
Tabela 16 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Pós-teste (Masculino) ........... 50
Tabela 17 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Follow-up (Feminino) .......... 52
Tabela 18 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Follow-up (Masculino) ......... 54
vi
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Condições Experimentais ........................................................................... 34
vii
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 – Teste de ANOVA de Friedman .................................................................... 71
Anexo 2 – Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais
(Pré-teste) ................................................................................................................................. 72
Anexo 2 – Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais
(Pós-teste) ................................................................................................................................ 73
Anexo 2 – Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais
(Follow-up) .............................................................................................................................. 74
1
INTRODUÇÃO
O estudo que se apresenta faz parte de um projeto alargado, que pretende avaliar a
eficácia na população portuguesa de um programa multimédia espanhol, denominado
Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos com
juízo crítico no ensino secundário, constituído por três módulos: Modelo estético feminino
(MEF), O modelo estético feminino nos media (ML) e Alimentação e Nutrição (NUT).
O programa tem como objetivo a prevenção de comportamentos perturbados,
relacionados com a alimentação e o controlo de peso.
Especificamente neste estudo, fez-se a aplicação do módulo Alimentação e Nutrição
(NUT), e avaliou-se o seu impacto comparativamente à aplicação conjunta dos outros dois
módulos (MEF e ML), em adolescentes entre os 13 e os 15 anos, em relação a variáveis
relacionadas com comportamento alimentar e conhecimento nutricional.
Na versão portuguesa do módulo NUT, a principal inovação relativamente ao programa
original consiste no uso de metodologia interativa, para identificação de refeições
consideradas saudáveis e fatores que constitutem obstáculo à realização deste tipo de
alimentação. Para promover a adesão ao programa foram ainda utilizados reforços, dos quais
se destaca um diploma a ser entregue a cada adoelescente que concluíssem o programa.
O estudo alargado foi realizado com a colaboração de 3 turmas do 8º ano de
escolaridade, pertencentes a escolas da grande Lisboa, de acordo com as condições
experimentais adiante descritas.
Para cada condição experimental foram definidos 3 momentos de recolha de
informação: Pré-teste, antes da aplicação do programa, Pós-teste, depois da aplicação do
programa, e Follow-up, 1 mês depois. Em cada um destes momentos foi preenchido um
grupo de questionários, tendo o impacto do módulo NUT, que constitui o foco deste trabalho,
2
sido avaliado através de: Questionário sobre saúde física e alimentação, Eating Attitudes
Test-26 (EAT-26) e Questionário de Nutrição (NUT-Q).
Este texto está organizado em seis capítulos. O primeiro apresenta a revisão de
literatura destinada a fazer o enquadramento teórico, abordando questões como a saúde
durante a adolescência, a nutrição, as perturbações do comportamento alimentar e a ação dos
programas escolares de promoção de saúde. No segundo capítulo surgem descritos os
objetivos desta investigação. No capítulo seguinte é explicada a metodologia usada, incluindo
os instrumentos, procedimento e caraterização da população. O quarto capítulo refere-se à
apresentação dos resultados obtidos através de tratamento estatístico. Seguidamente, são
discutidos os resultados e, por fim, apresentam-se as conclusões, limitações do estudo, bem
como sugestões para futuras linhas de investigação.
3
CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1.1 Adolescência e o conceito de saúde
O conceito de adolescência tem origem no termo adolescere, que significa “crescer”,
“amadurecer” (Tavares, & Alarcão, 2005, p. 39). O adolescente é pois, aquele que está em
crescimento, ou amadurecimento, quer do ponto de vista físico, quer psicológico e social,
sendo a adolescência uma fase que decorre na transição da infância para a idade adulta, e que
compreende a faixa etária entre os 11/12 e os 19/20 anos (Tavares, & Alarcão, 2005, p. 39).
É nesta etapa que o indivíduo se questiona sobre si próprio e se liberta das limitações
típicas do pensamento concreto, acedendo ao pensamento formal (Piaget, 1955, citado em
Lourenço, 1997).
Porém, a aquisição do pensamento formal colide com o egocentrismo do adolescente
(Lourenço, 1997), e com a sua convicção de que é imune às consequências de
comportamentos danosos para a saúde.
Ainda assim, a riqueza e complexidade do pensamento formal representam uma
extraordinária evolução em termos cognitivos.
Em termos Piagetianos, o sujeito formal é capaz de inverter o sentido entre o real e o
possível (Lourenço, 1997), isto é, o possível já não está reduzido àquilo que é o real ou que
existe no momento, mas estende-se ao virtual e abstrato. O adolescente começa então a
entender que a pessoa que é em determinado momento é modificável, em função, por
exemplo, da sua vontade. Ora, ao inverter o sentido entre o real e o possível, torna-se também
capaz de combinar, ou articular, uma infnidade de condições ou fatores, e manipulá-los. E
mais do que isso, em virtude de desenvolver raciocínio hipotético-dedutivo, admite
proposições e elabora deduções, envolvendo-se assim na resolução de problemas que
implicam raciocínio condicional.
4
Em suma, o adolescente tem maior capacidade de antecipação de resultados ou
acontecimentos, com base em diferentes fatores definidos a priori, e mesmo com o obstáculo
que constitui o egocentrismo que lhe é característico, está mais bem preparado do que uma
criança para participar num programa ou intervenção que apele ao juízo crítico, como aliás
sucede no presente estudo.
Inúmeros trabalhos indicam que os adolescentes mais novos descrevem a saúde como
sendo ausência de doença, mas que, progressivamente, vão atribuindo maior importância à
prevenção e aos comportamentos destinados à manutenção de um estado saudável (Buck &
Wenger).
Com efeito, num estudo realizado com adolescentes americanos do 9º ano, a Saúde
surge descrita como sendo um conceito complexo, associado a bem-estar, ausência de
doença, estar em forma, ser capaz de lidar com os problemas e assumir responsabilidades
(1996, citado em Buck & Wenger, 2003). Na mesma década, uma outra investigação
concluiu que os adolescentes tendem a definir Saúde como não estar doente, ser feliz ou ser
capaz de fazer as coisas que se deseja (1996, citado em Buck & Wenger, 2003).
Como se percebe, o adolescente começa por ter uma conceção imediatista de Saúde,
mas com o desenvolvimento das suas capacidades cognitivas, esta conceção modifica-se, e
emerge o conceito de saúde a longo-prazo.
Resgatando a ideia de que é nesta fase que há a transição para o pensamento formal,
não é surpreendente que o sujeito comece a compreender que existem inúmeros fatores que
contribuem para o seu estado de saúde, estando ao seu alcance manipulá-los, e que os seus
comportamentos, quaisquer que sejam, têm repercussões, não só no presente, mas também no
futuro.
Nesta perspetiva, a adolescência constitui uma fase privilegiada para trabalhar estes
fatores e orientar as escolhas do indivíduo, para que alcance o melhor estado de saúde
5
possível. Sendo a conduta alimentar um dos aspetos que maior peso tem na saúde, ela deve
ser uma das prioridades das intervenções feitas com adolescentes.
1.2 Adolescência e alimentação
Nos últimos anos, verificou-se uma mudança nos hábitos alimentares, particularmente
nos países industrializados. Esta mudança influenciou todas as faixas etárias, mas é entre as
crianças e adolescentes que os efeitos se tornaram mais evidentes, e também mais
preocupantes.
De todas as alterações ocorridas, as mais relevantes foram porventura a perda do hábito
de tomar o pequeno-almoço, a banalização de refeições pré-confecionadas ou adquiridas em
estabelecimentos de comida rápida, o maior consumo de snacks muito calóricos e de baixo
valor nutricional, o aumento das porções em cada refeição e a diminuição da ingestão de
produtos lácteos. Por outro lado, diminuiu a procura de alimentos ricos em fibras, vegetais e
frutas, sendo que muitos jovens começaram a preencher as suas necessidades destes grupos
alimentares quase exclusivamente com batatas fritas (Gidding, et al., 2006).
Ao nível dos micronutrientes, designadamente sais minerais, também se registaram
alterações importantes. O consumo de cálcio e potássio, por exemplo, diminuiu
substancialmente, enquanto que o de sódio disparou, em virtude deste elemento estar presente
em grandes quantidades em inúmeros alimentos, sobretudo nas refeições pré-cozinhadas e na
chamada fast food.
Num workshop realizado em Roma, em maio de 2003, tentou precisamente perceber-se
o que estava por detrás das discrepâncias existentes entre as recomendações sobre dieta,
aparentemente difundidas em larga escala, e a forma como se alimentam, na realidade, os
indivíduos entre os 2 e os 18 anos de idade.
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Uma das conclusões mais importantes a que se chegou foi a de que, habitualmente, é
dada mais atenção a crianças pequenas e a adultos, o que faz com que estes sejam alvos
prefenciais das intervenções destinadas a promover a alimentação saudável. O trabalho com
adolescentes, pelo contrário, ainda é insuficiente, o que é preocupante, tendo em conta as
alterações dramáticas que ocorrem durante esta fase da vida: mudanças na composição
corporal e nas necessidades metabólicas, estabilização dos padrões alimentares e de atividade
física, e maior dependência do ambiente envolvente, sobretudo da família, escola e contexto
sociocultural (Krause & Desjeux, 2004).
Por outro lado, ficou claro que é errado difundir recomendações sobre dieta para toda a
Europa, quando a realidade de cada país é diferente. Portanto, se existem regras e indicações
que devem ser uniformizadas (exemplos: rotulagem de alimentos e valores diários
recomendados de cada nutriente), existem também outros aspetos que devem ser adaptados às
especificidades regionais (Krause & Desjeux, 2004).
Todavia, e embora sejam desejáveis os esforços de adaptação das intervenções aos
destinatários, é unânime que um dos principais meios de influenciar a conduta alimentar
passa por ensinar a comer. Explicar o conteúdo em nutrientes de cada alimento, ou indicar as
porções adequadas para cada pessoa são pois, mensagens essenciais.
Um estudo realizado em 2009, por Crawford e colaboradores, sugere que a educação
nutricional, e o conhecimento daí resultante, pode ter uma influência positiva sobre a conduta
alimentar. No entanto, é feita uma ressalva sobre a importância das intervenções não se
limitarem a transmitir informação para ser memorizada, e apostarem, em vez disso, numa
abordagem mais prática, dirigida à aplicação direta do que é ensinado (Crawford, Kwon,
Nichols, & Rew, 2009, citado em González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011, p. 131).
Em Portugal, a cada 4 anos, é elaborado um Relatório do Estudo HBSC (Health
Behaviour in School-aged Children), que é promovido pela OMS, e liderado pela equipa no
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Projeto Aventura Social. A sua 4ª edição, datada de 2010, inclui, à semelhança das
precedentes, dados importantes sobre o modo como os adolescentes portugueses se
alimentam (Matos et al., 2010).
Assim, constatou-se que, durante a semana, 80.4% dos adolescentes toma sempre o
pequeno-almoço, enquanto que 6.7% nunca toma e 12.9% toma apenas às vezes. Aos fins de
semana, as pecentagens não diferem muito, sendo que 81.6% toma sempre o
pequeno-almoço, 6.9% nunca toma e 11.5% toma apenas num dos dias (Matos et al., 2010).
Relativamente à comparação entre géneros, verificou-se que os rapazes são quem refere
mais frequentemente tomar o pequeno-almoço todos os dias da semana. Aos fins de semana,
porém, não se encontraram diferenças estatisticamente significativas entre géneros (Matos et
al., 2010).
O Relatório do Estudo HBSC mostra também a frequência com que os adolescentes
consomem alguns grupo de alimentos (frutas, vegetais, doces e refrigerantes).
Para os doces e refrigerantes, considerados alimentos pouco saudáveis, os resultados
indicam que mais de metade dos adolescentes os consomem pelo menos 1 vez por dia (66%
para os doces e 52.8% para os refrigerantes) (Matos et al., 2010), o que é excessivo.
Além deste, continuam a registar-se, entre os adolescentes, outros erros alimentares:
períodos prolongados de jejum, consumo excessivo de gorduras, ingestão insuficiente de
água, baixa ingestão de cálcio, preferência por alimentos ricos em sódio e baixo consumo de
fibras (Cordeiro, 2009).
Embora a qualidade da alimentação seja, em grande parte, reflexo do tipo de nutrientes
ingeridos, e das quantidades combinadas de cada um deles, a forma como a alimentação
ocorre, ou antes o ambiente em que são feitas as refeições, também influi grandemente, não
só no estado nutricional do indivíduo, mas no seu estado global de saúde, o que, como já foi
explicado anteriormente, representa um conceito que o adolescente já compreende.
8
De facto, a alimentação serve um propósito biológico, mas também é importante do
ponto de vista social (Cordeiro, 2009). Fazer as refeições em família, por exemplo, é
realmente importante, podendo mesmo tornar-se um fator protetor da unidade familiar. A
partilha da refeição favorece a troca de experiências e sentimentos, ajuda a rotinar o
quotidiano e funciona como um espaço de apreensão e treino de regras.
Deste modo, as refeições em família constituem o setting ideal para testar, por exemplo,
o que é trabalhado em programas de educação alimentar.
Conforme já foi dito, o conhecimento nutricional é suscetível de influenciar
positivamente a forma como as pessoas se alimentam, o que pode ajudar a prevenir
perturbações do comportamento alimentar. Segundo Neumark-Sztainer (1996), embora a
falta de conhecimento nutricional não seja suficiente para que se desenvolvam estes
disbúrbios, os sujeitos acometidos tendem a ter lacunas a este nível (1996, citado em
González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011, p. 131). As conclusões do trabalho de Smolak e
Levine (2001) também confirmam a relevância do conhecimento nutricional, indicando que
está associado a uma maior satisfação com o corpo e a uma menor probabilidade de adoção
de comportamentos de risco para controlo do peso (Smolak, & Levine, 2001, citado em
González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011, p. 131).
Em face do exposto, torna-se que compreensível que tantos autores se dediquem às
questões relacionadas com a alimentação dos adolescentes, até porque as patologias que lhe
estão associadas, nomeadamente Obesidade e Perturbações do comportamento alimentar, são
cada vez mais mais comuns (Popkin & Gordon-Larsen, 2004).
1.3 Obesidade e Perturbações do Comportamento Alimentar na adolescência
A obesidade é definida como sendo o resultado de um desequíbrio energético, ou seja,
ocorre quando o aporte de energia excede o dispêndio, durante um determinado período de
9
tempo (Kosti & Panagiotakos, 2006, p. 152). Esta doença tem um impacto negativo na
autoestima e contribui para inúmeras comorbilidades, tais como hipertensão, patologia
cardiovascular, diabetes tipo 2 e vários tipos de cancro (Veugeler & Fitzgerald, 2005).
Tipicamente, utiliza-se o Índice de Massa Corporal (IMC) para avaliar a presença, ou
ausência, de excesso de peso ou obesidade. Este índice é calculado através da fórmula
(Peso/Altura2) (Kg/m2), correspondendo o valor apurado para cada indivíduo a uma tipologia
específica, conforme indicado na Tabela 1, elaborada com base em dados disponibilizados
pelo Ministério da Saúde.
Tabela 1. Valores de Índice de Massa Corporal (IMC)
IMC > 18 < 25 Kg/m2 Normal
IMC > 25 < 30 Kg/m2 Excesso de Peso
IMC > 30 < 35 Kg/m2 Obesidade Moderada (grau I)
IMC > 35 < 40 Kg/m2 Obesidade Grave (grau II)
IMC > 40 Kg/m2 Obesidade Mórbida (grau III)
Apesar de não serem conhecidos todos os fatores que concorrem para o
desenvolvimento de obesidade, nem o impacto de cada um deles nesse processo, sabe-se que
esta doença é de origem multifatorial (Kosti & Panagiotakos, 2006, p. 152).
Segundo o artigo de Koletzko, Girardet, Klish e Tabacco (2002), os hábitos e as
preferências alimentares, o conteúdo calórico da dieta e a composição, em termos de
nutrientes, dos alimentos ingeridos, parecem ter um papel preponderante. É pois
compreensível, que estes fatores, altamente modificáveis, sejam tantas vezes o alvo dos
programas de tratamento e prevenção da obesidade (Magarey, et al., 2011).
No que respeita às preferências alimentares, um estudo realizado nos Estados Unidos
chegou a conclusões importantes, que dão conta da existência de variações a nível de género
e idade, pelo que qualquer recomendação dietética, por mais adequada que seja, terá que ter
10
em conta estes fatores, sob pena de não ter impacto na conduta alimentar dos sujeitos a quem
se destina. Além disso, se é verdade que existe uma tendência para crianças e adolescentes
preferirem alimentos muito calóricos, e ricos em gorduras e açúcares, também não se deve
descurar que outros alimentos (exemplos: uvas, morangos e leite magro), valiosos em termos
nutricionais, são igualmente escolhas habituais destas faixas etárias (Bish & Scheule, 2009).
Portanto, os programas alimentares não precisam de excluir tudo o que é considerado
agradável ao paladar.
Mas para além das preferências alimentares, os hábitos alimentares das crianças e
adolescentes parecem ser também influenciados pelas condutas dos pais, pares, media,
contexto social em que são feitas as refeições e, possivelmente, experiências alimentares
precoces (Koletzko, Girardet, Klish, & Tabacco, 2002).
Em face do problema que representa per si a obesidade, e das patologias que lhe são
secundárias, não é de estranhar os esforços que têm sido feitos para a prevenir e tratar.
Embora muitas vezes se considere que esta é simplesmente uma doença de excessos, tal
não é inteiramente verdade, já que mesmo nas situações em que a dieta é o principal fator
desencadeante, a solução pode não passar simplesmente por impor restrições alimentares,
mas antes por uma distribuição mais adequada do aporte de nutrientes. Isto é equivalente a
afirmar que os indivíduos com excesso de peso ou obesidade podem, de facto, ter carências
nutricionais. Por este motivo, dietas demasiado restritivas, que tendem a produzir
desequilíbrios ainda maiores, não são recomendadas para correção do excesso de peso.
Além disso, estes regimes alimentares são bastante difíceis de seguir por longos
períodos, sendo frequente o aumento abrupto de peso após a sua suspensão. E finalmente,
conforme é apontado no artigo de Koletzko, Girardet, Klish e Tabacco (2002), as dietas
muito restritivas acarretam um risco aumentado de perturbações do comportamento alimentar
e de outros distúrbios psicológicos.
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Nas últimas duas décadas, assistiu-se a uma mudança significativa na forma como as
pessoas se alimentam nos países desenvolvidos, tendo esta mudança acarretado um aumento
da prevalência da obesidade, e por conseguinte, alterações na estatura média dos indivíduos,
no seu estado nutricional e nas doenças associadas (Popkin & Gordon-Larsen, 2004).
Em Portugal, as principais alterações na dieta incluem diminuição do consumo de
azeite, peixe, cereais e leguminosas, e aumento do consumo de carne e açúcares simples.
Relativamente aos produtos hortícolas e fruta, embora o nosso país seja um dos principais
consumidores europeus, o decréscimo também foi significativo (Loureiro, 2004).
Conforme referido no artigo de Koletzko, Girardet, Klish e Tabacco (2002), a
obesidade é considerada uma epidemia global, em virtude da sua elevada incidência mundial,
tanto em adultos como em crianças.
Tendo em conta que estes problemas tendem a manter-se, ou mesmo agravar-se na
idade adulta, existe uma crescente preocupação em travá-los, até porque acarretam elevado
prejuízo para a economia dos países afetados.
Relativamente ao risco de o excesso de peso e a obesidade se estenderem à idade
adulta, foi feito, entre 1957 e 1964, um estudo longitudinal que incluiu 9000 jovens adultos
dos norte-americanos (Popkin & Gordon-Larsen, 2004). Durante o período em que decorreu
essa investigação, os sujeitos foram avaliados 13 vezes, tendo-se concluído que mais de 25%
eram obesos à data em que completaram 35 anos. Este exemplo ilustra bem a elevada
probabilidade que existe para crianças e adolescentes com excesso de peso ou obesidade se
tornarem adultos obesos, caso não sejam tomadas medidas de correção da dieta e aumento da
atividade física.
De acordo com o European Nutrition and Health Report 2009, apesar de nos últimos
anos se ter registado uma diminuição do aporte energético médio por pessoa em alguns países
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da Europa, o facto é que o número de indivíduos que tem peso a mais, nomeadamente
crianças e adolescentes, continua bastante elevado.
Portanto, atendendo à definição clássica de obesidade, o problema residirá no baixo
dispêndio energético, isto é, no elevado sedentarismo. No entanto, e como é defendido no
artigo de Yannakoulia e colaboradores, nos países do mediterrâneo, existe uma baixa adesão
à dieta tradicional, que é conhecida por ser equilibrada (2012), o que também poderá ajudar a
explicar a elevada prevalência do excesso peso em crianças e adolescentes.
A título de exemplo, refira-se a Espanha, país em que foi desenvolvido o programa
multimédia aplicado durante este trabalho de investigação, que regista mais de 20% de
crianças obsesas, entre os 2 e os 13 anos (Elmadfa & Freisling, 2009).
De acordo com o European Nutrition and Health Report 2009, Portugal está entre os
3 países com número mais elevado de indivíduos, entre os 4 e os 14 anos, com excesso de
peso ou obesidade. Mais especificamente, entre os 10 e os 14 anos, que corresponde à faixa
etária em que se encontra a maior parte dos alunos envolvidos no presente estudo, o relatório
aponta 19% de raparigas com excesso de peso e 6% de obesas. Para os rapazes, os números
são de 21% e 7%, respetivamente.
Conforme mencionado anteriormente, a correção do excesso de peso ou obesidade
com recurso a regimes alimentares altamente restritivos e exigentes tende a ser uma estratégia
inadequada, em parte devido ao risco destes regimes potenciarem a ocorrência de
perturbações do comportamento alimentar. Apesar disso, é importante clarificar que este tipo
de doenças surge também em indivíduos com peso normal.
Para além da obesidade, as perturbações alimentares têm constituído foco de atenção e
preocupação crescente, no que se refere à alimentação e à saude de jovens e adolecentes
(Cordeiro, 2009).
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As Perturbações do Comportamento Alimentar (PCA) são definidas como sendo
“distúrbios persistentes do comportamento alimentar ou comportamentos destinados à perda
de peso, que resultam em prejuízos para a saúde física e psicológica, e que não são
secundários a nenhuma outra patologia previamente diagnosticada” (Grave, 2003, p. 580),
não havendo critérios definidos para o peso prévio dos doentes.
A Anorexia Nervosa e a Bulimia são as PCA mais bem caracterizadas, embora se
reconheça a existência de outras perturbações, como a Binge que, tal como a bulimia, está
associada a períodos de ingestão alimentar compulsiva, mas que, contrariamente a esta, não
cursa com mecanismos compensatórios (e.g. vómito e ingestão de laxantes ou diuréticos).
Apesar destas doenças afetarem sobretudo adolescentes, ou pelo menos os primeiros
sintomas tenderem a surgir durante a adolescência, elas podem também manifestar-se noutras
fases da vida. Importa notar que, 9 em cada 10 casos, ocorrem em indivíduos do sexo
feminino. Estima-se que a anorexia nervosa afete 1 em cada 200 raparigas e 1 em cada 2000
rapazes (Cordeiro, 2009). A bulimia, por sua vez, é ainda mais frequente (Cordeiro, 2009).
A prevalência das PCA é maior em países industrializados, em que não existe
escassez de alimentos, e em que a magreza na mulher está associada a maior atratividade
(Rome, et al., 2003).
De entre os fatores que, reconhecidamente, maior influência têm no desenvolvimento
de PCA, destacam-se: Fatores Socioculturais, Dieta, Insatisfação Corporal, Autoestima,
Apoio Social, Coping, Hostilidade de terceiros, Obesidade, Perfecionismo, Interação Familiar
e Ambiente, Eventos Geradores de Stress e Depressão. Alguns deles estão em foco neste
estudo.
Relativamente à Dieta, não é inesperada a inclusão no rol de fatores influentes no
surgimento de PCA, tendo em conta a restrição alimentar típica da anorexia, a voracidade
14
seguida de purga comuns na bulimia, ou a oscilação entre diferentes padrões alimentares que
comummente são detetadas nos doentes.
Com efeito, a privação de alimentos autoinfligida parece conduzir a manifestações
psicológicas, tais como preocupações com comida e alimentação, labilidade emocional,
disforia e distractibilidade (Polivy, 1996, citado em Ghaderi, 2001, p. 59).
A Insatisfação Corporal, por outro lado, também tem um papel preponderante, sendo
bastante influenciada pela ação dos media. A divulgação de uma imagem corporal ideal, e a
subsequente comparação com a autoimagem, podem produzir no indivíduo uma grande
insatisfação, pelo facto de, na maioria das pessoas, esta comparação pôr em evidência
enormes diferenças.
Um estudo conduzido por Feingold and Mazella, em 1996, mostrou, nos 20-30 anos
que o precederam, uma tendência crescente, entre as mulheres, de insatisfação com a
autoimagem, a qual parece ter acompanhado a difusão, cada vez mais ampla, de modelos
magros e altos, em revistas e filmes (Ghaderi, 2001).
Estreitamente relacionada com a Satisfação, ou Insatisfação, Corporal, está a
Autoestima, que pode ser definida como sendo um sentimento de contentamento e
autoaceitação do indivíduo, resultante da apreciação que faz do seu valor, competência e
capacidade de satisfazer as suas aspirações (Attie & Brooks Gunn, 1989, citado por Ghaderi,
2001, p. 61).
Considerando os fatores que podem contribuir para as PCA, é expectável que se
advogue uma intervenção dirigida à aceitação do corpo, ao desenvolvimento de interesses e
valores que não estejam ligados à estética e à imagem, à potenciação de juízo crítico
relativamente à influência dos media e da sociedade em geral, à promoção de um regime
alimentar saudável, ao treino de estratégias de coping, ao controlo das emoções e à resolução
de conflitos interpessoais (Morales & Fuentes, 2008).
15
Esta intervenção deve ser o mais precoce possível, iniciando-se pelo menos na
adolescência, e ser dirigida sobretudo à prevenção, já que as ações com vista à cura destas
patologias são frequentemente mal sucedidas.
1.4 Programas escolares de promoção de saúde na adolescência
A Prevenção refere-se a qualquer ato que vise a alteração de circunstâncias que
promovam, iniciem, mantenham ou intensifiquem determinadas problemáticas, como por
exemplo as PCA (Levine & Maine, 2005).
Por Prevenção Primária, sobre a qual incide o presente estudo, entende-se o recurso a
programas ou esforços destinados a evitar a ocorrência de perturbação. Mais ainda, o trabalho
levado a cabo no âmbito da prevenção primária, tem o propósito de promoção da saúde.
A Prevenção Secundária, pelo contrário, implica uma intervenção dirigida à deteção
precoce da patologia, de modo que se possa travar a sua evolução.
No caso particular das PCA, dada a gravidade com que frequentemente se
manifestam, e a dificuldade que existe em tratá-las, a prevenção assume-se como a melhor
estratégia de combate ao problema e, por isso mesmo, como prioridade dos especialistas em
saúde pública (Yager & O'Dea, 2006). E em virtude da tendência que os doentes têm para
ocultar o problema, evitando pedir ajuda, deve privilegiar-se a prevenção primária.
Portanto, como sucede no programa divulgado no artigo de Morales e Fuentes, em
2008, e também no que deu origem ao presente trabalho, deve orientar-se a prevenção no
sentido de ajudar os destinatários a desenvolver estratégias que lhes permitam minimizar o
efeito dos fatores de risco de PCA.
A promoção da saúde na adolescência é, como se compreende, um enorme desafio.
Pelo trabalha que implica, e os riscos que comporta, deve ser encarada seriamente e envolver,
por um lado, equipas multidisciplinares de profissionais formados em cada uma das áreas
16
alvo de intervenção (exemplos: nutrição, dependências e sexualidade), por outro, todos os
agentes que de alguma forma participam na vida dos adolescentes, e que podem funcionar
como exemplos de conduta (pais, professores, etc.). Mas mais do que isso, é da maior
importância que o ambiente em que os adolescentes se inserem lhes proporcione condições
que favoreçam hábitos saudáveis.
Ora, no que respeita à alimentação, a tarefa de fazer com os adolescentes façam
escolhas saudáveis tem vindo a ser dificultada pela proliferação, em escolas e locais
próximos, de pontos de venda de fast food, máquinas de distribuição de snacks e outras
alternativas pouco adequadas. E apesar de estarem bem identificados os prejuízos para a
saúde resultantes do consumo reiterado deste tipo de alimentos, o seu baixo preço e o facto
de, alegadamente, serem agradáveis ao paladar, fez com que diminuisse o hábito de preparar
refeições caseiras.
Em face das modificações citadas, e do consequente aumento de crianças e
adolescentes com excesso de peso e obesidade, tem vindo a ser entregue às escolas a
responsabilidade de desenvolver programas de promoção de hábitos alimentares saudáveis. A
ideia de base é precisamente a de que as escolas constituem um ambiente privilegiado para a
implementação destes programas (Ferreira, 2005).
Um documento publicado em Portugal defende justamente a necessidade de promover
a educação sanitária, tal como se promove o ensino de qualquer outra disciplina, e aponta
várias razões para que este trabalho seja feito nas escolas (Precioso, 2004):
- Em primeiro lugar, todas as crianças e adolescentes passam por um qualquer sistema
de ensino, pelo que esta é a melhor forma de abranger estas faixas etárias na sua globalidade.
- Por outro lado, vários estudos mostram que é na infância e adolescência que se
estabelecem as rotinas e condutas que tendem a ser adotadas ao longo de toda a vida.
17
- Além disso, é em idades precoces que a recetividade a conteúdos teóricos e práticos
está otimizada.
- Finalmente, é nas escolas que se encontram, à partida, os profissionais mais bem
preparados para esta tarefa, e não raramente, é às escolas que acorrem outros grupos
profissionais (exemplos: psicólogos e enfermeiros), importantíssimos para o processo.
Porém, é necessário levar a cabo mudanças no espaço escolar, de forma que os
programas não estejam à partida condenados ao insucesso, por promoverem algo que entra
em contradição com aquilo que o ambiente oferece.
Outro aspeto que deve ser tido em conta, refere-se à necessidade de os responsáveis
pela implementação destes programas conhecerem bem as características dos destinatários,
nomeadamente em relação ao seu estádio de desenvolvimento e contexto social.
Nesta perspetiva, os resultados de determinada intervenção estão fortemente
dependentes das adaptações feitas em função da população-alvo, podendo estas ser orientadas
com o apoio do psicólogo. O trabalho do psicólogo é mesmo muito importante, na medida em
que este executa funções de consultor, formador e dinamizador (Barros, 2003). A sua ação é,
por isso, suscetível de otimizar os efeitos do trabalho de outros profissionais.
Os programas de educação alimentar implementados devem servir, como refere
Gonçalves Ferreira (2005), três objetivos essenciais:
- Motivar para a aceitação da mudança na alimentação e, simultaneamente, propor
condutas alimentares corretas.
- Assegurar a divulgação dos fatores que influenciam a nutrição, veiculando a
informação respeitante aos alimentos e à forma como devem ser combinados na elaboração
de refeições.
- Promover a capacidade de seleção dos alimentos mais favoráveis a cada indivíduo.
18
Nos últimos anos, tem havido uma enorme proliferação de programas dirigidos a
crianças e jovens em idade escolar, com o propósito de prevenir a obesidade e as PCA.
A educação alimentar encontra-se entre o grupo de medidas fundamentais para
promover escolhas saudáveis de alimentos, já que a ignorância em relação a estas questões
tem enorme influência sobre o estado nutricional dos adolescentes (Sachithananthan,
Buzgeia, Awad, Omran, & Faraj, 2012).
Os conhecimentos sobre nutrição são reconhecidamente um meio importante para
sensibilizar os adolescentes relativamente às suas necessidades nutricionais, o que justifica a
seu papel na prevenção de doenças crónicas (Sachithananthan, Buzgeia, Awad, Omran, &
Faraj, 2012).
Deste modo, a Organização Mundial de Saúde tem defendido a difusão de informação
e a organização de programas vocacionados para este objetivo, de modo a serem alertadas as
entidades governamentais e as comunidades sobre a importância da educação para a saúde
(2009, citado por Sachithananthan, Buzgeia, Awad, Omran, & Faraj, 2012, p. 173).
Os primeiros programas elaborados apostavam numa abordagem didática, em que o
foco era o fornecimento de informação, relacionada com nutrição, imagem corporal e
perturbações do comportamento alimentar. E apesar deste tipo de abordagem se ter mostrado
eficaz na divulgação das PCA, os efeitos reais a nível da modificação de condutas pouco
saudáveis revelaram-se modestos.
A chamada “segunda geração” de programas inovou pela introdução de uma
abordagem mais interativa, com grande incidência sobre a correção dos hábitos pouco
saudáveis. Neste caso, os participantes eram incitados, sob várias formas, a emitir juízos
críticos sobre o “corpo magro ideal”, tendo em vista a modificação de crenças e
comportamentos inadequados.
19
Finalmente, os programas preventivos caminharam no sentido de melhorar a imagem
corporal dos participantes e, consequentemente, a sua autoestima.
Portanto, as intervenções abandonaram a abordagem exclusivamente didática, de
transmissão de conhecimentos sobre alimentos e nutrição, e começaram a investir no
desenvolvimento da capacidade crítica, já que este parece ser um bom preditor de escolhas
saudáveis (Loureiro, 2004). Salientar a dimensão social, e não tanto os nutrientes, poderá ser
então, uma boa estratégia a adotar em educação alimentar (Loureiro, 2004).
Com efeito, e apesar dos estudos nunca terem mostrado resultados espetaculares em
nenhuma das abordagens, alguns autores defendem que estas iniciativas são vantajosas, sendo
desejável a sua disseminação pela generalidade das escolas.
Tal como defendem Veugelers e Fitzgerald (2005), a implementação de programas
escolares intensivos e multifacetados é eficaz na prevenção da obesidade infantil. Todavia,
esta eficácia é muitas vezes mascarada pelo facto dos referidos programas serem
preferencialmente dirigidos a escolas onde já existem níveis elevados de obesidade.
Apesar de não haver unanimidade nas conclusões dos estudos de eficácia dos
programas escolares de promoção de saúde, a análise do design dos que são mais bem
sucedidos, mostra que estes comportam uma intervenção multifacetada, dirigida às escolas,
famílias e comunidades (Power, Bindler, Goetz, & Daratha, 2010).
O programa apresentado por Power e seus colaboradores (2010), denominado TEAMS
(Teen Eating and Activity Mentoring in Schools) tem precisamente este caráter multifacetado,
envolvendo estudantes (7º e 8º anos de escolaridade), pais e professores. Os conteúdos
trabalhados no TEAMS englobam crenças sobre a relação entre os comportamentos dos
adolescentes e a saúde, os seus hábitos alimentares e de atividade física, bem como as
preferências, influências e barreiras associadas a esses hábitos. Além disso, são também
discutidas recomendações sobre intervenções que visem a promoção da atividade física e das
20
condutas alimentares saudáveis durante a adolescência. Importa sublinhar que os resultados
deste trabalho mostram que os adolescentes mais jovens compreendem que fatores como a
alimentação, a atividade física e os hábitos de sono estão implicados na saúde, mas apesar
disso, as suas preocupações recaem sobre às consequências de curto-prazo que a esses fatores
estão associadas, tais como controlo do peso, energia ao longo do dia ou performance
desportiva. (Power, Bindler, Goetz, & Daratha, 2010).
Num programa de educação alimentar envolvendo 200 alunos entre os 14 e os 21
anos, oriundos de seis escolas de Bengazhi, em que o foco era a divulgação de informação
sobre nutrição, verificou-se uma diminuição na ingestão de alimentos muito calóricos e de
baixo valor nutricional, tais como chocolates e batatas fritas, embora não se tenham registado
alterações significativas no Índice de Massa Corporal ou nos níveis de atividade física
(Sachithananthan, Buzgeia, Awad, Omran, & Faraj, 2012). Ora, da própria definição de
obesidade decorre que, por si só, a correção de alguns hábitos alimentares poderá não ser
suficiente para evitar o excesso de peso, sobretudo se se considerar um período de tempo
curto. Portanto, como referem Sachithananthan e colaboradores (2012), para que uma
intervenção tenha um impacto significativo, é necessário que tenha uma duração de 6 meses a
1 ano. Além disso, recomenda-se a realização de ações de follow-up.
Por conseguinte, é necessário ter em conta que alguns programas são pouco eficazes,
e outros podem ter efeitos contrários aos desejados. Mais concretamente, os programas
escolares com o intuito de promover condutas alimentares saudáveis e, desse modo, prevenir
a obesidade e as PCA, podem, por exemplo, levar à rotulagem dos indivíduos com excesso de
peso, o que favorece a adoção de condutas altamente restritivas ao nível da dieta. Este risco
deve pois, ser tido em conta por todos os envolvidos no desenvolvimento e implementação de
programas preventivos (Yager & O'Dea, 2005).
21
Mesmo considerando os riscos associados a este tipo de intervenção, existem estudos
que sustentam a utilidade dos programas de prevenção.
Na verdade, são vários os programas que provaram ser capazes de diminuir
comportamentos de risco de PCA. Em alguns deles, verificou-se que os benefícios
permaneciam até 2 anos após a intervenção (Stice & Shaw, 2004). Mas nem todos atuam ao
mesmo nível, nem da mesma forma, o que significa que a magnitude do seu sucesso também
não é equivalente.
Na análise de Stice e Shaw, é salientado que as intervenções mais eficazes costumam
ter como destinatário um grupo restrito, de características bem definidas, são interativos, e
não exclusivamente didáticos, e decorrem ao longo de várias sessões. Adicionalmente, os
efeitos são mais satisfatórios nos programas dirigidos apenas a indivíduos do sexo feminino,
e com mais de 15 anos, o que corresponde à tipologia do grupo de maior risco de
desenvolvimento de PCA. Finalmente, os autores referem que os programas que não revelam
explicitamente ter como objetivo a prevenção das PCA são mais eficazes.
Em 2007, Stice, Shaw e Marti publicaram uma análise reiterando as conclusões
apresentadas no parágrafo anterior, e acrescentando que existem outras variáveis que
aumentam a probabilidade de sucesso das intervenções. Assim, parece ser vantajoso
implementar os programas com o apoio de especialistas nas temáticas em causa (saúde,
nutrição e PCA), embora possa haver sucesso sem que tal aconteça. Há também evidência de
que os projetos que contemplam um período de follow-up alcançam melhores resultados do
que os que o não fazem.
O programa que deu origem ao presente trabalho resulta de uma tradução e adaptação
de um programa espanhol intitulado Alimentación, modelo estético femenino y medios de
comunicación: Cómo formar alumnos críticos en educación secundaria, desenvolvido em
2008.
22
Num estudo feito com adolescentes espanholas, com uma média de idades de 13.5,
verificou-se a eficácia deste programa na melhoria dos conhecimentos de nutrição das
participantes (Raich, Sánchez-Carracedo, & López-Guimerà, 2008).
Numa outra investigação, constatou-se igualmente a sua utilidade na diminuição da
pressão para perder peso, bem como uma melhoria na conduta alimentar, além do aumento do
conhecimento nutricional, sobretudo em grupos de risco (Raich, Portell, & Peláez –
Fernández, 2010).
Ainda com recurso a este programa, foi feito um estudo com adolescentes, desta vez
de ambos os sexos, em que se observou uma diminuição do receio de ganhar peso e,
consequentemente, uma menor tendência para dietas altamente restritivas, as quais, como
sabe, aumentam o risco de desenvolvimento de PCA. Este último estudo contemplou um
follow-up a 30 meses, tendo-se constatado a manutenção dos resultados enunciados
(González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011). No entanto, e embora as conclusões sejam
animadoras, ficou claro que os conhecimentos nutricionais per si não são suficientes para
produzir melhorias na conduta alimentar e reduzir os comportamentos alimentares
perturbados. O sucesso a este nível estará então relacionado com a abordagem metodológica,
ou seja, com a forma como são trabalhados os conteúdos (González, Penelo, Gutiérrez, &
Raich, 2011). De facto, mais do que transmitir informação, deve potenciar-se a participação
ativa dos destinatários e a aplicação prática dos conhecimentos no dia a dia (González,
Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011). Por isso mesmo, foram introduzidas algumas alterações
metodológicas na aplicação do programa a adolescentes portugueses, conforme se encontra
descrito adiante.
23
CAPÍTULO 2: OBJETIVOS
O objetivo geral do presente estudo, que se integra num projeto alargado, consiste na
comparação dos resultados do programa multimédia Alimentação, modelo estético feminino e
meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário,
considerando, por um lado, o módulo Alimentação e Nutrição (NUT) isolado e, por outro, a
intervenção com os módulos Modelo estético feminino (MEF)+ Modelo estético feminino nos
media (ML), nas variáveis comportamento alimentar e conhecimento nutricional.
Os objetivos específicos são os seguintes:
(1) - Caracterização da amostra quanto aos Hábitos alimentares e Conhecimento
nutricional.
(2) - Avaliação do impacto do programa, comparando os resultados dos três momentos
de avaliação (Pré-teste, Pós-teste e Follow-up), para as condições experimentais (MEF+ML)
e (NUT), considerando as variáveis:
- Peq_almoço_semana (nº de vezes que toma o pequeno-almoço durante a semana);
- Peq_almoço_fds (nº de vezes que toma o pequeno-almoço durante o fim de semana);
- Q7_a_frutas (consumo semanal de frutas);
- Q7_b_vegetais (consumo semanal de vegetais);
- Q7_c_doces (consumo semanal de doces);
- Q7_d_refrigerantes (consumo semanal de refrigerantes);
- Q7_e_carne (consumo semanal de carne);
- Q7_f_peixe (consumo semanal de peixe);
- Q7_g_farináceos (consumo semanal de farináceos);
- Q7_h_lacticínios (consumo semanal de lacticínios);
- EAT_TOTAL (comportamentos alimentares perturbados);
- NUT_TOTAL (conhecimento nutricional).
24
É de salientar que, inicialmente, estava previsto fazer-se a comparação com uma outra
condição experimental (MEF+ML+NUT), mas este objetivo foi abandonado, em virtude de
ter havido desistência de um número elevado de sujeitos ao longo das várias sessões.
25
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA
Este estudo baseou-se na tradução, adaptação e aplicação do programa mulimédia espanhol
Alimentación, modelo estético femenino y medios de comunicacion – como formar
alumnos críticos en educación secundaria, em 3 turmas do 8º ano de escolaridade.
O programa é constituído por três módulos distintos, estado dois deles relacionados com
o modelo estético feminino (Modelo estético feminino e Modelo estético feminino nos media)
e outro ligado à temática da alimentação e nutrição (Alimentação e Nutrição).
Conforme está descrito no Quadro 1, a aplicação do programa foi feita sob diferentes
condições experimentais, de modo a poder ser comparado o impacto dos módulos Modelo
estético feminino + Modelo estético feminino nos media com o do módulo Alimentação e
Nutrição, que adiante serão descritos.
3.1 Caracterização sociodemográfica da amostra
Tabela 2. Caracterização da amostra por Género
Condição Experimental Género Frequência %
Feminino 8 47.1
MEF+ML Masculino 9 52.9
Total 17 100.0
Feminino 9 39.1
NUT Masculino 14 60.9
Total 23 100.0 Como se verifica, a amostra total é constituída por 40 sujeitos, sendo que à condição
experimental MEF+ML correspondem 8 raparigas e 9 rapazes, e à condição experimental
NUT 9 raparigas e 14 rapazes.
26
Tabela 3. Caracterização da amostra por Idade
Condição Experimental Idade Frequência %
MEF+ML
13 13 76.5
14 3 17.6
15 1 5.9
Total 17 100.0
NUT
13 14 60.9
14 8 34.8
15 1 4.3
Total 23 100.0
A amostra é constituída por sujeitos de 13, 14 e 15 anos, embora haja predomínio de
alunos com 13 anos (76.5% na condição experimental MEF+ML e 60.9% na condição
experimental NUT).
Tabela 4. Caracterização da amostra por Situação Familiar
Condição Experimental Idade Frequência %
MEF+ML
Nuclear Intacta 10 58.8
Nuclear Reconstruída
1 5.9
Monoparental 3 17.6
Transgeracional 2 11.8
Total 16 94.1
NUT
Nuclear Intacta 15 65.2
Nuclear Reconstruída
2 8.7
Monoparental 3 13.0
Transgeracional 2 8.7
Família Alargada 1 4.3
Total 23 100.0
27
Em ambas as condições experimentais os sujeitos provêm, maioritariamente de famílias
nucleares intactas (58.8% na condição MEF+ML e 65.2% na condição NUT).
Tabela 5. Caracterização da amostra por Nível Socioeconómico (NSE)
Condição Experimental NSE Frequência %
MEF+ML
Baixo 2 11.8
Médio 10 58.8
Médio-alto e Alto 5 29.4
Total 17 100.0
NUT
Baixo 9 39.1
Médio 8 34.8
Médio-alto e Alto 6 26.1
Total 23 100.0
Na condição experimental MEF+ML, 58.8% dos sujeitos são de NSE médio, 29.4% são
de NSE médio-alto e alto e a menor percentagem corresponde aos indivíduos de NSE baixo
(11.8%).
Pelo contrário, na condição experimental NUT, a maior percentagem corresponde a
indivíduos de NSE baixo (39.1%), seguida da de NSE médio (34.8%) e, finalmente , a menor
percentagem refere-se a alunos de NSE médio-alto e alto (26.1%).
3.2 Estruturação do Programa e Instrumentos de Avaliação
3.2.1 Estruturação do Programa
Programa multimédia Alimentação, modelo estético feminino e meios de
comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário (Adaptado do
programa espanhol Alimentación, modelo estético femenino y medios de comunicacion –
como formar alumnos críticos en educación secundaria, 2008)
28
Este programa é constituído por três unidades/ módulos:
- Unidade/ módulo 1: Modelo estético feminino (MEF) – Visa promover uma reflexão
sobre o modelo estético feminino em voga na nossa sociedade, bem como sobre a sua
evolução ao longo dos tempos, e a sua variabilidade geográfica e cultural.
- Unidade/ módulo 2: O modelo estético feminino nos media (ML) – Pretende orientar
os sujeitos na descodificação de mensagens veiculadas pelos media, e desenvolver o seu juízo
crítico relativamente a essas mensagens.
- Unidade/ módulo 3: Alimentação e Nutrição (NUT) - Tem como objetivos o
fornecimento de informação sobre os alimentos e como manter uma alimentação equilibrada,
e a correção de crenças erradas, potencialmente desencadeantes de perturbações do
comportamento alimentar.
3.2.2 Instrumentos de Avaliação
Seguindo o protocolo utilizado no estudo congénere espanhol, neste estudo foram
utilizados, para além do questionário de dados pessoais e sócio-demográficos, o Questionário
sobre saúde física e alimentação (Adaptado do estudo internacional Health Behaviour in
School-aged Children, 2010), Eating Attitudes Test-26 (EAT-26, Garner et al., 1982; versão
portuguesa Francisco et al., 2011) e o Questionário de Nutrição (NUT-Q, Raich et al., 2008).
3.2.2.1 Questionário geral de dados pessoais e sociodemográficos
Este questionário teve como propósito a recolha de dados pessoais e sociodemográficos
dos participantes, designadamente: idade, ano de escolaridade, peso, altura, agregado
familiar, profissão e nível de escolaridade dos pais.
29
3.2.2.2 Questionário sobre saúde física e alimentação (Adaptado do estudo
internacional Health Behaviour in School-aged Children, 2010)
Trata-se de um instrumento que visa a obtenção de dados dos participantes,
relacionados com alguns aspetos da sua saúde e conduta alimentar: idade da menarca
(raparigas) ou da mudança de voz (rapazes), realização, ou não, de dieta no momento da
avaliação, apreciação, por parte do próprio, do seu estado de saúde e do peso, frequência com
que faz atividade física, frequência com que toma o pequeno-almoço e regularidade com que
consome determinados grupos de alimentos.
As variáveis sobre as quais incide o presente estudo são: frequência com que toma o
pequeno-almoço (durante a semana e ao fim de semana) e consumo semanal dos vários
grupos alimentares (frutas, vegetais, doces, refrigerantes, carne, peixe, farináceos e
lacticínios).
3.2.2.3 Eating Attitudes Test-26 (EAT-26, Garner et al., 1982; versão portuguesa
Francisco et al., 2011)
Trata-se de um questionário autorrelato destinado à identificação de comportamentos
alimentares perturbados. A versão original do EAT (EAT-40) era constituída por 40 itens de
múltipla escolha. Contudo, em 1982, Garner, Olmsted, Bohr e Garfinkel apresentaram a
versão abreviada (EAT-26) com 26 itens, estabelecendo como ponto de corte os 20 pontos,
como um indicador positivo da possibilidade de existência de uma perturbação alimentar.
Os itens estão divididos por três escalas ou fatores:
- Dieta, que se dirige à recusa patológica de comidas de elevado valor calórico e à
preocupação intensa com a forma física;
30
- Bulimia e Preocupação com os Alimentos, que pretende despistar a ocorrência de
episódios de ingestão compulsiva de alimentos, seguida de vómito e/ou de outros
comportamentos levados a cabo com o objetivo de evitar o aumento de peso;
- Controlo Oral, que reflete o autocontrolo em relação aos alimentos e eventuais
pressões sociais que estimulam a ingestão alimentar.
O EAT-26 está estruturado como uma escala de Likert de 6 pontos, em que o
participante seleciona, para cada item, uma das 6 respostas alternativas: (A) Sempre, (B)
Frequentemente, (C) Muitas vezes, (D) Algumas vezes, (E) Raramente, e (F) Nunca.
O somatório é realizado com as pontuações das 3 primeiras respostas alternativas
(Sempre-3 pontos, Frequentemente-2 pontos, e Muitas vezes-1ponto), exceto no item 25, que
tem os valores invertidos (Algumas vezes-1ponto, Raramente-2 pontos, e Nunca-3 pontos)
(Garner, et al, 1982).
As subescalas não foram utilizadas de forma independente como indicadores de
comportamento alimentar perturbado, tendo-se antes recorrido ao índice global, que
corresponde ao somatório dos 26 itens.
Neste estudo foi usada uma versão portuguesa do instrumento (Francisco, Oliveira,
Santos, & Novo, 2011d), tendo a escala boa consistência interna (α =,91).
3.2.2.4 Questionário de Nutrição (NUT-Q, Raich et al., 2008)
O questionário original foi criado propositadamente para utilização num estudo
longitudinal, realizado em Espanha, com uma amostra de 317 adolescentes (Raich et al.,
2008).
Trata-se de um instrumento que visa a avaliação de conhecimentos de nutrição,
relativos a determinados grupos de alimentos. O questionário consiste em 10 perguntas de
escolha múltipla, sendo a pontuação total variável entre 0 e 10 pontos (González, Penelo,
31
Gutiérrez & Raich, 2011, p. 63). Esse resultado é obtido pelo somatório da pontuação de cada
uma das respostas, a qual pode ser 0 (resposta errada) ou 1 (resposta certa).
A consistência interna no início do estudo espanhol foi baixa (α =,53), tendo sido maior
no reteste (α =,72).
No presente estudo foi usada uma tradução portuguesa deste instrumento, da
reponsabilidade das investigadoras principais do estudo.
3.3 Procedimento Experimental
Este estudo teve como base a aplicação, em ambiente de sala de aula, de uma adaptação
portuguesa do programa multimédia Alimentación, modelo estético femenino y medios de
comunicacion – como formar alumnos críticos en educación secundaria, com a designação
Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos
com juízo crítico no ensino secundário.
A aplicação foi feita durante sessões semanais de 90 minutos, em semanas
consecutivas, sendo que para cada módulo foram requeridas 3 sessões.
Além das 3 sessões utilizadas para cada módulo, fizeram-se ainda, para cada condição
experimental, duas outras sessões, uma precedendo a aplicação do programa propriamente
dito, na qual foi explicado aos sujeitos o propósito do estudo e a sua participação no mesmo,
e em que também foi feita a primeira recolha de informação (Pré-teste), e outra, um mês após
a aplicação do programa, para follow-up.
A aplicação foi feita com a colaboração de 3 turmas do 8º ano de escolaridade,
pertencentes a escolas da grande Lisboa, e compreendeu então 3 momentos essenciais de
recolha de informação: Pré-teste, antes da aplicação do programa, Pós-teste, depois da
aplicação do programa, e Follow-up, 1 mês depois. A recolha de informação fez-se através de
um protocolo formado por um conjunto de 6 questionários:
32
- Questionário geral de dados pessoais e sócio-demográficos;
- Questionário sobre saúde física e alimentação (Adaptado do estudo internacional
Health Behaviour in School-aged Children, 2010);
- Sociocultural Attitudes towards Appearance Questionnaire (SATAQ, Heinberg et
al., 1995; versão portuguesa Francisco et al., 2011) ;
- Contour Drawing Rating Scale (CDRS, Thompson & Gray, 1995; versão portuguesa
Francisco et al., 2011) ;
- Eating Attitudes Test-26 (EAT-26, Garner et al., 1982; versão portuguesa Francisco
et al., 2011) ;
- Questionário de Nutrição (NUT-Q, Raich et al., 2008).
O recurso a escolas diferentes teve como objetivo submeter os sujeitos a diferentes
condições experimentais, de modo a avaliar a eficácia de diferentes módulos isoladamente,
mais especificamente, a eficácia dos módulos MEF+ML e a do módulo NUT.
Importa salientar que este estudo se foca preferencialmente no módulo NUT, pelo que
apenas foram exaustivamente descritos os instrumentos que permitiram trabalhar a sua
influência (EAT-26 e NUT-Q). No entanto, foi usado um conjunto alargado de questionários,
conforme se pode verificar pela lista anteriormente apresentada.
A aplicação do programa multimédia obedeceu às indicações que figuram no guião da
versão original, tendo, contudo, sido introduzidas algumas alterações de caráter
metodológico. Assim, foram associadas duas atividades ao módulo NUT, com o intuito de
tornar o trabalho com os alunos mais interativo:
- Discussão de Menus: No final da aplicação deste módulo foi apresentada uma
listagem com vários menus, sendo que alguns deles eram desequilibrados, por conterem
excesso de gorduras, hidratos de carbono ou proteínas, e outros equilibrados. Foi então
33
pedido aos alunos que fizessem uma apreciação desses menus, e que indicassem o
desequílibrio dominante, caso existisse.
- Refeições Saudáveis e Não Saudáveis: Foi ainda solicitado aos sujeitos que
preenchessem uma ficha referindo refeições “saudáveis” e “não saudáveis” que tivessem feito
na semana anterior, bem como os aspetos que tinham favorecido a realização da “refeição
saudável” (exemplo: haver alimentos disponíveis) ou, no caso da refeição considerada “não
saudável”, os que tinham concorrido para essa forma pouco correta de alimentação (exemplo:
não haver o hábito de cozinhar na família).
Além destas atividades, foi ainda oferecido um Diploma (reforço positivo) a todos os
alunos que completaram o programa, de acordo com as condições experimentais definidas
para a sua escola.
3.4 Procedimento de análise de dados
O programa usado para a análise estatística dos dados foi o SPSS STATISTICS 19,
cujos resultados serão apresentados de acordo com a sua relevância. Tendo em conta a
dimensão da amostra, foram utilizados testes não-paramétricos.
A análise estatística começou pela determinação dos coeficientes de correlação de
Spearman, para estudo da associação entre as variáveis em causa.
De seguida, para comparar os resultados obtidos nos três momentos de avaliação, para
cada condição experimental (amostras emparelhadas), foi usado o Teste ANOVA de
Friedman.
Posteriormente, nas variáveis em que foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas (p < .05), recorreu-se ao Teste de Wilcoxon, com o intuito de se determinar em
que momento da aplicação do programa tinham ocorrido as diferenças encontradas. Note-se
que, nestes casos, procedeu-se à correção de Bonferroni, ou seja, ao invés de se considerar o
34
valor de significância .05, considerou-se .0167, correspondente ao valor da significância
dividido pelo nº de testes Wilcoxon realizados (.05/3 = .0167).
Além disso, foi ainda usado o Teste de Mann-Whitney, para comparar as diferenças
entre as duas condições experimentais (amostras independentes), em cada um dos 3
momentos, relativamente às variáveis consideradas.
Quadro 1. Condições Experimentais
Condição Experimental Módulos Aplicados
MEF+ML Modelo estético feminino (MF)
O modelo estético feminino nos media (ML)
NUT Alimentação e nutrição (NUT)
35
CAPÍTULO 4: RESULTADOS
Por uma questão de simplificação da apresentação de resultados, apenas se apresentam
tabelas da estatística descritiva e das análises em que se verificou uma diferença de resultados
com significância estatística.
4.1 Caracterização da amostra quanto aos Hábitos alimentares e Conhecimento
nutricional
Na tabela 6 estão descritos os valores das médias e respetivos desvios-padrão (DP) de
cada variável, por género, momento (Pré-teste, Pós-teste e Follow-up) e condição
experimental (MEF+ML e NUT).
Na tabela 7 são apresentados os valores das medianas. Esta medida de tendência central
é importante neste estudo, em virtude de terem sido usados testes não-paramétricos na análise
estatística.
36
Tabela 6. Estatística Descritiva – Comparação de médias e DP das variáveis em estudo nos 3 momentos, por género e condição experimental
MEF+ML NUT
Género Pré-teste
m/dp Pós-teste
m/dp Follow-up
m/dp Pré-teste
m/dp Pós-teste
m/dp Follow-up
m/dp
Peq_almoço_semana Feminino 4.00 (1.51) 4.00 (1.77) 4.00 (1.77) 4.11 (1.83) 3.89 (1.83) 4.11 (1.54) Masculino 4.11 (1.83) 4.22 (1.72) 4.11 (1.83) 4.29 (1.82) 4.64 (1.34) 4.31 (1.50)
Peq_almoço_fds Feminino 1.75 (.46) 1.63 ( .52) 1.63 ( .74) 1.67 ( .71) 1.44 ( .88) 1.89 ( .33) Masculino 1.56 (.73) 1.56 (.52) 1.78 (.44) 2.00 (.00) 1.93 (.27) 2.00 (.00)
Q7_a_frutas Feminino 3.63 (1.19) 3.63 (1.19) 3.13 (.35) 4.00 (1.12) 4.00 (1.12) 4.78 (1.20) Masculino 3.44 ( .73) 3.33 ( .71) 3.67 (1.00) 4.50 (1.74) 4.46 (1.51) 4.54 (1.45)
Q7_b_vegetais Feminino 3.50 (1.93) 3.13 (.84) 2.75 (1.17) 3.56 (1.42) 3.11 (1.83) 3.62 (1.26) Masculino 3.44 (1.59) 3.22 (.67) 3.44 ( .73) 3.21 (1.31) 3.08 (1.38) 3.56 (1.94)
Q7_c_doces Feminino 3.00 ( .00) 3.29 (.49) 3.22 (1.30) 3.22 (1.79) 3.00 (1.50) 3.11 (1.76) Masculino 3.22 (1.30) 3.33 (1.66) 3.00 ( .76) 3.29 (1.49) 3.14 (1.35) 3.38 (1.50)
Q7_d_refrigerantes Feminino 2.25 (1.49) 2.63 (1.30) 2.62 (1.19) 3.67 (1.80) 2.78 (2.11) 3.44 (2.07) Masculino 3.89 (2.21) 3.56 (1.51) 3.67 (2.00) 3.21 (1.72) 2.86 (1.66) 3.15 (1.63)
Q7_e_carne Feminino 3.62 (.74) 3.75 (1.04) 3.75 ( .71) 3.67 ( .50) 3.56 ( .73) 4.00 ( .87) Masculino 4.00 (1.23) 4.22 (1.39) 4.00 (1.23) 4.21 (1.05) 4.14 (1.23) 4.08 (1.12)
Q7_f_peixe Feminino 3.00 (.00) 3.11 ( .60) 3.38 ( .74) 3.22 ( .83) 3.22 ( .44) 3.78 ( .83) Masculino 2.78 (.67) 3.13 (.35) 2.78 (1.20) 2.93 (1.33) 3.14 (1.46) 3.38 (1.04)
Q7_g_farináceos Feminino 4.38 (1.41) 3.75 (1.04) 4.13 (1.25) 4.78 (1.09) 4.78 (1.20) 4.44 (1.24) Masculino 3.56 (.53) 4.44 (1.24) 4.11 (1.17) 4.57 (1.40) 4.43 (1.34) 4.77 (1.09)
Q7_h_lacticínios Feminino 5.00 (1.41) 4.88 (1.25) 4.75 (1.39) 5.67 ( .50) 4.78 (1.20) 4.78 (1.20) Masculino 4.89 (1.05) 5.33 (1.32) 5.00 (1.23) 5.36 (1.15) 5.00 (1.18) 5.23 (1.01)
EAT_TOTAL Feminino 16.63 (14.40) 16.25 (14.95) 12.25 (12.51) 8.00 (3.71) 8.89 (6.55) 8.56 (6.54) Masculino 6.22 (3.53) 7.11 (5.11) 9.89 (10.40) 6.36 (5.18) 4.23 (4.49) 4.15 (3.69)
NUT_TOTAL Feminino 4.38 (1.60) 4.6 ( .92) 4.88 (1.25) 4.22 (1.79) 5.89 (2.03) 6.22 (1.92) Masculino 4.22 (1.56) 5.78 (2.44) 5.11 (1.05) 4.21 (1.53) 4.93 (1.73) 5.67 (2.53)
37
Tabela 7. Estatística Descritiva – Comparação de medianas das variáveis em estudo nos 3 momentos, por género e condição experimental
MEF+ML NUT Género Pré-teste Pós-teste Follow-up Pré-teste Pós-teste Follow-up
Peq_almoço_semana Feminino 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00
Masculino 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00
Peq_almoço_fds Feminino 2.00 2.00 2.00 2.00 2.00 2.00 Masculino 2.00 2.00 2.00 2.00 2.00 2.00
Q7_a_frutas Feminino 3.50 3.50 3.00 4.00 4.00 5.00 Masculino 4.00 3.00 3.00 5.50 5.00 5.00
Q7_b_vegetais Feminino 3.00 3.00 3.00 3.00 3.00 3.00 Masculino 4.00 3.00 4.00 4.00 3.00 4.00
Q7_c_doces Feminino 3.00 3.00 3.00 2.00 2.00 2.00 Masculino 3.00 3.00 3.00 3.00 3.00 3.00
Q7_d_refrigerantes Feminino 3.00 3.00 3.00 4.00 3.00 3.00 Masculino 3.00 3.00 3.00 3.00 2.50 3.00
Q7_e_carne Feminino 3.50 3.50 4.00 4.00 3.00 4.00 Masculino 4.00 4.00 4.00 4.00 4.00 4.00
Q7_f_peixe Feminino 3.00 3.00 3.50 3.00 3.00 4.00 Masculino 3.00 3.00 3.00 3.00 3.00 3.00
Q7_g_farináceos Feminino 4.00 3.50 4.00 5.00 5.00 4.00 Masculino 4.00 4.00 4.00 5.00 4.50 5.00
Q7_h_lacticínios Feminino 6.00 5.00 5.00 6.00 5.00 5.00 Masculino 4.00 6.00 6.00 6.00 5.50 6.00
EAT_TOTAL Feminino 13.00 10.50 8.00 8.00 8.00 8.00 Masculino 6.00 8.00 3.00 5.00 3.00 3.00
NUT_TOTAL Feminino 4.50 5.00 5.00 5.00 7.00 7.00 Masculino 4.00 6.00 5.00 4.00 5.00 6.00
38
No que diz respeito aos valores médios das variáveis em estudo, é de realçar que,
relativamente à frequência com que os adolescentes tomam o pequeno-almoço durante a
semana, em quase todos os momentos, e para qualquer condição experimental, quer os
rapazes quer as raparigas, fazem esta refeição pelo menos 4 vezes por semana. A exceção é
feita para as raparigas sujeitas à condição NUT que, no Follow-up, apresentam um valor de
3.89. De notar que a variável Peq_almoço_semana tem, nesta amostra, valor máximo igual a
5 e mínimo igual a 0.
Ao fim de semana, todos os jovens tomam o pequeno-almoço pelo menos num dos
dias, e no caso dos rapazes sujeitos à condição NUT, o valor no Pré-teste e Follow-up é
mesmo de 2.00.
Na análise do resultados relativos ao consumo semanal médio dos vários tipos de
alimentos, observa-se que o valor mais baixo (m2.25) se refere aos refrigerantes, sendo
registado no Pré-teste, em raparigas sujeitas à condição MEF+ML. O valor mais elevado
(m5.67), por outro lado, refere-se aos lacticínios, e é registado no Pré-teste, em rapazes
sujeitos à condição NUT.
Relativamente à variável EAT_TOTAL, o valor mais elevado (m16.63) surge em
raparigas, no Pré-teste, associado à condição experimental MEF+ML, enquanto que o mais
baixo (m4.14) se regista em rapazes, no Follow-up, para a condição NUT.
Finalmente, em respeito à variável NUT_TOTAL, importa referir que os valores mais
baixos, tanto para raparigas como rapazes, são registados no Pré-teste, independentemente da
condição a que são submetidos. Por outro lado, é de salientar que, na condição experimental
NUT, contrariamente ao que sucede na MEF+ML, o valor médio desta variável aumenta do
Pré-teste para o Pós-teste, e deste para o Follow-up.
39
4.2 Avaliação do impacto do programa
A tabela 8 apresenta os resultados do Teste de ANOVA de Friedman, ou seja, mostra as
variáveis em que se verificaram diferenças entre o início e o final do estudo, para cada
condição experimental.
Tabela 8. Teste de ANOVA de Friedman
Condição experimental Variáveis Género χ2 p-value
MEF+ML
EAT_TOTAL
Feminino 7.20 .03
Masculino .42 .86
NUT
Q7_d_refrigerantes Feminino 8.40 .01
Masculino 2.00 .40
NUT_TOTAL Feminino 7.47 .02
Masculino 2.91 .23
Como se observa, na condição experimental MEF+ML verificaram-se diferenças
estatisticamente significativas entre o início e o final do estudo, na variável EAT_TOTAL, em
raparigas (χ2(2) = 7.20, p < .05).
Na condição experimental NUT, as diferenças estatisticamente significativas foram
encontradas nas variáveis Q7_d_refrigerantes (χ2(2) = 8.40, p < .05) e NUT_TOTAL
(χ2(2) = 7.47, p < .05), também, em ambos os casos, em indivíduos do sexo feminino.
Os resultados do Teste de Friedman para todas as variáveis, por género e condição
experimental são apresentados no Anexo 1.
40
As tabelas 9 a 11, correspondentes aos resultados dos testes de Wilcoxon, permitem
perceber entre momentos do estudo se verificaram as diferenças apontadas pelo Teste de
ANOVA de Friedman.
Tabela 9. Teste de Wilcoxon - Comparação entre Pré-teste e Pós-teste
Condição experimental Variáveis Género T p-value
MEF+ML
EAT_TOTAL
Feminino 16.50 .867
Masculino 11.00 .359
NUT
Q7_d_refrigerantes Feminino .00 .031
Masculino 18.00 .408
NUT_TOTAL Feminino 4.00 .027
Masculino 19.00 .239
Pela análise da tabela, e atendendo a que se procedeu à correção de Bonferroni, isto é,
considerou-se .0167 em vez do habitual valor de significância .05, não se encontraram
diferenças estatisticamente significativas.
Tabela 10. Teste de Wilcoxon - Comparação entre Pós-teste e Follow-up
Condição experimental Variáveis Género T p-value
MEF+ML
EAT_TOTAL
Feminino 4.00 .055
Masculino 17.50 .590
NUT
Q7_d_refrigerantes Feminino .00 .125
Masculino 9.00 .148
NUT_TOTAL Feminino 1.50 .750
Masculino 18.00 .361
41
Pela análise da tabela, e atendendo a que se procedeu à correção de Bonferroni, isto é,
considerou-se .0167 em vez do habitual valor de significância .05, não se encontraram
diferenças estatisticamente significativas.
Tabela 11. Teste de Wilcoxon - Comparação entre Pré-teste e Follow-up
Condição experimental Variáveis Género T p-value
MEF+ML
EAT_TOTAL
Feminino 8.50 .031
Masculino .00 .406
NUT
Q7_d_refrigerantes Feminino 2.50 .625
Masculino 10.50 .766
NUT_TOTAL Feminino 2.00 .016
Masculino 17.00 .093
Na condição experimental NUT, encontraram-se diferenças estatisticamente
significativas na variável NUT_TOTAL, em raparigas. O valor de NUT_TOTAL foi maior no
Follow-up (Mdn = 7.00) do que no Pré-teste (Mdn = 5.00), T = 2.00, p < .0167.
Note-se que se procedeu à correção de Bonferroni, isto é, considerou-se .0167 em vez
do habitual valor de significância .05.
42
A tabela 12 mostra os resultados da comparação entre condições experimentais (Teste
de Mann-whitney), em cada um dos momentos (Pré-teste, Pós-teste e Follow-up), e para cada
uma das variáveis.
Tabela 12. Teste de Mann-Whitney - Comparação entre condições experimentais, nos 3 Momentos
Momento Variáveis Género U p-value
Follow-up Q7_a_frutas Feminino 9.50 .01
Masculino 38.00 .17
Através do Teste de Mann-Whitney, constatou-se que apenas no Follow-up, para a
variável Q7_a_frutas, em raparigas, foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre as condições experimentais (U = 9.50, p < .05). O valor foi mais elevado
na condição experimental NUT (Mdn = 5.00) do que na condição MEF+ML (Mdn = 3.00).
Os resultados do Teste de Mann-whitney para todas as variáveis, por género,
encontram-se apresentados nos anexos 2 (Pré-teste), 3 (Pós-teste) e 4 (Follow-up) .
43
4.3 Correlação entre variáveis
As tabelas 13 a 18 apresentam as correlações entre as variáveis em estudo, de acordo
com o momento de avaliação e o género dos indivíduos. Para o estudo de correlações, é
considerada a amostra correspondente às duas condições experimentais (MEF+ML e NUT).
44
Tabela 13. Coeficientes de Correlação de Spearman – Pré-teste (Feminino) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1. Peq_almoço_semana
1.000 .193 -.046 .361 -.448 -.246 -.150 .097 -.059 -.018 -.546* .054 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
2. Peq_almoço_fds
.193 1.000 .417 .611** -.018 -.309 -.082 .085 .055 -.179 -.200 -.229 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
3. Q7_a_frutas
-.046 .417 1.000 .549* .138 .110 -.215 .066 -.231 .051 -.017 -.196 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
4. Q7_b_vegetais
.361 .611** .549* 1.000 -.237 -.318 -.319 .078 .100 -.151 -.319 -.174 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
5. Q7_c_doces
-.448 -.018 .138 -.237 1.000 .212 .090 .217 -.180 -.175 .388 -.507* 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
6. Q7_d_refrigerantes
-.246 -.309 .110 -.318 .212 1.000 -.034 -.141 .064 .314 -.060 -.303 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
7. Q7_e_carne
-.150 -.082 -.215 -.319 .090 -.034 1.000 .106 .437 .049 -.323 -.017 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
8. Q7_f_peixe
.097 .085 .066 .078 .217 -.141 .106 1.000 -.328 -.117 .035 -.390 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
9. Q7_g_farináceos
-.059 .055 -.231 .100 -.180 .064 .437 -.328 1.000 .143 -.580* -.019 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
10. Q7_h_lacticínios
-.018 -.179 .051 -.151 -.175 .314 .049 -.117 .143 1.000 -.054 .026 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
11. EAT_TOTAL
-.546* -.200 -.017 -.319 .388 -.060 -.323 .035 -.580* -.054 1.000 .234 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
12. NUT_TOTAL
.054 -.229 -.196 -.174 -.507* -.303 -.017 -.390 -.019 .026 .234 1.000 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
*p<.05; **p<.01
45
Os dados recolhidos no Pré-teste permitem concluir a existência de correlações entre
algumas das variáveis estudadas.
Com efeito, no caso das raparigas, o nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante
a semana está moderadamente correlacionado com os comportamentos alimentares
perturbados, sendo esta correlação negativa (r = -.546, p < .05). Portanto, as adolescentes que
tomam mais vezes o pequeno-almoço durante a semana tendem a apresentar valores mais
baixos na escala de comportamentos alimentares perturbados.
Existe também uma forte correlação entre o nº de vezes que as raparigas tomam o
pequeno-almoço ao fim de semana e o consumo semanal de vegetais (r = .611, p < .01).
Relativamente ao consumo semanal dos vários grupos alimentares, foi encontrada uma
correlação moderada entre frutas e vegetais (r = .549, p < .05).
Além disso, o consumo semanal de farináceos está moderamente correlacionado com
os comportamentos alimentares perturbados (r = -.580, p < .05), e o consumo semanal de
doces está moderadamente correlacionado com o conhecimento nutricional
(r = -.507, p < .05).
46
Tabela 14. Coeficientes de Correlação de Spearman – Pré-teste (Masculino)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1. Peq_almoço_semana
1.000 .476* -.159 .254 -.281 .221 -.130 -.088 .037 .370 .125 -.088
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 232. Peq_almoço_fds
.476* 1.000 .336 .195 -.325 -.353 .066 .149 .112 .426* -.102 .127
22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 223. Q7_a_frutas
-.159 .336 1.000 .330 -.085 -.294 .230 .571** .332 .246 -.330 -.090
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 234. Q7_b_vegetais
.254 .195 .330 1.000 -.429* -.049 -.028 .461* .165 .133 -630** -.016
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 235. Q7_c_doces
-.281 -.325 -.085 -.429* 1,000 .468* .103 -.421* .268 .252 .221 .147
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 236. Q7_d_refrigerantes
.221 -.353 -.294 -.049 .468* 1,000 .102 -.464* .255 .118 .217 -.245
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 237. Q7_e_carne
-.130 .066 .230 -.028 .103 .102 1.000 .021 .465* .111 -.138 -.231
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 238. Q7_f_peixe
-.088 .149 .571** .461* -.421* -.464* .021 1.000 .236 .074 -.324 -.060
23 22 23 23 23 23 23 3 23 23 23 239. Q7_g_farináceos
.037 .112 .332 .165 .268 .255 .465* .236 1.000 .406 -.077 -.057
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 2310. Q7_h_lacticínios
.370 .426* .246 .133 .252 .118 .111 .074 .406 1.000 .196 .089
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 2311. EAT_TOTAL
.125 -.102 -.330 -.630** .221 .217 -.138 -.324 -.077 .196 1.000 -.037
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 2312. NUT_TOTAL
-.088 .127 -.090 -.016 .147 -.245 -.231 -.060 -.057 .089 -.037 1.000
23 22 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23*p<.05; **p<.01
47
No caso dos rapazes, o nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante a semana está
moderadamente correlacionado com nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante o fim
de semana (r = .476, p < .05).
O nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante o fim de semana está, por sua vez,
moderadamente correlacionado com o consumo semanal de lacticínios (r = .426, p < .05).
Além disso, o consumo semanal de vegetais está fortemente correlacionado com os
comportamentos alimentares perturbados, sendo esta correlação negativa
(r = -.630, p < .01). Portanto, os adolescentes com um maior consumo semanal de vegetais
tendem a apresentar valores mais baixos na escala de comportamentos alimentares
perturbados.
Em relação ao consumo semanal dos vários grupos alimentares, foi encontrada uma
forte correlação entre frutas e peixe (r = .571, p < .01).
Encontraram-se ainda correlações moderadas entre o consumo semanal de vegetais e
doces (r = -.429, p < .05), vegetais e peixe (r = .461, p < .05), doces e refrigerantes
(r = .468, p < .05), doces e peixe (r = -.421, p < .05), refrigerantes e peixe (r = -.464, p < .05),
e carne e farináceos (r = .465, p < .05).
48
Tabela 15. Coeficientes de Correlação de Spearman – Pós-teste (Feminino)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1. Peq_almoço_semana
1.000 .092 .113 .209 -.085 -.027 -.505* -.221 -.056 .206 -.579* .310
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 2. Peq_almoço_fds
.092 1.000 -.011 .100 -.022 -.058 -.620** .056 -.444 -.228 .096 -.089
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 3. Q7_a_frutas
.113 -.011 1.000 .289 .005 .224 -.214 .497* .401 .436 .148 -.045
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 4. Q7_b_vegetais
.209 .100 .289 1.000 -.485 -.370 -.107 .000 .351 .763** .013 .454
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 5. Q7_c_doces
-.085 -.022 .005 -.485 1.000 .373 -.143 .092 -.358 -.246 .206 -.642**
16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 6. Q7_d_refrigerantes
-.027 -.058 .224 -.370 .373 1.000 .155 -.032 .152 -.075 -.126 -.614**
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 7. Q7_e_carne
-.505* -.620** -.214 -.107 -.143 .155 1.000 -.157 .387 .089 .145 -.057
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 8. Q7_f_peixe
-.221 .056 .497* .000 .092 -.032 -.157 1.000 -.098 .099 .000 -.032
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 9. Q7_g_farináceos
-.056 -.444 .401 .351 -.358 .152 .387 -.098 1.000 .554* -.022 .320
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 10. Q7_h_lacticínios
.206 -.228 .436 .763** -.246 -.075 .089 .099 .554* 1.000 -.061 .181
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 11. EAT_TOTAL
-.579* .096 .148 .013 .206 -.126 .145 .000 -.022 -.061 1.000 -.172
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 12. NUT_TOTAL
.310 -.089 -.045 .454 -.642** -.614** -.057 -.032 .320 .181 -.172 1.000
17 17 17 17 16 17 17 17 17 17 17 17 *p<.05; **p<.01
49
Os dados recolhidos no Pós-teste permitem concluir a existência de correlações entre
algumas das variáveis estudadas.
Com efeito, no caso das raparigas, o nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante
a semana está moderadamente correlacionado com os comportamentos alimentares
perturbados, sendo esta correlação negativa (r = -.579, p < .05). Portanto, as adolescentes que
tomam mais vezes o pequeno-almoço durante a semana tendem a apresentar valores mais
baixos na escala de comportamentos alimentares perturbados.
Existe também uma correlação moderada entre o nº de vezes que as raparigas tomam o
pequeno-almoço durante a semana e o consumo de carne (r = -.505, p < .05), bem como uma
correlação forte entre o nº de vezes que tomam o pequeno almoço ao fim de semana e o
consumo de carne (r = -.620, p < .01).
Relativamente ao consumo semanal dos vários grupos alimentares, foi encontrada uma
forte correlação entre vegetais e lacticínios (r = .763, p < .01), e correlações moderadas entre
o consumo semanal de frutas e peixe (r = .497, p < .05) e farináceos e lacticínios
(r = .554, p < .05).
Finalmente, o conhecimento nutricional está fortemente correlacionado com o consumo
semanal de doces (r = -.642, p < .01) e refrigerantes (r = -.614, p < .01).
50
Tabela 16. Coeficientes de Correlação de Spearman – Pós-teste (Masculino) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1. Peq_almoço_semana
1.000 .630** .258 .217 -.266 -.018 -.156 .000 -.084 -.016 .087 -.219 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
2. Peq_almoço_fds
.630** 1.000 .324 .391 -.174 -.367 -.189 .208 -.055 .186 -.206 .081 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
3. Q7_a_frutas
.258 .324 1.000 .233 -.265 -.432* .160 .532* .016 -.058 -.211 -.060 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21 22
4. Q7_b_vegetais
.217 .391 .233 1.000 -.297 -.154 -.224 .498* -.155 -.178 -.400 .300 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21 22
5. Q7_c_doces
-.266 -.174 -.265 -.297 1.000 .559** .288 -.154 .414* .248 .295 .269 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
6. Q7_d_refrigerantes
-.018 -.367 -.432* -.154 .559** 1.000 .357 -.063 .396 .020 .332 .335 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
7. Q7_e_carne
-.156 -.189 .160 -.224 .288 .357 1.000 .252 .571** .072 .421 .500* 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
8. Q7_f_peixe
.000 .208 .532* .498* -.154 -.063 .252 1.000 .211 .040 -.022 .289 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
9. Q7_g_farináceos
-.084 -.055 .016 -.155 .414* .396 .571** .211 1.000 .592** .098 .405 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
10. Q7_h_lacticínios
-.016 .186 -.058 -.178 .248 .020 .072 .040 .592** 1.000 -.039 .055 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
11. EAT_TOTAL
.087 -.206 -.211 -.400 .295 .332 .421 -.022 .098 -.039 1.000 .019 22 22 21 21 22 22 22 22 22 22 22 22
12. NUT_TOTAL
-.219 .081 -.060 .300 .269 335 .500* .289 .405 .055 .019 1.000 23 23 22 22 23 23 23 23 23 23 22 23
*p<.05; **p<.01
51
No caso dos rapazes, o nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante a semana está
fortemente correlacionado com nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante o fim de
semana (r = .630, p < .01).
Em relação ao consumo semanal dos vários grupos alimentares, foram encontradas
fortes correlações entre doces e refrigerantes (r = .559, p < .01), carne e farináceos
(r = .571, p < .01), e farináceos e lacticínios (r = .592, p < .01). Encontraram-se ainda
correlações moderadas entre o consumo semanal de frutas e refrigerantes (r = -.432, p < .05),
frutas e peixe (r = .532, p < .05), vegetais e peixe (r = .498, p < .05), e doces e farináceos
(r = .414, p < .05).
Finalmente, o consumo semanal de carne está moderamente correlacionado com o
conhecimento nutricional (r = .500, p < .05).
52
Tabela 17. Coeficientes de Correlação de Spearman – Follow-up (Feminino) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1. Peq_almoço_semana
1.000 .743** .182 .396 .097 .260 .240 .486* .367 .130 -.321 .211 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
2. Peq_almoço_fds
.743** 1.000 .056 .510* -.219 .060 .138 .557* .224 -.071 -.474 .373 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
3. Q7_a_frutas
.182 .056 1.000 .288 .021 .500* .217 .450 .230 .159 .039 .075 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
4. Q7_b_vegetais
.396 .510* .288 1.000 -.245 .011 .140 .653** .552* .311 -.359 .227 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
5. Q7_c_doces
.097 -.219 .021 -.245 1.000 .368 .360 -.002 .325 .352 .247 -.573* 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
6. Q7_d_refrigerantes
.260 .060 .500* .011 .368 1.000 .593* .192 .373 .111 -.016 -.352 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
7. Q7_e_carne
.240 .138 .217 .140 .360 .593* 1.000 .579* .748** .417 -.099 -.107 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
8. Q7_f_peixe
.486* .557* .450 .653** -.002 .192 .579* 1.000 .616** .339 -.236 .127 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
9. Q7_g_farináceos
.367 .224 .230 .552* .325 .373 .748** .616** 1.000 .616** -.188 .016 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
10. Q7_h_lacticínios
.130 -.071 .159 .311 .352 .111 .417 .339 .616** 1.000 -.251 -.003 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
11. EAT_TOTAL
-.321 -.474 .039 -.359 .247 -.016 -.099 -.236 -.188 -.251 1.000 -.264 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
12. NUT_TOTAL
.211 .373 .075 .227 -.573* -.352 -.107 .127 .016 -.003 -.264 1.000 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
*p<.05; **p<.01
53
Os dados recolhidos no Follow-up permitem concluir a existência de correlações entre
algumas das variáveis estudadas.
Com efeito, no caso das raparigas, o nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante
a semana está fortemente correlacionado com o número de vezes que tomam o
pequeno-almoço durante o fim de semana (r = .743, p < .01).
Existe ainda uma correlação moderada entre o nº de vezes que as raparigas tomam o
pequeno-almoço durante a semana e o consumo semanal de peixe (r = .486, p < .05), bem
como entre o nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante o fim de semana e o
consumo semanal de vegetais (r = .510, p < .05) e peixe (r = .557, p < .05).
Relativamente ao consumo semanal dos vários grupos alimentares, foram encontradas
fortes correlações entre vegetais e peixe (r = .653, p < .01), carne e farináceos
(r = .748, p < .01), peixe e farináceos (r = .616, p < .01), e farináceos e lacticínios
(r = .616, p < .01). Existem, além disso, correlações moderadas entre o consumo semanal de
frutas e refrigerantes (r = .500, p < .05), vegetais e farináceos (r = .552, p < .05), refrigerantes
e carne (r = .593, p < .05), e carne e peixe (r = .579, p < .05).
Finalmente, o conhecimento nutricional está moderadamente correlacionado com o
consumo semanal de doces, sendo a correlação negativa (r = -.573, p < .05).
54
Tabela 18. Coeficientes de Correlação de Spearman – Follow-up (Género Masculino) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1. Peq_almoço_semana
1.000 .204 -.178 .329 -.353 .100 .018 .095 .320 .037 .126 -.049 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
2. Peq_almoço_fds
.204 1.000 .312 .144 -.344 -.456* -.066 .333 .129 .041 .352 -.014 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
3. Q7_a_frutas
-.178 .312 1.000 .389 -.031 -.091 .154 .433* .401 .307 -.320 -.048 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
4. Q7_b_vegetais
.329 .144 .389 1.000 -.089 .098 -.065 .348 .397 .129 .094 -.105 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
5. Q7_c_doces
-.353 -.344 -.031 -.089 1.000 .640** .225 -.230 .107 .327 -.281 -.131 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
6. Q7_d_refrigerantes
.100 -.456* -.091 .098 .640** 1.000 .307 -.053 .221 .072 -.420 -.153 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
7. Q7_e_carne
.018 -.066 .154 -.065 .225 .307 1.000 .038 .261 .141 -.276 .128 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
8. Q7_f_peixe
.095 .333 .433* .348 -.230 -.053 .038 1.000 .418 -.098 -.048 .004 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
9. Q7_g_farináceos
.320 .129 .401 .397 .107 .221 .261 .418 1.000 .422 -.276 -.042 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
10. Q7_h_lacticínios
.037 .041 .307 .129 .327 .072 .141 -.098 .422 1.000 .019 .179 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
11. EAT_TOTAL
.126 .352 -.320 .094 -.281 -.420 -.276 -.048 -.276 .019 1.000 -.196 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 21
12. NUT_TOTAL
-.049 -.014 -.048 -.105 -.131 -.153 .128 .004 -.042 .179 -.196 1.000 21 21 21 21 21 21 21 21 21 21 21 21
*p<.05; **p<.01
55
No caso dos rapazes, o nº de vezes que tomam o pequeno-almoço durante o fim de
semana está moderadamente correlacionado com o consumo de refrigerantes, sendo esta
correlação negativa (r = -.456, p < .05).
Em relação ao consumo semanal dos vários grupos alimentares, foi encontrada uma
forte correlação entre doces e refrigerantes (r = .640, p < .01) e uma correlação moderada
entre frutas e peixe (r = .433, p < .05).
56
CAPÍTULO 5: DISCUSSÃO
Conforme descrito anteriormente, este trabalho teve como objetivos: caracterizar a
amostra quanto aos Hábitos alimentares e Conhecimento nutricional, avaliar o impacto do
programa, comparando os resultados dos três momentos de avaliação (Pré-teste, Pós-teste e
Follow-up), para as condições experimentais MEF+ML e NUT, e identificar relações entre as
variáveis em estudo.
Relativamente à variável Peq_almoço_semana, verificou-se que o valor médio está
próximo do máximo, o que indica que os adolescentes tendem, de facto, a tomar o
pequeno-almoço durante a semana. Pelo valor médio da variável Peq_almoço_fds, verifica-se
que os adolescentes tendem a tomar o pequeno-almoço pelo menos num dos dias. Portanto,
na amostra considerada, parece estar enraizado o hábito de tomar o pequeno-almoço.
Na análise do resultados relativos ao consumo semanal médio dos vários tipos de
alimentos, há a realçar o facto do valor mais elevado, registado no Pré-teste, em rapazes
sujeitos à condição NUT, se referir aos lacticínios. Tal é coerente com a ideia de que este
grupo de alimentos, amplamente difundido como saudável, está entre os que os adolescentes
consideram mais apetitosos (Bish & Scheule, 2009).
Relativamente à variável EAT_TOTAL, que avalia os comportamentos alimentares
perturbados, importa referir que o valor mais alto surge em raparigas. Note-se que os
comportamentos alimentares perturbados são preditores de PCA, e estas patologias são,
efetivamente, mais comuns em indivíduos do sexo feminino (Cordeiro, 2009). De qualquer
forma, e de acordo com o ponto de corte considerado para o teste EAT-26, a leitura da tabela
referente aos valores médios mostra que, nem mesmo as raparigas, independentemente da
condição experimental ou do momento considerado, apresentam valores preditores da
existência de PCA.
57
No que respeita à variável NUT_TOTAL, é de destacar o facto de, tanto em raparigas
como em rapazes, os resultados no Pré-teste, independentemente da condição a que são
submetidos, serem inferiores aos dos momentos subsequentes. Por outro lado, na condição
experimental NUT, contrariamente ao que sucede na MEF+ML, o valor médio desta variável
aumenta do Pré-teste para o Pós-teste, e deste para o Follow-up, levando a crer que o
programa produziu um efeito positivo a este nível, como é aliás é confirmado pela estatística
inferencial.
No que respeita ao impacto do programa nos valores das variáveis em estudo,
verificou-se uma alteração ao nível dos comportamentos alimentares perturbados
(EAT_TOTAL), em raparigas, na condição experimental MEF+ML. Adicionalmente, na
condição experimental NUT, e também em raparigas, registaram-se diferenças no consumo
semanal de refrigerantes (Q7_d_refrigerantes) e no conhecimento nutricional
(NUT_TOTAL). Estes resultados mostram então, que o aumento do conhecimento nutricional
não cursa necessariamente com alterações significativas nos comportamentos alimentares
perturbados, o que pode levar a questionar a utilidade do conhecimento nutricional enquanto
fator de prevenção desses comportamentos.
Relativamente à variável EAT_TOTAL, e mesmo apesar dos resultados não terem
permitido detetar diferenças estatisticamente significativas entre os vários momentos de
avaliação, a análise dos valores desta variável, nas raparigas submetidas à condição
experimental MEF+ML, mostra que houve uma diminuição dos comportamentos alimentares
perturbados do Pré-teste para o Pós-teste, e deste para o Follow-up. Esta observação era
expectável, tendo em conta que os módulos associados à condição experimental MEF+ML
fomentam a discussão relativa aos ideiais de beleza, e contribuem para uma melhor avaliação
e descodificação das mensagens transmitidas pelos media. Desta forma, é posta em causa a
ideia de que a magreza na mulher está associada a maior atratividade, ideia essa que costuma
58
estar em voga nos países onde as PCA são mais comuns (Rome, et al., 2003, p. e98), e que é
constantemente reforçada por revistas, televisões, etc. A aplicação dos módulos MEF+ML
vai pois de encontro aos objetivos de promover a aceitação da imagem corporal, o
desenvolvimento de interesses que ultrapassem a estética e a potenciação de juízo crítico
relativamente à influência dos media e da informação que veiculam.
No que concerne à variável NUT_TOTAL, foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre o Pré-teste e o Follow-up, que correspondem a um
aumento do conhecimento nutricional entre estes dois momentos. Mais uma vez, os
resultados estão de acordo com o que era esperado, na medida em que o módulo associado à
condição experimental em causa (NUT) aposta no fornecimento de informação sobre os
alimentos e a forma de manter um regime alimentar equilibrado.
Por fim, no que se refere à variável Q7_d_refrigerantes, não foram detetados os
momentos entre os quais ocorreu a diferença estatisticamente significativa apontada pelo
teste ANOVA de Friedman. Ainda assim, a análise dos valores desta variável nos 3
momentos de avaliação mostra que houve uma diminuição do valor do Pré-teste para o
Pós-teste, e a manutenção desse valor entre o Pós-teste e o Follow-up. Importa referir que
não é surpreendente a alteração nesta variável ao longo do estudo, na condição NUT, em
virtude de, conforme já foi explicado, o conhecimento nutricional favorecer a adoção de
escolhas alimentares saudáveis.
Igualmente com vista à avaliação do impacto do programa na amostra considerada,
verifica-se que, apenas no Follow-up, e para a variável Q7_a_frutas, em raparigas, foram
encontradas diferenças, sendo o valor mais elevado na condição experimental NUT do que na
MEF+ML. Em termos práticos, tal é equivalente a dizer que os adolescentes sujeitos às
diferentes condições experimentais não diferem, em nenhum dos momentos, em termos de
conduta alimentar (frequência com que tomam o pequeno almoço durante a semana e fim de
59
semana, consumo semanal dos vários tipos de alimento e comportamentos alimentares
perturbados) e conhecimento nutricional. Constituem exceção a esta situação as raparigas
que, no Follow-up, diferem entre si, sendo o consumo semanal de frutas mais elevado no
grupo sujeito à condição experimental NUT. Poderá deduzir-se que estas diferenças estão
associadas a uma exposição às diferentes condições experimentais e que, em particular, o
consumo de frutas nas raparigas expostas à condição NUT, está relacionado com os
conteúdos do módulo em causa, até porque este resultado foi encontrado no Follow-up.
Relativamente às correlações entre as variáveis consideradas, há a realçar a tendência
para as condutas alimentares adequadas, ou inadequadas, estarem correlacionadas, isto é, a
aparecerem conjuntamente no mesmo grupo de sujeitos.
De facto, os adolescentes que tomam regularmente o pequeno-almoço tendem a ter
consumos elevados de grupos alimentares considerados essenciais para uma alimentação
adequada, designadamente frutas e vegetais. A título de exemplo refira-se a correlação
(positiva), encontrada no Pré-teste e Follow-up, entre o nº de vezes que as raparigas tomam o
pequeno-almoço ao fim de semana e o consumo semanal de vegetais.
Note-se que a perda do hábito de tomar o pequeno-almoço é apontada no artigo de
Gidding e colaboradores, de 2006, como uma das grandes mudanças alimentares verificada
nos últimos anos, em países industrializados. E como se sabe, não tomar o pequeno-almoço
leva a um aumento dos períodos de jejum, o que constitui um importante erro dietético
(Cordeiro, 2009).
Em Portugal, apesar de tudo, a maioria dos adolescentes faz esta refeição, conforme
menciona o Relatório do Estudo HBSC (Health Behaviour in School-aged Children), de
2010. Os resultados do presente trabalho confirmam este dado, como se pode concluir da
análise dos respetivos valores médios.
60
Relativamente aos comportamentos alimentares perturbados, encontrou-se, em
raparigas, tanto no Pré-teste como no Pós-teste, uma correlação negativa com o nº de vezes
que tomam o pequeno-almoço durante a semana. Este resultado pode ser indicativo de uma
relação entre a restrição alimentar e os comportamentos alimentares perturbados, o que
corrobora as ideias de que as dietas muito restritivas acarretam um risco aumentado de PCA
(Koletzko, Girardet, Klish e Tabacco, 2002) e que a privação de alimentos autoinfligida
aumenta as preocupações com comida e alimentação (1996, citado por Ghaderi, 2001, p. 59).
Por fim, e ainda relativamente às correlações entre as variáveis analisadas, é de
destacar a correlação negativa encontrada, em raparigas, entre o conhecimento nutricional e o
consumo semanal de doces. Esta correlação verificou-se nos 3 momentos de avaliação. O
consumo semanal de refrigerantes também surge correlacionado negativamente com o
conhecimento nutricional, em raparigas, mas apenas no Pós-teste. Estas correlações não são,
à luz do conhecimento atual, surpreendentes. Efetivamente, o conhecimento nutricional é
suscetível de influenciar positivamente a alimentação (2009, citado por González, Penelo,
Gutiérrez, & Raich, 2011, p. 131), de modo que a educação alimentar representa uma dos
mecanismos mais importantes para a promoção de opções dietéticas saudáveis
(Sachithananthan, Buzgeia, Awad, Omran, & Faraj, 2012). Portanto, um maior conhecimento
nutricional está associado a regimes alimentares mais equilibrados, pelo que é expectável que
adolescentes com valores mais elevados na variável NUT_TOTAL tenham consumos mais
baixos de doces e refrigerantes, alimentos de elevado valor calórico e pobres do ponto de
vista nutricional.
Em termos globais, é de referir que o programa não teve impacto na totalidade das
variáveis em estudo, o que poderá, entre outras razões, estar relacionado com sua a
curta-duração. De facto, como defendem Sachithananthan e colaboradores (2012), para que
uma intervenção tenha um impacto significativo, é necessário que dure pelo menos 6 meses.
61
Ainda assim, pode considerar-se que a ação deste programa é benéfica, e que os
resultados alcançados em Portugal reproduzem os obtidos nos vários estudos feitos com
adolescentes espanhóis, em que os efeitos mais notórios foram ao nível da conduta alimentar,
do conhecimento nutricional e dos comportamentos de risco para desenvolvimento de PCA
(exemplo: dietas muito restritivas). De facto, à semelhança do que se verificou em Espanha,
no estudo Raich e colaboradores (2008), houve um efeito positivo ao nível do conhecimento
nutricional, tendo sido feitas alterações metodológicas com vista à potenciação deste efeito. E
em relação à conduta alimentar também se concluiu ser vantajosa a aplicação do programa, o
que está em consonância com estudos prévios, realizados em 2010 e 2011 pelas autoras do
programa original.
62
CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo permitiu concluir que o programa Alimentação, modelo estético
feminino e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino
secundário poderá servir para promover alterações benéficas na conduta alimentar e aumento
do conhecimento nutricional.
Mais especificamente, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas
entre os vários momentos de avaliação, bem como entre as duas condições experimentais
consideradas, sendo essas diferenças, em ambos os casos, explicáveis através da ação do
programa.
Os resultados mais relevantes serão porventura os relacionados com o conhecimento
nutricional que, como se viu, é largamente influenciado pela exposição à condição
experimental NUT.
Além disso, foram encontradas importantes correlações entre as variáveis estudadas, as
quais estão de acordo com estudos prévios. Estas correlações são úteis para a compreensão da
etiologia das PCA, podendo, por isso, servir de base teórica para a elaboração de programas
futuros.
Os resultados obtidos neste trabalho são coerentes com os obtidos nos vários estudos
feitos com adolescentes espanhóis, os quais tiveram impacto na conduta alimentar, no
conhecimento nutricional e nos comportamentos de risco para desenvolvimento de PCA
Relativamente às limitações do estudo, deverá ser tida em conta a desistência de um
elevado número de sujeitos na condição experimental MEF+ML+NUT, inicialmente prevista.
A dificuldade em manter a amostra pareceu dever-se à extensão do programa, bem como à
impossibilidade de, nesta condição em particular, a aplicação ter sido feita durante o período
de aulas, acarretando um aumento da carga horária, indesejável, ou mesmo impossível, para
63
alguns destes alunos. Assim, é recomendável que em aplicações futuras seja negociada com
as escolas a inclusão do programa no horário letivo. Por outro lado, no sentido de fomentar a
adesão dos destinatários, poderá ser útil a introdução de alterações metodológicas,
designadamente a atribuição de pontos pela participação, ou outros elementos que funcionem
como reforço positivo. Relembre-se que neste trabalho foi entregue um diploma a todos os
alunos que concluiram o programa, de acordo com as condições experimentais definidas para
a sua escola.
64
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71
ANEXOS
Anexo 1. Teste de ANOVA de Friedman
MEF+ML NUT
Variáveis Género χ2 p-value χ
2 p-value
Peq_almoço_semana Feminino .00 1.00 .43 .91
Masculino .00 1.00 2.00 .67
Peq_almoço_fds Feminino 1.00 1.00 1.50 .82
Masculino 1.40 .67 . 1.00
Q7_a_frutas Feminino 1.62 .50 5.16 .13
Masculino 1.50 .82 .25 1.00
Q7_b_vegetais Feminino 2.33 .45 3.90 .18
Masculino 1.33 .67 .87 .69
Q7_c_doces Feminino 2.80 .40 .13 1.00
Masculino .15 1.00 1.75 .44
Q7_d_refrigerantes Feminino .67 .81 8.40 .01
Masculino .50 1.00 2.00 .40
Q7_e_carne Feminino 1.08 .74 1.37 .63
Masculino .67 1.00 .18 1.00
Q7_f_peixe Feminino 2.80 .40 2.55 .36
Masculino 2.46 .30 .62 .77
Q7_g_farináceos Feminino .88 .72 .23 .94
Masculino 3.88 .14 1.19 .61
Q7_h_lacticínios Feminino .40 1.00 4.17 .14
Masculino .40 1.00 1.14 .71
EAT_TOTAL Feminino 7.20 .03 .20 .94
Masculino .42 .86 1.55 .48
NUT_TOTAL Feminino .61 .80 7.47 .02
Masculino 4.74 .09 2.91 .23
72
Anexo 2. Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais (Pré-teste)
Variáveis Género U p-value
Peq_almoço_semana Feminino 32.50 .78
Masculino 59.00 1.00
Peq_almoço_fds Feminino 36.00 1.00
Masculino 39.00 .06
Q7_a_frutas Feminino 29.50 .58
Masculino 41.00 .16
Q7_b_vegetais Feminino 35.00 .93
Masculino 48.00 .35
Q7_c_doces Feminino 32.00 .70
Masculino 59.50 .83
Q7_d_refrigerantes Feminino 17.00 .06
Masculino 51.00 .46
Q7_e_carne Feminino 33.00 .82
Masculino 53.50 .57
Q7_f_peixe Feminino 32.00 .74
Masculino 56.50 .71
Q7_g_farináceos Feminino 29.00 .48
Masculino 35.00 .07
Q7_h_laticínios Feminino 30.00 .58
Masculino 48.50 .36
EAT_TOTAL Feminino 21.00 .16
Masculino 58.00 .77
NUT_TOTAL Feminino 34.00 .85
Masculino 61.00 .91
73
Anexo 3. Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais (Pós-teste)
Variáveis Género U p-value
Peq_almoço_semana Feminino 36.00 1.00
Masculino 54.00 .54
Peq_almoço_fds Feminino 34.50 1.00
Masculino 52.50 .35
Q7_a_frutas Feminino 29.50 .58
Masculino 34.50 .10
Q7_b_vegetais Feminino 35.50 1.00
Masculino 49.00 .55
Q7_c_doces Feminino 19.00 .19
Masculino 63.00 1.00
Q7_d_refrigerantes Feminino 34.00 .85
Masculino 45.50 .27
Q7_e_carne Feminino 33.50 .79
Masculino 61.50 .99
Q7_f_peixe Feminino 32.50 1.00
Masculino 56.00 .66
Q7_g_farináceos Feminino 19.00 .10
Masculino 63.00 1.00
Q7_h_laticínios Feminino 33.50 .88
Masculino 50.50 .38
EAT_TOTAL Feminino 25.50 .33
Masculino 42.00 .28
NUT_TOTAL Feminino 20.00 .13
Masculino 45.50 .28
74
Anexo 4. Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais (Follow-up)
Variáveis Género U p-value
Peq_almoço_semana Feminino 34.50 .89
Masculino 57.50 .84
Peq_almoço_fds Feminino 30.50 .45
Masculino 45.50 .16
Q7_a_frutas Feminino 9.50 .01
Masculino 38.00 .17
Q7_b_vegetais Feminino 27.00 .35
Masculino 55.00 .83
Q7_c_doces Feminino 32.00 .73
Masculino 53.50 .75
Q7_d_refrigerantes Feminino 25.50 .30
Masculino 51.00 .61
Q7_e_carne Feminino 31.00 .55
Masculino 55.00 .84
Q7_f_peixe Feminino 28.00 .42
Masculino 49.00 .49
Q7_g_farináceos Feminino 30.00 .76
Masculino 39.00 .18
Q7_h_laticínios Feminino 35.00 .97
Masculino 54.00 .74
EAT_TOTAL Feminino 35.00 .94
Masculino 40.50 .24
NUT_TOTAL Feminino 17.00 .06
Masculino 40.00 .33