CASTILHO-GênerosDiscursivos

download CASTILHO-GênerosDiscursivos

of 5

Transcript of CASTILHO-GênerosDiscursivos

  • 8/2/2019 CASTILHO-GnerosDiscursivos

    1/5

    Ataliba T . de Castilho

    ,-' NOV A ,

    Grarnatica doPortuguesBrasi lei ro

  • 8/2/2019 CASTILHO-GnerosDiscursivos

    2/5

    09-12915 CDD-469.5

    Copyright 2010 do AutorTodos os direiros desta edicao reservados 11Edirora Contexte (Editora Pinsky Lrda.)

    CapaAlba Mancini

    P ro je to g ra fte o e diagramaflioGustavo S. Vilas BoasP re pa ra cd o d e te xto s

    Daniela Marini IwamotoR e vi si io d e p roua

    Evandro Lisboa FreireRevisiio tecnicaRenaro Basso

    Dados Internacionais de Catalogacao ria Publicacao (Clf')(Camara Brasileira do Livro, Sp, Brasil)Castilho, Ataliba T. de

    Nova grarnatica do porrugues brasileiro I Ataliba T.de Castilho. - I.ed., 1a Reimpressao.> Sao Paulo: Contexte, 2010.

    Bibliografia.ISBN 978-85-7244-462-01. Porrugues - Cramatica L Titulo.

    Indice para cadlogo sistematico:1. Cramarica : Porrugues brasileiro : Lingulstica 469.5

  • 8/2/2019 CASTILHO-GnerosDiscursivos

    3/5

    A CONVERSA~AO E 0 TEXTO 12391

    5.3. GENEROS DISCURSrvOSA ardua tarefa de identificar os generos do discurso caminha entre nos desde os tempos da

    Ret6rica classica, tendo sido retomado recentemente pelo povo da Linguistica do Texto.Uma primeira observacao a fazer aqui e que os generos nao sao delimitados, sobrepondo-se de

    varies modos. Isso quer dizer que no interior de urn dialogo se encontram narrativas, descricoese trechos argumentativos. Um mesmo segmento narrativo podera funcionar como urn recur so daargumentacao, Descrevendo cenas e pessoas, estaremos narrando eventos. Como em tudo 0mais, osgeneros sao classificacoes comodas, mas e preciso atentar para a simultaneidade de suas propriedades.

    Vamos admitir como possivel esquematizar as cliversas situacoes de fala em dois tipos textuaisbasicos, jogando com a categoria cognitiva de PESSOA, vale dizer, com 0 processo da deixis. A primeirapessoa, PI, e 0 locutor, entendido como 0 participante do discurso com direito it voz. A segunda,P2, e 0 interlocutor, ou ouvinte. Vamos representar par P3 0 topico conversacional, 0 assunto dotexto que esta sendo construido.Quando PI e P2 funcionam como articuladores principais do texto, temos 0 dialog, passivelde representacao atraves da formula PI + P2 (P3).. Uma condicao do texto dialogico e que locutore interlocutor estejam em presen

  • 8/2/2019 CASTILHO-GnerosDiscursivos

    4/5

    12401 NOVA GRAMATlCA DO PORTUGUES BRASllEIRO

    Esta e uma apresentacao bastante simplificadora da narracao, Se voce colecionar alguns exem-plos desse genero, vera que tanto 0 plano da acao, ou plano das personagens, quanta 0 plano donarrador, au plano do autor, podem cindir-se em mais de urn.

    Assim;o plano da acao habitualmente compreende urna acao principal e uma acao secundaria,As novelas exploram essa possibilidade, reunindo numa so trama urn conjunto de narrativas quecompartilham personagens ou situacoes comuns. Indo por aqui, uma novela nao precisa necessa-riamente ter urn fim - que 0 digam os autores das novelas de televisao!

    o plano da situacao nao fica atras, e com isso ora 0 narrador descreve 0 ambiente das acoes,ora promove uma narrativa de dernonstracao, em que ele faz algum cornentario, argumenta - ouseja, disserta. Indo par aqui, a dissertacao e urn genero derivado da narracao, Nesta gramatica, porexemplo, narrei no capitulo "Historia do portugues brasileiro" a formacao do PB, dissertando emseguida sobre as diferentes facetas dessa historia.

    Tudo muito bonito; agora, aqui para nos, sera que essa teoriza~ao toda [unciona mesmo?De acordo, esta na hora de lancarmos um pouco de empiria neste papo.Vejamos esta cronica de Paulo Mendes Campos, que transcrevi em duas colunas. Na primeira,

    anotei as categorias mencionadas anteriormente e, na segunda, os segmentos correspondentes.Quadro 5.5 - Transcricao da cronica de Paulo Mendes Campos, "Menina no jardim"

    Narrativa de situacao Em seu s 14 mese s de pe rmanincia ne ste m undo , a ga ro tinha nan tinha tomado 0(fundo) menor conhecim en to da s le is qu e gove rnam a na fao .Narrativa de acao Isso se deu agora na p ra lra , logo na chamada Repu blica L ivre de Ipanem a.(figura)Narrativa de situacao Ate on tem e la se comprazia em brincar com a te rra .Narrativa de acao H oje , de repen te , deu -Ih e um ted io enorm e do ba rro de qu e somos fe ito s: a tirou 0 pu -

    nhado de p6 ao chao , ergu eu 0 ro sto , ficou pensa tiva , inve stigando com ar abo rrecido 0mundo e xte r io r . ( ) Determinada, levantou-se do chao e co rreu para a re lva ,

    Narrativa de situacao qu e e ra , vd le i, b onita , m as jd ba stante cham uscada pe la estiag em .Narrativa de acao Nao durou ma is que tH is minutes, e apareceu u m gua rda .Narrativa de comen- Diga -se , em nom e da ve rda de , qu e no didlogo qu e se travou em segu ida , m a io r vio ten-tario cia se reg istrou po r parte da in fra tora do que po t parte da le i ( ).

  • 8/2/2019 CASTILHO-GnerosDiscursivos

    5/5

    A CO VERSA~Ao E 0 TEXTO 1 2 4 1 1

    fundo. Essas formas temporais promovem urna sensacao de aproximacao, no primeiro caso,que contrasta com urna sensacao de afastamento, no segundo caso. Para mais reflexoes sobrea correspondencia entre tipo de texto e tempo verbal selecionado, veja 10.2.2.2.2.

    3.Na narrativa de comentario, 0 autor se toma mais presente no texto, secundarizando por urnmomento a acao que esta narrando. 0 trecho nao inclui uma dissertacao propriamente dita,em que 0 tempo a escolher seria 0presente do indicative.

    Saia por ai catando textos, analise-os e forme urn juizo proprio. Depois compare suas descobertascom as dos autores que se seguem.Labov (1972a), por exemplo, diz que a narrativa tern cinco partes: (1) resumo, que funcionacomo urn prefacio da hist6ria que se vai narrar; (2) orientacao: pano de fundo descritivo, comindicacoes sobre onde e quando os eventos ocorreram; (3) complicacao: os eventos sao recortadosnuma ordem temporal; (4) coda: movimento do interior da historia para a situacao conversacionalem que ela ocorreu; (5) avaliacao: de que modo 0 narradar usa uma experiencia particular paraconcretizar 0 t6pico.o discurso argumentativo pode aparecer em mon61ogos e dialogos, em disputas, confrontos,debates. Segundo Schiffrin (1987: 18 e ss.), urna dissertacao envolve tres partes: (1) a posicao, (2)a disputa e (3) a sustentacao. A posicao e a adesao a uma ideia, situacao em que 0 falante parecedirigir-se a uma audiencia maior, Na disputa, 0 falante se refere direta ou indiretamente a pessoaou it ideia com que concorda/discorda. Esses movimentos verbais pressupoem muitas vezes urnconhecimento que nao e apresentado no interior do texto. A sustentacao e a explanacao de umaideia, a justificacao da adesao a ela, a defesa da forma como foi apresentada. Atraves desse momento,o falante induz 0 interlocutor a tirar conclusoes sobre a credibilidade de sua posicao, 0 esquemaIogico do silogismo nem sempre e docurnentado nos textos argumentativos.

    Outras reflexoes sobre a narrativa poderao ser encontradas em manuais de Ret6rica, de Lin-guistica do Texto e de Teoria Literaria, Voce notara que algumas intuicoes se repetem nos autores,Esse eo caso do dialogo ou enunciacao (mundo comentado para Weinrich, discurso para Benveniste,modo da representacao para Todorov), por oposicao it narrativa ou enunciado, em suas diferentesmanifestacoes (respectivamente, mundo nartado, historia, modo da narraciio}.