Caso Panasonic

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1. Caso Panasonic No Japão a logística reversa está em destaque. Diversas iniciativas têm garantido a aplicação dos conceitos dentro e fora dos limites das fábricas. A marca Panasonic, assim como a National, pertence ao grupo Matsushita, que criou, em 2001, uma planta no Japão para reciclar eletrodomésticos. O Protocolo de Kyoto é o maior acordo para preservar o meio ambiente, e a partir dele que a Matsushita desenvolveu o METEC – Matsushita Eco Technology Center Co., que tem como base os 5 “R”: 1. Redefina (reprojete) peça e materiais; 2. Reduza o número de componentes; 3. Revise (remanufature) tudo que é possível; 4. Recicle todos os materiais; 5. Recupere (regenere) energia. Este projeto não foi desenvolvido para atender apenas produtos novos da Matsushita ou exclusivamente de sua fabricação. O grupo estruturou uma rede para coleta de máquinas de lavar, TVs, aparelhos de ar condicionado ou refrigeradores recebidos por 47 pontos de coleta no Japão. A coleta dos equipamentos custa entre USD 20 a USD 45, e este valor pode ser negociado como base de troca por um novo eletrodoméstico na National ou Panasonic. Periodicamente as cargas recebidas pelos pontos de coleta são enviadas à METEC, onde são divididas em quatro grupos, por tamanho e procedência. Os resultados do projeto são bastante animadores. Em 2005 foram reciclados mais de 700 mil eletrodomésticos. Todos os materiais são vendidos nos mercados de metais ou outros tipos de matéria prima. 2. Indústria de pneus

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1. Caso Panasonic

No Japão a logística reversa está em destaque. Diversas iniciativas têm garantido a aplicação dos conceitos dentro e fora dos limites das fábricas.

A marca Panasonic, assim como a National, pertence ao grupo Matsushita, que criou, em 2001, uma planta no Japão para reciclar eletrodomésticos.

O Protocolo de Kyoto é o maior acordo para preservar o meio ambiente, e a partir dele que a Matsushita desenvolveu o METEC – Matsushita Eco Technology Center Co., que tem como base os 5 “R”:

1. Redefina (reprojete) peça e materiais;2. Reduza o número de componentes;3. Revise (remanufature) tudo que é possível;4. Recicle todos os materiais;5. Recupere (regenere) energia.

Este projeto não foi desenvolvido para atender apenas produtos novos da Matsushita ou exclusivamente de sua fabricação. O grupo estruturou uma rede para coleta de máquinas de lavar, TVs, aparelhos de ar condicionado ou refrigeradores recebidos por 47 pontos de coleta no Japão.

A coleta dos equipamentos custa entre USD 20 a USD 45, e este valor pode ser negociado como base de troca por um novo eletrodoméstico na National ou Panasonic.

Periodicamente as cargas recebidas pelos pontos de coleta são enviadas à METEC, onde são divididas em quatro grupos, por tamanho e procedência.

Os resultados do projeto são bastante animadores. Em 2005 foram reciclados mais de 700 mil eletrodomésticos. Todos os materiais são vendidos nos mercados de metais ou outros tipos de matéria prima.

2. Indústria de pneus

No caso da indústria de pneumáticos as empresas não são tão unidas na responsabilidade pós-consumo. O braço sustentável da Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos), a Reciclanip, representa a logística reversa de 65% da produção de pneus novos no país. O restante do mercado, em sua maioria importadores, também é obrigado por lei a recolher os pneus colocados em circulação. Mas funcionam de forma independente, não possuem uma associação reguladora.

Entre os nove associados da Anip estão os cinco maiores produtores mundiais de pneus: Pirelli, Michelin, Continental, Goodyear e Bridgestone. A Reciclanip nasceu em 2007, mas o Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis da Anip funciona desde 1999, quando foi criada a regulamentação deste mercado.

A resolução nº 258 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) obriga empresas fabricantes e importadoras de pneus a darem a destinação ambientalmente adequada

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proporcional à quantia produzida ou importada por eles. “A partir deste ano nos foi colocada uma meta estabelecida com o governo. Se eu não cumpro, pago sanções”, explica Cesar Faccio, gerente geral da Recliclanip.

Os 726 postos de coleta no Brasil recebem diariamente 1000 toneladas de pneus por dia, correspondentes a 200.000 unidades. Desde a criação do programa, mais de 364,3 milhões de pneus de passeio foram recolhidos e tiveram destinação ambientalmente responsável, custo arcado apenas pelas empresas associadas. Somente em 2012 serão investidos US$ 41 milhões.

O programa cumpre a meta: 100% da produção é recolhida por meio de parcerias feitas com as prefeituras das cidades. Elas cedem um terreno que cumpra normas de segurança e higiene, onde borracharias, revendedores ou a população local podem deixar os pneus usados.

Do total recolhido, 36% têm seus componentes separados e reutilizados como matéria-prima para tapetes de automóveis e borracha regenerada, por exemplo. 35% é triturado e destinado a virar asfalto ecológico, piso antiderrapante ou a servir de combustível a cimenteiras, e 29% deles vão inteiros para as cimenteiras. Não há sobras: o aço retirado dos pneus vai pra a indústria siderúrgica.

A Reciclanip quer ser uma entidade modelo na gestão pós-consumo. “Tenho pontos de coleta nas principais cidades. Mas é preciso melhorar a rede de captação. Região Norte e Nordeste precisam ter mais consciência ambiental. Por mais que a gente tente se aproximar dos municípios, no Norte, por exemplo, eles têm outras carências que não o pneu. E não há fiscalização da Secretaria do Meio Ambiente”, critica Faccio.

3. Embalagens de agrotóxicos

Os casos não são novos. A indústria agrícola se organizou voluntariamente oito anos antes da criação da lei que exige e regulamenta o recolhimento e a destinação final das embalagens de pesticidas de forma ambientalmente segura (processo também chamado de gestão pós-consumo). Antes da criação do projeto piloto em 1992, 70% das embalagens eram queimadas e o restante era disposto sem cuidado ambiental nas propriedades agrícolas.

A Lei 9.974/00, promulgada em 2000 e regulamentada em 2002, estabeleceu responsabilidades compartilhadas para cada elo da cadeia: agricultores, fabricantes e canais de distribuição, com apoio do poder público. Dessa forma, no programa batizado de Sistema Campo Limpo, produtor e consumidor são responsáveis pelo descarte ambientalmente correto das embalagens.

E como isso funciona na prática? “Os agricultores lavam as embalagens e as devolvem nas unidades de recebimento. Os distribuidores devem indicar na nota fiscal onde o agricultor vai devolver a embalagem e disponibilizar esse local. O fabricante deve fazer a logística de transporte e dar a destinação final ambientalmente adequada [reciclagem e incineração]. Ele, junto com governo e revendedor, deve fornecer programas de orientação ao agricultor”, explica João Cesar Rando, presidente-diretor do inpEV, Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias.

Do total de embalagens recolhidas, correspondente a 94% de todo o mercado nacional, 95% é reciclado e 5% serve de combustível a incineradoras com licença ambiental, que possuem filtros e não emitem poluentes no processo de queima. “O mais nobre que coloca nosso

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sistema à frente é que voltamos a fazer uma embalagem que é utilizada pra defensivo agrícola. Queremos que o sistema gere recurso para que um dia seja autossustentável. Que ele produza uma nova embalagem a ser comercializada e o recurso volte pra ser utilizado no próprio sistema”, acredita Rando.

O inpEV tem 89 fabricantes associados, quase o total brasileiro, e é o único órgão no país à frente da logística reversa das embalagens de agrotóxicos. No mundo há 60 países com programas e iniciativas do gênero, mas o Brasil lidera esse setor com retorno de 94% das embalagens. Na Alemanha, a porcentagem é de 76%, no Canadá é 73%, e na França é 66%, segundo dados do inpEV atualizados em 2009.

O sistema custa em torno de 60 milhões de reais por ano, valor arcado 85% pelos fabricantes e 15% por revendedores e distribuidores. “É um esforço conjunto. Conseguimos colocar toda a cadeia produtiva no inpEV. Todos os elos estão unidos pra resolver um problema comum”, diz Rando.