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    CARTA-PROGRAMA

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    GeRAl

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    ndiCe

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    ConjunturaAs Manifestaes de JunhoA Polcia Militar e ROTA

    Democratizao da MdiaMundo do trabalho

    3

    ApresentaoCanto Geral8A Universidade que queremosCotas!Para que a voz dos estudantes seja ouvida

    GrevePermanncia EstudantilDa Universidade Extensionista Verdadeira Universidade

    10

    O XI que queremosColegiada: A gesto que queremos!Tesouraria ParticipativaComisses e Reunies Abertas

    14

    Para alm das ArcadasCopa e Olimpadas para quem?Desmilitarizao da PMO Direito Memria e a Comisso da Verdade da So FranciscoDireito e FeminismoEleies de 2014 e Reforma PolticaCultura e Poltica LGBT

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    COnjunTuRA

    Vrias causas podem ser apontadas para maniesta-

    es que ocorreram por todo o pas em junho e julho des-

    te ano: a diculdade da mobilidade urbana, cujo exemplo

    maior o transporte pblico, que, via de regra, est em ps-

    simas condies e tem pouca prioridade de investimento

    em melhorias, impedindo o pleno direito de ir e vir da maior

    parte da populao brasileira; ou a necessidade de mais

    atores sociais terem direito voz nos grandes veculos decomunicao, tendo em vista a capacidade de repercus-

    so/reproduo da interpretao da realidade ao modo

    que convm para os interesses oligopolizados. Entretanto,

    trs contradies relacionadas entre si devem ser aqui res-

    saltadas e analisadas sob a viso de quem esteve nas mo-

    bilizaes em So Paulo, iniciadas e organizadas pelo Mo-

    vimento Passe Livre (MPL): o papel desempenhado pela

    polcia militar; a resposta da maquina estatal a essa movi-

    mentao; e o poder que a mobilizao de massa pode ter.

    A polcia militar teve papel undamental nos atosem So Paulo, mas a quem estava servindo? A Polcia

    o principal brao armado do Estado brasileiro para ques-

    tes internas, sendo um recurso para manter a ordem

    social posta. Assim, a PM cumpre, sempre, o papel de

    garantir os interesses objetivos da classe que detm o

    controle da mquina estatal, lanando mo da violncia

    legal para isso. No dicil perceber nas maniestaes

    que ocorreram aqui esse carter: o intuito era impedir

    que as maniestaes contra o aumento da passagem

    atingissem seu objetivo. Por isso oram duramente repri-

    midas enquanto juntavam algumas dezenas de milha-res de pessoas. Em outras palavras, no era do interesse

    do governo estadual, nem to pouco do municipal, que

    essa movimentao ganhasse corpo na sociedade e ti-

    vesse visibilidade, a ponto de se utilizar da ora para tal.

    Essa contradio nos leva ao segundo ponto: a alta

    de respostas demanda objetiva da populao organi-

    zada por parte da burocracia estatal. Num contexto no

    qual os atos j ganhavam ora e s aumentavam, ne-

    nhum dos governos com a possibilidade de responder

    demanda social levantada o zeram. Pelo contrrio, o-

    ram esses mesmos os responsveis pela represso con-

    tra a populao que se maniestava. Mas por que ser

    que PSDB e PT se uniram nesse momento? Com certeza

    uma srie de clculos polticos oram realizados para

    lidar com essa situao e nortear suas decises. Entre-

    tanto h algo de comum em ambos os casos: so esses

    que controlam o aparato burocrtico do poder executi-

    vo do governo estadual e municipal, respectivamente.

    A burocracia tem como essncia a reproduo de umaorganizao, mantendo-a viva e uncional. A burocratizao

    excessiva realizada para garantir a manuteno de quem

    controla e/ou detm o conhecimento tcnico para gerir as

    instncias das instituies no poder, aastando ainda mais a

    populao em geral, que no est inclusa dentro desse rol.

    No novidade a crtica lentido trazida com a bu-

    rocratizao das instituies. Apesar disso, o que no se diz

    que sua velocidade tem relao com seu objetivo: con-

    servar o status quo. Por esse motivo, a burocracia sempre

    se mostra lenta e travada s questes que no so priori-dade para quem a comanda, podendo demorar anos para

    As Manifestaes de Junho

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    No dia 3 de setembro de 2013 a Cmara Munici-

    pal de So Paulo aprovou uma homenagem s Rondas

    Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA). A Salva de Prata

    uma condecorao pelos relevantes servios pres-

    tados pela tropa de elite da polcia militar paulista. O

    projeto de autoria do ex-chee da ROTA e atual ve-

    reador pelo PSDB, coronel Paulo Telhada. A votao

    oi tumultuada e ocorreu sob protestos de militantes

    do movimento negro e ativistas de direitos humanos.

    Para entendermos o motivo de tais protestos, im-

    portante a apresentao de dados sobre essa instituio.

    A ROTA, como a conhecemos hoje, oi criada em 1970

    com a nalidade de combater os grupos que lutavamcontra a ditadura militar. Perdura at os dias de hoje, a-

    zendo vtimas e enxergando naquelas(es) excludas(os)

    da sociedade verdadeiras e verdadeiros inimigas(os)

    de guerra. Age, portanto, como uma importante en-

    grenagem da poltica do aparelho punitivo, de manei-

    ra dolosa, carregada de uma imensa e latente inteno

    de promover um controle social atravs de homicdios.

    As Rondas Ostensivas Tobias Aguiar so hoje asmaiores responsveis pelas execues de civis e agem de

    orma absolutamente autoritria e arbitrria. Um levan-

    tamento eito pelo jornal Folha de S. Paulo indica que a

    ROTA matou 104,5% mais pessoas no primeiro semestre

    de 2012 quando em comparao com o mesmo perodo

    de 2010, o que comprova o aumento da violncia letal.

    Nesse sentido, homenagear a ROTA signica necessa-

    riamente legitimar a violncia e brutalidade do Estado.

    A Polcia Militar tem demonstrado, com sua atuao

    truculenta, que a alta letalidade policial tende a vitimarinocentes e incapaz de combater a criminalidade. Ape-

    sar de passar a ideia de pacicao, acaba espalhando

    terror especialmente nas comunidades mais pobres. Se-

    gundo relatrio da Ouvidoria da Polcia Militar, no Estado

    de So Paulo a polcia matou 6% a mais do que todas as

    polcias dos Estados Unidos juntas, considerando que a

    Segundo relatrio da Ouvidoria da Polcia Militar, no Estado de So Paulo a polcia matou 6% a mais do

    que todas as polcias dos Estados Unidos juntas, considerando que a populao de So Paulo 8 vezesmenor que a dos EUA.

    COnjunTuRAtais demandas sejam atendidas. No contexto de uma so-

    ciedade como a nossa, quem mais tem interesse em man-

    ter a burocracia e o poder de reproduo das instituies

    sociais so os donos das riquezas. Ou seja, eles so quem

    mais se utiliza do Estado para atingir seus ns, por meio, porexemplo, dos contratos de prestao de servio de trans-

    porte coletivo em uma cidade. Vale, ento, nos ocarmos

    na movimentao da burocracia durante as maniestaes.

    Em um primeiro momento, oi dito que seria im-

    possvel revogar o aumento por questes orament-

    rias e o movimento oi reprimido. Mesmo assim a mo-

    bilizao continuou aumentando. Depois o preeito

    chamou uma Audincia Pblica Extraordinria, convidan-

    do o MPL. Entretanto, novamente, barreiras burocrticas

    oram impostas ao pleito da mobilizao, que continuoua aumentar. Por ltimo, diante da enorme mobilizao

    em torno da reivindicao, no houve mais como no

    aceitar o que estava sendo demandado por parte da po-

    pulao e oi revogado o aumento da passagem, sendo

    apresentada essa deciso para a populao com ambos

    os governantes preeito e governador lado a lado.

    Aqui saltamos ltima contradio a ser explorada: o

    poder da mobilizao de massa rente ordem das coisas.Mesmo com diversas impossibilidades jurdico-adminis-

    trativas para se atingir o objetivo da movimentao pol-

    tica encampada pelo MPL e os demais maniestantes a

    reduo da taria, a organizao e a ao direta da popula-

    o conseguiram romper os muros que pareciam impedi-

    -los. Mais, ao se lanarem de maneira articulada contra a

    deciso dos governos em questo, oi possvel escancarar

    os interesses que existem por trs da burocracia de nossa

    sociedade capitalista: o imobilismo social e a manuteno

    da ordem. A grande lio, portanto, que a movimentao

    e a organizao por meio de aes polticas com um deter-minado m so a maior ora que temos contra este estado

    de coisas. No a prpria burocracia que resolver os seus

    problemas, mas sim o enretamento direto com sua real ace

    que pode galgar mudanas estruturais em nossa sociedade.

    A Polcia Militar e a ROTA

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    A mdia tem papel undamental no debate poltico

    brasileiro, sendo capaz de defnir a agenda a ser discutida

    pelo pas e de moldar a opinio pblica. Tendo em vista o

    princpio democrtico da liberdade de expresso, contra-

    ditrio que, em uma sociedade diversifcada e multitnica

    como a nossa, haja concentrao da produo de contedo

    veiculado por mdia nas mos de poucas pessoas so cer-

    ca de seis amlias que controlam 70% da imprensa do pas.

    Essa ormao de oligoplios de mdia no Brasil estligada relao promscua orjada historicamente entre o

    empresariado do setor e o poder pblico, principalmente

    durante a ditadura civil-militar de 1964 a 1985. Chega-se si-

    tuao absurda de as Organizaes Globo, apoiadoras do re-

    gime ditatorial, hoje possurem rdio, tev e mdia impressa.

    O controle da mdia por poucos empobrece o debate

    poltico, econmico e cultural no pas, homogeneizando

    as opinies e ideologias veiculadas. Temas como reorma

    agrria e valorizao das tradies culturais de origem

    aricana e indgena, por exemplo, so constantemente ig-norados e manipulados em avor dos interesses de quem

    COnjunTuRApopulao de So Paulo 8 vezes menor que a dos EUA.

    Dentre as e os que sorem com a atuao da Polcia

    Militar est principalmente a populao negra. Ao anali-

    sarmos o perl das vtimas, podemos notar claramenteque so homens, pobres, jovens e negros, ainda que as

    mulheres tambm no escapem desse recorte. O Mapa da

    Violncia 2012 evidencia que os jovens negros tem cerca

    de 3 vezes mais chance de sorer violncia que os brancos.

    Na cidade de So Paulo, segundo o IBGE, 56% dos jovens

    vtimas de homicdio so negros. Esse nmero atinge 71%

    no caso de jovens negros mortos em conronto com a po-

    lcia.

    Outro ponto a ser destacado como as e os

    contrrias(os) condecorao oram tratadas/os pelos po-

    liciais na Cmara. A vota-

    o ocorreu sob protestos

    de ativistas de direitos hu-

    manos e gritos de apoiado-

    ras e apoiadores do coro-

    nel Telhada. O presidente

    da Cmara, Jos Amrico

    Dias, por mais de uma vez

    mandou os policiais mi-

    litares que trabalham na

    Casa retirarem ativistas doplenrio. A ordem gerou

    indignao nas e nos ma-

    niestantes que tentaram

    evitar a expulso dos cole-

    gas. Pessoas oram arrasta-

    das e agredidas durante a

    atuao policial. O mesmo

    rigor, porm, no se veri-

    cou contra os apoiadores do coronel Telhada.

    So por esses e muitos outros motivos que o Canto

    Geral se coloca contra tal homenagem ROTA e ao lado

    dos movimentos contra o genocdio da populao negra epobre na perieria de So Paulo, inclusive na construo do

    Ato Contra a Militarizao da Cmara Municipal no dia 2 de

    outubro. Continuaremos na luta em avor da desmilitariza-

    o da polcia brasileira, para que as pessoas no percam

    suas vidas de orma banal, autoritria e arbitrria como

    tem acontecido devido triste atuao da Polcia Militar.

    Enquanto a Salva de Prata oi aprovada na Cmara, nas

    perierias a populao negra e pobre sore diariamente

    com o pnico, plvora, pescoo, peito e pulmes perura-

    dos. At quando?

    Democratizao da Mdia

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    detm os meios de comunicao. Nesse sentido, os monop-

    lios ou oligoplios de mdia, alm de erirem a Constituio,

    prejudicam o direito inormao livre e diversifcada em

    benecio da busca por lucro das empresas de comunicao.

    inadivel, portanto, que a regulao das comu-

    nicaes seja eita no Brasil, buscando condies para a

    ormao de uma opinio pblica onde mais vozes sejam

    ouvidas e participem do debate pblico. Algumas medi-

    das possveis seriam a re-

    gulao da propriedade

    cruzada, ou seja, o direito

    de um mesmo grupo eco-

    nmico possuir ao mes-

    mo tempo rdios, tevs,

    jornais e internet; o fmda permisso de polticos

    serem donos ou scios

    de emissoras de rdio e

    tev; a mudana nos pro-

    cedimentos de concesso

    das licenas de radiodi-

    uso e a mudana nos

    critrios de distribuio de verbas pblicas, a fm de

    omentar rdios e grupos de mdia comunitrios.

    Nesse sentido, vemos o Brasil muito atrasado emrelao a outros pases latino-americanos, como Vene-

    zuela, Argentina, Equador e Bolvia. Os governos desses

    pases enrentaram as tradicionais elites controladoras

    dos grandes meios de comunicao, consolidando mar-

    cos regulatrios antimonopolistas para o setor. Enquan-

    to que em territrio nacional presenciamos uma alta

    de vontade poltica do Poder Executivo e Legislativo em

    enrentar os ortes interesses econmicos e polticos dos

    grandes grupos de comunicao, os quais se apoiam

    na liberdade de imprensa para manipular a opinio

    pblica, bloquear o debate e manter seus privilgios.

    Diante de uma evidente insufcincia e parcialidade

    da mdia tradicional, iniciativas de grupos de mdias alter-nativas se destacaram durante as mobilizaes de junho

    no Brasil. A rede de jornalismo independente Mdia Ninja

    (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ao), por exem-

    plo, transmitiu ao vivo maniestaes em todo o Brasil

    como orma de contrapo-

    sio cobertura tenden-

    ciosa da mdia tradicional,

    que manipulou imagens

    e buscou deslegitimar o

    movimento com as acu-

    saes de vandalismo.

    Tendo em vista que a

    busca por uma mdia mais

    plural e aberta participa-

    o de todos as parcelas

    da sociedade representa

    uma medida estratgica

    para o avano democrti-

    co do pas, essencial que nos coloquemos ao lado dos

    movimentos sociais e de outros setores da sociedade ci-

    vil na luta pela regulao das comunicaes no Brasil. Umdos primeiros passos apoiar o Projeto de Lei de Inicia-

    tiva Popular para democratizao das comunicaes, que

    precisa de, no mnimo, 1.3 milho de assinaturas para

    ingressar no Congresso Nacional. uma proposta unda-

    mental que tem como pressuposto a necessidade de se

    pr fm concentrao monoplica da mdia, com equi-

    lbrio entre os trs setores envolvidos: o estatal/pblico,

    o privado/lucrativo e o social/comunitrio no lucrativo.

    Tramita na Cmara Federal, em regime de urgncia, o

    projeto de lei 4330, que visa regulamentar a atividade de

    terceirizao dos servios. Pela regulamentao vigente

    smula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, o trabalho

    terceirizado s pode ser praticado nas atividades meio,

    aquelas que no so a nalidade econmica da empresa.

    Dezenove dos 26 ministros do Tribunal Superior do Traba-

    lho (TST) assinaram ocio enviado ao presidente da Co-

    misso de Constituio, Justia e Cidadania da Cmara dosDeputados, o qual entende sobre o PL que ao permitir a

    generalizao da terceirizao para toda a economia e a

    sociedade, certamente provocar gravssima leso social

    de direitos sociais trabalhistas e previdencirios no Pas.

    preciso atentar para o ato de que, com o avano do

    neoliberalismo a partir da dcada de 90, o Brasil tem passa-

    do por um cenrio de aumento das terceirizaes. Dados do

    DIEESE, Departamento Intersindical de Estatsticas e Estu-

    dos Socioeconmicos, indicam que cerca de 10 milhes de

    trabalhadoras(es), praticamente um tero do todo da classe

    trabalhadora com carteira assinada, so terceirizadas(os).

    Esse avano preocupante na medida em que o

    COnjunTuRA

    Mundo do Trabalho

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    trabalho terceirizado representa um retrocesso s e aos

    trabalhadoras(es) na busca de assegurar seus direitos tra-

    balhistas. O trabalho terceirizado surge como um enme-

    no de precarizao das relaes de trabalho no intuito de

    baratear os custos de mo de obra para determinado tra-

    balho e consequentemente aumentar a lucratividade do

    empregador. Se antes dele a relao de trabalho se dava

    pelo binmio empregador-empregado, agora se acrescen-

    tou um elemento intermedirio, uma empresa prestadora

    de servio terceirizado. Nesse cenrio, ao uma empresa(tomadora) contratar o servio de outra (terceirizadora),

    os/as trabalhadores/as so explorados/as para gerar lucros

    duplamente, tanto pela empresa que contrata o servio,

    quanto para empresa que organiza a prestao do servio.

    Prova disso so as disparidades salariais entre um

    trabalhador contratado diretamente e um terceirizado.

    Tendo que enrentar uma jornada de trabalho de 3 ho-

    ras a mais por semana, o trabalhador terceirizado ganha

    27% a menos que o trabalhador direto, alm de car em

    mdia 2,6 anos a menos no emprego, e sob maior ris-co de acidentes trabalho cerca de 80% dos acidentes

    registrados ocorrem nos trabalhadores terceirizados.

    essencial destacar que o trabalho terceirizado atinge

    massivamente a base social de homens e mulheres negros/

    as que realizam, por exemplo, atividades invisibilizadas de

    limpeza e segurana. Tambm, h outras tareas invisibili-

    zadas como as do telemarketing e Call Center que possuem

    predominncia dos gays para realizao de atendimentos

    telenicos. Em todos esses casos, em razo dos salrios re-

    duzidos, uma rotina exaustiva de trabalho e sobretudo pelaalta rotatividade, as(os) terceirizadas(os) no conseguem

    sequer adquirir vnculos com o ambiente de trabalho, tam-

    pouco com seus e suas colegas, impossibilitando assim a

    organizao deles e delas na luta por mais direitos eetivos .

    No mbito da nossa Faculdade, presenciamos uma

    srie de abusos s(aos) trabalhadores/trabalhadoras ter-

    ceirizados/as. Primeiramente, em vrios meses do ano

    houve sucessivos atrasos no pagamento dos salrios pela

    empresa HIGILIMP (terceirizadora de limpeza), prejudican-

    do seriamente a vida dos e das trabalhadores e trabalha-

    doras. Diversas violaes ocorrem bem debaixo dos nos-

    sos olhos: na busca pelo conhecimento de seus direitos, a

    uncionria Lurdinha oi arbitrariamente transerida para

    outra unidade, por ter sido vista conversando com uncio-

    nrio dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da USP. A

    uncionria Quitria tambm oi transerida em situao

    semelhante, quando procurou companheiros do SINTUSP

    para reivindicar seu direito de pagamento de rias, que

    no tinha sido eetuado, embora suas rias j tenham se

    acabado. Vale lembrar que esses uncionrios membros do

    SINTUSP esto sendo vtima de uma clara perseguio po-

    ltica, com processos de sindicncia abertos recentemente.

    Essa lgica de sucessivas transerncias tem um obje-

    tivo claro: servir de ameaa aos trabalhadores, deixando-os

    ainda mais impotentes rente ao poder da empresa. A un-

    cionria Quitria, por exemplo, oi transerida para um local

    de trabalho muito distante de sua casa; ela mesma arma ter

    muito medo de ter que sair sozinha muito cedo de seu bairro

    rumo ao local de trabalho para onde ora transerida. Isso de-

    monstra uma estratgia que claramente serve para que ela,

    diante de sua impotncia, pea demisso, alm de servir de

    esprio exemplo punitivo s(aos) demais trabalhadoras(es).No obstante, a empresa ALBATROZ, responsvel

    pela vigilncia da Faculdade, recentemente emitiu ad-

    vertncias ormais a 11 uncionrios/as do turno notur-

    no, em razo de uma suposta pichao giz num dos

    quadros da aculdade na poca dos piquetes da greve.

    Mesmo a aculdade no tendo comprovado o ocorrido

    quando solicitada, os/as uncionrios/as oram prejudi-

    cados e culpados, sendo responsabilizados pela supos-

    ta omisso da segurana ao patrimnio da aculdade.

    Tendo essas questes em vista, surgiu como acmuloda mobilizao da greve dos estudantes deste semestre, uma

    comisso para discutir a questo das(os) trabalhadoras(es)

    terceirizadas(os) na aculdade, que j vem tomando medi-

    das para prestar apoio poltico eetivo a esse setor acad-

    mico, e que como primeira ao, produziu um maniesto

    que acompanha um abaixo assinado a m de exigir a retira-

    da das advertncias injusticadas aos(s) terceirizados(as)

    da segurana e a extino imediata da sindicncia contra

    os membros do SINTUSP que se deu como orma de per-

    seguio poltica. Nesse sentido, o Canto Geral declara

    apoio s aes dessa comisso, na busca de lutarmos

    contra a violao dos direitos dos(as) trabalhadores(as).

    COnjunTuRA

    O trabalho terceirizado surge como um enmeno de precarizao das relaes de trabalho no intuitode baratear os custos de mo de obra para determinado trabalho e consequentemente aumentar a

    lucratividade do empregador.

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    O Canto Geral surgiu em 2012 em um contexto de

    crise de representatividade do movimento estudantil.

    A apatia do Resgate a rente da gesto do XI de Agos-

    to, ignorando acontecimentos importantssimos, como,

    por exemplo, a retirada violenta dos moradores de rua

    da porta do Largo a mando da preeitura ez com que

    inmeros estudantes se movessem para mudar essa

    situao. A partir disso, construmos, junto a diversas

    entidades, um Ato Viglia na rente do Largo em res-

    posta Operao Espantalho. Cerca de 70 pessoas

    passaram a noite do lado de ora da So Francisco, no

    apenas tendo maior contato com uma realidade antes

    ignorada por nossos olhos, mas tambm se tornando

    participantes ativos das mudanas sociais que buscam.

    Entendemos que a estrutura burocrtica congu-rada atualmente no nosso Centro Acadmico engessa a

    atuao dos ranciscanos e ranciscanas rente poltica,

    dentro e ora dos muros da aculdade. A chapa estatut-

    ria, que az com que os grupos polticos percam tempo e

    energia na disputa presidencial; o calendrio tradicional

    de atividades do XI a ser cumprido durante o ano; as in-

    meras tareas da tesouraria de mais de 8 milhes de reais

    concentradas nas mos de apenas dois estudantes so al-

    guns exemplos do que impede que o CA, que deveria ser o

    centro organizador das mobilizaes estudantis, cumpra

    esse papel, sem se prender a minscias que distanciam

    aqueles que esto na gesto dos/das demais estudantes.

    APResenTAO

    8 CAnTO GeRAl 2014

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    A ormao de nosso grupo se deu com reuni-

    es abertas na aculdade, nas quais, atravs do ba-

    lano do modelo de poltica ento colocado, pude-

    mos elaborar um programa baseado na participao

    e democracia. Prezamos por espaos horizontais,

    onde se possa azer um debate pblico e sincero so-

    bre os problemas da Universidade e da sociedade.

    Porm, de nada vale a mais qualicada discusso se

    no conseguirmos transorm-la em ao. Um dos pro-

    blemas mais graves do movimento estudantil ranciscano

    hoje no conseguir dar consequncia aos debates tra-

    vados, tratando apenas momentnea e protocolarmente

    questes de suma importncia. Exemplo atdico da situ-

    ao exposta a coalizao estudantil ormada pelo XI de

    Agosto durante as maniestaes de junho. Criada paraaglomerar estudantes de diversas instituies na luta por

    democracia e contra os avanos conservadores que se re-

    velaram, oi simplesmente abandonada depois das rias.

    Queremos o movimento estudantil que se some

    ao movimento da sociedade. No de orma a dirigi-la,

    criando lutas prprias, sem contextualizar com os em-

    bates reais. Mas que saiba o seu papel de mobilizar o

    espao da Faculdade de Direito, para que esta, de or-

    ma organizada, participe das lutas alm de suas Arca-

    das e, desta maneira, traga para nossa realidade situa-

    es que antes no conseguiriam seu espao por aqui.

    Entretanto, a estrutura de poder da Universidadede So Paulo vai ao sentido contrrio de qualquer ten-

    tativa de tornar esse espao democrtico e participativo.

    Seja no modo como o ensino jurdico est congurado,

    com aulas meramente expositivas e ns mercadolgi-

    cos, sem uma ormao que eetivamente devolva para

    a sociedade todos os recursos tributrios investidos

    em nosso aprendizado; seja na alta de democracia na

    seleo dos candidatos, enquanto a maior parte das

    instituies brasileiras j aderiu ao sistema de cotas.

    A greve em agosto provou que no basta obser-var de longe para que mudanas aconteam. Para que

    transormemos de ato a nossa realidade necessrio

    que a poltica eita aqui extrapole as medidas da mera

    representao. Nesse sentido, o Canto Geral se coloca

    enquanto um coletivo de esquerda, eminista e anti-

    -racista comprometido em construir um movimento es-

    tudantil participativo que, a partir de espaos abertos

    e horizontais, organize os estudantes na luta por uma

    Universidade que tenha a cara do povo que a nancia.

    APResenTAO

    Nesse sentido, o Canto Geral se coloca enquanto um coletivo de esquerda, eminista e anti-racista compro-metido em construir um movimento estudantil participativo que, a partir de espaos abertos e horizontais,

    organize os estudantes na luta por uma Universidade que tenha a cara do povo que a fnancia.

    CAnTO GeRAl 2014 9

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    10/26

    Discutir cotas se perguntar que modelo de Univer-

    sidade a nossa sociedade precisa. Se concordarmos que a

    superao das mazelas de nossa sociedade passa por uma

    universidade em que ela possa se ver representada, ento

    concordaremos que cotas so necessrias. No nos deve ser

    natural aceitar que o Secretrio de Segurana Pblica quechea a instituio responsvel pelo cotidiano genocdio da

    juventude negra tenha sado de nossa aculdade, o que seu

    elitismo.

    A trajetria do Movimento Negro na luta pelas aes

    armativas remonta aos perodos de reorganizao da re-

    sistncia ditadura e da luta pela redemocratizao, anal

    para aqueles em que a exceo da violncia, marginalizao

    e do preconceito sempre oi regra, no interessa outra de-

    mocracia seno a material.

    Neste sentido se deu a deciso pela constitucionali-

    dade das cotas raciais pelo STF em 2012. Porm a intransi-

    gncia do governo do estado, bem como das universidades

    estaduais paulistas, em abrir canais de dilogo com o movi-

    mento negro, mesmo enquanto 62% da populao apoian-

    do cotas com critrios racial, econmico e de origem escolar

    (segundo o IBOPE, a pedido do governo paulista).Por isso mesmo, apoiamos o abaixo-assinado do proje-

    to de lei de iniciativa popular que institui cotas para negros,

    ndios e estudantes da rede pblica e pessoas com decin-

    cia, Protagonizado pelo Frente Pr Cotas de Estado de So

    Paulo. A meta coletar 200 mil assinaturas at o dia 20 de

    novembro, dia em que se celebra o dia da conscincia ne-

    gra.

    Para o Canto Geral, prioridade do movimento estu-

    dantil que se pretenda transormador dar peso ao PL de

    Cotas.

    A univeRsidAde Que QueReMOs

    A questo no por que cotas?, mas cotas pra quem?. A Sociedade brasileira extremamente injusta e constru-

    da em cima de suas desigualdades. A cotas raciais se inserem em algo mais amplo que so as polticas afrmativas, vol-

    tadas para setores da sociedade que oram historicamente marginalizados, como os negros e os indgenas, em detrimen-

    to de suas importantes contribuies para o desenvolvimento econmico e social do pas. As cotas raciais no vm como

    privilgio mas como direito dessas populaes enorme divida que o Estado brasileiro tem conosco. (Maria Jos Menezes - NCN)

    Cotas!

    Vivemos tempos conturbados na nossa universidade.

    A greve na So Francisco oi a primeira das mobilizaes que

    comearam a tomar conta da USP: a Escola de Artes, Cin-

    cias e Humanidades (EACH) tambm entrou em greve e a re-

    cente ocupao da Reitoria culminou na paralisao de cur-

    sos como Relaes Internacionais, Arquitetura e Urbanismo,

    Farmcia, Pedagogia, Letras e Cincias Sociais. A diculdade

    de dilogo com as instncias deliberativas da universidade,alm de posturas antidemocrticas por parte dos gestores

    so atores que esto presentes, em maior ou menor impor-

    tncia, nas demandas de todos estes estudantes mobilizados.

    A constante batalha contra a burocracia universi-

    tria parece sempre culminar num ponto bastante es-

    pecco: a orma como so escolhidos os componentes

    dos nossos rgos deliberativos e os gestores mais po-

    derosos dentro dessa estrutura. A luta por diretas paraReitor e Diretor e pelo aumento da representatividade

    Para que a voz dos estudantes seja ouvida

    10 CAnTO GeRAl 2014

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    11/26

    discente nos rgos so bandeiras antigas do movimen-

    to estudantil e trazem tona diversos pontos sobre un-cionamento, gesto, espaos de deciso e participao

    na universidade, bem como sobre a sua prpria uno.

    Hoje, a escolha do Reitor, denida atravs do Decreto

    no. 6283, de 1934 da USP, acontece em duas ases. Primei-

    ro, a Secretaria Geral da Universidade organiza uma lista

    com oito possveis nomes a serem eleitos pelo Conselho

    Universitrio (CO), Conselhos Centrais e Congregaes das

    Unidades. Depois, na segunda ase, apenas o CO e o Con-

    selho Central 0,94% da comunidade universitria - votam

    e denem trs nomes que sero encaminhados para o Go-vernador do Estado sancionar e decidir o prximo reitor.

    O atual reitor Joo Grandino Rodas props em julho

    desse ano, que ocorressem mudanas nesse processo elei-

    toral, estendendo a possibilidade de voto a todos, com vias

    de torn-lo mais democrtico e participativo. Essa mu-

    dana mascara o ato de que a maior parte da comunida-

    de universitria continuar alheia gesto da USP, uma vez

    que a composio do conselho que pouco representati-

    va para os estudantes e uncionrios - e a orma de indica-

    o se mantm. Pode inuenciar, tambm, na autonomia eauto-organizao das categorias, com a proposta de que a

    USP se responsabilize pelas eleies de seus representantes.

    A impossibilidade de votarmos e elegermos dire-

    tamente o Reitor de nossa universidade, bem como de

    termos maior representao nas instncias de poder da

    USP, evidencia uma poltica interna antidemocrtica, que

    veta a participao da maioria, e ainda se estrutura em

    resqucios de perodos de echamento poltico. Se no

    podemos participar ativamente das decises tomadas

    pela universidade desde as polticas gerais, at a gestonanceira e os projetos consequentemente somos bar-

    rados de, institucionalmente, disputar a uno da USP.

    Dessa orma, acaba sendo comum a incidncia de agen-

    tes externos hoje na nossa universidade: a presena de un-

    daes que se utilizam de prdios pblicos para gerar lucros

    sem que tenham sido aceitas pela comunidade acadmica

    e a prpria apario de projetos empresariais que visam in-

    uenciar nas linhas de pesquisa e o prprio espao da acul-

    dade sem que sejam debatidos com os estudantes e uncio-

    nrios no so coincidncia. So reexo de uma estrutura que

    no se prope a permitir que aamos parte de decises que

    inuenciaro diretamente na nossa ormao acadmica.

    Por isso essa pauta to relevante. Por nos possi-

    bilitar exercer o direito democrtico de escolher nosso

    representante e tambm por escancarar a necessidade

    de reivindicarmos mais democracia nas instncias deli-

    berativas, que nos possibilitem inuenciar mais nos ru-

    mos da USP, para que e pra quem serve a universidade.

    Para alm disso, consideramos que uma univer-

    sidade mais democrtica tambm uma universidade

    que produza teoria e tecnologia em prol da populao

    que a sustenta, e que seja por ela permeada. E isso s

    ser possvel quando o acesso USP or verdadeiramen-

    te democratizado, com cotas raciais e sociais que permi-

    tam um ambiente mais rico e verdadeiramente popular.

    Para avanarmos nessa questo, preciso que os es-

    tudantes tomem esse debate pra si, mas tambm que,

    em dilogo com as outras categorias proessores e ser-

    vidores ormulem uma proposta coletiva, anal, quan-

    tos mais ormos envolvidos nisso, maior ser nossa condi-

    o de intervir na poltica. Apenas com a unidade entre

    todas as categorias possvel vislumbrar uma mudan-a e maior participao para denir os rumos da USP!

    A univeRsidAde Que QueReMOs

    CAnTO GeRAl 2014 11

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    12/26

    A univeRsidAde Que QueReMOs

    GREVE!Dentro do debate de universi-

    dade, que propomos aqui estabelecer

    como programa, undamental azer-mos uma anlise de como o processo

    da greve da So Francisco este ano se

    deu e quais oram seus ganhos e dicul-

    dades. A nossa greve, que um marco

    histrico j pelo ato de ser a primeira

    em mais de dez anos, demonstrou es-

    sencialmente duas coisas: a necessida-

    de de as e os estudantes se mobilizarem

    para terem avanos concretos em rela-

    o a seu ensino e sua participao na

    universidade e tambm que a estrutura

    de poder burocrtica e autoritria da a-

    culdade e da universidade o principal

    entrave para qualquer processo modi-

    cador da nossa realidade universitria,

    como oi visto em relao pauta dos

    60 creditos livres, um dos eixos da greve.

    A situao do problema das ma-

    trculas no nova, mas este semestre

    ela atingiu um limite insustentvel para

    todos(as). Acompanhando a mudanana conjuntura nacional, as e os estu-

    dantes adotaram de a greve, um dos

    mtodos mais radicalizados ao qual

    se poderia recorrer, para exigir da bu-

    rocracia universitria uma resoluo

    para esta questo, avanando ainda na

    presso por uma ormao melhor a

    partir da exigncia do aumento do n-mero de crditos livres e do debate de

    um novo Plano Poltico Pedaggico. O

    Canto Geral esteve presente e construiu

    os espaos da greve por entender que

    a soluo para todas estas questes

    passa por ns nos mobilizarmos e ter-

    mos uma postura combativa perante

    o jeito como nossa ormao tratada

    nesta aculdade, j que o dilogo era

    um mtodo que j havia sido esgotado.

    A burocracia mostrou-se um gran-

    de inimigo das e dos estudantes, sendo

    que todas as reivindicaes estudantis

    eram pautas que precisariam passar

    por todas as estruturas da aculdade

    para serem aprovadas, principalmente

    a questo dos crditos livres, que at

    hoje no oi resolvida e ainda passa

    pelos rgos universitrios. O choque

    dos estudantes com a estrutura deno-ta que a luta era tambm contra esta

    estrutura antidemocrtica, por mais

    poder decisrio na mo dos estudantes

    e menos concentrao de poder e auto-

    ridade na mo de poucos proessores.

    Por isso, pensamos que o un-

    damental para tirar desta greve, para

    alm das vitrias que ela teve e damobilizao ocorrida, a conscin-

    cia de que s conseguiremos eetivar

    e avanar nas conquistas em relao

    a nossa universidade se lutarmos por

    eleies diretas e paritrias para rei-

    tor e diretor e aumentarmos o po-

    der das e dos estudantes e tambm

    das(os) trabalhadoras (os) em relao

    aos rgos colegiados na estrutura.

    undamental que o debate de

    eleies diretas para diretor e reitor

    se vincule discusso de um progra-

    ma que permita aos ocupantes desses

    cargos se comprometerem com de-

    terminadas pautas, de orma a coleti-

    vizar e democratizar o debate acerca

    do modelo de Universidade que que-

    remos. S assim poderemos participar

    eetivamente na construo e eeti-

    vao de uma nova grade, na discus-so sobre crditos livres, polticas de

    incluso, aes armativas e apoio s

    extenses, de modo a caminhar no sen-

    tido de uma universidade verdadeira-

    mente pblica, popular e democrtica.

    12 CAnTO GeRAl 2014

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

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    H muito tempo que na academia se prioriza a produo

    de um conhecimento positivista, pautado pela racionalidade sis-

    tmica supostamente neutra e descolada dos conitos sociais.

    Cada vez mais, a universidade brasileira se distancia do contex-

    to em que est inserida e se torna surda aos apelos do povo que

    a sustenta. Nela, o conhecimento produzido de orma acrticae alienada, os estudantes so tratados como capital humano

    do mercado de trabalho e direcionados s grandes empresas.

    Dado esse quadro em que as instituies de ensi-

    no superior se mostram incapazes de ormar prossionais

    socialmente responsveis e comprometidos com a cons-

    truo de um Brasil mais justo e igualitrio, torna-se de

    suma importncia a valorizao de projetos de extenso

    que quebrem com esse paradigma e retomem a real na-

    lidade da universidade pblica, gratuita e de qualidade.

    A extenso deendida pelo Canto Geral uma exten-

    so de carter popular, capaz de estabelecer um dilogo

    aberto entre o meio universitrio e a sociedade em que est

    inserido. A extenso parte da compreenso de que o conhe-

    cimento produzido na universidade deve estar a servio da

    comunidade que o sustenta e que sua uno estabele-

    cer a ponte de unio entre o saber acadmico e o saber po-

    pular. A promoo da extenso universitria a nase do

    carter pblico da universidade, sendo, portanto, crucial.

    Na realidade da So Francisco, percebemos que a ex-

    tenso enrenta diversas diculdades, como alta de recur-

    sos e a no correspondncia entre os crditos cedidos e a

    dedicao necessria construo dos projetos. Nesse sen-

    tido necessria a valorizao da extenso enquanto par-

    te integrante do currculo acadmico, garantindo que os

    alunos tenham contato com a realidade em que esto in-

    seridos e aprendam a partir dela. O Canto Geral entende a

    importncia dessas atividades e da articulao do Frum

    de Extenso na luta por um novo modelo universitrio.

    A univeRsidAde Que QueReMOs

    CAnTO GeRAl 2014 13

    Motivo de propulso da Greve das Federais em 2012, a de-

    cincia de recursos destinados permanncia estudantil um

    dos marcos da ltima gesto da reitoria. O papel da Universida-de no se encerra em assegurar o ensino gratuito, mas tambm

    garantir condies para que a/o estudante permanea nela.

    So Paulo a cidade mais cara do Brasil, os altos ndices de es-

    peculao imobiliria e o consequente aumento no preo dos

    servios az com que os custos com moradia e alimentao se-

    jam um impasse para a concluso do curso de muitas pessoas.

    A Casa do Estudante, nossa moradia estudantil, oi

    inaugurada em 1949 e hoje carece de uma reorma estru-

    tural. Fiaes expostas e paredes mal conservadas so uma

    realidade muito pouco conhecida pela maior parte dosranciscanos e ranciscanas. Hoje, a Casa recebe apenas 5%

    do repasse de verbas do XI de Agosto, o que mal d pra pa-

    gar a sua manuteno. Esse mais um dos motivos que de-

    monstra a urgncia de uma rediviso peridica de verbas.

    O bandejo outro assunto relativo permanncia estu-

    dantil que necessita de ateno. Transerido do poro para o 2I

    do prdio anexo atravs de uma articulao entre a gesto Res-

    gate e o diretor Rodas em 2009, possui alguns problemas relati-

    vos a direitos trabalhistas. Apesar do avano necessrio devido

    s condies de salubridade do espao antigo, a contrapartida

    negociada por aquela diretoria oi a de terceirizao do bande-jo noturno e deve ser revista. Atualmente, os uncionrios da

    empresa prestadora recebem menos da metade dos salrios e

    encargos que os uncionrios administrados pelo COSEAS. Alm

    disso, o tempo de atendimento desse perodo escasso, permi-

    tindo que o aluno e a aluna coma somente at as 19h, o que in-

    viabiliza alguns/algumas estudantes de azerem essa reeio e

    conciliarem com seus trabalhos e demais atividades. papel do

    XI de Agosto mobilizar e pressionar para uma mudana substan-

    cial do bandejo, tanto na expanso seu horrio de atendimento

    e da eetivao do atendimento no ca da manh, quanto paraque o trabalho eetuado pelos servidores no seja precarizado.

    Por m, a pr-aluno, conta com pouqussimos com-

    putadores em relao ao nmero de estudantes, o que az

    com que durante as avaliaes sempre haja uma imensa

    la espera do seu uso. Isso sem contar no baixssimo n-

    mero de impresses (30 pginas mensais) garantidos pela

    Faculdade, sendo esta a quantidade diria propiciada na

    Faculdade de Filosoa, Letras e Cincias Humanas (FFLCH).

    Permanncia Estudantil

    Da Universidade Extensionista Verdadeira UniversidadeNuma sociedade cuja quantidade e qualidade de vida assentam em confguraes cada vez mais complexas de saberes, a legi-

    timidade da universidade s ser cumprida quando as atividades, hoje ditas de extenso, se aproundarem tanto que desapaream

    enquanto tais e passem a ser parte integrante das atividades de investigao e de ensino. (Boaventura de Souza Santos)

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    14/26

    As maniestaes de junho, ao colocar milhes de pesso-

    as s ruas, sobretudo jovens, puseram em questionamento o

    papel das entidades representativas no mbito estatal e social

    rente s necessidades da populao. O carter diuso e es-

    pontneo que assumiram sintoma da averso poltica quese incorporou ao senso comum brasileiro, alm da incapacida-

    de apresentada pelas lideranas polticas de compreenderem

    as demandas e darem voz e coerncia a elas.

    As reivindicaes populares de junho, embora reais e

    legtimas, resultam claramente do mago do senso comum,.

    Surgiram os protestos a partir da pauta da taria de nibus,

    verdade, mas logo se encontravam cartazes pela educao;

    pela sade; pelo m da corrupo. justamente a isso que

    se deveriam se prezar as lideranas e os intelectuais: dotarem

    de coerncia e unidade determinado aspecto do pensamen-

    to popular. E nisso, o nosso Centro Acadmico XI de Agosto

    amarga a alta de protagonismo e o mais proundo desprop-

    sito em relao ao que deveria representar.

    Se nos ltimos anos j notamos uma grande perda do

    protagonismo do XI no cenrio poltico estudantil, as manies-

    taes de junho nos mostraram que, muito embora a gesto

    tivesse assinalado alguma preocupao em ormular espaos

    e discusses, absteve-se das ruas na maior parte do tempo e

    da disputa de conscincias e mentes das e dos ranciscanos.

    A nalidade de trazer para dentro do Territrio Livre a ora

    das maniestaes e levar para ora das Arcadas o movimento

    estudantil que reivindicamos oi simplesmente inexistente na

    prtica da atual gesto.

    Se queremos um XI que no se resuma a atuaes pro-

    tocolares e pouco eetivas rente a momentos como estes que

    marcaram o ano de 2013 no Brasil, tambm queremos um XI

    que esteja na vanguarda dos processos polticos e dos anseios

    das e dos estudantes para dentro da nossa Faculdade. A rela-o da administrao da Faculdade com o corpo estudantil, ao

    se transormar num gargalo que impossibilitou a eetivao

    das matrculas, exigiu de ns uma resposta coletiva e organi-

    zada, resultando num movimento crescente que no s de-

    fagrou uma greve, mas que tambm avanou em discusses

    como a reormulao da grade curricular, a implementao

    de um novo Projeto Poltico Pedaggico e alterao na orma

    com que os estudantes e uncionrios se relacionam com os

    rgos colegiados, por meio do aumento da participao des-

    ses setores e pelo voto direto e paritrio para diretor(a).

    Fazer com que essas lutas sejam vitoriosas depende de

    uma confuncia de atores e de um enorme empenho do

    corpo estudantil, mas essencial que o XI de Agosto estejaconectado a esses processos, antevendo, catalisando e dando

    conseqncia a esses anseios. Se a gura de um presidente

    durante a greve j se ez desnecessria, quando no mera-

    mente ormal, no se pode admitir que uma gesto escolha

    pela inrcia quando se exige mudanas. Uma entidade que

    no se arrogue meramente representativa, mas que se preten-

    da maior participao possvel das e dos estudantes deve,

    antes de tudo, ter responsabilidade com o papel poltico-ins-

    titucional que deve exercer, nunca se esquivando nas aes

    ou suspendendo as lutas travadas, mas preenchendo o Pteo

    O xi Que QueReMOs

    Nossa capacidade de mudana no pode mais caber na Salinha do XI e no pode se restringir a dez pessoas.Nossa voz no pode mais ser alada apenas por um(a) presidente(a) e deve ecoar cada vez mais dentro e ora

    das Arcadas. esse o XI que queremos!

    14 CAnTO GeRAl 2014

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    15/26

    de braos e mentes e avanando nas reivindicaes colo-

    cadas. Um XI que no se limite conduo de Assemblias

    e reunies, mas que aa com que elas tenham sentido a

    cada um das e dos ranciscanos e que seus resultados se-

    jam o avano eetivo do nosso Movimento Estudantil.

    Se a cabea pensa onde os ps pisam, ns, do Canto

    Geral, devemos buscar cada vez mais com que as lutas das

    ruas sejam a nossa luta, e que os problemas dos estudantes

    sejam os problemas de uma gesto. Nossa capacidade de

    mudana no pode mais caber na Salinha do XI e no pode

    se restringir a dez pessoas. Nossa voz no pode mais ser a-lada apenas por um(a) presidente(a) e deve ecoar cada vez

    mais dentro e ora das Arcadas. esse o XI que queremos!

    O xi Que QueReMOs

    CAnTO GeRAl 2014 15

    Quando olhamos para os parti-

    dos e instituies estatais, notamos

    que dierenas em menor ou maior

    grau na orma como se estruturam ese elegem seus representantes se re-

    fetem em alteraes substanciais na

    orma como a poltica eita. No Movi-

    mento Estudantil no dierente, Por

    isso, possvel dizer que o modo como

    um coletivo estudantil se organiza in-

    ternamente pode ser considerado um

    importante indicativo de como se dar

    a sua atuao.

    Primeiramente, uma perguntaessencial a ser eita : qual a uno

    dos cargos do XI? O Estatuto do XI nos

    responde de orma clara.

    Sob a presidncia recaem as obri-

    gaes de representar pblica e juridi-

    camente a entidade, ormalizar a con-

    tratao e demisso dos uncionrios,

    transmitir o cargo ormalmente ao seu

    substituto legal sempre que estiver

    impedido presidir as eleies de dire-toria e Conselho Fiscal.

    As/os Diretoras/es Gerais substi-

    tuem a presidncia caso haja impedi-

    mentos o vacncia do cargo.

    J a tesouraria obrigada a

    autorizar recebimentos e despesas,

    executar o planejamento econmico

    aprovado pela diretoria, movimentar

    conjuntamente contas bancrias emnome da entidade, apresentar balan-

    cete bimestral da entidade, rubricar os

    livros contbeis da entidade e assinar

    os respectivos termos de abertura e

    encerramento e, por m, comunicarpor escrito aos membros do Conselho

    Fiscal sobre todos os resgates de cotas

    eetuados perante o Fundo de Investi-

    mento.

    As secretarias so divididas no

    cargo de Secretria/o Geral e de Or-

    ganizao. O primeiro secretaria as

    Assembleias Gerais e as reunies da

    diretoria, lavra as atas de Assembleias

    Gerais as assina juntamente com apresidncia e secretaria as eleies de

    diretoria e Conselho Fiscal. O segundo

    substitui o primeiro em suas unes,

    com exceo do encargo de secreta-

    riar as eleies para a diretoria e Con-

    selho Fiscal. Alm disso, h as obriga-

    es de organizar e ter sob sua guarda

    o arquivo do XI, organizar e manter em

    dia a correspondncia da entidade,

    providenciar para os novos associadoscpia dos estatutos do CA e providen-

    ciar para os associados a identidade

    acadmica.

    Apesar de maante, zemos

    questo de enumerar todas as un-

    es. Nenhuma escapou. Dado isso, a

    refexo que se az necessria : qual

    a real necessidade dessas unes se-

    rem to compartimentadas? Por que a

    diretoria do XI de agosto, que j possuiestatutariamente o carter de rgo

    colegiado em suas decises, precisa

    de uma diviso rgida, ormal e buro-

    crtica de unes? Qual o prejuzo se

    em algum momento essas unes o-rem exercidas de orma menos hierar-

    quizada e estanque?

    No bastasse a burocratizao da

    diviso de unes, que no cotidiano

    da gesto notamos que tais unes

    no so as nicas e mesmo estas no

    so exclusivamente cumpridas por

    aqueles que oram escolhidos para tal,

    importante pontuar alguns male-

    cios que a chapa estatutria gere ao XIe ao Movimento Estudantil da Sanran.

    Uma vez que a escolha da(do)

    presidenta(e) no se d de orma ale-

    atria, mas meritocrtica, o que per-

    cebemos todos os anos uma intensa

    disputa de carter pessoal dentro dos

    coletivos para chancelar quem en-

    cabear a chapa. Muitas vezes - ou

    quase sempre-, os candidatos sequer

    divergem acerca da orma como geriro XI ou deu ma plataorma poltica am-

    pla, mas ainda assim criam dierencia-

    es permeadas por egolatrias e auto-

    promoes, enxergando muitas vezes

    a gesto do XI enquanto um ttulo ou

    honraria, e no uma responsabilidade

    meramente poltica e representativa.

    Para alm disso, tal como a

    mquina do XI est colocada, a(o)

    presidente(a), alm dos outros dire-tores, necessariamente precisam ter

    Colegiada: A gesto que queremos!

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    16/26

    disposio nanceira necessria para

    estarem na gesto, seja pela demanda

    exclusiva gerada pelo carter pblico

    do presidente, seja pelos deveres so-

    ciais decorrentes do cargo. Ou seja,

    para alm da necessidade de se cons-truir primordialmente enquanto gura

    pblica ao longo do ano, o que faz

    com que debate de ideias, to essen-

    cial nossa Faculdade, se apequene

    a imagens e retrica, para isso o pre-

    sidente do XI precisa ter acilidade -

    nanceira.

    No toa podemos dizer que,

    em 102 anos de histria, tivemos

    apenas quatro mulheres presidindo

    o XI, alm de no haver registros nos

    anais do XI de Agosto de um presi-

    dente que tenha sido negro (para

    no alarmos sobre a quantidade de

    homens presidentes e mulheres secre-

    trias).

    Se junho nos demonstrou algo

    acerca das deasagens das instncias

    representativas numa sociedade de-

    mocrtica, que o aastamento das

    pessoas aos rgos decisrios gera

    necessariamente incompreenso e

    alienao. Mais do que uma gura que

    nos represente e que seja uma lide-

    rana poltica, precisamos de braos

    e mentes dispostos a gerir o XI com

    responsabilidade e dedicao e azercom que o nosso movimento de ato

    se movimente. Num espao to rico

    de ideias como o XI, no podemos nos

    valer de uma lgica to ultrapassada

    para gerir uma entidade com tanto

    potencial. Por isso, cumpre ressaltar

    que uma gesto colegiada deve, assim

    como o Canto Geral pretende, buscar

    uma Reorma Estatuinte que dinami-

    ze no s o modo como se compe a

    gesto, mas a melhor orma que o XIse organize para ser realmente um ins-

    trumento de lutas, e no uma mqui-

    na infada de tareas burocratizantes.

    Sorteamos os cargos entre mem-

    bros do grupo comprometidos a reali-

    zar uma gesto do XI e apresentamos

    uma chapa com cargos por nica e ex-

    clusiva obrigao imposta pelo Estatu-

    to do CA. Nas nossas reunies de gru-

    po, e assim como ser na gesto, todas

    as vozes tero a mesma importncia e

    todas as ideias sero igualmente de-

    endidas e questionadas.

    Os deveres burocrticos atinen-

    tes aos cargos do XI sero cumpridos

    tal como exigidos, como as assinaturasde documentos, mas todas as outras

    unes sero realizadas no a m de

    termos uma gesto que cria excelen-

    tes retricos e administradores de ta-

    belas e grcos, mas uma gesto que

    cumpre seus deveres com responsabi-

    lidade e pode, com tranquilidade, ca-

    talisar os anseios e as necessidades de

    um movimento combativo e de lutas.

    Se o XI pra lutar, vamos azer

    dele nossa melhor erramenta e exigir

    daqueles que o gere responsabilidade

    e comprometimento ao invs de dis-

    cursos enlatados e imagens bem cons-

    trudas, construindo um movimento

    que altere de ato a realidade dentro

    e ora das Arcadas e que consiga atrair

    cada vez mais as e os ranciscanas(os)

    para a vida poltica da aculdade.

    essa a gesto que queremos!

    O xi Que QueReMOs

    16 CAnTO GeRAl 2014

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    17/26

    Tesouraria Participativa

    No que se reere ao modelo de XI de Agosto, acreditamos

    que hoje a atual organizao colocada insuciente para as

    demandas das/dos estudantes da FDUSP. Um XI orte, atuante,

    aberto participao de todas/os estudantes, visando ser re-

    erncia na organizao e mobilizao dos estudantes dentro

    e ora da aculdade. Essa insucincia do modelo se d tanto

    na orma como hoje se estrutura o Centro Acadmico, como

    tambm na atuao das gestes recentes que o ocuparam.

    No plano estrutural, a tesouraria de nosso CA a expres-

    so mais clara de um modelo insuciente, apresentando uma

    regulamentao engessada, indisponvel comunidade da a-

    culdade. Exemplo claro disso o Programa de Participao do

    Aluno, que dispe sobre as regras do Oramento Participativo

    (OP) e o Fundo de Iniciativas Acadmicas (FIA).

    Ele obriga o XI a realizar ambos OP e FIA, partes consti-

    tutivas do Programa de Participao do Aluno (PPA). A verba

    que possibilita a realizao plena do PPA advm do Fundo de

    Investimento do XI (FIXI); no entanto, dierentemente do restodo undo, o PPA possui uma regra de clculo prpria. Caso ren-

    desse igual ao restante do undo, estima-se que a verba para o

    PPA chegaria em torno de R$25.000,00, realidade dierente da

    atual, em que chega prxima de R$10.000,00.

    Assuntos como estes devem ser objeto de anlise em As-

    sembleia Geral Extraordinria, a m de tornar mais acessvel e

    rentvel o uso dessas verbas, pilar undamental da participa-

    o estudantil nas gestes do XI.

    Alm de uma regulamentao que impossibilita um

    acesso mais proveitoso, no que se reere a postura dos gru-

    pos que ocupem o CA, as gestes do XI de Agosto tm de ter

    comprometimento com o OP e o FIA, abrindo os editais com a

    devida antecedncia e transparncia. No o que vericamos

    se analisarmos o que ez a ltima gesto. O edital do OP oi lan-

    ado somente em setembro, pouco mais de um ms das elei-

    es para o CA. Se analisarmos o regulamento do Oramento

    Participativo, notaremos que h a regra expressa de que a Di-

    retoria do Centro Acadmico XI de Agosto deve lanar Edital

    de Convocao e realizar o pleito de votao dos projetos para

    o Oramento Participativo no primeiro semestre letivo, sendoo Edital convocado at a 1 semana de abril e a divulgao pr-

    via intensa, sob pena de anulao do pleito. Logo, ca claro a

    alta de compromisso que a gesto Resgate de 2013 teve com

    o OP. O Canto Geral se compromete a dar seriedade e gran-

    de importncia ao OP, entendemos que o dinheiro do XI deve

    ser aproveitado de orma mais democrtica possvel pelas/os

    ranciscanas/os. Inmeros projetos culturais e ans poderiam

    ser melhor realizados caso as gestes exibilizassem e am-

    pliassem o uso do PPA em proveito das/os estudantes.

    Por m, outro pilar da participao estudantil a cotalivre de xerox. Neste ano, enrentamos grande resitncia da

    gesto em providenciar subsdios para a participao poltica

    livre dentro das arcadas. A poltica se realiza no debate pblico

    intenso de ideias, tolher a liberdade de imprimir panetos e

    similares colabora para um espao pblico poltico decitrio

    na So Francisco.

    Alis, vivemos um dcit democrtico no que tange ao

    espao pblico da aculdade. A situao da cota de xerox oi

    agravada quando, no incio do segundo semestre, oi proibida

    a colagem de cartazes nas paredes da aculdade. Dessa orma,

    dentro de um esoro de valorizao do espao pblico comoterritrio democrtico para que o debate poltico ocorra, o

    Canto Geral assume o compromisso de ornecer cota livre

    de xerox. Por m, necessrio deixar claro que a cota livre em

    muito pouco onera o XI de Agosto. Experincias de gestes

    anteriores demonstram que essencialmente uma escolha

    poltica, e no tcnica, meramente nanceira, uma gesto no

    ornecer a cota livre.

    Rediviso de Verbas

    A FDUSP historicamente reconhecida por sua grandedinamicidade. Entre extenses e outras atividades extraclasse,

    a So Francisco sempre oereceu uma ampla gama de ormas

    das/os estudantes expandirem sua graduao. Invariavelmen-

    te essas atividades pressupem algum investimento. O CA XI

    de Agosto deve ajudar a custear essas atividades. Na atualida-

    de, isso, de ato, ocorre; mas de orma limitada.

    Desde a rediviso de verbas de 2008, quando oi delimi-

    tado o percentual que cada entidade existente poca teria

    de acesso ao FIXI, so contempladas somente a Atltica, o

    Departamento Jurdico, a Academia de Letraz, a Casa do Es-tudante, o Servio de Assessoria Jurdica Universitria (SAJU),

    o Ncleo de Estudos Internacionais (NEI) e o Teatro do Largo.

    Nota-se que o nmero de entidades reduzido em relao ao

    que temos hoje. Observamos uma clara incompatibilidade en-

    tre a atual realidade da aculdade e a politica de manter essa

    diviso.

    Portanto, o Canto Geral se compromete em sua gesto

    do XI de Agosto a realizar um debate com a comunidade

    acadmica a m de rever a rediviso de verbas de 2008 de

    orma democrtica e amplamente participativa, por meiode uma Assembleia Geral dos Estudantes.

    Diga-se de passagem, que nesta mesma rediviso de

    2008, cou raticado o entendimento de que o CA XI de Agos-

    to deveria ter o compromisso de destinar parte de suas ver-

    bas para a manuteno eetiva e suciente das atividades do

    Juizado Especial Cvel hoje, Juizado Especial Federal, que

    unciona no edicio anexo So Francisco. necessrio rever

    tambm qual a necessidade de se manter esse Juizado. Ele

    visa beneciar somente advogados que trabalhem no centro

    e a Justia Federal. O XI paga os uncionrios deste Juizado, oque demonstra claramente que o JEF onera a gesto e ocupa

    um espao valioso para atividades estudantis.

    CAnTO GeRAl 2014 17

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    18/26

    A experincia do ano de 2013 conrma que dentro do

    Movimento Estudantil a melhor orma de se deliberar e pro-

    mover o debate em termos democrticos e abertos. Reuniesabertas e ormas horizontais de participao se tornaram uma

    constante na So Francisco e em demais universidades pbli-

    cas, seja para as reunies acerca do investimento privado na

    aculdade, ocorridas durante o primeiro semestre, seja para a

    construo de um novo grupo para Representao Discente,

    ou at mesmo a experincia com os Comandos de Greve e Mo-

    bilizao

    Logo, o Canto Geral deende que uma gesto do CA re-

    alize reunies abertas sempre, com vistas a intensicar a par-

    ticipao poltica nas Arcadas. Visando concretiz-las melhor,

    propomos trs comisses para o CA XI de agosto que operem

    na lgica de reunies abertas: Comisso de Centro, de Cultura

    e Integrao e de Finanas.

    O xi Que QueReMOs

    18 CAnTO GeRAl 2014

    Comisses e Reunies Abertas

    Comisso de Centro

    O Centro de So Paulo sore de inmeros probelemas que batem portade nossa aculdade. So problemas relacionados com o direto moradia,

    especulao imobiliria, segurana pblica, ao consumo de drogas.A Faculade de Direito no pode ser indierente a essas questes, deverda comunidade ranciscana pensar constantemente o que pode ser eitoem relao a todas essas questes do Centro.

    Para tanto, criaremos a comisso de Centro, responsvel por idealizar erealizar projetos e debates que possam viabilizar a participao diretadas e dos estudantes em ormas de agir na tentativa de superao dosproblemas j arrolados que assolam a regio central de So Paulo hoje.

    Comisso de Finanas

    Por m, apresentamos nossa proposta de Comisso de Finanas. Seguin-do o mesmo escopo de empoderar as e os estudantes, pretendemos

    com essa comisso azer os estudantes conhecer mais a tesouraria do

    XI de Agosto. A ltima gesto pouco ez para que todas e todos tives-

    sem propriedade das nanas do XI. As reunies abertas duraram pou-

    cos meses, e eram muito conusas, alm disso, os balanos apresentados

    eram pouco claros, terminando por mais obscurecer o debate do que

    realmente colocar s claras o que estava sendo eito e apropriar os e as

    estudantes dos problemas e permiti-los pensar a tesouraria de seu pr-

    prio Centro Acadmico.

    Atrelado Comisso de Finanas, est o Conselho de Tesouraria, que

    criaremos com todas as tesourarias de entidades junto ao Centro Acad-mico. Nosso intuito possibilitar que seja eita uma prestao de contas

    recproca entre XI e entidades, alm de viabilizarmos uma melhor orma

    de solucionar os problemas nanceiros das entidades. Notamos, ao lon-

    go do ano de 2013, que as entidades apresentavam muitas demandas

    em reunies de tesouraria, sendo que as ltimas no eram sucientes

    para resolver os problemas. Acreditamos que uma orma coletivizada

    de tratar essas questes a melhor orma para que todas as entida-

    des, conjuntamente, solucionem seus problemas que tambm devem

    ser problemas do XI de Agosto.uma orma coletivizada de tratar essas

    questes a melhor orma para que todas as entidades, conjuntamente,

    solucionem seus problemas que tambm devem ser problemas do XI deAgosto.

    Comisso de Cultura e Integrao

    Um centro acadmico desta aculdade deve nos omentar estas de conraternizao universit-

    ria, como tambm deve incentivar maniestaes

    culturais e de lazer dentro e ora dos muros da So

    Francisco.

    Nesta comisso ser possvel se discutir de orma

    horizontal as estas que devero ser eitas no poro,

    alm daquelas tradicionalmente eitas ora da acul-

    dade; quanto se gastar com as estas; de que ma-

    neira se organizaro as maniestaes culturais tra-

    dicionais dessa aculdade, includo aqui o grito do

    peru, peruada, dia da matrcula; discutir e omentardebates, projetos de lazer estudantil e projetos de

    cultura e extenso.

    Basicamente, o que se pretende com essa comisso

    levar e elevar a discusso de cultura e lazer de or-

    ma horizontal. Pretende-se atravs dessa comisso

    possibilitar que as ranciscanas e ranciscanos pos-

    sam omentar as estas, lazer e maniestaes cultu-

    rais que elas/eles queiram.

    Isso se torna no s undamental para uma melhor

    escolha daquilo que ser eita, como tambm possi-

    bilitar uma melhor discusso daquilo que ser eita,e no dentro de uma salinha dos escolhidos.

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    19/26

    CAnTO GeRAl 2014 19

    PARA AlM dAs ARCAdAs

    Copa e Olimpadas para quem?

    O Brasil est prestes a vivenciar dois eventos de pro-

    pores gigantescas: a Copa do Mundo de 2014 e as Olim-

    padas de 2016. simples perceber que em geral esse tipo

    de megaevento vem acompanhado de intensas trans-

    ormaes no plano urbano e no legislativo, sendo im-

    possvel no associar a Copa a novos projetos de cidade.

    E quais seriam as perspectivas do Brasil nesse quadro?Primeiramente, se a questo habitacional brasileira j

    grave do jeito que est, os grandes projetos de alterao ur-

    banstica tem muito potencial para pior-la. Para os movimen-

    tos de moradia, o mais preocupante o salto no nmero de

    remoes oradas: dados dos Comits Populares da Copa

    espalhados pelo Brasil estimam entre 170 e 200 mil remoes

    relacionadas a obras para a inraestrutura dos eventos. Em

    geral, as reas removidas apresentam valorizao imobiliria

    recente, e so compostas majoritariamente por amlias que

    j habitavam no local de orma pacca e por mais de 5 anos.Para alm disso, a questo do trabalho precarizado se so-

    bressai no contexto das grandes obras realizadas. Estdios e ro-

    dovias vm sendo construdos por empresas que se utilizam de

    operrios empregados e sub-empregados em pssimas condi-

    es de trabalho, embolsando os recursos pblicos e se apro-

    veitando do pressionamento da FIFA quanto ao atraso nas cons-

    trues para justicar a violao dos direitos dos trabalhadores.

    tambm preocupante o contedo da Lei Ge-

    ral da Copa que oi aprovada em 2012, revelia dos mo-

    vimentos populares. Entre outras medidas claramen-te incompatveis com a nossa legislao, esta lei cria

    reas de exclusividade, das quais esto excludos os vende-

    dores ambulantes e onde a segurana ser intensicada.

    No possvel uma denio precisa do que ser a se-

    gurana pblica no Brasil durante os megaeventos. O ex-

    pressivo aumento na presena ostensiva da Polcia Militar

    no trato com a populao e a possibilidade de o Exrcito vir

    a intervir em distrbios da ordem pblica caso a polcia no

    consiga az-lo demonstram um claro recrudescimento da

    poltica de segurana pblica nos nveis estadual e nacional.

    Os impactos dos megaeventos em nosso pas esto

    apenas comeando a se apresentar. Com a nalizao das

    obras e a intensicao da atuao da Polcia Militar no ano

    de 2014 os movimentos relacionados moradia e direitos

    humanos preveem um aumento signicativo das mobiliza-

    es populares contra as violaes de direitos. At 2012 j

    havia acontecido 18 greves trabalhistas nas 12 cidades quesediaro jogos no prximo ano, e a tendncia que este n-

    mero aumente com a presso para o trmino das obras.

    Por isso o Canto Geral apoia e se prope a construir em

    conjunto com movimentos que debatem os impactos dos

    megaeventos e a mobilizam a populao em torno dessas

    pautas, como o Comit Popular da Copa de So Paulo. Para

    ns undamental que o XI de Agosto esteja inserido nas

    mobilizaes populares que acontecero em 2014, seja ca-

    paz de discutir este tema com os estudantes e construir um

    trabalho consistente e responsvel em conjunto com os mo-vimentos populares em deesa dos direitos do povo brasileiro.

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    20/26

    20 CAnTO GeRAl 2014

    Amarildo, servente de pedreiro mo-

    rador da avela da Rocinha, no oi mais

    visto aps ser levado a sede da UPP para

    vericao de documento. Enquanto

    a polcia arma que oi dispensado logo

    aps apresentar o RG, a amlia e conhe-

    cidos denunciam seu desaparecimento.

    Investigaes recentes concluem que

    Amarildo oi torturado e morto dentro

    da Unidade, durante procedimento deinvestigao da polcia.

    Quem Amarildo? Segundo dados

    da prpria Polcia Militar, o ndice de mor-

    tes em conrontos com a polcia de duas

    por dia. Segundo dados comparados da

    Secretaria de Vigilncia da Sade (SVS) e

    Sistema de Inormaes de Mortalidade

    (SIM), de 2002 at 2010 o nmero de ho-

    micdios vitimando brancos oi reduzido

    em 33%, enquanto a porcentagem dehomicdios contra negros aumentou em

    23%. Segundo o prprio SIM, do total de

    jovens mortos pela polcia de So Paulo

    em 2010, 71% eram negros.

    No mapa de regies por ndice de

    mortalidade em conronto que a polcia,

    podemos perceber que o maior nmero

    de homicdios ocorrem nas regies mais

    pobres e periricas das cidades. No Rio

    de Janeiro, por exemplo, o BOPE uma

    polcia especializada em subir a avela

    ainda mais truculentos, so um desta-

    camento especial para lidar com o lado

    negro da cidade maravilhosa. Em So

    Paulo a ROTA no atua de maneira muito

    dierente, j que ambos os batalhes o-

    ram criados pela ditadura com propsitos

    semelhantes.

    A histria de Amarildo a histria

    de muitos brasileiros: pobres, moradores

    e moradoras da perieria, negras e negros,

    so o grupo mais vitimado pela violncia

    da Polcia Militar. Se durante as manies-

    taes de junho nos assustamos com a

    truculncia da Polcia, temos que lembrar

    que na perieria as balas no so de bor-

    racha, e que os crimes ali cometidos no

    so levados a pblico.

    A quem serve a Polcia Militar? Apolcia militar nasce junto com o AI-5,

    quando da estruturao da violncia do

    estado. Treinada para reprimir em nome

    da ordem e do progresso, a PM at hoje

    conserva treinamento militar, para com-

    bater um inimigo, ormando um ver-

    dadeiro exercito contra as populaes

    marginalizadas. Encampando uma verda-

    deira poltica de extermnio, a Polcia Mi-

    litar surge como brao armado do Estado

    contra a populao pobre e negra: sem

    educao, emprego ou moradia, tornam-

    -se um problema a ser eliminado.

    Por esse motivo, muitos movimen-

    tos sociais lutam pela desmilitarizao da

    polcia. A idia principal acabar com o

    treinamento militar de nossas polcias, de

    orma a limitar a poltica de extermnioencampada em nosso pas. No dia-a-dia

    das avelas, nas reintegraes de posse

    violentas, ou nas maniestaes nas ruas,

    a Polcia Miliar vem cumprindo o papel de

    brao armado do Estado, sem qualquer

    respeito com os mais bsicos direitos hu-

    manos.

    A reestruturao da segurana p-

    blica undamental para a consolidao

    de uma verdadeira democracia. Junto a

    bandeira de cotas raciais na Universida-

    de, o Canto Geral se coloca junto ao mo-

    vimento pela desmilitarizao das nossas

    polcias, de orma a combater o racismo

    institucional e na sociedade, assim como

    colocar um m no genocdio que hoje

    cometido contra nossa populao preta,

    pobre e peririca.

    Em cada morro uma histria dierente

    Que a polcia mata gente inocente

    Banditismo por uma questo de classe

    Nao Zumbi

    Desmilitarizao da PM

    PARA AlM dAs ARCAdAs

  • 7/27/2019 Carta Programa Canto Geral 2014

    21/26

    Integrando o debate de gnero ao qual nos pro-pomos, de extrema importncia a discusso do Direi-to por uma perspectiva eminista. Nesse sentido, a des-criminalizao do aborto, o estatuto do nascituro, a leiMaria da Penha, o assdio no estgio e as mulheres na Facul-dade so alguns temas importantes de serem elencados para

    a discusso sobre a gura da mulher no mbito do Direito.

    Descriminalizao do aborto

    A previso do tipo penal de abortoem nosso cdigo, longe de ser uma cons-truo neutra, reete e endossa toda umaestrutura social patriarcal e machista. Acriminalizao da conduta uma orma deinterveno do Estado sobre a sexualidadeda mulher que, mantida desde a entradaem vigor do Cdigo (em 1940), reproduz

    a lgica na qual so sempre os outros sejam eles o pai, o marido, a Igreja ou, porque no, o Estado os responsveis pelatutela das escolhas das mulheres. Tal crimi-nalizao uma garantia do paradigma damaternidade como destino inexorvel damulher e, ainda que a interveno puniti-va muitas vezes no se eetive, a tipica-o contribui para a estigmatizao socialdaquelas que optam por realizar o aborto.

    No bastasse a tipicao ser um

    instrumento de controle da sexualidadeeminina, ela tambm mascara que a crimi-

    nalizao do aborto , hoje no Brasil, uma questo de sadepblica. A proibio da prtica no signica que ela deixe deexistir no plano concreto da realidade e, no caso do aborto issono menos verdade: milhares de mulheres realizam abortos,e no deixam de az-lo por ser uma prtica criminalizada. Noentanto, tais abortos so eitos ilegalmente (visto a tipicao),

    sendo em grande parte das vezes sem a estrutura e os cuida-dos necessrios - sobretudo nos casos de mulheres pobres.

    Relembrar o passado undamental para que con-

    sigamos superar os erros do presente. Quando ala-

    mos na militarizao da Polcia, carregamos com essaexpresso todo o aparato ideolgico-repressor criado

    ainda no imprio e implementado durante a Ditadura.

    Ao nos mobilizamos em 2012 para a criao de uma

    Comisso da Verdade na So Francisco, na esteira da criao

    de diversas outras Comisses estatais e institucionais, avan-

    amos o debate no apenas no sentido de investigar os mor-

    tos e desaparecidos dentro das Arcadas, mas principalmente

    no papel que a So Francisco teve enquanto ormuladora do

    pensamento jurdico e na ormao de quadros da Ditadura,

    como Gama e Silva e Buzaid. O grupo de estudo que sobre -

    veio dessa mobilizao (Projeto Memria Institucional) e a

    ampliao de debates relativos justia de transio, pro-

    va a necessidade de rearmarmos alhas e incompletudes.Numa aculdade em que proessores ainda escrevem

    em suas lousas homenagens Revoluo de 64 no dia 1

    de abril, papel de um movimento estudantil combativo or-

    talecer a luta pelo direito memria e consolidar na histria

    nossos reais erros e acertos. Ns, do Canto Geral, no deixa-

    remos com que a Comisso da Verdade da So Francisco

    (CVSF) seja esquecida. Para alm dos eventos e dos debates

    a serem omentados, papel da gesto do XI pressionar a

    diretoria da Faculdade para a renomeao imediata dos pro-

    essores CVSF e a continuao dos trabalhos j iniciados.

    CAnTO GeRAl 2014 21

    PARA AlM dAs ARCAdAsO Direito Memria e a Comisso da Verdade da So Francisco

    Direito e Feminismo

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    Dessa maneira, gritante o nmero de mulheres que mor-

    rem ou cam com algum tipo de sequela em consequncia

    de procedimentos abortivos realizados de maneira precria.

    Descriminalizar o aborto, portanto, no uma apo-logia ao aborto, como alguns insistem em dizer, mas,

    sim, uma garantia sade e ao exerccio de escolha damulher sobre seu prprio corpo uma vez reconhe-cido o direito de abortar, a mulher poder exercer suaescolha com relao maternidade, de acordo com

    seus valores e crenas, e ter o respaldo do Estado, sejapara levar a gravidez adiante, seja para interromp-la.

    PARA AlM dAs ARCAdAs

    22 CAnTO GeRAl 2014

    O projeto de lei para a criao de um Estatuto doNascituro trouxe recentemente e de maneira mais ao-rada o debate sobre a relao entre Direito e gnero. OPL 479/07 prope o reconhecimento de direitos do em-brio desde o momento da concepo, o projeto garantesua proteo integral e a prioridade absoluta de sua ex-pectativa do direito vida. ou seja, em outras palavras oprojeto acabaria por sobrepor os direitos de um embrioaos direitos de uma mulher adulta.

    Assim, o projeto d ensejo, por exemplo, penali-zao de mulheres que praticarem at mesmo interrup-es de gravidez hoje permitidas: o aborto em casos degravidez provocada por estupro ou para salvar a vida dagestante, excees do prprio CP/40, e o aborto em casode eto anencalo, como pacicoucadode na recente

    deciso do STF. Nos casos relativos gravidez provocada

    por estupro, o PL, alm de penalizar a pessoa que aborta,prev a concesso de penso alimentcia vtima, situa-o considerada absurda pelos movimentos eministasde todo o pas.

    A apresentao e debate do PL 479/07 dialoga ne-cessariamente com a discusso sobre o exerccio de esco-lha da mulher sobre seu corpo, visto que viola os direitoshumanos e reprodutivos da mulher, assim como prevretrocessos na legislao penal vigente e na discussosobre o.

    A proposta de proteo integral s clulas embrio-nrias, se aprovada, poderia implicar ainda na proibioda utilizao de contraceptivos de emergncia (plulas dodia seguinte), j que estes podem agir mesmo aps a or-mao do zigoto, e tambm poderiam car ameaadas as

    pesquisas com clulas-tronco embrionrias.

    Estatuto do nascituro

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    CAnTO GeRAl 2014 23

    PARA AlM dAs ARCAdAs

    Assdio no estgio e as mulheres na Faculdade

    Para alm do mbito estritamente legal do Direito, o machismo se revela tambm nas relaes que travamos: seja naFaculdade, seja no estgio. No raro ouvirmos queixas de diversas mulheres que se sentem oprimidas no ambiente de traba-lho so alvos de olhares, de julgamentos, de cantadas. Tratam-se de expresses de uma objeticao que, recorrentemente,recai sobre a mulher e seu corpo.

    Um exemplo de caso de assdio no estgio que vivemos nesse ano oi o da jovem estudante de Direito da PUC, VivianeAlves Guimares. A jovem, segundo indicam anotaes suas antes de cometer suicdio, teria sido estuprada por um colegadurante esta de conraternizao do escritrio no qual trabalhava. O escritrio em questo, o Machado Meyer, pouco contri-buiu poca para as investigaes policiais, possivelmente acobertando o agressor da jovem.

    Quanto aculdade, so dois os elementos que desejamos analisar: um reerente s proessoras e outro s alunas. Asproessoras so minoria no corpo docente e sensvel uma dierena de julgamentos eitos pelos alunos e pelas alunas emrelao a elas. raro ouvir uma discusso, por exemplo, sobre a beleza de um proessor, enquanto, no caso das proessoras, o

    julgamento da aparncia tende a at mesmo preceder o da qualidade de suas aulas.

    Com relao s estudantes, interessante pontuar o tratamento que elas recebem em ambientes de estas. So recor-rentes, nesses espaos, o desrespeito, os julgamentos constantes e a objeticao de seus corpos. Nesse sentido, tendo emvista que estamos a poucos dias de duas das mais icnicas estas da So Francisco, nas quais as posturas machistas tendem ase agravar ainda mais, vale lembrar que o no de uma mulher signica, exatamente, no.

    A violncia domstica muito mais que um problemacontingente, atomizado ou apenas de determinadas rela-

    es conjugais: um problema social, que ocorre reiterada-

    mente nos ncleos amiliares, e que opera como demonstra-

    o do poder patriarcal sobre as mulheres. A violncia contra

    a mulher pode ser entendida como uma orma de exerccio

    do poder que aos homens conerido pela lgica machista

    de nossa sociedade, dentro da qual seria justicvel que

    eles zessem uso da ora para corrigir determinadas

    posturas das mulheres. O tolhimento da mulher por meio

    da agresso opera como um mecanismo de garantir que ela

    continue exercendo os papis a ela impostos social e histori-camente os trabalhos reprodutivos e restritos ao ambiente

    privado.

    A lei Maria da Penha surge, nesse cenrio, como uma

    estrutura de rompimento da recorrente postura estatal, pela

    qual o Estado tende a eximir-se de qualquer orma de inter-

    veno no mbito amiliar, justicando-se pela tradicional

    separao pblico-privado. Dessa maneira, a lei conere tra-

    tamento dierenciado quela que historicamente oprimida

    em relaes desiguais e rearma as mulheres enquanto su-

    jeitos de direito.

    Lei Maria da Penha

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    PARA AlM dAs ARCAdAs

    24 CAnTO GeRAl 2014

    Reorma Poltica e

    Soberania Popular

    O tema da reorma poltica a

    ser realizada no Brasil polmico e

    controverso. Enquanto resposta do

    Governo Federal s maniestaes

    de junho, esta oi uma proposta

    que parece atender aos anseios

    daqueles que oram s ruas, mas

    at que ponto?

    A obrigatoriedade de pari-

    dade de gnero na poltica se az

    urgente: apenas 8,77% da CmaraFederal composta por mulhe-

    res, e no Senado apenas 14,81%.

    Tambm a exclusividade do nan-

    ciamento pblico essencial para

    que os programas polticos sejam

    cada vez menos inuenciados pe-

    los interesses das empresas, e cada

    vez mais pelos reais necessidades e

    anseios do povo brasileiro.

    Mas acima de tudo isso, de-endemos que a reorma poltica

    se d no sentido se construir uma

    nova orma de azer poltica, ali-

    cerada na democracia direta e na

    soberania popular, desenvolvendo

    cada vez mais e melhores instru-

    mentos de participao dos sujei-

    tos polticos e da sociedade.

    Para que tudo isso acontea,

    e nos termos que o povo brasileiroquer, undamental que nos mo-

    bilizemos. Os protestos de junho

    expuseram as limitaes de nossas

    instituies na orma em que esto

    colocadas, e devemos aproveitar o

    momento de discusso sobre a re-

    orma poltica para debater a undo

    os problemas do Brasil e convert-

    -lo num processo de mobilizao e

    educao poltica para todos ns.

    Aps os movimentos de junho

    deste ano, parece que j oi dada a

    largada para as eleies de 2014. Pe-

    culiarmente, est se ormando um

    cenrio que aparentemente rompe

    um pouco com a dicotomia entre PT

    e PSDB que vinha se ormando nos

    ltimos anos nacionalmente, mas

    apenas aparentemente. De um lado

    temos Acio Neves, candidato liga-

    do aos setores mais conservadores

    da sociedade, que colocam os inte-

    resses econmicos acima de qual-

    quer projeto poltico para o Brasil.

    Do outro lado temos Dilma Roussef,

    que vem de um primeiro mandato

    contnuo ao projeto lulista, que ga-

    rantiu uma srie de melhorias para

    os setores menos avorecidos econo-

    micamente com a particularidade de

    construir-se dentro da ordem e sem

    grandes quebras de paradigmas. Em

    contraposio, temos aqueles que se

    apresentam como novo, mas que no

    undo sabemos que esto muito mais

    prximos da velha poltica. Recente-

    mente, Marina Silva que tanto alava

    de uma renovao poltica, ao ver o

    racasso de seu novo partido se jun-

    ta a Eduardo Campos e ao PSB. No

    s essa aliana programtica que

    os aproxima da velha poltica, mas

    tambm o envolvimento direto com

    o banqueiro Setbal do Ita e o em-

    presrio Guilherme Leal da Natura.

    Por que Acio Neves e o PSDB

    so um atraso poltico? Usando junho

    para responder essa questo, vemos

    dentre as pautas menos genricas

    exigidas pela populao um certo

    desconorto em relao aos servios

    pblicos em geral. Entraram com

    maior destaque nessas pautas sa-

    de, transporte e educao. Nos anos

    FHC, que Acio e Alckmin parecem

    lembrar com tanta saudade, a classe

    trabalhadora soreu derrotas histri-

    cas por conta do avano do neolibe-

    ralismo, assim, reivindicaes como

    essas dos servios essenciais oram

    deixadas de lado em detrimento do

    ortalecimento da iniciativa privada.

    Foram os anos de maior esplio eco-

    nmico: as unes do Estado oram

    reduzidas apenas gesto do apa-

    relho, a reorma da previdncia oi

    realizada e o ator previdencirio oi

    criado. A maneira PSDB de governar

    a orma do reducionismo, da au-

    sncia de dilogo e da precarizao:

    reduzem o setor pblico a uma mera

    administrao de bens, que tem que

    ter resultados e saldos positivos.

    Temos grandes divergncia

    com essa maneira de governar. A po-ltica estadual do PSDB reete direta-

    mente na ausncia de democracia na

    USP, sendo uma reproduo da ma-

    neira com que os governos tucanos

    tm no dilogo com quem reivin-

    dica melhorias. Reete tambm na

    resistncia que as universidades es-

    taduais apresentam contra um pro-

    jeto srio e eetivo de cotas raciais.

    Eleies de 2014

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    CAnTO GeRAl 2014 25

    PARA AlM dAs ARCAdAs

    Os anos recentes mostraram um avano do undamen-

    talismo religioso e do conservadorismo contra a temticaLGBTT no Brasil. A demonstrar isso, um dos exemplos maiscomentados deste ano: o projeto da cura gay, propostopelo deputado Joo Campos (PSDB-GO), que oi pauta devotao da Comisso de Direitos Humanos e Minoria, pre-sidida, paradoxalmente, pelo pastor e deputado Marco Fe-liciano, conhecido nacionalmente por lamentveis opiniesracistas, machistas e homobicas.

    Tal projeto carrega consigo uma carga muito negativaacerca da sexualidade. Ele no apenas alseia, por meio deum discurso cienticista, os conitos e contradies em que

    a/o LGBTT submetida/o socialmente, como tambm tentaconerir prpria diversidade sexual carter patolgico. Oprojeto oi, por ora, arquivado pela Cmara, aps orte pres-so popular, mas se engana quem acha que essa oi uma vi-tria denitiva: o projeto pode vir a tona a qualquer momen-to, em uma conjuntura propcia para que ele seja aprovado,representando um retrocesso inestimvel para as LGBTT.

    H de se questionar a inuncia signicativa que abancada evanglica exerce no Congresso: objetivando azervaler seus interesses sectrios, erem a laicidade do Estado,to undamental para um Estado que se pretende democr-

    tico e de Direito. Utilizam-se, ademais, de uma suposta liber-dade de expresso absoluta para destilar agresses homo-

    bicas contra pessoas LGBTT - o que no admissvel, pois

    sabido que nenhum princpio absoluto, sobretudo quandose propaga um discurso de dio que ere outros princpiosbasilares do Direito.

    Prova disso oi a presso exercida pelo conservado-rismo que conseguiu barrar o material produzido pelo MECdestinado a combater a homoobia nas escolas. O Kit Esco-la Sem Homoobia, consistia em um material paradidtico,com apostilas, livros, vdeos e cartazes, construdo em con-

    junto de diversas ONGs, movimento LGBT e o prprio MEC.Ele demonstrava uma poltica acertada para combater a pr-tica de violncia e discriminao no mbito do ensino m-

    dio, que visava a conscientizao por meio da educao. Ora,vivemos em um contexto que, em cada escola brasileira, hpelo menos um menino ou menina sorendo com a violnciasica e verbal, no s por parte de alunos, como tambm deproessores e uncionrios. So jovens que sequer discutemacerca de orientao sexual nos lares e podem acabar natu-ralizando e reproduzindo uma lgica discriminatria contraas LGBT. A prpria Unesco avaliou, a poca, da seguinte or-ma o projeto: Os materiais do Projeto Escola Sem Homoo-bia esto adequados s aixas etrias e de desenvolvimentoaetivo-cognitivo a que se destinam, de acordo com a Orien-

    tao Tcnica Internacional sobre Educao em