Carta Pastoral Do Bispo Da Bahia, Dom Francisco Damazo de Abreu Vieira, 1814

9
PASTORAL. BOM FR. FRANCISCO DE & DA MAZO DE ABREU VIEIRA „ > Por 'Graça de Deos Bispo de Malaca 9 Pre- gador dê Sua Alteza Real o Príncipe Regeria íe Meu Senhor, e do Seu Conselho , Arcebispo Eleito da Bahia , Vigário Capitular, e Govjer® nador do Arcebispado v ôçc» êç.c c Ao Reverendo Clero Secular da Nossa Dio- c e s e , Saúde, e Vaz em Jesus Christo. Uando Nos vos dirigimos a Nossa prí« xneira Saudaeao , assas inculcamos quaes os dotes, quaes as virtudes, que devem adornar '© espirito d hum ^ para cjue oao aconteça , o que lamentava S. Gregorio Ma- gno 9 que os que devem ser Guias para a vida , se torna-o Authores da morte. ( 1 ) Se então vos dissemos, que os Ecclesiastkes sm * des~ •IÍMM ( J. ) líomii. 17» iu Evangel»

description

Carta Pastoral e História da Igreja da Bahia

Transcript of Carta Pastoral Do Bispo Da Bahia, Dom Francisco Damazo de Abreu Vieira, 1814

  • PASTORAL.

    BOM FR. FRANCISCO DE & DA MAZO DE ABREU VIEIRA

    >

    Por 'Graa de Deos Bispo de Malaca 9 Pre-gador d Sua Alteza Real o Prncipe Regeria e Meu Senhor, e do Seu Conselho , Arcebispo Eleito da Bahia , Vigrio Capitular, e Govjer nador do Arcebispado v c .cc

    Ao Reverendo Clero Secular da Nossa Dio-cese , Sade, e Vaz em Jesus Christo.

    Uando Nos vos dirigimos a Nossa pr xneira Saudaeao , assas inculcamos quaes os dotes, quaes as virtudes, que devem adornar ' espirito d hum ^ para cjue oao acontea , o que lamentava S. Gregorio Ma-gno 9 que os que devem ser Guias para a vida , se torna-o Authores da morte. ( 1 ) Se ento vos dissemos, que os Ecclesiastkes sm

    * des~ I M M

    ( J. ) l omii . 17 iu Evangel

  • ( 2 ) destinados pela sua Ordenao sagrada d gran-de obra do Evangelho, e a cultivarem a vi-nha de Sabaolh , claro est , que ao mesma tempo vos insinuvamos , o que era necessrio para o desempenho destes ministrios ; e vos nao ignorais * amados Irmos , que ningum pode satisfazer ao seu Officio , sem saber , o que a elle pertence. Sao os beios do Sacer-dote os depositrios da Celestial Doutrina , e da sua boca hao os Povos de ouvir a expli-cao da Lei ( 2 ) . Mas como poder o Sa-cerdote comprir com este dos seusy essenciaes deveres , sem adquirir por meio do estudo os conhecimentos necessrios ? l i e cousa torpe , dizia S. Leo, ignorar cada hum aquela ar-te , que professa , e lie cousa intolervel a ignorancia em aquelles , que prezidem ( 3 ) . s Sacerdotes presidem aos Povos , nao sd pela dignidade do seu Caracter Sacerdotal . que os mesmos Anjos venero , e reveren-ceio ( 4 ) ; mas tambm pela honrosa qua-lidade do Magistrio, que devem exercer so-bre cada hum dos Fiis , servindo-lhes de luz para os illustrarcm nas Santas Maximas da Religio ( 5 ). Na sciencia dos Sacerdotes des-cana a Igreja para a conservaro do Depo-sito Sagrado 9 e para que o Evangelho se ex-tenda, e propague entre as Gentes com toda

    a C" I II II "1-ni 1-fT r . H l r: i i . r i r i --~r n*i ' rm

    (2 ) Malacli. Cap. 2 . v. 7 . ( 3 ) Relat. in Cap. Si in laicis 3. Dist. 3$ . ( 1 ) Gregor. Nasian. Orat< VI, in L m t . (5 ) Matli. Cap. 5. v. 14.

  • ( 3 ) a sua pureza. He por isso , que o Divino Mestre mandando pelo mundo a seus Disc-pulos lhes disse : Ide, e ensinai ( 6 ) . Esta , amados Irmos , he a Misso , que vos recebeis pela imposio das mos ; e como a satisfaro aquelles Ecclesiasticos, que tendo feito hum divorcio com os livros , nao con-cedem nem hum s momento i applicao, e leitura, consumindo edos os dias naoc-ciosidade , ou cm recreios , talvez bem impr-prios do seu Estado :

    Como, se o Sacerdocio fosse o termo fa-tal dos estudos de muitos Clrigos , elles *e julguo apenas ordenados , munidos d'hum ti-tulo , para authorisareui a mais crassa 5 e in-decorosa ignorancia , servindo-lhes os livros to somente de ornato para as estantes, e no de pasto para os olhos , ou de instrucao pa-ra o seu entendimento. Hunia guerra'perpe-tua tem declarado as sciencias prprias do seu Estado acfuelles Sacerdotes , que io somente dirigem suas vistas aos estipndios (7) , e que bem longe de olharem para a eterna felici-dade do Rebanho de Jesus Christo s atten-dein aos salarios, que podem contribuir para o bem da sua vida presente (8).

    He verdade, que como diz Apostolo (9) , nem todos so Profeta?, nem todos so Dou-

    ( 6 ) Math. Cap. 28. v. 10. ( 7 ) S. Isidor. Pelusiot. Lib. 1. Ep. 142. (B) S. Gregor. JVlagn. Lib. 2 3 . Moral. Cap. 17. ( 9 ) Ep. l . t d Coriuth. Cap. 12. v, 9.

  • ( 4 ) tores', e o Espirito Santo nao se digna com municar os seus Dons a todos com a mesma abundncia 9 e com igual daridade ; mas tra-balhem os Sacerdotes para adquirirem a scien-* cia dos Mysterios,, dos Sacramentos, das Leis , das Regras invariaveis da Moral Christ9 pa-ra poderem fazer com segurana uso delias no Tribunal , onde tem de sentar-se 9 como Pais, como Mdicos , e como Juizes: force-jem por se assenhorearem dos conhecimentos firmes das verdades sublimes da Religio e dos Dogmas incontrasfcaveis da Divindade , pa~ ra os annunciarem puramente aos Povos da Cadeira Evanglica 5 onde tem de subir, co-mo Mestres , e como Doutores ; e se este tra-balho se lhes az custoso para que se intro-duziro nas funes mais srias e mais dif-icultosas do Sacerdocio ?

    No he o servio do Sanctuario hum es-tado de descano , de repouso , e de oeciosi dade; he hum estado activo, laborioso 9 e que pede a mais exacta vigilancia, e o estudo mais assduo para cumprireis todos os deve-res do Santo Ministrio* No pode hum ce-go conduzir a outro cego (10) ; e se os olhos do vosso entendimento estiverem cerrados pe-las trevas da ignorancia, como podereis guiar o povo do Senhor, d quem sois Conducto-res ? Vos vos despenhareis na mesma cova 9 m que deixais precipitar os infelices , qu

    se

    ClQ.) Luc, Cap 6, To 89,

  • (5 )

    se cnfiao em vs , como seus guias. Para^evi-tar mos pois estes males, de que redundo Igreja tantos inconvenientes; para acautellar-jnos o futuro, visto , que o passado difficul-tosamente o poderemos remediar, estabelece-mos 9 como regra Invarivel, o seguinte.

    Como tenhao chegado s Nossas mos na

  • ( 6 ) menos hum anno. Sem que nestas attestaoes se declare ter sido a frequencia assdua , e com aproveitamento, nenhum ser admittido.

    Os requerentes para a ordem de Subdia-cono , devero aprezentar-nos attestao de ter frequentado com aproveitamento por espa-o ao menos de hum anno a Aula de Phi-osophia Racional , e Moral , a Aula de Ins-tituies Cannicas , e a Aula de Moral, pe-lo que diz respeito aos Sacramentos , e Cen-suras Eccl csi a s ti cas.

    Como ao Dicono pertence administrar a Eucharistia , e o Baptismo solemne na falta do Sacerdote, ou com licena delle, eannun-ciar aos Povos a Palavra Divina, sero obri-gados, quando requererem, a instruir os seus requerimentos com attestao de terem fre-quentado na forma acima declarada a Aula de Ceremonias pelo que diz respeito aos dous primeiros oficios , e Aula de Theologia Do-gmatica , ou SymboKca , para qufc no acon-tea annunciar aos Povos Doutrinas anti-Do-gmaticas, e oppotas s que a Igreja tem proposto

    O que desejar ser promovido Sagrada Ordem de Presbtero , dever corroborar o seu requerimento com attestao de frequn-cia d'Aula de Theologia Moral por dous an-nos, em que dever estudar o que pertence a Actos humanos, aos preceitos do Declogo, e da Igreja, e as Ceremonias, e Rubricas do Missal concernente* ao Santo Sacrifcio da Missa,

    Em

  • ( 7 ) Em todas estas matrias anmmciadas ,

    alm do que determina a Constituio do Nos-so Arcebispado, ho de ser examinados to-dos, e quaesquer Ordinandos sem que lhes reste a esperana de que dispensaremos em o mnimo artigo ; porque a Nossa inteno ?e encaminha a formarmos dignos Ministros do Altar, e nao sugeitos, que pela sua ignorn-cia servem mais de desencaminhar as almas, do que de as levar a Deos ( I I ) .

    Nos rogamos , e cxhortnmos a todas e quaesquer Pessoas do Nosso Arcebispado , que nos no molotem com empenhes para inver-termos este estabelecimento , na certeza de que seremos inexorveis aos seus rogos ; porque melhor he agradar a Deos , do que aos ho-mens , (12) e ningum poder remover osdi-ctames da Nossa Conscincia.

    Nos estamos prevendo j , que os Nosso? Diocesanos diro: E aonde havemos dVur ic-ber estas fourinas, se em Ioda a extenso de to vasto Arcebispado no ha hvm Semi" nario, onde posso acolhcr-se os Ordinandos ?

    l ie verdade, que no ha Seminrio sendo to recommendado pelo Sacrosano Concilio Tri-dentino , ( 13 ) mas o nosso#Augusto Soberano , Pio , e Religioso , e devorado pelo maior zeio no que diz respeito ao bem de seus Vassa-

    los

    ( 1 1 ) Consti t . Archicp. Bahiens. ( 1 2 ) Ep. ad Galat. Cap. 1. v. 10, ( 1 3 ) Ses. 2 3 de Kafermat. Cap. 18.

  • ( 8 )

    los tem institudo nesta Metropoli Aulas pu-blicas para educao da Mocidade , e alm disto acha-se por authoridade do Governo es-tabelecido nesta Cidade hum Collegio com a denominao de Collegio Bahiense , onde os Ordinandos acharu todas as Aulas por Nos designadas , as quaes podem frequentar ; ou habitando dentro do mesmo Collegio 9 ou sen-do Ouvintes de fora , contribuindo com a m-dica poro estabelecida no Plano da sua crea-o, e s maliciosamente podero os Ordinan-dos allegar, que no tem onde ppsso appli-car-se aos Estudos, que lhes so necessrios pa-ra chegarem ao ministrio , que pertendem.

    Estas allegaoes nunca sero por Ns at-endidas , porque temos adquirido j hum perfeito conhecimento das pobrezas aflfectadas, das longitudes pretextadas, que lhes no ob-sto, quando preciso tratar negoeios temporacs*,

  • ( 9 ) ziM 5 remetendo-tios1 Certido de aFsim o ha verem comprido. Dada no Nosso Palacio Ar-chiepiscopal da Bahia sob Nosso Signal , e Sello das Nossas Armas aos 28 de Novern* bro de 1814

    F. Arcebispo Eleito da Bahia, Vigrio Capitular, e Governador do Arcebispado*

    ogar ^ do Sello*

    O Padre Antonio Ferreira da Cunlis. Secretario,

    *

    i

    JPjsfoml, pela qvl V. Ea\a B.na ha por bem cxhortar o Eevcrendo Clero aos Esivs das matrias Ecclcsiaslkas, e estabelecer o me-hodo dos que devem ter o& Qrdinandos.

    Para V Ex" Ii.ma ver, e assignar.

    B A I l l A :

    N A TYPOG. DE MAN o Et ANTONIO DA SILVA SUVA.

    Com as licenas necessarias.